avaliação comparativa entre o glicosímetro portátil e o método

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avaliação comparativa entre o glicosímetro portátil e o método
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CIÊNCIAS AGRÁRIAS
TRABALHO ORIGINAL
AVALIAÇÃO COMPARATIVA ENTRE O GLICOSÍMETRO PORTÁTIL E O MÉTODO
LABORATORIAL ENZIMÁTICO COLORIMÉTRICO NA DOSAGEM GLICÊMICA
EM CÃES
COMPARATIVE EVALUATION OF PORTABLE GLUCOMETER AND ENZYMATIC
COLORIMETRIC METHOD LABORATORY IN BLOOD GLUCOSE IN DOGS
Tatiana Ferrato dos Santos1, Marcela da Silva Rubio1, Ellison Tadeu Valentin Neves1, José Eduardo
dos Santos Silva1, Carla Renata Silva Baleroni Guerra2, Willian Marinho Dourado Coelho2,
José Francisco Fonzar2
RESUMO
O Diabetes mellitus é uma das endocrinopatias mais comuns nos cães com idade média ou
avançada, sendo caracterizada por alteração no metabolismo da glicose. A tecnologia vem proporcionando
mudanças frequentes na terapia do diabetes, em busca de melhor qualidade de vida dos portadores da
doença. Recentemente, foram instituídos métodos portáteis de monitoramento da concentração de glicose
sanguínea dos animais diabéticos. O monitoramento doméstico através da utilização de aparelhos de
glicemia portáteis vem crescendo no meio da medicina veterinária, devido sua praticidade, por fácil
manipulação e transporte, levando a resultados rápidos. Neste trabalho utilizou-se um modelo de glicosímetro
portátil OneTouch Ultra®, que foi testado em 50 animais da espécie canina e seus resultados foram
comparados com o exame de glicemia sérica, realizada laboratorialmente, com o objetivo de avaliar a
segurança na utilização clinica desse aparelho para o controle do Diabetes mellitus canino.
Unitermos: Diabetes mellitus, glicemia, glicosímetro, teste taboratorial.
ABSTRACT
The Diabetes mellitus is one of the most common endocrinopathies in dogs with medium or advanced
age, being described by alteration in the glucose metabolism. The technology is providing frequent changes
in the diabetes therapy, searching for good life quality to the carriers of the disease. Recently, portable
methods of measurement of the blood glucose concentration in diabetic animals were made. The domestic
measurement using portable glucose devices is growing among veterinary medicine, because it´s practical,
easy to handle and transport leading to quick results. In this project a portable digital glucometer, the One
Touch Ultra®, was tested in 50 canine species and the results were compared to the serum glucose test,
carried out in the laboratory, in order to assess safety in clinic use of this portable device to control the
canine Diabetes mellitus.
Uniterms: Diabetes mellitus, digital glucometer, glucose, laboratory test.
1
Alunos do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina (FCAA).
2
Profs. do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina (FCAA).
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 7 - 11
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INTRODUÇÃO
Em cães e gatos, o distúrbio mais comum
do pâncreas endócrino é o Diabetes mellitus
(DM), que resulta na deficiência insulínica absoluta
ou relativa, decorrente da secreção insulínica
deficiente pelas células b (5), acarretando sérios
distúrbios no metabolismo de proteínas, gorduras
e carboidratos (7) . Pode ser fatal se for
incorretamente diagnosticado ou inadequadamente
tratado (9). A incidência do Diabetes mellitus é
semelhante para cães e gatos, com frequência
relatada variando de um em 100 para um em 500
casos (5).
Atualmente, dois sistemas de aferição,
laboratorial ou portátil, podem ser utilizados para
determinação dos níveis de glicose sanguínea.
Aparelhos portáteis, de fácil manipulação e
transporte, tornam-se importantes para a
realização de trabalhos e exames a campo. Para
tal, torna-se fundamental a verificação da eficácia
de tal método para as espécies através da
comparação com aqueles classicamente utilizados.
Os sistemas laboratoriais são os mais precisos, e
por isso adotados como parâmetros de referência.
Os aparelhos de auto-monitoração são seguros e
devem possuir grau de incerteza aceitável (6).
A determinação da glicemia em
espectrofotômetro baseia-se no método
colorimétrico enzimático, que tem como princípio
básico a oxidação da glicose sob ação catalisadora
da glicose-oxidase. A partir desta reação, formase o peróxido de hidrogênio que, em presença da
peroxidase como enzima catalisadora sofre reação
oxidativa de acoplamento com a 4-aminoantipirina
e fenol, formando um cromógeno vermelho cereja.
A intensidade da cor é proporcional à
concentração de glicose (6).
Já o glicosímetro utiliza tiras reagentes que
interagem com o sangue produzindo uma reação
química na qual são gerados elétrons. O aparelho
mede tal reação com uma pequena corrente elétrica
e automaticamente calcula o nível correspondente
de glicose (6).
Os glicosímetros portáteis têm sido
utilizados na Medicina Veterinária como uma
maneira de monitorar a glicose sanguínea dos
animais em uma variedade de condições médicas
de forma fácil, rápida e com baixo custo (1).
Esses aparelhos foram desenvolvidos para
mensurar a glicemia de sangue capilar, na clínica
veterinária, onde muitas vezes o sangue venoso é
a amostra utilizada para esse fim (2). A mensuração
da glicemia tem importância no diagnóstico e na
monitoração de várias enfermidades, como DM
ou condições que podem causar hipoglicemia.
A determinação das concentrações de
glicose no sangue e as variações em série da
glicemia são aspectos importantes a longo prazo
no monitoramento de diabetes em cães e gatos.
Os testes, tanto laboratorial quanto com o uso de
glicosímetros portáteis, são usados para avaliar a
eficácia da insulina, os pontos mais baixos da
glicose e a duração dos efeitos da insulina, desse
modo servindo como base para modificações no
tratamento com insulina (4).
Os resultados de testes obtidos a partir
de glicosímetros portáteis comparados aos
obtidos a partir de exame laboratorial são
expressos em unidades de plasma equivalentes.
No entanto, o resultado do glicosímetro portátil
pode diferir um pouco do resultado obtido em
laboratório devido uma variação normal (1).
A avaliação da precisão desses sensores
é geralmente realizada comparando-se os valores
da glicemia mensurada pelos aparelhos com
aqueles obtidos por método laboratorial,
considerado como referência (2).
Os erros provocados pelo usuário são as
primeiras causas de falha na precisão dos
resultados, podendo-se citar como exemplos a
aplicação inapropriada da amostra ou
ultrapassagem do limite de tempo para a realização
do exame. Além disso, ocorrem falhas quando os
glicosímetros não são calibrados ou o
equipamento e as tiras-teste não são armazenadas
de acordo com as recomendações do fabricante
(3)
.
Observa-se que anormalidades no
hematócrito do paciente submetido ao exame de
glicose podem afetar o resultado alcançado com
o glicosímetro (8, 11, 12, 3). Hematócrito abaixo de
30% leva a resultados falsamente elevados,
enquanto que hematócritos maiores de 55%
podem ocasionar resultados equivocadamente
baixos e, consequentemente, os clínicos devem
ter cuidado ao interpretar os resultados obtidos
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de glicosímetros em cães com anemia ou
policitemia (12) . No entanto, alguns dos
glicosímetros mais modernos são precisos com
hematócritos variando entre 20% a 60% (3).
Outros fatores podem influenciar a precisão do
valor da glicemia em cães, obtido por sensores,
como, por exemplo, o volume da gota de sangue
utilizada (2).
Os resultados também estarão alterados
quando a circulação sanguínea periférica do
paciente esta reduzida ou quando o paciente se
encontra severamente desidratado, hipotenso ou
em choque, pois nessas condições há uma maior
dificuldade em obter uma amostra suficiente de
sangue capilar (12,3).
Ainda poderá existir uma diferença em
relação ao resultado do laboratório, porque os
níveis de glicose no sangue podem mudar
significativamente ao longo de curtos períodos,
principalmente após alimentação, exercício físico,
após medicação ou período de estresse (1).
Além disso, se o animal se alimentou
recentemente, o nível de glicose no sangue capilar
coletado pode ser até 70 mg/dl mais elevado que
o do sangue coletado em uma veia (amostra
venosa), utilizado para um teste laboratorial (1).
Existem várias formas de realizar a mensuração
da glicemia, cada uma tendo suas vantagens e
desvantagens. Algo que deve ser levado em
consideração é que o método seja o mais rápido
e com maior grau de precisão possível (1).
Com base nestas informações o objetivo
deste trabalho foi então comparar os diferentes
métodos de dosagem de glicemia em cães.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram colhidas amostras de sangue de 50
animais da espécie canina do Centro de Controle
de Zoonoses de Andradina (CCZ). Durante as
colheitas foram utilizados tanto animais sadios
como doentes, independente da raça, peso, idade,
sexo, estado prandial ou condição de saúde.
Para o teste com glicosímetro portátil
OneTouch Ultra® (Johnson & Johnson), foram
coletadas amostras sanguíneas das orelhas. Esta
punção foi realizada na face medial da orelha
externa do animal utilizando-se uma agulha
hipodérmica descartável de calibre 25 x 0,7mm.
Após a punção, uma tira-teste foi inserida no
monitor de glicose, o qual ligava automaticamente.
A amostra de sangue, de no mínimo 1 µl, foi
aplicada na tira-teste no prazo máximo de quinze
segundos. Em cinco segundos, o equipamento
expressava no monitor a concentração de glicose
na amostra em mg/dl.
Uma amostra de 3 ml de sangue foi colhida
através da venopunção da veia cefálica para a
realização do teste com o glicosímetro portátil a
partir de uma gota de sangue retirada da seringa e
o restante da amostra de sangue foi utilizado para
o teste de glicemia laboratorial, utilizando o método
enzimático-colorimétrico, no Laboratório de
Patologia Clínica Veterinária do Hospital
Veterinário da Faculdade de Ciências Agrárias de
Andradina.
As amostras foram acondicionadas em
tubos de ensaio e em seguida centrifugadas por
cinco minutos a uma velocidade de 2500 rotações
por minuto para a obtenção do plasma. O plasma
obtido foi mantido refrigerado (4ºC) por um
período máximo de quatro horas após a colheita,
até a mensuração da concentração de glicose pelo
método da glicose oxidase, utilizando-se Kit
comercial Katal®.
Para o procedimento laboratorial utilizouse o método enzimático colorimétrico para a
determinação da glicose. Essa determinação
combina a elevada especificidade de ação das
enzimas com a simplicidade operacional de ação
das enzimas envolvida. A cada teste realizado
foram utilizados 2 ml do reagente enzimático em
tubo de ensaio para 0,02 ml da amostra de soro
analisada, que após homogeneização foram
colocadas em banho-maria a 37ºC por 15
minutos. Decorrido este tempo, as amostras foram
imediatamente analisadas no espectrofotômetro a
505 nm, devidamente zerado com a amostra
branca, obtendo assim o valor glicêmico em mg/
dl, de cada animal.
Os resultados obtidos foram submetidos
à análise estatística, onde se comparou os valores
obtidos pelo teste laboratorial e os valores obtidos
com o glicosímetro portátil.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 expressa os valores das
estimativas de médias e coeficientes de variação
dos diferentes métodos de dosagem de glicemia
onde, os resultados de glicemia alcançados com
o glicosímetro portátil variaram entre 28 a 129 mg/
dl, com a média de 76,14, utilizando amostras de
sangue capilar, e 61 a 126 mg/dl, com a média de
80,84, com amostras de sangue venoso. Já os
resultados alcançados com o método enzimático
colorimétrico, que realiza leituras no plasma, os
valores mensurados estavam entre 42 e 115 mg/
dl, com a média de 78,36.
TABELA 1. Estimativas das médias e coeficientes e variação dos diferentes métodos de dosagem de
glicemia em cães.
GSC (mg/dL)
GSV (mg/dL)
GE-C (mg/dL)
Média
76,14
80,84
78,36
CV(%)
25,15
18,83
25,15
GSC = Glicosímetro com sangue capilar;
GSV = Glicosímetro com sangue venoso;
GE-C = Método glicose enzimático colorimétrico;
CV(%) = Coeficiente de variação em porcentagem para todos os animais;
A Tabela 2 ilustra a análise de variância para os diferentes métodos de dosagem de glicemia e os
dados permitem observar que não existe diferença estatística significativa entre os três métodos de
mensuração da glicemia.
TABELA 2. Análise de variância comparando os diferentes métodos de dosagem de glicemia em cães.
Causas de Variação
Quadrado médio
Tratamento
276,4
Resíduo
301,83
Total
578,23
Teste F
0,91ns
ns: não significativo a 1% de probabilidade pelo teste F.
Estes resultados estão em consonância com os resultados obtidos por trabalhos (2,10) onde a medição
da glicemia utilizando o glicosímetro portátil demonstrou-se eficiente na determinação da glicemia.
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CONCLUSÃO
A dosagem de glicemia em sangue de cães
utilizando glicosímetro portátil pode ser
considerado um método confiável. O sangue
venoso dos cães pode ser empregado no
glicosímetro portátil, mesmo o equipamento sendo
preferencialmente destinado para sangue capilar,
entretanto deve-se dar preferência a amostra de
sangue capilar.
7. NELSON, R. W. Diabetes Melito. IN:
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Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 7 - 11
Recebido: 10/08/2010
Aceito: 24/09/2010
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CIÊNCIAS AGRÁRIAS
TRABALHO ORIGINAL
INQUÉRITO SOROLÓGICO DA LEPTOSPIROSE EM EQUINOS NA REGIÃO
NOROESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
SEROLOGICAL SURVEY OF LEPTOSPIROSIS IN HORSES IN THE NORTHWEST
REGION OF SÃO PAULO STATE
José Eduardo dos Santos Silva1, Renata Furlan Pereira de Souza1, Jorge Ikefuti Filho1, Diego
Gonçalves dos Santos1, Priscila Diniz Lopes1, Conrado Pedrozo Coelho Bazan1, Ana Larissa
Campos de Medeiros1, Tatiana Ferrato dos Santos1, Fernando Paes de Oliveira2,
João Barbudo Filho3
RESUMO
A leptospirose equina é uma doença infecciosa disseminada pelo mundo todo, transmitida através
dos roedores, onde as principais manifestações clínicas são uveíte, aborto e outros distúrbios reprodutivos,
podendo ser transmitida ao homem. Considerando a importância da leptospirose como zoonose, este
trabalho tem como objetivo avaliar o nível de anticorpos contra Leptospira spp., através do soro-aglutinação
microscópica (SAM) em equinos criados tanto na zona rural como urbana. Para tanto foram utilizados
100 equinos (Equus caballus) de raça, sexo e idade variáveis, sem manifestação clínica da doença,
criados na região noroeste do estado de São Paulo. O sangue foi colhido, dessorado, congelado e submetido
a SAM. Considerou-se como ponto de corte da reação sorológica títulos a partir de 100. Foram
sororreagentes 41 equinos (41%), sendo cinco animais reagentes para mais de um sorovar, com maior
frequência do sorovar Icterohaemorrhagiae (62,5%), seguido pelos sorovares Hardjo e Wolffi (10,4%
e 10,4% respectivamente). Das amostras colhidas, 83 foram do perímetro rural e 17 do perímetro urbano,
sendo 33 animais sororreativos do perímetro rural (39,75%) e 8 do perímetro urbano (47,05%). A frequência
de sororreagentes foi de aproximadamente 50%, provavelmente por infecções subclínicas ou devido ao
crescimento urbano.
Unitermos: leptospirose equina, sorologia, zoonose.
ABSTRACT
Equine Leptospirosis is an infectious disease disseminated around the world, transmitted by rodents,
where the main clinical manifestations are uveitis, abortion and other reproductive disorders, which may be
transmitted to humans. Considering the importance of leptospirosis as a zoonosis, this study aims at assessing
the level of antibodies to Leptospira sp. by microscopic serum agglutination (MAS) in horses raised in the
rural and urban areas. Therefore, we used 100 horses (Equus caballus) of different race, sex and age,
without clinical manifestation of the disease, raised in the northwest region of Sao Paulo state. The blood
was collected, the serum removed from blood, frozen and submitted to MAS. It was considered a serological
reaction cutting point titles from 100. Forty one horses (41%) were seropositive, where five animals were
reagents to more than one serovar, with higher frequency of serovar Icterohaemorrhagiae (62,5%),
followed by serovars Hardjo and Wolffi (10,4% and 10,4% respectively). From the samples taken, 83
were from rural area and 17 from urban area, with 33 animals seroreactive from rural area (39,75%) and
8 from urban area (47,05%). The frequency of seropositive subjects was approximately 50%, probably
due to subclinical infections or due to urban growth.
Uniterms: equine leptospirosis, serology, zoonosis.
Aluno (a) do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina/SP
Prof. Ms. do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina/SP
3
Prof. Dr. do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina/SP
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Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 12 - 17
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INTRODUÇÃO
A leptospirose é uma enfermidade causada
por bactérias espiraladas dos gêneros Leptospira,
família Treponemataceae, ordem dos
Spirochaetales (4). Em 1992, o Subcomitê de
Taxonomia de Leptospira propôs a atual divisão
para o gênero Leptospira, o qual é formado por
oito genomoespécies patogênicas: L.
borgptersenii, L. interrogans sensu strictu, L.
noguchii, L. santarosai, L. weilii, L. kirschineri,
L. inadai e L. fainii, distribuídas em 26
sorogrupos e 250 sorovares, e três
genomoespécies saprófitas ou de vida livre: L.
birflexa, L. meyeri, L. wolbachii, com raros
registros de infecções (7).
A bactéria esta presente em todo mundo
afetando seres humanos e diversas espécies de
animais domésticos e selvagens, constituindo um
importante problema para a saúde pública devido
ao seu aspecto zoonótico (11).
A severidade da infecção por Leptospira
irá depender da dose infectante, da virulência do
sorovar, da susceptibilidade do hospedeiro, dos
órgãos e sistemas atingidos (3). Esta importante
zoonose de distribuição mundial não provoca sinais
patognomônicos, e, portanto, seu diagnóstico
clínico é difícil, exigindo usualmente a confirmação
laboratorial, que se baseia no isolamento das
leptospiras ou na presença de anticorpos
específicos induzidos pelo agente, realizado por
meio da prova de soro aglutinação microscópica
(SAM) na qual são utilizados antígenos constituídos
de sorotipos viáveis de leptospira (14, 3, 12).
As leptospiras são excretadas pela urina
de animais infectados, sendo a água contaminada,
a via mais importante de transmissão que ocorre
ativamente através da pele e mucosas. A infecção
também pode ocorrer por leite ou alimento
contaminado, fluidos placentários, via
transplacentária e por contato, especialmente no
ato da cobertura através do sêmen (13). Animais
que vivem em áreas urbanas, cujas condições
sanitárias e de infra-estrutura são precárias, junto
a lixões, esgotos a “céu aberto”, depósitos de
materiais descartados, proximidade com outras
espécies animais, se constituem particularmente em
populações de risco (10).
Em equinos existem relativamente poucos
surtos documentados de leptospirose aguda,
apesar desta enfermidade ser conhecida nesta
espécie por todo o mundo, com manifestações
aguda, subclínica ou crônica (3, 2, 8). Nestes animais
os sinais clínicos seriam pouco específicos, o que
poderia explicar a baixa frequência de
diagnósticos. Normalmente a infecção aparece
clinicamente com leve hipertermia acompanhada
por anorexia. Em sua forma mais severa, sufusão
conjuntival, petéquias em mucosas,
hemoglobinúria, hematúria e anemia, icterícia,
depressão e fraqueza podem acontecer em graus
variados, com estes sinais clínicos permanecendo
durante cinco a oito dias. Nas fêmeas em gestação,
o abortamento e suas complicações torna a
leptospirose uma importante doença na esfera
reprodutiva. O desenvolvimento de uveítes,
principalmente da URE (uveíte recorrente equina),
poder ocorrer em até 45% dos equinos infectados,
sendo desencadeado dentro de dois a oito meses
após a infecção inicial.
No Brasil, evidências da infecção,
caracterizadas pela identificação de aglutininas
específicas anti-leptospira em equinos tem sido
relatadas há mais de 60 anos (11), entretanto,
mesmo com a grande população equina existente
no país, há poucos estudos sobre a frequência de
leptospirose nessa espécie (12).
Considerando sua importância, este
trabalho tem o objetivo de fazer um inquérito
sorológico para verificar a possibilidade de
ocorrência desta zoonose em equinos na região
noroeste do estado de São Paulo.
MATERIAL E MÉTODOS
Para este estudo foram utilizados 100
equinos (Equus caballus) de raça, sexo e idade
variáveis, saudáveis e sem evidências de
leptospirose clínica, criados na zona rural de
Andradina, Araçatuba e Castilho, localizados na
região noroeste do estado de São Paulo e também
na zona urbana de Andradina, ao longo de um
período de dois meses.
Destes animais foram colhidos 5 ml de
sangue, através de flebocentese praticada na veia
jugular. Posteriormente as amostras foram
dessoradas pelo processo de centrifugação,
estocadas em microtubo Eppendorf®,
identificadas e congeladas até seu envio para o
laboratório de Medicina Veterinária Preventiva da
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 12 - 17
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FCAV – UNESP Jaboticabal onde foram
submetidas a soro aglutinação microscópica
(SAM).
Esta prova foi realizada com emprego de
antígenos representados por culturas de leptospiras
vivas em meio EMJH (Ellinghausen McCullough,
Jonnson e Harris) (Difco-EUA) com cerca de
cinco a sete dias de crescimento. A diluição de
triagem do soro sanguíneo usada foi 1:5. O critério
adotado para considerar-se um soro como
reagente foi de pelo menos 50% de aglutinação,
ou seja, metade das leptospiras aglutinadas no
campo microscópico no aumento de 100 vezes.
As amostras reagentes na triagem inicial foram
reexaminadas com dez diluições seriadas de razão
dois a partir da diluição inicial. O título da amostra
foi considerado recíproco da sua maior diluição
quando apresentava pelo menos 50% de
aglutinação. A leitura das reações sorológicas foi
realizada em microscópio de campo escuro após
a incubação da mistura soro-antígeno por três
horas em temperatura de 28ºC. Sua execução
seguiu a metodologia preconizada por Santa Rosa
(1970) (14).
Usou-se como base título de anticorpos
contra variantes patogênicas a saber: L. wolffi, L.
hardjo, L. icterohaemorragiae, L. canicola, L.
pomona, L. copenhageni, L.grippo e L.
tarassovi. Considerou-se como ponto de corte
da reação sorológica títulos a partir de 100, pois
esta é a titulação considerada positiva em equinos
para infecção por leptospira (3).
Os sorovares de leptospira utilizados
como antígenos foram provenientes de matrizes
repicadas semanalmente em meio de cultura
EMJH enriquecido com soro sanguíneo de coelho
da proporção de 10%, e mantidos em estufa
bacteriológica (BOD) à temperatura de 28ºC.
Todos os antígenos foram utilizados ao redor do
sexto dia de incubação. A concentração
considerada ideal foi padronizada de forma a
corresponder à metade da turvação do tubo
número 1 da escala de McFarland (100 a 200
leptospiras por campo microscópico), livre de
contaminação segundo as orientações de Sulzer
& Jones (1980) (16).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram reagentes, frente à técnica de
soroaglutinação microscópica no soro sanguíneo,
41 equinos (41%), sendo cinco animais reagentes
para mais de um sorovar. Dos oito sorovares
pesquisados, apenas seis foram detectados, sendo
que, dos 48 soros positivos, o sorovar
Icterohaemorrhagiae foi o mais frequente
(62,5%), seguido pelos sorovares Hardjo e Wolffi
com 10,4% respectivamente (Tabela 1). Em
animais com reação em mais de um sorovar, foram
considerados ambos os títulos, o que
correspondeu 12,2%.
TABELA 1. Títulos máximos de anticorpos detectados nas amostras de soros dos animais do grupo
reagente e os respectivos sorovares de Leptospira spp.
Sorovar
Título de anticorpos
No de amostras %
reagentes
100
200
400
800
1600
16
8
5
1
0
30
62,5
Hardjo
2
1
0
1
1
5
10,4
Wolffi
2
1
0
2
0
5
10,4
Pomona
2
2
0
0
0
4
8,3
Compenhageni
2
0
0
0
0
2
4,2
Grippotyphosa
1
1
0
0
0
2
4,2
25
13
5
4
1
48
100
Icterohaemorrhagiae
Total
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 12 - 17
15
Frequência sorológica em fêmeas equinas
com histórico de abortamento foi observada no
estado da Bahia (5) com maior prevalência do
sorovar Icterohaemorrhagiae (42%), assim como
nos equinos em Londrina (PR) com 23,36% (6) e
de Santa Maria (RS) com 19,85% (9).
No Instituto Butantã, na cidade de São
Roque (SP), foram observados 10,11% equídeos
sororreagentes (17). Já, em 2008, prevalência de
90,7% de equinos sororreagentes (1) foi encontrada
na região Amazônica. As diferenças verificadas
entre os resultados obtidos neste trabalho e os
demais publicados na literatura podem ser
compreendidas, em parte, devido ao número e o
tipo de sorovares empregados para a avaliação
sorológica. Outros fatores que também poderiam
influenciar a taxa de prevalência em diferentes
regiões seria o manejo higiênico-sanitário dos
rebanhos, diferenças climáticas, época da
pesquisa, assim como o grau e o tipo de exposição
a outros animais domésticos, silvestres ou roedores
sinantrópicos, que, reconhecidamente, interferem
na epidemiologia dessa enfermidade (2).
Das amostras colhidas observaram-se 83
amostras do perímetro rural e 17 do perímetro
urbano, sendo 33 animais sororreativos do
perímetro rural e 8 no perímetro urbano,
representando respectivamente 39,75% e 47,05%
(Figura 1). Dentre os 48 sorovares encontrados,
83,3% foram do perímetro rural e 16,7% do
perímetro urbano (Tabela 2).
FIGURA 1. Distribuição dos animais sororreagentes em cada perímetro urbano.
TABELA 2. Correlação dos diferentes sorovares de acordo com o perímetro urbano.
Sorovar
Rural
%
Urbano
%
Icterohaemorrhagiae
24
50,0
6
12,5
Hardjo
5
10,4
0
0
Wolffi
5
10,4
0
0
Pomona
3
6,2
1
2,1
Compenhageni
2
4,2
0
0
Grippotyphosa
1
2,1
1
2,1
40
83,3
8
16,7
Total
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 12 - 17
16
Em relação ao sexo, foi observado taxa de 44,9% dos machos sororreagentes contra 37,2% das
fêmeas (Figura 2). No estado da Bahia num rebanho de éguas o percentual de animais reagentes foram de
23% (5).
FIGURA 2. Distribuição dos animais sorreagentes e soronegativos de acordo com o sexo.
A prevalência encontrada neste trabalho (41%) foi semelhante aos resultados no estado de Goiás
que obteve 45,05% de amostras ao acaso no perímetro rural (8), e na cidade de Pelotas no estado do Rio
Grande do Sul que encontrou 55% animais sororreagentes no perímetro urbano (4).
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
No presente estudo, nenhum dos animais
sororreagentes manifestava sintomatologia
sugestiva de leptospirose em que pese à alta
1. AGUIAR, D.M. et al. Prevalência de anticorpos
contra agentes virais e bacterianos em equídeos
do município de Monte Negro, Rondônia,
Amazônia Ocidental Brasileira. Brazilian Journal
frequência de reações positivas (41%). Entretanto,
of Veterinary Research and Animal Science, v.
a alta frequência de anticorpos verificada talvez
45 (4), p. 269-276, 2008.
possa ser explicada pelo contato íntimo com
roedores, uma vez que foi constatada que 62,5%
das reações sorológicas revelam anticorpos contra
o sorovar Icterohaemorrhagiae, que tem como
principal reservatório o rato.
2. BEER, J. Doenças infecciosas em animais
domésticos. São Paulo: Roca, 1999. 394p.
3. FAINE, S. Leptospira and leptopirosis. 2 ed.
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Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 12 - 17
17
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aglutininas anti-leptospira em soro de equinos
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Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 12 - 17
Recebido: 27/10/2009
Aceito: 15/12/2009
18
CIÊNCIAS AGRÁRIAS
TRABALHO ORIGINAL
OCORRENCIA DE Babesia spp. EM CÃES ATENDIDOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO
DE ANDRADINA - SP
OCCURRENCE OF Babesia spp. IN DOGS TREATED IN THE VETERINARY
HOSPITAL OF ANDRADINA - SP
Weslen Fabrício Pires Teixeira 1, Everton de Oliveira Ottoni 1, Ana Paula Magalhães Mendes 1,
Jorge Cardoso da Silva Filho 1, Rodrigo Garcia Motta 1, Willian Marinho Dourado Coelho 2
RESUMO
A babesiose canina é uma hemoparasitose transmitida pelo carrapato Rhipicephalus sanguineus
e é causada por protozoários intra-eritrocitários do gênero Babesia spp. O objetivo deste estudo foi
relatar a ocorrência de Babesia spp. em cães atendidos no hospital veterinário da Faculdade de Ciências
Agrárias de Andradina (FCAA). O experimento foi realizado durante o período de janeiro de 2006 a
dezembro de 2007, sendo atendidos 1696 cães de ambos os sexos, diferentes raças e faixas etárias.
Dentre estes, 35,31% (599/1696) dos animais apresentaram sintomatologia clínica sugestiva da doença,
sendo realizados exames de hemograma e pesquisa de hematozoários. Constatou-se 0,77% (5/647) e
1,52% (16/1049) de casos positivos nos anos de 2006 e 2007, respectivamente. A observação de Babesia
spp. nos esfregaços sanguíneos foi de 3,5% (21/599) do total de exames específicos realizados e de
1,23% (21/1696) em relação ao total de animais atendidos neste período.
Unitermos: babesiose, eritrócitos, hemoparasitos.
ABSTRACT
The canine babesiosis is a hemoparasitosis transmitted by ticks Rhipicephalus sanguineus and it is
caused by intra-erythrocytics protozoan of Babesia spp. gender. The purpose of this study was to report
the occurrence of Babesia spp. in dogs treated at the veterinary hospital of the Agricultural Sciences
College of Andradina (ASCA). The experiment was conducted during the period of January of 2006 to
December of 2007 with 1696 dogs of both sexes, from different breeds and ages. Among them, 35,31%
(599/1696) of the animals showed clinical suggestive symptoms of the disease, and blood tests and
hematozoan searches were performed. It was found 0,77% (5 / 647) and 1,52% (16/1049) of positive
cases in the years of 2006 and 2007 respectively. The observation of Babesia spp. in blood smears was
3,5% (21/599) of the specific tests performed and 1,23% (21/1696) in relation to the total of animals seen
in this period.
Uniterms: babesiosis, hemoparasitosis, red cells.
1
2
Alunos do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina - FCAA
Prof. Ms.do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina - FCAA
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 18 - 21
19
INTRODUÇÃO
(ELISA) e a reação de imunofluorescência indireta
(RIFI) (11).
A babesiose é uma enfermidade parasitária
O objetivo deste estudo foi avaliar a
transmitida pelo carrapato Rhipicephalus
ocorrência de Babesia spp. em cães atendidos
sanguineus, causada por hematozoários do
no hospital veterinário da Faculdade de Ciências
gênero Babesia spp. que se multiplicam
Agrárias de Andradina, SP, no período de janeiro
preferencialmente em eritrócitos jovens, sendo as
de 2006 a dezembro de 2007.
espécies B. canis e B. gibsoni os agentes
MATERIAL E MÉTODOS
etiológicos da babesiose canina (3, 4, 5 9, 10).
Esta doença foi descrita pela primeira vez
em 1888 na Romênia, quando Victor Babés
Durante o experimento foram analisados
observou um parasita em eritrócitos bovinos (1).
1696 cães de diferentes raças, faixas etárias e
No entanto, a primeira descrição de B. canis
ambos os sexos atendidos no Hospital Veterinário
ocorreu em 1895 na Itália e em 1901, no Brasil
da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina.
.
O estudo foi conduzido entre o período de janeiro
(6)
Para que ocorra a infecção, o carrapato
deve permanecer espoliando o animal por um
de 2006 a dezembro de 2007, com 647 e 1049
cães atendidos por ano, respectivamente.
período de aproximadamente dois a três dias,
Foram analisados 599 animais que, durante
eliminado assim pela saliva as formas evolutivas
o exame clínico, apresentaram sinais e sintomas
parasitárias infectantes (7).
sugestivos de acometimento por hemoparasitos
A manifestação da doença ocorre nas
formas subclínica, aguda, hiperaguda ou crônica.
como depressão, apatia, emagrecimento, mucosas
hipocoradas, icterícia e edema.
A gravidade dos sinais clínicos variam de acordo
Amostras de 1 ml de sangue foram colhidas
com a espécie de Babesia ou com o isolado da
por meio de punção venosa acondicionadas em
B. canis envolvida no processo infeccioso, com
microtubos estéreis contendo 50 microlitros de
a idade e a eficácia da resposta imune do
ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA) a 5%.
hospedeiro (10).
O diagnóstico parasitológico foi realizado
Comumente a doença está associada a
com a observação de formas parasitárias por meio
quadros de anemia hemolítica, febre, letargia,
da confecção de esfregaços sanguíneos em lâmina
anorexia, hematúria e esplenomegalia. As
de microscopia, coradas com Panótico Rápido®
alterações hematológicas mais importantes são a
e observadas em microscopia de luz com aumento
anemia regenerativa normocítica normocrômica
de 1000 vezes.
que progride para forma macrocítica e
hipocrômica, apresentando reticulocitose,
RESULTADOS E DISCUSSÃO
anisocitose, policromasia, hemólise em diferentes
graus, bilirrubinúria, hemoglobinúria,
trombocitopenia e leucocitose por neutrofilia .
(2)
Do total de animais atendidos durante o
período do experimento, constatou-se uma
O diagnóstico pode ser realizado por meio
porcentagem de 35,31% (599/1696) de animais
de técnicas parasitológicas em esfregaço
apresentando sintomatologia clínica sugestiva de
sanguíneo, testes moleculares de reação em cadeia
hemoparasitoses, observando-se os parasitos em
da polimerase (PCR), imunoadsorção enzimática
3,5% das amostras, conforme a Figura 1.
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 18 - 21
20
FIGURA 1 .Número total de animais atendidos durante o período do experimento,
número de animais com sintomatologia clínica de hemoparasitoses e
casos positivos em (n=1696) cães.
A ocorrência de casos positivos para babesiose em cães nos anos de 2006 e 2007 está ilustrada
na Tabela 1.
TABELA 1. Porcentagem e ocorrência de casos positivos para babesiose em cães atendidos no Hospital
Veterinário de Andradina, SP; durante o período de janeiro de 2006 a dezembro de 2007.
Período do experimento
Porcentagem
Ocorrência
2006
0,77%
5
2007
1,52%
16
Total
1,23%
21
A porcentagem de casos positivos durante o período do experimento foi semelhante aos
encontrados em estudo realizado em cães da cidade de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, onde
pesquisadores verificaram uma porcentagem de 1,47% (30/ 2.031) de animais positivos (8).
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 18 - 21
21
CONCLUSÃO
Com base nos resultados pode-se concluir
que a babesiose canina está presente na casuística
dos animais que apresentam quadros de anemia,
icterícia e hemólise intravascular. Apesar da
Babesia spp. ter sido detectada com baixa
frequência pelo exame parasitológico, acredita-se
que estes resultados estejam subestimados devido
a falta de inquéritos epidemiológicos e,
principalmente, pela pequena quantidade de
parasitos circulantes durante a colheita do material.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Recebido: 03/11/2008
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Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 18 - 21
22
CIÊNCIAS AGRÁRIAS
TRABALHO ORIGINAL
NÍVEL DE CONSCIENTIZAÇÃO DE PROPRIETÁRIOS DE CÃES E GATOS NA
CIDADE DE TRÊS LAGOAS-MS A RESPEITO DA IMPORTÂNCIA DA ZOONOSE
RAIVA
AWARENESS LEVEL OF DOGS’ AND CATS’ OWNERS IN THE CITY OF TRES
LAGOAS-MS REGARDING THE IMPORTANCE OF URBAN RABIES.
Renata Furlan Pereira de Souza1, Aline Pereira Haick1, Zélia Andrade Empke1, Diógenes Breda1,
Antônio Luiz Teixeira Empke2, Cristina Lacerda Soares Petrarolha Silva3, João Barbudo Filho3
RESUMO
A raiva é uma enfermidade infecciosa causada pelo Lyssavirus, de notificação obrigatória, que
afeta o sistema nervoso central de pessoas e de várias espécies de mamíferos. É considerada uma das
zoonoses de maior importância, dada a sua evolução fatal, onde o cão é o principal transmissor do vírus
rábico ao homem. Esse trabalho teve como objetivo realizar um levantamento do nível de conhecimento
sobre a zoonose raiva na população de Três Lagoas – MS, durante a Campanha anti-rábica do ano de
2009. Através de um questionário foram entrevistados 102 proprietários, escolhidos ao acaso, que
compareceram à campanha. Verificou-se que apenas uma pequena parcela dos entrevistados apresenta
um bom conhecimento sobre a raiva (16,7%), enquanto a maioria (68,6%) possui conhecimento regular.
Tal fato é indicativo da necessidade de medidas informativas que proporcionem maior conscientização da
população sobre essa zoonose, através de programas educativos com ênfase ao real conhecimento dos
riscos da doença, esclarecimentos sobre os animais potencialmente transmissores, cuidados após a
exposição aos mesmos e medidas profiláticas contra a raiva.
Unitermos: raiva, zoonose, programas educativos.
ABSTRACT
Rabies is an infectious disease, caused by Lyssavirus, notifiable, which affects the central nervous
system (CNS) of human and several mammalian species. It is considered one of the most important
zoonosis, due to its fatal outcome, where the dog is the main transmitter of the rabies virus to humans. This
study aimed at surveying the level of knowledge on the rabies zoonosis in the population of Três Lagoas MS, during the campaign against rabies in 2009. Through a questionnaire, 102 randomly chosen owners
were interviewed while attending the campaign. It was unveiled that only a small number of the people
interviewed had good knowledge on rabies (16,7%), while the majority (68,6%) had regular knowledge.
This fact indicates the need for measures which provide further information to raise public awareness
about this zoonosis, through educational programs with an emphasis on real knowledge about the risk of
the disease information on which animals are potential carriers, care after exposure to them and prophylactic
measures against rabies.
Uniterms: educational programs, rabies, zoonosis.
Aluno (a) do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina/SP
Médico Veterinário responsável pelo Centro de Controle de Zoonoses de Três Lagoas/MS
3
Prof. (a) Dr. (a) do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina/SP
1
2
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 22 - 29
23
INTRODUÇÃO
A raiva é uma enfermidade viral infecciosa,
de notificação obrigatória, que afeta o sistema
nervoso central de pessoas e de quase todas as
espécies de mamíferos domésticos e silvestres (14).
É considerada uma das zoonoses de maior
importância, pois representa um grande problema
de saúde pública, particularmente em áreas menos
desenvolvidas, devido a sua evolução
invariavelmente fatal, aos custos decorrentes das
medidas de controle e por apresentar ampla
distribuição geográfica (1,10).
Essa doença é causada pelo vírus RNA
envelopado, pertencente a família Rhabdoviridae
e do gênero Lyssavirus. Atualmente sabe-se que
esse gênero possui 7 genótipos. O genótipo 1 é o
vírus clássico da raiva. Os demais (2 a 7) foram
isolados na África, na Europa e na Austrália, sendo
denominados vírus “aparentados” ou
“relacionados” ao da raiva. No vírus da raiva
clássico existem variantes, conforme a espécie
animal e a região ou país proveniente (12).
A transmissão, tanto de animal a animal
como animal ao homem, ocorre quando o vírus da
raiva existente na saliva do animal infectado penetra
no organismo, através da pele ou mucosas, por
mordedura, arranhadura ou lambedura, mesmo
não existindo necessariamente agressão. São
reconhecidos dois tipos epidemiológicos de raiva:
a raiva urbana, mantida por cães e gatos, e a raiva
rural, mantida por animais silvestres, tais como,
morcegos hematófagos na América Latina (5,12).
O ciclo urbano de doença continua sendo
o mais importante para a raiva humana. Em áreas
urbanas, cujas medidas de controle não atingem
seu objetivo, o animal de maior relevância
epidemiológica para a transmissão do vírus é o cão,
principal reservatório e fonte de infecção, seguido
pelo morcego (10,15).
Em um estudo com 929 cães no Brasil (15)
foi observado que no período de 1980 a 1991, o
cão foi responsável por 773 casos de raiva humana
(83,2%), o morcego por 45 casos (4,8%), e o
gato por 24 casos (2,6%). Outro estudo (9) concluiu
que no período de 1991 a 1999, em 33 casos
confirmados de raiva humana no estado de Minas
Gerais, 21 (63,6%) foram transmitidos por cães,
nove (27,7%) por morcegos e apenas um (3%)
por gato.
São observados três tipos clínicos de raiva
nos animais domésticos sendo a raiva furiosa,
comumente observada em cães onde há alteração
de
comportamento,
agressividade,
hiperexcitabilidade e incoordenação motora, a
raiva paralítica, com paralisia iniciada nos
membros posteriores e que evolui atingindo os
músculos da face e da garganta de modo a manter
a boca aberta por onde escorre saliva e impede a
deglutição de alimentos e água e também a raiva
muda ou atípica, com sinais indefinidos onde o
animal se esconde e morre sem diagnóstico clínico
(3,6,12)
.
Uma vez iniciados os sinais clínicos da
raiva, os mesmos são irreversíveis, e o animal deve
ser isolado, sendo que a morte ocorre geralmente
entre 3 a 6 dias após o início dos sinais, podendo
prolongar-se por até 10 dias (14).
O diagnóstico da raiva em animais é
somente laboratorial, pois as observações clínicas
levam apenas a suspeita da doença. As técnicas
laboratoriais reconhecidas pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) são a
Imunofluorescência direta e a inoculação
intracerebral em camundongos (7). Entretanto,
ambos são testes realizados em amostras de SNC
obtidas post mortem, pois não existe, até o
momento, um teste diagnóstico laboratorial
conclusivo ante mortem que expresse resultados
absolutos (14).
Em 1973, foi criado o “Programa de
Profilaxia da Raiva pelo Ministério da Saúde
(MS)”, que prevê como principal medida de
controle da doença, a vacinação em massa de cães
e gatos, utilizando vacina do tipo Fuenzalida &
Palácios, com o objetivo de se deter o ciclo de
transmissão do vírus. Concomitante à vacinação
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 22 - 29
24
animal, observa-se a descentralização do
tratamento humano. O controle da circulação do
vírus é realizado através da captura de cães
errantes, observação de animais agressores, e
monitorado através de exames laboratoriais
específicos para a detecção do vírus rábico (9).
Os fatores sociais funcionam como
facilitadores ou empecilhos para a dispersão do
vírus em uma determinada área. Quanto menor a
situação de desenvolvimento local, maior é a
promiscuidade observada na relação homem/
animal e menores também os cuidados sanitários
tomados (9).
Ramos (1978) (13) , evidenciou que 48,2%
das pessoas agredidas por cães na cidade de São
Paulo, entre agosto e novembro de 1976, eram
de residências parcialmente ou totalmente
desprotegidas, mostrando a precariedade das
condições habitacionais. Um estudo realizado do
Brasil sobre a avaliação de áreas de risco para a
raiva evidenciou o fato de não haver registro de
óbito por raiva humana em pessoas com grau
superior de instrução no período de 1980 a 1988
(15)
.
Esse trabalho teve como objetivo realizar
um levantamento do nível de conhecimento sobre
a zoonose raiva na população de Três Lagoas –
MS, durante a Campanha anti-rábica do ano de
2009.
MATERIAL E MÉTODOS
Realizou-se uma pesquisa na forma de
entrevista com questionário, durante a Campanha
de Vacinação Anti-Rábica de cães e gatos no
município de Três Lagoas – MS, em setembro de
2009. O alvo da pesquisa foram proprietários dos
animais que compareceram à campanha, sendo o
tamanho amostral total de 102 indivíduos,
distribuídos em 17 pontos de vacinação, com seis
entrevistados por ponto. A escolha dos
entrevistados foi realizada ao acaso e registrou-se
o sexo e a idade dos mesmos. Concomitantemente
foi aplicado um questionário visando saber como
a população teve conhecimento da ocorrência da
campanha de vacinação contra a raiva, a fim de
que pudéssemos identificar, dentre os meios
usados para a divulgação da mesma, aquele que
foi mais eficaz.
As questões a respeito da zoonose foram
de múltipla escolha, podendo haver mais de um
item correto por questão, totalizando 12 itens
corretos. A seguir é apresentado o questionário
empregado:
Questão 1 – O que é a raiva?
a) doença grave
b) doença mortal
c) medo de água
d) não sabe
Questão 2 – Quem transmite a raiva?
a) cachorro
b) gato
c) morcego
d) outros
e) não sabe
Questão 3 – De que forma a raiva é transmitida?
a) mordida
b) arranhadura
c) lambedura
d) outros
e) não sabe
Questão 4 – O que a pessoa acidentada tem que
fazer?
a) lavar o machucado com água e sabão
b) passar desinfetante no machucado
c) procurar um posto de saúde
d) outros
e) não sabe
Questão 5 – O que deve ser feito com o animal
suspeito de raiva?
a) sacrificar
b) vacinar
c) tratar
d) mantê-lo isolado
e) não sei
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 22 - 29
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Questão 6 – Como soube da campanha de
RESULTADOS E DISCUSSÃO
vacinação contra a raiva?
a) T.V.
e) na escola
A população de cães e gatos no município
de Três Lagoas – MS estimada no último censo
de 2009 foi de 14.217 animais, sendo 11.769
cães e 2.448 gatos. O número de animais
vacinados na campanha anti-rábica de 2009 foi
f) outros
de 9.637 animais (8.693 cães e 944 gatos), ou
b) rádio
c) cartazes
d) panfletos
seja, 67,7% da população estimada. Deve-se
A partir do levantamento das respostas
ressaltar que vacinas anti-rábicas não aplicadas
obtidas, adotou-se como critério para classificar
pela equipe de vacinação municipal não entraram
o nível de conhecimento sobre a zoonose, o
no quantitativo de animais vacinados.
seguinte: de 08 a 12 acertos - nível bom, de 4 a 7
Dos 102 proprietários entrevistados,
acertos - nível regular, abaixo de 4 acertos - nível
54 (52,9%) eram do sexo feminino e 48 (47,1%)
ruim. Os dados foram analisados por estatística
do sexo masculino, sendo a maioria com idade
descritiva.
superior a 17 anos segundo a Tabela 1.
TABELA 1. Distribuição dos entrevistados quanto à idade em anos completos dos proprietários
entrevistados.
Idade
Quantidade
%
7 – 10
11- 14
15 – 17
> 17
4
4
9
85
3,9
3,9
8,9
83,3
Total
102
100
No geral, a grande maioria da população entrevistada apresentou um nível de conscientização
regular (Tabela 2), independente da faixa etária considerada (Figura 1).
TABELA 2. Classificação do grau de conscientização da população entrevistada sobre a importância
da raiva frente à saúde pública de acordo com o número de respostas corretas.
Nível
Bom
Regular
Ruim
nº de acertos
Quantidade
%
8 – 12
4–7
<4
17
70
15
16,7
68,6
14,7
Total
102
100
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 22 - 29
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FIGURA 1. Distribuição do nível de conhecimento sobre a importância da raiva por faixa etária.
Dentre as questões abordadas a respeito do conhecimento sobre a raiva, visando o auxílio na
profilaxia da doença, nota-se um maior número respostas certas, sobrepondo-se as respostas erradas
(Figura 2), devido à existência de mais de um item correto em cada questão, comprovando que a população
possui conhecimento regular sobre a moléstia, de acordo com o critério utilizado neste trabalho.
FIGURA 2. Distribuição de acertos e erros em relação ao conhecimento sobre a raiva.
Todos os veículos utilizados como propaganda da campanha anti-rábica realizada pelo Centro de
Controle de Zoonoses do município de Três Lagoas – MS atingiram seu objetivo, convocando a população
para a vacinação de seus animais. Numericamente foi mais expressiva a divulgação feita em canais de
rádio e cartazes distribuídos pela cidade (Figura 3).
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 22 - 29
27
FIGURA 3. Distribuição dos meios de comunicação utilizados como propaganda da campanha antirábica no município de Três Lagoas – MS.
Foram consideradas 16,7 % da população
entrevistada com conhecimento satisfatório (nível
bom) sobre a doença. Outro estudo (8) observou
um nível superior (32,4%) utilizando outro critério:
o grau de conhecimento das pessoas sobre a
identificação da raiva em animais e humanos no
estado de Minas Gerais.
A espécie canina é a de maior importância
na disseminação da raiva em áreas urbanas, pois
os cães são os principais envolvidos em acidentes
com mordeduras em humanos e animais,
tornando-se potenciais transmissores da zoonose.
Em Três Lagoas – MS, a média anual de acidentes
por mordedura é de 216 casos, sendo 168
(77,8%) agressões por cães e 48 (22,2%) por
gatos, evidenciando o cão, mais uma vez, como o
principal possível transmissor da doença (16).
No período de 1970 a 2002 foi
constatado que 78% dos pacientes que foram a
óbito pela doença, registrados no instituto Pasteur,
não procuraram serviços médicos, provavelmente
por falta de esclarecimento em relação à conduta
a seguir após o acidente (2).
Fichas individuais de profilaxia da raiva
humana preenchidas nas Unidades de Saúde dos
Distritos de Marília, Assis e Tupã no período de
1982-1983, por pessoas que se julgaram expostas
ao risco de infecção pelo vírus rábico,
evidenciaram que 3.465 pessoas foram agredidas
por cães e 355 por gatos (11). Um levantamento
das espécies com potencial de transmissão da
raiva, envolvidas em ataques por mordeduras em
humanos(4) mostrou que dos 1.226 ataques
registrados, 1.087 (88,7%) foram por cães, 104
(8,5%) por gatos e 35 (2,8%) por outras espécies
entre elas quirópteros, roedores e primatas.
Em Três Lagoas – MS, as agressões
ocorrem na sua maioria em bairros de periferia,
principalmente no bairro Interlagos, Vila Nova e
Santa Luzia, contudo, há mais de dez anos não se
tem relato de casos de raiva em humanos (16). Um
estudo feito em Ribeirão Preto – SP (10) verificou
maior número de casos confirmados em animais
domésticos nas áreas da cidade com maior
presença de favelas e de grupos populacionais de
baixa renda, acometendo em sua maioria cães
errantes e parcialmente domiciliados. Assim como
Miranda et al. (2003)(9) que após análise das
diferentes áreas de risco de transmissão de raiva
humana no estado de Minas Gerais no período
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de 1991 a 1999, observou que as áreas mais
predisponentes coincidem com as de maior
pobreza e analfabetismo.
Para que as medidas de controle sejam
eficientes, é necessário que a população apóie as
ações das autoridades de saúde (15) , para que isso
ocorra, essa população deve estar consciente
sobre a importância da Raiva e sobre as medidas
que são adotadas para evitá-las. Como é uma
doença incurável, que culmina em uma morte lenta
e com grande sofrimento, geralmente a população
aceita muito bem as orientações que são dadas
no sentido de preveni-la.
Dentre as informações a serem passadas
a população, deve-se ressaltar a conscientização
em relação aos cães errantes; às campanhas de
vacinação anual de cães e gatos promovidos pela
prefeitura da cidade; avisar ao serviço de saúde
animal a ocorrência de animais suspeitos de raiva,
ou no caso de mordedura de pessoas; não manter
animais silvestres como de estimação, sem a
autorização do IBAMA e do conhecimento sobre
o manejo e doenças causadas por estes; não
destruir ecossistemas evitando-se que os animais
que não vivem em cidades migrem para essas à
procura de abrigo e alimentos, como no caso de
morcegos. Além disso, é importante frisar que todo
o animal é de inteira responsabilidade do
proprietário, por isso, os animais devem sempre
estar em dia com a vacinação e sanidade(4).
CONCLUSÃO
Conclui-se que a maioria dos
entrevistados possui conhecimento regular
sobre a zoonose raiva no município de Três
Lagoas – MS. Logo se percebe a necessidade
da conscientização da população, através de
programas educativos de caráter contínuo
dando ênfase ao real conhecimento dos riscos
da doença, esclarecimentos sobre quais
animais são potencialmente transmissores,
cuidados após a exposição aos mesmos e
medidas profiláticas.
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Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 22 - 29
Recebido: 07/03/2010
Aceito: 25/04/2010
30
CIÊNCIAS AGRÁRIAS
TRABALHO ORIGINAL
PREVALÊNCIA DA CISTICERCOSE BOVINA EM ANIMAIS ABATIDOS EM
MATADOURO-FRIGORÍFICO NO MUNICÍPIO DE ANDRADINA ESTADO DE SÃO
PAULO SUBMETIDOS AO CONTOLE DO SERVIÇO DE INSPEÇÃO FEDERAL
(SIF-385), NO ANO DE 2007
PREVALENCE OF CISTICERCOSIS BOVINE IN ANIMALS SLAUGHTERED IN A
SLAUGHTERHOUSE IN THE CITY OF ANDRADINA OF SÃO PAULO STATE UNDER
FEDERAL INSPECTION SERVICE CONTROL (FIS-385), IN THE YEAR OF 2007.
José Osmar Maximino Fernandes¹, André Spegiorin Suttini², Caio Leonardo Garcia Cuelhar²,
Giovani José Miranda Abreu², Luiz Francisco Mariano Mattos Leite², Rodrigo Piva Dias²
RESUMO
O presente estudo verificou a prevalência da cisticercose bovina em 267.851 animais abatidos no
período de 01 de janeiro à 31 de dezembro de 2007, em um matadouro-frigorífico localizado no município
de Andradina - SP, sob o Serviço de Inspeção Federal SIF 385. Para isso foram utilizadas as Papeletas
de Comunicação de Abate e de Inspeção “ANTE MORTEM” e Papeleta de Exames do Departamento
de Inspeção Final (DIF) “POST MORTEM”. O levantamento revelou que, dos animais abatidos, 2656
apresentavam-se parasitados pelo Cysticercus bovis, revelando uma prevalência de 0,99%. Os dados
foram submetidos à análise descritiva e revelaram os índices de cisticercose de acordo com a procedência
dos animais que foram no estado do Mato Grosso do Sul (0,86%), São Paulo (1,32%), Goiás (0,62%),
Tocantins (2,8%) e Mato Grosso (13,8%). Identificou-se também a respectiva predileção do parasito na
musculatura e os resultados encontrados foram: cabeça (59,82%), coração (38,66%), esôfago (1,10%),
fígado (0,30%) e língua (0,11%).
Unitermos: Cysticercus sp, condenação de carcaças, inspeção de carnes.
ABSTRACT
This study found the prevalence of cysticercosis bovine in 267,851 slaughtered animals during the
period from January 01st to December 31st, 2007, at a slaughterhouse located in the city of Andradina Sao
Paulo state, under Federal Inspection Service control FIS 385. T. For this have been used Slips of Slaughter
Communication and Inspection “ANTE MORTEM” and Slips of Examinations from Final Inspection
Department (FID) “POST-MORTEM”, were used during that period. The survey revealed that, from the
slaughtered animals, 2656 were seen to be parasitized by Cysticercus bovis, showing a prevalence of
0,99%. The data obtained were submitted to descriptive analysis that revealed cysticercosis rates according
to animal origin that were from Mato Grosso do Sul (0,86%), São Paulo (1,32%), Goias (0,62%), Tocantins
(2,8%) and Mato Grosso (13,8%). It also identified the predilection of the parasite to the following: head
(59,82%), heart (38,66%), esophagus (1,10%), liver (0,30%) and tongue (0,11%).
Uniterms: condemnation carcass, Cysticercus sp, inspection beef.
1
Professor Ms. do Curso de Medicina Veterinária da FCAA - Andradina/SP
2
Alunos do Curso de Medicina Veterinária da FCAA - Andradina/SP
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 30 - 34
31
INTRODUÇÃO
O complexo teníase-cisticercose destacase entre as enfermidades parasitárias de maior
relevância quanto aos aspectos econômicos e de
saúde pública pelas perdas econômicas na
produção animal, bem como, pela longevidade e
gravidade dos distúrbios que causam ao homem.
(15)
.
A prevalência de cisticercose em humanos
está diretamente ligada com o grau de saneamento
básico (9) e pode acometer diferentes órgãos e
sistemas (5), que podem levar a morte. A
cisticercose bovina, por sua vez, tem origem nas
más condições de manejo e, sobretudo, na
contaminação ambiental provocada pelo próprio
homem (13), uma vez que a infecção em bovinos
ocorre pela ingestão de pastagens e água
contaminada com ovos do parasito (12).
Quando instalada nos animais, a cisticercose
bovina não apresenta sintomas (11) e assim passa
imperceptível aos olhos do criador, que se dá conta
da importância do controle desta enfermidade,
somente quando o animal for para o abate (10),
pois quando detectada, acarreta prejuízos, em
virtude da condenação parcial ou total das
carcaças e órgãos parasitados ou quando a carne
é aquosa ou descorada (2).
Os cisticercos tendem a se localizar nos
músculos com rico suprimento de mioglobina (6),
onde ocorre uma melhor oxigenação dos tecidos.
Portanto, o coração, os músculos mastigatórios e
a língua dos bovinos são examinados durante a
inspeção sanitária, porém estes cistos são mais
frequentemente observados na musculatura
esquelética e no miocárdio (7).
O matadouro desempenha duas funções
básicas no que se refere ao complexo teníase/
cisticercose (T. saginata). A primeira é participar
da prevenção da teníase humana, através da
destinação adequada de carcaças e órgãos
bovinos cirticercóticos. A segunda é atuar como
fonte de dados estatísticos e nosogeográficos,
função esta primordial dentro da vigilância
sanitária (14).
A inspeção de carnes ainda continua a ser
a única forma prática de detectar e diagnosticar o
Cysticercus bovis nos matadouros, através do
exame post-mortem (4), impedindo que carcaças
impróprias para o consumo sejam comercializadas
(3)
.
O presente trabalho teve como objetivo,
avaliar a prevalência da cisticercose em carcaças
de bovinos abatidos no matadouro-frigorífico JBS
submetidos ao Serviço de Inspeção Federal no
município de Andradina, bem como, o estado de
procedência destes animais e localização dos
cistos.
MATERIAL E MÉTODOS
Para realização deste trabalho foram
analisadas as Papeletas de Comunicação de Abate
e de Inspeção “ANTE MORTEM” e Papeleta de
Exames do Departamento de Inspeção Final
(DIF) “POST MORTEM” de 267.851 animais
abatidos no município de Andradina, região
noroeste do Estado de São Paulo. Os dados
recolhidos foram do período entre 01 de janeiro
e 31 de dezembro de 2007 e os animais
inspecionados eram provenientes dos Estados de
São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins
e Mato Grosso.
A inspeção de carnes, realizada em
matadouros-frigoríficos, possibilitou o diagnóstico
da cisticercose bovina, através do exame postmortem. Nesse exame, foram realizadas incisões
na musculatura esquelética e em órgãos onde os
cistos são encontrados com maior frequência e o
diagnóstico se fez através da sua visualização
macroscópica.
Os procedimentos realizados pelos
técnicos do SIF 385, para pesquisa de cisticercose
bovina nas linhas de inspeção (cabeça, língua,
coração, diafragma e esôfago), foram realizados
de acordo com o Art. 176 do Regulamento de
Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de
Origem Animal (2) e o Manual de Inspeção de
Carnes (1).
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 30 - 34
32
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Baseado nos achados macroscópicos do Serviço de Inspeção Federal (SIF-385) foi observado
que 2.615 animais apresentavam-se parasitados pelo Cysticercus bovis, totalizando uma prevalência
de 0,99 % (Tabela 1).
TABELA 1. Prevalência de cisticercose bovina em animais abatidos no matadouro-frigorífico no município
de Andradina - SP, no período de 01 de janeiro à 31 de Dezembro de 2007.
Estado de
Animais
Animais
Procedência
Abatidos
Acometidos
Prevalência
Animais Positivos
(%)
Cistos
Cistos
vivos
calcificados
Mato Grosso do Sul
190313
1640
1116
524
0,86
São Paulo
74846
989
726
263
1,32
Goiás
2584
16
15
1
0,62
Tocantins
36
1
-
1
2,8
Mato Grosso
72
10
10
-
13,8
TOTAL
267851
2656
1867
789
0,99
Ao analisar os resultados, por procedência, observou-se que o estado que apresentou maior
incidência de casos de cisticercose bovina, foi o do Mato Grosso com prevalência de (13,8%) dos
animais abatidos, que era, no entanto, um único lote de animais, vindos de uma área endêmica. Em contra
partida o estado de menor incidência foi o de Goiás com incidência de 0,62%.
Com relação aos órgãos parasitados, verificou-se prevalência de 59,82% (1589) na cabeça,
38,66% (1027) no músculo cardíaco, 1,10% (29) no esôfago, 0,30% (8) no fígado e 0,11% (3) na língua
(Tabela 2).
TABELA 2. Distribuição anatômica dos cisticercos.
Localização
Número de casos
(%)
Cabeça
1589
59,82
Músculo Cardíaco
1027
38,66
Esôfago
29
1,10
Fígado
8
0,30
Língua
3
0,11
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 30 - 34
33
A partir destes estudos, pode-se observar que existem dois locais de maiores achados de cisticercos,
que são a cabeça e o coração. Esses achados corroboram dados obtidos como de predileção (8), em
virtude de serem áreas muito irrigadas (16) com melhor oxigenação dos tecidos e rico suprimento de
hemoglobina.
Outros locais são destacados ainda como locais de predileção (16) tais como a língua, o diafragma
e a faringe e por isso o coração, os músculos mastigatórios e a língua devem receber especial atenção
durante a inspeção sanitária de rotina (2).
CONCLUSÃO
Com base no estudo realizado, pode se
afirmar que a cisticercose é uma importante causa
de condenação de órgãos e carcaças, dos bovinos
abatidos sob o regime de Inspeção Federal. Desta
forma torna-se necessário a adoção de medidas
sanitárias e sócio-educativas para prevenção de
tal enfermidade, proporcionando assim uma
melhor qualidade na saúde pública, bem como,
uma redução nos prejuízos econômicos causados
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cisticercose em bovinos abatidos sob Inspeção
Federal no município de Jequié, Bahia, Brasil.
Ciência Animal Brasileira, v. 9 (1), p. 132-139,
2008.
15. VILLA, M. F. G. Situação Epidemiológica do
complexo teníase-cisticercose como problema de
Saúde Pública no Brasil. Revista Higiene
Alimentar, v. 9 (36), p. 8-11, 1995.
16. WIESNER, E. Enfermedades del ganado
bovino. Zaragoza: Acribia, p. 628, 1973.
12. TEIXEIRA, A. L. S. Distribuição geográfica
da frequência da cisticercose em bovinos abatidos
em estabelecimento sob Inspeção Federal no
estado do Rio de Janeiro. Niterói, 1996. 57f.
Monografia (Graduação) - Faculdade de
Medicina Veterinária, Universidade Federal
Fluminense.
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 30 - 34
Recebido: 01/09/2008
Aceito: 26/11/2008
35
CIÊNCIAS AGRÁRIAS
TRABALHO ORIGINAL
DESEMPENHO DE LEITÕES ÓRFÃOS SOB DOIS NÍVEIS DE
LEITE EM PÓ NA RAÇÃO
PERFORMANCE OF ORPHAN PIGLETS UNDER TWO LEVELS OF
MILK POWDER IN DIET
Priscila Diniz Lopes1, Ana Carolina Assenço Alves dos Santos 1, Diego Gonçalves dos Santos1,
José Eduardo dos Santos Silva1, Abner Matheus Marinho Fontes1, Alan Diego de Paula Garbin1,
Camila Motta Marin Bernardi2 e José Reinaldo de Amorim Bernardi2
RESUMO
Os leitões recém-desmamados, devido à imaturidade do sistema digestivo, apresentam dificuldade
em secretar ácido clorídrico (HCl) suficiente para reduzir o pH estomacal a níveis adequados para o
início do processo de digestão. A utilização de fontes de proteína de alta qualidade, como o leite em pó,
é usada a fim de reduzir as desordens intestinais e melhorar o desempenho dos animais. Neste experimento
foram utilizados oito leitões órfãos, divididas em dois tratamentos, com diferentes níveis de leite em pó
integral na ração, 30% e 15%, dos sete aos 35 dias, 20% e 0%, dos 35 aos 49 dias de idade. Não houve
diferença significativa entre o ganho de peso dos leitões para os diferentes níveis de leite em pó na ração
entre os 21 a 35 dias de idade. Durante a fase dos 35 aos 49 dias de idade, os leitões que receberam leite
em pó na ração obtiveram ganho de peso significativamente maior (P<0,01), do que os leitões que não
receberam. Os parâmetros de consumo voluntário de ração foram semelhantes para os dois tratamentos
nos dois períodos. A conversão alimentar foi pior para os leitões que receberam os menores níveis de leite
em pó na ração nos dois períodos. A utilização de maiores níveis de leite em pó na ração, não levou a um
aumento no ganho de peso de leitões entre os 21 e 35 dias de idade. Os leitões alimentados com maior
nível de leite em pó integral na ração, no período de 35 a 49 dias de vida, apresentaram maior ganho de
peso.
Unitermos: ganho de peso, leite em pó, suínos.
ABSTRACT
The weanling piglets, due to the immaturity of their digestive system, have difficulties in secreting
hydrochloric acid (HCl) sufficient to reduce gastric pH to suitable levels for the beginning of the digestion
process. High quality protein sources such as powdered milk are used in order to reduce intestinal disorders
and improve animal performance. In this study, eight orphaned piglets used divided into two treatments
with different levels of powdered milk in their diet, 30% and 15%, from seven to 35 days, 20% and 0%
from 35 to 49 days old. There was no significant difference between the weight gain of piglets for the
different levels of powdered milk in the diet between 21 to 35 days of age. During the period between 35
to 49 days of age, the piglets which were fed with powdered milk in their diets had a weight gain significantly
higher (P <0.01) than piglets that did not receive. The parameters of voluntary feed intake were similar for
both treatments in both periods. The feed conversion was worse for the piglets that received the lowest
levels of powdered milk in the diet in both periods. The use of higher levels of powdered milk in the diet,
did not lead to an increase in weight gain of piglets between 21 and 35 days old. Piglets fed with higher
levels of powdered milk in the diet, from 35 to 49 days of life showed higher weight gain.
Uniterms: pigs, powdered milk, weight gain.
1
Alunos do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina - FCAA (Andradina)
2
Prof. Ms. do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina - FCAA (Andradina)
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 35 - 39
36
INTRODUÇÃO
Na produção intensiva de suínos, o
desmame dos leitões entre 21 e 28 dias de idade
é atualmente uma prática comum em razão de
permitir uma maior produtividade das matrizes,
número de leitegadas por ano e número de leitões
desmamados por matriz por ano. O desmame
nessa idade requer atender uma série de
necessidades dos leitões em termos de manejo,
nutrição, ambiente e sanidade (5,6). O desmame
precoce e a súbita alteração da dieta dos leitões
provoca distúrbios digestivos que podem resultar
na síndrome da má absorção e diarréia não
infecciosa. Esta pode evoluir para um quadro de
diarréia infecciosa, causada por microorganismos,
sendo mais comuns a Escherichia coli e rotavírus
(6)
.
Os leitões recém-desmamados, devido à
imaturidade do sistema digestivo, apresentam
dificuldade em secretar ácido clorídrico (HCl),
suficiente para reduzir o pH estomacal a níveis
adequados para o início do processo de digestão.
Este fato, faz presumir que a insuficiência digestiva
e as desordens intestinais dos leitões desmamados
podem estar relacionadas com a condição de não
manterem o pH gástrico baixo (ácido), com
consequências sobre a ativação da pepsina,
proliferação de coliformes e taxa de esvaziamento
estomacal (5).
Dietas contendo fontes de proteína de alta
qualidade, como leite em pó integral e farinha de
peixe sem fonte suplementar de alimentos
energéticos, como soro de leite, quando
fornecidas a leitões dos 14 aos 42 dias de idade,
proporcionaram os mesmos resultados de
desempenho de leitões desmamados aos 28 dias
de idade e recebendo rações simples à base de
milho e farelo de soja (4). A fonte mais comum de
lactose é o leite em pó, contendo 70% de lactose,
e também o leite desnatado em pó, contendo 50%
de lactose. Outros produtos podem ser fontes de
lactose, como lactose cristalina (100% lactose),
permeato de lactose (80% de lactose), queijo em
pó, concentrado protéico de leite e resíduos de
achocolatados (2).
Existem raças de origem brasileira que
ganham destaque pela sua rusticidade e facilidade
no manejo como alternativa para produção de
carne (3). A raça Moura apresenta índices de
produtividade inferior àqueles obtidos pelos
genótipos modernos, porém, apesar de ainda não
terem sido analisados, existem evidências de
superioridade em relação aos parâmetros de
qualidade da carne, em especial aqueles exigidos
para a produção de presuntos curados, com
possibilidade de agregar altos valores comerciais.
Além disso, como compensação as altas
conversões alimentares observadas, os suínos da
raça Moura, pela sua rusticidade e melhor
adaptação aos sistemas mais econômicos de
produção, podem mais facilmente absorver os
subprodutos da propriedade rural, tornando a
exploração menos demandante de insumos de alto
custo e com características ideais para a produção
orgânica (3).
O presente trabalho teve como objetivo
avaliar o ganho de peso, consumo de ração e
conversão alimentar de leitões órfãos alimentados
com diferentes níveis de leite em pó integral na
ração.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado na Escola Técnica
Agrícola Sebastiana Augusta de Moraes,
localizada na cidade de Andradina, estado de São
Paulo. Foram utilizados oito leitões da raça Moura.
A matriz foi vermifugada 65 dias antes do parto.
Os leitões tiveram acesso ao colostro suíno durante
as primeiras 24 horas de vida.
Logo após a perda da mãe os animais
passaram a receber uma mistura de leite bovino,
gema e açúcar, na proporção de um litro de leite,
duas gemas e uma colher de sopa de açúcar, e
água à vontade, inicialmente, em mamadeiras e a
partir de 10 dias em cochos circulares. A partir
do sétimo dia de vida, foi introduzida a ração sólida
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina,v.8, 2008 35 - 39
37
e os leitões foram divididos em delineamento
inteiramente casualizado (DIC), em dois
tratamentos, com quatro repetições cada um. Nos
primeiros dias de fornecimento de ração
concentrada foi colocado um pouco da ração
misturada ao leite para que os animais pudessem
se adaptar mais rapidamente a ração sólida. A
ração concentrada farelada comercial para suínos
na fase inicial continha 18,5% de proteína bruta
(PB) e 3.080 Kcal de Energia Metabolizável
(EM)/kg de ração e o leite em pó integral continha
24% PB, 26% de Extrato Etéreo (EE) e 40% de
Lactose. Os níveis utilizados para inclusão de leite
em pó na ração seguiram as recomendações do
Cnpsa – Embrapa (1), que são de 12 a 14% de
lactose dos sete aos 35 dias de vida e 7% de
lactose dos 35 aos 49 dias de vida, para leitões
desmamados aos 21 dias de idade.
Os leitões foram desmamados com 21 dias
de vida. Os animais receberam no período de sete
aos 35 dias de vida, 30% de leite em pó integral e
15% de leite em pó integral incluídos na ração
concentrada farelada comercial para suínos na fase
inicial para os tratamentos Leite + e Leite -,
respectivamente, e a partir de 36 dias até os 49
dias de vida, os animais do tratamento Leite +
passaram a receber 20% de leite em pó integral e
os animais do tratamento Leite -, somente a ração
concentrada farelada comercial.
Durante todo o período experimental os
animais permaneceram em baias coletivas, estas
foram varridas diariamente e, semanalmente,
lavadas e desinfetadas. Os comedouros e
bebedouros foram lavados diariamente antes do
primeiro trato diário. Aos cinco dias de vida os
leitões receberam ferro dextrano (10%), via
intramuscular, na dosagem de 2 ml por animal.
Foram avaliados os parâmetros de peso
vivo individual, ganho de peso vivo individual,
consumo de ração e conversão alimentar de cada
lote. Os animais foram pesados ao nascer e
semanalmente até completarem 49 dias de idade.
A quantidade de ração fornecida e as sobras eram
pesadas duas vezes por semana durante todo o
período experimental.
Os dados de ganho de peso individual foram
analisados pelo teste F ao nível de 1% de
significância.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados de peso vivo médio ao nascer,
aos 21, 35 e 49 dias de vida, ganho de peso vivo
diário médio em diferentes períodos (0 – 21 dias,
21 – 35 dias e 35 – 49 dias de idade), consumo
voluntário de ração e conversão alimentar dos
leitões dos 21 aos 35 dias e 35 aos 49 dias de
idade, para os tratamentos Leite + e Leite – estão
ilustrados nas Tabelas 1 e 2.
TABELA 1. Peso vivo (PV) e ganho de peso vivo diário (GPVD) dos leitões, em diferentes períodos de
vida, para os diferentes níveis de leite na ração.
PV
PV
GPVD
PV
GPVD
PV
GPVD
Nascer
21 dias
0 - 21 dias
35 dias
21 - 35
49 dias
35 - 49 dias
(kg)
(kg)
(kg)
(kg)
dias (kg)
(kg)
(kg)
Leite +
1,329
3,627
0,109NS
5,525
0,136NS
8,475
0,211**
Leite –
1,381
3,641
0,108
5,350
0,122
7,200
0,132
Média
1,355
3,634
0,1085
5,437
0,129
7,837
0,171
Parâmetros
NS
Não significativo (P>0,05); ** Significativo ao nível de 1% de probabilidade (P<0,01).
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 35 - 39
38
TABELA 2. Consumo voluntário diário (CVD) e conversão alimentar (CA) dos leitões, em diferentes
períodos de vida, para os diferentes níveis de leite na ração.
Parâmetros
CA a 21-35 dias
CVD 35-49 dias
CA a 35-49 dias
Leite +
193,45
1,42
750,85
3,56
Leite -
195,68
1,60
755,25
5,72
194,56
1,51
753,05
4,64
Média
a
CVD 21-35 dias
CA (CVD/GPVD)
Não houve diferença significativa (P>0,05),
entre o ganho de peso dos leitões para os diferentes
níveis de leite em pó na ração, 30% e 15%,
respectivamente, entre os 21 a 35 dias de idade,
provavelmente porque os níveis de leite em pó
fornecidos na ração atendiam as exigências de
lactose dos animais, proporcionando um consumo
CONCLUSÃO
Os leitões alimentados com maior nível de
leite em pó integral na ração, no período de 35 a
49 dias de vida, apresentaram maior ganho de
peso e menor conversão alimentar.
Este tipo de manejo pode ser recomendado
em pequenos plantéis que produzem animais de
raças mais rústicas, como a raça Moura.
voluntário semelhante dos animais nos diferentes
tratamentos, corroborando resultados obtidos em
trabalho semelhante (4).
Durante a fase dos 35 aos 49 dias de idade,
os leitões que receberam leite em pó na ração
AGRADECIMENTOS
A Faculdade de Ciências Agrárias de
Andradina-SP, pela iniciativa e custeio de todo o
projeto.
obtiveram ganho de peso significativamente maior
(P<0,01), que os leitões que não receberam leite
em pó na ração.
Os parâmetros de consumo voluntário de
ração foram semelhantes para os dois tratamentos
nos períodos de 21 a 35 e 35 a 49 dias de idade,
resultados semelhantes aos encontrados por
Ferreira et al. (2001) (4). No entanto a conversão
alimentar foi pior para os leitões que receberam
os menores níveis de leite em pó na ração nos
dois períodos, 15% entre 21 a 35 dias de idade e
0%, de 35 a 49 dias de idade, respectivamente.
Os leitões apresentaram pesos vivos baixos
em relação a animais confinados da mesma raça
semelhante aos resultados de Fávero et al. (2007)
, fato que pode ser atribuído aos animais serem
(3)
órfãos e apresentarem baixo consumo de ração
ao desmame (21 dias).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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creche de acordo com a idade de desmame.
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Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 35 - 39
39
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Nutricao%20de%20Leitoes%20no%20
Periodo%20de%20Desmame.pdf. Acesso em:
02/10/2009.
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina,v.8, 2008 35 - 39
Recebido: 22/06/2010
Aceito: 30/07/2010
40
CIÊNCIAS AGRÁRIAS
TRABALHO ORIGINAL
LEVANTAMENTO DE ESPÉCIES FLORESTAIS EM ÁREA DE SISTEMA
SILVIPASTORIL
SURVEY OF FOREST SPECIES IN AREA OF AGROFORESTRY SYSTEM
Carla Renata Silva Baleroni Guerra1, Mario Luiz Teixeira de Moraes2, Cristina Lacerda Soares
Petrarolha Silva1, Camila Regina Silva Baleroni Recco1, José Cambuim3
RESUMO
A fragmentação florestal ocorrida nos últimos anos, devido ao acelerado processo de desmatamento,
tem ocasionado a perda da diversidade biológica e sustentabilidade no ciclo natural das florestas. A partir
da caracterização de fragmentos remanescentes, concluiu-se que as áreas de proteção natural sofreram
diversas alterações devido a ações antrópicas e naturais e que alguns destes fragmentos necessitam de
interferência para impedir o processo de perda da biodiversidade diminuindo a instabilidade das populações,
comunidades e ecossistemas. Este trabalho teve como objetivo avaliar a regeneração natural de espécies
florestais em sistema silvipastoril. A identificação das espécies foi realizada em uma área de 2,42 ha, onde
aos 15,5 anos foi instalado um teste de progênies/procedências de M. urundeuva, consorciada com T.
micrantha, atualmente além da aroeira a área encontra-se colonizada também por outras espécies arbóreas
e por Brachiaria brizantha. No estudo de regeneração natural na área, foram identificados 1718,27 ind/
ha, pertencentes a 36 famílias botânicas. Verificou-se que as famílias que apresentaram maior número de
espécies em regeneração foram a Leguminosae, com 11 espécies, Myratceae e Anonaceae, com 4 espécies
cada e Clusiaceae e Malpighiaceae, com 3 espécies em cada família.
Unitermos: fragmentação florestal, regeneração natural, sistema silvipastoril.
ABSTRACT
The forest spalling occurred in recent years, due to the fast process of deforestation, has caused
the loss of biological diversity and support in the natural cycle of the forests. From the characterization of
remaining fragmentation one concluded that the areas of natural protection had suffered several changes
due to human and natural action and that some of these fragmentation need interference to hinder the
process of loss of biodiversity decreasing the instability of populations, communities and ecosystems. This
work had as objective to evaluate the natural regeneration of forest species in agroforestry systems. The
identification of the species was carried through in an area of 2,42 ha, where at the age of 15,5 years a test
of lineages/origins of M. urundeuva, was installed joined with T. micrantha, currently besides the aroeira,
the area is also colonized by other tree species and Brachiaria brizantha. In the study of natural regeneration
in the area, 1718,27 ind/ha belonging to 36 botanical families were identified, pertaining. The families that
presented the greater number of species in regeneration was the Leguminosae, with 11 species, Myratceae
and Anonaceae, with 4 species each and Clusiaceae and Malpighiaceae, with 3 species in each family.
Uniterms: agroforestry system, forest spalling, natural regeneration.
Profa. Dra. da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina - FCAA
Professor (a) da Universidade Estadual Paulista – Ilha Solteira
3
Tecnico de apoio a pesquisa –FE/Ilha Solteira
1
2
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 40 - 45
41
INTRODUÇÃO
As florestas tropicais formam um conjunto
de áreas em diferentes estádios de sucessão, uma
complexa dinâmica de renovação contínua da
floresta, restaurando os pontos de distúrbio (13).
Essas áreas podem ter diferentes composições de
espécies, pois representam comunidades em
diferentes graus de maturidade sucessional (14) .
Entender como as espécies vegetais se
estabelecem, colonizam e se sucedem no tempo e
no espaço tem sido um esforço constante daqueles
que se dedicam ao estudo dos mecanismos da
ecologia vegetal. O conhecimento dos
mecanismos de sucessão ecológica pode trazer
benefícios a humanidade, principalmente no que
se refere ao manejo sustentado dos recursos
naturais e à reabilitação de áreas colocadas à
margem do sistema produtivo (3).
A sucessão secundária acontece com a
dinâmica florestal, em que diferentes grupos
sucessionais irão se estabelecendo e se
substituindo até que as clareiras se reconstituam.
A substituição de espécies e grupos ecológicos,
ou seja, a sucessão secundária, após um distúrbio
natural ou provocado, é um processo lento. A
sucessão florestal demanda tempo e simplesmente
proteger uma área degradada, não garante a sua
recuperação. Além do tempo é necessário que
ocorram condições favoráveis, como a chegada
de sementes (dispersão) ou a presença de
sementes no solo (banco de sementes), em que
as espécies que se instalarem no local pertençam
a categorias sucessionais distintas, de forma a se
substituirem no tempo (5).
O estudo da regeneração de espécies
arbóreas e arbustivas nativas que ocorrem em
áreas degradadas, incluindo a estimativa de
parâmetros populacionais e outros aspectos
ecológicos, é um passo importante para obtenção
do conhecimento do comportamento das
diferentes espécies que possam compor
determinada vegetação (2).
A fragmentação florestal ocorrida nos
últimos anos, devido ao acelerado processo de
desmatamento, tem ocasionado a perda da
diversidade biológica e sustentabilidade no ciclo
natural das florestas. A partir da caracterização
de fragmentos remanescentes, concluiu-se que as
áreas de proteção natural sofreram diversas
alterações devido a ações antrópicas e naturais e
que alguns destes fragmentos necessitam de
interferência para impedir o processo de perda
da biodiversidade diminuindo a instabilidade das
populações, comunidades e ecossistemas. Assim,
a caracterização destes fragmentos deve ser a
etapa inicial no diagnóstico ambiental, fornecendo
subsídios para a definição de um manejo adequado
(4)
.
A expansão agropecuária nos trópicos
sempre esteve associada à derrubada de florestas
e vegetação nativa, com a eliminação da maioria
das árvores existente para o estabelecimento das
pastagens. Para tornar-se mais competitiva, a
pecuária brasileira vem preterindo o modelo
extrativista em favor daqueles que exigem
investimentos em novas tecnologias e processos
de produção ambientalmente ajustados, uma
solução viável para enfrentar esses problemas é o
estabelecimento de sistemas agroflorestais. Os
sistemas agroflorestais têm sido uma alternativa
de uso da terra onde várias espécies são
cultivadas simultaneamente. Uma modalidade dos
sistemas agroflorestais é o sistema silvipastoril,
onde árvores forrageiras e animais, podem
conviver em perfeita harmônia (16).
Este trabalho teve como objetivo avaliar
a regeneração natural de espécies florestais em
sistema silvipastoril.
MATERIAL E MÉTODOS
O local experimental corresponde a uma
área de 2,42 ha, onde aos 15,5 anos foi instalado
um teste de progênies/procedências de M.
urundeuva, consorciada com T. Micrantha.
Atualmente além da aroeira, a área encontra-se
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 40 - 45
42
colonizada também por outras espécies arbóreas
e por Brachiaria brizantha. A regeneração do
local deve-se a banco de sementes que
permaneceu no solo, brotação de raízes e também
por dispersão de sementes por animais, já que a
área encontra-se muito próxima a um fragmento
de cerrado.
A identificação das espécies arbóreas a
campo foi realizada por Cambuim (comunicação
pessoal) (2) e a identificação da nomenclatura
botânica com base nos trabalhos de diversos
autores (15, 1, 7, 10, 8, 6).
A análise de abundância de cada espécie
foi estimada de acordo com a expressão proposta
por (12).
Ab(abs) =
Número de plantas de cada espécie
Número de ha
Ab(abs) = abundância absoluta
Ab% =
Ab(abs)
x100
Número de plantas/ha
Ab% = abundância relativa
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após 15,5 anos de plantio de M.
urundeuva consorciada com T. micrantha, foi
realizado o levantamento da ocorrência de outras
espécies no local e os resultados estão expressos
na Tabela 1.
O teste de progênies/procedências foi
instalado inicialmente com M. urundeuva e T.
micrantha. A instalação foi realizada em
consórcio, levando em consideração que a M.
urundeuva apresenta um comportamento
ecológico de secundária tardia, e a T. micrantha
de pioneira. Assim, após 4 anos de instalação do
teste verificou-se na T. micrantha a morte dos
indivíduos desta espécie, proporcionando
condição para o aparecimento de novas espécies
arbóreas. Esse processo de regeneração natural
proporcionou no local a identificação de 71
espécies mais a M. urundeuva. As espécies de
ocorrência natural, foram classificadas segundo
Kageyama e Gandara, (1993), em muito comuns
(20-100 ind/ha), comuns (1-20 ind/ha) e raras
(0,1-1 ind/ha).
No estudo de regeneração natural na área,
foram identificados 1718,27 ind/ha, pertencentes
a 36 famílias botânicas. Verificou-se que as famílias
que apresentaram maior número de espécies em
regeneração foram a Leguminosae, com 11
espécies, Myratceae e Anonaceae, com 4 espécies
cada e Clusiaceae e Malpighiaceae, com 3
espécies em cada família. Dentre as 71 espécies
identificas 4 delas se destacaram, pois
apresentaram uma alta abundância absoluta, a
Byrsonima verbascifolia (340,49 ind/ha),
Xylopia aromatica (267,76 ind/ha), Alibertia
sessilis (213,22 ind/ha) e Zanthoxyllum hyemale
(11,98 ind/ha), que juntas correspondem a
54,34% da densidade total da área, todas as outras
67 espécies totalizam 45,66% do total de
indivíduos da área. Das espécies encontradas no
local, 19 foram consideradas muito comuns, 25
consideradas comuns e 27 espécies foram de
ocorrência rara.
O principal meio de regeneração das
espécies tropicais dá-se a partir da chuva de
sementes (sementes dispersas recentemente), por
meio do banco de sementes do solo (sementes
dormentes no solo), através do banco de plântulas
(plântulas estabelecidas e suprimidas no chão da
floresta), e em função da formação de bosque
(emissão rápida de brotos e/ou raízes provenientes
de indivíduos danificados) (18).
O processo de recolonização pela
vegetação em um ambiente perturbado a partir
dos bancos de sementes no solo, mantém um papel
fundamental no equilíbrio dinâmico da floresta.
Denomina-se banco de sementes no solo, a todas
as sementes viáveis no solo ou asssociadas à
serapilheira para uma determinada área num dado
momento. É um sistema dinâmico com entrada de
sementes por meio da chuva de sementes e
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 40 - 45
43
dispersão, podendo ser transitório, com sementes
que germinam dentro de um ano após o início da
dispersão, ou persistem, como sementes que
permanecem no solo por mais de um ano (12). Esta
persistência personifica, uma reserva do potencial
genético acumulado (9).
O entendimento dos processos de
regeneração natural de comunidades vegetacionais
é importante para o sucesso do seu manejo (18).
Uma das informações necessárias é o
conhecimento do estoque de sementes existentes
no solo, ou seja, do banco de sementes do solo.
TABELA 1. Ocorrência de outras espécies arbóreas no testes de progênies/ procedências de M.
urundeuva instalado em Selvíria- MS aos 15,5 anos.
Nome comum
Nome científico
Família
Ocorrência AB (abs)
AB%
Murici
Byrsonima verbascifolia
Malpighiaceae
MC
340,49
19,82
Pimenta de macaco
Xylopia aromatica
Annonaceae
MC
267,76
15,59
Marmelo de cachorro
Alibertia sessilis
Rubiaceae
MC
213,22
12,41
Mamica de porca
Zanthoxyllum hyemale
Rutaceae
MC
111,98
6,52
Algodãozinho
Asclepias curassavica
Asclepiadaceae
MC
86,36
5,02
Copaíba
Copaifera sp
Leguminosae
MC
84,29
4,90
Mamica de cadela
Zanthoxylum subserratum
Rutaceae
MC
74,38
4,33
Calunga
Simaba ferruginea
Simaroubaceae
MC
49,17
2,86
Pau terra de folha larga
Qualea grandiflora
Vochysiaceae
MC
42,14
2,45
Murici de anta
Byrsonima sp
Malpighiaceae
MC
38,01
2,21
Paineira
Chorisia speciosa
Bombacaceae
MC
35,53
2,06
Camboatá
Sapindaceae
Sapindaceae
MC
35,12
2,04
Cabelo de Nego
Ouratea spectabilis
Ochnaceae
C
3,30
0,19
Vergatesa
Anemopaegma arvense
Bignoniaceae
C
2,89
0,17
Açoita – cavalo
Luehea paniculata
Tiliaceae
C
2,89
0,17
Cambuim
Myrciaria tenella .
Myrtaceae
C
2,06
0,12
Fumo bravo
Solanum mauriciatrum
Solanaceae
C
1,65
0,09
Sucupira preta
Bowdichia virgilioides
Leguminosae – Fabaceae
C
1,24
0,07
Roseira do campo
Kielmeyera rubriflora
Clusiaceae
C
1,24
0,07
Araçá
Psidium cattleyanum
Myrtaceae
C
1,24
0,07
Nó de cachorro
Heteropterys aphrodisiaca
Malpighiaceae.
C
1,23
0,07
Guariroba peluda
Campomanesia pubescens
Arecaceae
C
1,23
0,07
Pequi
Caryocar brasiliense
Caryocaraceae
R
0,82
0,04
Monjoleiro
Acacia polypylla
Leguminosae
R
0,82
0,04
Marolo
Annona crassiflora
Annonaceae
R
0,82
0,04
Mandiocão
Schefflera morototoni
Araliaceae
R
0,82
0,04
João da costa
Echis tes peltata
Apocinaceae
R
0,82
0,04
Jacarandá caroba
Jacaranda caroba
Bignoniaceae
R
0,82
0,04
Guariroba
Syagrus oleracea
Arecaceae
R
0,82
0,04
Grão de galo
Cordia myxa
Boraginaceae
R
0,82
0,04
Angico vermelho
Anadenanthera macrocarpa
Leguminosae – Fabaceae
R
0,82
0,04
Santa barbara
Melia azedarach
Meliaceae
R
0,41
0,02
Pinha
Annona squamosa
Annonaceae
R
0,41
0,02
Pau santo
Kielmeyera coriacea
Clusiaceae
R
0,41
0,02
Negamina
Siparuna guianesis
Monimiaceae
R
0,41
0,02
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 40 - 45
44
Tabela 1: (continuação)
Nome comum
Nome científico
Família
Ocorrência AB (abs)
AB%
Murici de lobo
Solanum lycocarpum
Solanaceae
R
0,41
0,02
Macaúba
Acrocomia aculeata
Palmae
R
0,41
0,02
Lobeira
Solanum lycocarpum
Solanaceae
R
0,41
0,02
Japeba
Pothomorphe umbellata
Piperaceae
R
0,41
0,02
Guapeva
Chrysophyllum imperiale
Sapotaceae
R
0,41
0,02
Goiaba
Psidium guajava
Myrtaceae
R
0,41
0,02
Fava de anta
Dimorphandra mollis
Leguminosae- Caesalpinoideae
R
0,41
0,02
Capitão
Zinnia elegans
Compositae
R
0,41
0,02
Capeva
Pothomorphe umbellata
Piperaceae
R
0,41
0,02
Canelão
Ocotea velutina
Lauraceae
R
0,41
0,02
Canafistula
Senna multijuga
Leguminosae- Caesalpinoideae
R
0,41
0,02
Cajuzinho
Anacardium humile
Anacardiaceae
R
0,41
0,02
Cafezinho
Palicourea marcgravii
Rubiaceae
R
0,41
0,02
Baru
Dipteryx alata
Leguminosae-Fabaceae
R
0,41
0,02
MC: muito comum; C: comum; R: rara
CONCLUSÃO
A área de instalação do teste de progênies/
procedências encontra-se em processo de
revegetação, devido ao grande número de plantas
jovens. A alta diversidade de espécies
provavelmente está relacionada a alguns fatores
como, proximidade de um fragmento florestal,
banco de sementes do solo e rebrota de raízes.
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Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 40 - 45
Recebido: 09/02/2010
Aceito: 26/02/2010
46
CIÊNCIAS AGRÁRIAS
TRABALHO ORIGINAL
EFICÁCIA DE ANTIPARASITÁRIOS NO CONTROLE DE HELMINTOSES EM EQUINOS
MANTIDOS À PASTO NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
EFFECTIVENESS OF CONTROL ANTIPARASITICS OF HELMINTHS ON PASTURE IN
HORSES IN THE NORTHWEST REGION OF THE STATE OF SÃO PAULO
Renata Furlan Pereira de Souza1, Aline Pereira Haick1, Maurício Neri Martins1, Bruno Gonçalves
Canella1, Victor Hugo de Moraes Gutierres1, Mário Junqueira Dantas1, Tiago Luis Iosimuta Camilotti1,
João Paulo Demarque Beltran1, Ricardo Velludo Gomes de Soutello2
RESUMO
Na equinocultura as perdas causadas por verminoses levam a redução de peso e fertilidade,
susceptibilidade a doenças, além de danos variados que vão desde lesões em órgãos vitais do sistema
digestivo até graves distúrbios nos processos enzimáticos e hormonais, podendo ocasionar a morte. O uso
indiscriminado de anti-helmínticos existentes no mercado como forma de controle e tratamento, pode levar
ao surgimento de populações de vermes resistentes aos princípios ativos mais utilizados. Devido à escassez
de estudos in vivo referentes à resistência parasitária em equinos considerou-se oportuno avaliar a eficácia
das bases medicamentosas mais utilizadas em animais naturalmente infectados em duas propriedades
localizadas na região noroeste do estado de São Paulo. Foram avaliados 80 animais na propriedade A e 45
animais na propriedade B de diferentes sexos, idades e raças, mantidos nas mesmas condições de manejo,
e divididos conforme a categoria animal em grupos homogêneos, após a realização de um exame
coproparasitológico prévio, conforme a contagem de ovos por grama de fezes (OPG). Na propriedade A,
foram testadas três bases medicamentosas, sendo os grupos: I- ivermectina, II- ivermectina + pamoato de
pirantel, III- febendazole, IV- controle. Já na propriedade B, testaram-se apenas duas bases medicamentosas,
sendo os grupos: I- ivermectina + pamoato de pirantel, II- febendazole, III- controle. Os anti-helmínticos,
em pasta, foram administrados por via oral, de acordo com a dose recomendada pelo fabricante. Sete dias
após a aplicação, foi determinada a redução das contagens de ovos (R-OPG). A análise dos resultados pelo
programa RESO indicou na propriedade A uma eficácia de R-OPG 100% nos grupos I e II, e no grupo III
R-OPG 96%, caracterizando sensibilidade aos três anti-helmínticos testados. Na propriedade B, o teste de
redução do OPG indicou uma eficácia de 99,6% ao uso de ivermectina + pamoato de pirantel, e 34,5% ao
febendazole, caracterizando um quadro de resistência a essa última droga, provavelmente devido ao seu
uso contínuo na propriedade avaliada.
Unitermos: anti-helmínticos, eqüinos, resistência.
ABSTRACT
In equinecultures, the losses caused by worms lead to weight reduction and infertility, susceptibility
to diseases, besides various damages that goes from, damage in vital organs of the digestive system to
serious disorders in hormonal and enzymatic processes, that may lead to death. The indiscriminated use of
anthelminthics avaiable on the market as a way of treatment and control, may lead the to appearence of
worm populations resistent to the most used active principles. Due to the scarcity of in vivo studies referent
to the parasite resistance in equines, it was considered important to evaluate the effectiveness of drugs most
used in natural infected animals in two properties located in the northwest region of São Paulo state. Eighty
animals from A property and 45 animals from B property, from different sexes, ages and races were
evaluated. They where kept in the same handling conditions and divided according to the animal category in
homogeneous group, after the achievement of a previous stool test, according to the egg count per gram of
feces. At the A property 3 drugs were tested groups: I- ivermectin, II- ivermectin + pamoato de pirantel, IIIfebendazole, IV- control. At the B property only two drugs were tested groups: I- ivermectin + pamoato de
pirantel, II- febendazole, III- control. The anthelminthics in paste form, were orally given according to the
manufacturer´s recommended doses. Seven days after application, there was a reduction of the egg counts.
The analysis of the result by the RESO program indicated that the A property had an effectiveness of 100%
reduction of the egg count in groups I and II, and Group III: 96% reduction of the egg count, demonstrating
sensitivity to the anthelminthics tested. At the B property, the test of reduction of the egg count indicated
99,6% of effectiveness to the use of ivermectin + pamoato de pirantel and 34,5% to febendazole, it
demonstrated a framework of resistence to this last drug, probably due to the continuous use at the evaluated
property.
Uniterms: ant-helminthics, equines, resistance.
1
2
Aluno (a) do curso de Medicina Veterinária da FCAA, Andradina – SP
Prof. Dr. do curso de Medicina Veterinária da FCAA
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 46 - 50
47
INTRODUÇÃO
Na equinocultura as perdas econômicas
causadas por parasitoses são significativas em
animais utilizados para trabalho, esporte e
reprodução, quando se leva em consideração a
redução de peso e fertilidade, aumento na
susceptibilidade a doenças, além do alto custo com
tratamentos profiláticos e curativos (17).
O hábito alimentar desses animais favorece
o parasitismo interno, que geralmente apresentase de forma subclínica, tendo como consequência
fraqueza, pelagem áspera, retardo de crescimento,
hiporexia, anemia, cólicas, diarréias ou
constipações, com danos variáveis, podendo
ocasionar a morte, principalmente em animais
jovens. Podem também causar doenças como:
aneurisma verminótico, gastrenterite, nefrites,
hepatite, pneumonias, dermatites e outras
alterações cutâneas (9).
Segundo uma distribuição mundial dos
parasitas de eqüinos, guardadas as variações
sazonais nos países de clima temperado, as
infestações por todo e qualquer parasita são
constantes, e raramente encontram-se aquelas
causadas por um parasita isoladamente, mas sim
por uma associação deles. A fauna parasitária é
vasta abrangendo várias famílias/gêneros distintas,
entre elas, os pequenos estrôngilos:
Cyathostomum spp., Triodontophorus spp.,
Cylicostephanus spp., os grandes estrôngilos:
Strongylus vulgaris, S. equinus, S. edentatus e
ainda, Parascaris equorum, Oxyuris equi,
Strongyloides westeri, Trichostrongylus axei,
Gasterophilus spp., Habronema spp.,
Dictyocaulus arnfield, Anoplocephala spp (13).
O controle de parasitas é complexo e
envolve diversos fatores, entre eles o histórico da
propriedade, resistência as drogas, localização
geográfica, clima, manejo alimentar, quantidade de
animais, sistema de criação, período gestacional
das éguas, peso e idade de cada animal. O motivo
de se fazer vermifugação é reduzir ou eliminar a
carga parasitária dos animais e evitar doenças e
consequências graves e irreversíveis (1).
Na maioria dos plantéis utilizam-se
intensamente os compostos anti-helmínticos por
sua praticidade, eficiência e segurança na saúde
desses animais. Os medicamentos anti-helmínticos
constituem um grupo de compostos utilizados com
fins curativos e preventivos desta classe de
parasitos, que se localizam principalmente no trato
gastrintestinal(19). Dentre os compostos disponíveis,
existem quatro grupos químicos distintos que são
os mais utilizados em equinos: os benzimidazóis,
os imidazotiazóis que possuem baixo índice
terapêutico em equinos, as pirimidinas, e o grupo
das lactonas macrocíclicas que são intensamente
aplicadas (6).
Recomenda-se vermifugação inicial aos
60 dias com doses consecutivas a cada três
meses (1). Em animais que não são vermifugados
há muito tempo deve-se utilizar primeiramente uma
dose menor e o restante da dose em 20 dias, para
evitar que os parasitos obstruam a luz intestinal,
principalmente em animais jovens (13). É importante
que seja feita a mudança de base a cada três ou
quatro aplicações, pois, o uso contínuo de antihelmínticos, tem potencial indução de populações
resistentes a esses fármacos (5) , sendo o
aparecimento da resistência parasitária
praticamente inevitável e esta característica
transferida para as próximas gerações (10).
Devido à escassez de estudos in vivo
referentes à resistência parasitária em equinos
considerou-se oportuno avaliar a eficácia das
bases medicamentosas mais utilizadas no mercado
em animais naturalmente infectados em duas
propriedades localizadas na região noroeste do
estado de São Paulo.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram avaliados animais naturalmente
infectados, de raça, sexo e idade variados, criados
a pasto, durante o mês de março de 2010, em
uma propriedade localizada no município de
Lavínia (A) e outra no município de Andradina
(B), ambas situadas na região noroeste do estado
de São Paulo.
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 46 - 50
48
No primeiro dia do experimento foi
realizada, individualmente, a coleta de fezes e a
contagem de ovos por grama de fezes (OPG) para
identificar a carga parasitária, levando em
consideração valores igual ou superiores a 200.
O exame foi realizado no Laboratório de
Parasitologia da Faculdade de Ciências Agrárias
de Andradina – SP. Os ovos foram quantificados
de acordo com a técnica preconizada por Gordon
& Whitlock (1939) modificada (4), e conforme o
valor de OPG realizou-se a distribuição dos
animais em grupos homogêneos, de forma que a
média dos grupos fosse similar (A=2132 e
B=1072).
Na propriedade A avaliaram-se 80
equinos (quatro grupos com 20 animais cada) e
na propriedade B 45 equinos (três grupos com
15 animais cada). Os grupos estão representados
na Tabela 1.
TABELA 1. Divisão dos grupos e bases medicamentosas utilizadas na propriedade A e propriedade B.
Grupos
Propriedade A
I
Ivermectina
II
Propriedade B
Ivermectina + pamoato de pirantel
Ivermectina + Pamoato de pirantel
III
Febendazole
IV
Controle
Os
medicamentos
utilizados
apresentavam-se na forma de pasta e gel em
seringa plástica, com êmbolo graduado e foram
administrados via oral de acordo com o peso,
como recomendam os fabricantes.
O monitoramento foi feito sete dias após
a vermifugação, através de exames de OPG e a
avaliação da eficácia baseada em método (2) que
avalia à contagem de ovos de helmintos, baseandose na relação entre diferenças de posturas médias
do grupo controle e dos grupos tratados. Os dados
obtidos foram analisados pelo programa RESO
preconizado pela Associação Mundial para o
Desenvolvimento da Parasitologia Veterinária.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nos exames fecais dos equinos foi
observada uma alta infecção por nematódeos,
apresentando somente parasitas da ordem
Strongylidae, identificados pela morfologia do
ovo. A análise dos resultados pelo programa RESO
indicou na propriedade A eficácia das três drogas
utilizadas tendo redução de OPG (R-OPG) 100%
nos grupos I e II, e no grupo III R-OPG 96%, e
na propriedade B, o R-OPG indicou uma eficácia
de 99,6% ao uso de ivermectina + pamoato de
pirantel, e 34,5% ao febendazole, caracterizando
Febendazole
Controle
——————
um quadro de resistência a essa última droga. Para
o anti-helmíntico ser considerado efetivo no
controle das verminoses, os produtos deve
propiciar um percentual de R-OPG superior a
95% (10).
Os mesmos resultados do presente estudo
foram obtidos por autores (18,12) que avaliaram a
eficácia da ivermectina na redução da contagem
de ovos de parasitas em cavalos. Outro estudo (3)
também relatou a eficiência de 100% dos
antiparasitários abamectina e ivermectina, com a
mesma forma de apresentação em gel, via oral,
utilizada neste trabalho.
Em Londrina-PR (15) foi avaliada a
resistência de pamoato de pirantel e outras duas
drogas, mebendazol e oximebendazol,
pertencentes ao mesmo grupo que o febendazole
(benzimidazol). Os três anti-helmínticos testados
apresentaram resistência, tendo R-OPG de
86,2%, 20,8% e 56,2% respectivamente.
O uso de ivermectina oral apresentou
maior redução de OPG (96%) em relação ao uso
da mesma droga via “pour-on” (59%), assim como
outras pesquisas realizadas com equinos que
observaram melhores resultados com
medicamentos em pasta, tendo maior espectro de
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 46 - 50
49
ação (20,16), justificando assim a opção pela via de
aplicação utilizada neste trabalho.
A resistência do anti-helmíntico
febendazole pode ser atribuída ao uso
indiscriminado e pelo longo tempo da droga
disponível no mercado. Faz-se necessário que
estudos mais abrangentes sejam realizados com o
objetivo de avaliar a real dimensão da resistência
anti-helmíntica em equinos, pois é provável que
este problema já esteja sendo causa importante
de prejuízos econômicos no Brasil.
A associação de pamoato de pirantel e
ivermectina foi utilizada neste estudo com
resultados satisfatórios. Por outro lado, em outros
estudos (7, 8) em que somente o pamoato de pirantel
foi administrado, verificou-se resistência em
parasitas de equinos. A união de princípios ativos
antiparasitários é amplamente utilizada no
tratamento para endoparasitoses, já que aumenta
o espectro e o período da ação dos
antiparasitários.
Resultados semelhantes aos encontrados
na propriedade B foram obtidos em estudos
realizados no estado de São Paulo, demais estados
brasileiros e outros países da América do Sul. No
município de Caçapava do Sul-RS(14) o uso de
febendazole apresentou R-OPG de 84%. No sul
do Chile (21) R-OPG de 29,2%, e em Itatinga-SP
(18)
a mesma droga apresentou R-OPG de 73,6%.
Nesses estudos, mesmo com diferenças na
redução de ovos por grama de fezes, todos
apresentaram resistência frente ao uso do antihelmíntico febendazole, semelhante ao presente
trabalho sugerindo a existência de cepas resistentes
de parasitas de helmintos aos benzimidazóis.
Não há, no Brasil, nenhum estudo amplo
a respeito da frequência de tratamentos antihelmínticos realizada em equinos, porém, há
algumas recomendações técnicas de esquemas
supressivos com tratamentos a cada dois meses.
Isso poderia levar, rapidamente, à seleção de
parasitos resistentes, como observado neste
trabalho. Uma das recomendações para o
retardamento da seleção de populações de
parasitos resistentes é o tratamento apenas de
equinos com OPG acima de 200 e no caso de
fêmeas adultas somente quando o valor for acima
de 500(11).
CONCLUSÃO
Com base nos dados observados no
presente experimento, concluiu- se que a
administração oral de ivermectina, e pamoato de
pirantel associado à ivermectina mostrou-se 100%
eficiente e segura para a redução de OPG em
equinos naturalmente infectados criados a pasto.
O produto composto por febendazole mostrouse 96% eficiente em uma propriedade, porém em
outra, não eliminou a totalidade de parasitas dos
equinos tratados. Sugere-se medidas de controle
seletiva visando menor seleção de parasitos
resistentes.
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Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 46-50
Recebido: 13/07/2010
Aceito: 12/08/2010
51
CIÊNCIAS AGRÁRIAS
TRABALHO ORIGINAL
DESEMPENHO E CARACTERÍSTICA DE CARCAÇA DE CORDEIROS CRUZA TEXEL
E CRUZA SANTA INÊS EM CONFINAMENTO TRATADOS COM O IONÓFORO
SALINOMICINA
CARCASS PERFORMANCE AND CHARACTERISTIC OF FEEDLOT TEXEL AND
SANTA INÊS LAMBS TREATED WITH THE IONOPHORE SALINOMICINA
Brenda Carla Luquetti1, José Reinaldo de Amorim Bernardi2, Camila Motta Marin Bernardi2,
Diego Gonçalves dos Santos3, Leonardo de Oliveira Martins3,Vanderlei Watanabe Alves de Almeida3,
Ricardo Velludo Gomes de Soutello4
RESUMO
A salinomicina é um ionóforo que tem sido eficiente no controle da eimeriose em bovinos e na
melhoria da conversão alimentar e ganho de peso, entretanto, trabalhos experimentais relativos à eficácia
desses compostos em ovinos são bastante limitados. As raças Santa Inês e Texel têm muita relevância no
sistema de produção de cordeiros precoces, sendo que os animais são terminados em confinamento. O
objetivo deste trabalho foi comparar o desempenho de cordeiros cruza Texel e cruza Santa Inês terminados
em confinamento, com uso ou não de salinomicina. Foram utilizados 10 cordeiros machos não castrados
cruza Texel (Tx) e 10 cruza Santa Inês (Si). Metade dos cordeiros cruza Santa Inês e metade cruza Texel
receberam salinomicina (com) na dosagem de 28 mg/dia e o restante representou o grupo controle (sem).
Foi avaliada a espessura de gordura subcutânea em mm ao fim do período experimental. A dieta foi
calculada para ganho de peso de 0,200 kg/dia. Os animais cruza Santa Inês tratados com salinomicina (Si
com) mostraram bons resultados de ganho de peso total, assim como os animais cruza Texel (Tx sem).
Os animais cruza Texel tratados com salinomicina (Tx com) apresentaram o pior ganho de peso total,
provavelmente devido a maior infecção parasitária. Nas condições do presente experimento a utilização
do ionóforo salinomicina na ração não proporcionou aumento significativo no ganho de peso dos animais.
Unitermos: aditivo, espessura de gordura subcutânea, ganho de peso, ovinos.
ABSTRACT
The ionophore salinomycin is one that has been effective in controlling eimeriosis in cattle and
improved feed conversion and weight gain, however, experimental studies on the efficacy of these compounds
in sheep are quite limited. The Santa Ines and Texel has much relevance in the production system of lambs,
and the animals are finished in feedlot. The objective of this study was to compare the performance of
Texel and Santa Ines lambs finished in confinement, with or without use of salinomycin. Ten animals were
used Texel lambs (Tx) and 10 crosses Santa Ines (Si), and non-castrated males.Half of Santa Ines lambs
and Texel half received salinomycin (with) at a dosage of 28 mg / day and the rest represented the control
group (without).The diet was calculated to gain weight 0,200kg/dia.Animals crosses Santa Ines treated
with salinomycin showed good GPD, as well as animals Texel without ionophore. Texel animals treated
with salinomycin (Tx to) had the worst GPD, probably due to increased parasitic infection. Under the
conditions of this experiment the use of the ionophore salinomycin in the diet did not increase in weight gain
of animals.
Uniterms: additive, fat thickness, ovines, weight gain.
Prof. Dr. do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina (FCAA).
Profs. Ms. do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina (FCAA).
3
Alunos do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina (FCAA).
4
Prof. Dr. da Universidade Estadual Paulista – UNESP, Campus de Dracena-SP.
1
2
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 51 - 54
52
INTRODUÇÃO
Os ionóforos são usados para controlar a
coccidiose e estimular o ganho de peso em aves,
bovinos e outras espécies. São poliésteres
carboxílicos, que formam complexos lipossolúveis,
facilitando o transporte iônico através de
membranas biológicas e causando graves
distúrbios celulares funcionais e morfológicos aos
parasitas(8).
Em geral, esses componentes não são
suplementos de nutrientes essenciais para os
ruminantes, no entanto, são usados com foco no
aumento da eficiência da produção, através da
melhoria do processo de fermentação no rúmen e
redução da ocorrência de enfermidades,
particularmente as de origem metabólicas (8).
Os ionóforos de uso mais freqüente em
medicina veterinária são monensina, salinomicina,
narasina e lasalocida. A salinomicina é utilizada em
ruminantes especialmente, para a prevenção da
eimeriose (4). Esta também tem sido estudada na
prevenção da acidose lática, onde animais que
apresentaram quadro de acidose clínica e
receberam salinomicina se recuperaram mais
rapidamente em relação ao grupo controle (3). No
entanto, trabalhos experimentais relativos à eficácia
desses compostos em ovinos e caprinos são
bastante limitados.
O uso de salinomicina nas doses de 1 a 2
mg/kg, resultou em maior ganho de peso em
caprinos tratados(9). Em outro experimento onde
foi utilizada, preventivamente a salinomicina nas
doses de 1 mg/kg na ração de cabritos leiteiros
nas fases de cria e recria, observaram-se
excelentes resultados, tanto em termos de ganho
de peso como na redução do parasitismo (10).
Em ovinos o fornecimento de salinomicina
é muito utilizado em cordeiros na fase de
terminação, podendo ser administrado via oral na
ração, na água ou no leite. O tratamento
preventivo, que consiste na administração de
coccidiostáticos incorporados na água, no leite ou
na ração é recomendado para rebanhos criados
em regime de confinamento (10).
O uso de até 28 ppm de salinomicina por
um período de 62 dias proporcionou melhor
conversão alimentar de ovinos em confinamento,
da ordem de 29,18%, sem comprometer a
atividade das enzimas relacionadas com as funções
hepáticas (GOT e GGT) e os parâmetros séricos
nutricionais avaliados (2). Assim, o objetivo deste
trabalho foi comparar o desempenho de cordeiros
cruza Texel e cruza Santa Inês terminados em
confinamento, com uso ou não de salinomicina.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido nas
dependências da Faculdade de Ciências Agrárias
de Andradina/SP. Foram utilizados 10 animais
cordeiros cruza Texel (Tx) e 10 cruza Santa Inês
(Si), não castrados e machos, com idade média
de 180 dias e peso médio inicial de 24,4 kg,
distribuídos segundo Delineamento Inteiramente
Casualizado (DIC), em dois tratamentos. Metade
dos cordeiros receberam salinomicina (com) na
ração na dosagem de 28 mg/dia e o restante
representou o grupo controle (sem). Os animais
receberam água e ração ad libitum no período
da manhã.
As dietas fornecidas continham 16% de
proteína bruta (PB) e 65% de Nutrientes
Digestíveis Totais (NDT), a fim de atender as
exigências para ovinos não-castrados em
crescimento, para níveis de ganhos de peso
diários estimados de 0, 200 kg/dia. Inicialmente,
os animais foram pesados, numerados e divididos
em baias individuais. O período de adaptação às
baias e a nova dieta foi de 14 dias. Antes de
entrarem nas baias do confinamento foi feita a
coleta de fezes para o exame de contagem de ovos
por grama de fezes (OPG) (7).
As fezes eram colhidas a cada 14 dias e
animais com OPG acima de 1500 eram
vermifugados, com o anti-helmíntico Moxidectina
1%. Os animais foram pesados após os 14 dias
de adaptação e dado início ao período
experimental de 42 dias, este prazo foi estipulado
para que atingissem 32 quilos ao fim do trabalho,
peso considerado bom para o abate. Os cordeiros
foram pesados aos 21 e 42 dias do início do
experimento, após jejum de sólidos de 12 horas,
para avaliar o peso vivo (PV) e ganho de peso
diário (GPD). Todos os dias a ração e as sobras
eram pesados para avaliação do consumo
voluntário de ração e cálculos de conversão
alimentar (CA). Os dados de ganho de peso
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 51 - 54
53
individual foram analisados pelo teste F ao nível
de significância de 5%, utilizando o software
Assistat 7.6 beta.
Para medir o grau de acabamento da
carcaça, foi utilizado um ultrassom Aloka 500
com transdutor de 12 cm e freqüência de 3,5
MHz e guia acústica para acoplamento. Foram
realizadas tricotomia, limpeza e aplicação de
óleo vegetal para perfeito acoplamento do
transdutor e a avaliação da espessura de
gordura subcutânea foi realizada no lado
esquerdo de cada animal dispondo o transdutor
de maneira perpendicular ao comprimento do
músculo Longissimus dorsi, entre a 12ª e a 13ª
costela, ao fim do experimento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste estudo o uso de salinomicina não
influenciou (P>0,05) o ganho de peso dos
cordeiros (Tabela 1). Resultados semelhantes
foram observados onde doses crescentes de
salinomicina também não influenciaram o ganho
de peso (2).
TABELA 1. Parâmetros de peso vivo inicial (PV Inicial), final (PV final), ganho de peso diário (GPD),
consumo médio diário (CMD), conversão alimentar (CA), espessura de gordura subcutânea (EGS mm),
ovos por grama de fezes (OPG) e número de vermifugações (Vermif.) de ovinos cruza Texel (Tx) e cruza
Santa Inês (Si), tratados (com) ou não (sem) salinomicina na ração.
PV Inicial
PV Final
GPD
CMD
(kg)
(kg)
(kg)
(kg/dia)
24,68
31,80
0,169
Tx sem
22,18
30,75
Si com
27,10
Si sem
23,65
Tratamentos
Tx com
a
CAa
EGS
OPG
Vermif.
Médio
1,27
7,5
2,00
4.750
7
0,204
1,30
6,4
1,94
2.525
2
35,80
0,195 NS
1,79
9,19
2,01
738
1
31,85
0,183
1,35
7,37
1,65
338
0
NS
CMD/GPD; NS: Não significativo (P>0,05).
Os animais Si (com) mostraram bons
resultados de GPD, no entanto consumiram mais
ração, piorando a CA, provavelmente devido ao
seu maior PV inicial. Os animais Tx (com),
apresentaram o pior GPD, provavelmente devido
a maior infecção parasitária, comprovado pela
contagem de OPG médio e número de
vermifugações, levando, apesar do menor consumo
de ração, a apresentarem pior CA em relação aos
animais Tx (sem). A média, de todos os cordeiros,
de PV Final do período experimental foi de 32,3
kg, valor inferior ao observado em outro
experimento(6) que avaliou animais cruza Texel x
Bergamácia, Texel x Santa Inês e Santa Inês
alimentados com diferentes dietas e obteve PV
Final de 44,8 kg, porém, estes animais obtiveram
um maior PV Inicial.
A média de CA encontrada neste
experimento foi de 7,61, maior que a encontrada
por outro autor(6), que foi de 6,36. O grupo que
deveria ter a menor CA é o grupo Tx (com),
porém, este grupo obteve CA de 7,50 kg,
resultado este influenciado pela maior carga
parasitária. Possivelmente, o período de 14 dias
de adaptação ao confinamento, não foi suficiente
para eliminar as cargas parasitárias provenientes
das pastagens, além de possível resistência dos
vermes a Moxidectina, anti-helmíntico utilizado no
experimento.
O maior GPD dos animais foi para o
tratamento Tx (sem), que foi de 0,205 kg/dia e
dos Si com 0,195 kg/dia ambos os resultados
inferiores aos encontrados em outro estudo (5) que
foi de 0,403 kg/dia e cordeiros mestiços da raça
Suffolk que obtiveram ganho de peso diário
(GPD) de 0,290 kg/dia com cordeiros cruza Texel
em confinamento (1). As medidas de EGS
demonstram que os animais ao fim do experimento
apresentavam bom acabamento de suas carcaças,
sugerindo que os animais poderiam ser abatidos,
com peso de 32,3 kg.
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 51 - 54
54
CONCLUSÃO
Nas condições do presente experimento a
utilização do ionóforo salinomicina na ração não
proporcionou aumento significativo no ganho de
peso dos animais e os animais cruza Texel foram
mais suscetíveis à verminose. No entanto, novos
trabalhos devem ser conduzidos, utilizando
maiores períodos de adaptação e maior controle
sobre a verminose, pois a mesma interfere sobre
o desempenho dos ovinos.
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Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 51 - 54
Recebido: 14/10/2010
Aceito: 27/11/2010
55
CIÊNCIAS AGRÁRIAS
TRABALHO ORIGINAL
AVALIAÇÃO DE CARCAÇAS DE CORDEIROS CRUZA TEXEL E CRUZA SANTA INÊS
EM CONFINAMENTO COM O USO DO IONÓFORO SALINOMICINA
EVALUATION OF CARCASSES AND CROSS TEXEL AND SANTA INÊS LAMBS WITH
THE IONOPHORES SALINOMYCIN USE
Ana Larissa Campos de Medeiros1, Danilo Gualberto de Sandre1, Diego Liberal Muniz1, José
Eduardo dos Santos Silva1, Leandro Fabrício Barbosa da Silva1, Brenda Carla Luquetti2, José
Reinaldo de Amorim Bernardi2, Ricardo Velludo Gomes de Soutello3, Sílvia Maria Marinho Storti2
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi, avaliar as características e rendimento de carcaça de cordeiros cruza
Texel e cruza Santa Inês, com e sem uso do antibiótico salinomicina na fase de terminação. Foram utilizados
20 cordeiros, não castrados, com idade média de 150 dias e peso médio de 23 Kg, distribuídos por
delineamento inteiramente casualizado (DIC) em quatro tratamentos. Foi mensurado através da técnica
de ultra-sonografia, área de olho-de lombo (AOL) e espessura de gordura subcutânea (EGS), além de
medidas corporais in vivo também foram realizadas análises pós-morte avaliando características nas carcaças
dos animais abatidos. Os resultados demonstram que as características analisadas não foram influenciadas
pelo uso de salinomicina na ração, embora, os animais cruza Texel, apresentaram AOL superior a do
Santa Inês. As medidas de rendimento de carcaça e EGS foram semelhantes, mas os cruza Texel possuem
carcaças mais compactas em relação ao Santa Inês.
Unitermos: área de olho de lombo, espessura de gordura subcutânea, ovino.
ABSTRACT
The aim of this study was to evaluate carcass characteristics and yield of Texel cross lambs and
Santa Inês cross, with or without the use of the antibiotic salinomicin in the finishing stage. We used 20
non-castrated lambs at the average age of 50 days and average weight of 23 kg. We measures, through
ultra-sound techniques, subcutaneous fat thickness (FT) and Longissimus muscle area (LMA). Live body
measures were taken as well as post-mortem analyses to evaluate characteristics of carcasses of slaughtered
animals. The results showed that the characteristics analyzed were not influenced by the use of salinomicin,
although, Texel cross animals, showed higher AOL when compared to Santa Inês cross. Carcass yield and
FT were similar, but Texel cross animals have more compact carcasses compared to Santa Inês.
Uniterms: fat thickness, Longissimus muscle area, ovine.
Alunos do Curso de Medicina Veterinária das FCAA- Andradina/SP
Professores do Curso de Medicina Veterinária da FCAA - Andradina/SP
3
Prof. Dr. da Universidade Estadual Paulista – UNESP, Campus de Dracena – SP.
1
2
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 55 - 59
56
INTRODUÇÃO
A ovinocultura de corte vem crescendo em
todas as regiões do Brasil. Atualmente, a meta em
ovinocultura de corte é a obtenção de animais
capazes de direcionar grandes quantidades de
nutrientes para a produção de músculos, uma vez
que o acúmulo desse tecido é desejável e reflete a
maior parte da porção comestível de uma carcaça
(11)
já que a composição e a qualidade da carcaça
são características de igual importância para
determinar a aceitação de novas raças e seus
cruzamentos (7).
A qualidade da carne é uma combinação
dos atributos sabor, suculência, textura, maciez e
aparência, associados a uma carcaça com pouca
gordura, muito músculo e preços acessíveis (10).
Assim, é fundamental a implantação de técnicas
racionais de criação, visando maior produtividade
e qualidade, para atender a um mercado
consumidor mais exigente.
A raça, idade ao abate, alimentação e
sistema de produção influenciam diretamente as
características de qualidade da carne, como uma
boa distribuição das gorduras de cobertura,
intermuscular e intramuscular, tecido muscular
desenvolvido e compacto e carne de consistência
tenra, com coloração variando de rosa nos
cordeiros até vermelho-escuro nos animais adultos
(9)
. Os produtores de carne ovina necessitam
conhecer as características do produto final e as
relações dessas com as preferências dos
compradores. Isso lhes fornecerá elementos de
avaliações para determinar o sistema de produção
mais adequado a ser utilizado em cada realidade
(5)
.
A avaliação de carcaça in vivo por
ultrassom tem sido testada desde o começo de
1950 e utilizada em programas de terminação em
bovinos para predição dos dias de confinamento,
estimando a composição corporal e o ponto ótimo
de acabamento (4). Outro estudo (13) afirma que a
utilização do ultrassom in vivo é uma ferramenta
efetiva para medir a área do músculo Longissimus
dorsi, a gordura subcutânea e outros tecidos.
No Brasil, a técnica de ultra-sonografia
para avaliação de carcaças de ovinos ainda é
pouco utilizada devido ao fato da cadeia produtiva
da carne ovina ainda não se encontrar totalmente
organizada, e também pela ausência de técnicos
capacitados e treinados para avaliação desses
animais com ultrassom (13). A utilização da ultrasonografia para estimativa da proporção de
músculo e gordura possibilita a descrição dos
níveis de musculosidade e acabamento de
carcaças, por meio da medição da área de olhode-lombo e espessura de gordura subcutânea (12),
e pode ser utilizada em programas de seleção,
formação de lotes para alcance de acabamento
homogêneo e avaliações de diferentes regimes
alimentares (8).
Assim, o objetivo desse estudo foi avaliar
as características e rendimento de carcaça de
cordeiros cruza Texel e cruza Santa Inês na fase
de terminação com uso do ionóforo salinomicina.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na Faculdade
de Ciências Agrárias de Andradina/SP. Foram
utilizados 10 ovinos cruza Texel e 10 cruza Santa
Inês, machos não castrados, com idade média de
150 dias e peso médio inicial de 23 kg, distribuídos
segundo um Delineamento Inteiramente
Casualizado (DIC) em quatro tratamentos: Texel
com salinomicina, Texel sem salinomicina, Santa
Inês com salinomicina e Santa Inês sem
salinomicina.
Os animais receberam água e ração ad
libitum, renovados no período da manhã. As
dietas foram formuladas em exigências para ovinos
não-castrados em crescimento, com níveis de
ganhos de peso diários de 0,200 kg/dia. A relação
volumoso:concentrado utilizada foi de 15:85 e os
alimentos usados nas formulações das rações
foram feno de Tifton e concentrado contendo 16%
de PB e 65% NDT. Metade dos cordeiros de
cada grupo genético recebeu salinomicina, na
ração na dosagem de 28 mg/dia e o restante
representou o grupo controle. Inicialmente, os
animais foram pesados, numerados e distribuídos
individualmente em baias.
Durante o período que permaneceram
confinados, foram pesados e as medidas corporais
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 55 - 59
57
obtidas in vivo, segundo metodologia apropriada
(5)
, com intervalos de 21 dias. Também foram
realizadas as mensurações da área de olho-delombo (AOL) e espessura de gordura subcutânea
(EGS) por ultrassom no mesmo período proposto,
sendo de 42 dias. O equipamento de ultrasonografia utilizado foi o ALOKA 500 com
transdutor de 12 cm e freqüência de 3,5 MHz e
guia acústica para acoplamento. Foram realizadas
tricotomia, limpeza e aplicação de óleo vegetal
para perfeito acoplamento do transdutor e as
avaliações realizadas no lado esquerdo do animal.
Para as mensurações de AOL e EGS, o
transdutor foi disposto de maneira perpendicular
ao comprimento do músculo Longissimus dorsi,
entre a 12ª e a 13ª costela. O abate foi realizado
após jejum de sólidos por 12 horas, por métodos
de abate humanitário, sendo o peso vivo obtido
com jejum antes do abate (PVCJ). Foram abatidos
oito animais, sendo dois por tratamento. Após o
abate, o peso da carcaça quente (PCQ) foi
registrado depois da evisceração. Em seguida,
pesaram-se as carcaças (peso da carcaça quente)
para obtenção do rendimento de carcaça quente
(peso da carcaça quente/peso ao abate*100).
As carcaças então foram transferidas para
câmara frigorífica entre 2°C a 4°C, onde
permaneceram por 24 horas, penduradas pelos
tendões em ganchos apropriados para manutenção
das articulações tarsometatarsianas, distanciadas
17 cm. Ao final desse período, pesaram-se as
carcaças, para obtenção do peso de carcaça fria
(PCF) e cálculo da porcentagem de perda ao
resfriamento (peso de carcaça fria - peso da
carcaça quente/peso da carcaça quente*100).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pode-se observar que a utilização do aditivo
na dieta não influenciou as características corporais
dos animais avaliadas pela altura da cernelha e
garupa, comprimento corporal, perímetro da
perna e torácico (Tabela 1). O uso da salinomicina
também não influenciou no aumento da AOL e
EGS, que foram obtidas por meio de ultrasonografia. As medidas de AOL e EGS indicam
que o período de confinamento foi suficiente para
produção de carcaças bem acabadas e
padronizadas. A média de EGS (1,90) foi superior
aos valores de 1,1 mm em ovinos Santa Inês em
confinamento (2) enquanto que a média de AOL
(9,12 cm²) foi semelhante (9,08 cm²) à encontrada
em outro estudo (4)
TABELA 1. Medidas corporais, área de olho-de-lombo (AOL) e espessura de gordura subcutânea
(EGS) de ovinos Texel e Santa Inês, terminados em confinamento com dietas contendo ou não salinomicina.
VARIÁVEIS
TEXEL
Controle
SANTA INÊS
Salinomicina
Controle
Salinomicina
Altura de cernelha (cm)
56
54
67
65
Altura de garupa (cm)
56
65
67
65
Comprimento corporal (cm)
67
64
68
70
Perímetro da perna (cm)
30
29
30
31
Perímetro torácico (cm)
69
68
73
74
EGS inicial (mm)
0,8
0,9
0,7
0,9
EGS final (mm)
2,00
1,94
2,01
1,65
AOL inicial (cm2)
5,69
6,47
6,05
7,53
AOL final (cm2)
8,82
9,88
8,06
9,70
Ganho AOL (cm²)
3,13
3,41
2,01
2,17
Ganho AOL (%)
55,00
53,00
33,00
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 55 - 59
29,00
58
As médias de peso de carcaça quente e fria foram 15,10 kg e 14,49 respectivamente (Tabela 2)
e atendem aos valores mínimos preconizados para caracterização de carcaças de boa qualidade (9) com
peso de carcaça quente igual ou maior que 14,3 kg e peso de carcaça fria igual ou maior que 13,8 kg.
A avaliação das perdas ao resfriamento fornece um indicativo do grau de proteção da carcaça.
Para todos os tratamentos, as carcaças apresentaram valores de perda superiores aos 4% corroborando
resultados semelhantes (9).
TABELA 2. Rendimento de carcaça de ovinos Texel e Santa Inês, terminados em confinamento com
dietas contendo ou não salinomicina.
Variável
TEXEL
Controle
SANTA INÊS
Salinomicina
Controle
Salinomicina
Peso ao abate (kg)
31,2
32,3
31,8
34,5
Peso da carcaça quente (kg)
14,3
15,9
14,3
16,2
Peso de carcaça fria (kg)
13,6
15,1
13,8
15,5
Perda ao resfriamento1 (%)
4,9
4,8
3,5
4,3
Rendimento quente2 (%)
45,8
48,6
45,1
47,0
Rendimento frio3 (%)
43,7
46,3
43,5
45,0
¹ Perda ao resfriamento (peso de carcaça fria - peso da carcaça quente/peso da carcaça quente*100).² Rendimento quente (peso da
carcaça quente/peso ao abate*100).³ Rendimento frio (peso de carcaça fria/peso ao abate*100).
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Os animais cruza Texel e cruza Santa Inês
tiveram medidas corporais semelhantes com o uso
ou não da salinomicina. Os animais cruza Texel
são mais curtos e mais baixos que os cruza Santa
Inês, mas apresentaram perímetro de perna
semelhante.
A EGS de todos os tratamentos foi
semelhante e os cruza Texel obtiveram maiores
medidas de AOL.
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PRODUCIÓN DE CARNE Y LECHE COM
BASES EN PASTOS Y FORRAJES, 1988, La
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COMITE DE ÉTICA
O presente estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação
Educacional de Andradina (FISMA/FCAA),
parecer no MVT 01/2009, e está de acordo com
os Princípios Éticos na Experimentação Animal
(COBEA).
2. CUNHA, M.G.G. et al. Características
quantitativas de carcaça de ovinos em Santa Inês
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Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 55 - 59
Recebido: 17/08/2010
Aceito: 27/09/2010
60
CIÊNCIAS AGRÁRIAS
REVISÃO LITERÁRIA
PERFIL NUTRICIONAL E ENRIQUECIMENTO DOS OVOS COMERCIAIS
NUTRICIONAL PROFILE AND COMMERCIAL EGGS ENRICHMENT
Brenda Carla Luquetti 1, Simone Cristina Grozza 2, Renata Lumi Sasaki 3, Isadora Resende de
Carvalho3, Caroline Marçal Gomes David 3, Thaís Alves Ribeiro 3, Géssica Ferreira Ramos 3,
Hallyson Anastacio Mariano3
RESUMO
O ovo é um alimento extremamente rico em nutrientes, mas, atualmente o enriquecimento artificial
dos ovos já é uma realidade. Várias pesquisas dão suporte científico para se alterar beneficamente as
gemas dos ovos. Assim, o objetivo dessa revisão é esclarecer o que é o enriquecimento dos ovos comerciais,
como ele pode ser feito e quais seriam os benefícios para a saúde do ser humano considerando-se o
consumo em longo prazo.
Unitermos: colesterol, enriquecimento, ovos, vitaminas.
ABSTRACT
The egg is extremely rich in nutrients, but currently the artificially enrichment eggs is already a
reality. Several researches give scientific support to changing the egg yolks beneficially. Thus, the aim of this
work is to clarify what is the enrichment of commercial eggs, how it can be done and what would be the
benefits for human health considering long term consumption.
Uniterms: cholesterol, eggs, enrichment, vitamins.
Prof. Dr. da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina, FCAA, Andradina – SP.
Médica Veterinária Autônoma.
3
Alunos do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina, FCAA, Andradina – SP.
1
2
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 60 - 66
61
INTRODUÇÃO
Em um país como o Brasil, que em pleno
século XXI ainda amarga altos índices de
desnutrição, e suas consequências, especialmente
junto à população infantil, chega a ser um contrasenso o baixo nível de consumo de ovos (13).
O ovo comercial é um produto da mais
eficiente máquina biológica de transformação, que
é a galinha de postura moderna. Esta ave consegue
transformar recursos alimentares de menor valor
biológico em um produto da mais alta qualidade
nutricional para o consumo humano. Esta eficiente
transformação depende de fatores biológicos
relacionados à composição fisiológica desta
máquina, aliada a conhecimentos sobre o aporte
nutricional necessário, somado ao manejo e
ambiente adequados de criação dessas aves (4).
Segundo o mesmo autor, a maior parte
dos ovos comercializados no Brasil é produzida
com alta tecnologia por poedeiras comerciais
modernas criadas em gaiolas especiais. Estas aves
são híbridas, resultantes de cruzamentos industriais
de várias linhagens genéticas que após várias
gerações deram origem a uma ave precoce, com
alta eficiência na produção de ovos e com alta
viabilidade. O objetivo dessa revisão é esclarecer
o que é o enriquecimento dos ovos comerciais,
como ele pode ser feito e quais seriam os benefícios
para a saúde do ser humano considerando-se o
consumo em longo prazo.
Características Nutricionais
O ovo reforça como poucos alimentos, a
dieta em todas as faixas etárias, fornecendo 6,15
g de proteína completa, proporcionando 15% da
quantidade diária de proteína recomendada para
adultos (13) além de ser reconhecido como uma
das melhores fontes de vitaminas (A, E, B2, B6,
ácido fólico) e minerais (Ca, Fe, Se, Zn) da dieta
(3)
. Também contém outros elementos nutricionais,
como fosfolipídios, que têm composição idêntica
à encontrada na membrana celular humana e
aumentam a produção do colesterol benéfico
(HDL) (14).
É de conhecimento comum em nutrição
que mesmo uma alimentação completa e
balanceada nunca irá fornecer 100% das
necessidades diárias dos mais diversos nutrientes
que compõem a dieta humana. Em função disso,
o potencial do momento é a suplementação/
complementação nutricional diretamente nos
alimentos, sendo que os ovos, em especial, levam
alguma vantagem por particularidades das galinhas,
que permitem a passagem de nutrientes de maneira
eficiente e significativa (2).
Os ovos também têm um lugar definitivo
na medicina preventiva, sendo de valor terapêutico
no tratamento de muitas doenças carenciais. O
ovo não é somente excelente para a manutenção
corporal, mas também promove o crescimento,
ajuda na lactação e na reprodução, processos
esses que apresentam rigorosas demandas ao
organismo e que geralmente não serão atendidas
pela maioria dos outros alimentos individualmente.
Por ser uma proteína de origem animal, fornece
os aminoácidos essenciais, cuja síntese é ineficaz
no ser humano (10).
Pesquisas recentes (2) observaram uma
correlação positiva entre o consumo de ovos e a
melhoria dos níveis de fertilidade, benefícios
antiinflamatórios, tratamento de artrite reumatóide,
psoríase, lúpus e eczema.
O ovo e o colesterol
Nos alimentos de origem animal o
conteúdo de lipídios e sua natureza são objetos
de crescente preocupação por parte do
consumidor. No caso dos ovos a atenção tem se
concentrado no colesterol e nos ácidos graxos da
fração lipídica da gema (9).
O colesterol, no entanto, é um tipo de
gordura que tem como função a síntese de
hormônios, da vitamina D e a formação das
membranas celulares. Portanto, ele é fundamental
para a estrutura e o funcionamento das células,
notadamente as do sistema nervoso, e é no seu
excesso que estão associadas às complicações (7).
O colesterol é uma molécula
extremamente importante para o organismo, tão
importante que o fígado consegue produzir até três
mil miligramas por dia onde o organismo o reutiliza
para produção de outros elementos, mas boa parte
acaba sendo eliminada nas fezes. Portanto, a
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 60 - 66
62
colesterolemia não acontece em função daquilo
que está sendo consumido de colesterol e sim
devido a algum problema fisiológico, hepático ou
devido a uma alimentação irregular.
O autor também relata que situações,
como o estresse, provocam redução da síntese
de lipoproteínas que transportam as gorduras,
levando assim a um acúmulo de colesterol e de
triglicérides, sendo esses, os realmente
responsáveis pelo entupimento das artérias. Na
verdade, o colesterol lubrifica as artérias, melhora
o fluxo sanguíneo e tem funções extremamente
importantes para o reparo do tecido, por isso
participa das células e não está presente no tecido
gordo. A gordura de frango ou de suíno não tem
colesterol pois este está no tecido, na membrana
da célula. Essa desvinculação vem ocorrendo
ultimamente, mas entre os profissionais de saúde,
infelizmente, ainda existe o mito de que não se
devem consumir ovos para não elevar o colesterol
sanguíneo.
Especialistas em nutrição humana revelam
que o colesterol pronto (consumo via direta) tem
influência de 5%, no máximo, sobre a elevação
do colesterol total do organismo de pessoas
saudáveis. Esta descoberta vem alterando o
conceito do consumo de ovos junto à Sociedade
de Cardiologia Americana e vem resgatar nos ovos
a característica de saudabilidade, especialmente
quando estes são enriquecidos com ácidos graxos
poliinsaturados, cujo consumo regular é
recomendado pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) como uma alternativa natural para uma
alimentação balanceada (15).
Estudos recentes indicam que o intestino
é pouco permeável ao colesterol ingerido
exogenamente e que somente aproximadamente
16% do colesterol exógeno é absorvido (18).
A ingestão do colesterol pela galinha é
mínima, pois as dietas convencionais são
geralmente formuladas a base de produtos de
origem vegetal contendo, algumas vezes, pequenas
porcentagens de farinha de carne como fonte
protéica animal (6). Dessa forma a ave sintetiza a
maior parte do colesterol que compõe o ovo.
Muitas pesquisas têm sido realizadas na tentativa
de reduzir a produção de colesterol da ave através
da utilização de drogas que provocam efeitos
hipocolesterolêmico, contudo os resultados ainda
são muito divergentes, além de proporcionarem
uma série de efeitos colaterais como a redução
da produção de ovos.
Enriquecimento dos ovos
A possibilidade de enriquecimento de ovos
de consumo já é conhecida desde 1934(4), porém,
nos dias atuais, esta produção já é uma realidade.
Estes tipos de ovos são obtidos através de uma
tecnologia de ponta que já vem sendo implantada
no Brasil pelas empresas produtoras de rações
animais. Através de um avançado processo natural,
o PUFA - “Poly Unsaturated Fatty Acids”
(substância natural presente em algas marinhas,
alguns vegetais e peixes de água fria, como o
salmão) é transferido para a ração das aves, que
passam a botar ovos enriquecidos com este ácido
graxo. Atualmente, países como Estados Unidos
e Canadá já estão utilizando esta tecnologia para
enriquecimento nutricional de ovos de galinhas (15).
A associação de determinados
antioxidantes com certos tipos de vitaminas se
mostra eficaz na diminuição dos níveis de
colesterol e triglicerídeos, também atuando na
diminuição da pressão arterial, abaixando os
níveis da enzima responsável pela vasoconstrição
arterial e promovendo maior estabilização do
produto.
Por equilibrar o metabolismo, o PUFA
também poderia ter efeitos cardioprotetores, que
ajudariam a prevenir o desenvolvimento do LDL
(Low Density Lipoprotein) que quando ligado
ao colesterol são chamados de “colesterol ruim”
do sangue (15).
Enriquecimento com vitamina E
A vitamina E tem um importante papel na
produção de anticorpos e no aumento da
resistência a doenças. Apesar dessa vitamina
ocorrer naturalmente a níveis relativamente
elevados em grãos íntegros e farinha de alfafa, ela
é facilmente oxidada, particularmente na presença
dos minerais e ácidos insaturados. Portanto, deve
ser adicionada à ração das aves com o objetivo
de garantir os níveis desejados (8).
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 60 - 66
63
Além de ser um antioxidante natural,
atuando na neutralização de radicais livres é o
único antioxidante que, uma vez absorvido,
deposita-se no organismo, onde é encontrada nos
tecidos na forma de tocoferóis. É excretada na
bile e eliminada através das fezes. Está relacionada
metabolicamente com vários nutrientes,
principalmente com o selênio. Atua como
antioxidante ao nível da membrana, enquanto que
o selênio, como componente da glutationa
peroxidase, atua ao nível do citosol, destruindo
peróxidos, eliminando-os das células antes que
oxidem os lipídeos insaturados de membrana, que
são protegidos pela vitamina E. Além disso, o
selênio preserva a integridade do pâncreas, que
tem como uma de suas funções a produção de
lipases, que atuam na digestão das gorduras (19).
O ovo é o melhor veículo como fonte de
vitamina E para o consumo humano, tendo em
conta a eficiência de sua deposição a partir da
ração, em um ovo enriquecido, a quantidade de
vitamina E pode se tornar sete vezes maior do que
num ovo convencional (8). A adição de vitamina E
também pode melhorar a pigmentação do ovo por
seu efeito protetor dos carotenóides (14).
Enriquecimento com ácido graxo
poliinsaturado
É possível enriquecer a gema dos ovos
com inúmeros nutrientes, dentre eles os ácidos
graxos ômega 3 que sabidamente trazem diversos
benefícios para a saúde, inclusive reduzindo o risco
de ocorrência de doenças cardiovasculares. Os
ácidos graxos que não contém dupla ligação, são
chamados de saturados, enquanto que os ácidos
graxos que possuem uma ou mais duplas ligações
são denominados de insaturados. Os ácidos graxos
que contém somente uma dupla ligação são
denominados de monoinsaturados, enquanto que
o termo poliinsaturados é usado para aqueles que
contém mais de uma dupla ligação, também
conhecidos como PUFA. Dessa forma, os ovos
PUFA são ovos enriquecidos com ácidos graxos
poliinsaturados (5).
O ômega 3 é um tipo de gordura muito
benéfica para o coração e é encontrado em peixes
marinhos (salmão, arenque, bacalhau) e, em
menores concentrações em grãos de soja,
castanha e óleo de canola. Essa gordura não é
produzida pelo organismo humano, portanto, deve
ser fornecida através da alimentação (1).
O ácido graxo ômega 3 mais
especificamente o ácido linolênico, é uma gordura
poliinsaturada, e sabe-se que sua ingestão ajuda
a diminuir os níveis de colesterol total e
triglicerídeos sanguíneos. Além disso, esse ácido
graxo pode apresentar atividades antitrombóticas
e vasodilatadoras. Portanto especula-se que o
aumento desse ácido graxo no ovo, poderia trazer
benefícios nutricionais ao homem (11).
O ômega 3 também influencia
positivamente o humor, ao estimular a produção
de serotonina e noradrenalina, neurotransmissores
responsáveis pelas sensações de prazer e bemestar (16).
O ácido linoléico (ômega 6) conjugado se
encontra principalmente no leite e na carne de
ruminantes, sendo sintetizado no rumem e seu
interesse provém dos múltiplos benefícios para a
saúde humana, que lhe atribuem por suas
propriedades como agente anticancerígeno,
antiteratogênico, hipocolesterolêmico, antioxidante,
imunoestimulante, normalizador da tolerância à
glicose e redutor da gordura corporal (14).
O LDL é um dos principais indicadores
de risco cardiovascular em nível sérico e por isso,
muitos pesquisadores procuram alimentos que
diminuam esses níveis. Ácidos graxos
poliinsaturados como o ômega 3 estão sendo
adicionados em alimentos, pois após serem
consumidos atuam não no sentido de diminuir o
colesterol, mas sim ajudando o organismo a
eliminá-lo. A adição do ômega 3 na dieta, não reduz
a aceitabilidade do produto, além do fato que o
consumo de sete ovos por semana diminui a
relação entre ômega 3 e ômega 6, beneficiando o
crescimento do HDL que promove a transferência
do colesterol para o fígado onde é metabolizado
(18)
.
A possibilidade de se reduzir o perfil de
ácidos graxos saturados da gema ou elevar os
insaturados através da manipulação dietética tem
sido uma opção para melhorar a qualidade
nutricional dos ovos, torná-los mais saudáveis e
melhorar a aceitabilidade dos consumidores.
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 60 - 66
64
São vários, os tipos de ácidos graxos
como o Ácido docosahexaenóico (DHA), Ácido
eicosapentaenóico (EPA) e o ácido linoléico, nos
quais os primeiros são comprovadamente benéficos
à saúde, enquanto o último, embora importante,
não revela os mesmos efeitos do DHA e EPA,
existindo em grandes quantidades nas sementes
oleaginosas, como as de canola e linhaça, que
podem ser acrescentadas à ração das galinhas.
Quando ingerido pela ave, apenas parte do ácido
linoléico é transformado em DHA e EPA. Grandes
quantidades desse ácido na dieta das aves, faz com
que a taxa de DHA e EPA, ácidos graxos ômega
3 benéficos a saúde, aumentem no ovo (7).
O ácido graxo docosahexanóico (DHA)
é um elemento importante da família do ômega 3.
Alguns estudos vêm evidenciando a importância
deste em gestantes, principalmente no primeiro
trimestre de gestação, onde ocorre a maior parte
do desenvolvimento fetal, no qual este ácido exerce
grande função no desenvolvimento cerebral.
Pesquisas demonstram que a ingestão adequada
de DHA durante a gestação aumenta a função
cognitiva da criança. O consumo de DHA por
mães que amamentam seus filhos também tem se
mostrado eficiente, pois o leite materno acaba por
conter quantidades significantes de DHA. Assim,
os ovos enriquecidos com ômega 3 apresentam
uma forma alternativa de ingestão dessa substância,
sendo mais acessível economicamente à população
(10)
. O recebimento desses ácidos colabora na
evolução e complementação das células cerebrais,
ajuda a desenvolver e aumentar o QI de crianças
(4)
.
A explicação fisiológica pelos quais os
ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 reduzem
os problemas cardiovasculares, se sustenta na
síntese de prostanóides que atuam inibindo a
agregação de plaquetas, junto às paredes dos
vasos sanguíneos. O tromboxano A2, derivado do
ácido araquidônico (ômega 6) causa
vasoconstrição e agregação plaquetária.. Portanto,
a ingestão diária de ácidos graxos ômega 3 reduz
a probabilidade de incidência de trombose (5).
O óleo de peixe também é usado nas
rações, embora seja uma substância muito passível
de oxidações prejudiciais. Quando o óleo é
espremido do peixe morto, ele é exposto ao ar.
Esse processo resulta na oxidação dos ácidos
graxos omega 3 de cadeia longa – EPA e DHA
que se transformam nos prejudiciais “radicais
livres”, que fazem mal à saúde humana. A fim de
tornar mais lenta esta oxidação, os produtores de
óleos de peixe acrescentam quantidades de
antioxidante, como vitamina E ao óleo (20).
Mesmo no pequeno espaço de tempo
entre a apanha e morte do peixe e a extração do
óleo, com frequência os radicais livres começam
a se formar e o organismo da galinha repassaria
então os radicais livres aos ovos em lugar de algo
saudável. Além disso, em ovos enriquecidos com
esse óleo, cheiro e gosto de peixe têm sido
reportados em todos os países nos quais o produto
é vendido.
Uma opção ao óleo seria o enriquecimento
com algas marinhas. Cientistas trabalhando com
genética observaram altos teores em DHA nessas
algas. Os ovos enriquecidos mesmo que cheguem
a atingir 300 mg de DHA, não têm qualquer cheiro
ou paladar estranho. O grande inconveniente do
uso deste produto baseado em alga marinha é o
seu elevado preço, mas se a dose segura de
produtos à base do óleo de peixe não for
ultrapassada, os ovos enriquecidos não
apresentarão cheiro ou gosto de peixe (20).
As algas são os maiores produtores
primários de ômega 3 e as únicas que podem
sintetizar novamente EPA e DHA. As maiores
concentrações (5-10% da matéria seca) são
encontradas em microalgas marinhas frias (12). Já
no óleo de peixe, os teores de ômega 3 são
variáveis segundo a espécie de origem, estado
fisiológico do peixe e época de pesca. As espécies
de maior interesse são as pescadas em águas frias,
pois se alimentam de fito e zooplancton ricos em
ômega 3. Particularmente o atum, bonito, cavala,
anchova (máximo de EPA) e sardinha (máximo
de DHA).
A inclusão destes ingredientes na dieta das
aves resulta em incorporação destes ácidos graxos
na gema do ovo, aumentando, consequentemente,
a insaturação da gema decorrente da maior
quantidade de poliinsaturados presentes,
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 60 - 66
65
proporcionando elevação no potencial oxidativo
deste produto. Da mesma forma, as condições de
estocagem, o aquecimento e o processamento do
ovo, além de sua exposição à luz podem resultar
em danos oxidativos. Assim, a incorporação de
antioxidantes a estes ovos teria dupla finalidade:
proteger os ácidos graxos presentes na gema contra
a oxidação e enriquecer este alimento com vitamina
E (17).
O consumo desses ovos prevê uma
quantidade de ácido graxo ômega 3 (EPA, DPA,
e DHA) equivalente a 40%-50% dos
requerimentos diários destes PUFA, o que equivale
ao consumo de 100g de pescado. Dados
experimentais indicam que o consumo diário de
dois destes ovos, em conjunto com uma dieta
habitual e por um período de três semanas, produz
um decréscimo significativo dos triglicerídeos
plasmáticos, do colesterol plasmático total, do
colesterol LDL e um aumento, também
significativo, do colesterol HDL. Do mesmo modo,
o consumo de dois ovos enriquecidos ao dia,
durante um período de seis semanas, aumenta
consideravelmente o conteúdo de LNA (ácido
alfa-linolênico, versão vegetal dos ácidos graxos
poliinsaturados ômega 3) e DHA no leite de mães
de leite (12).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ovo é um alimento de grande valor
nutritivo, saudável e fonte de proteína barata. O
ovo enriquecido com ômega 3 ou vitamina E
enfatiza ainda mais este alimento tão valioso, que
beneficia uma dieta saudável para os consumidores,
proporcionando uma melhor qualidade de vida.
Estas alternativas já estão tecnologicamente
disponíveis e dependerão do comportamento do
mercado consumidor, principalmente em relação
e orientação e informação que receba, e que se
constituem uma via natural de baixo custo relativo
para prover a população de PUFA ômega 3,
facilitando assim a restituição da relação ótima
entre esses ácidos graxos melhorando assim em
longo prazo a saúde da população.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 60 - 66
Recebido: 02/03/2009
Aceito: 06/04/2009
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CIÊNCIAS AGRÁRIAS
RELATO DE CASO
TRATAMENTO DA PAPILOMATOSE ORAL CANINA POR
AUTO-HEMOTERAPIA - RELATO DE CASO
TREATMENT OF CANINE ORAL PAPILLOMATOSIS WITH SELFHEMOTHERAPY – REPORT OF CASE
Éllen Caroline Valentim Neves1, Juliana Alves Lacerda Cunha1, Oscar Fonzar Neto1,
Enrico Giuseppe Poletto Luvizutto1, Adan Leandro Watanabe1,
Patrícia de Athayde Barnabé2, Águeda Aparecida Lima da Silva Rial3.
RESUMO
A papilomatose é uma doença viral ocasionada pelo gênero Papillomavirus. Em cães produz nódulos
benignos principalmente na região oral, lábios, faringe e língua. Foram revisados os principais aspectos
clínico-epidemiológicos da papilomatose oral canina, sendo descrito o tratamento de um cão afetado
empregando-se a auto-hemoterapia.
Unitermos: cão, papiloma, terapêutica.
ABSTRACT
Papillomatis is a viral disease caused by the genus Papillomavirus. In dogs it produces benign
tumors mainly in oral region: mouth, lips, pharynx and tongue. This review covered the major clinical and
epidemiological aspects of canine oral papillomatosis, and were described the treatment of an affected
dog employing the autohemotherapy was described.
Uniterms: dog, papilloma, therapeutics.
Alunos do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina (FCAA).
Profa. Dra. do curso de Medicina Veterinária, FCAA, Andradina (SP).
3
Profa. Ms. do curso de Medicina Veterinária, FCAA, Andradina (SP).
1
2
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 67 - 71
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INTRODUÇÃO
A papilomatose é uma doença causada por
vírus do gênero Papillomavirus, família
Papovaviridae. Nos cães, produz nódulos
benignos principalmente na região oral, nos lábios,
faringe e língua. Não há predileção por sexo, raça
ou sazonalidade na ocorrência da doença (1,4).
A inoculação do vírus pode ocorrer através
de solução de continuidade na epiderme ou na
mucosa (14). As lesões começam como nódulos
pequenos, brancos e lisos que, frequentemente,
evoluem para massas cinzas, pedunculadas,
semelhantes à couve-flor (12). O período de
incubação dura de um a dois meses e o
desenvolvimento das verrugas leva entre um e cinco
meses. Na maioria dos animais ocorre regressão
espontânea entre quatro e oito semanas após o
aparecimento das lesões, mas em alguns casos,
os papilomas tendem a permanecer cronicamente
(8,13)
.
Cães jovens costumam apresentar papilomas
múltiplos na pele ou mucosas, geralmente causados
por virose. Em cães mais velhos são frequentes os
papilomas solitários, nem sempre causados por
infecção viral (6).
A transmissão ocorre por contato direto ou
indireto com secreções ou sangue proveniente dos
papilomas. Também há transmissão iatrogênica
pelo uso de instrumentos contaminados. Doenças
imunossupressoras ou o uso de drogas
imunossupressoras também podem predispor à
doença (4,12,14). A morbidade é alta em cães de
hospitais veterinários, clínicas ou ambientes
similares com alto fluxo e rotatividade de animais,
podendo acometer ninhadas inteiras. Todavia, a
mortalidade é baixa, exceto nos casos de
complicações secundárias que comprometam o
estado geral do animal (2).
Foram descritas três formas de apresentação
clínica na espécie canina. A primeira é a
papilomatose das mucosas, afetando
primariamente cães jovens, que apresentam
múltiplas verrugas na mucosa oral e lábios podendo
atingir o esôfago e as conjuntivas oculares. A
segunda apresentação engloba os papilomas
cutâneos, que são solitários e frequentes em cães
mais velhos. As lesões podem ser confundidas
com anexos cutâneos, pois se assemelham a cornos
ceratinizados múltiplos e elevados. A terceira forma
inclui os papilomas cutâneos invertidos que
ocorrem em animais jovens e adultos com lesões
na porção ventral do abdome onde aparecem
pápulas nodulares elevadas com centro
ceratótico (6).
Sinais como ptialismo, halitose, disfagia,
relutância em se alimentar, hemorragias e infecções
bacterianas secundárias acompanhadas por
secreção purulenta na região das verrugas são
complicações clínicas observadas na papilomatose
oral canina (4,14).
O diagnóstico desta afecção é baseado nos
achados clínicos, entretanto, outros métodos estão
disponíveis. Dentre estes merecem destaque a
histopatologia, em geral empregada para
papilomas cutâneos, venéreos e alguns oculares e
a imunohistoquímica, para detectar antígenos
relacionados ao grupo do Papilomavirus (4,14).
Diferentes protocolos são adotados para o
tratamento das lesões, incluindo ressecção
cirúrgica, drogas antivirais, autovacina, autohemoterapia e drogas imunomoduladoras (1). A
auto-hemoterapia consiste na retirada de sangue
por punção venosa e sua imediata administração
por via intramuscular ou subcutânea. Também é
conhecida como terapia do soro, imunoterapia ou
auto-hemotransfusão. A técnica é comparada à
aplicação de uma vacina autógena, pois estimula
a resposta imune do organismo a antígenos
infecciosos ou não (5).
Assim, o objetivo deste trabalho foi relatar
um caso de papilomatose oral em cão, abordando
sinais clínicos, tratamento mediante autohemoterapia e seus resultados.
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 67 - 71
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RELATO DO CASO CLÍNICO
Um cão sem raça definida, macho, com sete
meses de idade e pesando 17,6 Kg foi atendido
no Hospital Veterinário da Faculdade de Ciências
Agrárias de Andradina apresentando verrugas na
mucosa oral e descamação de pele.
Ao exame clínico constatou-se presença de
carrapatos, linfonodos poplíteos aumentados,
temperatura corporal de 39,7º C, ausência de
alterações cardíacas e respiratórias, mucosas
levemente hipocoradas, pele com áreas
seborreicas multifocais com aspecto seco e
presença de papilomas orais. O exame da cavidade
oral revelou a existência de múltiplos papilomas
pedunculados semelhantes à couve-flor na mucosa
oral interna, palato e língua. Também foram
encontrados alguns nos lábios, sendo polimorfos
e de coloração clara.
Além da presença da papilomatose,
suspeitou-se de leishmaniose pelo aspecto da pele
e pela linfadenopatia, por tratar-se de área
endêmica para esta enfermidade. Foram realizados
hemograma e punção biópsia aspirativa com agulha
fina dos linfonodos poplíteos para avaliação e
exclusão da suspeita de leishmaniose.
Os parâmetros hematológicos encontravamse dentre os valores de normalidade para a
espécie, porém, o volume globular estava no limite
inferior tolerável e verificou-se a presença de
Babesia sp. O cão era negativo para Leishmania
sp., pela ausência de sua forma amastigota no
esfregaço do material obtido dos linfonodos.
Iniciou-se o tratamento imediatamente,
administrando-se dipirona (D500® - 0,9 ml, via
intramuscular) para remissão da febre e atropina
0,25% (1 ml, via subcutânea) seguida, após 15
minutos, por imidocarb (0,7 ml, via intramuscular)
como terapêutica para babesiose, estes últimos
sendo reaplicados uma vez por semana, durante
três semanas. O tratamento foi complementado
com a prescrição de complexo polivitamínico e
mineral (Hemolitan Pet®, 18 gotas, uma vez ao
dia durante 30 dias).
Para tratamento da papilomatose oral foi
iniciada a auto-hemoterapia, que consistiu na
retirada de 3 ml de sangue venoso seguida de sua
imediata administração por via intramuscular. O
procedimento foi realizado uma vez por semana
durante quatro semanas, totalizando quatro
aplicações. Foi associado o levamisole (Ascaridil®
- 1 mg/kg, por via oral, três vezes por semana,
durante quatro semanas).
Uma semana após a última aplicação o
animal foi reavaliado. Os parâmetros clínicos e os
valores hematológicos se normalizaram. Houve
remissão completa dos papilomas e ao final da
consulta o animal recebeu alta.
DISCUSSÃO
A papilomatose oral é comum em cães e
nos animais jovens, costuma apresentar-se como
múltiplos nódulos localizados na mucosa oral (1)
como verificado no caso atendido. Na maioria dos
animais, as lesões regridem espontaneamente entre
quatro e oito semanas, mas podem tornar-se
crônicas, necessitando de tratamento (1).
Em virtude do comportamento autolimitante,
geralmente, não se realiza qualquer tratamento.
Entretanto, quando há comprometimento do
estado geral do animal, devido à dificuldade de
alimentação ou por interesse estético são adotados
diferentes protocolos terapêuticos (1). No caso
relatado, apesar do cão não apresentar
complicações decorrentes da presença dos
papilomas, o dono queixava-se de problema
estético.
Dentre os tratamentos para papilomatose
canina destacam-se a ressecção cirúrgica, drogas
antivirais, autovacina, auto-hemoterapia e drogas
imunomoduladoras (1). No presente caso associouse a auto-hemoterapia com o uso de droga
imunoestimulante (levamisole).
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 67 - 71
70
O uso da auto-hemoterapia atualmente é
polêmico por se tratar de uma terapia alternativa.
Alguns profissionais da área não a reconhecem
nem a validam por não acreditarem em suas
vantagens, o que a torna pouco divulgada (3). No
entanto, há quem defenda a técnica, ressaltando
que ela é um recurso terapêutico de baixo custo e
simples, que estimula o sistema reticulo endotelial
quadruplicando o número de macrófagos e que,
por seus benefícios, deveria ser mais divulgada (3,9).
A auto-hemoterapia atua ativando o sistema
imune, ocasionando reativação orgânica em
inflamações crônicas e estimulando a eritropoiese
mantendo, assim, uma homeostasia. Com a
absorção do sangue venoso pelo organismo, o
sistema imune é ativado promovendo a produção
de anticorpos contra o papiloma (11).
O levamisole estimula a migração
leucocitária, a produção de mediadores da
imunidade celular e a ativação de linfócitos.
Segundo a literatura, a dose indicada para uma
boa modulação da resposta imune é de 2 mg/kg
por via oral a cada 48 horas (11,15). Também há
relato de que o tratamento intermitente é mais eficaz
do que contínuo, seguindo um esquema de
administração por três dias consecutivos,
intervalados por outros três dias, seguindo-se o
uso por mais três dias. Em doenças recidivantes
ou crônicas pode ser necessária a repetição do
protocolo até remissão do problema, mas, se a
dosagem for excessiva, pode suprimir a resposta
imune, agravando a doença(10). No presente
trabalho utilizou-se dose de 1 mg/kg por via oral,
três vezes por semana, durante quatro semanas.
Na literatura há muita variação de doses e
protocolos recomendados para uso desta droga
como imunoestimulante.
A babesiose pode permanecer cronicamente
no animal e ser ativada mediante ao decréscimo
de atividade do sistema imune (7), o que, no presente
relato, pode sinalizar a debilidade imunológica do
cão atendido, como sugere a manifestação da
papilomatose oral sem cura espontânea, ou pode
ter agravado o quadro do paciente, predispondoo ao surgimento dos papilomas, já que o
proprietário não sabia precisar a quanto tempo
os nódulos haviam surgido.
O uso da auto-hemoterapia foi eficaz neste
caso ocasionando a regressão dos papilomas.
Entretanto, devido à dose usada do levamisol ter
sido menor do que a recomendada pela literatura
não é possível afirmar se realmente foi efetivo, o
que torna importante novos estudos em casos
futuros, com adequação de sua dosagem e
verificação dos resultados. Além disto, a cura da
babesiose pode ter melhorado o estado
imunológico do animal, fazendo com que
respondesse à auto-hemoterapia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A auto-hemoterapia foi eficaz na
eliminação dos papilomas orais do cão. A
associação com imunoestimulante pode ter sido
benéfica, necessitando de novos estudos para
confirmação de sua efetividade.
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Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 67 - 71
Recebido: 11/08/2009
Aceito: 30/09/2009
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CIÊNCIAS AGRÁRIAS
RELATO DE CASO
PRESENÇA INCOMUM de Leishmania sp. EM EXSUDATO NASAL DE UM CÃO COM
LEISHMANIOSE VISCERAL – RELATO DE CASO
UNCOMMON PRESENCE OF Leishmania sp. FROM NASAL EXSUDATE IN A DOG
WITH VISCERAL LEISHMANIASIS – A CASE REPORT
Fábio Luís Bonello1, Daniela Tozadore Gabas1, José Francisco Fonzar1, Rodrigo Bernardo dos Santos
Ferreira2, Patrícia Cássia dos Santos2, Tatiane Gracini2, Dhione Cruz Honório2
RESUMO
A leishmaniose visceral é um antropozoonose causada por protozoários do gênero Leishmania. No
cão, pode apresentar-se clinicamente sob as formas oligo ou polissintomática. Os principais sinais
observados são lesões de pele, emagrecimento, onicogrifose e linfoadenomegalia, além de alterações
oculares e nasais devido a infecções bacterianas secundárias, que resultam em exsudação purulenta e
crostas perioculares e no plano nasal. A replicação do protozoário em mucosas pode também causar
alterações importantes e a Leishmania já foi observada em cortes histológicos e impressões da mucosa
nasal. Autores relatam que a epistaxe observada em cães com leishmaniose pode ser decorrente da lesão
direta causada pela replicação do parasita na mucosa nasal. Não existe, entretanto, nenhum relato na
literatura que tenha demonstrado formas amastigotas de Leishmania sp em exsudato nasal. Relata-se
então um caso de leishmaniose visceral canina no qual o cão apresentava emagrecimento e exsudação
respiratória purulenta persistente, que fora tratado por várias semanas, sem êxito. O exame físico revelou
linfoadenomegalia, emaciação e mucosas discretamente pálidas; não havia alterações laríngeas, traqueais
ou pulmonares. Suspeitou-se de rinite fúngica e foram preparadas lâminas do exsudato nasal e de “swab”
nasal colhidos em ambulatório para coloração rápida e visualização em microscopia de luz. Em ambos os
materiais foram observadas formas amastigotas de Leishmania sp. no interior de macrófagos, além de
muitas bactérias. Nas lâminas de PBA (punção biópsia aspirativa) de linfonodo poplíteo também foram
observadas formas amastigotas do protozoário. Os testes imunológicos no soro, ELISA e RIFI, também
revelaram-se reagentes para leishmaniose. Exames radiográficos não revelaram alterações em ossos da
cabeça ou no interior de seios paranasais e tampouco nos pulmões. Os achados clínicos e laboratoriais
permitiram chegar à hipótese diagnóstica de rinite causada por Leishmania sp, com infecção bacteriana
secundária.
Unitermos: cão, exsudato nasal, Leishmania sp., rinite.
ABSTRACT
Visceral leishmaniasis is an anthropozoonosis caused by protozoan of genus Leishmania. Dogs
can present it clinically in oligosymptomatic or polisymptomatic forms. Main observable signs are skin
lesions, emaciation, onicogryphosis, lymphadenitis and also ocular and nasal alterations due to secondary
bacterial infections that result in purulent exsudation and perioculars and nasal plan eschars. The protozoan
replication in mucosas can also produces important alterations and Leishmania had already been observed
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 72 - 77
73
from nasal mucosa histological preparations and imprints. Some authors report that epistaxis in dogs with
leishmaniasis happens because of the direct mucosa injury caused by parasite replication. However, there
is no report in literature that had demonstrated Leishmania amastigotes in nasal exsudate smears. We
reported a case of visceral leishmaniasis canine, when the dog presented emaciation and purulent respiratory
exsudation, both persistent. It had been treated unsuccesfull during several weeks. Physical examination
revealed lymphadenomegaly, emaciation and discreetly pale mucosas. There was no laryngeal, tracheal or
pulmonary alterations. It was suspected for fungal rinitis and smears were made from samples of nasal
discharge and intranasal swabs, recovered at the ambulatory and carried to quick staining and observation
with light microscope. In both materials we observed Leishmania amastigotes inside the macrophages
and also a lut of bacteria. In material obtained from popliteo lympho node ABP (Aspirative Biopsy Puncture)
we also found protozoan amastigotes forms. Serum immunological tests (ELISA and IFI) presented positivity
for leishmaniasis. Radiographic examination didn’t showed alterations in head bones, paranasal sinuses
and neither lungs. Clinical and laboratorial findings allowed to conclude the diagnosis of rinitis caused by
Leishmania sp. associated with secondary bacterial infection.
Uniterms: dog, Leishmania sp., nasal exsudate, rinitis.
INTRODUÇÃO
A leishmaniose visceral, causada por
protozoários do complexo Leishmania donovani,
é uma zoonose transmitida por vetores que
acomete humanos, cães e outros mamíferos
domésticos e silvestres e geralmente manifesta-se
sistêmica e severamente (6,9). Os vetores envolvidos
na transmissão quase que sempre são mosquitos
flebotomíneos, mas suspeita-se que os carrapatos
possam também desempenhar tal papel (28).
Os achados clínicos podem variar
largamente. Os cães afetados normalmente
apresentam uma ou mais das seguintes alterações,
tais como, lesões de pele, perda de peso ou
hiporexia, lifadenopatia geral ou localizada,
onicogrifose, lesões oculares, epistaxe,
claudicação, anemia, insuficiência renal, e diarréia
(15)
.
Podem
ocorrer
também
hepatoesplenomegalia, hipertermia e conjuntivite
(12)
. As membranas mucosas (nasal, oral, genitais)
são ocasionalmente afetadas (15) . A
imunossupressão pode promover a ocorrência de
1
2
infecções oportunistas e no sistema respiratório
ser causa de pneumonia bacteriana (11). Epistaxe
também pode ocorrer em alguns casos e a
provável causa é uma combinação de lesões
ulcerativas e inflamatórias na mucosa nasal (3,19).
Leishmania sp. também já foi encontrada
no sangue e outros fluídos corporais. O achado
do parasita no sangue periférico é raro (18).O
líquido sinovial é o fluído orgânico em mais se
encontrou Leishmania sp., o que geralmente
desencadeia um quadro de artrite (10,25). Formas
amastigotas do protozoário já foram encontradas
em líquido peritoneal (7), no líquor e no interior de
células TVT (2,13,21).
Há dois métodos mais utilizados para
o diagnóstico, o parasitológico e o
imunológico (sorológico). No primeiro,
formas amastigotas podem ser observadas
principalmente em material proveniente de
linfonodos ou de medula óssea, sendo ELISA
e RIFI os testes amplamente utilizados.
Recentemente, tem-se utilizado o diagnóstico
molecular por meio da PCR (reação em cadeia
pela polimerase) (8,14,23).
Professor da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina – Faculdades Integradas Stella Maris
Aluno da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina - Faculdades Integradas Stella Maris
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 72 - 77
74
RELATO DE CASO
Um cão da raça Pit Bull, de seis meses, foi
atendido no Hospital Veterinário (HV) da
Fundação Educacional de Andradina, São Paulo,
com queixa principal de tosse, corrimento nasal e
febre. O animal já havia sido tratado por dois
meses sem prescrição veterinária com
enrofloxacina, amoxicilina e azitromicina, com
discreta melhora do quadro inicial.
Os parâmetros vitais não estavam
significamente alterados. No exame fisico
constatou-se estado nutricional magro, aumento
de linfonodos poplíteos e exsudato nasal purulento.
O exame da traquéia e pulmões não revelou
alterações. Decidiu-se realizar swab da cavidade
nasal e PBA de linfonodos, com suspeita de
leishmaniose visceral e/ou rinite fúngica. Durante
o atendimento o animal espirrou e foi possivel
coletar o exsudato, do qual foram preparadas
lâminas para exame citopatológico.
As lâminas do exsudato e da PBA de linfonodos
foram enviadas ao Laboratório Clínico do HV,
coradas com corante panótico rápido comercial
e analisadas em microscopia óptica. Tanto nas
lâminas do exsudato proveniente do espirro como
nas lâminas do swab foram observadas, em
objetivas de imersão, formas amastigotas de
Leishmania sp. no interior de macrófagos, numa
inflamação mista de polimorfonucleares e
macrófagos , além de muitas bactérias (cocos)
fagocitadas por neutrófilos e macrófagos. Na
lâmina de PBA de linfonodo também foram
observadas formas amastigotas de Leishmania
sp. extracelulares.
O eritrograma revelou anemia discreta
normocítica, normocrômica e não regenerativa.
No leucograma, a alteração evidenciada foi
linfopenia (0,60X109/l). A contagem de plaquetas
atingiu o valor de 181X109/l.
Na bioquímica sérica, uréia, creatinina, AST
(Aspartato aminotransferase) e ALT (Alanina
aminotransferase) estavam dentro dos valores
normais. Foi constatada hiperproteinemia
(proteína plasmática total 98 g/l), com valor normal
de albumina, o que evidencia hiperglobulinemia.
Ambos ELISA e RIFI para pesquisa de
anticorpos anti- Leishmania apresentaram
resultados positivos. Exames radiográficos não
revelaram alterações de seios paranasais, de outras
estruturas da cabeça e tampouco dos pulmões.
O diagnóstico final foi leishmaniose visceral
e rinite mista bacteriana e por Leishmania sp. O
HV tem por conduta não realizar o tratamento dos
cães casos positivos de leishmaniose o que foi
aplicado neste caso.
DISCUSSÃO
Em relação às alterações não
respiratórias, autores encontraram 81% de
linfoadenomegalia dentre os 215 cães avaliados
clinicamente em seu estudo (12). A perda de peso,
constatada nesse caso, está freqüentemente
relacionada ao envolvimento visceral, podendo
ocorrer mesmo em cães com normorexia (12). No
município de Araçatuba (SP), em cães com
leishmaniose submetidos à necropsia, foram
encontrados 48,2 % de emaciação e 87,9% de
linfadenomegalia (18). A onicogrifose, também
presente neste caso, é um achado relativamente
comum e é causada pela presença do parasita
estimulando a matriz ungueal (12,26,29).
A anemia normocítica normocrômica não
regenerativa está de acordo com a literatura, onde,
os achados do hemograma, da urinálise ou de
determinações bioquímicas são inespecíficos (17).
A alteração hematológica mais frequente na
leishmaniose visceral canina é a anemia, que pode
variar de leve a grave e apresentar caráter
regenerativo ou arregenerativo. As alterações em
linfócitos são pouco frequentes(18). Anemia
normocítica normocrômica, geralmente não
regenerativa, que pode variar de leve a grave, é
um achado comum em cães com leishmaniose e
ocorre principalmente devido ao parasitismo da
medula óssea pela Leishmania, interferindo na
eritropoiese (4,18,20). Nas fases finais da doença
observa-se também trombocitopenia, no entanto
a contagem plaquetária pode ser normal (12,13).
Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 72 - 77
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A hiperglobulinemia, aqui constatada, é,
segundo a literatura (1,4,12,18) consequencia do
aumento das frações beta e gama, associada à
hipoalbuminemia, embora neste caso a albumina
se encontrasse normal.
No trato respiratório superior ocorrem
principalmente ulcerações nasais externas, mas
também está descrito que a multiplicação do
parasita na mucosa nasal pode levar a ulcerações,
sendo, nessa enfermidade, provavelmente a
principal causa de epistaxe (15). Para alguns autores,
a epistaxe, não constatada neste caso, é frequente
em lesões da cavidade nasal causadas por
leishmanias, associada ou não à erliquiose (22,24).
Em relação aos métodos de diagnóstico
em lesões nasais, há vários relatos do achado de
Leishmania sp. por meio de histopatologia (16,27,30),
mas não por exame citopatológico de exsudatos,
que concluiu o diagnóstico neste caso. No entanto,
Leishmania sp. já foi encontrada parasitando
células TVT de localização nasal, cujo diagnóstico
também foi realizado por exame citopatológico
direto, mas não de exsudato nasal (21).
O aumento dos linfonodos da cabeça
foi relatado em casos de leishmaniose devido às
lesões localizadas na região de drenagem desses
gânglios (5). Neste relato, o aumento pode ter sido
decorrente tanto da rinite quanto da característica
sistêmica da doença, já que havia linfadenomegalia
generalizada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presença de Leishmania sp. em
doenças da cavidade nasal é relativamente comum
e pode ser diagnosticada rotineiramente utilizandose de biopsias e impressões para cito e
histopatologia. No entanto, não foi encontrado
nenhum relato de identificação de formas
amastigotas de Leishmania sp em exsudato nasal
de cão, fato inédito neste relato. Portanto, o
exame microscópico dos exsudatos, simples,
rápido e de baixo custo, deve sempre ser cogitado,
visto que pode fornecer o diagnóstico definitivo
da doença e determinar uma conduta precoce.
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Recebido: 15/09/2009
Aceito: 06/10/2009

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