2012 - Fevereiro

Transcrição

2012 - Fevereiro
Sumário
Ano II — No 02 |Fevereiro 2012
Revista de Estudos Espíritas
4
Editorial: Sexualidade sob o Ponto de Vista da Doutrina Espírita
5
Comentários dos Leitores
6
Palavras da Direção: Nos Dias de Carnaval...
7
André Luiz: Parentes Difíceis
9
Especial: O Espiritismo no Brasil
11
Espíritos do Senhor: Bernardin de Saint-Pierre
13
Palavra dos Espíritos: Disciplina no Trabalho com Jesus
16
Conversando sobre Educação Espírita: Como me Preparo para
Evangelizar as Crianças?
17
Promoção Social: Nascimento sob um Novo Prisma
19
Entrevista: Dona Neuza Trindade – parte 2
23
Fala, Jovem!: Ao Jovem Leitor
24
Capa: “Sexo e Compromisso”
29
Inspirações
30
Espaço dos Encontros: Encontro Espírita sobre “O Livro dos Espíritos”
32
Espiritismo e Ciência: A Mente e os Telômeros
33
Kardec Pergunta: Legislação Humana – o Ponto de Vista
35
Evangelho em Ação: Nos Tempos Modernos
36
Léon Denis: Dores e Decepções
37
Mediunidade: A Importância do Diálogo no Atendimento Espiritual – parte 2
39
Revista Espírita em Foco: Necessidade da Encarnação
40
Grupo Leopoldo Machado: Características das Viagens
42
Tema Livre: Mensagem de Cairbar Schutel – 20/8/1998
Editorial
ISSN: 1415-4269
Fundador
Altivo Carissimi Pamphiro
(1938-2006)
Presidente
Hélio Washington de M. Costa
Sexualidade sob o
Ponto de Vista da
Doutrina Espírita
Divisão de Divulgação Doutrinária
Paulo Nagae
Saulo Monteiro
Prezados Leitores,
Após mais de um ano de relançamento da REE, do Centro Espírita Léon Denis, nossos leitores passaram a conhecer, mensalmente, diversos temas à luz da Doutrina Espírita. Dando continuidade a esse trabalho, abordaremos, neste mês, um assunto que parece encontrar certa resistência
quando tratado publicamente, embora faça parte de nosso
dia a dia: a Sexualidade.
Muitos, entretanto, dirão: “mas o que isso tem a ver com
Doutrina Espírita”? Lembrando que nosso objetivo não é
polemizar, mas esclarecer, trazemos aos nossos leitores três
pensamentos e/ou passagens literárias de alguns “personagens” do Espiritismo sobre este contexto.
Administração
Silvio Almeida
Conselho Editorial
Alan de Souza
Mônica Soares
Ana Beatriz Sanabio
Daniel Costa
Elton Rodrigues
Maíra Arruda
Saulo Monteiro
Vanessa R. de Oliveira
Vitor Nogueira
Tarcísio M. Dantas
Wagner Rodrigues
Jornalistas Colaboradores
Alan de Souza
Mônica Soares
Diagramação e arte
Marcelo Domingues
Capa
Ana Beatriz Sanabio
Revisão
Teresa Cunha e Barbara Santos
Arte-final
Roberto Ratti e Márcio Almeida
Produção Gráfica
“A energia sexual, como recurso da lei de atração, na perpetuidade do Universo, é inerente à própria vida, gerando
cargas magnéticas em todos os seres, à face das potencialidades criativas de que se reveste. Nos seres primitivos, situados
nos primeiros degraus da emoção e do raciocínio, e, ainda em
todas as criaturas que se demoram voluntariamente no nível
dos brutos, a descarga de semelhante energia se opera inconsideravelmente. Isso, porém, lhes custa resultados angustiosos a
lhes lastrearem longo tempo em existências menos felizes, nas
quais a vida, muito a pouco e pouco, ensina a cada um que
ninguém abusa de alguém sem carrear prejuízo a si mesmo.”
(Chico Xavier)
Celd
Distribuição e comercialização
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“Erro lamentável é supor que só a perfeita normalidade
sexual, consoante às respeitáveis convenções humanas, possa servir de templo às manifestações afetivas. O campo do
amor é infinito em sua essência e manifestação. Insta fugir
às aberrações e aos excessos; contudo, é imperioso reconhecer
que todos os seres nasceram no Universo para amar e serem
amados.” (André Luiz no livro No Mundo Maior.)
“Toda vez que determinada pessoa convide outra à comunhão sexual ou aceite de alguém um apelo neste sentido, em
bases de afinidade e confiança, estabelece-se entre ambas um
circuito de forças, pelo qual a dupla se alimenta psiquicamente de energias espirituais, em regime de reciprocidade.”
(André Luiz no livro Vida e Sexo.)
Boa leitura e que Jesus nos abençoe!
Alan de Souza
Comentários dos Leitores
Amigos leitores,
Este espaço é aberto à comunicação entre leitores e editores!
Enviem-nos seus comentários, sugestões e críticas através do e-mail
[email protected]. Ajudem-nos a manter e melhorar este projeto que é a nossa Revista de Estudos Espíritas!
deixados por Cristo. Esquecemonos muitas vezes de agradecer àquele que fez muito por nós, mas não
nos esquecemos de pedir presentes
Achei o artigo interessantíssimo,
para nós mesmos.
apesar de não ter entendido alguns
Gostaria que as pessoas pudestermos, pois não sou espírita.
sem ter um Natal diário e não em
Jesus é o representante de Deus junapenas uma data específica; que
to à humanidade, tal qual o governador
aceitassem e amassem mais o próde nosso Estado representa-nos junto
ximo; que disponibilizassem uma
à União. Jesus é o nosso governador
fração do seu tempo para agradecer
também, porque nos ensinou a amar
àquele (Jesus) que fez tanto por nós
e a aceitar e conviver de forma pacífie não somente se lembrar dele nos
ca com o próximo. É uma pena que nem sempre
momentos difíceis.
façamos isso; que nos deixemos levar por outros
Renato Duarte Rodrigues
sentimentos como raiva, ganância, inveja, luxúria.
Existem realmente épocas em nossas vidas,
alguns meses, em que nos sentimos mais pró- REE: Irmão Renato,
Tem toda razão! O esforço para essa lembranximos do Cristo, como o Natal, a páscoa cristã,
mas nós temos nos tornado tão materialistas que ça e transformação deve ser um cuidado diário de
transformamos até essas datas em apenas mais todo cristão! Que Deus o abençoe sempre! Espeum momento para se trocar ou ganhar presentes, ramos poder contar com novas contribuições da
esquecendo o real significado dos ensinamentos sua atenção. Leitor não espírita comenta artigo de capa da Edição de No 12, de
dezembro de 2011.
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Palavras
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da Direção
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Nos Dias de Carnaval...
Aproximam-se os dias em que nossa Cidade fica envolvida nas festividades do carnaval.
São dias de muita turbulência e de muita agitação.
Embora saibamos que muitas pessoas trabalhando, pacífica e ordenadamente, conseguem auferir recursos para o seu sustento e de suas famílias.
Embora saibamos que, para a cidade do Rio de Janeiro, estes dias são importantes,
financeiramente, com o aumento do número de turistas que vêm visitar a nossa Cidade, é
patente o transtorno que estas festividades trazem para a Cidade como um todo.
Por revelação do plano espiritual, sabemos que nesta época espíritos desencarnados,
ainda sedentos de prazeres ligados à carne, aproximam-se dos homens e mulheres que
com eles entram em sintonia, levando-os a cometerem atos e atitudes que trarão consequências desastrosas em suas vidas.
Assim, por orientação espiritual, diversos centros espíritas e outras instituições religiosas promovem, nestes dias, uma espécie de “retiro” em que aqueles que quiserem poderão
se afastar dessas vibrações.
O Celd, mais uma vez, realizará o Encontro do Carnaval — o 28o Encontro Espírita sobre
“O Livro dos Espíritos”, em que teremos a oportunidade de estudar mais uma vez a Doutrina Espírita e de sintonizarmos com os Espíritos Benevolentes e caridosos que dirigem
nossa Casa.
Venham ao Encontro, venham sentir as vibrações de Paz, Alegria, Serenidade e Amor
que emanam do Plano Espiritual amigo.
Hélio Washington
Presidente do Celd
[email protected]
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André Luiz
Parentes Difíceis
por Laiz de Mello Gonçalves
[email protected]
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo,1 cap.
V, item 3 (Bem-aventurados os Aflitos — Justiça
das Aflições), aprendemos o quão difícil é compreender a utilidade do sofrimento para ser feliz.
Tudo o que nos aflige sem uma perspectiva de
melhoria imediata nos faz, de certo modo, sofrer
sem que possamos entender o seu motivo. No que
tange às relações familiares, esse assunto é um dos
mais discutidos.
André Luiz, no capítulo 7 do livro Sinal Verde,2
nos convida às reflexões sobre os parentes difíceis
em nosso convívio. Devemos confrontá-los, ignorá-los ou quem sabe até desprezá-los? Em muitas
situações são esses os sentimentos que tomam
conta de nós. No entanto, vamos renovar esses
sentimentos à luz da Doutrina Espírita?
Quando pensamos em nosso desenvolvimento
moral-cristão, o Evangelho figura como a cartilha
de nossa alfabetização. Lembremos uma vez mais
André Luiz, agora em seu capítulo 5,3 que nos
ajuda a compreender que as vicissitudes têm uma
causa justa, uma vez que Deus é justo. Recomendamos a sua leitura para melhor aproveitamento
desta lição.
Seja por uma imprevidência na atual existência, seja por fatores relacionados a momentos
anteriores a esta vida, ou ainda unicamente por
um propósito futuro, há uma razão para a vicissitude. O acaso não existe. Razão e propósito são
as duas palavras cujos conceitos dão sentido real
ao sacrifício, ao sofrimento. Razão é pretérito, e
propósito está além do presente.
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André Luiz
Em O Livro dos Espíritos,4 questão 132, Kardec
recebeu a resposta da Espiritualidade Superior
quanto ao objetivo da encarnação. Para chegar à
perfeição, é necessário o desenvolvimento moral e
intelectual. Naturalmente, essa resposta é simples
de se ler, mas difícil de aplicar. Tal crescimento
fere a nossa estabilidade, nossa zona de conforto,
que se funda no atendimento ao interesse pessoal.
Tal atravancamento já era de se esperar uma vez
que a mudança está inerentemente ligada ao crescimento. É preciso ser o que ainda não se é.
Bem, o melhorar a si mesmo é o objetivo
maior. E nesse caminho nos deparamos com os
“desafetos” que tanto nos causam desconforto
com a convivência.
O estudo das Leis Naturais, que estão em nossas
consciências, permite um movimento voluntário
na direção do entendimento de que tanto necessitamos. Ao estudar a Lei de Causa e Efeito — a
Lei de Reencarnação — aprendemos que a convivência é o modo que Deus nos reservou para a
evolução de que tanto falamos. A união pelo convívio promove os acertos de contas, além de abrir
as portas de um sentimento do qual não podemos
prescindir: o amor. Fomos criados para amar, mas
o interesse pessoal se opõe ao sentimento, principalmente quando conhecemos o amor incondicional. O Espírito Lázaro nos instrui em O Evangelho
Segundo o Espiritismo, cap. XI, item 8, numa mensagem intitulada A Lei de Amor. A primeira linha
é autoexplicativa: “O amor resume inteiramente a
Doutrina de Jesus”. Leia esta mensagem e, com certeza, você se sentirá mais fortalecido.
André Luiz nos orienta a receber nossos parentes difíceis na base da generosidade e da compreensão, sentimentos filhos do amor. Ser generoso é
ser bom, piedoso, caridoso. A compreensão vem
a partir do respeito à individualidade do outro,
como gostaríamos que a nossa fosse respeitada.
A generosidade e a compreensão são sentimentos desenvolvidos à medida que nos esforçamos para serem implantados em nossos corações,
num grande exercício de desafio a nós mesmos.
Nesse burilamento, retira-se (ou se substitui) o
que semeamos, nas vidas passadas, em nossos
irmãos (que ora se personificam nas situações
“complicadas” que somos constrangidos a enfrentar). Devemos, assim, exercitar tais sentimentos
para que façam parte de nossas vidas, abrindo
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caminho para que sejam distribuídos para outros
corações. Essa é a Proposta Divina.
Esse grande inimigo, que por agora nos deparamos, não é o desafeto familiar que nos pede socorro,
mas sim aquilo que ainda existe em nosso âmago,
que impede a construção dos melhores sentimentos
e das melhores condições para a vida futura. O verdadeiro inimigo é o orgulho, que traz consigo os
melindres e as vaidades, redundando na desistência,
no abandono, o que consequentemente diminui a
nossa vontade de prosseguir com aqueles que pedimos ao reencarnar, causando, talvez, mais dores e
maiores conflitos de uma forma geral.
Mas, mesmo sem conseguirmos alcançar o
entendimento completo para produzir o real efeito com a convivência de nossos “parentes difíceis”,
continuemos a caminhada buscando o melhor
que pudermos oferecer, apesar das nossas dificuldades como espíritos reencarnados, e com as
nossas limitações também, mas sempre lembrando que estamos a caminho da perfeição, e que
levaremos um tempo para cultivar todos esses
entendimentos e sentimentos. O importante é que
levaremos conosco a nossa parcela em atender o
outro e também de respeitá-lo.
Nessas palavras finais, acrescentamos uma
doce lembrança. Somos filhos do mesmo Pai que
nos ama, e, por esse amor, nos orienta através da
espiritualidade amiga, para nunca desistirmos de
amar, desenvolvendo ao próximo como a nós
mesmos. Bibliografia
1. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 5.
ed. Rio de Janeiro: CELD, 2010.
2. XAVIER, Francisco C. Sinal Verde. Pelo Espírito André
Luiz. 11. ed. Minas Gerais: CEC, 1982.
3. Idem.
4. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 2. ed. Rio de
Janeiro: CELD, 2011.
Especial
O Espiritismo no Brasil
por Mônica Soares
[email protected]
No caldeirão do sincretismo
religioso brasileiro, e segundo os
dados mais recentes de pesquisa
divulgada pelo IBGE, o Espiritismo ocupa hoje um destacado
quinto lugar na lista das 25 crenças preferidas da população. O
levantamento socioeconômicocultural de 2010 traz grandes
surpresas a partir da avaliação
criteriosa do comportamento
do brasileiro de todas as classes
sociais. O Catolicismo ainda é
maioria absoluta, com 67,84%
de adeptos (muito embora tenha
sofrido quedas históricas até
a passagem do milênio) e é
seguido pela igreja evangélica Assembleia de Deus (com
5,77% de crentes). Em terceiro
lugar surgem as igrejas evangélicas sem-vínculo institucional;
em quarto a Igreja Batista; e, em
quinto, o Espiritismo “Kardecista” (termo utilizado pelo IBGE).
Para se ter uma ideia, a religião
umbandista vem em vigésimo primeiro lugar e a religião
dos mórmons, a Igreja de Jesus
Cristo dos Santos dos Últimos
Dias, em último.
Os que acharam que a doutrina que prega a imortalidade
da alma, que prova que a natureza do homem é espiritual —
além de pregar tantos outros
princípios doutrinários, científicos e religiosos, recebidos e
codificados por Allan Kardec,
em O Livro dos Espíritos, em
1857 —, fosse sucumbir com o
passar dos anos, vitimada pelos
ataques sem-trégua e soterrada
pela força do Vaticano, enganaram-se. Como toda ideia nova,
o Espiritismo angariou muitos
adversários, é verdade. Estes,
entretanto, viram crescer e propagar-se em dimensões surpreendentes o ensinamento de
Jesus: “Fora da caridade não há
salvação” (Allan Kardec — O
Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XV), de maneira que
quanto mais a Doutrina dos
Espíritos, por Kardec codificada, era expurgada e excomungada, uma população também
emergente, e livre para escolhas,
começava a perceber a consistência da fé raciocinada.
Hoje, passados quase 155 anos
do lançamento de O Livro dos
Espíritos, a luta continua ainda
difícil. Mas já encontra passagem
iluminada no caminho aberto
pelos abnegados precursores do
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Especial
Espiritismo no Brasil, que, tais
quais os “bandeirantes”, criaram
as trilhas para divulgar uma religião libertadora, livre de preconceitos, de sectarismo, fanatismo
e autoritarismo. E que, também,
como discípulos da boa-nova,
traziam de volta o genuíno Evangelho de Jesus, com o destino de
combater o egoísmo arraigado, o
orgulho e a vaidade.
Religiosidade feminina
X
Avanços
Outros dados paralelos da
pesquisa mostram que novas
escolhas religiosas foram parte de uma das variáveis socioeconômicas que mais mudaram a partir da emancipação da
mulher no Brasil e no mundo.
As pesquisas mostram que as
mulheres continuam sendo mais
religiosas do que os homens
(pois muitos deles caminharam na direção da não religião),
porém, muitas delas migraram
para religiões alternativas, deixando involuntariamente para
trás um catolicismo patriarcal,
cuja visão se fecha, por exemplo,
para temas vivos de nossa contemporaneidade como o divórcio. Se passarmos os olhos pela
história do Espiritismo no Brasil, será fácil perceber que simultaneamente à migração das
mulheres brasileiras para religiões menos patriarcais e conservadoras, o avanço da Doutrina Espírita em direção à sua
institucionalização — uma luta
que começou no final do século 19 e culminou nos anos 40 do
século passado — também trilhou muito mais pelos caminhos
da religiosidade efetiva e libertadora do que pela ótica de um
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segmento religioso atrelado ao
Estado e destinado a reproduzir
internamente regras e conceitos
centralizadores de poder.
Senão vejamos o surgimento
oficial do Espiritismo no Brasil:
Desde antes da criação da FEB
(Federação Espírita Brasileira),
em 1884, os primeiros espíritas, em vários estados do Brasil,
já lutavam por um movimento
unificador que fosse independente da política religiosa. Nesse trabalho que seria sustentado por mais de 70 anos, destacamos, entre outros célebres
espíritas, Dr. Adolfo Bezerra de
Menezes.
Em 5 de outubro de 1949,
líderes e dirigentes de vários centros de estudos espíritas espalhados pelos estados brasileiros
reuniram-se no Rio, na sede da
FEB. A ideia era unificar três
Wantuil de Freitas
princípios básicos: aspirações
de fraternidade, ensinos evangélicos e uma organização livre
e isenta de personalismos e inspirações políticas. Surge a ata
do Pacto Áureo. Na assembleia
realizada na sede da Federação,
todos os dirigentes tentavam
fazer um esboço do que seriam
esses princípios, quando Wantuil de Freitas, o então presidente da FEB, trouxe à tona um pro-
jeto escrito por ele no dia anterior que continha, sintetizadas,
todas as aspirações daquele grupo. Contam os registros da FEB
que aqueles senhores presentes
foram tomados de uma imensa
alegria por estarem diante do
documento.
A revista Reformador diz que
“não houve palavras para definir tamanha alegria” e a certeza
do auxílio dos espíritos. Lins de
Vasconcelos sugeriu então que
o documento se chamasse Pacto Áureo. Com ele foi criado o
Conselho Federativo Nacional
da Federação Espírita Brasileira,
que continha nove normas fundamentais que deveriam reger
todo o movimento espírita no
Brasil; sendo o Pacto Áureo a
representação de dois pilares que
seriam responsáveis pela expansão e fortalecimento da Doutrina no país: “Entendimento e
concórdia”. Entendia-se por isso
que: “o espírita até pode divergir
em alguns aspectos secundários,
mas em hipótese nenhuma se
admite a discórdia e a intolerância”. Ou seja, “a Doutrina dos
Espíritos liberta, porque conscientiza o homem, ensinandolhe o exercício da tolerância e do
amor ao próximo, a solidariedade entre os homens e os povos”,
como ensina o escritor Agnaldo
Cardoso. Mas isso sem que ele se
sinta passivo diante de regras e
sem ser tutelado, mas trabalhando, ele próprio, pelo seu progresso e sua reforma íntima. Referências bibliográficas:
Novo Mapa das Religiões (Coordenação Marcelo Côrtes Neri, Rio de
Janeiro: FGV, CPS, 2011);
Revista Espírita.
Espíritos do Senhor
Bernardin de
Saint-Pierre
por Henrique Oliveira
[email protected]
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no
capítulo V, item 27, encontramos uma bela exortação sobre a importância de aliviarmos, sempre
que possível, a dor, a expiação de nossos irmãos.
O espírito que assina: Bernardin.
Jacques-Henri Bernardin de Saint-Pierre nasceu em Havre, França, no dia 19 de janeiro de
1737, e desencarnou em Éragny, França, no dia
21 de janeiro de 1814. Mais conhecido como Bernardin de Saint-Pierre, foi escritor e botânico.
Desde a infância, Bernardin mostrou um espírito inquieto e irritável, desejoso por aventuras.
Aprendera diversas línguas e interessava-se pelo
mar. Um dos seus tios, capitão de navio, que foi
à Martinica (ilha francesa no mar do Caribe),
levou-o a bordo, porém, a fadiga do trabalho no
navio tirou suas ilusões. Voltando a Havre, desgostoso da vida marítima, entrou no Collège du
Mont (colégio dos jesuítas de Caen) estimulado
pelo desejo de partir para lugares distantes, com
o objetivo de converter os povos bárbaros. Seu
pai abrandou seu entusiasmo, enviando-o para
fazer filosofia no “Collège de Rouen”. Em seguida
entrou na École Nationale des Ponts et Chaussées,
para a turma dos jovens engenheiros que o ministro da guerra estabelecera em Versailles.
Enviado a Düsseldorf, sua suscetibilidade e
insubordinação lhe destituíram do cargo. Retornou para Havre, onde seu pai estava casado novamente e, devido a desacordos com sua madrasta,
Bernardin partiu para Paris em 1760, sem-recursos. No ano seguinte, foi novamente enviado
como engenheiro à Ilha de Malta, que estava sob
ameaça do império otomano, mas depois voltou a
Paris com a intenção de ensinar matemática. Sem
os alunos e na pobreza, resolveu tentar a fortuna
no estrangeiro, e partiu para a Holanda, e de lá
para São Petersburgo, depois Polônia, para ajudar
na causa de Charles Radziwill contra Estanislau
II da Polônia. Em Varsóvia, encontrou a princesa Marie Miesnik, por quem se apaixonou. Posteriormente foi para Dresden, e depois Berlim,
onde não conseguiu se fixar e retornou à França
em novembro de 1766.
Com poucos recursos, cheio de dívidas, retirou-se para Ville-d’Avray e escreveu suas memórias sobre os vários países por onde passou.
Depois solicitou o cargo de capitão-engenheiro
nas Ilhas Maurício, e partiu em 1768.
Voltou para Paris em junho de 1771 e começou a frequentar a “Société des gens de lettres”.
Jean le Rond d’Alembert apresentou-o no salão de
Julie de Lespinasse, mas ele reagiu mal e sentiu-se
deslocado no mundo dos enciclopedistas. Aliouse, mais estreitamente, a Jean-Jacques Rousseau.
Publicou, em 1773, Voyage à l’Île de France, à
l’Île Bourbon, au cap de Bonne-Espérance, par un
officier du roi (Amsterdam e Paris, 1773, 2 vol.),
e preparou a publicação de Études de la nature.
Passou todo o inverno de 1783 a 1784 a refazer
essa obra, a organizá-la. Após a publicação de
Études de la nature (3 vol., 1784), o autor, desconhecido, deslocado e sem-recursos, passou a
ser reconhecido.
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Espíritos do Senhor
Em 1792, aos 55 anos, casou com Félicité
Didot, que tinha 22. No mesmo ano, foi nomeado
administrador do Jardin des Plantes de Paris, em
substituição a Georges-Louis Leclerc de Buffon,
cargo suprimido em 1793. Convocado em 1794
para ser professor da École normale supérieure,
reconheceu não ter talento para a oratória. Em
1795 foi nomeado membro do Institut de France,
em uma classe de literatura e línguas. Apoiou, a
partir de 1797, o culto revolucionário à teofilantropia, visando à substituição do Catolicismo por
outra religião. Laureado pela Academia de Besançon, foi eleito para a Academia Francesa em 1803.
Após perder sua primeira esposa, casou novamente, em 1800, com Désirée de Pelleport, jovem
e bela, que acompanhou seus últimos anos até sua
morte em Éragny (Val-d’Oise), à beira do rio Oise.
Do primeiro casamento, teve dois filhos: Paul,
que morreu muito jovem, e Virginie, casada com
o general de Gazan. Sua segunda esposa casou-se
novamente com Aimé Martin.
Em Bernardin, há uma diferença profunda
entre o escritor e o homem: este é irascível, melancólico e atormentado; aquele é doce, calmo e terno. Do início ao fim da vida, o escritor sonha com
uma república ideal, onde todos os habitantes são
unidos por uma mútua benevolência ainda que as
contrariedades da vida irritem a suscetibilidade
do homem.
Em l’Arcadie (Angers, 1781), um poema em
prosa, Bernardin descreve a república ideal com
que sonha. Em Études de la nature (Paris, 1784, 3
vol.) descreve, com suas próprias palavras, “une
histoire générale de la nature” (uma história geral
da Natureza). O talento em descrever a Natureza
é mais aparente em Paul et Virginie (Paris, 1787).
Com uma paisagem nova e grandiosa ao fundo,
duas graciosas figuras adolescentes representam
a paixão humana em toda a sua extensão. Bernardin também expressa com perfeição a paixão
em La Chaumière indienne (Paris, 1790), que se
torna, de certo modo, um paradoxo, um ataque
contra a Ciência.
Os outros escritos de Bernardin de SaintPierre são: Harmonies de la nature (1815, 3 vol.);
Vœux d’un solitaire (Paris, 1789), que tenta conciliar os novos princípios com os antigos; Mémoire
sur la nécessité de joindre une ménagerie au Jardin
national des plantes (Ibid., 1792); De la Nature de
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la morale (1798); Voyage en Silésie (1807); la Mort
de Socrate, drama, precedido de um Essai sur les
journaux (1808); le Café de Surate, conto satírico;
Essai sur J.-J. Rousseau et récits de voyage.
Suas Oeuvres complètes foram publicados por
Aimé Martin (Paris, 1813, 12 vol). O mesmo editor publicou a Correspondance de Bernardin de
Saint-Pierre (1826, 4 vol.), suas Oeuvres posthumes (1833-1836, 2 vol.), e seus Romans, contes,
opuscules (1831, 2 vol.).
O romance Paul et Virginie teve inúmeros
seguidores, entre outros Maria, do colombiano
Jorge Isacs, e Inocência, do brasileiro Visconde
de Taunay. Bernardin de Saint-Pierre aparece
ainda com seu nome completo na Revista Espírita de setembro de 1861, em mensagem ditada à
médium Sra. Costel, e ainda na edição de março
de 1867, ditando um pensamento que o médium
Bertrand recebeu a lo de novembro de 1866, na
Sociedade Espírita de Paris: “O amor verdadeiro
é harmonioso; suas harmonias embriagam o coração, elevando a alma. A paixão afoga os acordes,
abaixando a alma”. Aparece, ainda, com outras
mensagens, incluídas por Kardec em O Evangelho
Segundo o Espiritismo e O Céu e o Inferno. Estátua de Bernardin de Saint-Pierre no Jardin des
Plantes de Paris.
Palavra dos Espíritos
Disciplina no Trabalho
com Jesus
pelo Espírito Balthazar
[email protected]
Qual o conselho que o Sr. poderia nos dar em
relação à disciplina que devemos ter diante da
coordenação de um trabalho?
Balthazar: Para nós, a disciplina de uma instituição religiosa deve estar calcada em 3 pontos
básicos: 1o) O respeito à Doutrina; 2o) O respeito à Casa; 3o) O respeito aos representantes de
Deus que trabalham na Casa, desencarnados ou
encarnados.
Qualquer criatura que penetre num ambiente
doutrinário está se candidatando a servir naquele ambiente. Então, daí a necessidade da obediência, de diretrizes claras, específicas, objetivas
para que o serviço transcorra bem. E isso exige
da criatura um processo de determinação (autodeterminação se quiserem). Ele trabalhará, por
exemplo, numa Casa, determinando-se a produzir segundo as orientações desta. Ele produzirá o
bem, segundo ordem da Casa. Ele será médium,
segundo ordem da Casa. Então, essa base é a primeira dentro do contexto do qual estamos falando. É a primeira regra a ser observada, ou seja,
você trabalhará numa Casa Espírita e a sua obrigação, o seu desejo, o seu sentimento, aquilo que
você é deve estar jungido ao ato da disciplina, de
querer servir ali.
O segundo fato é que esta associação de sua
vontade ao desejo expresso por você deve estar
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Palavra dos Espíritos
apoiado solidamente no princípio da liberdade
espiritual de escolher. Você tem que ser o que
você é por escolha, por determinação, não por
indução. A Doutrina Espírita nunca será responsável pela vida de ninguém. Cada um será
responsável por seus atos. Por isso, você só irá se
quiser. E o outro princípio básico de obrigação
dentro da Doutrina está amparado num outro
desejo que é o sistema da oração, algo essencialmente individual. Isso obriga o homem a ser um
ser que quer caminhar, porque deseja vencer a si
mesmo. Ele quer servir, mas ele deseja vencer a
si mesmo. Esse é o grande objetivo da disciplina
na casa religiosa. Ele nunca será um bom espírita se quiser se disciplinar apenas na Doutrina
Espírita. Deverá desejar se disciplinar dentro de
si mesmo.
A Doutrina Espírita é um elemento que irá
catalisar essa reação, acelerar esse processo de
formação no sentido de dirigir?
B: Se ele não tiver o desejo íntimo de ser disciplinado, terá sempre esses episódios de indisciplina. Quase todos os processos de indisciplina
observados nas Casas Espíritas se originam dessa não adesão e desse não desejo íntimo de ser
disciplinado.
Como conseguiremos, dentro de uma Casa
Espírita e dentro de nós mesmos, nos disciplinar a ponto de não nos abatermos diante de
problemas de convivência?
B: Regras de convivência fazem parte de um
aprendizado de vida não interior. Regra de convivência é fruto de aprendizado externo.
Inclui a polidez, à qual você acrescenta momentos mais marcantes, menos marcantes, momentos
mais determinados, momentos menos determinados, recordando ainda a lição muito objetiva,
antiga, de que numa sociedade todos são obrigatoriamente desiguais. Quando você está num
grupo associado a um serviço, você, intimamente,
tem que ser disciplinado. Se o companheiro de
jornada traz dificuldades de convivência, isso
prova apenas que ele não tem capacidade, ainda,
de exteriormente ser como você gostaria que ele o
fosse. A prova está que essas pessoas também têm
objetivos de fazer o bem; apenas por força externa
não o conseguem.
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Imaginemos você dirigindo uma tarefa. Imaginemos que ao seu lado exista uma pessoa com
o mesmo objetivo de dirigir essa tarefa, ou com
direção no mesmo sentido, mas cada um, por força da sua evolução, tem a sua noção do que seja a
verdade. Imaginemos que essa pessoa ao seu lado
lhe conteste. Vamos supor, dentro desta hipótese que eu estou apresentando, que se você sair do
trabalho e passar para esta outra pessoa a direção do trabalho, ela poderá conduzi-lo tão bem
quanto você, uma vez que ela tem o mesmo objetivo. Por isso que tais pessoas, quando não têm a
disciplina externa, mas têm a interna, são capazes
de dizer num dado momento, “eu não quero lhe
ofender”, “não estou querendo o seu lugar” e pensam
seriamente isso, porque não desejam mesmo, mas
externamente desejariam que você conduzisse a
tarefa segundo a própria visão.
As sociedades religiosas espiritistas têm muita
indisciplina externa e há muita disciplina interna. A
prova da disciplina interna existente é que a doutrina mantém-se una, solidamente uma. Poucas foram
as dissensões. Mas a externa, esta disciplina ou
indisciplina, é patente na forma de dirigir o trabalho, de dirigir passes, de dirigir desobsessão, se deve
ter ou não esse ou aquele serviço, mas, no fundo,
todos creem em espíritos. Sabem que têm espíritos
inferiores que precisam ser doutrinados, sabem que
o passe é uma energia que cura, que sustenta, que
anima e que corrige, mas quanto à relação de oportunidade, esta é que não se faz adequadamente, repito, por força dos fatores externos de convivência que
podemos chamar de educação também.
E os que permanecem na Casa, mas não entendem justamente esse contexto de disciplina?
Balthazar: Ou não atingiram os objetivos, não
descobriram os reais objetivos da convivência da
vida, ou então são almas muito simples. A alma
simples também provoca isso. A alma simples
ainda não tem objetivos internos definidos no
campo da religiosidade.
E quanto aos empecilhos que a vida nos impõe?
B: Vamos situar um episódio diário: você tem
uma realidade familiar, uma realidade financeira, uma realidade física, o cansaço, o desejo do
repouso e o desejo de um dia ficar um pouco em
casa, sozinha com os filhos ou com o marido. Tem
Palavra dos Espíritos
a realidade do trabalho estafante ou não, sempre
estafante, todo trabalho produz estafa, cansaço,
pelo menos desgaste de energia. Há a realidade da
cidade que vocês vivem, distâncias, dificuldades
de transporte, dificuldades de locomoção, falando objetivamente. Há a realidade familiar, as exigências familiares e a financeira, as preocupações
com a sobrevivência. Então, há várias realidades.
Todas, no momento em que você deve dirigir-se
ao Centro, pesam sobre você. O que crê que prevalecerá aí, a disciplina interna ou a externa?
Acredito que deve ser a interna.
B: É a resposta adequada. Tem que ser a interna. A externa, nesse caso, é consequência. A disciplina interna que grita dentro de você a necessidade de cumprir uma meta que você estabeleceu,
qual seja, a de servir naquele campo de atividades. Por isso você não repousa.
Então, a convicção estabeleceu a meta?
B: Sim, a convicção estabeleceu a meta.
E quando eu passar pelos meus testes ou for
buscar testes?
B: Se você buscar, só a disciplina exterior irá
resolver. A interna conduz naturalmente as coisas.
Dentro de nós mesmos, há metas retas e metas
pouco retas. O homem tem o desejo do mal. É
meta dele fazer o mal, mas ele está na fronteira de
começar a se cansar do mal. Há momentos em que
ele pergunta a si mesmo: “Isto está certo”? A disciplina interna dele começa a falhar. É o momento
da mudança. Quando a disciplina interna começa
a falhar, está na hora da mudança. Aí ele entrará
em todo um processo de reaprendizado de novas
metas, e nesse período de aprendizado, ele estará,
diríamos, visceralmente em ebulição.
Isso é bom?
B: Todos temos que mudar e nesse sentido é
bom, ainda mais quando as metas são para o bem.
E quando o interesse dele é progredir?
B: O princípio é o mesmo. Apenas será menos
dificultoso ou ele provocará menos dificuldades.
O que estará de acordo com as Leis da Natureza.
B: Sim.
Menos ebulição.
B: Menos ebulição.
Para adotar uma atitude de disciplina, a pessoa
tem que se convencer a se disciplinar e ter uma
atitude consciente. Isso parece tão lógico, mas
não é tão lógico assim, porque esse convencimento vai exigir um determinado grau de amadurecimento.
B: Para os espíritos desejosos de fazer o bem,
toda lógica amparada no amor não é difícil. Verá
se a pessoa tem o desejo de fazer o bem, que é a
conquista interna ou disciplina interna, ou se ela
dá os passos corretos para fazer o que é a disciplina externa.
Se você diz a ela: o caminho é esta estrada e
não aquela, ela dirá: Todos os caminhos levam ao
bem, o que importa é Deus. Quando muito, você
poderá dizer a ela: “Mas esta estrada leva por um
caminho mais reto, e aquela não vai lhe levar por
um caminho tão reto”.
É válido dizer “Esta leva e eu conheço”?
B: É válido dizer, sem querer impor.
Num gesto fraternal.
B: Sim, num gesto fraternal.
Tem que aprofundar as raízes?
B: Exatamente. E nunca deixem de ficar perplexos, pelo menos nesta fase da vida, porque
isso é o sinal de busca. Nenhum de nós está na
fase de conquista plena. O que é conquista plena para vocês em relação a qualquer um de nós
aqui, espíritos integrados no bem? Para nós,
ainda há muita estrada a percorrer com a visão
mais ampla dos objetivos coletivos, dos objetivos de trabalhos gerais, dos objetivos amplos da
libertação dos espíritos, e muitas outras tarefas,
em que todos precisamos crescer. Há homens
que crescem em objetivos de comunicação, se
especializam na capacidade de se comunicar,
outros ampliam suas áreas no campo da beleza, da forma, do linguajar, da música, da pintura. Todos que crescem se dirigem para o alto e
cada vez mais incorporam o seu próprio espírito pela cultura múltipla que vão fazendo e
obtendo. www.celd.org.br
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Conversando sobre Educação Espírita
Como me Preparo para
Evangelizar as Crianças?
por Raquel Borin
[email protected]
Em todo processo sério de
evangelização, alguns passos são
fundamentais para que a atividade atinja com precisão seus
objetivos. Se há uma responsabilidade com os adultos, a
evangelização infantil engendra um grau de compromisso e
entrega ímpares, por isso a sua
importância.
Depois de me conscientizar
sobre a responsabilidade do compromisso assumido com o trabalho da evangelização, estudo
o tema do dia e preparo material adequado, sempre orando e
pedindo a proteção de Jesus e de
Deus.
Não se deve esquecer de que
o encarnado, durante esse período, com o objetivo de aperfeiçoar o espírito, é mais acessível às
impressões que recebe, capazes
de lhe auxiliar o adiantamento,
para o que devem contribuir os
incumbidos de educá-lo.
É preciso aproveitar essa fase
da infância para transmitir às
crianças o máximo de noções
sobre as leis que regem nossas
existências e os evangelizadores
têm, assim como os pais e responsáveis, grande responsabilidade sobre isso.
Os espíritos só entram na
vida corporal para se aperfeiçoar, para se melhorar. A deli16
www.celd.org.br
cadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que
devem fazê-lo progredir. Nessa
fase é que se lhes pode reformar
os caracteres e reprimir os maus
pendores. Tal o dever que Deus
impôs aos pais, missão sagrada de que terão que dar conta.
A infância é não só útil, necessária, indispensável, mas também consequência natural das
Leis que Deus estabeleceu e que
regem o Universo.
A partir da adolescência o
espírito vai, aos poucos, mostrando como realmente é. Conserva-se bom, se era fundamentalmente bom, mas apresentará sempre características que
estiveram ocultas na primeira
infância. Nessa fase já se dificulta o assimilar das orientações
(de caráter, de moralidade, entre
outras) que se queira passar,
sendo, portanto, fundamental
que isso aconteça na infância.
Ao sair da adolescência, o
espírito retoma à natureza que
lhe é própria e se mostra qual
era. Bibliografia
KARDEC, Allan. Cap. VII, parte segunda, perguntas 379 a 385. O Livro
dos Espíritos.
Promoção Social
Nascimento sob
um Novo Prisma
Trabalho de Apoio às Gestantes
por os Editores
[email protected]
O Trabalho de Apoio às
Gestantes compreende algumas atividades doutrinárias,
espirituais e materiais imprescindíveis ao equilíbrio materno-fetal numa concepção de
realidade de espírito. Envolve
muitos corações que buscam
colaborar nessa programação
divina, sejam eles os Espíritos Benfeitores da Obra Social
Antonio de Aquino, ou os espíritos encarnados que objetivam
transmitir segurança, carinho,
conforto, amparo aos beneficiários que lá acorrem, mediante
as atividades fundamentadas no
estudo da Doutrina Espírita.
E, como tantas outras, foi uma
tarefa iniciada com pequenos
recursos materiais, mas com
coragem, determinação, comprometimento e auxílio à missão maternal e paternal, além
do impulso dos trabalhadores espirituais em relação aos
encarnados. Num segundo momento, as atividades, que se
propagavam ao longo de três
dias semanais, necessitavam de
um planejamento, de maneira
que as ideias fossem unificadas e que os temas estudados
fossem seguidos por todos ao
longo da semana, traçando
metas a serem cumpridas. Essa
preocupação com a formalização e organização surgiu com
o senhor Altivo Pamphiro, no
intuito de futuramente implantar tal tarefa em outras instituições que solicitassem a colaboração do CELD.
Como nos conta Maria de
Lourdes, coordenadora da tarefa, as gestantes que lá chegam
estão num conflito extremo,
magoadas, revoltadas com a
gravidez, com os companheiros
que, muitas vezes, as abandonam, porque não desenvolveram o senso de responsabilidade diante do compromisso assumido. E muitas delas, aliando a
desesperança pela situação em
que vivem ao desconhecimento das leis e da Justiça Divina,
relatam a vontade de abortar.
Por isso a primeira abordagem
dos trabalhadores em relação
às beneficiárias é a de acolhimento e da compreensão da
dor daquela gestante. A partir
disso, mostra-se um caminho
de recuperação e transformação daqueles espíritos, mãe, pai
e filho, apontando a importância da convivência com a família, do burilamento do espírito,
do desenvolvimento do amor
àquele espírito sob a tutela dos
pais, da responsabilidade quanww
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www.celd.org.br
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17
Promoção Social
to à educação desse espírito.
Ressalta ainda a importância do
Evangelho de Jesus, sem o qual
seria difícil conseguir a adesão
dessas mães desesperadas que
clamam por amor.
Com a expansão desse núcleo
de apoio à reencarnação, é possível, num trabalho de equipe, atender às gestantes em suas necessidades primeiras, por meio de
atendimento especializado, como
nutrição, assistência social, psicologia, ginecologia e tantos outros
atendimentos ambulatoriais e
diversos trabalhos espirituais de
auxílio.
Depoimento maternal
Meu nome é Sheila Bicudo Coelho. Sou
mãe desde 1997, e Eneidinha, agora com 12
anos, reflete em nossa vida tudo o que de
muito bom aprendemos aqui! No grupo das
grávidas, num começo um tanto difícil pelas
instalações precárias, aprendi que se deve
confiar sempre, mas sempre mesmo, pois as
dificuldades passam e as condições materiais
e instalações melhoram! Aprendi também a
conviver com a diversidade humana, ideias
variadas, muitas vezes conflitantes, mas que
nos impulsionam a construir em nossos
corações a perseverança!
Com essas experiências, o fortalecimento
espiritual é uma realidade incontestável, pois
sou mãe, mas uma mãe diferente. Ser mãe com
o conhecimento da Doutrina Espírita é ser
mãe de vanguarda, que compreende o filho(a)
e o educa, orienta-o como espírito, como indivíduo a contribuir com a sociedade de agora e
para a Nova Era! A Era do Amor! Este grupo
contribuirá sempre para a formação do espírito em transformação. Transformação para a
paz, solidariedade, amor enfim!
Devo ressaltar que, pela gravidez da nossa Eneidinha, conheci o grupo de apoio às
18
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gestantes da Mallet.1 Tive que tomar passes
de cura e, ao término, assistir às aulas. Fiquei
admirada e ao mesmo tempo feliz de ver, de
conhecer um trabalho tão lindo, de tamanha
responsabilidade, já que quem ali chega é
recebido com muito amor, com muito carinho, tendo o Evangelho como alimento primeiro e sagrado em nossas vidas, nos encorajando e nos fortalecendo.
Hoje vejo a necessidade desse projeto ser
mais divulgado, pois é um trabalho silencioso, no qual o fortalecimento espiritual
das gestantes, dos espíritos reencarnantes e
de todo o grupo que ali se encontra é muito importante, figurando como alavanca e
apoio ao progresso de cada um.
Hoje Eneidinha já se encontra mocinha e
eu continuo com ela nos passes de cura, porém
não mais junto ao grupo, mas meu coração
está. Sou profundamente grata a Deus por fazer
parte dessa família tão linda e tão responsável!
(Centro Espírita Antonio de Aquino. Rio de
Janeiro, 12 de setembro de 2010). 1. A autora da mensagem refere-se à Obra Social Antonio de
Aquino, situada no bairro da Mallet, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Entrevista
E
En
ntrrevis
ista
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Entrevista com
Dona Neuza
Trindade
– parte 2
por Mônica Soares
[email protected]
Como foram os primeiros contatos com seus guias? Dona Neuza: Eu sempre vi
meus guias ao meu lado, desde nova. Então, em cada casa
que passei, fiz trabalho mediúnico de uma forma diferente.
Na primeira casa, foi com uma
freira. Quando eu era estudante,
morava em Oswaldo Cruz e ia
para Vaz Lobo a pé. Nesse caminho — quando passei a estudar
à noite —, eu sempre via a freira
ao meu lado. E, caminhando, ela
me fazia muitas perguntas que
eu não sabia responder. Então
eu respondia com as letras das
músicas de carnaval e de rádio, conhecia a coletânea de preces
das quais gostava muito (risos). que tem no Evangelho Segundo
o Espiritismo. Ela sempre fazia
Com quantos anos? aquelas preces para começar
Dona Neuza: Eu tinha uns e encerrar. Hoje, no entanto,
17... Ela me perguntava: “Por ninguém as estuda e nem as faz
que você está namorando”? E mais.
eu dizia, cantando, que era porque eu queria me casar. E ela me Quando foi que deixou, definiperguntava de novo: “Você sabe tivamente, o Santa Izabel? Dona Neuza: O presideno que é casamento”? E eu dizia
que eram duas pessoas moran- te desencarnou e a minha mãe
do na mesma casa. E quando foi trabalhar no centro do filho
eu comecei no (centro espírita) dele, que era de Umbanda.
Santa Izabel ela se apresentou. Quando cheguei lá, as entidaA freira me protegia nas sessões, des não me deixaram ficar de
porque, naquela época, eu só jeito nenhum. Elas disseram
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19
Entrevista
tora e o Altivo, eu nunca mais
evoquei espírito. A não ser o Dr.
Hermann, que eu chamo sempre, não tem jeito (risos).
Ao Dr. Hermann, Dr. Bezerra
e Léon Denis o pessoal do Celd
não dá descanso mesmo...
Dona Neuza: Dr. Hermann e
Léon Denis então, nem se fala...
E depois que eu o vi foi ruim,
porque passei a mentalizá-lo
sempre.
pra mim e pra minha mãe — de
forma direta mesmo — “Ela vai,
mas você não vai para lá não.
Vai aparecer um lugar formoso
para você ir”.
Mas como o Celd ainda não
existia, a Sra. passou a frequentar o Terezinha de Jesus? Dona Neuza: Isso mesmo;
e fiquei lá 8 anos. Foi onde eu
conheci o meu marido também.
Mas a freira continuou comigo. Até o momento em que ela
definitivamente se despediu. Foi
um diálogo direto. Ela estava
sobre a minha cabeça e me disse que a partir daquela data não
iria mais trabalhar ali, porque
ficaria no trabalho de espíritos
socorristas. E tempos depois eu
a vi aqui no Celd também, junto
a um grupo de freiras descalças,
as Carmelitas.
estava obrigando a fazer o que
não competia mais a ele fazer.
Era a freira. Então eu perguntei a ele: como é que eu posso
obrigar? E como posso saber? Ele me disse que sendo ela um
espírito meu amigo, ouvia as
minhas evocações, vinha em
meu socorro. Ali ele me ensinou
que, para não errar, eu deveria
evocar o espírito do trabalho.
Então, até hoje, quando trabalho, penso em Deus e Jesus, e
em tudo aquilo que posso fazer
de bom. E me entrego ao espírito daquele trabalho.
Então, voltando novamente
ao início do trabalho no Celd,
como foram as primeiras reuniões? Dona Neuza: Logo que recebemos a ordem do Dr. Hermann de que deveríamos abrir
o Centro durante o dia, uma vez
por semana, pelo menos. Ele
nos orientou para que o fizéssemos sempre às segundas e às
quartas-feiras, às 16h. Para ler
O Evangelho Segundo o Espiritismo, fazer o estudo e a oração.
Ainda não havia o salão, só as
salas Ignácio Bittencourt e Deolindo Amorim. Não havia ainda
manifestações nem turmas de
estudos. E durante pelo menos
uns cinco anos isso foi feito.
Sendo cinco: Cidinha, Nestor,
Nair, Jorgina e eu, nos revezávamos. Jorgina e eu, por exemplo, cortávamos os cabelos das
crianças na obra social. A Jorgina, àquele tempo, tinha ficado viúva, e quando a vi muito
chorosa, disse a ela para ficar lá
comigo, porque eu iria arrumar
um outro marido pra ela (risos).
Que outros grupos de espíritos
trabalham no Léon Denis? Dona Neuza: Freis da falange
de Francisco de Assis e outros.
Onde houver gente trabalhando
no bem, e com vontade de fazer
o bem para o próximo, eles estarão juntos. São espíritos trabaE nunca mais a viu? lhadores mesmo. Eles usam a O que o Dr. Hermann dizia? Dona Neuza: O Dr. HerDona Neuza: O Altivo, certa minha mediunidade para fazer
vez, disse pra mim que havia um o que precisam. Então, como mann nos explicou que havia
espírito perto de mim ao qual eu aprendi com essa minha men- muitos espíritos que eram tra20
www.celd.org.br
Entrevista
tados e que ficavam aqui. E que
eles precisariam dessa sustentação em outros dias da semana.
Ele nos dizia, também, que era
preciso chegar meia hora antes
e que quando terminasse a reunião não poderíamos sair correndo, que era para manter por
algum tempo a vibração da casa.
Também nos instruiu a começar
pela parte terceira, e mais consoladora, do livro O Problema
do Ser e do Destino (de Léon
Denis).
Esse período durou quanto
tempo? Dona Neuza: Foram quase cinco anos assim, e tendo só
umas seis ou sete pessoas na
assistência do salão. Eram pessoas que não podiam vir à noite.
Nessa época, seu Nelson Cordeiro, pai da Yara, que era um
coronel da Aeronáutica muito
amigo, também começou a ajudar nos estudos. Passados uns
quatro anos dessas reuniões às
16h — e nós cinco estudando
à noite —, eu comecei a ver um
grupo de espíritos sempre presentes no salão. Um dia eu os vi
abrindo a reunião. E um deles
disse que ia chegar um grupo que ia dar um movimento
intelectual mais intenso à Casa.
Enquanto a Riésia fazia a leitura
da página Palavras da vida eterna, eu os via ali, acima das nossas cabeças. Eu me sentia como
se estivesse ouvindo a conversa
deles atrás da porta (risos). Isso
eu não vou esquecer nunca!
(Dr. Hermann) virou a cabeça
para os espíritos e falou assim:
“Os vícios que eles trazem vão
ser diluídos no trabalho que
eles vão fazer”! Aquilo me marcou, porque ele entendia a vida
do mundo, que são os vícios, os
costumes, as vaidades e tudo
aquilo que faz com que a gente
se distraia na vida, mas também entendia que nós, como
médiuns, estávamos ali para ter
a proteção dos guias, embora
precisemos estar muito, muito
atentos. Os espíritos, neste dia,
enumeraram que a droga, o
sexo, o álcool, o fumo eram os
maiores inimigos do homem.
Dias depois, na reunião de
sábado, ouvi o professor Nilton
de Barros falar na tribuna exatamente a mesma coisa, com
as mesmas palavras, enumerar
os vícios, na mesma ordem que
eles enumeraram. Eu me arrepiei da cabeça aos pés.
Essas determinações são mantidas até hoje...
Dona Neuza: O horário, a
disciplina. A cabeceira do rio
Amazonas começa na Cordilheira dos Andes, onde a nascente da
água é pura, bem pura e geladíssima. No seu trajeto até chegar ao
mar, ela já vai adquirindo outras
substâncias e, quando chega lá,
muitas vezes já está bem suja.
Então é preciso manter a mesma
base, idêntica, sempre.
E aos poucos aquelas seis pessoas foram se transformando
nessa multidão que hoje frequenta a Casa, principalmente
O que eles diziam? Dona Neuza: O dirigente do às quartas e sábados...
Dona Neuza: O processo era
grupo perguntou assim: “Mas
e os defeitos que eles trazem, assim: aquelas seis que vinham à
os vícios que eles têm”?... E ele tarde, quando estabeleciam suas
vidas, passavam a vir à noite ou
aos sábados. E aí vinham outras
à tarde, indicadas por aquelas, e
assim a Casa foi crescendo.
O que um espírita não deve
esquecer? Dona Neuza: A primeira
linguagem apreendida, o livro
que lhe abriu os caminhos. Você
pode conhecer mil livros, mas o
espírita deve reler sempre aquele livro que lhe abriu os caminhos. Porque ali ele encontrou
uma força. Emmanuel diz isso.
O Altivo pedia sempre que voltássemos aos primeiros livros.
Devemos, sim, ficar atualizados
com os novos autores, mas sempre voltar às origens. Há cada
dia surgem novas palavras, mas
o alfabeto não muda nunca. É
a história da cabeceira do rio,
onde nasce a água pura e limpa.
Conforme o passar dos anos,
com que o médium da Casa
deve ter maior cuidado? Muitas vezes ele age pensando estar
certo e já não está.
Dona Neuza: Palavras do
Dr. Hermann: “Nunca caia na
rotina”! O trabalho deve estar
sempre ligado à emoção e não
ao procedimento automático.
E quando você está ligado no
princípio das coisas, é como se
você nunca soubesse nada e aí
fica sempre atento e estimulado
para o trabalho. A rotina do trabalho deve estar ligada à emoção do trabalho.
A prece é movida pela emoção
do coração e dos sentimentos.
Por isso ela é mola propulsora
do momento do passe? Dona Neuza: Sim. Prece é
emoção, é o resultado das deswww.celd.org.br
21
Entrevista
cobertas que a gente vai fazendo uns dos outros. E assim são
os outros trabalhos mediúnicos,
os que se manifestam através
da arte, por exemplo. Em um
dos Encontros de Artes, num
momento em que tivemos o
intervalo e viemos para o corredor, eu senti a vibração das emoções de Castro Alves, ali, naquele
lugar! Eu amo Castro Alves, eu
amo poesia! Todo mundo sabe.
Eu amo o poema “Navio negreiro”... Aí disse para a Clenir: “Eles
estão aqui”! Nós nos abraçamos
e percebemos que estávamos
ganhando uma chuva de bênçãos daqueles artistas que eram
os protetores do nosso trabalho.
O que de mais importante
aprendeu com Emmanuel? Dona Neuza: Uma das coisas mais importantes: não perder um segundo, um minuto de
nossa vida para provar a nossa
fé. Aquele instante que temos
que pedir a Jesus e aceitar a
22
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resposta dele. No livro Há dois
mil anos Emmanuel nos conta
isso. Ele teve a felicidade de ter
sido contemporâneo do Cristo,
e não aproveitou. Isso porque,
vocês sabem a história, a pedido
de sua esposa Lívia ele foi pedir
ao carpinteiro que curasse a
sua filha, que estava com lepra.
Mas quando viu o carpinteiro humilde, não teve coragem
de “humilhar-se”, por causa da
aparência física de Jesus. “Eu,
um senador romano, pedir a
um maltrapilho? É quando ele
ouve a mensagem telepática do
Cristo: “Pede, senador, pede”!,
mas ele não teve coragem.
Entretanto, quando chega em
casa a filha está curada. Então
aquilo foi uma lição. Ele diz
no livro que, por causa de um
segundo, ele deixou de ter
contato com o maior espírito, o maior modelo que Deus
já enviou à Terra. E teve que
rolar os séculos até encontrálo novamente. Essa passagem
é a que mais me emocionou na
vida.
Esse segundo seria aquele instante crucial de decisão pela
Doutrina? Dona Neuza: Aquele instante
em que você descobriu a fonte,
se fortaleceu, deu a arrancada,
mas depois só quer saber da psicologia, de outros detalhes e vai
esquecendo a base. É quando
você vê médiuns que passaram
anos estudando e de repente
dizem: me cansei disso tudo, vou
para a igreja evangélica. Se você
está escorado nessas bases sólidas, você não muda de religião. O
médium não pode ficar naquela
posição de achar que é escravo de
si mesmo, e que não tem direito à
renovação. Nesse instante ele tem
que voltar e ler Caminho, Verdade e Vida, Fonte Viva, Pão Nosso...
esses livros dissecam o Evangelho. Cada lição é um versículo do
Novo Testamento. Fala, J
Fala,
Jovem!
ovem!
Ao Jovem Leitor
por Andressa Leal - 22 anos
[email protected]
“Estudem, portanto, caros filhos,
para serem bons espíritas (...)”
Victor
Graças rendamos ao Criador Universal pela
oportunidade de contato com o estudo na seara
do Consolador, que ele nos proporcionou desde
tenra idade.
Estar diante da Verdade anunciada por Jesus
através do Consolador Prometido já na fase juvenil, momento em que tantas tribulações de ordem
física e espiritual ocorrem, e passar por ela não
ilesos, mas marcados, por incorporarmos em
nossas vidas os nobres exemplos do Mestre, “não
é uma tarefa para frouxos,” como dizia nosso
querido Altivo, mas para jovens determinados
aos estudos. Tais estudos, além de nos engrandecerem a alma, também nos fazem sentir pessoas
dignas da confiança que os espíritos depositaram
em nós, uma vez que estamos diante das letras
redivivas do Evangelho, através do Espiritismo.
“O estudo é a fonte de suaves e nobres prazeres;
liberta-nos das preocupações vulgares e nos faz
esquecer as tribulações da vida.”¹ Assim, quando
nos ligamos pelos pensamentos aos grandes autores
do bem maior — que habitam hoje diferentes faixas
desconhecidas por nós, nesse Grande Universo —,
desligamo-nos, por certos momentos, das amarras
primitivas que as paixões humanas ainda nos fazem
vivenciar, e nos ligamos ao bem muitas das vezes
desconhecido por nós, o qual, entretanto, nos abraça e nos faz sentir essa centelha divina que nosso
querido irmão Jesus afirmou que somos.
Os jovens que estão diante dos estudos que lhe
trazem a Verdade anunciada por Jesus firmaram
um contrato no Além para esta experiência. Todo
contrato tem cláusulas e algumas delas exigem-lhes
alguns sacrifícios: a saúde moral; a boa conduta; o
entusiasmo na luta; o não sintonizar com o mal.2
Dessa forma, esse jovem que iniciou suas lutas
pelo amor e com o amor, assemelha-se a exemplos como Baudin, Japhet e Dufaux, que de forma
positiva contribuíram para a sociedade na recepção das mensagens que deram início a O Livro dos
Espíritos. Citamos também Francisco de Assis,
chamado O Cristo da Idade Média, que contava
com 20 anos de idade quando vozes espirituais o
advertiam, lembrando-o dos compromissos firmados com o senhor ao reencarnar; e Antônio
de Pádua, aquele angelical Fernando de Bulhões,
que aos 16 anos deixou os braços maternos para
se iniciar na “Ciência Celeste”.3
Devemos, então, como esses jovens, aproveitar
esses conhecimentos que nos estão sendo passados, através dos livros e dos irmãos mais antigos,
nesta seara de amor. Que possamos assim entregar nossas energias “ao ideal de vivenciar e divulgar os postulados sublimes da Doutrina Espírita”
que com seus estudos nos permite galgar maiores patamares em busca de nosso conhecimento
interior e reforma íntima. Que todos os jovens
que firmaram um compromisso de serem “fiés”
ao burilamento interior, apesar dos diversos percalços que surgirem ao longo desta caminhada,
possam focar seus olhos no firmamento e agradecer ao Cristo pela dádiva de termos conhecido
esta Doutrina maravilhosa, assim como Timóteo,
João o Evangelista e tantas outras almas dadivosas
que conheceram o Evangelho na fase juvenil.
“Que Deus vos abençoe, pois, jovens espíritas!
Tende a mão no arado para lavrar os múltiplos
campos da Seara Espírita. Elevai bem alto esse
farol imortal que recebestes imaculado das mãos
dos vossos predecessores! Sede fiéis guardiães
dessa Doutrina que tudo possui para tornar sábia
e feliz a Humanidade! O futuro vos espera, fremente de esperança! E o passado vos contempla,
animados pela esperança!”4 Bibliografia
1. DENIS, Léon. O Estudo. In. Depois da Morte. CELD,
2009.
2. ROSAS BATISTA, Maria Anita. Divaldo Franco, O Jovem
que Escolheu o Amor. Editora Lorenz, 2011.
3. PEREIRA,Yvonne. ‘"Nw|"fq"Eqpuqncfqt. FEB, 1997.
4. Idem.
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23
Matéria de Capa
“Sexo e Compromisso”
por Wagner Rodrigues
[email protected]
“Compreendamos, pois, que o sexo reside na mente, a expressar-se no
corpo espiritual, e consequentemente no corpo físico, por santuário criativo
de nosso amor perante a vida, e, em razão disso, ninguém escarnecerá dele,
desarmonizando-lhe as forças, sem escarnecer e desarmonizar a si mesmo.”
André Luiz – Evolução em Dois Mundos, Capítulo XVIII, em 30 de março de 1958.
Primórdios Sexuais
A continuidade da espécie é assegurada pela reprodução sexuada, em que ambos os
sexos — aí nos referindo ao sexo
como os caracteres masculinos
e femininos — são compelidos a
se associarem para ceder metade da carga genética ao novo ser
que renasce. O sexo necessitou
de uma característica especial
que trouxesse à humanidade, a
despeito das dificuldades próprias da ignorância das primeiras idades humanas, a vontade de procriar. Estabeleceu-se,
então, o prazer.
É justo entender que a realização do ato sexual era desprovida de qualquer ascendência
moral ou indiferente a qualquer
afinidade psicológica, até porque os espíritos, como acontece
ainda hoje conosco (embora em
24
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outra fase), estavam formando as
características que lhes
diferenciariam a individualidade. Logo, era
de se esperar que o ato
sexual fosse proveniente das necessidades físicas de
reprodução, justificado pelo automatismo instintivo que fora
construído pelas inteligências
superiores e pelo prazer, este
infimamente provido com algum
sentimento timidamente projetado (característica essa tão
típica dos espíritos ainda primitivos). O prazer tinha, então, a
qualidade de alterar as percepções da realidade, a fim de que
não fossem notados ou criados
obstáculos à reprodução.
Prazer,
Automatismo
e Reflexo
Condicionado
Sob o aspecto espiritual,
o princípio inteligente evolui
aprendendo e desenvolvendo
seus instintos, sob os moldes
determinados pelas
inteligências superiores
que tutelam os desígnios
divinos, para acordar na consciência da própria existência,
passando à condição de espírito.
Um acordar lento e gradual onde
instintos convivem, num primeiro momento, com pensamentos
inconstantes a estes para, em
seguida, serem substituídos, já
nos domínios do espírito, pelos
pensamentos contínuos, facilitados pelo desenvolvimento da
comunicação falada e consequente interação.
É fato que, assim como o
princípio inteligente evolui, o
sistema neurológico do perispírito e do corpo material que o
manifesta, consequentemente,
evolui também, desenvolvendo
novas formas para acomodar-se
às novas estruturas mentais que
lhe são a causa primária.
Matéria de Capa
O longo processo de aprendizado utiliza-se do condicionamento bem-sucedido para
alcançar o automatismo fisiológico e, em grande parte, comportamental, a fim de que tenhamos hoje a mais plena liberdade
espiritual para nos ocuparmos
com as coisas do espírito, sem
nos preocuparmos com a continuidade das tarefas fisiológicas.
O cérebro humano se desenvolveu, conservando, contudo,
as aquisições precedentes, frutos dos processos de repetição.
A razão e os sentimentos passaram então a manifestar-se em
outras áreas em formação, remodelando o reflexo condicionado
ou sucumbindo a ele.
O prazer associado ao automatismo tem, ainda hoje, a
capacidade de obliterar as outras percepções, sentimentos e
pensamentos do homem. Até
porque, como herança do cérebro primitivo automatizado, as
substâncias produzidas durante
o ato sexual ainda podem entorpecer as distantes áreas do encéfalo que sediam as manifestações sentimentais mais nobres.
É preciso lembrar que aqui
falamos de capacidade e não de
regra.
Impulso de
Convívio, Impulso
Sexual e Dor do
Existir
O fato é que, do mais selvagem, passando pelos tiranos,
até chegarmos ao homem atual,
antes mesmo de o princípio inteligente acordar na condição
de espírito, há algo em seu imo
que o impele ao que hoje pode-
ríamos conceituar, grosseiramente e a lato sensu, como uma
carência afetiva constante, que
lhe confere um impulso de convívio, fruto da necessidade do
progresso. Progredir é da natureza íntima do espírito.
Tal carência, com a vênia dos
queridos psicólogos, sexólogos,
pedagogos e psiquiatras leitores,
integra a natureza mais íntima
do espírito, como força própria de sua natureza. Podemos
entrever essa carência gerando
um impulso de convívio a que
alguns estudiosos chamam de
impulso sexual ou tratam por
forças da libido. Intelectualizada, mas ainda insatisfeita e
incompreendida, ela se transfigura na dor do existir. É causa
e efeito da necessidade da vida
social que impulsiona o espírito
ao progresso, ao trabalho, à conservação e ao amor.
O sexo, visto pelo aspecto
físico e com finalidade puramente reprodutiva, não deve ser
confundido com o impulso de
convívio, característica natural
do espírito gerada a partir da
carência afetiva a que nos referimos anteriormente. O impulso
projeta-se sobre toda a vivência social e experiência íntima
do espírito, em qualquer campo em que este atue ou se situe,
porque corresponde à força que
o faz buscar a satisfação do existir perante o vazio quase constante da existência que logra
entender.
E é aí, até hoje, que sexo e
impulso sexual são tomados um
pelo outro, desconsiderando que
o sexo é uma fresta para a criação, pela qual o impulso criativo
se projeta. Assim como a fala,
a escrita, as habilidades táteis,
o aprimoramento das sensibilidades gustativas e auditivas são
projeções do espírito impelido
à mesma busca, é necessário
que o homem entenda o sexo
como projeção desse mesmo
espírito, manifestando no ato
sexual os sentimentos e pensamentos de que se faz portador,
razão pela qual podemos dizer,
com extrema segurança, que a
vida sexual — de cada homem
e mulher — reflete o espírito
na busca da satisfação afetiva,
diante dos valores que abraçou
e, em alguns casos, sob as circunstâncias a que se obrigou
ou a que foi obrigado. O sexo,
como qualquer outra expressão do ser humano, é o espelho
claro de todas as aquisições da
alma, não estando desnudado
apenas o corpo, mas também a
alma, numa projeção nítida de
sua mente.
Sexo
O sexo, no aspecto anatômico e fisiológico, já nos é, em parte, conhecido. Isso porque, no
que diz respeito à usina de hormônios, neurotransmissores e
neurorreceptores, somos forçados a reconhecer que ainda não
descortinamos a totalidade dos
fenômenos neurológicos ocorridos nas atividades envolvidas
com o sexo. Sob limites parecidos, ainda não compreendemos
a totalidade do significado de
suas sensações e símbolos, dentro do universo afetivo de cada
ser.
Retomando o aspecto fisiológico do sexo, sabe-se, segundo a
fisiologia moderna, que o prazer
sexual é uma sensação produzida por uma série de substâncias
www.celd.org.br
25
Matéria de Capa
combinadas e sob determinada
concentração. O cérebro, programado para atuar perante a
necessidade da continuidade da
espécie, recolhe as informações
selecionadas através de milhares
de experiências da espécie no
campo das reproduções bemsucedidas, recolhendo também
as informações sobre as concentrações hormonais. O interesse sexual é despertado sob o
influxo das percepções de nossos cinco sentidos, para ser, em
seguida, orientado e manifestado pelas concentrações e respostas hormonais.
O somatório dessas informações é submetido às regras
sociais, às crenças e à moral,
recursos manifestados, consciente e inconscientemente, em
outras áreas do cérebro, a fim de
que sob a supervisão e o livrearbítrio do espírito, o impulso
sexual possa se manifestar. A
razão e a emoção, o reflexo e
a aprendizagem misturam-se
26
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e contrabalançam-se, condicionando a gestão do impulso
sexual às aquisições do espírito
nos campos citados.
Sexo nos Espíritos
Sabemos que os espíritos não
se reproduzem. Esclarecendo
melhor, não criam outro espírito através do sexo. Possuem
a carência existencial e, por tal,
o impulso de convívio, que na
forma física ganha essa moldura de impulso sexual. Não possuem, por não se reproduzirem,
o sexo como o entendemos.
Todavia, cumprindo determinação divina, o princípio inteligente é internado na matéria para
aprimorá-la. Enquanto se aprimora, e, dadas as características
predominantes em formação, às
quais ainda não podemos sondar com clareza, associa-se às
formas femininas ou masculinas
(lembramos aqui que a natureza
íntima dos espíritos é igual para
todos, por isso nos referimos a
uma predominância na associação ao gênero masculino ou
feminino). Logo, toda inteligência, embora apresente invólucro
externo masculino ou feminino,
possui ampla capacidade para
enveredar pelas experiências
reencarnatórias no sexo oposto.
Porém, trata-se de predominância em campos que deverão
ser integralmente desenvolvidos
e que, para tal, se utilizarão das
duas formas. Acomodado às
necessidades espirituais, o espírito reencarna sob a forma que
julgar mais útil, a fim de que nas
experiências inerentes a cada
sexo, masculino ou feminino,
possa adquirir mais conhecimento e melhora moral. Afirma
André Luiz, no capítulo “Diferenciação dos Sexos” (Evolução
em Dois Mundos, segunda parte),
que em determinado momento
da evolução, após a colheita integral das experiências vividas em
ambos os sexos, as características masculinas e femininas não
serão preservadas, desaparecerão, não nos sendo, ainda, permitido entrever a maneira pela
qual os seres angelicais gerenciam seus relacionamentos.
O Fracasso
A conduta sexual pode limitar-se apenas à exigência do
prazer físico, homologada pelos
costumes, hábitos, índoles, sentimentos e sensações. O sexo
pode ganhar valor tão grande
na projeção do impulso sexual
que, não raro, sob o influxo de
pensamentos e sentimentos
equivocados, acompanhamos as
psicoses afetivas projetando-se
sobre o campo sexual, distor-
Matéria de Capa
cendo forças naturais, desequilibrando as energias psíquicas e,
por fim, requisitando a devida
internação em circunstâncias
que devolvam à alma a sanidade. Raciocínio e sentimentos
passam a ser condicionados à
satisfação do impulso sexual na
forma da sexualidade torturada
e insaciável, porque o espírito,
não obstante os avisos que tenha
recebido, acreditou que no simples prazer sexual compensaria
a carência afetiva portada, inerente à sua própria natureza.
Nos enredos reencarnatórios, não raro o homem se deixa
levar pelo prazer desenfreado,
trocando a permuta de sentimentos nobres e compromissados (que satisfazem sua busca
existencial) pelas sensações que
saciam as permutas magnéticas,
que entorpecem as frustrações
afetivas e que desestimulam os
questionamentos íntimos. Muitas vezes faz do sexo a fuga à
evolução. Logo, os órgãos genitais sofrem os desequilíbrios
energético-estruturais próprios
do perispírito, sendo inibidos e
impedidos, pelo uso desregrado e exagerado, de manifestar o
impulso sexual.
Assim como o tirano produz para si o cérebro defeituoso, o delinquente da fala lesiona
os órgãos de fonação, o etilista desenvolve o metabolismo
sensível e o fumante reencarna
sobre os dramas respiratórios,
também o desequilibrado do
sexo produz problemas graves,
os quais não abordaremos aqui,
por acharmos o tema demais
complexo e sensível frente às
limitações típicas de expor o
assunto em um artigo. Acreditamos que o assunto deva ser mais
bem esclarecido e aprofundado
nos cursos, seminários, encontros e, individualmente, no serviço de acolhimento fraterno.
Contudo, guardamos a assertiva
de André Luiz de que “ninguém
escarnecerá dele, desarmonizando-lhe as forças, sem escarnecer
e desarmonizar a si mesmo”.
O Sucesso
A evolução espiritual tem
natureza individual. Porém, cada
alma é dotada da capacidade de
interferir no psiquismo alheio.
Ou seja, a evolução é individual, mas se dá coletivamente. Vale
dizer que, após a fase da consciência da vida espiritual, apenas
o espírito responde pela própria
evolução. Não estamos aqui
dizendo que não temos responsabilidades uns com os outros;
bem pelo contrário, sobretudo
perante os irmãos e irmãs que
ainda dormitam na inconsciência da vida real. Mas afirmamos
que, no que diz respeito ao pro-
gresso individual, nada substitui
o livre-arbítrio do pensar e sentir
espirituais. Você é responsável
pelo que pensa e pelo que sente, mas também pelo que faz. O
outro é responsável pelo que faz,
mas não é responsável pelo que
você sente ou pensa, porque você
tem a opção de escolher o que
deve sentir e pensar sob o prisma espiritual, desde que assim
queira.
Dentro dessa coletividade, existem almas selecionadas que são
chamadas ao convívio, forçado
ou voluntário, que compartilham
o desenvolvimento dos instintos, das habilidades e qualidades;
almas que interferiram em nossas vidas; almas em cujas vidas
interferimos. Muitas vezes nos
utilizamos do sexo para interferir; mesmo quando essa não era
a intenção. Mas seria o sexo um
passatempo, um brinquedo?
Não há como negar que os
anticoncepcionais fizeram do
sexo mais que um meio de procriação, mas, considerando que
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27
Matéria de Capa
toda qualidade, habilidade ou
recurso deve servir à evolução
do espírito, nos questionamos
se temos condições de manter o
ato sexual indiferente à evolução,
como se servisse apenas ao corpo. Sendo que isso, por si só, já
revela uma condição do espírito.
Perante o sexo, talvez seja
essa a maior dificuldade; fazer
com que a vida sexual se integre
à proposta de evolução. A evolução aponta para o amor e fica
claro que o amor é um fim a ser
atingido, é a razão de evoluirmos moralmente. O amor é um
sentimento que, como qualquer
outro, só pode ser desenvolvido
após longos exercícios num planejamento compromissado.
É um desafio enxergarmos,
no sexo, mais uma porta para o
progresso. Dentro do convívio,
vermos o compromisso como
ferramenta única no desenvolvimento de certas habilidades e
sentimentos. Aliás, gostaríamos
de sugerir ao leitor que se perguntasse, sinceramente, se “há
alguma habilidade racional ou
sensitiva que possa ser desenvolvida sem-compromisso”. Se as
qualidades, habilidades e recursos nos servem de meio de evolução, por que deixar, supondo
possível, o sexo alheio a isso?
A grande verdade é que não
nos parece sensato caminharmos para a desmaterialização
dos gostos, para o mundo dos
sentimentos e da racionalidade
e agirmos como se o sexo nada
tivesse a ver com isso, pouco
caso fazendo do sentimento ou
da evolução própria e alheia.
Não estamos falando da renúncia ao prazer, até porque isso
não é possível. Estamos falando
da inserção do amor, do respei28
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to, da compreensão, da cumplicidade sadia, da indulgência.
Temos que encarar a evolução, e a evolução nos leva
a pensar que o prazer é uma
característica do sexo, e não um
sentido para ele. O sentido para
o sexo é, sem-dúvida, o amor,
mas nos perguntamos se é possível amar de verdade sem ter
compromisso.
Conduta Sexual
Quando Kardec falava que
o verdadeiro espírita seria
reconhecido pela sua “transformação moral e pelo esforço
que faria para domar suas más
inclinações”, ele indicava um
norte, um sentido para o conhecimento. Se quisermos buscar
a mudança, temos que pensar:
Estudo não é recolhimento.
Presença não é compromisso.
Caridade não é, por si só, transformação interna.
Temos que olhar para dentro
de nós mesmos e, assim como
fazemos em outros aspectos,
olharmos para nossa conduta
sexual e percebermos onde as
más inclinações nos dominam.
Buscarmos indícios de quanto o
orgulho, a vaidade e o egoísmo
nos servem de base no campo
afetivo-sexual. Ou caminhamos
para frente e sublimamos a
manifestação do impulso sexual,
ou repetimos os exercícios automatizados do passado, atrofiando estruturas perispirituais e
ferindo corações.
Sendo assim, permitimo-nos
agora lembrar o Mestre Jesus
a recomendar “Tratai todos os
homens como quereríeis que
eles vos tratassem”, e registrarmos uma vez mais Kardec a
ensinar-nos que “Amar o próximo como a si mesmo; fazer aos
outros o que desejamos que os
outros façam por nós” é a expressão mais completa da caridade,
pois resume todos os deveres
para com o próximo. Não pode
haver guia mais seguro a esse
respeito do que tomar como
medida do que se deve fazer aos
outros, o mesmo que desejamos
para nós”. (O Evangelho Segundo
o Espiritismo, XI, item 4.) Inspirações
que nos questionarmos se devemos obedecer ou não a uma
“Todas as vezes ordem,
a um apelo, a um convite, imaginemo-nos do outro lado
da estrada. Certamente, quando estamos em posição de doar,
temos ocasião para refletir, para questionar, até mesmo para
rejeitar. No entanto, na condição de solicitador, de doente, de
necessitado, o nosso sentimento é outro. Quando tivermos que
decidir sobre o assunto, deixemos que a misericórdia presida
nossas determinações e atitudes.
”
Balthazar
Não sobrecarregues os teus dias com
“
preocupações desnecessárias,
Solidários, seremos
“
união. Separados uns dos
outros, seremos pontos de
vista. Juntos, alcançaremos
a realização de nossos
propósitos.
a fim de que não percas a
oportunidade de viver com
alegria.
”
André Luiz
”
Bezerra de Menezes
Cada um que passa em nossa vida passa
“
sozinho... Porque cada pessoa é única para nós, e nenhuma substitui a outra. Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, mas não vai só... Leva um pouco de nós mesmos e nos deixa um pouco de si mesmo. Sede como os
“
pássaros que, ao
pousarem um instante
sobre ramos muito
leves, sentem-nos ceder,
mas cantam! Eles sabem
que possuem asas.
Há os que levam muito, mas não há os que não levam nada. Há os que deixam muito, mas não há os que não deixam nada. ”
Victor Hugo
A alegria está na
“
luta, na tentativa, no
Esta é a mais bela realidade da vida... A prova tremenda de que cada
um é importante; e que ninguém se
aproxima do outro por acaso…
”
Antoine de Saint-Exupéry
sofrimento envolvido.
Não na vitória propriamente dita.
”
Mahatma Gandhi
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299
Espaço dos Encontros
o
28 Encontro Espírita
sobre “O Livro dos Espíritos”
por Luiz Eduardo Procópio
[email protected]
Ano passado, no 27o Encontro Espírita sobre O Livro dos
Espíritos (EELE), estudamos o
tema: “O Amadurecimento do
Senso Moral através das Experiências Materiais” e analisamos
a caminhada do espírito desde
a sua criação, como simples e
ignorante, até atingir a perfeição
absoluta, alcançando a felicidade eterna. Em 2012 daremos
sequência ao estudo do último
Encontro, fazendo um aprofundamento em algumas questões.
Estamos prontos para crescer? Esta é a temática do Encontro deste ano, que será desenvolvido nos três dias de carnaval.
Para chegarmos à resposta desse
questionamento, faz-se necessária uma breve reflexão sobre
alguns temas que serão abordados ao longo desse texto.
Qual a diferença entre ação
e reação? Costumamos agir ou
reagir diante das provas terrenas? Por que interessa para nós,
espíritos imortais, sabermos
definir e escolher entre agir ou
reagir diante das vicissitudes da
vida? A conceituação entre ação
e reação é um dos temas que iremos abordar durante o estudo.
As provas constituem outro
tema que merece uma atenção
especial neste Encontro, pois
é essencial sabermos definir e
30
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compreender a sua importância
dentro de nossas vidas, inclusive aquelas que venham trazer a
dor.
Mas como compreender a
dor do outro, como auxiliar o
outro a superar as suas provas?
Veremos que a acessibilidade é
um recurso que permite a aproximação do outro com a sua dor
e a empatia faz com que saiamos
do nosso egoísmo para amparar
e aprender com a experiência
do próximo.
E como aprendemos? Quais
os componentes do aprendizado? Quais as ferramentas que
utilizamos para obter o conhecimento? Durante o nosso Encontro iremos nos aprofundar
no processo de aprendizagem e
veremos a sua influência sobre o
nosso comportamento.
Será que antes de reencarnarmos sempre fazemos a escolha certa a fim de progredirmos
moralmente? As nossas escolhas
como espírito encarnado são
coerentes com as escolhas feitas no plano espiritual? E quando os acontecimentos da vida
independem da nossa vontade,
qual a nossa atitude? O que é
e como agimos diante de uma
fatalidade? Como a resiliência
poderá nos ajudar a superar as
adversidades da vida? Juntos,
responderemos a essas e outras
perguntas, pois o conhecimento
da Doutrina Espírita nos traz o
embasamento necessário para
seguir as Leis de Deus e não
nos desviarmos do caminho
do bem. Mas se o Espiritismo
traz as respostas para os nossos questionamentos, por que
não fazemos tudo que sabemos?
Lembremos de Paulo de Tarso
em Romanos 7:19: “Porque não
faço o bem que quero, mas o mal
que não quero esse faço”?
Ao final do Encontro, chegaremos às nossas conclusões,
mas desde já temos em Jesus o
apoio necessário nos momentos de aflição e o exemplo a ser
seguido na nossa caminhada
em busca da felicidade.
Sendo assim, veremos que o
o
28 EELE é a oportunidade para
o aprofundamento e o amadurecimento do nosso senso moral,
pois pode nos possibilitar, através da interação nesses três dias,
o conhecimento de si mesmo
que, de acordo com Santo Agostinho, na pergunta 919a de O
Livro dos Espíritos, é a chave da
melhoria individual.
Muita paz a todos!
Prepare-se para o aprofundamento proposto por nossos
diretores espirituais: Espaço dos Encontros
www.celd.org.br
31
Espiritismo e Ciência
A Mente e os Telômeros
por Elton Rodrigues
[email protected]
Todo material genético contido no núcleo de
uma célula, seja de um organismo unicelular (como
protozoários e vários fungos e algas) ou multicelular (como insetos, plantas, répteis, mamíferos e
outros), está compactado em estruturas denominadas cromossomos, termo que significa “corpos
coloridos” (do grego chroma = cor e soma = corpo).
Os cromossomos, que variam em tamanho, forma
e número em cada uma das diferentes espécies, são
compostos essencialmente de DNA e proteínas
associadas. Neles, portanto, está toda a informação
genética que caracteriza e diferencia tanto as células
e os tecidos quanto todos os seres vivos.
O DNA existente em um cromossomo contém os genes, mensagens codificadas na forma de
sequências de nucleotídeos (“tijolos” básicos que
compõem o material genético das células), onde
estão as instruções para a formação de todas as
células e tecidos do nosso corpo e para a síntese
de proteínas (responsáveis por todos os processos
biológicos), além de outras sequências capazes de
sintetizar “mensageiros” que atuam na regulação
de processos celulares e áreas que não carregam
qualquer tipo de instrução ou codificação.
Entre as estruturas que o DNA não codificador
forma nos cromossomos, estão os centrômeros e
os telômeros. Os centrômeros permitem a separação exata dos cromossomos duplicados durante a
divisão celular que gera as células-filhas. Já os telômeros (do grego telos = fim e meros = parte), localizados nas “pontas” dos cromossomos, funcionam
como capas protetoras dessas extremidades, tendo
papel muito importante na manutenção da integridade do genoma. Eles impedem, por exemplo,
a fusão de terminais de diferentes cromossomos e
a degradação destes por enzimas que, na falta dos
terminais, reconheceriam o material cromossômico como DNA danificado. Falemos por outros
termos. Em nossos sapatos, quando os pedaços
de fita adesiva que selam as pontas dos cadarços
se desprendem, estes começam a desfiar, desmanchando-se. Em uma célula ocorre o mesmo com os
cromossomos que têm seus telômeros danificados:
32
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eles tendem a ser
destruídos e, nesse
processo, a célula
morre. Porém, toda
vez que uma célula
se divide — como as
células imunes e da
pele — os telômeros ficam um pouco
menores. Essa redu- Telômeros
ção transformou-os em medidores do envelhecimento celular.
A bióloga Elizabeth H. Blackburn, que trabalha
na University of California, e a psicóloga Elissa S.
Epel publicaram um artigo, em 2004, associando o
estresse psicológico ao encurtamento dos telômeros em células brancas do sangue. Isso representou um grande avanço nas pesquisas dos telômeros. Atualmente, inúmeros estudos mostram que
telômeros mais curtos estão relacionados a várias
doenças. E, reciprocamente, telômeros mais longos têm sido associados a comportamentos saudáveis como exercícios e redução do estresse. Esses
estudos indicam uma possibilidade de usar o comprimento dos telômeros — medidos por um simples exame de sangue — para se ter uma visão geral
da saúde e uma rápida percepção do processo de
envelhecimento.
Ademais, Elizabeth fala sobre evidências que
mostram que fatos da vida como o estresse crônico
e traumas de infância estão relacionados com telômeros mais curtos: “Tomemos o trauma de infância: estudos mostraram que o número de traumas
de infância se relaciona quantitativamente ao grau
de encurtamento do telômero no adulto: quanto
mais traumas, mais curtos os telômeros. Nosso
estudo mostrou uma relação impressionante entre
o número de anos de estresse crônico sofrido por
mães que cuidavam de uma criança com doença
crônica e o encurtamento do telômeros”.
Assim, devemos avaliar com muito cuidado o
que nós, espíritos atuantes no Universo como um
todo, causamos em nós e nos outros seres da criação.
Será que conhecemos todo o nosso potencial em
modificar, em manipular a matéria com a mente? Kardec Pergunta
Legislação Humana –
O Ponto de Vista
por Tarcisio Martins Dantas
[email protected]
Neuza,1 jovem mulher recémchegada de Governador Valadares, interior de Minas Gerais,
foi tentar vida nova na cidade
grande. A oportunidade chegou
por caminhos desconhecidos,
projetando-a para Belo Horizonte, capital do povo mineiro.
Recebera como função o trabalho de empregada doméstica
em um lar socialmente estruturado. Esta era uma chance de
ouro, visto que os patrões lhe
ofereciam moradia e alimentação, antes mesmo do primeiro
salário, que viria ao final do mês
sem qualquer ônus. Contudo,
passado algum tempo, Neuza,
desencantada com a sua nova
condição, decide tudo abandonar e voltar para a cidade natal.
Em virtude da falta de recursos
materiais próprios para adquirir
a passagem de trem necessária
ao seu intento, e após uma tentativa frustrada de obtê-lo com
os seus patrões, sucumbe à tentação e furta a importância de
que necessitava. Neuza é presa e
sai algemada sob o olhar crítico
dos seus patrões, afinal de contas, tornara-se uma ladra.
Esta, meus irmãos, é uma
história verdadeira, ocorrida há
muito tempo, no ano de 1976.
A Doutrina dos Espíritos veio
com o objetivo claro de complementar o Evangelho do Mestre
Jesus para aqueles outros, como
nós, que ainda insistem em
manter a vestimenta do homem
velho, preso a valores que sempre nos tornam infelizes. Contando a história de Neuza, não
queremos aqui avaliar a sua
conduta sob a luz do Espiritismo, mas unicamente a nossa.
Somos indivíduos imperfeitos,
vivendo uns com os outros, e
não compreendemos que temos
que viver para aprender a conviver. E mesmo em situações
tão extremas como a aqui contada, não se pode descumprir
tal propósito, o que unicamente
adiaria para um futuro distante
o acerto daquele mal proceder.
Vivemos várias vidas e a morte
não transforma ninguém. Devemos nos educar mutuamente.
Allan Kardec, um homem
que viveu para muito além do
seu tempo, encaminha aos espíritos superiores essa questão,2
que segue, logo abaixo, para a
nossa apreciação.
796. A severidade das leis
penais não constitui uma
necessidade, no estado atual da
sociedade?
“Uma sociedade depravada
certamente precisa de leis mais
severas; infelizmente, essas leis
se destinam mais a punir o mal,
quando este está feito, do que a
secar sua fonte. Somente a educação poderá reformar os homens;
então, eles não necessitarão mais
de leis tão rigorosas.”
Não é de hoje que se vive
uma crise do sistema penitenciário no mundo, dando mostras
evidentes de que nosso modelo
penal precisa mudar. Desejamos
acabar com o mal na Terra, mas
ignoramos que a sua origem
está no homem. Embora esteja
no homem, o mal não é o próprio homem. Empreendemos
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Kardec Pergunta
esforços contra o mal, mas atacando o ser humano que o praticou, chegando ao extremo de
ilusoriamente eliminá-lo com a
pena de morte.
Como na orientação dos benfeitores, é necessário “educar para
secar a fonte”. Para alcançarmos
um dia esse ideal, como sociedade, é preciso mudar o nosso
ponto de vista em relação ao
infrator da lei, de maneira que
o primeiro passo em direção à
sua reabilitação seja o esquecimento do mal que praticou.
Isso não significa, entretanto,
que ele deva ser eximido de suas
responsabilidades.
Quantos sentimentos de vingança ainda movimentamos nos
corações quando ouvimos histórias como as de Neuza. As
nossas ações para casos assim
podem até ser diferentes daquela tomada pelos seus patrões,
mas invariavelmente não pensamos no bem ao vivermos essas
experiências. E em respeito a
todo o sacrifício do nosso Mestre, que tantos esforços empenha para vivermos dentro de
uma realidade superior, trazemos a passagem evangélica descrita por João (cap. VIII: 3 a 11).
Ela é bastante apropriada à nossa reflexão.
Então, os escribas e os
fariseus trouxeram-lhe uma
mulher, que havia sido apanhada em adultério, e fizeramna ficar de pé no meio do povo,
e disseram a Jesus: “Mestre,
esta mulher foi surpreendida
em adultério, ora, Moisés nos
ordenou, na lei, apedrejar as
adúlteras. Qual é, pois, a vossa
opinião sobre isso”? Falavam
assim tentando-o, a fim de
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terem do que acusá-lo. Jesus,
porém, abaixando-se, pôs-se
a escrever com o dedo na terra. Como eles continuassem a
interrogá-lo, Jesus levanta-se e
diz: “Que aquele dentre vós que
está sem-pecado atire a primeira pedra”. Depois, abaixando-se novamente, continuou
a escrever sobre a terra. Mas
eles, ouvindo-o falar daquela
maneira, foram se retirando,
um após o outro, saindo primeiro os mais velhos; e assim
Jesus ficou só com a mulher,
que estava no meio da praça.
Então, levantando-se, ele diz:
“Mulher, onde estão os teus
acusadores? Ninguém te condenou”?
Ela respondeu: “Ninguém,
Senhor”. Disse-lhe Jesus: “Eu
também não te condenarei,
vai, e no futuro não peques
mais”.
O mestre não perguntou de
onde ela vinha nem mesmo o
que ela havia feito, mas antes
de tudo fez o bem. A caridade é
uma Lei de Deus, sendo o bem,
portanto, incondicional.
Caros irmãos, a história de
Neuza não acaba com a sua prisão. Segue, logo abaixo, uma
parte do despacho proferido em
audiência no processo no 3.721,
da 3a Vara Criminal de Vitória,
pelo Meritíssimo Senhor Juiz
João Baptista Herkenhoff, reservando a todos mais um grande
exemplo.
cruzeiros, teria facilitado a ida
da acusada para Governador
Valadares, ainda mais que a acusada havia revelado sua inadaptação a esta capital; considerando que a acusada é quase uma
menor, pois mal transpôs o limite
cronológico da irresponsabilidade penal; considerando que o
Estado processa uma empregada
doméstica que lesa seu patrão em
150 cruzeiros, mas não processa
os patrões que lesam seus empregados, que lhes negam salário,
que lhes furtam os mais sagrados
direitos; considerando que o cárcere é fator criminogênico e que
não se pode tolerar que autores
de pequenos delitos sejam encarcerados para, nessa universidade
do crime, adquirir, aí sim, intensa periculosidade social; relaxo a prisão de Neuza F., determinando que saia deste Palácio
da Justiça em liberdade.
Lamento que a Justiça não
esteja equipada para que o caso
fosse entregue a uma assistente
social que acompanhasse esta
moça e a ajudasse a retomar o
curso de sua jovem vida. Se assistente social não tenho, tenho o
verbo e acredito no poder do verbo porque o Verbo se fez carne e
habitou entre nós. Invoco o poder
deste verbo, dirijo a Deus este
verbo e peço ao Cristo, que está
presente nesta sala, por Neuza
F. Que sua lágrima, derramada
nesta audiência, como a lágrima
de Madalena, seja recolhida pelo
Nazareno.” “Considerando o pequeno
valor do furto; considerando o Bibliografia
minúsculo prejuízo sofrido pela 1. HERKENHOFF, João Baptista.
Mulheres no Banco dos Réus. 1. ed.
vítima que, a rigor, se o Cristo
Forenze, 2008.
não tivesse passado inutilmente
2. KARDEC, Allan. O Livro dos Espípor esta Terra, em vez de proritos. 2. ed. Rio de Janeiro: CELD,
curar a Polícia por causa de 150
2011.
Evangelho em Ação
Nos Tempos Modernos
por Eliane Maceió
[email protected]
Nos tempos modernos em que
vivemos, não raro nos impressionamos com o comportamento
amadurecido de nossas crianças.
Surpreendemo-nos com o que
fazem, como agem, mas, principalmente, com o que falam.
É um fato que esses espíritos — no momento habitando
corpos infantis — são submetidos tanto ao avanço quanto ao
progresso dentro da experiência
corporal, em abençoadas reencarnações sucessivas, facultadas
pela Lei de Deus.
A partir da universal lei do
progresso, observamos que nosso planeta também já se encontra avançando no progresso espiritual. No capítulo III de O Evangelho Segundo o Espiritismo,1 os
espíritos nos advertem de que o
nosso planetinha azul está em
determinado estágio evolutivo
de provas e expiações, o qual se
assemelha a hospital, prisão e
escola. Ou seja, é o campo precípuo de formação do caráter.
Por isso é fundamental que
os espíritos que aqui habitam se
ajustem à Lei de Deus, quando
não, sedimentem em si a ideia
de Deus como Pai Amoroso, Justo, Bom e também como “causa primária de todas as coisas”.2
Há espíritos que não tendo essa
ideia formada, não constroem o
conceito de fraternidade universal entre si; transgredindo, assim,
as Leis de Deus. Tal transgressão
redunda em muitos desequilíbrios para próximo.
Chegamos, então, à reflexão
mais importante para quem
frequenta a Casa Espírita. Qual
o papel dos pais e educadores
em geral para que o quadro se
modifique?
A infância é momento de
educar espíritos. Deus criou
sabiamente essa fase propiciando aos pais um cenário adequado para interferir nas atitudes
infantis. O espírito reencarna
num corpo pequeno que envolve e enternece os genitores. Os
pais, no momento que acolhem esse espírito, passam a ter
a oportunidade perfeita para
auxiliar esse espírito.
O abandono da criança gera
situações funestas no futuro.
Deixá-la sem-orientação é a
certeza de que o espírito também ficará sem-controle, semdireção. A falta de limites nas
ações das nossas crianças será
perceptível não somente num
futuro distante, mas já em seu
momento atual. Muitos de nós
presenciamos situações em que
o adulto se vê sem-ação diante
do comportamento atrevido da
criança.
Grande parte desses comportamentos é fruto da impaciência
ou da imperícia dos educadores que não se colocam firmes
em sua posição de orientador
— atribuição especial dada por
Deus a todo aquele que abraça a
tarefa da paternidade ou maternidade —, para colocar limites
no comportamento dos filhos ou
daquele que vive sob sua tutela.
A paciência é virtude que deve
ser cultivada pelo educador para
que sua tarefa educativa tenha
sucesso. A relação educacional é,
portanto, dialética. Para sermos
bons educadores, precisamos
nos educar.
A falta de exemplo positivo
para um espírito em formação
causa grandes prejuízos ao seu
progresso. A criança, por mais
que se mostre firme em suas
observações, ainda é frágil para
tomar atitudes plenamente ajuizadas. Ela precisa de referencial
e, por que não dizer, permanente acompanhamento até a idade
(para falarmos biologicamente)
madura. Existe, sim, uma relação entre corpo físico e maturidade intelectual.
Ressaltamos, dessa forma, a
importância de bons educadores
para despertar nos espíritos o
bem que cada um tem em si. Bibiografia
1. KARDEC, Allan. O Evangelho
Segundo o Espiritismo. 5. ed. Rio de
Janeiro: CELD, 2010.
2. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 2. ed. Rio de Janeiro: CELD,
2011. Questão 1.
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Léon Denis
Dores e Decepções
por Alexandre Bentes
[email protected]
Não será preciso um olhar muito apurado para
observar o sofrimento à nossa volta. A dor se alastra
visitando lares, escolas, hospitais, caminha pelas ruas,
frequenta condomínios de luxo, não se intimida com
festas ou datas solenes..., um breve olhar e nos certificaremos de que está em toda parte. No entanto, qual
será, sob o ponto de vista espírita, a desgraça real?
A perda de um ente querido? O desemprego? Uma
doença grave? A miséria? As privações?
Nossa mente se inquieta frente à dor e é fato
que esta, de modo geral, nos incomoda, e dela buscamos nos afastar ou, na medida do possível, permanecer em semelhante condição o menor tempo possível. Diante dela, no entanto, revelamos
muito do que somos ou conquistamos enquanto
espíritos. Será bastante proveitoso refletirmos sob
a nossa postura diante do sofrimento no exercício
do conhecimento de si mesmo.
Como devo me comportar diante da dor? Que
lição posso tirar de um episódio doloroso? A
adversidade implica necessariamente sofrimento?
Léon Denis, em seu livro Depois da Morte afirma: “É no crisol da dor que se depuram as grandes almas”. Estas “grandes almas”, arriscaria em
dizer, são as mesmas que, há anos, nos sugerem,
por meio de depoimentos e exemplos diversos, a
resignação diante da adversidade.
Para adotarmos, de boa mente, essa postura
sem-disfarces de inércia ou pessimismo, precisamos compreender o papel da dor. Mas daí se faz um
questionamento: Será que temos essa consciência?
Já sabemos que o objetivo da reencarnação é
o progresso do espírito e aprendemos que as dificuldades e vicissitudes da vida são um dos veículos para se alcançar este progresso. Ela nos coloca na condição de exercitarmos a nossa fé, nosso
raciocínio, nossa paciência, nossa perseverança,
e, especialmente, nossa humildade. No entanto,
constatamos que, nestes momentos difíceis, nos
irritamos e tomamos atitudes precipitadas, justamente quando deveríamos, em verdade, usar de
cautela e vigilância para que a exasperação não
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comprometesse os benefícios que um episódio
doloroso pode trazer na acústica da alma em seu
processo regenerador.
Por que, então, apesar do nosso conhecimento,
continuamos a murmurar diante da dor? Qual é a
nossa dificuldade em aplicar estes conhecimentos?
Precisamos exercitar nossa visão, aprender
a enxergar as situações difíceis, como espíritos
imortais que somos, lembrando que o sofrimento
nos submete a uma disciplina moral que retempera o caráter, e que a experiência adversa é um
acelerador do progresso.
É fundamental encararmos o momento da dor
como uma grande oportunidade de refazimento
e conquistas...
Outro fator importante concernente à dor é
que aquele que já sofreu compreende e é mais sensível à dor do outro; neste quesito, podemos nos
ver realmente como irmãos, nos reconhecermos
em nossa fragilidade. Se não sofrêssemos nem
males nem reveses, estaríamos entregues às paixões; nosso orgulho e egoísmo se insuflariam e,
consequentemente, amontoaríamos “faltas novas
sobre faltas passadas”.
Léon Denis, sobre isso, afirma que “a desgraça será então tudo o que manchar, tudo o que
aniquilar o adiantamento, tudo o que lhe for um
obstáculo”. E enfatiza: “Oh! Vidas simples e dolorosas, embebidas de lágrimas, santificadas pelo
dever; vidas de lutas e de renúncia, existências
de sacrifício para a família, para os fracos, para
os pequenos, mais meritórias que as dedicações
célebres, vós sois outros tantos degraus que conduzem a alma à felicidade. É a vós, é às humilhações, é aos obstáculos de que estais semeadas que
a alma deve sua pureza, sua força, sua grandeza.
Vós somente, nas angústias de cada dia, nas imolações da matéria, conferis à alma a paciência, a
resolução, a constância, todas as sublimidades
da virtude, para então se obter essa coroa, essa
auréola esplêndida, prometida no Espaço para a
fronte dos que sofrem, lutam e vencem!” Mediunidade
A Importância do
Diálogo no Atendimento
Espiritual – parte 2
por Marcus De Mario
[email protected]
Entendendo o processo.
Quando o processo mediúnico inicia, com a
sintonia do espírito comunicante com o médium,
temos aí caracterizado o choque anímico, ou seja,
o envolvimento do espírito com o fluido animalizado do médium, o que lhe é salutar, pois ele ainda
se encontra com suas ideias e sensações ligadas ao
mundo terreno. Sim, é salutar, mas não basta para
que ele já seja considerado atendido em suas necessidades, pois, como qualquer ser humano, precisa
interagir, e isso apenas o diálogo pode proporcionar.
Estudemos o capítulo 17 do livro Missionários da Luz, psicografia de Chico Xavier, quando André Luiz
relata o atendimento ao Espírito Marinho. Ex-sacerdote católico, ao
desen-
carnar Marinho não encontrou a beatitude no
céu, tendo que expiar seus delitos, o que o levou a
se colocar numa posição de descrença e parasitismo espiritual. Depois de muitos anos, começou a
se entediar dessa posição, permitindo então que
recebesse auxílio.
A equipe espiritual, sob supervisão do Instrutor Alexandre, primeiro o
levou para a casa da médium,
onde, durante três horas,
Marinho foi submetido
ao processo de
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Mediunidade
sintonia e afinização fluídica com ela. Somente
depois disso foi encaminhado ao Centro Espírita,
onde primeiramente foi levado a recordar da mãe,
sua protetora espiritual, o que o deixou sensibilizado e mais apto a receber a palavra do “doutrinador” que, inspirado pelos Benfeitores Espirituais,
teve com ele uma conversação evangélica tocante,
predispondo-o a aceitar o aconchego dos braços
de sua mãezinha.
Agora, imaginemos se o processo tivesse terminado no choque anímico, ou seja, Marinho
teria a passividade do médium, mas o doutrinador não teria o diálogo com ele, logo o devolvendo para o mundo espiritual. O processo estaria
incompleto. E como Marinho se sentiria? Como
nos sentiríamos se estivéssemos no lugar dele?
Conclusão
Não é de hoje que os Amigos Espirituais têm
alertado os espíritas da importância do estudo do
Espiritismo para que a prática doutrinária esteja de
acordo com os princípios da Doutrina. Somente o
estudo pode acabar com o “achismo”, com o “sempre foi feito assim”.
Por isso, conclamamos a todos pela leitura, estudo
e meditação de O Livro dos Médiuns, o que deve ser
feito tantas vezes quantas possíveis durante a encarnação, pois sempre que isso fazemos nos surpreendemos com coisas que não tínhamos percebido.
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Também é muito importante estar sintonizado com o movimento espírita, participando de
encontros, seminários, congressos, que significam oportunidades de aprendizados valiosos,
troca de experiências para melhor adequarmos as
atividades ao que nos pede o Espiritismo.
E, claro, diante do universo literário espírita de
qualidade, meditarmos sobre nossas práticas, não
nos deixando ficar em zona de conforto perigosa,
ainda mais na área mediúnica, pois mediunidade
deve estar sempre a serviço de Jesus, e quem serve
ao Mestre deve deixar de lado vícios e preconceitos, achismos e comodidades, para seguir sempre
em frente, procurando fazer o melhor para dar de
si mesmo a quem necessita de amparo, consolo e
esclarecimento.
Então, estudar, pensar, refletir, trocar experiências, manter-se sintonizado com o bem são
requisitos básicos do dirigente, do médium
e do doutrinador, e isso para todo o sempre,
para que a reunião mediúnica e o atendimento
aos desencarnados possam frutificar à luz do
Espiritismo.
Lembremos que a vida continua depois da
morte do corpo. Será, então, que não seremos os
espíritos a precisar de atendimento em reunião
mediúnica?
Pensemos nisso! R evista Espírita em Foco
Necessidade
da Encarnação
por Maira Arruda Cardoso
[email protected]
Ao refletirmos sobre a necessidade da encarnação, nos vem à memória a história do desenvolvimento intelectual do homem desde o momento
em que se teve notícia de que o espírito, ao intelectualizar a matéria, forneceu-lhe subsídios para
sua evolução intelectual. São inúmeras as forças
que impelem o espírito, nos primórdios da sua
inteligência, a estabelecerem o automatismo —
imprescindível à sobrevivência e à comunicação
dos órgãos corporais — de modo a constituírem
um organismo comandado por energias mentais
oriundas do espírito encarnante. A conservação
é uma Lei Divina que — sobre a prevalência do
instinto — impulsiona os seres a progredirem.
Essa constante comunicação dos espíritos com
o mundo material proporciona um exercício do
Trabalho e da Inteligência provendo os recursos
para que sobreviva o corpo físico. Com isso, os
instintos direcionam a busca do aperfeiçoamento.
Entretanto, esse imperativo de convivência
com a matéria densa e efêmera nos faz enxergar a vida material como a única e a verdadeira
vida. Iludimo-nos devido à falta de capacidade de
compreensão da verdade. Com a evolução moral
e intelectual, os espíritos passam a vislumbrar, de
maneira menos obscura, a vida espiritual e, com o
passar dos séculos, esses mesmos espíritos desenvolvem uma postura consciente de vivência espiritual, colaborando na cocriação universal.
No livro Missionários da Luz, André Luiz nos
faz um relato de suas experiências no aprendizado
dos mecanismos envolvidos no processo reencarnatório, demonstrando-nos a beleza e a complexidade dos projetos desenvolvidos por mentores
espirituais especializados, que compreendem a
anatomia, fisiologia, embriologia e tantos outros
campos da Ciência, cujas pesquisas colaboram na
formação de uma vestimenta corpórea condizen-
te com as necessidades morais de cada espírito
reencarnante. Essas necessidades refletem-se nas
provas e expiações características do mundo em
que habitamos. Existe um planejamento formidável e uma orientação dos espíritos benfeitores na
busca de uma vestimenta que diminua a probabilidade de esses espíritos falirem. Então, André
Luiz ressalta-nos sua descoberta e perplexidade
diante do fato de que há um trabalho elaborado e
minuscioso de construção do corpo orgânico que
não é aleatório, uma vez que respeita a Lei Divina. Conforme o grau de adiantamento do futuro
reencarnante e de acordo com o serviço que lhe é
designado no corpo carnal, é necessário estabelecer planos adequados.
O corpo é um instrumento divino que nos
possibilita progredir incessantemente, através de
várias reencarnações. Cada uma dessas reencarnações é um projeto de aperfeiçoamento focado
num determinado transtorno moral, de modo
que, com as sucessivas existências, o espírito possa desenvolver-se nos diversos campos do aprendizado até que, por meio da vontade, o espírito
domine a matéria a tal ponto que ela não tenha
mais influência sobre a moral.
Na Revista Espírita de fevereiro de 1864, um
espírito protetor nos mostra que a reencarnação
nos é necessária enquanto a matéria dominar o
espírito. Ele nos fala com profundo entendimento
que, quando o espírito, “havendo-se elevado acima de todas as sensações corporais, não mais tem
nenhum desses desejos ou necessidades inerentes
à corporeidade: é espírito e vive pelas sensações
espirituais, que são infinitamente mais deliciosas
do que as mais agradáveis sensações corporais”. www.celd.org.br
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Grupo Leopoldo Machado
Grupo Espírita de Divulgação Externa Leopoldo Machado
Características das Viagens
por GEDELM
[email protected]
O trabalho realizado pelo
G.E.D.E. Leopoldo Machado
tem algumas características que
devem ser levadas em conta por
aqueles que pensam em fazer
parte do grupo. O primeiro
aspecto está relacionado com
a própria condição da viagem,
que é feita nos automóveis dos
integrantes do grupo. O combustível gasto é dividido por
todo o grupo e cada um assume seus gastos com alimentação. De um modo geral, somos
acomodados nos próprios centros ou em residências dos trabalhadores locais, onde somos
recebidos com imenso carinho.
É uma grande oportunidade de tra-
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balharmos o senso de equipe e
tudo o que envolve a capacidade de conviver com o diferente. A exceção fica por conta da
viagem feita para o Rio Grande
do Sul, uma vez que na maioria dos locais visitados tivemos
que nos hospedar em pousadas, mesmo assim, mantendo a
simplicidade das acomodações.
Outra particularidade da viagem para o Sul é que a duração
é de aproximadamente 25 dias,
em geral em janeiro, havendo pessoas que participam em
fases específicas da viagem, por
conta da disponibilidade de
cada um, pois poucos podem
se ausentar do Rio de Janeiro
por tanto tempo.
A difícil tarefa de orientar
sem impor.
Outro aspecto refere-se à
postura do grupo na condição
de quem está chegando para
ajudar, porém, encontrando
instituições com características
próprias e com pessoas de costumes diferentes dos nossos. A
principal motivação do convite
dessas instituições é a de absorver as experiências obtidas nos
diversos trabalhos que são realizados no C.E. Léon Denis, no
Rio de Janeiro. Algumas orientações foram dadas pelo nosso
querido Altivo e enfatizadas
pela Direção Espiritual da nossa Casa, que são muito importantes para o sucesso desse trabalho.
Vamos enumerar algumas:
Observar os
costumes das
regiões
Grupo Leopoldo Machado
visitadas, procurando adaptarse a eles.
Ex.: Há expressões e comportamentos que no Rio de Janeiro
são comuns e que em outras
regiões podem ser considerados inadequados; é o chamado
choque cultural, que é cada vez
menor, mas ainda existe.
Entender as características que envolvem os trabalhos locais, para fazer
as adaptações
necessárias à
região, em
relação ao
que é feito
em nossa Casa,
principalmente no
que diz respeito aos recursos e ao número de
trabalhadores.
Ex.: Às vezes não levamos em
conta a carga da tradição religiosa do local, os impedimentos
e dificuldades que os médiuns
e trabalhadores enfrentam na
sociedade e na própria família
para comparecerem assiduamente às reuniões.
Assumir a postura de quem
tem a responsabilidade de
orientar, porém, sem impor a
metodologia que utilizamos.
Ex.: Mesmo tendo solicitado
a ajuda, a maior responsabilidade da implantação do trabalho
é da direção local da instituição,
que tem o livre-arbítrio de aceitar ou não a orientação. O nosso
trabalho é passar a experiência
que temos.
Sempre fazer valer a máxima
do Cristo: “Dai gratuitamente o
que recebestes gratuitamente”.
(Mateus, cap. X: 8.)
Ex.: Não confundir a delicadeza de aceitar a boa hospitalidade e o carinho dos que nos
recebem com exigências que
podem direta ou indiretamente
ser confundidas com moeda de
troca pelo trabalho feito.
E para encerar uma orientação que se tornou o lema do
G.E.D.E Leopoldo Machado:
manter sempre a “alegria de servir”, pois esse é o sentimento que
deve habitar o coração de todos
aqueles que querem fazer parte
desse grupo. Além de adicionar
um ingrediente importante para
a qualidade do trabalho, nos
garante a companhia dos queridos amigos espirituais que dirigem esse abençoado trabalho.
Se você se sentiu atraído por
esse trabalho, entre em contato com a nossa coordenadora
Amália Cordeiro e venha trabalhar conosco. É um ótimo exercício de convivência. www.celd.org.br
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Tema Livre
Mensagem de
Cairbar Schutel – 20/8/1998
Meus queridos filhos,
Que é a Divulgação Espírita? É o
esforço que se faz em torno da
difusão de uma ideia. Essa
ideia, que nos parece boa em
seu princípio, em sua base,
em seus objetivos, deve ser
estendida a todos aqueles
que buscam encontrar a
Verdade. Se o espírita já
é possuidor de conhecimento básico que o levará
a Jesus, existem milhões de
outros seres que estão longe
de adquirir ou ter este conhecimento. A difusão espírita é justamente o esforço no qual todos os
homens de boa vontade devem estar engajados,
divulgando o conhecimento de leis básicas, como
a sobrevivência do espírito após a morte, a manutenção de sua individualidade, a sua possibilidade
de comunicar-se e o retorno numa futura reencarnação. Esses princípios básicos que devem ser
difundidos, explicados, tornados práticos para
todos aqueles que não os conhecem; essa força,
enfim, que tornará o homem mais feliz; essa base
principal é a que necessita ser sempre divulgada.
Por isso o homem que está encarregado da difusão
doutrinária será sempre aquele ser que conheça a
Doutrina, que a ame a ponto de difundi-la e que
esteja sempre preparado para fazê-lo. Amar uma
Doutrina é ter por ela o prazer de estar junto, de
viver os seus conceitos, de entendê-la, tornandoa imanente. E difundir essa mesma Doutrina é
torná-la compreensível aos outros.
Meus irmãos, o esforço que fazem todos os
que divulgam só deve partir daqueles que amam
a Doutrina. (...) A difusão da ideia pelos instrumentos mecânicos modernos deve ser cada vez
mais estimulada. Pelas máquinas, pela internet,
vocês atingem a população anônima, que não
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pode ou nem sempre vai à Casa Espírita,
onde eles estão, ou até mesmo onde
vocês estão. Por isso, o trabalho
é principalmente dirigido
àqueles seres que vocês
nem sempre verão. E isso
traz uma responsabilidade de manter sempre
o padrão elevado, espiritualmente falando.
Então, meus irmãos,
não se esqueçam nunca de que o estudo deve
ser seguido da prática, e
a prática da Doutrina que
esposam indica a Caridade como
veículo em pé de igualdade com
o amor, devendo ser bem vivenciada por
vocês. Então, junto à tarefa que fazem, não se
esqueçam de praticar a caridade onde e como
estiverem, tornando-a também fonte de boas
lembranças, de sentimentos enobrecidos e de paz
para seu espírito.
Disse eu antes que o amor e a caridade devem
fazer parte das suas vidas. O burilamento que a dor
provoca ajuda que todos entendam melhor sua situação. Entendam em cada pedrada, em cada atitude
inesperada, em cada forma de agressão, uma espécie de burilamento e a plantação de sentimentos
novos em seus espíritos. Entendam que todos esses
que agridem são somente aqueles que ignoram.
Assim, porfiai, porfiai muito, acreditando
que Deus, o Pai, há de proteger-vos, mas certamente não tirará de vós nenhuma cota de responsabilidade. Sois espíritos treinados para esse
envolvimento. Não se esqueçais disso.
Que Deus abençoe a todos. Cairbar Schutel
Mensagem pela psicofonia de Altivo Pamphiro.