Cistite Idiopática Felina e a Periúria

Transcrição

Cistite Idiopática Felina e a Periúria
Centro Universitário Barão de Mauá
Curso de Medicina Veterinária
Relatório de Estágio Supervisionado de Graduação
Local:
Centro Clínico e Laboratorial Veterinário São
Francisco de Assis, São Carlos, SP
Monografia:
“Cistite Idiopática Felina e a Periúria”
Aluno: Luciana Calciolari
Orientador: Prof. Dr. Gelson Genaro
Ribeirão Preto
Novembro/2008
I
CENTRO UNIVERSITÁRIO BARÃO DE MAUÁ
Relatório Final do Estágio Curricular do Curso Medicina Veterinária, realizado
junto ao Centro Clínico e Laboratorial Veterinário São Francisco de Assis,
São Carlos, SP.
Monografia: “Periúria e a Cistite Idiopática Felina”
Luciana Calciolari
Orientador: Prof. Dr. Gelson Genaro
Supervisor: Médico Veterinário Luiz Henrique Camargo Bertocco
Ribeirão Preto - SP
Novembro / 2008
Ficha Catalográfica
619
C148p
Calciolari, Luciana
Periúria e a cistite idiopática felina./ Luciana
Calciolari – Ribeirão Preto, 2008.
48 f; 30 cm.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação
em Medicina Veterinária) – Centro Universitário
Barão de Mauá.
Orientador: Prof. Dr. Gelson Genaro.
1. Felino. 2. Cistite . 3. Periúria. 4. Medicina
Veterinária.
II
DEDICATÓRIA E AGRADECIMENTOS
Dedico esse trabalho de graduação aos felinos, em especial ao Freddy, meu gato de
estimação, meu filhote, meu companheiro de estudos e moradia, meu cobertor de pés nos dias
frios, meu “cobaia”, meu amigo de confissões, enfim, um animal preferido dentre tantos outros
aos quais quero dedicar todos os dias da minha vida.
Agradeço, antes de tudo e sempre, à Luz Divina, Deus, os anjos e a Ave Maria, que
sempre iluminaram meus caminhos e me conduziram até esse momento tão esperado: a
graduação.
Agradeço aos meus pais, minha irmã e meus avós, que estiveram sempre comigo ao
longo dessa jornada, que muitas vezes pareceu não ter mais fim, mas, como tudo passa, mais
essa etapa se completou, trazendo como recompensa um símbolo dessa conquista chamado
diploma, uma herança sem preço chamada conhecimento e dois sentimentos muito bons
chamados orgulho e realização.
Agradeço ao meu Lú, Luis... que chegou no “último minuto do segundo tempo”,
trazendo para minha vida uma felicidade e uma paz que eu não conhecia até então.
Agradeço também aos colegas e, principalmente, aos amigos, que são raros e poucos
nessa vida. Obrigada Iozinha! Obrigada Ana Carla! Obrigada turma da São Francisco,
especialmente Dr. Alexandre e Dr. Luiz que foram os verdadeiros professores da prática
veterinária!
Agradeço com sinceridade aos professores da Barão de Mauá, especialmente aos
professores Daniel, Matheus, Paola, Patto e Rubens, que foram mais que professores, foram
mentores e amigos, que mesmo através de críticas e repreensões, me conduziram à
perseverança e à busca pelo conhecimento, busca a qual, já me pareceu muitas vezes árdua,
desinteressante, estressante e até desnecessária, mas que agora tenho como um presente,
uma dádiva que nunca mais terá sua importância questionada.
Agradeço e também prometo nunca me esquecer de pessoas como Dona Marilda,
Milrian e ”Tia Néia”, do Hospital Veterinário, além da “Dona Val", do condomínio onde morei
nos cinco anos de faculdade... Ah, já estou com saudades! Essas quatro mulheres estiveram
sempre presentes, de um jeito ou de outro no meu dia-a-dia, dispostas a dar atenção, um
sorriso ou uma palavra de conforto, fazendo meus dias mais iluminados.
Agradeço ainda ao meu orientador, Prof. Gelson, que, através de seu conhecimento e
seriedade, me guiou pacientemente ao longo da confecção deste trabalho.
Agradeço e peço perdão aos não citados, pois também os quero bem.
Agradeço por fim a todos os animais que colaboraram (muitos com suas próprias vidas)
com meu aprendizado ao longo do curso de graduação e peço a Deus um lugarzinho especial
pra cada um deles lá no céu.
III
“Verdadeiramente bom é Deus para com Israel, para com os limpos de coração. Quanto a mim,
os meus pés quase resvalaram; pouco faltou para que os meus passos escorregassem.
Pois eu tinha inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios. Porque eles não sofrem
dores; são e robusto é o seu corpo. Não se acham em tribulações como outra gente, nem são
afligidos como os demais homens. Pelo que a soberba lhes cinge o pescoço como um colar; a
violência os cobre como um vestido. Os olhos deles estão inchados de gordura; trasbordam as
fantasias do seu coração. Motejam e falam maliciosamente; falam arrogantemente da
opressão. Põem a sua boca contra os céus, e a sua língua percorre a terra.
Pelo que o povo volta para eles e não acha neles falta alguma. E dizem: Como o sabe Deus?
Há conhecimento no Altíssimo? Eis que estes são ímpios; sempre em segurança, aumentam
as suas riquezas. Na verdade que em vão tenho purificado o meu coração e lavado as minhas
mãos na inocência, pois todo o dia tenho sido afligido, e castigado cada manhã.
Se eu tivesse dito: Também falarei assim; eis que me teria havido traiçoeiramente para com a
geração de teus filhos. Quando me esforçava para compreender isto, achei que era tarefa difícil
para mim, até que entrei no santuário de Deus; então percebi o fim deles.
Certamente tu os pões em lugares escorregadios, tu os lanças para a ruína.
Como caem na desolação num momento! Ficam totalmente consumidos de terrores.
Como faz com um sonho o que acorda, assim, ó Senhor, quando acordares, desprezarás as
suas fantasias. Quando o meu espírito se amargurava, e sentia picadas no meu coração,
estava embrutecido, e nada sabia; era como animal diante de ti. Todavia estou sempre contigo;
tu me seguras a mão direita. Tu me guias com o teu conselho, e depois me receberás em
glória. A quem tenho eu no céu senão a ti? E na terra não há quem eu deseje além de ti.
A minha carne e o meu coração desfalecem; do meu coração, porém, Deus é a fortaleza, e o
meu quinhão para sempre. Pois os que estão longe de ti perecerão; tu exterminas todos
aqueles que se desviam de ti. Mas para mim, bom é aproximar-me de Deus; ponho a minha
confiança no Senhor Deus, para anunciar todas as suas obras”
(Salmo 73)
“Gato é tudo de bom!”
IV
SUMÁRIO
I. Relatório de estágio .........................................................................
1
1. Introdução ....................................................................................
2
2. Descrição da entidade de estágio ...............................................
2
3. Descrição das atividades de estágio ...........................................
2
4. Discussão das atividades de estágio ...........................................
10
5. Conclusão ....................................................................................
11
II. Monografia: Periúria e a Cistite Idiopática Felina.............................
12
Resumo / Abstract ...........................................................................
13
1. Introdução ....................................................................................
14
2. Revisão Anatômica ......................................................................
15
2.1. Vesícula Urinária ......................................................................
15
2.2. Uretra .......................................................................................
16
3. Fisiopatogenia .............................................................................
17
4. Fatores predisponentes ...............................................................
18
5. Sinais clínicos ..............................................................................
19
6. Sinais comportamentais ..............................................................
20
7. Diagnóstico ..................................................................................
22
7.1. Demarcação urinária ...............................................................
22
7.2. Eliminação urinária inadequada ou Periúria .............................
24
7.3. Histórico ....................................................................................
26
7.4. Exame físico .............................................................................
28
Continua...
V
...Continuação
7.5. Exames complementares .........................................................
28
8. Diagnóstico diferencial .................................................................
30
8.1. Urolitíase ...................................................................................
30
8.2. “Plug” uretral .............................................................................
31
8.3. Defeitos anatômicos .................................................................
33
8.4. Neoplasias ................................................................................
33
8.5. Causas infecciosas ...................................................................
33
8.6. Spray urinário ...........................................................................
34
8.7. Causas medicamentosas .........................................................
34
8.8. Ruptura vesical .........................................................................
35
8.9. Incontinência urinária ................................................................
35
9. Tratamento clínico e comportamental .........................................
35
10. Profilaxia ....................................................................................
38
11. Pesquisa.. ..................................................................................
40
11.1. Resultados...............................................................................
40
11.2. Discussão e conclusão da pesquisa........................................
42
12. Conclusão...................................................................................
43
13. Referências ................................................................................
44
VI
LISTA DE FIGURAS
Fig. 1: Esquematização dos órgãos urogenitais da gata em que se
observam: A. vagina; B. uretra; C. bexiga urinária; D. ureter; E.
corno uterino; F. Ovário; G. reto (Arquivo pessoal, 2008).................
15
Fig. 2: Esquematização dos órgãos urogenitais do gato onde se
observam: A. prepúcio; B. Glande do pênis; C. pênis; D. Glândula
bulbouretral; E. uretra; F. próstata; G. bexiga urinária; H. ureter; I.
reto; J. testículo (Arquivo pessoal, 2008) .........................................
16
Fig. 3: Esquematização da divisão da uretra do gato. Observar: 1.
uretra pré-prostática; 2. uretra prostática; 3. uretra membranosa; 4.
uretra peniana; A. bexiga urinária; B. ureter; C. próstata; D.
glândula bulbouretral; E. pênis; F. testículo (Arquivo pessoal,
2008) ................................................................................................
Fig.
4
e
5:
Fotografias
demonstrando
gato
16
exibindo
comportamento normal de micção em bandeja sanitária (Arquivo
pessoal, 2008) ..................................................................................
22
Fig. 6 e 7: Fotografias de um gato exibindo início da seqüência
comportamental característica do spray urinário, se aproximando
da superfície vertical, cheirando-a e esfregando-se nesta (Arquivo
pessoal, 2008) ..................................................................................
23
Fig. 8: Fotografia de um gato exibindo parte da seqüência
comportamental característica do spray urinário, em que ele
levanta a cauda, arqueia as costas, treme a cauda e promove um
borrifo de urina na direção horizontal (Arquivo pessoal, 2008) ........
24
Continua...
VII
... Continuação
Fig. 9: Radiografia simples do abdômen de um gato macho sem
DITUIF. Observar bexiga urinária repleta e dentro dos padrões
considerados normais (seta) (Arquivo pessoal de BERTOCCO,
2008).................................................................................................
29
Fig. 10: Ultra-sonografia de vesícula urinária de um gato S.R.D.
de um ano de idade com CIF. Observar material em suspensão e
depositado no assoalho da bexiga (setas) (Arquivo pessoal de
DEVELEY, 2007) ..............................................................................
30
Fig. 11: Radiografia simples do abdômen de um gato macho com
obstrução uretral total. Observar bexiga urinária extremamente
distendida (seta) (Arquivo pessoal de BERTOCCO, 2008) .............
32
Fig. 12: Fotografia do procedimento de desobstrução uretral em
um gato macho de três anos de idade com quadro de anúria há
dois dias. À urinálise observaram-se cristais de estruvita em
grande quantidade (Arquivo pessoal, 2008) ....................................
32
Fig. 13: Fotografia de um gato exibindo o “bunting” (Arquivo
pessoal, 2008)...................................................................................
38
VIII
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Atividades desenvolvidas, por especialidade veterinária,
no Centro Clínico e Laboratorial Veterinário São Francisco de Assis,
no período de 30/06/2008 a 03/10/2008 .............................................
3
Tabela 2 – Atividades desenvolvidas na especialidade de clínica
médica, no Centro Clínico e Laboratorial Veterinário São Francisco
de Assis, no período de 30/06/2008 a 03/10/2008 ..............................
3
Tabela 3 – Atividades desenvolvidas na especialidade de clínica
cirúrgica, no Centro Clínico e Laboratorial Veterinário São Francisco
de Assis, no período de 30/06/2008 a 03/10/2008 ..............................
6
Tabela 4 – Atividades desenvolvidas, com métodos auxiliares de
diagnóstico na área de radiologia, no Centro Clínico e Laboratorial
Veterinário São Francisco de Assis, no período de 30/06/2008 a
03/10/2008 ...........................................................................................
7
Tabela 5 - Atividades desenvolvidas, com métodos auxiliares de
diagnóstico na área de patologia clínica, no Centro Clínico e
Laboratorial Veterinário São Francisco de Assis, no período de
30/06/2008 a 03/10/2008 .....................................................................
9
Tabela 6 - Procedimentos desenvolvidos no Centro Clínico e
Laboratorial Veterinário São Francisco de Assis, no período de
30/06/2008 a 03/10/2008
9
IX
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Resultados obtidos do levantamento na base de dados
do “Centro Clínico e Laboratorial Veterinário São Francisco de
Assis” relativo ao período de 9 de Abril de 2006 à 3 de Julho de
2008, relacionando o número de gatos com DTUIF com o número
de atendimentos .................................................................................
41
Gráfico 2: Resultados obtidos do levantamento na base de dados
do “Centro Clínico e Laboratorial Veterinário São Francisco de
Assis” relativo ao período de 9 de Abril de 2006 à 3 de Julho de
2008, relacionando o número de gatos com DTUIF com o número
de atendimentos, separando-se por sexo ..........................................
41
1
I. RELATÓRIO DE ESTÁGIO
2
1. Introdução
Visando a aplicação e o aperfeiçoamento dos conhecimentos adquiridos
durante o curso de graduação em Medicina Veterinária no Centro Universitário
“Barão de Mauá”, foi realizado, no período de 30 de Junho de 2008 à 03 de
Outubro de 2008, o estágio curricular no Centro Clínico e Laboratorial
Veterinário São Francisco de Assis situado na cidade de São Carlos / SP.
2. Descrição da entidade de estágio
O Centro Clínico e Laboratorial Veterinário São Francisco de Assis,
localizado na Rua Nove de Julho, nº 1827, Centro, São Carlos / SP, atua na
área de clínica médica e cirúrgica de pequenos animais, patologia clínica,
eletrocardiograma e diagnóstico por imagem. Conta com uma sala de
atendimento, uma sala de anamnese, uma sala de espera, uma sala de
radiologia com uma sala para revelação de imagens radiográficas, um centro
cirúrgico e sala de emergência, um laboratório de exames de patologia clínica
(hematológicos, bioquímicos, coprológicos, dermatológicos e citológicos) e uma
sala para internação. Tanto os exames de patologia clínica como os
radiológicos são oriundos ou do atendimento de pacientes do próprio centro
veterinário ou daqueles encaminhados por outras clínicas veterinárias e
profissionais da cidade e arredores. Os exames radiográficos são realizados na
maioria em cães e gatos, além de raros animais silvestres. Os exames de
patologia clínica abrangem a maioria das espécies animais, principalmente
caninos e felinos, além de eqüinos, bovinos, ovinos e caprinos.
3. Descrição das atividades de estágio
No estágio realizado junto ao Centro Clínico e Laboratorial Veterinário
São Francisco de Assis se realizou o acompanhamento de consultas, coletas
3
de amostras e realização de exames de patologia clínica, radiografias, ultrasonografias, eletrocardiogramas, cirurgias e atendimentos emergenciais, além
da realização do trabalho de enfermagem em animais internados e nos que
vinham diariamente para fluidoterapia, medicação e curativos.
Tabela 1 – Atividades desenvolvidas, por especialidade veterinária, no Centro
Clínico e Laboratorial Veterinário São Francisco de Assis, no período de
30/06/2008 a 03/10/2008.
Especialidade
Espécie canina
Espécie Felina
Total
Clínica Médica
151
42
193
Clínica Cirúrgica
94
71
165
Diagnóstico por Imagem
58
26
84
Patologia Clínica
809
155
964
Procedimentos
235
76
311
Total
1347
370
1717
Tabela 2 – Atividades desenvolvidas na especialidade de clínica médica, no
Centro Clínico e Laboratorial Veterinário São Francisco de Assis, no período de
30/06/2008 a 03/10/2008.
Diagnóstico e/ou suspeita clínica
Espécie
Espécie
Total
Canina
Felina
Atopia
5
0
5
Babesiose
2
0
2
Berne (Dermatobia hominis)
4
0
4
Cardiomegalia
5
0
5
Catarata
4
2
6
Continua...
4
... Continuação
Diagnóstico e/ou suspeita clínica
Espécie
Espécie
Canina
Felina
Choque hipovolêmico
3
3
6
Cio silencioso
1
0
1
Cistite
3
1
4
Cólica Intestinal
3
0
3
Convulsão
4
0
4
Dermatite alérgica por hormônio sexual
3
0
3
Dermatite alérgica por picada de pulga
3
0
3
Dermatite fúngica
6
2
8
Dermatite úmida por lambedura
2
0
2
Doença respiratória infecciosa felina
0
8
8
Enterite verminótica
5
0
5
2
0
2
coagulante)
3
3
6
Erliquiose
6
0
6
Fístula de glândula adianal
1
0
1
Foliculite e furunculose
1
0
1
Gastrite
4
1
5
Gastroenterite hemorrágica
10
1
11
Hemotórax
2
3
5
Hepatite
4
0
4
Hipotireoidismo
3
0
3
Inflamação de calos de apoio
2
0
2
Insuficiência Renal Crônica
5
3
8
Intoxicação por ingestão de sabão
1
0
1
Leishmaniose
1
0
1
Envenenamento
por
“comigo-ninguém-
pode” (Dieffembachia amoena)
Envenenamento
por
Total
rodenticida
(anti-
Continua...
5
... Continuação
Diagnóstico e/ou suspeita clínica
Espécie
Espécie
Total
Canina
Felina
Linfoma
3
0
3
Miíase (Cochiliomyia hominivorax)
2
1
3
(indefinida)
1
0
1
Neoplasia generalizada
2
1
3
Neoplasia mista em coxim plantar
1
0
1
Obstrução uretral
1
3
4
Orientação pediátrica
6
1
7
Orientação pré-parto
4
0
4
Otite
6
2
8
Pneumonia por falsa via
2
0
2
Pseudociese
4
0
4
Sarna Demodécica
4
1
5
Sarna Notoédrica
0
4
4
Toxinfecção alimentar
4
0
4
Traqueíte alérgica (fumaça de cigarro)
2
0
2
Traumatismo craniano
1
2
3
Tumor venéreo transmissível (TVT)
3
0
3
Úlcera de Córnea
4
0
4
Urolitíase
3
0
3
151
42
193
Necrose gasosa por picada de aranha
Total
6
Tabela 3 – Atividades desenvolvidas na especialidade de clínica cirúrgica, no
Centro Clínico e Laboratorial Veterinário São Francisco de Assis, no período de
30/06/2008 a 03/10/2008.
Espécie
Espécie
canina
felina
Amputação de membro pélvico
0
1
1
Caudectomia (filhote até 7 dias de vida)
8
0
8
Cesariana
3
0
3
Cistotomia para retirada de urólitos
1
0
1
Discopatia lombar (L2-L3)
1
1
2
Discopatia lombar (L4-L5)
1
0
1
Enucleação
1
0
1
estranho
1
0
1
Exerese - Hemangioma
1
0
1
Exerese - hemangiossarcoma
1
0
1
Exerese - lipoma
2
0
2
Exerese – neoplasia mamária
4
0
4
Feridas Punctórias (mordedura)
3
2
5
0
1
1
(C3)
1
0
1
Fratura incompleta em íleo, ísquio e púbis
1
2
3
Hematometra ou hemometra
1
0
1
alças intestinais
1
0
1
Luxação coxo-femoral
5
0
5
Luxação de patela
3
0
3
Clínica Cirúrgica
Total
Esofagorrafia – ruptura por corpo
Fratura em tíbia-fíbula e dilaceração de
pele e músculo em região de metatarso
Fratura incompleta em coluna cervical
Laparorrafia – correção de evisceração de
Continua...
7
... Continuação
Espécie
Espécie
canina
felina
Luxação mandibular
1
0
1
Orquiectomia
20
30
50
1
2
3
cerclagem em tíbia
2
0
2
Ovariosalpingohisterectomia
18
26
44
Penectomia
0
2
2
Pinçamento intervertebral - discopatia
3
0
3
Piometra
2
2
4
Redução de hérnia umbilical
1
0
1
Retirada de cálculo dentário
3
1
4
da cavidade
0
1
1
Sepultamento de glândula lacrimal
4
0
4
94
71
165
Clínica Cirúrgica
Total
Ortopedia – colocação de pino e
cerclagem em fêmur
Ortopedia – colocação de pino e
Ruptura uterina - retirada de fetos mortos
Total
Tabela 4 – Atividades desenvolvidas, com métodos auxiliares de diagnóstico
na área de radiologia, no Centro Clínico e Laboratorial Veterinário São
Francisco de Assis, no período de 30/06/2008 a 03/10/2008.
Região - Alteração
Espécie
Espécie
Total
canina
felina
Abdômen – massa/tumor generalizado
1
1
2
Bexiga urinária - distensão
1
3
4
Coluna vertebral – fratura
3
4
7
Continua...
8
... Continuação
Região - Alteração
Espécie
Espécie
canina
felina
3
1
4
Coluna vertebral – osteófitos
3
0
3
Costelas – fratura
2
2
4
Coxofemoral – displasia
6
0
6
Crânio – massa em região de maxilar
1
1
2
Crânio – reação periosteal próximo de
1
0
1
Esôfago – presença de corpo estranho
2
0
2
Esôfago (contrastado) – megaesôfago
1
0
1
Estômago – espessamento da parede
3
0
3
Estômago – presença de corpo estranho
2
1
3
Estômago– dilatação após atropelamento
1
0
1
Falange distal – fratura
1
0
1
Fêmur – fratura
2
2
4
Fêmur – pino intramedular e cerclagem
2
1
3
Fêmur-Rádio-ulna – luxação
1
0
1
Hepatomegalia
3
0
3
Osso Coxal – Fratura
5
3
8
Rádio-ulna – fratura
5
2
7
Rádio-ulna – osteossarcoma
1
0
1
Tíbia – pino intramedular
2
1
3
Tíbia e fíbula – fratura
2
2
4
Útero – gestação
4
2
6
58
26
84
Coluna vertebral – hérnia de disco
Total
intervertebral
dente infeccionado
Total
9
Tabela 5 - Atividades desenvolvidas, com métodos auxiliares de diagnóstico na
área de patologia clínica, no Centro Clínico e Laboratorial Veterinário São
Francisco de Assis, no período de 30/06/2008 a 03/10/2008.
Tipo de Exame
Espécie
Espécie
Canina
Felina
Bioquímicos
443
88
531
Citológico
13
02
15
Coprologia (Flutuação)
21
02
23
Dermatológico
15
08
23
Hemograma com pesquisa de hemoparasita
305
49
354
Urinálise
12
06
18
809
155
964
Total
Total
Tabela 6 - Procedimentos desenvolvidos no Centro Clínico e Laboratorial
Veterinário São Francisco de Assis, no período de 30/06/2008 a 03/10/2008
Procedimento
Espécie
Espécie
Canina
Felina
120
40
160
Coleta e inseminação artificial (IA)
2
0
2
Eutanásia
8
2
10
Ressuscitação cardiopulmonar (RCP)
5
4
9
100
30
130
235
76
311
Coleta de sangue para exames laboratoriais
Vacinação
Total
Total
10
4. Discussão das atividades de estágio
Durante o período de estágio, a maioria dos atendimentos das áreas de
clínica e de patologia clínica foram voltados principalmente para a espécie
canina,
porém,
considerando-se
a
área
cirúrgica,
nos
quesitos
ovariosalpingohisterectomia e orquiectomia, a espécie felina foi a mais
evidente. Isto se deve ao fato da prefeitura da cidade de São Carlos possuir um
projeto de “castração a baixo custo” em parceria com as clínicas veterinárias,
sendo que a prefeitura fornece o material necessário e o cliente arca somente
com o valor da mão-de-obra do Médico Veterinário, tornando o custo deste
procedimento em felinos bastante acessível, mais ainda quando comparado
com caninos.
Dentre os atendimentos à caninos, a maior casuística foi a das
gastroenterites hemorrágicas, principalmente dentre filhotes e animais não
vacinados. Já se tratando de felinos, a maior ocorrência foi o complexo das
doenças respiratórias infecciosas felinas (rinotraqueíte e calicivirose), sendo
que a maioria dos proprietários não tinha conhecimento da existência de
vacinas específicas para gatos e da prevenção que estas poderiam ter
oferecido contra a patologia apresentada por seu animal dentre as demais.
Considerando a área de diagnóstico por imagem, os caninos também
ocorreram em maior número, sendo as fraturas, tanto dentre caninos como
felinos, as mais observadas.
Já patologia clínica, com 964 exames realizados ao total, tanto de
caninos como felinos (além de outras espécies em números reduzidos), foi a
mais numerosa dentre todas as áreas. Os exames bioquímicos foram os mais
requisitados, superando os hemogramas. Isto porque a maioria dos Médicos
Veterinários que encaminham exames ao Centro Clínico e Laboratorial
Veterinário São Francisco de Assis, já criaram um padrão de pedido de
exames, requisitando, além do habitual hemograma, mais dois ou três
bioquímicos por animal.
Apesar da clientela do Centro Clínico e Laboratorial Veterinário São
Francisco de Assis ser na maioria de pessoas com bom grau de instrução e
11
nível social, algumas vezes o tratamento e acompanhamento foram dificultados
por parte dos proprietários, que mesmo entendendo a necessidade dos
retornos e administração de medicamentos conforme prescritos, não o faziam
ou faziam de formas inadequadas, prejudicando o sucesso terapêutico. O
mesmo ocorreu em relação à profilaxia de determinadas patologias,
principalmente quanto à vacinação.
5. Conclusão de estágio
Através do estágio curricular foi possível colocar em prática os conceitos
aprendidos durante o curso de graduação e amplia-los ainda mais,
principalmente nas áreas de clínica de pequenos animais, radiologia e
patologia clínica.
Também foi muito útil o aprendizado relacionado ao atendimento ao
cliente e paciente, além das melhores formas de lidar com situações
estressantes e imprevistos na rotina de uma clínica veterinária.
Nem décadas de estágios seriam suficientes para ensinar tudo sobre a
Medicina Veterinária e sua prática, porém, o estágio curricular foi bastante
proveitoso e atingiu seu objetivo, fornecendo base suficiente para enfrentar os
desafios que estão por vir nesta profissão.
12
II. MONOGRAFIA: “Periúria e a Cistite Idiopática Felina”
13
Resumo
A cistite idiopática felina (CIF), que tem como provável causa a
inflamação neurogênica da bexiga urinária, apresenta, dentre outros pontos
importantes, os problemas comportamentais que se manifestam principalmente
através da eliminação urinária inadequada ou periúria, ou seja, a eliminação
que ocorre em locais que não a bandeja sanitária. O diagnóstico da CIF se
baseia em diversos fatores, como o histórico do animal (incluindo a análise do
ambiente e das possíveis fontes de estresse), sinais clínicos, sinais
comportamentais - diferenciando a eliminação inadequada de urina da
demarcação urinária; exame físico e diagnósticos diferenciais. O foco principal
do tratamento e da profilaxia desta patologia consiste na eliminação das
possíveis fontes de estresse, bem como nas modificações ambientais
necessárias. A terapia medicamentosa só é indicada para o alívio da dor e
redução de ansiedade, uma vez que a CIF é autolimitante.
Palavras-chave: felino, cistite, idiopática, periúria, bandeja sanitária, estresse
Abstract
The feline idiopathic cystitis (FIC), which has as its probable cause the
neurogenic bladder inflammation, presents, among another important points,
the behavior problems which manifests mostly by inappropriate urine
elimination, or else, the elimination that occurs at places that not the litter box.
The FIC diagnoses is based on several factors, as the animal history (including
environment and possible stress source analysis), clinical signs, behavior signs
- differentiating the inappropriate urine elimination from the urine demarking;
physical examination and differentials diagnosis. This pathology treatment and
prophylaxis principal focus consists on eliminating the possible stress sources,
as well as the necessary environment modifications. The medical therapy is
only indicated for pain relief and anxiety decrease, once that FIC is self-limiting.
Keywords: feline, cystitis, idiopathic, inappropriate elimination, litter box, stress
14
1. Introdução
Atualmente, o gato (Felis silvestris catus), é visto como um "pet" ideal
para os moradores de apartamentos e para os casais que trabalham fora de
casa, isto porque, diferentemente do cão (Canis familiaris), o gato não
necessita de caminhadas diárias para se exercitar e realizar suas excreções,
pois uma bandeja sanitária na própria residência é basicamente o que ele
precisa. O gato aprende a utilizar da bandeja sanitária para todas suas
excreções sem necessidade alguma de treinamento, pois os substratos
utilizados, geralmente similares à areia, conferem um estímulo natural ao seu
uso. Mesmo assim, nos últimos anos vem se tornando cada vez maior o
número de proprietários de gatos queixando-se de “eliminações inadequadas”,
ou seja, eliminações (fecais e urinárias) que ocorrem fora das bandejas
sanitárias, fugindo então ao padrão comportamental por eles esperado (OLM &
HOUPT, 1988).
A periúria denomina as eliminações urinárias inadequadas, que
possuem, dentre outras, a cistite idiopática felina como principal causa clínica
(GUNN-MOORE, 2003; SEAWRIGHT et al., 2008).
A cistite idiopática felina (CIF), também conhecida por cistite intersticial
felina, é uma das doenças idiopáticas do trato urinário inferior dos felinos
(DITUIF) e é caracterizada pelas manifestações clínicas e alterações
morfológicas na bexiga urinária que tenham causa idiopática, correspondendo
a 65% doas casos não-obstrutivos estudados (GUNN-MOORE, 2003;
SEAWRIGHT et al., 2008).
Diferentemente da periúria, que pode ocorrer devido a patologias, existe
o spray urinário, que está relacionado à demarcação territorial, um
comportamento natural, realizado felinos saudáveis, tanto machos como
fêmeas, tendo maior expressão dentre os machos (OSBORNE et al., 2004). A
correta diferenciação dentre essas manifestações é imprescindível para o
diagnóstico e tratamento adequados, fazendo-se necessária uma completa
análise clínica e comportamental do animal (NEILSON J. C., 2004).
15
2. Revisão Anatômica
O trato urinário inferior dos felinos é composto por vesícula ou bexiga
urinária e uretra (CORGOZINHO & SOUZA, 2003).
2.1. Vesícula Urinária
Nos gatos, a bexiga urinária é musculomembranosa, possui formato de
feijão e está localizada na cavidade abdominal ventral entre a parede ventral
corpórea e o cólon descendente, podendo variar de posição, formato e
tamanho conforme o grau de enchimento (Fig. 1 e 2) (ELLENPORT, 1986).
A vesícula urinária é dividida em 3 porções: porção cranial, denominada
ápice ou vértice (que tem em seu centro um tecido cicatricial que é um vestígio
do úraco, que na vida fetal faz a ligação entre a bexiga e o alantóide); porção
média ou corpo da bexiga e extremidade caudal ou colo. É recoberta pelo
peritônio e fixada em seu local através de seu colo e dos ligamentos medial e
lateral (ELLENPORT, 1986). O ápice e o corpo da bexiga com sua musculatura
lisa formam o músculo detrusor, responsável pelo esvaziamento vesical
(CORGOZINHO & SOUZA, 2003).
G
E
A
B
C
D
F
Fig. 1: Esquematização dos órgãos urogenitais da gata em que se observam: A. vagina; B.
uretra; C. bexiga urinária; D. ureter; E. corno uterino; F. Ovário; G. reto (Arquivo pessoal, 2008)
16
I
J
C
A
B
D
E
F
G
H
Fig. 2: Esquematização dos órgãos urogenitais do gato onde se observam: A. prepúcio; B.
Glande do pênis; C. pênis; D. Glândula bulbouretral; E. uretra; F. próstata; G. bexiga urinária;
H. ureter; I. reto; J. testículo (Arquivo pessoal, 2008)
2.2. Uretra
A uretra dos gatos machos é dividida em quatro partes: uretra préprostática, que se estende desde o colo da bexiga urinária até a próstata;
uretra prostática, que se localiza na região da próstata; uretra pós-prostática ou
membranosa, que se estende desde a próstata até a glândula bulbouretral; e
uretra peniana, que está entre a glândula bulbouretral e a extremidade do pênis
(Fig. 3). O diâmetro interno varia de 0,7 mm na porção peniana a 2,4 mm na
junção vesicouretral (CORGOZINHO & SOUZA, 2003).
1
2
3
4
A
C
D
E
F
B
Fig. 3: Esquematização da divisão da uretra do gato. Observar: 1. uretra pré-prostática; 2.
uretra prostática; 3. uretra membranosa; 4. uretra peniana; A. bexiga urinária; B. ureter; C.
próstata; D. glândula bulbouretral; E. pênis; F. testículo (Arquivo pessoal, 2008)
17
A uretra das fêmeas está presente no assoalho da pelve e vagina e é
caracterizada por possuir menor comprimento, maior elasticidade e maior
diâmetro do que a uretra masculina (ELLENPORT, 1986; CORGOZINHO &
SOUZA, 2003).
3. Fisiopatogenia
A etiologia da CIF pode ser multifatorial, complexa e muitas vezes
indeterminada. Sugere-se que haja uma provável semelhança entre a doença
felina e a cistite idiopática humana, possuindo ambas, sinais e lesões similares
(OSBORNE et al., 2004; RECHE, 2003).
A hipótese mais recente para explicar a etiologia da CIF é de que ela é
causada pela inflamação neurogênica da bexiga, que provavelmente resulta de
alterações na interação entre as fibras nervosas aferentes e eferentes da
vesícula urinária, da camada protetora de glicosaminoglicanos (GAG) que
recobre a superfície da mucosa vesical e da composição urinária (GUNNMOORE, 2003; RECHE, 2003).
De acordo com Gunn-Moore (2003), a inflamação neurogênica se baseia
nas causas ambientais que podem ser fonte de estresse para o animal. A
origem de todo o processo se daria no cérebro, onde as aferências ambientais
estressantes (que serão discutidas adiante), irão estimular o sistema nervoso
simpático, que vai estimular as fibras C que são as “fibras da dor”, presentes na
parede da bexiga. Ao mesmo tempo a composição urinária alterada pode gerar
o recrutamento de mais fibras C e estimulá-las também. As fibras C liberam a
substância P, que vai se ligar aos receptores P, que são os receptores para
dor, também presentes na parede da bexiga. A partir da estimulação dos
receptores, tanto localmente como de maneira generalizada, ocorrerá uma
série de eventos, como: dor, aumento de permeabilidade da parede da bexiga
e das paredes vasculares, contração muscular, redução ou alteração da
camada superficial da mucosa urinária de glicosaminoglicanos e degranulação
dos mastócitos. A degranulação dos mastócitos gera a liberação de uma série
18
de mediadores inflamatórios que vão, a longo prazo, exacerbar a estimulação
das fibras C. A estimulação das fibras C e a inflamação neurogênica resultante
pode então explicar as muitas mudanças observadas na CIF. Reforçando essa
hipótese, estudos realizados a partir de exames histopatológicos e biópsias da
parede vesical de gatos com CIF, demonstraram a presença de grandes
quantidades de mastócitos e um significativo aumento de fibras C e receptores
P nas mesmas (GUNN-MOORE, 2003).
4. Fatores Predisponentes
A CIF ocorre tanto em machos como em fêmeas dos felinos,
representando 30% dos casos de DTUIF dentre as fêmeas e 22% dentre os
machos. Atinge principalmente os jovens e os de meia idade, com média de
três anos e meio de idade, não havendo aparentes predileções raciais
(OSBORNE et al., 2004).
A castração em ambos os sexos concomitante com a obesidade, pouca
atividade física, confinamento em residências, reduzido consumo de água e
dieta com base em alimentos secos podem ser fatores de risco (WOUTERS et
al., 1998).
Aferências
ambientais
estressantes,
principalmente
aquelas
relacionadas às bandejas sanitárias, podem predispor à CIF e às eliminações
inadequadas. Bandejas sujas ou com pouca freqüência de limpeza, com
tamanho incompatível, quantidade inadequada, mau posicionamento na
residência ou substrato diferente da preferência do animal, não só podem ser
fatores estressantes, como também não são estimulantes à sua utilização
(como será discutido adiante). Com isto, além de aumentar as chances de
eliminações inadequadas, também pode se gerar a redução do número de
micções realizadas pelo animal, favorecendo ainda mais a ocorrência da CIF,
uma vez que o animal retém urina na vesícula urinária por mais tempo que o
desejável (RECHE, 2003; COTTAN & DODMAN, 2007).
19
Também devem ser consideradas fontes de estresse ambiental a
presença de estranhos na residência, modificações na rotina, introdução ou
retirada de animais, mudanças bruscas na alimentação, alterações no
ambiente (obras), participação de exposições e até mudanças climáticas, são
fatores que podem predispor à CIF, sendo a importância de cada um destes,
individual (RECHE, 2003). O ambiente “indoor” (interior das residências)
expõem os gatos que nele vivem a mais fontes de estresse ambientais, pois
além de ser um ambiente geralmente monótono e previsível demais para o
gato, também desafia a capacidade adaptativa deste animal, curioso e
independente por natureza (BUFFINGTON et al., 2006; HEATH, 2006).
Comprovando a participação do estresse na predisposição à CIF, um
estudo realizado com gato macho castrado de cinco anos que apresentava
constantes recidivas de CIF e eliminação inapropriada relatou a importância do
estresse na determinação da ocorrência de CIF e suas alterações
comportamentais. Nesse caso, o animal sofria estresse devido à somatória de
diversos fatos, como a presença de outros gatos da vizinhança que
freqüentavam o jardim da casa e que ele não conseguia afugentar; pessoas
não familiares que traziam odores não familiares à casa e, por fim, o fato de
conviver na mesma residência com mais cinco gatos. Constatou-se que estes
fatores estressantes provavelmente geraram os episódios de CIF anteriores e
que o atual se dava pelo fato de que estavam sendo realizadas obras na casa
e que, por esta razão, ele estava sendo mantido confinado com o restante dos
gatos num mesmo recinto, desencadeando uma nova e importante fonte de
estresse (SEAWRIGHT et al., 2008).
5. Sinais Clínicos
Tanto na cistite idiopática felina como na humana, os sinais clínicos
caracterizam-se por disúria, polaciúria e sensibilidade na porção caudal do
abdômen (NELSON et al., 2001; RECHE, 2003; OSBORNE et al. 2004).
Também
podem
estar
presentes
estrangúria,
hematúria
macro
ou
20
microscópica, gemidos durante a micção, lambedura freqüente da genitália e o
ato de urinar em locais inadequados (NELSON et al., 2001).
O processo inflamatório que ocorre na CIF pode levar à obstrução uretral
devido à formação de “plugs” uretrais, gerando um quadro de anúria. Os
“plugs” são compostos de várias combinações de matriz colóide protéica e
cristais, podendo a matriz ser originária da escamação da parede da bexiga
urinária que está sobre processo inflamatório da própria CIF. Essa matriz
sozinha pode causar obstrução uretral, porém se também houver cristalúria
(geralmente por estruvita), os cristais podem se aderir e contribuir para a
obstrução (GUNN-MOORE, 2003). A obstrução tem maior prevalência em
gatos (machos), devido à anatomia de sua uretra (menor elasticidade e maior
comprimento de uretra quando comparados às fêmeas) (CORGOZINHO &
SOUZA, 2003).
Geralmente, os sinais clínicos da CIF cessam de cinco a sete dias após
o início dos mesmos em gatos não-obstruídos e não tratados com a forma
aguda da doença. Esses sinais podem recidivar após períodos variados e
novamente cessar sem terapia. Com o passar do tempo, os episódios de
recidiva tendem a diminuir em freqüência e gravidade (OSBORNE et al. 2004).
6. Sinais Comportamentais
Desde filhotes, os gatos sem nenhuma DITUIF procuram materiais
semelhantes à areia para fins de eliminação de fezes e urina, caracterizando
um comportamento natural que continua a se expressar na fase adulta, quando
o gato com acesso à bandeja sanitária chega a utilizá-la cerca de cinco vezes
ao dia. Também é comum, mesmo nos animais livres da DITUIF, a
demarcação urinária ou spray urinário que é considerado um comportamento
natural de comunicação tanto nos felinos machos como fêmeas (que será
discutido posteriormente) (NEILSON J., 2003).
Já nos gatos com distúrbios do trato urinário inferior como a CIF, a
eliminação urinária inadequada, ou seja, fora da bandeja sanitária, é comum e
21
geralmente não está associada com a demarcação territorial (OSBORNE et al.,
2004). Nesta o gato esvazia a bexiga de maneira voluntária e normal, porém
em locais que não a bandeja sanitária ou os idealizados pelo proprietário e, ao
invés disso, elimina-a em superfícies horizontais como pisos (interior ou
exterior das residências) ou, menos comumente, em superfícies verticais, como
paredes, cortinas e mobílias (NEILSON J. C., 2004). Sendo assim, um estudo
realizado com gatos com problemas de eliminação, publicado em 1997 por
HORWITZ et al., indicou que dos 52% que depositavam urina fora da bandeja
sanitária, 32% urinavam em superfícies horizontais e apenas 20% em
superfícies verticais.
A seqüência comportamental mais comum adotada pelo animal
realizando periúria consiste em: ao encontrar uma superfície geralmente
horizontal de seu interesse o animal faz movimentos de escavação, abaixa a
traseira, realiza micção eliminando grandes quantidades de urina (uma vez que
se trata de esvaziar a bexiga urinária), faz movimentos de enterramento e
raspamento e afasta-se. Essa seqüência é similar ao que ocorre na bandeja
sanitária nos gatos livres de DITUIF e demais problemas comportamentais (Fig.
4 e 5) (OLM & HOUPT, 1988; NEILSON J. C., 2004; GASKELL, 2006).
Os movimentos de escavação, enterramento e raspamento são
característicos dos felinos e, aplicados em substratos arenosos ou similares,
visam proporcionar um buraco para deposição da urina (escavação) e depois
sua cobertura (enterramento e raspamento). Esse comportamento natural dos
gatos provavelmente foi herdado do gato selvagem africano (Felis silvestris
lybica), que enterrava suas eliminações para ocultar odores que poderiam
sinalizá-lo para seus predadores (GASKELL, 2006).
22
Fig. 4 e 5: Fotografias demonstrando gato exibindo comportamento normal de micção em
bandeja sanitária (Arquivo pessoal, 2008)
7. Diagnóstico
A cistite idiopática felina é geralmente um diagnóstico por exclusão,
tornando o histórico e o diagnóstico diferencial para as demais doenças do
trato inferior felino, essenciais (SEAWRIGHT et al., 2008).
Inicialmente
deve-se
diferenciar
se
o
animal
está
realizando
demarcação urinária - que geralmente não está associada a CIF - ou
eliminação inadequada, que é o sinal comportamental observado nesta
doença. Além disso, deve-se realizar o levantamento do histórico do animal, o
exame físico e os exames complementares necessários (NEILSON J. C., 2004;
SEAWRIGHT et al., 2008).
7.1. Demarcação Urinária
A demarcação urinária, também chamada de spray urinário, é utilizada
para expressar territorialidade, ansiedade e/ou status sexual ou social e que
tanto os machos como as fêmeas podem executá-lo, sendo entre machos mais
23
freqüentes. O spray é uma forma de eliminação urinária feita mais
comunicativamente do que fisiologicamente (esvaziamento da bexiga),
portanto, apenas uma pequena quantidade de urina é depositada tanto em
superfícies horizontais como verticais (NEILSON J. C., 2004). A demarcação
urinária também pode ser relacionada à frustração do gato e até mesmo com a
busca pela atenção do proprietário, sendo que nestes casos, a incidência do
spray aumenta na presença dos mesmos (HEATH, 2006).
A seqüência comportamental característica do gato realizando spray é a
seguinte: ele se aproxima de uma superfície geralmente vertical e a cheira pode se esfregar nesta e até escarificar a superfície (se esta for macia) com as
unhas; volta a sua parte traseira para a superfície vertical, levanta a cauda,
arqueia as costas e treme a cauda, promovendo um borrifo de urina na direção
horizontal; cheira o local e afasta-se (Fig. 6, 7 e 8). Essa seqüência pode ser
modificada por reações ambientais, especialmente pela presença dos
proprietários. Quando isto ocorre, a primeira parte da seqüência normal é
reduzida, o ato de cheirar desaparece e a última parte é alterada, sendo que o
animal foge em antecipação à punição (DEHASSE, 1997).
Fig. 6 e 7: Fotografias de um gato exibindo início da seqüência comportamental característica
do spray urinário, se aproximando da superfície vertical, cheirando-a e esfregando-se nesta
(Arquivo pessoal, 2008)
24
Fig. 8: Fotografia de um gato exibindo
parte da seqüência comportamental
característica do spray urinário, em que
ele levanta a cauda, arqueia as costas,
treme a cauda e promove um borrifo de
urina na direção horizontal (Arquivo
pessoal, 2008)
O gato que faz spray urinário continua a utilizar normalmente a bandeja
sanitária, tanto para urinar como defecar, não apresentando nenhuma
evidência de aversão à bandeja, diferentemente do animal que realiza periúria
(NEILSON J. C., 2004).
Gatos castrados também podem realizar o spray urinário, sendo que
cerca de 10% dos machos e 5% das fêmeas, castrados na pré-puberdade,
apresentam esse comportamento. A demarcação territorial pode ser estimulada
pela presença de vários gatos compartilhando uma mesma área de vivência,
estação de acasalamento, chegada de novos gatos no território, ou mesmo
situações que possam provocar ansiedade ou estresse, como um novo
membro na família ou mudanças dramáticas na rotina (NEILSON J., 2003).
7.2. Eliminação Urinária Inadequada ou Periúria
Como explicado anteriormente, a eliminação urinária inadequada se
trata de esvaziar o conteúdo da bexiga urinária, geralmente em superfícies
horizontais, formando grandes poças de urina, diferentemente do spray, que
inversamente,
consiste
em
expressar usualmente
territorialidade,
com
eliminação de pequenas porções de urina (gotas) e geralmente em superfícies
verticais. Outra diferença importante é que na periúria o gato comumente adota
25
a posição de abaixamento para realizar a eliminação, o que é raro na
demarcação urinária (NEILSON J. C., 2004).
Nos casos de DITUIF como a CIF, a periúria pode ser explicada pela
urgência em urinar causada por esta doença, fazendo com que o animal urine
no local mais próximo do qual ele estiver ou naqueles em que ele tenha de
alguma forma associado às situações de segurança ou alívio, já que o ato de
micção nestes casos costuma ser doloroso (NEILSON J. C., 2004; GASKELL,
2006; HEATH, 2006). Existem, porém, outras possíveis causas, que não as
patológicas, que podem gerar eliminações inadequadas e que devem ser
consideradas para orientar corretamente o diagnóstico, como:
Aversão à bandeja sanitária: o animal pode apresentar aversão
ao uso da bandeja sanitária devido à limpeza inadequada, localização incorreta
(como uma lavanderia barulhenta e movimentada), tamanho e composição do
substrato incompatíveis com suas preferências, ou mesmo, número de
bandejas insuficientes para o número de animais na residência. A maioria dos
gatos com aversão continua utilizando a bandeja sanitária para algumas
eliminações e é importante verificar o momento em que não a utiliza, pois
muitos gatos escolhem urinar em outros locais que não a bandeja sanitária
quando a bandeja sanitária encontra-se suja (HORWITZ, 1997; NEILSON J. C.,
2004). Se o problema for apenas o tipo de substrato utilizado, o gato utilizará a
bandeja quase que normalmente, porém apresentará um comportamento
indicativo de relutância em fazer contato com o substrato, deixando muitas
vezes de enterrar suas excreções (HEATH, 2006);
Preferência por local: o local em que o animal realiza as
eliminações inadequadas pode fornecer informações sobre suas preferências.
Muitas vezes, assim como na natureza, o gato escolhe um local calmo,
silencioso e isolado para realizar suas eliminações, geralmente diferente
daquele em que sua bandeja sanitária foi posicionada pelo proprietário
(HEATH, 2006);
26
Preferências pelo substrato: algumas vezes, nenhuma das
formas comerciais de substratos para bandejas sanitárias agrada o animal. No
exterior das residências geralmente os tanques de areia das crianças são os
preferidos para realização de eliminações; já no interior, carpetes, roupas e
tapetes são os mais comuns. Quase sempre, em ambos os casos, o gato
exibirá o comportamento de escavação, raspamento e enterramento de
maneira característica. Em alguns casos de DITUIF, a preferência por um novo
substrato pode indicar aversão ao anterior, uma vez que o gato pode tê-lo
associado à dor no momento da micção (NEILSON J. C., 2004; HEATH, 2006);
Idade
avançada:
animais
com
problemas
principalmente
locomotores, como artrites e artroses, podem ter dificuldade de chegar à
bandeja sanitária, ainda mais à tempo de realizar suas eliminações dentro dela
(HEATH, 2006);
Medo: qualquer situação que possa ter causado trauma durante o
uso da bandeja sanitária pode desencadear eliminações inadequadas. Isto
geralmente ocorre quando o gato foi ou é agredido por outros animais ao
utilizar a bandeja (NEILSON J. C., 2004 e HEATH, 2006).
7.3 Histórico
Para a obtenção de um histórico completo e esclarecedor, existem
pontos cruciais que devem ser cuidadosamente questionados, como:
Ato da eliminação urinária inadequada: quais os pontos em
que
ocorrem
as
eliminações
urinárias
consideradas
inadequadas
ao
proprietário, assim como os substratos preferidos para esta, a freqüência
(número de ocorrências por semana) e o padrão da eliminação (relação com
algum acontecimento em especial, como por exemplo, quando o dono sai de
casa) (NEILSON J. C., 2004);
27
“Ações corretivas”: quais são as possíveis “ações corretivas”
tomadas pelo proprietário em relação à eliminação inadequada no momento
em que ela ocorre, assim como a resposta do animal a estas ações (p.ex.,
quando o dono grita com o gato no momento em que está urinando em local
inadequado e o mesmo se esconde debaixo da cama) (NEILSON J. C., 2004);
Manejo da Bandeja Sanitária: qual o tipo de areia que é utilizada
(e se houve mudanças nesta), o tipo de bandeja, a localização e as estratégias
de limpeza adotados. Deve-se lembrar que a bandeja pode ser uma das
principais fontes de estresse predisponentes à CIF (NEILSON J. C., 2004);
Ambiente social e histórico de acontecimentos: quantos e
quais os animais contactantes; se há novos animais na casa ou na vizinhança
ou mesmo um novo integrante na família; como é o relacionamento do animal
em questão com os demais animais e pessoas e outras informações
relacionadas as interações sociais do gato e que possam ser fonte de estresse
(NEILSON J. C., 2004);
Dieta: qual o tipo de dieta utilizada, assim como os esquemas de
alimentação, as mudanças recentes na dieta (NEILSON J. C., 2004).
Geralmente portadores de DITUIF ingerem alimento seco e baixa quantidade
de fluidos (GASKELL, 2006);
Histórico clínico: quais as patologias anteriores, tratamentos já
realizados ou que estejam em andamento, possíveis cirurgias e demais fatores
que possam estar relacionados ao trato urinário ou à possibilidades de fontes
de estresse (NEILSON J. C., 2004).
Todos estes pontos são importantes, porém, aqueles relacionados à
limpeza da bandeja sanitária e às interações sociais do gato podem ser os
mais esclarecedores. A interação social entre gatos pode ser um fator
28
precipitante tanto para a demarcação como para a eliminação urinária
inadequada, pois o animal pode evitar usar a bandeja sanitária porque é
atacado por outros gatos quando utilizá-la ou mesmo após seu uso, fazendo
com que este gato procure uma área mais segura para sua eliminação. Por
isso é importante obter do proprietário informações sobre relacionamento entre
seus animais e sobre a existência de tensões entre estes, evidenciadas por
brigas ou atos de rosnar e silvar (NEILSON J. C., 2004).
7.4. Exame Físico
Todo gato apresentando eliminação inadequada deve passar por um
exame físico compreensivo, uma vez que qualquer patologia que cause poliúria
pode resultar na eliminação urinária fora da bandeja sanitária, já que o animal
tem maior freqüência ou urgência na eliminação (NEILSON J. C., 2004).
Ao exame clínico, o animal portador de CIF encontra-se com aparência
saudável e com parâmetros fisiológicos normais (NELSON & COUTO, 2001). À
palpação, pode-se evidenciar uma ligeira tensão abdominal com uma bexiga
moderadamente aumentada e endurecida (SEAWRIGHT et al., 2008). Durante
a compressão da porção caudal do abdome pode-se evidenciar dor e até fácil
esvaziamento vesical (NELSON & COUTO, 2001).
7.5. Exames Complementares
Como auxílio diagnóstico para os casos de CIF, pode-se utilizar os
seguintes exames:
Urinálise: É um auxílio rotineiro básico utilizado em casos de
DITUIF. Para a análise básica, pode-se obter uma amostra fresca de urina de
uma bandeja sanitária limpa sem areia ou com areia não-absorvente, porém a
urina colhida em jato médio, obtida por pressão na bexiga pela parede
29
abdominal, proporciona uma amostra mais confiável, porém não mais que a
cistocentese (GASKELL, 2006). Geralmente, na CIF, tem-se como resultado
deste exame uma urina ácida e concentrada, podendo haver hematúria e
proteinúria (OSBORNE et al., 2004);
Cultura e antibiograma urinários: A urina deve ser idealmente
colhida por cistocentese, pois esta minimiza as possibilidades de contaminação
da amostra. Na cistite idiopática, se a amostra for colhida adequadamente, o
resultado é 99% das vezes negativo para bactérias (OSBORNE et al., 2004);
Parâmetros bioquímicos e hematológicos: Geralmente, tanto o
hemograma completo como os perfis bioquímicos dos gatos com CIF estão
dentro dos padrões normais para a espécie (OSBORNE et al. 2004 e
GASKELL, 2006);
Radiografias e Ultra-sonografias: As radiografias abdominais
simples de gatos com CIF geralmente não têm alterações, porém a
cistouretrografia contrastada pode revelar espessamento da parede vesical ou
irregularidades na mucosa. Também podem-se evidenciar rupturas, divertículos
uracais, neoplasias e demais alterações importantes para o diagnóstico
diferencial (Fig. 9) . Nas ultra-sonografias de felinos com CIF, pode-se
evidenciar conteúdo com coágulos sanguíneos e debrís celulares (Fig. 10),
assim como irregularidades ou espessamentos vesicais (CORGOZINHO &
SOUZA, 2003 e OSBORNE et al., 2006).
Fig. 9: Radiografia simples do abdômen
de um gato macho sem DITUIF. Observar
bexiga urinária íntegra, repleta e dentro
dos padrões considerados normais (seta)
(Arquivo pessoal de BERTOCCO, 2008)
30
Fig. 10: Ultra-sonografia de vesícula
urinária de um gato S.R.D. de um ano de
idade com CIF. Observar material em
suspensão e depositado no assoalho da
bexiga
(setas)
(Arquivo
pessoal
de
DEVELEY, 2007)
8. Diagnóstico Diferencial
O diagnóstico diferencial para a CIF é principalmente para as demais
doenças do trato urinário inferior dos felinos (DTUIF), devendo-se considerar
principalmente:
urolitíase,
“plug”
uretral
(ou
tampão
uretral),
defeitos
anatômicos, neoplasias, causas infecciosas, problemas comportamentais,
causas medicamentosas, ruptura vesical e incontinência urinária (GASKELL,
2006).
8.1. Urolitíase
Os urólitos ou cálculos urinários são compostos de minerais,
principalmente estruvita (42% dos casos) e oxalato de cálcio (46% dos casos),
além de uratos, fosfato de cálcio, cistina e sílica, podendo ser depositados ao
redor de uma matriz ou ninho inicial, que se instalam mais frequentemente na
bexiga e mais raramente na pelve renal (OSBORNE et al., 2004; GASKELL,
2006).
Podem ser assintomáticos ou gerar inflamação vesical, hematúria e
disúria, além de obstruções uretrais e até ureterais em machos e fêmeas.
(GASKELL, 2006).
O diagnóstico raramente é feito através de palpação abdominal, sendo
mais úteis as radiografias e ultra-sonografias onde se observam os possíveis
31
urólitos no lúmen vesical. A urinálise também tem sua importância pois pode
revelar o mineral do qual o urólito é composto através da cristalúria
apresentada juntamente com o pH urinário, sendo que os urólitos de estruvita
são mais comuns em urina alcalina e os de oxalato em urina ácida (OSBORNE
et al., 2004; GASKELL, 2006).
8.2. “Plug” Uretral
Os “plugs” uretrais, ou tampões uretrais, ocorrem aproximadamente na
mesma freqüência que os urólitos, porém eles têm importância particular
porque estão mais comumente associados à obstrução uretral que acomete
mais machos do que fêmeas felinos (GUNN-MOORE, 2003).
A ocorrência concomitante de inflamação do trato urinário (como a CIF)
e a cristalúria persistente, podem levar a formação de tampões de matriz
cristalina. A inflamação fornece a matriz - composta de células epiteliais,
leucócitos, hemácias, bactérias e células contendo vírus - e essa matriz captura
os cristais presentes (devido à cristalúria), formando então os tampões de
matriz cristalina que podem gerar obstruções uretrais de diferentes graus,
podendo variar de parcial até total (OSBORNE, 2004).
Os sinais clínicos variam em função dos graus de obstrução, podendo
ocorrer desde disúria até anúria. Geralmente os gatos obstruídos total ou
parcialmente permanecem por muito tempo na posição de micção dentro da
bandeja sanitária ou mesmo fora dela (locais indicados então como
inapropriados pelos proprietários), além do fato de lamberem insistentemente o
abdome, pênis ou vulva e miarem alto. Em casos de obstrução total, o animal
não consegue eliminar urina alguma, tornando-se apático e anoréxico. Na
inspeção clínica pode-se observar pênis e vulva hiperêmicos e edemaciados,
vesícula urinária distendida à palpação (causando grande desconforto ao
animal), fluxo urinário de pequeno diâmetro após compressão da bexiga
(obstrução parcial) ou ausência de fluxo e dor grave (obstrução total), gerando
recusa ao exame físico. Nos casos de obstrução total, a urina retida na bexiga
32
pode causar pressão retrógrada aos ureteres e rins, gerando alterações na
função renal que pode culminar 24 a 36 horas depois com os sinais clínicos de
azotemia pós-renal (vômito, depressão, desidratação, hipotermia e colapso).
Se a obstrução permanecer por longos períodos, o gato pode apresentar
fraqueza generalizada, alterações cardíacas e morte (CORGOZINHO &
SOUZA, 2003). Radiograficamente se observa bexiga urinária distendida (Fig.
11) e estruturas radioluscentes caracterizadas pelos “plugs” na vesícula
urinária e uretra. O procedimento de desobstrução uretral é indicado como
procedimento emergencial nestes casos (Fig. 12) (CORGOZINHO & SOUZA,
2003).
Fig. 11: Radiografia simples do abdômen
de um gato macho com obstrução uretral
total.
Observar
bexiga
urinária
extremamente distendida (seta) (Arquivo
pessoal de BERTOCCO, 2008)
Fig. 12: Fotografia do procedimento de
desobstrução uretral em um gato macho
de três anos de idade com quadro de
anúria
há
dois
dias.
À
urinálise
observaram-se cristais de estruvita em
grande
2008)
quantidade
(Arquivo
pessoal,
33
8.3. Defeitos Anatômicos
Os divertículos vesicouracais são os defeitos anatômicos mais comuns e
que podem estar presentes em um de cada quatro gatos com DTUIF. Trata-se
de resquícios microscópicos do úraco fetal detectados no ápice vesical de
gatos adultos. Em geral são “silenciosos”, porém predispõem à formação de
divertículos macroscópicos que podem levar ao aumento da pressão
intraluminal vesical, associada com distúrbios no trato urinário inferior dos
felinos. São diagnosticados por meio de cistouretrografia contrastada
(OSBORNE et al., 2004).
8.4. Neoplasias
Carcinomas
das
células
de
transição
(CCT),
adenocarcinomas,
leiomiomas e outros tipos de neoplasias podem ocorrer na vesícula urinária dos
gatos, sendo o CCT o mais freqüente, respondendo por cerca de 50% dos
casos (GUNN-MOORE, 2003; GASKELL, 2006). O diagnóstico pode ser feito
por presença de ocasionais células neoplásicas na microscopia óptica do
sedimento urinário ou através de radiografia contrastada onde se observam
massas
invasivas
projetando-se
em
direção
ao
lúmen
vesical
e/ou
espessamento e irregularidade acentuados da parede vesical (OSBORNE et
al., 2004).
8.5. Causas Infecciosas
Bactérias, fungos e vírus podem induzir as DTUIF. As infecções
bacterianas são muito raras e geralmente são de causas iatrogênicas ou
secundárias à urolitíase, defeitos anatômicos ou neoplasias (GUNN-MOORE,
2003). A bactéria mais comum nas infecções urinárias é a Escherichia coli
(25% dos casos), seguida principalmente de Streptococcus sp, Staphlylococcus
34
sp. e Enterococcus sp (EGGERTSDÓTTIR et al., 2007). Dentre as infecções
virais estão os calicivírus e os herpesvírus e nas infecções fúngicas está a
Cândida sp. (OSBORNE et al., 2004).
O diagnóstico baseia-se na identificação do agente, utilizando-se de
urinálise com avaliação do sedimento urinário, culturas urinárias, isolamento e
identificação de agentes virais em tecidos e líquidos corpóreos, radiografias e
ultra-sonografias (OSBORNE et al., 2004).
Parasitas como a Capillaria plica e Capillaria felis cati, ambas
nematóides parasitas do trato urinário, causadoras da capilariose urinária,
também podem ser causadoras de DTUIF. Na maioria das vezes os gatos
acometidos não apresentam sinais clínicos, porém, em infecções intensas,
podem manifestar polaquiúria, disúria, cistite, sensibilidade dolorosa à palpação
vesical e eliminação urinária inapropriada. O diagnóstico é feito através da
evidência de ovos de Capillaria sp. no sedimento urinário (DANTAS et al.,
2008). Geralmente as capilarioses urinárias são infecções autolimitantes, mas,
assim como na CIF, na presença de sinais clínicos, o tratamento faz-se
necessário (GASKELL, 2006; DANTAS et al., 2008).
8.6. Spray urinário
A demarcação urinária (spray), que geralmente não está associada à
CIF, deve ser diferenciada da eliminação inadequada, como já se foi
anteriormente explicado (NEILSON J. C., 2004; SEAWRIGHT et al., 2008).
8.7. Causas medicamentosas
A administração de ciclofosfamida, uma droga citotóxica antineoplásica e
imunossupressora, utilizada principalmente para tratamento de linfomas e
sarcomas felinos, pode causar cistite e seus sinais clínicos característicos
(GASKELL, 2006; STELL & DOBSON, 2006). A interrupção do uso desta droga
35
associado ao estímulo à diurese deve resultar na interrupção dos sinais
apresentados (GASKELL, 2006).
8.8. Ruptura vesical
A ruptura vesical por acidentes (como atropelamentos) ou por causa
iatrogênica (palpação exagerada da bexiga distendida em casos de obstrução
uretral), pode levar, entre outros, à anúria. O diagnóstico pode ser realizado
através da incapacidade de se palpar a bexiga ou por cistouretrografia
contrastada, observando-se o extravasamento do contraste para a cavidade
abdominal (GASKELL, 2006).
8.9. Incontinência urinária
Apesar de incomum em gatos, quando ocorre, a incontinência urinária
pode ser causada por vários fatores, tanto congênitos (p.ex. ureter ectópico,
disfunção do esfíncter uretral e anormalidades espinhais) como adquiridos
(p.ex. fraturas na região sacrococcígea e distensão vesical prolongada por
obstrução uretral) (OSBORNE et al., 2004; GASKELL, 2006).
O diagnóstico em casos congênitos pode ser feito através do histórico de
incontinência notada desde o início da vida do animal, somando-se à evidência
de queimadura por urina em região perineal, além do uso de radiografias. Já
nos casos adquiridos, o diagnóstico depende do histórico e acompanhamento
clínicos do animal (GASKELL, 2006).
9. Tratamento Clínico e Comportamental
A maioria dos casos a CIF é autolimitante, ou seja, mesmo sem nenhum
tratamento, em dois ou três dias há declínio de seus sinais e em cinco a 10
36
dias tem-se a completa remissão dos mesmos (OSBORNE et al., 2004).
Mesmo assim, recomenda-se a instituição de tratamento nos animais
acometidos, uma vez que: se tem uma condição dolorosa para o animal;
podem ocorrer conseqüentes obstrução uretral e/ou auto-mutilação da região
perineal e alterações comportamentais características, como urinar fora da
bandeja sanitária (GUNN-MOORE, 2003).
Inicialmente o tratamento deve visar a redução da inflamação, dor e
espasmos uretrais, podendo-se utilizar de antiinflamatórios e analgésicos como
o Meloxican (Maxican®) e de relaxantes e anti-espasmódicos musculares como
o Dantroleno (Dantrolen®) e a Prazosina (Minipress SR®) (VIANA, 2007;
SEAWRIGHT et al., 2008). Complementarmente podem-se administrar
suplementos orais de glicosaminoglicanos (GAG), como o polissulfato de
pentosana (Cartrophen®), também utilizado no tratamento da CI humana, ou
precursores de GAG, como a N-acetil-glicosamina (Cystease®), visando a
melhora da camada de GAG, uma vez que muitos gatos com CIF têm redução
desse componente protetor da vesícula urinária. Este tratamento deve ser
mantido por cerca de três semanas inicialmente e pode gerar efeitos colaterais
como inapetência ou prolongamento do tempo da hematúria quando esta
estiver presente (GUNN-MOORE & SHENOY, 2004; SEAWRIGHT et al.,
2008).
Concomitantemente deve-se implantar um protocolo de aumento de
diluição urinária, através do qual se estimula o aumento na ingestão de água
(GUNN-MOORE, 2003; SEAWRIGHT et al., 2008). Para isto, deve-se
promover uma mudança na dieta para alimentos úmidos ou semi-úmidos
(enlatados), fornecer livre acesso à água e encorajar o animal a sua ingestão,
podendo-se oferecer sopa de peixe ou galinha ou mesmo utilizar uma “fonte de
água para pets” (GUNN-MOORE, 2003). Essa “fonte de água” consiste em
aparelhos comerciais que fornecem água corrente fresca com nível constante e
ao alcance do animal, tornando a ingestão de água mais atrativa (ARNOTT,
1963).
Além dos procedimentos básicos iniciais, deve-se atentar também para o
que parece ser o ponto chave nesta patologia: o estresse. O estresse é um
37
fator muitas vezes culminante para as recidivas e para maior severidade dos
sinais clínicos. Conflitos constantes com outros gatos, mudanças abruptas na
alimentação, estresse do proprietário e/ou novas pessoas ou animais na
residência, parecem ser fontes de estresse significantes, porém o estresse
associado ao ato de urinar e sua relação com a bandeja sanitária parece ser a
principal fonte (GUNN-MOORE, 2003). Para a redução e até mesmo
eliminação desta fonte de estresse, deve-se prover uma área para o
posicionamento da bandeja sanitária que permita ao animal executar o
comportamento de eliminação sem ser importunado por outros animais, assim
como prover um número de bandejas sanitárias adequado ao número de gatos
(GUNN-MOORE, 2003). O número de bandejas sanitárias deve ser o número
de gatos existentes mais uma. O tamanho da bandeja também deve ser
compatível com o tamanho do gato, evitando que o posicionamento no interior
da mesma promova desconforto ou desequilíbrio. A limpeza da bandeja deve
ser diária e esta deve ser lavada com água e sabão pelo menos uma vez a
cada semana para substratos não absorventes ou uma vez a cada quatro
semanas para os absorventes, evitando assim a permanência de odores
(NEILSON J. C., 2004). Uma vez que a eliminação fora da bandeja sanitária
pode indicar a preferência por um local, deve-se, portanto, identificar e prover
ao gato uma bandeja sanitária no local ou próximo daquele que lhe é preferido
(NEILSON J. C., 2004).
Além da resolução das fontes de estresse, o tratamento direto da
ansiedade também pode ter bons resultados. O feromonio facial felino (FFP),
também conhecido comercialmente como Feliway®, é um feromonio sintético
(F3) que mimetiza a demarcação natural ou “bunting” (Fig. 13) que os gatos
fazem ao esfregar suas faces em objetos domésticos e foi desenvolvido para
tratar as alterações comportamentais relacionadas à ansiedade nos gatos,
assim como a eliminação inadequada que muitas vezes pode estar associada a
esta causa. Num estudo utilizando o FFP para o manejo da CIF realizado com
doze gatos, a aplicação deste feromonio em determinadas superfícies do
ambiente em que havia gatos realizando eliminações inadequadas, resultou na
38
redução de até 94% deste comportamento, além da melhora na saúde dos
animais testados (GUNN-MOORE & CAMERON, 2004).
Fig. 13: Fotografia de um gato exibindo o
“bunting” (Arquivo pessoal, 2008)
O estímulo ao “scratching” ou “afiar de unhas” (uma forma de
demarcação natural assim como o “bunting”) também pode ser considerado
como auxiliar no tratamento da CIF, pois reduz o estresse do animal que o
pratica (NEILSON J. C., 2004).
O
uso
complementar
da
Amitriptilina,
um
antidepressivo
com
propriedades antiinflamatórias e analgésicas, pode ser útil em recidivas e casos
graves de CI, principalmente se tratando de animais ansiosos. A dose deve ser
de cinco a 10 mg / gato por dia por via oral. Os resultados desta terapia são
lentos e exigem longos períodos de administração, sendo que, desde a
redução dos sinais clínicos e das recidivas até a completa remissão dos
mesmos, são necessários de um a vários meses, podendo atingir até mesmo
um ano (KRAIJER, FINK-GREMMELS & NICKEL, 2003; GASKELL, 2006).
10. Profilaxia
O manejo ambiental e a redução das fontes de estresse são essenciais
para se evitar a eliminação inadequada. Superpopulações de animais na casa,
novas pessoas ou animais, mudanças e demais fatores não rotineiros podem
39
ser fatores potencialmente estressantes e que podem predispor à CIF, devendo
ser evitados ou, pelo menos, limitados (OLM & HOUPT, 1988).
Para restabelecer o uso da bandeja sanitária e evitar a eliminação fora
dela, recomenda-se tornar a bandeja o mais atraente possível para o animal,
sendo muito importante a limpeza freqüente (OLM & HOUPT, 1988).
Um estudo realizado por Cottan & Dodman (2006), revelou que é
possível aumentar a atratividade da bandeja sanitária não somente pela
limpeza contínua, como também pela redução do odor das fezes e urina
através de um spray para bandejas sanitárias redutor de odor chamado Zero
Odor® (composto por moléculas carregadas negativamente), que provou ser
efetivo quando utilizado em adição aos demais protocolos para evitar a
eliminação inadequada.
A bandeja sanitária também não deve estar localizada próximo da
comida e água do gato, pois este animal evita comer na mesma área em que
realiza suas eliminações. Dispor a bandeja sanitária em uma cozinha
movimentada ou mesmo na lavanderia próxima á máquina de lavar pode
desencorajar o gato a utilizá-la, fazendo com que procure um local mais calmo
(OLM & HOUPT, 1988).
Além da limpeza e redução do odor, pode ser interessante identificar o
tipo de substrato utilizado na bandeja sanitária que mais atrai o gato ou ao qual
ele mais se adapta, fazendo testes com diferentes formas comerciais
disponíveis no mercado, como a “areia grosseira” ou a sílica (ou pérola)
(NEILSON J. C., 2004). De acordo com um estudo realizado por Neilson J. C
(2004), a maioria dos gatos prefere o substrato tipo sílica ao invés da “areia
grosseira”.
Somado ao manejo das bandejas sanitárias, os pontos que possuem
eliminações inadequadas também devem ser bem limpos para eliminar
qualquer odor que possa estimular uma nova eliminação, além de serem úteis
as medidas que possam desestimular ou impossibilitar que o gato volte a urinar
nesses locais impróprios. Alternativamente, a comida e a água do gato podem
ser colocadas nestes pontos de eliminação previamente limpos (OLM &
HOUPT, 1988).
40
Juntamente da redução das fontes de estresse e mudanças no manejo
de bandejas sanitárias, deve-se seguir o protocolo para o aumento da diluição
urinária sugerido por Seawright et al. (2008), que além de ser auxiliar no
tratamento, também previne novos casos ou recidivas de CIF.
11. Pesquisa
Foi realizado de 30 de Junho de 2008 a 03 de Outubro de 2008 um
levantamento na base de dados do “Centro Clínico e Laboratorial Veterinário
São Francisco de Assis” relativo ao período de 9 de Abril de 2006 à 11 de
Setembro de 2008, tendo como finalidade a obtenção de informações sobre os
atendimentos realizados em felinos e o número de casos dentre estes que se
relacionavam à Doenças do Trato Urinário Inferior dos Felinos (DTUIF), com ou
sem causa idiopática constatada.
11.1. Resultados
No período de 9 de Abril de 2006 até 11 de Setembro de 2008 foram
atendidos e cadastrados 127 gatos no total, sendo 75 machos e 52 fêmeas.
Destes, 18 foram diagnosticados como portadores de alguma DTUIF, idiopática
ou não, dentre elas: CIF, obstrução uretral, infecção do trato urinário e
urolitíase. Desses 18 gatos, 16 eram machos e dois eram fêmeas, sendo 13
S.R.D., três Persas e um Siamês (Gráficos 1 e 2).
41
Gráfico 1.: Resultados obtidos do levantamento na base de dados do “Centro Clínico e
Laboratorial Veterinário São Francisco de Assis” relativo ao período de 9 de Abril de 2006 à 3
de Julho de 2008, relacionando o número de gatos com DTUIF com o número de
atendimentos.
18
TOTAL DE
GATOS
ATENDIDOS
TOTAL DE
GATOS COM
DTUIF
143
Gráfico 2.: Resultados obtidos do levantamento na base de dados do “Centro Clínico e
Laboratorial Veterinário São Francisco de Assis” relativo ao período de 9 de Abril de 2006 à 3
de Julho de 2008, relacionando o número de gatos com DTUIF com o número de
atendimentos, separando-se por sexo.
16
2
MACHOS ATENDIDOS
FÊMEAS ATENDIDAS
75
52
MACHOS COM DTUIF
FÊMEAS COM DTUIF
42
11.2. Discussão e Conclusão da Pesquisa
Concluiu-se através desta pesquisa que as DTUIF idiopáticas (como a
CIF) ou com causa definida:
Estão presentes em considerável quantidade dos atendimentos cerca de 14% dos casos;
Afetam principalmente os machos - mais de 20% dos machos
atendidos contra apenas quatro por cento das fêmeas.
43
12. Conclusão
A CIF é uma doença do trato urinário inferior felino relativamente
comum, porém, seus sinais comportamentais característicos muitas vezes
passam despercebidos por proprietários e médicos veterinários, dificultando
muitas vezes um diagnóstico que poderia ser simples, com tratamento e
profilaxia descomplicados.
A causa da CIF até hoje não foi totalmente esclarecida, porém sabe-se
que o estresse tem papel marcante nesta patologia que vem sendo
amplamente discutido nos estudos mais recentes como o de Seawright et al.
(2008).
A identificação e eliminação dos fatores estressantes, visando profilaxia
e tratamento da CIF, nem sempre é fácil, pois muitas vezes aquilo que é
conveniente ao proprietário não o é para o gato, assim como o local de
posicionamento da bandeja sanitária, o número de animais na residência, as
reformas e outros fatores que nem sempre agradam a ambos. A eliminação
fora da bandeja sanitária é um ato visto como inadequado apenas no ponto de
vista do proprietário, porque este não quer ter trabalho com a limpeza de outros
locais; Já para o animal, esta é uma eliminação corriqueira, porém, em um local
por ele escolhido, atraindo ou não a atenção de seu dono e/ou de outros
animais.
A profilaxia da CIF tem maior importância do que seu tratamento, pois,
sendo uma doença auto-limitante, seus episódios são solucionados com ou
sem terapia. Sem acompanhamento e profilaxia adequados para CIF, as
chances de recidivas e possibilidades de complicações são maiores, fazendose necessários Médicos Veterinários sempre atentos e informados sobre as
manifestações e terapêuticas possíveis da CIF.
44
13. Referências
ARNOTT, H., Pet drinking fountain. United States Patent Office, nº 3.112.733,
1963.
BERTOCCO, L. H. C., Radiografia simples do abdômen de um gato macho
sem DITUIF. Arquivo pessoal do Médico Veterinário Luiz Henrique Camargo
Bertocco, jun. 2008.
______. , Radiografia simples do abdômen de um gato macho com
obstrução uretral total. Arquivo pessoal do Médico Veterinário Luiz Henrique
Camargo Bertocco, jun. 2008.
BUFFINGTON, T. C. A.; WESTROPP, J. L.; CHEW, D. J; BOLUS, R. R.,
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COTTAN, N.; DODMAN, N. H., Effect of an odor elimination on feline litter
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45
DANTAS D. A. S.; RODRIGUES, M. C.; SOUZA, A. F.; PORTELA, A. C. M.;
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Capillaria sp.: relato de caso. Revista Clínica Veterinária, São Paulo: Guará,
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