EcoFamílias 225
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EcoFamílias 225
Projecto EcoFamílias Relatório Final Abril de 2008 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 1. Equipa Francisco Ferreira, Vice-Presidente da Quercus, Professor universitário (supervisão) Ana Rita Antunes, Engenheira do Ambiente (coordenação) Ana Filipa Alves, Engenheira do Ambiente Sara Ramos, Engenheira do Ambiente Ricardo Gomes, Engenheiro do Ambiente Carla Verdasca, Engenheira do Ambiente Sara Campos, Ciências da Comunicação (lic.) Ana Padrão Dias, Arquitecta Patrícia Sá Santos, Arquitecta Inês Pinto, Engenheira do Ambiente Nuno Pereira, Engenheiro do Ambiente Filipa Carlos, Engenheira do Ambiente Fernando Miguel Naves Sousa, Biólogo Colaboração no capítulo "Caracterização social": Susana Fonseca, Socióloga Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 2 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 2. Índice 1. 2. 3. 4. 5. 6. Equipa ................................................................................................................... 2 Índice ..................................................................................................................... 3 Resumo Executivo ................................................................................................. 5 Introdução.............................................................................................................. 8 Objectivos ............................................................................................................ 11 Metodologia ......................................................................................................... 12 6.1 Selecção das Famílias .................................................................................. 12 6.2 Monitorização ............................................................................................... 15 6.3 Medições de consumos ................................................................................ 16 6.4 Recomendações ........................................................................................... 18 7. Caracterização social........................................................................................... 19 7.1 Caracterização social ................................................................................... 19 7.2 Práticas ambientais e de eficiência energética ............................................. 22 7.2.1 Percepção sobre os gastos energéticos do agregado ........................... 23 7.3 As condições de habitabilidade..................................................................... 24 7.3.1 Disponibilidade para investir .................................................................. 25 8. Caracterização das Habitações ........................................................................... 26 8.1 Caracterização da Construção...................................................................... 28 8.1.1 Paredes exteriores................................................................................. 31 8.1.2 Superfícies envidraçadas (janelas e portas envidraçadas) .................... 35 8.1.3 Protecção solar...................................................................................... 37 8.1.4 Orientação Solar.................................................................................... 39 9. Caracterização de Equipamentos eléctricos e Iluminação ................................... 41 9.1.1 Consumos totais de electricidade .......................................................... 44 9.1.2 Água Quente Sanitária .......................................................................... 45 9.1.3 Climatização .......................................................................................... 46 9.1.4 Cozinha ................................................................................................. 48 9.1.5 Entretenimento ...................................................................................... 50 9.1.6 Informática e Telecomunicações ........................................................... 52 9.1.7 Iluminação ............................................................................................. 54 9.1.8 Frio ........................................................................................................ 58 9.1.9 Máquinas ............................................................................................... 62 10. Análise de consumos globais ........................................................................... 64 10.1.1 Consumo energético global ................................................................... 64 10.1.2 Electricidade .......................................................................................... 66 10.1.3 Gás........................................................................................................ 68 10.1.4 Água ...................................................................................................... 68 11. Emissões de GEE vs Consumo de energia ...................................................... 71 12. Identificação do potencial de poupança energética .......................................... 73 12.1 Informática .................................................................................................... 76 12.2 Entretenimento ............................................................................................. 77 12.3 Iluminação .................................................................................................... 78 12.4 Substituição de equipamentos ...................................................................... 81 12.4.1 Frigoríficos ............................................................................................. 81 12.4.2 Arcas frigoríficas .................................................................................... 82 12.4.3 Máquina de lavar roupa ......................................................................... 83 12.4.4 Máquina de secar roupa ........................................................................ 85 12.4.5 Máquina de lavar loiça ........................................................................... 85 12.5 Temperaturas de lavagem ............................................................................ 86 12.5.1 Roupa .................................................................................................... 86 12.5.2 Loiça ...................................................................................................... 88 12.6 Mudança para contador Bi-Horário ............................................................... 90 Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 3 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 13. Conforto higrotérmico ....................................................................................... 92 14. Divulgação ..................................................................................................... 101 14.1 Solicitada pela comunicação social ............................................................ 101 14.2 Rubrica EcoFamílias – Sociedade Civil ...................................................... 102 14.3 Minuto pela Terra........................................................................................ 103 14.4 Minuto Verde .............................................................................................. 104 14.5 Seminários e Feiras .................................................................................... 107 15. Indicadores e benefícios da medida ............................................................... 109 16. Conclusões .................................................................................................... 111 Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 4 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 3. Resumo Executivo O projecto EcoFamílias teve como objectivo analisar os consumos de 225 famílias distribuídas equitativamente pelas nove zonas climáticas de Portugal Continental, definidas pelo Decreto-Lei nº 80/2006, de 4 de Abril (Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios - RCCTE) e propor medidas de redução do consumo de energia eléctrica pela alteração de comportamentos. Este projecto foi desenvolvido pela Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, promovido pela EDP Distribuição e aprovado pela ERSE no âmbito do Plano para a Eficiência no Consumo (PPEC) A adesão ao projecto foi maior nas zonas litorais e menos significativa nas zonas interiores, não se conseguindo respeitar o objectivo inicial de assegurar 25 famílias por zona. Para atingir as 225 famílias foram aceites inscrições de zonas climáticas onde o limite estabelecido de 25 famílias já havia sido atingido. Embora a selecção de famílias tivesse superado o número previsto (225), apenas foi possível acompanhar 206 devido a um conjunto de dificuldades, como a distância entre as famílias, a indisponibilidade de horários para receber a equipa EcoFamílias e a desmarcação das visitas no momento. A integração de variáveis de caracterização social neste estudo permitiu perceber que a amostra está sobrevalorizada em termos de habilitações académicas de nível superior o que tem óbvios reflexos nas profissões mais correntes. Também em termos etários se observa uma maior preponderância dos escalões intermédios. Este contexto exerce óbvias influências nas respostas e consumos registados, levando a que por vezes a realidade vivida e percepcionada se afaste do padrão da população portuguesa. As práticas quotidianas ligadas à poupança de energia surgem entre as mais frequentemente implementadas, sendo-lhes associado um baixo nível de exigência e esforço, com excepção da área da mobilidade. Mas a adopção de mais ou menos práticas ambientais e com maior ou menor frequência também decorre do conhecimento que cada agregado manifesta em relação àqueles que são os maiores consumos no espaço doméstico. Os dados recolhidos indicam que há uma relativa consonância entre os valores efectivamente medidos e a percepção de consumos mais significativos em áreas como a do frio, do uso das máquinas de lavar e secar e até da climatização. As áreas da iluminação e informática parecem sofrer de um efeito de alguma invisibilidade, no sentido em que existem claras discrepâncias entre os valores medidos e a percepção do seu peso na factura eléctrica mensal. Ainda assim, a iluminação acaba por ser uma das áreas onde a disponibilidade para investir ao longo do próximo ano mais se manifesta. A nível de construção a partir da entrada do primeiro RCCTE, em 1991, verifica-se uma melhoria do desempenho térmico das habitações e um aumento do uso de isolamento térmico, apesar de ainda longe do ideal. A tipologia de parede exterior mais comum nas habitações das EcoFamílias é composta por parede dupla de tijolo com isolamento térmico (62%). Nas superfícies envidraçadas verifica-se a mesma tendência de melhoria, depois da entrada em vigor do RCCTE. A existência de vidros duplos com caixilharia de PVC ou alumínio e corte térmico identificadas em habitações construídas antes de 1991 devem-se a situações de reabilitação. Na distribuição de consumos os equipamentos de frio (frigoríficos/combinados e arcas frigoríficas) medidos representam a maior fatia de consumo de electricidade das Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 5 Projecto EcoFamílias – Relatório Final famílias (24%). As máquinas de lavar loiça e roupa representam uma fatia de 16%. Muito próximo da categoria de Frio, estão em conjunto as categorias de Iluminação, Entretimento e Informática que, em conjunto, representam cerca de 21% do consumo total de electricidade das EcoFamílias. Estas são as categorias onde o potencial de poupança está mais associado à alteração de comportamentos, pela eliminação de consumos de stand-by e off-power e substituição de lâmpadas. Por esta razão foram também as três categorias onde o projecto mais incidiu. Através da análise dos dados de consumo eléctrico medidos nos equipamentos de entretenimento foi possível verificar que cerca de 65% destes equipamentos evidenciam a existência de consumos off-power ou stand-by. Os equipamentos informáticos têm um peso crescente nos lares portugueses. Reflexo disto é o facto de 70% das EcoFamílias possuírem computador. Em cerca de 76% das medições realizadas verificou-se a existência de consumos off-power e/ou stand-by num ou mais equipamentos. Na iluminação identificou-se a utilização predominante das lâmpadas incandescentes, representando 46% do total de lâmpadas caracterizado. Outro facto que se verifica na iluminação é uma cada vez maior utilização das lâmpadas de halogéneo (22%) e lâmpadas fluorescentes compactas (22%), o que significa já uma melhoria ao nível da eficiência energética relativamente à utilização das lâmpadas incandescentes. As lâmpadas de halogéneo apresentam um consumo elevado, relativamente ao número de horas de utilização. O potencial de poupança destas lâmpadas pode ser significativo se substituídas por lâmpadas fluorescentes compactas. Os equipamentos de frio das EcoFamílias são maioritariamente posteriores à entrada em vigor da etiqueta de eficiência energética: 86% dos frigoríficos e 72% das arcas. Também as máquinas de lavar presentes nas EcoFamílias são maioritariamente posteriores à entrada em vigor das respectivas etiquetas. O consumo médio das EcoFamílias aproxima-se da média nacional: no período em avaliação (2007) foi de 3.333 kWh/ano, enquanto a média nacional é de 3.533 kWh/ano. Em relação ao tipo de contador, verificou-se que mais de metade das EcoFamílias (51%) não têm contador bi-horário (BH). Fazendo a análise da despesa das EcoFamílias possuindo contador simples ou BH, verifica-se que compensa a todas as famílias a opção pelo contador BH, podendo-se transferir em média 1513 kWh/ano para o período de vazio. O potencial de poupança energética do projecto EcoFamílias foi calculado pela substituição de lâmpadas incandescentes e de Halogéneo por fluorescentes compactas, eliminação de consumos de stand-by e off-power. Foi também calculado o potencial de poupança pela troca de equipamentos de frio e máquinas de lavar, com tempo de retorno de investimento inferior a seis anos. Ao analisar por categoria de actuação verifica-se que as reduções mais significativas são conseguidas com a anulação de consumos stand-by e off-power dos equipamentos de entretenimento (33%), seguido pela substituição da iluminação (31%) e dos equipamentos de frio (18%). A anulação de consumos stand-by e offpower dos equipamentos de informática (17%) está em quarto lugar, seguindo-se o contributo dos microondas (1%). Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 6 Projecto EcoFamílias – Relatório Final As medidas tomadas com este projecto representam uma poupança anual de 35.815 kWh/ano, com a anulação de consumos de stand-by e off-power nas categorias de Entretenimento e Informática. As alterações de comportamento representam uma poupança de 5,3% do consumo total de electricidade das EcoFamílias. A troca de lâmpadas representa uma poupança de 22.140 kWh/ano, cerca de 3,2% do consumo. No total com alteração de comportamentos e potencial de troca de equipamentos, as famílias incluídas no projecto obtém uma poupança de 71.634 kWh/ano (10% do consumo total de electricidade), representando uma redução de 34.456 kg CO2. A Entidade Reguladora dos Sistemas Energéticos (ERSE) considera que as medidas alcançadas com o Plano de Promoção de Eficiência no Consumo de Energia Eléctrica (PPEC) em 2007 têm reflexo até 2023, o projecto EcoFamílias atinge uma poupança global de 1,07 GWh, contabilizando apenas as famílias em causa e não o efeito multiplicador muito significativo que o projecto teve, através da divulgação efectuada. O potencial de poupança aqui atingido pode ainda ser melhorado pela análise em adição da colocação de equipamentos de energias renováveis e melhoramentos nos aspectos construtivos. O potencial de poupança obtido neste projecto, aplicado a todas as famílias residentes em Portugal Continental resulta numa poupança de 1,2 TWh/ano. Esta poupança traduz-se numa redução de 586 mil toneladas de CO2, relativamente às emissões de 2007, contribuindo em cerca de 1% para o cumprimento do Protocolo de Quioto por Portugal. Este projecto foi amplamente divulgado em seminários e congressos, além de ter estado presente em programas de televisão e rádio como Sociedade Civil (RT2) e Um Minuto pela Terra (Antena 1). A inscrição voluntária das famílias e o contacto directo com as mesmas revelou um bom método de sensibilização para os consumos de energia e consequentemente com maior potencial para as poupanças energéticas. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 7 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 4. Introdução O Aquecimento Global é provavelmente o maior problema ambiental do séc. XXI. O último relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change - IPCC) confirma a acção do Homem como principal responsável pelo aquecimento global, e que as suas consequências – as Alterações Climáticas – não poderão ser já todas evitadas. O Aquecimento Global, associado à emissão de gases de efeito de estufa (GEE), está intrinsecamente ligado à forma como a sociedade e a vida humana urbana estão organizadas. Desta forma, o combate às alterações climáticas, pela diminuição da emissão dos GEE, tem que ser feito a vários níveis e todos os actores da sociedade têm um papel a desempenhar. Governos, empresas e cidadãos todos juntos, e cada um na sua dimensão e responsabilidade, podem e devem desenvolver esforços para a alteração de comportamentos e forma de estar na vida. Na sequência do denominado pacote Energia/Clima em discussão e aprovação na União Europeia como forma de responder às novas exigências de mitigação definidas na Conferência das Partes sobre Alterações Climáticas em Bali em Dezembro de 2007, Portugal encara por agora metas de emissão de GEE de 27% para o período de 2008-2012 em relação a 1990 e de 29,4% para 2020, em relação ao mesmo ano base. No entanto, em 2005 Portugal já estava 45% acima das emissões de 1990. Em 2006 registou-se uma diminuição, estando agora 40% acima das emissões, também em relação a 1990. O consumo de energia final em Portugal, entre 2000/2005, sofreu um aumento de 12%, tendo o consumo de electricidade neste período sofrido um aumento de 19,2%1. O consumo de electricidade entre 2002 e 2005 cresceu a uma média de aproximadamente 5,7% ao ano. A partir de 2005 verifica-se um abrandamento no crescimento do consumo eléctrico. Em 2006 o aumento foi apenas de 2,6% e em 2007 ainda se registou um aumento mais ligeiro de 1,8%2. O sector residencial em Portugal é uma das áreas onde o consumo de energia tem crescido consideravelmente, e as previsões mostram que este crescimento continuará. Representa 17% do total da energia final consumida e é o terceiro maior sector de consumo em Portugal, depois da indústria e dos transportes 3 (Figura 1). Um estudo da Rede Eléctrica Nacional (REN) indicou que um kWh poupado em Portugal é dez 1 Ministério da Economia e Inovação. 2008. Energia - Política Energética - Caracterização Energética Nacional - http://www.min-economia.pt/ 2 Rede Eléctrica Nacional. 2007. Dados Técnicos - www.ren.pt 3 Fernandes, Alexandre. 2007. Implementação do sistema energético em edifícios. Seminário Conservação de Energia & Energias Renováveis no Sector Doméstico, Quercus, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 8 Projecto EcoFamílias – Relatório Final vezes mais barato que um ganho no investimento da produção de energias renováveis4. Serviços 13% Agricultura 2% Transportes 35% Residencial 17% Industria 33% Figura 1 – Consumo de Energia Final em Portugal, em 2005 (DGEG, Balanço energético 2005) Existe um potencial de economia de energia elevado nas famílias devido à pouca eficiência energética do parque instalado, nomeadamente na iluminação, equipamentos de frio, equipamentos audiovisuais5 e informáticos. Outra área importante para o elevado consumo de energia no sector doméstico é a construção. A qualidade das novas habitações portuguesas é ainda muito baixa, especialmente no que concerne ao seu desempenho energético6. A falta de fiscalização no sector levou a que os regulamentos existentes fossem frequentemente ignorados ou aplicados de forma deficiente. Em 2006 foi publicada nova legislação7, muito mais exigente do ponto de vista da construção e da fiscalização, de modo a melhorar a qualidade do parque edificado. 4 Verdelho, P. 2005. Eficiência energética e gestão da procura no contexto da regulação do sector eléctrico. Seminário Conservação de Energia & Energias Renováveis, Quercus, FLAD, Lisboa. 5 ADENE – Agência para a Energia. 2004. Eficiência energética em equipamentos e sistemas eléctricos no sector residencial. 6 DECO – Pro Teste (2005). Casas novas: caras e sem conforto térmico, Pro Teste n.º 254 – Jan. 2005 - p. 8 to 13. 7 Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE) (Decreto-Lei n.º 80/2006, de 4 de Abril) e Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização dos Edifícios (RSECE) (Decreto-Lei n.º 79/2006 de 4 Abril). Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 9 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Na mesma altura foi publicada legislação com vista à certificação energética de edifícios8, de forma a aumentar a consciencialização e educação dos vendedores e compradores, com vista a uma maior eficiência energética nos edifícios. É crucial informar os cidadãos sobre os aspectos relevantes a ter em conta na compra de uma casa e encorajá-los a procurar e exigir habitações de melhor qualidade. A consciencialização dos consumidores, fornecendo às famílias informação sobre forma de utilização da energia, é essencial para estas conseguirem um consumo mais racional, anulando alguns consumos desnecessários. Também a identificação dos equipamentos ineficientes, e a sua substituição por outros eficientes, é uma medida importante para o aumento da eficiência energética. Desde 2004 a Quercus tem desenvolvido esforços e trabalho no sentido de alertar os consumidores e população em geral para o fenómeno das Alterações Climáticas e sensibilizar para o consumo de energia, através do projecto EcoCasa. No sentido de aprofundar os conhecimentos do sector doméstico com vista à redução do consumo energético, a Quercus desenvolveu em 2005/2006 o programa EcoFamílias, tendo acompanhado um grupo de 30 famílias da Área Metropolitana de Lisboa. Com base na experiência adquirida em 2005/2006, surge o projecto EcoFamílias promovido pela EDP Distribuição e aprovado no âmbito do Plano de Promoção de Eficiência no Consumo de Energia Eléctrica (PPEC) 2007. Este projecto foi alargado a todo o país, de forma a ter uma percepção mais real ao nível nacional do potencial de poupança de energia eléctrica das famílias portuguesas. 8 Decreto-Lei n.º 78/2006 de 4 de Abril, Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior nos Edifícios (SCE). Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 10 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 5. Objectivos O projecto EcoFamílias pretendeu ser um meio de sensibilização dos cidadãos para as questões ligadas ao consumo de energia eléctrica no sector doméstico, através da sensibilização para a redução e racionalização deste consumo. A realização do projecto EcoFamílias surge como forma de aproximação às famílias portuguesas, actuando directamente nas suas habitações, com o objectivo de racionalizar os seus consumos energéticos, através da mudança de comportamentos, sem contudo interferir na sua qualidade de vida. Este projecto teve também como objectivo a divulgação das acções e resultados conseguidos à escala nacional, para potenciar e alargar o alcance do projecto a todas as famílias. Os consumos energéticos ao nível doméstico não são constantes ao longo de um ano devido nomeadamente à variação própria introduzida pelas estações. O EcoFamílias acompanhou 225 famílias residentes em Portugal Continental, durante o ano de 2007. Desta forma, pretendeu-se caracterizar os hábitos de utilização de equipamentos, bem como as necessidades energéticas que são diferentes ao longo do ano, devido às diferenças climatéricas existentes no território nacional. O projecto EcoFamílias contou com a experiência adquirida numa iniciativa da Quercus, entre Novembro de 2005 e Outubro 2006, onde foram acompanhadas 30 famílias na Área Metropolitana de Lisboa. Este projecto representou um alargamento da primeira experiência, envolvendo um número consideravelmente superior de famílias e uma maior cobertura geográfica do território nacional continental. O projecto teve os seguintes objectivos e visou contribuir para: Caracterizar hábitos de consumos energéticos das famílias portuguesas; Delinear planos de gestão de procura para as famílias e promover a sua implementação; Promover a eficiência do consumo energético no sector doméstico, através do aconselhamento directo e personalizado; Reduzir os consumos das famílias, através do seu acompanhamento directo. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 11 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 6. Metodologia 6.1 Selecção das Famílias Este projecto teve como objectivo analisar os consumos de famílias pelas diferentes zonas climáticas de Portugal Continental, em 2007, decorrendo em fases distintas ao longo do tempo (Tabela 1). Para obter uma amostra representativa das várias zonas climáticas, 25 famílias por zona, o projecto foi divulgado através da internet, por comunicado de imprensa (Anexo I) e difundido através dos meios de comunicação social, nomeadamente através da RTP, Rádio Renascença e outras rádios e jornais locais. Esta divulgação teve como objectivo a inscrição voluntaria de famílias neste projecto. Tabela 1 – Fases do projecto EcoFamílias Inicio do projecto D i v u l g a ç ã o Selecção das familias Visitas EcoFamílias Instalação de equipamentos Equipamentos de Telemetria Recolha de equipamentos Avaliação do potencial de poupança Relatório Final As inscrições recebidas somaram 350 famílias no total, mas não repartidas de forma igual pelas diferentes zonas climáticas. A adesão ao projecto foi maior nas zonas litorais e menos significativa nas zonas interiores. Nas zonas climáticas cujo número de famílias era inferior ao necessário foi realizada nova divulgação, contactando directamente as Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, Escolas e Associações, para uma maior divulgação local. Os contactos regionais e locais foram realizados via e-mail, fax e por telefone e tiveram maior incidência nas zonas interior Norte e Sul, devido à baixa taxa de participação das famílias. Mesmo assim não foi conseguido o número proposto de 25 famílias em cada zona climática. Para conseguir o número global de 225 famílias foram então aceites inscrições de zonas climáticas já preenchidas com 25 famílias. Nas zonas climáticas com número superior ao pretendido o critério de selecção foi o de conseguir atingir todos os estratos sociais, de forma a ter uma amostra representativa da sociedade portuguesa. Os critérios de selecção escolhidos tiveram por base a informação presente nos dados dos Censos 2001. Nesta segunda fase as famílias foram seleccionadas tendo em conta o número de elementos de agregado familiar, a idade dos elementos, o nível de ensino do casal e número de divisões da casa. Foi também estabelecida alguma colaboração com os Gabinetes de Acção Social e Associações de Solidariedade Social, de modo a angariar famílias de estratos sociais mais baixos, de modo a constituir-se uma amostra representativa da população de acordo com os Censos de 2001. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 12 Projecto EcoFamílias – Relatório Final O universo de famílias do projecto foi então fechado com 225 famílias a nível nacional. No entanto durante as visitas surgiram algumas situações que levaram à necessidade de substituir algumas EcoFamílias, como a indisponibilidade de horários para receber a equipa EcoFamílias, desconfiança por parte das famílias, principalmente as do interior do país que se tinham inscrito através de associações, e desmarcação das visitas no momento. Assim, embora a selecção de famílias tivesse atingido as 225, para efeitos de relatório apenas foram consideradas 206 famílias (Tabela 2). Tabela 2 – Número, composição do agregado familiar e distribuição pretendida das EcoFamílias Código da Zona Climática A B C D E F G H I Zona Climática Composição do Agregado Familiar 1Pessoa 2Pessoas I1V1 3/4Pessoas 5+Pessoas 1Pessoa 2Pessoas I1V2 3/4Pessoas 5+Pessoas 1Pessoa 2Pessoas I1V3 3/4Pessoas 5+Pessoas 1Pessoa 2Pessoas I2V1 3/4Pessoas 5+Pessoas 1Pessoa 2Pessoas I2V2 3/4Pessoas 5+Pessoas 1Pessoa 2Pessoas I2V3 3/4Pessoas 5+Pessoas 1Pessoa 2Pessoas I3V1 3/4Pessoas 5+Pessoas 1Pessoa 2Pessoas I3V2 3/4Pessoas 5+Pessoas 1Pessoa 2Pessoas I3V3 3/4Pessoas 5+Pessoas Número total de famílias Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza Número de EcoFamílias 2 7 17 6 3 8 14 5 1 6 14 3 3 5 18 5 0 4 11 3 1 4 14 3 0 1 2 3 1 8 18 2 1 2 10 1 Total 32 30 24 31 18 22 6 29 14 206 13 Projecto EcoFamílias – Relatório Final A Figura 2 ilustra a distribuição geográfica do universo de EcoFamílias que integraram o projecto. Figura 2 – Distribuição geográfica das EcoFamílias Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 14 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 6.2 Monitorização Neste projecto foram utilizados instrumentos para a medição de consumos eléctricos e registo de valores de temperatura e humidade, dentro de cada habitação. A seguir descrevem-se os instrumentos utilizados, durante as fases de avaliação de consumos e potencial de poupança. Termohigrómetro com registo (data-logger) (Figura 3) – Permite a leitura e o registo de valores de temperatura e humidade, em intervalos pré-definidos, ao longo do tempo, com armazenamento de dados. Foram instalados 82 termo-higrómetros nas casas das Ecofamílias. Figura 3 – Termohigrómetro utilizado na medição e registo dos valores de Temperatura e Humidade em cada EcoFamília. Equipamento de medição local (Figura 4) – O aparelho Energy check permite a leitura de consumos eléctricos em cada tomada, para um ou mais aparelhos; capacidade de leitura e registo até 99 dias, com armazenagem de dados. Foram instalados para medição 300 energy-check. Figura 4 – Instrumento de medição utilizado na medição e registo de consumo de energia eléctrica de equipamentos Instrumento de medição remoto (Figura 5) – Este instrumento permite a telecontagem dos consumos eléctricos em cada disjuntor, enviando os dados por GPRS para uma base de dados central. Esta solução permite a monitorização de equipamentos ligados directamente ao sistema eléctrico da casa, como iluminação de tecto, fornos e placas de fogão eléctricas. Foram instalados 50 equipamentos de medição nas casas das EcoFamílias. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 15 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Figura 5 – Instrumento de telecontagem utilizado na leitura a partir do quadro eléctrico. Este equipamento que não estava inicialmente previsto, mas optou-se pela sua aquisição permitindo a análise do potencial de poupança dos electrodomésticos. 6.3 Medições de consumos Durante todo o programa, quer a caracterização dos consumos energéticos, quer a avaliação da redução dos mesmos, foram realizadas medições dos consumos de equipamentos eléctricos de acordo com as acções e ferramentas que a seguir se descrevem. Medição de consumo de equipamentos. Através de instrumentos de medição de consumos eléctricos, quer locais, quer remotos, descritos no ponto anterior (Figura 6). Com este método pretendeu-se obter uma grelha, o mais completa possível, dos consumos reais de cada equipamento para uma avaliação o mais fidedigna possível do potencial de poupança associada à anulação de stand-by e off-power dos equipamentos, troca de lâmpadas e substituição de electrodomésticos. Figura 6 – Medição de equipamentos com Energy Check Registo de níveis de temperatura e humidade relativa, através de termohigrómetros. Estes instrumentos foram instalados geralmente uma sala ou quarto principal. Os valores de temperatura e humidade foram registados em intervalos de 15 minutos. Este intervalo de tempo permite identificar as flutuações de temperatura Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 16 Projecto EcoFamílias – Relatório Final dentro de cada divisão e os períodos em que estão ligados os aparelhos de climatização. Com este método pretendeu-se perceber o desempenho das paredes exteriores e superfícies envidraçadas relativamente ao conforto higrotérmico no interior das habitações, relacionando as flutuações de temperatura e humidade ao longo do dia e de acordo com os usos da casa. Registo dos consumos globais de energia. Os consumos globais foram monitorizados através das leituras dos contadores e da análise das facturas de electricidade e gás. Foram também registadas as leituras de consumo de água, por terem implicação directa no consumo de energia, pela necessidade de aquecimento. Dado a distribuição geográfica das famílias foi pedido às famílias registassem as leituras dos seus contadores, na página de internet onde também se disponibilizaram as leituras dos equipamentos de medição remota. Nas famílias sem acesso à internet foi deixada uma folha para registo das leituras de contadores. Figura 7 – Campos de preenchimento de dados dos contadores da base de dados online. Levantamento dos equipamentos eléctricos existentes e hábitos de consumo. Através de um questionário (Anexo II) desenvolvido para o efeito foram identificados todos os equipamentos eléctricos existentes nas EcoFamílias. Para a caracterização dos hábitos de consumo foi solicitado à EcoFamília que identificasse o tempo de utilização de cada equipamento, a permanência ou não dos mesmos em stand-by. Caracterização da Construção. A caracterização da construção é relevante na medida em que o desempenho energético dos edifícios influencia o conforto interior, e determina a necessidade de recorrer à climatização para o garantir. Foi efectuada a análise da solução construtiva adoptada através de um inquérito (Anexo II). Para a caracterização foi ainda feita a medição e verificação da dimensão e espessura das paredes exteriores (materiais seleccionados para os panos de parede e isolamento térmico) e registo da orientação solar das mesmas. As janelas foram caracterizadas pelo registo das suas áreas, orientações solares, forma de sombreamento e tipo de caixilharia e tipo de vidro, adoptados em cada caso. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 17 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Caracterização social. Foi elaborado um questionário para a caracterização social das famílias, que não estava inicialmente previsto (Anexo II). 6.4 Recomendações O potencial de poupança energética foi calculado com base nas características dos consumos de: stand-by off-power iluminação equipamentos de frio máquinas de lavar roupa e loiça Este projecto teve por objectivo o aumento da eficiência energética por alteração de comportamentos e por isso incidiu mais na redução ou mesmo anulação dos consumos de stand-by e off-power, que pode ser conseguido desta forma. A mudança de hábitos de consumo também pode verificar-se na adesão aos contadores bi-horários, com consequente adequação de planos de gestão da procura. As recomendações sobre aspectos construtivos/conforto higrotérmico foram dadas na ficha de recomendações entregues às famílias. As fichas de recomendação dadas a cada família estão reproduzidas no Anexo IV deste relatório. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 18 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 7. Caracterização social9 No intenso debate que tem vindo a acontecer nos últimos anos sobre a temática da energia, a inclusão de variáveis sociais que permitam contextualizar e compreender os comportamentos e as opções quotidianas dos cidadãos tendeu a ser esquecida. Em alternativa, o debate manteve-se muito na área das tecnologias e suas potencialidades, persistindo, contudo, a perplexidade perante a não adesão dos cidadãos a soluções consideradas, muitas vezes, como claramente vantajosas em termos ambientais e económicos. Ciente desta lacuna e aproveitando a oportunidade de poder desenvolver o projecto das EcoFamílias a nível nacional, a Quercus decidiu integrar algumas questões básicas que permitem adicionar um pouco de contexto social a um conjunto alargado de dados que são recolhidos no âmbito do projecto. Assim, de seguida é apresentada uma descrição geral de algumas variáveis sociais relevantes para a análise deste tema. Não obstante o esforço realizado no sentido de procurar aproximar a amostra de famílias abrangidas pelo projecto do panorama geral do país (observável através dos dados mais recentes dos Censos 2001), os resultados apontam para um enviusamento significativo em termos de variáveis fundamentais para a temática da energia como são a idade e as habilitações académicas. Da mesma forma, o facto de o projecto abranger 225 famílias, mas de apenas 142 terem efectivamente respondido ao inquérito de caracterização social, reduziu ainda mais esta aproximação à realidade nacional. Esta diferença de inquéritos respondidos, em relação ao número de famílias deveu-se ao facto que muitas vezes não haver disponibilidade de tempo para a realização dos três inquéritos (Social, Equipamentos e Construção). 7.1 Caracterização social Uma análise de algumas das variáveis básicas em termos de caracterização social indica-nos que se verifica uma significativa dispersão das EcoFamílias pelo país, com maior destaque para a região de Lisboa, Porto, Setúbal. A tipologia familiar assume maioritariamente a figura de uma família com filhos (70%), onde ter um (41,4%) ou dois filhos (42,4%) acaba por ser a situação mais comum. Sem filhos são cerca de 14%, muito embora nestas situações possam estar também englobadas famílias em que os filhos já não residem com os pais. A coabitação entre 2, 3 ou 4 pessoas num mesmo espaço acaba por abranger cerca de 85% da amostra 9 Trabalho realizado por Susana Fonseca, Socióloga. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 19 Projecto EcoFamílias – Relatório Final inquirida, sendo a situação mais frequente a primeira (31%). Comparando estes valores com os dos Censos 2001 é possível concluir que existe alguma proximidade, registando-se uma pequena sobre-representação das famílias com 4 ou 5 elementos. Existe uma clara sub-representação das pessoas que vivem sozinhas, que nas EcoFamílias representam pouco mais de 6%, ao passo que em Portugal o valor é de 17%. Esta discrepância não é de somenos importância para esta área, quando se sabe que o aumento dos agregados de menor dimensão tende a representar um desafio significativo em termos de eficiência energética, quando comparados com agregados mais numerosos. Analisando os grupos etários é possível concluir que os mais jovens e os mais velhos se encontram em menor número do que seria de esperar quando se comparam com os Censos 2001 e os grupos etários intermédios (entre os 30 e os 44 anos e entre os 45 e os 65 anos) estão sobre-representados face à realidade portuguesa. No que concerne à ocupação profissional, observa-se um desequilíbrio na amostra em termos de habilitações académicas, onde os grupos com menor escolaridade estão sub-representados, acontecendo o oposto com o grupo dos que se enquadram numa escolaridade de nível superior. De facto, se em Portugal esta categoria não enquadra mais do que 10% da população, na amostra em análise ela ascende a quase metade (46,8%). A comparação noutras categorias torna-se um pouco mais complexa, uma vez que os dados dos Censos contabilizam toda a população e, logo, as crianças, que neste estudo estão excluídas. Assim, os números registados em graus de ensino como o 1º, o 2º e 3º ciclos serão necessariamente mais elevados nos primeiros e menores no segundo. Contudo, a discrepância registada ao nível do ensino superior não é abrangida por este contexto da mesma forma e representa, assim, um elemento fundamental a ter em conta na análise de todas as questões subsequentes, nomeadamente, as referentes a práticas e representações. Como referido, o maior relevo dos níveis de habilitações superiores determina, necessariamente, uma distribuição anormal no que concerne às profissões mais frequentes. Nesta amostra existe uma sobre-representação das profissões intelectuais e científicas (23,2% vs 8,5 nos censos 2001) e das profissões técnicas intermédias (23,9% vs 9,5%), que contrasta com uma clara sub-representação dos trabalhadores da produção industrial e artesãos (2,9% vs 25,5% nos Censos 2001) e dos trabalhadores menos qualificados das áreas da agricultura, indústria e comércio (8% vs 15%). Em geral, o trabalho por conta de outrem abrange uma boa parte da amostra (66%) e o trabalho enquanto principal meio de vida (por oposição a situações como a aposentação ou o desemprego) enquadra quase 70% dos inquiridos. Um factor sempre importante na análise das práticas de promoção da eficiência energética e, particularmente, num contexto em que se pretende promover e incentivar alterações às mesmas, é a propriedade da habitação. Nesta amostra quase 85% das famílias são proprietárias e apenas cerca de 13% são arrendatárias. Ainda que não sejam o factor fundamental, o facto das famílias sentirem que estão a investir num espaço que é seu e sobre o qual têm quase total autoridade e responsabilidade, permite-lhes encarar, com maior naturalidade, a possibilidade de proceder a mudanças de carácter estrutural que podem representar ganhos significativos em termos de eficiência energética. Por último, apresentam-se os dados relativos aos escalões de rendimento das EcoFamílias envolvidas. Esta questão é sempre complicada de aplicar e os resultados Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 20 Projecto EcoFamílias – Relatório Final nem sempre espelham a realidade, mas ainda assim foi tomada a decisão de a incluir como variável de caracterização importante para o tema. O escalão que inclui maior número de famílias é o dos 1501-3000 euros mensais (34,5%), seguido do escalão entre 750-1500 euros (21,8%) e do escalão abaixo dos 750 euros (19%). Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 21 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Tabela 3 – Distribuição das EcoFamílias segundo o rendimento declarado Rendimento Menos de 759€ Entre 750€ e 1500€ Entre 1501 e 3000€ Entre 3001 e 5000€ Entre 5001 e 10 000€ Acima de 10 000€ NS/NR Categoria 1 2 3 4 5 6 99 % 19 22 35 16 3 0,7 5 7.2 Práticas ambientais e de eficiência energética Uma análise das práticas ambientais mais frequentes em cada agregado (onde se conjugaram áreas como a energia, a água, os resíduos ou os produtos ecológicos) permite verificar que as relativas à poupança de energia em casa são as que, não só são mais frequentemente executadas, como são as que, no entender dos inquiridos, menor esforço implicam. Há apenas a sublinhar a excepção da área da mobilidade, onde a frequência da troca do transporte individual pelo transporte colectivo ou por andar a pé nas distâncias mais curtas é baixa (ainda que o conjunto das respostas sempre e alguma frequência equivalha a 66%), sendo uma das acções às quais é atribuído um maior grau de esforço para ser realizada (38%) (Tabela 4). Tabela 4 - Práticas ambientais mais frequentes e grau de esforço que lhe está associado Comprar produtos em embalagens reutilizáveis Utilizar transportes colectivos ou andar a pé em curtas distâncias Separar os resíduos Fechar a torneira quando lava os dentes ou faz a barba Comprar produtos amigos do ambiente Desligar as luzes quando não são necessárias Fechar a água enquanto se ensaboa no duche Vestir mais uma camisola para evitar ter que aquecer mais a casa Reutilizar água (por exemplo do chuveiro) Usar as máquinas da roupa e loiça com carga completa Não deixar os aparelhos em standby Secar a roupa ao ar Sempre / Algumas vezes (%) Muito esforço / Algum esforço (%) 52 43 66 38 84 20 64 16 62 41 89 15 63 39 85 13 30 42 98 9 73 23 96 7 Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 22 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Baixar os estores durante o dia no Verão 90 5 Quanto às razões para se fazer mais ou menos pelo ambiente, existem pequenas diferenças entre aquilo que se imagina que impede os restantes cidadãos de assumir práticas ambientais no seu dia-a-dia, e aquelas que são as razões apontadas para o seu agregado. Contudo, mais do que uma diferença nas razões, regista-se uma diferença na concentração em determinadas razões. Para os outros, o comodismo e a falta de informação surgem destacados enquanto razões para uma menor adopção de práticas ambientais, surgindo de seguida a perspectiva de que as pessoas não pensam nisso. Quando nos aproximamos da esfera individual, ainda que o comodismo e a falta de informação mantenham o seu protagonismo, os valores registados aproximam-se de outras razões como: ser dispendioso, não pensarem nisso ou a falta de apoio institucional à sua implementação. Também é de sublinhar o facto das não respostas subirem para o dobro. 7.2.1 Percepção sobre os gastos energéticos do agregado Criar um contexto onde seja possível trabalhar o tema da eficiência energética e propor alterações nos hábitos quotidianos dos agregados familiares implica, necessariamente, uma consciência clara sobre quais os consumos de energia com maior peso na factura familiar mensal. O desconhecimento dos portugueses sobre a questão energética (como é repetidamente sublinhado pelos dados dos vários inquéritos do Eurobarómetro sobre a matéria) e a dificuldade em lidar com um tema que tem muito de intangível (a energia não se vê e não tem uma utilidade em si, mas antes nos serviços que nos permite desfrutar), pode acarretar dificuldades acrescidas na implementação de medidas de eficiência. Perceber onde estão os maiores consumos dentro de casa é, assim, um primeiro passo para um trabalho em prol da eficiência energética. Neste sentido, as famílias abrangidas por este estudo foram questionadas sobre este tema e os resultados indicam algum desfasamento entre aqueles que são os dados oficiais e a percepção que as famílias têm sobre as áreas com maior peso na sua factura. O que os dados gerais indicam é que é a área do frio que maior peso tem na factura mensal dos agregados familiares (32%) em termos de consumo de electricidade, seguida da área do aquecimento/arrefecimento (17%), da iluminação (12%), do entretenimento (11%) e das máquinas de lavar e secar (10%). A percepção dos gastos energéticos quotidianos parece distanciar-se, em alguns casos de forma significativa, dos consumos reais e dos valores referidos acima. As máquinas de lavar surgem em primeiro lugar seguidas da área do frio. O entretenimento, a climatização e a cozinha surgem em terceiro lugar, registando o mesmo número de respostas. Em suma, quer o frio, quer a climatização, ainda que não nos lugares que lhe cabem em termos dos estudos sobre o consumo de energia nos agregados em Portugal, são percepcionados como áreas com um contributo significativo para a factura mensal. Só o caso da iluminação, incluída nos dados oficiais na categoria dos maiores consumos domésticos, fica de fora do conjunto de situações mais referidas pelos inquiridos (três mais relevantes) (Tabela 5). Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 23 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Tabela 5 - Comparação da repartição do consumo doméstico de electricidade segundo dados da ADENE10 e as respostas dos inquiridos quando questionados sobre o tema Categoria de consumo Distribuição de consumos (%) Frio Aquecimento e arrefecimento Iluminação Máquinas de lavar e secar (roupa e loiça) Entretenimento Cozinha (forno e pequenos electrodomésticos) Informática 32 17 12 10 9 3 2 Percepção das EcoFamílias no consumo (%) 21 12 10 26,5 12 12 5 7.3 As condições de habitabilidade Como já foi referido anteriormente, a componente de aquecimento/arrefecimento pode ter um peso significativo na factura energética dos agregados familiares. A necessidade de recorrer com maior ou menor frequência ao seu uso pode depender de diversos factores, muito embora um dos principais se prenda com as condições da própria habitação. Os resultados do inquérito indicam que as características da casa que mais directamente estão ligadas ao conforto térmico parecem já fazer parte dos requisitos tidos em conta para avaliar um investimento nesta área. O conforto térmico, a qualidade dos materiais e acabamentos, a existência de vidros duplos e a própria ficha técnica da habitação são critérios considerados muito importantes na avaliação de uma casa. Os factores ligados à climatização assumem menor relevo, ainda que o aquecimento central comece a ser referido já com alguma insistência quando se trata de definir as características importantes a considerar no momento de adquirir uma nova casa (63,1%). Este número deve ser olhado com alguma preocupação, principalmente se considerarmos que a existência de ar condiciona acolhe apenas cerca de metade das referências. Considerando o clima ameno de grande parte das regiões do país, e o facto de Portugal ser mais conhecido pelas suas altas temperaturas do que pelas baixas, este padrão de respostas merece uma reflexão mais profunda se o objectivo é contribuir para uma maior eficiência energética do país. Os dados sobre a satisfação com a casa que actualmente possuem, quando esta é avaliada do ponto de vista de variáveis ligadas à eficiência energética, espelham algum descontentamento, uma vez que 60% consideram estar total ou bastante 10 ADENE. Projecto EURECO – Campanha de medições por utilização em 400 unidades de alojamento na União Europeia. 2002. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 24 Projecto EcoFamílias – Relatório Final satisfeitos com o conforto térmico da sua casa e cerca de 50% referem estar nessa mesma situação em relação ao isolamento das janelas. Não se trata de valores muito negativos, mas demonstram claramente que há ainda uma larga margem de intervenção com o objectivo de promover uma maior eficiência energética e uma melhor qualidade de vida. 7.3.1 Disponibilidade para investir Tornar o quotidiano mais eficiente pode implicar a realização de investimentos substantivos, principalmente quando se pretende fazer alterações estruturais, onde muitas vezes os ganhos tendem a ser mais visíveis. No sentido de testar a disponibilidade dos agregados inquiridos para realizarem investimentos que promovam a eficiência energética, estes foram confrontados com alguns dados que lhes apresentavam os ganhos económicos que poderiam ser obtidos se fossem feitos investimentos em determinadas áreas – iluminação, frio, isolamento, vãos envidraçados, climatização, painel solar. De uma forma geral é possível afirmar que as pessoas que já investiram em cada uma destas áreas tende as rondar os 25%, sendo que o valor mais elevado se refere à instalação de janelas duplas e caixilharias (34,5%) e o mais baixo ao isolamento da casa e climatização eficiente (18%). Quanto à disponibilidade para investir durante o próximo ano, a iluminação é a que acolhe mais respostas positivas (55%), seguida da área do frio (36%), da climatização mais eficiente ou limpa (29%), do isolamento da casa (27,5 %) e por último, das janelas duplas e caixilharias (25,4%). Já no que concerne ao painel solar, cerca de 42% dos agregados inquiridos refere ter interesse em investir durante o próximo ano. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 25 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 8. Caracterização das Habitações O RCCTE – Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios – divide o território de Portugal em nove zonas climáticas (seguindo os limites de cada concelho) combinando três zonas de Inverno (I) e três zonas de Verão (V), correspondendo a zona I1V1 ao clima mais ameno e a zona I3V3 ao clima mais rigoroso. Incidindo este projecto sobre a eficiência energética e avaliação de consumos, também ao nível das habitações, a caracterização das EcoFamílias está de acordo com estas nove zonas climáticas (Figura 8). Figura 8 – Mapa das zonas climáticas de acordo com o RCCTE (DL 80/2006) Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 26 Projecto EcoFamílias – Relatório Final A distribuição das habitações das EcoFamílias quanto ao tipo de habitação é relativamente equilibrada a nível nacional: 53% reside em Moradias e 47% em Apartamentos. Esta distribuição verifica-se na generalidade das zonas climáticas, sendo que nas zonas I1V1, I1V2, I2V2 e I3V2 que tem mais apartamentos que moradias, cerca 40% e 60%, respectivamente. Neste projecto todas as EcoFamílias da zona climática I3V1 residem em Moradias (Figura 9). 100% 90% 80% 70% 60% 50% Apart 40% Moradia 30% 20% 10% 0% I1V1 I1V2 I1V3 I2V1 I2V2 I2V3 I3V1 I3V2 I3V3 Figura 9 – Tipo de habitação das EcoFamílias, por zona climática. A tipologia de habitação mais comum nas EcoFamílias é o T3 (37%), e verifica-se um equilíbrio entre T2 (27%) e T4 (22%) (Figura 10). >T5 12% T0 T1 1% 1% T2 28% T4 22% T3 36% Figura 10 – Tipologia das habitações das EcoFamílias Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 27 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 8.1 Caracterização da Construção O programa EcoFamílias, de participação voluntária, não teve como critério de selecção as características construtivas o que originou uma base aleatória, no que diz respeito a estas características. O primeiro RCCTE entrou em vigor em 1991 (Decreto-Lei 40/90 de 6 de Fevereiro), tendo sido revogado pelo Decreto-Lei 80/2006 de 4 de Abril, em vigor desde 1 de Julho de 2007. A aplicação do RCCTE teve implicações na construção dos edifícios ao nível do isolamento da sua envolvente (paredes exteriores, pavimento térreo e coberturas). O isolamento térmico da envolvente da construção influencia a capacidade de resistência à passagem de calor entre o interior e exterior, fundamental para o seu bom desempenho energético. Embora se registe uma melhoria na construção das habitações após 1991, este Regulamento teve uma aplicação deficiente. Apesar das exigências do RCCTE, continuaram a verificar-se anomalias frequentes, tais como pontes térmicas11 e paredes duplas sem tubos de ventilação ou drenagem nas suas caixas de ar12, que acabam por originar patologias de difícil reparação. É também após a entrada em vigor do RCCTE que aparecem as caixilharias com ruptura térmica13. A aplicação de vidro duplo e parede dupla torna-se praticamente uma regra a partir desta legislação. A qualidade do isolamento e da caixilharia são dois dos aspectos que foram analisados neste projecto. Quanto melhor isolada termicamente e melhor seja a orientação solar de uma habitação, melhor será o seu desempenho energético e, consequentemente, o conforto do utente. Na caracterização das soluções construtivas foi considerado o ano de construção (informação obtida junto das EcoFamílias) e, sempre que possível, foram recolhidos outros dados pela visita à habitação. Os dados recolhidos passam pela identificação dos sistemas construtivos e materiais utilizados para a envolvente directa em contacto com o exterior (paredes e envidraçados). Nas paredes e lajes pretendeu-se caracterizar os seus constituintes (materiais e isolamento), tipologia de parede (dupla ou simples, por exemplo) e nas superfícies envidraçadas (janelas e portas envidraçadas), o tipo de vidro e de caixilharia. 11 As pontes térmicas (zonas sensíveis da construção) são responsáveis, na maioria dos casos, pelo aparecimento de condensações ou outras patologias que influenciam o conforto higrotérmico, e normalmente decorrem da má aplicação do material de isolamento ou da sua inexistência. 12 A caixa de ar em parede dupla, é o espaço de ar que fica entre os panos de alvenaria (em tijolo ou outro). Este espaço poderá ser preenchido na sua totalidade ou em parte pelo isolamento térmico. 13 As caixilharias com ruptura de térmica ou corte térmico, são fabricadas de forma a promover uma redução da transmissão térmica entre 40% a 60% o que significa uma optimização no que respeita à conservação de temperatura interior. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 28 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Analisando o tipo de paredes exteriores com o ano de construção, verifica-se que a partir da entrada em vigor do RCCTE (1991) há uma melhoria do desempenho térmico destas, verificando-se também um aumento significativo do uso de isolamento térmico (Figura 11). 100% 90% 80% 70% 60% 50% >1991 40% <1991 30% 20% 10% 0% parede parede parede parede parede parede parede parede parede parede simples de simples de simples de simples de dupla de dupla de dupla de dupla de dupla de dupla de pedra s/ tijolo s/ tijolo c/ tijolo c/ tijolo s/ tijolo c/ tijolo c/ tijolo c/ tijolo c/ tijolo c/ isolamento isolamento isolamento isolamento isolamento isolamento isolamento isolamento isolamento isolamento não id. xps eps xps lã mineral poliuretano não id. Figura 11 – Tipo de parede exterior de acordo com o ano de construção das habitações. Fazendo a mesma análise para as superfícies envidraçadas verifica-se a mesma tendência de melhoria destas, depois da entrada em vigor do primeiro RCCTE (Figura 12). Na análise desta figura chama-se a atenção para a existência de vidros duplos com caixilharia PVC e vidros duplos com caixilharia de alumínio com corte térmico em habitações construídas antes de 1991, facto que se deve a situações de reabilitação. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 29 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% >1991 30% <1991 20% 10% 0% Vidro simples com caixilho de alumínio sem corte térmico Vidro Vidro Vidro simples simples simples com com com caixilho de caixilho de caixilho de alumínio madeira PVC com com corte corte térmico térmico Vidro duplo com caixilho de alumínio sem corte térmico Vidro Vidro Vidro duplo com duplo com duplo com caixilho de caixilho de caixilho de alumínio madeira PVC sem com corte corte térmico térmico Vidro duplo com caixilho de PVC com corte térmico Figura 12 – Tipo de envidraçados de acordo com o ano de construção das habitações. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 30 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 8.1.1 Paredes exteriores As alvenarias dos nossos dias são muito diferentes das construídas há alguns séculos na construção tradicional. As paredes exteriores dos edifícios, desde que concebidas e executadas de acordo com os códigos e regras construtivas adequados, são capazes de desempenhar um papel resistente e higrotérmico apropriado, mesmo quando sujeito a condições adversas. O avanço da tecnologia e dos processos construtivos permite que hoje a parede seja constituída por um conjunto de camadas justapostas de materiais distintos, desempenhando cada uma delas a sua função, de modo a que a parede resultante dê resposta a todos os requisitos construtivos exigidos, de forma o mais racional e económica possível. A transmissão de energia entre o exterior e o interior é um factor determinante no desempenho energético do edifício seja qual for o sistema de climatização, daí que a primeira decisão a tomar seja a escolha do sistema construtivo da envolvente da construção que deverá ser adequada ao clima do lugar em que se insere. Assim, as diferenças construtivas entre os elementos analisados ocorrem por diversas razões entre elas a zona do território (norte, sul e centro, interior e litoral do país), factores climáticos e data de construção da habitação. Numa parede dupla com isolamento térmico no seu interior, apenas é aproveitada parte da inércia térmica, tornando-se necessário corrigir as pontes térmicas. Este facto traduz-se numa maior área de isolamento e, consequentemente, no aumento da espessura da parede, peso da estrutura e fundações, tornando a solução mais dispendiosa. Para o seu bom desempenho, é também fundamental que exista uma caixa de ar bem ventilada (através de pequenos furos para favorecer a ventilação e drenagem). Por oposição, o sistema construtivo composto por parede simples com isolamento térmico pelo exterior faz um maior aproveitamento da inércia térmica, e não possui pontes térmicas, traduzindo-se numa solução menos dispendiosa. A tipologia de parede exterior mais comum nas habitações das EcoFamílias é composta por parede dupla de tijolo com isolamento térmico (62%), este facto é justificado por se tratar de construções posteriores a 1991 (ano de aplicação do primeiro RCCTE). Esta situação está de acordo com os resultados obtidos no inquérito social, em que 60% das famílias consideram estar total ou bastante satisfeitos com o conforto térmico da sua casa. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 31 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 1% 10% 1% 3% 4% 19% 9% 1% 1% 12% 39% parede simples de pedra s/ isolamento parede simples de tijolo s/ isolamento parede simples de tijolo c/ isolamento não id. parede simples de tijolo c/ isolamento xps parede dupla de tijolo s/ isolamento parede dupla de tijolo c/ isolamento eps parede dupla de tijolo c/ isolamento xps parede dupla de tijolo c/ isolamento lã mineral parede dupla de tijolo c/ isolamento poliuretano parede dupla de tijolo c/ isolamento não id. parede tripla de pedra + tijolo c/ isolamento xps Figura 13 – Tipo de parede e isolamento existente nas habitações das EcoFamílias A identificação do tipo de isolamento térmico utilizado foi feita com base no testemunho das famílias que em alguns casos acompanharam a construção da habitação, ou recorrendo à ficha técnica da habitação (elemento relevante na aquisição de habitação). Nem sempre foi possível confirmar a sua natureza. O tipo de isolamento mais utilizado é o poliestireno expandido (EPS), seguido do poliestireno extrudido (XPS), lã mineral e por fim poliuretano. O poliestireno expandido (EPS)14 vulgarmente conhecido como esferovite, é uma espuma termoplástica, tal como o XPS. É um material celular e que se apresenta no mercado com múltiplas formas e funções, sendo a sua aplicação na construção civil extraordinariamente variada. A sua principal vantagem é a baixa condutibilidade térmica15 (U-value) apresentada. 14 O poliestireno expandido ou EPS é um material rígido que apresenta uma estrutura assente em esferas cheias de ar produzidas através de vapor de água. 15 Condutibilidade térmica é a capacidade que uma substância possui para transmitir calor por condução. É geralmente simbolizada com a letra K ou então denominada U-value. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 32 Projecto EcoFamílias – Relatório Final O poliestireno extrudido (XPS)16, é muito utilizado actualmente na construção civil, por possuir, um baixo índice de condutibilidade térmica7 (U-value), o que o torna muito resistente às trocas térmicas, favorecendo a conservação da temperatura no ambiente interior. Possui ainda uma excelente resistência às acções mecânica e ambientais, sendo largamente utilizado nas chamadas “coberturas invertidas” em que o isolamento térmico se encontra por cima da impermeabilização. A manta de lã de rocha é um material de isolamento térmico flexível, leve e de muito fácil instalação. A lã de rocha, além de bom isolante térmico é também um excelente isolante acústico, e ainda incombustível, resistente à água, não corrosiva e não é atacada por sais nem por ácidos. É muito utilizado para isolar paredes ou na impermeabilização de lajes. Na análise do tipo de parede exterior com as zonas climáticas, ao contrário do que seria de esperar as construções não se encontram adaptadas às especificidades climáticas locais (Figura 14). O tipo de parede com pior comportamento térmico aparece nas zonas climáticas mais rigorosas, mas são também nestas zonas que residem as EcoFamílias de classes de rendimento mais baixas, o que pode influenciar estes resultados. 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% parede simples de pedra s/ isolamento parede simples de tijolo s/ isolamento parede simples de tijolo c/ isolamento não id. parede parede dupla parede dupla parede dupla parede dupla simples de de tijolo s/ de tijolo c/ de tijolo c/ de tijolo c/ tijolo c/ isolamento isolamento isolamento isolamento lã isolamento eps xps mineral xps I1V1 I1V2 I1V3 I2V1 I2V2 I2V3 I3V1 I3V2 parede dupla parede dupla parede tripla de tijolo c/ de tijolo c/ de pedra + isolamento isolamento tijolo c/ poliuretano não id. isolamento xps I3V3 Figura 14 – Tipo de parede exterior de acordo com a zona climática 16 O poliestireno extrudido ou XPS é uma espuma homogénea rígida de poliestireno, obtida por um processo de extrusão em contínuo, que se apresenta sob a forma de placas de cor azul ou rosa. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 33 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 34 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 8.1.2 Superfícies envidraçadas (janelas e portas envidraçadas) Através das superfícies envidraçadas ocorrem as maiores trocas térmicas. De um modo geral, traduzem-se em ganhos térmicos no Verão e perdas térmicas no Inverno. A orientação solar dos envidraçados é também um factor importante em termos térmicos e em termos de iluminação, condicionando o conforto interior. A energia acumulada é influenciada pela intensidade da radiação solar incidente na superfície envidraçada, da sua área e do seu factor solar17. Em Portugal, o quadrante Sul é o mais favorável para os ganhos térmicos uma vez que recebe radiação solar directa ao longo do dia. No quadrante Norte a iluminação é constante mas é também o quadrante onde não se registam ganhos térmicos e existem perdas térmicas, uma vez que não recebe radiação solar directa. No quadrante Este, durante o período da manhã ocorrem os ganhos térmicos, período em que recebe radiação solar directa. A Oeste os mesmos ganhos ocorrem durante o período da tarde, devido ao “movimento aparente” do Sol. A utilização de vidros duplos, preferencialmente de baixa emissividade18, com caixilharias com corte térmico, pode reduzir até 50% das perdas térmicas pelas janelas, assim como o ruído do exterior. Importa frisar que, por exemplo, cerca de 15% da energia utilizada para aquecimento e arrefecimento de uma habitação é perdida através de frinchas existentes em caixilharias mal vedadas ou empenadas. A caracterização das superfícies envidraçadas das habitações das EcoFamílias foi feita tendo em conta o tipo de vidro e caixilharia existente. Ao analisar as superfícies envidraçadas existentes, e tal como já foi mostrado na Figura 12, verifica-se que a maioria é composta por vidro duplo (os envidraçados possuem 52% vidro duplo e 48% possuem vidro simples). Estes resultados estão relacionados com o facto de, a partir de 1991, o RCCTE estabelecer a sua obrigatoriedade (embora nem sempre se verifique) e por se tratar de uma medida relativamente simples, face a outras, na área da construção, que melhora significativamente o conforto térmico do edifício. Esta situação está de acordo com os resultados obtidos no inquérito social, em que 50% das famílias consideram estar total ou bastante satisfeitos situação em relação ao isolamento das janelas. Em relação ao material da caixilharia verificou-se que a maioria é em alumínio (71% de alumínio; 19% de madeira; 10% PVC) (Figura 15). Verifica-se também que a caixilharia em madeira tem entrado em desuso provavelmente devido ao seu 17 O factor solar de um envidraçado é o quociente entre a energia que o atravessa e a radiação solar que nele incide. 18 A emissividade mede a capacidade de um corpo em emitir energia. Os vidros de baixa emissividade possuem a característica de reduzir a transferência de calor, proporcionando um elevado isolamento térmico. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 35 Projecto EcoFamílias – Relatório Final comportamento térmico e, principalmente porque empenam com o uso e a idade, com os respectivos inconvenientes associados, tanto na abertura e fecho das janelas. 4% 4% 4% 30% Vidro simples com caixilho de alumínio sem corte térmico Vidro simples com caixilho de alumínio com corte térmico Vidro simples com caixilho de madeira Vidro simples com caixilho de PVC com corte térmico 21% Vidro duplo com caixilho de alumínio sem corte térmico 1% Vidro duplo com caixilho de alumínio com corte térmico Vidro duplo com caixilho de madeira 15% 19% 2% Vidro duplo com caixilho de PVC sem corte térmico Vidro duplo com caixilho de PVC com corte térmico Figura 15 – Tipo de envidraçados existentes nas habitações das EcoFamílias Ao analisar o tipo de vidro e o tipo de caixilho verificamos que a maior percentagem (21%) corresponde a envidraçados compostos por vidro duplo com caixilharia em alumínio com corte térmico, seguido dos envidraçados compostos por vidro duplo com caixilho de alumínio simples (19%). Verifica-se que as melhores soluções de tipos de vidro e caixilho, analisado em função da zona climática, encontram-se nas zonas onde o clima é menos rigoroso (Figura 16). Este facto pode ser motivado por uma maior preocupação com o conforto interior ou devido às EcoFamílias destas zonas climáticas pertencerem a classes de rendimento mais elevadas. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 36 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Vidro Vidro Vidro Vidro Vidro duplo Vidro duplo Vidro duplo Vidro duplo Vidro duplo simples simples simples simples com com com com com com com com com caixilho de caixilho de caixilho de caixilho de caixilho de caixilho de caixilho de caixilho de caixilho de alumínio alumínio madeira PVC sem PVC com alumínio alumínio madeira PVC com sem corte com corte corte corte sem corte com corte corte térmico térmico térmico térmico térmico térmico térmico I1V1 I1V2 I1V3 I2V1 I2V2 I2V3 I3V1 I3V2 I3V3 Figura 16 – Tipo de envidraçado de acordo com a zona climática. 8.1.3 Protecção solar A protecção solar é quase sempre imprescindível para se poder tirar partido da nossa maior fonte de energia – o Sol. Esta pode ser conseguida por exemplo, através de estores ou portadas, pelo lado exterior do vidro. Os raios solares ao atingirem directamente o vidro geram o chamado "efeito de estufa": atravessam o vidro e vão aquecer a habitação, sendo depois impedidos pelo mesmo de voltarem a sair. Uma vez aquecida a massa de ar interior, o calor só se perde à noite, quando a temperatura exterior é inferior à interior19, pois o fluxo de calor através do vidro verifica-se sempre da temperatura mais alta para a mais baixa. Em termos de ganhos e perdas térmicas, existem diferenças entre proteger os envidraçados pelo exterior ou pelo interior. Uma janela protegida pelo interior do vidro deixa passar mais 20% a 30% da radiação solar para o seu interior, do que uma protegida pelo exterior. Este facto pode ser vantajoso no Inverno, mas no Verão pode conduzir a um sobreaquecimento do interior, e a um consequente aumento do gasto de energia em sistemas de climatização para o frio. No entanto, no que diz respeito a 19 O fluxo de calor, neste caso através do vidro, verifica-se sempre da temperatura mais alta para a mais baixa. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 37 Projecto EcoFamílias – Relatório Final perdas térmicas, uma janela a Norte com sombreamento pelo exterior, pode deixar perder mais calor durante a noite do que uma protegida por estores interiores, o que igualmente, poderá conduzir a um aumento de gasto de energia em sistemas de climatização para aquecer no Inverno. Das habitações analisadas, 78% apresenta protecção pelo interior e exterior, maioritariamente com recurso a estores no exterior e cortinados no interior. Os estores podem ser úteis para alcançar o conforto interior desde que se faça um correcto uso deles. A protecção pelo interior representa 12% das EcoFamílias, seguido de 6% de protecção pelo exterior (Figura 17). 1% 1% 12% Protecção pelo interior 2% 6% Protecção entre janelas Protecção pelo exterior Protecção pelo interior e exterior Protecção interior e entre janelas Nenhum tipo de protecção 78% Figura 17 – Localização do protecção solar nas habitações das EcoFamílias. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 38 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 8.1.4 Orientação Solar De acordo com a análise efectuada no que diz respeito à envolvente das habitações (paredes exteriores e superfícies envidraçadas), todas as orientações solares são contempladas, existindo um relativo equilíbrio nessa distribuição. Esta orientação é dada pela orientação da fachada com maior área envidraçada (Figura 18). 100% 90% 80% 70% O 60% SO S 50% SE E 40% NE N 30% NO 20% 10% 0% I1V1 I1V2 I1V3 I2V1 I2V2 I2V3 I3V1 I3V2 I3V3 Figura 18 – Orientação solar por zona climática. A orientação Norte deve ser evitada porque é neste quadrante que ocorrem grandes perdas térmicas e não existem ganhos, uma vez que não recebe radiação solar directa, independentemente da altura do ano e do dia. Isto significa que no Inverno, os gastos de energia para manter a temperatura de conforto aumentam e pode ser necessário recorrer a iluminação auxiliar durante o dia. A orientação Sul, como já foi referido, é a que apresenta maior potencialidade para o aproveitamento do Sol. A incidência da radiação solar neste quadrante pode ser controlada na sua totalidade com o recurso a estores, portadas, palas de sombreamento horizontais ou outros elementos de sombreamento, uma vez que o Sol, consoante a estação do ano, apresenta diferentes ângulos de incidência solar. A Nascente e a Poente, a entrada de raios solares através das superfícies envidraçadas é de difícil controlo. O período da manhã é aquele em que se regista a incidência solar directa a Nascente e quando ocorrem os ganhos térmicos. O mesmo se verifica a Poente mas no período da tarde. Nestas orientações os raios solares Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 39 Projecto EcoFamílias – Relatório Final atingem uma inclinação quase perpendicular ao vidro, o que dificulta a sua protecção de outro modo que não seja a total. Assim, recomenda-se que no Verão se protejam os envidraçados no período da manhã a Nascente, podendo desprotege-los no período da tarde, promovendo também a ventilação dos compartimentos. A Poente os envidraçados devem ser protegidos no período da tarde. Durante o Inverno dever-se-á fazer o processo inverso de modo a promover os ganhos solares e minimizar as perdas térmicas Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 40 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 9. Caracterização Iluminação de Equipamentos eléctricos e Tal como descrito no capítulo da Metodologia, a recolha de dados foi efectuada através dos inquéritos de identificação e utilização dos instrumentos de medição de consumos locais e remotos e também pelo registo das leituras dos contadores de electricidade, gás e água. Através do inquérito de levantamento dos equipamentos eléctricos existentes foram identificados 170 equipamentos diferentes nas EcoFamílias. A Figura 19 mostra a taxa de presença dos equipamentos nas EcoFamílias. Nesta análise não foram considerados os equipamentos presentes em menos de 10% das EcoFamílias, por não se considerar como presença significativa. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 41 Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza Figura 19 – Taxa de presença dos equipamentos nas EcoFamílias. 42 Equipamentos Video Ventoinha Video Ventoinha Torradeira Termoventilador Televisão Telefone Secador Router rádio PS Portátil Placa Microondas Maquina secar Maquina Roupa Maquina loiça Maquina Café Irradiador a oleo Impressora Frigorifico Forno Ferro Engomar Exaustor Esquentador a gás DVD Desumidificador Despertador Descodificador Computador Combinado Colunas Caldeira Calculadora Aspirador Arca Ar Condicionado Aquecedor electrico Aparelhagem Antena interior Taxa de presença (%) Projecto EcoFamílias – Relatório Final 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Pela análise da Figura 19 verifica-se que equipamentos como fogão, frigorífico/combinado, máquina de lavar roupa existem em todas as EcoFamílias e 85% das famílias possuem micro-ondas. Outros equipamentos como computador estão presentes em cerca de 70% das famílias abrangidas por este programa. Os equipamentos identificados foram agrupados nas seguintes categorias: Água Quente Sanitária (AQS) Climatização Cozinha Entretenimento Frio Iluminação Informática e Telecomunicações Máquinas e Outros Na medição de consumos eléctricos, foram caracterizados 653 equipamentos no total das 206 EcoFamílias, numa média de 3 equipamentos por EcoFamília. A medição de alguns aparelhos apresentou algumas dificuldades. O caso dos electrodomésticos encastrados, sistemas de aquecimento e caldeiras, em que não se consegue ter acesso às fichas de electricidade dos mesmos, foi uma condicionante às medições efectuadas em várias habitações. A opção de colocar numa parte das habitações instrumentos de mediação nos disjuntores foi precisamente para ultrapassar esta dificuldade. No entanto, muitos dos quadros eléctricos encontrados estão mal estruturados, tendo muitos circuitos no mesmo disjuntor. Assim, em vez de medições de apenas um equipamento obteve-se uma medição simultânea de vários equipamentos, o que não ajudou a uma caracterização pormenorizada em muitos casos. Os equipamentos de entretenimento (televisão, DVD, vídeo-gravador, etc.) estão todos ligados à mesma tomada, que se encontra por trás de móveis, o que tornou por vezes a sua medição impraticável. Em alguns casos ainda assim foi possível medir os equipamentos mas apenas em conjunto. Houve também casos em que se assumiu medir alguns equipamentos em conjunto, por se verificar que existiam em quase todas as casas, como por exemplo um conjunto composto por uma televisão, DVD, aparelhagem de som e descodificador de televisão (vulgarmente conhecido por powerbox). Na fase de validação, algumas medições foram ainda rejeitadas. Para além disso, existiram medições que não foi possível considerar devido a problemas com os dados dos instrumentos de medição local e remoto, o que condicionou uma caracterização mais completa das famílias. A leitura dos contadores de algumas EcoFamílias também não foi possível, devido ao facto de alguns se encontrarem fechados, apenas acessíveis para os técnicos das empresas. Dado que se optou pela inserção, por parte das famílias, dos dados dos contadores numa base de dados online, há algumas falhas de registo, existindo mesmo famílias que não existem valores das contagens. Nas famílias sem acesso à internet foi entregue uma folha para o registo das leituras, mas muitas das famílias não os registaram. Como se pode verificar pelas situações descritas, a implementação do programa EcoFamílias no terreno teve que transpor algumas dificuldades e ajustar-se em alguns momentos às situações que iam surgindo. Desta experiência resulta que os dados Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 43 Projecto EcoFamílias – Relatório Final recolhidos em cada EcoFamília apresentam diferenças, quer em termos de qualidade, quer em quantidade. 9.1.1 Consumos totais de electricidade Na Figura 20 apresenta-se a repartição dos consumos de electricidade com base nos consumos eléctricos dos equipamentos medidos. No caso da iluminação e climatização, o valor apresentado foi calculado através da potência e tempo de utilização referido pelas famílias, por não ter sido possível medir. Não medido 30% Entretenimento 6% Informática 7% Máquina de lavar loiça 7% Máquina de lavar roupa 9% Iluminação 8% Climatização 9% Arca 10% Frigorífico 14% Figura 20- Distribuição dos consumos de electricidade pelas categorias. Os equipamentos de frio (frigoríficos/combinados e arcas) medidos representam a maior fatia de consumo (24%). As máquinas de lavar loiça e roupa representam 16% do consumo total. Os equipamentos não medidos incluem aparelhos de ar condicionado, electrodomésticos encastrados, equipamentos eléctricos de aquecimento de águas sanitárias e pequenos electrodomésticos. Muito próximo da categoria Frio, estão em conjunto as categorias de Iluminação, Entretimento e Informática representam cerca de 21% do consumo total das EcoFamílias. Estas são as categorias onde este projecto vai incidir mais na alteração de comportamentos para a eliminação de consumos de stand-by e off-power e substituição de lâmpadas. A análise dos equipamentos eléctricos foi feita por categorias, visto terem sido realizadas medições individuais e por grupo de equipamentos. A compreensão desta distribuição de consumos é fundamental para a mudança de comportamentos. A comparação da repartição dos consumos das famílias (Figura 20) com a percepção que estas têm dos mesmos (Tabela 5), permitiu verificar que há alguma concordância no que concerne à área do frio e mesmo da climatização. Já em Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 44 Projecto EcoFamílias – Relatório Final termos das áreas da iluminação e das máquinas de lavar observa-se uma subvalorização no primeiro caso e o efeito contrário no segundo. De sublinhar, é ainda o facto dos consumos reais medidos nas EcoFamílias comprovarem a percepção que os inquiridos têm sobre o peso que o consumo das máquinas de lavar (roupa e loiça) tem nas despesas mensais do agregado, o que não acontece quando comparamos com os dados oficiais. Esta aparente incoerência poderia levar a uma interpretação que apontasse para uma incorrecta percepção dos inquiridos sobre as áreas de maior consumo de electricidade no seu agregado, quando o que se verifica é que as medições registadas nas EcoFamílias, dão origem a padrões de consumo diferentes dos registados entre a população portuguesa em geral. Tal situação não será de estranhar, face às diferenças sublinhadas no capítulo da caracterização social em variáveis tão relevantes para este tema, como são o grau de habilitações, a idade ou a ocupação profissional. A área da iluminação é aquela onde a distância entre os dados reais relativos à população portuguesa ou os dados recolhidos nas EcoFamílias e a percepção do consumo é maior, isto quando analisamos as principais categorias de consumo. 9.1.2 Água Quente Sanitária Na Tabela 6 encontram-se os equipamentos presentes nas EcoFamílias, para o aquecimento da água. Tabela 6 – Tipo de Equipamentos da categoria de Águas Quente Sanitária presentes nas EcoFamílias Tipo de Equipamento Categoria AQS Esquentador Caldeira a gás Termoacumulador Caldeira a gasóleo Painel solar Nas EcoFamílias, ainda prevalece o gás como fonte de energia para aquecimento de águas, quer através de esquentadores, como caldeiras (Figura 21). Renováveis 6% Lenha 1% Gasóleo 6% Eléctrico 6% Gás 81% Figura 21 – Distribuição das várias formas de energia para AQS, nas EcoFamílias Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 45 Projecto EcoFamílias – Relatório Final O gasóleo apresenta um peso significativo, 6%, estando na mesma proporção que a energia eléctrica e energias renováveis. 9.1.3 Climatização Na Tabela 7 apresentam-se os equipamentos presentes nas EcoFamílias, para o aquecimento e arrefecimento das habitações. Tabela 7 – Tipo de equipamentos da categoria Climatização presentes nas EcoFamílias Categoria Climatização Tipo de Equipamento Desumidificador Acumulador de calor Aquecedor infra-vermelhos Escalfeta Aquecimento central eléctrico Ar condicionado Lareira eléctrica Aquecimento central a gás Aquecedor de halógeneo Braseira eléctrica Irradiador a óleo Termoventilador Ventoinha Aquecedor Catalítico Aquecimento central a gasóleo Lareira a lenha Os equipamentos eléctricos são mais utilizados pelas EcoFamílias, sendo o irradiador a óleo o equipamento mais presente (30%), seguido dos equipamentos de ar condicionado (18%). Figura 22 – Equipamentos de climatização (ar Condicionado e lareira com recuperador de calor) Analisou-se a presença de equipamentos de climatização por escalão de rendimentos e verifica-se que o escalão médio de rendimento – escalão 3 – tem um maior número de famílias com equipamentos de climatização, e com maior variedade de tipos de equipamentos (Figura 23). Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 46 Projecto EcoFamílias – Relatório Final O menor número de equipamentos de climatização na classe de rendimentos superior pode ser justificado pelas melhores soluções construtivas das habitações, o que implica uma menor necessidade de utilização destes equipamentos. 120 100 Número de famílias 80 60 40 20 0 1 2 3 4 5/6 99 Classe de rendimento Irradiador óleo Termoventilador Desumidificador Aquecedor catalítico Lareira Fogão a lenha Aquecimento central a Electricidade Aquecedor infra-vermelhos Aquecimento Central a gás Acumulador de calor Aquecimento Central Gasóleo Lareira electrica Emissor térmico Ar Condicionado Ventoinha Escalfeta Braseira Aquecedor halogéneo Econo-heat Figura 23 – Presença dos vários tipos de equipamentos de climatização existente nas EcoFamílias, por escalão de rendimento. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 47 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 9.1.4 Cozinha Os equipamentos eléctricos presentes numa cozinha são muitos variados, com características e funções muito diferentes (Tabela 8). Tabela 8 – Tipo de equipamentos da categoria Cozinha presentes nas EcoFamílias. Tipo de Equipamento Máquina de café Categoria Batedeira Espremedor de citrinos Exaustor Máquina de Pão Micro-ondas Placa a gás Picador de gelo Forno eléctrico Placa eléctrica Torradeira Fritadeira eléctrica Grelhador eléctrico Cozinha Jarro eléctrico Robô Cafeteira Liquidificador Bimby Fiambreira Forno a gás Iogurteira Máquina de cozer a vapor Panela eléctrica Placa vitrocerâmica Tostadeira Varinha mágica Picadora Máquina de sumos Base para comida quente Chaleira Fogão com placa electrica Placa de indução Máquina de batidos Misturadora Patusca No que respeita aos electrodomésticos de cozinhar a placa a gás continua a ter muito maior peso (82%) do que as eléctricas (Figura 24) No caso do forno existe uma maior presença de fornos eléctricos nas casas das EcoFamílias (69%). Forno a gás 31% Placa eléctrica 18% Forno electrico 69% Placa a gás 82% Figura 24 – Percentagem de placas e fornos a gás e eléctricos As medições de consumos nas cozinhas apresentam algumas dificuldades por diversas razões, entre as quais electrodomésticos encastrados ou ligados directamente à instalação eléctrica da casa (por exemplo, forno eléctrico e exaustor). Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 48 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Dos pequenos electrodomésticos apresentados na Tabela 8 o mais comum, e também o mais utilizado, é o micro-ondas, estando presente em cerca de 85% das EcoFamílias. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 49 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 9.1.5 Entretenimento Na análise do tipo de equipamentos de Entretenimento (Figura 25) existentes nos lares das EcoFamílias, verificou-se que 99% têm pelo menos um aparelho de televisão, sendo que uma família não possui este equipamento por opção e a outra possui um videoprojector. Outros equipamentos como DVD ou aparelhagem de som, são comuns nas EcoFamílias, encontrando-se em 80% e 64 % das famílias, respectivamente. Nesta categoria estão ainda incluídos equipamentos como o descodificador de televisão (vulgarmente conhecido por powerbox) ou consolas, num total de 29 tipos de equipamentos (Tabela 9). Figura 25 – Equipamentos de entretenimento Tabela 9 – Tipo de equipamentos de Entretenimento presentes nas EcoFamílias. Tipo de Equipamento Categoria Amplificador Aparelhagem de som Entretenimento Leitor de CDs Descodificador Sist. de som panorâmico Consola Adaptador TV Gira-Discos LCD Plasma PlaySation Subwoofer Transmissor Volante PS Video Vídeo DVD Porta CD Rádio Auscultadores sem fios Satélite Televisão Adaptador PS Antena Interior Karaoke Leitor ipod Projector Receptor Comando Transformador Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 50 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Do consumo dos equipamentos medidos verificou-se que nas EcoFamílias os aparelhos de entretenimento apresentam grandes variações de consumos: entre os 3 e os 822 kWh/ano, numa média de cerca de 223 kWh/ano (Figura 26), que corresponde em média a 6% do consumo total de electricidade. Analisando ainda o gráfico os resultados nesta categoria, concluiu-se que o consumo total destes aparelhos não é semelhante em famílias do mesmo escalão de rendimento. 900 Consumo (kWh/ano) 800 700 600 500 400 300 200 100 1(B09) 1(G06) 1(H21) 1(I02) 2(A02) 2(A25) 2(D01) 2(D09) 2(D11) 2(D12) 2(D22) 2(F02) 2(F16) 2(H08) 2(I08) 3(A11) 3(A26) 3(B34) 3(B36) 3(C04) 3(C15) 3(C16) 3(D15) 3(D21) 3(D26) 3(F07) 3(F18) 3(H25) 3(H33) 4(A07) 4(B21) 4(E08) 4(E10) 4(E24) 4(F11) 4(F12) 4(F15) 4(I20) 5(A38) 5(D23) 99(F10) 0 EcoFamília Figura 26 – Consumo dos equipamentos de Entretenimento (kWh/ano) nas EcoFamílias, por escalão de rendimento. Através da análise dos dados de consumo eléctrico medidos nestes equipamentos foi possível verificar que cerca de 65% evidenciam a existência de consumo off-power ou de stand-by. Equipamentos como as aparelhagens de som e os leitores de DVD e vídeo são normalmente fontes de consumos off-power. Uma outra análise neste grupo foi a influência da potência dos aparelhos no consumo total de electricidade. Assim, analisou-se grupo de equipamentos com a mesma constituição, tendo sido possível nas EcoFamílias A11, A26 e A38. Na análise do grupo constituído por televisão, DVD e Aparelhagem verifica-se que o consumo mais elevado é no conjunto com maior potência e não no que apresenta mais horas de consumo (Figura 27). Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 51 10000 9000 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 600 500 400 300 200 100 Consumo (kWh/ano) horas/ano Projecto EcoFamílias – Relatório Final 0 3(A11) 3(A26) 5(A38) EcoFamília Tempo (horas/ano) Consumo (kWh/ano) Consumo instantâneo (W) Figura 27 - Comparação entre o número de horas de utilização e o consumo médio por mês do grupo de entretenimento constituido por televisão, DVD e Aparelhagem. 9.1.6 Informática e Telecomunicações Os equipamentos informáticos (Figura 28) têm um peso crescente nos lares portugueses. Reflexo disto é o facto de 70% das EcoFamílias possuírem computador. Figura 28 – Equipamentos de informática Os computadores fixos estão presentes em 62% das famílias e os portáteis em 19%. Nesta categoria foram identificados 21 equipamentos diferentes nesta categoria (Tabela 10). Tabela 10 – Tipo de equipamentos da categoria Informática e Telecomunicações existentes nas EcoFamílias Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 52 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Categoria Calculadora Carregador de telemóvel Colunas Computador pessoal Computador portátil Informática e Sintetizador Telecomunicações Fax Carregador de pilhas Disco externo Transformador USB com placa de rede Tipo de Equipamento Impressora Modem Monitor Multifunções Scanner Telefone Carregador máquina fotográfica Router UPS Webcam Das medições realizadas nesta categoria, não se encontrou uma relação entre os rendimentos da família e o consumo deste tipo de equipamentos. Como se pode verificar pela Figura 29, o consumo destes equipamentos é muito variável entre famílias, dependendo muito da utilização que cada uma faz destes equipamentos (trabalho ou lazer). Os consumos nesta categoria variam de 48 a 3.202 kWh/ano, representando um peso médio de 7% da factura total de electricidade. 3500 Consumo (kWh/ano) 3000 2500 2000 1500 1000 500 2(B16) 2(D08) 2(D22) 2(E01) 2(E17) 2(F02) 2(F14) 3(A18) 3(A19) 3(A20) 3(A23) 3(B15) 3(B18) 3(B20) 3(C08) 3(C13) 3(C17) 3(D15) 3(E28) 3(F08) 3(F25) 4(A03) 4(A32) 4(C01) 4(C27) 4(E08) 4(E10) 4(F03) 4(F11) 4(I20) 5(A38) 5(F19) 99(B11) 0 EcoFamília Figura 29 – Consumo eléctrico da categoria Informática (kWh/ano) nas EcoFamílias Em cerca de 76% das medições realizadas verificou-se a existência de consumos offpower e/ou stand-by num ou mais equipamentos. Fazendo a análise individual dos equipamentos verificou-se a existência de consumos off-power em computadores, multi-funções e colunas de som. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 53 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 9.1.7 Iluminação Na categoria Iluminação foram identificados 6 tipos de lâmpadas nas EcoFamílias (Tabela 11). Tabela 11 – Tipo de equipamentos de Iluminação presentes nas EcoFamílias. Tipo de Equipamento Categoria Iluminação Lâmpada de halogéneo Lâmpada fluorescente LED Lâmpada fluorescente compacta Lâmpada incandescente Néon Na iluminação (Figura 30) identificou-se a utilização, ainda predominante, das lâmpadas incandescentes, representando 46% do total de lâmpadas caracterizado (Figura 31). Outro facto que se verifica na iluminação é uma cada vez maior utilização das lâmpadas de Halogéneo (22%) e lâmpadas fluorescentes compactas (22%), o que significa uma melhoria ao nível da eficiência energética relativamente à utilização das lâmpadas incandescentes. As lâmpadas fluorescentes encontrando-se principalmente nas cozinhas (10%). Duas EcoFamílias, já optaram em algumas zonas da casa por LEDs, e uma possuía Néons. Figura 30 – Iluminação de halogéneo Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 54 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Lâmpada fluorescente 10% Lâmpada fluorescente compacta 22% Lâmpadas de halogéneo 22% LED 0,33% Néon 0,07% Lâmpadas incandescentes 46% Figura 31 - Percentagem de presença dos vários tipos de lâmpadas nas EcoFamílias Nesta categoria foram poucas as medições que se conseguiram realizar, visto a iluminação ser predominantemente de tecto. Na contabilização total da Iluminação existente numa habitação, os candeeiros de secretária, de sala ou de quarto, têm pouco peso (13% do número total de lâmpadas). Da análise da iluminação existente nas EcoFamílias verificou-se que a potência média das lâmpadas incandescentes é de 43 Watts (W) e a das lâmpadas de Halogéneo é de 59W. No caso das lâmpadas fluorescentes, a potência média é de 27W e a das lâmpadas fluorescentes compactas é de 13W. O número médio por quarto nas EcoFamílias é de 3 lâmpadas. Na análise da Iluminação verifica-se que em praticamente todas as EcoFamílias ainda existe uma presença significativa das lâmpadas incandescentes, em todos os escalões de rendimento (Figura 32). Nestes casos, o potencial de redução de consumo pela troca por lâmpadas fluorescentes compactas, poderá ser elevado, dependendo do tempo de utilização das mesmas. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 55 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Número médio de lâmpadas 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 1 2 3 4 5/6 99 Classe de rendimento LH LF LFC LI Figura 32 – Número médio e tipo de lâmpadas existentes por EcoFamília, por escalão de rendimento. Relativamente às lâmpadas de halogéneo verifica-se que também têm uma presença muito forte nas habitações (22%), em parte devido à construção, com a sistematização de tectos falsos com iluminação de Halogéneo embutida, mas também devido aos fabricantes de candeeiros, que apostaram fortemente nos candeeiros para estas lâmpadas. Pela análise da Figura 32 verifica-se um aumento do número de lâmpadas fluorescentes compactas com a classe de rendimento. Na categoria de Iluminação foram cruzados os dados de tempo de utilização com o consumo das lâmpadas (Figura 33). Em termos de utilização das lâmpadas verifica-se que as lâmpadas fluorescentes de 36 W são as mais utilizadas. Verifica-se também que apesar de uma utilização elevada dos LED de 2W, o consumo associado a este é muito baixo. Consumo médio (kWh/ano) 60 50 40 30 20 10 0 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 tempo médio (h/ano) Lâmpada de Halogéneo 50 Lâmpada de Halogéneo 55 Lâmpada fluorescente 18 Lâmpada fluorescente 36 Lâmpada fluorescente compacta 11 Lâmpada fluorescente compacta 15 Lâmpada incandescente 25 Lâmpada incandescente 40 Led 1,3 Led 2 Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 56 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Figura 33 – Consumo médio e tempo de utilização médio por tipo de lâmpada As lâmpadas de halogéneo apresentam um consumo elevado, relativamente ao número de horas de utilização. O potencial de poupança destas lâmpadas pode ser significativo se substituídas por lâmpadas fluorescentes compactas. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 57 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 9.1.8 Frio Nesta categoria foram identificados 4 electrodomésticos diferentes (Tabela 12). Os combinados e frigoríficos encontram-se em todas as EcoFamílias. As arcas congeladoras têm menor expressão (cerca de 18%) nas famílias abrangidas por este programa. Tabela 12 – Tipo de equipamentos de Entretenimento presentes nas EcoFamílias. Tipo de Equipamento Categoria Frio Arca Horizontal Frigorífico Arca Vertical Combinado Os equipamentos desta categoria presentes nas habitações são maioritariamente equipamentos posteriores à entrada em vigor da etiqueta de eficiência energética (Janeiro de 1995): 86% dos frigoríficos (Figura 34), e 72% das arcas (Figura 35). 1980-1989 4% 1990-1994 10% 1995-2007 86% Figura 34 – Idade dos frigoríficos das EcoFamílias Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 58 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 1970- 1989 8% 1990-1994 20% 1995-2007 72% Figura 35 – Idade das arcas frigoríficas das EcoFamílias Os consumos de electricidade dos frigoríficos e combinados não estão directamente relacionados com o número de pessoas de cada EcoFamília, nem com o escalão de rendimento (Figura 36). O consumo destes electrodomésticos varia entre os 211 kWh/ano e 1.835 kWh/ano, nas famílias abrangidas. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 59 1(A08) 1(A10) 1(A15) 1(A39) 1(B09) 1(C14) 1(D07) 1(D10) 1(D16) 1(G15) 1(H07) 1(H09) 1(H20) 1(I14) 2(A02) 2(B04) 2(B10) 2(C19) 2(D09) 2(D12) 2(D25) 2(F01) 2(F04) 2(F13) 2(F16) 2(G04) 2(H05) 2(H12) 2(I08) 3(A13) 3(A23) 3(C02) 3(C03) 3(C04) 3(C09) 3(C09) 3(C16) 3(C21) 3(C23) 3(D15) 3(E09) 3(E21) 3(F08) 3(I15) 4(A01) 4(A01) 4(A03) 4(A05) 4(A07) 4(C01) 4(C20) 4(F03) 4(F09) 4(F15) 4(H23) 4(I20) 5(B07) 5(D23) 99 (B08) 99 (B11) 99 (E13) Consumo (kWh/ano) 2000 1800 1600 Figura 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 EcoFamília 36 – Consumo de frigoríficos e combinados (kWh/ano) nas EcoFamílias, por escalão de rendimento No caso das arcas de congelação apresentam consumos que variam entre 212 e 1.093 kWh/ano. Os consumos elevados poderão ser explicados por até recentemente ser difícil encontrar no mercado equipamentos de classe de eficiência energética superior à C. 1200 Consumo (kWh/ano) 1000 800 600 400 200 1(A08) 1(A15) 1(B14) 1(C14) 1(D07) 1(H09) 2(A06) 2(C19) 2(D09) 2(D11) 2(D25) 2(E20) 2(H08) 2(I08) 3(A19) 3(B18) 3(B36) 3(C02) 3(C05) 3(C08) 3(C13) 3(C16) 3(E16) 4(A01) 4(A07) 4(C01) 4(F09) 4(F11) 4(F17) 4(H23) 4(H28) 5(F19) 99 (D13) 0 EcoFamília Figura 37 - Consumo de arcas (kWh/ano) nas EcoFamílias, por escalão de rendimento Projecto EcoFamílias – Relatório Final 9.1.9 Máquinas Nesta categoria são analisadas as máquinas de lavar e/ou secar roupa e as de lavar loiça. Foram identificadas 4 tipos de máquinas nas EcoFamílias (Tabela 13), sendo as mais comuns as máquinas de lavar roupa, com uma taxa de presença nestas famílias de 100%, e de lavar loiça, presente em cerca de 65% das famílias. Tabela 13 – Tipo de equipamentos da categoria Máquinas existentes nas EcoFamílias Categoria Máquinas de lavar Tipo de Equipamento Máquina de lavar loiça Máquina de lavar roupa Máquina de lavar e secar roupa Máquina de secar roupa Figura 38 – Máquinas de lavar roupa e loiça Os equipamentos desta categoria presentes nas habitações das EcoFamílias (Figura 38) são maioritariamente posteriores à entrada em vigor da etiqueta de eficiência energética: 1997 para as máquinas de lavar roupa (82%) e 2000 para as de lavar loiça (81%) (Figura 39). 1980-1989 3% 1980-1989 2% 1990-1996 15% 1997-2007 82% 1990-1999 17% 2000-2007 81% Figura 39 – Idade das máquinas de lavar roupa (à esquerda) e de lavar loiça (à direita) das EcoFamílias Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 62 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Dos dados recolhidos verifica-se que não existe uma relação entre o consumo de máquinas de lavar roupa e a classe de rendimento (Figura 40). O consumo deste electrodoméstico é bastante variável e representa um peso médio na factura de electricidade anual das EcoFamílias de cerca de 9%. Consumo (kWh/ano) 600 500 400 300 200 100 1(A09) 1(A16) 1(A39) 1(B09) 1(B12) 1(B14) 1(C14) 1(D07) 1(D16) 1(H07) 1(H09) 1(I12) 2(A02) 2(A25) 2(B06) 2(B16) 2(C19) 2(D01) 2(D24) 2(E20) 2(F04) 2(F16) 2(G10) 2(H12) 2(I08) 3(A11) 3(A20) 3(A33) 3(B15) 3(B17) 3(C03) 3(C05) 3(C13) 3(C15) 3(C16) 3(C21) 3(D15) 3(E09) 3(H25) 4(A01) 4(B21) 4(B24) 4(B31) 4(C01) 4(E06) 4(E27) 4(F09) 4(H23) 5(A38) 5(B07) 99 (B01) 99 (B11) 0 EcoFamílias Figura 40 – Consumo eléctrico das máquinas de lavar roupa (kWh/ano) nas EcoFamílias Da análise efectuada ao consumo das máquinas de lavar loiça verificou-se que é semelhante nas EcoFamílias onde foi possível medir o consumo isolado destes electrodomésticos (Figura 41). O consumo anual varia entre 200 e 368 kWh/ano. 400 Consumo (kWh/ano) 350 300 250 200 150 100 50 4(F09) 4(H34) 4(F03) 4(E24) 4(C20) 4 (A07) 4 (A05) 3(I15) 4 (A03) 3(E09) 3(H16) 3(C21) 3(C16) 3(C15) 3(C13) 3(C12) 3(C11) 3 (C08) 3 (B17) 3 (A23) 3 (A11) 2(I08) 2(I04) 2(D24) 2(D12) 1(H09) 0 EcoFamília Figura 41 – Consumo eléctrico das máquinas de lavar loiça (kWh/ano) nas EcoFamílias Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 63 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 10. Análise de consumos globais Foram analisados os consumos globais de electricidade, gás e água, através das leituras dos contadores. No caso do gás, também foi contabilizado o número de garrafas consumidas. Tal como já foi referido, nem em todas as EcoFamílias foi possível fazer as leituras dos contadores, pois em alguns casos só as empresas têm acesso aos mesmos. 10.1.1 Consumo energético global O consumo global (gás e electricidade) foi calculado em Joules, unidade que se utiliza para agregar valores de energia eléctrica (kWh) e gás (m3 (n) GN). Na análise efectuada, o consumo de energia não é directamente proporcional ao rendimento familiar, nem se encontra associado à zona climática (Figura 42). Para o cálculo da média das EcoFamílias não foi considerado o consumo da família A05, por ser muito superior ao das restantes famílias. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 64 A03 A05 A06 A11 A25 A26 B04 B06 B11 B19 B20 B21 B29 C02 C03 C04 C05 C06 C08 C10 C13 C15 C16 C17 C19 D03 D07 D08 D13 D18 D21 D23 D24 D25 D26 E01 E07 E09 E17 F01 F02 F05 F07 F08 F10 F12 F16 F17 F23 G06 H05 H07 H11 H14 H18 H25 I01 I02 I04 consumo energético (GJ/ano) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 EcoFamília Consumo de energia (GJ/ano) Figura 42 – Consumo energético das EcoFamílias vs média nacional Média EcoFamílias (GJ/ano) 10.1.2 Electricidade Foi pedido às EcoFamílias para registem as leituras dos contadores de electricidade e colocassem numa base de dados online, disponibilizada para o efeito. Não se apresentam valores para todas as EcoFamílias visitadas, uma vez que, como referido anteriormente, houve famílias que não registaram as leituras de contadores. Na Figura 43 são apresentadas as médias de consumo anuais das EcoFamílias, calculadas a partir destas leituras. Consumo (kWh/ano) 25000 20000 15000 10000 5000 A03 A05 A06 A11 A12 A25 A26 B04 B06 B11 B19 B20 B21 B24 B27 B29 C02 C03 C04 C05 C06 C08 C10 C13 C15 C16 C17 C19 D02 D03 D07 D08 D13 D17 D18 D21 D22 D23 D24 D25 D26 D33 E01 E07 E09 E10 E17 F01 F02 F05 F07 F08 F10 F12 F16 F17 F23 G06 H05 H07 H11 H14 H16 H18 H25 I01 I02 I04 I11 I13 I14 0 EcoFamília Consumo de energia eléctrica Média das EcoFamílias Média Nacional Figura 43 – Médias de consumo médio de electricidade (kWh/ano) nas EcoFamílias vs média nacional20. 20 O cálculo da média nacional foi realizando tendo como base os dados do consumo por sector da DGEG, para o ano de 2006. Tendo como número de famílias portuguesas os dados do Censos2001 O consumo médio das EcoFamílias aproxima-se da média nacional: no período em avaliação foi de 3.333 kWh/ano, enquanto a média nacional é de 3.533 kWh/ano. Para o cálculo da média das EcoFamílias não foi considerado o consumo da família A05, dada a discrepância relativamente às restantes EcoFamílias. Pela comparação de consumos por família, não se verifica uma padronização de consumos por zona climática. Os consumos de electricidade devem estar, então, relacionados com hábitos de consumo e ocupação da habitação. Na análise de consumo de electricidade as EcoFamílias A05, F12, F17, B27, H05 e B21 são as que apresentam valores mais elevados, verificando-se que a zona climática não tem grande influência no consumo de electricidade. A EcoFamília A05 apresenta consumos de electricidade muito elevados, que pode ser justificado devido à não utilização de forma mais correcta do contador Bi-Horário. Através da análise dos dados de telecontagem, verificou-se que os acumuladores de calor eram colocados em funcionamento antes da hora de vazio. 10.1.3 Gás Na análise de consumos de gás verificou-se que a maioria das habitações das EcoFamílias (52%) possui gás de botija, destes o mais utilizado é o gás propano (Figura 44). Gás cidade 18% Propano botija 29% Não tem 5% Propano canalizado 1% Gás natural 24% Butano Botija 23% Figura 44 – Tipos de gás e taxa de distribuição nas EcoFamílias 10.1.4 Água No que diz respeito ao consumo de água, constata-se que a zona climática não tem influência nos consumos (Figura 45). A03 A05 A06 A11 A25 A26 B04 B06 B11 B19 B20 B27 C02 C03 C04 C05 C06 C08 C10 C13 C14 C15 C16 C17 C19 D01 D02 D03 D08 D13 D17 D18 D21 D23 D24 D26 E01 E10 E17 F01 F02 F03 F05 F07 F08 F10 F12 F16 F17 F23 G06 H05 H07 H11 H14 H16 H25 I01 I02 I04 I11 I13 I14 Consumo (m3/ano) 400,00 350,00 300,00 250,00 200,00 150,00 100,00 50,00 0,00 EcoFamília Figura 45 – Consumo de água (m3/ano) das EcoFamílias Os consumos de água superiores à média (123m3) que algumas EcoFamílias apresentam estão normalmente relacionados com a existência de jardim ou horta, o que conduz a um consumo de água relacionada com a rega (por exemplo EcoFamília F16). Apesar de existirem mais famílias com jardim o seu consumo não é significativo pois possuem um sistema de captação de água (furo), não sendo o consumo de água para regas e exterior contabilizado. Existem casos de EcoFamílias que vivem em apartamentos, não tendo jardim, mas que apresentam consumos de água elevados. Estes consumos resultam de um número de duches elevado e prolongados, de um elevado número de lavagens tanto da roupa como da loiça e de uma baixa consciencialização de racionalização de consumos de água. As EcoFamílias que têm crianças pequenas também apresentam um consumo de água alto, este está associado a um elevado número de máquinas da roupa por semana (por exemplo EcoFamília H05). Projecto EcoFamílias – Relatório Final 11. Emissões de GEE vs Consumo de energia O consumo de energia está directamente relacionado com a emissão de gases de efeito de estufa (GEE), sendo o dióxido de carbono (CO2) o gás que mais contribui para este fenómeno. A Quercus calculou as emissões de CO2 para os anos de 2007 em termos de produção de electricidade. Assim, para 2007 o factor de emissão foi de 481 gCO2/kWh. O cálculo de emissões associado ao consumo de gás foi calculado utilizando a mesma fórmula do Plano Nacional de Alocação de Licenças de Emissão. As emissões associadas aos consumos de electricidade e gás das famílias são em média de 2.539 kg de CO2/ano, variando entre os 324 kg CO2/ano e os 10.951 kg CO2/ano (Figura 46). Para uma melhor noção das emissões de CO2 relacionadas com o consumo de energia eléctrica, pode utilizar-se a seguinte comparação: 1 kg de CO2 é emitido numa semana, por uma lâmpada incandescente de 60W estar ligada 5 horas por dia. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 71 A03 A05 A06 A11 A25 A26 B04 B06 B11 B19 B20 B29 C02 C03 C04 C05 C06 C08 C10 C13 C15 C16 C17 C19 D03 D07 D08 D13 D18 D21 D23 D24 D25 D26 E01 E07 E09 E17 F01 F02 F05 F07 F08 F10 F12 F16 F17 F23 G06 H05 H07 H11 H14 H18 H25 I01 I02 I04 I11 I13 I14 Emissões (kgCo2/ano) 12000 10000 8000 6000 4000 2000 0 EcoFamília Figura 46 – Emissões de dióxido de carbono (CO2) (Kg /ano) das EcoFamílias 12. Identificação do potencial de poupança energética O potencial de poupança energética foi calculado com base nas características dos consumos de: stand-by off-power iluminação equipamentos de frio máquinas de lavar roupa e loiça Nos consumos de stand-by e off-power dos aparelhos eléctricos, o potencial de poupança foi calculado considerando a sua eliminação, através da colocação de fichas com corte de corrente nas tomadas de aparelhos com este tipo de consumos (Figura 47). Figura 47 – Exemplo de ficha com corte de corrente Na avaliação do potencial de poupança na iluminação, foram consideradas várias características nomeadamente o tipo e utilização das lâmpadas pelas famílias. A poupança de electricidade é obtida pela substituição de lâmpadas por outras mais eficientes, tendo em consideração o consumo da lâmpada, o tempo de utilização e o preço médio de mercado. Considerou-se ainda que a substituição das lâmpadas só se justificava para um período de retorno de investimento inferior a 5 anos. De uma forma geral, na casa das famílias visitadas, a poupança de energia é alcançada através da troca de lâmpadas incandescentes por lâmpadas fluorescentes compactas e através da substituição de lâmpadas encastradas (de halogéneo ou incandescentes) por lâmpadas economizadoras reflectoras, que já se encontram disponíveis no mercado (Figura 48). Projecto EcoFamílias – Relatório Final Figura 48 – Tipos de lâmpadas. Da esquerda para a direita: incandescente, de halogéneo, fluorescente compacta e economizadora reflectora. Na análise dos consumos dos equipamentos de frio e das máquinas de lavar avaliouse a possibilidade de substituir os equipamentos por outros mais eficientes. As medidas tomadas com este projecto representam uma poupança anual de 35.815 kWh/ano, com a anulação de consumos de stand-by e off-power nas categorias de Entretenimento e Informática. As alterações de comportamento representam uma poupança de 5,3% do consumo total de electricidade das EcoFamílias. A troca de lâmpadas representa uma poupança de 22.140 kWh/ano, cerca de 3,2% do consumo. No total com alteração de comportamentos e potencial de troca de equipamentos, as famílias incluídas no projecto obtém uma poupança de 71.634 kWh/ano (10% do consumo total de electricidade), representando uma redução de 34.456 kg CO2 (Tabela 14). Tabela 14 – Poupanças conseguidas em cada categoria por família e em termos globais A Entidade Reguladora dos Sistemas Energéticos (ERSE) considera que as medidas alcançadas com o Plano de Promoção de Eficiência no Consumo de Energia Eléctrica (PPEC) em 2007 têm reflexo até 202321, o projecto EcoFamílias atinge uma poupança global de 1,07 GWh. Se todas as famílias residentes em Portugal Continental conseguissem reduzir o mesmo que as EcoFamílias, obter-se-ia uma poupança de 1,2 TWh/ano. Esta poupança resultaria numa redução de 586 mil toneladas de CO222, contribuindo em cerca de 1% para o cumprimento do Protocolo de Quioto por Portugal. Ao analisar por categoria de actuação verifica-se que as reduções mais significativas são conseguidas com a anulação de consumos stand-by e off-power dos equipamentos de entretenimento (33%), seguido pela substituição da iluminação 21 http://www.erse.pt/vpt/entrada/utilizacaoracionaldeenergia/PPEC+2007/Beneficios+das+medi das+aprovadas+no+PPEC/ 22 Calculado com base no factor de emissão de CO2 de 2007. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 74 Projecto EcoFamílias – Relatório Final (31%) e dos equipamentos de frio (18%) (Figura 49). A anulação de consumos standby e off-power dos equipamentos de informática está em quarto lugar (17%), seguindo-se o contributo dos microondas, apenas com 1% de potencial de poupança identificado. Frio 18% Iluminação 31% cozinha 1% Informática 17% Entretenimento 33% Figura 49 - Distribuição das poupanças para as diferentes categorias Em valores absolutos, a poupança global do projecto, na categoria de entretenimento é de 23.591 kWh/ano (3,4% do consumo total de electricidade), representando uma redução da emissão de 11.347 kg CO2/ano. As poupanças conseguidas na iluminação são muito próximas (22.139 kWh/ano, 3,2% do consumo total de electricidade) (Tabela 14). Estes potenciais de redução de consumo vão de encontro aos resultados obtidos no inquérito social, relativo à percepção dos consumos em que se verifica ser na iluminação que parece existir maior necessidade de sensibilização, uma vez que são poucas as famílias que a referem como uma das três categorias mais importantes de consumo energético. Não obstante esta área não ser considerada muito relevante pelos inquiridos, acaba por ser aquela onde a disponibilidade para investir durante o próximo ano é maior. Já fora das três principais categorias de consumo, a área da informática parece ser particularmente relevante nesta amostra, principalmente quando comparada com os resultados dos dados padrão da população portuguesa, ainda que seja ignorada por muitos dos inquiridos. Também a este nível, onde muitas vezes se podem obter ganhos de poupança importantes, é fundamental trabalhar informação no sentido de permitir um melhor conhecimento dos consumos em cada agregado e de serem alterados alguns comportamentos, eventualmente menos eficientes. Segundo a classe de rendimento das EcoFamílias, a classe 4 apresenta o maior potencial de poupança. A classe de melhores rendimentos apresenta o menor potencial de redução de consumo (Figura 50). Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 75 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 200 180 Poupança (kWh/ano) 160 140 120 100 80 60 40 20 0 1 2 3 4 5/6 99 Classe de Rendimento Iluminação Entretenimento Informática cozinha Frio Média Iluminação Média entretenimento Média Informática Média Cozinha Média Frio Figura 50 - Poupanças médias conseguidas em cada categoria por classe de rendimento Numa análise das poupanças conseguidas por classe de rendimento, verifica-se que existe uma potencial de redução de consumo significativo na iluminação em todas as classes de rendimento, sendo no entanto mais elevado na classe 4 (Figura 50). Esta situação deve-se ao facto da maioria das famílias com maior disponibilidade financeira apresentarem uma menor preocupação com a utilização racional da iluminação. No caso das categorias de entretenimento verifica-se que o potencial de redução de consumo é mais baixo na classe mais elevada, pelo facto destas famílias terem mais equipamentos com baixo consumo stand-by e off-power, como o caso dos televisores LCDs (Figura 50). Os equipamentos de frio têm um potencial de redução de consumo significativo com a sua substituição nas famílias de classe 1, pois nestes casos as famílias adiam o investimento em equipamentos mais recentes. No entanto, as famílias com melhores rendimentos apresentam um menor potencial de poupança nesta categoria pois apresentam equipamentos com melhor eficiência energética. No caso dos equipamentos de informática verifica-se que o potencial de redução de consumo é mais reduzido na classe 1, por estarem pouco presentes nestas habitações. A classe de rendimento 5/6 é onde se verifica o 2º menor potencial de poupança, devendo-se à maior presença de portáteis. O potencial de poupança com a eliminação dos consumos de stand-by na categoria da cozinha é mais elevado na classe 5/6 pois é nestas famílias que se encontram mais micro-ondas com visor. 12.1 Informática O potencial de poupança pela anulação de stand-by e off-power de equipamentos informáticos nas EcoFamílias é significativo (Figura 51). A avaliação de consumos Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 76 Projecto EcoFamílias – Relatório Final permitiu identificar a existência de consumos off-power e/ou stand-by num ou mais equipamentos, em cerca de 76% das medições realizadas. Esta análise permite identificar um potencial de redução de consumo de pelo menos 40% em metade dos casos analisados. A redução de consumo varia entre 35 e 412 kWh/ano (Figura 51). Esta redução representa 1,8% do consumo total de electricidade médio das EcoFamílias. 3500 Consumo (kWh/ano) 3000 2500 2000 1500 1000 500 2(B16) 2(D08) 2(E01) 2(E17) 2(F02) 2(F14) 3(A18) 3(A19) 3(A20) 3(A23) 3(B15) 3(B18) 3(B20) 3(C08) 3(C13) 3(C17) 3(D15) 3(E28) 3(F08) 3(F25) 4(A03) 4(A32) 4(C01) 4(C27) 4(E08) 4(E10) 4(F03) 4(F11) 4(I20) 5(A38) 5(F19) 0 EcoFamílias Potencial de poupança Consumo Figura 51 – Consumo actual das EcoFamílias e potencial de poupança na categoria de Informática Os picos de consumos estão relacionados com EcoFamílias que apresentam equipamentos informáticos que estão ligados mais horas por dia, e também com um número elevado de equipamentos por conjunto informático. 12.2 Entretenimento O potencial de redução de consumos na categoria de entretenimento é o mais elevado de todos. A presença destes equipamentos nas habitações é muito significativa. Em 30% das medições identificou-se um potencial de redução de cerca de 40% do consumo das famílias nesta categoria. A redução de consumo varia entre 4,4 e 210 kWh/ano (Figura 52). Esta redução representa 3,4% do consumo total de electricidade médio das EcoFamílias. Verificou-se já existirem alguns casos de boas práticas na utilização dos equipamentos, não existindo um potencial de poupança nestas famílias. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 77 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 900 800 Consumo (kWh/ano ) 700 600 500 400 300 200 100 1(B09) 1(G06) 1(H21) 1(I02) 2(A02) 2(A25) 2(D01) 2(D09) 2(D11) 2(D12) 2(D22) 2(F02) 2(F16) 2(H08) 2(I08) 3(A11) 3(A26) 3(B34) 3(B36) 3(C04) 3(C16) 3(D15) 3(D21) 3(D26) 3(F07) 3(F18) 3(H25) 3(H33) 4(A07) 4(B21) 4(E08) 4(E10) 4(E24) 4(F11) 4(F12) 4(F15) 4(I20) 5(A38) 5(D23) 0 EcoFamílias Potencial de poupança Consumo Figura 52 - Consumo actual das EcoFamílias e potencial de poupança na categoria de Entretenimento Os consumos mais elevados pertencem a famílias com maior número de equipamentos e maior utilização dos mesmos. Estes consumos estão maioritariamente relacionados com as tecnologias CRT e plasma. 12.3 Iluminação Como foi referido na caracterização da iluminação (Figura 31) as lâmpadas incandescentes são as mais presentes nas EcoFamílias (46%). As lâmpadas de Halogéneo também já têm uma presença significativa (2º lugar com 22%, a par das lâmpadas fluorescentes compactas). As lâmpadas fluorescentes compactas (económicas) apresentam consumos que podem ser 5 vezes inferior às lâmpadas incandescentes, tendo consecutivamente menores emissões de CO2. Assim o potencial de poupança na categoria de iluminação é elevado, não só pela substituição de lâmpadas incandescentes e lâmpadas de halogéneo por lâmpadas fluorescentes compactas por potência equivalente (Tabela 15). A recomendação de substituição de lâmpadas incandescentes e de halogéneo por lâmpadas fluorescentes compactas tem em consideração um período de retorno do custo da lâmpada de 5 anos, a sua eficiência energética, o tempo de utilização e o preço médio das lâmpadas no mercado. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 78 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Tabela 15 – Equivalência de potências entre lâmpadas incandescentes e lâmpadas fluorescentes compactas. Lâmpada incandescente 25W 40W 60W 75W 100W Lâmpada de Halogéneo 50W Lâmpada fluorescente compacta 4-5W 7-8W 11W 14-15W 20-21W Lâmpada fluorescente compacta 11W O potencial de poupança da substituição de iluminação reflecte que 75% das poupanças está relacionado com a troca de lâmpadas incandescentes, e que, apesar de existirem em menor número, as lâmpadas de halogéneo representam um potencial significativo de redução (Figura 53). Lâmpadas de Halogéneo 25% Lâmpadas incandescentes 75% Figura 53 - Distribuição das poupanças por tipo de lâmpadas A potencial de poupança nesta categoria varia entre 7,30 e 810 kWh/ano, que se pode traduzir em reduções de 4 a 390kg CO2. O potencial de poupança na iluminação é muito significativo em todas as classes de rendimento, conseguindo-se reduzir o consumo em cerca de 40% nas classes 1 a 3. Na classe 4 consegue-se reduzir o consumo em 36%, e na classe 5/6 28% (Figura 54). Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 79 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Consumo médio (kWh/ano) 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 1 2 3 4 5/6 99 Classe de rendimento Potencial de poupança Consumo Figura 54 - Consumo médio e média de poupanças estimadas da categoria iluminação por classe de rendimento Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 80 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 12.4 Substituição de equipamentos Uma melhoria da eficiência energética de uma habitação poderá verificar-se pela substituição de equipamentos ineficientes por outros mais eficientes. Um dos objectivos nas EcoFamílias foi exactamente analisar a viabilidade de trocar equipamentos de frio e máquinas menos eficientes por modelos mais eficientes de classe A, ou A+ caso existam. Para esta análise foram utilizados os dados recolhidos com o sistema de medição remoto. 12.4.1 Frigoríficos Os frigoríficos presentes nas casas das EcoFamílias são na sua grande maioria posteriores à entrada em vigor da etiqueta da eficiência energética, em Janeiro de 1995 (Figura 55). Esta situação traduz-se num parque de frigoríficos maioritariamente com 12 anos ou menos (86%). 1980-1989 4% 1990-1994 10% 1995-2007 86% Figura 55 – Idade dos frigoríficos presentes nas EcoFamílias Para a análise da viabilidade de substituição deste electrodoméstico, foi feita uma análise do consumo dos frigoríficos e a sua substituição por frigoríficos energeticamente mais eficientes, de classe A+. As EcoFamílias têm maioritariamente frigoríficos de 2 portas ou um combinado de livre instalação, e por isso a comparação foi feita com equipamentos equivalentes de classe A+, escolhidos através do site TopTen (www.topten.pt). Foi ainda considerado um tempo de retorno de investimento igual ou inferior a 6 anos, para considerar viável a substituição. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 81 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Consumo (kWh/ano) Desta análise verificou-se ser viável apenas a substituição de 8 equipamentos (Figura 56), conseguindo-se uma redução de consumo entre 585 e 1594 kWh/ano, numa média de 982 kWh/ano. Esta substituição representa uma poupança global de 7852 kWh/ano, 1,1% em relação ao consumo total de electricidade médio das EcoFamílias. 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 1(A15) 1(A39) 2(F13) 3(A12) 3(C23) 4(F15) 99 (B11) 99 (E13) EcoFamílias Potencial de poupança Consumo Figura 56- Poupança no consumo dos frigoríficos com a substituição de equipamento 12.4.2 Arcas frigoríficas Também nas arcas se verificou que o parque é maioritariamente posterior à entrada em vigor da etiqueta de eficiência energética (Janeiro de 1995), o que se traduz em 72% dos equipamentos com 12 anos ou menos (Figura 57). 1970- 1989 8% 1990-1994 20% 1995-2007 72% Figura 57 – Idade das arcas presentes nas habitações das EcoFamílias Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 82 Projecto EcoFamílias – Relatório Final A análise da viabilidade de substituição teve por base a substituição por arcas de classe A+, disponíveis no mercado. Nesta comparação teve-se em conta o facto de ser uma arca vertical ou horizontal, de acordo com o equipamento já existente nas EcoFamílias. Foi ainda considerado 6 anos, como o tempo máximo de recuperação de investimento. Assim, também aqui existe um potencial reduzido para a substituição de equipamentos. Desta análise verificou-se ser viável a substituição de 7 equipamentos (Figura 58), conseguindo-se uma redução de consumo entre 712 e 809 kWh/ano, numa média de 766 kWh/ano. Esta substituição representa uma poupança global de 5360 kWh/ano, 0,8% em relação ao consumo total de electricidade médio das EcoFamílias. Consumo (kWh/ano) 1200 1000 800 600 400 200 0 1(A08) 1(B14) 1(D07) 2(C19) 2(H08) 3(A19) 4(F09) EcoFamílias Consumo Poupança Figura 58 - Poupança no consumo das arcas com a substituição de equipamento 12.4.3 Máquina de lavar roupa As máquinas de lavar roupa das EcoFamílias são maioritariamente equipamentos com menos de 10 anos (82%) (Figura 59). Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 83 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 1980-1989 3% 1990-1996 15% 1997-2007 82% Figura 59 – Idade das máquinas de lavar roupa presentes nas EcoFamílias Tal como já foi referido na caracterização de consumos das EcoFamílias, foi realizada uma análise do consumo das máquinas de lavar roupa por ciclo de lavagem (Figura 60), para a análise da viabilidade da sua substituição. Para esta comparação foi escolhida uma máquina de classe A+ de livre instalação, por ser o modelo mais presente nas EcoFamílias, escolhida através do site TopTen. Foram consideradas viáveis as substituições de equipamentos cujo investimento se recupera até 6 anos. Este cenário traduz-se num potencial reduzido para a substituição de equipamentos. 2,5 2 1,5 1 0,5 0 1(A09) 1(A16) 1(A39) 1(B09) 1(B12) 1(B14) 1(C14) 1(D07) 1(D16) 1(H07) 1(H09) 1(I12) 2(A02) 2(A25) 2(B06) 2(B16) 2(C19) 2(D01) 2(D24) 2(E20) 2(F04) 2(F16) 2(G10) 2(H12) 2(I08) 3(A11) 3(A20) 3(A33) 3(B15) 3(B17) 3(C03) 3(C05) 3(C13) 3(C15) 3(C16) 3(C21) 3(D15) 3(E09) 3(H25) 4(A01) 4(B21) 4(B24) 4(B31) 4(C01) 4(E06) 4(E27) 4(F09) 4(H23) 5(A38) 5(B07) B01 B11 Consumo por ciclo de lavagem (kWh/ciclo) Verificou-se que, apesar de existirem alguns casos de consumo elevado, a substituição das máquinas de lavar por uma de classe A+ não é viável, por não se conseguir recuperar o investimento em 6 anos. EcoFamílias Figura 60 – Consumo médio por ciclo de lavagem da máquina da roupa das EcoFamílias Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 84 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 12.4.4 Máquina de secar roupa As máquinas de secar roupa são maioritariamente equipamentos recentes, em que 94% dos equipamentos têm no máximo 10 anos (Figura 61). A idade destes equipamentos, aliada ao facto de regra geral as famílias apenas utilizarem estes equipamentos quando chove no Inverno, traduziu-se na existência de um potencial muito reduzido de redução de consumos com a substituição do equipamento. Por este facto não foi feita análise de viabilidade da sua substituição. 1990-1996 6% 1997-2007 94% Figura 61 – Ano das máquinas de secar roupa presentes nas EcoFamílias 12.4.5 Máquina de lavar loiça As máquinas de lavar loiça são maioritariamente equipamentos recentes, em que 81% dos equipamentos têm no máximo 7 anos (Figura 63). Tal como já foi referido na caracterização de consumos das EcoFamílias, foi realizada uma análise do consumo das máquinas de lavar loiça por ciclo de lavagem, para a análise da viabilidade da sua substituição. Para esta comparação foi escolhida uma máquina de classe A de livre instalação, por ser o modelo mais presente nas EcoFamílias, escolhida através do site TopTen. Foram consideradas viáveis as substituições de equipamentos cujo investimento se recupera até 6 anos. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 85 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 1980-1989 2% 1990-1999 17% 2000-2007 81% Figura 62 – Idade das máquinas de lavar loiça nas EcoFamílias 2 1,8 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 1(H09) 2(D12) 2(D24) 2(I04) 2(I08) 3 (A11) 3 (A23) 3 (B17) 3 (C08) 3(C11) 3(C12) 3(C13) 3(C15) 3(C16) 3(C21) 3(E09) 3(H16) 3(I15) 4 (A03) 4 (A05) 4 (A07) 4(C20) 4(E24) 4(F03) 4(F09) 4(H34) Consumo por ciclo de lavagem (kWh/ciclo) Verificou-se que, apesar de existirem alguns casos de consumo elevado, a substituição das máquinas de lavar por uma de classe A não é viável, por não se conseguir recuperar o investimento em 6 anos. EcoFamílias Figura 63 – Consumo das máquinas de lavar loiça por ciclo de lavagem nas EcoFamílias 12.5 Temperaturas de lavagem 12.5.1 Roupa Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 86 Projecto EcoFamílias – Relatório Final Na lavagem da roupa o aquecimento da água é a tarefa que mais consome electricidade (cerca de 80 a 90%23). Regra geral as máquinas de lavar roupa indicam a temperatura a que os diferentes programas devem trabalhar. No entanto, a escolha da temperatura é independente da escolha do programa, e com a evolução na qualidade dos detergentes, tornou-se possível ter uma boa qualidade de lavagem mesmo a baixas temperaturas (30°C), permitindo reduzir os consumos energéticos na lavagem da roupa. Estudos realizados24 identificam que, a alteração da temperatura de 60ºC para 30/40ºC representa, em média, uma redução para metade no consumo eléctrico na lavagem. A passagem da temperatura de lavagem de 90ºC para 30/40ºC representa uma redução deste consumo para um terço. A análise realizada sobre a temperatura de lavagem é apenas qualitativa, pois os aparelhos de medição utilizados não permitiram fazer uma correlação estreita entre o consumo de electricidade e temperatura utilizada. Ao analisar as temperaturas utilizadas na lavagem de roupa à máquina verifica-se que em 87% do total de ciclos de lavagens das EcoFamílias a temperatura utilizada é no máximo 40ºC. Existe assim, um potencial de redução de consumo em 13% das lavagens, onde são utilizadas temperaturas elevadas (50ºC ou mais) (Figura 64). 50 oC ou + 13% Frio 11% 30/40 oC 76% Figura 64 – Temperaturas utilizadas pelas EcoFamílias nas lavagens de roupa Comparando o consumo e temperatura de lavagem verificou-se existir uma variação significativa de consumo para as mesmas temperaturas (Figura 65). Esta situação 23 DGGE. Eficiência energética em equipamentos e sistemas eléctricos no sector residencial. 2004. 24 ADENE. Projecto EURECO – Campanha de medições por utilização em 400 unidades de alojamento na União Europeia. 2002. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 87 Projecto EcoFamílias – Relatório Final pode justificar-se pelo facto da escolha da temperatura ser separada da escolha do programa de lavagem e, em muitos casos, da centrifugação. A possibilidade de conjugar várias opções pode originar que, mesmo escolhendo temperaturas mais baixas, o consumo seja elevado por se escolher ciclos de lavagem mais longos. Consumo por ciclo de lavagem (kWh/ciclo) 2,5 2 1,5 1 0,5 0 0 10 20 30 40 50 60 Temperatura de lavagem (ºC) Figura 65 – Consumo médio de um ciclo de lavagem vs temperatura utilizada pelas EcoFamílias na lavagem da roupa 12.5.2 Loiça Na lavagem da loiça à máquina há duas fases que representam os principais consumos de electricidade (mais de 80%25): o aquecimento da água e a secagem da loiça. Assim, também para as máquinas de lavar loiça é fundamental ter em atenção a temperatura de lavagem. Esta pode ser limitada entre 50-55°C através da utilização do programa económico, que a maior parte das máquinas já tem. É assim possível a redução do consumo de energia eléctrica, bem como a diminuição da quantidade de água por lavagem26. A análise realizada sobre a temperatura de lavagem é apenas qualitativa, pois os aparelhos de medição utilizados não permitiram fazer uma correlação estreita entre o consumo de electricidade e temperatura utilizada. Ao analisar a temperatura de lavagem de loiça na máquina verifica-se que mais de metade das famílias (56%) ainda 25 DGGE. Eficiência energética em equipamentos e sistemas eléctricos no sector residencial. 2004. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 88 Projecto EcoFamílias – Relatório Final utilizam temperaturas de 60ºC ou mais (Figura 66). Constata-se assim existir um potencial de redução de consumo pela redução da temperatura de lavagem da loiça. < 60oC 44% >=60oC 56% Figura 66 – Temperatura de lavagem da loiça nas EcoFamílias Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 89 Projecto EcoFamílias – Relatório Final 12.6 Mudança para contador Bi-Horário A substituição de contador simples por Bi-Horário (BH) é uma medida que, apesar de não se traduzir numa redução de consumo, acarreta benefícios ambientais importantes e pode trazer benefícios económicos para as famílias. A transferência de consumos do período diurno para o nocturno é o ganho ambiental desta medida, pois muitas centrais termoeléctricas estão sempre a produzir electricidade, havendo assim um excesso de oferta de madrugada na rede que a tarifa bi-horária procura deslocalizar em termos de consumo do dia para a noite. A alteração de hábitos de consumo é fundamental para esta medida resultar, portanto é preciso ter em conta factores como a faixa etária dos elementos das EcoFamílias e a existência de empregada doméstica, cuja presença se faz sentir durante o período diurno aos dias de semana. Fazendo a análise do tipo de contador, verificou-se que metade das EcoFamílias (51%) não tem contador bi-horário (BH). As EcoFamílias com contador BH conseguem fazer praticamente metade dos seus consumos no período de vazio (48%). Tendo por base este dado estimou-se a poupança que as famílias com contador simples obteriam se alterassem para contador BH (Figura 67). A troca de contador permite uma transferência de consumos para o período de vazio entre 325 e 3343 kWh/ano. Para além dos benefícios ambientais com a passagem dos consumos para um período em que há um excesso de oferta de electricidade em termos monetários também se torna vantajoso para as famílias adoptarem este regime. As famílias conseguem poupar entre €14 e €169 e em média em €95. Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 90 A03 A05 A06 A12 A25 A26 A26 B04 B06 B11 B19 B20 B21 B24 B27 B29 C02 C03 C04 C05 C06 C08 C10 C13 C15 C16 C17 D02 D03 D07 D08 D13 D17 D18 D21 D22 D23 D24 D25 D26 D33 E01 E07 E09 E10 E17 F01 F02 F02 F05 F07 F08 F10 F12 F16 F17 F23 G06 H05 H07 H11 H14 H16 H18 H25 I01 I02 I04 I11 I13 I14 Consumo de electricidade (€/ano) 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 EcoFamília Custo contador simples (€/ano) Consumo BH (€/ano) Figura 67 – Cálculo dos gastos associados ao consumo de electricidade para a utilização de contador simples ou BH (€/ano) 13. Conforto higrotérmico Num edifício, o conforto individual é afectado por inúmeros factores que vão desde os factores de natureza ambiental (do ambiente interior) aos factores de natureza pessoal (do habitante). As temperaturas do ar, a humidade relativa, a velocidade do ar, o ruído, a luz, insolação, odores entre outros, incluem-se nos factores ambientais. Nos factores pessoais incluem-se a actividade metabólica e o tipo de vestuário. É através da combinação destes factores que se pode falar em conforto. Este pode ser de vários tipos, entre eles o conforto higrotérmico, que abordado neste capitulo, e que relaciona a temperatura do ar e a humidade relativa do ar num espaço, em relação à sensação de bem-estar. É de salientar que a sensação de conforto é subjectiva e variável de indivíduo para indivíduo. Em relação à temperatura, um corpo tenderá a perder calor rapidamente num ambiente frio, enquanto num ambiente quente a mesma perda será feita de modo excessivamente lento. Relativamente à humidade, a evaporação da pele é lenta e incómoda num ambiente húmido, enquanto num ambiente seco a pele e as superfícies respiratórias secam mais depressa. Por isso, e de modo a que estes dois parâmetros se encontrem regulados dentro de um edifício, para além da temperatura e humidade relativa é também necessário considerar ainda a radiação térmica e consequente condução e movimentação de ar (por convecção e ventilação). Estes parâmetros têm um papel importante no comportamento térmico de um edifício, independentemente de existir sistema de climatização. O edifício deve ser desenhado de modo a reduzir a humidade interior, através da impermeabilização contínua da sua envolvente exterior. A impermeabilização, apesar de impedir a entrada de água no interior, deve permitir a transmissão de vapor de água para o exterior, deixando assim o edifício “transpirar”. Para conter as oscilações acentuadas de temperatura no interior deve, de igual modo, ser isolado continuamente pelo exterior, obtendo assim uma camada protectora relativamente às temperaturas exteriores. Como já se referiu no capítulo em que se caracterizaram as habitações, é através dos envidraçados que ocorrem as maiores trocas térmicas. Importa, por isso, que estes tenham um bom comportamento térmico de modo a evitar os ganhos ou perdas excessivas recorrendo, por exemplo, ao uso de vidro duplo com caixilho com corte térmico nas aberturas dos edifícios. Estas superfícies envidraçadas deverão ser protegidas pelo exterior, de acordo com o quadrante a que estão expostas de modo a tirar maior partido das horas de sol. Um dos objectivos deste projecto foi também perceber, ao nível do conforto higrotérmico, a interacção entre o clima exterior e a construção, e consequentemente o ambiente interior. Para cada EcoFamília analisaram-se os valores registados pelo termohigrómetro juntamente com as características construtivas da habitação (solução construtiva, tipo de superfícies envidraçadas, protecção solar e orientação), os sistemas de climatização utilizados na divisão onde foi colocado o termohigrómetro e o tipo de ocupação desta. Posteriormente, foram analisados os dados por zona climática, de acordo com as nove zonas climáticas estabelecidas no RCCTE (Decreto-Lei 80/2006 de 4 de Fevereiro). Uma vez que não foi possível obter dados relativos à temperatura e humidade do exterior em cada zona climática (dados ISA), e alguns termohigrómetros não funcionaram correctamente, não sendo assim possível tratar os dados de algumas EcoFamílias – para as zonas climáticas I1V1, I1V2 e I3V3 foi difícil comparar o conforto higrotérmico no interior das habitações. Foi colocado um termohigrómetro (TH) em cada habitação e de acordo com alguns critérios: não poderiam estar directamente expostos a fontes de aquecimento e de arrefecimento, e/ou humidade, de modo a não influenciar a recolha de dados. Assim, a divisão escolhida para a sua colocação foi geralmente uma sala ou quarto. A monitorização dos dados está traduzida nos gráficos que se apresentam em seguida (excepto para as zonas climáticas acima referidas), na análise realizada por zona climática, existindo um gráfico de temperatura média (em ºC) ao longo do período em análise e um outro gráfico de humidade relativa média (em %) para o mesmo período. Na zona climática I1V1, onde o Inverno e o Verão são mais amenos em Portugal, a partir da análise dos dados registados e das características construtivas da sua habitação (parede exterior dupla de tijolo com caixa de ar e isolamento térmico XPS, vãos envidraçados constituídos por vidro duplo com caixilharia em alumínio com corte térmico) pode concluir-se que a envolvente da habitação tem um bom desempenho uma vez que não existem grandes flutuações de temperatura e humidade relativa ao longo do período analisado. Na zona climática I1V2, os dados recolhidos na EcoFamília revelam valores de Verão elevados no interior da habitação. Este facto pode ser justificado pelo tipo de envidraçado com pior desempenho (vidro simples com caixilho de madeira). Em I3V3, zona climática que apresenta um clima mais rigoroso tanto no Inverno, como no Verão, registaram-se valores médios tanto de temperatura como de humidade relativa desconfortáveis em relação aos valores de referência definidos no RCCTE (alínea a), Art. º 14, Capítulo V, Decreto-Lei 80/2006) para a estação de arrefecimento: temperatura do ar de 25ºC e 50% de humidade relativa. Este facto pode ser justificado com um sistema construtivo com mau desempenho e da zona climática em que se insere. Ao analisar os gráficos (Figura 68 e Figura 69) com os valores médios da temperatura e o da humidade relativa registadas nas EcoFamílias da zona climática I1V3, verificamos que existe um comportamento semelhante em termos de temperaturas médias, embora a C10 apresente temperaturas inferiores. Em termos de humidade relativa, as diferenças já são mais significativas. Verifica-se uma semelhança entre os sistemas construtivos (tanto das paredes exteriores, como dos envidraçados e da sua protecção), áreas e orientação solar. O tipo de ocupação é semelhante em C03 e C10 (principalmente de manhã e à noite), e a C11 apresenta uma ocupação regular ao longo do dia (permanência total e uso de equipamentos) o que pode justificar os valores de humidade relativa. Figura 68 – Temperatura média interior (ºC) nas EcoFamílias da zona climática I1V3 Figura 69 – Humidade relativa média interior (%) nas EcoFamílias da zona climática I1V3 Na zona climática I2V1, as EcoFamílias situam-se todas na mesma rua, o que nos é útil pois estiveram sujeitas às mesmas temperaturas e humidade. D09 e D11 apresentam o mesmo tipo de construção (paredes exteriores, tipo de vãos envidraçados e protecção solar) e ambas construídas posteriormente a 1991 e com áreas semelhantes. O facto de apresentarem valores de humidade relativa tão distintos pode justificar-se com as orientações das divisões onde foram colocados os termohigrómetros (Figura 70 e Figura 71): em D09 foi colocado numa divisão voltada a Nordeste e em D11 foi colocada a Sudoeste. D10 apresenta maiores variações ao longo do período analisado quer em termos de temperaturas médias, quer em termos de valores médios de humidade relativa – este facto pode ser justificado com o tipo de construção: construída antes de 1991, apresenta paredes exteriores simples em pedra ou em tijolo e vãos envidraçados compostos por vidro simples e caixilharia em madeira. Figura 70 – Temperatura média interior (ºC) nas EcoFamílias da zona climática I2V1 Figura 71 - Humidade relativa média interior (%) nas EcoFamílias da zona climática I2V1 Para a zona climática I2V2, as diferenças entre as EcoFamílias analisadas podem ser atribuídas às diferenças nos sistemas construtivos e ao tipo de ocupação (Figura 72 e Figura 73). E01 apresenta parede exterior dupla de tijolo sem isolamento térmico e envidraçados com vidro duplo e caixilharia em PVC e, uma ocupação apenas durante o período nocturno. E17 apresenta parede exterior dupla com isolamento térmico xps e envidraçados com vidro simples e caixilharia em alumínio e, uma ocupação permanente. Figura 72 - Temperatura média interior (ºC) nas EcoFamílias da zona climática I2V2 Figura 73 - Humidade relativa média interior (%) nas EcoFamílias da zona climática I2V2 A zona climática I2V3, apresenta comportamentos semelhantes entre as várias famílias (Figura 74 e Figura 75). É no entanto de salientar as diferenças entre as famílias F10 e F13 que apresentam características construtivas semelhantes (quer ao nível do tipo de parede exterior, quer do tipo de envidraçado), ambas orientadas a nordeste e um tipo de ocupação também semelhante e no entanto, apresenta desempenhos distintos. Para esta situação não se conseguiram relacionar factores que a justificassem. Figura 74 - Temperatura média interior (ºC) nas EcoFamílias da zona climática I2V3 Figura 75 - Humidade relativa média interior (%) nas EcoFamílias da zona climática I2V3 Na zona climática I3V1, as EcoFamílias apresentam características construtivas bastante diferentes – sendo este um dos principais factores a que podemos atribuir os valores representados nos gráficos da Figura 76 e Figura 77: G06 apresenta paredes exteriores simples sem isolamento térmico e superficies envidraçadas com vidros simples e caixilho em alumínio, enquanto G10 apresenta uma envolvente exterior com paredes duplas com isolamento XPS e superficies envidraçadas com vidros duplos com caixilho em alumínio. G10 apresenta um melhor desempenho quando comparado com G06, uma vez que o sistema construtivo tem um melhor desempenho térmico que se traduz em menores flutuações de temperatura e humidade relativa. Os valores de humidade relativa superiores em G06 também se podem justificar com a proximidade de um riacho. Figura 76 - Temperatura média interior (ºC) nas EcoFamílias da zona climática I3V1 Figura 77 - Humidade relativa média interior (%) nas EcoFamílias da zona climática I3V1 Na zona climática I3V2, vamos destacar os valores de H18 e H33 de acordo com o apresentado nas Figura 78 e Figura 79. H18 apresenta valores inferiores de temperatura média e valores superiores de humidade relativa, facto que pode ser justificável pelo tipo de envolvente da habitação (parede exterior simples e envidraçados de vidro duplo com caixilho em alumínio) e por uma ocupação apenas fora do horário laboral. H33 apresenta uma melhor relação temperatura média/ humidade relativa, facto que pode ser justificável pelo tipo de envolvente da habitação (parede exterior dupla com isolamento térmico e envidraçados de vidro simples com caixilho em alumínio) e por uma ocupação permanente. Figura 78 - Temperatura média interior (ºC) nas EcoFamílias da zona climática I3V2 Figura 79 - Humidade relativa média interior (%) nas EcoFamílias da zona climática I3V2 Após a interpretação dos gráficos e dos outros dados relativos às EcoFamílias pode concluir-se que, de um modo geral e independentemente da zona climática em que se inserem, são vários os factores que contribuem para a sensação de conforto. Desde logo a orientação solar é determinante na sua análise higrotérmica. Observou-se que a orientação face ao quadrante Norte se traduz geralmente por maior humidade e menores temperaturas (facto justificado por não receber radiação solar directa). As orientações Este e Oeste são quentes ou frias, consoante seja manhã ou tarde (quando recebem radiação solar directa). Quando a orientação é Sul verificam-se temperaturas mais elevadas e menor humidade uma vez que é o quadrante que tem maior número de horas de radiação solar directa, sendo o quadrante mais favorável. Juntamente com a orientação solar, a envolvente construtiva é também um factor relevante. O tipo de parede exterior relacionado com o tipo de vidro e caixilharia são características que determinantes para a sensação de conforto. Assim, quando a habitação estava bem isolada e o sistema de caixilharia era duplo e com corte térmico verificava-se um ambiente interior ameno. A construção deve ser isolada de forma contínua pelo exterior constitui uma camada de protecção contra o ambiente exterior (clima agressivo, intempéries, …) e facilita o papel da inércia térmica das paredes em contacto directo com o exterior. Este isolamento evitará as perdas ou ganhos térmicos excessivos e, consequentemente, a necessidade de recorrer a sistemas de climatização. O lugar onde as habitações se situam é também um factor influente – verificou-se por exemplo que a proximidade de um riacho pode influenciar os valores de humidade relativa no interior da habitação. 14. Divulgação O projecto EcoFamílias recebeu sempre uma atenção muito dedicada pela comunicação social, precisamente por fazer a ponte entre as Alterações Climáticas e o que o cidadão comum pode fazer nesta nova era de consumo de energia. O projecto EcoFamílias foi proposto com o duplo objectivo claro de proceder a uma avaliação e implementação de políticas de conservação de energia e eficiência energética, mas também potenciar o efeito multiplicador da aprendizagem obtida através do projecto. Neste contexto, o Projecto EcoFamílias teve uma fortíssima componente de comunicação, quer numa filosofia de sensibilização pessoal, quer recorrendo aos meios de comunicação social e onde a área da energia e em particular da electricidade assume grande relevância. Neste contexto, a par da participação em inúmeros seminários e conferências, o recurso a meios de comunicação com uma forte audiência revelou-se essencial (rádio e televisão). Simultaneamente tornou-se necessário dar posteriormente resposta aos contactos efectuados por pessoas individuais e colectivas, relacionados com os temas divulgados. Um aspecto fundamental é que a realização dos programas de rádio e televisão e o suporte logístico às respostas consequentes de pedidos de informação obrigou à criação de uma estrutura complementar tendo em grande parte tido um suporte no projecto Ecofamílias que funcionou como âncora dado a temática da energia ser a predominante. Na fase de divulgação, o projecto foi anunciado em dezenas de rádios nacionais e locais para que as famílias se inscrevessem neste projecto. Neste capítulo, mais do que a fase de divulgação para inscrição das famílias, é importante referir as referências ao projecto durante o decorrer do mesmo. Este capítulo apenas poderá estar incompleto por defeito, pois algumas vezes não foi possível registar a referência ao projecto na comunicação social. 14.1 Solicitada pela comunicação social A pedido da comunicação social o projecto EcoFamílias participou em vários programas, deu várias entrevistas, quem para jornais, rádio e televisão. Muitas destas notícias não foi possível guardar, por não se saber a data exacta em que foram publicadas. Na imprensa escrita, a Revista Água & Ambiente e o jornal Quercus Ambiente foram dos locais onde foram publicadas reportagens e artigos (Anexo III). Foi também solicitado à Quercus a apresentação em alguns programas de televisão. Não foi possível contabilizar todos nem sempre é indicado pelas televisões o dia em que o programa é transmitido. No dia 21 de Setembro de 2007, no Programa Praça da Alegria (RTP 1) a Quercus esteve presente a falar sobre este projecto. O programa 2010 (RTP 2) também transmitiu uma reportagem sobre este projecto. A Quercus também participou em vários programas de rádio onde se falou no projecto EcoFamílias, no trabalho desenvolvido e no que cada um pode fazer para ser também uma EcoFamílias. Nem todos os programas foram anotados, pois por vezes solicitaram apenas declarações via telefone. Com presença em estúdio, a Quercus falou no projecto EcoFamílias nos seguintes programas: TSF - Um dia Será Notícia, 22 de Outubro de 2007, às 14h Rádio Clube Português – Coimbra, 19 de Fevereiro 2008, às 16h30; TSF – Programa da manhã, 24-03-2008. 14.2 Rubrica EcoFamílias – Sociedade Civil A Quercus tem um espaço EcoFamílias no programa Sociedade Civil (Figura 80), do Canal 2. A rubrica EcoFamílias é exibida uma vez por mês. Este espaço pretende mostrar através do exemplo de uma EcoFamília deste projecto o que cada uma pode fazer em casa para mostrar o que cada um pode fazer também em sua casa. Figura 80 – Logotipo do programa Sociedade Civil Esta rubrica começou com um programa inteiro dedicado a este projecto a 14 de Junho de 2007, seguindo nos meses posteriores a rubrica em formato normal. No total serão exibidas 12 rubricas (Tabela 16), entre Junho de 2007 e Junho de 2008. O programa Sociedade Civil tem um share de audiências de 31%, para um universo de 32 mil telespectadores. Em anexo a este relatório junta-se um CD com algumas das rubricas. As rubricas que faltam não foi possível gravar uma cópia. Tabela 16 – Datas de exibição da Rubrica EcoFamílias no programa Sociedade Civil Tema 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 12 Introdução Eco225 /Resultados Eco30 Iluminação Climatização Escritório - Categoria Informática Máquinas (Loiça e Roupa) Frigoríficos Aquecimento Ambiente Sala - Categoria Entretenimento Cozinha - Pequenos Electrodomésticos Aquecimento Solar Térmico (AQS) Resultados EcoFamílias 225 Micro-Geração (Eólico/Fotovoltaico) Data Programa Família exemplo 31-05-2007 Maria Manuela Silva Francisco Ferreira 28-06-2007 26-07-2007 Alfredo Vieira Helena Ramos Francisco Ferreira Aline Delgado 27-09-2007 Ana Maria Durães Ana Rita Antunes 25-10-2007 29-11-2007 31-01-2008 Pedro Simões Paulo Mota Daniel Machado Francisco Ferreira Ana Rita Antunes Ana Rita Antunes 28-02-2008 Carlos Pedroso Ana Rita Antunes 27-03-2008 08-05-2008 Daniel Machado Presença em Estúdio Filipa Alves - 29-05-2008 Juliana Romão Regra Família c/ maior poupança obtida 26-06-2008 Olímpio Guedelha - - 14.3 Minuto pela Terra O programa estreou na estação de Rádio Antena 1 em 17 de Setembro de 2007 (Figura 81). Este programa é da responsabilidade da Quercus e passa três vezes por dia, de segunda a sexta-feira. A Antena 1 durante o período em que é transmito o Minuto pela Terra tem Antena Um, tem share médio de 6,7% de um universo de 4600 milhões de ouvintes. Figura 81 – Logotipo da rubrica Minuto pela Terra Na Tabela 17 são descritos os programas dedicados à eficiência energética no sector doméstico. Tabela 17 – Programa Minuto Verde dedicado à poupança energética em casa. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 Tema Carregador do Telemóvel Não deixar aparelhos electrónicos em stand-by Desligar a luz quando não é necessária Frigorífico Máquina de lavar roupa Utensílios eléctricos versus utensílios manuais Lâmpadas de alta eficiência versus lâmpadas incandescentes Ser cuidadoso no uso do microondas Poupar energia na cozinha Carga completa, maior eficiência e eficácia Usar o microondas de forma ecológica Poupar energia num computador portátil Alterações Climáticas Cuidados na utilização do ferro de engomar Construção de uma casa - cuidados de isolamento Casas claras no interior para poupar na iluminação Vidros Duplos melhoram isolamento térmico e acústico Monitores TFT – a melhor solução económica e ambiental Conforto térmico: melhor opção para o ambiente e para si Um carregador solar serve para telemóveis, máquinas fotográficas e mp3 Obras de manutenção são fundamentais para garantir o conformo térmico Data 17-09-2007 18-09-2007 19-09-2007 20-09-2007 24-09-2007 25-09-2007 26-09-2007 2-10-2007 3-10-2007 4-10-2007 10-10-2007 24-10-2007 30-10-2007 7-11-2007 9-11-2007 15-11-2007 3-12-2007 7-01-2008 15-01-2008 18-01-2008 19-02-2008 14.4 Minuto Verde O programa Minuto Verde (Figura 82) é da responsabilidade da Quercus. Esta rubrica tem já a duração de dois anos e é transmitida três vezes diariamente no programa Bom Dia Portugal, que tem um share de 50% de audiências, para 500 mil telespectadores. Figura 82 – Logotipo do programa Minuto Verde Este programa dedicou 50 programas a transmitir conselhos para a poupança de energia em casa (Figura 82). Tabela 18 – Programa Minuto Verde dedicado à poupança energética em casa. Nº 1 2 3 4 5 6 7 8 e 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 Data 07-02-2007 19-02-2007 05-03-2007 15-03-2007 26-03-2007 27-03-2007 30-03-2007 11-04-2007 12-04-2007 18-04-2007 20-04-2007 16-05-2007 24-05-2007 06-06-2007 25-06-2007 28-06-2007 02-07-2007 06-07-2007 15-08-2007 21-08-2007 27-08-2007 11-09-2007 14-09-2007 18-09-2007 25-09-2007 08-10-2007 18-10-2007 22-10-2007 24-10-2007 31-10-2007 01-11-2007 09-11-2007 13-11-2007 15-11-2007 22-11-2007 23-11-2007 28-11-2007 29-11-2007 30-11-2007 04-12-2007 Tema Lâmpadas Halogéneo Alta Eficiência Balastro lâmpadas florescentes Balastro lâmpadas florescentes eficiência Balastro electrónico Cafeteira Eléctrica Processamento de denúncias Barbear descartáveis Borrachas do frigorífico Lâmpadas florescentes Substituir o frigorífico antigo Alterações climáticas Como acondicionar alimentos no frigorífico Afastar e limpar a grelha do frigorífico Electrodomésticos Energia fotovoltaica Parede dupla Ficha técnica da habitação II Estores com isolamento térmico Janelas de sótão Estores a energia solar Estores com caixa externa Candeeiros fotovoltaicos Roupa fácil de passar Materiais para o chão Reabilitação na construção Etiqueta Energética Classe energética desde o inicio Janelas de batente Informação no Certificado da habitação Forno Solar, o que é ? Estores Interiores (entre vidros) Janelas com ruptura térmica Ciclo de vida do isolamento Validade do certificado Lâmpadas Eficientes Manutenção das caixilharias Forno Solar Utilização Isolamento pelo exterior Entregar lâmpadas usadas Pedalar pela energia Tabela 19a – Programa Minuto Verde dedicado à poupança energética em casa (cont.) Nº 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 Data 07-12-2007 11-12-2007 17-12-2007 04-01-2008 07-01-2008 08-01-2008 14-01-2008 16-01-2008 17-01-2008 18-01-2008 Tema Ventilação em portas e janelas Reabilitação e janelas eficientes Iluminação de Natal Lâmpadas LEDs Legislação de equipamento EE Protocolo de Quioto Fornos solares / reutilização de materiais Detergentes concentrados Entrega EEE Promoção electrodomésticos 14.5 Seminários e Feiras A Quercus foi convidada a apresentar o projecto EcoFamílias em diversos seminários por todo o país e estrangeiro em 2007 e também já em 2008 (Tabela 20). Tabela 20 – Apresentação do projecto EcoFamílias em Congressos e Seminários Nome Seminário "Energia, Ecoeficiência e Desenvolvimento Local" EcoAtitude “Aquecimento Global e Problemas Energéticos” 9ª Conferencia Nacional de Ambiente Ciclo Planeta Terra Alterações Climáticas e Consumo de Energia Seminário "Conservação de Energia e Energias Renováveis no Sector Doméstico" Seminário "Troca de Experiência de Utilização Racional de Energia" Dia Mundial do Ambiente I Jornadas de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Algarve Seminário “Power Your Future” Energy Efficiency – Global Forum & Exposition Metering, Billing "Energy for Development" Ciclo de Debates "À Volta do Ambiente" Debate Energia e Alterações Climáticas Seminário “Eficiência energética e gestão da procura” Expo Energia’07 IV Conferência de Ciências e Tecnologia do Ambiente Alterações Climáticas - Qual o nosso futuro? Seminário Consumo, Energia e Ambiente Workshop - Eficiência Energética Primeira Conferência sobre Edifícios Eficientes Data Organização Local 14-03-2007 Projecto Nordeste 21 Mirandela 20-03-2007 JS Mondim de Basto Mondim de Basto Universidade de Aveiro Lisboa FNAC - Colombo Escola Superior de Gestão de Santarém Lisboa 21-05-2007 Quercus Lisboa 30-05-2007 OEINERGE Oeiras 05-06-2007 CM Vila Velha de Rodão V.V. Rodão 25 e 26 -062007 CM de Albufeira Albufeira 06-09-2008 Universidade do Algarve Faro 11-11-2007 Alliance to Save Energy 02-10-2007 10-10-2007 CRM Europe IST Washington, EUA Vienna, Austria Beja 19-10-2007 CM de Loures Loures 13-11-2007 Centro de Informação EUROPE DIRECT de Santarém Santarém 15-11-2007 APEA Porto 22-11-2007 Água & Ambiente Oeiras 23-11-2007 NECTAR Porto 30-11-2007 PSD Paredes Paredes 10-12-2007 DECO Porto 12-12-2007 ENERGAIA Porto 25-01-2008 Universidade do Algarve Faro 18 a 20-042007 11-05-2007 17-05-2007 Santarém Tabela 21a – Apresentação do projecto EcoFamílias em Congressos e Seminários (cont) Organização U. Católica Portuguesa Escola Superior de Biotecnologia - Extensão em Caldas da Rainha Local 31-03-2008 DECO Coimbra 04-04-2008 ISCE - Instituto Superior de Ciências Educativas Odivelas Nome Data III Jornadas de Ambiente 20-02-2008 Seminário Consumo, Energia e Ambiente 1º Congresso Ambiente e Sociedade Caldas da Rainha O projecto EcoFamílias foi também apresentado em algumas feiras, como a Feira das Energias Renováveis que decorreu em Faro em Junho de 2007 e a AMBIURB, na FIL em Novembro de 2007. Nestas feiras, o projecto esteve presente com um painel produzido para o efeito (Figura 83). Figura 83 – Painel sobre o projecto EcoFamílias 15. Indicadores e benefícios da medida Neste capítulo e sucintamente são referidos os indicadores e benefícios desta medida. Famílias abrangidas e caracterização: 285 Famílias inscritas; 206 EcoFamílias acompanhadas ao longo de um ano, com distribuição por todos os distritos de Portugal Continental (Tabela 22); Realização em média de 3 visitas por família; Instalação de 300 Energy-checks em locais diferentes; Instalação de 82 Termo-higrómetros em locais diferentes; Instalação de 50 conjunto de equipamentos para medição remota; Caracterização social das EcoFamílias abrangidas; Caracterização de habitação das EcoFamílias abrangidas Caracterização dos equipamentos eléctricos (170 equipamentos diferentes) e iluminação; Caracterização dos consumos eléctricos das 206 famílias por categoria e escalão de rendimento; Caracterização dos consumos globais e emissões de gases de efeito de estufa; Identificação do potencial de poupança. Tabela 22 - Distribuição das EcoFamílias por distrito. Distrito Aveiro Beja Braga Bragança Castelo-Branco Coimbra Évora Faro Guarda Leiria Lisboa Portalegre Porto Santarém Setúbal Viana do Catelo Vila Real Viseu Total Nº de famílias 8 7 15 21 15 10 3 5 6 4 45 3 20 13 9 5 5 12 206 Medições e Potencial de poupança: Medição de consumos eléctricos num total de 465.871 horas; Medição de consumos por sistema remoto durante 130.992 horas. Iluminação: 3,2% de potencial de poupança em relação ao consumo total de electricidade anual; poupança de 40% do consumo total desta categoria (média por família); Anulação de consumos de stand-by e off-power: 5,3% de redução de consumos em relação ao consumo total de electricidade anual; poupança de 30% nas categorias de entretimento e informática; Troca de equipamentos: potencial de poupança de 1,9% do consumo total de electricidade anual, em equipamentos de frio. Total de potencial de poupança conseguido: 10% em relação ao consumo total de electricidade anual (média por família); 206 Fichas de recomendação dadas e personalizadas a cada família. O potencial de poupança em relação à troca de caixilharia não foi possível calcular por não estar ainda disponível o simulador STE -Simulação Térmica de Edifícios, actualizado ao RCCTE (Regulamento Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios, DL n.º 80/2006), desenvolvido pelo INETI. Os potenciais de poupança em iluminação e anulação de consumos de stand-by e offpower revelou-se superior ao previsto. O potencial de poupança associado à troca de equipamentos de frio revelou-se inferior ao esperado, devido à idade recente dos equipamentos de frio. Divulgação: - Criação de rubricas sobre EcoFamílias e eficiência energética em canais públicos de televisão e rádio; - Participação em seminários, conferências, numa média superior a 2 por mês e feiras para divulgação do projecto e forma de actuação. 16. Conclusões O projecto EcoFamílias teve como objectivo analisar os consumos de 225 famílias distribuídas equitativamente pelas nove zonas climáticas de Portugal Continental, definidas pelo Decreto-Lei nº 80/2006, de 4 de Abril (Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios - RCCTE) e propor medidas de redução do consumo de energia eléctrica pela alteração de comportamentos. A adesão ao projecto foi maior nas zonas litorais e menos significativa nas zonas interiores, não se conseguindo respeitar o objectivo inicial de assegurar 25 famílias por zona. Para atingir as 225 famílias foram aceites inscrições de zonas climáticas onde o limite estabelecido de 25 famílias já havia sido atingido. Embora a selecção de famílias tivesse superado o número previsto (225), apenas foi possível acompanhar 206 devido a um conjunto de dificuldades, como a distância entre as famílias, a indisponibilidade de horários para receber a equipa EcoFamílias e a desmarcação das visitas no momento. O projecto EcoFamílias pretendeu atingir os seguintes objectivos: Caracterizar o consumo energético das EcoFamílias; Verificar a relação entre o escalão de rendimento e/ou a zona climática das EcoFamílias com os consumos de energia; Analisar o potencial de poupança energética através da mudança de comportamentos. Olhar hoje para o tema da eficiência energética associada a contextos familiares implica olhar para o contexto social. Este olhar permite não apenas enquadrar as respostas e os dados recolhidos, mas também desenvolver metodologias e ferramentas que possibilitem uma intervenção mais concreta e eficaz. Em todo este processo de estímulo à eficiência energética através da mudança de comportamentos o grau de informação, não sendo o único factor relevante, é um dos factores base. Os dados atrás analisados permitem avançar com a ideia que existe uma percepção relativamente clara e correcta de onde se operam os consumos de peso mais significativo para o orçamento familiar, muito embora persistam algumas discrepâncias no que concerne a áreas como a iluminação ou a informática. Integrar esta informação no momento de estruturar o aconselhamento a dar a cada uma das EcoFamílias abrangidas por este estudo permite reforçar as possibilidades de serem atingidos os objectivos de melhorar a sua eficiência energética. Foi isso que se procurou fazer neste caso. Estando inicialmente previsto o acompanhamento de 225 famílias, este relatório apresenta os resultados de 206 famílias, pelas razões anteriormente descritas, distribuídas pelas 9 zonas climáticas definidas no RCCTE (Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios). O programa EcoFamílias não teve como critério de selecção as características construtivas o que originou uma base aleatória, no que diz respeito às características da construção. A partir de 1991 entrou em vigor o primeiro RCCTE - Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios (Decreto-Lei 40/90 de 6 de Fevereiro). Este Regulamento teve implicações na edificação impondo um maior rigor em termos construtivos ao nível do seu desempenho energético e, consequentemente, no isolamento térmico dos elementos da construção: paredes exteriores, pavimento térreo e coberturas. Por este motivo, o ano de construção foi tido em conta no momento da caracterização construtiva das habitações. As habitações visitadas construídas após 1991 registam um melhor comportamento térmico: verifica-se o crescente uso de isolamento térmico nas suas paredes exteriores e superfícies envidraçadas com melhor desempenho (tipo de caixilho e tipo de vidro). Na realidade não se verificou a aplicação desejada do Regulamento, continuando a verificar-se algumas anomalias, apesar de se registarem melhorias. O sistema construtivo deve estar adaptado ao clima em que se insere. As diferenças construtivas entre os elementos analisados ocorrem por diversas razões entre elas a zona do território (norte, sul e centro, interior e litoral do país), factores climáticos e data de construção da habitação. De um modo geral verificou-se que as construções não estão adaptadas às especificidades locais. A orientação solar é um factor igualmente importante na concepção de um edifício para que se possa tirar partido do Sol, quer em termos de calor, quer em termos de luz. Na análise do tipo de parede exterior com as zonas climáticas, ao contrário do que seria de esperar as construções não se encontram adaptadas às especificidades climáticas locais. O tipo de parede com pior comportamento térmico aparece nas zonas climáticas mais rigorosas, mas são também nestas zonas que residem as EcoFamílias de classes de rendimento mais baixas, o que pode influenciar estes resultados. Verifica-se que as melhores soluções de tipos de vidro e caixilho, analisado em função da zona climática, encontram-se nas zonas onde o clima é menos rigoroso. Este facto pode ser motivado por uma maior preocupação com o conforto interior ou devido às EcoFamílias destas zonas climáticas pertencerem a classes de rendimento mais elevadas. Na análise do conforto higrotérmico e outros dados relativos às EcoFamílias pode concluir-se que, de um modo geral e independentemente da zona climática em que se inserem, são vários os factores que contribuem para a sensação de conforto. Desde logo a orientação solar é determinante na sua análise higrotérmica. Observou-se que a orientação face ao quadrante Norte se traduz geralmente por maior humidade e menores temperaturas (facto justificado por não receber radiação solar directa). As orientações Este e Oeste são quentes ou frias, consoante seja manhã ou tarde (quando recebem radiação solar directa). Quando a orientação é Sul verificam-se temperaturas mais elevadas e menor humidade uma vez que é o quadrante que tem maior número de horas de radiação solar directa, sendo o quadrante mais favorável. Através do inquérito de levantamento dos equipamentos eléctricos existentes constatou-se que equipamentos como fogão, frigorífico/combinado, máquina de lavar roupa existem em todas as EcoFamílias e 85% das famílias possuem micro-ondas. Outros equipamentos como computador estão presentes em cerca de 70% das famílias abrangidas por este programa. Os equipamentos de frio (frigoríficos/combinados e arcas frigoríficas) medidos representam a maior fatia de consumo (24%). Os equipamentos desta categoria presentes nas habitações são maioritariamente equipamentos posteriores à entrada em vigor da etiqueta de eficiência energética. Os consumos de electricidade dos frigoríficos e combinados não estão directamente relacionados com o número de pessoas de cada EcoFamília. Na categoria de máquinas de lavar as mais comuns nas casas das EcoFamílias são as máquinas de lavar roupa, com uma taxa de presença nestas famílias de 100%, e de lavar loiça, presente em cerca de 65% das famílias. Os equipamentos desta categoria presentes nas habitações das EcoFamílias são maioritariamente posteriores à entrada em vigor da etiqueta de eficiência energética. As máquinas de lavar loiça e roupa representam 16% do consumo total. A nível de aquecimento de águas sanitárias as EcoFamílias, ainda prevalece o gás como fonte de energia, quer através de esquentadores, como caldeiras. No que refere à climatização, predominam os equipamentos eléctricos, sendo o irradiador a óleo o equipamento mais presente (30%), seguido dos equipamentos de ar condicionado (18%). O escalão de maior rendimento apresenta o menor número de equipamentos de climatização o que pode ser justificado pelas melhores soluções construtivas das habitações, implicando uma menor necessidade de utilização destes equipamentos. No que respeita aos electrodomésticos de cozinha, a placa a gás continua a ter muito maior peso (82%) do que as eléctricas. No caso do forno existe uma maior presença de fornos eléctricos nas casas das EcoFamílias (69%). Existe potencial de poupança ao eliminar os consumos stand-by que alguns micro-ondas possuem. O potencial de poupança com a eliminação dos consumos de stand-by na categoria da cozinha (microondas) é mais elevado na classe 5/6 pois é nestas famílias que se encontram mais micro-ondas com visor. Na análise do tipo de equipamentos de entretenimento existentes nos lares das EcoFamílias, verificou-se que 99% têm pelo menos um aparelho de televisão. Outros equipamentos como DVD ou aparelhagem de som, são comuns nas EcoFamílias, encontrando-se em 80% e 64 % das famílias, respectivamente. Nesta categoria estão ainda incluídos equipamentos como o descodificador de televisão ou consolas, num total de 29 tipos de equipamentos. Do consumo dos equipamentos medidos verificou-se que nas EcoFamílias os aparelhos de entretenimento apresentam uma média de cerca de 223 kWh/ano, que corresponde em média a 6% do consumo total de electricidade. Os consumos mais elevados estão maioritariamente relacionados com as tecnologias CRT e plasma. Conclui-se também que a potência dos aparelhos apresenta maior peso no consumo do que o tempo de utilização. O potencial de poupança da categoria de entretenimento é em média 3,4% em relação ao consumo total de electricidade. O potencial de redução de consumo é mais baixo nas classes de rendimentos mais elevada (5 e 6), pelo facto destas famílias terem mais equipamentos com baixo consumo stand-by e off-power, como o caso dos televisores LCDs. Os equipamentos informáticos têm um peso crescente nos lares portugueses. Reflexo disto é o facto de 70% das EcoFamílias possuírem computador. O consumo destes equipamentos é muito variável entre famílias, dependendo da utilização que cada uma faz destes equipamentos (trabalho ou lazer). Os consumos nesta categoria representam um peso médio de 7% da factura total de electricidade. A redução de consumo na área da informática é de 1,8% do consumo total de electricidade. No caso dos equipamentos de informática verifica-se que o potencial de redução de consumo é mais reduzido na classe 1, por estarem pouco presentes nestas habitações. As classes de rendimentos 5 e 6 são onde se verifica o segundo menor potencial de poupança, devendo-se à maior presença de portáteis. Na iluminação identificou-se a utilização predominante em todos os escalões de rendimento de lâmpadas incandescentes. Outro facto que se verifica na iluminação é uma cada vez maior utilização das lâmpadas de Halogéneo (22%) e lâmpadas fluorescentes compactas (22%) sobretudo nos escalões de maior rendimento, o que significa uma melhoria ao nível da eficiência energética relativamente à utilização das lâmpadas incandescentes. As lâmpadas fluorescentes encontram-se principalmente nas cozinhas (10%). O potencial de poupança nesta categoria é em média de 3,2% do consumo total de electricidade sendo muito significativo em todos os escalões de rendimento. Apesar dos escalões de rendimentos superiores apresentarem um número superior de lâmpadas fluorescentes compactas, apresentam também um número significativo de lâmpadas incandescentes e de halogéneo. Na análise do tipo de contador, verificou-se que cerca de metade das EcoFamílias (51%) não tem contador Bi-Horário. No entanto, verifica-se que se tornava vantajoso para estas famílias optarem por este tipo de contador. A troca de contador permite uma transferência de consumos para o período de vazio entre 325 e 3343 kWh/ano, sendo a média anual de 1513 kWh. O consumo eléctrico médio global das EcoFamílias aproxima-se da média nacional: no período em avaliação foi de 3.333 kWh/ano, enquanto a média nacional é de 3.533 kWh/ano. Este consumo não é directamente proporcional ao rendimento familiar, nem se encontra associado à zona climática. Os consumos de electricidade devem estar, então, relacionados com hábitos de consumo e ocupação da habitação. Na análise de consumos de gás verificou-se que a maioria das habitações das EcoFamílias (52%) possui gás de botija, destes o mais utilizado é o gás propano. O gás natural está utilizado por 24% das EcoFamílias. As emissões associadas aos consumos de electricidade e gás das famílias são em média de 2.539 kg de CO2/ano, variando entre os 324 kg CO2/ano e os 10.951 kg CO2/ano. No que diz respeito ao consumo de água, constata-se que a zona climática não tem influência nos consumos. Os consumos de água superiores à média que algumas EcoFamílias apresentam estão normalmente relacionados com a existência de jardim ou horta, o que conduz a um consumo de água relacionada com a rega. Apesar de existirem mais famílias com jardim o seu consumo não é significativo pois possuem um sistema de captação de água (furo), não sendo o consumo de água para regas e exterior contabilizado. O potencial de poupança energética foi calculado com base nas características dos consumos de stand-by, off-power, iluminação, equipamentos de frio e máquinas de lavar. As categorias de Iluminação, Entretimento e Informática que, em conjunto, representam cerca de 21%, são as categorias onde o potencial de poupança está mais associado à alteração de comportamentos, pela eliminação de consumos de stand- by e off-power e substituição de lâmpadas. Por esta razão foram também as três categorias onde o projecto mais incidiu. Ao analisar o potencial de poupança por categoria de actuação verifica-se que as reduções mais significativas são conseguidas com a anulação de consumos stand-by e off-power dos equipamentos de entretenimento (33%), seguido pela substituição da iluminação (31%) e dos equipamentos de frio (18%). A anulação de consumos standby e off-power dos equipamentos de informática está em quarto lugar (17%), seguindo-se o contributo dos microondas, apenas com 1% de potencial de poupança identificado. O potencial de redução de consumos na categoria de entretenimento é o mais elevado de todos, também porque a presença destes equipamentos nas habitações é muito significativa. A redução de consumo varia entre 4,4 e 210 kWh/ano, que representa 3,4% do consumo total de electricidade médio das EcoFamílias. A anulação de consumos stand-by e off-power na Informática varia entre 35 e 412 kWh/ano e representa 1,8% do consumo total de electricidade médio das EcoFamílias. A subsituação de frigoríficos, com tempos de retorno de investimento de 6 anos, é viável para apenas algumas EcoFamílias, conseguindo-se uma poupança global de 7852 kWh/ano, representado 1,1% em relação ao consumo total de electricidade médio das EcoFamílias. Em relação às arcas frigoríficas a substituição viável destes equipamentos, consegue-se uma poupança global de 5360 kWh/ano no projecto. Os equipamentos de frio têm um potencial de redução de consumo significativo com a sua substituição nas famílias de classe de rendimento 1, pois nestes casos as famílias adiam o investimento em equipamentos mais recentes. Por outro lado, as famílias com melhores rendimentos apresentam um menor potencial de poupança nesta categoria pois apresentam equipamentos com melhor eficiência energética. Nas máquinas de lavar roupa e loiça, e para as famílias abrangidas, verificou-se que, apesar de existirem alguns casos de consumo elevado, a substituição das máquinas de lavar por uma de classe A não é viável, por não se conseguir recuperar o investimento em 6 anos. Segundo a classe de rendimento das EcoFamílias, a classe 4 apresenta o maior potencial de poupança. A classe de melhores rendimentos apresenta o menor potencial de redução de consumo. As medidas tomadas com este projecto representam uma poupança anual de 35.815 kWh/ano, com a anulação de consumos de stand-by e off-power nas categorias de Entretenimento e Informática. As alterações de comportamento representam uma poupança de 5,3% do consumo total de electricidade das EcoFamílias. A troca de lâmpadas representa uma poupança de 22.140 kWh/ano, cerca de 3,2% do consumo. No total com alteração de comportamentos e potencial de troca de equipamentos, as famílias incluídas no projecto obtém uma poupança de 71.634 kWh/ano (10% do consumo total de electricidade), representando uma redução de 34.456 kg CO2 (Tabela 23). Tabela 23 – Poupanças conseguidas em cada categoria por família e em termos globais As principais dificuldades do projecto foram: Alcançar a representatividade tanto em número de famílias como em escalão de rendimento por zona climática (25 famílias por zona climática); Distância entre famílias limitou o número de visitas por dia, também por serem quase todas em horário pós laborar; Indisponibilidade de famílias em receber a equipa EcoFamílias; Medição de equipamentos encastrados e dificuldade de acesso a fichas de electricidade e a sistemas de aquecimento e caldeiras; A medição individual de equipamentos devido a uma estruturação inadequada dos quadros eléctricos (disjuntores); Insuficiente introdução de dados dos contadores na base de dados por parte de algumas famílias. Com o objectivo de divulgação, mas também potenciar o efeito multiplicador da aprendizagem que poderia obter, o Projecto EcoFamílias teve uma fortíssima componente de comunicação, quer numa filosofia de sensibilização pessoal, quer recorrendo aos meios de comunicação social e onde a área da energia e em particular da electricidade assume grande relevância. As EcoFamílias tiveram presentes quer em programas de rádio diversos, como televisão (Sociedade Civil). Os conselhos dados durante o projecto foram a base de muitos das rubricas Minuto pela Terra e Minuto Verde, da responsabilidade da Quercus. Este projecto esteve ainda presente em muitos seminários e congressos por todo o país, tendo sido também apresentado na Europa e Estados Unidos da América. A ERSE considera que as medidas alcançadas com o PPEC 2007 têm reflexo até 2023, pelo que o projecto EcoFamílias atinge uma poupança global de 1,07 GWh, em 15 anos. O potencial de poupança aqui atingido pode ainda ser melhorado pela análise em adição da colocação de equipamentos de energias renováveis e melhoramentos nos aspectos construtivos. O potencial de poupança obtido neste projecto, aplicado a todas as famílias residentes em Portugal Continental resulta numa poupança de 1,2 TWh/ano. Esta poupança traduz-se numa redução de 586 mil toneladas de CO2, relativamente às emissões de 2007, contribuindo em cerca de 1% para o cumprimento do Protocolo de Quioto por Portugal.