Capítulo 09 - Coordenadas Polares
Transcrição
Capítulo 09 - Coordenadas Polares
CÁLCULO VETORIAL E GEOMETRIA ANALÍTICA Luiz Francisco da Cruz – Departamento de Matemática – Unesp/Bauru CAPÍTULO 9 COORDENADAS POLARES O plano, também chamado de ℜ2, onde ℜ2 = ℜxℜ = {(x, y) / x, y ∈ ℜ} , ou seja, o produto cartesiano de ℜ por ℜ, é o conjunto de todos os pares ordenados (x, y), ∀ x e y ∈ ℜ . Ele é representado pelo Sistema de Coordenadas Cartesianas Ortogonal, o qual é constituído por dois eixos perpendiculares entre si, cuja interseção é o par ordenado O(0,0) , chamado de origem do sistema. Esses eixos são denotados por Ox e Oy e chamados de eixos coordenados, orientados como mostra a figura abaixo. Oy II (+) I P(x,y) y (–) (+) x (0,0) III Ox IV (–) Todo ponto P(x,y) do plano é representado como na figura acima, onde x e y são as suas coordenadas, respectivamente em relação aos eixos Ox e Oy. Existe uma correspondência biunívoca entre pares ordenados de números reais e pontos do sistema de coordenadas cartesianas ortogonais. No entanto, existe outro sistema de coordenadas capaz de representar o plano. É o Sistema de Coordenadas Polares, o qual é constituído por apenas um semi-eixo e, chamado de semi-eixo polar e um ponto de origem p, chamado pólo. Todo ponto P do plano é representado por um par ordenado (ρ,θ), onde ρ é à distância do ponto P ao pólo p e θ é o ângulo formado entre o segmento Pp e o semi-eixo polar. O ângulo θ é medido em radianos a partir do eixo polar e no sentido anti-horário. Assim, ρ ≥ 0 e 0 ≤ θ ≤ 2π . P(ρ,θ) ρ θ p e CÁLCULO VETORIAL E GEOMETRIA ANALÍTICA Luiz Francisco da Cruz – Departamento de Matemática – Unesp/Bauru Exemplo (1): Representar no Sistema de Coordenadas Polares os seguintes pontos do plano: a) P(3, π ) b) Q(5, 2π ) 3 c) R(3, 3π ) 2 3 Q 5 P 2π 3 3π 2 3 π 3 e pp 3 R Podemos relacionar o Sistema de Coordenadas Cartesianas Ortogonais com o Sistema de Coordenadas Polares. Coincidindo a origem O(0,0) do sistema cartesiano com o pólo p do sistema polar e o semi-eixo polar com o semi-eixo positivo do eixo Ox. Oy P(x, y) ≡ (ρ, θ) y ρ θ O≡p x Ox e cos θ = No triângulo retângulo temos: ρ2 = x2 + y2 e sen θ = x ⇒ x = ρ cos θ ρ . Pode-se y ⇒ y = ρ sen θ ρ y determinar o ângulo θ pelas relações anteriores ou por θ = arctg , observando os x sinais das coordenadas x e y para definir a qual quadrante pertence o ângulo θ. x = ρ cos θ Portanto, as relações ρ2 = x2 + y2 e , são consideradas as equações de y = ρ sen θ transformação de coordenadas entre o sistema cartesiano e o sistema polar. Exemplo (2): Transformar de coordenadas cartesianas para coordenadas polares 5 3 5 os seguintes pontos do plano: a) P , 2 2 b) Q(1,−1) . Solução: Usando as equações de transformação temos: CÁLCULO VETORIAL E GEOMETRIA ANALÍTICA Luiz Francisco da Cruz – Departamento de Matemática – Unesp/Bauru 2 cos θ = 2 5 3 5 a) ρ2 = x2 + y2 = + ⇒ ρ=5 e 2 2 senθ = θ= 5 3 2 ⇒ cos θ = 3 5 2 ⇒ 5 y 1 ⇒ senθ = 2 ⇒ senθ = ρ 5 2 x ⇒ cos θ = ρ π . Portanto, P(5, π 6) . 6 b) ρ2 = 12 + (−1)2 ⇒ ρ = 2 cos θ = e senθ = x 1 2 ⇒ cos θ = ⇒ cos θ = ρ 2 2 −1 y 2 ⇒ senθ = ⇒ senθ = − ρ 2 2 ⇒ θ= 7π . 4 Portanto, Q( 2 , 7π 4) . Exemplo (3): Transformar de coordenadas polares para coordenadas cartesianas ( ) os seguintes pontos do plano: a) P 2, 4π 3 b) Q(7, 5π 6) . Solução: a) Usando as equações de transformação temos: x = ρ cos θ ⇒ x = 2 cos 4π ⇒ x = −1 3 . Portanto, P(−1,− 3) . 4π y = ρ sen θ ⇒ y = 2 sen 3 ⇒ y = − 3 7 3 5π 7 3 7 x = 7 cos 6 ⇒ x = − 2 . Portanto, Q − b) Analogamente para o ponto Q: , . 7 2 2 5 π y = 7 sen ⇒ y= 6 2 1 Equação Polar das Cônicas 1.1 Circunferência Seja uma circunferência, representada no sistema polar, de centro C(δ, α) e raio r. Seja P(ρ, θ) um ponto qualquer da circunferência. P(ρ, θ) ρ θ-α p Aplicando a Lei α θ dos r δ C e co-senos no triângulo pCP, r2 = ρ2 + δ2 − 2ρδ cos(θ − α) , que é a equação polar da circunferência. temos: CÁLCULO VETORIAL E GEOMETRIA ANALÍTICA Luiz Francisco da Cruz – Departamento de Matemática – Unesp/Bauru Alguns casos interessantes são: a) circunferência que contém o pólo. Neste caso δ = r . P(ρ, θ) p ρ θ-α C δ=r αθ e r2 = ρ2 + r2 − 2ρr cos(θ − α) ⇒ ρ ⋅ (ρ − 2r cos(θ − α) ⇒ ρ = 0 ρ − 2r cos(θ − α) ⇒ ρ = 2r cos(θ − α) Das relações anteriores vem que: ρ = 0 é chamada de equação do pólo e ρ = 2r cos(θ − α) é a equação da circunferência que contém o pólo. b) circunferência com centro sobre o pólo. Neste caso δ = 0 . P(ρ, θ) ρ=r θ e p≡C r 2 = ρ 2 + 02 − 2ρ ⋅ 0 ⋅ cos(θ − α) ⇒ r2 = ρ2 ⇒ r = ρ . Portanto, a expressão r = ρ é a equação da circunferência com centro sobre o pólo. 1.2 Elipse Considere uma elipse de eixo maior horizontal A 1 A 2 = 2a , eixo menor B1B 2 = 2b , distância focal F1F2 = 2c e centro C(m,n) como na figura abaixo. Seja P(ρ, θ) um ponto qualquer da elipse, na qual fazemos coincidir o pólo p com o foco F1 e o eixo polar com o eixo maior da elipse. B1 P(ρ, θ) ρ A1 δ θ 2c F1≡p F2 B2 A2 e CÁLCULO VETORIAL E GEOMETRIA ANALÍTICA Luiz Francisco da Cruz – Departamento de Matemática – Unesp/Bauru Aplicando a Lei dos cossenos no triângulo F1F2P vem que: δ2 = ρ2 + 4c2 − 4cρ cos θ . Da definição da elipse temos que | F1P | + | F2P |= 2a ⇒ δ + ρ = 2a ⇒ δ = 2a − ρ . Substituindo na expressão da lei dos cossenos vem que: (2a − ρ)2 = ρ2 + 4c2 − 4cρ cos θ ⇒ 4a2 − 4aρ + ρ2 = ρ2 + 4c2 − 4cρ cos θ . Da relação 2 2 notável da elipse a2 = b2 + c2 ⇒ a2 − c2 = b2 . Então: a −4 c3 = ρ(a − c cos θ) ⇒ 1 42 b2 b2 = ρ(a − c cos θ) ⇒ ρ = b2 b2 . Portanto, ρ = , que é a equação a − c cos θ a − c cos θ polar da elipse. Da equação polar ρ = b2 , dividindo todos os termos do segundo a − c cos θ membro da expressão pela constante a, vem que ρ = chamado de parâmetro da elipse e e = a a − b2 a c cos θ a . Fazendo p = b2 , a c é a excentricidade. Assim, equação polar a da elipse é mais comumente dada por ρ = p . 1 − e cos θ 1.3 Hipérbole Considere uma hipérbole de eixo real horizontal A 1 A 2 = 2a , eixo menor B1B 2 = 2b , distância focal F1F2 = 2c e centro C(m,n) como na figura abaixo. Façamos coincidir o pólo p com o foco F2 e o eixo polar com o eixo real da hipérbole. Seja P(ρ, θ) um ponto qualquer da hipérbole. P(ρ, θ) ρ δ 2c C F1 Aplicando a Lei 180o-θ dos δ2 = ρ2 + 4c2 − 4cρ cos(180o − θ) . cossenos Da θ e F2≡p no definição triângulo da F1F2P hipérbole vem que: temos que CÁLCULO VETORIAL E GEOMETRIA ANALÍTICA Luiz Francisco da Cruz – Departamento de Matemática – Unesp/Bauru | F1P | − | F2P | = 2a ⇒ δ − ρ = 2a ⇒ δ = 2a + ρ . Substituindo na expressão da lei dos cossenos: (2a + ρ)2 = ρ2 + 4c2 + 4cρ cos θ ⇒ a2 − c2 = ρ ⋅ (−a + c ⋅ cos θ) . notável a2 − c2 = −b2 ⇒ Da relação 4a2 + 4aρ + ρ2 = ρ2 + 4c2 + 4cρ cos θ ⇒ c 2 = a2 + b 2 ⇒ da hipérbole 2 2 a −4 c3 = ρ ⋅ (−a + c ⋅ cos θ) . Portanto: 1 42 ρ= − b2 b2 , que é a a − c cos θ equação polar da hipérbole. Da equação polar ρ = b2 , dividindo todos os termos do segundo a − c cos θ membro da expressão pela constante a, vem que ρ = chamado de parâmetro da hipérbole e e = a a − b2 a c cos θ a . Fazendo p = b2 , a c é a excentricidade. Assim, equação a polar da hipérbole é mais comumente dada por ρ = p . 1 − e cos θ 1.4 Parábola Considere uma parábola de eixo de simetria horizontal com vértice V, foco F e RF = p . Seja P(ρ,θ) um ponto qualquer da parábola. Façamos coincidir o pólo p com o foco F e o eixo polar com o eixo de simetria da parábola. (d) ρ R P(ρ, θ) ρ 180o-θ V Q p-ρ θ e F ≡ p No triângulo PQF vem que: cos(180o − θ) = − cos θ = p−ρ p ⇒ ρ= , ρ 1 − cos θ onde p é o parâmetro da parábola. Portanto, a equação polar da parábola é ρ= p . 1 − cos θ OBS: Note que, a elipse, a hipérbole e a parábola têm as equações polares semelhantes a menos da excentricidade e = c que para a elipse ( 0 < e < 1 ) e para a CÁLCULO VETORIAL E GEOMETRIA ANALÍTICA Luiz Francisco da Cruz – Departamento de Matemática – Unesp/Bauru a hipérbole ( e > 1 ). Outro fato importante é que, apesar de adotarmos os mesmos símbolos A 1 A 2 = 2a , B1B 2 = 2b e F1F2 = 2c para a elipse e para a hipérbole, eles tem significados geométricos diferentes na definição de cada cônica, mesmo porque a relação notável da elipse é a2 = b2 + c2 e da hipérbole é c 2 = a2 + b 2 . Assim, o parâmetro p = b2 , adotado na equação polar da elipse e da hipérbole é diferente e a não tem nada em comum com o parâmetro p da definição da parábola. Exemplo (4): Determine a equação geral da circunferência de equação polar ρ = −6senθ . Solução: Das definições de coordenadas polares vem que ⇒ y = ρ ⋅ senθ x 2 + y 2 = −6 ⋅ Exemplo ρ= (5): senθ = y . ρ Substituindo y ⇒ x2 + y2 2 2 x +y Dada a elipse de 2 na equação x2 + y2 ρ= ρ = −6senθ vem e que: = −6y ⇒ x2 + y2 + 6y = 0 . eixo maior horizontal e equação polar 32 , escrever suas equações paramétricas e a equação reduzida. 5 − 3 cos θ Solução: Das definições de coordenadas polares vem que x = ρ ⋅ cos θ 32 ρ= 5−3⋅ ⇒ x ρ ⇒ cos θ = ⇒ ρ= x . Substituindo na equação ρ ρ= x2 + y2 ρ= 32 5 − 3 cos θ e vem que: 32 ⇒ ρ ⋅ (5ρ − 3x) = 32 ⋅ ρ ⇒ 5ρ − 3x = 32 ⇒ 5ρ = 3x + 32 5ρ − 3x ρ (5ρ)2 = (3x + 32)2 25(x 2 + y 2 ) = 9x 2 + 192x + 1024 16x 2 − 192x + 25y 2 = 1024 . ⇒ 25ρ 2 = 9x 2 + 192x + 1024 ⇒ ⇒ 25x 2 + 25y 2 − 9x 2 − 192x = 1024 ⇒ Escrevendo 16 ⋅ (x 2 − 12x + 36 − 36) + 25y 2 = 1024 na ⇒ forma reduzida vem que: 16 ⋅ (x − 6)2 + 25y 2 = 1600 ⇒ (x − 6)2 y2 + = 1 (equação reduzida). Como a elipse é de eixo maior horizontal 100 64 então: a2 = 100 ⇒ a = 10 2 b = 64 ⇒ b = 8 e centro C (6,0) = (m, n) . x = m + b cos θ x = 6 + 10 ⋅ cos θ ⇒ . paramétricas são: y = n + a sen θ y = 8 ⋅ senθ Assim, suas equações CÁLCULO VETORIAL E GEOMETRIA ANALÍTICA Luiz Francisco da Cruz – Departamento de Matemática – Unesp/Bauru Exercícios Propostos 1) Determine a equação geral da circunferência de centro C(2, π 2) , sabendo-se que Resp: x2 + y2 − 4y − 48 = 0 ela passa pelo ponto P(6, 11π 6) . 2) Qual é a equação polar da elipse de equação geral 4x2 + y2 − 24x + 4y + 24 = 0 ? Resp: ρ = 1 1 − 23 cos θ 3) Seja a hipérbole de equação 9x 2 − 16y 2 − 144 = 0 . Determine sua equação polar e as coordenadas polares dos focos. Resp: ρ = 9 , F1(5,0) e F2(5, π) 4 − 5 cos θ 4) Determine a equação polar e as coordenadas polares do vértice da parábola y = − 1 x2 + 4x − 6 . 2 Resp: ρ = 1 4 1 − cos θ e V(2 5, θ) , onde θ = arcsen 5 , do 1º quadrante. 5 5) Seja a hipérbole de eixo vertical e centro na origem, cuja equação polar é ρ= 24 . Determine sua equação reduzida e as equações paramétricas. 5 − 7 cos θ Resp: x2 y2 x = 2 6 tgθ + =1 e − 24 25 y = 5 sec θ x = 3 + 20 cos θ 6) Determine a equação polar da elipse . y = 2 + 16 sen θ Resp: ρ = 64 5 − 3 cos θ 7) O foco de uma parábola é o ponto (4,3) e sua diretriz é a reta x = 2. Determine sua equação polar. Resp: ρ = 2 1 − cos θ
Documentos relacionados
Coordenadas Polares - Milton Procópio de Borba
Pode-se veri car a validade das relações encontradas, no caso em que o ponto
Leia maisCoordenadas Polares
Exemplo 1. R = c, c uma constante positiva. Esta equação representa os pontos do plano, cuja distância ao polo é igual a c, isto é, representa a circunferência de raio c e centro no polo. Observe q...
Leia mais