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Journal of the Adventist Theological Society, 20/1-2 (2009):3-18.
Article copyright © 2009 by Paul Ray.
Tradução: Dinis Nhanga Mona
Revisão da Tradução: Darcy Propodolski Pinto
Revisão de Língua Portuguesa: Everton Cardoso
A História de Rute: Uma Perspectiva
Cronológica e Genealógica
Paul Ray
Seminário Teológico Adventista
Universidade Andrews
Em estudo anterior, procurei fazer uma reconstrução do período dos
juízes.1 No presente estudo gostaria de expandir este trabalho concentrandome na cronologia do livro de Rute. Visto que a história desta ancestral do rei
Davi ocorreu durante os dias dos juízes (Rt 1:1), faz-se necessário tentar
localizá-la dentro deste período.
A história tem sido atribuída a vários locais dentro do período dos
juízes, como o faz, por exemplo, Josefo2 ao localizá-la no tempo de Eli. Os
antigos Rabinos também fizeram algumas sugestões. De acordo com Rab,
Débora e Baraque estavam implícitos por meio da palavra „juízes‟ já no
primeiro verso do livro. Para o Rabino Joshua Ben Levi, os juízes de tal
verso se tratavam de Sangar e Eúde, enquanto que o Rabino Huna acredita
serem eles Débora, Baraque e Jael, uma vez que, para ele, a palavra “juiz”
implicava uma pessoa, “juízes” duas, e “os juízes” três.3 Uma outra tradição
identifica Boaz como o juiz Ibzan,4 posto serem ambos de Belém. Os
comentaristas modernos usualmente não tentam estabelecer uma cronologia
precisa, uma vez que a frase de abertura do livro indistintamente atribui a
história ao período dos juízes5.
Tempo e Lugar da Estadia
O lugar da residência temporária é um fator que às vezes é visto
como tendo implicações cronológicas. A destruição das colheitas durante a
opressão midianita tem sido associada com a fome apresentada no livro de
Paul Ray, “Another Look at the Period of the Judges,” in Be in Beyond the Jordan : Studies
in Honor of W. Harold Mare, ed. G. A. Carnagey, G. A. Carnagey. Jr. and K. N. Schoville (Eugene, OR:
Wipf an d Stock, 2004), 93-104.
2
Josephus, Antiquities 5.9.2. Provavelmente com base na posição do livro na LXX.
3
Ruth Rab. 1.1.
4
b.Bat. 91a.
5
Leon Morris, Ruth (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1968), 245.
1
3
Rute.6 Entretanto, uma vez que os midianitas se tratavam de povo nômade,
esta destruição da colheita era em grande parte sazonal (i.e., uma série de
ataques quando chegava o tempo da safra) mais do que pela sua constante
presença na região.7 A perda da colheita consistia provavelmente no
consumo de parte da safra e a destruição do que não podia ser levado. A
crise do livro de Rute sugere uma seca8 em vez de uma obrigação imposta
por uma situação politicamente adversa.
Se a fome no livro de Rute foi uma seca local, algo que não é
incomum nesta parte do mundo (cf. Amós 4:7),9 o território tribal de Judá
pode ter sido afetado enquanto áreas vizinhas, mesmo ao leste da
Transjordânia, recebiam uma quantidade normal de precipitação. Não
obstante, a questão permanece quanto à razão pela qual a região de Moabe
foi escolhida como um lugar para a estadia (lāgûr; cf. Rt 1:1). Dado o fato de
que Moabe é mencionada no texto, parece razoável que a estadia descrita
aqui ocorreu em um período de dez anos (Rt 1:4) situados dentro dos 18 da
opressão moabita (Jz 3:14; ca. 1321-1303 a.C., de acordo com a nossa
reconstrução anterior).10 Os moabitas, juntamente com os amonitas e
amalequitas (Jz 3:12-13) tinham tomado pelo menos alguma parte das terras
pertencentes às tribos transjordânicas de Ruben e Gade, além de terem
também cruzado o rio Jordão em direção à região montanhosa central do
país e que era habitada pelas tribos de Benjamim e Efraim (Jz 3:15, 27).
Igualmente, tomaram posse de Jericó, a cidade das palmeiras (Jz 3:13; cf. Dt
34:3).11
O local da estadia neste cenário é literalmente “os campos” de
Moabe (Rt 1:1). Embora „campos‟ (śedê), que é o substantivo usado com
Moabe, seja um sinônimo de terra (’ereṣ),12 ele frequentemente se refere a
uma porção específica de terra. Se Moabe estava sob controle do território
israelita na Transjordânia no tempo desta estadia, o termo śedê aqui (e nos
versos 2, 6a, 22) poderia referir-se adequadamente a Moabe (à terra de
6
Carl Fredrick Keil and Delitzsch, Joshua, Judges, Ruth and 1 & 2 Samuel (Grand Rapids,
MI: Eerdmans, 1982) 2.466, 470-71.
7
William H. Shea, Faminies in the Early History of Egypt and Syro-Palestine (Ph.D.
dissertation, University of Michigan, 1976), 59.
8
E.F. Campbell, Ruth (Garden City, NY: Doubleday, 1975), 59.
9
Denis Baly, The Geography of the Bible, rev. ed. (NY: Harper and Row, 1974), 71-76.
10
Cf. Ray, “Judges,” 99, Table 1. Não há variantes textuais para a ideia dos 10 anos nas
versões antigas.
11
Embora alguns tenham argumentado que a localização atual de Eglom pode ter sido na
Transjordânia ao lado do rio Jordão; cf. G. F. Moore, Critical and Exegetical Commentary on Judges
(Edinburgh: T and T Clark, 1895), 100-101.
12
Robert B. Girdelestine, Synonyms of the Old Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans,
1897), 261. Interessantemente, o termo terra (’ereṣ) é usado apenas três vezes no livro, duas veze
referindo-se à região de Judá (Rt 1:1,7), da qual Noemi e sua família eram nativas, e uma vez em sentido
abstrato, referindo-se à “região” onde Rute nasceu; i.e., sua pátria (Rt 2:11). Portanto, o termo terra
(‘ereṣ) de Moabe, ou propriamente Moabe não é encontrado no livro.
4
Moabe), que é relativamente isolada e basicamente uma região pastoril;13 ao
Mishor, uma região muito fértil ao norte do rio Arnom e, em termos
climáticos, similar à área ao redor de Belém;14 ou menos provavelmente às
planícies de Moabe (parte da abertura do vale do Jordão) em frente a Jericó,
áreas mais áridas15 devido sua localização numa região de pouca chuva.
O Egito era o lugar comum para ir quando a fome generalizada
ocorria na Palestina, mas como mencionado acima, esta crise provavelmente
foi local. Portanto, um lugar com um clima similar à sua própria região
(’eres; cf. Rt 1:1a) seria preferível. Se os locais acima estavam de fato
disponíveis, parece improvável que Elimeleque e sua família escolhessem
ficar na própria Moabe, embora recebesse potencialmente 300-400 mm de
chuva anualmente (a quantidade é realmente imprevisível16 devido sua
posição mais ao sul). Se esta suposição está correta, parece provável que eles
obtiveram permissão dos moabitas para permanecerem temporariamente em
um território (śedê, cf. 1:6b, 2:6, 4:3) do qual eles estavam no controle,
exatamente em frente ao rio Jordão, no Mishor. Este é um indicativo, dadas
as implicações legais da palavra “estadia” como alguém que vem sob a
proteção daqueles que não são seus parentes de sangue.17 Ademais, este
poderia ter sido o único momento no qual Moabe estava no controle desta
região durante o período dos juízes (cf. Jz 3:12-30, Rt 1:4,8). Este é também
o único momento durante este período que Israel serviu ou se tornou vassalo
de Moabe (Jz 3:14).18
Evidência da Genealogia de Rute 4:18-22
Está além do escopo deste estudo discutir os argumentos a favor e
contra a genealogia no final do livro como sendo parte do texto original,
posto ser ela frequentemente considerada como um apêndice posterior.19
Entretanto, assumindo ser tal cronologia parte do texto original, acarretam-se
possíveis implicações cronológicas. Infelizmente a genealogia parece estar
incompleta, faltando diversas ligações em vários lugares.20 Assim, será
13
Burton MacDonald, East of the Jordan: Territories and Sites of the Hebrew Scriptures
(Boston: American Schools of Oriental Research, 2000), 174.
14
Belém está localizada numa zona climática que recebe 300-500 mm de chuva por ano.
Entretanto, visto que está na extremidade leste da região, sua média provável é 300-400 mm.
Climaticamente, o Mishor é semelhante às colinas da Cisjordânia (Baly, 54, 60), também recebendo 300400 mm de chuva por ano (Balay, 55, fig.24; MacDonald, 32; fig.4).
15
Yphanan Aharoni, Land of Bibles: A Historical Geogrpahy. trad. por A. F. Rainey
(Philadelphia: Westminster, 1979), 34.
16
Balay, 54.
17
D. Kellerman, “gûr,” Theological Dictionary of the Old Testament, ed. G. Johannes
Botterweck e Helmer Ringgren (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1977), 2:443.
18
Walter C. Kaiser, “„ābad,” Theological Wordbook of the Old Testament, ed. R. Laird Harris,
Gleason J. Archer, Jr., e Bruce K. Waltke (Chicago, II: Moody Press, 1980), 2:639.
19
Campbell, Apêndice, 3; C. J. Goslinga, Joshua, Judges, Ruth (Grand Rapids, MI:
ZOndervan, 1986), 513, 517.
20
Goslinga, 556.
5
necessário reconstruir a genealogia a fim de se ter algum significado
cronológico, trabalho que será feito vasculhando os dados bíblicos sobre o
período de tempo representado na genealogia, bem como definindo os dados
paralelamente às recentes pesquisas em genealogia e história.
A genealogia de Rt 4:18-22 é linear. Este tipo de genealogia traça
uma linha da descendência a partir de um indivíduo vivo para um único
ancestral.21 Uma cronologia posterior em 1 Cr 2:3-5, 9-15, com a qual há
estreita correspondência embora também linear, é parte de uma grande
genealogia segmentada que traça mais do que uma linha do descendente para
um único ancestral.22 Ambos os tipos de genealogia apresentam
instabilidade23 omitindo nomes não importantes, parecendo desta forma
incompletas aos ocidentais. Além disso, como acontece com as modernas
genealogias orais em que a profundidade média é dez a catorze gerações,24
Rt 4:18-22 apresenta dez gerações e 1 Cr 2:3-15 onze.
Judá
A genealogia de Rute 4:18-22 começa com Perez em vez de Judá, o
fundador da linhagem. Entretanto, há bastante informação no texto bíblico
acerca da maior parte dos outros membros da família incluídos aqui,
tornando óbvio que esta genealogia é a da tribo de Judá. A forma abreviada
usada aqui pode ter sido produzida a fim de se manter a genealogia na
profundidade de dez, embora seja reconhecidamente incomum omitir o
fundador de uma linhagem, em outras palavras algo muito peculiar. A
referência à casa (bêt) de Perez na narrativa (Rt 4:12) é a razão mais
provável.25
Se 1450 a.C. é usado como a data do Êxodo26, chega-se a 1933
a.C.27 como o ano em que Jacó foi para Harã. Sete anos depois (1926 a.C.)
21
Robert R. Wilson, Genealogy and History in the Biblical World (New Haven, CT: Yale
University Press, 1977), 9.
22
Wilson, “Genealogy and History,” 9. Na estrutura literaria de 1 Cr 2, cf. H. G. M.
Williamson, “Sources and Redaction in the Chronicler‟s Genealogy of Judah,” Journal of Biblical
Literature 98 (1979): 351-359. Sobre a correspondência entre as genealogias de Rute e I Crônicas 2, cf.
Campbell, Apêndice 4.
23
Wilson, “Genealogy and History,” 27-36; cf. também “Between „Azel‟ and „Azel‟:
Interpreting the Biblical Genealogies,” Biblical Archaeologist 42 (1979): 12.
24
Wilson, “Genealogy and History,” 20-22.
25
Goslinga, 517, 555.
26
William H. Shea, “Exodus, Date of the,” International Bible Standard Bilbe Encyclopedia
rev. ed., ed. By Geoffery W. Bromley (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1982), 2:230-238.
27
Esta data, e outras que se seguem, estão baseadas nos seguintes textos e com o ano 1450
a.C. como a data do Êxodo (ver nota n.26), nos anos a.C.:
970 Salomão começa a construir o templo, 480 anos após o Êxodo (1 Re 6:1)
1450 O Êxodo, 430 anos depois de Jacó chegar ao Egito (Ex 12:40)
1880 Jacó tinha a idade de 130 anos quando chegou ao Egito (Gn 47:9)
1882 Já dois anos de fome em andamento quando José se revelou [aos seus irmãos] (Gn 45:6)
1889 José se torna governador aos 30 anos de idade, segue-se sete anos de abundância (Gn
41:46, 53-54)
6
ele se casou com Lia e também com Raquel. Lia teve seis filhos nos sete
anos seguintes (1925-1919 a.C.; cf. Gn 29:32-35; 30:17-21). Dada as
limitações de fecundidade, era impossível que ela tivesse mais de um filho
por ano mediante seis concepções diferentes, com um ano sem filho depois
do quarto filho (Gn 29:35; 30:9). Se este foi o caso, é razoável assumir que
Judá, seu quarto filho, nasceu em ca. 1922 a.C.
Perez
Logo após José ter sido vendido como escravo (Gn 37:2-38:2) em
1902 a.C., Judá se casou. Ele teve três filhos, Er, Onã e Selá (possivelmente
nascidos já em ca. 1901-1899 a.C. respectivamente). Se Er foi dado em
casamento a Tamar por volta da idade de 15 anos28 (morrendo em seguida
seu irmão Onã), talvez logo após um ano casou-se com ela e depois também
morreu. Os anos dos casamentos deles com ela poderiam ter sido
aproximadamente 1886 e 1885 a.C. A esta altura Judá pede para Tamar
esperar até que Selá crescesse, ou seja, até que ele alcançasse a idade de
casamento e, se o acima estiver correto, provavelmente em torno da mesma
idade de seus irmãos mais velhos. Entretanto, a idade foi alcançada (ca. 1884
a.C.) ultrapassada (ca. 1883 a.C.; Gn 38:14) quando Tamar resolveu
solucionar as coisas por suas própria mãos. O resultado foi que Judá teve o
quarto filho, Perez (um gêmeo), com ela provavelmente em ca. 1882 a.C.,
uma vez que o texto (Gn 45:6) parece indicar que estes eventos ocorreram
antes que Judá e seus irmãos fizessem suas duas jornadas ao Egito para
1890 Isaque morre aos 180 anos de idade (Gn 37:2)
1902 José é vendido como escravo aos 17 anos de idade (Gn 37:2)
1913 Jacó deixa Labão depois de 20 anos de trabalho (Gn 31:38)
1919 José nasce após Jacó trabalhar 14 anos para Labão (Gn 29:1-28:10, 29:18)
1926 Jacó se casa depois de trabalhar para Labão 7 anos (Gn 29:18, 27)
1933 Jacó foge de Canaã e vai trabalhar para Labão (Gn 27:1-28:10, 29:18)
1995 Abraão morre aos 175 anos de idade (Gn 25:7)
2010 Jacó e Esaú nascem quando Isaque tinha 60 anos de idade (Gn 25:20, 26)
2070 Isaque nasceu quando Abraão tinha 100 anos de idade (Gn 21:5)
2095 Abraão chega a Canaã aos 75 anos de idade (Gn 12:4)
2170 Nasce Abraão (Gn 11:26, 32)
Estas datas estão baseadas na longa cronologia da estadia no Egito, cf. Paul Ray “The
Duration of the Israelite Sojourn in Egypt,” Andrews University Seminary Studies 24 (1986): 231-248.
28
Philip J. King e Lawrence E. Stager, Life in Biblical Israel (Louisville, KY: Westminster
John Knox Press, 2001):37, 54; Pierre de Vaux, Ancient Israel: Its Life and Instituions (Grand Rapids,
MI: Eerdmans, 1961), 29; Victor P. Hamilton, “Marriege,” Anchor Bible Dictionary, ed. por David N.
Freedman (New York: Doubleday, 1992), 562-563; John L. Berquist, “Marriege,” Erdmans Dictionary of
the Bible, ed, David N. Freedman (Grand Rapids, MI: Eerdamans, 200), 862; e Keil e Delitzsch,
Pentateuch (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1981), 1:1:339, n.1. A legislação Mosaica declarava que um
homem de 20 anos de idade estava hábil para a guerra (Nm 1:3). O casamento provavelmente era
desejável antes de assumir as responsabilidades das obrigações militares para que a descendência fosse
garantida (Dt 20:7; 24:5); cf. J. A. Thompson, Deuteronomy (Downers Grove, II: Inter Varsity Press,
1974), 245. Parece que dezesseis ou dezessete era a idade suposta de casamento para um jovem no tempo
de Jesus; cf. Alfred Edersheim, Sketches of Jewish Social Life (Grand Rapids, MI. Eerdmans, 1982), 147.
O Mishna (m.’ Abot 5.21.) sugere dezoito anos de idade.
7
comprar comida (em ca. 1881 e 1880 a.C.), após as quais eles se mudaram
para lá em 1880 a. C.
Hezrom e Rão
Se Perez nasceu em 1882 a.C. como reconstruído acima, teria sido
impossível Hezrom (seu filho) descer ao Egito dois anos depois, como uma
leitura superficial de Gênesis 46:12 parece sugerir.29 Parece que as 66
pessoas mencionadas nesta lista (Gn 46:26) eram fundadores de famílias
(mišpāhôt; clãs ou segmentos de linhagem) de acordo com Números 26.30
Portanto, aqueles que nasceram depois eram considerados como vindo para o
Egito nos lombos de seus antepassados (Ex 1:5), uma vez que eles eram, em
última análise, os fundadores do segmentos de linhagens. Assim, Hezrom
deve ter nascido algum tempo depois que Jacó e sua família chegaram ao
Egito.
Há poucas (se existe alguma) indicações para o tempo de
nascimento da maioria dos demais indivíduos. Portanto, será necessário
calcular uma média de duração de tempo para uma geração. Ao fazê-lo, de
modo algum é sugerido que as datas calculadas até aqui são absolutamente
exatas, mas que elas estão dentro dos limites de proximidade aceitáveis.
Deve também ser notado que os indivíduos mencionados não eram todos
filhos primogênitos. Judá e Perez, tal como já foi visto, eram o quarto filho
de seus respectivos pais; Rão, ao que parece, foi o segundo (1 Cr 2:9), e
Davi o oitavo (1Sm 17:12, 14). É provável que alguns dos outros indivíduos
nesta genealogia também não eram filhos primogênitos. Tem sido sugerido
que uma geração é de aproximadamente 25 anos31 e este padrão será usado
aqui para o período depois do Êxodo, visto que parece se ajustar bem a um
tempo quando a média de vida era cerca de 70 anos (Sl 90:10). Entretanto,
parece que 140 anos de idade fosse o mais aproximado para a idade média
de morte desde Abraão até o Êxodo (Êx 6:16, 18, 20).32 Portanto, usaremos
um padrão de 50 anos para uma geração, ou duas vezes 25 para 70 anos, para
aqueles indivíduos listados na primeira parte da genealogia. Se este padrão é
uma boa aproximação para a média de uma geração pré-Êxodo, então
29
Do mesmo modo, Benjamim, que tinha apenas cerca de 23 anos de idade neste tempo, visto
que não poderia já ter tido dez filhos (Gn 46:21), ou alternativamente oito filhos e dois netos (Nm 26:3840).
30
Há poucas diferenças na ortografia ou forma dos nomes e cinco nomes omissos; cf. Kell e
Delitzsch, “Pentateuch,” 1:1:371-374.
31
John Brigth, A History of Israel, 2nd ed. (Philadelphia: Westminster, 1976), 121.
32
Levi, Kohath e Amram calculam 137, 133 e 137 anos respetivamente; cf. também Sara, 127;
Abraão, 175; Ismael, 137; Isaac embora iria morrer aos 137 anos (Gn 27:1-10), mas viveu até 180; Jacó,
147, José, 110; Aarão, 123; e Moisés, 120. No padrão de 50 anos como média para uma geração, mesmo
nos tempos medievais e modernos, cf. D. Henige The Chronology of Oral Tradition (Oxford: Clarendon,
1974), 136-144; e “Comparative Chronology and the Ancient Near East: A case for Symbiosis,” Bulletin
of the American Schools of Oriental Research 261 (1986): 62.
8
Hezrom e Rão poderiam ter nascido ca. 1832 a.C e 1782 a.C.,
respectivamente.
Instabilidade Genealógica e Datação de Aminadabe e Naasson
Como indicado acima, instabilidade é um aspecto comum em
genealogias. Nomes não importantes eram omitidos normalmente no meio
da genealogia, entre os nomes dos fundadores da linhagem (e seus filhos) e
dos indivíduos vivos no final.33 O instituidor da linhagem na genealogia de
Rute 4, embora não mencionado, era Judá. Seus descendentes imediatos
(Perez, Hezrom, e Rão) formaram clãs ou segmentos de linhagem (Nm
26:20-22; 1Cr 2:9-15). Os membros vivos no final da genealogia (ou pelo
menos aqueles lembrados), sem entrar nas questões espinhosas da autoria e
propósito do livro,34 eram Davi e Jessé. Entretanto, a instabilidade
genealógica também é um tanto determinada pela função da genealogia, i.e.,
pelas situações políticas, sociais e religiosas por trás dela.35 Indivíduos que
estiveram associados com os importantes eventos religiosos e políticos do
Êxodo e o nascimento de uma nação aparecem nesta genealogia. Visto que
nomes não importantes sem dúvida também foram omitidos aqui, um lugar
lógico para isso ocorrer seria entre Rão (o último dos filhos que formou um
segmento de linhagem) e Aminadabe (o primeiro nome em conexão com o
evento do Êxodo, cf. Nm 1:7; 7:12, 17).
Se três conexões omissas forem postuladas entre estes dois grupos
de indivíduos, suas datas aproximadas de nascimento poderiam ser: 1) 1732
a.C.; 2) ca. 1682 a.C.; e 3) ca.1632 a.C. Aminadabe, que segue, poderia
então ter nascido ca. 1582 a.C. e Naasson, o príncipe (nāśî’; Nm 2:3) de Judá
logo após o Êxodo, poderia ter nascido ca. 1532 a.C.
Comparação com a Genealogia de Levi (Pré-Êxodo)
Como uma verificação de nossa reconstrução até agora,
compararemos as genealogias de Judá com a de Levi em 1Cr 6:1-8.36 Visto
que Levi, o terceiro filho de Jacó, nasceu um ano antes de Judá (Gn 29:3435) em 1923 a.C., é razoável assumir que as duas genealogias podem ser
mais ou menos paralelas. Levi viveu 137 anos (Ex 6:16). Resulta que sua
morte ocorreu em 1786 a.C. Os próximos na genealogias são Coate e Anrão
que instituíram clãs (mišpāḥôṯ) ou segmentos de linhagem (Nm 3:27; 26:57).
Como na genealogia de Rute no capítulo 4, vários nomes sem
importância anteriores aos indivíduos conectados com o Êxodo parecem ter
Wilson, “Genealogy and History,” 33, e “Azel,” 12.
Goslinga, 516-519.
35
Wilson, “Genealogy and History,” 36-45.
36
Temos previamente lidado com estas duas genealogias num estudo anterior, mas em poucos
detalhes. cf. Ray “Sojourn,” 237-239; 247-248, cf. Tabela 2.
33
34
9
sido omitidos (cf. Tabela 1). Eles são seguidos pelo pai de Moisés e Aarão.37
Assumindo 1450 a.C. como a data do Êxodo, então Aarão teria vivido de
1534 - 1411 a.C. (Êx 7:7; Nm 33:38-39) e Moisés de 1531/30 - 1410 a.C.
(Ex 7:7; Dt 34:7-8). Aarão se casou com Eliseba (a filha de Aminadabe) e
irmã de Naasson (Ex 6:23). Por isso, nossa reconstrução do ano de
nascimento de Naasson em 1532 a.C. está dentro do período de Aarão que
nasceu em 1534 a.C. e casou-se com a irmã de Naasson (cf. Tabela 1).
Salmom
Voltamos agora à genealogia em Rute 4. A esta altura, seria lógico
assumir a possibilidade da ausência de outros nomes após o importante
evento religioso e político do Êxodo. Se isto estiver correto, uma data de c.a
1482 a.C. seria de se esperar para este filho sem nome de Naasson. Salmom
então, poderia ter nascido ca. 1432 a.C., durante o tempo em que Israel
vagueou no deserto. Após um período de 40 anos no Sinai, Israel entrou em
Canaã e Jericó foi destruída, de acordo com a cronologia sugerida aqui, em
1410 a.C. Se, como tem sido sugerido na literatura,38 Salmom foi um dos
homens que espiou Jericó e estava envolvido intimamente com a conquista,
que levou cerca de sete anos para se completar (1411-1404 a.C., cf. Nm 2125, 31; Js 2-12; 14:6-15, 15:13-19), seu casamento com Raabe (Mt 1:5)
provavelmente não teria acontecido até antes destes eventos acontecerem,
i.e., ca. 1403 a.C. mais ou menos (Dt 20:7, 24:5).
Boaz e Obede
Boaz, o filho da união entre Salmom e Raabe, teria nascido já em ca.
1402 a.C. Entretanto, esta data é provavelmente cedo demais, visto que Boaz
está associado com o período dos juízes (Rt 1:1; 2:1). De acordo com o texto
(Jz 2:7, 10), houve uma geração (como visto acima, ca. 25 anos) entre a
conquista de Canaã e o período dos juízes, reconstruída em outro lugar como
começando aproximadamente em 1369 a.C.39 A esta altura permanecem na
genealogia apenas os nomes de Boaz e Obede para cobrir o período inteiro
dos juízes, uma era completa de mais de 300 anos de duração (Jz 11:26);
Jessé e Davi que sucederam, estão associados com o começo da monarquia.
Parece, então, que vários nomes foram omitidos da genealogia nesse
momento, com os dois representantes do período dos juízes também ligados
com a história de Rute. Com base na tradição de que Boaz foi o filho de
Salmon e Raabe (Mt 1:5) e a reconstrução acima do tempo da estadia no
livro de Rute como estando ligada com a opressão moabita, parece que Boaz
e Obede existiram muito cedo no período dos juízes.
Na questão ligada com o nome do pai de Arão e Moisés cf. Ray, “Sojourn,” 237-238, e n.30
Francis D. Nichol, Ed., Seven-day Adventist Bible Commentary (Washington D.C.; Review
and Herald, 1953-1957), 2:429.
39
Ray “Period of the Judges,” 99, Tabela 1
37
38
10
Se a fome em Judá começou por volta do início da opressão moabita
(ca. 1321 a.C)40 e a estadia entre os moabitas durou cerca de 10 anos (Rt
1:4), Noemi e Rute teriam retornado à Belém por volta de 1311 a.C. O
casamento de Rute e Boaz aparentemente não ocorreu muito tempo depois
de seu retorno, com o nascimento de Obede provavelmente no ano seguinte
(ca. 1310 a.C.). O texto parece indicar que Boaz já não era mais um jovem
quando ele e Rute se casaram (Rt 3:10). Embora não estejamos afirmando
sua idade exata, ela pode ser aproximada com uma comparação com o que se
conhece sobre seu parente Elimeleque. O último tinha idade suficiente para
ter filhos em idade de se casar (como visto acima, cerca de 15-20 anos), e ele
mesmo tinha, provavelmente, ao menos com 45 anos (25 anos para uma
geração pós-Êxodo, mais a idade aproximada de seus filhos que estavam
casados pouco tempo depois) quando ele e sua família começaram sua
peregrinação. Se estes cálculos estiverem mais o menos corretos, Elimeleque
poderia ter nascido ca. 1366 a.C. (1321 a.C. + 45 anos). Seu parente Boaz
pode ter tido uns poucos anos de idade a mais do que ele. Neste caso, isto
localizaria seu nascimento em ca. 1370 a.C.41
Davi e Jessé
Os anos da vida de Davi são bem conhecidos. Ele se tornou rei aos
30 anos de idade e reinou 40 anos (1010-970 a. C.; cf. 2 Sm 5:4-5; 1 Rs
2:11). Segue-se que ele nasceu em 1040 a.C. Ele era o mais jovem dos oito
filhos nascidos à Jessé (1Sm 17:12, 14), que poderia ter ao redor de 45 anos
mais ou menos quando Davi nasceu, visto já ser um homem idoso quando
Davi lutou com Golias (1 Sm 17:12) provavelmente por volta dos 18 anos de
idade (ca.1022 a.C.),42 o que situa o nascimento de Jessé por volta de 1085
a.C. Isto deixaria oito geração de 25 anos como uma amostra para
representar os oito nomes não importantes que foram deixados de fora entre
Obede e Jessé (ca. 1310-1085 a.C.).
Comparação com a Genealogia de Levi (Pós-Êxodo)
Verificaremos novamente nossa reconstrução desta parte da
genealogia de Judá com a de Levi em 1 Cr 6:1-8. Comparações têm sido
feitas até agora por meio da nona geração, ou seja, a de Moisés e Aarão com
40
Ibd., 99, Tabela 1.
Se este for o caso, Raabe teria ao menos 55 anos quando deu à luz a Boaz, assumindo que
esta tinha cerca de 15 anos mais ou menos no tempo em que Jericó foi destruída. Embora mais de 55
anos seja um tanto avançado para gravidez, existem os exemplos nos tempos bíblicos de Sara, a esposa de
Abraão, e Isabel, a mãe de João Batista, que engravidaram em sua idade avançada. Mesmo nos tempos
atuais,
mulheres
ocasionalmente
dão
a
luz
em
idade
avançada.
http://en.wikipedia.org/wiki/pregnancy_over_age_50.
42
Os homens Israelitas tinham de ter ao menos 20 anos de idade para o serviço militar (Nm
1:3). Isto dá a impressão de que embora ao menos três dos irmãos mais velhos de Davi estavam aptos
para participar, o próprio Davi, apesar de ter idade suficiente de ser um lutador experiente, ainda era
muito jovem para ir à batalha (1Sm 17:13-15; 33-37).
41
11
Naasson. A partir daqui, a genealogia de Levi continua de Eleazar até
Zadoque que foi o sumo-sacerdote no tempo de Davi. Próximo ao início
desta seção de genealogias de Levi e Judá, Jônatas ( o neto de Moisés Jz
18:30) e Finéias (o filho de Eleazar Nm 25:10; Js 24:33; e Jz 20:28) da tribo
de Levi, foram contemporâneos de Salmom. Entretanto, como pode ser visto
pela nossa reconstrução da genealogia de Judá, parece haver quatro nomes
muito raros na genealogia de Levi para o mesmo período de tempo. Assim,
parece que um número de nomes sem importância teria sido deixado de fora
desta genealogia também.
Embora nomes sejam deixados de fora ou omitidos das genealogias
como algo natural, alguns deles por vezes são preservados em algum outro
lugar nas porções narrativas do texto bíblico. De acordo Números 3:32,
20:25-28, 25:12-13 foi intenção original de Deus que a linhagem do sumosacerdócio prosseguisse através de Eleazar. Eli, no entanto, foi o primeiro
dos cinco sumo-sacerdotes (1 Sm 1:3, 14:3, 22:20) da linha de Itamar (1Cr
24:3), que por alguma razão (possivelmente porque o futuro sumo-sacerdote
correspondente era muito jovem43) interrompeu a linha legítima. Esta família
de sumo-sacerdotes da linha de Itamar algumas vezes é vista como sendo
paralela à de Zeraías até Zadoque44 devido à tradição em Josefo.45 Isto pode
sugerir que os quatro nomes faltando encontram-se entre Uzi e Zeraías.
Apesar de a linha sumo-sacerdotal em 1 Cr 6 estar incompleta em
vários lugares,46 parecer que a maioria (se não todos) dos indivíduos
omitidos são conhecidos a partir de seções narrativas nos livros históricos do
Antigo Testamento. Uma situação paralela existe na genealogia de Judá
quando alcança o período da monarquia (1 Cr 3:9-17). Ali dois monarcas,47
que também são identificados a partir dos livros históricos, foram omitidos.
Os escritores bíblicos parecem ter mantido um bom histórico dos
governadores humanos do reino teocrático, ainda que por possíveis razões de
estilo literário, peculiaridades genealógicas tais como profundidade e função,
ou razões teológicas, deixaram de fora certos nomes nas genealogias. Do
mesmo modo, parecem ter mantido um bom registro daqueles que tinham o
papel de liderança no outro ofício importante da teocracia, o sumosacerdócio.
Visto que tanto Zadoque como Abiatar foram sacerdotes no tempo
de Davi (2 Sm 15:29, 35), pareceria lógico que os nomes omitidos deveriam
estar localizados no final da genealogia. Se este for o caso, então esta parte
da genealogia sumo-sacerdotal consiste de Aarão até Aitube, seguido por
43
Keil and Delitzch, Joshua, Judges, Ruth 1 & 2 Samuel, 2:2:39-40.
Ibd., 39.
Josephus, Antiquities 5.11.5.
46
Joiada (2 Rs 11:15, 12:2), Zacarias (2 Cr 24:20) e Urias (2Rs 16:11, 15-16) entre outros são
conhecidos por terem existido, mas não aparecem nesta genealogia.
47
Atalia (2 Rs 11:3-4; 2Cr 22:12) e Jeoaz (2 Rs 23:31; 2Cr 36:2).
44
45
12
Eli, Finéias, Aitube e Aimeleque da linha de Itamar. Eles são seguidos por
Zadoque da linha de Eleazar e Abiatar da linha de Itamar no tempo de Davi.
Tal como com outros nomes seguidos por omissões nas genealogias bíblicas,
Zadoque deveria ser considerado um descendente de Aitube antes que seu
filho, uma vez que a palavra hebraica hôlîḏ “se tornar o pai de” não é
restringida imediatamente à geração seguinte, mas pode se referir a um
último descendente.48 Se sabe que Eli julgou Israel 40 anos (1 Sm 4:18). De
nossa reconstrução inicial do período dos juízes, foi visto que os anos de seu
juizado foram ca. 1110-1070 a.C.49 Também se sabe que estava com 98 anos
quando morreu (1 Sm 4:15), portanto seu nascimento deve ter sido em 1168
a.C. Isto está bem dentro do limite de ca. 1160 a.C. para o membro
correspondente na genealogia de Judá (cf. Tabela 1). Portanto, parece que
nossa reconstrução da última parte desta genealogia bem como a da primeira
parte está dentro do razoável.
Resumo e conclusão
Em resumo, as implicações cronológicas no livro de Rute dependem
de dois pontos de referência na própria história. O primeiro destes é indicado
pelo fato de que a estadia teve lugar nos campos ou território (śedê) de
Moabe. Embora esta frase hebraica pudesse referir-se à própria Moabe, às
planícies de Moabe, ou o Mishor, as primeiras duas regiões eram geralmente
mais secas, ou potencialmente mais ainda do que a terra natal da família de
Elimeleque, o que poderia sugerir o Mishor como o lugar mais provável de
sua estadia. Ironicamente, esta mesma região não muito tempo antes havia
sido território israelita. Israel havia conquistado primeiramente os amorreus
(Nm 21:21-35; Dt 2:24-37), que por sua vez tinham previamente tomado
esta área dos moabitas (Nm 21:26-30). Moabe estava agora ocupando uma
região que tinha estado sob seu controle num passado distante e este foi o
único tempo que ela estava novamente em sua possessão durante o período
dos juízes (Rt 1:1).
O outro ponto de referência é a genealogia no capítulo quatro. Como
outras genealogias, esta não funciona como registro histórico, mas deveria
ainda ser considerada historicamente precisa, visto que nela ambas as esferas
de referência (política e religiosa) são representadas.50 A genealogia destaca
a relação entre os personagens na história com o evento religioso do Êxodo
(por meio daqueles indivíduos que estiveram ligados a ele) bem como o
âmbito político (em associação com o rei Davi). Ela também apresenta
48
P. R. Gilchirist, “yālad,” Theological Wordbook of the Old Testament Theological
Wordbook of the Old Testament, ed. R. Laird Harris, Gleason J. Archer, and Bruce K. Waltke. (Chicago,
II: Moody Press, 1980), 1:379.
49
Cf. Ray, “Period of the Judges,” 99, Tabela 1.
50
R.R. Wilson, “The Old Testament Genealogies in Recent Research,” Journal of Biblical
Literature 94 (1975): 189.
13
características como profundidade e instabilidade e estas têm sido usadas em
sua reconstrução. Existe informação bíblica suficiente para marcar pontos
exatos de contato com o início, o ponto médio (lidando com aqueles
associados com o evento do Êxodo) e o fim da genealogia. Onde as
informações estão ausentes, uma quantidade média de tempo para uma
geração tem sido usada juntamente com a genealogia de Levi que, embora
temporariamente paralela, tinha uma função diferente visto lidar com a
esfera religiosa, i.e., o ofício sacerdotal na seção pós-Êxodo. Em termos do
período dos Juízes a genealogia lista apenas Boaz e Obede para um espaço
de mais de 300 anos, sendo plenamente possível a estes se encaixarem em
qualquer lugar dentro do período. Não obstante, temos sugerido que eles
viveram no começo do período e que o nascimento de Obede ocorreu
durante a última parte da opressão moabita. Isto, como se verifica, parece se
ajustar mais favoravelmente dentro dos parâmetros sugeridos pelo texto
bíblico e os aspectos da análise genealógica. Embora especulativos em
muitas formas, parece que estes dois pontos de referência fornecem dados
suficientes para determinar uma circunstância razoável para os eventos
descritos no livro de Rute como tendo ocorrido durante a opressão moabita
dentro do período dos Juízes.
Finalmente, da nossa perspectiva moderna, o intervalo de tempo
sugerido para este evento pode parecer improvável, uma vez que os moabitas
estavam oprimindo o povo de Deus em termos de expansão e ocupação
territorial (Jz 3:13), implicando supostamente um favorecimento arbitrário
de alguns israelitas enquanto se submetia outros à tirania. Entretanto,
diferentemente das modernas fronteiras geopolíticas, as antigas divisas eram
na verdade muito instáveis, mudando levemente de maneira relativamente
fácil. O local permitido teria sido tudo que era necessário para a família de
Elimeleque permanecer temporariamente entre indivíduos moabitas, tais
como os das famílias de Rute e Orfa. Além disso, embora houvesse exceções
como a deportação de grande parte de uma população durante o período do
final do oitavo século a.C. (até grande parte do sexto século a.C.), na maioria
das vezes a troca de um soberano devido a uma conquista militar afetava
principalmente a elite, de quem os tributos ou obrigações pagos na forma de
bens tomavam uma direção diferente. Sem embargo, ao indivíduo comum, a
vida continuava mais ou menos igual como no período do dominador
anterior. Localizada em seu correto contexto da Idade do Bronze Tardio,
uma peregrinação durante a opressão moabita não estaria muito fora de lugar
como parece quando lida através das lentes de óculos pós-911.
Paul Ray é diretor das publicações arqueológicas do Instituto de
Arqueologia da Universidade Andrews, administrador associado do Horn Museum,
Universidade Andrews e Professor Adjunto de Arqueologia no Seminário Teológico
Adventista do Sétimo Dia da Universidade Andrews, Berrien Springs, Michigan.
14
Ray é PhD em Arqueologia do Oriente Próximo pela Universidade Andrews. Tem
servido de várias formas em escavações arqueológicas na Jordânia e Israel por mais
de 20 anos, é autor e/ou editor de três livros, contribuindo ainda com artigos e
ensaios para vários livros e periódicos. Ademais, serve como editor da revista Near
East Archeological Society Bulletin. [email protected]
Tabela 1
Resumo de Data Genealógica
Geração
1 Cr 6:1-8
1Sm 1:3; 14:3;
22:20
Rt 4:18-22;
1Cr 2:3-5; 9-15
1
Levi* (1923-1786)+
Judá* (1922)
2
Coate
Perez (ca. 1832)
3
Anrão
Hezrom (ca.1832)
4
?
Rão (ca. 1782)
5
?
? (ca.1732)
6
?
? (ca.1682)
7
?
? (ca.1632)
8
Anrão (?)
Aminadabe (ca.1582)
9 Moisês
Aarão
Naasson (ca.1532)
(1531/30-1410) (1534-1411)
10 Gerson
Eleazar
11 Jônatas
Finéias
Itamar
? (ca.1482)
Salmom (ca.1432)
12
Abisua
Boaz (ca.1370)
13
Buqui
Obede (ca. 1310)
14
Uzi
? (ca.1285)
15
Zeraías
? (ca.1260)
16
Meraiote
? (ca.1235)
17
Amarias
? (ca.1210)
18
Aitube
19
?
Eli (1168-1070)
? (ca.1160)
20
?
Finéias (?-1070)
? (ca.1135)
21
?
Aitube
? (ca.1110)
22
?
Aimeleque
Jessé (ca.1085)
23
Zadoque
Abiatar
Davi (ca.1040-970)
? (ca.1110)
* Instituidor de linhagem
Instituidor de famílias (segmento de linhagem)
+
Em datas a.C.
15