avaliação comparativa entre o glicosímetro portátil e o método
Transcrição
avaliação comparativa entre o glicosímetro portátil e o método
7 CIÊNCIAS AGRÁRIAS TRABALHO ORIGINAL AVALIAÇÃO COMPARATIVA ENTRE O GLICOSÍMETRO PORTÁTIL E O MÉTODO LABORATORIAL ENZIMÁTICO COLORIMÉTRICO NA DOSAGEM GLICÊMICA EM CÃES COMPARATIVE EVALUATION OF PORTABLE GLUCOMETER AND ENZYMATIC COLORIMETRIC METHOD LABORATORY IN BLOOD GLUCOSE IN DOGS Tatiana Ferrato dos Santos1, Marcela da Silva Rubio1, Ellison Tadeu Valentin Neves1, José Eduardo dos Santos Silva1, Carla Renata Silva Baleroni Guerra2, Willian Marinho Dourado Coelho2, José Francisco Fonzar2 RESUMO O Diabetes mellitus é uma das endocrinopatias mais comuns nos cães com idade média ou avançada, sendo caracterizada por alteração no metabolismo da glicose. A tecnologia vem proporcionando mudanças frequentes na terapia do diabetes, em busca de melhor qualidade de vida dos portadores da doença. Recentemente, foram instituídos métodos portáteis de monitoramento da concentração de glicose sanguínea dos animais diabéticos. O monitoramento doméstico através da utilização de aparelhos de glicemia portáteis vem crescendo no meio da medicina veterinária, devido sua praticidade, por fácil manipulação e transporte, levando a resultados rápidos. Neste trabalho utilizou-se um modelo de glicosímetro portátil OneTouch Ultra®, que foi testado em 50 animais da espécie canina e seus resultados foram comparados com o exame de glicemia sérica, realizada laboratorialmente, com o objetivo de avaliar a segurança na utilização clinica desse aparelho para o controle do Diabetes mellitus canino. Unitermos: Diabetes mellitus, glicemia, glicosímetro, teste taboratorial. ABSTRACT The Diabetes mellitus is one of the most common endocrinopathies in dogs with medium or advanced age, being described by alteration in the glucose metabolism. The technology is providing frequent changes in the diabetes therapy, searching for good life quality to the carriers of the disease. Recently, portable methods of measurement of the blood glucose concentration in diabetic animals were made. The domestic measurement using portable glucose devices is growing among veterinary medicine, because it´s practical, easy to handle and transport leading to quick results. In this project a portable digital glucometer, the One Touch Ultra®, was tested in 50 canine species and the results were compared to the serum glucose test, carried out in the laboratory, in order to assess safety in clinic use of this portable device to control the canine Diabetes mellitus. Uniterms: Diabetes mellitus, digital glucometer, glucose, laboratory test. 1 Alunos do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina (FCAA). 2 Profs. do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina (FCAA). Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 7 - 11 8 INTRODUÇÃO Em cães e gatos, o distúrbio mais comum do pâncreas endócrino é o Diabetes mellitus (DM), que resulta na deficiência insulínica absoluta ou relativa, decorrente da secreção insulínica deficiente pelas células b (5), acarretando sérios distúrbios no metabolismo de proteínas, gorduras e carboidratos (7) . Pode ser fatal se for incorretamente diagnosticado ou inadequadamente tratado (9). A incidência do Diabetes mellitus é semelhante para cães e gatos, com frequência relatada variando de um em 100 para um em 500 casos (5). Atualmente, dois sistemas de aferição, laboratorial ou portátil, podem ser utilizados para determinação dos níveis de glicose sanguínea. Aparelhos portáteis, de fácil manipulação e transporte, tornam-se importantes para a realização de trabalhos e exames a campo. Para tal, torna-se fundamental a verificação da eficácia de tal método para as espécies através da comparação com aqueles classicamente utilizados. Os sistemas laboratoriais são os mais precisos, e por isso adotados como parâmetros de referência. Os aparelhos de auto-monitoração são seguros e devem possuir grau de incerteza aceitável (6). A determinação da glicemia em espectrofotômetro baseia-se no método colorimétrico enzimático, que tem como princípio básico a oxidação da glicose sob ação catalisadora da glicose-oxidase. A partir desta reação, formase o peróxido de hidrogênio que, em presença da peroxidase como enzima catalisadora sofre reação oxidativa de acoplamento com a 4-aminoantipirina e fenol, formando um cromógeno vermelho cereja. A intensidade da cor é proporcional à concentração de glicose (6). Já o glicosímetro utiliza tiras reagentes que interagem com o sangue produzindo uma reação química na qual são gerados elétrons. O aparelho mede tal reação com uma pequena corrente elétrica e automaticamente calcula o nível correspondente de glicose (6). Os glicosímetros portáteis têm sido utilizados na Medicina Veterinária como uma maneira de monitorar a glicose sanguínea dos animais em uma variedade de condições médicas de forma fácil, rápida e com baixo custo (1). Esses aparelhos foram desenvolvidos para mensurar a glicemia de sangue capilar, na clínica veterinária, onde muitas vezes o sangue venoso é a amostra utilizada para esse fim (2). A mensuração da glicemia tem importância no diagnóstico e na monitoração de várias enfermidades, como DM ou condições que podem causar hipoglicemia. A determinação das concentrações de glicose no sangue e as variações em série da glicemia são aspectos importantes a longo prazo no monitoramento de diabetes em cães e gatos. Os testes, tanto laboratorial quanto com o uso de glicosímetros portáteis, são usados para avaliar a eficácia da insulina, os pontos mais baixos da glicose e a duração dos efeitos da insulina, desse modo servindo como base para modificações no tratamento com insulina (4). Os resultados de testes obtidos a partir de glicosímetros portáteis comparados aos obtidos a partir de exame laboratorial são expressos em unidades de plasma equivalentes. No entanto, o resultado do glicosímetro portátil pode diferir um pouco do resultado obtido em laboratório devido uma variação normal (1). A avaliação da precisão desses sensores é geralmente realizada comparando-se os valores da glicemia mensurada pelos aparelhos com aqueles obtidos por método laboratorial, considerado como referência (2). Os erros provocados pelo usuário são as primeiras causas de falha na precisão dos resultados, podendo-se citar como exemplos a aplicação inapropriada da amostra ou ultrapassagem do limite de tempo para a realização do exame. Além disso, ocorrem falhas quando os glicosímetros não são calibrados ou o equipamento e as tiras-teste não são armazenadas de acordo com as recomendações do fabricante (3) . Observa-se que anormalidades no hematócrito do paciente submetido ao exame de glicose podem afetar o resultado alcançado com o glicosímetro (8, 11, 12, 3). Hematócrito abaixo de 30% leva a resultados falsamente elevados, enquanto que hematócritos maiores de 55% podem ocasionar resultados equivocadamente baixos e, consequentemente, os clínicos devem ter cuidado ao interpretar os resultados obtidos Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 7 - 11 9 de glicosímetros em cães com anemia ou policitemia (12) . No entanto, alguns dos glicosímetros mais modernos são precisos com hematócritos variando entre 20% a 60% (3). Outros fatores podem influenciar a precisão do valor da glicemia em cães, obtido por sensores, como, por exemplo, o volume da gota de sangue utilizada (2). Os resultados também estarão alterados quando a circulação sanguínea periférica do paciente esta reduzida ou quando o paciente se encontra severamente desidratado, hipotenso ou em choque, pois nessas condições há uma maior dificuldade em obter uma amostra suficiente de sangue capilar (12,3). Ainda poderá existir uma diferença em relação ao resultado do laboratório, porque os níveis de glicose no sangue podem mudar significativamente ao longo de curtos períodos, principalmente após alimentação, exercício físico, após medicação ou período de estresse (1). Além disso, se o animal se alimentou recentemente, o nível de glicose no sangue capilar coletado pode ser até 70 mg/dl mais elevado que o do sangue coletado em uma veia (amostra venosa), utilizado para um teste laboratorial (1). Existem várias formas de realizar a mensuração da glicemia, cada uma tendo suas vantagens e desvantagens. Algo que deve ser levado em consideração é que o método seja o mais rápido e com maior grau de precisão possível (1). Com base nestas informações o objetivo deste trabalho foi então comparar os diferentes métodos de dosagem de glicemia em cães. MATERIAL E MÉTODOS Foram colhidas amostras de sangue de 50 animais da espécie canina do Centro de Controle de Zoonoses de Andradina (CCZ). Durante as colheitas foram utilizados tanto animais sadios como doentes, independente da raça, peso, idade, sexo, estado prandial ou condição de saúde. Para o teste com glicosímetro portátil OneTouch Ultra® (Johnson & Johnson), foram coletadas amostras sanguíneas das orelhas. Esta punção foi realizada na face medial da orelha externa do animal utilizando-se uma agulha hipodérmica descartável de calibre 25 x 0,7mm. Após a punção, uma tira-teste foi inserida no monitor de glicose, o qual ligava automaticamente. A amostra de sangue, de no mínimo 1 µl, foi aplicada na tira-teste no prazo máximo de quinze segundos. Em cinco segundos, o equipamento expressava no monitor a concentração de glicose na amostra em mg/dl. Uma amostra de 3 ml de sangue foi colhida através da venopunção da veia cefálica para a realização do teste com o glicosímetro portátil a partir de uma gota de sangue retirada da seringa e o restante da amostra de sangue foi utilizado para o teste de glicemia laboratorial, utilizando o método enzimático-colorimétrico, no Laboratório de Patologia Clínica Veterinária do Hospital Veterinário da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina. As amostras foram acondicionadas em tubos de ensaio e em seguida centrifugadas por cinco minutos a uma velocidade de 2500 rotações por minuto para a obtenção do plasma. O plasma obtido foi mantido refrigerado (4ºC) por um período máximo de quatro horas após a colheita, até a mensuração da concentração de glicose pelo método da glicose oxidase, utilizando-se Kit comercial Katal®. Para o procedimento laboratorial utilizouse o método enzimático colorimétrico para a determinação da glicose. Essa determinação combina a elevada especificidade de ação das enzimas com a simplicidade operacional de ação das enzimas envolvida. A cada teste realizado foram utilizados 2 ml do reagente enzimático em tubo de ensaio para 0,02 ml da amostra de soro analisada, que após homogeneização foram colocadas em banho-maria a 37ºC por 15 minutos. Decorrido este tempo, as amostras foram imediatamente analisadas no espectrofotômetro a 505 nm, devidamente zerado com a amostra branca, obtendo assim o valor glicêmico em mg/ dl, de cada animal. Os resultados obtidos foram submetidos à análise estatística, onde se comparou os valores obtidos pelo teste laboratorial e os valores obtidos com o glicosímetro portátil. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 7 - 11 10 RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 1 expressa os valores das estimativas de médias e coeficientes de variação dos diferentes métodos de dosagem de glicemia onde, os resultados de glicemia alcançados com o glicosímetro portátil variaram entre 28 a 129 mg/ dl, com a média de 76,14, utilizando amostras de sangue capilar, e 61 a 126 mg/dl, com a média de 80,84, com amostras de sangue venoso. Já os resultados alcançados com o método enzimático colorimétrico, que realiza leituras no plasma, os valores mensurados estavam entre 42 e 115 mg/ dl, com a média de 78,36. TABELA 1. Estimativas das médias e coeficientes e variação dos diferentes métodos de dosagem de glicemia em cães. GSC (mg/dL) GSV (mg/dL) GE-C (mg/dL) Média 76,14 80,84 78,36 CV(%) 25,15 18,83 25,15 GSC = Glicosímetro com sangue capilar; GSV = Glicosímetro com sangue venoso; GE-C = Método glicose enzimático colorimétrico; CV(%) = Coeficiente de variação em porcentagem para todos os animais; A Tabela 2 ilustra a análise de variância para os diferentes métodos de dosagem de glicemia e os dados permitem observar que não existe diferença estatística significativa entre os três métodos de mensuração da glicemia. TABELA 2. Análise de variância comparando os diferentes métodos de dosagem de glicemia em cães. Causas de Variação Quadrado médio Tratamento 276,4 Resíduo 301,83 Total 578,23 Teste F 0,91ns ns: não significativo a 1% de probabilidade pelo teste F. Estes resultados estão em consonância com os resultados obtidos por trabalhos (2,10) onde a medição da glicemia utilizando o glicosímetro portátil demonstrou-se eficiente na determinação da glicemia. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 7 - 11 11 CONCLUSÃO A dosagem de glicemia em sangue de cães utilizando glicosímetro portátil pode ser considerado um método confiável. O sangue venoso dos cães pode ser empregado no glicosímetro portátil, mesmo o equipamento sendo preferencialmente destinado para sangue capilar, entretanto deve-se dar preferência a amostra de sangue capilar. 7. NELSON, R. W. Diabetes Melito. IN: BIRCHARD, S. J. ; SHERDING, R. G. Manual Saunders. Clínica de Pequenos Animais. 1ª ed. São Paulo: Roca,1998, Cap. 4, p. 283 – 291. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 8. NSCQA (THE NATIONAL STTERING COMMITTEE FOR QUALITY ASSURANCE IN CAPILLARY BLOOD GLUCOSE MONITORING). Proposed strategies for reducing user error in capillary blood glucose monitoring. Diabetes Care, v. 16 (2), p. 493-498, 1993. 1. ALEIXO, G. A.S. et al. Fatores que podem invalidar os resultados da mensuração dos níveis glicêmicos em cães utilizando o glicosímetro portátil, Ciência Animal Brasileira, v. 7 (4), p. 448-450, 2006. 9. OLIVEIRA I. A. Diabetes mellitus em pequenos animais: estratégias de tratamento e monitoração. Disponível em: http:// www6.ufrgs.br/favet/lacvet/restrito/pdf/ diabetes.pdf. Acesso em 16 de abril de 2008. 2. BLUWOL, K. et al. Avaliação de dois sensores portáteis para mensuração da glicemia em cães. Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.59 (6), p. 1408-1411, 2007. 10. SERÔDIO T. A. et al. Glicemia em cães (Canis familiaris) com glucômetro digital portátil e teste laboratorial convencional. Jornal Brasileiro de Ciência Animal, v. 1 (1), p. 2534, 2008. 3. BRIGGS, A. L.; CORNELL, S. Self monitoring blood glucose (SMBG), new and the future. Journal of Pharmacy Practice, v.17, p. 29-38, 2004. 4. CASELLA, M. et al. Measurement of capillary blood glucose concentrations by pet owners: A new tool in the management of Diabetes mellitus. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 38, p. 239, 2002. 11. THOMAS, C. L. et al. Determining the best method for first-line assessment of neonatal blood glucose levels. Journal of Paediatrics and Child Health, v. 36, p. 343-348, 2000. 12. WESS, G. Evaluation of five portable blood glucose meters for use in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 216 (2), p. 203-209, 2000. 5. ETTINGER,S.J.; FELDMAN,E.C. Tratado de medicina interna veterinária: doenças do cão e do gato. In: Diabete melito. 5.ed, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004, p.1516-1517. 6. LUPPI, M. M. et al. Estudo comparativo entre métodos de determinação da glicemia em macacos-prego (Cebus apella) mantidos em cativeiro. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, v.102, p. 75-79, 2007. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 7 - 11 Recebido: 10/08/2010 Aceito: 24/09/2010 12 CIÊNCIAS AGRÁRIAS TRABALHO ORIGINAL INQUÉRITO SOROLÓGICO DA LEPTOSPIROSE EM EQUINOS NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO SEROLOGICAL SURVEY OF LEPTOSPIROSIS IN HORSES IN THE NORTHWEST REGION OF SÃO PAULO STATE José Eduardo dos Santos Silva1, Renata Furlan Pereira de Souza1, Jorge Ikefuti Filho1, Diego Gonçalves dos Santos1, Priscila Diniz Lopes1, Conrado Pedrozo Coelho Bazan1, Ana Larissa Campos de Medeiros1, Tatiana Ferrato dos Santos1, Fernando Paes de Oliveira2, João Barbudo Filho3 RESUMO A leptospirose equina é uma doença infecciosa disseminada pelo mundo todo, transmitida através dos roedores, onde as principais manifestações clínicas são uveíte, aborto e outros distúrbios reprodutivos, podendo ser transmitida ao homem. Considerando a importância da leptospirose como zoonose, este trabalho tem como objetivo avaliar o nível de anticorpos contra Leptospira spp., através do soro-aglutinação microscópica (SAM) em equinos criados tanto na zona rural como urbana. Para tanto foram utilizados 100 equinos (Equus caballus) de raça, sexo e idade variáveis, sem manifestação clínica da doença, criados na região noroeste do estado de São Paulo. O sangue foi colhido, dessorado, congelado e submetido a SAM. Considerou-se como ponto de corte da reação sorológica títulos a partir de 100. Foram sororreagentes 41 equinos (41%), sendo cinco animais reagentes para mais de um sorovar, com maior frequência do sorovar Icterohaemorrhagiae (62,5%), seguido pelos sorovares Hardjo e Wolffi (10,4% e 10,4% respectivamente). Das amostras colhidas, 83 foram do perímetro rural e 17 do perímetro urbano, sendo 33 animais sororreativos do perímetro rural (39,75%) e 8 do perímetro urbano (47,05%). A frequência de sororreagentes foi de aproximadamente 50%, provavelmente por infecções subclínicas ou devido ao crescimento urbano. Unitermos: leptospirose equina, sorologia, zoonose. ABSTRACT Equine Leptospirosis is an infectious disease disseminated around the world, transmitted by rodents, where the main clinical manifestations are uveitis, abortion and other reproductive disorders, which may be transmitted to humans. Considering the importance of leptospirosis as a zoonosis, this study aims at assessing the level of antibodies to Leptospira sp. by microscopic serum agglutination (MAS) in horses raised in the rural and urban areas. Therefore, we used 100 horses (Equus caballus) of different race, sex and age, without clinical manifestation of the disease, raised in the northwest region of Sao Paulo state. The blood was collected, the serum removed from blood, frozen and submitted to MAS. It was considered a serological reaction cutting point titles from 100. Forty one horses (41%) were seropositive, where five animals were reagents to more than one serovar, with higher frequency of serovar Icterohaemorrhagiae (62,5%), followed by serovars Hardjo and Wolffi (10,4% and 10,4% respectively). From the samples taken, 83 were from rural area and 17 from urban area, with 33 animals seroreactive from rural area (39,75%) and 8 from urban area (47,05%). The frequency of seropositive subjects was approximately 50%, probably due to subclinical infections or due to urban growth. Uniterms: equine leptospirosis, serology, zoonosis. Aluno (a) do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina/SP Prof. Ms. do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina/SP 3 Prof. Dr. do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina/SP 1 2 Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 12 - 17 13 INTRODUÇÃO A leptospirose é uma enfermidade causada por bactérias espiraladas dos gêneros Leptospira, família Treponemataceae, ordem dos Spirochaetales (4). Em 1992, o Subcomitê de Taxonomia de Leptospira propôs a atual divisão para o gênero Leptospira, o qual é formado por oito genomoespécies patogênicas: L. borgptersenii, L. interrogans sensu strictu, L. noguchii, L. santarosai, L. weilii, L. kirschineri, L. inadai e L. fainii, distribuídas em 26 sorogrupos e 250 sorovares, e três genomoespécies saprófitas ou de vida livre: L. birflexa, L. meyeri, L. wolbachii, com raros registros de infecções (7). A bactéria esta presente em todo mundo afetando seres humanos e diversas espécies de animais domésticos e selvagens, constituindo um importante problema para a saúde pública devido ao seu aspecto zoonótico (11). A severidade da infecção por Leptospira irá depender da dose infectante, da virulência do sorovar, da susceptibilidade do hospedeiro, dos órgãos e sistemas atingidos (3). Esta importante zoonose de distribuição mundial não provoca sinais patognomônicos, e, portanto, seu diagnóstico clínico é difícil, exigindo usualmente a confirmação laboratorial, que se baseia no isolamento das leptospiras ou na presença de anticorpos específicos induzidos pelo agente, realizado por meio da prova de soro aglutinação microscópica (SAM) na qual são utilizados antígenos constituídos de sorotipos viáveis de leptospira (14, 3, 12). As leptospiras são excretadas pela urina de animais infectados, sendo a água contaminada, a via mais importante de transmissão que ocorre ativamente através da pele e mucosas. A infecção também pode ocorrer por leite ou alimento contaminado, fluidos placentários, via transplacentária e por contato, especialmente no ato da cobertura através do sêmen (13). Animais que vivem em áreas urbanas, cujas condições sanitárias e de infra-estrutura são precárias, junto a lixões, esgotos a “céu aberto”, depósitos de materiais descartados, proximidade com outras espécies animais, se constituem particularmente em populações de risco (10). Em equinos existem relativamente poucos surtos documentados de leptospirose aguda, apesar desta enfermidade ser conhecida nesta espécie por todo o mundo, com manifestações aguda, subclínica ou crônica (3, 2, 8). Nestes animais os sinais clínicos seriam pouco específicos, o que poderia explicar a baixa frequência de diagnósticos. Normalmente a infecção aparece clinicamente com leve hipertermia acompanhada por anorexia. Em sua forma mais severa, sufusão conjuntival, petéquias em mucosas, hemoglobinúria, hematúria e anemia, icterícia, depressão e fraqueza podem acontecer em graus variados, com estes sinais clínicos permanecendo durante cinco a oito dias. Nas fêmeas em gestação, o abortamento e suas complicações torna a leptospirose uma importante doença na esfera reprodutiva. O desenvolvimento de uveítes, principalmente da URE (uveíte recorrente equina), poder ocorrer em até 45% dos equinos infectados, sendo desencadeado dentro de dois a oito meses após a infecção inicial. No Brasil, evidências da infecção, caracterizadas pela identificação de aglutininas específicas anti-leptospira em equinos tem sido relatadas há mais de 60 anos (11), entretanto, mesmo com a grande população equina existente no país, há poucos estudos sobre a frequência de leptospirose nessa espécie (12). Considerando sua importância, este trabalho tem o objetivo de fazer um inquérito sorológico para verificar a possibilidade de ocorrência desta zoonose em equinos na região noroeste do estado de São Paulo. MATERIAL E MÉTODOS Para este estudo foram utilizados 100 equinos (Equus caballus) de raça, sexo e idade variáveis, saudáveis e sem evidências de leptospirose clínica, criados na zona rural de Andradina, Araçatuba e Castilho, localizados na região noroeste do estado de São Paulo e também na zona urbana de Andradina, ao longo de um período de dois meses. Destes animais foram colhidos 5 ml de sangue, através de flebocentese praticada na veia jugular. Posteriormente as amostras foram dessoradas pelo processo de centrifugação, estocadas em microtubo Eppendorf®, identificadas e congeladas até seu envio para o laboratório de Medicina Veterinária Preventiva da Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 12 - 17 14 FCAV – UNESP Jaboticabal onde foram submetidas a soro aglutinação microscópica (SAM). Esta prova foi realizada com emprego de antígenos representados por culturas de leptospiras vivas em meio EMJH (Ellinghausen McCullough, Jonnson e Harris) (Difco-EUA) com cerca de cinco a sete dias de crescimento. A diluição de triagem do soro sanguíneo usada foi 1:5. O critério adotado para considerar-se um soro como reagente foi de pelo menos 50% de aglutinação, ou seja, metade das leptospiras aglutinadas no campo microscópico no aumento de 100 vezes. As amostras reagentes na triagem inicial foram reexaminadas com dez diluições seriadas de razão dois a partir da diluição inicial. O título da amostra foi considerado recíproco da sua maior diluição quando apresentava pelo menos 50% de aglutinação. A leitura das reações sorológicas foi realizada em microscópio de campo escuro após a incubação da mistura soro-antígeno por três horas em temperatura de 28ºC. Sua execução seguiu a metodologia preconizada por Santa Rosa (1970) (14). Usou-se como base título de anticorpos contra variantes patogênicas a saber: L. wolffi, L. hardjo, L. icterohaemorragiae, L. canicola, L. pomona, L. copenhageni, L.grippo e L. tarassovi. Considerou-se como ponto de corte da reação sorológica títulos a partir de 100, pois esta é a titulação considerada positiva em equinos para infecção por leptospira (3). Os sorovares de leptospira utilizados como antígenos foram provenientes de matrizes repicadas semanalmente em meio de cultura EMJH enriquecido com soro sanguíneo de coelho da proporção de 10%, e mantidos em estufa bacteriológica (BOD) à temperatura de 28ºC. Todos os antígenos foram utilizados ao redor do sexto dia de incubação. A concentração considerada ideal foi padronizada de forma a corresponder à metade da turvação do tubo número 1 da escala de McFarland (100 a 200 leptospiras por campo microscópico), livre de contaminação segundo as orientações de Sulzer & Jones (1980) (16). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram reagentes, frente à técnica de soroaglutinação microscópica no soro sanguíneo, 41 equinos (41%), sendo cinco animais reagentes para mais de um sorovar. Dos oito sorovares pesquisados, apenas seis foram detectados, sendo que, dos 48 soros positivos, o sorovar Icterohaemorrhagiae foi o mais frequente (62,5%), seguido pelos sorovares Hardjo e Wolffi com 10,4% respectivamente (Tabela 1). Em animais com reação em mais de um sorovar, foram considerados ambos os títulos, o que correspondeu 12,2%. TABELA 1. Títulos máximos de anticorpos detectados nas amostras de soros dos animais do grupo reagente e os respectivos sorovares de Leptospira spp. Sorovar Título de anticorpos No de amostras % reagentes 100 200 400 800 1600 16 8 5 1 0 30 62,5 Hardjo 2 1 0 1 1 5 10,4 Wolffi 2 1 0 2 0 5 10,4 Pomona 2 2 0 0 0 4 8,3 Compenhageni 2 0 0 0 0 2 4,2 Grippotyphosa 1 1 0 0 0 2 4,2 25 13 5 4 1 48 100 Icterohaemorrhagiae Total Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 12 - 17 15 Frequência sorológica em fêmeas equinas com histórico de abortamento foi observada no estado da Bahia (5) com maior prevalência do sorovar Icterohaemorrhagiae (42%), assim como nos equinos em Londrina (PR) com 23,36% (6) e de Santa Maria (RS) com 19,85% (9). No Instituto Butantã, na cidade de São Roque (SP), foram observados 10,11% equídeos sororreagentes (17). Já, em 2008, prevalência de 90,7% de equinos sororreagentes (1) foi encontrada na região Amazônica. As diferenças verificadas entre os resultados obtidos neste trabalho e os demais publicados na literatura podem ser compreendidas, em parte, devido ao número e o tipo de sorovares empregados para a avaliação sorológica. Outros fatores que também poderiam influenciar a taxa de prevalência em diferentes regiões seria o manejo higiênico-sanitário dos rebanhos, diferenças climáticas, época da pesquisa, assim como o grau e o tipo de exposição a outros animais domésticos, silvestres ou roedores sinantrópicos, que, reconhecidamente, interferem na epidemiologia dessa enfermidade (2). Das amostras colhidas observaram-se 83 amostras do perímetro rural e 17 do perímetro urbano, sendo 33 animais sororreativos do perímetro rural e 8 no perímetro urbano, representando respectivamente 39,75% e 47,05% (Figura 1). Dentre os 48 sorovares encontrados, 83,3% foram do perímetro rural e 16,7% do perímetro urbano (Tabela 2). FIGURA 1. Distribuição dos animais sororreagentes em cada perímetro urbano. TABELA 2. Correlação dos diferentes sorovares de acordo com o perímetro urbano. Sorovar Rural % Urbano % Icterohaemorrhagiae 24 50,0 6 12,5 Hardjo 5 10,4 0 0 Wolffi 5 10,4 0 0 Pomona 3 6,2 1 2,1 Compenhageni 2 4,2 0 0 Grippotyphosa 1 2,1 1 2,1 40 83,3 8 16,7 Total Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 12 - 17 16 Em relação ao sexo, foi observado taxa de 44,9% dos machos sororreagentes contra 37,2% das fêmeas (Figura 2). No estado da Bahia num rebanho de éguas o percentual de animais reagentes foram de 23% (5). FIGURA 2. Distribuição dos animais sorreagentes e soronegativos de acordo com o sexo. A prevalência encontrada neste trabalho (41%) foi semelhante aos resultados no estado de Goiás que obteve 45,05% de amostras ao acaso no perímetro rural (8), e na cidade de Pelotas no estado do Rio Grande do Sul que encontrou 55% animais sororreagentes no perímetro urbano (4). CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS No presente estudo, nenhum dos animais sororreagentes manifestava sintomatologia sugestiva de leptospirose em que pese à alta 1. AGUIAR, D.M. et al. Prevalência de anticorpos contra agentes virais e bacterianos em equídeos do município de Monte Negro, Rondônia, Amazônia Ocidental Brasileira. Brazilian Journal frequência de reações positivas (41%). Entretanto, of Veterinary Research and Animal Science, v. a alta frequência de anticorpos verificada talvez 45 (4), p. 269-276, 2008. possa ser explicada pelo contato íntimo com roedores, uma vez que foi constatada que 62,5% das reações sorológicas revelam anticorpos contra o sorovar Icterohaemorrhagiae, que tem como principal reservatório o rato. 2. BEER, J. Doenças infecciosas em animais domésticos. São Paulo: Roca, 1999. 394p. 3. FAINE, S. Leptospira and leptopirosis. 2 ed. Melboume: MediSci, 1999, 272 p. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 12 - 17 17 4. FEIJÓ, L.S. et al. Incidência de leptospirose 11. PINNA, M.H. et al. Aplicação de um nos cavalos de carroça de Pelotas-RS. programa integrado de controle da leptospirose Disponível em: <http://www.ufpel.edu.br/cic/2008/ em eqüinos no Rio de Janeiro, Brasil. Revista cd/pages/pdf/CA/CA_01812.pdf>. Acesso em: Brasileira de Ciência Veterinária, v. 15 (2), p. 15 out. 2009. 63-66, 2008. 5. GOMES, A.H.B. et al. Ocorrência de 12. REZENDE, P.C.B. Leptospirose equina: aglutininas anti-leptospira em soro de equinos no detecção de anticorpos e alterações oculares. estado da Bahia. Revista Brasileira de Saúde e Jaboticabal, 2006. 74 p. Tese (Doutorado em Produção Animal, v. 8 (3), p. 144-151, 2007. Medicina Veterinária Preventiva) – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Universidade 6. HASHIMOTO, V.Y. et al. Occurrence of Estadual Paulista, Jaboticabal, 2006. antiboidies against Leptospira spp. in horses of the urban area of Londrina, Paraná, Brazil. Revista 13. SAMILLE, J. P. Leptospirose em equinos: do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, uma doença com múltiplas consequências. A Hora v. 49 (5), p. 327-330, 2007. Veterinária, n. 123, 2001. 7. KMETY, E.; DIKKEN, H. Classification of 14. SANTA ROSA, C.A. Diagnóstico laboratorial the species of Leptospira interrogans and da leptospirose. Revista de Microbiologia, v. 1 history of its serovars. 1 ed. Groningin, The (9), p. 97-109, 1970. Netherlands: University Press Groningen, 1993, 15. STOENNER, H.G. Application of serologic 104p. findings to the diagnosis of leptospirosis. 8. LINHARES, G. F. C. et al. Sorovares de Proceedings of the Annual Meeting of the Leptospira interrogans e respectivas prevalências United States Animal Health Association, v. 76, em Cavalos da microrregião de Goiânia, GO. p. 622-634, 1972. Ciência Animal Brasileira, v. 6 (4), p. 255-259, 2005. 16. SULZER, C.R., JONES, W.L. Leptospirosis: method in laboratory diagnosis. Atlanta: enter for 9. MACIEL, R.M. et al. Incidência de aglutininas anti-leptospira em soro de equinos utilizados na tração de carroças no município de Santa Maria – RS. Disponível em: <http:// www.sovergs.com.br/conbravet2008/anais/cd/ resumos/R1040-2.pdf> Acesso em: 15 out. 2009. Disease Control, U.S., Dept. Health Education and Welfare, 1980. 40 p. 17. YANAGUITA, R.M. et al. Prevalência de aglutininas anti-leptospiras em equinos mantidos para produção de soros terapêuticos. Revista de Microbiologia, v. 13 (1), 1982. 10. PESCADOR, C.A. et al. Aborto eqüino por Leptospira sp. Ciência Rural, v. 34 (1), p. 271274, 2004. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 12 - 17 Recebido: 27/10/2009 Aceito: 15/12/2009 18 CIÊNCIAS AGRÁRIAS TRABALHO ORIGINAL OCORRENCIA DE Babesia spp. EM CÃES ATENDIDOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO DE ANDRADINA - SP OCCURRENCE OF Babesia spp. IN DOGS TREATED IN THE VETERINARY HOSPITAL OF ANDRADINA - SP Weslen Fabrício Pires Teixeira 1, Everton de Oliveira Ottoni 1, Ana Paula Magalhães Mendes 1, Jorge Cardoso da Silva Filho 1, Rodrigo Garcia Motta 1, Willian Marinho Dourado Coelho 2 RESUMO A babesiose canina é uma hemoparasitose transmitida pelo carrapato Rhipicephalus sanguineus e é causada por protozoários intra-eritrocitários do gênero Babesia spp. O objetivo deste estudo foi relatar a ocorrência de Babesia spp. em cães atendidos no hospital veterinário da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina (FCAA). O experimento foi realizado durante o período de janeiro de 2006 a dezembro de 2007, sendo atendidos 1696 cães de ambos os sexos, diferentes raças e faixas etárias. Dentre estes, 35,31% (599/1696) dos animais apresentaram sintomatologia clínica sugestiva da doença, sendo realizados exames de hemograma e pesquisa de hematozoários. Constatou-se 0,77% (5/647) e 1,52% (16/1049) de casos positivos nos anos de 2006 e 2007, respectivamente. A observação de Babesia spp. nos esfregaços sanguíneos foi de 3,5% (21/599) do total de exames específicos realizados e de 1,23% (21/1696) em relação ao total de animais atendidos neste período. Unitermos: babesiose, eritrócitos, hemoparasitos. ABSTRACT The canine babesiosis is a hemoparasitosis transmitted by ticks Rhipicephalus sanguineus and it is caused by intra-erythrocytics protozoan of Babesia spp. gender. The purpose of this study was to report the occurrence of Babesia spp. in dogs treated at the veterinary hospital of the Agricultural Sciences College of Andradina (ASCA). The experiment was conducted during the period of January of 2006 to December of 2007 with 1696 dogs of both sexes, from different breeds and ages. Among them, 35,31% (599/1696) of the animals showed clinical suggestive symptoms of the disease, and blood tests and hematozoan searches were performed. It was found 0,77% (5 / 647) and 1,52% (16/1049) of positive cases in the years of 2006 and 2007 respectively. The observation of Babesia spp. in blood smears was 3,5% (21/599) of the specific tests performed and 1,23% (21/1696) in relation to the total of animals seen in this period. Uniterms: babesiosis, hemoparasitosis, red cells. 1 2 Alunos do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina - FCAA Prof. Ms.do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina - FCAA Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 18 - 21 19 INTRODUÇÃO (ELISA) e a reação de imunofluorescência indireta (RIFI) (11). A babesiose é uma enfermidade parasitária O objetivo deste estudo foi avaliar a transmitida pelo carrapato Rhipicephalus ocorrência de Babesia spp. em cães atendidos sanguineus, causada por hematozoários do no hospital veterinário da Faculdade de Ciências gênero Babesia spp. que se multiplicam Agrárias de Andradina, SP, no período de janeiro preferencialmente em eritrócitos jovens, sendo as de 2006 a dezembro de 2007. espécies B. canis e B. gibsoni os agentes MATERIAL E MÉTODOS etiológicos da babesiose canina (3, 4, 5 9, 10). Esta doença foi descrita pela primeira vez em 1888 na Romênia, quando Victor Babés Durante o experimento foram analisados observou um parasita em eritrócitos bovinos (1). 1696 cães de diferentes raças, faixas etárias e No entanto, a primeira descrição de B. canis ambos os sexos atendidos no Hospital Veterinário ocorreu em 1895 na Itália e em 1901, no Brasil da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina. . O estudo foi conduzido entre o período de janeiro (6) Para que ocorra a infecção, o carrapato deve permanecer espoliando o animal por um de 2006 a dezembro de 2007, com 647 e 1049 cães atendidos por ano, respectivamente. período de aproximadamente dois a três dias, Foram analisados 599 animais que, durante eliminado assim pela saliva as formas evolutivas o exame clínico, apresentaram sinais e sintomas parasitárias infectantes (7). sugestivos de acometimento por hemoparasitos A manifestação da doença ocorre nas formas subclínica, aguda, hiperaguda ou crônica. como depressão, apatia, emagrecimento, mucosas hipocoradas, icterícia e edema. A gravidade dos sinais clínicos variam de acordo Amostras de 1 ml de sangue foram colhidas com a espécie de Babesia ou com o isolado da por meio de punção venosa acondicionadas em B. canis envolvida no processo infeccioso, com microtubos estéreis contendo 50 microlitros de a idade e a eficácia da resposta imune do ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA) a 5%. hospedeiro (10). O diagnóstico parasitológico foi realizado Comumente a doença está associada a com a observação de formas parasitárias por meio quadros de anemia hemolítica, febre, letargia, da confecção de esfregaços sanguíneos em lâmina anorexia, hematúria e esplenomegalia. As de microscopia, coradas com Panótico Rápido® alterações hematológicas mais importantes são a e observadas em microscopia de luz com aumento anemia regenerativa normocítica normocrômica de 1000 vezes. que progride para forma macrocítica e hipocrômica, apresentando reticulocitose, RESULTADOS E DISCUSSÃO anisocitose, policromasia, hemólise em diferentes graus, bilirrubinúria, hemoglobinúria, trombocitopenia e leucocitose por neutrofilia . (2) Do total de animais atendidos durante o período do experimento, constatou-se uma O diagnóstico pode ser realizado por meio porcentagem de 35,31% (599/1696) de animais de técnicas parasitológicas em esfregaço apresentando sintomatologia clínica sugestiva de sanguíneo, testes moleculares de reação em cadeia hemoparasitoses, observando-se os parasitos em da polimerase (PCR), imunoadsorção enzimática 3,5% das amostras, conforme a Figura 1. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 18 - 21 20 FIGURA 1 .Número total de animais atendidos durante o período do experimento, número de animais com sintomatologia clínica de hemoparasitoses e casos positivos em (n=1696) cães. A ocorrência de casos positivos para babesiose em cães nos anos de 2006 e 2007 está ilustrada na Tabela 1. TABELA 1. Porcentagem e ocorrência de casos positivos para babesiose em cães atendidos no Hospital Veterinário de Andradina, SP; durante o período de janeiro de 2006 a dezembro de 2007. Período do experimento Porcentagem Ocorrência 2006 0,77% 5 2007 1,52% 16 Total 1,23% 21 A porcentagem de casos positivos durante o período do experimento foi semelhante aos encontrados em estudo realizado em cães da cidade de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, onde pesquisadores verificaram uma porcentagem de 1,47% (30/ 2.031) de animais positivos (8). Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 18 - 21 21 CONCLUSÃO Com base nos resultados pode-se concluir que a babesiose canina está presente na casuística dos animais que apresentam quadros de anemia, icterícia e hemólise intravascular. Apesar da Babesia spp. ter sido detectada com baixa frequência pelo exame parasitológico, acredita-se que estes resultados estejam subestimados devido a falta de inquéritos epidemiológicos e, principalmente, pela pequena quantidade de parasitos circulantes durante a colheita do material. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 7. MARTINOD, S. et al. Immunity of dogs against Babesia canis, its vector tick Dermacentor reticulatus, and Ixodes ricinus in endemic area. Journal of Parasitology, v. 71, p. 269-73. 1985. 8. MIRANDA, F.J.B. et al. Frequência de cães infectados por Babesia spp. em Campos dos Goytacazes, RJ. Ciência Animal Brasileira, v. 9 (1), p. 238-241, 2008. 9. MURASE, T. et al. Direct evidence for preferential multiplication of Babesia gibsoni in young erythrocytes. Parasitology Research, v. 4 (79), p. 269- 71, 1993. 1. BARREIRA, J.D. et al. Dinâmica da infecção de Babesia bovis em fêmeas ingurgitadas e ovos de Boophilus microplus. Ciência Rural, v. 35 (5), p. 1131-1135, 2005. 10. SCHETTERS, T. P. et al. A. Different Babesia canis isolates, different diseases. Parasitology, v. 5 (115), p. 485-93, 1997. 2. BRANDÃO, L.P.; HAGIWARA, M.K. Babesiose Canina- Revisão. Clinica Veterinaria, v. 41, p.50-59, 2002. 11.VIDOTTO, O.; TRAPP, S.M.; Babesiose canina. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v.13, suplemento 1, p. 32, 2004. 3. CAMACHO, A.T et al. Babesia canis infestion in a splenectomized dog. Bulletin of the Exotic Pathology Society, v.94, p.17-19. 2001. Recebido: 03/11/2008 Aceito: 16/12/2008 4. CAMACHO, A.T et al. Serum protein response and renal failure in canine Babesia annae infection. Veterinary Research, v.36, p.713-722, 2005. 5. CITARD, T. et al. Babesia canis: evidence for genetic diversity among isolates revealed by restriction fragment length polymorphism analysis. Journal of Tropical Medicine and Parasitology, v. 46, p.172-9, 1995. 6. CORRÊA, W.M.; CORRÊA, C.N.M. Enfermidades infecciosas dos mamíferos domésticos. Rio de Janeiro: Medsi., 1992, p. 771-778. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 18 - 21 22 CIÊNCIAS AGRÁRIAS TRABALHO ORIGINAL NÍVEL DE CONSCIENTIZAÇÃO DE PROPRIETÁRIOS DE CÃES E GATOS NA CIDADE DE TRÊS LAGOAS-MS A RESPEITO DA IMPORTÂNCIA DA ZOONOSE RAIVA AWARENESS LEVEL OF DOGS’ AND CATS’ OWNERS IN THE CITY OF TRES LAGOAS-MS REGARDING THE IMPORTANCE OF URBAN RABIES. Renata Furlan Pereira de Souza1, Aline Pereira Haick1, Zélia Andrade Empke1, Diógenes Breda1, Antônio Luiz Teixeira Empke2, Cristina Lacerda Soares Petrarolha Silva3, João Barbudo Filho3 RESUMO A raiva é uma enfermidade infecciosa causada pelo Lyssavirus, de notificação obrigatória, que afeta o sistema nervoso central de pessoas e de várias espécies de mamíferos. É considerada uma das zoonoses de maior importância, dada a sua evolução fatal, onde o cão é o principal transmissor do vírus rábico ao homem. Esse trabalho teve como objetivo realizar um levantamento do nível de conhecimento sobre a zoonose raiva na população de Três Lagoas – MS, durante a Campanha anti-rábica do ano de 2009. Através de um questionário foram entrevistados 102 proprietários, escolhidos ao acaso, que compareceram à campanha. Verificou-se que apenas uma pequena parcela dos entrevistados apresenta um bom conhecimento sobre a raiva (16,7%), enquanto a maioria (68,6%) possui conhecimento regular. Tal fato é indicativo da necessidade de medidas informativas que proporcionem maior conscientização da população sobre essa zoonose, através de programas educativos com ênfase ao real conhecimento dos riscos da doença, esclarecimentos sobre os animais potencialmente transmissores, cuidados após a exposição aos mesmos e medidas profiláticas contra a raiva. Unitermos: raiva, zoonose, programas educativos. ABSTRACT Rabies is an infectious disease, caused by Lyssavirus, notifiable, which affects the central nervous system (CNS) of human and several mammalian species. It is considered one of the most important zoonosis, due to its fatal outcome, where the dog is the main transmitter of the rabies virus to humans. This study aimed at surveying the level of knowledge on the rabies zoonosis in the population of Três Lagoas MS, during the campaign against rabies in 2009. Through a questionnaire, 102 randomly chosen owners were interviewed while attending the campaign. It was unveiled that only a small number of the people interviewed had good knowledge on rabies (16,7%), while the majority (68,6%) had regular knowledge. This fact indicates the need for measures which provide further information to raise public awareness about this zoonosis, through educational programs with an emphasis on real knowledge about the risk of the disease information on which animals are potential carriers, care after exposure to them and prophylactic measures against rabies. Uniterms: educational programs, rabies, zoonosis. Aluno (a) do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina/SP Médico Veterinário responsável pelo Centro de Controle de Zoonoses de Três Lagoas/MS 3 Prof. (a) Dr. (a) do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina/SP 1 2 Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 22 - 29 23 INTRODUÇÃO A raiva é uma enfermidade viral infecciosa, de notificação obrigatória, que afeta o sistema nervoso central de pessoas e de quase todas as espécies de mamíferos domésticos e silvestres (14). É considerada uma das zoonoses de maior importância, pois representa um grande problema de saúde pública, particularmente em áreas menos desenvolvidas, devido a sua evolução invariavelmente fatal, aos custos decorrentes das medidas de controle e por apresentar ampla distribuição geográfica (1,10). Essa doença é causada pelo vírus RNA envelopado, pertencente a família Rhabdoviridae e do gênero Lyssavirus. Atualmente sabe-se que esse gênero possui 7 genótipos. O genótipo 1 é o vírus clássico da raiva. Os demais (2 a 7) foram isolados na África, na Europa e na Austrália, sendo denominados vírus “aparentados” ou “relacionados” ao da raiva. No vírus da raiva clássico existem variantes, conforme a espécie animal e a região ou país proveniente (12). A transmissão, tanto de animal a animal como animal ao homem, ocorre quando o vírus da raiva existente na saliva do animal infectado penetra no organismo, através da pele ou mucosas, por mordedura, arranhadura ou lambedura, mesmo não existindo necessariamente agressão. São reconhecidos dois tipos epidemiológicos de raiva: a raiva urbana, mantida por cães e gatos, e a raiva rural, mantida por animais silvestres, tais como, morcegos hematófagos na América Latina (5,12). O ciclo urbano de doença continua sendo o mais importante para a raiva humana. Em áreas urbanas, cujas medidas de controle não atingem seu objetivo, o animal de maior relevância epidemiológica para a transmissão do vírus é o cão, principal reservatório e fonte de infecção, seguido pelo morcego (10,15). Em um estudo com 929 cães no Brasil (15) foi observado que no período de 1980 a 1991, o cão foi responsável por 773 casos de raiva humana (83,2%), o morcego por 45 casos (4,8%), e o gato por 24 casos (2,6%). Outro estudo (9) concluiu que no período de 1991 a 1999, em 33 casos confirmados de raiva humana no estado de Minas Gerais, 21 (63,6%) foram transmitidos por cães, nove (27,7%) por morcegos e apenas um (3%) por gato. São observados três tipos clínicos de raiva nos animais domésticos sendo a raiva furiosa, comumente observada em cães onde há alteração de comportamento, agressividade, hiperexcitabilidade e incoordenação motora, a raiva paralítica, com paralisia iniciada nos membros posteriores e que evolui atingindo os músculos da face e da garganta de modo a manter a boca aberta por onde escorre saliva e impede a deglutição de alimentos e água e também a raiva muda ou atípica, com sinais indefinidos onde o animal se esconde e morre sem diagnóstico clínico (3,6,12) . Uma vez iniciados os sinais clínicos da raiva, os mesmos são irreversíveis, e o animal deve ser isolado, sendo que a morte ocorre geralmente entre 3 a 6 dias após o início dos sinais, podendo prolongar-se por até 10 dias (14). O diagnóstico da raiva em animais é somente laboratorial, pois as observações clínicas levam apenas a suspeita da doença. As técnicas laboratoriais reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) são a Imunofluorescência direta e a inoculação intracerebral em camundongos (7). Entretanto, ambos são testes realizados em amostras de SNC obtidas post mortem, pois não existe, até o momento, um teste diagnóstico laboratorial conclusivo ante mortem que expresse resultados absolutos (14). Em 1973, foi criado o “Programa de Profilaxia da Raiva pelo Ministério da Saúde (MS)”, que prevê como principal medida de controle da doença, a vacinação em massa de cães e gatos, utilizando vacina do tipo Fuenzalida & Palácios, com o objetivo de se deter o ciclo de transmissão do vírus. Concomitante à vacinação Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 22 - 29 24 animal, observa-se a descentralização do tratamento humano. O controle da circulação do vírus é realizado através da captura de cães errantes, observação de animais agressores, e monitorado através de exames laboratoriais específicos para a detecção do vírus rábico (9). Os fatores sociais funcionam como facilitadores ou empecilhos para a dispersão do vírus em uma determinada área. Quanto menor a situação de desenvolvimento local, maior é a promiscuidade observada na relação homem/ animal e menores também os cuidados sanitários tomados (9). Ramos (1978) (13) , evidenciou que 48,2% das pessoas agredidas por cães na cidade de São Paulo, entre agosto e novembro de 1976, eram de residências parcialmente ou totalmente desprotegidas, mostrando a precariedade das condições habitacionais. Um estudo realizado do Brasil sobre a avaliação de áreas de risco para a raiva evidenciou o fato de não haver registro de óbito por raiva humana em pessoas com grau superior de instrução no período de 1980 a 1988 (15) . Esse trabalho teve como objetivo realizar um levantamento do nível de conhecimento sobre a zoonose raiva na população de Três Lagoas – MS, durante a Campanha anti-rábica do ano de 2009. MATERIAL E MÉTODOS Realizou-se uma pesquisa na forma de entrevista com questionário, durante a Campanha de Vacinação Anti-Rábica de cães e gatos no município de Três Lagoas – MS, em setembro de 2009. O alvo da pesquisa foram proprietários dos animais que compareceram à campanha, sendo o tamanho amostral total de 102 indivíduos, distribuídos em 17 pontos de vacinação, com seis entrevistados por ponto. A escolha dos entrevistados foi realizada ao acaso e registrou-se o sexo e a idade dos mesmos. Concomitantemente foi aplicado um questionário visando saber como a população teve conhecimento da ocorrência da campanha de vacinação contra a raiva, a fim de que pudéssemos identificar, dentre os meios usados para a divulgação da mesma, aquele que foi mais eficaz. As questões a respeito da zoonose foram de múltipla escolha, podendo haver mais de um item correto por questão, totalizando 12 itens corretos. A seguir é apresentado o questionário empregado: Questão 1 – O que é a raiva? a) doença grave b) doença mortal c) medo de água d) não sabe Questão 2 – Quem transmite a raiva? a) cachorro b) gato c) morcego d) outros e) não sabe Questão 3 – De que forma a raiva é transmitida? a) mordida b) arranhadura c) lambedura d) outros e) não sabe Questão 4 – O que a pessoa acidentada tem que fazer? a) lavar o machucado com água e sabão b) passar desinfetante no machucado c) procurar um posto de saúde d) outros e) não sabe Questão 5 – O que deve ser feito com o animal suspeito de raiva? a) sacrificar b) vacinar c) tratar d) mantê-lo isolado e) não sei Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 22 - 29 25 Questão 6 – Como soube da campanha de RESULTADOS E DISCUSSÃO vacinação contra a raiva? a) T.V. e) na escola A população de cães e gatos no município de Três Lagoas – MS estimada no último censo de 2009 foi de 14.217 animais, sendo 11.769 cães e 2.448 gatos. O número de animais vacinados na campanha anti-rábica de 2009 foi f) outros de 9.637 animais (8.693 cães e 944 gatos), ou b) rádio c) cartazes d) panfletos seja, 67,7% da população estimada. Deve-se A partir do levantamento das respostas ressaltar que vacinas anti-rábicas não aplicadas obtidas, adotou-se como critério para classificar pela equipe de vacinação municipal não entraram o nível de conhecimento sobre a zoonose, o no quantitativo de animais vacinados. seguinte: de 08 a 12 acertos - nível bom, de 4 a 7 Dos 102 proprietários entrevistados, acertos - nível regular, abaixo de 4 acertos - nível 54 (52,9%) eram do sexo feminino e 48 (47,1%) ruim. Os dados foram analisados por estatística do sexo masculino, sendo a maioria com idade descritiva. superior a 17 anos segundo a Tabela 1. TABELA 1. Distribuição dos entrevistados quanto à idade em anos completos dos proprietários entrevistados. Idade Quantidade % 7 – 10 11- 14 15 – 17 > 17 4 4 9 85 3,9 3,9 8,9 83,3 Total 102 100 No geral, a grande maioria da população entrevistada apresentou um nível de conscientização regular (Tabela 2), independente da faixa etária considerada (Figura 1). TABELA 2. Classificação do grau de conscientização da população entrevistada sobre a importância da raiva frente à saúde pública de acordo com o número de respostas corretas. Nível Bom Regular Ruim nº de acertos Quantidade % 8 – 12 4–7 <4 17 70 15 16,7 68,6 14,7 Total 102 100 Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 22 - 29 26 FIGURA 1. Distribuição do nível de conhecimento sobre a importância da raiva por faixa etária. Dentre as questões abordadas a respeito do conhecimento sobre a raiva, visando o auxílio na profilaxia da doença, nota-se um maior número respostas certas, sobrepondo-se as respostas erradas (Figura 2), devido à existência de mais de um item correto em cada questão, comprovando que a população possui conhecimento regular sobre a moléstia, de acordo com o critério utilizado neste trabalho. FIGURA 2. Distribuição de acertos e erros em relação ao conhecimento sobre a raiva. Todos os veículos utilizados como propaganda da campanha anti-rábica realizada pelo Centro de Controle de Zoonoses do município de Três Lagoas – MS atingiram seu objetivo, convocando a população para a vacinação de seus animais. Numericamente foi mais expressiva a divulgação feita em canais de rádio e cartazes distribuídos pela cidade (Figura 3). Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 22 - 29 27 FIGURA 3. Distribuição dos meios de comunicação utilizados como propaganda da campanha antirábica no município de Três Lagoas – MS. Foram consideradas 16,7 % da população entrevistada com conhecimento satisfatório (nível bom) sobre a doença. Outro estudo (8) observou um nível superior (32,4%) utilizando outro critério: o grau de conhecimento das pessoas sobre a identificação da raiva em animais e humanos no estado de Minas Gerais. A espécie canina é a de maior importância na disseminação da raiva em áreas urbanas, pois os cães são os principais envolvidos em acidentes com mordeduras em humanos e animais, tornando-se potenciais transmissores da zoonose. Em Três Lagoas – MS, a média anual de acidentes por mordedura é de 216 casos, sendo 168 (77,8%) agressões por cães e 48 (22,2%) por gatos, evidenciando o cão, mais uma vez, como o principal possível transmissor da doença (16). No período de 1970 a 2002 foi constatado que 78% dos pacientes que foram a óbito pela doença, registrados no instituto Pasteur, não procuraram serviços médicos, provavelmente por falta de esclarecimento em relação à conduta a seguir após o acidente (2). Fichas individuais de profilaxia da raiva humana preenchidas nas Unidades de Saúde dos Distritos de Marília, Assis e Tupã no período de 1982-1983, por pessoas que se julgaram expostas ao risco de infecção pelo vírus rábico, evidenciaram que 3.465 pessoas foram agredidas por cães e 355 por gatos (11). Um levantamento das espécies com potencial de transmissão da raiva, envolvidas em ataques por mordeduras em humanos(4) mostrou que dos 1.226 ataques registrados, 1.087 (88,7%) foram por cães, 104 (8,5%) por gatos e 35 (2,8%) por outras espécies entre elas quirópteros, roedores e primatas. Em Três Lagoas – MS, as agressões ocorrem na sua maioria em bairros de periferia, principalmente no bairro Interlagos, Vila Nova e Santa Luzia, contudo, há mais de dez anos não se tem relato de casos de raiva em humanos (16). Um estudo feito em Ribeirão Preto – SP (10) verificou maior número de casos confirmados em animais domésticos nas áreas da cidade com maior presença de favelas e de grupos populacionais de baixa renda, acometendo em sua maioria cães errantes e parcialmente domiciliados. Assim como Miranda et al. (2003)(9) que após análise das diferentes áreas de risco de transmissão de raiva humana no estado de Minas Gerais no período Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 22 - 29 28 de 1991 a 1999, observou que as áreas mais predisponentes coincidem com as de maior pobreza e analfabetismo. Para que as medidas de controle sejam eficientes, é necessário que a população apóie as ações das autoridades de saúde (15) , para que isso ocorra, essa população deve estar consciente sobre a importância da Raiva e sobre as medidas que são adotadas para evitá-las. Como é uma doença incurável, que culmina em uma morte lenta e com grande sofrimento, geralmente a população aceita muito bem as orientações que são dadas no sentido de preveni-la. Dentre as informações a serem passadas a população, deve-se ressaltar a conscientização em relação aos cães errantes; às campanhas de vacinação anual de cães e gatos promovidos pela prefeitura da cidade; avisar ao serviço de saúde animal a ocorrência de animais suspeitos de raiva, ou no caso de mordedura de pessoas; não manter animais silvestres como de estimação, sem a autorização do IBAMA e do conhecimento sobre o manejo e doenças causadas por estes; não destruir ecossistemas evitando-se que os animais que não vivem em cidades migrem para essas à procura de abrigo e alimentos, como no caso de morcegos. Além disso, é importante frisar que todo o animal é de inteira responsabilidade do proprietário, por isso, os animais devem sempre estar em dia com a vacinação e sanidade(4). CONCLUSÃO Conclui-se que a maioria dos entrevistados possui conhecimento regular sobre a zoonose raiva no município de Três Lagoas – MS. Logo se percebe a necessidade da conscientização da população, através de programas educativos de caráter contínuo dando ênfase ao real conhecimento dos riscos da doença, esclarecimentos sobre quais animais são potencialmente transmissores, cuidados após a exposição aos mesmos e medidas profiláticas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ANDRADE, M.C.R. et al. Resposta imune produzida por vacinas anti-rábicas em saguis (Callithrix sp). Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 32, p. 533-540, 1999. 2. CARRIERI, M.L. et al. Diagnóstico clínicoepidemiológico da raiva humana: dados do instituto Pasteur São Paulo, do período de 1970-2002. Disponível em: <http:www.cve.saude.sp.gov.br/ agencia/bepa29_raiva.htm> Acesso em: 21 fev 2010. 3. CORRÊA W.M. & CORRÊA C.N.M. Enfermidades Infecciosas dos Mamíferos Domésticos. 2ª ed. Belo Horizonte: Medsi, 1992. 844p. 4. FRANZO, V.S. et al. Prevalência de ataques anual através da mordedura de animais com potencialidade de transmissão da raiva no município de Leme, Estado de São Paulo, 2004-2006 Revista Ciências Veterinária, v. 5 (5), p.91-95, 2007. 5. INSTITUTO DE SAÚDE DO PARANÁ. Considerações sobre a raiva: norma técnica de tratamento anti-rábico. Centro de Epidemiologia. Curitiba: Instituto de Saúde do Paraná; 1995. 6. ITO, F.H. Raiva Urbana: Aspectos clínicos e programa de controle. In: XXXV Semana capixaba do médico veterinário e III Encontro regional de saúde pública em medicina veterinária, Guarapari, 2008. Disponível em: <http:// www.crmves.org.br/documentos/palestras/ raivaurbanaspectosclinicosprogramacontrole.pdf>. Acesso em: 15 fev 2010. 7. LEMOS, R.A.A.; MORI, A.E. Principais Enfermidades de bovinos de corte do Mato Grosso do Sul: reconhecimento e diagnóstico. Revista UFMS, p. 47-58, 1998. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 22 - 29 29 8. MIRANDA, C.F.J. Fatores de ocorrência da 15. SCHNEIDER, M.C. et al. Controle da raiva raiva humana e canina em Minas Gerais, 1999- no Brasil de 1980 a 1990. Revista de Saúde 2007. 2007. 337f. Tese (Doutorado em Pública, v. 30 (2), p. 196-203, 1996. Epidemiologia)- Universidade Federal de Minas 16. SECRETARIA DA SAÚDE. Prefeitura Mu- Gerais, Belo Horizonte, 2007. nicipal de Três Lagoas – MS. 9. MIRANDA, C.F.J. et al. Raiva humana transmitida por cães: áreas de risco em Minas Gerais, Brasil, 1991-1999. Cadernos de Saúde Pública, v. 19 (1), p. 91-99, 2003. 10. PASSOS, A.D.C.; SILVA, A.A.M.C.C.; FERREIRA, A.H.C.; SILVA, J.M.; MONTEIRO, M.E.; SANTIAGO, R.C. Epizootia de raiva na área urbana de Ribeirão Preto, SP, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 14 (4), p.735-740, 1998. 11. PINTO, C.L.; ALLEONI, E.S. Aspectos da vigilância epidemiológica da raiva em sub-regiões administrativas do estado de São Paulo, Brasil, 1982-1983. Revista Saúde Pública, v. 20 (4), p. 288-292, 1986. 12. RAIVA - On line. Disponível em: <http:// www.pasteur.saude.sp.gov.br/raiva>. Acesso em: 20 jan 2010. 13. RAMOS, M.C.D. Perfil psicossocial das pessoas agredidas por animais raivosos ou suspeitos de raiva na grande São Paulo. Revista de Saúde Pública, v. 12 (1), p. 26-34, 1978. 14. SALINEIRO, K.C.R.M. Casos positivos de raiva em eqüídeos diagnosticados em Mato Grosso do Sul no período de 2001 a 2006. Monografia. (Especialização Latu Sensu em Vigilância e Saúde e Defesa Sanitária Animal) - Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Campo Grande, 2008. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 22 - 29 Recebido: 07/03/2010 Aceito: 25/04/2010 30 CIÊNCIAS AGRÁRIAS TRABALHO ORIGINAL PREVALÊNCIA DA CISTICERCOSE BOVINA EM ANIMAIS ABATIDOS EM MATADOURO-FRIGORÍFICO NO MUNICÍPIO DE ANDRADINA ESTADO DE SÃO PAULO SUBMETIDOS AO CONTOLE DO SERVIÇO DE INSPEÇÃO FEDERAL (SIF-385), NO ANO DE 2007 PREVALENCE OF CISTICERCOSIS BOVINE IN ANIMALS SLAUGHTERED IN A SLAUGHTERHOUSE IN THE CITY OF ANDRADINA OF SÃO PAULO STATE UNDER FEDERAL INSPECTION SERVICE CONTROL (FIS-385), IN THE YEAR OF 2007. José Osmar Maximino Fernandes¹, André Spegiorin Suttini², Caio Leonardo Garcia Cuelhar², Giovani José Miranda Abreu², Luiz Francisco Mariano Mattos Leite², Rodrigo Piva Dias² RESUMO O presente estudo verificou a prevalência da cisticercose bovina em 267.851 animais abatidos no período de 01 de janeiro à 31 de dezembro de 2007, em um matadouro-frigorífico localizado no município de Andradina - SP, sob o Serviço de Inspeção Federal SIF 385. Para isso foram utilizadas as Papeletas de Comunicação de Abate e de Inspeção “ANTE MORTEM” e Papeleta de Exames do Departamento de Inspeção Final (DIF) “POST MORTEM”. O levantamento revelou que, dos animais abatidos, 2656 apresentavam-se parasitados pelo Cysticercus bovis, revelando uma prevalência de 0,99%. Os dados foram submetidos à análise descritiva e revelaram os índices de cisticercose de acordo com a procedência dos animais que foram no estado do Mato Grosso do Sul (0,86%), São Paulo (1,32%), Goiás (0,62%), Tocantins (2,8%) e Mato Grosso (13,8%). Identificou-se também a respectiva predileção do parasito na musculatura e os resultados encontrados foram: cabeça (59,82%), coração (38,66%), esôfago (1,10%), fígado (0,30%) e língua (0,11%). Unitermos: Cysticercus sp, condenação de carcaças, inspeção de carnes. ABSTRACT This study found the prevalence of cysticercosis bovine in 267,851 slaughtered animals during the period from January 01st to December 31st, 2007, at a slaughterhouse located in the city of Andradina Sao Paulo state, under Federal Inspection Service control FIS 385. T. For this have been used Slips of Slaughter Communication and Inspection “ANTE MORTEM” and Slips of Examinations from Final Inspection Department (FID) “POST-MORTEM”, were used during that period. The survey revealed that, from the slaughtered animals, 2656 were seen to be parasitized by Cysticercus bovis, showing a prevalence of 0,99%. The data obtained were submitted to descriptive analysis that revealed cysticercosis rates according to animal origin that were from Mato Grosso do Sul (0,86%), São Paulo (1,32%), Goias (0,62%), Tocantins (2,8%) and Mato Grosso (13,8%). It also identified the predilection of the parasite to the following: head (59,82%), heart (38,66%), esophagus (1,10%), liver (0,30%) and tongue (0,11%). Uniterms: condemnation carcass, Cysticercus sp, inspection beef. 1 Professor Ms. do Curso de Medicina Veterinária da FCAA - Andradina/SP 2 Alunos do Curso de Medicina Veterinária da FCAA - Andradina/SP Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 30 - 34 31 INTRODUÇÃO O complexo teníase-cisticercose destacase entre as enfermidades parasitárias de maior relevância quanto aos aspectos econômicos e de saúde pública pelas perdas econômicas na produção animal, bem como, pela longevidade e gravidade dos distúrbios que causam ao homem. (15) . A prevalência de cisticercose em humanos está diretamente ligada com o grau de saneamento básico (9) e pode acometer diferentes órgãos e sistemas (5), que podem levar a morte. A cisticercose bovina, por sua vez, tem origem nas más condições de manejo e, sobretudo, na contaminação ambiental provocada pelo próprio homem (13), uma vez que a infecção em bovinos ocorre pela ingestão de pastagens e água contaminada com ovos do parasito (12). Quando instalada nos animais, a cisticercose bovina não apresenta sintomas (11) e assim passa imperceptível aos olhos do criador, que se dá conta da importância do controle desta enfermidade, somente quando o animal for para o abate (10), pois quando detectada, acarreta prejuízos, em virtude da condenação parcial ou total das carcaças e órgãos parasitados ou quando a carne é aquosa ou descorada (2). Os cisticercos tendem a se localizar nos músculos com rico suprimento de mioglobina (6), onde ocorre uma melhor oxigenação dos tecidos. Portanto, o coração, os músculos mastigatórios e a língua dos bovinos são examinados durante a inspeção sanitária, porém estes cistos são mais frequentemente observados na musculatura esquelética e no miocárdio (7). O matadouro desempenha duas funções básicas no que se refere ao complexo teníase/ cisticercose (T. saginata). A primeira é participar da prevenção da teníase humana, através da destinação adequada de carcaças e órgãos bovinos cirticercóticos. A segunda é atuar como fonte de dados estatísticos e nosogeográficos, função esta primordial dentro da vigilância sanitária (14). A inspeção de carnes ainda continua a ser a única forma prática de detectar e diagnosticar o Cysticercus bovis nos matadouros, através do exame post-mortem (4), impedindo que carcaças impróprias para o consumo sejam comercializadas (3) . O presente trabalho teve como objetivo, avaliar a prevalência da cisticercose em carcaças de bovinos abatidos no matadouro-frigorífico JBS submetidos ao Serviço de Inspeção Federal no município de Andradina, bem como, o estado de procedência destes animais e localização dos cistos. MATERIAL E MÉTODOS Para realização deste trabalho foram analisadas as Papeletas de Comunicação de Abate e de Inspeção “ANTE MORTEM” e Papeleta de Exames do Departamento de Inspeção Final (DIF) “POST MORTEM” de 267.851 animais abatidos no município de Andradina, região noroeste do Estado de São Paulo. Os dados recolhidos foram do período entre 01 de janeiro e 31 de dezembro de 2007 e os animais inspecionados eram provenientes dos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e Mato Grosso. A inspeção de carnes, realizada em matadouros-frigoríficos, possibilitou o diagnóstico da cisticercose bovina, através do exame postmortem. Nesse exame, foram realizadas incisões na musculatura esquelética e em órgãos onde os cistos são encontrados com maior frequência e o diagnóstico se fez através da sua visualização macroscópica. Os procedimentos realizados pelos técnicos do SIF 385, para pesquisa de cisticercose bovina nas linhas de inspeção (cabeça, língua, coração, diafragma e esôfago), foram realizados de acordo com o Art. 176 do Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (2) e o Manual de Inspeção de Carnes (1). Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 30 - 34 32 RESULTADOS E DISCUSSÃO Baseado nos achados macroscópicos do Serviço de Inspeção Federal (SIF-385) foi observado que 2.615 animais apresentavam-se parasitados pelo Cysticercus bovis, totalizando uma prevalência de 0,99 % (Tabela 1). TABELA 1. Prevalência de cisticercose bovina em animais abatidos no matadouro-frigorífico no município de Andradina - SP, no período de 01 de janeiro à 31 de Dezembro de 2007. Estado de Animais Animais Procedência Abatidos Acometidos Prevalência Animais Positivos (%) Cistos Cistos vivos calcificados Mato Grosso do Sul 190313 1640 1116 524 0,86 São Paulo 74846 989 726 263 1,32 Goiás 2584 16 15 1 0,62 Tocantins 36 1 - 1 2,8 Mato Grosso 72 10 10 - 13,8 TOTAL 267851 2656 1867 789 0,99 Ao analisar os resultados, por procedência, observou-se que o estado que apresentou maior incidência de casos de cisticercose bovina, foi o do Mato Grosso com prevalência de (13,8%) dos animais abatidos, que era, no entanto, um único lote de animais, vindos de uma área endêmica. Em contra partida o estado de menor incidência foi o de Goiás com incidência de 0,62%. Com relação aos órgãos parasitados, verificou-se prevalência de 59,82% (1589) na cabeça, 38,66% (1027) no músculo cardíaco, 1,10% (29) no esôfago, 0,30% (8) no fígado e 0,11% (3) na língua (Tabela 2). TABELA 2. Distribuição anatômica dos cisticercos. Localização Número de casos (%) Cabeça 1589 59,82 Músculo Cardíaco 1027 38,66 Esôfago 29 1,10 Fígado 8 0,30 Língua 3 0,11 Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 30 - 34 33 A partir destes estudos, pode-se observar que existem dois locais de maiores achados de cisticercos, que são a cabeça e o coração. Esses achados corroboram dados obtidos como de predileção (8), em virtude de serem áreas muito irrigadas (16) com melhor oxigenação dos tecidos e rico suprimento de hemoglobina. Outros locais são destacados ainda como locais de predileção (16) tais como a língua, o diafragma e a faringe e por isso o coração, os músculos mastigatórios e a língua devem receber especial atenção durante a inspeção sanitária de rotina (2). CONCLUSÃO Com base no estudo realizado, pode se afirmar que a cisticercose é uma importante causa de condenação de órgãos e carcaças, dos bovinos abatidos sob o regime de Inspeção Federal. Desta forma torna-se necessário a adoção de medidas sanitárias e sócio-educativas para prevenção de tal enfermidade, proporcionando assim uma melhor qualidade na saúde pública, bem como, uma redução nos prejuízos econômicos causados aos pecuaristas. Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA). Brasília: RIISPOA, 241 p., 1997. 3. CORRÊA, G. L. B. et al. Prevalência de Cisticercose em bovinos abatidos em Santo Antonio das Missões, RS, Brasil. Revista da Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia, v. 4 (1), p. 43-45, 1997. 4. FUKUDA, R. T. et al. Estudo comparativo entre técnicas de inspeção do diafragma para o diagnóstico da cisticercose bovina. Higiene Alimentar, v. 12 (55), p. 51-62, 1998. AGRADECIMENTOS A equipe do SIF-385 e ao matadourofrigorífico JBS/SA. 5. GUILHERME, A. L. F. et al. Cisticercose em animais abatidos em Sabáudia, Estado do Paraná. Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 58 (5), p. 950-951, 2006. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 6. KEARNEY, A. Cysticercus bovis some 1. BRASIL. Inspeção de carnes. Padronização de técnicas, instalações e equipamentos. I – Bovinos. Brasília. DIPOA/DICAR/MA, 1971. 183p. 2. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretária de Defesa Agropecuária e Abastecimento (DAS). Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA). Divisão de Normas Técnicas (DNT). Decreto lei n° 1.225 de 25/06/ 62, n° 1.236 de 02/09/94, n° 1.812 de 08/02/96 e n° 2.224 de 04/06/97. Regulamento da Inspeção factors which may influence cyst distribution. Journal of Parasitology, v. 56, p. 183, 1970. 7. Mc GAVIN, M. D. Muscles. IN: CARLTON, W. W.; Mc GAVIN, M.D. Thompson´s special veterinary pathology. 2 ed., p. 393-422, Mosby: St Louis, 1995. 8. MITCHELL, J. R. Incidence and predilection sites of Cysticercus bovis in cattle in Uganda, Die Fleischwirchaft, v. 47, p. 977, 1967. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 30 - 34 34 9. PAIVA, D. P. Conhecendo a Prevalência da Cisticercose Suína e Bovina no Brasil. Disponível em: http://www.agrosoft.org.br/ ?q=node/19197. Acesso em 10 junho de 2008. 10. PEREIRA, M. A. V. C. et al. Prevalência da cisticercose em carcaças de bovinos abatidos em matadouros-frigoríficos do Estado do Rio de Janeiro, submetidos ao controle do serviço de Inspeção Federal (SIF-RJ), no período de 1997 13. UNGAR, M. L. et al. Cisticercose bovina. In: GERMANO, M. I. S.; GERMANO, P. M. L. Higiene e vigilância sanitária de alimentos. São Paulo: Varela, 2003. p. 335 - 339. 14. UNGAR, M. L. et al. O valor dos registros de estabelecimento de abate para a saúde pública. Comunidade Científica Faculdade Medicina Veterinária e Zootecnia USP, v.14, p.161-165, 1990. a 2003. Arquivos Instituto Biológico, v. 73 (1), p. 83-87, 2006. 11. SANTOS, V. C. R. et al. Prevalência da cisticercose em bovinos abatidos sob Inspeção Federal no município de Jequié, Bahia, Brasil. Ciência Animal Brasileira, v. 9 (1), p. 132-139, 2008. 15. VILLA, M. F. G. Situação Epidemiológica do complexo teníase-cisticercose como problema de Saúde Pública no Brasil. Revista Higiene Alimentar, v. 9 (36), p. 8-11, 1995. 16. WIESNER, E. Enfermedades del ganado bovino. Zaragoza: Acribia, p. 628, 1973. 12. TEIXEIRA, A. L. S. Distribuição geográfica da frequência da cisticercose em bovinos abatidos em estabelecimento sob Inspeção Federal no estado do Rio de Janeiro. Niterói, 1996. 57f. Monografia (Graduação) - Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Federal Fluminense. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 30 - 34 Recebido: 01/09/2008 Aceito: 26/11/2008 35 CIÊNCIAS AGRÁRIAS TRABALHO ORIGINAL DESEMPENHO DE LEITÕES ÓRFÃOS SOB DOIS NÍVEIS DE LEITE EM PÓ NA RAÇÃO PERFORMANCE OF ORPHAN PIGLETS UNDER TWO LEVELS OF MILK POWDER IN DIET Priscila Diniz Lopes1, Ana Carolina Assenço Alves dos Santos 1, Diego Gonçalves dos Santos1, José Eduardo dos Santos Silva1, Abner Matheus Marinho Fontes1, Alan Diego de Paula Garbin1, Camila Motta Marin Bernardi2 e José Reinaldo de Amorim Bernardi2 RESUMO Os leitões recém-desmamados, devido à imaturidade do sistema digestivo, apresentam dificuldade em secretar ácido clorídrico (HCl) suficiente para reduzir o pH estomacal a níveis adequados para o início do processo de digestão. A utilização de fontes de proteína de alta qualidade, como o leite em pó, é usada a fim de reduzir as desordens intestinais e melhorar o desempenho dos animais. Neste experimento foram utilizados oito leitões órfãos, divididas em dois tratamentos, com diferentes níveis de leite em pó integral na ração, 30% e 15%, dos sete aos 35 dias, 20% e 0%, dos 35 aos 49 dias de idade. Não houve diferença significativa entre o ganho de peso dos leitões para os diferentes níveis de leite em pó na ração entre os 21 a 35 dias de idade. Durante a fase dos 35 aos 49 dias de idade, os leitões que receberam leite em pó na ração obtiveram ganho de peso significativamente maior (P<0,01), do que os leitões que não receberam. Os parâmetros de consumo voluntário de ração foram semelhantes para os dois tratamentos nos dois períodos. A conversão alimentar foi pior para os leitões que receberam os menores níveis de leite em pó na ração nos dois períodos. A utilização de maiores níveis de leite em pó na ração, não levou a um aumento no ganho de peso de leitões entre os 21 e 35 dias de idade. Os leitões alimentados com maior nível de leite em pó integral na ração, no período de 35 a 49 dias de vida, apresentaram maior ganho de peso. Unitermos: ganho de peso, leite em pó, suínos. ABSTRACT The weanling piglets, due to the immaturity of their digestive system, have difficulties in secreting hydrochloric acid (HCl) sufficient to reduce gastric pH to suitable levels for the beginning of the digestion process. High quality protein sources such as powdered milk are used in order to reduce intestinal disorders and improve animal performance. In this study, eight orphaned piglets used divided into two treatments with different levels of powdered milk in their diet, 30% and 15%, from seven to 35 days, 20% and 0% from 35 to 49 days old. There was no significant difference between the weight gain of piglets for the different levels of powdered milk in the diet between 21 to 35 days of age. During the period between 35 to 49 days of age, the piglets which were fed with powdered milk in their diets had a weight gain significantly higher (P <0.01) than piglets that did not receive. The parameters of voluntary feed intake were similar for both treatments in both periods. The feed conversion was worse for the piglets that received the lowest levels of powdered milk in the diet in both periods. The use of higher levels of powdered milk in the diet, did not lead to an increase in weight gain of piglets between 21 and 35 days old. Piglets fed with higher levels of powdered milk in the diet, from 35 to 49 days of life showed higher weight gain. Uniterms: pigs, powdered milk, weight gain. 1 Alunos do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina - FCAA (Andradina) 2 Prof. Ms. do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina - FCAA (Andradina) Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 35 - 39 36 INTRODUÇÃO Na produção intensiva de suínos, o desmame dos leitões entre 21 e 28 dias de idade é atualmente uma prática comum em razão de permitir uma maior produtividade das matrizes, número de leitegadas por ano e número de leitões desmamados por matriz por ano. O desmame nessa idade requer atender uma série de necessidades dos leitões em termos de manejo, nutrição, ambiente e sanidade (5,6). O desmame precoce e a súbita alteração da dieta dos leitões provoca distúrbios digestivos que podem resultar na síndrome da má absorção e diarréia não infecciosa. Esta pode evoluir para um quadro de diarréia infecciosa, causada por microorganismos, sendo mais comuns a Escherichia coli e rotavírus (6) . Os leitões recém-desmamados, devido à imaturidade do sistema digestivo, apresentam dificuldade em secretar ácido clorídrico (HCl), suficiente para reduzir o pH estomacal a níveis adequados para o início do processo de digestão. Este fato, faz presumir que a insuficiência digestiva e as desordens intestinais dos leitões desmamados podem estar relacionadas com a condição de não manterem o pH gástrico baixo (ácido), com consequências sobre a ativação da pepsina, proliferação de coliformes e taxa de esvaziamento estomacal (5). Dietas contendo fontes de proteína de alta qualidade, como leite em pó integral e farinha de peixe sem fonte suplementar de alimentos energéticos, como soro de leite, quando fornecidas a leitões dos 14 aos 42 dias de idade, proporcionaram os mesmos resultados de desempenho de leitões desmamados aos 28 dias de idade e recebendo rações simples à base de milho e farelo de soja (4). A fonte mais comum de lactose é o leite em pó, contendo 70% de lactose, e também o leite desnatado em pó, contendo 50% de lactose. Outros produtos podem ser fontes de lactose, como lactose cristalina (100% lactose), permeato de lactose (80% de lactose), queijo em pó, concentrado protéico de leite e resíduos de achocolatados (2). Existem raças de origem brasileira que ganham destaque pela sua rusticidade e facilidade no manejo como alternativa para produção de carne (3). A raça Moura apresenta índices de produtividade inferior àqueles obtidos pelos genótipos modernos, porém, apesar de ainda não terem sido analisados, existem evidências de superioridade em relação aos parâmetros de qualidade da carne, em especial aqueles exigidos para a produção de presuntos curados, com possibilidade de agregar altos valores comerciais. Além disso, como compensação as altas conversões alimentares observadas, os suínos da raça Moura, pela sua rusticidade e melhor adaptação aos sistemas mais econômicos de produção, podem mais facilmente absorver os subprodutos da propriedade rural, tornando a exploração menos demandante de insumos de alto custo e com características ideais para a produção orgânica (3). O presente trabalho teve como objetivo avaliar o ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar de leitões órfãos alimentados com diferentes níveis de leite em pó integral na ração. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado na Escola Técnica Agrícola Sebastiana Augusta de Moraes, localizada na cidade de Andradina, estado de São Paulo. Foram utilizados oito leitões da raça Moura. A matriz foi vermifugada 65 dias antes do parto. Os leitões tiveram acesso ao colostro suíno durante as primeiras 24 horas de vida. Logo após a perda da mãe os animais passaram a receber uma mistura de leite bovino, gema e açúcar, na proporção de um litro de leite, duas gemas e uma colher de sopa de açúcar, e água à vontade, inicialmente, em mamadeiras e a partir de 10 dias em cochos circulares. A partir do sétimo dia de vida, foi introduzida a ração sólida Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina,v.8, 2008 35 - 39 37 e os leitões foram divididos em delineamento inteiramente casualizado (DIC), em dois tratamentos, com quatro repetições cada um. Nos primeiros dias de fornecimento de ração concentrada foi colocado um pouco da ração misturada ao leite para que os animais pudessem se adaptar mais rapidamente a ração sólida. A ração concentrada farelada comercial para suínos na fase inicial continha 18,5% de proteína bruta (PB) e 3.080 Kcal de Energia Metabolizável (EM)/kg de ração e o leite em pó integral continha 24% PB, 26% de Extrato Etéreo (EE) e 40% de Lactose. Os níveis utilizados para inclusão de leite em pó na ração seguiram as recomendações do Cnpsa – Embrapa (1), que são de 12 a 14% de lactose dos sete aos 35 dias de vida e 7% de lactose dos 35 aos 49 dias de vida, para leitões desmamados aos 21 dias de idade. Os leitões foram desmamados com 21 dias de vida. Os animais receberam no período de sete aos 35 dias de vida, 30% de leite em pó integral e 15% de leite em pó integral incluídos na ração concentrada farelada comercial para suínos na fase inicial para os tratamentos Leite + e Leite -, respectivamente, e a partir de 36 dias até os 49 dias de vida, os animais do tratamento Leite + passaram a receber 20% de leite em pó integral e os animais do tratamento Leite -, somente a ração concentrada farelada comercial. Durante todo o período experimental os animais permaneceram em baias coletivas, estas foram varridas diariamente e, semanalmente, lavadas e desinfetadas. Os comedouros e bebedouros foram lavados diariamente antes do primeiro trato diário. Aos cinco dias de vida os leitões receberam ferro dextrano (10%), via intramuscular, na dosagem de 2 ml por animal. Foram avaliados os parâmetros de peso vivo individual, ganho de peso vivo individual, consumo de ração e conversão alimentar de cada lote. Os animais foram pesados ao nascer e semanalmente até completarem 49 dias de idade. A quantidade de ração fornecida e as sobras eram pesadas duas vezes por semana durante todo o período experimental. Os dados de ganho de peso individual foram analisados pelo teste F ao nível de 1% de significância. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados de peso vivo médio ao nascer, aos 21, 35 e 49 dias de vida, ganho de peso vivo diário médio em diferentes períodos (0 – 21 dias, 21 – 35 dias e 35 – 49 dias de idade), consumo voluntário de ração e conversão alimentar dos leitões dos 21 aos 35 dias e 35 aos 49 dias de idade, para os tratamentos Leite + e Leite – estão ilustrados nas Tabelas 1 e 2. TABELA 1. Peso vivo (PV) e ganho de peso vivo diário (GPVD) dos leitões, em diferentes períodos de vida, para os diferentes níveis de leite na ração. PV PV GPVD PV GPVD PV GPVD Nascer 21 dias 0 - 21 dias 35 dias 21 - 35 49 dias 35 - 49 dias (kg) (kg) (kg) (kg) dias (kg) (kg) (kg) Leite + 1,329 3,627 0,109NS 5,525 0,136NS 8,475 0,211** Leite – 1,381 3,641 0,108 5,350 0,122 7,200 0,132 Média 1,355 3,634 0,1085 5,437 0,129 7,837 0,171 Parâmetros NS Não significativo (P>0,05); ** Significativo ao nível de 1% de probabilidade (P<0,01). Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 35 - 39 38 TABELA 2. Consumo voluntário diário (CVD) e conversão alimentar (CA) dos leitões, em diferentes períodos de vida, para os diferentes níveis de leite na ração. Parâmetros CA a 21-35 dias CVD 35-49 dias CA a 35-49 dias Leite + 193,45 1,42 750,85 3,56 Leite - 195,68 1,60 755,25 5,72 194,56 1,51 753,05 4,64 Média a CVD 21-35 dias CA (CVD/GPVD) Não houve diferença significativa (P>0,05), entre o ganho de peso dos leitões para os diferentes níveis de leite em pó na ração, 30% e 15%, respectivamente, entre os 21 a 35 dias de idade, provavelmente porque os níveis de leite em pó fornecidos na ração atendiam as exigências de lactose dos animais, proporcionando um consumo CONCLUSÃO Os leitões alimentados com maior nível de leite em pó integral na ração, no período de 35 a 49 dias de vida, apresentaram maior ganho de peso e menor conversão alimentar. Este tipo de manejo pode ser recomendado em pequenos plantéis que produzem animais de raças mais rústicas, como a raça Moura. voluntário semelhante dos animais nos diferentes tratamentos, corroborando resultados obtidos em trabalho semelhante (4). Durante a fase dos 35 aos 49 dias de idade, os leitões que receberam leite em pó na ração AGRADECIMENTOS A Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina-SP, pela iniciativa e custeio de todo o projeto. obtiveram ganho de peso significativamente maior (P<0,01), que os leitões que não receberam leite em pó na ração. Os parâmetros de consumo voluntário de ração foram semelhantes para os dois tratamentos nos períodos de 21 a 35 e 35 a 49 dias de idade, resultados semelhantes aos encontrados por Ferreira et al. (2001) (4). No entanto a conversão alimentar foi pior para os leitões que receberam os menores níveis de leite em pó na ração nos dois períodos, 15% entre 21 a 35 dias de idade e 0%, de 35 a 49 dias de idade, respectivamente. Os leitões apresentaram pesos vivos baixos em relação a animais confinados da mesma raça semelhante aos resultados de Fávero et al. (2007) , fato que pode ser atribuído aos animais serem (3) órfãos e apresentarem baixo consumo de ração ao desmame (21 dias). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BERTOL, T.M. Alimentação dos leitões na creche de acordo com a idade de desmame. http:// 1999. Disponível em w w w. c n p s a . e m b r a p a . b r / down.php?tipo=publicacoes&cod_publicacao=240 Acesso em: 02/10/2009. 2. BUNZEN, S. et al. Recentes avanços na nutrição de suínos. In: Simpósio Brasil Sul de Suinocultura, 2008, Chapecó. Anais... Chapecó. Disponível em: http://www.cnpsa.embrapa.br/ down.php?tipo=publicacoes&cod_publicacao... Acesso em: 04/10/2009. 3. FAVERO, J.A. et al. A raça de suínos Moura como alternativa para a produção agroecológica de carne. Revista Brasileira Agroecologia, v.2 (1), p.1662-1665, 2007. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 35 - 39 39 4. FERREIRA, V.P.A. Dietas para leitões em 6. IAFIGLIOLA, M. Importância da aleitamento e pós-desmame. Revista Brasileira Alimentação de Leitões no Período Pré e Pós- de Zootecnia, v.30 (3), p.753-760, 2001. Desmame. Artigo Técnico Polinutri Alimentos, 2001. Disponível em: www.polinutri.com.br/ 5. FONTES, D.O.; MOREIRA, H.F.V. Nutrição upload/artigo/144.pdf. Acesso em: 22/10/2009. de leitões no período de desmame. Disponível em: http://www.abravesmg.org.br/artigos/ Nutricao%20de%20Leitoes%20no%20 Periodo%20de%20Desmame.pdf. Acesso em: 02/10/2009. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina,v.8, 2008 35 - 39 Recebido: 22/06/2010 Aceito: 30/07/2010 40 CIÊNCIAS AGRÁRIAS TRABALHO ORIGINAL LEVANTAMENTO DE ESPÉCIES FLORESTAIS EM ÁREA DE SISTEMA SILVIPASTORIL SURVEY OF FOREST SPECIES IN AREA OF AGROFORESTRY SYSTEM Carla Renata Silva Baleroni Guerra1, Mario Luiz Teixeira de Moraes2, Cristina Lacerda Soares Petrarolha Silva1, Camila Regina Silva Baleroni Recco1, José Cambuim3 RESUMO A fragmentação florestal ocorrida nos últimos anos, devido ao acelerado processo de desmatamento, tem ocasionado a perda da diversidade biológica e sustentabilidade no ciclo natural das florestas. A partir da caracterização de fragmentos remanescentes, concluiu-se que as áreas de proteção natural sofreram diversas alterações devido a ações antrópicas e naturais e que alguns destes fragmentos necessitam de interferência para impedir o processo de perda da biodiversidade diminuindo a instabilidade das populações, comunidades e ecossistemas. Este trabalho teve como objetivo avaliar a regeneração natural de espécies florestais em sistema silvipastoril. A identificação das espécies foi realizada em uma área de 2,42 ha, onde aos 15,5 anos foi instalado um teste de progênies/procedências de M. urundeuva, consorciada com T. micrantha, atualmente além da aroeira a área encontra-se colonizada também por outras espécies arbóreas e por Brachiaria brizantha. No estudo de regeneração natural na área, foram identificados 1718,27 ind/ ha, pertencentes a 36 famílias botânicas. Verificou-se que as famílias que apresentaram maior número de espécies em regeneração foram a Leguminosae, com 11 espécies, Myratceae e Anonaceae, com 4 espécies cada e Clusiaceae e Malpighiaceae, com 3 espécies em cada família. Unitermos: fragmentação florestal, regeneração natural, sistema silvipastoril. ABSTRACT The forest spalling occurred in recent years, due to the fast process of deforestation, has caused the loss of biological diversity and support in the natural cycle of the forests. From the characterization of remaining fragmentation one concluded that the areas of natural protection had suffered several changes due to human and natural action and that some of these fragmentation need interference to hinder the process of loss of biodiversity decreasing the instability of populations, communities and ecosystems. This work had as objective to evaluate the natural regeneration of forest species in agroforestry systems. The identification of the species was carried through in an area of 2,42 ha, where at the age of 15,5 years a test of lineages/origins of M. urundeuva, was installed joined with T. micrantha, currently besides the aroeira, the area is also colonized by other tree species and Brachiaria brizantha. In the study of natural regeneration in the area, 1718,27 ind/ha belonging to 36 botanical families were identified, pertaining. The families that presented the greater number of species in regeneration was the Leguminosae, with 11 species, Myratceae and Anonaceae, with 4 species each and Clusiaceae and Malpighiaceae, with 3 species in each family. Uniterms: agroforestry system, forest spalling, natural regeneration. Profa. Dra. da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina - FCAA Professor (a) da Universidade Estadual Paulista – Ilha Solteira 3 Tecnico de apoio a pesquisa –FE/Ilha Solteira 1 2 Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 40 - 45 41 INTRODUÇÃO As florestas tropicais formam um conjunto de áreas em diferentes estádios de sucessão, uma complexa dinâmica de renovação contínua da floresta, restaurando os pontos de distúrbio (13). Essas áreas podem ter diferentes composições de espécies, pois representam comunidades em diferentes graus de maturidade sucessional (14) . Entender como as espécies vegetais se estabelecem, colonizam e se sucedem no tempo e no espaço tem sido um esforço constante daqueles que se dedicam ao estudo dos mecanismos da ecologia vegetal. O conhecimento dos mecanismos de sucessão ecológica pode trazer benefícios a humanidade, principalmente no que se refere ao manejo sustentado dos recursos naturais e à reabilitação de áreas colocadas à margem do sistema produtivo (3). A sucessão secundária acontece com a dinâmica florestal, em que diferentes grupos sucessionais irão se estabelecendo e se substituindo até que as clareiras se reconstituam. A substituição de espécies e grupos ecológicos, ou seja, a sucessão secundária, após um distúrbio natural ou provocado, é um processo lento. A sucessão florestal demanda tempo e simplesmente proteger uma área degradada, não garante a sua recuperação. Além do tempo é necessário que ocorram condições favoráveis, como a chegada de sementes (dispersão) ou a presença de sementes no solo (banco de sementes), em que as espécies que se instalarem no local pertençam a categorias sucessionais distintas, de forma a se substituirem no tempo (5). O estudo da regeneração de espécies arbóreas e arbustivas nativas que ocorrem em áreas degradadas, incluindo a estimativa de parâmetros populacionais e outros aspectos ecológicos, é um passo importante para obtenção do conhecimento do comportamento das diferentes espécies que possam compor determinada vegetação (2). A fragmentação florestal ocorrida nos últimos anos, devido ao acelerado processo de desmatamento, tem ocasionado a perda da diversidade biológica e sustentabilidade no ciclo natural das florestas. A partir da caracterização de fragmentos remanescentes, concluiu-se que as áreas de proteção natural sofreram diversas alterações devido a ações antrópicas e naturais e que alguns destes fragmentos necessitam de interferência para impedir o processo de perda da biodiversidade diminuindo a instabilidade das populações, comunidades e ecossistemas. Assim, a caracterização destes fragmentos deve ser a etapa inicial no diagnóstico ambiental, fornecendo subsídios para a definição de um manejo adequado (4) . A expansão agropecuária nos trópicos sempre esteve associada à derrubada de florestas e vegetação nativa, com a eliminação da maioria das árvores existente para o estabelecimento das pastagens. Para tornar-se mais competitiva, a pecuária brasileira vem preterindo o modelo extrativista em favor daqueles que exigem investimentos em novas tecnologias e processos de produção ambientalmente ajustados, uma solução viável para enfrentar esses problemas é o estabelecimento de sistemas agroflorestais. Os sistemas agroflorestais têm sido uma alternativa de uso da terra onde várias espécies são cultivadas simultaneamente. Uma modalidade dos sistemas agroflorestais é o sistema silvipastoril, onde árvores forrageiras e animais, podem conviver em perfeita harmônia (16). Este trabalho teve como objetivo avaliar a regeneração natural de espécies florestais em sistema silvipastoril. MATERIAL E MÉTODOS O local experimental corresponde a uma área de 2,42 ha, onde aos 15,5 anos foi instalado um teste de progênies/procedências de M. urundeuva, consorciada com T. Micrantha. Atualmente além da aroeira, a área encontra-se Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 40 - 45 42 colonizada também por outras espécies arbóreas e por Brachiaria brizantha. A regeneração do local deve-se a banco de sementes que permaneceu no solo, brotação de raízes e também por dispersão de sementes por animais, já que a área encontra-se muito próxima a um fragmento de cerrado. A identificação das espécies arbóreas a campo foi realizada por Cambuim (comunicação pessoal) (2) e a identificação da nomenclatura botânica com base nos trabalhos de diversos autores (15, 1, 7, 10, 8, 6). A análise de abundância de cada espécie foi estimada de acordo com a expressão proposta por (12). Ab(abs) = Número de plantas de cada espécie Número de ha Ab(abs) = abundância absoluta Ab% = Ab(abs) x100 Número de plantas/ha Ab% = abundância relativa RESULTADOS E DISCUSSÃO Após 15,5 anos de plantio de M. urundeuva consorciada com T. micrantha, foi realizado o levantamento da ocorrência de outras espécies no local e os resultados estão expressos na Tabela 1. O teste de progênies/procedências foi instalado inicialmente com M. urundeuva e T. micrantha. A instalação foi realizada em consórcio, levando em consideração que a M. urundeuva apresenta um comportamento ecológico de secundária tardia, e a T. micrantha de pioneira. Assim, após 4 anos de instalação do teste verificou-se na T. micrantha a morte dos indivíduos desta espécie, proporcionando condição para o aparecimento de novas espécies arbóreas. Esse processo de regeneração natural proporcionou no local a identificação de 71 espécies mais a M. urundeuva. As espécies de ocorrência natural, foram classificadas segundo Kageyama e Gandara, (1993), em muito comuns (20-100 ind/ha), comuns (1-20 ind/ha) e raras (0,1-1 ind/ha). No estudo de regeneração natural na área, foram identificados 1718,27 ind/ha, pertencentes a 36 famílias botânicas. Verificou-se que as famílias que apresentaram maior número de espécies em regeneração foram a Leguminosae, com 11 espécies, Myratceae e Anonaceae, com 4 espécies cada e Clusiaceae e Malpighiaceae, com 3 espécies em cada família. Dentre as 71 espécies identificas 4 delas se destacaram, pois apresentaram uma alta abundância absoluta, a Byrsonima verbascifolia (340,49 ind/ha), Xylopia aromatica (267,76 ind/ha), Alibertia sessilis (213,22 ind/ha) e Zanthoxyllum hyemale (11,98 ind/ha), que juntas correspondem a 54,34% da densidade total da área, todas as outras 67 espécies totalizam 45,66% do total de indivíduos da área. Das espécies encontradas no local, 19 foram consideradas muito comuns, 25 consideradas comuns e 27 espécies foram de ocorrência rara. O principal meio de regeneração das espécies tropicais dá-se a partir da chuva de sementes (sementes dispersas recentemente), por meio do banco de sementes do solo (sementes dormentes no solo), através do banco de plântulas (plântulas estabelecidas e suprimidas no chão da floresta), e em função da formação de bosque (emissão rápida de brotos e/ou raízes provenientes de indivíduos danificados) (18). O processo de recolonização pela vegetação em um ambiente perturbado a partir dos bancos de sementes no solo, mantém um papel fundamental no equilíbrio dinâmico da floresta. Denomina-se banco de sementes no solo, a todas as sementes viáveis no solo ou asssociadas à serapilheira para uma determinada área num dado momento. É um sistema dinâmico com entrada de sementes por meio da chuva de sementes e Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 40 - 45 43 dispersão, podendo ser transitório, com sementes que germinam dentro de um ano após o início da dispersão, ou persistem, como sementes que permanecem no solo por mais de um ano (12). Esta persistência personifica, uma reserva do potencial genético acumulado (9). O entendimento dos processos de regeneração natural de comunidades vegetacionais é importante para o sucesso do seu manejo (18). Uma das informações necessárias é o conhecimento do estoque de sementes existentes no solo, ou seja, do banco de sementes do solo. TABELA 1. Ocorrência de outras espécies arbóreas no testes de progênies/ procedências de M. urundeuva instalado em Selvíria- MS aos 15,5 anos. Nome comum Nome científico Família Ocorrência AB (abs) AB% Murici Byrsonima verbascifolia Malpighiaceae MC 340,49 19,82 Pimenta de macaco Xylopia aromatica Annonaceae MC 267,76 15,59 Marmelo de cachorro Alibertia sessilis Rubiaceae MC 213,22 12,41 Mamica de porca Zanthoxyllum hyemale Rutaceae MC 111,98 6,52 Algodãozinho Asclepias curassavica Asclepiadaceae MC 86,36 5,02 Copaíba Copaifera sp Leguminosae MC 84,29 4,90 Mamica de cadela Zanthoxylum subserratum Rutaceae MC 74,38 4,33 Calunga Simaba ferruginea Simaroubaceae MC 49,17 2,86 Pau terra de folha larga Qualea grandiflora Vochysiaceae MC 42,14 2,45 Murici de anta Byrsonima sp Malpighiaceae MC 38,01 2,21 Paineira Chorisia speciosa Bombacaceae MC 35,53 2,06 Camboatá Sapindaceae Sapindaceae MC 35,12 2,04 Cabelo de Nego Ouratea spectabilis Ochnaceae C 3,30 0,19 Vergatesa Anemopaegma arvense Bignoniaceae C 2,89 0,17 Açoita – cavalo Luehea paniculata Tiliaceae C 2,89 0,17 Cambuim Myrciaria tenella . Myrtaceae C 2,06 0,12 Fumo bravo Solanum mauriciatrum Solanaceae C 1,65 0,09 Sucupira preta Bowdichia virgilioides Leguminosae – Fabaceae C 1,24 0,07 Roseira do campo Kielmeyera rubriflora Clusiaceae C 1,24 0,07 Araçá Psidium cattleyanum Myrtaceae C 1,24 0,07 Nó de cachorro Heteropterys aphrodisiaca Malpighiaceae. C 1,23 0,07 Guariroba peluda Campomanesia pubescens Arecaceae C 1,23 0,07 Pequi Caryocar brasiliense Caryocaraceae R 0,82 0,04 Monjoleiro Acacia polypylla Leguminosae R 0,82 0,04 Marolo Annona crassiflora Annonaceae R 0,82 0,04 Mandiocão Schefflera morototoni Araliaceae R 0,82 0,04 João da costa Echis tes peltata Apocinaceae R 0,82 0,04 Jacarandá caroba Jacaranda caroba Bignoniaceae R 0,82 0,04 Guariroba Syagrus oleracea Arecaceae R 0,82 0,04 Grão de galo Cordia myxa Boraginaceae R 0,82 0,04 Angico vermelho Anadenanthera macrocarpa Leguminosae – Fabaceae R 0,82 0,04 Santa barbara Melia azedarach Meliaceae R 0,41 0,02 Pinha Annona squamosa Annonaceae R 0,41 0,02 Pau santo Kielmeyera coriacea Clusiaceae R 0,41 0,02 Negamina Siparuna guianesis Monimiaceae R 0,41 0,02 Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 40 - 45 44 Tabela 1: (continuação) Nome comum Nome científico Família Ocorrência AB (abs) AB% Murici de lobo Solanum lycocarpum Solanaceae R 0,41 0,02 Macaúba Acrocomia aculeata Palmae R 0,41 0,02 Lobeira Solanum lycocarpum Solanaceae R 0,41 0,02 Japeba Pothomorphe umbellata Piperaceae R 0,41 0,02 Guapeva Chrysophyllum imperiale Sapotaceae R 0,41 0,02 Goiaba Psidium guajava Myrtaceae R 0,41 0,02 Fava de anta Dimorphandra mollis Leguminosae- Caesalpinoideae R 0,41 0,02 Capitão Zinnia elegans Compositae R 0,41 0,02 Capeva Pothomorphe umbellata Piperaceae R 0,41 0,02 Canelão Ocotea velutina Lauraceae R 0,41 0,02 Canafistula Senna multijuga Leguminosae- Caesalpinoideae R 0,41 0,02 Cajuzinho Anacardium humile Anacardiaceae R 0,41 0,02 Cafezinho Palicourea marcgravii Rubiaceae R 0,41 0,02 Baru Dipteryx alata Leguminosae-Fabaceae R 0,41 0,02 MC: muito comum; C: comum; R: rara CONCLUSÃO A área de instalação do teste de progênies/ procedências encontra-se em processo de revegetação, devido ao grande número de plantas jovens. A alta diversidade de espécies provavelmente está relacionada a alguns fatores como, proximidade de um fragmento florestal, banco de sementes do solo e rebrota de raízes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ALMEIDA, S.P. et al. Cerrado: espécies vegetais úteis. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 464p. 1998. 2. ANDRADE, L.A. et al. Análise da vegetação arbóreo-arbustiva; espontânea; ocorrente em taludes íngremes no município de Areia- estado da Paraíba. Revista Árvore, v.26 (2), p.165-172, 2002. 3. BALERONI, C.R.S., Comportamento de populações de Myracrodruon urundeuva Fr. All. procedentes de área com perturbação antrópica. Ilha Solteira, 2003. 123f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, Universidade Estadual Paulista, 2003. 4. BENEDETTI, V. ; ZANI-FILHO, J. Metodologia para caracterização de fragmentos florestais em projetos agro-silviculturais. In: CONGRESSO FLORESTAL PANAMERICANO, 1, CONGRESSO FLORESTAL BRASILEIRO, 7, 1993, Curitiba. Anais..., Curitiba SBS/SBEF, 1993. v.2, p.440446. 5. BERTONI, J.E.A.; DICKFELDT, E.P. Plantio de Myracrodruon urundeuva Fr. All. (aroeira) em área alterada de floresta: desenvolvimento das mudas e restauração florestal. Revista do Instituto Florestal, v.19 (1), p.31-38, 2007. 6. CALDATO, S.L. et al. Estudo da regeneração natural, banco de sementes e chuva de sementes na reserva genética florestal de Caçador, SC. Ciência Florestal, v.6 (1), p.27-38, 1996. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 40 - 45 45 7. CARVALHO, P.E.R. Espécies arbóreas brasileiras. Vol. 1. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica; Colombo: Embrapa Florestas, 2003. 1039p. 15. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum, 1992. 368p. 8. CARVALHO, P.E.R. Espécies arbóreas brasileiras. Vol. 2. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica; Colombo: Embrapa Florestas, 2006. 627p. 16. PACIULLO, D.S.C. et al.. Morfologia e valor nutritivo do capim – Brachiaria sob sombreamento natural e a pleno sol. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 42 (4), p.573-579, 2007. 9. DANIEL, O.; JANKAUSKIS, J. Avaliação de metodologia para o estudo do estoque de sementes do solo. Série IPEF, v.41-42, p.18-26. 1989. 10. DURIGAN, G. et al.. Plantas do cerrado paulista: Imagens de uma paisagem ameaçada. São Paulo: Páginas & Letras Editora e Gráfica, 2004. 475p. 17. SILVA, J.A. et al. Frutas nativas dos cerrados. Brasília: EMBRAPA-CPAC: EMBRAPA-SPI, 1994. 166p. 18. SIMPSON, R.L. et al. Ecology of soil seeds banks. California: Academis Press, 1989. 385p. 11. GARWOOD, N.C. 1989. In: CALDATO, S.L. et al. Estudo da regeneração natural, banco de sementes e chuva de sementes na reserva genética florestal de Caçador, SC. Ciência Florestal, v.6 (1), p.27-38, 1996. 12. KAGEYAMA, P. Y.; GANDARA, F. B. Dinâmica de populações de espécies arbóreas: implicações para o manejo e a conservação. In: SIMPÓSIO DE ECOSSISTEMAS DA COSTA BRASILEIRA, 3, 1993, Serra Negra. Simpósio... São Paulo: ACIESP, 1993. v.2, p.1-9. 13. KAGEYAMA, P.Y. Estudo para implantações de matas ciliares e de proteção na bacia hidrográfica do Passa Cinco visando a utilização para abastecimento público. Piracicaba: DAEE/USP/FEALQ, 1986. 25 p (Relatório de Pesquisa). 14. LEITÃO FILHO, H.F. et al. Ecologia da Mata Atlântica em Cubatão (SP). São Paulo: Ed. UNESP-UNICAMP, 1993.184p. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 40 - 45 Recebido: 09/02/2010 Aceito: 26/02/2010 46 CIÊNCIAS AGRÁRIAS TRABALHO ORIGINAL EFICÁCIA DE ANTIPARASITÁRIOS NO CONTROLE DE HELMINTOSES EM EQUINOS MANTIDOS À PASTO NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO EFFECTIVENESS OF CONTROL ANTIPARASITICS OF HELMINTHS ON PASTURE IN HORSES IN THE NORTHWEST REGION OF THE STATE OF SÃO PAULO Renata Furlan Pereira de Souza1, Aline Pereira Haick1, Maurício Neri Martins1, Bruno Gonçalves Canella1, Victor Hugo de Moraes Gutierres1, Mário Junqueira Dantas1, Tiago Luis Iosimuta Camilotti1, João Paulo Demarque Beltran1, Ricardo Velludo Gomes de Soutello2 RESUMO Na equinocultura as perdas causadas por verminoses levam a redução de peso e fertilidade, susceptibilidade a doenças, além de danos variados que vão desde lesões em órgãos vitais do sistema digestivo até graves distúrbios nos processos enzimáticos e hormonais, podendo ocasionar a morte. O uso indiscriminado de anti-helmínticos existentes no mercado como forma de controle e tratamento, pode levar ao surgimento de populações de vermes resistentes aos princípios ativos mais utilizados. Devido à escassez de estudos in vivo referentes à resistência parasitária em equinos considerou-se oportuno avaliar a eficácia das bases medicamentosas mais utilizadas em animais naturalmente infectados em duas propriedades localizadas na região noroeste do estado de São Paulo. Foram avaliados 80 animais na propriedade A e 45 animais na propriedade B de diferentes sexos, idades e raças, mantidos nas mesmas condições de manejo, e divididos conforme a categoria animal em grupos homogêneos, após a realização de um exame coproparasitológico prévio, conforme a contagem de ovos por grama de fezes (OPG). Na propriedade A, foram testadas três bases medicamentosas, sendo os grupos: I- ivermectina, II- ivermectina + pamoato de pirantel, III- febendazole, IV- controle. Já na propriedade B, testaram-se apenas duas bases medicamentosas, sendo os grupos: I- ivermectina + pamoato de pirantel, II- febendazole, III- controle. Os anti-helmínticos, em pasta, foram administrados por via oral, de acordo com a dose recomendada pelo fabricante. Sete dias após a aplicação, foi determinada a redução das contagens de ovos (R-OPG). A análise dos resultados pelo programa RESO indicou na propriedade A uma eficácia de R-OPG 100% nos grupos I e II, e no grupo III R-OPG 96%, caracterizando sensibilidade aos três anti-helmínticos testados. Na propriedade B, o teste de redução do OPG indicou uma eficácia de 99,6% ao uso de ivermectina + pamoato de pirantel, e 34,5% ao febendazole, caracterizando um quadro de resistência a essa última droga, provavelmente devido ao seu uso contínuo na propriedade avaliada. Unitermos: anti-helmínticos, eqüinos, resistência. ABSTRACT In equinecultures, the losses caused by worms lead to weight reduction and infertility, susceptibility to diseases, besides various damages that goes from, damage in vital organs of the digestive system to serious disorders in hormonal and enzymatic processes, that may lead to death. The indiscriminated use of anthelminthics avaiable on the market as a way of treatment and control, may lead the to appearence of worm populations resistent to the most used active principles. Due to the scarcity of in vivo studies referent to the parasite resistance in equines, it was considered important to evaluate the effectiveness of drugs most used in natural infected animals in two properties located in the northwest region of São Paulo state. Eighty animals from A property and 45 animals from B property, from different sexes, ages and races were evaluated. They where kept in the same handling conditions and divided according to the animal category in homogeneous group, after the achievement of a previous stool test, according to the egg count per gram of feces. At the A property 3 drugs were tested groups: I- ivermectin, II- ivermectin + pamoato de pirantel, IIIfebendazole, IV- control. At the B property only two drugs were tested groups: I- ivermectin + pamoato de pirantel, II- febendazole, III- control. The anthelminthics in paste form, were orally given according to the manufacturer´s recommended doses. Seven days after application, there was a reduction of the egg counts. The analysis of the result by the RESO program indicated that the A property had an effectiveness of 100% reduction of the egg count in groups I and II, and Group III: 96% reduction of the egg count, demonstrating sensitivity to the anthelminthics tested. At the B property, the test of reduction of the egg count indicated 99,6% of effectiveness to the use of ivermectin + pamoato de pirantel and 34,5% to febendazole, it demonstrated a framework of resistence to this last drug, probably due to the continuous use at the evaluated property. Uniterms: ant-helminthics, equines, resistance. 1 2 Aluno (a) do curso de Medicina Veterinária da FCAA, Andradina – SP Prof. Dr. do curso de Medicina Veterinária da FCAA Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 46 - 50 47 INTRODUÇÃO Na equinocultura as perdas econômicas causadas por parasitoses são significativas em animais utilizados para trabalho, esporte e reprodução, quando se leva em consideração a redução de peso e fertilidade, aumento na susceptibilidade a doenças, além do alto custo com tratamentos profiláticos e curativos (17). O hábito alimentar desses animais favorece o parasitismo interno, que geralmente apresentase de forma subclínica, tendo como consequência fraqueza, pelagem áspera, retardo de crescimento, hiporexia, anemia, cólicas, diarréias ou constipações, com danos variáveis, podendo ocasionar a morte, principalmente em animais jovens. Podem também causar doenças como: aneurisma verminótico, gastrenterite, nefrites, hepatite, pneumonias, dermatites e outras alterações cutâneas (9). Segundo uma distribuição mundial dos parasitas de eqüinos, guardadas as variações sazonais nos países de clima temperado, as infestações por todo e qualquer parasita são constantes, e raramente encontram-se aquelas causadas por um parasita isoladamente, mas sim por uma associação deles. A fauna parasitária é vasta abrangendo várias famílias/gêneros distintas, entre elas, os pequenos estrôngilos: Cyathostomum spp., Triodontophorus spp., Cylicostephanus spp., os grandes estrôngilos: Strongylus vulgaris, S. equinus, S. edentatus e ainda, Parascaris equorum, Oxyuris equi, Strongyloides westeri, Trichostrongylus axei, Gasterophilus spp., Habronema spp., Dictyocaulus arnfield, Anoplocephala spp (13). O controle de parasitas é complexo e envolve diversos fatores, entre eles o histórico da propriedade, resistência as drogas, localização geográfica, clima, manejo alimentar, quantidade de animais, sistema de criação, período gestacional das éguas, peso e idade de cada animal. O motivo de se fazer vermifugação é reduzir ou eliminar a carga parasitária dos animais e evitar doenças e consequências graves e irreversíveis (1). Na maioria dos plantéis utilizam-se intensamente os compostos anti-helmínticos por sua praticidade, eficiência e segurança na saúde desses animais. Os medicamentos anti-helmínticos constituem um grupo de compostos utilizados com fins curativos e preventivos desta classe de parasitos, que se localizam principalmente no trato gastrintestinal(19). Dentre os compostos disponíveis, existem quatro grupos químicos distintos que são os mais utilizados em equinos: os benzimidazóis, os imidazotiazóis que possuem baixo índice terapêutico em equinos, as pirimidinas, e o grupo das lactonas macrocíclicas que são intensamente aplicadas (6). Recomenda-se vermifugação inicial aos 60 dias com doses consecutivas a cada três meses (1). Em animais que não são vermifugados há muito tempo deve-se utilizar primeiramente uma dose menor e o restante da dose em 20 dias, para evitar que os parasitos obstruam a luz intestinal, principalmente em animais jovens (13). É importante que seja feita a mudança de base a cada três ou quatro aplicações, pois, o uso contínuo de antihelmínticos, tem potencial indução de populações resistentes a esses fármacos (5) , sendo o aparecimento da resistência parasitária praticamente inevitável e esta característica transferida para as próximas gerações (10). Devido à escassez de estudos in vivo referentes à resistência parasitária em equinos considerou-se oportuno avaliar a eficácia das bases medicamentosas mais utilizadas no mercado em animais naturalmente infectados em duas propriedades localizadas na região noroeste do estado de São Paulo. MATERIAL E MÉTODOS Foram avaliados animais naturalmente infectados, de raça, sexo e idade variados, criados a pasto, durante o mês de março de 2010, em uma propriedade localizada no município de Lavínia (A) e outra no município de Andradina (B), ambas situadas na região noroeste do estado de São Paulo. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 46 - 50 48 No primeiro dia do experimento foi realizada, individualmente, a coleta de fezes e a contagem de ovos por grama de fezes (OPG) para identificar a carga parasitária, levando em consideração valores igual ou superiores a 200. O exame foi realizado no Laboratório de Parasitologia da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina – SP. Os ovos foram quantificados de acordo com a técnica preconizada por Gordon & Whitlock (1939) modificada (4), e conforme o valor de OPG realizou-se a distribuição dos animais em grupos homogêneos, de forma que a média dos grupos fosse similar (A=2132 e B=1072). Na propriedade A avaliaram-se 80 equinos (quatro grupos com 20 animais cada) e na propriedade B 45 equinos (três grupos com 15 animais cada). Os grupos estão representados na Tabela 1. TABELA 1. Divisão dos grupos e bases medicamentosas utilizadas na propriedade A e propriedade B. Grupos Propriedade A I Ivermectina II Propriedade B Ivermectina + pamoato de pirantel Ivermectina + Pamoato de pirantel III Febendazole IV Controle Os medicamentos utilizados apresentavam-se na forma de pasta e gel em seringa plástica, com êmbolo graduado e foram administrados via oral de acordo com o peso, como recomendam os fabricantes. O monitoramento foi feito sete dias após a vermifugação, através de exames de OPG e a avaliação da eficácia baseada em método (2) que avalia à contagem de ovos de helmintos, baseandose na relação entre diferenças de posturas médias do grupo controle e dos grupos tratados. Os dados obtidos foram analisados pelo programa RESO preconizado pela Associação Mundial para o Desenvolvimento da Parasitologia Veterinária. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nos exames fecais dos equinos foi observada uma alta infecção por nematódeos, apresentando somente parasitas da ordem Strongylidae, identificados pela morfologia do ovo. A análise dos resultados pelo programa RESO indicou na propriedade A eficácia das três drogas utilizadas tendo redução de OPG (R-OPG) 100% nos grupos I e II, e no grupo III R-OPG 96%, e na propriedade B, o R-OPG indicou uma eficácia de 99,6% ao uso de ivermectina + pamoato de pirantel, e 34,5% ao febendazole, caracterizando Febendazole Controle —————— um quadro de resistência a essa última droga. Para o anti-helmíntico ser considerado efetivo no controle das verminoses, os produtos deve propiciar um percentual de R-OPG superior a 95% (10). Os mesmos resultados do presente estudo foram obtidos por autores (18,12) que avaliaram a eficácia da ivermectina na redução da contagem de ovos de parasitas em cavalos. Outro estudo (3) também relatou a eficiência de 100% dos antiparasitários abamectina e ivermectina, com a mesma forma de apresentação em gel, via oral, utilizada neste trabalho. Em Londrina-PR (15) foi avaliada a resistência de pamoato de pirantel e outras duas drogas, mebendazol e oximebendazol, pertencentes ao mesmo grupo que o febendazole (benzimidazol). Os três anti-helmínticos testados apresentaram resistência, tendo R-OPG de 86,2%, 20,8% e 56,2% respectivamente. O uso de ivermectina oral apresentou maior redução de OPG (96%) em relação ao uso da mesma droga via “pour-on” (59%), assim como outras pesquisas realizadas com equinos que observaram melhores resultados com medicamentos em pasta, tendo maior espectro de Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 46 - 50 49 ação (20,16), justificando assim a opção pela via de aplicação utilizada neste trabalho. A resistência do anti-helmíntico febendazole pode ser atribuída ao uso indiscriminado e pelo longo tempo da droga disponível no mercado. Faz-se necessário que estudos mais abrangentes sejam realizados com o objetivo de avaliar a real dimensão da resistência anti-helmíntica em equinos, pois é provável que este problema já esteja sendo causa importante de prejuízos econômicos no Brasil. A associação de pamoato de pirantel e ivermectina foi utilizada neste estudo com resultados satisfatórios. Por outro lado, em outros estudos (7, 8) em que somente o pamoato de pirantel foi administrado, verificou-se resistência em parasitas de equinos. A união de princípios ativos antiparasitários é amplamente utilizada no tratamento para endoparasitoses, já que aumenta o espectro e o período da ação dos antiparasitários. Resultados semelhantes aos encontrados na propriedade B foram obtidos em estudos realizados no estado de São Paulo, demais estados brasileiros e outros países da América do Sul. No município de Caçapava do Sul-RS(14) o uso de febendazole apresentou R-OPG de 84%. No sul do Chile (21) R-OPG de 29,2%, e em Itatinga-SP (18) a mesma droga apresentou R-OPG de 73,6%. Nesses estudos, mesmo com diferenças na redução de ovos por grama de fezes, todos apresentaram resistência frente ao uso do antihelmíntico febendazole, semelhante ao presente trabalho sugerindo a existência de cepas resistentes de parasitas de helmintos aos benzimidazóis. Não há, no Brasil, nenhum estudo amplo a respeito da frequência de tratamentos antihelmínticos realizada em equinos, porém, há algumas recomendações técnicas de esquemas supressivos com tratamentos a cada dois meses. Isso poderia levar, rapidamente, à seleção de parasitos resistentes, como observado neste trabalho. Uma das recomendações para o retardamento da seleção de populações de parasitos resistentes é o tratamento apenas de equinos com OPG acima de 200 e no caso de fêmeas adultas somente quando o valor for acima de 500(11). CONCLUSÃO Com base nos dados observados no presente experimento, concluiu- se que a administração oral de ivermectina, e pamoato de pirantel associado à ivermectina mostrou-se 100% eficiente e segura para a redução de OPG em equinos naturalmente infectados criados a pasto. O produto composto por febendazole mostrouse 96% eficiente em uma propriedade, porém em outra, não eliminou a totalidade de parasitas dos equinos tratados. Sugere-se medidas de controle seletiva visando menor seleção de parasitos resistentes. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ALVES, B.R.C. Sanidade em equinos, principais doenças e controle, 2004 (Dissertação). Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais, 2004. 2. COLES, G. C. et al. World Association for the Advancement of Veterinary Parasitology (WAA VP) methods for detection of anthelmintic resistance in nematodes of veterinary importance. Veterinary Parasitology, v. 44, p. 35-44, 1992. 3. FARKAS, H. et al. The efficacy of four anthelmintics against small strongyles in a stud farm in Hungary. Magyar Allatorvosok Lapja, v. 128 (5), p. 291-297, 2006. 4. GORDON, H.M.; WHITLOCK, H.V. A new tecnique for counting nematode eggs in sheep faeces. Journal Commonw Science and Industrial Organization, v. 12 (1), p. 50-62, 1939. 5. KLEI, T.R. Parasite control programs. In: ROBINSON, N.E. Current therapy in equine medicine. Philadelphia: Saunders, 1997, p.709-712. 6. MARTIN, R. J. Modes of action of anthelmintic drugs. Veterinary Journal, v. 154, p. 11-34, 1997. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 46 - 50 50 7. MARTINIE, T. J. L. et al. Prevalence and clinical implications of anthelmintic resistance in cyathostomes of horses. Journal American Veterinary Medicine Association, v. 218 (12), p.1957-1960, 2001. 16. REGO, D.X. et al. Incidência de endoparasitas e ectoparasitas em equinos do município de Curitiba-PR. Revista Acadêmica de Ciências Agrárias e Ambientais, v. 7 (3), p. 281287, 2009. 8. MATTHHE, S.; McGEOCH, M. A. Helminths in horses: Use of selective treatment for the control of Strongyles. Journal South African Veterinary Association, v. 75, p. 129-136, 2004. 17. RIET-CORRREA et al. Doenças de Ruminantes e Eqüinos. 2ª ed. São Paulo: Varela, v. 2, 425 p, 2001. 9. MERIAL SAÚDE ANIMAL, 2005. Guia de vermifugação. Disponível em: <http:// b r. m e r i a l . c o m / c r i a d o r e s _ e q u i n o s / guia_vermifugacao/guia_vermifugacao.asp. Acesso em 11 maio 2010. 18. SARTORI FILHO, R. et al. Efeito de medicações anti-helmínticas com ivermectin e fenbendazole em equinos: exames coprológicos e hematológicos. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 2 (1), p. 61-64, 1993. 10. MOLENTO, M.B. Resistência parasitária em helmintos de eqüídeos e propostas de manejo. Ciência Rural, v.35 (6), p.1469-1477, 2005. 11. MOLENTO, M. B. et al. Anthelmintic resistant nematodes in brazilian horses. Veterinary Record, v. 162 (12), p. 384-385, 2008. 12. NOGUEIRA, C.E.W. et al. Eficácia de vermífugos à base de avermectinas e milbemicinas utilizados há cinco anos em uma criação de eqüino. Ciência Rural, v.32 (4), 2002. 13. OLIVEIRA, R.A. Vacinação e vermifugação de eqüinos no Brasil. Disponível em <http:// w w w. a b q m . c o m . b r / S e c a o Te c n i c a / vacinacao.html> Acesso em 11 maio 2010. 19. SAYRES, M.C.C. & ALMEIDA, M.A.O. Agentes antinematódeos, Agentes antiparasitários In: SPINOSA, H.S.; GÓRNIAK, S.L.; BERNARDI, M.M. Farmacologia aplicada à medicina veterinária. 3ªed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p.476-488, 2006. 20. TORBERT, B. J, et al. American Journal Veterinary Research, v. 43 (8), p. 1451-1453, 1982. 21. WITZENDORFF, C., QUINTANA, I. Estudio sobre resistencia frente a los bencimidazoles de pequeños estróngilos (Cyathostominae) del equino en el sur de Chile. Archives Medicine Veterinary, v.35 (2), p.102106, 2003. 14. OTTO, M.A. et al. Eficácia de antiparasitários no controle de helmintoses em cavalos mantidos em campo nativo na região central do Rio Grande do Sul, Brasil. Disponível em <http://www.sovergs.com.br/conbravet2008/ anais/cd/resumos/R0486-3.pdf, em 28/03/10> Acesso em 11 maio 2010. 15. PEREIRA, A. B. L. et al. Eficácia a campo do mebendazole, oxibendazole, pamoato de pirantel e doramectin contra pequenos estrongilídeos (Cyathostominae) de equinos. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 3 (2), p. 93-97, 1994. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 46-50 Recebido: 13/07/2010 Aceito: 12/08/2010 51 CIÊNCIAS AGRÁRIAS TRABALHO ORIGINAL DESEMPENHO E CARACTERÍSTICA DE CARCAÇA DE CORDEIROS CRUZA TEXEL E CRUZA SANTA INÊS EM CONFINAMENTO TRATADOS COM O IONÓFORO SALINOMICINA CARCASS PERFORMANCE AND CHARACTERISTIC OF FEEDLOT TEXEL AND SANTA INÊS LAMBS TREATED WITH THE IONOPHORE SALINOMICINA Brenda Carla Luquetti1, José Reinaldo de Amorim Bernardi2, Camila Motta Marin Bernardi2, Diego Gonçalves dos Santos3, Leonardo de Oliveira Martins3,Vanderlei Watanabe Alves de Almeida3, Ricardo Velludo Gomes de Soutello4 RESUMO A salinomicina é um ionóforo que tem sido eficiente no controle da eimeriose em bovinos e na melhoria da conversão alimentar e ganho de peso, entretanto, trabalhos experimentais relativos à eficácia desses compostos em ovinos são bastante limitados. As raças Santa Inês e Texel têm muita relevância no sistema de produção de cordeiros precoces, sendo que os animais são terminados em confinamento. O objetivo deste trabalho foi comparar o desempenho de cordeiros cruza Texel e cruza Santa Inês terminados em confinamento, com uso ou não de salinomicina. Foram utilizados 10 cordeiros machos não castrados cruza Texel (Tx) e 10 cruza Santa Inês (Si). Metade dos cordeiros cruza Santa Inês e metade cruza Texel receberam salinomicina (com) na dosagem de 28 mg/dia e o restante representou o grupo controle (sem). Foi avaliada a espessura de gordura subcutânea em mm ao fim do período experimental. A dieta foi calculada para ganho de peso de 0,200 kg/dia. Os animais cruza Santa Inês tratados com salinomicina (Si com) mostraram bons resultados de ganho de peso total, assim como os animais cruza Texel (Tx sem). Os animais cruza Texel tratados com salinomicina (Tx com) apresentaram o pior ganho de peso total, provavelmente devido a maior infecção parasitária. Nas condições do presente experimento a utilização do ionóforo salinomicina na ração não proporcionou aumento significativo no ganho de peso dos animais. Unitermos: aditivo, espessura de gordura subcutânea, ganho de peso, ovinos. ABSTRACT The ionophore salinomycin is one that has been effective in controlling eimeriosis in cattle and improved feed conversion and weight gain, however, experimental studies on the efficacy of these compounds in sheep are quite limited. The Santa Ines and Texel has much relevance in the production system of lambs, and the animals are finished in feedlot. The objective of this study was to compare the performance of Texel and Santa Ines lambs finished in confinement, with or without use of salinomycin. Ten animals were used Texel lambs (Tx) and 10 crosses Santa Ines (Si), and non-castrated males.Half of Santa Ines lambs and Texel half received salinomycin (with) at a dosage of 28 mg / day and the rest represented the control group (without).The diet was calculated to gain weight 0,200kg/dia.Animals crosses Santa Ines treated with salinomycin showed good GPD, as well as animals Texel without ionophore. Texel animals treated with salinomycin (Tx to) had the worst GPD, probably due to increased parasitic infection. Under the conditions of this experiment the use of the ionophore salinomycin in the diet did not increase in weight gain of animals. Uniterms: additive, fat thickness, ovines, weight gain. Prof. Dr. do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina (FCAA). Profs. Ms. do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina (FCAA). 3 Alunos do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina (FCAA). 4 Prof. Dr. da Universidade Estadual Paulista – UNESP, Campus de Dracena-SP. 1 2 Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 51 - 54 52 INTRODUÇÃO Os ionóforos são usados para controlar a coccidiose e estimular o ganho de peso em aves, bovinos e outras espécies. São poliésteres carboxílicos, que formam complexos lipossolúveis, facilitando o transporte iônico através de membranas biológicas e causando graves distúrbios celulares funcionais e morfológicos aos parasitas(8). Em geral, esses componentes não são suplementos de nutrientes essenciais para os ruminantes, no entanto, são usados com foco no aumento da eficiência da produção, através da melhoria do processo de fermentação no rúmen e redução da ocorrência de enfermidades, particularmente as de origem metabólicas (8). Os ionóforos de uso mais freqüente em medicina veterinária são monensina, salinomicina, narasina e lasalocida. A salinomicina é utilizada em ruminantes especialmente, para a prevenção da eimeriose (4). Esta também tem sido estudada na prevenção da acidose lática, onde animais que apresentaram quadro de acidose clínica e receberam salinomicina se recuperaram mais rapidamente em relação ao grupo controle (3). No entanto, trabalhos experimentais relativos à eficácia desses compostos em ovinos e caprinos são bastante limitados. O uso de salinomicina nas doses de 1 a 2 mg/kg, resultou em maior ganho de peso em caprinos tratados(9). Em outro experimento onde foi utilizada, preventivamente a salinomicina nas doses de 1 mg/kg na ração de cabritos leiteiros nas fases de cria e recria, observaram-se excelentes resultados, tanto em termos de ganho de peso como na redução do parasitismo (10). Em ovinos o fornecimento de salinomicina é muito utilizado em cordeiros na fase de terminação, podendo ser administrado via oral na ração, na água ou no leite. O tratamento preventivo, que consiste na administração de coccidiostáticos incorporados na água, no leite ou na ração é recomendado para rebanhos criados em regime de confinamento (10). O uso de até 28 ppm de salinomicina por um período de 62 dias proporcionou melhor conversão alimentar de ovinos em confinamento, da ordem de 29,18%, sem comprometer a atividade das enzimas relacionadas com as funções hepáticas (GOT e GGT) e os parâmetros séricos nutricionais avaliados (2). Assim, o objetivo deste trabalho foi comparar o desempenho de cordeiros cruza Texel e cruza Santa Inês terminados em confinamento, com uso ou não de salinomicina. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido nas dependências da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina/SP. Foram utilizados 10 animais cordeiros cruza Texel (Tx) e 10 cruza Santa Inês (Si), não castrados e machos, com idade média de 180 dias e peso médio inicial de 24,4 kg, distribuídos segundo Delineamento Inteiramente Casualizado (DIC), em dois tratamentos. Metade dos cordeiros receberam salinomicina (com) na ração na dosagem de 28 mg/dia e o restante representou o grupo controle (sem). Os animais receberam água e ração ad libitum no período da manhã. As dietas fornecidas continham 16% de proteína bruta (PB) e 65% de Nutrientes Digestíveis Totais (NDT), a fim de atender as exigências para ovinos não-castrados em crescimento, para níveis de ganhos de peso diários estimados de 0, 200 kg/dia. Inicialmente, os animais foram pesados, numerados e divididos em baias individuais. O período de adaptação às baias e a nova dieta foi de 14 dias. Antes de entrarem nas baias do confinamento foi feita a coleta de fezes para o exame de contagem de ovos por grama de fezes (OPG) (7). As fezes eram colhidas a cada 14 dias e animais com OPG acima de 1500 eram vermifugados, com o anti-helmíntico Moxidectina 1%. Os animais foram pesados após os 14 dias de adaptação e dado início ao período experimental de 42 dias, este prazo foi estipulado para que atingissem 32 quilos ao fim do trabalho, peso considerado bom para o abate. Os cordeiros foram pesados aos 21 e 42 dias do início do experimento, após jejum de sólidos de 12 horas, para avaliar o peso vivo (PV) e ganho de peso diário (GPD). Todos os dias a ração e as sobras eram pesados para avaliação do consumo voluntário de ração e cálculos de conversão alimentar (CA). Os dados de ganho de peso Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 51 - 54 53 individual foram analisados pelo teste F ao nível de significância de 5%, utilizando o software Assistat 7.6 beta. Para medir o grau de acabamento da carcaça, foi utilizado um ultrassom Aloka 500 com transdutor de 12 cm e freqüência de 3,5 MHz e guia acústica para acoplamento. Foram realizadas tricotomia, limpeza e aplicação de óleo vegetal para perfeito acoplamento do transdutor e a avaliação da espessura de gordura subcutânea foi realizada no lado esquerdo de cada animal dispondo o transdutor de maneira perpendicular ao comprimento do músculo Longissimus dorsi, entre a 12ª e a 13ª costela, ao fim do experimento. RESULTADOS E DISCUSSÃO Neste estudo o uso de salinomicina não influenciou (P>0,05) o ganho de peso dos cordeiros (Tabela 1). Resultados semelhantes foram observados onde doses crescentes de salinomicina também não influenciaram o ganho de peso (2). TABELA 1. Parâmetros de peso vivo inicial (PV Inicial), final (PV final), ganho de peso diário (GPD), consumo médio diário (CMD), conversão alimentar (CA), espessura de gordura subcutânea (EGS mm), ovos por grama de fezes (OPG) e número de vermifugações (Vermif.) de ovinos cruza Texel (Tx) e cruza Santa Inês (Si), tratados (com) ou não (sem) salinomicina na ração. PV Inicial PV Final GPD CMD (kg) (kg) (kg) (kg/dia) 24,68 31,80 0,169 Tx sem 22,18 30,75 Si com 27,10 Si sem 23,65 Tratamentos Tx com a CAa EGS OPG Vermif. Médio 1,27 7,5 2,00 4.750 7 0,204 1,30 6,4 1,94 2.525 2 35,80 0,195 NS 1,79 9,19 2,01 738 1 31,85 0,183 1,35 7,37 1,65 338 0 NS CMD/GPD; NS: Não significativo (P>0,05). Os animais Si (com) mostraram bons resultados de GPD, no entanto consumiram mais ração, piorando a CA, provavelmente devido ao seu maior PV inicial. Os animais Tx (com), apresentaram o pior GPD, provavelmente devido a maior infecção parasitária, comprovado pela contagem de OPG médio e número de vermifugações, levando, apesar do menor consumo de ração, a apresentarem pior CA em relação aos animais Tx (sem). A média, de todos os cordeiros, de PV Final do período experimental foi de 32,3 kg, valor inferior ao observado em outro experimento(6) que avaliou animais cruza Texel x Bergamácia, Texel x Santa Inês e Santa Inês alimentados com diferentes dietas e obteve PV Final de 44,8 kg, porém, estes animais obtiveram um maior PV Inicial. A média de CA encontrada neste experimento foi de 7,61, maior que a encontrada por outro autor(6), que foi de 6,36. O grupo que deveria ter a menor CA é o grupo Tx (com), porém, este grupo obteve CA de 7,50 kg, resultado este influenciado pela maior carga parasitária. Possivelmente, o período de 14 dias de adaptação ao confinamento, não foi suficiente para eliminar as cargas parasitárias provenientes das pastagens, além de possível resistência dos vermes a Moxidectina, anti-helmíntico utilizado no experimento. O maior GPD dos animais foi para o tratamento Tx (sem), que foi de 0,205 kg/dia e dos Si com 0,195 kg/dia ambos os resultados inferiores aos encontrados em outro estudo (5) que foi de 0,403 kg/dia e cordeiros mestiços da raça Suffolk que obtiveram ganho de peso diário (GPD) de 0,290 kg/dia com cordeiros cruza Texel em confinamento (1). As medidas de EGS demonstram que os animais ao fim do experimento apresentavam bom acabamento de suas carcaças, sugerindo que os animais poderiam ser abatidos, com peso de 32,3 kg. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 51 - 54 54 CONCLUSÃO Nas condições do presente experimento a utilização do ionóforo salinomicina na ração não proporcionou aumento significativo no ganho de peso dos animais e os animais cruza Texel foram mais suscetíveis à verminose. No entanto, novos trabalhos devem ser conduzidos, utilizando maiores períodos de adaptação e maior controle sobre a verminose, pois a mesma interfere sobre o desempenho dos ovinos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BERNARDI, J. R. A. et al. Desempenho de cordeiros sob quatro sistemas de produção. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 34 (4), p. 1248-1255, 2005. 2. CABRAL, M. M. et al. Efeito de diferentes níveis de salinomicina sobre o desempenho e funções enzimáticas de ovinos em regime de confinamento. Ciência e Agrotecnologia, v. 23 (4), p. 968-972, 1999. 3. CÂMARA, A. Efeitos da salinomicina na prevenção da acidose lática ruminal experimental em ovinos. 2008. 55f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) – Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, 2008. 6. GARCIA, I. F. F. et al. Desempenho de cordeiros Texel x Bergamácia, Texel x Santa Inês e Santa Inês puros, terminados em confinamento, alimentados com casca de café como parte da dieta. Revista Brasileira de Zootecnia, v.29 (2), p. 564-572, 2000. 7. GORDON, H. M.; WHITLOCK, H. V. A new technique for counting nematode eggs in sheep faeces. Journal of Council. Science Industry Research. v. 12, p. 50-52, 1939. 8. RANGEL, A.H.N. et al. Utilização de ionóforos na produção de ruminantes. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v. 8(2), p.173182, 2008. 9. SANTA ROSA, J.; PINHEIRO, P. A. Intoxicação por salinomicina em cabritos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 24., 1996, Goiânia. Anais... Goiânia, 1996. p.60. 10. VIEIRA, L. S. et al. A salinomicina para o controle da eimeriose de caprino leiteiros na fase de cria e recria. Ciência Rural, v.34 (3), p.873878, 2004. 4. FACURY FILHO, E.J. Evolução da infecção por Eimeria spp.,em bezerros naturalmente infectados e seu controle através da administração de anticoccidiostáticos no suplemento mineral.1992. 99f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária Preventiva) Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1992. 5. GARCIA, C. A. et al. Níveis de energia no desempenho e características da carcaça de cordeiros alimentados em Creep Feeding. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32 (6), p.1371-1379, 2003. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 51 - 54 Recebido: 14/10/2010 Aceito: 27/11/2010 55 CIÊNCIAS AGRÁRIAS TRABALHO ORIGINAL AVALIAÇÃO DE CARCAÇAS DE CORDEIROS CRUZA TEXEL E CRUZA SANTA INÊS EM CONFINAMENTO COM O USO DO IONÓFORO SALINOMICINA EVALUATION OF CARCASSES AND CROSS TEXEL AND SANTA INÊS LAMBS WITH THE IONOPHORES SALINOMYCIN USE Ana Larissa Campos de Medeiros1, Danilo Gualberto de Sandre1, Diego Liberal Muniz1, José Eduardo dos Santos Silva1, Leandro Fabrício Barbosa da Silva1, Brenda Carla Luquetti2, José Reinaldo de Amorim Bernardi2, Ricardo Velludo Gomes de Soutello3, Sílvia Maria Marinho Storti2 RESUMO O objetivo deste trabalho foi, avaliar as características e rendimento de carcaça de cordeiros cruza Texel e cruza Santa Inês, com e sem uso do antibiótico salinomicina na fase de terminação. Foram utilizados 20 cordeiros, não castrados, com idade média de 150 dias e peso médio de 23 Kg, distribuídos por delineamento inteiramente casualizado (DIC) em quatro tratamentos. Foi mensurado através da técnica de ultra-sonografia, área de olho-de lombo (AOL) e espessura de gordura subcutânea (EGS), além de medidas corporais in vivo também foram realizadas análises pós-morte avaliando características nas carcaças dos animais abatidos. Os resultados demonstram que as características analisadas não foram influenciadas pelo uso de salinomicina na ração, embora, os animais cruza Texel, apresentaram AOL superior a do Santa Inês. As medidas de rendimento de carcaça e EGS foram semelhantes, mas os cruza Texel possuem carcaças mais compactas em relação ao Santa Inês. Unitermos: área de olho de lombo, espessura de gordura subcutânea, ovino. ABSTRACT The aim of this study was to evaluate carcass characteristics and yield of Texel cross lambs and Santa Inês cross, with or without the use of the antibiotic salinomicin in the finishing stage. We used 20 non-castrated lambs at the average age of 50 days and average weight of 23 kg. We measures, through ultra-sound techniques, subcutaneous fat thickness (FT) and Longissimus muscle area (LMA). Live body measures were taken as well as post-mortem analyses to evaluate characteristics of carcasses of slaughtered animals. The results showed that the characteristics analyzed were not influenced by the use of salinomicin, although, Texel cross animals, showed higher AOL when compared to Santa Inês cross. Carcass yield and FT were similar, but Texel cross animals have more compact carcasses compared to Santa Inês. Uniterms: fat thickness, Longissimus muscle area, ovine. Alunos do Curso de Medicina Veterinária das FCAA- Andradina/SP Professores do Curso de Medicina Veterinária da FCAA - Andradina/SP 3 Prof. Dr. da Universidade Estadual Paulista – UNESP, Campus de Dracena – SP. 1 2 Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 55 - 59 56 INTRODUÇÃO A ovinocultura de corte vem crescendo em todas as regiões do Brasil. Atualmente, a meta em ovinocultura de corte é a obtenção de animais capazes de direcionar grandes quantidades de nutrientes para a produção de músculos, uma vez que o acúmulo desse tecido é desejável e reflete a maior parte da porção comestível de uma carcaça (11) já que a composição e a qualidade da carcaça são características de igual importância para determinar a aceitação de novas raças e seus cruzamentos (7). A qualidade da carne é uma combinação dos atributos sabor, suculência, textura, maciez e aparência, associados a uma carcaça com pouca gordura, muito músculo e preços acessíveis (10). Assim, é fundamental a implantação de técnicas racionais de criação, visando maior produtividade e qualidade, para atender a um mercado consumidor mais exigente. A raça, idade ao abate, alimentação e sistema de produção influenciam diretamente as características de qualidade da carne, como uma boa distribuição das gorduras de cobertura, intermuscular e intramuscular, tecido muscular desenvolvido e compacto e carne de consistência tenra, com coloração variando de rosa nos cordeiros até vermelho-escuro nos animais adultos (9) . Os produtores de carne ovina necessitam conhecer as características do produto final e as relações dessas com as preferências dos compradores. Isso lhes fornecerá elementos de avaliações para determinar o sistema de produção mais adequado a ser utilizado em cada realidade (5) . A avaliação de carcaça in vivo por ultrassom tem sido testada desde o começo de 1950 e utilizada em programas de terminação em bovinos para predição dos dias de confinamento, estimando a composição corporal e o ponto ótimo de acabamento (4). Outro estudo (13) afirma que a utilização do ultrassom in vivo é uma ferramenta efetiva para medir a área do músculo Longissimus dorsi, a gordura subcutânea e outros tecidos. No Brasil, a técnica de ultra-sonografia para avaliação de carcaças de ovinos ainda é pouco utilizada devido ao fato da cadeia produtiva da carne ovina ainda não se encontrar totalmente organizada, e também pela ausência de técnicos capacitados e treinados para avaliação desses animais com ultrassom (13). A utilização da ultrasonografia para estimativa da proporção de músculo e gordura possibilita a descrição dos níveis de musculosidade e acabamento de carcaças, por meio da medição da área de olhode-lombo e espessura de gordura subcutânea (12), e pode ser utilizada em programas de seleção, formação de lotes para alcance de acabamento homogêneo e avaliações de diferentes regimes alimentares (8). Assim, o objetivo desse estudo foi avaliar as características e rendimento de carcaça de cordeiros cruza Texel e cruza Santa Inês na fase de terminação com uso do ionóforo salinomicina. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina/SP. Foram utilizados 10 ovinos cruza Texel e 10 cruza Santa Inês, machos não castrados, com idade média de 150 dias e peso médio inicial de 23 kg, distribuídos segundo um Delineamento Inteiramente Casualizado (DIC) em quatro tratamentos: Texel com salinomicina, Texel sem salinomicina, Santa Inês com salinomicina e Santa Inês sem salinomicina. Os animais receberam água e ração ad libitum, renovados no período da manhã. As dietas foram formuladas em exigências para ovinos não-castrados em crescimento, com níveis de ganhos de peso diários de 0,200 kg/dia. A relação volumoso:concentrado utilizada foi de 15:85 e os alimentos usados nas formulações das rações foram feno de Tifton e concentrado contendo 16% de PB e 65% NDT. Metade dos cordeiros de cada grupo genético recebeu salinomicina, na ração na dosagem de 28 mg/dia e o restante representou o grupo controle. Inicialmente, os animais foram pesados, numerados e distribuídos individualmente em baias. Durante o período que permaneceram confinados, foram pesados e as medidas corporais Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 55 - 59 57 obtidas in vivo, segundo metodologia apropriada (5) , com intervalos de 21 dias. Também foram realizadas as mensurações da área de olho-delombo (AOL) e espessura de gordura subcutânea (EGS) por ultrassom no mesmo período proposto, sendo de 42 dias. O equipamento de ultrasonografia utilizado foi o ALOKA 500 com transdutor de 12 cm e freqüência de 3,5 MHz e guia acústica para acoplamento. Foram realizadas tricotomia, limpeza e aplicação de óleo vegetal para perfeito acoplamento do transdutor e as avaliações realizadas no lado esquerdo do animal. Para as mensurações de AOL e EGS, o transdutor foi disposto de maneira perpendicular ao comprimento do músculo Longissimus dorsi, entre a 12ª e a 13ª costela. O abate foi realizado após jejum de sólidos por 12 horas, por métodos de abate humanitário, sendo o peso vivo obtido com jejum antes do abate (PVCJ). Foram abatidos oito animais, sendo dois por tratamento. Após o abate, o peso da carcaça quente (PCQ) foi registrado depois da evisceração. Em seguida, pesaram-se as carcaças (peso da carcaça quente) para obtenção do rendimento de carcaça quente (peso da carcaça quente/peso ao abate*100). As carcaças então foram transferidas para câmara frigorífica entre 2°C a 4°C, onde permaneceram por 24 horas, penduradas pelos tendões em ganchos apropriados para manutenção das articulações tarsometatarsianas, distanciadas 17 cm. Ao final desse período, pesaram-se as carcaças, para obtenção do peso de carcaça fria (PCF) e cálculo da porcentagem de perda ao resfriamento (peso de carcaça fria - peso da carcaça quente/peso da carcaça quente*100). RESULTADOS E DISCUSSÃO Pode-se observar que a utilização do aditivo na dieta não influenciou as características corporais dos animais avaliadas pela altura da cernelha e garupa, comprimento corporal, perímetro da perna e torácico (Tabela 1). O uso da salinomicina também não influenciou no aumento da AOL e EGS, que foram obtidas por meio de ultrasonografia. As medidas de AOL e EGS indicam que o período de confinamento foi suficiente para produção de carcaças bem acabadas e padronizadas. A média de EGS (1,90) foi superior aos valores de 1,1 mm em ovinos Santa Inês em confinamento (2) enquanto que a média de AOL (9,12 cm²) foi semelhante (9,08 cm²) à encontrada em outro estudo (4) TABELA 1. Medidas corporais, área de olho-de-lombo (AOL) e espessura de gordura subcutânea (EGS) de ovinos Texel e Santa Inês, terminados em confinamento com dietas contendo ou não salinomicina. VARIÁVEIS TEXEL Controle SANTA INÊS Salinomicina Controle Salinomicina Altura de cernelha (cm) 56 54 67 65 Altura de garupa (cm) 56 65 67 65 Comprimento corporal (cm) 67 64 68 70 Perímetro da perna (cm) 30 29 30 31 Perímetro torácico (cm) 69 68 73 74 EGS inicial (mm) 0,8 0,9 0,7 0,9 EGS final (mm) 2,00 1,94 2,01 1,65 AOL inicial (cm2) 5,69 6,47 6,05 7,53 AOL final (cm2) 8,82 9,88 8,06 9,70 Ganho AOL (cm²) 3,13 3,41 2,01 2,17 Ganho AOL (%) 55,00 53,00 33,00 Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 55 - 59 29,00 58 As médias de peso de carcaça quente e fria foram 15,10 kg e 14,49 respectivamente (Tabela 2) e atendem aos valores mínimos preconizados para caracterização de carcaças de boa qualidade (9) com peso de carcaça quente igual ou maior que 14,3 kg e peso de carcaça fria igual ou maior que 13,8 kg. A avaliação das perdas ao resfriamento fornece um indicativo do grau de proteção da carcaça. Para todos os tratamentos, as carcaças apresentaram valores de perda superiores aos 4% corroborando resultados semelhantes (9). TABELA 2. Rendimento de carcaça de ovinos Texel e Santa Inês, terminados em confinamento com dietas contendo ou não salinomicina. Variável TEXEL Controle SANTA INÊS Salinomicina Controle Salinomicina Peso ao abate (kg) 31,2 32,3 31,8 34,5 Peso da carcaça quente (kg) 14,3 15,9 14,3 16,2 Peso de carcaça fria (kg) 13,6 15,1 13,8 15,5 Perda ao resfriamento1 (%) 4,9 4,8 3,5 4,3 Rendimento quente2 (%) 45,8 48,6 45,1 47,0 Rendimento frio3 (%) 43,7 46,3 43,5 45,0 ¹ Perda ao resfriamento (peso de carcaça fria - peso da carcaça quente/peso da carcaça quente*100).² Rendimento quente (peso da carcaça quente/peso ao abate*100).³ Rendimento frio (peso de carcaça fria/peso ao abate*100). CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Os animais cruza Texel e cruza Santa Inês tiveram medidas corporais semelhantes com o uso ou não da salinomicina. Os animais cruza Texel são mais curtos e mais baixos que os cruza Santa Inês, mas apresentaram perímetro de perna semelhante. A EGS de todos os tratamentos foi semelhante e os cruza Texel obtiveram maiores medidas de AOL. 1. COLOMER-ROCHER, F. Estudio de los parametros que definem los caracteres cuantitativos y cualitativos de los canales. In: CURSO INTERNACIONAL SOBRE PRODUCIÓN DE CARNE Y LECHE COM BASES EN PASTOS Y FORRAJES, 1988, La Coruña. Proceedings... La Coruña: 1988. p.108. COMITE DE ÉTICA O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Educacional de Andradina (FISMA/FCAA), parecer no MVT 01/2009, e está de acordo com os Princípios Éticos na Experimentação Animal (COBEA). 2. CUNHA, M.G.G. et al. Características quantitativas de carcaça de ovinos em Santa Inês confinados alimentados com rações contendo diferentes níveis de caroço de algodão integral. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37 (6), p.1112-1120, 2008. 3. HOUGHTON, P.L.; TURLINGTON, L.M. Application of ultrasound for feeding and finishing animals. Journal of Animal Science, v.70, p.930941, 1992. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 55 - 59 59 4. ÍTAVO, L. C. V. et. al. Características de carcaça, componentes corporais e rendimento de cortes de cordeiros confinados recebendo dieta com própolis ou monensina sódica. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 38 (5), p.898-905, 2009. 10. SILVA SOBRINHO, A.G. Aspectos quantitativos e qualitativos da produção de carne ovina. In: MATTOS, W.R.S. et al. (Eds.) A produção animal na visão dos brasileiros. Piracicaba: Fundação de Estudos Agrários, 2001. p. 425-460. 5. OSÓRIO, J. C. S. et al. Métodos para avaliação de carne ovina in vivo na carcaça e na carne. Pelotas: UFPEL, 1998. 107p. 11. SANTOS, C. L.; PÉREZ, J. R. O. Cortes comerciais de cordeiros Santa Inês. In: ENCONTRO MINEIRO DE OVINOCULTURA, 1, 2000, Lavras, MG. Anais... Lavras: UFLA, 2000. p. 149-168. 6. SANTANA, A. F. Correlação entre peso e medidas corporais em ovinos Jovens da Raça Santa Inês. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v. 1, p.74-77, 2001. 7. SAINZ, R.D. Avaliação de carcaças e cortes comerciais de carne caprina e ovina. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE CAPRINOS E OVINOS DE CORTE, 1., 2000, João Pessoa. Anais... João Pessoa. 2000. p. 237250 12. SUGUISAWA, L. et al. Ultrassonografia para predição da composição da carcaça de bovinos jovens. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35 (1), p.182- 190, 2006. 13. WILLIAMS, R.E. et al. Alternative ultrasound measurements for predicting retail yield and trimmable fat in beef carcasses. Animal & Dairy Science Annual Report, p.111-115, 1996. 8. SILVA, S. L. et al. Correlações entre características de carcaça avaliadas por ultra-som e pós-abate em novilhos Nelore, alimentados com altas proporções de concentrado. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32 (5), p.1236-1242, 2003. 9. SILVA SOBRINHO, A. G.; SILVA, A. M. A. Produção de carne ovina. Revista Nacional da Carne, n.285, p.32-44, 2000. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 55 - 59 Recebido: 17/08/2010 Aceito: 27/09/2010 60 CIÊNCIAS AGRÁRIAS REVISÃO LITERÁRIA PERFIL NUTRICIONAL E ENRIQUECIMENTO DOS OVOS COMERCIAIS NUTRICIONAL PROFILE AND COMMERCIAL EGGS ENRICHMENT Brenda Carla Luquetti 1, Simone Cristina Grozza 2, Renata Lumi Sasaki 3, Isadora Resende de Carvalho3, Caroline Marçal Gomes David 3, Thaís Alves Ribeiro 3, Géssica Ferreira Ramos 3, Hallyson Anastacio Mariano3 RESUMO O ovo é um alimento extremamente rico em nutrientes, mas, atualmente o enriquecimento artificial dos ovos já é uma realidade. Várias pesquisas dão suporte científico para se alterar beneficamente as gemas dos ovos. Assim, o objetivo dessa revisão é esclarecer o que é o enriquecimento dos ovos comerciais, como ele pode ser feito e quais seriam os benefícios para a saúde do ser humano considerando-se o consumo em longo prazo. Unitermos: colesterol, enriquecimento, ovos, vitaminas. ABSTRACT The egg is extremely rich in nutrients, but currently the artificially enrichment eggs is already a reality. Several researches give scientific support to changing the egg yolks beneficially. Thus, the aim of this work is to clarify what is the enrichment of commercial eggs, how it can be done and what would be the benefits for human health considering long term consumption. Uniterms: cholesterol, eggs, enrichment, vitamins. Prof. Dr. da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina, FCAA, Andradina – SP. Médica Veterinária Autônoma. 3 Alunos do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina, FCAA, Andradina – SP. 1 2 Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 60 - 66 61 INTRODUÇÃO Em um país como o Brasil, que em pleno século XXI ainda amarga altos índices de desnutrição, e suas consequências, especialmente junto à população infantil, chega a ser um contrasenso o baixo nível de consumo de ovos (13). O ovo comercial é um produto da mais eficiente máquina biológica de transformação, que é a galinha de postura moderna. Esta ave consegue transformar recursos alimentares de menor valor biológico em um produto da mais alta qualidade nutricional para o consumo humano. Esta eficiente transformação depende de fatores biológicos relacionados à composição fisiológica desta máquina, aliada a conhecimentos sobre o aporte nutricional necessário, somado ao manejo e ambiente adequados de criação dessas aves (4). Segundo o mesmo autor, a maior parte dos ovos comercializados no Brasil é produzida com alta tecnologia por poedeiras comerciais modernas criadas em gaiolas especiais. Estas aves são híbridas, resultantes de cruzamentos industriais de várias linhagens genéticas que após várias gerações deram origem a uma ave precoce, com alta eficiência na produção de ovos e com alta viabilidade. O objetivo dessa revisão é esclarecer o que é o enriquecimento dos ovos comerciais, como ele pode ser feito e quais seriam os benefícios para a saúde do ser humano considerando-se o consumo em longo prazo. Características Nutricionais O ovo reforça como poucos alimentos, a dieta em todas as faixas etárias, fornecendo 6,15 g de proteína completa, proporcionando 15% da quantidade diária de proteína recomendada para adultos (13) além de ser reconhecido como uma das melhores fontes de vitaminas (A, E, B2, B6, ácido fólico) e minerais (Ca, Fe, Se, Zn) da dieta (3) . Também contém outros elementos nutricionais, como fosfolipídios, que têm composição idêntica à encontrada na membrana celular humana e aumentam a produção do colesterol benéfico (HDL) (14). É de conhecimento comum em nutrição que mesmo uma alimentação completa e balanceada nunca irá fornecer 100% das necessidades diárias dos mais diversos nutrientes que compõem a dieta humana. Em função disso, o potencial do momento é a suplementação/ complementação nutricional diretamente nos alimentos, sendo que os ovos, em especial, levam alguma vantagem por particularidades das galinhas, que permitem a passagem de nutrientes de maneira eficiente e significativa (2). Os ovos também têm um lugar definitivo na medicina preventiva, sendo de valor terapêutico no tratamento de muitas doenças carenciais. O ovo não é somente excelente para a manutenção corporal, mas também promove o crescimento, ajuda na lactação e na reprodução, processos esses que apresentam rigorosas demandas ao organismo e que geralmente não serão atendidas pela maioria dos outros alimentos individualmente. Por ser uma proteína de origem animal, fornece os aminoácidos essenciais, cuja síntese é ineficaz no ser humano (10). Pesquisas recentes (2) observaram uma correlação positiva entre o consumo de ovos e a melhoria dos níveis de fertilidade, benefícios antiinflamatórios, tratamento de artrite reumatóide, psoríase, lúpus e eczema. O ovo e o colesterol Nos alimentos de origem animal o conteúdo de lipídios e sua natureza são objetos de crescente preocupação por parte do consumidor. No caso dos ovos a atenção tem se concentrado no colesterol e nos ácidos graxos da fração lipídica da gema (9). O colesterol, no entanto, é um tipo de gordura que tem como função a síntese de hormônios, da vitamina D e a formação das membranas celulares. Portanto, ele é fundamental para a estrutura e o funcionamento das células, notadamente as do sistema nervoso, e é no seu excesso que estão associadas às complicações (7). O colesterol é uma molécula extremamente importante para o organismo, tão importante que o fígado consegue produzir até três mil miligramas por dia onde o organismo o reutiliza para produção de outros elementos, mas boa parte acaba sendo eliminada nas fezes. Portanto, a Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 60 - 66 62 colesterolemia não acontece em função daquilo que está sendo consumido de colesterol e sim devido a algum problema fisiológico, hepático ou devido a uma alimentação irregular. O autor também relata que situações, como o estresse, provocam redução da síntese de lipoproteínas que transportam as gorduras, levando assim a um acúmulo de colesterol e de triglicérides, sendo esses, os realmente responsáveis pelo entupimento das artérias. Na verdade, o colesterol lubrifica as artérias, melhora o fluxo sanguíneo e tem funções extremamente importantes para o reparo do tecido, por isso participa das células e não está presente no tecido gordo. A gordura de frango ou de suíno não tem colesterol pois este está no tecido, na membrana da célula. Essa desvinculação vem ocorrendo ultimamente, mas entre os profissionais de saúde, infelizmente, ainda existe o mito de que não se devem consumir ovos para não elevar o colesterol sanguíneo. Especialistas em nutrição humana revelam que o colesterol pronto (consumo via direta) tem influência de 5%, no máximo, sobre a elevação do colesterol total do organismo de pessoas saudáveis. Esta descoberta vem alterando o conceito do consumo de ovos junto à Sociedade de Cardiologia Americana e vem resgatar nos ovos a característica de saudabilidade, especialmente quando estes são enriquecidos com ácidos graxos poliinsaturados, cujo consumo regular é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma alternativa natural para uma alimentação balanceada (15). Estudos recentes indicam que o intestino é pouco permeável ao colesterol ingerido exogenamente e que somente aproximadamente 16% do colesterol exógeno é absorvido (18). A ingestão do colesterol pela galinha é mínima, pois as dietas convencionais são geralmente formuladas a base de produtos de origem vegetal contendo, algumas vezes, pequenas porcentagens de farinha de carne como fonte protéica animal (6). Dessa forma a ave sintetiza a maior parte do colesterol que compõe o ovo. Muitas pesquisas têm sido realizadas na tentativa de reduzir a produção de colesterol da ave através da utilização de drogas que provocam efeitos hipocolesterolêmico, contudo os resultados ainda são muito divergentes, além de proporcionarem uma série de efeitos colaterais como a redução da produção de ovos. Enriquecimento dos ovos A possibilidade de enriquecimento de ovos de consumo já é conhecida desde 1934(4), porém, nos dias atuais, esta produção já é uma realidade. Estes tipos de ovos são obtidos através de uma tecnologia de ponta que já vem sendo implantada no Brasil pelas empresas produtoras de rações animais. Através de um avançado processo natural, o PUFA - “Poly Unsaturated Fatty Acids” (substância natural presente em algas marinhas, alguns vegetais e peixes de água fria, como o salmão) é transferido para a ração das aves, que passam a botar ovos enriquecidos com este ácido graxo. Atualmente, países como Estados Unidos e Canadá já estão utilizando esta tecnologia para enriquecimento nutricional de ovos de galinhas (15). A associação de determinados antioxidantes com certos tipos de vitaminas se mostra eficaz na diminuição dos níveis de colesterol e triglicerídeos, também atuando na diminuição da pressão arterial, abaixando os níveis da enzima responsável pela vasoconstrição arterial e promovendo maior estabilização do produto. Por equilibrar o metabolismo, o PUFA também poderia ter efeitos cardioprotetores, que ajudariam a prevenir o desenvolvimento do LDL (Low Density Lipoprotein) que quando ligado ao colesterol são chamados de “colesterol ruim” do sangue (15). Enriquecimento com vitamina E A vitamina E tem um importante papel na produção de anticorpos e no aumento da resistência a doenças. Apesar dessa vitamina ocorrer naturalmente a níveis relativamente elevados em grãos íntegros e farinha de alfafa, ela é facilmente oxidada, particularmente na presença dos minerais e ácidos insaturados. Portanto, deve ser adicionada à ração das aves com o objetivo de garantir os níveis desejados (8). Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 60 - 66 63 Além de ser um antioxidante natural, atuando na neutralização de radicais livres é o único antioxidante que, uma vez absorvido, deposita-se no organismo, onde é encontrada nos tecidos na forma de tocoferóis. É excretada na bile e eliminada através das fezes. Está relacionada metabolicamente com vários nutrientes, principalmente com o selênio. Atua como antioxidante ao nível da membrana, enquanto que o selênio, como componente da glutationa peroxidase, atua ao nível do citosol, destruindo peróxidos, eliminando-os das células antes que oxidem os lipídeos insaturados de membrana, que são protegidos pela vitamina E. Além disso, o selênio preserva a integridade do pâncreas, que tem como uma de suas funções a produção de lipases, que atuam na digestão das gorduras (19). O ovo é o melhor veículo como fonte de vitamina E para o consumo humano, tendo em conta a eficiência de sua deposição a partir da ração, em um ovo enriquecido, a quantidade de vitamina E pode se tornar sete vezes maior do que num ovo convencional (8). A adição de vitamina E também pode melhorar a pigmentação do ovo por seu efeito protetor dos carotenóides (14). Enriquecimento com ácido graxo poliinsaturado É possível enriquecer a gema dos ovos com inúmeros nutrientes, dentre eles os ácidos graxos ômega 3 que sabidamente trazem diversos benefícios para a saúde, inclusive reduzindo o risco de ocorrência de doenças cardiovasculares. Os ácidos graxos que não contém dupla ligação, são chamados de saturados, enquanto que os ácidos graxos que possuem uma ou mais duplas ligações são denominados de insaturados. Os ácidos graxos que contém somente uma dupla ligação são denominados de monoinsaturados, enquanto que o termo poliinsaturados é usado para aqueles que contém mais de uma dupla ligação, também conhecidos como PUFA. Dessa forma, os ovos PUFA são ovos enriquecidos com ácidos graxos poliinsaturados (5). O ômega 3 é um tipo de gordura muito benéfica para o coração e é encontrado em peixes marinhos (salmão, arenque, bacalhau) e, em menores concentrações em grãos de soja, castanha e óleo de canola. Essa gordura não é produzida pelo organismo humano, portanto, deve ser fornecida através da alimentação (1). O ácido graxo ômega 3 mais especificamente o ácido linolênico, é uma gordura poliinsaturada, e sabe-se que sua ingestão ajuda a diminuir os níveis de colesterol total e triglicerídeos sanguíneos. Além disso, esse ácido graxo pode apresentar atividades antitrombóticas e vasodilatadoras. Portanto especula-se que o aumento desse ácido graxo no ovo, poderia trazer benefícios nutricionais ao homem (11). O ômega 3 também influencia positivamente o humor, ao estimular a produção de serotonina e noradrenalina, neurotransmissores responsáveis pelas sensações de prazer e bemestar (16). O ácido linoléico (ômega 6) conjugado se encontra principalmente no leite e na carne de ruminantes, sendo sintetizado no rumem e seu interesse provém dos múltiplos benefícios para a saúde humana, que lhe atribuem por suas propriedades como agente anticancerígeno, antiteratogênico, hipocolesterolêmico, antioxidante, imunoestimulante, normalizador da tolerância à glicose e redutor da gordura corporal (14). O LDL é um dos principais indicadores de risco cardiovascular em nível sérico e por isso, muitos pesquisadores procuram alimentos que diminuam esses níveis. Ácidos graxos poliinsaturados como o ômega 3 estão sendo adicionados em alimentos, pois após serem consumidos atuam não no sentido de diminuir o colesterol, mas sim ajudando o organismo a eliminá-lo. A adição do ômega 3 na dieta, não reduz a aceitabilidade do produto, além do fato que o consumo de sete ovos por semana diminui a relação entre ômega 3 e ômega 6, beneficiando o crescimento do HDL que promove a transferência do colesterol para o fígado onde é metabolizado (18) . A possibilidade de se reduzir o perfil de ácidos graxos saturados da gema ou elevar os insaturados através da manipulação dietética tem sido uma opção para melhorar a qualidade nutricional dos ovos, torná-los mais saudáveis e melhorar a aceitabilidade dos consumidores. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 60 - 66 64 São vários, os tipos de ácidos graxos como o Ácido docosahexaenóico (DHA), Ácido eicosapentaenóico (EPA) e o ácido linoléico, nos quais os primeiros são comprovadamente benéficos à saúde, enquanto o último, embora importante, não revela os mesmos efeitos do DHA e EPA, existindo em grandes quantidades nas sementes oleaginosas, como as de canola e linhaça, que podem ser acrescentadas à ração das galinhas. Quando ingerido pela ave, apenas parte do ácido linoléico é transformado em DHA e EPA. Grandes quantidades desse ácido na dieta das aves, faz com que a taxa de DHA e EPA, ácidos graxos ômega 3 benéficos a saúde, aumentem no ovo (7). O ácido graxo docosahexanóico (DHA) é um elemento importante da família do ômega 3. Alguns estudos vêm evidenciando a importância deste em gestantes, principalmente no primeiro trimestre de gestação, onde ocorre a maior parte do desenvolvimento fetal, no qual este ácido exerce grande função no desenvolvimento cerebral. Pesquisas demonstram que a ingestão adequada de DHA durante a gestação aumenta a função cognitiva da criança. O consumo de DHA por mães que amamentam seus filhos também tem se mostrado eficiente, pois o leite materno acaba por conter quantidades significantes de DHA. Assim, os ovos enriquecidos com ômega 3 apresentam uma forma alternativa de ingestão dessa substância, sendo mais acessível economicamente à população (10) . O recebimento desses ácidos colabora na evolução e complementação das células cerebrais, ajuda a desenvolver e aumentar o QI de crianças (4) . A explicação fisiológica pelos quais os ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 reduzem os problemas cardiovasculares, se sustenta na síntese de prostanóides que atuam inibindo a agregação de plaquetas, junto às paredes dos vasos sanguíneos. O tromboxano A2, derivado do ácido araquidônico (ômega 6) causa vasoconstrição e agregação plaquetária.. Portanto, a ingestão diária de ácidos graxos ômega 3 reduz a probabilidade de incidência de trombose (5). O óleo de peixe também é usado nas rações, embora seja uma substância muito passível de oxidações prejudiciais. Quando o óleo é espremido do peixe morto, ele é exposto ao ar. Esse processo resulta na oxidação dos ácidos graxos omega 3 de cadeia longa – EPA e DHA que se transformam nos prejudiciais “radicais livres”, que fazem mal à saúde humana. A fim de tornar mais lenta esta oxidação, os produtores de óleos de peixe acrescentam quantidades de antioxidante, como vitamina E ao óleo (20). Mesmo no pequeno espaço de tempo entre a apanha e morte do peixe e a extração do óleo, com frequência os radicais livres começam a se formar e o organismo da galinha repassaria então os radicais livres aos ovos em lugar de algo saudável. Além disso, em ovos enriquecidos com esse óleo, cheiro e gosto de peixe têm sido reportados em todos os países nos quais o produto é vendido. Uma opção ao óleo seria o enriquecimento com algas marinhas. Cientistas trabalhando com genética observaram altos teores em DHA nessas algas. Os ovos enriquecidos mesmo que cheguem a atingir 300 mg de DHA, não têm qualquer cheiro ou paladar estranho. O grande inconveniente do uso deste produto baseado em alga marinha é o seu elevado preço, mas se a dose segura de produtos à base do óleo de peixe não for ultrapassada, os ovos enriquecidos não apresentarão cheiro ou gosto de peixe (20). As algas são os maiores produtores primários de ômega 3 e as únicas que podem sintetizar novamente EPA e DHA. As maiores concentrações (5-10% da matéria seca) são encontradas em microalgas marinhas frias (12). Já no óleo de peixe, os teores de ômega 3 são variáveis segundo a espécie de origem, estado fisiológico do peixe e época de pesca. As espécies de maior interesse são as pescadas em águas frias, pois se alimentam de fito e zooplancton ricos em ômega 3. Particularmente o atum, bonito, cavala, anchova (máximo de EPA) e sardinha (máximo de DHA). A inclusão destes ingredientes na dieta das aves resulta em incorporação destes ácidos graxos na gema do ovo, aumentando, consequentemente, a insaturação da gema decorrente da maior quantidade de poliinsaturados presentes, Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 60 - 66 65 proporcionando elevação no potencial oxidativo deste produto. Da mesma forma, as condições de estocagem, o aquecimento e o processamento do ovo, além de sua exposição à luz podem resultar em danos oxidativos. Assim, a incorporação de antioxidantes a estes ovos teria dupla finalidade: proteger os ácidos graxos presentes na gema contra a oxidação e enriquecer este alimento com vitamina E (17). O consumo desses ovos prevê uma quantidade de ácido graxo ômega 3 (EPA, DPA, e DHA) equivalente a 40%-50% dos requerimentos diários destes PUFA, o que equivale ao consumo de 100g de pescado. Dados experimentais indicam que o consumo diário de dois destes ovos, em conjunto com uma dieta habitual e por um período de três semanas, produz um decréscimo significativo dos triglicerídeos plasmáticos, do colesterol plasmático total, do colesterol LDL e um aumento, também significativo, do colesterol HDL. Do mesmo modo, o consumo de dois ovos enriquecidos ao dia, durante um período de seis semanas, aumenta consideravelmente o conteúdo de LNA (ácido alfa-linolênico, versão vegetal dos ácidos graxos poliinsaturados ômega 3) e DHA no leite de mães de leite (12). CONSIDERAÇÕES FINAIS O ovo é um alimento de grande valor nutritivo, saudável e fonte de proteína barata. O ovo enriquecido com ômega 3 ou vitamina E enfatiza ainda mais este alimento tão valioso, que beneficia uma dieta saudável para os consumidores, proporcionando uma melhor qualidade de vida. Estas alternativas já estão tecnologicamente disponíveis e dependerão do comportamento do mercado consumidor, principalmente em relação e orientação e informação que receba, e que se constituem uma via natural de baixo custo relativo para prover a população de PUFA ômega 3, facilitando assim a restituição da relação ótima entre esses ácidos graxos melhorando assim em longo prazo a saúde da população. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ALMEIDA, F. Q. A. Ômega 3: o amigo do coração. Disponível em: <http:// www.nutriweb.org.br/n0201/omega3.htm>. Acesso em: 1 mar. 2008 2. ARRANTES, V. A. S. Enriquecimento de ovos. Avicultura Industrial, p.17, 2007. 3. BELZER, R. Mercado de postura comercial situação e atual e perspectivas. Avicultura Industrial, p. 68-74, 2007. 4. BERTECHINI, A. Mitos e Verdades sobre Ovos de Consumo. Disponível em: < http:// w w w. a v i s i t e . c o m . b r / r e p o r t a g e m / anexos.asp?codigo=46>. Acesso em: 24 fev. 2008. 5. FARIA FILHO, D. E. et al. Ovos - Mitos e Verdades sobre o colesterol. In: VII SEMANA LACERDA DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS, 2003, Ribeirão Preto. Anais... Ribeirão Preto: CUML, 2003. p. 40-68 6. FRANCO, J. R. G.; SAKAMOTO, I. Qualidade dos ovos: Uma visão geral dos fatores que influenciam. Disponível em: http:// w w w. a v e w o r l d . c o m . b r / index.php?documento=1389>. Acesso em: 27 fev. 2008. 7. MELO, A. C. Ovos especiais quase não diferem dos comuns. Disponível em: < http:// www.usp.br/jorusp/arquivo/2002/jusp621/ pag08.htm> Acesso em: 18 abr. 2008. 8. MORENG, R. E.; AVENS, J. S. Ciência e produção de aves. São Paulo: ROCA, 1990. p. 184-185. 9. MOURTHÉ, K.; MARTINS, R.T. Perfil de colesterol de ovos comerciais e ovos enriquecidos com ácidos graxos poliinsaturados ômega-3. Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootecnia. v. 54 (4), p.429-431, 2002. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 60 - 66 66 10. NASCIMENTO, V. P.; SALLE, C. T. P. O ovo. In: MACARI, M.; GONZALES, E. Manejo da incubação. 2. ed. Campinas: FACTA, 2003. p.35 - 45. 11. NOVELLO, D. et al. Ovo: Conceitos, análises e controvérsias na saúde humana. Archivos Latinoamericanos de Nutrição, v.56 (4), p.315320, 2006. 12. OLIVEIRA, B.L. et al. Tecnologia de Ovos. Lavras: UFLA/FAEP, 2001. p.69-73. 13. OVO: valioso recurso contra a fome e a desnutrição. Aves e Ovos, p.13, 18-22, 2003. 14. OVOS enriquecidos: modificações do perfil lípidico da gema. Aves e Ovos, p. 46-52, 2002. 17. PITA, M. C. G. et al. Efeito da adição de ácidos graxos insaturados e de vitamina E à dieta de galinhas e seu reflexo na composição lipídica e incorporação de á-tocoferol na gema do ovo. Brazilian Journal Veterinary Research Animal Science, v.41, p. 25-31, 2004. 18. PUPPIN, S. Ovo: o mito do colesterol. 1 ed. Rio de Janeiro: RIO, 2005, 215p. 19. RUTZ, F. Absorção de Vitaminas. In: MACARI, M. et al. Fisiologia aviária aplicada a frangos de corte. 2. ed. Jaboticabal: FACTA, 2002. p.154-156. 20. VASCONCELLOS, H. Cardioeggs: referência de ovo enriquecido. Disponível em: http://www.asaeggs.com.br/cardioeggs/edicoes/ 2004-11.html. Acesso em: 16 abr. 2008. 15. PAULA, G. Ovos Especiais Pufa apresentam altos índices de ácidos graxos poliinsaturados. Disponível em: http://www.apavi.com.br/ index.php?pag=conteudo&id_conteudo =1389&idmenu=165. Acesso em: 23 mar. 2008. 16. PEREIRA, C.; TODESCHINI, M., Glossário dos rótulos. Veja. 2042. ed. São Paulo: Abril, 2008. p.88 . Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 60 - 66 Recebido: 02/03/2009 Aceito: 06/04/2009 67 CIÊNCIAS AGRÁRIAS RELATO DE CASO TRATAMENTO DA PAPILOMATOSE ORAL CANINA POR AUTO-HEMOTERAPIA - RELATO DE CASO TREATMENT OF CANINE ORAL PAPILLOMATOSIS WITH SELFHEMOTHERAPY – REPORT OF CASE Éllen Caroline Valentim Neves1, Juliana Alves Lacerda Cunha1, Oscar Fonzar Neto1, Enrico Giuseppe Poletto Luvizutto1, Adan Leandro Watanabe1, Patrícia de Athayde Barnabé2, Águeda Aparecida Lima da Silva Rial3. RESUMO A papilomatose é uma doença viral ocasionada pelo gênero Papillomavirus. Em cães produz nódulos benignos principalmente na região oral, lábios, faringe e língua. Foram revisados os principais aspectos clínico-epidemiológicos da papilomatose oral canina, sendo descrito o tratamento de um cão afetado empregando-se a auto-hemoterapia. Unitermos: cão, papiloma, terapêutica. ABSTRACT Papillomatis is a viral disease caused by the genus Papillomavirus. In dogs it produces benign tumors mainly in oral region: mouth, lips, pharynx and tongue. This review covered the major clinical and epidemiological aspects of canine oral papillomatosis, and were described the treatment of an affected dog employing the autohemotherapy was described. Uniterms: dog, papilloma, therapeutics. Alunos do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina (FCAA). Profa. Dra. do curso de Medicina Veterinária, FCAA, Andradina (SP). 3 Profa. Ms. do curso de Medicina Veterinária, FCAA, Andradina (SP). 1 2 Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 67 - 71 68 INTRODUÇÃO A papilomatose é uma doença causada por vírus do gênero Papillomavirus, família Papovaviridae. Nos cães, produz nódulos benignos principalmente na região oral, nos lábios, faringe e língua. Não há predileção por sexo, raça ou sazonalidade na ocorrência da doença (1,4). A inoculação do vírus pode ocorrer através de solução de continuidade na epiderme ou na mucosa (14). As lesões começam como nódulos pequenos, brancos e lisos que, frequentemente, evoluem para massas cinzas, pedunculadas, semelhantes à couve-flor (12). O período de incubação dura de um a dois meses e o desenvolvimento das verrugas leva entre um e cinco meses. Na maioria dos animais ocorre regressão espontânea entre quatro e oito semanas após o aparecimento das lesões, mas em alguns casos, os papilomas tendem a permanecer cronicamente (8,13) . Cães jovens costumam apresentar papilomas múltiplos na pele ou mucosas, geralmente causados por virose. Em cães mais velhos são frequentes os papilomas solitários, nem sempre causados por infecção viral (6). A transmissão ocorre por contato direto ou indireto com secreções ou sangue proveniente dos papilomas. Também há transmissão iatrogênica pelo uso de instrumentos contaminados. Doenças imunossupressoras ou o uso de drogas imunossupressoras também podem predispor à doença (4,12,14). A morbidade é alta em cães de hospitais veterinários, clínicas ou ambientes similares com alto fluxo e rotatividade de animais, podendo acometer ninhadas inteiras. Todavia, a mortalidade é baixa, exceto nos casos de complicações secundárias que comprometam o estado geral do animal (2). Foram descritas três formas de apresentação clínica na espécie canina. A primeira é a papilomatose das mucosas, afetando primariamente cães jovens, que apresentam múltiplas verrugas na mucosa oral e lábios podendo atingir o esôfago e as conjuntivas oculares. A segunda apresentação engloba os papilomas cutâneos, que são solitários e frequentes em cães mais velhos. As lesões podem ser confundidas com anexos cutâneos, pois se assemelham a cornos ceratinizados múltiplos e elevados. A terceira forma inclui os papilomas cutâneos invertidos que ocorrem em animais jovens e adultos com lesões na porção ventral do abdome onde aparecem pápulas nodulares elevadas com centro ceratótico (6). Sinais como ptialismo, halitose, disfagia, relutância em se alimentar, hemorragias e infecções bacterianas secundárias acompanhadas por secreção purulenta na região das verrugas são complicações clínicas observadas na papilomatose oral canina (4,14). O diagnóstico desta afecção é baseado nos achados clínicos, entretanto, outros métodos estão disponíveis. Dentre estes merecem destaque a histopatologia, em geral empregada para papilomas cutâneos, venéreos e alguns oculares e a imunohistoquímica, para detectar antígenos relacionados ao grupo do Papilomavirus (4,14). Diferentes protocolos são adotados para o tratamento das lesões, incluindo ressecção cirúrgica, drogas antivirais, autovacina, autohemoterapia e drogas imunomoduladoras (1). A auto-hemoterapia consiste na retirada de sangue por punção venosa e sua imediata administração por via intramuscular ou subcutânea. Também é conhecida como terapia do soro, imunoterapia ou auto-hemotransfusão. A técnica é comparada à aplicação de uma vacina autógena, pois estimula a resposta imune do organismo a antígenos infecciosos ou não (5). Assim, o objetivo deste trabalho foi relatar um caso de papilomatose oral em cão, abordando sinais clínicos, tratamento mediante autohemoterapia e seus resultados. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 67 - 71 69 RELATO DO CASO CLÍNICO Um cão sem raça definida, macho, com sete meses de idade e pesando 17,6 Kg foi atendido no Hospital Veterinário da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina apresentando verrugas na mucosa oral e descamação de pele. Ao exame clínico constatou-se presença de carrapatos, linfonodos poplíteos aumentados, temperatura corporal de 39,7º C, ausência de alterações cardíacas e respiratórias, mucosas levemente hipocoradas, pele com áreas seborreicas multifocais com aspecto seco e presença de papilomas orais. O exame da cavidade oral revelou a existência de múltiplos papilomas pedunculados semelhantes à couve-flor na mucosa oral interna, palato e língua. Também foram encontrados alguns nos lábios, sendo polimorfos e de coloração clara. Além da presença da papilomatose, suspeitou-se de leishmaniose pelo aspecto da pele e pela linfadenopatia, por tratar-se de área endêmica para esta enfermidade. Foram realizados hemograma e punção biópsia aspirativa com agulha fina dos linfonodos poplíteos para avaliação e exclusão da suspeita de leishmaniose. Os parâmetros hematológicos encontravamse dentre os valores de normalidade para a espécie, porém, o volume globular estava no limite inferior tolerável e verificou-se a presença de Babesia sp. O cão era negativo para Leishmania sp., pela ausência de sua forma amastigota no esfregaço do material obtido dos linfonodos. Iniciou-se o tratamento imediatamente, administrando-se dipirona (D500® - 0,9 ml, via intramuscular) para remissão da febre e atropina 0,25% (1 ml, via subcutânea) seguida, após 15 minutos, por imidocarb (0,7 ml, via intramuscular) como terapêutica para babesiose, estes últimos sendo reaplicados uma vez por semana, durante três semanas. O tratamento foi complementado com a prescrição de complexo polivitamínico e mineral (Hemolitan Pet®, 18 gotas, uma vez ao dia durante 30 dias). Para tratamento da papilomatose oral foi iniciada a auto-hemoterapia, que consistiu na retirada de 3 ml de sangue venoso seguida de sua imediata administração por via intramuscular. O procedimento foi realizado uma vez por semana durante quatro semanas, totalizando quatro aplicações. Foi associado o levamisole (Ascaridil® - 1 mg/kg, por via oral, três vezes por semana, durante quatro semanas). Uma semana após a última aplicação o animal foi reavaliado. Os parâmetros clínicos e os valores hematológicos se normalizaram. Houve remissão completa dos papilomas e ao final da consulta o animal recebeu alta. DISCUSSÃO A papilomatose oral é comum em cães e nos animais jovens, costuma apresentar-se como múltiplos nódulos localizados na mucosa oral (1) como verificado no caso atendido. Na maioria dos animais, as lesões regridem espontaneamente entre quatro e oito semanas, mas podem tornar-se crônicas, necessitando de tratamento (1). Em virtude do comportamento autolimitante, geralmente, não se realiza qualquer tratamento. Entretanto, quando há comprometimento do estado geral do animal, devido à dificuldade de alimentação ou por interesse estético são adotados diferentes protocolos terapêuticos (1). No caso relatado, apesar do cão não apresentar complicações decorrentes da presença dos papilomas, o dono queixava-se de problema estético. Dentre os tratamentos para papilomatose canina destacam-se a ressecção cirúrgica, drogas antivirais, autovacina, auto-hemoterapia e drogas imunomoduladoras (1). No presente caso associouse a auto-hemoterapia com o uso de droga imunoestimulante (levamisole). Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 67 - 71 70 O uso da auto-hemoterapia atualmente é polêmico por se tratar de uma terapia alternativa. Alguns profissionais da área não a reconhecem nem a validam por não acreditarem em suas vantagens, o que a torna pouco divulgada (3). No entanto, há quem defenda a técnica, ressaltando que ela é um recurso terapêutico de baixo custo e simples, que estimula o sistema reticulo endotelial quadruplicando o número de macrófagos e que, por seus benefícios, deveria ser mais divulgada (3,9). A auto-hemoterapia atua ativando o sistema imune, ocasionando reativação orgânica em inflamações crônicas e estimulando a eritropoiese mantendo, assim, uma homeostasia. Com a absorção do sangue venoso pelo organismo, o sistema imune é ativado promovendo a produção de anticorpos contra o papiloma (11). O levamisole estimula a migração leucocitária, a produção de mediadores da imunidade celular e a ativação de linfócitos. Segundo a literatura, a dose indicada para uma boa modulação da resposta imune é de 2 mg/kg por via oral a cada 48 horas (11,15). Também há relato de que o tratamento intermitente é mais eficaz do que contínuo, seguindo um esquema de administração por três dias consecutivos, intervalados por outros três dias, seguindo-se o uso por mais três dias. Em doenças recidivantes ou crônicas pode ser necessária a repetição do protocolo até remissão do problema, mas, se a dosagem for excessiva, pode suprimir a resposta imune, agravando a doença(10). No presente trabalho utilizou-se dose de 1 mg/kg por via oral, três vezes por semana, durante quatro semanas. Na literatura há muita variação de doses e protocolos recomendados para uso desta droga como imunoestimulante. A babesiose pode permanecer cronicamente no animal e ser ativada mediante ao decréscimo de atividade do sistema imune (7), o que, no presente relato, pode sinalizar a debilidade imunológica do cão atendido, como sugere a manifestação da papilomatose oral sem cura espontânea, ou pode ter agravado o quadro do paciente, predispondoo ao surgimento dos papilomas, já que o proprietário não sabia precisar a quanto tempo os nódulos haviam surgido. O uso da auto-hemoterapia foi eficaz neste caso ocasionando a regressão dos papilomas. Entretanto, devido à dose usada do levamisol ter sido menor do que a recomendada pela literatura não é possível afirmar se realmente foi efetivo, o que torna importante novos estudos em casos futuros, com adequação de sua dosagem e verificação dos resultados. Além disto, a cura da babesiose pode ter melhorado o estado imunológico do animal, fazendo com que respondesse à auto-hemoterapia. CONSIDERAÇÕES FINAIS A auto-hemoterapia foi eficaz na eliminação dos papilomas orais do cão. A associação com imunoestimulante pode ter sido benéfica, necessitando de novos estudos para confirmação de sua efetividade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. AZEVEDO, F.F. et al. Papilomatose Canina. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, n. 10, 2008. Disponível em http:// www.revista.inf.br/veterinaria10/revisao/edicvi-n10-RL68.pdf. Acesso em 07 jul 2010. 2. CORREA, W.M.; CORREA, C.N.M. Enfermidades infecciosas dos animais domésticos, 2 ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1992. p. 709-713. 3. DRUMOND, K.O. Autohemoterapia, vincristina e associações dos dois tratamentos no tumor venéreo transmissível canino. 2009. 70f. Tese (Doutorado em Ciência Animal) – Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 67 - 71 71 Escola de Veterinária, Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2009. 4. FERNANDES, M.C. et al. Papilomatose oral em cães: revisão da literatura e estudo de doze casos. Ciências Agrárias, v.30 (1), p.215-224, 2009. 5. FERREIRA, D.F.L. et al. Autohemoterapia, intervenção do estado e bioética. Revista da Associação Medica Brasileira, v.54, p.183-188, 2008. 6. KAHN, C.M.; LINE, S. Sistema tegumentar. In: KAHN, C.M.; LINE, S. Manual Merck de Veterinária. 9 ed. São Paulo: Roca, 2008. p. 658659. 7. LAPPIN, M.R. Infecções protozoárias e mistas. In: ETTINGER, S.J.; FELDMAN, E.C. Tratado de medicina interna veterinária. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2004. cap.87, p.436. 12. SANTOS, D.A.N. et al. Papilomatose bucal canina. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, n. 11,2008. Disponível em http://www.revista.inf.br/veterinaria11/revisao/ edic-vi-n11-RL73.pdf. Acesso em 07 jul 2010. 13. SHERDING, R.G. Outras doenças virais. In: BIRCHARD, S.J.; SHERDING, R.G. Clinica de pequenos animais. 2 ed. São Paulo: Roca, 2003. cap.14, p.135. 14. TILLEY, L.P.; SMITHI, F.W.K. Consulta veterinária em 5 minutos. 3 ed. Barueri: Manole, 2008, p. 1089. 15. VIANA, F.A.B. Guia terapêutico veterinário. 2 ed. Lagoa Santa: CEM, 2007. p. 210-211. 8. MEGID, J. et al. Tratamento da papilomatose canina com Propionibacterium acnes. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.53 (5), p.574-576, 2001. 9. MELO, T.B. et al. Auto-hemoterapia no tratamento de cães acometidos de hemoparasitoses. In: JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO, 10, 2010. Anais... Recife, p. 1-4, 2010. 10. ROBERSON, E.L. Drogas usadas contra nematódeos. In: BOOTH, N.H.; MC DONALD, L.E. Farmacologia e terapêutica em veterinária. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988. cap.55, p.723-724. 11. SANTIN, A.P.I.; BRITO, L.A.B. Estudo da papilomatose cutânea em bovinos leiteiros:comparação de diferentes tratamentos. Ciência Animal Brasileira, v.5 (1), p. 39-45, 2004. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 67 - 71 Recebido: 11/08/2009 Aceito: 30/09/2009 72 CIÊNCIAS AGRÁRIAS RELATO DE CASO PRESENÇA INCOMUM de Leishmania sp. EM EXSUDATO NASAL DE UM CÃO COM LEISHMANIOSE VISCERAL – RELATO DE CASO UNCOMMON PRESENCE OF Leishmania sp. FROM NASAL EXSUDATE IN A DOG WITH VISCERAL LEISHMANIASIS – A CASE REPORT Fábio Luís Bonello1, Daniela Tozadore Gabas1, José Francisco Fonzar1, Rodrigo Bernardo dos Santos Ferreira2, Patrícia Cássia dos Santos2, Tatiane Gracini2, Dhione Cruz Honório2 RESUMO A leishmaniose visceral é um antropozoonose causada por protozoários do gênero Leishmania. No cão, pode apresentar-se clinicamente sob as formas oligo ou polissintomática. Os principais sinais observados são lesões de pele, emagrecimento, onicogrifose e linfoadenomegalia, além de alterações oculares e nasais devido a infecções bacterianas secundárias, que resultam em exsudação purulenta e crostas perioculares e no plano nasal. A replicação do protozoário em mucosas pode também causar alterações importantes e a Leishmania já foi observada em cortes histológicos e impressões da mucosa nasal. Autores relatam que a epistaxe observada em cães com leishmaniose pode ser decorrente da lesão direta causada pela replicação do parasita na mucosa nasal. Não existe, entretanto, nenhum relato na literatura que tenha demonstrado formas amastigotas de Leishmania sp em exsudato nasal. Relata-se então um caso de leishmaniose visceral canina no qual o cão apresentava emagrecimento e exsudação respiratória purulenta persistente, que fora tratado por várias semanas, sem êxito. O exame físico revelou linfoadenomegalia, emaciação e mucosas discretamente pálidas; não havia alterações laríngeas, traqueais ou pulmonares. Suspeitou-se de rinite fúngica e foram preparadas lâminas do exsudato nasal e de “swab” nasal colhidos em ambulatório para coloração rápida e visualização em microscopia de luz. Em ambos os materiais foram observadas formas amastigotas de Leishmania sp. no interior de macrófagos, além de muitas bactérias. Nas lâminas de PBA (punção biópsia aspirativa) de linfonodo poplíteo também foram observadas formas amastigotas do protozoário. Os testes imunológicos no soro, ELISA e RIFI, também revelaram-se reagentes para leishmaniose. Exames radiográficos não revelaram alterações em ossos da cabeça ou no interior de seios paranasais e tampouco nos pulmões. Os achados clínicos e laboratoriais permitiram chegar à hipótese diagnóstica de rinite causada por Leishmania sp, com infecção bacteriana secundária. Unitermos: cão, exsudato nasal, Leishmania sp., rinite. ABSTRACT Visceral leishmaniasis is an anthropozoonosis caused by protozoan of genus Leishmania. Dogs can present it clinically in oligosymptomatic or polisymptomatic forms. Main observable signs are skin lesions, emaciation, onicogryphosis, lymphadenitis and also ocular and nasal alterations due to secondary bacterial infections that result in purulent exsudation and perioculars and nasal plan eschars. The protozoan replication in mucosas can also produces important alterations and Leishmania had already been observed Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 72 - 77 73 from nasal mucosa histological preparations and imprints. Some authors report that epistaxis in dogs with leishmaniasis happens because of the direct mucosa injury caused by parasite replication. However, there is no report in literature that had demonstrated Leishmania amastigotes in nasal exsudate smears. We reported a case of visceral leishmaniasis canine, when the dog presented emaciation and purulent respiratory exsudation, both persistent. It had been treated unsuccesfull during several weeks. Physical examination revealed lymphadenomegaly, emaciation and discreetly pale mucosas. There was no laryngeal, tracheal or pulmonary alterations. It was suspected for fungal rinitis and smears were made from samples of nasal discharge and intranasal swabs, recovered at the ambulatory and carried to quick staining and observation with light microscope. In both materials we observed Leishmania amastigotes inside the macrophages and also a lut of bacteria. In material obtained from popliteo lympho node ABP (Aspirative Biopsy Puncture) we also found protozoan amastigotes forms. Serum immunological tests (ELISA and IFI) presented positivity for leishmaniasis. Radiographic examination didn’t showed alterations in head bones, paranasal sinuses and neither lungs. Clinical and laboratorial findings allowed to conclude the diagnosis of rinitis caused by Leishmania sp. associated with secondary bacterial infection. Uniterms: dog, Leishmania sp., nasal exsudate, rinitis. INTRODUÇÃO A leishmaniose visceral, causada por protozoários do complexo Leishmania donovani, é uma zoonose transmitida por vetores que acomete humanos, cães e outros mamíferos domésticos e silvestres e geralmente manifesta-se sistêmica e severamente (6,9). Os vetores envolvidos na transmissão quase que sempre são mosquitos flebotomíneos, mas suspeita-se que os carrapatos possam também desempenhar tal papel (28). Os achados clínicos podem variar largamente. Os cães afetados normalmente apresentam uma ou mais das seguintes alterações, tais como, lesões de pele, perda de peso ou hiporexia, lifadenopatia geral ou localizada, onicogrifose, lesões oculares, epistaxe, claudicação, anemia, insuficiência renal, e diarréia (15) . Podem ocorrer também hepatoesplenomegalia, hipertermia e conjuntivite (12) . As membranas mucosas (nasal, oral, genitais) são ocasionalmente afetadas (15) . A imunossupressão pode promover a ocorrência de 1 2 infecções oportunistas e no sistema respiratório ser causa de pneumonia bacteriana (11). Epistaxe também pode ocorrer em alguns casos e a provável causa é uma combinação de lesões ulcerativas e inflamatórias na mucosa nasal (3,19). Leishmania sp. também já foi encontrada no sangue e outros fluídos corporais. O achado do parasita no sangue periférico é raro (18).O líquido sinovial é o fluído orgânico em mais se encontrou Leishmania sp., o que geralmente desencadeia um quadro de artrite (10,25). Formas amastigotas do protozoário já foram encontradas em líquido peritoneal (7), no líquor e no interior de células TVT (2,13,21). Há dois métodos mais utilizados para o diagnóstico, o parasitológico e o imunológico (sorológico). No primeiro, formas amastigotas podem ser observadas principalmente em material proveniente de linfonodos ou de medula óssea, sendo ELISA e RIFI os testes amplamente utilizados. Recentemente, tem-se utilizado o diagnóstico molecular por meio da PCR (reação em cadeia pela polimerase) (8,14,23). Professor da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina – Faculdades Integradas Stella Maris Aluno da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina - Faculdades Integradas Stella Maris Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 72 - 77 74 RELATO DE CASO Um cão da raça Pit Bull, de seis meses, foi atendido no Hospital Veterinário (HV) da Fundação Educacional de Andradina, São Paulo, com queixa principal de tosse, corrimento nasal e febre. O animal já havia sido tratado por dois meses sem prescrição veterinária com enrofloxacina, amoxicilina e azitromicina, com discreta melhora do quadro inicial. Os parâmetros vitais não estavam significamente alterados. No exame fisico constatou-se estado nutricional magro, aumento de linfonodos poplíteos e exsudato nasal purulento. O exame da traquéia e pulmões não revelou alterações. Decidiu-se realizar swab da cavidade nasal e PBA de linfonodos, com suspeita de leishmaniose visceral e/ou rinite fúngica. Durante o atendimento o animal espirrou e foi possivel coletar o exsudato, do qual foram preparadas lâminas para exame citopatológico. As lâminas do exsudato e da PBA de linfonodos foram enviadas ao Laboratório Clínico do HV, coradas com corante panótico rápido comercial e analisadas em microscopia óptica. Tanto nas lâminas do exsudato proveniente do espirro como nas lâminas do swab foram observadas, em objetivas de imersão, formas amastigotas de Leishmania sp. no interior de macrófagos, numa inflamação mista de polimorfonucleares e macrófagos , além de muitas bactérias (cocos) fagocitadas por neutrófilos e macrófagos. Na lâmina de PBA de linfonodo também foram observadas formas amastigotas de Leishmania sp. extracelulares. O eritrograma revelou anemia discreta normocítica, normocrômica e não regenerativa. No leucograma, a alteração evidenciada foi linfopenia (0,60X109/l). A contagem de plaquetas atingiu o valor de 181X109/l. Na bioquímica sérica, uréia, creatinina, AST (Aspartato aminotransferase) e ALT (Alanina aminotransferase) estavam dentro dos valores normais. Foi constatada hiperproteinemia (proteína plasmática total 98 g/l), com valor normal de albumina, o que evidencia hiperglobulinemia. Ambos ELISA e RIFI para pesquisa de anticorpos anti- Leishmania apresentaram resultados positivos. Exames radiográficos não revelaram alterações de seios paranasais, de outras estruturas da cabeça e tampouco dos pulmões. O diagnóstico final foi leishmaniose visceral e rinite mista bacteriana e por Leishmania sp. O HV tem por conduta não realizar o tratamento dos cães casos positivos de leishmaniose o que foi aplicado neste caso. DISCUSSÃO Em relação às alterações não respiratórias, autores encontraram 81% de linfoadenomegalia dentre os 215 cães avaliados clinicamente em seu estudo (12). A perda de peso, constatada nesse caso, está freqüentemente relacionada ao envolvimento visceral, podendo ocorrer mesmo em cães com normorexia (12). No município de Araçatuba (SP), em cães com leishmaniose submetidos à necropsia, foram encontrados 48,2 % de emaciação e 87,9% de linfadenomegalia (18). A onicogrifose, também presente neste caso, é um achado relativamente comum e é causada pela presença do parasita estimulando a matriz ungueal (12,26,29). A anemia normocítica normocrômica não regenerativa está de acordo com a literatura, onde, os achados do hemograma, da urinálise ou de determinações bioquímicas são inespecíficos (17). A alteração hematológica mais frequente na leishmaniose visceral canina é a anemia, que pode variar de leve a grave e apresentar caráter regenerativo ou arregenerativo. As alterações em linfócitos são pouco frequentes(18). Anemia normocítica normocrômica, geralmente não regenerativa, que pode variar de leve a grave, é um achado comum em cães com leishmaniose e ocorre principalmente devido ao parasitismo da medula óssea pela Leishmania, interferindo na eritropoiese (4,18,20). Nas fases finais da doença observa-se também trombocitopenia, no entanto a contagem plaquetária pode ser normal (12,13). Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 72 - 77 75 A hiperglobulinemia, aqui constatada, é, segundo a literatura (1,4,12,18) consequencia do aumento das frações beta e gama, associada à hipoalbuminemia, embora neste caso a albumina se encontrasse normal. No trato respiratório superior ocorrem principalmente ulcerações nasais externas, mas também está descrito que a multiplicação do parasita na mucosa nasal pode levar a ulcerações, sendo, nessa enfermidade, provavelmente a principal causa de epistaxe (15). Para alguns autores, a epistaxe, não constatada neste caso, é frequente em lesões da cavidade nasal causadas por leishmanias, associada ou não à erliquiose (22,24). Em relação aos métodos de diagnóstico em lesões nasais, há vários relatos do achado de Leishmania sp. por meio de histopatologia (16,27,30), mas não por exame citopatológico de exsudatos, que concluiu o diagnóstico neste caso. No entanto, Leishmania sp. já foi encontrada parasitando células TVT de localização nasal, cujo diagnóstico também foi realizado por exame citopatológico direto, mas não de exsudato nasal (21). O aumento dos linfonodos da cabeça foi relatado em casos de leishmaniose devido às lesões localizadas na região de drenagem desses gânglios (5). Neste relato, o aumento pode ter sido decorrente tanto da rinite quanto da característica sistêmica da doença, já que havia linfadenomegalia generalizada. CONSIDERAÇÕES FINAIS A presença de Leishmania sp. em doenças da cavidade nasal é relativamente comum e pode ser diagnosticada rotineiramente utilizandose de biopsias e impressões para cito e histopatologia. No entanto, não foi encontrado nenhum relato de identificação de formas amastigotas de Leishmania sp em exsudato nasal de cão, fato inédito neste relato. Portanto, o exame microscópico dos exsudatos, simples, rápido e de baixo custo, deve sempre ser cogitado, visto que pode fornecer o diagnóstico definitivo da doença e determinar uma conduta precoce. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BANETH, G. Leishmaniasis. In: Greene, C.E. Infectious diseases of the dog and cat. 3.ed. Philadelphia: Elsevier, 2006. p.685-698. 2. BONELLO, F.L et al. Presença de Leishmania sp. em células de tumor venéreo transmissível de uma cadela: relato de caso. In: VII SECIVET – SEMANA CIENTÍFICA DA MEDICINA VETERINÁRIA. Anais... Andradina: FCAA , 2009. 1 CD-ROM. 3. CIARAMELLA, P.; CORONA, M. Canine Leishmaniasis: clinical and diagnostic aspects. Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v.25 (5), p.358-368, 2003. 4. CIARAMELLA, P. et al. A retrospective clinical study of canine leishmaniasis in 150 dogs naturally infected by Leishmania infantum. Veterinary Record , v.141 (21), p.539-543, 1997. 5. COSTA, M.M. et al. Cervical, mandibular and parotid lymph nodes of dogs naturally infected with Leishmania infantum: a histopathologic and immunohistochemistry study and its correlation with facial skin lesion. Veterinary Pathology, v. 45 (5), p. 613-616, 2008. 6. CURI, N.H. et al. Serologic evidence of Leishmania infection in free ranging wild and domestic canids around a Brazilian National Park. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 101 (1), p. 99-101, 2006. 7. DANTAS-TORRES, F. et al. Leishmaniose felina: revisão de literatura. Clínica Veterinária, n.61, p. 32-40, 2006. 8. DA SILVA, E.S. et al. Diagnosis of canine leishmaniasis in the endemic área of Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil by parasite, antibody and DNA detection assays. Veterinary Research Communications, v.30 (6), p. 637-643, 2006. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 72 - 77 76 9. DUPREY, Z.H. et al. Canine visceral leishmaniasis, United States and Canada, 20002003. Emerging Infectious Diseases, v.12 (3), p. 440-446, 2006. 10. EUGÊNIO, F.R. et al. Estudo clínicolaboratorial das articulações na leishmaniose experimental em cães. Veterinária e Zootecnia, v. 15 (2), p. 278-287, 2008. 11. FEITOSA, M.M. Avaliação clínica de animais naturalmente infectados. In: 1º FÓRUM SOBRE LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA. Anais... Jaboticabal, 2006. 12. FEITOSA, M.M. et al. Aspectos clínicos de cães com leishmaniose visceral no município de Araçatuba – São Paulo (Brasil). Clínica Veterinária, v.5 (28), p.36-44, 2000. 13. FEITOSA, M.M. et al. Avaliação liquórica de cães, com e sem sintomatologia neurológica, naturalmente acometidos por leishmaniose visceral. Veterinária Notícias, v.11 (2), p.61-69, 2005. 14. FERREIRA-EDE, C. et al. Comparison of serological assays for the diagnosis of canine visceral leishmaniasis in animals presenting differente clinical manifestations. Veterinary Parasitology, v.146 (3-4), p. 235-241, 2007. 15. FERRER, L. Clinical aspects of canine leishmaniasis. In: PROCEEDINGS OF THE INTERNATIONAL CANINE LEISHMANIASIS FORUM. Proceedings… Barcelona: Spain, p. 6-10, 1999. 18. IKEDA, F.A. et al. Perfil hematológico de cães naturalmente infectados por Leishmania chagasi no município de Araçatuba-SP: um estudo retrospectivo de 191 casos. Clínica Veterinária, v.8 (47), p.42-48, 2003. 19. KONTOS, V. J.; KOUTINAS, A. F.; Old world canine leishmaniasis. Compendium on Continuing Education for the Practing Veterinarian, v.15 (7), p.949-959, 1993. 20. KOUTINAS, A.F. et al. Clinical considerations on canine visceral leishmaniasis in Greece: a retrospective study of 158 cases (1989-1996). Journal of American Animal Hospitals Association, v.35, p.376-383, 1999. 21. LEVY, E. et al. Nasal and oral masses in a dog. Veterinary Clinical Pathology, v. 35 (1), p. 115-118, 2006. 22. MYLONAKIS, M.E. et al. A retrospective study of 61 cases of spontaneous canine epistaxis (1998 to 2001). Journal of Small Animal Practioners, v.49 (4), p. 191-196, 2007. 23. NUNES, C.M. et al. Avaliação da reação em cadeia pela polimerase para diagnóstico da leishmaniose visceral em sangue de cães. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 16 (1), p. 5-9, 2007. 16. FONT, A. et al. Canine mucosal leishmaniasis. Journal of American Hospitals Association, v.32 (2), p. 131-137, 1996. 24. PETANIDES, T.A. et al. Factor associated with the occurrence of epistaxis in natural canine leishmaniasis (Leishmania infantum). Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 22 (4), p. 866872, 2008. 17. GRADONI, L. The diagnosis of canine leishmaniasis. In: II INTERNATIONAL CANINE LEISHMANIASIS FORUM 2002, Sevilla, Spain. Salamanca: Intervet International, 2002. p.7-14. 25. SANTOS, M. et al. Polyarthritis associated with visceral leishmaniasis in a juvenile dog. Veterinary Parasitology, v.141 (3-4), p.340344, 2006. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 72 - 77 77 26. SCOTT, D.W. et al. Viral, rickettsial and protozoal skin disease. In: Small animal dermatology. 6.ed. Philadelphia: Saunders Company, 2001. p.517-542. 27. SERRA, C.M.B. et al. Forma mucosa atípica da leishmaniose tegumentar canina. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 28 (1), p. 41-43, 2006. 29. SLAPPENDEL, R.J. Canine leishmaniasis: a review based on 95 cases in the Netherlands. The Veterinary Quarterly, v.101 (1), p. 1-16, 1988. 30. TARANTO, N.J. et al. Mucocutaneous leishmaniasis in naturally infected dogs in Salta, Argentina. Revista Argentina de Microbiologia, v. 32 (3), p. 129-135, 2000. 28. SILVA, U.A. et al. Canine visceral leishmaniasis in northeast Brazil: epidemiological aspects. Bulletin Society Pathology Exotic, v.100 (1), p. 49-50, 2007. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v.8, 2008 72 - 77 Recebido: 15/09/2009 Aceito: 06/10/2009