Jornal Valor Econômico

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B8
Valor
Terça-feira,6dejulhode2010
Indústria
Múltis dominam
mercado de R$ 2,5 bilhões ao ano
Js
Elevadores
seguem alta
de imóveis e
do varejo
Daniela D'Ambrosio
De São Paulo
O crescimento do mercado
imobiliário, aliada ao bom momento do varejo — com a expansão e construção de novos shoppings e supermercados — além
dos investimentos em infraestrutura, como metros e aeroportos,
garantiram demanda para os fabricantes de elevadores e escadas
rolantes. Dominado por três multinacionais, Atlas Schindler, ThyssenKrupp e Otis, o mercado movimenta cerca de R$ 2,5 bilhões ao
ano. Sempre focadas no segmento
de manutenção, a boa fase jã começa a abrir espaço para empresas nacionais de médio porte disputarem a fabricação de produtos
com as gigantes mundiais.
Considerada a invenção que
permitiu a viabilidade das grandes metrópoles, o elevador vive
uma fase de renovação e pesados
investimentos em tecnologia —
ao mesmo tempo em que a redução de custos e o fornecimento
em massa de componentes chineses permitiu a fabricação de
modelos mais simples e baratos.
Parece um contra-senso, mas não
é. A nova geração de elevadores
—que podem ser inteligentes, de
altíssima velocidade ou ecoeficientes — dividem o mercado
com produtos menores para residências (casa de alto padrão,
agora, precisa de um) e com os
mais baratos, usados nos prédios
económicos — segmento imobi-
liário que se expande em maior
velocidade no país.
Com demandas tão distintas,
cada empresa cava seu espaço. A
ThyssenKrupp investe pesado em
tecnologia e trouxe ao Brasil um
elevador capaz de gerar energia
com a própria movimentação.
Fornece para prédios corporativos de alto padrão. Concorrente
direta, a Atlas Schindler também
está nesse segmento, mas aposta
no segmento residencial, onde
atua com produtos para média e
alta renda e económicos — com
até oito paradas. "As vendas para
o mercado económico e de médio
padrão são as que mais crescem",
afirma Francisco Bosco, diretor
de marketing da Atlas Schindler.
A Atlas já foi a maior empresa
nacional e esteve, inclusive, à frente das múltis. Foi comprada pela
sueca Schindler em 1999. No ano
passado, a empresa teve receita de
R$ l bilhão. "Achávamos que o
mercado iria recuar, porque 2008
foi muto forte", diz Bosco. "Ainda
assim, tivemos ganho de 3% e para
este ano, esperamos entre 8% e 9%",
afirma. A empresa jã vendeu 160
mil elevadores no Brasil. Dados do
Sindicesp indicam que o Brasil tem
cerca de 300 mil elevadores. Só na
cidade de São Paulo, se transporta
oito vezes mais pessoas em elevadores do que nos ônibus — propagam os fabricantes.
A divisão de elevadores da
ThyssenKrupp teve receita de
R$ 661 milhões no ano passado,
alta de 15% sobre os R$ 575 mi-
SILVIA COSTANTI / VALOR
Jomar Villarta, dono de uma empresa de médio porte: fechou parceria com a Mitsubish e passou a atuar em nichos, como elevadores para residências e lojas
Ihões do ano anterior. Sem abrir
números, o diretor comercial Paulo Henrique Estefan diz apenas
que pretende crescer dois dígitos
este ano. O grupo Thyssen tem vários negócios importantes no Brasil. Recentemente, o.grupo inaugurou com a Vale a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), em
Santa Cruz, na zona oeste do Rio
de Janeiro. Com capacidade de
produção de 5 milhões de toneladas anuais de placas de aço, a siderúrgica recebeu US$ 8,2 bilhões, o
maior investimento privado feito
no Brasil nos últimos 15 anos.
Com uma fábrica em Guaíba
.(RS), o Brasil é um dos seis centros
de desenvolvimento tecnológico
do mundo. A Thyssen trouxe para
o Brasil um elevador ecoeficiente,
capaz de gerar energia. Na prática, o sistema permite a utilização
de parte da energia devolvida pelo elevador durante seu funcionamento (quando sobe com a cabina abaixo da metade da sua capacidade ou quando desce com a
capacidade acima de 50%) para a
rede elétrica interna da edificação. Cerca de 30% da energia elétrica consumida pelo elevador é
devolvida para a rede elétrica. Há
dois edifícios comerciais de alto
padrão com esse sistema, um em
São Paulo e outro no Rio.
Sem a mesma tecnologia, as
empresas nacionais procuram
ganhar espaço no segmento de
manutenção de elevadores (a lei
exige equipes de plantão 24 horas por dia o ano todo). Para
competir no disputado mercado
de fabricação, buscam nichos.
A Villarta, que fatura R$ 50 milhões por ano e fabrica cerca de
vinte elevadores por mês, elegeu o
segmento de cargas, elevadores
para residências, lojas e começa a
estudar a fabricação de elevadores
para navios. A empresa fechou
parceria com a divisão de elevadores da japonesa Mitsubishi para
projetos especiais. "Fomos procurados por outras empresas que
também queriam fechar parcerias", diz Jomar Villarta, sócio. De
acordo com o empresário, companhias estrangeiras estão procurando as nacionais para fazer negócio.
"Tive outras propostas." A americana Otis comprou empresas pequenas, sobretudo no Rio de Janeiro.
Segundo Villarta, no ano passado a empresa cresceu 15%. "A
entrada dos chineses no mercado de peças barateou os elevadores e abriu o mercado de elevadores para residências de alto
padrão", afirma. "Um elevador
de duas paradas que custava
R$ 80 mil há cinco anos, hoje é
vendido a R$ 50 mil", completa.
Outro efeito colateral da entrada dos produtos chineses é
que o mercado brasileiro passou
a ser mais montador do que um
fabricante propriamente. "Há 10
anos, havia 40 mil empregados
na fabricação. Hoje, não chega a
20 mil", diz.
Pequenos procuram espaço na Copa
De São Paulo
As pequenas e médias empresas
de elevadores se uniram para tentar buscar um espaço nas obras de
infraestrutura e modernização
que o país terá por conta da Copa
do Mundo e das Olimpíadas.
Estudo publicado ontem pela
FGV e Ernést Young estima que o
impacto direto da realização da
Copa no Brasil sobre a construção
será de R$ 6,91 bilhões, incremen-
tando o PIB setorial em 5,63%.
O Sindicato das Empresas de
Elevadores do Estado de São Pavio (Sindicesp) estima que sejam
gastos pelo menos R$ 200 milhões em equipamentos, como
elevadores, esteiras e escadas rolantes em aeroportos, estádios e
estações de trem e metro.
O Sindicesp, que representa
cerca de 400 empresas — a maioria na área de manutenção —,
pretende se reunir com o Ministé-
rio dos Esportes para apresentar
as indústrias nacionais do setor.
"Nosso objetivo é que pelo menos
30% do que for gasto, seja destinado à indústria nacional", afirma Max Santos, diretor executivo
do Sindicato. "O nosso mercado
deve dobrar com a Copa do Mundo e Olimpíadas", completa. O
Sindicato já esteve com a secretaria de Políticas Públicas de Emprego para discutir qualificação
de mão de obra. (DD)