Os saberes tradicionais e o papel da escola: Repensando a
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Os saberes tradicionais e o papel da escola: Repensando a
EA, SABERES TRADICIONAIS/ALTERNATIVOS ISSN: 1887-2417 ISSN-e: 2386-4362 Os saberes tradicionais e o papel da escola: Repensando a Educação ambiental em Unidades de conservação brasileiras Traditional knowledge nad the role of school: Rethinking Environmental education in Brazilian Protected Area Universidade Federal do Paraná (Brasil). Resumo As Unidades de Conservação Ambiental foram criadas no Brasil como estratégia políticoambiental e pela crescente degradação dos recursos naturais que ocorreu pós-revolução industrial. Nesse período muitas comunidades que habitavam essas áreas sofreram as consequências da importação de modelos internacionais com caráter neoliberal, que viam os seres humanos como destruidores e precisavam, portanto, ser excluídos dos locais ou privados da continuidade de seus modos de vida. Essa situação gerou consequências de processo de exclusão dos sujeitos. Considerando esta realidade, o presente estudo propõe discussões iniciais sobre o papel da Educação ambiental nessas áreas, tomando como eixo de estratégias de Educação ambiental que possibilitem a emancipação dos sujeitos, dialogando com a bagagem de saberes que os educandos trazem e permitindo que, a partir deles, os saberes escolares sejam repensados e reorganizados, já que um dos grandes problemas que os povos do campo - como é o caso dos ilhéus - encontram são a falta de reconhecimento e valorização de sua cultura, em especial no espaço educacional, o que acarreta na falta de percepção dos sujeitos enquanto coletivo. Astract The Conservation Units were created in Brazil as political and environmental strategy and the increasing degradation of natural resources that occurred post-industrial revolution. During international import models with neoliberal, who saw humans as destroyers and needed therefore be excluded from local or private continuity of their livelihoods. This situation had consequences for social and economic order, intensifying poverty and creating a deep and complex process of exclusion of subjects. Considering this fact, this study suggests initial of a school located in Ilha do Mel (Parana, Brazil). It is emerging the use of environmental DOI: 10.17979/ams.2015.2.20.1701 ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 ambientalMENTEsustentable 1827 xullo-decembro 2015, ano X, vol. II, núm. 20, páxinas 1827-1840 MARÍLIA ANDRADE TORALES CAMPOS E VANESSA MARION ANDREOLI Palabras chave Educação ambiental, Unidades de Conservação, Escola pública, Emancipação, Saberes tradicionais. Key-words Introdução tratamento diferenciado, no sentido de um olhar voltado para as novas relações que são construídas quando o local passa a desenvolvido em uma escola localizada ser considerado protegido. Mas a grande em uma Unidade de Conservação Amsó, não assegura sua conservação. mente essa pesquisa mas a importância restante, encontram-se as duas principais - - cipação das comunidades que residem lia, com uma população de mais de 900 habitantes. de todas as áreas protegidas criadas no Podemos considerar as áreas protegidas - brasileiras, denominadas Unidades de Conservação Ambiental, como espaços públicas (federais e estaduais) e muitas que foram institucionalizados pelo poder ou conservação dos ecossistemas que se construção, visto que há uma grande di- apresentam ameaçados. A principal razão versidade tanto legal quanto institucional. volvimento econômico e sua consequente sos naturais são extraídos para atender sofreu elevada mudança nos modos de viver da população local e na paisagem, de pelo sistema capitalista de produção. 1828 ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 Os saberes tradicionais e o papel da escola a unidade foi instaurada não possibilitou - aos moradores a continuidade dos seus cação ambiental nessas regiões, numa modos de vida, que incluiam principalmen- - te a agricultura familiar e a pesca artesanal. para a melhoria da qualidade de vida da - comunidade, tomando a escola como interesse da população e principalmente representa um espaço fundamental para a participação da comunidade, apesar de tem oportunidades de trabalho e, quando carregar uma estrutura desgastada, que tem, são ocupações inferiores, as quais vai desde a fragilidade da formação dos possibilitam apenas sua sobrevivênciae e ainda desvalorizam a cultura e saberes do próprio espaço. tradicionais da região. bre o papel da Educação ambiental nessas regiões, tomando como referência a As Unidades de Conservação no Brasil escola. Parte-se do pressuposto que para que essa instituição avance na elaboração e produção de novos conhecimentos necessários para intervir conscientemente e a qualidade de vida da população local, mediadora e articuladora de um processo que considere os saberes locais, tradicionais e coletivos. Ambiental foram criadas por meio da Lei 6.902/81, fruto da pressão da grande degradação dos recursos naturais pós-ambiental teve como base, como não poderia deixar de ser, a lógica do capital, que impera sobre aspectos culturais e sociais. A ideia da criação dessa áreas estava liga- ampliação da mobilização e participação, por meio da criação de situações formativas que permitam que temáticas complexas da a percepção de que a natureza e os seres humanos precisam cada vez mais ser protegidos, pois os problemas ambientais são irreversíveis. dores, dos educandos e da comunidade. ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 1829 MARÍLIA ANDRADE TORALES CAMPOS E VANESSA MARION ANDREOLI […] espaços com características naturais relevantes, que têm função de assegurar de áreas protegidas: cativas e ecologicamente viáveis das di- protegidas territorialmente demarcadas ferentes populações, habitats e ecossistemas do território nacional e das águas e com dinâmicas de uso e gestão bem biológico existente. (BRASIL, 2000, p.4). (APPs) e Reservas Legais (RLs): espa- conservação federais, estaduais, municipais e particulares e são distribuídas em legais pelos seus atributos e serviços sobretudo ecológicos, mas sem uma - adotada e dos usos permitidos. Esses modelos visam o compartilhamen- em dois grandes grupos: proteção integral to da responsabilidade da gestão desses (onde permite-se o uso somente indireto locais entre o poder público e a socieda- dos recursos, como o turismo e a pesquisa) e uso sustentável (uso de forma direta preponderante na criação de áreas de pro- mas sustentável). da questão ambiental, a inclusão do fator das áreas protegidas não somente para econômico nas preocupações de mane- conservação dos recursos naturais e seu uso sustentável, mas para que o desenvol- a qualidade e quantidade das águas dos garantido. Para (2011 apud alguns dos exemplos dos benefícios so- , 2013), conservar a biodiver- cioeconômicos que essas áreas trazem, o sidade não garante somente mais crescimento, mais um melhor crescimento, sus- compartilhada. como a sociedade. As Unidades de conservação no Brasil são como 1830 seu modo tradicional de subsistência e ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 Os saberes tradicionais e o papel da escola - - odo muitas comunidades que habitavam dar, principalmente por pressão da luta in- essas áreas sofreram as consequências (seringuei- da importação de modelos internacionais com caráter neoliberais, que viam os seres humanos como destruidores e precisa- da Região Amazônica entre a sobrevivên- vam, portanto, ser excluídos dos locais ou cia das comunidades e a preservação. privados da continuidade de seus modos Dessa forma, surge a Reserva Extrativista de vida, na grande maioria das vezes sem de Chico Mendes, nem sequer entender os motivos das im- da como Unidade de Conservação, com - características de uso sustentável. Esse seus colos. episódio marca o início da mudança de percepção desses locais, surgindo, ainda Para compreender um pouco como essa que tímido, a importância do respeito as situação, que gerou consequências que populações tradicionais residentes. interferiram tanto economicamente quan- zação da sociedade do papel dessas áreas dos, torna-se imprescindível conhecer um na preservação ambiental, e o quanto elas pouco da história dessas áreas. contribuem para a nossa permanência no planeta de forma possível. pressão da grande degradação dos recursos naturais pós-revolução industrial, a política ambiental brasileira incorpora as odo, segundo - países que apresenta mais desigualdades - socioeconômicas. Dessa forma, a extrema (2013), muitas - comunidades que habitavam essas áreas gilidade da economia, mas principalmente brasileiras sofreram as consequências da por essa grande desigualdade, o que impli- importação de modelos internacionais, ca em problemas socias e ambientais nas - relações de uso da terra. res humanos como destruidores e precisavam, portanto, serem excluídos dos locais Analisando a breve história sobre áreas de ou, em alguns casos infelizmente, extermi- - nados. - ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 1831 MARÍLIA ANDRADE TORALES CAMPOS E VANESSA MARION ANDREOLI dores, impossibilitando suas atividades de O contexto da investigação subsistência e chegando a valorização do turismo acima da população local. Sabe-se que o ecossistema da Mata AtlânDe acordo com (2008 apud mais ameaçado do Brasil e o segundo do mundo. MARQUES e (2005) rela- turismo gera mais riqueza do que a popu- tam que atualmente os maiores problemas pelas populações locais se caracterizam dos desmatamentos e queimadas, caça, pela baixa intensidade e pela grande ex- extração de palmito e madeira, atividade pansão territorial, e o turismo, ao contrário, agropecuária, e problemas com lixo, esgo- ocupa uma extensão menor (concentrada) to e expansão urbana. e maior intensidade. Essas consequências variam de acordo com as características - locais, mas em geral se apresentam con- tínua de Mata Atlântica ainda preservada - do país, o que resultou na criação de di- bre Diversidade Biológica, essas questões versas Unidades de Conservação na re- sidade das áreas de preservação como considerada Reserva da Biosfera da Mata - mais sustentável. que possui. capaz de perceber o ecossistema como A escolha desta região para a presente re- possibilidade de uso efetivo da terra e da água de modo a contribuir com os planos de identidade da comunidade e a desva- de desenvolvimento socioeconômico do lorização de seus saberes tradicionais a local onde estão localizadas as Unidades partir da conversão deste espaço em uma de Conservação. Essa visão permite uma Unidade de Conservação Ambiental. As- maior percepção sobre as populações locais e a possibilidade de reduzir a pobreza proporcionar à comunidade a percepção e trazer, ainda, benefícios para a sociedade de direitos enquanto cidadãos, a partir como um todo. de uma leitura crítica da realidade, partindo do pressuposto de que os saberes e práticas escolares produzidas no cotidia- 1832 ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 Os saberes tradicionais e o papel da escola modos de viver mais ligados a área urbapreponderante na transformação da co- na. munidade em questão. a cabo que, por pressão do turismo, foi implantada na ilha em centros informatizados que atendem basicamente aos turis- ilha tinha na pesca artesanal e na agricultura de subsistência suas principais fontes de renda e, mais do que isso, seu modo - de vida. Com a expansão do turismo, a re- - tanto no espaço natural quanto nesses sobre a cultura e os modos de vida dos modos de viver das comunidades que ali nativos, agravando, por exemplo, o consumismo, a venda de drogas e o abando- poucos, a prestar serviços para os visitan- no de práticas tradicionais de sobrevivên- - cia como a pesca artesanal que era bem mento do Patrimônio Histórico e Artístico organizada na região. do Mel. mudanças, a maior parte da ilha foi transformada em área de conservação sob reainda mais o turismo, ocorreram mudan- gime bem restrito. Em 1982, percebendo - essa nova dinâmica e, obviamente, a re- ciais dos nativos, visto que, na dinâmica gião como potencial atração turística, com de relação entre turistas e nativos, esses últimos abandonaram seu trabalho para pelo Decreto Estadual n° 5.454 a Estação investir ou mesmo trabalhar em pousadas Localizada na parte norte compreende - áreas pouco alteradas, que resguardam ranistas para a construção de residências características primitivas, principalmente da vegetação de restinga e manguezal e em 1988 e da criação do serviço de barcas de transporte, o acesso a bens de consumo, como por exemplo a televisão, o rádio composto por costões rochosos e com e valores tradicionais da população local grande riqueza histórico-cultural, teve seu vão aos poucos sendo substituídos por espaço ordenado a partir da criação do ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 1833 MARÍLIA ANDRADE TORALES CAMPOS E VANESSA MARION ANDREOLI Parque Estadual somente 20 anos depois, - pelo Decreto Estadual nº 5.506 de 2002, tanto, foi marcado pela exploração imobiliária de forma descontrolada, em grande parte por pessoas de fora, impactando não somente na mudança da paisagem, Entre outras medidas reguladoras, como mas em aspectos ambientais e culturais. A restrições aos direitos de posse de terra e venda dos lotes foi vista pelos moradores o tipo de materiais liberados para as cons- nativos como uma oportunidade econô- truções de casas, está o limite de 5000 mica o que, segundo TELLES (2013), fez pessoas que podem estar ao mesmo tem- com que muitos espaços fossem vendidos a preços inferiores do seu valor real. - - rismo, a área destinada ao uso antrópico nam a continuidade dos hábitos e costuem relação às oportunidades locais de es- em sua maioria, nativos e suas famílias, tudo e trabalho. comerciantes, empresários e veranistas. TELLES (2013) chama a atenção para o fato de que as principais associações da ilha possuem caráter deliberativo, com re- senta o maior número de problemas em relação a sua ocupação sem acompanha- necessidades e realizações de planos de mento de ordenamento territorial. Telles dos cotidianamente pela comunidade, re- maioria dos moradores não tem interesse da região, por meio de precários serviços muitos grupos sem representatividade. de infraestrutura básica e da concentração de propriedades, que foram, em sua maiomento e orientação (TELLES, 2013). 1834 espaciais que foram construídas a partir da forte transformação nos modos de viver da ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 Os saberes tradicionais e o papel da escola nerabilidade da comunidade em relação da exploração do turismo. Essa perca da a articulação pela luta de direitos e inte- as profundas transformações nos modos maneiras de participação na gestão local. de viver e na própria estrutura da região, TELLES (2013), “estes aspectos predominam no plano dos exploração turística - atende o Ensino interesses individuais e ações coletivas pou- - co efetivas, ou provisórias” (p.92). cleo Regional de Educação de Paranaguá. Conta com um total de onze professores, os diferentes grupos que compõe a comu- total de aproximadamente trinta e quatro nidade estão marcadas por divergências estudantes no Ensino Fundamental e vinte de interesses e perspectivas de mudança, tendo como consequência a ausência de articulação e a predominância de Em conversa e observações realizadas na escola, são muitos os problemas e desa- […] características como o individualismo, a disputa de interesses, aspectos - pe pedagógica. Dentre eles, destacam-se a falta de participação da comunidade, em - alização de projetos sociais. (TELLES, fessores que não se vêem como parte do 2013, p.92) processo pois muitos deles são temporá- - sempre são negadas pelo núcleo de Pa- mo para solução de problemas comuns internos. Há falta de articulação na luta pe- entre outros. los seus direitos mais básicos, o que leva a convivem, trazendo consequências como a pobreza generalizada, o consumo de A Educação ambiental crítica e o papel da escola drogas, entre outras. do - considerando aspectos como a vul- ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 Atualmente a Educação ambiental passa por um momento de amadurecimento 1835 MARÍLIA ANDRADE TORALES CAMPOS E VANESSA MARION ANDREOLI tanto teórico quanto metodológico. Quanambiental se insere no contexto escolar, da acerca das experiências metodológicas maneira como ele vê a Educação ambien- nos mais diversos contextos e a crescente tal a partir dos conhecimentos construídos comunicação destas em eventos da área, reza e do mundo. Torales e Teixeira (2014) nosso ponto de vista, como um novo mo- alertam para essa questão, levantando as delo educacional, uma nova proposta de enxergar e agir sobre a realidade e, mais superar as exigências do avanço da Edu- do que isso, como uma forma de viver e cação ambiental na educação básica. As apreender o mundo. autoras ressaltam ainda que os próprios cursos de licenciatura não contribuem de - (2004), entendemos que as tal busca se estruturar num espaço de luta ações educativo-ambientais vão sendo entre as correntes mais tradicionais e as construídas a partir das diferentes corren- - tes teóricas que explicam as relações so- cação pela manutenção do capital e a luta ciais históricamente. Essas correntes vão por uma outra educação, que considere as consequentemente desenhando a formu- possibilidades de transformação social e lação das teorias pedagógicas que, que não adaptação, conformismo ou mesmo por sua vez, vão se somando a outras áreas que embasam a educação (psicologia, nesse contexto, o papel da escola como - espaço de inserção/potencialização das mando um aglomerado de visões e ações questões ambientais como saber sistema- no mundo. tizado, o que necessita que se encontrem espaços na organização dos currículos Podemos dizer então que o campo da escolares. Educação ambiental constitui-se a partir de múltiplas visões de mundo, que nem A forma como se realiza a educação no sempre são harmônicas em seus funda- interior da escola está instrinsecamente mentos e práticas. Assim, não pode ser relacionada aos valores, as ideologias e pensada nem praticada fora das relações as intenções que circundam seu cotidia- sociais, que na sociedade do capitalismo selvagem, são baseadas no consumo. da sua função social, compreendida aqui - 1836 ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 Os saberes tradicionais e o papel da escola sequente democratização da sociedade, necessita assegurar a apreensão crítica da a prática pedagógica, portanto, como re- realidade. entre esses saberes. A proposta de pesquisa do doutorado em questão parte de alguns pressupostos, entre eles o de que os saberes e práticas es- se dá a formação dos professores e, mais colares produzidas no cotidiano da escola ção ambiental, visto que esta passa a ser da comunidade em questão, sendo que interpretada a partir de uma rede, “desde a potencialização da dimensão ambiental a formação inicial ou escolar, estende-se à nas práticas escolares está relacionada à - interpretação feita pelos professores so- pação em fóruns, cursos, grupos e eventos” visão da Educação ambiental com base nas características educativas, sociais e ambientais do meio em que está inserido possível mediadora e catalisadora de um processo que considere os saberes locais - como possibilidade de união da coletividade e consequente ampliação da mobili- - zação e participação. chama esse processo inovador de “práxis educativa tecida de muitas mãos e ideias” - perspectiva de incorporação de um curríPara (2002), há três tipos de sabe- culo vivido no cotidiano e que, portanto, res que coexistem nos espaços escolares. - 1999). beres sociais selecionados pelas escolas Para tanto, considerando que dessa forma a Educação ambiental elimina frontei- ras entre a escola e a comunidade, Jacobi colaborativos de resolução de problemas Ambos são incorporados pelo habitus e - são, portanto, exteriores a prática docen- ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 1837 MARÍLIA ANDRADE TORALES CAMPOS E VANESSA MARION ANDREOLI […] componentes pedagógicos funda- ambientais, sem considerar o contexto mentais e fatores relevantes na constru- sócio-histórico. ção de práticas educativas e criação de situações de aprendizagens calcadas na experiência e na vivência.” (JACOBI et al, 2009, p. 74) A escola, quando considera essa situação, passa a ser vista como o espaço que deve servir aos interesses populares/comunitá- Essas situações proporcionam um envolvimento maior da comunidade que passa necessários para compreender os meca- a ser vista como protagonista do proceso. nismos naturais e comunicativos básicos, - um visão crítica e portanto, política da to, ser percebido a partir das necessida- construção histórica da sociedade. des sociais de todos, inclusive a análise do lugar ocupado pela escola na vida dos De maneira alguma, portanto, pode ser - alheia a toda dinâmica cultura da comuni- sores, em uma perspectiva que compre- dade na qual está inserida, se esforçando enda a escola, como MAFRA (2003) nos ao máximo para conhecer e compreender - bam por se manifestar nas atitudes e com- como deveria ser (escola concreta). portamentos dos estudantes. forma, possibilita o enfrentamento de suas responsabilizar integralmente pelo desen- próprias limitações, potencializando sua prática educativa frente à sensibilização e contar com o apoio familiar e colaboração apropriação de novos comportamentos e da comunidade. atitudes socioambientais. Sendo crítica, não pode limitar a comunidade a escolar, mas abranger o contexto uma construção historicamente determi- maior na qual está inserida, dinamizando nada, constituídos e se constituindo sode - trária aos dualismos indivíduo-sociedade e sociedade-natureza, os quais são recorrentes no campo da Educação ambiental, que insiste em culpar cada indivíduo separadamente pelos emergente problemas 1838 ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 Os saberes tradicionais e o papel da escola ção, necessitam ser resgatados e valoriza- por ção dos diferentes saberes que os povos uma metodologia participativa e dialógi- - ca, que envolva as bases da comunida- - de. Uma metodologia onde a democracia […] crise paradigmática da ciência atu- se comprometerem com a realidade, re- al, que ignora outras formas de raciona- pensando valores, atitudes e mudanças lidade, deslegitimando e marginalizando outras formas de produção de saber e que visem a um mundo mais humanizado de vida, que afrontam a lógica da acumulação. (CALLEJAS, FREITAS E GÓ- A escola, dessa maneira, pode ser interpretada como um laboratório vivo para Surge, dessa forma, a necessidade de processos de ensino e aprendizagem, ou utilizar instrumentos que possam propor- - cionar ascomunidades que resistem nas Unidades de conservação a sua percep- pensadas a partir das experiências, vivên- ção enquanto cidadãos. A escola, como - - los protagonistas envolvidos. vilegiado que pode contribuir tanto para a continuidade e reprodução da desvalorização destes modos de viver quanto para a transformação destas comunidades, melhorando sua qualidade de vida e garantindo a conservação do meio ambiente nas áreas de proteção. - - munitário Local: perspectivas pedagógicas e sociais da sustentabilidade. Porto: Profe- lítico da escola e a Educação ambiental - - do como um grande potencial de vínculo entre a escola e a sociedade, relevando o papel dos professores nos processos de raná-Brasil): Pescadores, Atividades e Recursos Pesqueiros. 128 p. Dissertação de Mestrado em Ciências Biológicas, Setor de mudança social. ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 1839 MARÍLIA ANDRADE TORALES CAMPOS E VANESSA MARION ANDREOLI A função social da Educação Ambiental nas práticas colaborativas: participação e como política pública. Revista Educação e Pesquisa 31 (2): 285-299, 2005. TELLES, Daniel Hauer Queiroz. 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