Cultura de convergência em foco na Bienal do Livro Rio

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Cultura de convergência em foco na Bienal do Livro Rio
Cultura de convergência em foco na Bienal do Livro Rio
Roteirista do fenômeno dos games “Assassin’s Creed”, Corey May foi o destaque da
programação do começo da tarde deste domingo, que teve ainda dezenas de outros
convidados
Um dos temas centrais do #acampamento na bienal, a cultura de convergência tem na série
“Assassin’s Creed” um de seus maiores exemplos: originalmente um videogame (com vendas que
ultrapassam os 40 milhões em todo mundo), deu origem a uma série de livros igualmente bemsucedida, com mais de 450 mil exemplares comercializados apenas no Brasil. E o roteirista-chefe
dessas histórias, o americano Corey May, veio ao Brasil especialmente para participar da 16ª Bienal do
Livro Rio. No começo da tarde deste domingo, do Auditório Rachel de Queiroz, May foi recebido por
uma animada plateia de jovens.
E eles queriam conhecer seus jogos preferidos e até descobrir as novas investidas da Ubisoft,
empresa responsável pela produção dos jogos. “Joguei videogames a vida toda. Quando era criança lia
livros que falavam sobre games, que são formas incríveis de interação”, disse.
May, economista por formação, revelou também como se tornou um profissional do mundo dos
games. “No último ano da faculdade entrei em pânico. Não queria continuar trabalhando em bancos,
usando terno. Fiz outra faculdade com a ajuda dos meus pais e, com o novo trabalho, acabei entrando
profissionalmente no mundo dos games”, lembrou.
Ele garantiu também que, apesar de não assinar como autor a série de livros, acompanha de
perto todas as publicações. “Leio todos os volumes para me certificar de que estão realmente
representando o conteúdo dos jogos”. Sobre o Brasil, May disse ter vontade de fazer um jogo
relacionado ao país. “Vou batalhar para criar um jogo com elementos do Brasil”, prometeu.
No mesmo auditório, e igualmente integrante da programação do #acampamento, o elenco do
fenômeno do humor Porta dos Fundos reuniram centenas de fãs. Liderados por Fábio Porchat, a
equipe fez a alegria do público respondendo às perguntas mais cabeludas com muito bom humor e
jogo de cintura. Eles contaram casos curiosos das gravações, falaram do surgimento do coletivo e do
sucesso surpreendente dos vídeos. Quando perguntados sobre onde pretendem chegar, o diretor Ian
SBF dispara: “Onde a gente queria chegar já ficou pra trás faz tempo. Nunca esperamos essa resposta”.
Sobre os planos de ir para a TV, Porchat tem uma resposta na ponta da língua: “A gente
começou o Porta dos Fundos para fazer um tipo de humor acha engraçado, mas não vê com muita
facilidade. A internet nunca foi um trampolim para a TV, pelo contrário, a gente saiu da TV para a
web”.
O público do auditório, de mais de 350 pessoas, era o mais diverso possível. Crianças,
adolescentes e adultos ouviram a uma enxurrada de piadas e fizeram todo tipo de pergunta. “A gente
nunca subestima o público. Independente de idade, classe social e gênero. A gente parte do princípio
de que todo mundo é capaz de entender as nossas piadas”, explica o ator Luis Lobianco.
Quem também passou pelo #acampamento foi Isabel Faber, menina de 14 anos que ficou
conhecida internacionalmente pela fanpage do Facebook “Diário de classe”, onde passou a denunciar
problemas na infraestrutura de sua escola em Florianópolis. Sua atitude se tornou referência, e hoje a
jovem chega a receber dez mil mensagens pela internet com pedidos de ajuda e elogios. “Fico feliz de
ser um exemplo, todas as mensagens me incentivam. Muita gente se inspira no meu trabalho e diz que
quer me ajudar”, comentou Isadora, que também está escrevendo um livro para narrar a história da
página social, que deu origem também à ONG que leva o nome da autora, cujo objetivo é orientar e
estimular outras iniciativas para a melhoria na estrutura das instituições públicas de ensino.
E as crianças lotaram o auditório Mário de Andrade para conversar com Maurício de Sousa, que
falou sobre o nascimento da personagem Mônica e seu sucesso instantâneo. “Às vezes uma
personagem tem tanta força que se torna protagonista”, disse ao se referir a Mônica, criada
inicialmente para ser coadjuvante de Cebolinha, mas que logo ganhou a atenção do público e passou a
comandar com a publicação “A Turma da Mônica”.
O encontro arrancou risadas das crianças, que se divertiram com as histórias do escritor e
desenhista e perguntaram entusiasmadas sobre suas inspirações. Mas o verdadeiro sucesso foi a
presença da verdadeira Mônica, filha do autor e inspiração para a menina dentuça e enfezada que
comemora 50 anos em 2013. “Raros personagens meus não se baseiam em ninguém, quase todos são
baseados em conhecidos, familiares e amigos”, revelou Maurício.
Quadrinhos
O segmento das histórias em quadrinhos foi o tema do bate-papo do Café Literário com a
presença do alemão Reinhard Kleista ("O Boxeador" e " Cash - Uma biografia”) e dos brasileiros Daniel
Pellizzari ("Digam a satã que o recado foi entendido"), Rodrigo Rosa ("Kardec") e Bruno Dorigatti. O
processo criativo da narrativa das HQs e o desenvolvimento do mercado brasileiro e europeu
nortearam a conversa.
No cenário nacional, Rodrigo Rosa destacou o apoio do governo federal para a expansão dos
quadrinhos. “Desde 2008, o Estado passou a ser o maior comprador de HQs, sobretudo das
adaptações literárias dos clássicos, como "O Cortiço", de Aluísio de Azevedo, visando à distribuição em
escolas públicas", disse.
Kleist falou sobre o trabalho com as biografias em graphic novel. “É preciso muita pesquisa. Para
fazer "Castro" estudei a revolução cubana, conversei com jornalistas e historiadores. A ideia surgiu de
uma viagem a Cuba”. O autor adiantou ainda o tema de seu novo ofício, a vida de um esportista da
Somália.
Rodrigo também ressaltou a importância da investigação para a produção da obra. “Para
Sertões, fui à região de Canudos sentir o clima do lugar e das pessoas que vivem lá. Frequentei muito a
biblioteca, falei com pesquisadores. Foi um trabalho minucioso e motivador, pois tive acesso a muitas
informações”.
“A apuração no local é sempre rica, pois aparecem dados que não seriam revelados
remotamente”, afirma Daniel. Para "Digam a Satã" visitou a Irlanda.
Com contribuição da plateia, Dorigatti questionou os participantes sobre as transformações no
cenário das HQs. “Na Alemanha, até dez anos atrás, o mercado não tinha evoluído muito. O
desenvolvimento das graphic novels conquistou o reconhecimento do grande público. Esse movimento
também aconteceu na França”, disse Kleist.
Segundo Daniel, o gosto do brasileiro por quadrinhos sempre existiu. No entanto, nas últimas
décadas, houve uma mudança do perfil desse segmento. “Hoje, temos uma alteração da cultura de
quadrinhos de banca para quadrinhos de livraria. A diversidade temática vem aumentando.”
Isso é arte?
O interesse do público em compreender o mundo da arte foi o mote do encontro entre Will
Gompertz – editor de artes da BBC, de Londres, e autor do recém-lançado “Isso é arte?” –, a escritora
alemã Kathrin Passig e o crítico Paulo Sérgio Duarte. Ao longo do bate-papo, o mediador Fred Coelho
levantou a questão da autoria no campo das artes na contemporaneidade, ressaltando a tendência da
autoria compartilhada. Em sintonia com o tema, Fred informou que na próxima Bienal de Artes em São
Paulo a curadoria será formada por um grupo.
Na literatura, Kathrin chamou atenção para as ferramentas tecnológicas que possibilitam que
várias pessoas trabalhem um mesmo texto simultaneamente. “Atualmente, o editor já pode
acompanhar a produção por meio de uma plataforma. No futuro, esse hábito será intensificado”.
O compartilhamento ganhou evidência com a internet, mas sua prática não é uma total
novidade no universo artístico. “Sem a participação do passista, o parangolé de Hélio Oiticica não seria
possível. Na literatura, acredito que o futuro será marcado pela participação do leitor, que vai dar
outros caminhos às obras originais” avalia Paulo.
Próximo do fim da conversa, Fred questionou: "Afinal, o que é arte?" “A arte é básica. É um ser
humano tentando se comunicar com outro. A indagação do espectador deve focar na ideia, na emoção
da obra. Os museus e as galerias não devem fazer a arte para si. O artista quer que sua obra seja
conhecida”, afirma Will. "Não é preciso se preocupar com a linguagem. É uma barreira, uma espécie
de apartheid, que impede o público de se interessar pela arte. O espectador decide o que é arte",
completa.
A plateia presente no Café questiona se o uso excessivo de imagens pode ameaçar a palavra
escrita. Para Paulo, “a profusão exagerada de imagens vai provocar uma valorização extrema da
palavra. A preocupação deve ser com o sistema de educação brasileiro, um dos piores da América
Latina, que só não perde para o Haiti”. A constatação foi aplaudida pelo público.
Agruras e prazeres da escrita
Com lotação esgotada, o Café Literário recebeu, nesta tarde de domingo (1), os escritores Ana
Maria Machado, o moçambicano Mia Couto – que ontem já havia participado de sessão do Mulher e
Ponto – e Luiz Ruffato para contar ao público quais os prazeres e dificuldades do exercício da escrita.
Premiados, os autores falaram sobre o que os inspira a escrever, o mercado editorial e sua trajetória
até o reconhecimento.
“A sensibilidade da qual parto para escrever vem de uma espécie de trança de três caminhos
diferentes: o primeiro é o passado e a memória, outro é o presente que envolve a observação e, por
último, vem o da imaginação”, conta Ana Maria Machado. “O que me faz escrever é o fascínio pela
linguagem”, completa.
Mia Couto, por outro lado, fala das dificuldades que encontra como escritor. “Meu grande
desafio na hora de escrever é conseguir juntar todos os “eus” que existem em mim”, diz. “Porém, o
prazer que tenho em escrever é maior que qualquer agrura que possa surgir”, finaliza.
Luiz Rufatto contou também um pouco sobre como começou a escrever. “Sou um escritor filho
de mãe analfabeta. Quando eu era criança não tinha livros na minha casa, só fui começar a me
envolver com literatura na faculdade. E por tudo o que passei, tomei para mim a missão de
representar em meus livros questões políticas”, afirma.
Felicidade e sabedoria
Em busca da felicidade ou não, o público encheu o Café Literário na tarde deste domingo para a
mesa “A felicidade num minuto: como transformar sabedoria em uso imediato”. Com a presença do
especialista em coaching e desenvolvimento pessoal Allan Percy (pseudônimo adotado pelo espanhol
Francesc Miralles) – autor consagrado por “Nietzsche para estressados” – e do escritor Adilson Xavier –
autor de “Sobrevoando Babel” –, o bate-papo abordou temas como a superficialidade das relações e
de como conciliar a vida profissional e a pessoal.
“Meu livro fala sobre os efeitos da globalização na vida das pessoas. É sobre a perda de
identidade. O personagem é um grande sucesso profissional, mas um desastre na vida pessoal”, disse
Xavier a respeito da necessidade de um equilíbrio entre o trabalho e outras relações como as
familiares.
Segundo Percy, os pensamentos teóricos de filósofos e ficcionistas como Nietzsche, Kafka e
Oscar Wilde têm um lado prático que podem ser trazidos para as situações cotidianas da vida. “A
intenção dos meus livros é pegar a sabedoria desses filósofos e aplica-la em busca da felicidade. Meu
maior desejo é poder abrir espaço para que os leitores busquem mais conhecimento sobre estes
pensadores”, afirma.
Os organizadores
Com escritórios no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Bahia, a Fagga l GL events
exhibitions é uma das maiores empresas em promoção e organização de feiras do país, responsável
pela realização de mais de 20 eventos anuais. Subsidiária do grupo GL events Brasil, operação
brasileira de um dos maiores grupos do setor de eventos do mundo - a francesa GL events -, a Fagga
soma mais de meio século de experiência.
O SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) é uma sociedade civil que tem como objetivo
o estudo e a coordenação das atividades editoriais no Brasil, assim como a representação legal da
categoria de editores de livros e publicações culturais. Sua missão é dar suporte à classe nas áreas de
direitos autorais, biblioteconomia, trabalhista, contábil e fiscal. A atual presidente do SNEL é Sonia
Jardim, que também é vice-presidente de operações do Grupo Editorial Record.
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