A época da independência, o território dos Estados Unidos era

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A época da independência, o território dos Estados Unidos era
A época da independência, o território dos Estados Unidos era composto de treze estados, as antigas colônias
inglesas. Em 1860, esse número tinha aumentado para 35, o que revela o rápido processo de expansão territorial
da jovem nação. Sua população, que em 1790 atingia cerca de 4 milhões de habitantes, saltou para 50 milhões em
1880. Ao lado do impressionante crescimento populacional, o país convivia também com intenso desenvolvimento econômico.
A expansão da economia, porém, se dava de forma desigual. Enquanto os estados do Norte eram tomados por
rápido processo de industrialização e urbanização, os do Sul seguiam se dedicando a atividades agrícolas, com
claro predomínio da vida rural. Outro contraste marcava as duas regiões. No Norte, a economia crescera baseada no trabalho assalariado livre. No Sul, ao contrário, as relações de produção se caracterizavam pela presença
esmagadora do trabalho escravo. Essa dicotomia provocava conflitos constantes entre os senhores de escravos
do Sul e as populações urbanas do Norte. Em 1861, as tensões acumuladas explodiram, dando início à Guerra de
Secessão, que se prolongaria até 1865.
1. A MARCHA PARA O OESTE
Em 1783, a Paz de Versalhes pôs fim à Guerra de Independência dos Estados Unidos contra a Inglaterra. Durante
o conflito, os norte-americanos avançaram para o oeste, ocupando uma larga faixa de terras que atravessava o
continente de norte a sul, entre a região dos Grandes Lagos e o golfo do México. Esse território fora conquistado
aos índios pela Inglaterra, mas a Paz de Versalhes reconheceu a soberania norte-americana sobre ele.
Os Estados Unidos, contudo, queriam se expandir também para o norte e ocupar as terras de colonização inglesa
no Canadá. A sede expansionista dos norte-americanos acirrou ainda mais as tensões com os ingleses — com
quem já estavam envolvidos em disputas comerciais —, provocando, em 1812, outro conflito entre as duas nações. A Segunda Guerra de Independência, como o episódio ficou conhecido, terminou em 1814, sem perdas ou
ganhos territoriais para os Estados Unidos.
De todo modo, o confronto acabou alimentando a tendência isolacionista das elites norte-americanas, ou seja,
sua predisposição para não interferir nos problemas europeus e de não permitir ingerências européias nos assuntos internos dos países do continente. Essa tendência acabou se transformando numa doutrina — a Doutrina
Monroe —, formulada em 1823 pelo presidente James Monroe, que lançou o lema "a América para os americanos".
Independentemente da atitude política adotada pelo governo em relação às nações européias, a expansão territorial prosseguia a todo vapor. Continuava o fluxo migratório para o Oeste, um território hostil devido às condições naturais adversas e à maciça presença de índios, mas ao mesmo tempo atraente por possibilitar a formação
de grandes fortunas a partir da exploração do ouro ou da criação de gado. A ocupação desse território se tornou
lendária na história do país e foi chamada de Marcha para o Oeste.
Já o Leste enfrentava acelerado crescimento demográfico, resultado de uma política deliberada do governo para
atrair imigrantes e expandir o território. Entre 1789 e 1812, chegaram ao país 250 mil europeus, vindos principalmente da Irlanda, da Inglaterra e dos Estados germânicos. Esse número teria um aumento espantoso nos anos
subseqüentes, chegando a 5 milhões de imigrantes entre 1830 e 1860. Diante desse quadro, o governo norteamericano decidiu investir maciçamente na compra e na conquista de novos territórios.
Em 1803, por exemplo, comprou da França o território da Louisiana. Mais tarde, em 1819, adquiriu da Espanha,
por 5 milhões de dólares, a região da Flórida. Em 1846, conseguiu que a Inglaterra lhe cedesse o Oregon. E, por
fim, em 1867, comprou o Alasca à Rússia por pouco mais de 7 milhões de dólares.
Ao mesmo tempo que adotavam essa política de aquisições pacíficas, os Estados Unidos partiram para guerras
de conquistas, nas quais as maiores vítimas foram os índios e os mexicanos. Em 1836, colonos norte-americanos
fixados no território do Texas, então pertencente ao México, proclamaram a independência da região, depois de
vencer as tropas do governo mexicano. Quase dez anos depois, em 1845, os Estados Unidos anexaram o Texas a
seu território, o que foi o estopim da guerra contra o México no ano seguinte. Ao final do conflito, o governo
mexicano reconheceu a perda de sua antiga província e cedeu ao poderoso vizinho do norte as regiões da Cali-
fórnia, Colorado, Novo México, Nevada, Utah e Arizona, recebendo a título de pagamento cerca de 15 milhões de
dólares.
Com a expansão, os Estados Unidos se tornaram um dos maiores países do mundo. Dotado de enormes reservas
de recursos naturais, seu território se estendia agora do oceano Atlântico ao oceano Pacífico.
2. A GUERRA DE SECESSÃO (1861-1865)
A região Norte dos Estados Unidos era, como vimos, a mais industrializada do país, em contraste com os estados
do Sul, predominantemente agrícolas. A principal característica das zonas rurais sulinas consistia na plantation,
grande propriedade monocultora, cuja produção, voltada para a exportação, dependia do trabalho escravo. O
Sul produzia grande quantidade de algodão, exportado principalmente para a Inglaterra, onde era utilizado na
indústria têxtil em franca expansão.
A burguesia do Norte do país fazia sérias restrições aos senhores de terras do Sul. A maior crítica dizia respeito
ao trabalho escravo, que, acreditavam, deveria ser extinto e gradativamente substituído pelo trabalho assalariado; dessa forma, os trabalhadores sulistas poderiam comprar os produtos fabricados no Norte. Além disso, a
população do Norte apoiava o protecionismo alfandegário, isto é, o aumento das taxas de importação, para que
os produtos nacionais concorressem no mercado interno em igualdade de condições com os produtos ingleses e
de outras procedências.
A aristocracia rural do Sul, interessada em continuar vendendo seus produtos à Inglaterra e importando os artigos manufaturados de que necessitava, batia de frente com o Norte ao defender o livre cambismo, ou seja, uma
política de liberdade comercial sem taxas protecionistas.
A essas diferenças de origem econômica se somavam outras, de fundo cultural. No Norte, havia um grupo empresarial dinâmico e empreendedor, interessado no desenvolvimento nacional. No Sul, porém, continuava a predominar uma mentalidade rural, aristocrática, voltada aos interesses regionais; por isso mesmo, dava-se mais
importância à autonomia dos estados do que ao fortalecimento do país.
Além de todas essas diferenças, havia ainda razões ideológicas em jogo. No Norte, a campanha abolicionista se
intensificava e surgiam movimentos de caráter democrático e mesmo socialista também a favor da emancipação
dos escravos. Em 1833, por exemplo, William Garrison e outros líderes abolicionistas fundaram a Sociedade Americana contra a Escravidão. Garrison defendia a abolição sem indenização aos escravistas, o que os deixava ainda
mais furiosos. A campanha abolicionista crescia a cada dia e, em 1852, ganhou importante reforço com a publicação do livro A cabana do pai Tomás, de Harriet Beecher Stowe, que narrava a dolorosa existência dos escravos
nas fazendas do Sul. O livro vendeu 1 milhão de exemplares em dois anos.
Em meio a esses embates, em 1860 foi eleito presidente dos Estados Unidos o nortista Abraham Lincoln, membro do Partido Republicano. Adepto de uma política protecionista, Lincoln opunha-se à escravidão e ao espírito
autonomista dominante nos estados do Sul. A reação das elites na Carolina do Sul, um dos estados escravistas,
foi proclamar sua separação do restante do país. Em seguida, dez outros estados sulistas fizeram o mesmo. Juntos, eles formaram uma nova estrutura política nacional, os Estados Confederados da América. O novo país tinha
sua capital em Richmond, na Virgínia. Para governá-lo, foram eleitos Jefferson Davis, presidente, e Alexander
Stephens, vice-presidente. Nem todos os estados escravistas, porém, apoiaram os rebeldes. O Kansas e o Missouri, por exemplo, permaneceram integrados aos Estados Unidos, sem abolir o regime de trabalho escravo.
Em 12 de abril de 1861, tropas confederadas tomaram de assalto o forte Sumter, na Carolina do Sul, defendido
por forças do governo. Três dias depois, Lincoln declarou guerra à Confederação. O conflito que se seguiu seria
mais tarde considerado a primeira das grandes guerras modernas, com um saldo de 620 mil mortos.
As condições do Norte no confronto eram de indiscutível superioridade. Mais industrializado do que o Sul, contava também com uma malha ferroviária mais extensa e moderna. Além disso, as armas de que dispunha eram
produzidas em suas próprias fábricas, enquanto a Confederação dependia da importação de material bélico. As
duas populações também eram desiguais em número e na composição social e étnica. Enquanto o Norte somava
23 estados, com uma população de 28 milhões de pessoas — constituída em quase sua totalidade de pessoas
livres, descendentes de europeus —, o Sul contabilizava onze estados com 9 milhões de habitantes, um terço
dos quais escravos de origem africana. Para complicar ainda mais a situação do Sul, a Confederação também não
conseguiu apoio à sua causa no exterior: a escravidão era, a essa altura, condenada pela opinião pública de todas
as grandes nações.
Não constituiu surpresa, portanto, que os sulistas tenham sido derrotados, apesar de sua forte resistência. Depois de quatro anos de sangrentos combates, os nortistas venceram em Appomattox, na Virgínia, a última batalha da guerra. No mesmo dia, 9 de abril de 1865, o comandante das forças rebeldes, general Robert Lee, rendeuse ao comandante do exército do governo, general Ulysses Grant.
Em 1863, ainda durante o conflito, Lincoln decretou o fim da escravidão nos estados rebeldes. No ano seguinte,
conseguiu se reeleger presidente dos Estados Unidos, mas não chegaria a exercer o segundo mandato. Em 14 de
abril de 1865, quatro dias depois do fim da guerra, Lincoln foi assassinado no interior de um teatro pelo ator sulista John Booth.
Ku Klux Klan e sua herança de ódio
Parcialmente destruído pela guerra, o país precisava vencer ainda o abalo provocado pelo assassinato do presidente Lincoln. Para piorar a crise, o vice-presidente Andrew Johnson, que assumiu a presidência, era de origem
sulista e agrária. Embora tivesse se oposto ao separatismo da Confederação — por isso conseguiu se eleger ao
lado de Lincoln —, Johnson mantinha uma atitude francamente simpática em relação a certas reivindicações dos
latifundiários do Sul. Tão logo assumiu a Presidência, entrou em choque com a maioria republicana do Congresso.
Apesar da resistência de Johnson, a partir de 1865 o Congresso aprovou sucessivamente a 13ª e a 14ª emenda à
Constituição. A primeira abolia definitivamente a escravidão em todo o território norte-americano. A segunda
estendia os direitos civis a todas as pessoas nascidas nos Estados Unidos ou naturalizadas norte-americanas,
anulando as restrições à participação dos negros na vida política.
O presidente seguinte foi o general Ulysses Grant, eleito em 1868. Durante seu governo, Grant implementou o
sufrágio universal, aprovado pelo Congresso. A medida concedia aos negros não só o direito de elegerem seus
representantes, mas também o de se candidatarem a qualquer cargo eletivo. Com isso, pretendia-se pacificar a
nação. Mas, nos antigos estados rebeldes, a medida teve efeito contrário, aumentando ainda mais o ódio racial,
uma das heranças da Guerra de Secessão.
Data de 1867, porém, o exemplo mais forte de segregação racial nos Estados Unidos: a Ku Klux Klan. Criada por
veteranos sulistas da Guerra de Secessão, essa sociedade secreta tentou impedir, a qualquer custo, que os negros exercessem seus direitos após o fim da escravidão. Recorrendo a meios extremos, como a tortura e o linchamento de pessoas de origem africana, integrantes da Ku Klux Klan, mascarados e encapuzados, passaram a
espalhar o terror no Sul do país, assassinando, indiscriminadamente, homens, mulheres e crianças.
Em 1877, a justiça norte-americana proibiu o funcionamento da organização, que ainda assim continuou a agir na
clandestinidade. Prova disso é que, nos anos 1920, a Ku Klux Klan chegou a reunir em suas fileiras 1 milhão de
defensores da segregação racial. Ainda hoje ocorrem nos Estados Unidos ações anti-raciais isoladas, resquícios
do ódio articulado pela Ku Klux Klan.
3. POTÊNCIA INDUSTRIAL
A guerra civil norte-americana assumiu características de uma verdadeira revolução social, pois determinou a
extinção do trabalho escravo e impôs o regime de trabalho assalariado. Além disso, tirou do poder o que restava
da aristocracia agrária do Sul e abriu caminho para o pleno desenvolvimento das atividades industriais e urbanas.
Ao eliminar alguns dos obstáculos para a expansão das atividades econômicas, a Guerra de Secessão tornou-se
ponto de partida para um desenvolvimento sem precedentes da economia norte-americana. Mesmo durante o
conflito, a industrialização foi estimulada pela demanda de material bélico e de meios de transporte rápido para
as tropas. Em 1861, o governo decretou medidas de proteção alfandegária que deram impulso decisivo ao crescimento industrial. Em seguida, um decreto-lei de 1862 — a lei Homestead — promoveu a ocupação e a colonização das terras do Oeste, garantindo um lote mínimo de terra a cada colono.
Essas medidas ampliaram a produção industrial e agrícola, além de estimular o mercado de consumo com o enriquecimento dos pequenos proprietários rurais. Ainda em 1862, o governo decidiu financiar a construção de uma
ferrovia transcontinental, atravessando o território do país de leste a oeste.
Depois da guerra civil, houve também grande afluxo de imigrantes europeus, destinados principalmente ao trabalho fabril. A oferta de mão-de-obra crescia, pressionando os salários para baixo, numa época em que ainda não
existia legislação trabalhista.
Essas condições criaram a base para o desenvolvimento da economia norte-americana. Em poucas décadas, a
indústria do país apresentaria o maior índice de crescimento mundial, produzindo principalmente aço, fundamental para a expansão da malha ferroviária e da indústria de base.
Ao romper o século XX, o empresário norte-americano Henry Ford revolucionou a indústria automobilística com
a implantação da produção em série de automóveis. Com isso, os preços tornaram-se acessíveis a amplas faixas
do mercado. Ford ainda elevou os salários dos empregados de sua empresa, a Ford Motor Company, fundada em
1903, alegando que os operários deveriam ganhar o suficiente para comprar os produtos que fabricavam. Sua
política estimulou a expansão vertiginosa da indústria automobilística nos Estados Unidos.
A produção em massa de automóveis, por sua vez, permitiu o desenvolvimento de outros setores da economia,
como a indústria siderúrgica; a extração e o refino de petróleo, do qual os Estados Unidos têm enormes reservas;
a indústria de autopeças; a produção de pneus etc. Esse "efeito cascata" desencadeado pela indústria automobi-
lística repercutiu também em outros ramos da produção, na expansão da oferta de empregos e na ampliação do
mercado.
Não demorou muito para que os Estados Unidos assumissem a liderança entre os países do continente, ocupando o lugar dos países europeus. A hegemonia recém-conquistada pelos norte-americanos seria sintetizada pelo
presidente Theodore Roosevelt (1901-1909) na política do grande porrete (ou big stick, em inglês). Por essa política, os Estados Unidos se propunham intervir — mesmo militarmente —, sempre que julgassem necessário, nos
assuntos internos dos países latino-americanos. Consagrava-se, assim, uma tendência em crescente expansão,
não só nos Estados Unidos, mas também entre as grandes potências industriais, como a Inglaterra. Essa tendência seria chamada mais tarde de imperialismo.

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