5 - Funedi

Transcrição

5 - Funedi
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Pertencer. Inspirado nesse verbo, foi criado o dossiê
#EuSouMinhaCidade, desta de QUESTÕES. Nele, buscamos
diferentes fatos e histórias importantes para o conhecimento
público, muitas vezes escondidos por interesses privados,
alienando o cidadão quanto ao que de fato ele pertence.
Estamos cada vez mais próximo do centenário da Cidade do Divino. A cidade que recebe diariamente inúmeras
pessoas de diferentes lugares, que chegam por diferentes
motivos, completará em poucos meses cem anos. Pessoas
que vêm pessoas e que vão. Pessoas que ficam. Todas essas
deixam um pouco de si, e levam algo daqui. Criam-se laços.
Esta edição de QUESTÕES é um esforço de laboratório: procuramos praticar jornalismo investigativo. Desculpem-nos a impertinência e a imprudência: investigar significa perseverar pela descoberta a partir de vestígios. No
jornalismo, investigar significa colocar a claro o que está sendo
mantido sob sigilo, geralmente em benefício de uns poucos.
Foi assim que desvelamos o crack, esse inimigo íntimo; os planos (mirabolantes?) de um movimento virtual, o
Anonymus, que, volta e meia, coloca em maus lençóis a segurança informática de instituições públicas e privadas, inclusive
a Prefeitura de Divinópolis. Tratamos mais uma vez das idas
e vindas, das eternas promessas em torno do Guarani Esporte
Clube. Reviramos o passado em busca de uma trama que envolvia helicópteros, alemães, segredos de estado, um alegado
aumento da incidência de Câncer em Pitangui e sua relação com
a nunca provada existência de um perigo radioativo na cidade.
ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA
Avenida Paraná, 3001, Bairro Jardim Belvedere
CEP 35501–170 – Divinópolis (MG)
E-mail:[email protected]
Blog:www.revistaquestoes.blogspot.com
É dessa forma que formamos um mosaico de faces.
Essa, aliás, é a ideia da capa desta edição, com todas essas
fotos 3x4 formando um diversificado mosaico, simboliza algo
de grande significado para a cidade: essa é a nossa bandeira. Nela está uma pequena parte das pessoas que possuem
histórias com a cidade de Divinópolis. Todos estão juntos
por uma só causa, somos como marcas. Somos a pele que
dá forma e sentido para o que é projetado para fora. Será que
estamos tendo esse cuidado ou, pelo menos, temos a preocupação de ser algo nosso? Idealizemos. Voltemos à realidade.
Nesta edição, aproveitamos para pedir desculpas aos
leitores pelas falhas que cometemos na última edição. Uma,
pelo menos, reparamos (ou tentamos reparar) agora: além das
matérias e de um artigo, da professora Márcia Helena Batista,
publicamos o belo texto da jornalista decana Maria Cândida,
que, por uma daquelas falhas inexplicáveis, não foi publicado
na última edição. Os leitores verão que o texto de Cândida
parece ter sido encomendado para a temática desta edição.
Cada matéria que foi escrita, com o maior esforço
por nós, alunos do curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo da Funedi/Uemg. Tentamos, enfim,
manter firmes nossos laços com a cidade e a região – porque,
afinal, é disto que vive o jornalismo, ao menos aquele em
que acreditamos: de tocar os humanos que nos cercam e que
formam o delicado tecido da cidade. QUESTÕES pode,
sim, dizer: #EuSouMinhaCidade. E você, caríssimo leitor?
PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE DIVINÓPOLIS (FUNEDI), UNIDADE
ASSOCIADA À UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS (UEMG) – Professor Gilson Soares - COORDENADORA GERAL DO INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR
E PESQUISA (INESP) – Professora Ivana Prado de Vasconcelos - COORDENADORA DO
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA FUNEDI/UEMG – Professora Janaina Visibeli CORPO DOCENTE DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA FUNEDI/UEMG: Ana
Paula Martins, André Flávio C. Rabelo, Batistina Corgozinho, Célia Pedrosa, Cristina Silva
Gontijo, Elisângela Reis, Fabrízio Furtado de Souza, Fernando Oliveira, Flávia Lemos, Frederico Vieira, Gerlice Teixeira Rosa, Gilson Raslan Filho, Janaina Visibeli, Jader Gontijo
Maia, João Basílio Costa e Paula, Márcia Helena Batista, Paulo César Pereira, Renata Loyola,
Rosane Beltrão, Sânia Mascarenhas. DIAGRAMAÇÃO – André Camargos e Rafael Moreira
(6º período) CAPA – André Camargos (6º período) - EDITORIAL – André Camargos (6º período) - EDITOR – Professor Gilson Raslan Filho (MG 05622 JP) - FOTOLITOS E IMPRESSÃO
– Fumarc (Belo Horizonte – MG) - TIRAGEM – Mil exemplares (distribuição gratuita).
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Anonymous. Uma organização anônima. Uma
rede de conspirações. Um grupo responsável por
ataques às redes sociais e aos sites do Governo.
Possível existência de alta
radioatividade deixa população
de Pitangui em assustados
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Atrasos marcam o projeto da construção
do Centro de Treinamento do Bugre
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As marcas e consequencias do crack
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Eu sou minha cidade
Uma rainha Desmemoriada
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Um viaduto de amor e dor
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O PLANO: UM ANO. TRÊS FASES.
UM MUNDO DE MUDANÇA
É o que promete o Anonymous, uma organização Hacker-Revolucionária, ou hackitivista, atuante em
vários lugares do mundo. Uma organização anônima. Uma rede de conspirações. Um grupo responsável por ataques às redes sociais e aos sites do Governo. Em meio a toda essa trama, até que ponto
esse movimento é real e quando começa a fantasia?
Por Juliana Faria e Marina Alves
“O Anonymous está ganhando
destaque aqui no Brasil e se o grupo
pisar na bola, ou cometer algum deslize
nesta jornada, podem acontecer duas
coisas: 1º - o exército tomar o poder e
instaurar novamente uma ditadura, e
ir à caça dos responsáveis pelo grupo
Anonymous aqui no Brasil. 2º - os corruptos conseguirem nos localizar bem
antes da cartada final e nesse caso o que
vai ter de pessoas sumindo e morrendo
misteriosamente, será algo realmente
alarmante. Eu perdi o medo da morte
há muitos anos! Sou um fantasma que
navega pela internet, quem sou realmente é algo que nem mesmo eu sei. Já
usei de tantos nomes, me passei por tantas pessoas, que hoje nem sei quem sou
mais. Mas eles sabem quem é você! O
perigo não me ronda, mas sim a você”.
Assim começou a entrevista
com o engenheiro social que prefere
ser identificado por Slordead. Além
disso, Slordead faz parte da Administração Geral das Comunidades dos
Anonymous no Brasil, liderando também a parte virtual e hacker do grupo.
“Anonymous não é um grupo
específico, Anonymous é uma ideia,
a ideia de um mundo livre e com igualdade. Anonymous é todo o cidadão que luta por isto. Anonymous
é o que você pratica e não quem você
é”, afirmou Ryuzaki, membro há três
meses da organização. Cansado das
injustiças que ele atribuiu ao Governo,
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Foto: André Camargos
Manifestante usa máscara do personagem Guy Fawkes da HQ V de vingança durante
o protesto contra a corrupção no dia 15 de novembro na Praça do Santuário
Ryuzaki viu na internet o único meio
que lhe permite realizar os protestos.
ANONYMOUS
É
UMA
LEGIÃO. ANONYMOUS NÃO
PERDOA. ANONYMOUS NÃO ESQUECE. Esse é o lema do grupo originado em 2003 a partir do site 4chan, que
tem o propósito de realizar protestos e
outras ações associadas ao hacktivismo,
um tipo de ativismo não com o propósito apenas de invadir um site ou roubar
as suas informações, como imaginamos
a princípio, mas sim para chamar a atenção dos governos e dar voz a uma população, promovendo assim a liberdade na
internet e a liberdade de expressão. Seu
nome, Anonymous, resume o conceito
da organização que acredita não ser
necessário se identificar para realizar
um protesto, pois o que vale não é quem
você é, mas sim a ação que você promove. Por esse motivo também é que
o grupo não possui líderes, sendo uma
organização completamente descentralizada, que sobrevive por meio de blogs,
fóruns, e-mails e redes sociais.
A partir de 2008, o grupo se
firmou como uma comunidade ciberativista após uma série de protestos realizados e que ganharam destaque
na mídia. Isso também fez com que o
número de membros aumentasse. Mas
as mobilizações que começam na internet não se restringem a ela, tomando
também as ruas, como aconteceu em fevereiro de 2008, quando cerca de oito
mil manifestantes saíram às ruas de 109
cidades de todo o mundo para protestar
em frente às Igrejas da Cientologia.
Uma característica do Anonymous é a máscara de Guy Fawkes,
popularizada pela HQ e filme V for
Vendetta (em português V de Vingança)
“Anonymous não é um grupo
específico, Anonymous é uma ideia, a
ideia de um mundo livre e com
igualdade. Anonymous é todo o cidadão que luta contra isto.
Anonymous é o que você pratica e
não quem você é.”
Ryuzaki, membro da organização
que os manifestantes usam durantes
os protestos para não serem identificados, e também fazendo alusão ao
protagonista da história que cobria o rosto com a tal máscara enquanto tentava destruir o Estado totalitário que impossibilitava quase
todas as liberdades individuais.
No Brasil presenciamos uma série de sites do Governo serem hackeados.
Assim, o Anonymous declarou “guerra
ao sistema”: os ataques aos sites do
governo foram uma forma de mostrar
que o sistema eletrônico oficial não está
protegido como se achava. “É uma forma de mostrar que quem manda é o povo
e não os corruptos”, avisa Slordead.
PLANO ANON É O NOME DO
PROJETO que quer informar e mobilizar o maior número de pessoas possíveis
na luta por um mundo melhor, um mundo livre das grandes corporações e governos opressivos que violam os direitos
da população, garante o Anonymous. O
plano, disseram os membros entrevistados, terá duração de um ano e é dividido
em três fases. A primeira começou em
junho deste ano. A fase dois será uma
expansão da um, com foco coletivo, e
por fim a fase três terá as massas mobilizadas pelo Plano e se fazendo ouvidas.
A princípio o Plano Anon é muito
confuso e vago - mas isso é apenas uma
estratégia do grupo para estruturar as
ações de acordo com o andamento desse
processo, evitando assim falhas, dizem.
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Caminhada contra corrupção no Centro de Divinópolis
A desconfiança em relação à mídia também é outro fator que influencia nesse
sigilo. “Todas as ações tomadas pelo
grupo são de decisão mundial, por isso,
se algo acontecer, as pessoas só ficarão
sabendo após o plano ser levado a cabo,
principalmente os atos ou manifestações
que estão ligadas diretamente a outros
grupos mundiais. Nunca se deve confiar muito nas pessoas, muito menos no
sistema e na mídia”, explicou Slordead.
E A GUERRA DECLARADA CONTRA O SISTEMA JÁ
COMEÇOU. Seu início se deu na verdade no ano de 2007, com a exposição,
por meio do Wikileaks, de documentos secretos do exército americano
que tratavam da morte de milhares de
civis na Guerra do Afeganistão e da
exposição de telegramas secretos enviados pelas embaixadas dos EUA ao
governo daquele país. Coincidência ou
não, o movimento antecedeu a chamada Primavera Árabe – um conjunto de
manifestações organizadas por militantes de países como Egito, Tunísia e
Líbia contra seus governos autoritários.
A disseminação das mobilizações da Primavera Árabe foi deflagrada
pela internet, principalmente nas redes
sociais como facebook, twitter e Youtube, o reino absoluto dos hackers,
os mesmos que fazem parte do grupo
Anonymous. Daí em diante, surgiram
manifestações por diversos outros países fora do Oriente Médio. Em comum,
os movimentos têm uma “bandeira
genérica”, de acordo com o professor
Juarez Nogueira, que atuou como líder
e coordenador de uma das manifestações que aconteceu em Divinópolis
no dia 12 de outubro deste ano. “É a
Foto: André Camargos
bandeira da corrupção. No Brasil essa
generalidade está sendo canalizada para
a realização de grupos como o Varre
Brasil, o Indignar-se.” No dia 12, o
Brasil inteiro noticiou mobilizações, a
maior de todas em Brasília, que reuniu
dezenas de milhares de pessoas nas
imediações da Praça dos Três Poderes.
O que não pode deixar de ser
observado durante as manifestações foi
a presença maciça de manifestantes com
máscaras de Guy Fawkes, inclusive em
Divinópolis. De acordo com Nogueira,
a inspiração das mobilizações contra
a corrupção e as atividades de grupos
como o Anonymous vêm de uma distopia, a “utopia ao contrário” do filme V
de Vingança e seu personagem pró-ativo: “O que nós temos nos movimentos,
por trás dos Anonymous e a figura do V
de Vingança, é o fato de que um grupo
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estar acompanhando [o que está acontecendo] e despertando essa capacidade
de indignar-se contra este estado de
coisas que aí está”, explica o professor.
Tanto conhecimento sobre o
Anonymous torna o professor um deles? “Não, eu sou apenas um cidadão
anon. Não sou filiado a nenhum partido
e o único cargo ao qual estou me pleiteando é o de síndico das minhas ideias, presidente da minha mente”. É exatamente a definição dada pelo hacker
Ryuzaki para o grupo no início da matéria.
Outra parte do plano, para além
das manifestações no mundo físico, está
na atuação no mundo virtual. Depois do
Wikileaks, o que mais se viu foram exposições de documentos secretos, derrubadas e invasões de sites assinadas
pelos Anonymous ou pelos Lulzsec,
este último um braço do grupo original.
No Brasil, o Lulzsec assumiu
invasões em sites como o da Presidência, do IBGE e da Receita, todas ocorridas durante o mês de junho deste ano.
O grupo também assumiu invasões em
500 sites de prefeituras de todo o Brasil,
131 delas só no estado do Rio Grande
do Sul, o motivo você já vai descobrir.
E NÃO É APENAS CONTRA
GOVERNOS QUE INVESTEM os
membros do Anonymus. O sempre
“parceiro” Facebook também estaria na
mira. “O Facebook será exterminado
no dia cinco de novembro deste ano”.
Parece absurda a frase de Ryuzaki, mas
essa é uma das ações que o Anonymous
promete executar nos próximos meses
e contra a maior rede social do mundo.
Ryuzaki justifica esse ataque à rede social como forma de protesto à venda de
informações pessoais dos usuários que é
feito pelo Facebook às grandes empresas.
“O plano será o ataque às redes sociais
para um mundo melhor e igual”, explica.
Mas o contraditório nessa ação
é o fato do grupo tentar destruir uma
ferramenta muito útil para eles. Hoje o
contato entre os membros se dá praticamente por meio das redes sociais, entre
elas o próprio Facebook. Esses conflitos
ideológicos são comuns no movimento.
“Nessa comunidade você poderá testemunhar algumas divergências, talvez
o argumento ocasional, afinal somos
“O que nós temos nos movimentos, por trás dos Anonymous e a figura do V de Vingança, é o fato de que um
grupo estar acompanhando
[o que está acontecendo] e
está despertando essa capacidade de indignar-se contra este estado de coisas que
aí está”, explica o professor.
apenas humanos. Mas uma coisa você
vai notar como um objetivo comum e
compartilhado: liberdade e um desejo
de mudança”, avisa a mensagem no
site What Is The Plan, do Anonymous.
OS PRÓXIMOSATAQUES JÁ
ESTÃO DELIMITADOS: “Haverá um
ataque contra o site do Governo do Rio
Grande do Sul e de algumas prefeituras.
O que posso adiantar é que será em mais
ou menos um mês”, alerta Ryuzaki. Durante um movimento em Porto Alegre,
onde vários jovens protestavam contra a
corrupção, munidos com cartazes e máscaras de Guy Fawkes, muitos deles foram
presos. Após esse incidente, o grupo
Anonymous resolveu apoiar os
manifestantes presos e traçou um
plano para derrubar os sites das
prefeituras como forma de retaliação pela prisão dos manifestantes.
De acordo com Ryuzaki, os
ataques estão confirmados para os próxi-
Facebook, um dos supostos alvos dos
Anonymous
mos meses. “Serão mais ou menos 30
pessoas envolvidas de todo o Brasil com
100 milhões de conexões simultâneas”.
Perguntado se essa ação se espalhará
para os outros estados, Ryuzaki tentou
desviar o assunto com um “talvez sim”.
Apesar de não confirmarem
os ataques, essa parece ser uma ação
que será executada nos próximos meses, pois o mesmo alerta foi dado pelo
hacker Slordead. “Esta foi apenas
a 1ª etapa, existem mais, até lá ainda tem muita coisa para acontecer”.
COMEÇO DO FIM
Também em Divinópolis, hackers prometem desafinar o coro dos contentes
Divinópolis acordou na segunda-feira (31/10) com o site de sua prefeitura fora do ar. O site foi invadido por
hackers na madrugada do domingo.
Todas as notícias na página inicial traziam os dizeres “hacked by - z3c4
- L4rgad0 – N04M CORe”. Ao clicar na notícia era exibido “Sorry
admin Justo For Fun” como mensagem. Em seguida o site saiu do ar.
Em nota a prefeitura informou
que o site oficial da prefeitura de Divinópolis ficaria fora do ar durante a
segunda-feira, - e realmente, ele voltou ao ar, para depois ser novamente
hackeado no dia 2 de novembro com
mensagens satanistas, para depois
ficar os dias seguintes em manutenção até ser devidamente recuperado no
dia 14 - pois havia sido invadido por
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hackers. O secretário adjunto Rodrigo
Luiz Comitante Leão garantiu que a ação
não prejudicou o conteúdo da página
eletrônica e as notícias já estavam sendo
novamente postadas. Ainda de acordo
com o secretário, essa foi a primeira
vez, durante esta gestão, que a página
oficial da prefeitura foi invadida, apesar
de sofrer tentativas de invasão quase todos os dias. “Todo o plano de segurança
está sendo revisto e será alterado para
impedir novos ataques”, afirmou Leão.
Os especialistas da Secretaria
Adjunta de Governança Eletrônica disseram que o grupo hacker foi localizado e o IP utilizado estava direcionado
para Honduras. Nas ações de invasão
no site da Presidência e do Portal Brasil, os IPs rastreados também eram
de outro país, na ocasião, da Itália.
Ao investigarmos o caso, localizamos os hackers que assinaram a ação. Em seu perfil no twitter,
L4rgad0 se resume: “L4rgad0 , 16 anos,
estudante ensino médio, COOL, oi, eu
faço deface –q”. Deface é um termo derivado de Defacement, que quer dizer
modificar ou danificar a aparência de
um objeto, ou, neste caso, a modificação de uma página de um site na Internet, ou como ele mesmo chama: ownar,
neologismo em inglês que significa algo
como “tornar parecido comigo”. Geralmente esse tipo de ação é realizado
por script kiddies, uma forma branda
de hackers, em sua maioria, adolescentes. Segundo o professor de Comunicação e Tecnologia André Rabelo, os
script kiddies são usados pelos hackers
para ajudar a invadir e derrubar sites.
Ainda na página de L4rgad0
no mini-blog, encontramos parabenizações pelo feito: “@eronDM:
@prefeituraDivi Win pro z3c4, L4rgad0
e N04M C0Re” – que significa “Vitória
para z3c4, L4rgad0 e N04M C0Re
por ter invadido o site da prefeitura”
(@prefeituraDivi é o perfil da prefeitura de Divinópolis no twitter). E ainda
um recado de outro defacer chamado
Perfil no twitter de um dos hackers responsável pela invasão do site da prefeitura de Divinópolis
@xbrnz que diz: “Depois de fumar o
matinal, 129 sites defaced, comecei o
dia bem? zone-h.org/archive/publis…
@xbrnz @_ir4dex_ @tota_x @l4rgad0
@ir4dex_br #DEFACE”. Onde ele dá
a notícia aos conhecidos twitteiros, entre eles o L4rgad0 e ainda fornece um
endereço onde são relacionadas ações
de defacers (http://zone-h.org/archive/
published=0/notifier=ir4dex). Também
em seu twitter, L4rgad0 é seguidor
dos perfis de grupos como o Lulzsec
(@LulzSecBrazil), do FailShell (@
FailShellTeam - responsável pela invasão da página do IBGE), Luta Digital (@lutadigital), entre outros. Perguntado se ele faz parte de tais grupos,
ele resumiu “não, mas já participei de
um canal deles no início deste ano”.
A participação de L4rgad0 na
Mais um perfil de invasores no site da prefeitura de Divinópolis
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Resultado de uma das invasões na página da prefeitura Municipal de Divinópolis
invasão ao site da Prefeitura Municipal
de Divinópolis se resumiu a seguir as
coordenadas de outro hacker de nome
z3c4. “Ele falou que queria ownar,
então o site tava vulnerável, entrei e
o z3c4 roubou o phpmyadmin, daí a
gente deu o update no título das notícias, foi rápido, se não teríamos elaborado mais”. Traduzindo: houve quebra da fonte do site, a partir da qual
os hackers conseguiram modificar, ao
seu bel prazer, o conteúdo das páginas.
Já z3c4, além de “mandante”,
se assumiu como participante do grupo,
defendendo suas ações. “Antes, na
época da ditadura, as pessoas protestavam nas ruas, saíam com cartazes e
conseguiam os seus direitos, hoje não.
Já reparou como é o sistema de saúde?
Esses ataques servem para alertar sobre o que o povo pode fazer”. Quanto
à invasão “satanista”, ele faz questão
de se isentar da culpa: “As mensagens satânicas não foram nós que escrevemos e sim um membro de outro
grupo que não tem nada a ver com os
Anonymous, já que não criticamos religiões, a menos que
venham
prejudicar
outros”.
O que aconteceu no site da Prefeitura de Divinópolis, ao que parece,
não passou de uma brincadeira. “Passamos a senha para uns doidos”, confessou
z3c4. Quem entrava na página inicial não
notava nada de estranho, no entanto, ao
clicar em uma matéria que tratava sobre
a Secretaria Municipal de Educação, era
aberta uma janela com uma mensagem
com os dizeres “Sobre o círculo de fogo
eu inverto o pentagrama e consagro a ti,
senhor, horrores e malefícios”. Ao dar o
ok, uma imagem da Santa Ceia era aberta com um demônio no lugar de Jesus,
e metade do corpo de Jesus sangrando
no meio da mesa. “Foi só brincadeira”,
e complementa: “Nosso grupo não é
satanista e vamos invadir novamente
dia 15 (de novembro) em protesto contra a corrupção, isto é, se o site ainda
estiver vulnerável”. E ainda ameaça
mais um site da cidade de Divinópolis:
“Não gosto da rádio 94 FM. Eles gostam de aparecer demais. Vou ver se o
site também está vulnerável e instalar
tudo de novo para semana que vem”.
DEPOIS DO FIM?
O que aconteceu e o que não aconteceu de acordo com o plano
Na data marcada pretensamente
pelo Anonymous para a destruição do
facebook, nada aconteceu. Não houve
uma única modificação ou incidente com
relação à rede social. No mesmo dia, o
grupo se pronunciou em um site que o
grupo também usa para divulgar seus
planos, o Pastebin. Lá eles diziam que
a idéia partiu de um integrante apenas
e revelaram inclusive nome, endereço e
telefone do rapaz, disseram também que
ele foi devidamente punido. “O nosso
colega chamado Anthony, que mora em
Ohio, Estados Unidos, decidiu criar essa
operação e divulgá-la como algo oficial.
Apesar de avisarmos que éramos contra
suas ações, ele nos ignorou”, disseram.
O hacker z3c4 repetiu o discurso, ”Foi
uma pessoa que disse que ia derrubar o
facebook, mas não teve apoio dos outros
membros.” Ele ainda apontou as dificuldades práticas da ação: “As bootnets
(computadores zumbis) da Anonymous
não conseguem derrubar o facebook, a
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rede é gigantesca, teria que ter o dobro
de bootnets para interromper o serviço”.
Sem falar na importância da rede para
o grupo ciberativista que eles mesmos
fazem questão de reconhecer “Se você é
contra a nossa forma de comunicação no
Facebook e Twitter, então você é contra
o Anonymous. Você é nosso inimigo,
uma vez que está ajudando a desestabilizar o movimento”, concluiu o grupo.
O facebook, aliás, mais uma vez
foi à plataforma para convidar para mais
uma caminhada contra a corrupção em
Divinópolis, também organizada, como
a do dia 12 de outubro, pelo professor
Juarez Nogueira. Z3c4 também sabia da
caminhada: “Dia 15 na Praça da Catedral às 14h vai ter um movimento lá da
Anonymous” disse. “Nenhum dos manifestantes é hacker, só apóiam a causa”.
Já o site da prefeitura da cidade
entrou no ar no dia 14 de novembro
com a seguinte mensagem em sua página de entrada: “A prefeitura Municipal
de Divinópolis, através da Secretaria de
Governança Eletrônica, informa que o
endereço oficial da instituição retornará
ao ar na próxima sexta-feira (18/11).
A equipe da Governança Eletrônica
está reescrevendo toda a estrutura,
para propiciar maior segurança. Todas
as informações contidas aqui foram
preservadas por backup e já estão sendo
colocadas na nova estrutura. Progressivamente, até o dia 18, todas as ferramentas do site estarão funcionando normalmente”. E desde então o site não sofreu
nenhuma invasão ou modificação, permanecendo normal no dia 15 de novembro.
Quanto ao site da rádio 94 FM,
este sim, sofreu uma tentativa de invasão no dia oito de novembro, poucos
dias após a entrevista com os hackers.
Segundo um dos responsáveis pelos
sites do Sistema MPA, do qual a rádio faz parte, Mateus Elias, a ação não
passou de uma tentativa de “ferrar” a
página oficial da rádio. “Meio que colocaram um vírus, na verdade um malware para poder justamente acontecer o
transtorno que estamos enfrentando”. O
site ficou fora do ar por pouco tempo,
já que perceberam a invasão a tempo.
“Recebemos ligações de alguns ouvintes informando que não estava tendo
acesso”. Sobre a possibilidade de uma
invasão política pelos Anonymous ele
foi direto: “Acredito que não sejam pes-
soas daqui, mas não acho que sejam as
mesmas pessoas que invadiram os sites
do governo. Essas pessoas possuem
mais conhecimento, não acho que iriam se interessar por sites do interior”.
QUESTÕES procurou z3c4
para se pronunciar sobre a tentativa de
invasão, mas ele não respondeu ao nosso contato.
Diante de tal análise, a possibilidade desta ação de invasão ao site
da Prefeitura Municipal de Divinópolis
fazer parte do Plano Anon é bem grande.
Dizer que tudo isso não passa
de fantasia, mais uma entre as várias
“pegadinhas” da grande rede, é complicado, pois vemos ações concretas,
para além do meio virtual. E para afirmar com certeza que tudo é real e o
objetivo do Anonymous será atingido,
faltam provas. Contudo, algumas afirmações podem ser feitas: existe uma
mobilização. Algo está para acontecer.
E se você sobreviver, saberá o que é.
Esta mensagem será autodestruída em 15 segundos... (JF e
MA).
Foto: André Camargos
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MISTÉRIO EM PITANGUI
Possível existência de alta radioatividade alimenta a criatividade
de alguns, estimula o medo em outros e atrai novas hipóteses
Por Fábio Machado e Ricardo Welbert
O município de Pitangui, a 60km de Divinópolis, pode
estar em um território de radioatividade elevada. A afirmação
é do engenheiro sanitarista Pedro Xavier Filho, que mora e
trabalha naquela cidade. Uma história contada por ele desperta curiosidade em quem a escuta. À reportagem da revista
QUESTÕES, “Pepinho”, como é mais conhecido, mostra
um grande álbum de fotografias antigas. Algumas, produzidas há mais de trinta anos, mostram um grande helicóptero
em funcionamento no antigo campo de aviação de Pitangui.
Na fuselagem da aeronave, a comprovação de que aquele
movimento fazia parte de uma parceria de geofísicos do Brasil com a Alemanha. “Eu era um moleque esperto. Ficava
observando a movimentação daquele pessoal. O helicóptero
subia carregando uma espécie de sonda. Ninguém da equipe
entrava em detalhes sobre a finalidade do trabalho. Corriam
boatos de que estavam à procura de ouro ou urânio”, conta.
Tais suposições tinham um fundo de verdade. No
dia 2 maio de 1973, a rotina pitanguiense sofreu uma brusca
mudança com a chegada da aeronave - um Sikorsky S-58T,
helicóptero de 13 metros de comprimento por quatro de altura, que pesava, vazio, 3.583 quilos e ainda podia transportar
mais de duas toneladas de carga. Voava a 196 km/h, a uma
altura de 2.896 metros. No início da década de 70, o Brasil
havia assinado com a Alemanha um tratado de cooperação
tecnológica na área de geofísica que resultou no Convênio
de Geofísica Brasil-Alemanha. 50 técnicos alemães vieram
ao Brasil. Dez deles trabalharam em Pitangui. O município
já havia sofrido prospecções mecânicas por parte de técnicos
da Companhia de Pesquisas e Recursos Minerais (CPRM),
que disponibiliza na internet informações bastante ricas sobre os estudos. Segundo os dados publicados em seu site,
o resultado dos trabalhos fez com que a região fosse escolhida para ser a primeira no Brasil a sofrer uma varredura pelo que existia de mais moderno no mundo em matéria de
prospecção aerogeofísica. As pesquisas em Pitangui duraram de agosto a novembro de 1973, sendo que nos meses de setembro/outubro não houve trabalho devido a problemas mecânicos no helicóptero. De maio a agosto o equipamento passou por
adaptações e aferições, sendo que neste período algumas áreas próximas a Pará de Minas sofreram análises radiométricas.
Pedro Xavier Filho conta que há alguns anos entrou em contato por telefone com o Centro de Desenvolvimento
de Tecnologia Nuclear (CDTN), que funciona dentro do campus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em
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Foto do arquivo de José da Costa Caldas
Helicóptero com pesquisadores alemães sobrevoa Pitangui. Imagem do acervo pessoal de Pedro Xavier Filho
Belo Horizonte. Segundo ele, a pessoa
que o atendeu informou que os procedimentos realizados em Pitangui faziam
parte de uma parceria do Brasil com a
Alemanha para estudar pontos onde
satélites teriam detectado alteração no
campo magnético da Terra. Informação que não confere com a explicação
dada por um especialista do próprio
CDTN entrevistado por QUESTÕES.
O pesquisador em radioatividade Zildete Rocha conta que o que
fizeram naquela época foram trabalhos
de prospecção mineral (técnicas empregadas para localizar e calcular o
valor econômico de jazidas minerais).
“Com certeza não encontraram urânio
em quantidade que justificasse a exploração”, garante. O especialista diz
saber de uma mineradora baiana que
realizou uma pesquisa parecida e encontrou o urânio em grandes quantidades. “Em Minas Gerais, houve exploração no município de Poços de
Caldas, mas os lucros foram mínimos”.
Para Rocha, a falta de explicações à população pitanguiense na
década de 70 facilitou a criação “mitos”. “É como se alguém tivesse divulgado que se tratava de uma pesquisa
para exploração de urânio, outro espalhado que este mineral causa câncer e
outro feito a ligação de casos isolados da doença ao trabalho de pesquisa
realizado”, explica o especialista. Certamente, muita gente vive preocupada,
temendo exposição à radiação. Mesmo que eu tivesse certeza da existência dessa radioatividade supostamente
elevada, não daria muita importância
a ela. A extração propriamente dita do
urânio, com a construção de uma indústria, poderia causar danos ambientais e
de saúde pública. Radiação natural não
mata ninguém. O produto artificial, derivado do urânio por meio de processo
industrial, sim, pode ser perigoso”.
EM MEADOS DE 2000, O ENGENHEIRO PITANGUIENSE Pedro
Xavier Filho ministrou palestra sobre
tratamento de água para vereadores. Na
oportunidade, pediu a eles que, como
representantes do povo, providenciassem
uma análise de radioatividade em poços
artesianos do município. O então presidente da Câmara Municipal de Pitangui,
Messias Júlio de Abreu (PTB), teria se
prontificado a solicitar uma análise.
Procurado, Messias, que hoje
é suplente do vereador José Lopes de
Faria Sobrinho (mesmo partido), disse
que em meados de 2002 conseguiu que
uma equipe de pesquisadores (que, segundo ele, eram da UFMG), fosse à
Pitangui para trabalhar em uma análise
da radioatividade da água no município. “Eu tinha muitas dúvidas sobre a
autorização para perfurar poços artesianos. Os muitos casos de câncer registrados em Pitangui poderiam ser causados pela água radioativa”, explica. Por
meio da Comissão de Energia Nuclear
da UFMG, Messias afirma, conseguiu
apresentar a ideia a pesquisadores que,
então, foram a Pitangui e recolheram
30 amostras de água, incluindo uma
do Rio Pará e outra do Rio São João.
O grupo de estudiosos, segundo Messias, foi liderado por Zildete Rocha.
Em conversa por telefone com
a reportagem, o pesquisador esclarece
13
quisa realizada por geofísicos alemães
e fotografada pelo engenheiro Pedro
Xavier Filho, Messias garantiu que não
sabe nada sobre os resultados. “Só sei
que os alemães mapearam todos os tipos de minerais do subsolo e levaram
os resultados para seu país. Eles sabem muito mais sobre nossas riquezas
minerais do que nós mesmos”, teoriza.
“PITANGUI POSSUI UM
ÍNDICE DE HEMODIÁLISES QUATRO VEZES SUPERIOR À MÉDIA
NACIONAL. Temos uma incidência
tão alta de câncer que a possibilidade de
haver elevados níveis de radiação se torna, sim, motivo de preocupação”, afirma
o suplente de vereador Messias Júlio de
Abreu. “Depois dos estudos realizados
com a água, não se fez nenhuma outra tentativa de detectar a origem deste
mal. O ideal seria levantar os possíveis
vetores. Já sabemos que a água não está
com altos níveis de radiação. Pode ser
que exista alguma fissura no solo que
libere a radiação e contamine o ar ou os
alimentos. Podemos estar comprando
alimentos contaminados, quem sabe”.
O próprio Messias admite que suas
ideias são, se muito, hipóteses. “Fato é
que falta apoio logístico e político. Sem
isto, não conseguiremos dar continuidade aos estudos”. Para o ex-vereador,
a Secretaria Municipal de Saúde precisa
abrir uma frente de investigação para
descobrir os parâmetros do câncer em
Pitangui. “A prefeitura precisa fazer alguma coisa para que tenhamos condições
de nos prevenir”, observa Messias.
Na concepção do atual prefeito
de Pitangui, Evandro Rocha Mendes
(PT), não existem jazidas de componentes radioativos no município. “Se
existisse, alguém já estaria explorando por interesse econômico”. Para
Mendes, a falta de informações no período da ditadura deixou no imaginário
popular pitanguiense a ideia de que os
alemães encontraram urânio na região.
“Não há provas. São apenas lendas”.
Sobre a afirmação feita por Messias Jú-
Fotos do arquivo de José da Costa Caldas
que os estudos foram feitos pelo Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear que, apesar de funcionar
dentro do campus da UFMG em Belo
Horizonte, não percente à universidade. “Os estudos foram ordenados
pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Foram recolhidas amostras em
54 municípios que possuíam serviço de
água e esgoto. A análise foi feita aqui
no CDTN. Não encontramos anomalias
em nenhuma delas”, conta. Preocupado
com os “mitos” a respeito da pesquisa,
Zildete Rocha diz que está disponível
para ir a Pitangui falar sobre o assunto com representantes municipais ou
mesmo diretamente com a população.
O suplente de vereador em Pitangui Messias Júlio de Abreu garantiu que a medição de radioatividade da
água no município foi feita sem injeção
de dinheiro municipal. “A prefeitura
forneceu os vasilhames necessários
para coletar a água. Só isso”, disse
ele. Procurado, o ex-prefeito Joaquim
Olavo Lobato afirmou não saber nada
relacionado à medição de radioatividade durante seu governo. “Lembro
que três laboratórios foram contratados
certa vez para fazer uma análise química das águas e descobriram enormes
concentrações de coliformes fecais
na mina da Gameleira. Mas procure o
Messias. Ele deve saber”, disse Lobato.
Deve saber, e sabe. Messias
conta que uma cópia do resultado da
pesquisa está em seu poder. A reportagem pediu para ver os papéis, mas ele
não quis mostrar. E justificou: “Os pesquisadores exigiram que eu assinasse
um contrato com cláusula de sigilo. Por
isso, não posso tornar público os resultados da pesquisa. Mas digo a você que os
resultados foram “tranquilos””. Segundo ele, a pesquisa mostrou que não há
alta radioatividade nas águas de Pitangui. “Se houver radiação a níveis preocupantes, talvez ela possa ser medida
pelo ar. Na água, não há nada”, garantiu.
Falando sobre a longínqua pes-
Cientistas alemães preparam
helicóptero para mais um vôo sobre
Pitangui
14
Foto: Ricardo Webert
A pesquisa realizada em 1973 por cientistas alemães em Pitangui é pouco conhecida pela população.
A possibilidade de existir radioatividade em doses elevadas também é pouco debatida
lio de Abreu de que os índices de câncer
em Pitangui são elevados, Mendes rebate: “O sistema de saúde hoje é tratado
de forma bem acompanhada pela esfera
Federal. Quando há alguma anomalia, o
município é o primeiro a ser informado”.
Ainda segundo o prefeito, a Secretaria
Municipal de Saúde possui informações
sobre incidência de várias doenças. Entre elas, o câncer. “Nosso índice de pacientes com câncer não é alto”, afirma.
Em Divinópolis, a Associação
de Combate ao Câncer do Centro Oeste
de Minas (ACCCOM), que atende recebe pacientes da região, acolheu, somente em 2010, 31 pacientes de Pitangui que passaram 103 dias internados na
unidade. Campo Belo, no centro oeste
do estado, apresentou a maior quantidade de pacientes: 232 no mesmo ano.
O médico oncologista Roney Márcio
Quirino não acredita que estes casos
tenham algo a ver com exposição excessiva à radioatividade. “Não há fundamento científico nisso. Se existisse
alguma reserva de urânio na região, já
teria sido divulgado a nível nacional”,
afirma. O especialista explica que 35%
dos cânceres evitáveis são causados
pelo tabaco e que telhas de amianto
também favorecem a doença. “Cuidamos da maioria dos cânceres de Pitangui e não observamos incidência maior
em relação a outras cidades”, conclui.
HOJE COM 63 ANOS, O PITANGUIENSE MARCELO EUSTÁQUIO DE SOUZA foi mecânico
dos alemães. Ele garante que as fotos
do helicóptero são de 1973. A reportagem da QUESTÕES teve uma longa
conversa com ele. De acordo com
seus relatos, a aeronave ajudou a encontrar algo grande. “Muito grande”.
“Aquele helicóptero foi doado
pela Alemanha ao Brasil. Vieram grupos de alemães para ensinar aos brasileiros a forma correta de usá-lo. Quando
o “bichão” chegou, eu estava desempregado e eles precisavam de funcionários. Trabalhei cerca de um ano para os
alemães. Depois, trabalhei na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRN). Certa vez, um tenente
reformado da aeronáutica quis testar
meus conhecimentos em mecânica de
aviões e me dei bem. Como eu tinha
experiência em um hangar da aeronáutica, ganhei o emprego de auxiliar
de mecânico das aeronaves alemãs”.
Segundo Marcelo, o helicóptero
consumia 200 litros de querosene apenas para esquentar. Depois, mais 400
para autonomia de vôo de duas horas.
Tinha uma sonda que era usada para
detectar qualquer tipo de minério debaixo da terra. “O aparelho era grande
e tinha ponteiros parecidos com agulhas”. Quando sobrevoavam a serra da
Cruz do Monte, ele diz, os ponteiros
começavam a mexer violentamente,
rabiscando em papéis. “Era como aqueles sismógrafos que registram os terremotos. Lá, eles encontraram algumas
rochas pretas. Levaram uns dez caminhões, encheram eles com estas pedras e
seguiram para Belo Horizonte. Encaixotaram e mandaram tudo para a Alemanha. Fizemos várias demarcações
na serra que certamente ainda estão lá.
O geólogo pegava a fotografia, olhava
e falava: “coloquem um piquete aqui”.
Fomos marcando o chão da Cruz do
Monte até Na pista de pouso, desciam os
engenheiros alemães e brasileiros. En-
15
travam em um quarto e ficavam de porta
fechada. Tiravam os papéis do helicóptero e os levavam para o escritório”, conta.
Nos finais de semana, segundo o
relato da testemunha, que na época tinha
22 anos, todos os papéis seguiam em tubos para a Alemanha. Os geofísicos juntavam mesas e espalhavam fotografias
das serras de Pitangui. “Eles olhavam e
sabiam que ali estava o que eles vieram
procurar. Faziam o reconhecimento das
montanhas e, depois, anotavam em papéis, dobravam, punham nos bolsos e
iam embora”. Os pesquisadores saiam
em grupos de seis. Brasileiros e alemães.
Uma turma deles abria picadas a cada
200 metros nas matas e fincava bandeiras nestes pontos. Era a sinalização
para o piloto que sobrevoava a cidade.
“Tenho certeza de que encontraram
muita coisa aqui. Mas tudo ainda corre
em segredo. Creio que somente os pesquisadores alemães e poucos brasileiros
saibam o que existe debaixo dos nossos
pés. Quando for oportuno para eles, nós
também saberemos”, contou Marcelo.
A quase tri-centenária Pitangui
permanece com seu mistério. A procura por urânio existiu. Se, na época,
não encontraram o metal em quantidade
suficiente que justificasse a exploração,
talvez um dia, quando houver interesse
econômico, a suposta merreca seja extraída. Enquanto isso ainda não acontece, alguns cidadãos continuam comprando água mineral ao invés de beber
das fontes pitanguenses. Só pra garantir.
Foto do arquivo de José da Costa Caldas
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SEM RESPOSTAS
U
O
PONTAPÉ INICIAL
Atrasos marcam o projeto da construção do Centro de Treinamento do Bugre, que permanece sem sede própria e torce para não perder o bonde da História. O clube já perdeu por duas vezes gordas verbas disponibilizadas pelo Congresso para o CT e destino de
uma delas, da ordem de 500 mil reais, ainda é um mistério. As promessas apontam para
uma mudança de rumos, mas tudo parece indicar que o velho bugre pode esperar sentado.
Por Lucas Carrano e Renato Mesquita
O Guarani de Divinópolis é
um clube dos mais tradicionais do interior mineiro, tendo completado 81
anos no último dia 20 de setembro.
Ao longo desses anos possui feitos
históricos, como o vice-campeonato
mineiro de 1961 – fato inédito mesmo
para outras equipes do interior, como o
Boa Esporte, atualmente na Série B do
Brasileirão, ou o Tupi, campeão nacional pela série D, título que lhe garantiu o acesso à Série C. Porém, há nessa
história uma lacuna jamais preenchida:
o Guarani não possui sede própria ou
centro de treinamento. Isso poderia
ter mudado em 2006 e 2008, quando
duas verbas foram destinadas ao clube
para a construção do Centro de Treinamento, mas elas jamais foram aplicadas e voltaram para os cofres da União.
Em 2006, por meio do deputado Jaime Martins Filho, foram liberados R$ 150 mil para a construção do
campo de futebol e vestiários no Centro
de Treinamento do clube – que nessa
oportunidade ainda ficaria situado no
Centro Industrial. Essa verba previa
que deveria haver uma contrapartida
por parte da Prefeitura municipal – e assim foi firmado o convênio, registrado
no Diário Oficial da União (DOU) sob
o número CR.0197616-85/2006. Houve
Foto: Lucas Carrano
Neste local desolado está localizado o novo campo do Guarani - em potencial
um impasse sobre a localização do CT e
ao término da discussão ficou definida
a região próxima aos bairros Primavera e São Lucas como a ideal. Esse
foi apenas o primeiro imprevisto, que
gerou um grande atraso, durante o processo, o que culminou com a expiração
da verba em 30 de setembro de 2010.
O atual secretário de esportes
da prefeitura de Divinópolis, Rômulo Duarte, admite que houve falha da
Secretaria na administração desses
recursos. “Nós procedemos, fizemos
todos os aditivos possíveis e temos
que atestar nossa incapacidade. Essa
verba de cento e cinquenta mil nós
perdemos”. Rômulo ainda elenca a
morosidade do sistema como principal causa da expiração desse repasse.
A outra verba destinada à construção do CT do Guarani - também liberada por iniciativa do deputado Jaime
Martins Filho, por meio de um repasse
federal à secretaria de esportes do
governo do Estado, que por sua vez a repassaria para a Prefeitura de Divinópolis – diz respeito à substancial quantia
de R$ 500 mil e está sob o registro PT
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Foto: Lucas Carrano
O CT do Guarani seria construído nessa área, localizada na divisa do bairro São Lucas e Primavera, próximo ao Niterói
236.041-34/2008 no DOU. A Secretaria
de Esporte e Lazer de Divinópolis afirma que essa verba jamais chegou à cidade, pois o projeto original estava “viciado” – sem a estruturação necessária,
ou seja, caduco. Ainda de acordo com
a Secretaria, essa verba foi liberada e
chegou à Caixa Econômica Federal em
Belo Horizonte, mas não foi aprovada
para ser enviada a Divinópolis. Embora
tenham sido feitas diversas alterações
no projeto com o intuito de adequá-lo às
exigências da Caixa, nenhuma delas impediu que a quantia fosse reincorporada
aos cofres do estado de Minas Gerais
e se destinasse a suplementações orçamentárias em outras áreas através de
decreto no dia 3 de fevereiro de 2011.
O FATO É QUE O DESTINO
DOS 500 MIL LIBERADOS PARA A
CONSTRUÇÃO DO CT DO GUARANI É INCERTO. A questão é que,
inclusive de acordo com o próprio
deputado responsável pela liberação
da verba, o governo do estado de Minas Gerais não tem a prerrogativa para
absorver um recurso repassado pelo
Governo federal. Mas, ainda assim,
conforme consta no decreto que data do
dia 3 de fevereiro de 2011, o saldo financeiro do convênio 236.041-34/2008,
no valor de 500 mil reais, foi reintegrado aos cofres do Estado, fazendo parte
do crédito suplementar ao projeto de
lei orçamentária de 2011, entrando em
vigor a partir da data de sua publicação.
A reportagem de QUESTÕES
entrou em contato com a Caixa
Econômica Federal de Belo Horizonte
e também com a assessoria de comuni-
cação do governo do estado de Minas
Gerais, questionando sobre a legalidade da manobra realizada, mas até o
fechamento dessa edição nenhuma resposta foi obtida, apesar da insistência.
Independentemente, todavia, da
realização de um arranjo legal para que
essa verba federal fosse integrada aos
cofres do Estado, um grande ponto de
interrogação se coloca sobre a questão
e põe em xeque a eficácia do sistema:
como cabe ao próprio Estado, ou uma
instituição ligada a ele, a liberação ou
não de uma verba que – em caso de não
aprovação do projeto – pode beneficiar
a entidade responsável pelo veto? Assim
como o Guarani sobre a construção do
seu Centro de Treinamento, seguimos
aguardando respostas.
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Consequências do atraso preocupam
Para Spartacus Alexandre Silva, torcedor
do bugre e ex-assessor de comunicação do clube,
as transformações estruturais seriam de fundamental importância para o Guarani e os benefícios
iriam além do espaço físico em si. “O Guarani
precisa de um centro de treinamento para que o
departamento de futebol tenha condições de oferecer estrutura para os atletas e funcionários. Com
isso, aumenta-se a possibilidade de que o rendimento nos campeonatos que o clube disputar seja
cada vez melhor. É claro que uma boa estrutura
reflete nos resultados dentro de campo, atrai bons
jogadores e também mais patrocinadores.” Alexandre ainda lembra que o clube treina atualmente
no estádio Waldemar Teixeira de Faria - o Farião
- onde também manda seus jogos, o que acaba por
prejudicar a qualidade do gramado. E diz que no
último campeonato mineiro foi necessário que o
clube alugasse uma casa na Rua Bahia, onde eram
realizadas as concentrações para os jogos em Divinópolis. Inconvenientes que seriam evitados
com a existência de um CT.
O secretário de esportes de Divinópolis,
Rômulo Duarte, afirma que tem a garantia do
governo federal de que, com algumas exigências
já cumpridas, como o projeto básico, levantamento topográfico e – principalmente – a escolha
do local, ficando pendente apenas o levantamento de custos que, o projeto sairá do papel. E diz
que conversas a direção do Guarani e a Prefeitura
de Divinópolis já foram, e continuam sendo, realizadas para o lançamento de um novo projeto
e, principalmente, para que os mesmos erros não
sejam repetidos. O Guarani espera e necessita que
assim seja realmente, mesmo que isso só aconteça com um atraso de, no mínimo, cinco anos.
Já o Campeonato Mineiro de 2012 começará em
2012 mesmo.
Imagem da Internet
Estádio Waldemar Teixeira de Faria - Farião
19
20
Recentemente, o Ministro da Saúde brasileiro, Alexandre Padilha, ao lançar o programa nacional de combate ao crack, admitiu o que todo mundo já intuía: o crack se
transformou em uma epidemia e é um dos mais graves problemas de saúde pública no
País. Presente na quase totalidade dos municípios brasileiros, a droga deixa um rastro de tragédia por onde passa. As histórias que contamos abaixo, que tem como personagens cidadãos de Divinópolis, cujos nomes reais, no entanto, foram preservados,
são um exemplo de como uma droga devastadora está mais perto de nós do que imaginamos, o que mostra que esse é, sim, um problema que toda a sociedade deve enfrentar.
Por Anna Lúcia Silva e Marcela Knupp
Gritos e choros pela rua e muito
desespero, pessoas param e olharam a
cena que acontece numa quinta-feira
às 6h30. Quem passa pela rua se impressiona, o barulho acorda quem
ainda adormece no bairro. A cena é
lamentável, chega a ser a deplorável o
estado da mãe, que, em prantos, ajoelhada, pede ajuda à sua filha, uma
adolescente de 16 anos, para ela a interne. Motivo: o vício; o vilão: o crack.
Trajes curtos, frio e muito vento.
Quem saía na rua para ver aquela mulher, estava agasalhado. Mas ela não,
ela sentia o soprar gelado do vento, já
estava havia quatro dias sem dormir.
O crack não a deixa sentir frio, fome
e sede. Mas ela estava consciente, sabia qual o seu lugar naquele momento:
degradação da própria vida e muito
mal estar foi o que o crack lhe trouxe.
Joane Cardoso, 36 anos, é mãe
de quatro filhos, uma adolescente de
16 e outra de 12 anos, uma menina de
nove anos e uma criança de seis anos.
Ela é usuária de drogas há mais de
quinze anos. Seu principal fornece-
dor é um de seus sobrinhos: Carlos.
Ele tem 26 anos e é um trabalhador comum, que não levanta
suspeita. Ele acorda todos os dias às
6h da manhã, toma café em um bar
ao lado de sua casa, um pão com linguiça e uma coca-cola, vai para o trabalho. Após sua jornada, das 7h às
17h, Carlos volta para casa para iniciar seu outro “trabalho”: o tráfico.
Segundo Carlos, para ele, praticar o tráfico não é apenas uma opção para
ganhar muito dinheiro, pois esse sim
vem fácil, mas também para diversão e
adrenalina. “Basta investir um mês na
venda do crack que já fico bem de grana,
mas o que mais me motiva é saber que
isso é errado, que as autoridades repudiam e que eu consigo driblar essa cambada toda, isso me dá adrenalina”, relata.
O CRACK AGE, SORRATEIRO, por dentro de uma sociedade
que não enxerga o quanto ele está próximo.
Dor, sofrimento, é o que relata Ramon,
viciado há 20 anos na droga que transformou sua vida em um livro de horror.
“Nunca pensei que essa droga
faria tanto estrago em tão pouco tempo
na minha vida. Uso crack há pelo menos 20 anos. E essa droga faz da minha
vida um livro de horror”, conta Ramon de Oliveira, viciado há 25 anos.
Ramon era uma pessoa que
quase não despertava suspeitas, cidadão comum universitário, já estava
cursando o último ano de faculdade.
Entre pausas em suas falas,
que transmitiam muita dor e angústia,
risadas que, mesmo irônicas, nervosas ou tresloucadas, serviam de conforto, Ramon fez um breve relato sobre os estragos que a droga lhe trouxe.
“O crack entrou na minha vida
com 24 anos, quando estava me formando em História. Minha família não
era rica, mas tínhamos boas condições.
Quando me apresentaram o crack faltavam exatamente seis meses para minha
formatura. Em menos de dois meses já
era um viciado. Em uma das minhas
necessidades, saí vidrado de casa, estava sem dormir fazia cinco dias. Peguei o carro para ir comprar o crack,
faço isso todos os dias da minha vida
21
Foto:Chrystiam de Lima
Cachimbos de crack apreendidos em ação contra o crime e drogas em Divinópolis
desde quando me apresentaram essa
droga. Dessa vez não andei nem 100
metros e sofri um apagão. Dormi ao
volante, simplesmente não me lembro
como aconteceu, mas acordei no outro
dia com os dois braços enfaixados e
o rosto cheio de feridas por causa dos
estilhaços do vidro”, contou Ramon.
O ÚLTIMO LEVANTAMENTO FEITO SOBRE O USO
de drogas no Brasil foi realizado pelo
Ministério da Saúde em 2010, pelo
Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas em 135 cidades brasileiras. A pesquisa apontou
que 0,19% da população fumou crack
nos 12 meses anteriores à pesquisa. No
mesmo período, 4,6% haviam fumado
maconha, 3,6% tinha utilizado solvente,
0,21% havia usado cocaína, enquanto
58,7% das pessoas consumiram álcool.
Atualmente, o crack é consumido em níveis médio e alto em
70% dos municípios mineiros, conforme aponta a avaliação de prefeitos
na pesquisa Observatório do Crack.
Os números impressionam.
Impressionariam muito mais se fossem melhor apurados: não há muitos
dados sobre o uso do crack no Brasil
e nem em Divinópolis. Dados que ignoram o que faz parte de nossa realidade, da realidade de tantas famílias
que se perdem no curso da vida ao se
depararem com o obstáculo da droga.
A CHEGADA DAS DROGAS
na cidade não é muito difícil, segundo
Carlos, o traficante nas horas vagas que
fornece para a própria tia. Basta ser esperto, diz, com um ar blasé. A entrada é
feita por meio de carros de passeio e carregamentos comuns. Também são utilizados os chamados “mulas”, pessoas
sem qualquer tipo de ligação com o tráfico, mas que aceitam fazer o serviço em
troca de – geralmente pouco - dinheiro.
Com o material já dentro da cidade, a droga tem que chegar até o consumidor, e para isso acontecer, algumas
práticas são comuns. “Geralmente os
patrões alugam uma casa e lá fazem a
distribuição. Eu compro diretamente de
um fornecedor, ele vai à minha casa depois das 17h me entregar todo o material, geralmente pasta base de cocaína.
Não converso nada por telefone para não
levantar suspeitas. Quando converso,
faço tudo em códigos, mas geralmente
eles nem atendem, é tudo pessoalmente.
O entregador é um cara normal, não levanta absolutamente nenhuma suspeita.
Somos muito discretos”, diz Carlos.
Discrição: essa talvez seja a
principal arma dos traficantes. Ser discreto e parecer uma pessoa normal,
ser normal neste caso, é não aparentar
fazer o uso da droga, e eles não fazem.
Ser normal é vestir-se bem, o dinheiro
lhes proporciona uma boa aparência.
“Passar por despercebido é o que
tentamos fazer, porque, se não, os policiais ficam na cola. Ser bem aparentado,
mostrar ser saudável, não usar a droga
que a gente vende, até porque quem
vende nunca usa. É regra”, conta Carlos.
22
Para o preparo da pedra, tem início outro processo. Os traficantes preparam a pasta base (“em banho-maria,
para a pasta virar óleo”), posteriormente
misturam acido amoníaco, bicabornato
de sódio, e outros produtos. Por fim, é
feito um choque térmico, para virar pedra. De acordo com Carlos, alguns ingredientes são encomendados em farmácias, academias e comércios em geral.
“É fácil comprar, chego em
qualquer lugar para comprar grande
quantidade de cafeína e eles vendem.
O que eles querem é vender, o que eu
quero é comprar. Eu mesmo não compro, mando outra pessoa fazer isso,
mais uma forma de não me expor”, diz.
Carlos ainda conta que, mesmo
com tanta cautela, volta e meia, os policiais “cismam” com ele e, durante um
tempo, é constantemente abordado. Mas
nunca encontram nada com ele. Nesse
período, “vira vapor”, ou seja, desaparece
do movimento, “até a poeira abaixar.”
A VENDA É A PARTE MAIS
FÁCIL de todo o processo, porém,
deve ser cautelosa. Os movimentos e os
olhares são as principais formas de comunicação entre o traficante e usuário.
É assim que acontece entre Joane,
tia de Carlos, sua principal cliente, que,
para a sustentar o vício, faz programas
- ou “PG” como ela diz. Joane faz isso
todos os dias. E seu sobrinho sabe disso.
Carlos conhece bem os estragos que a
droga faz em sua própria família, sabe
o quanto sua tia é dependente e o quanto está se afundando num abismo sem
volta. Quando questionado sobre isso,
ele responde: “Ela usa porque quer,
eu vendo porque tenho para vender”.
Joane cobra por cada programa
o preço que paga pela droga, R$10,
ou, às vezes, até mais barato que isso.
Segundo ela, já aconteceu de estar precisando de R$ 1,75 para inteirar o preço
da droga e no momento do desespero
ela aceitou o programa pelo valor. Cada
pedra tem aproximadamente um grama.
De acordo com Carlos, os for-
Foto: Anna Lúcia Silva
Policial Militar em operação contra o crack em Divinópolis
necedores da droga compram um tablete
de pasta base de crack por aproximadamente R$ 13 mil. São os próprios donos
da droga que produzem a pedra. Com o
comércio da droga é possível reverter os
R$13 mil em R$ 30 mil. Nem sempre o
valor bate, uma vez que os usuários, por
muitas vezes, pagam a droga com mercadorias que furtam, na maioria das vezes de dentro das casas de suas famílias.
Quando se trata de discrição Carlos, é minucioso e escolhe a dedo seus
clientes. Para vender mais rápido, ele
faz um trato com os garotos, menores,
usuários: a cada cinco pedras vendidas,
a sexta é do vendedor, ou seja, do menor.
RAMON, CONTOU QUE
JÁ FOI INTERNADO DIVERSAS
VEZES. E que não teve forças para
lutar, todas as vezes ele fugiu. “As
famílias sempre pensam que internar é
o melhor remédio. Sempre soube que
depois de internado voltaria à droga,
tinha meus internamentos como um
afastamento temporário da droga, me
dói dizer e me sinto o mais cretino dos
homens por sentir ódio de todos aqueles que me afastavam do crack. Para
falar a verdade, ele, o crack, é a solução
dos meus problemas”, narra Ramon.
Ele conta ainda que fingia aceitar a internação como uma moeda de
troca. “Fazia meus pais pagarem minhas dívidas dizendo que, do contrário,
seria morto pelos traficantes. Em troca,
eu ficava um tempo na clínica de re-
23
cuperação. Mas só pensava em sair
daquele lugar. Fingia estar curado do
vício e, quando era liberado, me entregava de corpo e alma ao que me traz
prazer, o crack.” Ramon tem 49 anos.
QUESTIONADO SOBRE OS
ESTRAGOS QUE TRÁFICO FAZ,
Carlos dá de ombros, fica em silêncio
por um breve instante e emenda: ”Sofrer, o drogado não sofre nada. Quem
sofre é a família. E eu não tenho trato
com família de vagabundo.”
Foto: Anna Lúcia Silva
O crack é um caminho sem retorno
Alguns números do crack
• 6 milhões é o número de usuários de drogas no Brasil
segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde
(OMS);
• 2 milhões é a estimativa projetada pelo Ministério da
Saúde;
• 22 milhões de pessoas consideram “muito fácil”
obter crack caso o desejassem, apontou pesquisa 0,4%
dos estudantes já usaram ou usam a droga;
• 1/3 dos usuários morrem, dos quais 85% por causas
violentas;
• R$10 é o preço médio de uma pedra; só é mais cara
que a nova droga Oxi, vendida a R$2;
• 10 segundos é o tempo necessário para a fumaça
chegar ao cérebro;
• 98% das cidades brasileiras já registraram vítimas do
crack, segundo dados da Confederação Nacional dos
Municípios (CNM).
Fonte: Conselho Federal de Medicina
24
25
Márcia Helena Batista Corrêa da Costa
Doutora em Ciências Sociais, professora do INESP e ISED – FUNEDI/UEMG
A idéia de sermos nossa cidade pode ser pensada
de várias formas. O que deixamos de ser do que foi a
nossa cidade. Quais registros das experiências vividas
em seu cotidiano nos servem de inspiração. Podemos
pensar ainda no que somos pra nossa cidade. Havia uma
efervescência cidadã na Divinópolis de outros tempos. O
debate sobre a cidade acontecia nos jornais, nos boletins
e também em organizações civis comprometidas com o
coletivo. O sentido de público ultrapassava os domínios
do Estado. Portanto, uma sociedade civil relativamente
ativa debatia questões que afetavam o cotidiano dos
moradores e sinalizava para a composição de espaços
não formalizados pelos governantes onde se publicizavam pontos de vista, soluções e formas de ação coletiva.
Muitas publicações de conteúdo variado, de caráter
amador, circularam na cidade desde a sua formação. Nos
anos de 1940 e 1950, podem ser citados como marcantes
o jornal “Divinópolis” e o boletim “Conversando com os
Divinopolitanos”, do farmacêutico Pedro Xavier Gontijo
, e também o jornal “A Semana”, que publicava a coluna
“Bombas da RAF” de Frei Rafael . O estilo panfletário
dava o tom dos confrontos político-ideológicos expostos
aos divinopolitanos. Eram veículos que movimentavam
opiniões e estimulavam posicionamentos de grupos e de cidadãos sobre situações que interferiam na dinâmica local.
Durante o regime autoritário, Divinópolis foi
cenário de uma das experiências mais interessantes de
organização civil. Podemos considerar como o embrião
do que hoje chamamos de ONG: a atuação política da
“Fundação da Comunidade”. Tratava-se, na época, de
uma organização sem fins lucrativos composta por intelectuais, estudantes e lideranças políticas locais com
o propósito de selecionar problemas da realidade lo-
cal para análise e proposição de soluções, apresentadas ao poder público e discutidas com a comunidade.
Em um contexto totalmente desfavorável à participação política da sociedade, a Fundação conseguia fomentar discussões e fazer a sociedade compreender
concretamente o significado de ter direito à cidade.
Hoje, munidos de dois artigos constitucionais
que tratam das políticas urbanas, regulamentados pelo
Estatuto da Cidade de 2001, nos apresentamos impotentes em termos de capacidade de fazer valer o nosso
direito à cidade. Prevalece uma tendência de desconhecimento dos conteúdos da legislação urbanística que
nos garante participação política nas decisões sobre as
políticas públicas e uma enorme dificuldade de nos apropriarmos dos espaços públicos institucionalizados
para conceber e controlar, socialmente, tais políticas.
O fazer coletivo gera um aprendizado político,
as arenas públicas são lugares em potencial para a experiência das práticas democráticas. Democracia não se
faz apenas na formulação de leis e na representação formal nos parlamentos. Constitui-se como prática do vivido em consensos ativos estabelecidos entre sujeitos, nos
encontros entre a sociedade civil e a sociedade política.
Cabe-nos refletir sobre como estamos fazendo
Democracia e em que medida os nossos cem anos nos
inspira, o que significa termos avançado na garantia legal de direitos e o que representa ter direito à cidade.
Conhecemos as possibilidades das quais dispomos para
concretizar formas de debate público? Somos capazes
ou queremos reacender a importância do pertencimento
coletivo em detrimento dos particularismos, tendentes
a serem predominantes e desagregadores? As respostas
com certeza definirão o que somos para nossa cidade.
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Maria Cândida Guimarães Aguiar
Jornalista
Um filho que morou algum tempo na Europa admirou-se
quando viu aqui que sua avó Alzira, de quase 100 anos, era mais
velha que a cidade.Tem razão o espanto do filho. A gente se acostumou tanto, que não se espanta mais. Não percebe como nossa
cidade é tão jovem, que sua História está sendo escrita agora,
daí que podemos nos dar ao luxo de cuidar para que o registro de
sua História possa e deva ser a verdade-verdadeira e não folclore.
Temos vários ensaios de memorialistas de boa vontade e conhecimento que já publicaram livros ou textos, como
Cristóvam Teixeira, o primeiro, e Frei Odulfo Vander Vat, ao
neto de Antônio Olímpio de Morais, e mais Batistina Corgozinho, Eliseu Ferreira, Mauro Eustáquio, prof. Lara, Lázaro Barreto, Os Azevedo, Milton Pena, Márcia Helena Batista, Mauro
Corgozinho, Mercemiro, dentre outros, e sobre tudo a filósofa e Historiadora Maria Cecília Guimarães, fonte inesgotável
e criteriosa da História da cidade, e onde tantos vamos beber.
Passada é a hora de a Princesa do Oeste , ao fazer seu centenário, não mude tão belo título para Divinópolis, A Rainha
Desmemoriada. Passada é a hora de termos uma História consistente , científica e oficial onde poderemos venerar mais ainda
nossa cidade, sejamos aqui nascidos ou adotados, sempre filhos.
Divinópolis é como a Família da gente. Nós podemos falar
dela, criticar, apontar defeitos, mas se alguém falar mal dela, é
briga comprada...Também de nossa cidade, podemos falar de
como não tem sede própria para Biblioteca pública, para centro de convenções, para um grande teatro municipal, que anda
suja, sem esgoto, pouca segurança, mas, se alguém falar mal
dela, aí, é hora da declaração da terceira guerra mundial...
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Um
viaduto
de amor
e dor
O viaduto que liga o bairro Porto Velho ao centro de Divinópolis produz histórias
de violência que assombram a cidade
Por Josiele Salera
O bairro Porto Velho marcou sua história na quase centenária
Divinópolis. Com a chegada da Siderúrgica Pains, em 1954, que tornou
a cidade polo metalúrgico, o bairro se
tornou o coração econômico da cidade.
Coincidentemente, no mesmo ano, com
a construção do Estádio do Guarani,
suas ruas viram passar, com orgulho,
torcidas de vários times brasileiros.
Ele é um bairro valorizado por
sua proximidade ao centro e, por isso,
os imóveis que lá se encontram têm
bom preço no mercado imobiliário. O
viaduto que o liga ao centro é um dos
fatores de sua valorização. Também o
fato de ser uma das saídas para a vizinha Carmo do Cajuru. Pelo Porto Velho,
Cajuru fica a poucos quilômetros, o que
torna o bairro caminho preferencial para
quem precisa se deslocar entre as duas
cidades. Tanta facilidade, no entanto, e
justamente no viaduto que liga o bairro
ao centro, tem também sido motivo de
preocupações – ou, mais: de verdadeiro
pavor para seus pacatos moradores.
FIM DA TARDE DE JULHO
DE 2009. Uma jovem estudante universitária de Belo Horizonte, que passava
férias na casa dos pais, inicia a travessia
do viaduto do Porto Velho em direção ao
centro da cidade, quando é interceptada
e levada para próximo aos trilhos da estrada de ferro, que o viaduto atravessa. A
moça é violentada e arrastada até a ponte
do bairro Niterói, de onde só conseguiu
fugir na manha seguinte. No ano passado a história se repete, sendo ainda mais
cruel. Por volta das 19h uma menina de
15 anos inicia travessia a fim de encontrar um grupo de amigas para sair. Antes de avistá-las, a garota é arrastada por
dois rapazes para debaixo do viaduto.
Minutos depois as amigas chegam ao local, e como não encontram a
amiga, resolvem partir sem ela, imaginando que, como sempre, desistira da
balada. Só com muito custo haviam
convencido a menina pacata e caseira.
Elas não imaginavam que debaixo de
seus pés, naquele instante, a amiga era
violentada alternadamente por dois homens, que a dividiam entre uma cheirada e outra, e que em momentos de tamanha alucinação mordiam ferozmente
a garota deixando feridas por todo o
corpo, e pegando-a com tamanha violência a deixar cortes entre a separação
da vagina e do ânus. A garota só conseguiu fugir, já madrugada quando os
estupradores caíram no sono, ambos.
Os casos repercutiram por
todo o bairro e permanecem vivos na
memória, no imaginário e no discurso
dos moradores do Porto Velho, apesar do esforço, compreensível, das
famílias para tentar esquecer e abafar
as histórias. A verdade é que, todavia, essas histórias apenas compõem
o macabro cotidiano de muitos casos
semelhantes que assombram o local.
Durante todo o dia é possível
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Parte interior do viaduto do bairro Porto Velho sentido centro-bairro
perceber a movimentação nas escadas
laterais e nos becos que se formam de
baixo da travessia. São, em sua maioria,
usuários de drogas que aproveitam o local para manter o consumo e por vezes
intimidam os transeuntes em busca de
dinheiro para alimentar o vício. Outras
vezes, como garantem os moradores,
tomados pelo torpor das drogas, atacam
mulheres que precisam passar por ali.
Outras histórias de violência
ajudam a montar e manter o quadro. Ali,
no viaduto, estranhos acidentes automotivos, que também sugam vidas, acontecem. Foi o que ocorreu a Denis Oliveira
no dia 30 de março de 96. O moreno
alto, de 24 anos, saiu de sua residência
no bairro Interlagos para entregar a motocicleta que havia concertado para seu
amigo, que se encontrava em uma festa
no Divinópolis Clube, no centro da cidade. Era madrugada, quando o rapaz,
depois de ser fechado por um carro,
colide em um poste. Os traumas o fizeram morrer no local. O noticiário do
dia seguinte relatou o fato como apenas
trágico acidente de trânsito. A família,
porém, não se convenceu disso e, até
hoje, acha, que Denis fugia de um assalto.
NOS RELATOS DOS MORADORES É possível perceber o
grande amor pelo bairro, um sentimento
de pertencimento e de reconhecimento
com a história e com o valor construído
ao longo do tempo. Mas este sentimento
contrasta com a realidade de violência
que já não é mais encarada como novidade. As incidências de roubos se estendem para as ruas mais próximas ao
viaduto. A noite registra um alto índice
de agressões e estupros marcantes, como
o da noite de inverno de 2009, que são
em sua maioria abafados pela família,
na tentativa de aplacar a vergonha ou
por medo de represálias. No bairro, no
entanto, os casos correm de boca em
boca, em um tenebroso tecer do terror.
Os acontecimentos tornam o
viaduto ícone de violência para os divinopolitanos, citada nesse lamentável
quadro juntamente ao Niterói e o conhecido e sugestivo morro do Pito Aceso.
As histórias povoam o imaginário dos
cidadãos e apavoram os moradores do
Porto Velho. Além da violência nua e
crua, há histórias que seriam cômicas,
não fossem trágicas. É o caso das cobranças de “pedágios”, fato que fez
fama na ponte do Bairro Niterói. No
caso do Porto Velho, talvez pelo prestí-
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Travessia de pedestres na lateral da ponte sentido bairro-centro
gio do bairro, a ação policial fechou
o posto de pedágio. No Niterói, volta
e meia ouvem-se histórias do retorno
desses cobradores. . É fácil ouvir relatos e clamores angustiados de homens
e mulheres, que pedem para que pedestres desacompanhados não atravessem o viaduto à noite. Mas agora seus
moradores estão isolados pelo medo.
O Porto Velho parecer estar de
volta a um passado quando os moradores precisavam se arriscar na travessia
dos trilhos. Uma moradora da avenida
do Contorno relata que precisava passar por baixo da ponte, quando realizava um curso até à noite, para chegar
à sua residência. Pedia a um colega que
a vigiasse por cima da travessia. Só
dessa forma conseguia atravessar com
o que poderia ser chamada de tranquilidade. Ela conta que, como moradora,
ainda se sentia “respeitada”, mas que
jamais indicaria a uma pessoa de fora
do Porto Velho fazer o que ela fazia.
Um estudante universitário,
também morador do bairro, conta que
já presenciou vários casos na travessia, como roubos e agressões de pessoas que vinham desacompanhadas.
O rapaz conta que os marginais agem
quase sempre em grupo. Depois da ação
violenta, diz o estudante, eles fogem,
sempre em direção ao bairro. O universitário afirma diz que o fato de ele ser
homem não faz de sua travessia diária
mais segura. Uma vez, lembra o rapaz,
diferentemente das moças, foi perseguido por homens em um carro e só se
livrou com a ajuda de um amigo, que,
por sorte, passava em sua motocicleta.
O estudante revela ainda um desejo já
população local pela a instalação de
uma guarita policial como forma de
inibir tais acontecimentos, porém atenta para o fato de não haver nenhuma
movimentação comunitária nesse sentido. O resultado é óbvio: o posto policial não foi instalado e as histórias de
violência continuam a ser construídas.
Além do Porto Velho, do Niterói
e do Pito Aceso, Divinópolis apresenta
como “mancha” de violência, termo
técnico que localiza as ações ilícitas,
os bairros Interlagos e São José. Ainda
assim, Divinópolis possui índices de
vulnerabilidade juvenil à violência entre 0,300 e 0,370, o que a coloca em sétimo lugar entre as cidades brasileiras,
segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública realizado no fim de 2009.
Também é fato, todavia, que cidade é
destaque em tráfico de drogas no centro-oeste mineiro, colocada como ponto
estratégico da Polícia Federal, que em
seus primeiros meses de atuação realizou grandes apreensões. As ações dos
federais tiveram como foco o bairro Niterói, considerado como o maior polo
de distribuição. O vizinho Porto Velho é
classificado como o principal polo consumidor de entorpecentes. Talvez isso
explique os fantasmas que assombram
o bairro.
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