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“ARTE: UM ENFOQUE PARA A ADMINISTRAÇÃO”
AUTORES
Hamilton Bezerra Fraga da Silva
Professor na Universidade Gama Filho
Luis Perez Zotes
INSTITUIÇÕES
Centro de Estudos e Pesquisas do Instituto de Administração Pública do Rio de Janeiro – Fundação João
Goulart
Universidade Federal Fluminense – UFF – Escola de Administração
1.
INTRODUÇÃO
O Homem busca seu elo perdido e aspira conhecer e prever o futuro. No consagrado filme “Blade Runner” da década
de 80, os chamados replicantes, construídos pela engenharia genética, tinham esses mesmos questionamentos.
Através das mais diferentes formas de expressão tais como o teatro, a literatura, o cinema e todas as artes plásticas
fica patente a grande preocupação do Homem com o porvir. Esta preocupação é passada à Administração que, hoje,
significa estar atenta às modificações sociais e tecnológicas para um brainstorming [1] que delineie um correto
cenário futuro.
Neste contexto, cabe lembrar que artistas já influenciaram de forma direta ou previram as mudanças sociais que
estavam a caminho como aconteceu, por exemplo, com o movimento Futurismo (1909) exaltando a ação violenta, a
guerra e o militarismo, o prenúncio do que viria muitos anos depois – o Fascismo. Ainda hoje, muitos estranham ou
não compreendem as mudanças de visualidade ocorridas no início e no decorrer do nosso século, que influenciam e
criam afinidades de forma direta com diversos campos do conhecimento. Você já observou a semelhança existente
entre as composições geométricas de Piet Mondrian e a complexa estrutura de uma placa de computador? Isto não
faz existir uma associação entre a matemática e a estética? Outra associação ou previsão aqui lembrada nesta
introdução diz respeito ao artista Maurits Cornelis Escher onde em muitas das suas obras percebemos um modelo
matemático primal e dual. Na litogravura, a Relatividade de 1953, Escher se antecipa a atmosfera das naves espaciais
onde qualquer superfície serve de chão. Já o artista plástico do hiper-realismo Duane Hanson, um dos mais
polêmicos escultores americanos, criou, em 1967, a primeira réplica de uma figura humana, do cidadão comum, não
estaria ele se antecipando aos clones?
2.
O ARTISTA E A PROSPECTIVA
No Período Paleolítico, o Homem estava preocupado com a sua sobrevivência diária. A pintura encontrada no
interior de grutas é figurativa e realista. No Período Neolítico, ele já desenvolve uma economia agrícola e pecuária
deixa de ser somente caçador. Quando substitui os costumes nômades pelo sedentarismo é que se inicia o seu
processo interior de abstração. Esse novo posicionamento comportamental gera mudanças de padrões estéticos [3].
Nesse longo momento, a História registra a primeira modificação na Arte. O figurativo realista cede lugar à temática
abstratizante. Ao olhar o Bisão de Altamira (Paleolítico) e compará-lo com pinturas abstratizantes levaria o
espectador afoito a pensar que o homem teria desaprendido a pintar. Na verdade, o que aconteceu foi um grande
avanço: o Homem, agora, dispõem de tempo para a reflexão, ponto de partida para o “pensamento prospectivo” e a
escrita.
3.
O PERÍODO NEOCLÁSSICO – ACADÊMICO
A Estética Acadêmica foi escolhida como partida para comparação entre as modificações estéticas subseqüentes.
Nela existe um belo ideal absoluto, eterno e universal. Trata-se, em resumo , de um novo classicismo, uma
restauração, a volta das formas artísticas da Antigüidade Clássica. A única inovação do Classicismo foi o
desaparecimento dos temas religiosos, marcando assim um distanciamento da Arte com a Igreja. A temática é
histórica e enaltece o poder, não apresenta inovação na especialidade nem no tratamento pictórico.
Neste período há uma profunda hierarquia e obediência na relação professor-aluno. Na disciplina Pintura Histórica
havia um receituário a ser seguido pelo aluno de como pintar alegorias. O aluno não tinha a plena liberdade de
criação. Vítor Meireles, em Florença, recebe carta de Manuel de Araújo Porto Alegre, seu professor, que impunha
modificações no quadro “A Primeira Missa no Brasil” (1860) [2]. Os acadêmicos pintam em recinto fechado, luz
dirigida e com uma visão de perspectiva monocular euclidiana. Olham o mundo sob uma única forma de visão.
O ideal do neoclássico, se hoje estivesse em vigor, representaria o que as modernas formas de gestão administrativa
“não” desejam. Como seria possível estabelecer múltiplos objetivos e/ou múltiplos critérios para a tomada de decisão
olhando o mundo sob uma única forma de visão, sob um único ponto de vista? Isso entraria em choque com a
Análise Multicritério de Apoio à Decisão.
4.
O IMPRESSIONISMO
O Impressionismo nascido em abril de 1874 pode ser considerado o movimento mais revolucionário ocorrido na
história da pintura ocidental. Monet, Manet, Degas, entre outros, configuram-se como grandes expoentes. No tocante
às características que diferenciam a pintura deles na linguagem clássica são observadas: a) quebra da temática
clássica que já vinha sendo feita pelo Romantismo e Realismo. O tema deixa de ter importância e passa a ser
qualquer um, não há mais preocupação em retratar a classe dominante. Observe o quadro “O Absinto” de Degas
(1876), ou “Piquenique na Grama” (1863) de Manet e compare com o “Concerto Campestre” de Giorgione, exposto
no Louvre. Como reagiu a sociedade francesa da época diante destas duas telas? E hoje? O artista tornava-se um
transgressor em relação à linguagem plástica de 500 anos; b) a formalização plástica vem a partir da percepção do
artista com a aparência efêmera da imagem, já que esta apresenta modificações produzidas nas suas cores em contato
com a luz do sol, dependendo do ângulo da incidência dos raios luminosos; a cor não é qualidade permanente da
natureza. Observe as 5 pinturas da Catedral de Rouen, Monet (1985). Na verdade os impressionistas “iluminam a
ação presente à luz de possíveis, múltiplos e incertos futuros”, c) termina a coincidência entre linha e cor e a forma
nítida de contorno como pode ser observado na tela “Rue Montorgueil” (1978) Monet; d) a preocupação quanto à
posição do espectador em relação à obra pictórica: “As Ninféias” foram colocadas numa sala construída
especialmente com a preocupação do olho do espectador em relação a obra – o que, nos conceitos da Gestão da
Qualidade, seria uma preocupação com os clientes.
Os impressionistas são transgressores que “desconfiam das informações recebidas”, transformam estruturas e
padrões de comportamento”. Os impressionistas, renegados pela sociedade da época, tiveram suas pesquisas de luz
e cor comprovadas pela Ciência contemporânea.
5.
PÓS-IMPRESSIONISTA
Van Gogh e Gauguin possuem características próprias podendo ser enquadrados como pós-impressionistas. O
primeiro abandona as cores naturalistas, a cor real das coisas, mostrando uma atitude transgressora. A pintura deixa
de ser a cópia fiel do mundo, a não duplicação da realidade. A sua pintura será carregada de uma forte emoção
psicológica conferindo uma linguagem própria até porque, segundo os estudiosos, sofria de esquizofrenia. No tocante
a sua pintura pode-se observar: a) utilização de cor pura, que em breve vai passar a enfatizar a verdade do suporte,
altura e largura; b) mudança de comportamento do homem em relação às verdades estabelecidas, a cor é só para
acentuar distâncias, sugestão espacial. O espaço será trabalhado com a cor; c) a movimentação será obtida pela carga
de tinta e menos pela pincelada como nos impressionistas. A pintura passa a ser considerada como uma arte que tem
o fazer próprio, bem diferente da serenidade da pintura impressionista. Observe os quadros “O auto retrato” (1887) e
“Girassóis” (1888).
Gauguin, ao enfatizar a bidimensionalidade da tela, abandona os preceitos impressionistas. A sua ruptura com as
cores naturalistas, cor culta, procura o simbólico, a representação da memória subjetiva. Abandono da duplicação da
realidade. Com a sua frase “morte aos gregos” rompe com os padrões de beleza, a geometria euclidiana, indo buscar
contato com outras culturas, trazendo uma temática exótica para o ocidental.
Gauguin pinta com a tinta paralela à tela, enfatizando os planos imaginários e possui uma organização espacial
totalmente inovadora em relação à arte acadêmica. Enfatiza a técnica do “cloisonnisme” oposto à interligação das
pinceladas transpassadas do Impressionismo. A linha passa a ter valor como pintura. Observe os quadros “A baía de
Saint-Pierre na Martinica (1887) e “E o ouro de seus corpos” (1901).
Estes pintores vêm ao encontro de novos cenários, introduzem cada um a seu modo, cores que nõ eram
utilizadas na pintura ocidental assim como uma orientação espacial totalmente inovadora.
6.
CÉZANNE, A VISUALIDADE MODERNA
Cézanne é considerado pela História da Arte como o verdadeiro responsável pela visualidade moderna, ou seja, o
rompimento definitivo do ilusionismo – perspectiva correspondente a um ponto de vista único. Explode de vez com
o cubo renascentista. Apresenta novas possibilidades de articulação do espaço plástico. A relação entre
bidimensionalidade da tela e o artifício de perspectiva é rompido. Essa questão passa a ser importante por vários
motivos: a) enfatiza a condição de pintura. O olho humano anteriormente ficava de frente na busca da ilusão de
espaço e volume.
Com Cézanne, ocorre o verdadeiro rompimento dando à linguagem pictórica a condição de Ciência. Apresenta à tela
a sua condição verdadeira – um espaço bidimensional – coberto de tinta. O olho do espectador reconhece esta
superfície e não modela de maneira a representar aparência; b) abandono da condição de ser fiel ao modelo. A arte
deixa de ter qualquer compromisso com a representação da realidade; c) a materialização da tela é organizada por
cores e formas, não tendo as características do impressionismo com as suas pinceladas virguladas; d) a
geometrização passa a ser o assunto, esfacelada com a quebra da perspectiva tradicional.
Cézanne considera “métodos como ferramentas para o pensamento e comunicação” indo ao encontro da
Prospectiva, oposto aos impressionistas, que partem da síntese das formas em lugar da análise das cores. A sua
preocupação é tratar a natureza pelo cilindro, a esfera e o cone, reduzindo as formas a seus elementos geométricos
básicos.
O cubismo aparecerá 2 anos após a sua morte com os trabalhos de Braque e Picasso.
7.
O CUBISMO – BRAQUE E PICASSO
A pesquisa do Cubismo foi feita por Braque e Picasso (1910). O artista se aproxima da Ciência na análise da
interpretação do Universo. Procura o espaço em todos os ângulos diferentes de visão contornando a obra de forma
múltipla. O Cubismo é a grande novidade. Na fase do Cubismo analítico, a cor é abandonada. Eles se utilizam de
uma tonalidade cinza, para que se assemelhasse à Ciência e à razão, ou uma aproximação da estética da máquina.
Como exemplo desta fase, entre outros quadros, pode-se citar o quadro “Menina moça com o bandolim”. No
Cubismo é dissecado o objeto da criação e recomposto numa visão múltipla, como uma reorganização da natureza.
Cabe lembrar, que na época do estudo do Cubismo, a Ciência apresenta-se com Bragg (William, Henry –
1862/1944), Prêmio Nobel da Física em Estrutura Cristalina dos Sólidos (1915) e com o surgimento no ano de 1905
da Teoria da Relatividade de Einstein.
Picasso teve envolvimentos políticos, e no pensamento Prospectivo, pode-se situá-lo como um “confiante nas
mudanças sociais para permitir mudanças tecnológicas”, “fez o uso das lições do passado e não subestimou os
fatores da inércia”, já que este pintor começou no academismo; considerou, também, “métodos como ferramentas
para o pensamento e comunicação”.
8.
KANDISKY, MONDRIAN E MALEVICTH
Kandinsky e Mondrian são pintores abstratos, tendo suas produções artísticas ocorridas praticamente numa mesma
época. O primeiro abandona, com o tempo, a forma representada através de manchas coloridas como pode ser
observado nas telas “Parque de Achityka” (1901) e “Paisagem com Torre” (1908). Apresenta um temperamento
espiritualizado, místico e praticante do rito ortodoxo. Escreveu o livro “Sobre o Espiritual na Arte”. Sua pintura é
fruto do percurso, que já vinha se processando, de abandono ao tema. O que passa a importar é a linguagem plástica.
A sua expressão “criar uma obra é criar um mundo” pode ser detectada nas composições “No Quadro Negro” (1923)
e “Amarelo, Vermelho e Azul” (1925) onde através das linhas, círculos quadrados e retângulos cria um mundo
fantástico.
Mondrian, influenciado pelo Cubismo e pelo Futurismo vai atingir a abstração total através de suas pesquisas.
Inicialmente recebe influências fovistas, e, como o passar do tempo sua pintura vai se geometrizando deixando de
lado a referência. Mondrian é adepto das questões teosóficas, sua personalidade é semelhante à de Kandinsky. Sua
pintura é construída em base cerebral, não aparecendo a curva e sim uma estética composta de quadrados e
retângulos. Em termos plásticos, trabalha só com as cores primárias não utilizando o preto, branco e cinza. Sua célula
primeira são as cores primárias enquadradas na bidimensionalidade, dispostas em combinações formadas por linhas
verticais e horizontais, buscando a harmonia e uma combinação infinita. Mondrian limita o espaço, aproxima-se da
Ciência. Ao abolir a moldura fez com que a pintura extrapolasse a tela. Mondrian possui uma visão de divisão do
espaço, igualitária e social, busca a harmonia nas relações do homem com o urbanismo socializado, a
Qualidade de vida.
Malevitch (1878-1935), nascido em Kiev, realiza pesquisas que vão levá-lo à abstração total, escrevendo o livro “O
mundo sem objeto”. Possui uma personalidade mística e faz estudos de pintura, espaço e arquitetura. Parte do
Cubismo e do Futurismo e com o tempo adota a geometria até atingir a forma pura, expressando o espaço através de
um quadrado com o sentido espiritual. O surgimento do movimento com o avião e o carro, faz com que o espectador
esteja diante de uma nova realidade. Malevitch apresenta através da pintura a materialização do vazio, fura o espaço.
A forma geométrica é o quadrado branco sobre fundo branco, pautado no subjetivo místico. Desse modo a pintura
pula ao mais alto grau de abstração (Suprematismo), com eliminação total de qualquer representação figurativa e/ou
associação mais remota com as imagens até então conhecidas.
9.
CONSTRUTIVISMO VERSUS MARCEL DUCHAMP
Ao lado do Suprematismo de Malevitch, outros artistas desenvolvem questões Construtivistas, revolucionando o
conceito de Arte.
Os Construtivistas queriam criar uma arte inovadora com o abandono do figurativo acadêmico, uma arte voltada para
a Ciência e a serviço da tecnologia e da demanda por produtos. No campo da pintura, a linguagem construtivista
era a abstração geométrica sem buscar a espiritualidade.
Os construtivistas na URSS receberam a influência dos movimentos que agitaram a Europa desde fins do século 19.
Com a revolução de 17 são criadas escolas-modelos (vhutemas), voltadas para educação dos jovens, o que colocaria
a arte como grande modificadora de estruturas de produção. Com a morte de Lenin, subida de Stalin e depois a
troca no sistema de polícia passando às mãos de Béria, a arte volta a ter o carácter de enaltecimento ao poder,
retornando ao tratamento acadêmico. Este estilo ficou conhecido como Realismo Socialista. Como decorrência,
muitos artistas russos fogem para a Europa indo trabalhar na Bauhaus (Alemanha).
A origem dessa escola – Bauhaus – remonta às Corporações da Idade Média, onde o trabalho era realizado pelo
grupo e não mais pelo artista. A escola pretendia ser um modelo na relação do homem com a sociedade
industrializada, inspirada no Art Noveau e no artesanato, com tendência construtivista russa e/ou Mondrian,
interferindo e modificando a relação da Arte na vida das pessoas e no seu meio urbano. Construtivistas russos, entre
esses Kandisky, irão trabalhar nessa nova escola. Dentre da Bauhaus havia grupos ligados aos questionamentos
econômicos e outros que desejavam a aplicação dos conhecimentos para difundir e baratear os custos de produção,
que atendesse as populações menos favorecidas.
A Bauhaus [5] apresentava as seguintes propostas: a) aproximação das diferentes expressões plásticas, como a
pintura, dança, teatro, escultura, etc; b) artista e artesão trabalhando juntos; c) aproximação professor-aluno; d)
eliminação do antagonismo entre o artista e a Indústria; e) humanizar a racionalidade da tecnologia industrial, não no
sentido espiritual, e sim humanizar com racionalidade, forma e função.
Segundo o diretor Gropius, duas são as características da Bauhaus: i) a união entre a prática e o teórico; ii) um
contínuo contato do trabalho com a realidade. Em “My Conception of the Bauhaus Idea”, artigo feito em New York,
Gropius diz que: “Os novos modelos de toda espécie construídos em nosso laboratório convenceram os industriais,
que concederam contratos de patente à Bauhaus propiciando um considerável aumento de renda à medida em que o
trabalho aumentava. Dentro do objetivo proposto, os alunos estagiavam nas fábricas para se familiarizarem com os
problemas de produção, inclusive nos custos e na comercialização de produtos” não seria o que chamamos hoje de
engenharia simultânea com o objetivo de diminuir o tempo entre o protótipo e a fabricação em série?
A Bauhaus esteve a serviço do capitalismo enquanto o primeiro período do construtivismo russo esteve a serviço do
estado socialista. Esta estética foi acusada de maneira antagônica por duas correntes de pensamento distintas: Hitler a
acusa de ser germe comunista enquanto Stalin a colocou como parte de ideologias burguesas.
Neste período da História da Arte aparecem todos os mandamentos de Michel Godet, dentre esses, destacam-se a
necessidade de: levar em conta os “fatores qualitativos e a estratégia de atores”; “iluminar a ação presente à luz
de possíveis, múltiplos e incertos futuros”; “confiar nas mudanças sociais para permitir mudanças
tecnológicas”; “adotar uma global e sistêmica visão”; “fazer uso das lições do passado e não subestimar os
fatores de inércia”; “interpretar as informações à luz dos jogos de poder”; “transformar estruturas e padrões
de comportamento”; e de “desconfiar das informações recebidas”.
Por outro lado, Marcel Duchamp, artista plástico de origem francesa, que em 1913 monta a “Roda de Bicicleta”, obra
precursora do “Ready-Made”, aplica uma idéia despojada de qualquer sentido estético. Em 1914 vai a rua, observa
um secador de garrafa em metal e levando-o para casa apresenta, depois, como obra assinada. Deslocando o objeto
utilitário para o ambiente da Arte, sem nenhuma preocupação estética, inaugura, assim, um novo conceito e
questionamento do que vem a ser a arte. Através do “ready-made”, Duchamp privilegia a idéia em detrimento da
técnica, do fazer no sentido até então conhecido. Em 1919, negando os valores da cultura ocidental cria o “readymade” que se torna símbolo para o grupo Dadaísta, a admirável cópia da Gioconda, de Leonardo, mas com o título
LHOOQ e enormes bigodes. Com essa atitude de destruição de imagem, dá sentido de vulgarização à Mona Lisa. O
cartaz múltiplo aos milhares é transformado em obra única e de autoria de Duchamp. “Quando o artista desenha
bigodes numa reprodução da Gioconda, não se propõe certamente a deturpar uma obra-prima, mas contestar a
convicção artística do que seja uma obra-prima, desmistificar um preconceito enraizado?
Comparando-se a proposta de Duchamp com os construtivistas observa-se que enquanto o segundo quer estelizar o
mundo, o primeiro leva para a arte objetos que ninguém pensou admitir como arte. Ao considerar a idéia em
detrimento do fazer abre um novo espaço – as inovações. Como ficam as regras do jogo das artes plásticas, que
incluem marchands, galerias, críticos, movimento de geração, imprensa, museus? O que mudou nessas regras depois
de Duchamp?
Será que não foi Duchamp o precursor da arte-interativa, tão em moda nos dias de hoje, onde o espectador não só
interage modificando o contexto mas, também, modifica ou interfere no resultado final? Será que a própria
percepção da realidade não deve deixar de ser um simples captar, e também passar a ser uma função ativa?
10. CONCLUSÃO
Observar o que a Arte, em especial as artes plásticas, apresenta para a sociedade é, em última análise, um alerta para
as profundas modificações que, em muitas vezes, estão a caminho. O artista tem a capacidade, mais do que ninguém,
de ser um captador de mudanças, ou modificador de cenários, em um mundo onde o futuro é, algumas vezes,
descontínuo com cenários mutantes e múltiplos.
Tornando-se por base que Ciência é o conjunto organizado dos conhecimentos relativos ao universo, envolvendo
seus fenômenos naturais, ambientais e comportamentais; que no passado, os cientistas estavam interessados em
descobrir e compreender os fenômenos, e de certo modo a não preocupação com as possíveis conseqüências das suas
descobertas; que a geração de conhecimento científico se faz mediante a pesquisa ou investigação científica
compreendendo: definição das questões levantadas pela observação de um determinado fenômeno, postulação das
hipóteses, experimentação, formulação de um modelo e validação das conclusões; conclui-se que, em uma abstração,
também seriam cientistas e pensadores prospectivos os pintores Monet, Van Gogh, Cézanne, Gauguin, Picasso,
Duchamp e Braque entre tantos outros.
BIBLIOGRAFIA
[1] BARRA, Ralph. “Trabalho em grupo”. Quality Mark, 1993.
[2] – COMPOFIORITO, Quirino. História da Pintura Brasileira no Século XIX., Rio de Janeiro: Ed. Pinakotheke,
1983.
[3] CAVALCANTE, Carlos. História das Artes. Rio de Janeiro: Editora Melhoramentos, 1978.
[4] CHIPP, Herschel Browning. Teorias da Arte Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
[5] DROSTE, Magdalena. Bauhaus. Berlim: Benedikt taschen, 1992.
[6] RATTNER, Henrique. Estudos do Futuro: Introdução à Antecipação Tecnológica e Social. Rio de Janeiro: Ed.
Fundação Getúlio Vargas, 1978.