padrões de distribuição espacial de heteroptera

Transcrição

padrões de distribuição espacial de heteroptera
PADRÕES DE DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE HETEROPTERA (GÊNEROS)
AQUÁTICOS E SEMI-AQUÁTICOS AO LONGO DA BACIA DO RIO IGUATEMI,
MATO GROSSO DO SUL
Carla Fernanda Burguez Floriano¹; Jelly Makoto Nakagaki²; Iana Aparecida Dalle Valle
Oliveira 1
Ciências Biológicas - Entomologia Aquática
1- Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade de Mundo Novo, Laboratório de
Entomologia Aquática, BR 163 – Km 20.2. E-mail: [email protected],
[email protected].
2- Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade de Dourados, Curso de Ciências
Biológicas - Dourados, Rodovia Dourados/Itahum Km 12. E-mail: [email protected]
Palavras-chave: Nepomorpha, Gerromorpha, ecologia
Resumo
As coletas foram realizadas no rio Iguatemi/MS, no qual foram estipulados três trechos,
sendo eles, ARI-trecho superior, MRI-trecho intermediário BRI-trecho inferior. Foi coletado um
total de 1780 exemplares, distribuídos em 10 famílias, agrupadas em 23 gêneros. Os gêneros
Rhagovelia, Metrobates e Martarega foram os mais abundantes ao longo do rio. Entre os trechos
estudados, os maiores valores de riqueza e abundância de gêneros foram observados para o trecho
inferior. A distribuição da heteropterofauna aquático pode ser influenciada por fatores bióticos e
abióticos esses fatores regulam a abundância, distribuição e ausência ou presença desses
indivíduos.
Introdução
Os verdadeiros hemípteros estão contido na subordem Heteroptera (Nieser & Melo,
1997), que segundo Schuh & Slater (1995) apresenta as infra-ordens: Enicocephalomorpha,
Dipsocoromorpha,
Gerromorpha,
Nepomorpha,
Leptopodomorpha,
Cimicomorpha
e
Pentatomorpha. Para Gapud & Zettel (1999), os heterópteras aquáticos são constituídos por
apenas três grupos: Nepomorpha, Gerromorpha, e Leptopodomorpha. No entando, para Neiser &
Melo (1997) os verdadeiros Heteroptera estão contido na infra-ordem Nepomorpha.
Para o estado de Mato Grosso do Sul, estudos de cunho ecológico e taxonômico de
heterópteros aquáticos e semi-aquáticos são escassos e, para a região sul do estado de Mato
Grosso do Sul, são inexistentes.
Materiais e Métodos
A rede hidrográfica do Planalto Meridional Brasileiro é composta pelo rio Paraná e seus
afluentes, destacando-se, dentre eles, o rio Iguatemi, um dos principais rios da região sul-fronteira
(Klaus et al., 2003). Este rio possui 235 km de extensão, nasce entre os municípios de Amambaí
e Coronel Sapucaia, a cerca de 520 m de altitude, e desemboca no rio Paraná, a 226 m de altitude,
entre os municípios de Eldorado e Mundo Novo/MS e Guaíra/PR (Súarez & Petreri-Jr, 2003).
A fim de verificar os gêneros pertencentes à sub-ordem Heteroptera, presentes nos locais
de estudo, foram realizadas coletas em três trechos ao longo do rio, sendo eles, ARI-trecho
superior (Coronel Sapucaia/Amambaí-MS), MRI-trecho intermediário (Sete Quedas/Tacuru-MS)
e BRI-trecho inferior (Mundo Novo/Japorã/Eldorado-MS).
Para o trecho superior e intermediário do rio Iguatemi foram realizadas coletas nos
meses de fevereiro e maio de 2008 e janeiro de 2009. Para o trecho inferior, foram realizadas
coletas nos meses de janeiro, abril, julho e outubro de 2008. Para cada trecho foram estipulados 5
pontos de coleta, totalizando então 15 amostras para o trecho superior, 15 para o trecho
intermediário e 20 amostras para o trecho inferior do rio Iguatemi.
Os exemplares foram capturados com a utilização de uma rede entomológica circular
com diâmetro de 30 cm, e cabo com 50 cm de comprimento e malha de 0,5 mm. O esforço
amostral consistiu em cinco arremessos para cada ponto de coleta e, um peneirão de 50 cm x 50
cm, com malha de 3 mm. Neste caso, o esforço amostral consistiu de cinco lances juntos à
vegetação marginal.
Público-alvo: acadêmicos, docentes, ecólogos e entomólogos.
Resultados e discussão
Os trabalhos de coletas ao longo do rio Iguatemi totalizam 1780 indivíduos capturados,
distribuídos em 10 famílias e agrupados em 23 gêneros.
Analisando distintamente os trechos estudados, para ARI foram coletados 518
indivíduos, 29 % da fauna do rio Iguatemi. Em relação à abundância numérica, Rhagovelia
agregou 67 %, seguido por Brachymetra com 14 % e Martarega com 11% dos indivíduos
capturados.
Para o trecho intermediário (MRI) do rio Iguatemi, foram capturados 466 indivíduos,
totalizando 26% dos indivíduos. Neste, o gênero Rhagovelia foi o mais expressivo com 36%,
seguido por Martarega com 24% e Halobatopsis com 17,5%.
Para o trecho inferior do rio Iguatemi (BRI) foram coletados 796 indivíduos,
representando 45% das capturas. Para este trecho o gênero mais abundante foi Metrobates
correspondendo a 38%, seguido por Martarega com 16 % e Rhagovelia com 12 %.
Dos 23 gêneros identificados, destacaram-se em abundância numérica os gêneros
Rhagovelia com 35%, Metrobates com 20% e Martarega com 17 % (Figura 01).
Abundância (Log x + 1)
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
Gêneros
Figura 01. Abundância log (X + 1) de gêneros de Heteroptera ao longo do rio Iguatemi/MS.
Rhag: Rhagovelia; Metr: Metrobates; Mart: Martarega; Halo: Halobatopsis; Buen: Buenoa; Brac:
Brachymetra; Tena: Tenagobia; Belo: Belostoma; Limg: Limnogonus; Limc: Limnocoris; Ambr:
Ambrysus; Nert: Nerthra; Cyli: Cylindrostethus; Rheu: Rheumatobates; Hydr: Hydrometra; Gela:
Gelastocoris; Para: Paravelia; Meso: Mesovelia; Neog: Neogerris; Siga: Sigara; Rana: Ranatra; Stri:
Stridulivelia; Stei: Steinovelia.
Os gêneros que ocorreram com maior abundância no trecho superior e intermediário
normalmente apresentam certa tolerância para ambientes lóticos, como por exemplo, o gênero
Halobatopsis (Neiser, 2004) e os gêneros Rhagovelia e Brachymetra que, além de habitar esses
ambientes vivem preferencialmente em ambientes sombreados (Neiser & Melo, 1997). No
presente estudo observou-se que os gêneros melhor adaptados a ambientes com maior correnteza,
também ocorreram nos trechos com correnteza inferior, no entanto, as suas abundâncias
numéricas diferiram significativamente.
A riqueza de gêneros de Heteroptera variou entre os ambientes de coleta do rio Iguatemi.
Em ARI foram identificados 12 gêneros, em MRI foram identificados 17 gêneros, e em BRI
foram identificados 18 gêneros. Desta forma, os valores médios da riqueza de gêneros de
Heteroptera para os distintos trechos do rio Iguatemi apresentaram expressiva variação no sentido
nascente-foz, com valores de 5,8, 7,8 e 10,6 respectivamente.
Alguns gêneros foram exclusivos para determinados trechos, Steinovelia foi registrado
somente em ARI, Cylindrostethus em MRI e, Hydrometra, Neogerris, Ranatra e Sigara, foram
registrados somente em BRI.
De acordo com os dados obtidos nota-se que a riqueza de gêneros difere ao longo do rio
Iguatemi. Neste sentido, os insetos aquáticos sofrem influências de fatores tanto bióticos como
abióticos esses fatores regulam a abundância, distribuição e ausência ou presença desses
indivíduos e, uma grande parte da entomofauna pode distribuir-se de acordo com o grau de
correnteza (Merritt & Cummins, 1996).
Segundo Vannote et al. (1980), em seus estudos (River Continuum Concept), rios com
condições naturais, a distribuição longitudinal e a riqueza expressam picos elevados no trecho
médio do rio. No entanto, em nossos estudos a maior riqueza de fauna foi observada no trecho
inferior do rio. Tal fato pode ser explicado pela falta de estudos com organismos predadores e sua
distribuição ao longo do rio e/ou pelo fato de que os rios temperados diferem-se dos rios
tropicais.
O gênero Steinovelia vive usualmente em ambientes lênticos (Merrit & Cummins,
1996), no entanto, a maior abundância numérica deste gênero foi observada para ambientes
lóticos. Cylindrostethus habitam águas com correntes consideráveis e associados à locais com
vegetação marginal. Os gêneros Neogerris, Sigara, Hydrometra (Neiser & Melo, 1997) e o
gênero Ranatra (Bachmann, 1998) habitaram locais caracterizados por águas estagnadas. Tais
fatores explicam o motivo de exclusividade dos gêneros para determinados trechos.
Agradecimentos: Ao Pibic-UEMS pelo auxílio financeiro, e pela co-orientação da professora
MSc. Iana Aparecida Dalla Valle de Oliveira.
Bibliografia
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