Adoração eucarística

Transcrição

Adoração eucarística
C O N G R E G A Ç Ã O
P A R A
O
C L E R O
A d or a ç ã o e u c a r í s t ic a
pela santificação dos sacerdotes
e Maternidade espiritual
CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
Adoração eucarística
pela santificação dos sacerdotes
e Maternidade espiritual
Responsável pela publicação:
S.E.R. Dom Mauro Piacenza,
Arcebispo. tit. de Victoriana,
Secretário da Congregação para o Clero
Congregação para o Clero
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Tel.: 06 698 84151 - 06 698 84178
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Esta brochura é uma oferta
aos benfeitores e amigos da Fundação AIS
Setembro de 2009
Fundação AIS
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1600-796 Lisboa
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CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
CONGREGATIO PRO CLERICIS
Carta que a Congregação está a enviar para promover a adoração
eucarística pela santificação dos sacerdotes e maternidade espiritual:
EXCELÊNCIA REVERENDÍSSIMA
S
ão realmente muitas as coisas a serem feitas para o verdadeiro bem do Clero e para a fecundidade do ministério pastoral nas circunstâncias actuais, mas, exactamente por isso mesmo,
com o firme propósito de enfrentar essas dificuldades e essas fadigas, cientes de que o agir
sucede ao ser e que a alma de cada apostolado é a intimidade com Deus, pretende-se iniciar um
movimento espiritual que, favorecendo uma consciência cada vez maior da ligação ontológica
entre Eucaristia e Sacerdócio e da especial Maternidade de Maria em relação a todos os Sacerdotes, dê vida a uma corrente de adoração perpétua, para a santificação dos clérigos, e a um
novo empenho das almas femininas consagradas para que, inspirando-se na Bem-Aventurada
Virgem Maria, Mãe do Sumo e Eterno Sacerdote e associada, de modo singular, à sua obra
de Redenção, queiram adoptar espiritualmente sacerdotes para os ajudar com a oferta de si,
a oração e a penitência. Na adoração está sempre incluído o acto de reparação pelas próprias
faltas e, nas actuais circunstâncias, sugere-se uma particular intenção em tal sentido.
S
egundo o dado constante da Tradição, o ministério e a realidade da Igreja não se reduzem
à estrutura hierárquica, à liturgia, aos sacramentos e aos ordenamentos jurídicos. De facto,
a natureza íntima da Igreja e a origem primeira da sua eficácia santificadora, devem ser procuradas na mística união com Cristo.
A doutrina, e a própria estrutura da constituição dogmática Lumen Gentium, afirmam que essa
união não pode ser imaginada separada da Mãe do Verbo Encarnado, Aquela que Jesus quis
intimamente unida a Si para a salvação de todo o género humano.
Não é casual, portanto, que no mesmo dia em que foi promulgada a constituição dogmática
sobre a Igreja – 21 de Novembro de 1964 -, Paulo VI proclamasse Maria “Mãe da Igreja”,
ou seja, mãe de todos os fiéis e de todos os pastores.
O Concílio Vaticano II – referindo-se à Bem-Aventurada Virgem – assim se expressa: “...
Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no templo, padecendo
com Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança
e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É por esta
razão nossa mãe na ordem da graça.” (LG n 61).
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
3
S
em nada acrescentar ou tirar à única mediação de Cristo, a sempre Virgem é reconhecida
e invocada, na Igreja, com títulos de Advogada, Auxiliadora, Socorro e Medianeira; Ela é o
modelo do amor materno que deve animar todos os que cooperam, através da missão apostólica
da Igreja, na regeneração da inteira humanidade (cfr LG n 65).
À luz destes ensinamentos, que são parte da eclesiologia do Concílio Vaticano II, os fiéis, dirigindo o olhar para Maria – exemplo fúlgido de toda virtude -, são chamados a imitar a primeira
discípula, a mãe, à qual foi confiado, em João – aos pés da cruz (cfr Jo 19, 25-27) –, cada discípulo, e assim, tornando-se seus filhos, aprendem com ela o verdadeiro sentido da vida em Cristo.
Desta forma – e exactamente a partir do lugar ocupado pela Virgem Santíssima e do papel
por Ela desenvolvido na história da salvação - pretende-se, de maneira muito especial, confiar
a Maria, a Mãe do Sumo e Eterno Sacerdote, cada Sacerdote, suscitando, na Igreja, um movimento de oração que coloque no centro a adoração eucarística contínua, no arco de tempo das
vinte e quatro horas, de modo que, de cada canto da terra, sempre se eleve a Deus, incessantemente, uma oração de adoração, agradecimento, louvor, pedido e reparação, com o objectivo
precípuo de suscitar um número suficiente de santas vocações para o estado sacerdotal e, ao
mesmo tempo, de acompanhar espiritualmente – na realidade do Corpo Místico -, com uma
espécie de maternidade espiritual, todos os que já foram chamados ao sacerdócio ministerial
e são ontologicamente modelados ao único Sumo e Eterno Sacerdote, para que cada vez melhor
Nossa Senhora com os Apóstolos
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CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
sirvam a Ele e aos irmãos, colocando-se não apenas “na” Igreja, mas também “perante” a Igreja,
como prolongamento visível e sinal sacramental de Cristo que representam como cabeça, pastor
e esposo da Igreja (PdV n 16).
Pede-se portanto a todos os Ordinários diocesanos que percebem, em particular, a especificidade e a insubstituibilidade do ministério ordenado na vida da Igreja, em conjunto com
a urgência de uma acção comum a favor do sacerdócio ministerial, de se tornarem parte activa
e de promover – nas diferentes comunidades do povo de Deus a eles confiadas -, verdadeiros
cenáculos onde clérigos, religiosos e leigos, unidos entre si e em espírito de verdadeira comunhão, se dediquem à oração, sob forma de adoração eucarística contínua, inclusive em espírito
de genuína e real reparação e purificação. Para tal fim, inclui-se um fascículo que tem como
finalidade fazer compreender melhor a índole da iniciativa, para aderir em espírito de fé ao
projecto aqui apresentado.
Maria, Mãe do Único, Eterno e Sumo Sacerdote, abençoe esta iniciativa e interceda, junto
a Deus, pedindo uma autêntica renovação da vida sacerdotal a partir do único modelo possível:
Jesus Cristo, Bom Pastor!
Presto obséquios cordiais no Vínculo da comunhão eclesial com sentimentos de intenso
afecto colegial.
Cláudio Card. Hummes
Prefeito
Mauro Piacenza
Secretário
Do Vaticano, 8 de Dezembro de 2007
Solenidade da Imaculada Conceição da B.V. Maria
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
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“ROGAI AO SENHOR
DA MESSE PARA QUE
ENVIE TRABALHADORES”
R
“ ogai ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a Sua messe!” Isto significa que:
a messe existe, mas Deus quer servir-Se dos homens, a fim de que ela seja levada ao celeiro.
Deus necessita de homens. Necessita de pessoas que digam: Sim, eu estou disposto a tornar-me
Vosso trabalhador na messe, estou disposto a ajudar para que esta messe, que está a amadurecer
nos corações dos homens, possa realmente entrar nos celeiros da eternidade e a tornar-se perene
comunhão divina de alegria e de amor.
“Rogai ao Senhor da messe”! Isto quer dizer também: não podemos simplesmente “produzir”
vocações, elas devem vir de Deus. Não podemos, como talvez noutras profissões, por meio
de uma propaganda bem definida, através das chamadas estratégias adequadas, simplesmente
recrutar pessoas. A chamada, partindo do coração de Deus, deve sempre encontrar o caminho
rumo ao coração do homem. E no entanto, exactamente para que chegue aos corações dos
homens, é necessária também a nossa colaboração. Rogar ao Senhor da messe significa certamente, antes de mais nada, rezar por isso, tocar o Seu coração e dizer: “Fazei-o por favor!
Despertai os homens! Acendei neles o entusiasmo e a alegria pelo Evangelho! Fazei-os entender
que este é o mais precioso de todos os tesouros e que quem o descobriu deve transmiti-lo!”
Nós tocamos o coração de Deus. Mas o rogar a Deus não se realiza somente mediante palavras
de oração; implica também a transformação da palavra em acção, para que o nosso coração que
pede lance a faísca da alegria em Deus, da alegria pelo Evangelho, e suscite em outros corações
a disponibilidade a dizer um “sim”. Como pessoas de oração, repletas da Sua luz, atingimos
os outros e, envolvendo-os na nossa oração, fazemos com que entrem na luz da presença de
Deus, que fará então a Sua parte. Neste sentido queremos sempre e novamente rogar ao Senhor
da messe, tocar o Seu coração e tocar, com Deus, na nossa oração, também os corações dos
homens para que Ele, segundo a Sua vontade, faça amadurecer neles o “sim”, a disponibilidade
e a constância - através de todas as confusões do tempo, através do calor do dia e também
através da escuridão da noite - de perseverar fielmente no serviço, haurindo continuamente dele
a consciência de que, embora fatigante, este esforço é bom, é útil porque conduz ao essencial,
ou seja, faz com que os homens recebam o que esperam: a luz de Deus e o amor de Deus.
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CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
© L’Osservatore Romano
BENTO XVI
Encontro com os Sacerdotes e os Diáconos
em Freising, 14 de Setembro de 2006
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
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MATERNIDADE ESPIRITUAL
DOS SACERDOTES
A vocação de ser mãe espiritual dos sacerdotes é muito pouco conhecida, insuficientemente compreendida e portanto pouco vivida, apesar da sua vital e fundamental
importância. Essa vocação muitas vezes está escondida, invisível aos olhos humanos,
mas tem como objectivo transmitir vida espiritual.
Disto tinha certeza o Papa João Paulo II: por isso ele quis no Vaticano um mosteiro de
clausura onde fosse possível rezar pelas suas intenções como Sumo Pontífice.
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CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
I
ndependentemente da idade e do estado civil, todas as mulheres se podem tornar mães espirituais de um sacerdote, e não somente as mães de família. É possível também para uma mulher
doente, para uma mulher solteira ou para uma viúva. Adapta-se, em particular, às missionárias
e às religiosas que oferecem inteiramente a própria vida a Deus pela santificação da humanidade. João Paulo II agradeceu até mesmo a uma menina pela sua ajuda materna: “Exprimo
a minha gratidão também à beata Jacinta de Fátima pelos sacrifícios e orações oferecidas pelo
Santo Padre, que ela tinha visto em grande sofrimento”. (13 de Maio de 2000).
Cada sacerdote é precedido de uma mãe que, frequentemente, também é uma mãe de vida
espiritual para os seus filhos. Giuseppe Sarto, por exemplo, o futuro Papa Pio X, logo depois
de ser consagrado bispo foi visitar sua mãe, na altura com setenta anos de idade. Ela beijou
respeitosamente o anel do filho e de repente, ficando pensativa, indicou a sua pobre aliança de
prata: “Sim, Peppo, mas tu agora não estarias usando esse anel se eu antes não tivesse usado
a minha aliança”. S. Pio X, justamente, confirmava a partir da sua experiência: “Cada vocação
sacerdotal vem do coração de Deus, mas passa através do coração de uma mãe!”.
“O QUE ME TORNEI E COMO,
O DEVO À MINHA MÃE!”
Sto. Agostinho
Um excelente testemunho é a vida de Sta.
Mónica. Santo Agostinho, seu filho, que aos dezanove anos, como estudante em Cartago, havia
perdido a fé, escreveu nas suas ‘Confissões’:
“... Mas Vós, lá do alto, estendestes a mão
e arrancastes a minha alma desta voragem tenebrosa, enquanto minha Mãe, Vossa fiel serva,
junto de Vós chorava por mim, mais do que as
outras mães choram sobre os cadáveres dos
filhos. … Entretanto aquela viúva casta, piedosa
e sóbria - como Vós a quereis - já, certamente,
mais alegre pela esperança, mas não menos
remisse em prantos e gemidos, não se cansava
de Vos fazer queixa de mim, durante as horas
em que orava.” Após a conversão disse com
gratidão: “Minha santa mãe, Vossa serva, nunca
me abandonou. Ela me deu à luz com a carne
para esta vida temporal e com o coração para
a vida eterna. O que me tornei e como, o devo
à minha Mãe!”.
vesse ao seu lado; ela escutava atentamente,
às vezes intervinha com um parecer delicado
ou, para assombro dos sábios presentes, dava
respostas a questões abertas. Portanto não
surpreende que Santo Agostinho se declarasse seu ‘discípulo em filosofia’!
Durante as suas discussões filosóficas, Santo
Agostinho queria sempre que a sua mãe estiADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
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O SONHO DE UM CARDEAL
O Cardeal Nicolau Cusano (1401-1464), Bispo de Bressanone, não foi somente um
grande político da Igreja, famoso legado papal e reformadorda vida espiritual do
clero e do povo no século XV, mas também um homem do silêncio e da contemplação.
Num “sonho” foi-lhe mostrada aquela realidade espiritual que ainda hoje vale para
todos os sacerdotes e para todos os homens: o poder do abandono, da oração e do
sacrifício das mães espirituais no segredo dos conventos.
MÃOS E CORAÇÕES
QUE SE SACRIFICAM
“... Ao entrar numa igreja pequena e muito
antiga, decorada com mosaicos e frescos dos
primeiros séculos, o cardeal teve uma visão
imane. Milhares de religiosas rezavam na
pequena igreja. Elas eram tão graciosas e recolhidas que havia lugar para todas, apesar da
comunidade ser numerosa. As irmãs rezavam
e o cardeal nunca tinha visto rezar tão intensamente. Elas não estavam de joelhos, mas
firmes em pé, o olhar não longínquo, porém
fixo num ponto próximo a ele e, no entanto,
invisível aos seus olhos. Os braços das irmãs
estavam abertos e as mãos viradas para o alto,
numa posição de oferecimento”.
O incrível desta visão é que as irmãs seguravam, em suas pobres e delicadas mãos,
homens e mulheres, imperadores e reis,
cidades e países. Às vezes as mãos apertavam-se ao redor de uma cidade; outras
vezes de um país, reconhecível pelas
bandeiras nacionais, estendia-se sobre
uma muralha de braços que o sustentavam.
Nestes casos também em volta de cada
irmã que rezava expandia-se um halo de
silêncio e discrição. A maioria das religiosas, porém, sustentava com as mãos
um só irmão ou irmã. Nas mãos de uma
jovem e frágil monja, quase uma menina,
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o cardeal Nicolau viu o papa. Percebia-se
quanto a carga pesava sobre ela, mas o seu
rosto brilhava de felicidade. Sobre as mãos
de uma religiosa idosa estava ele próprio,
D. Nicolau Cusano, Bispo de Bressanone
e cardeal da Igreja romana. Ele reconheceu-se claramente a si mesmo com
as suas rugas e com os defeitos da sua alma
e da sua vida. Observava tudo com olhos
arregalados e assustados, mas logo ao susto
seguiu-se uma indescritível beatitude.
O guia, que estava ao seu lado, murmuroulhe: “Veja como apesar dos seus vossos
pecados, são ajudados e suportados
os pecadores que não deixaram de amar
a Deus!”. O cardeal perguntou: “O que
acontece então aos que deixam de amar?”.
Repentinamente, sempre acompanhado pelo
sua guia, encontrou-se na cripta da igreja,
onde rezavam outros milhares de religiosas.
Enquanto que as anteriores sustentavam
as pessoas com as mãos, estas na cripta
sustentavam-nas com o coração. Estavam
profundamente envolvidas, pois tratavase do destino eterno das almas. “Veja,
Eminência”, disse o guia: “assim são
suportados aqueles que deixaram de amar.
Algumas vezes acontece que se aquecem
CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
com o calor dos corações que se consomem
por eles, mas nem sempre. Às vezes, na
hora da morte, passam das mãos daqueles
que ainda os querem salvar para as mãos
do Juiz divino, a quem devem justificar-se
inclusive pelo sacrifício que lhes foi oferecido. Nenhum sacrifício fica sem frutos,
mas quem não colhe o fruto que lhe foi
oferecido, amadurece o fruto da ruína”.
O cardeal fitou as mulheres vítimas voluntárias. Ele sempre soubera da sua existência. Nunca, porém, havia percebido
com tanta clareza o que significavam para
a Igreja, para o mundo, para os povos e para
cada indivíduo; somente agora, confuso,
compreendia. Curvou-se, então, profundamente perante as mártires do amor.
Desde o ano 550 e durante meio século, Säben foi a sede episcopal da diocese de Bressanone. A partir de
1685, portanto há mais de 300 anos, o castelo tornou-se um mosteiro, onde até hoje uma comunidade de
Irmãs Beneditinas vive a maternidade espiritual, rezando e consagrando-se a Deus, exactamente como
o cardeal Nicolau Cusano vira no seu sonho.
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
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ELIZA VAUGHAN
É uma verdade evangélica que as vocações sacerdotais devem ser pedidas com
a oração. Evidencia-o Jesus no evangelho quando diz: “A messe é grande, mas os
trabalhadores são poucos. Peçam, pois, ao Senhor da messe que envie trabalhadores
para a sua messe!”(Mt 9,37-38).
Oferece-nos um exemplo muito significativo a inglesa Eliza Vaughan, mãe de família
e mulher dotada de espírito sacerdotal, que rezou muito pelas vocações.
Eliza provinha de uma família protestante,
a dos Rolls, que sucessivamente fundou a
indústria automobilística Rolls-Royce, mas
quando jovem, durante a sua permanência
e educação em França, havia ficado muito
impressionada pelo exemplar empenho da
Igreja Católica para com os pobres.
No Verão de 1830, após o casamento
com o coronel John Francis Vaughan,
Eliza, apesar da forte resistência dos seus
parentes, converteu-se ao catolicismo.
Havia tomado essa decisão com convicção
e não somente por ter passado a fazer parte
de uma famosa família inglesa de tradição
católica. Os antepassados Vaughan, durante
a perseguição dos católicos ingleses no
reinado de Isabel I (1558-1603), preferiram sofrer a expropriação dos bens
e a prisão a renunciar à própria fé.
Courtfield, a residência originária da
família de seu marido, tornara-se, durante
as décadas de terror, um abrigo para os
sacerdotes perseguidos e um lugar onde
se celebrava a Santa Missa. Desde então
haviam passado três séculos, mas nada
mudara no espírito católico da família.
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Certa do poder da oração silenciosa e fiel, Eliza
Vaughan reservava cada dia uma hora de adoração
na capela da casa, rezando pelas vocações na sua
família. Tornando-se mãe de seis sacerdotes foi
grandemente atendida. Falecida em 1853, a Mãe
Vaughan foi enterrada em Courtfield, na propriedade
da família que ela tanto amara.
Hoje, Courtfield é um centro de exercícios espirituais
da diocese de Cardiff. Com o exemplo da santa vida
de Eliza, em 1954 a Capela da Casa foi consagrada
pelo bispo como “Santuário de Nossa Senhora das
Vocações”, título que foi confirmado no ano 2000.
CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
OFEREÇAMOS OS NOSSOS
FILHOS A DEUS
Convertida de todo o coração, cheia de zelo,
Eliza propôs ao marido oferecer os filhos
a Deus. Essa mulher de elevadas virtudes
rezava todos os dias durante uma hora em
frente ao Santíssimo Sacramento, na Capela
da residência de Courtfield, pedindo a Deus
uma família numerosa e muitas vocações
religiosas entre os seus filhos. Foi atendida!
Teve catorze filhos e morreu pouco depois
do nascimento do último filho em 1853. Dos
treze filhos vivos, entre os quais oito rapazes,
seis tornaram-se sacerdotes: dois em ordens
religiosas, um sacerdote diocesano, um bispo,
um arcebispo e um cardeal. Das cinco filhas,
quatro tornaram-se religiosas. Que bênção
para a família e que efeitos para toda a Inglaterra! Todos os filhos da família Vaughan
tiveram uma infância feliz, porque na sua
educação a sua santa mãe possuía a capacidade de associar de modo natural a vida espiritual e as obrigações religiosas com as diversões e a alegria. Por vontade da mãe faziam
parte da vida quotidiana as orações e a Santa
Missa na capela da casa, bem como a música,
o desporto, o teatro, a equitação e as brinca-
deiras. Os filhos não se entediavam quando
a mãe lhes contava as vidas dos santos, que aos
poucos se tornaram para eles amigos íntimos.
Eliza levava consigo os filhos também nas
visitas e nos cuidados aos doentes e aos sofredores das vizinhanças, para que pudessem
nestas ocasiões aprender a serem generosos,
a fazer sacrifícios, a dar aos pobres as suas
poupanças e seus brinquedos.
Faleceu pouco depois do nascimento do
décimo quarto filho, John. Dois meses
após a sua morte, o coronel Vaughan,
convencido que ela havia sido um dom
da Providência, escreveu numa carta:
“Hoje, durante a adoração, agradeci
o Senhor, por ter podido devolver-Lhe
a minha amada esposa. Abri-Lhe o coração
cheio de gratidão por ter-me dado a Eliza
como modelo e guia, A ela ainda me liga
um vínculo espiritual inseparável. Que
maravilhosa consolação e que graça me
transmite! Ainda a vejo, como sempre a
vi, perante o Santíssimo com aquela sua
pura e humana gentileza que lhe iluminava
o rosto durante a oração”.
TRABALHAI
NAS VINHAS DO SENHOR
As numerosas vocações entre os filhos do
casal Vaughan são realmente uma extraordinária herança na história do Reino Unido e uma
bênção que provinha principalmente da mãe
Eliza. Quando Herbert, o filho mais velho, aos
dezasseis anos anunciou aos pais que queria
tornar-se sacerdote, as reacções foram diferentes. A mãe, que havia rezado muito para que
isso acontecesse, sorriu e disse: “Meu filho, eu já
sabia há muito tempo”. O pai, porém, precisou
de um pouco de tempo para aceitar o anúncio,
pois sobre o filho mais velho, herdeiro da casa,
havia colocado muitas esperanças e havia
pensado para ele uma brilhante carreira militar.
Como teria podido imaginar que Herbert iria
tornar-se Arcebispo de Westminster, fundador
de Millhill e posteriormente Cardeal?
Mas o pai também logo se persuadiu
e escreveu a um amigo: “Se Deus quer
Herbert para si, também pode ficar com
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
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todos os outros”. Reginaldo, porém,
casou-se, como Francis Baynham, que
herdou a propriedade da família. Deus
chamou ainda outros nove filhos dos
Vaughan. Roger, o segundo, tornou-se
prior dos beneditinos e mais tarde respeitado Arcebispo de Sydney, na Austrália,
onde mandou construir a catedral. Kenelm
tornou-se cisterciense e mais tarde sacerdote diocesano. José, o quarto filho dos
Vaughan, foi beneditino como o irmão
Roger e fundador de uma nova abadia.
Herbert Vaughan tinha dezasseis anos quando no
verão, durante um retiro espiritual, resolveu ser
sacerdote. Foi ordenado em Roma aos 22 anos
de idade e mais tarde tornou-se Bispo de Salford,
em Inglaterra, e fundador dos Missionários de
Millhill, que hoje actuam no mundo inteiro. Por
fim, tornou-se Cardeal e terceiro Arcebispo de
Westminster. No seu brasão está escrito: “Amare
et Servire!”. O seu programa estava enunciado
na frase “O amor deve ser a raiz da qual brota
todo o meu serviço”.
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Bernardo, talvez o mais animado de todos,
que amava muito a dança e o desporto,
que não perdia uma diversão, tornou-se
jesuíta. Conta-se que no dia anterior à sua
entrada na ordem, tenha tomado parte de
um baile e tenha dito ao seu par: “Este é
o último baile a que venho, porque vou
para jesuíta!”. Surpreendida, a jovem
teria exclamado: “Mas por favor! Logo
o senhor, que tanto ama o mundo e dança
maravilhosamente bem, quer ser jesuíta?”.
A resposta, que pode ser interpretada de
várias maneiras, é muito bonita: “Exactamente por isso me entrego a Deus!”. John,
o mais novo, foi ordenado sacerdote pelo
irmão Herbert e posteriormente tornouse Bispo de Salford, em Inglaterra. Das
cinco filhas da família, quatro tornaramse religiosas. Gladis entrou na ordem da
visitação, Teresa foi irmã da misericórdia,
Claire irmã clarissa e Mary madre superiora das agostinianas. Margareta, a quinta
filha dos Vaughan, também queria ser
religiosa, mas não pôde por causa da sua
saúde delicada. Viveu, porém, em casa
como consagrada e passou os últimos anos
da sua vida num mosteiro.
CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
BEATA MARIA
DELUIL MARTINY
(1841-1884)
Há cerca de 120 anos, nalgumas revela-
ções particulares, Jesus começou a confiar
às pessoas consagradas nos mosteiros e no
mundo o Seu plano para a renovação do sacerdócio. Ele confiou a algumas mães espirituais
a chamada ‘obra para os sacerdotes’. Uma
das precursoras desta obra é a beata Maria
Deluil Martiny. Sobre esse seu grande íntimo
desejo ela disse “Oferecer-se pelas almas
é belo e grande! Mas oferecer-se pelas almas
dos sacerdotes... é tão belo e grande que seria
preciso ter mil vidas e mil corações!... Daria
de bom grado a minha vida para que Cristo
pudesse encontrar nos sacerdotes aquilo que
deles se espera! A daria de bom grado mesmo
se um só pudesse realizar perfeitamente
o plano divino em si!”. De facto, aos 43 anos,
ela selou com o martírio a sua maternidade
espiritual. As suas últimas palavras foram:
“É para a obra, a obra para os sacerdotes!”.
VENERÁVEL
LOUISE MARGUERITE
CLARET DE LA TOUCHE
(1868-1915)
J
esus também preparou por longos anos a Serva
de Deus Louise Marguerite Claret de la Touche
ao apostolado para a renovação do sacerdócio.
Ela contou que a 5 de Junho de 1902, durante
uma adoração, aparecera-lhe o Senhor.
“Eu tinha-Lhe pedido pelo nosso pequeno
noviciado e suplicado que me desse algumas
almas que eu pudesse plasmar para Ele. Ele
respondeu-me: ‘Dar-te-ei almas de homens’.
Fiquei em silêncio pois não compreendi as
Suas palavras. Jesus acrescentou: ‘Dar-teei almas de sacerdotes. Ainda mais surpreendida por estas palavras, perguntei: ‘Meu
Jesus, como o farás?’. Ele então expôs-me
a obra que estava a preparar e que devia
aquecer o mundo com o amor. Jesus continuou
a explicar o Seu plano e, assim, quis dirigir-Se
aos sacerdotes: ‘Como há 1900 anos eu pude
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
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renovar o mundo com doze homens – eles
eram sacerdotes – hoje também eu poderia
renovar o mundo com doze sacerdotes, mas
deverão ser sacerdotes santos.”
Jesus e deveria ser iluminado pelo amor do
Seu Espírito. Os sacerdotes deveriam cultivar
a união entre si, ser um coração e uma alma
e nunca ser obstáculo uns para os outros”.
O Senhor mostrou então a Louise Marguerite a obra em concreto. “É uma união de
sacerdotes, uma obra que abrange o mundo
inteiro”, escreveu. “Se o sacerdote quer
realizar a sua missão e proclamar a misericórdia de Deus, deveria em primeiro lugar,
ele mesmo ser invadido pelo Coração de
Louise Marguerite descreveu com expressões muito felizes o sacerdócio no seu livro
“O Coração de Jesus e o sacerdócio”, que
alguns sacerdotes acreditaram ser a obra de
um comfrade. Um jesuíta declarou: “Não sei
quem escreveu o livro, mas uma coisa sei com
certeza, não é obra de uma mulher!”.
LU MONFERATO
Vamos, agora, à pequena povoação de Lu no
Norte de Itália, uma localidade com poucos
milhares de habitantes, situada numa região
rural a 90 km a oeste de Turim. Esta pequena
povoação teria ficado desconhecido se em 1881
algumas mães de família não tivessem tomado
uma decisão que iria ter “grandes repercussões”.
Muitas dessas mães tinham no coração
o desejo de ver um dos seus filhos tornar-se
sacerdote ou uma das suas filha entregar-se
totalmente ao serviço do Senhor. Começaram então a reunir-se todas as terças-feiras
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para a adoração do Santíssimo Sacramento,
sob a orientação do seu pároco, Monsenhor
Alessandro Canora, e a rezar pelas vocações.
Todos os primeiros domingos do mês recebiam a Comunhão por essa intenção. Após
a Missa todas as mães rezavam juntas para
pedir vocações sacerdotais. Graças à oração
cheia de confiança destas mães e à abertura
de coração destes pais, as famílias viviam
num clima de paz, de serenidade e de alegre
devoção que permitiu aos filhos discernir com
maior facilidade o seu chamamento.
CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
Quando o Senhor disse: “Muitos são
os chamados, mas poucos os eleitos”
(Mt 22,14), devemos entendê-lo desta maneira:
muitos serão chamados, mas poucos responderão. Ninguém podia pensar que o Senhor
teria atendido tão amplamente o pedido destas
mães. Desta povoação surgiram 323 vocações
à vida consagrada (323!): 152 sacerdotes (e
religiosos) e 171 religiosas pertencentes a 41
diferentes congregações. Em algumas famílias
houve até três ou quatro vocações. O exemplo
mais conhecido é o da família Rinaldi.
O Senhor chamou sete filhos desta família.
Duas filhas entraram para as irmãs Salesianas
e, enviadas a Santo Domingo, tornaram-se
pioneiras e missionárias corajosas. Entre os
homens, cinco tornaram-se sacerdotes Salesianos. O mais conhecido dos cinco irmãos,
Filippo Rinaldi, foi o terceiro sucessor de
Dom Bosco, beatificado por João Paulo II
a 29 de Abril de 1990. De facto, muitos
jovens entraram para os salesianos. Não foi
por acaso, visto que Dom Bosco durante
a sua vida visitou quatro vezes a cidade de Lu.
O santo participou da primeira Missa de
Filippo Rinaldi, seu filho espiritual, na sua
cidade de origem. Filippo gostava muito de
lembrar a fé das famílias de Lu: “Uma fé que
fazia dizer aos nossos pais: O Senhor nos deu
filhos e se Ele os chama nós certamente não
podemos dizer não!”. Luigi Borghina e Pietro
Rota viveram a espiritualidade de Dom Bosco
de maneira tão fiel que foram chamados um
“o Dom Bosco do Brasil” e o outro “o Dom
Bosco da Valtellina”. Monsenhor Evasio
Colli, Arcebispo de Parma, também vinha
de Lu (Alessandria). Dele disse João XXIII:
“Ele é que devia ser papa, não eu. Tinha tudo
para ser um grande papa”.
A cada 10 anos, todas as religiosas, religiosos e sacerdotes ainda vivos reuniam-se
em Lu, vindos de todas as partes do mundo.
Dom Mario Meda, pároco da cidade durante
muitos anos, contou como esse encontro na
realidade era uma grande festa, uma festa de
agradecimento a Deus por ter feito grandes
coisas em Lu.
A oração que as mães de família rezavam em
Lu era breve, simples e profunda:
“Senhor, fazei que um dos meus filhos se torne
sacerdote! Eu mesma quero viver como boa
cristã e quero conduzir os meus filhos para
o bem, a fim de obter a graça de poder oferecerVos, Senhor, um sacerdote santo. Amém”.
Esta fotografia é única na história da Igreja Católica.
De 1 a 4 de Setembro de 1946 grande parte dos 323
sacerdotes, religiosos e religiosas provenientes de
Lu encontraram-se na sua povoação. Este encontro
teve repercussão no mundo inteiro.
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
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BEATA
ALEXANDRINA DA COSTA
(1904-1955)
Também um exemplo de vida como a de Alexan-
drina da Costa, beatificada a 25 de Abril de 2004,
demonstra de maneira impressionante a força
transformadora e os efeitos visíveis do sacrifício
de uma jovem doente e abandonada. Em 1941
Alexandrina escreveu ao seu pai espiritual, P.
Mariano Pinho, que Jesus Se havia dirigido a ela
com estas palavras: “Minha filha, em Lisboa vive
um sacerdote que corre o risco de se condenar
eternamente; ele ofende-me de maneira grave.
Chama o teu pai espiritual e pede-lhe autorização para que Eu te faça sofrer particularmente,
durante a paixão, por aquela alma”.
Recebida a licença, Alexandrina sofreu muitíssimo. Sentia o peso dos pecados daquele sacerdote, que não queria mais saber de Deus e estava
prestes a condenar-se. A coitada vivia no seu
corpo o estado infernal em que se encontrava
o sacerdote e suplicava: “Não, no inferno não!
Ofereço-me em holocausto por ele até quando Tu
quiseres”. Ela chegou a ouvir o nome e o apelido
do sacerdote.
18
O P. Pinho quis então indagar junto do cardeal
de Lisboa para saber se naquele momento algum
sacerdote estaria a dar-lhe muitos desgostos.
O cardeal confirmou com sinceridade que de
facto havia um sacerdote que o preocupava;
o nome que pronunciou era exactamente
o mesmo que Jesus dissera a Alexandrina.
Alguns meses mais tarde foi referido ao P.
Pinho, por parte de um amigo sacerdote, P.
David Novais, um episódio especial. O P. David
acabara de dar um curso de exercícios espirituais
em Fátima, no qual também havia participado
um senhor muito discreto que todos haviam
notado pelo seu comportamento exemplar. Este
homem, no último dia dos exercícios, sofreu um
ataque de coração; foi chamado um sacerdote
e ele pôde confessar-se e receber a Comunhão.
Pouco depois falecia, reconciliado com Deus.
Descobriu-se que aquele senhor, vestindo roupas
leigas, era um sacerdote e era exactamente aquele
pelo qual Alexandrina tanto havia lutado.
CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
SERVA DE DEUS
CONSOLATA BETRONE
(1903-1946)
O
s sacrifícios e as orações de uma mãe
espiritual de sacerdotes destinam-se em
particular aos consagrados que se perderam
ou que abandonaram a própria vocação.
Jesus, na Sua Igreja, chamou a esta vocação
inumeráveis mulheres, como por exemplo
a Irmã Consolata Betrone, Clarissa Capuchinha de Turim. Jesus disse-lhe: “A tua
tarefa na vida é dedicares-te aos teus
irmãos. Consolata, tu também serás um
bom pastor e irás em busca dos irmãos
perdidos para trazê-los de volta a Mim”.
Consolata ofereceu tudo por eles, pelos
“seus irmãos” sacerdotes e consagrados
que se encontravam em dificuldade espiritual. Na cozinha, durante o trabalho, rezava
sem cessar a sua oração do coração: “Jesus,
Maria, Vos amo, salvai as almas!”.
Transformou conscientemente qualquer
pequeno serviço e tarefa em sacrifício.
Jesus disse-lhe a esse propósito: “Estas
são acções insignificantes, mas como tu
as ofereces com grande amor, concedo
a elas um valor desmedido e transformo-as
em graças de conversão que descem sobre
os irmãos infelizes”.
Muitas vezes no convento eram assinalados
por telefone ou por carta casos concretos dos
quais Consolata carregava o peso no sofrimento. Às vezes sofria durante semanas ou
meses pela aridez, pela sensação de inutilidade, de obscuridade, de solidão, de dúvidas
e pelos estados pecaminosos dos sacerdotes.
Uma vez, durante essas lutas interiores,
escreveu ao seu pai espiritual: “Quanto me
custam os irmãos!”. Jesus, porém, fez-lhe
uma grande promessa: “Consolata, não
é só um irmão que devolverás a Deus,
mas todos. Prometo-te que Me darás os
irmãos, todos, um após o outro”. E assim
foi! Levou de volta a um sacerdócio rico
de graça todos os sacerdotes que lhe haviam
sido confiados. Muitos destes casos foram
documentados com precisão.
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
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BERTHE PETIT
(1870-1943)
Berthe Petit é uma grande mística belga, uma alma de expiação pouco conhecida.
Jesus indicou-lhe com clareza o sacerdote pelo qual devia renunciar aos seus
projectos pessoais e também fez com que o encontrasse.
O “PREÇO” DE UM
SACERDOTE SANTO
Desde os quinze anos, Berthe durante cada
Santa Missa rezava pelo celebrante: “Meu
Jesus, faz com que o Teu sacerdote não te cause
desgostos!”. Quando tinha dezassete anos, os
seus pais perderam todo o património por causa
de uma fiança; no dia 8 de Dezembro de 1988,
o seu director espiritual disse-lhe que a sua
vocação não era o mosteiro, mas ficar em casa
e cuidar dos pais. Com desgosto, aceitou o sacrifício; pediu, porém, a Nossa Senhora que intercedesse para que, em vez da sua vocação religiosa,
Jesus chamasse um sacerdote zeloso e santo.
“Serás atendida!” garantiu-lhe o pai espiritual.
O que ela não podia prever aconteceu dezasseis
dias mais tarde: um jovem advogado de 22 anos,
o dr. Louis Decorsant, estava a rezar perante uma
imagem de Nossa Senhora das Dores. De repente
e inesperadamente, ele teve a certeza de que a sua
vocação não era casar com a rapariga que amava
e exercer a profissão de jurista. Compreendeu
com clareza que Deus o chamava ao sacerdócio.
Essa chamada foi tão clara e insistente que ele
não hesitou nem um instante em abandonar tudo.
Após os estudos em Roma, onde havia terminado o seu doutoramento, foi ordenado sacerdote
em 1893. Berthe tinha então 22 anos.
Nesse mesmo ano um jovem sacerdote, com 27
anos, celebrou a Santa Missa da meia-noite num
subúrbio de Paris. Esse facto é importante porque
20
à mesma hora Berthe, assistindo à Santa Missa
da meia-noite em outra paróquia, prometia solenemente ao Senhor: “Jesus, quero ser um holocausto para os sacerdotes, para todos os sacerdotes, mas de modo especial para o sacerdote
da minha vida”.
Quando foi exposto o Santíssimo, a jovem viu de
repente uma grande cruz com Jesus e aos Seus
pés Maria e João. Ela ouviu as seguintes palavras: “O teu sacrifício foi aceite, a tua súplica
atendida. Eis o teu sacerdote... Um dia o conhecerás”. Berthe viu que os traços do rosto de João
assumiram os de um sacerdote desconhecido.
Tratava-se do reverendo Decorsant, mas ela
somente o encontraria em 1908, ou seja, quinze
anos depois, reconhecendo o seu rosto.
CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
O ENCONTRO
DESEJADO POR DEUS
Berthe encontrava-se em Lourdes, em pere-
grinação. Aqui Nossa Senhora confirmoulhe: “Verás o sacerdote que pediste a Deus
há vinte anos. Está prestes a acontecer”. Ela
estava com uma amiga na estação de Austerliz
em Paris, num comboio que ia para Lourdes,
quando um sacerdote entrou na carruagem
onde elas estavam para guardar o lugar para
uma doente. Era o reverendo Decorsant. Os
seus traços eram os que Berthe havia visto
no rosto de S. João quinze anos antes, era
portanto aquele pelo qual havia oferecido
tantas preces e tanto sofrimento físico. Após
ter trocado algumas palavras gentis, o sacer-
dote desceu do comboio. Exactamente um
mês mais tarde, o mesmo reverendo Decorsant fez uma peregrinação a Lourdes para
confiar a Nossa Senhora o seu futuro de
sacerdote. Carregando a sua bagagem encontrou novamente Berthe e a sua amiga. Reconhecendo as duas mulheres, convidou-as
para a Santa Missa. Enquanto o P. Decorsant
elevava a hóstia, Jesus disse a Berthe no seu
íntimo: “Este é o sacerdote pelo qual aceitei
o Teu sacrifício”. Após a liturgia, ela soube
que “o sacerdote da sua vida”, como lhe teria
chamado posteriormente, estava hospedado
na mesma pensão que ela.
UMA TAREFA EM COMUM
Berthe revelou ao P. Decorsant a sua vida
espiritual e a sua missão para a consagração ao Coração Imaculado e Doloroso
de Maria. Ele, por sua vez, compreendeu
que essa alma preciosa lhe havia sido
confiada por Deus. Aceitou ser transferido
para a Bélgica e tornou-se para Berthe
Petit um santo director espiritual e um
apoio incansável para a realização da sua
missão. Sendo um excelente teólogo foi
um mediador ideal para a hierarquia eclesiástica em Roma.
Durante vinte e quatro anos, ou seja até
à sua morte, acompanhou Berthe que, como
alma de expiação, muitas vezes estava
doente e sofria de modo especial pelos
sacerdotes que abandonavam a vocação.
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
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VENERÁVEL
CONCHITA DO MÉXICO
(1862-1937)
Maria Concepción Cabrera de Armida, Conchita, esposa e mãe de numerosos filhos, é
uma das santas modernas que Jesus preparou para uma maternidade espiritual pelos
sacerdotes. No futuro ela terá grande importância para a Igreja universal.
Jesus uma vez explicou a Conchita: “Existem
almas que receberam uma unção através da
ordenação sacerdotal. Porém, há também
almas sacerdotais que têm uma vocação sem
ter a dignidade ou a ordenação sacerdotal. Elas
oferecem-se em união comigo... Essas almas
ajudam espiritualmente a Igreja de maneira
poderosa. Tu serás mãe de um grande número
de filhos espirituais, mas eles custarão ao teu
coração como mil martírios. Oferece-te como
holocausto, une-te ao Meu sacrifício para obter
as graças para eles” ... “Desejaria voltar a este
mundo... nos Meus sacerdotes. Desejaria renovar
o mundo, revelando-Me neles e dar um impulso
forte à Minha Igreja, derramando o Espírito
Santo sobre os Meus sacerdotes como num
novo Pentecostes”. “A Igreja e o mundo necessitam de um novo Pentecostes, um Pentecostes
sacerdotal, interior”.
Quando era jovem Conchita rezava com
frequência frente ao Santíssimo: “Senhor, sintome incapaz de te amar, portanto quero casar.
Dá-me muitos filhos e que eles possam amar-Te
mais do que eu sou capaz.”. Do seu casamento
muito feliz nasceram nove filhos, duas meninas
e sete rapazes. Ela consagrou-os todos a Nossa
Senhora: “Entrego-os completamente a ti como
se fossem teus filhos. Tu sabes que eu não os sei
educar, pouco sei do que significa ser mãe, mas
Tu, Tu sabes”. Conchita viu morrer quatro dos
Conchita, jovem viúva e o filho Manuel
22
CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
seus filhos e todos tiveram uma morte santa.
Conchita foi realmente mãe espiritual para o sacerdócio de um dos seus filhos; e sobre ele escreveu:
“Manuel nasceu na mesma hora em que morreu o
Padre José Camacho. Quando ouvi a notícia, pedi
a Deus que o meu filho pudesse substituir este
sacerdote no altar. Desde o momento em que
o pequeno Manuel começou a falar, rezámos
juntos pela grande graça da vocação ao sacerdócio... No dia da sua primeira Comunhão e em
todas as festas importantes renovei a súplica... Aos
dezassete anos entrou na Companhia de Jesus”.
Em 1906, de Espanha, onde estava, Manuel
(o terceiro filho, nascido em 1889) comunicou-lhe
a sua decisão de se tornar sacerdote e ela escreveulhe: “Entrega-te ao Senhor com todo o coração
sem nunca te negares! Esquece as criaturas
e principalmente esquece-te a ti mesmo! Não
posso imaginar um consagrado que não seja um
santo. Não é possível entregar-se a Deus pela
metade. Procura ser generoso com Ele!”.
Em 1914 Conchita encontrou-se com Manuel em
Espanha pela última vez, porque ele nunca mais
voltou ao México. Nessa época o filho escreveulhe: “Minha querida, pequena mãe, indicasteme o caminho. Tive a sorte, desde pequeno, de
ouvir de teus lábios a doutrina salutar e exigente
da cruz. Agora quero pô-la em prática”. A mãe
também experimentou a dor da renúncia: “Levei
a tua carta perante o tabernáculo e disse ao
Senhor que aceito com toda minha alma esse
sacrifício. No dia seguinte coloquei a carta no
meu peito enquanto recebia a Santa Comunhão
para renovar o sacrifício total”.
MÃE, ENSINA-ME
A SER SACERDOTE
Dia 23 de Julho de 1922, uma semana antes
da ordenação sacerdotal, Manuel, então com 30
anos de idade, escreve a sua mãe: “Mãe, ensiname a ser sacerdote! Fala-me da imensa alegria
de poder celebrar a Santa Missa. Entrego tudo
nas tuas mãos, como me protegeste no teu peito
quando eu era criança e me ensinaste a pronunciar os belos nomes de Jesus e Maria para me
introduzir nesse mistério. Sinto-me realmente
como uma criança que pede preces e sacrifícios...
Assim que eu for ordenado sacerdote, enviar-teei a minha bênção e depois, ajoelhado, receberei
a tua”. Quando Manuel foi ordenado sacerdote,
a 31 de Julho de 1922, em Barcelona, Conchita
levantou-se para participar espiritualmente da
ordenação; devido ao fuso horário no México
era noite. Ela comoveu-se profundamente: “Sou
mãe de um sacerdote! ... Posso somente chorar
e agradecer! Convido todo o céu a agradecer em
meu lugar porque me sinto incapaz pela minha
miséria”. Dez anos mais tarde escreveu ao filho
“Não consigo imaginar um sacerdote que não
seja Jesus, ainda menos quando ele é parte
da Companhia de Jesus. Rezo por ti, para que
a tua transformação em Cristo, desde o momento
da celebração, se cumpra de modo que tu sejas,
dia e noite, Jesus” (17 de Maio de 1932).
“O que faríamos sem a cruz? A vida sem as
dores que unem, santificam, purificam e obtêm
graças, seria insuportável” (10 de Junho de
1932). O P. Manuel morreu aos 66 anos de idade
em odor de santidade. O Senhor fez com que
Conchita compreendesse para o seu apostolado:
“Confio-te mais um martírio: tu sofrerás aquilo
que os sacerdotes cometem contra mim. Tu
o viverás e oferecerás pela infidelidade e pelas
misérias deles”. Esta maternidade espiritual
pela santificação dos sacerdotes e da Igreja
consumiu-a completamente. Conchita morreu
em 1937 aos 75 anos.
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
23
O MEU SACERDÓCIO
E UMA DESCONHECIDA
BARÃO WILHELM
EMMANUEL KETTELER
(1811-1877)
Todos nós devemos o que somos e a nossa vocação às preces e aos sacrifícios dos
outros. No caso do famoso Bispo D. Ketteler, extraordinária figura do episcopado
alemão do século XIX e figura de destaque entre os fundadores da sociologia católica,
a benfeitora foi uma religiosa, a última e a mais pobre irmã do seu convento.
Em 1869 estavam juntos o bispo de uma
diocese na Alemanha e o seu hóspede, o Bispo
de Mainz, D. Ketteler. Durante a conversa
o bispo diocesano elogiava as tantas obras
benéficas do seu hóspede. Mas D. Ketteler
explicou ao seu interlocutor: “Tudo o que
alcancei com a ajuda de Deus, o devo às
preces e ao sacrifício de uma pessoa que não
conheço. Posso somente dizer que alguém
ofereceu a Deus a sua vida em sacrifício por
mim e graças a isso tornei-me sacerdote”.
E continuou: “Antes eu não me sentia destinado ao sacerdócio. Tinha feito alguns exames
na faculdade de direito e desejava fazer uma
rápida carreira que me permitisse ter um
lugar de prestígio no mundo, ser respeitado
e ganhar muito dinheiro. Um acontecimento
extraordinário porém impediu tudo isso
e conduziu a minha vida noutra direcção.
Uma noite, enquanto estava sozinho no meu
quarto, abandonei-me aos meus sonhos de
ambição e aos planos para o futuro. Não sei
o que me aconteceu, não sei se estava acordado ou não. O que eu via era a realidade
ou um sonho? Só uma coisa sei com certeza:
vi aquilo que sucessivamente provocou
a viragem da minha vida. Claro e límpido,
24
Cristo estava por cima de mim numa nuvem
de luz e mostrava-me o Seu Sagrado Coração.
Em frente dEle estava uma freira ajoelhada
com as mãos erguidas em posição de imploração. Da boca de Jesus ouvi as seguintes
palavras: ‘Ela reza ininterruptamente por
ti!’. Eu via com clareza a figura da irmã,
e sua fisionomia impressionou-me de maneira
tão forte que ainda hoje a tenho perante
os meus olhos Ela parecia-me uma simples
conversa. A sua roupa era pobre e rústica,
e as suas mãos avermelhadas e calejadas pelo
trabalho pesado. O que quer que tenha sido,
sonho ou não, para mim foi extraordinário,
pois fui atingido no íntimo e, a partir daquele
momento, resolvi consagrar-me inteiramente
a Deus no serviço sacerdotal.
Recolhi-me num mosteiro para os exercícios espirituais e conversei sobre tudo isso
com meu confessor. Comecei os estudos de
teologia aos trinta anos. O resto o senhor já
conhece. Se agora o senhor acredita que algo
de bom foi feito por meu intermédio, saiba de
quem é o mérito: daquela irmã que rezou por
mim, talvez sem sequer me conhecer. Tenho
a certeza que por mim se rezou e ainda se
CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
reza em segredo, e que sem aquela prece eu
não poderia alcançar a meta à qual Deus
me destinou”. “Tem ideia de quem reza por
si e onde?” perguntou o bispo diocesano.
“Não. Posso somente pedir a Deus que
a abençoe, se ainda vive, e que lhe devolva
mil vezes o que fez por mim”.
A IRMÃ DO ESTÁBULO
No
dia seguinte D. Ketteler foi visitar
um convento de religiosas numa cidade
próxima e lá celebrou a Santa Missa na
capela. Quando estava prestes a terminar
a distribuição da Sagrada Comunhão, já
na última fila, o seu olhar deteve-se sobre
uma irmã. O seu rosto empalideceu e ele
ficou imóvel, mas logo se recompôs e deu a
comunhão à religiosa que não se apercebera
de nada e estava devotadamente ajoelhada.
Concluiu então serenamente a liturgia.
Para o pequeno-almoço chegou também ao
convento o bispo diocesano do dia anterior.
D. Ketteler pediu à madre superiora que lhe
apresentasse todas as irmãs e elas apareceram imediatamente. Os dois bispos aproximaram-se e D. Ketteler cumprimentou-as
observando-as, mas percebia-se claramente
que não encontrava quem procurava. Em voz
baixa dirigiu-se à madre superiora: “As irmãs
estão todas aqui?” Ela, olhando o grupo,
respondeu: “Excelência, mandei chamá-las
a todas mas, de facto, falta uma!”. “E porque
não veio?” A madre superiora respondeu:
“Ela cuida do estábulo, e de maneira tão
exemplar que às vezes no seu zelo se esquece
das outras coisas”. “Desejo conhecer essa
irmã”, disse o bispo. Pouco depois a religiosa
chegou. Ele empalideceu e, após ter dirigido
algumas palavras a todas as religiosas, pediu
para ficar a sós com ela.
“A Irmã conhece-me?” perguntou. “Excelência, eu nunca o vi!”. “Mas a Irmã rezou
e ofereceu boas obras por mim?” queria
saber D. Ketteler. “Não tenho consciência
disso, pois não sabia da existência de Vossa
Excelência”. O bispo ficou alguns instantes
imóvel em silêncio, depois continuou com
outras perguntas. “Que devoções ama mais
e pratica com maior frequência?” “A veneração ao Sagrado Coração”, respondeu
a irmã. “Parece que a Irmã tem o trabalho
mais pesado de todo o convento!” continuou. “Ah não, Excelência! Certamente
não posso negar que às vezes me repugna”.
“Então o que faz quando é atormentada pela
tentação?”. “Acostumei-me a enfrentar,
por amor a Deus, com zelo e alegria todas
as tarefas que me custam muito e depois
oferecê-las por uma alma no mundo. Será
o bom Deus a escolher a quem dar a Sua
graça, eu não quero saber. Também ofereço
a hora de adoração da noite, das 20 às 21
horas, por essa intenção”. “E como teve
a ideia de oferecer tudo isso por uma alma?”
“É um costume que eu já tinha quando
ainda vivia no mundo. Na escola, o pároco
ensinou-nos que devíamos rezar pelos
outros como se faz pela própria família.
E também acrescentava: ‘Seria necessário
rezar muito por aqueles que correm o risco
de se perderem para a eternidade. Mas visto
que só Deus sabe quem tem mais necessidade, o melhor seria oferecer as orações ao
Sagrado Coração de Jesus, confiantes na
Sua sabedoria e omnisciência’. E eu assim
fiz, e sempre acreditei que Deus encontra
a alma certa”.
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
25
DIA DO ANIVERSÁRIO
E DIA DA CONVERSÃO
“Quantos anos tem?” perguntou D. Ketteler.
“Trinta e três anos, Excelência”. O bispo,
impressionado, reflectiu por um instante
e depois perguntou: “Quando é que a Irmã
nasceu?” A irmã disse o dia do seu nascimento.
Então o bispo ficou perplexo: tratava-se exactamente do dia da sua conversão! Ele vira-a
à sua frente assim, exactamente como naquele
momento. “A Irmã não sabe se as suas preces
e os seus sacrifícios tiveram sucesso?” “Não,
Excelência”. “E não gostaria de saber?”.
“O bom Deus sabe quando fazemos algo de
bom, isso me basta”, foi a simples resposta.
UM ENSINAMENTO
PARA TODA A VIDA
O
bispo estava abalado no seu íntimo.
Aproximou-se da janela, tentando recuperar
a calma. Mais tarde despediu-se da madre
superiora e voltou à casa do seu amigo e
confrade. E a ele confidenciou: “Agora encontrei aquela a quem devo a minha vocação.
É a última e a mais pobre irmã conversa do
convento. Nunca poderei agradecer a Deus
o suficiente pela Sua misericórdia, porque
aquela religiosa reza por mim há quase
vinte anos. Deus porém já havia aceite a
sua prece e também tinha previsto que o dia
do seu nascimento coincidiria com o dia da
minha conversão; depois, Deus acolheu as
O bispo estava abalado: “Então, por amor de
Deus, continue com essa obra!”.
A irmã ajoelhou-se à sua frente e pediu
a bênção. O bispo levantou solenemente as
mãos e com profunda comoção disse: “Com
os meus poderes episcopais, abençoo a sua
alma, as suas mãos e o trabalho que elas
cumprem, abençoo as suas orações e os seus
sacrifícios, o seu domínio de si e a sua obediência. Abençoo-a principalmente para a sua
última hora e peço a Deus que a assista com
a Sua consolação”. “Amém”, respondeu
serena a irmã e afastou-se.
orações e as boas obras daquela irmã.
Que ensinamento e que advertência para
mim! Se um dia cair na tentação de me
orgulhar pelos eventuais sucessos e pelas
minhas obras perante os homens, devo
sempre lembrar que tudo me vem da graça,
da oração e do sacrifício de uma pobre serva
que está no estábulo de um convento. E se um
trabalho insignificante me parecer de pouco
valor, devo reflectir sobre isto: o que aquela
serva faz com humilde obediência a Deus
e oferece em sacrifício com domínio de si, tem
um valor tão grande perante Deus que as suas
obras criaram um bispo para a Igreja!”.
O Bispo D. Wilhelm Emmanuel Ketteler
26
CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
27
SANTA
TERESA DE LISIEUX
(1873-1897)
Teresa
tinha somente 14 anos quando,
durante uma peregrinação a Roma, compreendeu a sua vocação de mãe espiritual dos
sacerdotes. Na sua autobiografia escreve
como, após ter conhecido em Itália muitos
santos sacerdotes, entendera que, apesar
da sua sublime dignidade, não deixavam
de ser homens fracos e frágeis. “Se
santos sacerdotes ... mostram com o seu
comportamento uma necessidade extrema
de orações, o que dizer dos tíbios?”
(A 157). Numa das suas cartas encorajava
a irmã Celina: “Vivemos pelas almas,
somos apóstolos, salvamos principalmente as almas dos sacerdotes... rezamos,
sofremos por eles e, no último dia, Jesus
estará grato” (LT 94).
Na vida de Teresa, doutora da Igreja, há
um episódio comovente que demonstra
o seu zelo pelas almas e especialmente
pelos missionários. Já estava muito doente
e podia andar somente à custa de muito
esforço, mas o médico recomendara-lhe
passear meia hora por dia no jardim. Mesmo
sem acreditar na utilidade desse exercício,
ela fazia-o fielmente todos os dias. Uma
vez uma irmã que a acompanhava, vendo
o grande sofrimento que lhe provocava
o caminhar, disse-lhe: “Mas, irmã Teresa,
porquê toda essa fadiga se o sofrimento
é maior que o alívio?”. E a santa respondeu:
“Sabe irmã, estou pensando que talvez
exactamente neste momento um missionário em algum país remoto se sinta muito
28
cansado e desanimado, portanto ofereço as
minhas fadigas por ele”.
Deus demonstrou ter acolhido o desejo de
Teresa de oferecer a sua vida pelos sacerdotes
quando a madre superiora lhe confiou dois
nomes de seminaristas que haviam pedido
o apoio espiritual de uma carmelita. Um era
o abade Maurice Bellière, que poucos dias
depois da morte de Teresa recebia o hábito
de “Padre Branco”, tornando-se um sacerdote missionário. O outro era o P. Adolphe
Roulland, que a santa acompanhou com as
suas preces e sacrifícios até a ordenação
sacerdotal e de modo especial durante a sua
missão na China.
CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
BEATO CARDEAL
CLEMENS AUGUST
VON GALEN
(1878-1946)
A 13 de Setembro de 1933, com 55 anos
de idade, o pároco Clemens von Galen foi
nomeado Bispo de Münster pelo Papa Pio XI.
Fiel ao seu lema de não se deixar influenciar
“nem pelo elogio, nem pelo medo”, protestou
publicamente contra as medidas terroristas
da Gestapo e denunciou o Estado que havia
prejudicado os direitos da Igreja e dos seus
fiéis. Em 1946, o Papa Pio XII nomeou cardeal
o Bispo de Münster pelos seus méritos e pela
extraordinária coragem em professar a fé.
Na tomada de posse como pastor de Münster,
D. Galen fez imprimir uma imagem com
o seguinte texto: “Sou o décimo terceiro filho
da nossa família e agradecerei eternamente
a minha mãe por ter tido a coragem de dizer
sim a Deus também a esse décimo terceiro
filho. Sem esse sim de minha mãe, hoje eu não
seria sacerdote e bispo”.
O SERVO DE DEUS
PAPA JOÃO PAULO I
(1912-1978)
“FOI MINHA MÃE
QUEM ME ENSINOU”
J
oão Paulo I começou a sua última audiência
geral em Setembro de 1978 rezando o acto de caridade. “Eu vos amo, meu Deus, de todo o coração
e sobre todas as coisas, porque sois infinitamente bom e amável, e nossa eterna felicidade.
Por vosso amor, amo o meu próximo como
a mim mesmo e perdoo as ofensas receADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
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bidas. Senhor, que eu vos ame sempre mais’.
É uma famosíssima oração com as palavras
da Bíblia. Foi minha mãe quem me ensinou.
Continuo a rezá-la várias vezes por dia”.
Pronunciou essas palavras sobre a sua mãe
com tanta ternura, que quem se encontrava
na sala de audiências respondeu com um
aplauso impetuoso. Entre eles, uma jovem
disse com lágrimas nos olhos: “Como
é comovedor que o Papa fale da sua mãe! Agora
entendo melhor quanta influência nós, mães,
podemos ter sobre os nossos filhos.”
“SENHOR DAI-NOS
NOVAMENTE SACERDOTES!”
Durante a perseguição comunista, Anna Stang sofreu muito e, como tantas outras
mulheres na sua situação, ofereceu os seus sofrimentos pelos sacerdotes. Na velhice
tornou-se, ela mesma, uma pessoa com espírito sacerdotal.
“FICÁMOS SEM PASTORES!”
Anna
nasceu em 1909 na parte alemã do
Volga numa numerosa família católica. Era uma
simples aluna de nove anos quando viveu o início
da perseguição.
“... 1918, no segundo ano, no começo das aulas
ainda rezávamos o Pai-nosso. Um ano mais
tarde já havia sido proibido e o pároco já não
podia entrar na escola. Começavam a troçar de
nós, cristãos, já não respeitavam os sacerdotes
e destruíam os seminários.”
Aos onze anos Anna perdeu o pai e alguns
irmãos e irmãs por causa de uma epidemia de
cólera. Pouco tempo depois morreu também
a sua mãe, e ela, com apenas dezassete anos,
cuidou dos irmãos e das irmãs menores, mas
“…nosso pároco também morreu naquela
época e muitos sacerdotes foram presos.
Assim, ficámos sem pastores! Isso foi um
duro golpe. A Igreja na paróquia vizinha
ainda estava aberta, mas ali também não
havia nem um sacerdote. Os fiéis reuniam-se
assim mesmo para rezar, mas sem o pastor
a igreja estava abandonada. Eu chorava
30
Anna Stang (à direita) e a sua amiga Vittoria.
CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
e não conseguia acalmar-me. Quantos cantos,
quantas preces a haviam enchido e agora tudo
parecia morto”.
Depois dessa escola de profundo sofrimento
espiritual, Anna começou a rezar de modo especial pelos sacerdotes e missionários. “Senhor,
dá-nos novamente um sacerdote, dá-nos
a Sagrada Comunhão! Tudo sofro de bom grado
pelo Teu amor, grande Coração de Jesus!” Anna
ofereceu pelos sacerdotes todos os sofrimentos
que se seguiram de modo especial, mesmo
quando numa noite de 1938 o seu irmão e o seu
marido – tinha um casamento feliz há sete anos –
foram presos e nunca mais voltaram.
ENTREGA
DO SERVIÇO SACERDOTAL
Em 1942 a jovem viúva Anna foi deportada
para o Cazaquistão com os seus três filhos.
“Foi duro enfrentar o frio do Inverno, mas
depois chegou a Primavera. Naquela época
chorei muito, mas também rezei muitíssimo. Eu
tinha a sensação que alguém estava a segurarme na mão. Na cidade de Syrjanowsk encontrei algumas mulheres católicas. Reuníamo-nos
às escondidas todos os domingos e dias de festa
para cantar e rezar o terço. Eu suplicava com
frequência: Maria, nossa mãe querida, vê como
somos pobres. Dai-nos novamente sacerdotes,
mestres e pastores!”
A partir de 1965 a violência da perseguição
diminuiu e Anna podia ir uma vez por ano
à capital do Quirguistão, onde vivia um sacerdote católico no exílio.
“Quando estive em Biskek foi construída uma
igreja. Fui lá com a Vittoria, uma conhe-
cida minha, para participar na Santa Missa.
A viagem era longa, mais de 1000 km, mas
para nós foi uma grande alegria. Há mais de
vinte anos que não víamos um sacerdote nem
um confessionário! O pastor daquela cidade
era idoso e passara mais de dez anos na prisão
por causa da sua fé. Enquanto ali estive, foramme confiadas as chaves da igreja e, assim,
pude fazer longas horas de adoração. Nunca
imaginei poder estar tão próxima do tabernáculo. Cheia de alegria ajoelhei-me e beijei-o”.
Antes de viajar, Anna teve a licença de levar a
Sagrada Comunhão aos católicos mais idosos
da sua cidade, que nunca poderiam ter ido
pessoalmente à igreja. “A pedido do sacerdote,
na minha cidade, durante trinta anos baptizei
crianças e adultos, preparei os casais para
o sacramento do matrimónio e orientei enterros
até que, por motivos de saúde, deixei de poder
prestar esse serviço”.
ORAÇÕES ÀS ESCONDIDAS PARA
FAZER CHEGAR UM SACERDOTE!
Não é possível imaginar a gratidão de Anna
quando em 1995 encontrou pela primeira vez um
sacerdote missionário. Chorou de alegria e com
emoção exclamou: “Veio Jesus, o Sumo sacerdote!”. Rezava há décadas para que chegasse um
sacerdote à sua cidade, mas chegando aos 86 anos
de idade tinha perdido a esperança de ver com os
seus olhos a realização desse desejo profundo.
A Santa Missa foi celebrada na sua casa e esta
maravilhosa mulher de alma sacerdotal pôde
receber a Sagrada Comunhão. Durante o resto do
dia Anna não comeu nada, para manifestar dessa
forma o seu profundo respeito e alegria.
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
31
UMA VIDA OFERECIDA
AO PAPA E À IGREJA
No
verdadeiro sentido da palavra, exactamente no coração do Vaticano, à sombra
da cúpula de São Pedro, encontra-se um
convento consagrado à “Mater Ecclesiae”
(Mãe da Igreja). O edifício, simples, foi
usado no passado para várias funções e reformado há alguns anos para ser adaptado às
necessidades de uma ordem contemplativa.
O próprio Papa João Paulo II fez com que esse
convento de clausura fosse inaugurado no dia
13 de Maio de 1994, dia de Nossa Senhora
de Fátima; aqui as irmãs iriam consagrar
a sua vida para as necessidades do Santo Padre
e da Igreja.
Esta tarefa é confiada, cada cinco anos, a uma
diferente ordem contemplativa. A primeira
comunidade internacional era composta por
Clarissas provenientes de seis diferentes
países (Itália, Canadá, Ruanda, Filipinas,
Bósnia e Nicarágua). Posteriormente foram
substituídas pelas Carmelitas, que continuaram a rezar e a oferecer a própria vida pelas
intenções do papa. Desde o dia 7 de Outubro
de 2004, festa de Nossa Senhora do Rosário,
encontram-se no mosteiro sete Irmãs Beneditinas de quatro nacionalidades. Uma irmã
é filipina, uma vem dos EUA, duas são francesas e três italianas.
Com essa fundação, João Paulo II mostrava
à opinião pública mundial, sem palavras
mas de maneira muito clara, quanto a vida
contemplativa oculta é importante e indispensável, mesmo na nossa época moderna
e frenética, e quanto valor ele atribuía à oração
no silêncio e ao sacrifício oculto. Se ele
queria ter tão próximas as irmãs de clausura
para que rezassem por ele e pelo seu pontificado, é porque tinha a profunda convicção
de que a fecundidade do seu ministério de
pastor universal e o êxito espiritual da sua
imensa obra, proviessem, em primeiro lugar,
da oração e dos sacrifícios de outros.
O Papa Bento XVI também tem a mesma
profunda convicção. Duas vezes foi celebrar
a Santa Missa junto às “suas irmãs”, agradecendo-lhes pela oferta das suas vidas por ele.
As palavras que ele dirigiu no dia 15 de
Setembro de 2007 às Clarissas de Castel
Gandolfo, também valem para as irmãs de
clausura do Vaticano: “Eis então, queridas
Irmãs, o que o Papa espera de vós: que sejais
chamas ardentes de amor, “mãos postas”
32
CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
que vigiam em oração incessante, totalmente
separadas do mundo, para apoiar o ministério daquele que Jesus chamou para guiar
a Sua Igreja”.
A Providência dispôs realmente bem que, sob
o pontificado de um papa que tanto aprecia São
Bento, possam estar ao seu lado, de uma maneira
verdadeiramente especial, as Irmãs Beneditinas.
UMA VIDA MARIANA QUOTIDIANA
Não é por acaso que o Santo Padre escolheu
ordens femininas para essa tarefa. Na história
da Igreja, seguindo o exemplo da Mãe de
Deus, sempre foram as mulheres a acompanhar
e apoiar, com orações e sacrifícios, o caminho
dos apóstolos e dos sacerdotes nas suas actividades missionárias. Por isso, as ordens contemplativas consideram como carisma próprio
“a imitação e a contemplação de Maria”.
AIrmã M. Sofia Cicchetti, actual madre superiora
do mosteiro, define a vida de sua comunidade
como uma vida mariana quotidiana: “Aqui nada
é extraordinário. A nossa vida contemplativa
e de clausura somente pode ser compreendida
à luz da fé e do amor de Deus. Nesta nossa
sociedade consumista e hedonista, quase parece
ter desaparecido quer o sentido da beleza e do
deslumbramento perante as grandes obras que
Deus realiza no mundo e na vida de cada homem
e mulher, quer a adoração pelo mistério da Sua
amorosa presença junto de nós. No contexto
do mundo de hoje a nossa vida afastada do
mundo, mas não indiferente a ele, poderia
parecer absurda e inútil. No entanto, podemos
testemunhar com alegria que não é uma perda
dedicar o tempo só a Deus. Lembra a todos
profeticamente uma verdade fundamental:
a humanidade, para ser autêntica e plena, deve
ancorar-se em Deus e viver no tempo a respiração do amor de Deus. Queremos ser como
tantas “Moisés” que, com os braços erguidos
e o coração dilatado por um amor universal
mas concretíssimo, intercedem para o bem
e a salvação do mundo, tornando-se, dessa
forma, “cooperadoras no mistério da Redenção”
(cfr Verbi Sponsa, 3).
Encontro com o Santo Padre João Paulo II na sua biblioteca particular a 23 de Dezembro de 2004
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
33
A nossa tarefa baseia-se, mais que no
“fazer”, no “ser” nova humanidade. À luz
desta realidade podemos dizer que a nossa
vida é vida cheia de sentido, não é de forma
alguma perda e desperdício, nem recusa ou
fuga do mundo, mas alegre doação ao DeusAmor e a todos os irmãos sem exclusão,
e aqui no “Mater Ecclesiae” em particular
pelo Papa e seus colaboradores”.
A Irmã Chiara-Cristiana, madre superiora
das Clarissas da primeira comunidade
no centro do Vaticano, contou: “Quando
cheguei aqui encontrei a vocação na
minha vocação: dar a vida pelo Santo
Padre como Clarissa. Assim foi para todas
as outras irmãs”.
A Irmã M. Sofia confirma: “Nós, como
Beneditinas, estamos profundamente
ligadas à Igreja universal, e sentimos
portanto um grande amor pelo Papa,
onde quer que estejamos. Certamente, ser
chamadas tão próximas a ele – inclusive
fisicamente – neste mosteiro “original”,
aprofundou o amor por ele. Procuramos
transmiti-lo também aos nossos mosteiros
de origem. Nós sabemos que somos
chamadas a sermos mães espirituais na
nossa vida oculta e no silêncio. Entre
os nossos filhos espirituais, ocupam um
lugar privilegiado os sacerdotes e os seminaristas, e todos os que se dirigem a nós
pedindo apoio para as suas vidas e o seu
ministério sacerdotal, nas provas ou desesperos do caminho. A nossa vida quer ser
“testemunho da fecundidade apostólica da
vida contemplativa, em imitação de Maria
Santíssima, que no mistério da Igreja se
apresenta de maneira eminentemente
singular como virgem e mãe”(cfrLG63).
A Irmã M. Sofia Cicchetti oferece ao Santo Padre um conjunto de panos litúrgicos para a Santa
Missa bordados à mão pelas irmãs.
34
CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
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MÃE DA SAGRADA EUCARISTIA,
ROGAI CONNOSCO PARA QUE HAJA SANTOS SACERDOTES!
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CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
UMA HORA
DIANTE DO SANTÍSSIMO
Pensamentos para a realização de uma hora de adoração pela santificação dos sacerdotes
“A adoração é, no seu sentido mais profundo, um abraço a Jesus, em que eu Lhe digo:
«Eu pertenço-Te e peço-Te que também Tu estejas sempre comigo!»”
Papa Bento XVI
1. Saudação ao Senhor eucarístico com um cântico de adoração
(Eventualmente tocado por um CD)
2. Num breve silêncio, tomamos consciência diante de quem estamos
Diante de nós está o Deus Uno e Trino, nosso criador, a quem tudo devemos. Eu sou Sua
criatura, Seu Filho. O Deus todo-poderoso e misericordioso está presente e aproxima-Se de
mim com todo o Seu amor.
A adoração eucarística é um encontro pessoal da alma com Deus, que está sempre à nossa
espera. Embora estejamos ajoelhados ante uma hóstia branca totalmente insignificante, que
se encontra oculta num tabernáculo, ou visível numa custódia, e embora nada sintamos
e nada vejamos de extraordinário, como crentes sabemos muito bem: Aqui está Jesus vivo
e verdadeiro diante de nós. Ele oferece ao Pai louvor e acção de graças perfeitos, aos quais
podemos unir o nosso louvor e acção de graças.
Só raramente reflectimos que na Sagrada Hóstia podemos adorar Jesus, tanto criança como
adulto; tanto como Homem das Dores, como Rei ou Mestre. Ele espera por nós como pastor
e salvador, como consolador e autor de milagres, como crucificado e redentor ressuscitado
e como Aquele que há-de voltar na Sua glória.
3. Louvor, acção de graças e contrição
Se com fé tomarmos consciência de quem aqui está presente, tão silencioso e humilde no
meio de nós, ao início da hora de adoração voltar-nos-emos para Deus com igual assombro
e louvor e agradecer-Lhe-emos a Sua presença com palavras livres.
Simultaneamente tomamos consciência, na presença do Deus todo amoroso, das nossas
próprias imperfeições, falhas e pecados. Assim, não tenhamos medo de nos arrependermos.
Deixemos entrar em nós a dor do arrependimento, e oremos com sinceridade e cheios de
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
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amor: “Jesus, perdoa-me. Tu sabes que Te amo! Faz que tudo fique bem!” Só quando,
através desta contrição perante Deus, nos tivermos tornado uma criança humilde e tivermos
da nossa parte perdoado a todos, podemos realmente rezar bem.
De facto, por vezes sentimos a nossa oração fraca e insignificante, mas se a unirmos
ao Adorador divino no tabernáculo, ela torna-se poderosa e infinitamente valiosa.
Também de grande auxílio é recorrer aos santos anjos e unir-se à sua adoração perfeita,
como recomendou Jesus a Sta. Margarida Alacoque.
Criemos, além disso, o hábito de nos aproximarmos tanto quanto possível do Santíssimo.
Pois quem ama quer estar perto do seu amado como Maria em Betânia aos pés de Jesus.
4. Um cântico em forma de louvor
5. Oração contemplativa comunitária
Para impregnarmos de sentido divino as nossas meditações e as nossas orações, existem
muitas possibilidades!
Para isso, tenhamos sempre à mão sobretudo a Sagrada Escritura, onde fala connosco
Aquele diante de quem nos ajoelhamos. Quando é lido um breve excerto do Evangelho,
podemos ouvi-lo como se fosse Jesus a falar-nos pessoalmente do Seu tabernáculo.
Naturalmente que se pode também rezar em comum o “Rosário bíblico”, lendo-se antes
de cada mistério do Rosário uma passagem apropriada da Sagrada Escritura ou uma frase
apropriada de um excerto do Evangelho durante esse mistério, sucessivamente antes
de cada Ave Maria.
Na sua Carta Apostólica “Fica Connosco, Senhor” o Papa João Paulo II realçou, por
ocasião do Ano da Sagrada Eucaristia, em Outubro de 2004: Aprofundemos na adoração
eucarística a nossa contemplação pessoal e comunitária, servindo-nos também de utensílios de oração imbuídos da Palavra de Deus e da experiência de tantos místicos antigos
e recentes. O próprio Rosário visto no seu sentido profundo, bíblico e cristocêntrico…poderá
ser um caminho particularmente adequado para a contemplação eucarística, que se pratica
em companhia e na escola de Maria.”
Já na sua Encíclica “O Rosário da Virgem Maria”, o mesmo Papa sublinhou no ano 2002:
“Com efeito, recitar o Rosário nada mais é senão contemplar com Maria o rosto de Cristo…
O Rosário é ao mesmo tempo meditação e súplica. A imploração insistente da Mãe
de Deus apoia-se na nossa confiança de que a sua intercessão materna tudo pode conseguir
no coração do seu Filho.”
Podemos, assim, recitar os mistérios do Rosário com diferentes intenções: pelo Santo
Padre, pelos cardeais, bispos e missionários, pelos sacerdotes e religiosos, que estão desanimados ou prestes a abandonar o seu caminho sacerdotal, ou por todos aqueles que deitaram
38
CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
a mão ao arado, mas que depois se volveram para trás, bem como por todos os sacerdotes
falecidos. Sobretudo que a oração também se aplique pela santificação das famílias, pois
é delas que emanam as vocações.
Entre os mistérios do Rosário podem ser cantados cânticos apropriados (eventualmente peças de música de um CD).
Uma outra alternativa de oração contemplativa consiste em meditar a Via Sacra. Para isso,
as 14 estações, por exemplo, podem ser lidas em voz alta por um orador, em que, após cada
estação, poderá ser recitada uma breve oração à escolha pelas intenções dos sacerdotes.
É sempre diversificado e ajuda a nossa atenção quando, em algumas estações, é cantado um
lindo cântico (eventualmente uma peça de música apropriada de um CD).
Visto estarmos ajoelhados ante a Misericórdia viva, adequa-se também o Rosário
da Divina Misericórdia como oração contemplativa. Jesus revelou-o à religiosa polaca
Faustina Kowalska, que o Papa João Paulo II canonizou no chamado Domingo da Misericórdia no ano 2000. Neste sentido, antes de cada mistério, podia ser lido um breve parágrafo da consoladora mensagem de Jesus Misericordioso do Diário da Irmã Faustina. Jesus
promete: “Que grandes graças concederei às almas que rezarem este terço! As entranhas da
minha misericórdia têm compaixão daqueles que rezam esta oração.” (Diário N.º 848).
Uma outra alternativa da oração comunitária pelos sacerdotes poderá consistir em escolher
algumas invocações especialmente apropriadas de uma ladainha, tal como a do Coração de
Jesus, do Preciosíssimo Sangue, da Sagrada Face…, e recitá-las lentamente.
Muito enriquecedor pode também ser ler em voz alta palavras pronunciadas por santos
sobre a Sagrada Eucaristia, ou episódios da vida de santos eucarísticos. Poder-se-ia aqui
também apresentar uma das mães de sacerdotes que estão descritas na brochura“Adoração
Eucarística para a santificação dos Sacerdotes e maternidade espiritual” .
6. Palavras de amor trocadas em silêncio
O silêncio na adoração adquire um especial significado, em que podemos abrir o nosso
coração a Jesus.
Cada um é convidado, de forma muito pessoal, a falar com Jesus, como se falasse com
o melhor amigo sobre aquilo que o preocupa. Pode-se confiar-Lhe realmente tudo:
alegrias e tristezas, os nossos planos e anseios e, sobretudo, os sacerdotes!
Para este tempo de oração silenciosa, que pode ser sonorizado com música tocada
baixinho, aplicam-se também as palavras de Jesus à Ir. Faustina: “Fala-Me de tudo. Quero
que saibas que Me dás uma grande alegria … Fala coMigo sobre tudo, com a simplicidade
de uma criança, pois os Meus ouvidos e o meu Coração estão vergados sobre ti, e a tua fala
é-Me querida” (Diário N.º 921).
No silêncio é possível, por exemplo, pronunciar repetidamente breves jaculatórias: “Jesus,
eu amo-Te!” “sus, eu me ofereço a Ti, Cuida tu de mim!” “Jesus, eu confio em Ti!”, ou
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
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o acto de amor “Jesus, Maria, eu Vos amo, salvai almas!”, como lhe recomendou o Senhor
à Serva de Deus, Ir. Consolata Betrone.
Quem talvez ainda não esteja habituado a falar de uma forma assim tão pessoal com Deus,
poderá, durante este tempo de silêncio, recorrer à contemplação “Um quarto de hora diante
do Santíssimo” de S. António Maria Claret.
Também seria muito bom rezar de forma contemplativa a oração preferida de S. Inácio
de Loyola, “Alma de Cristo”, ou uma outra oração conhecida.
No silêncio, podemos não só falar com Jesus, mas também ouvi-Lo. Jesus quer comunicar-se ao nosso íntimo - também sem quaisquer palavras audíveis. Ele responde às nossas
perguntas e anseios, ao recordar-nos, por exemplo, uma determinada palavra do Evangelho.
Ele inspira-nos ao insinuar-nos, por exemplo, um pensamento belo e bom, que nos ilumina,
conforta e nos enche de paz interior.
Quando nos expomos aos amorosos raios do Senhor eucarístico, somos como uma flor que
só através dos quentes raios solares consegue abrir e desdobrar-se.
Deste modo, a hora de adoração torna-se não apenas uma oferenda aos sacerdotes, mas vai
lentamente transformando também a nossa própria vida, como Angelus Silesius exclamou:
“A mais nobre oração acontece quando o devoto se transforma intimamente naquilo diante
do qual ele se ajoelha.”
7. Comunhão espiritual
Antes de nos “despedirmos” do Senhor, podemos ainda comungar espiritualmente.
A comunhão espiritual acontece de forma muito simples: através do nosso desejo e do
pedido “Jesus, vem agora espiritualmente ao meu coração!” atraímo-Lo à nossa alma.
A comunhão espiritual é como um intenso abraço entre mim e Jesus, é como um amoroso
beijo interior.
O grande pregador e santo franciscano Leonardo de Porto Maurício disse: “Prometo-vos
que, se fizerdes a comunhão espiritual várias vezes ao dia, o vosso coração estará completamente transformado no período de um mês.”
8. Propósito
Teresa de Ávila, a grande santa doutora da Igreja e mestra da oração, nos seus escritos
espirituais, aconselha a nunca se abandonar a contemplação sem se ter formulado um
propósito concreto para o dia-a-dia.
9. Um cântico final ou o tantum ergo,
se houver disponível um sacerdote para a bênção eucarística.
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CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
10. Bênção
Juntos com Jesus regressemos agora ao quotidiano. Levamo-Lo espiritualmente no
coração, da igreja para o nosso mundo meritocrático e acelerado. Levamo-Lo para o lugar
onde nos chama o dever. Por isso, dizia Papa João Paulo II: “A nossa adoração não deve
nunca terminar.”
Alma de Cristo, santificai-me.
Corpo de Cristo, salvai-me.
Sangue de Cristo, inebriai-me.
Água do Lado de Cristo, lavai-me.
Paixão de Cristo, confortai-me.
Meu bom Jesus, ouvi-me.
Dentro de vossas chagas, escondei-me.
Não permitais que me separe de Vós.
Do inimigo maligno defendei-me.
Na hora da minha morte, chamai-me.
E mandai-me ir para Vós,
para que eu Vos louve com os Vossos santos
no Vosso reino por toda a eternidade.
Ámen.
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
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TERÇO DA DIVINA
MISERICÓRDIA
As palavras deste terço foram ditadas por Jesus à Ir. Faustina Kowalska durante uma
visão impressionante a 13 e 14 de Setembro de 1935 em Vilna.
“À noite avistei na minha cela um anjo, o Executor da Ira de Deus. Usava uma veste
clara, e o seu rosto estava radiante. Sob os seus pés estava uma nuvem de onde saíam
trovões e relâmpagos para as suas mãos, e saídos da sua mão atingiam a Terra. Quando
vi o sinal da ira de Deus, que devia atingir a Terra, mas especialmente um determinado
lugar, cujo nome por razões compreensíveis não posso revelar, pedi ao anjo que se detivesse por um certo tempo, pois o mundo iria fazer penitência. Mas o meu pedido de nada
valeu ante a cólera divina. Avistei então a Santíssima Trindade. A grandeza da Sua majestade trespassou-me até ao mais íntimo de mim, e eu não ousava repetir o meu pedido.
Nesse mesmo momento, senti em mim o poder da graça de Jesus, que reside na minha
alma. Quando tomei consciência desta graça, fui de repente arrebatada para diante do
trono de Deus. Oh, como é grande o nosso Senhor e Deus, e como é inconcebível a Sua
santidade! Não vou sequer tentar descrever a Sua grandeza, pois em breve todos veremos
como Ele é. Comecei então a suplicar a Deus pelo mundo, com palavras ouvidas interiormente. Quando assim rezava, vi a impossibilidade do anjo continuar a executar aquele
justo castigo, merecido por causa dos pecados. Nunca tinha rezado com tanta força interior como naquela ocasião. As palavras com que suplicava a Deus eram as seguintes:
“Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso amado
filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, pelos nossos pecados e os pecados de todo o mundo.
Pela Sua dolorosa paixão, tende misericórdia de nós.”
(Diário N.º 474-475).
Como se recita o Terço da Divina Misericórdia?
Jesus ensinou, com todos os pormenores, como deve ser feita esta oração:
“Recitá-lo-ás...como o Rosário habitual, da seguinte forma:
Primeiro, um “Pai Nosso” e uma “Ave Maria” e o “Credo”,
a seguir – nas contas do Pai-Nosso – as palavras:
“Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso muito amado filho,
Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos pecados de todo o mundo.
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CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
Nas contas pequenas rezarás da seguinte forma:
Pela Sua dolorosa paixão, tende misericórdia de nós e de todo o mundo.
No fim, rezarás três vezes estas palavras:
Deus santo, Deus forte, Deus imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro”
(Diário N.º 476).
Uma vez, a Ir. Faustina ouviu na sua alma as
seguintes palavras:
“Q
uem recitar o terço da Divina Misericórdia receberá a minha grande misericórdia na hora da sua morte. Os sacerdotes o recomendarão aos pecadores como
a última tábua de salvação. Ainda que
o pecador seja o mais endurecido, se recitar
este Terço uma só vez, alcançará a graça da
Minha infinita misericórdia. Desejo que todo
o mundo reconheça a Minha misericórdia.
Desejo conceder graças insondáveis às almas
que confiarem na Minha misericórdia.”
(Diário N.º 687)
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
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UM QUARTO DE HORA
DIANTE DO ALTÍSSIMO
Guia para um diálogo com o Senhor eucarístico por Sto. António Maria Claret
Este santo é o fundador dos claretianos, a ordem
missionária mais importante de Espanha no séc.
XIX, Arcebispo de Santiago de Cuba e, posteriormente, confessor da rainha Isabel de Espanha,
bem como orientador espiritual de Santa Micaela
do Ssmo. Sacramento. Como grande figura
da história da Igreja de Espanha do seu tempo,
assim escreveu:
“Foi no dia 26 de Agosto de 1861. Eu rezava
o Rosário em La Granja e, ao final da tarde,
pelas sete horas, realizei aí a minha adoração.
O Senhor concedeu-me então a grande graça
de as espécies sacramentais terem permanecido
no meu peito, de forma que noite e dia trago
comigo o Altíssimo. Tenho pois de estar sempre
muito recolhido e crescer cada vez mais profundamente na vida de graça.”
No diálogo “Um Quarto de Hora diante do Altíssimo”, Sto. António Maria Claret deixa Jesus
falar a cada alma pessoalmente:
“
Não é preciso saberes muito para me agradares, basta que ames a Mim próprio. Fala pois
coMigo com a simplicidade com que falarias com o teu amigo mais próximo.
Tens alguma coisa a pedir-Me por alguém?
Diz-me o seu nome e o que Eu poderia fazer agora por ele.
Pede muito! Não hesites em pedir. Fala-Me também com simplicidade e sinceridade dos pobres
que queres consolar; dos doentes que vês sofrer; dos desencaminhados que desejas ardentemente que regressem ao caminho certo. Por todos eles, diz-me pelo menos uma palavra.
E para ti, não precisas de alguma graça para ti?
Diz-Me francamente que talvez sejas orgulhoso, egoísta, inconstante, negligente ... e pede-Me
depois que venha em teu auxílio nos poucos ou muitos esforços que fazes para te libertares
disso. Não tenhas vergonha! Há muitos justos, muitos santos no Céu que tiveram exactamente os
mesmos defeitos. Mas pediram com humildade ... e pouco a pouco foram-se vendo livres deles.
Não hesites também em pedir saúde, bem como uma saída feliz para os teus trabalhos, negócios
ou estudos. Tudo isto te posso dar, e dou-te. E desejo que Mo peças, desde que não seja contra
44
CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
a tua santificação, mas que te beneficie e apoie. E de que precisas hoje mesmo? Que posso
Eu fazer por ti? Se tu soubesses como desejo tanto ajudar-te!
Tens contigo algum plano?
Então, conta-Me. Que te preocupa? O que pensas? O que desejas? O que posso fazer pelo teu
irmão, tua irmã, teus amigos, tua família, teus superiores? O que gostarias que fizesse por eles?
E em relação a Mim: Não desejas que Eu seja glorificado? Não gostarias de poder fazer algum
bem aos teus amigos, que talvez ames muito, mas que talvez vivam sem pensarem em Mim?
Diz-Me: O que desperta hoje em especial a tua atenção? O que desejas ardentemente? De que
meios dispões para o conseguir? Conta-Me se algum empreendimento te corre mal, e Eu te direi
as razões do insucesso. Não gostavas de Me conquistares para ti?
Sentes-te talvez triste ou de mau humor?
Conta-Me com todo o pormenor o que te faz triste. Quem te magoou? Quem feriu o teu amor
próprio? Quem te desprezou? Conta-me tudo, e em breve chegarás a ponto de Me dizeres que,
seguindo o Meu exemplo, tudo perdoas, tudo esqueces. Como recompensa, receberás a Minha
bênção reconfortante. Terás medo, talvez? Sentes na tua alma uma melancolia indefinida, que
é na verdade injustificada, mas que apesar disso não acaba, que te destroça o coração? Lança-te
na providência dos Meus braços! Eu estou contigo, do teu lado. Vejo tudo, oiço tudo, e nem por
um momento te abandono. Sentes a relutância entre as pessoas, que antes gostavam de ti e que
se afastam de ti sem que tu lhes tenhas dado o mínimo motivo? Pede por elas e Eu as reconduzirei para junto de ti se elas não forem impedimento para a tua santificação.
E não terás a comunicar-Me alguma alegria?
Porque não Me deixas participar dessa alegria, dado que sou teu amigo? Conta-me aquilo que
desde a última visita que Me fizeste confortou o teu coração e te fez sorrir. Talvez tenhas experimentado agradáveis surpresas; talvez tenhas recebido boas notícias, uma carta, um sinal de
afecto; talvez tenhas superado uma dificuldade, tenhas saído de uma situação sem saída. Tudo
isto é obra Minha. Só tens que me dizer simplesmente: Obrigado, Meu Pai!
Não queres prometer-Me nada?
Leio no fundo do teu coração. É fácil enganar os homens, mas não a Deus. Fala pois coMigo
com toda a sinceridade. Estás firmemente decidido a nunca mais te expores àquela ocasião
de pecado, a renunciar àquele objecto que te prejudica, a deixar de ler aquele livro que provocou
a tua imaginação, a deixar de falar com aquela pessoa que perturba a paz da tua alma? Queres
voltar a ser gentil, amável e complacente para essa outra pessoa que até agora consideravas
hostil porque te tratou mal?
Muito bem, regressa agora à tua ocupação habitual, ao teu trabalho, à tua família, ao teu estudo.
Mas não te esqueças do quarto de hora que ambos passámos aqui. Guarda, na medida em que
possas, silêncio, modéstia, recolhimento interior, amor ao próximo. Ama a Minha Mãe, que
também é tua.
E volta com um coração ainda mais cheio de amor, ainda mais devoto do Meu espírito. Se o fizeres,
cada dia no Meu coração encontrarás novo amor, novos benefícios, novas consolações.”
Publicado pelo Secretariado Pastoral da Arquidiocese de Viena 1988.
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
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O SACERDOTE
E A MÃE ESPIRITUAL
DOS SACERDOTES SEGUNDO
O MODELO DE JESUS E MARIA
Para a actual situação da Igreja num mundo
secularizado, onde com frequência se torna
evidente uma crise de fé, o papa, os bispos,
os sacerdotes e os crentes procuram uma
solução. Nesta crise, torna-se cada vez mais
visível que a verdadeira solução reside na
renovação interior dos sacerdotes e, neste
contexto, a chamada “maternidade espiritual
dos sacerdotes” adquire um especial significado. Através deste “ser mãe espiritual”, as
mulheres e mães tomam parte da maternidade
universal de Maria que, sendo Mãe do Eterno
Sumo Sacerdote, é também Mãe de todos os
sacerdotes de todos os tempos.
Se já na vida natural a criança é acolhida,
dada à luz, alimentada e cuidada pela sua
mãe, este pensamento muito mais se aplica
à vida espiritual: por detrás de todos os
sacerdotes encontra-se uma mãe espiritual,
que suplicou a Deus a sua vocação, que os
traz ao mundo entre dores espirituais e que
os “alimenta”, oferecendo como dádiva
a Deus tudo o que no decurso do dia faz,
para que se tornem sacerdotes santos, sacerdotes fiéis à sua identidade específica e às
suas funções específicas.
Quem pode ser uma mãe espiritual
dos sacerdotes?
Para ser mãe espiritual de sacerdotes, uma
mulher não precisa de ser mãe física de um
sacerdote. Independentemente da idade
e estrato social, todas as mulheres podem
tornar-se mães espirituais dos sacerdotes,
ou seja, mulheres solteiras, mães de família,
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viúvas, religiosas e consagradas e, sobretudo,
aquelas que oferecem o seu sofrimento por
amor. Até a uma criança que não sabia ler
nem escrever, a bem-aventurada Jacinta de
Fátima, agradeceu o próprio Papa João Paulo
II, a 13 de Maio de 2000, pelo seu auxílio na
sua vocação pastoral universal: “Exprimo
também a minha gratidão à beata Jacinta
pelos sacrifícios e orações que ofereceu
pelo Santo Padre, que ela tinha visto em
grande sofrimento.”
Naturalmente que os homens não ficam de
forma alguma excluídos da ajuda pelas vocações e pela santificação dos sacerdotes; pois
temos todos a vocação de colaborarmos neste
processo! Neste tempo presente, é necessário
mais do que nunca todo o nosso apoio para
que os sacerdotes se santifiquem na fidelidade
à sua vocação.
De que forma uma mãe espiritual ajuda os
sacerdotes?
Para quem se decidiu interiormente: “Desejo
oferecer a minha vida inteira a Deus pela
santificação dos sacerdotes!”, não é naturalmente possível estar sempre a pensar concretamente nesta maternidade espiritual. Isso
é Jesus que assume, a quem, por exemplo,
uma mãe de família oferece, como dádiva
espiritual aos sacerdotes, o seu quotidiano,
com todos os seus deveres e renúncias.
Até mesmo uma breve oração no momento
da Sagrada Comunhão, feita deliberadamente
por um sacerdote, é uma dádiva concreta; ou
quando se passa em recolhimento uma hora
CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O
junto de Deus, diante do Santíssimo, se reza
o terço e se Lhe oferece este tempo de oração
pelos sacerdotes, os quais, na actual falta de
sacerdotes, estão tantas vezes sobrecarregados com tarefas pastorais e administrativas,
que julgam não ter mais tempo para a oração
pessoal e silenciosa.
e a aridez, humilhações e ofensas, provações
e tentações do mundo, que também os sacerdotes muito bem conhecem, em seu lugar.
Também suportar uma doença ou uma dor
física, no espírito da fé e com paciência,
pode tornar-se uma preciosa fonte de graças
para os sacerdotes.
Ajudas particularmente valiosas pela vida de
um sacerdote são naturalmente os sacrifícios
espirituais: quando uma mãe espiritual dos
sacerdotes, por exemplo, renuncia deliberadamente a viver a experiência de se sentir
amada por Deus ou a afastar-se da oração sem
consolo, para que um sacerdote possa viver
de forma sensível este amor e este consolo;
ou quando suporta com amor a solidão
Os comoventes exemplos de mães consagradas
aos sacerdotes, descritos nesta brochura, devem
encorajar-nos a acreditar, de forma muito mais
viva, no poder da maternidade espiritual pelos
sacerdotes, invisível mas inteiramente real.
Mostram que a oração e os sacrifícios ocultos
feitos por amor e em atitude sobrenatural
possuem um efeito poderoso e passível de ser
sentido pelos sacerdotes.
“CADA VOCAÇÃO SACERDOTAL
... PASSA PELO CORAÇÃO DE UMA MÃE!”
S. PIO X
Cada sacerdote é precedido de uma mãe que não
raro se tornou também mãe para a vida espiritual
dos seus filhos. Giuseppe Sarto, por exemplo,
o futuro Papa Pio X, logo após a sua consagração
como bispo, visitou a sua mãe septuagenária.
Respeitosamente, beijou o anel do seu filho,
mas logo após ficou repentinamente pensativa
e mostrou a Giuseppe a sua aliança de casamento
em prata e gasta pelo trabalho: “É verdade,
Seppi, mas não usarias hoje o teu anel se eu não
tivesse primeiro usado a minha aliança.” Ao que
Pio X retorquiu, confirmando: “Toda a vocação
sacerdotal brota do coração de Deus, mas passa
pelo coração de uma mãe!”
ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual
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AJUDA À IGREJA QUE SOFRE
UMA ORGANIZAÇÃO AO SERVIÇO DA IGREJA
A
Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) é uma
Organização Pública Universal Dependente
da Santa Sé em estreita colaboração com as
Conferências Episcopais de cada país e com
os Bispos Diocesanos. Foi fundada em 1947
pelo R.P. Werenfried van Straaten, o. praem.,
inspirado na mensagem de Fátima, após
a Segunda Guerra Mundial, para ajudar os
milhões de refugiados da Alemanha de Leste
que fugiam da ocupação comunista.
Organização essencialmente pastoral, não
cessa de ajudar a Igreja, onde quer que seja
perseguida, refugiada e ameaçada, em mais
de 150 países. A AIS apoia todos os anos
cerca de 8.000 projectos em todo o mundo: na
América Latina, na África, na Ásia e também
na Europa de Leste e Ocidente, onde quer que
a Igreja enfrente dificuldades. Os desafios são
múltiplos: totalitarismo de esquerda ou de
direita, fanatismo religioso, multiplicação de
seitas, materialismo, falta de sacerdotes.…
Como dizia João Paulo II aos delegados da
AIS reunidos em Roma: (…) nem toda a gente
ouve esses cristãos que sofrem em silêncio…
Vós actuais, recolheis ofertas, enviais ajudas
que levam, aos que esperam, a certeza de que
os seus irmãos na fé conhecem as suas necessidades e não os abandonam… Esta caridade
concreta e multiforme é um testemunho indispensável em todas as épocas, sobretudo na
nossa. É este o trabalho da AIS, graças à ajuda
de mais de 700.000 benfeitores que dão regularmente apoio com as suas ofertas generosas.
Para mais informações, contacte a
Fundação AIS e ser-lhe-á enviada
documentação gratuita.
R. Prof. Orlando Ribeiro, 5D
1600-796 LISBOA
Tel.: 217 544 000 | Fax: 217 544 001
Domus Pater Werenfried
Rua Francisco Marto, 205
2495-448 Fátima
Tel.: 249 534 956
fundacao-ais@fundacao-ais.
ptwww.fundacao-ais.pt
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CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O

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