MaquetaciŠn 1
Transcrição
MaquetaciŠn 1
Conceptual intersections: urban furniture, public art and urban imagery Antonio Ferreira Colchete Filho Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) – Brasil This paper reflects on the public spaces at contemporary cities, its urban furniture, public art and other urban elements. From the twentieth century on, the terms which define these elements turned into imprecise concepts. This is due to the multiplicity of physical forms and spaces and to a wider range of new uses required to the public spaces, especially in metropolitan evnvironments. Is there a possibility of distinction between the multiple interpretations of these elements? In the cities evolvement, this assemblage of elements has always played an important role in the singularity of the public open spaces. To develop a sharper reading of the present processes of aesthetization of the public open spaces, aspects such as patrimony and preservation, memory and collective identity are considered. The urban furniture, the public art and the so-called urban imagery are important pieces to the study of the contemporary urban memory and culture. 1 Introdução A proposta desse artigo é repassar algumas reflexões que vêm sendo evidenciadas entre uma variedade de elementos urbanos, como mobiliários urbanos e esculturas, e o espaço público nas cidades contemporâneas. Diferentes termos abrigam conceitos que se tornam difíceis de aproximar a partir do século XX, tanto pela diversidade de formas de materialização dos elementos urbanos, quanto pelos desdobramentos de usos requeridos para os espaços públicos, principalmente metropolitanos. Na multiplicidade de interpretações para esses termos, há a possibilidade de fazermos distinção entre eles? Na história das cidades esse conjunto diversificado de elementos sempre teve destaque para a singularização dos espaços livres públicos. Logo, aspectos como patrimônio e preservação, memória e identidade coletiva vêm à tona e possibilitam uma leitura mais aguda sobre os processos de estetização dos espaços públicos contemporâneos. O mobiliário urbano, a arte pública e o que chamamos de imaginária urbana evidenciam-se, então, como peças privilegiadas para o estudo da memória e da cultura urbana em tempos atuais. 1 – Breve recapitulação das relações entre arte e espaço público “Toda coletividade necessita de lugares arquetípicos carregados de valores simbólicos; se as cidades não os oferecem, os grupos sociais os criam” (Montaner, 1999, p.174) É interessante destacar que desde o início das primeiras civilizações os Homens inseriram elementos voltados para a singularização do espaço coletivo, quase sempre relacionado à religiosidade e ao culto. É o caso de Stonehenge, no sul da Inglaterra, onde se localiza um dos mais famosos monumentos da Pré-história. A existência de megalitos data de 3500 a.C. no mediterrâneo e depois, entre 2500 e 2000 anos a.C., houve a sua proliferação ao longo da costa atlântica européia. A localização dessas estruturas criadas, quase sempre monumentais, dotavam o espaço onde se localizavam de forma significativa para aqueles povos, mesmo com culturas e estéticas tão distintas. Toda a civilização antiga – de uma forma geral - produziram esculturas que foram concebidas como objetos independentes, destacados de qualquer contexto arquitetônico. Isto inclui tudo, desde pequenas estátuas votivas a retratos (Wines, 1987, p.67). Com a organização da vida social nas primeiras cidades a criação desses elementos amplia o significado comunicacional, em virtude de uma maior articulação, principalmente entre a estatuaria e o espaço público. A drástica redução da vida urbana até praticamente o ano 1000, fez com que as cidades existentes, em meio a graves crises políticas e sucessivas invasões organizassem-se em esquemas labirínticos e núcleos encerrados por muralhas, com a rua medieval se caracterizando como um prolongamento da casa, espaço onde se vive1. Somente as fontes, oratórios e, mais tarde, a iluminação pública, dotaram as ruas quase sempre tortuosas de algum elemento de uso coletivo mais funcional do que simbólico. Outra momento de reelaboração da relação monumento-espaço público, por exemplo, foi no século XVII, quando as praças em Paris introduziram um modelo mais acabado a partir de dois elementos que a Itália utilizava separadamente desde o século XVI: a praça programada e a estátua do rei, como a Praça Dauphine e Royale - ou, des Voges (Harouel, 1990, pp.71-72). A forma de composição dos espaços públicos no período Barroco incorporou as árvores e os inúmeros mobiliários urbanos que surgiam como partes integrantes do espaço, principalmente os monumentos. 2 Mais tarde, as novas demandas originadas pela Revolução Industrial não só criaram intensamente novos núcleos urbanos como também modificaram os espaços centrais das principais capitais européias. Nas cidades existentes as muralhas foram definitivamente substituídas para dar lugar aos arcos do triunfo e obeliscos, aos novos eixos monumentais e bulevares arborizados, construídos agora sob a determinação de planos e projetos definidos legalmente, transformando as cidades num grande teatro, de forte conteúdo dramático e carregadas de elementos-surpresa (Harouel, op.cit., pp.72-90). Esse período se caracterizou pela ampla difusão dos paradigmas barrocos, com a implantação de monumentos clássicos, como estátuas eqüestres, bustos etc., temas de valor, sacrifício e patriotismo, sentimentos que tinham sido perdidos com o advento da revolução (Wines, op.cit., p.81). O crescimento das cidades e os problemas advindos com a vida preponderantemente urbana fez do século XX um marco para as reflexões sobre a vida nas cidades e a inserção dos novos paradigmas, modernos. Alguns anos depois começou-se a avaliar os feitos nocivos desse urbanismo pragmático para a vida cotidiana. Percebe-se, entretanto, que uma nova questão havia sido introduzida com a crítica ao espaço urbano e público: como fazer das ruas, praças e espaços livres públicos da cidade lugares atraentes, que expressassem, inclusive, o nível de sofisticação sócio-cultural em torno do qual a sociedade se organizou nos últimos tempos? Na verdade, as cidades contemporâneas são também o lugar da pobreza, da violência, da exclusão e principalmente da heterogeneidade. Como, então, a multiplicidade de elementos urbanos que se instalam nas cidades, sejam eles funcionais, como o mobiliário urbano, ou simbólicos, como os monumentos, podem ajudar a contar um pouco mais sobre as modificações das cidades (e aspectos da sociedade), já que é notório que associamos algumas cidades com alguns exemplos clássicos de elementos urbanos. Isso para não falarmos em exemplos menos conhecidos, mas não menos importantes para um bairro ou uma comunidade, como um oratório, ou uma luminária que guardam uma relação estreita com seus usuários. Após o início da crítica ao movimento moderno, quando a produção desses elementos se intensifica e se diversifica, não é apenas para o espaço público que se voltam, mas para a audiência pública, cada vez mais disputada. Essa produção, dos últimos trinta anos para cá, é o próximo objeto de revisão. 2 Para situar a discussão e repassar alguns conceitos Podemos verificar, após uma breve revisão histórica, que muitas das principais experiências de uso simbólico no espaço público das cidades se materializam através de exemplos de elementos urbanos. Logo, esses guardam uma interseção de conceitos que ao mesmo tempo que os distingue formalmente os aproxima paradoxalmente, pois podem sintetizar imagens da cidade e do lugar onde se instalam na maior parte das vezes. Se há uma mistura de sentidos entre esses elementos e se eles podem atuar como sintetizadores da imagem de um lugar, podemos atribuir a eles um termo que os agrupe? Esse termo parece se originar das palavras imagem e imaginário, que tanto o mobiliário urbano quanto a arte pública tomam parte quando analisamos a cidade. Portanto, é importante repassarmos alguns desses diferentes termos que comumente utilizamos. 3 2.1. Elementos urbanos e mobiliário urbano A utilização do termo elementos urbanos para nos referirmos aos inúmeros objetos que se instalam nas ruas e parques da cidade é o argumento que Creus (1996, pp.6-13) defende, pois o termo mobiliário urbano está impregnado da idéia de mobiliar ou decorar, o que não corresponde mais às necessidades cada vez mais complexas dos tempos atuais que são requeridas para esse conjunto de elementos. Mobiliário urbano, por sua vez, é um termo extremamente abrangente que, do ponto de vista técnico, dá conta de toda a produção de elementos que se voltam para o espaço público, sejam eles estruturais, funcionais, artísticos ou simbólicos. É o que fazem, por exemplo, a norma técnica brasileira (ABNT, NBR 9283, de março de 1986) e o manual da prefeitura carioca (IBAM/CPU, 1996), que lidam com a gestão do espaço urbano e entendem, por extensão, esculturas como um mobiliário urbano, à medida que agrupa um poste de iluminação com uma estátua eqüestre, por exemplo. Podemos então avaliar que, agrupados com tantos outros elementos, de porte arquitetônico, inclusive, como postos de salvamento à beira-mar ou quiosques, as esculturas e, principalmente, os monumentos, são de inserção difícil num contexto conceitual, quando avaliados do ponto de vista técnico. Uma das dificuldades diz respeito à escala. Um quiosque pode estar agrupado com um monumento, mas apenas como uma referência temática ao grande universo que os tem como mobiliários urbanos2. Desta forma, o termo elementos urbanos nos parece mais indicado para nos referirmos ao conjunto, pois está menos impregnado da idéia de se associar a funcionalidade a um elemento essencialmente artístico. 2.2. Monumentos e esculturas O termo monumento é utilizado correntemente para destacar edifícios de arquitetura singular, seja o Partenon ou um Teatro Municipal ou, ainda, à lugares e sítios naturais, como uma montanha na Austrália ou outra no Rio de Janeiro, ampliando a gama de associações possíveis para a palavra monumento, o que inclui ainda um mausoléu, um obelisco ou um marco rodoviário do Rotary ou Lions Club. Para Merlin e Choay (1988, pp.429-430) o termo monumento deve ser conceituado a partir de sua etimologia – do latim “monumentum” (derivado de “monere”: “avertir, rapeller”). Etimologica e originalmente, todo o artefato (inscrição, estela, escultura, edifício) que é utilizado por uma comunidade (da família à nação) para se rememorar ou comemorar eventos ou comportamentos (ritos), fazendo parte da vida de todas as sociedades e contribuindo para salvaguardar a identidade. Em outra publicação Choay (2002, pp. 25-26) diferencia a palavra monumento - com algo que faz tocar pela emoção uma memória viva, ou seja, com uma “função antropológica” em essência -, de monumento histórico, que não é uma criação deliberada como um monumento simplesmente. O monumento histórico é constituído por quem seleciona o que deve ser convertido em testemunho histórico, independente de que tenha havido uma determinação memorial na criação original3. De modo geral, no nível do senso comum, a idéia de monumento remete a uma arte realizada no passado, ou pelo menos, mesmo quando realizada hoje, com o intuito de relacionar-se ao passado, estabelecendo relações simbólicas do Homem com o presente e com o futuro. Martínez (1996, pp.91-94) procura recuperar a idéia de por que há um interesse na revalorização do monumento novamente, já que a idéia de significado público é bastante problemática hoje. Três motivos são apontados: a aparição de novos materiais e técnicas (não mais somente mármore/granito, soldadura); a institucionalização das iniciativas privadas e públicas para integrar esculturas de grande porte em projetos de arquitetura e urbanismo, cada 4 vez mais comuns, dados o empobrecimento das cidades e da nova arquitetura funcional e, por último, a revalorização do artista, depois de décadas de descrédito. O termo escultura, por sua vez, corresponde resumidamente a um objeto que pode adotar a forma figurativa (quando a palavra estátua torna-se um sinônimo) ou abstrata, mas, com a multiplicidade de meios e materiais atuais a escultura tornou-se um campo onde se incluem atuações das mais diferentes formas, o que faz com que o termo abranja uma série de ações e objetos que são chamados atualmente de esculturas, como corredores com monitores de TV ao fim, espelhos colocados em ângulos estranhos em ambientes comuns etc., que seriam mais precisamente entendidos como “earthworks” (Krauss, s/d, pp.31-42). 2.3. Arte pública e arte urbana Um dos termos que freqüentemente encontramos para se referir a arte em espaços públicos é “arte urbana”4. Na verdade, o sentido utilizado é o mesmo que arte pública, e desta forma, atuariam como sinônimos. Entretanto, arte pública é um termo que designa uma produção contemporânea, dos últimos trinta anos para cá, e é a forma mais utilizada para se referir às instalações de arte ou às manifestações artísticas que se dão no espaço público, conforme a maior parte da bibliografia especializada. Segundo o dicionário de Urbanismo (Merlin & Choay, op.cit., pp.68-69), a expressão arte urbana, por sua vez, foi consagrada por H. Lavedan (apud Histoire de L’Urbanisme, t.2, Paris, 1959) para designar a edificação ou o arranjo espacial das cidades, iguais como foram teorizadas a partir do Quattocento, e depois, progressivamente posto em prática pela Renascença, nos anos clássicos e no período neoclássico. A arte urbana introduz nas cidades ocidentais a proporção, a regularidade, a simetria, a perspectiva, e as aplica nas ruas, praças, edifícios, no tratamento de seus produtos e elementos de composição ou ligação (arcadas, colunatas, arcos monumentais, jardins, obeliscos, fontes, estátuas etc.)5. Podemos perceber, então, que arte urbana refere-se mais a ação urbanística empreendida a partir do século XV na Europa, do que a apenas um dos elementos utilizados. Assim, arte urbana é a estratégia, a lógica de composição do espaço, e o mobiliário urbano – na sua acepção mais ampla, uma de suas ferramentas. O termo arte pública só aparece recentemente. O conceito mais difundido atualmente e de maior abrangência é o que identifica a produção artística que se dá na cidade como arte pública, embora compreenda na sua extensão outros manifestações artísticas, além do universo dos objetos, como performances, exposições e eventos realizados na cidade e/ou tendo-a ainda como horizonte de reflexão. Arte pública, considerado como um novo gênero artístico, na verdade é um conceito forjado nas últimas décadas e possui múltiplas implicações (estéticas, sociais, políticas, institucionais etc.) e convergências (com o urbanismo, com a arquitetura, com a antropologia etc.), que estão nas artes em geral e assumem no público outras denominações, como “configurações”, “instalações”, para denominar todo o tipo de arte (Sobrino-Manzanares, 1999, pp.9-15). Para Selwood (1995, pp.6-8) a arte pública é um termo notoriamente indefinível, e destaca algumas definições feitas por diversos autores que a conceituam como “escultura ao ar livre”, “qualquer objeto comprado ou consignado de uma pessoa que se considera artista”, podendo ser também “produzida para, e de propriedade da comunidade” ou “o que a define como arte é a sua oposição ao mobiliário urbano”. Pode ser ainda definida como uma intervenção política, uma atitude de galerias com recursos próprios, um processo educacional ou pode não requerer necessariamente nenhuma dessas qualidades, sugerindo uma taxonomia que faça de qualquer categorização algo igualmente confuso. As implicações do termo arte pública, como “arte no espaço público” direcionam a um entendimento de que é uma obra criada pelo público e de propriedade pública para um espaço de uso público; mas que, por outro lado, pode não ter a 5 intenção primeira de benefício público, devendo-se lembrar, ainda, que o uso de palavras como “comunidade” possui forte conotação ideológica, e “público” também sugere uma metáfora de massa anônima, de comportamento distinto de sociedade. O fato é que é difícil aproximar os termos “arte” e “público” no século XX sem cair nas definições de “arte comunitária” ou “arte ao ar livre”, pois não há um público homogêneo, mas uma diversidade de públicos específicos, como afirma Miles (1999, pp.84-85). A diversidade de materiais e formas de expressão artística é também proporcional à diversidade do público, tornando difícil a formulação de referências tradicionais para o entendimento das artes nesses últimos anos. Para Remesar (2000, p.67) arte pública é um conceito muito genérico, onde “artefatos de características eminentemente estéticas mobilam o espaço público”, dando-lhe sentido, e não sendo apenas uma manifestação puramente artística. Para o autor, arte pública pode ser um conjunto de “coisas tão díspares como o desenho do espaço público, o paisagismo, a escultura, as performances etc.”. Podemos então entender um abrigo de ônibus com design internacional, localizado estrategicamente em um espaço “transformado” como arte pública? As estratégias que definem como diferenciar uma cidade da outra, em meio a um interesse cada vez maior em qualificar os espaços públicos com projetos urbanos, cria para Molins (2001, pp.28-35) alguns problemas, como na Europa, onde há uma proliferação de esculturas urbanas. Museu e espaço público urbano converteram-se em “lugares de encenação de um poder social”, que buscam melhorar a imagem das cidades, ou acentuarem a sua “marca”, tornando-se, no fundo, uma operação de poder. Para o autor, o cotidiano tornou-se um espetáculo para as massas, e a arte pública, sem a possibilidade de se impor, adapta-se, bem ou mal, como elemento da paisagem, e assim desaparece, sendo vítima de agressões em quantidade e qualidade tanto como qualquer outro objeto situado no espaço público, inclusive o próprio espaço, e não poderia ser mesmo diferente, interroga Molins, “porque uma escultura deve ser objeto de maior respeito que uma lixeira ou um ponto de ônibus, se lhes é tão semelhante?” (op.cit., p.34). Esta semelhança parece estar na essência do espaço público que dá sentido à imagem da cidade: “Convém apontar que a imagem da cidade se constitui na tensão entre o simbólico e o funcional e, ainda, que determinadas atuações realizadas como escultóricas, no âmbito público, podem ter mais possibilidade de aumentar o leque simbólico; isto não é sempre assim. É mais mobiliário urbano portador de conotações escultóricas à supostas controvérsias próprias de ‘irreverências artísticas’, trasladando a discussão ao terreno do simbólico. E esculturas com claras pretensões simbolizadoras não têm passado de serem meros mobiliários” (Arnaiz et al., 1996, p.139). O crescente interesse pela forma urbana dilui o sentido meramente técnico do mobiliário urbano que se coloca no espaço da cidade como um elemento que agrega valor não só funcional, mas estético sobretudo5. A escultura pública, por outro lado, vive a tensão entre “sua desmaterialização objetual e seu caráter de permanência como rito urbano”, dividindo sua atenção ainda com todo um conjunto de objetos funcionais como o mobiliário e outros objetos supostamente escultóricos. A relação com o público, advinda da instalação de arte no espaço, torna-se um excelente banco de provas sobre o qual “artistas, críticos e o público receptor podem aprender e acumular e experiências” (Sobrino-Manzanares, op.cit., p.14). 6 2.4. Sínteses conceituais: imaginária urbana? Para resumirmos um percurso da arte pública e do mobiliário urbano e suas diversas simbioses nas últimas décadas, recorremos a Maderuelo (2000), que agrupa em seis categorias diferentes modelos de produção artística que procuram ocupar o espaço urbano com obras que tenham um sentido, independentes de serem estas permanentes, efêmeras, virtuais ou utópicas, já que o espaço das cidades é cada vez mais um alvo de investimento para a formação de uma “imagem cultural” poderosa. A primeira categoria estabelecida pelo autor é a “monumentalidade”, que baseia-se na relação de transformação do espaço onde se integra com a sua simples presença, num conceito próximo do que se entende por site-specifity. Outra categoria é a atribuição de “significado” para a obra, adicionando conteúdo crítico e alterando o sentido do termo monumento, como nas obras do artista búlgaro Christo, que empacotou literalmente edifícios simbólicos. Uma terceira categoria é a “comemoração”, que baseia-se numa revisão formal do monumento, refletindo sobre a idéia de comemoração de forma atual, sem cair na “ostentação simbólica nem na arrogância dos monumentos do passado”, onde o exemplo mais característico é o Monumento aos mortos no Vietnã, de Maya Lin ou as projeções em monumentos tradicionais de Wodiczko (Maderuelo, op.cit., pp.243-245). As outra três categorias são: a “utilidade”, em obras que renunciam à forma e ao significado do monumento tradicional e denominam seu trabalho como “arte pública”, não fazendo parte do circuito das galerias e nem intencionado decorar meramente espaços residuais, mas buscando um significado estético, social e sendo também comunicativa e funcional, como os bancos e mesas criados por Armajani sem a preocupação de serem entendidos como obras de arte. A quinta categoria é a chamada “qualidade ambiental”, contida em obras que recriam o lugar e diferem das obras site-specifity e das obras funcionais mencionadas anteriormente porque não são peças para serem introduzidas num lugar, elas são o próprio lugar, como o calçadão de Copacabana, criado por Burle Marx. A última categoria, denominada “capacidade participativa”, é aquela dada por obras que exigem a participação dos cidadãos, diferindo das demais que surgem de complexos processos criativos e administrativos que acabam por isolá-las do contato com o cidadão. Como exemplo, a performance do artista Josep Beuys, do grupo Fluxus, em Kassel (1982) - cidade em que se realiza importantes exposições de arte de vanguarda -, quando convocou a população da cidade para plantar sete mil mudas de carvalho e modificarem assim a paisagem da cidade (op.cit., pp.245-248). Essa última categoria sugere que a participação popular na criação de obras de arte pode se dar através de uma manifestação próxima à idéia de “cultura popular”, ou seja, através de empreendimentos que façam parte de um hábito, uma crença, que tenha o espaço público e a audiência pública como receptores, ou mesmo façam parte do folclore nacional. É o caso das festas populares que arregimentam toda uma população local que enfeita, cria e modifica o espaço público para uma ocasião específica, como os tradicionais tapetes de serragem colorida realizados em cerimônias de Corpus Christi no Brasil, que envolvem a participação de um grande número de pessoas, mantendo acesa uma tradição medieval que parece ter surgido na Bélgica do século XII. Algumas reflexões sobre eventos desse tipo são apresentados como exemplos de arte pública em Miranda (1998), como as festas do boi no Amazonas, as festas populares de Pernambuco e o próprio carnaval carioca, visto como uma das maiores experiências em show no mundo. Envolvendo a participação de diferentes pessoas que tanto constróem os adereços e as alegorias como desfrutam da festa, o desfile das escolas de samba é o ápice do carnaval na cidade, atraindo milhares de pessoas para a Passarela do Samba e para o entorno onde se realiza o desfile. 7 Desta forma, a inserção de arte – num sentido amplo, ou de elementos urbanos nas cidades é múltipla, e embora os substantivos específicos que nomeiam diferentes objetos, como chafariz, banco, escultura, serão sempre válidos como expressão estrita para cada termo, na formação de grupo, entretanto, a classificação desse variado conjunto de elementos pelo termo mobiliário urbano é imprecisa, pois agrupa tanto elementos de função puramente utilitária como um hidrante, com elementos paisagísticos - uma fonte, ou um elemento artístico, por exemplo. Além disso, a contemporaneidade amplia as possibilidades de inserção de manifestações artísticas que se dão no espaço público, que assumem formas múltiplas que dificilmente podem ser reduzidas ao termo mobiliário urbano, pois não são elementos de composição ou adorno do espaço simplesmente, como é tratado em muitas normas e manuais. O termo arte pública, por sua vez, redefiniu nos últimos trinta anos um domínio mais amplo para a arte no espaço público também, para além de um sentido artístico materializado num objeto, como muito se produziu nos últimos séculos, mas, acima de tudo, em uma ação ou conjunto de ações que reflitam os rumos da arte de uma forma geral ou que alavanquem impressões para futuros projetos de intervenção urbana em áreas das cidades que queira se destacar, envolvendo diferentes grupos sociais e, principalmente, a população. Por sua vez, a variedade de formas que esta assume para cumprir essa intenção muitas vezes se dá através de elementos que podem ser compreendidos como mobiliários urbanos, dando complexidade à discussão e parecendo voltar ao ponto de origem que agrupa todo objeto, funcional ou artístico, como mobiliário urbano. O fato é que o problema da redução conceitual é perigoso tanto quando se analisa o mobiliário urbano como a arte pública. O primeiro porque mesmo tendo um caráter funcional os novos mobiliários que vêm surgindo nas cidades exploram cada vez mais relações singulares que não só respondam a um mero cumprimento técnico para uma demanda urbana, mas porque buscam uma identidade tanto para ele quanto para o lugar onde se inserem, reforçando a imagem e redefinindo a paisagem das cidades, para bem ou para mal. E para a arte pública, porque a redução conceitual não é compatível com as intenções artísticas que estão sempre presentes, que precedem o trabalho artístico. Como vimos também, é bastante difícil validar o que então pode ser nomeado como arte, pois se questiona não só a validade dos objetos artísticos em curso mas, inclusive, a validade de quem preside o julgamento. Assim, sem querermos encerrar a discussão, optamos pela inclusão desse conjunto diversificado de objetos nomeando-os como “elementos urbanos”, como é feito por Creus (1996), já que esses cumprem requisitos ligados à funcionalidade, à racionalidade e à emotividade nos seus meios de produção. Entretanto, esse trabalho procura avançar na compreensão desses conjunto de objetos que tratamos por elementos urbanos distinguindo-os como imaginária urbana, como uma interseção conceitual para objetos que tanto podem ser mobiliários, estritamente, como arte pública, essencialmente. Ao captarem parte dos muitos sentidos das cidades e dos lugares onde se instalam, inscrevem-se na memória e fazem parte da cultura urbana, podendo ser exemplares para se remontar a evolução urbana de um lugar e também sinalizando a relação da sociedade com o espaço público e com os próprios elementos urbanos, notadamente aqueles mais significativos. O conceito e a abrangência do termo imaginária urbana como utilizamos é sintetizado por Knauss (1998, p.36): “(...) a imaginária urbana de caráter histórico e artístico pode ser considerada uma unidade de significantes, um suporte de mensagem no contexto da sintaxe urbana. Como inscrição na paisagem edificada, ela participa de uma estrutura de significação do território da cidade, operando uma articulação entre a ordem espacial e a ordem temporal, revelando conteúdos históricos acerca da sociedade”. 8 A imaginária urbana, e por extensão, os elementos urbanos em geral, tornam-se exemplares para o estudo do binômio espaço-sociedade. Questões relacionadas à memória e à cultura urbana perpassam a inserção desses elementos no espaço público, já que estes disputam cada vez mais um lugar na cidade e uma atenção especial na audiência da população. Se por um lado isso faz com que sejam explorados comercialmente para o consumo de cultura e a fetichização da imagem urbana, ao mesmo tempo, sinalizam para a possibilidade da cidade ser explorada também no sentido positivo, de descobrir novos ou velhos sentidos da vida em comum, no espaço comum, através de elementos comuns, mas que tenham algo mais a dizer, que criem laços com o lugar e sejam representativos para uma comunidade, que sejam menos elementos urbanos e mais imaginária urbana, sem poluir e dificultar a compreensão da paisagem também. 3 – Considerações finais Visto que espaço público e elementos urbanos são quase que indissociáveis, podemos afirmar que refletir sobre os rumos de ambos contemporaneamente é ter em mente que a discussão expande-se para além das fronteiras técnicas ou concentradas em uma única área disciplinar. Ao que parece, isso também implica em compreender a cidade contemporânea como lugar de valor comercial, onde há uma acirrada competição entre cidades que buscam destaque na captação de recursos e investimentos. Nem sempre é possível se associar a idéia de um espaço urbano de qualidade, com “identidade cultural forte”. Para Arantes (1998) a exploração da cidade nesse aspecto é mais uma moda, que a vê como um bem de consumo, e que vem sendo apropriada por inúmeras empresas investidoras. Esses investimentos são cada vez mais comuns em nossas cidades, pois o espaço público voltou à cena e tornou-se um mercado que parece dar retorno garantido aos investimentos. Apoiado ou não em projetos de reformas urbanas há parcerias firmadas entre Estado e empresas privadas que dão suporte desde a grandes intervenções, como atuam na manutenção de espaços físicos próximos às suas sedes, como praças e largos ou oferecem verba à atividades e eventos artísticos que trabalham com a temática da arte pública. Porém, a autora alerta que muitas dessas iniciativas não passam de “peça central na máquina reprodutiva do capitalismo, uma espécie de mola propulsora” (Arantes, 1993, p.223). Contudo, há também iniciativas valorosas, pois algumas empresas ou mesmo o Estado apoiam manifestações artísticas que não agregam valor publicitário permanente e direto, muito embora façam parte de uma política de incentivos às artes, com o benefício de isenções fiscais – nos Estados Unidos e na França, a chamada Lei do 1%. Sob essa ótica, a arte pública ganha um espaço oficial de inserção, embora também denote um conflito do artista que se divide entre o que quer expressar e a “obra de encomenda”, que pode ser ainda uma grande oportunidade de valorização pessoal e profissional. Parte desses conflitos é resolvido por algumas organizações de apoio às artes, que trabalham com uma variada gama de artistas, pagando pelo trabalho produzido e colocando-os em evidência como “(...) legítimos, produtivos e valiosos membros da sociedade” (Pasternak, 1998, p.109). Esperamos como Zukin (1995, p.294) que os espaços públicos, embora influenciados por uma cultura simbólica dominante, retenham uma memória residual de tolerância e liberdade, que podem ser manifestados em diferentes marcos e eventos “representantes das culturas das cidades”, atuando como lugares próprios em que “novas identidades coletivas floresçam de forma democrática”. O temor apontado pela perda de identidade com a massificação da informação e a contínua importação de modelos de intervenção urbana, arte etc., podem se tornar intercâmbios válidos para se ganhar em comunicação e conhecimento, principalmente em países 9 latino-americanos que vivem a chamada “hibridação cultural” pela coexistência das tradições culturais muito evidentes com a modernidade que ainda não se realizou de forma integral (Garcia-Canclini, 1998). Os resultados das diversas ações empreendidas pelos diferentes agentes sociais que tomam parte na discussão pela cidade e do destino dado ao espaço público atualmente precisam ter força suficiente para, numa ação empreendedora, entender e tornar a cultura de acesso mais franco para uma maior quantidade de pessoas, passando da esfera reprodutiva do capital, como é bastante explorada hoje, para a busca por interações da arte com a sociedade mais espontâneas e genuínas. E essas ações são realmente negociadas nos espaços centrais, embora, estes, estejam cada vez mais privatizados, o que faz do espaço público e da imaginária urbana, então, peças privilegiadas para o estudo da constituição da memória e cultura urbanas em tempos atuais. 10 5 – Referências ARANTES, O. (1993). O lugar da arquitetura depois dos modernos. São Paulo: Ed. USP: Studio Nobel. _______ . (1998). Uma estratégia fatal – a cultura nas novas gestões urbanas. São Paulo, (mimeo). ARNAIZ, A. et al. (1996). Entre el monumento y la escultura pública. In: Bitarte, Revista cuatrimestral de humanidades. Donostia: año 4, n.10, diciembre 1996, pp. 137-165. BENNETT, S & BUTLER, J. (eds.). (2000). Advances in Art & Urban Futures. V.1. Locality, Regeneration e divers(c)ities. Bristol; Portland: Intellect. CARMONA, M. (1985). Le mobilier urbaine. Paris: PUF. CHOAY, F. (2002). A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade: Editora UNESP. COLCHETE FILHO, A. (1997). Estudo sobre o mobiliário urbano no Rio de Janeiro: a experiência do Projeto Rio Cidade Leblon e Vila Isabel. Dissertação de mestrado em Urbanismo. Rio de Janeiro: FAU/UFRJ. CREUS, M. (1996). Espacios, muebles y elementos urbanos. In: SERRA, J. Elementos urbanos: mobiliário y microarquitectura / urban elements: furniture and microarchitecture. Barcelona: Gustavo Gili. DEUTSCHE, R. (1998). Public art and its uses. In: SENIE, H. & WEBSTER, S. (eds.). Critical issues in public art. Washington; London: Smithsonian Institution Press, pp.158-169. GARCÍA-CANCLINI, N. (1998). Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: Editora da Universidade São Paulo. HAROUEL, J-L. (1990). História do Urbanismo. Campinas, SP: Papirus. IBAM - INSTITUTO DE ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL, RIO DE JANEIRO. CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS URBANAS. (1996). Manual para implantação de mobiliário urbano na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, IBAM/CPU, Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. KNAUSS, P. (coord.). (1999). Cidade vaidosa: imagens urbanas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Sette Letras. _______ . (1998). Imagens urbanas e poder simbólico; esculturas e monumentos públicos nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói. Tese de doutorado em História. Niterói: UFF/PPGH. KRAUSS, R. (s/d). Sculpture in expanded field. In: FOSTER, H. The anti-aesthetic. Essays of postmodern culture. Seattle/Washington: Bay Press. LAMAS, J. (2000). Morfologia urbana e desenho da cidade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian; Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Le GOFF, J. (1998). Por amor às cidades: conversações com Jean Lebrun. Coleção Prismas. São Paulo: Fundação Editora da UNESP. MADERUELO, J. (1990). El espacio raptado. Interferencias entre arquitectura y escultura. Madrid: Biblioteca Mondadori. _______ . (2000). O fenómeno da arte nos espaços públicos. In: BRANDÃO, P. & REMESAR, A. (coord.). Espaço público e a interdisciplinaridade/Espacio público y la interdisciplinaridad. Lisboa: Centro Português de Design, pp. 240-248. MARTÍNEZ, J. (1996). Lugar, forma y representatión en el arte público de Alfaro. In: MADERUELO, J. et al. Andreu Alfaro. Espacio público. Alicante: Fundación Caja del Mediterráneo. MERLIN, P. & CHOAY, F. (1988). Dictionnaire de l’urbanisme et de l’aménagement. Paris: PUF. MILES, M. (1999). Art, space and the city. Public art and urban futures. London: Routledge. 11 MIRANDA, D. (coord.). (1998). Arte Pública: Trabalhos apresentados nos Seminários de Arte Pública realizados pelo SESC e pelo USIS, de 17 a 19 de outubro de 1995 e 21 de novembro de 1996, este último com a participação da União Cultural Brasil-Estados Unidos. São Paulo: SESC, 1998. MOLINS, M. (2001). Arte pública. Entrevista a Miquel Molins (por Pedro Bandeira). In: IN SIsTUS. Espacios públicos. Porto: março/junho 2001, pp.28-35. MONTANER, J. (1999). La modernidad superada. Arquitectura, arte y pensamiento del siglo XX. Barcelona: Gustavo Gili. NETTO, E. & HESS, L. (1971). O mobiliário urbano. In: Revista de Administração Municipal. Ano XVIII, n.106, mai/jun. 1971, pp.22-35. PALLAMIN, V. (2002). PALLAMIN, V. (org.). Cidade e cultura: esfera pública e transformações urbanas. São Paulo: Estação Liberdade, pp.59-70. PASTERNAK, A. (1998). Creative times. In: MIRANDA, D. (coord.). (1998). Arte Pública: Trabalhos apresentados nos Seminários de Arte Pública realizados pelo SESC e pelo USIS, de 17 a 19 de outubro de 1995 e 21 de novembro de 1996, este último com a participação da União Cultural Brasil-Estados Unidos. São Paulo: SESC, pp. 108-112. PINTO, A. & FERREIRA, A. (org.). (1998). Arte urbana/Urban art. Lisboa: Parque EXPO98 SA. REMESAR, A. (2000). Waterfronts, estratégias e desígnios. In: BRANDÃO, P. & REMESAR, A. (coord.). Espaço público e a interdisciplinaridade/Espacio público y la interdisciplinaridad. Lisboa: Centro Português de Design, pp.60-68. SELWOOD, S. (1996). The benefits of public art. The polemics of permanent art in public spaces. London: Policy Studies Intitute. SERRA, J. (1996). Elementos urbanos: mobiliário y microarquitectura / urban elements: furniture and microarchitecture. Barcelona: Gustavo Gili. SHULZ-DORMUND, J. (2000). Arte y Arquitectura. Barcelona: Gustavo Gili. SOBRINO-MANZANARES, M. (1999). Escultura contemporánea en el espacio urbano. Transformaciones, ubicaciones y recepción pública. España: Electa. WINES, J. (1987). De-architecture. New York: Rizzoli. ZUKIN, S. (1995). The cultures of cities. 12 1 Para Le Goff (1998, p.139), a cidade medieval tinha sua população renovada a cada duas gerações, o que significava renovar a aparência das cidades também, por isso não havia tanto apego, as cidades eram objeto de intervenção constante. O que causava traumas era a destruição de um monumento, em geral totêmico, como a torre ou o sino da catedral, dado o seu alto valor simbólico. 2 Para Netto & Hess (1971, p.27-30) quiosques, bancas de jornais e coretos são compreendidos como microarquiteturas, pois são elementos construídos com os mesmos materiais das demais construções da cidade mas que “não encontraram lugar dentro da divisão das terras urbanas destinadas às edificações. Serra (1996, p.18) adiciona o conceito de microarquitetura ao de mobiliário urbano para evitar a inclusão de objetos como bancas de jornal e quiosques sobre a denominação genérica de mobiliário. Ambas as considerações, no entanto, tratam a microarquitetura como um tipo de mobiliário urbano, distinguido fundamentalmente pela questão da escala (permite abrigo do Homem) e do tratamento formal (materiais empregados). 3 A autora indica o período compreendido entre 1820 e 1960 como o da consagração do monumento histórico. A primeira data é quando se publica livro sobre um tipo de “viagem de impressões” pela França, que se torna um marco da mudança de mentalidade sobre o tema e em 1964, data da redação da Carta de Veneza, com a ampliação à proteção dos monumentos históricos (op.cit., p.125). 4 Encontramos essa referência no catálogo da Expo’98 (Pinto & Ferreira, 1998), que chamam “genericamente de arte urbana – no espaço público”, as várias esculturas, pisos etc. criados por diversos artistas convidados para o referido parque em Lisboa; e em Pallamin (2002), que utiliza na maior parte de seu texto o termo arte urbana, embora suas análises aproximem-se do entendimento que temos desses elementos – “uma prática social”. A utilização do termo arte urbana, contudo, nos parece muito abrangente. 5 Não há referência no dicionário para o verbete “arte pública”. O livro Art in a city, de John Willet, publicado em 1967, parece ser um dos primeiros registros bibliográficos sobre o assunto, que questiona os benefícios da arte pública para a população das cidades, o que inclui as coleções públicas dos museus, a estatuária do século XIX e a arquitetura decorativa (Miles, 1999, p.91). 6 Creus (1996, pp.6-14) aponta três critérios para serem observados na criação de um mobiliário urbano: a funcionalidade (do elemento e do espaço onde ele se insere); a racionalidade (de sua construção e de sua forma) e a emotividade (que desperta sensações no indivíduo). Esse último critério explora, justamente, a integração entre valor de uso e valor artístico, pois disso depende sua melhor relação com o espaço. Ver Colchete Filho (1997), onde esses critérios constituem-se categorias de análise para o Projeto Rio Cidade. 13 14