Os pré-socráticos, transição do pensamento cosmogônico para o
Transcrição
A principal forma de organização da sociedade grega durante a Antiguidade é a Polis, cidade-estado que produzia todos os bens necessários à subsistência do ser humano à época. Tinha autonomia política e econômica, unia-se a grande Grécia, Hélade, através da língua e da cultura. Os primeiros filósofos, diferentemente das mulheres, escravos e estrangeiros, tinham a possibilidade do ócio, tempo livre para a produção de filosofia, arte, política, enfim, conhecimentos eruditos. Com a consolidação das Polis, já no século VII a.C, favorecendo o surgimento de um grupo de cidadãos livres, em detrimento dos escravos gregos, com olhos para o mar, cheios de perguntas e insatisfeitos com as respostas cosmogônicas da tradição, nasceu a filosofia. Os pré-socráticos lançaram as bases do pensamento filosófico e científico ocidental. Desbravaram e se debruçaram sobre nosso primeiros problemas matemáticos rudimentares, físicos, químicos, astrofísicos, biológicos e linguísticos. Ousaram criar, criar conceitos, ideias. Os pré-socráticos tinham como projeto intelectual criar uma cosmologia, ou seja, respostas filosóficocientíficas, racionais e lógicas para os problemas fundamentais do ser humano relativos à origem e ao funcionamento do cosmo (universo ordenado). Outrora, essas perguntas foram respondidas com base nas narrativas míticas, pensamento cosmogônico, ou seja, as diversas perguntas humanas, acerca da origem do mundo, do mal, acerca do amor, da morte, do destino, do tempo, das tragédias e fenômenos naturais e sócio-psicológicos acalentadas nos mitos e lendas. O mito tem sua lógica próprio, fora das categorias das lógicas aristotélicos, cartesianas e matemáticas. Ele conta uma história sagrada, explica um fenômeno e revela uma verdade. Poetas tais como Homero e Hesíodo construíram uma rica mitologia, partindo das lendas presentes no imaginário do povo helênico. Para Hesíodo, como em geral pensam os gregos, nada surge do nada. O cosmo nasce de uma matéria sem forma, caos. Dele emanam várias outras divindades, trevas, noite, dia, eros, céu, terra, oceanos, rios, montanhas, titãs, titãnidas, ciclopes, ninfas, centauros e deuses olímpicos. Os pré-socráticos, físicos ou filósofos da natureza, buscavam a arché (substância primordial) da physis (natureza). Os primeiros filósofos buscavam aquela substância donde tudo partiu e para onde tudo retornaria, por causa do movimento, da mudança. Nada surge do nada. O que é permanente diante da multiplicidade e da mudança constante? Pois bem, os milésios ( de Mileto) Tales, Anaximandro e Anaxímenes respondem a essa questão de uma forma própria. Para Tales “tudo é água”. Essa sentença sintetizou o universo numa curta máxima racional. Com ele nasce a pretensão filosófico-científica de apreender a realidade racionalmente. Einstein, milênios depois, fez a mesma coisa quando sentenciou: ∑= m.c². Seria para um a água o princípio e o fim de tudo, e para outro a energia? Para Anaximando essa substância não pode ser determinada. Ela é “ápeiron”, palavra grega que significa infinito ou indeterminado. Anaxímenes sentenciou que tudo é ar. Essa é para ele a substância primordial que tudo constitui, donde tudo parte e para onde tudo retorna. Quando hoje perguntamos a qualquer criança o que são números racionais e irracionais ou o motivo que faz as coisas caírem quando são lançadas ao ar, parece óbvio para ela apontar respostas certas e evidentes. Nem sempre foi assim. Pitágoras, Zenão, dentre outros, debruçaram-se sobre os princípios primeiros e dilemas básicos da matemática. Para Pitágoras a mesma estrutura matemática que torna a música harmônica, torna também o mundo harmônico. Tudo possui uma essência numérica, geométrica. A “arché”, substância primordial da “physis” é o número. Os pitagóricos constituíram uma rígida sociedade. Eram vegetarianos, acreditavam na transmigração universal das almas de corpos para corpos, eram estudiosos da harmonia musical, astrônomos e devotados à espiritualidade. Para o pré-socrático de Agrigento, Empédocles, a natureza é constituída de quatro elementos: terra, fogo água e ar. O princípio universal que une esses elementos, agregando-os na constituição dos corpos, é o amor. O ódio é a lei da desagregação natural dos corpos. Demócrito de Abdera é um conhecido teórico do atomismo. Para ele os átomos são eternos, indivisíveis, como diz o nome, são também encaixáveis e imutáveis. Podemos afirmar que tudo parte deles e, ao final, tudo retorna a eles, por causa do natural movimento de todas as coisas. Heráclito de Éfeso é o teórico do mobilismo, pai do pensamento dialético. Para ele tudo é e não é ao mesmo tempo. Tudo está em devir, vir-a-ser, em mudança intensa. Nenhuma realidade é permanente. Tudo está em mudança ôntica (de ser). O ser é e não é. Os contrários coexistem numa mesma realidade. O mesmo homem não pode banhar-se duas vezes no mesmo rio. Tudo muda a todo tempo, homem e águas. A guerra é a rainha e a mãe de todos. Os opostos causam a harmonia do mundo. Parmênides de Eléia é o teórico do imobilismo. O ser é e o não ser não é. Ou é isso ou aquilo. Ou bom ou mau, nunca bom e mau. Ou é noite ou dia. Nunca dia e noite. O princípio da identidade, uma coisa não pode ser outra, e o princípio da não-contradição, uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo consolidou nossa forma de constituir a linguagem. Pensamos a partir de substantivos, de identidades, representações das substâncias, das coisas: ou santo ou pecador, belo ou feio, ou ódio ou amor.
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