Peixes Associados a Fundos Consolidados em Ilhas do Município
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Peixes Associados a Fundos Consolidados em Ilhas do Município
Levantamento rápido da fauna de peixes associados a fundos consolidados no entorno de quatro ilhas pertencentes ao município de São Sebastião, Litoral Norte de São Paulo, com breve descrição da estrutura recifal. Carlo Leopoldo B. Francini – Biólogo Sociedade de Defesa do Litoral Brasileiro 2007 Introdução Considerados ambientes de extrema relevância ecológica, as ilhas costeiras tem se tornado constante alvo de ocupação privada. Além disso, e uso excessivo de recursos naturais vem exaurindo a diversidade e descaracterizando a fauna e flora, tanto terrestre quanto do entorno subaquático, destes ambientes. O Presente estudo, baseado em seis saídas de campo de um dia cada, tem como objetivo principal fornecer um levantamento qualitativo rápido da fauna de peixes associados as ilhas Apara, Couves do Sul, “As Ilhas” e Itaçuce, localizadas no município de São Sebastião, litoral norte do estado de São Paulo, além de uma breve caracterização dos fundos rochosos localizados ao seu redor. Este levantamento rápido faz parte de um estudo maior, denominado “Estudos para a criação de unidades de proteção da natureza nos ambientes insulares marinhos no município de São Sebastião, São Paulo – Brasil”, que visa encontrar subsídios para medidas de proteção adequadas para estes ambientes insulares. Métodos Foram realizadas seis viagens de um dia cada e em todas as ilhas foram realizadas observações subaquáticas com equipamento SCUBA com o objetivo de identificar visualmente o maior numero possível de espécies de peixes e caracterizar a estrutura do fundo rochoso. Todas as atividades foram acompanhadas por registro fotográfico e de video, buscando-se produzir um registro visual dos ambientes e espécies levantadas. Lista de espécies de peixes Durante o levantamento rápido, foram assinaladas 56 espécies de peixes, a maior parte associada a fundos consolidados (peixes recifais). Embora represente uma subestimativa, a lista a seguir é um tentativa de inventariamento das espécies de peixes associadas as quatro ilhas estudadas. Família Myliobatidae Aetobatus narinari (Euphrasen, 1790) Nome comum: raia-chita Família Ophichthidae Myrichthys ocellatus (LeSueur, 1825) Nome comum: mariquita Família Clupeidae Espécie(s) não identificadas. Nome comum: sardinhas Família Engraulidae Espécie(s) não identificadas. Nome comum: manjubas Família Ogcocephalidae Ogcocephalus vespertilio (Linnaeus, 1758) Nome comum: peixe-morcego Família Mugilidae Mugil spp. Nome comum: tainha Família Holocentridae Holocentrus ascensionis (Osbeck, 1771) Nome comum: jaguareçá, mariquita Família Scorpaenidae Scorpaena isthmensis (Meek & Hildebrand, 1928) Nome comum: mangangá, peixe-pedra Família Centropomidae Centropomus spp. Nome comum: robalo Família Serranidae Epinephelus marginatus (Lowe, 1834) Nome comum: garoupa-verdadeira Mycteroperca acutirostris (Valenciennes, 1828) Nome comum: badejo-mira Serranus baldwini (Evermann & Marsh,1900) Serranus flaviventris (Cuvier, 1829) Família Carangidae Carangoides crysos (Mitchill, 1815) Nome comum: carapau Chloroscombrus chrysurus (Linnaeus, 1766) Nome comum: palombeta Pseudocaranx dentex (Bloch & Schneider, 1801) Selene vomer (Linnaeus, 1758) nome comum: galo Família Gerreidae Eucinostomus melanopterus (Bleeker, 1836) Nome comum: carapicu. Família Haemulidae Anisotremus surinamensis (Bloch, 1791) Nome comum: sargo-de-beiço Anisotremus virginicus (Linnaeus, 1758) Nome comum: salema Haemulon aurolineatum (Cuvier, 1830) Nome comum: corcoroca Haemulon steindachneri (Jordan & Gilbert, 1882) Nome comum: corcoroca-boca-larga Família Sparidae Diplodus argenteus (Valenciennes, 1830) Nome comum: marimbá Família Sciaenidae Odontoscion dentex (Cuvier, 1830) Nome comum: pescada-da-pedra Pareques acuminatus (Bloch & Schneider, 1801) Nome comum: chapéu-alto Família Mullidae Pseudupeneus maculatus (Bloch, 1793) Nome comum: trilha Família Pempheridae Pempheris schomburgki (Muller & Troschell,1848) Nome comum: piaba-do-mar, papudinha Família Chaetodontidae Chaetodon striatus (Linnaeus, 1758) Nome comum: borboleta Família Pomacanthidae Holacanthus tricolor (Bloch, 1795) nome comum: Tricolor Pomacanthus paru (Bloch, 1787) Nome comum: parú-da-pedra Família Kyphosidae Kyphosus spp. Nome comum: pirajica Família Pomacentridae Abudefduf saxatilis (Linnaeus, 1758) Nome comum: sinhá-rosa, sargentinho Chromis marginata (Castelnau, 1855) Stegastes fuscus (Cuvier, 1830) Nome comum: castanheta, donzelinha Stegastes variabilis (Castelnau, 1855) Nome comum: castanheta, donzelinha Família Labridae Halichoeres brasiliensis (Bloch, 1791) Nome comum: sabonete Halichoeres poeyi (Steindachner, 1867) Nome comum: sabonete Família Scaridae Sparisoma axillare (Steindachner, 1878) nome comum: budião Sparisoma atomarium (poey, 1861) nome comum: budião Sparisoma frondosum (Agassiz 1829) nome comum: budião Sparisoma radians (Valenciennes, 1839) nome comum: budião Família Labrisomidae Labrisomus nuchipinnis (Quoy & Gaimard, 1824) Malacoctenus delalandii (Valenciennes, 1836) nome comum: maria-da-toca Família Chaenopsidae Emblemariopsis signifera (Ginsburg, 1942) Família Blenniidae Ophioblennius atlanticus (Valenciennes, 1836) nome comum: emborê Parablennius marmoreus (Poey, 1875) nome comum: emborê Parablennius pilicornis (Cuvier, 1829) nome comum: emborê Scartella cf. cristata (Linnaeus, 1758) Família Gobiidae Coryphopterus dicrus (Böhlke & Robins, 1960) Coryphopterus glaucofraenum (Gill, 1863) Coryphopterus thrix (Böhlke & Robins,1960) Família Ephippidae Chaetodipterus faber (Broussonet, 1782) nome comum: enxada Família Acanthuridae Acanthurus bahianus Castelnau, 1855 nome comum: barbeiro Acanthurus chirurgus (Bloch, 1787) nome comum: barbeiro Acanthurus coeruleus (Bloch & Schneider,1801) nome comum: barbeiro Tetraodontidae Sphoeroides spengleri (Bloch, 1785) nome comum: baiacu Fig. 01 Peixes observados nas ilhas: a)Stegastes fuscus; b)Stegastes variabilis; c)Odontoscion dentex d)Labrisomus nuchipinnis; e)Holocentrus ascensionis; f)Haemulon aurolineatum ; g)Chaetodon striatus; h)Anisotremus virginicus ; i) Abudefduf saxatilis; j)Diplodus argentus; l)Kyphosus spp.; m)Sphoeroides spengleri; n)Ogcocephalus vespertilio; o)Acanthurus coeruleus; q)Haemulon steindachneri. Caracterização do fundo consolidado Ilha Apara Localizada em frente a praia de Toque-toque grande, na posição 23o 50´ Sul por 45o 33´ Oeste, possui uma área de aproximadamente um hectare e dista cerca de 0,12 Km da costa. Foram realizados dois mergulhos nesta ilha, com a visibilidade variando entre 10 e 15 metros, um do lado exposto ao embate de ondas e ouro do lado abrigado (fig 02), totalizando cerca de uma 1:30h de observações. Fig.02 Ilha Apara. A esquerda uma visão geral da Ilha; A direita, foto de satélite identificando os pontos de mergulho (1 e 2). O lado abrigado (ponto 01) tem profundidade máxima de 16 metros, com presença de tapetes de Zoantídeos até a profundidade média de 5 metros, e manchas esparsas de ouriços do gênero Echinometra. Na parte mais funda, abaixo dos 5 metros, as rochas apresentam um cobertura pouco densa de algas verdes e calcarias, além de outros invertebrados, como esponjas, crinóides, gorgonáceos e colonias do coral cérebro do gênero Mussismila. O lado exposto (ponto 2) apresentou um profundidade máxima de 18 metros e rochas cobertas por algas. Nas proximidades da ilha há uma rede de espera e nos dois pontos de mergulho foi constatada grande quantidade de apetrechos de pesca perdidos, como restos de poitas e redes, garatéias e linhas de pesca, inclusive com animais presos as mesmas (fig. 03). Também foi observada a presença de tartarugas de duas espécies, Chelonia mydas (tartaruga verde) e Ertmochelys imbricata (tartaruga de pente), consideradas como espécies vulnerável e em perigo, respectivamente (lista Ibama 03). Fig. 03 Restos de materiais de pesca encontrados durante os mergulhos na ilha Apara. Na foto da esquerda nota-se o caranguejo ainda vivo emaranhado por uma linha de pesca perdida. As Ilhas Localizada na posição 23o 47´S por 45o 43´, tem uma área de aproximadamente 39 hectares e sua distancia mínima da costa é de 1,54 Km. Dada a relativa proximidade com a costa e o fato de haverem duas praias nesta ilha, a mesma é constantemente visitada por embarcações, tanto de turismo quanto pequenas embarcações pesqueiras. Durante finais de semana e feriados suas praias são muito utilizadas para fins recreativos (Fig. 04). Fig. 04 Devido a facilidade de acesso e a ao fato de possuir belas praias, a ilha é constantemente visitada por turistas. Foram realizados 4 mergulhos em diferentes pontos (figura 05), totalizando cerca de 3 horas de observações. Durante os mergulhos, a visibilidade variou de 5 a 10 metros, sendo mais prejudicada no ponto 04, provavelmente devido ao fato de estar mais exposto ao embate de ondas. Fig. 05 As Ilhas: foto de satélite identificando os pontos de mergulho (01, 02, 03 e 04). O ponto 1, localizado entre As Ilhas e a ilha das Couves, é caracterizado por um fundo rochoso que atinge cerca de 12m de metros de profundidade máxima, e se estende até mais de 200 m dos costões da ilha. Neste ponto não foram observadas colonias de corais, sendo as rochas cobertas por algas pardas e vermelhas, principalmente nas áreas mais rasas (até 10m), e também por esponjas e crinóides (estes menos abundantes e esparsamente distribuídos). Foram observados diversos resíduos de linhas de pesca , redes e também encontrados arpões usados perdidos no fundo (figura 06, A e B). Fig 06 A) Arpão; B) restos de redes emaranhados no fundo. O ponto 2 está localizado na face mais abrigada da ilha quanto ao embate de ondas, e caracterizou-se por um costão raso, com no máximo 6 metros de profundidade, coberto por extensos tapetes de Zoantídeos, principalmente do gênero Palythoa (Fig. 07, A), e presença de diversas colonias de corais-cérebro (gênero Mussismilia) com até 40 cm de diâmetro (Fig. 07, B), sendo constatada presença de colonias com branqueamento (fig. 07, C). Na parte mais rasa (até 3 metros de profundidade) foram observados ouriços do gênero Echinometra distribuídos de maneira esparsa ao longo do costão. Fig. 07 A) Tapetes de Zoantídeos; B) Colonias de coral Mussismilia; C) Branqueamento. O Ponto 03 mostrou-se bastante semelhante ao 02 quanto a grande cobertura de Zoantídeos, mas não haviam tantas colônias de corais e as profundidades chegaram a 12 metros. Neste ponto as rochas se estendem até cerca de 100 metros de distancia dos costões da ilha. No ponto 04 a máxima profundidade encontrada foi de 12 metros, sendo que as rochas apresentaram extensa cobertura de algas verdes e pardas, muito abundantes até os 6 metros de profundidade, e manchas esparsas de ouriços do gênero Echinometra. Na parte mais funda (6 – 12 metros) foram observados invertebrados como esponjas e crinóides e uma menor abundancia de algas. Neste ponto foram encontrados restos de redes de pesca enroscados nas pedras. Couves do Sul Localizada na posição 23o 48´ Sul por 45o 43´ Oeste, tem uma área de 48,7 hectares, sendo a maior das quatro ilhas e é a única que apresentada pessoas residindo. Foram realizados três mergulhos nesta ilha, com a visibilidade variando entre 10 a 15 metros (fig. 08) Fig.08 Foto de satélite identificando os pontos de mergulho na Ilha das Couves (1, 2 e 3). O ponto 1 apresentou uma profundidade máxima de 9 metros, com pedras recobertas por Zoantideos até 5 metros de profundidade e colonias de coral Mussimilia esparsamente distribuídos. Foram encontrados restos de apetrechos de pesca e lixo no fundo. O ponto 2 apresentou um costão raso, amplamente recoberto por Zoantídeos e presença de colonias de coral. Neste ponto foram observados inúmeros resíduos de aparatos de pesca, como restos de linhas, redes e aparentemente restos de armadilhas de pesca. Neste local foi encontrada morta um tartaruga de pente, espécie considerada em perigo (Ibama 03..). O ponto 3 é um costão com grande rochas, formando fendas e locas de tamanho considerável, e profundidade máxima de 20 metros. As rochas são recobertas por uma fina camada de algas e alguns outros invertebrados, como espojas e crinóides, além de manchas esparsas de ouriços do gênero Echinometra. Não foi constatada a presença de corais neste local. Discussão e recomendações A criação de áreas marinhas integralmente protegidas tem sido apontada como uma das principais alternativas para conservar a biodiversidade (Agardy 2000). A complexidade biológica e as características da pesca em áreas de substratos consolidados (e.g., grande diversidade de espécies capturadas, uso de múltiplas artes) fazem com que as técnicas mais tradicionais de manejo, como restrições de esforço ou captura, sejam excessivamente custosas e ineficientes nestes ambientes (Munro 1996, Roberts 2000). O estabelecimento de áreas marinhas protegidas realmente eficientes depende do conhecimento dos processos responsáveis por variações espaciais e temporais na estrutura das assembléias locais (composição, abundância, riqueza e diversidade), assim como da conectividade entre as áreas protegidas e não protegidas (Roberts 2000). As ilhas estudadas constituem-se numa área prioritária não só para a proteção do ambiente natural, mas também para a realização de pesquisas básicas e aplicadas sobre ecologia e para o desenvolvimento da educação conservacionista (cf., Fonseca et al. 1998). Sugiro que pelo menos parte do ambiente marinho das ilhas estudadas seja protegido de forma permanente. Além da implantação de programas de proteção/fiscalização, deveria ser estabelecida uma agenda de pesquisas aplicadas . Os peixes recifais são organismos chave em programas de pesquisa e educação, tanto por serem elementos importantes nas comunidades recifais, controlando as populações de algas e invertebrados marinhos, quanto por serem muito conspícuos e facilmente perceptíveis pelos freqüentadores da área. Para a pesquisa de peixes, seria necessária a realização de campanhas de campo para a coleta de exemplares testemunho, visando um levantamento completo de espécies das ilhas. Estes exemplares constituiriam uma coleção de referência a ser depositada em instituições públicas e fidedignas. A longo prazo, um programa de monitoramento com amostragens quantitativas em espaços regulares de tempo seria prioritário para que se possa conhecer a dinâmica das assembléias de peixes da região. Referências Bibliográficas Agardy, T. 2000. Information needs for marine protected areas: scientific and societal. Bull. Mar. Sci. 66: 875-888. Ângelo, S. (coord.) 1989. Ilhas do Litoral Paulista. Série Documentos, Governo do Estado de São Paulo, Secretaria do Meio Ambiente, 49 p. Fonseca , G., Rylands, A. & Pinto, L. P. 1998. Estratégia Nacional de Diversidade Biológica. Contribuição para a Estratégia de Conservação insitu no Brasil. Base de Dados Tropical, Campinas, SP. http://www.bdt.org/bdt/oeaproj/insitu Munro, J. L. 1996. The scope of tropical reef fisheries and their management. In: Polunin, N. V. C. & Roberts, C. M. (eds.). Reef Fisheries. Chapman & Hall Press, London, pp. 1-14. Roberts, C. M. 2000. Selecting marine reserve locations: optimality versus opportunism. Bull. Mar. Sci. 66: 581-592.