práticas de manejo para minimizar a emissão de
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práticas de manejo para minimizar a emissão de
Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA PRÁTICAS DE MANEJO PARA MINIMIZAR A EMISSÃO DE GASES DO EFEITO ESTUFA ASSOCIADAS OU NÃO AO USO DE FERTILIZANTES MANAGEMENT PRACTICES TO MINIMISE THE EMISSION OF GREENHOUSE GASES ASSOCIATED OR NOT THE USE OF FERTILIZERS Sheila da Silva Vieira1 , Claiton André Zotti, Valdinei Tadeu Paulino2 1 Mestrandos do Curso de Produção Animal Sustentável do Instituto de Zootecnia, APTA/SAA, Nova Odessa/SP, e-mail: [email protected], [email protected] 2 Pesquisador e Professor da Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Produção Animal Sustentável, Instituto de Zootecnia, APTA/SAA, Nova Odessa/SP, e-mail: [email protected]. Resumo: O trabalho relata o aquecimento global e seus efeitos nas emissões de gases de efeito estufa (CO2, CH4 e N2O). Nas atividades agropecuárias são descritos práticas e suas interferências na mitigação de efeito estufa, com relevância nos sistemas agrícolas, manejo do solo, plantio direto, uso de fertilizantes, explorações florestais, uso de etanol, compostagem e alimentação animal. Palavras-chave: gases de efeito estufa, mitigação, praticas de manejo Abstract: The work relates to global warming and its effect on emissions of greenhouse gases (CO2, CH4 and N2O). In agricultural activities are described practices and their influence in mitigating the greenhouse effect, with relevance in agricultural systems, soil management, tillage, fertilizer use, forestry, use of ethanol, compost and animal feed. Key-words: greenhouse gás, management practices, mitigation 1 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA 1. INTRODUÇÃO O aumento da temperatura da Terra, devido ao agravamento das emissões dos gases causadores do Efeito Estufa (GEE) na atmosfera, é um dos mais graves problemas ambientais que a humanidade terá de enfrentar neste século. Apesar do aquecimento global ser um fenômeno natural, o aumento das atividades antrópicas tem contribuído para intensificá-lo e decorrem, principalmente, da queima de combustíveis fósseis em usinas termelétricas, indústrias, veículos, sistemas de aquecimento domésticos, lixões, aterros sanitários, agricultura, além do desmatamento, das mudanças nos padrões de uso da terra, entre outros fatores. O chamado efeito estufa, é um fenômeno físico que provoca o aquecimento do globo terrestre, devido à emissão de gases que causam alteração na composição da atmosfera, advindo de um dos principais efeitos da ação humana no meio ambiente, a queima de combustíveis fósseis.(GOLDEMBERG ,2000). Com o aumento da preocupação em relação ao aquecimento global, a pecuária tem sido apontada como uma das atividades que mais prejudicam o meio ambiente, devido os números relacionados ao rebanho bovino brasileiro, sendo cerca de 170 milhões de cabeças de gado ocupando pouco mais de 172 milhões de hectares. As externalidades negativas causadas pela bovinocultura estão correlacionadas com o principal meio de produção adotado no Brasil, o sistema extensivo. Este se caracteriza pelo baixo investimento em formação (principalmente quando a terra adquirida já contém algum tipo de pasto) e manutenção de pastagem. Devido ao grande número de animais existentes no mundo todo, estimativas mostram que o rebanho bovino emite cerca de 9% do total desses gases gerados por ação humana. Essa participação é maior que setores visto como poluidores, como é o caso do setor de transportes. No Brasil, por 2 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA exemplo, – se forem excluídas as emissões de GEE geradas pelas queimadas e desmatamentos – a pecuária (considerando gado de corte e de leite) torna-se a maior fonte emissora, com equivalência a mais de 42% das emissões de GEE. Estima-se que, das emissões totais, a agricultura contribui com aproximadamente 20% da emissão antrópica de GEE, sendo que pode atuar como fonte ou dreno. (JOHNSON et al,. 2005). Três dos principais gases de interesse são dióxido de carbono (CO2), óxido nitroso (N2O) e metano (CH4), sendo que o fluxo destes nos agroecossistemas é dependente do manejo e das práticas agrícolas adotadas. A contribuição da agricultura às emissões de GEE, é estimada em 75% das emissões de CO2, 91% das emissões de CH4 e 94% das emissões de N2O (CERRI & CERRI, 2007). Para a economia como um todo, as emissões de CO2 são mais importantes mas, no que diz respeito à agricultura, o mais importante é o N2O. As emissões de CH4, principalmente as provindas de animais domésticos, também representam contribuições substanciais para o PAG. Embora o N2O constitua uma pequena parte das emissões de GEE, torna-se relevante porque a agricultura representa sua maior fonte, e está associado ao manejo do solo e à utilização de fertilizantes nitrogenados. A comunidade científica chegou ao consenso que a mudança climática é uma das maiores ameaças da atualidade, dadas a sua amplitude, intensidade e efeitos danosos. Cada vez mais, a pesquisa científica comprova que grande parte do aquecimento do planeta tem origem antrópica e que, portanto, a própria ação humana pode e deve intervir para o seu refreamento (CHANG, 2002). 2. REVISÃO BIBLIOGRAFICA 2.1. Efeito Estufa 3 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA Nos últimos anos, grande atenção tem sido dirigida aos problemas potenciais ocasionáveis pelo “efeito estufa”. O homem, através da atividade industrial, consumo de combustíveis fósseis, destruição de florestas e da adoção de certas práticas agrícolas, é o principal responsável pelo fenômeno. Os principais gases que causam o efeito estufa são dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e clorofluorcarbonos (CFCs). O Efeito estufa é um mecanismo natural de aquecimento da atmosfera responsável por manter a temperatura média do planeta em níveis adequados para a existência dos seres vivos. Esse fenômeno ocorre quando uma parte da radiação solar refletida pela superfície terrestre é absorvida por determinados gases denominados “gases do efeito estufa”, presentes na atmosfera. Como consequência disso, a radiação infravermelha refletida pela terra fica retida na baixa atmosfera, resultando no aquecimento do planeta (ESCOBAR, 2008). As ações decorrentes das atividades econômicas e industriais têm provocado alterações na biosfera, resultando no aumento da concentração de GEE na atmosfera desde a Revolução Industrial (IPCC, 2006). Dentre os aspectos de impacto ambiental, o balando de gases, assim como seus impactos tem sido tema relevante para a comunidade científica e a sociedade em geral. O relatório publicado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, 2006) afirma que as evidencias das ações antropogênicas são responsáveis pelo aquecimento global de 0,6ºC observado durante os últimos 140 anos. Previsões cientificas indicam que, mantido o ritmo de incremento das emissões de GEE, pode haver um aumento de até 5,8ºC na temperatura média do planeta durante os próximos cem anos (COX et al., 2000), com sérias consequências para a vida na terra. Caso não haja um retrocesso na emissão de gases esse fenômeno ocasionará em uma infinidade de modificações no espaço natural e automaticamente na vida do homem. Podemos citar, as alterações climáticas, 4 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA aumento no nível médio das águas do mar, degelo das calotas polares, alterações a nível ecológico do planeta, entre outros. 2.2. Gases do Efeito Estufa Os gases do efeito estufa (GEE) são substâncias gasosas que absorvem parte da radiação infra-vermelho emitida principalmente pela superfície terrestre, e dificultam seu escape para o espaço. Isso impede que ocorra uma perda demasiada de calor para o espaço, mantendo a Terra aquecida. O vapor de água está presente na atmosfera terrestre em altas concentrações sendo responsável por 80% do efeito estufa natural, os 20% restantes é devido a outros gases. Os três principais GEE relacionados com atividades agrícolas e mudanças de uso da terra são CO2, N2O e CH4 (DUXBURY, 1995; SMITH et al., 2003). O potencial de aquecimento global do N2O e do CH4 são 296 e 23 vezes maior, respectivamente, do que uma unidade de CO2. O aumento das emissões destes gases para a atmosfera em decorrência de atividades humanas, entretanto, pode ampliar de modo nocivo o efeito estufa, retendo mais energia na atmosfera e gerando uma elevação de temperatura e, consequentemente, provocando o aquecimento global. (MOUSINHO, 2003) A potencialização do efeito estufa pode ter conseqüências sérias para a vida na Terra no futuro próximo. Ecólogos sugerem que o aquecimento global deve alterar o clima a uma velocidade maior que a capacidade de adaptação dos organismos. O efeito pode ser devastador para a biodiversidade e ecossistemas do mundo inteiro (RICKLEFES, 1996; ROMANINI, 2003) Os CFC's também têm a capacidade de reter a radiação infravermelha emitida pela Terra. Contudo, as ações para diminuir suas emissões estão num estágio bem mais avançado, quando comparado com as emissões dos outros gases. 5 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA Mecanismos de redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE), tal como o sequestro de carbono está sendo feito no contexto do mercado (estabelecido pelo Protocolo de Quioto e por outros acordos). 2.3. Dióxido de Carbono O dióxido de carbono ou gás carbônico é um composto químico constituído por dois átomos de oxigênio e um átomo de carbono. A representação química é CO2. É um dos gases do efeito estufa que menos contribui para o aquecimento global, já que representa apenas 0,03% da atmosfera. O gás dióxido de carbono, um dos compostos lançados na atmosfera pelo homem, é produzido em todas as partes do planeta, principalmente pela queima de combustíveis derivados do petróleo e pela produção de cimento (75% do total de emissões); os processos de uso da terra, sobretudo nos desmatamentos e nas queimadas, são responsáveis por grande parte dos 25% restantes (C&T BRASIL, 2006). O dióxido de carbono é um dos gases de efeito estufa (absorve luz infravermelha térmica). O carbono torna-se disponível para os seres vivos através dos vegetais, pelo processo de fotossíntese, e pelo fato do carbono ficar armazenado, costuma-se chamar carbono fixado. As ações antrópicas têm gerado considerável aumento na concentração de CO2 no ar (BARRETO, 2009). A decomposição biológica é um dos modos de reversão desse processo, liberando CO2 para a atmosfera. O principal processo de renovação do dióxido de carbono é a absorção pelos oceanos e pela vegetação, especialmente as florestas. Existe uma grande variedade de compostos de carbono envolvidos no seu ciclo global, sendo os principais: CO2, CH4, Hidrocarbonetos, CO. O ciclo do carbono na natureza pode ser observado conforme a Figura 1. 6 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA Figura 1. Ciclo do carbono. Fonte: Santos (1999). Devido o solo possuir um estoque 2 a 3 vezes maior que a atmosfera, mudanças no uso do solo podem ser importante fonte de carbono para a atmosfera (WOODWEL,1989; DAVIDSON & TRUMBORE, 1995). Para estabilizar as concentrações que estão presentes nos dia de hoje, seria necessário uma redução de 60% na emissão global de dióxido de cardono. Para resolver este problema foi criada a FCCC (Framework Convention on Climate Change) durante a ECO 92, realizada na cidade do Rio de Janeiro. Esta instituição propôs um programa nacional para reduzir a quantidade de dióxido de carbono produzida nos anos 90, e também desenvolveram métodos de proteção às fontes de renovação de dióxido de carbono, como as florestas. No início dos anos 90 surgiram as primeiras idéias sobre o seqüestro de carbono, como um instrumento de compensação e de retenção do lançamento de CO2 na atmosfera. Mas, foi em 1997, com o surgimento do Protocolo de Quioto que esse instrumento exteriorizou-se para os diversos países signatários do tratado (ÁRVORES BRASIL, 2005). 7 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA A partir daí o seqüestro de carbono foi ganhando força, com o estabelecimento de mecanismos de flexibilização, que tinham por objetivo permitir maior eficiência no combate ao efeito estufa, através da criação de um mercado internacional de quotas de emissões. Atualmente a concentração de CO2 é de 368 ppm, sabe-se que as emissões de CO2 são crescentes, provavelmente a concentração deste gás pode alcance 550 ppm por volta do ano 2100. 2.4. Metano O metano é formado naturalmente em regiões onde existe matéria orgânica em decomposição. Somado a isso existem muitas fontes antropogênicas de metano, que vem contribuem para seu aumento na concentração global na atmosfera, dentre estas fontes estão o cultivo de arroz, queima de biomassa, queima de combustíveis fósseis e a bovinocultura. O metano é um gás inodoro e incolor, sua molécula é um tetraedro e apolar (CH4), de pouca solubilidade na água e, quando adicionado ao ar se transforma em mistura de alto teor explosivo. É o mais simples dos hidrocarbonetos, 60% da emissão de metano no mundo é produto da ação humana, vindo principalmente da agricultura. Os ruminantes domésticos, principalmente os bovinos, são responsáveis pela produção de aproximadamente 15% do metano do mundo, portanto são considerados como um dos grandes contribuidores para o efeito estufa. Outros expressivos contribuidores são os solos naturalmente alagados, culturas de arroz irrigado, utilização de combustível de origem fóssil, queima de biomassa e aterros (MCCAUGHEY et al., 1997). Devido ao aumento do seu conteúdo na atmosfera, sua contribuição para as mudanças climáticas, aumentou 30% desde 1860 (MITCHELL, 1989) correspondendo a cerca de 20% do efeito total observado (WUEBBLES & HAYHOE, 2002). 8 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA A maior fonte de renovação do metano é uma reação química feita com o radical hidroxíla (OH) na troposfera (baixa atmosfera). Este processo natural é, no entanto, afetado pela reação do OH com outras emissões de gases feitas pelo homem, principalmente com o monóxido de carbono (CO) e pelos hidrocarbonos emitidos pelos motores de veículos. Para estabilizar as concentrações de metano que se encontram presentes nos dias de hoje, seria necessário uma redução imediata de 15-20% das emissões globais desse gás. 2.5. Óxido Nitroso O óxido nitroso se apresenta na forma de um incolor, composto de duas partes de nitrogênio e uma de oxigênio, cuja é N2O e sua fórmula estrutural é N--N--O. O óxido nitroso é produzido naturalmente pelos oceanos e pelas florestas tropicais. Fontes antropogênicas de óxido nitroso são: a produção de nylon, ácido nítrico, atividades agrícolas, carros com três modos de conversão catalítica, queima de biomassa e a queima de combustíveis fósseis. A desnitrificação e a nitrifcação são processos biogênicos que produzem N2O e NO. Estes gases são importantes para a química da atmosfera. O N2O contribui para o aquecimento global e para destruição do ozônio na estratosfera. O NO afeta regionalmente a química do ozônio na troposfera. A desnitrificação é um processo heterotrófico, no qual muitos gêneros de bactérias utilizam o carbono orgânico como fonte redutora e, na ausência do O2, utilizam os óxidos de nitrogênio como aceptores de elétrons – resultando na produção de N2O, NO e N2 (DAVIDSON,1991). A nitrificação é um processo de oxidação biológica das formas redutíveis de nitrogênio (NH4+) resultando em NO2- e NO3-.As bactérias nitrificantes podem obter energia desta oxidação (família Nitribacteriaceae) ou utilizá-la como produto secundário de nitrificação heterotrófica. 9 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA A quimiodesnitrificação é um processo abiogênico de autodecomposição do HNO2, e da reação deste com grupos fenólicos da matéria orgânica do solo, resultando na produção de NO e N2O. A ocorrência de quimiodesnitrificação é significativamente maior quando o pH do solo é menor que 5. O controle da produção de N2O por microrganismos desnitrificadores no solo é determinado pelo suprimento de nitrato, CO de fácil assimilação e status de O2 no solo. Os microorganismos desnitrificadores utilizam o N na forma de nitrato como aceptor final de elétrons sob condições anaeróbicas. A conversão de florestas em pastagens aumenta a disponibilidade imediata de N no solo graças à rápida mineralização provocada pelo fogo, por ocasião da queima da biomassa vegetal derrubada, embora parte do N seja perdido sob formas gasosas durante a queima. Aparentemente, pastagens novas liberam quantidades significativas de N2O, dependendo do referido aumento na disponibilidade de N para os microrganismos desnitrificadores. Com o passar dos anos de exploração dessas pastagens, há redução acentuada na disponibilidade de N no solo, conforme as perdas excessivas por,lixiviação, que ocorrem graças à quantidade de N disponível no solo superar a demanda das plantas forrageiras. Como conseqüência, os fluxos de N2O também decrescem com o tempo de exploração da pastagem. A maior fonte de renovação do óxido nitroso são as reações fotolíticas (na presença de luz) na atmosfera. Para estabilizar as concentrações atuais o Intergovernmental Panel on Climate Change estimou uma imediata redução de 70-80% da produção de óxido nitroso proveniente de fontes antropogênicas. 2.6. Causas do aumento das emissões de gases do efeito estufa Desde princípios do século XIX, a humanidade começou a queimar grandes quantidades de matéria fóssil provenientes do solo do nosso planeta: primeiro carvão, depois petróleo e gás natural. A queima de combustíveis fósseis não é o único problema causador das alterações climáticas; a 10 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA diminuição da quantidade de árvores e o incremento da população mundial também contribuem fortemente para a acumulação de CO2 na atmosfera. A Figura 2 apresenta a distribuição das emissões líquidas de CO2 no Brasil, por setor. Embora o crescimento da emissão dos GEE tenha diversas origens, o setor que mais contribuiu para isso é o de geração de energia, que teve as suas emissões aumentadas em 145% entre 1970 e 2004. Houve, também, elevação importante na área de transporte, que teve as suas emissões de GEE aumentadas em 120% nesse período. Comparativamente, o incremento na área industrial foi substancialmente menor, de 60% . Em todos os casos, o fator principal para o crescimento é o consumo de combustíveis fósseis (derivados de petróleo, gás natural e carvão mineral). Figura 2. Emissões de gás carbônico em diversos setores no Brasil. Fonte: Dados adaptados de Cerri et al, 2009. 11 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA A Revolução Industrial, iniciada na Europa no século XVIII, provocou a exumação do carvão enterrado há milhões de anos, em proporções gigantescas, com o objetivo de girar as máquinas a vapor recém inventadas. Com o advento da produção em escala industrial dos automóveis, no início do século XX, iniciou-se a produção e o consumo em massa do petróleo e, de utilização mais recente, o gás natural na produção da energia elétrica, aquecimento doméstico e industrial e no uso automotivo. O processo da queima de combustíveis fósseis criou condições para a melhoria da qualidade de vida da humanidade, porém produz como resíduo o gás carbônico e outras substância químicas, também muito poluidoras. Os gases produzidos pela queima de combustíveis fósseis seguem vários caminhos: parte é absorvida pelos oceanos e entra na composição dos carbonatos que constituem as carapaças de muitos organismos marinhos ou é simplesmente dissolvida na água oceânica e finalmente depositada no assoalho oceânico como carbonatos. À medida que estes animais vão morrendo, depositam-se no fundo do mar, retirando o carbono, por longo tempo, do ciclo geoquímico. Outra parte é absorvida pelas plantas que fazem a fotossíntese, marinhas como pelas florestas, ao qual transformam o carbono coletado da atmosfera em material lenhoso, reiniciando o ciclo de concentração e fossilização dos compostos carbonosos, se as condições ambientais locais assim o permitirem. A temperatura aumentou em média 0,7°C nos últimos 140 anos, e pode aumentar mais 5°C até o ano 2100. A emissão exagerada de gases causadores do efeito estufa está provocando mudanças climáticas. Existem ciclos naturais de mudanças de temperatura na Terra e é difícil entender quanto desse aumento foi natural e quanto foi conseqüência de ações humanas. Com o objetivo de diminuir as emissões de gases de efeito estufa, o Protocolo de Quioto, assinado por 84 países, determina uma redução de, em média, 5,2%. Os países da Europa vêm desenvolvendo alternativas não- 12 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA poluentes como energia eólica,que já configuram parte importante da matriz energética de alguns deles. 3. INTERFERÊNCIA DO SISTEMA AGRÍCOLA NO EFEITO ESTUFA Dentre os problemas ambientais destaca-se a elevação da temperatura decorrente da maior concentração de gases na atmosfera, gerando um fenômeno denominado efeito estufa. A preocupação com os possíveis efeitos desse fenômeno foi um dos temas centrais da Conferência Mundial realizada no Rio de Janeiro em 1992 e do protocolo de Kyoto em 1997. Dentre os gases emitidos merece nossa atenção o CO2, devido a sua grande concentração na atmosfera, embora não possua o maior potencial de absorção da radiação solar e nem o maior tempo de permanência na atmosfera. O incremento anual de CO2 é da ordem de 3,2 x 1015 g e, cerca de 40-45% do CO2 de origem antrópica provêm da combustão de petróleo e carvão, sendo que apenas 5% da população mundial situada nos paises desenvolvidos consomem 58% da energia mundial, repercutindo numa maior emissão de CO2 por esses países. As atividades agrícolas possuem uma participação significativa na emissão de gases para a atmosfera, seja através de queimadas, degradação da matéria orgânica ou pelo consumo direto de combustíveis fósseis ou indiretos no processo de produção de insumos. Dessa forma nos Estados Unidos, as atividades agrícolas são responsáveis por 7% das emissões totais daquele país. Em contrapartida, a agricultura pode funcionar como um sistema dreno de CO2, reduzindo o efeito estufa. A produção de carboidratos pela planta através da fotossíntese é um processo que permite a fixação de carbono às estruturas, podendo ser mantido no solo, dependendo das técnicas de manejo adotadas. Sistemas de manejo que revolvem o solo, especialmente em condições tropicais, colaboram para a mineralização da matéria orgânica e conseqüente degradação dos solos. 13 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA Dessa forma, sistemas conservacionistas pode ser o instrumento chave para a atenuação do efeito estufa, por permitirem uma maior produção de fitomassa, com uma menor mineralização da mesma no solo. A quantificação do potencial que a agricultura possui para seqüestrar carbono ainda é um desafio para os pesquisadores. O uso do sistema plantio direto parece ser uma prática eficiente para manter carbono no solo. O plantio direto estoca 17% mais C que solos de vegetação nativa (Corazza et al, 1999). O potencial de expansão do sistema em todo o mundo é enorme, calculandose que nos EUA até o ano 2020 aproximadamente 75% das áreas estejam sendo utilizadas neste sistema. Um incremento na ordem de 0,1% ao ano representaria para esse país um seqüestro de 1400 Tg. Outra forma analisada por Lal (1997), é a recuperação de áreas degradadas, que representam cerca de 1965x 106 ha em todo mundo. Aumentos de 0,01% ao ano na profundidade de um metro significaria um seqüestro de 3 Pg ano-1, que é praticamente toda emissão anual de CO2. Esse incremento, além dos resultados citados, poderia contribuir para o aumento da produção de alimentos para a população mundial. Diversos países estão a adotar políticas de incentivo ao seqüestro de carbono no sistema agrícola, através da remuneração do carbono seqüestrado pelos sistemas de cultivo. Trata-se de um mercado em expansão, com grandes possibilidades de exploração por países com imenso potencial de fixação biológica de C como o Brasil. 4. PRÁTICAS PARA MINIMIZAR EFEITOS DE GASES DO EFEITO ESTUFA Diante do aumento nas emissões de CO2, que vem intensificando o efeito estufa, podendo resultar em elevação significativa da temperatura no planeta, governos tem debatidos sobre formas de minimizar essas emissões, sem prejudicar o crescimento econômico. 14 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA Os acordos se baseiam em redução das emissões, aquisição de créditos de carbono, implementação de projetos baseados em tecnologias limpas, plantação de mais árvores com o objetivo de absorver as emissões de CO2. Assim como intensificação da produção das pastagens a fim de manter a pecuária sustentável, intervenções humanas na alimentação animal, entre outros. Algumas técnicas de manejo de sistemas silvipastoris são recomendadas como mitigadoras nas emissões de CO2, dentre elas o plantio direto, integração lavoura-pecuária, aumento da eficiência do uso de fertilizantes, reduzindo excessos e perdas por lixiviação e ajustes adequados nas taxas de lotação. 4.1. Protocolo de Quioto A Conferência de Quioto, em 1997 – considerada por muitos estudiosos como resultado direto da ECO-92, no Rio de Janeiro – formalizou, enfim, um protocolo de intenções no qual 84 países pretendiam reduzir suas emissões de Gases de Efeito Estufa – GEE’s. Como não poderia deixar de ser em um mercado economicamente globalizado, surgiram empresas especializadas em produzir créditos de carbono. De acordo com o Protocolo de Quioto, estas empresas podem ser privadas, públicas ou mistas, desde que tenham como finalidade social o seqüestro (a retirada) de gases poluentes da atmosfera (GRÜTTER & STAUB, 2002). Diante da efetivação do Protocolo, metas de redução de gases foram implantadas, algo em torno de 5,2% entre os anos de 2008 e 2012. Por sua vez, as indústrias que conseguiram diminuir suas emissões abaixo das cotas determinadas, poderiam vender o excedente de "redução de emissão" ou "permissão de emissão" no mercado nacional ou internacional (C&T BRASIL, 2006). As metas de redução de gases não são homogêneas a todos os países, 15 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA colocando níveis diferenciados de redução para os 38 países que mais emitem gases, o protocolo prevê ainda a diminuição da emissão de gases dos países que compõe a União Européia em 8%, já os Estados Unidos em 7% e Japão em 6%. Países em franco desenvolvimento como Brasil, México, Argentina, Índia e principalmente a China, não receberam metas de redução, pelo menos momentaneamente. O Protocolo de Quioto não apenas discute e implanta medidas de redução de gases, mas também incentiva e estabelece medidas com intuito de substituir produtos oriundos do petróleo por outros que provocam menos impacto. Diante das metas estabelecidas o maior emissor de gases do mundo, Estados Unidos, se desligou em 2001 do protocolo, alegando que a redução iria comprometer o desenvolvimento econômico do país. Em 1990, surgiu o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), primeiro mecanismo de caráter científico, tendo como intenção alertar o mundo sobre o aquecimento do planeta , além disso, ficou constatado que alterações climáticas são principalmente provocadas por CO2 (dióxido de carbono) emitidos pela queima de combustíveis fósseis. Em 1992, as discussões foram realizadas na Eco-92, que contou com a participação de mais de 160 líderes de Estado que assinaram a Convenção Marco Sobre Mudanças Climáticas. Na reunião, metas para que os países industrializados permanecessem no ano de 2000 com os mesmos índices de emissão do ano de 1990 foram estabelecidas. Nesse contexto as discussões levaram à conclusão de que todos os países, independentemente de seu tamanho, devem ter sua responsabilidade de conservação e preservação das condições climáticas. No ano de 1997, foi assinado na cidade japonesa o Protocolo de Quioto, essa convenção serviu para firmar o compromisso, por parte dos países do norte (desenvolvidos), em reduzir a emissão de gases. No entanto, não são concretos os meios pelos quais serão colocadas em prática as medidas de redução e se realmente todos envolvidos irão aderir. 16 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA Em 2004 ocorreu uma reunião na Argentina que fez aumentar a pressão para que se estabelecessem metas de redução na emissão de gases por parte dos países em desenvolvimento até 2012. O ano que marcou o início efetivo do Protocolo de Quioto foi 2005, vigorando a partir do mês de fevereiro. Com a entrada em vigor do Protocolo de Quioto, cresceu a possibilidade do carbono se tornar moeda de troca. O mercado de créditos de carbono pode aumentar muito, pois países que assinaram o Protocolo podem comprar e vender créditos de carbono. 4.2. Créditos de carbono Os créditos de carbono são uma espécie de moeda que se podem obter em negociações internacionais por países que ainda desconsideram o efeito estufa e o aquecimento global. Esses são adquiridos por países que tem um índice de emissão de CO2 reduzidos, através desses fecham negociações com países poluidores. A quantidade de créditos de carbono recebida varia de acordo com a quantidade de emissão de carbono reduzida. Para cada tonelada reduzida de carbono o país recebe um crédito, o que também vale para a redução do metano, só que neste caso o país recebe cerca de vinte e um créditos. Os países que mais negociam créditos de carbono são os países da Europa e Japão que por liberarem pouco carbono acumulam grande quantidade de créditos aumentando assim a renda do país, pois aliviam os países que desconsideram o Protocolo de Quioto, estabelecido em 1997, e o aquecimento global, que compram créditos como ocorre com os Estados Unidos e com a Austrália, esses relacionam o acordo à diminuição do desenvolvimento econômico. Existem pessoas que discutem sobre este sistema de créditos de carbono, pois julgam que este favorece o mercado e não propriamente o meio ambiente como propõe. Também julgam que tal crédito dá aos países 17 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA poluidores o direito de continuarem poluindo se pagarem pelos créditos que a priori possui cota de compra limitada. Por outro lado, o sistema de crédito de carbono dá aos países menos poluidores o incentivo para que continuem o processo de valorizar o meio ambiente e em troca melhorar sua economia já que este sistema é altamente rentável aos países que o adere. 4.3. MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo Oriundo de uma proposta brasileira, o MDL é um instrumento multilateral da implementação de atividades de projetos de redução de emissão de GEE ou aumento de remoção de CO2, que ao contrário dos outros mecanismos de flexibilização possibilita a participação dos países em desenvolvimento. Foi criado na Conferência de Quioto, sendo um instrumento pelo qual os países desenvolvidos podem investir em projetos em países em desenvolvimento, com a promoção de seqüestro de carbono, contabilizando redução em suas emissões. Na prática, esse mecanismo permite uma ação coordenada entre os países do Anexo I e as Partes do não Anexo em prol da redução líquida global nas emissões dos gases de efeito estufa (GEE). Assim, através de investimentos em projetos sustentáveis que resultem na redução e/ou aumento da remoção destes gases nos países em desenvolvimento, os países que ratificaram o Protocolo de Quioto podem contabilizar para si unidades de redução da emissão dos GEE, ou crédito de carbono, para alcançar as metas fixadas para 2008-2012. Esse processo, num curto espaço de tempo, pode tornar-se oneroso. Por tal motivo, com o apoio do MDL, os países do Anexo I poderão alcançar sua meta de redução das emissões de gases de efeito estufa de uma maneira mais econômica, visto que podem escolher o país hospedeiro que possui o menor custo de implantação do projeto. Desta forma, ao mesmo tempo em que obtém o crédito de carbono, também incentiva o desenvolvimento sustentável 18 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA no país hospedeiro, mediante a inserção do apoio financeiro e o uso de tecnologia limpa. Lopes (2002) esclarece que vários agentes podem participar de uma atividade de projeto do MDL, desde que sejam devidamente autorizados. Deste modo, todos se beneficiarão por meio das atividades de projetos que resultem em reduções certificadas de emissões, alcançando o objetivo maior da Convenção que é o cumprimento de parte de seus compromissos quantificados de limitação e redução de emissões. 4.4. Mercado de Carbono Desde que tiveram início os debates e as negociações do Protocolo de Quioto, uma série de instituições internacionais vem se dedicando a realizar estudos e análises a respeito das questões econômico-financeiras envolvidas na sua implementação. A criação de um mercado de emissões é similar ao estabelecimento de qualquer outro mercado de commodities. O desenvolvimento deste novo mercado começa com o governo definindo a quantidade de emissão que pode ser negociada. Um número correspondente de permissões é então colocada a disposição dos agentes. Cada permissão irá definir “o direito de emitir uma determinada quantidade de GEE em um determinado período de tempo” (ROCHA, 2003). As vantagens ambientais e econômicas do mercado de créditos de carbono, tanto para o Brasil quanto para o mundo, se desenvolvem em conjunto. Esse é, possivelmente, o grande diferencial do Protocolo de Quioto em relação a outros programas ambientais, sejam globais ou bilaterais. De fato, pela primeira vez na história humana, há uma ferramenta eficiente de recuperação global do meio ambiente e desenvolvimento sustentável, e que permite auferir lucros, ou ao menos reduzir custos. 19 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA 4.5. Agricultura Sustentável A agricultura está diretamente relacionada à concentração atmosférica de gases de efeito estufa atravées dos processos básicos que ocorrem no sistema solo – planta. Os solos agrícolas podem atuar como fonte ou dreno destes gases dependendo das práticas de manejo utilizadas (ESCOBAR, 2008). Para a economia como um todo, as emissões de CO2 são mais importantes mas, no que diz respeito à agricultura, o mais importante é o N2O. Autoridades agrícolas brasileiras têm promovido a intensificação da produção da pecuária bovina como meio de desencorajar o desmatamento na Amazônia e no Pantanal. A intensificação da pastagem é feita por meio da aplicação de fertilizantes e de herbicidas, junto com o replante com variedades mais produtivas de capim, melhoria genética dos rebanhos de gado e um melhor regulamento das densidades de estocagem e dos cronogramas de rotação. Práticas intensivas de manejo que aumentam a absorção dos nutrientes, além de elevar as produtividades, podem vir a ser a forma principal de se obter reduções nas emissões de GEE em áreas agrícolas. Culturas com elevado potencial de produtividade podem elevar o estoque de carbono do solo. Os fatores de manejo da cultura, solo e fertilizantes que ajudam a minimizar a emissão de GEE são: (1) escolha da combinação correta de variedades ou híbridos adaptados, data de semeadura ou plantio e população de plantas para maximizar a produção de biomassa das culturas; (2) manejo adequado da água e do N, incluindo aplicações parceladas de N, visando a utilização eficiente deste elemento, com oportunidades mínimas para emissão de N2O; (3) manejo adequado dos resíduos vegetais de tal forma que se favoreça o aumento da MOS, como resultado de elevadas quantidades de resíduos restituídos ao solo (INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS, 2008) A intensificação do manejo das pastagens amazônicas foi proposta para seqüestrar carbono nos solos de superfície (BATJES & SOMBROEK, 1997), 20 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA mas a efetividade de tais medidas depende muito das suposições sobre o uso prévio da terra e o manejo subseqüente (FEARNSIDE & BARBOSA, 1998). Mais importante, as verbas destinadas a mitigar o efeito estufa seriam muito melhor gastas em medidas para reduzir a velocidade do desmatamento. Além de ser o uso mais eficaz em termos de custo para mitigar mudanças climáticas, também traria muitos benefícios adicionais oriundos da manutenção de florestas intactas (FEARNSIDE, 1995). 4.6. Práticas de manejo no solo Os solos são importante reservatório natural de carbono. Estima-se que nos primeiros 100 cm de profundidade, estão armazenados 2200 Pg C, correspondendo a aproximadamente 4 vezes o compartimento de C da vegetação (BATJES, 1996). O fluxo principal entre a atmosfera e os ecossistemas terrestres resulta da absorção de CO2 pelas plantas através do processo de fotossíntese, e da liberação de CO2 para atmosfera através do processo de respiração, Sendo que este gás também é liberado para a atmosfera pelas queimadas (CAST, 2004) As práticas de manejo nos solos agrícolas podem reduzir ou aumentar o estoque de C do solo. Métodos de preparo, como aração e gradagem promovem perdas de C por meio de vários mecanismos segundo BAYER et al (2000), YOUNG & RITZ (2000); CERRI (2004); REICOSKY & ARCHER (2007): • Fracionamento dos agregados do solo que protegem a matéria orgânica da decomposição microbiana. • Ao revolver o solo, aumenta a aeração que estimula a atividade microbiana, resultando na liberação de grandes quantidades de CO2 e outros gases à atmosfera. • Incorporação de resíduos culturais que ao aumentar a área de contato, facilita a atividade microbiana sobre os mesmo. Diminuindo a cobertura 21 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA do solo, aumentando a temperatura e reduzindo a umidade do solo. O preparo do solo pode ocasionar efeitos significativos nas emissões de N2O do solo. Estudos conduzidos em climas tropical e temperado, têm apresentado tendências de maiores emissões de N2O em solos sob plantio direto do que em plantio convencional, o que está relacionado á condição de maior compactação do solo não revolvido e que teria reflexo negativo na difusão de O2 (LIU et al., 2007). Campos (2006) em experimentos demonstraram que o solo sob plantio direto com adição de residuos vegetais de leguminosas é uma prática importante na mitigação das mudanças climáticas globais. 4.7 Plantio Direto O plantio direto é uma técnica de cultivo conservacionista em que o plantio é efetuado sem as etapas do preparo convencional da aração e da gradagem. Nessa técnica, é necessário manter-se o solo sempre coberto por plantas em desenvolvimento e por resíduos vegetais. Essa cobertura tem por finalidade proteger o solo do impacto direto das gotas de chuva, do escorrimento superficial e das erosões hídrica e eólica. O plantio direto pode ser considerado como uma modalidade do cultivo mínimo, visto que o preparo do solo limita-se ao sulco de semeadura, procedendo-se à semeadura, à adubação e, eventualmente, à aplicação de herbicidas em uma única operação. O plantio direto ao permitir uma baixa mobilização do solo pode aumentar os estoques de C do solo, evitando assim as altas taxas de decomposição da matéria orgânica decorrentes dos preparos do solo. Este sistema associado a rotação de culturas com alto aporte de resíduos vegetais pode atuar como um dreno de CO2 atmosférico (BAYER, 2000). A técnica de cultivo mínimo consiste em um preparo mínimo do solo: a soqueira da cana-de-açúcar é eliminada com o uso de herbicida e, em seguida, 22 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA é feita a sulcação do solo para o novo plantio, nas entrelinhas e linhas antigas. Para a cana-de-açúcar, que permanece no mesmo local por vários anos sem que haja movimentação do solo. O Sistema de Plantio Direto (SPD) e a Integração Lavoura Pecuária (ILP) são dois métodos diferenciados de fazer agricultura, considerados altamente eficientes no seqüestro de carbono, essas ações de mitigação são um diferencial que o País tem na questão das mudanças climáticas. 4.8 Sequestro de Carbono O seqüestro de carbono refere-se a processos de absorção e armazenamento de CO2 atmosférico, com intenção de minimizar seus impactos no ambiente, já que trata-se de um gás de efeito estufa (GEE). A finalidade desse processo é conter e reverter o acúmulo de CO2 atmosférico, visando a diminuição do efeito estufa (RENNER, 2004). O seqüestro de carbono florestal é uma alternativa viável para amenizar o agravamento do processo de elevação da temperatura global, pelo aumento de GEE. “Os vegetais, utilizando sua capacidade fotossintética, fixam o CO2 atmosférico, biossintetizando na forma de carboidratos, sendo por fim depositados na parede celular” (RENNER, 2004). Existe uma variação no custo de absorção de CO2 que estão associados a diversos fatores como: diferenças regionais no clima, variações existentes na qualidade do solo, diferenças no manejo, tempo para corte e tecnologias utilizadas pelas empresas, diferenças administrativas das empresas e diferenças metodológicas de aferição dos dados tabulados (RENNER, 2004). Segundo Baird (2002) em lugar de ser liberado na atmosfera o CO2 poderá ser removido quimicamente dos gases de exaustão das usinas termelétricas que queimam combustíveis fósseis. Em casos como esses, o CO2 recuperado é armazenado em um local, evitando sua liberação para o ar. Uma outra sugestão, por esse mesmo autor, para evitar a liberação de CO2 na atmosfera envolve a criação de esferas sólidas gigantes de CO2 sólido, 23 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA ou gelo-seco e seu posterior isolamento e estocagem abaixo de -79ºC.U uma maneira de extrair o CO2 já presente na atmosfera e depositá-lo no fundo do oceano é através da fertilização com ferro. Experimentos indicam que grande parte dos mares apresenta carência de plânctons devido a falta de ferro, assim a adição artificial de ferro em áreas como essas provocaria a proliferação de plânctons, mobilizando o CO2 consumido na fotossíntese. Segundo Abreu (2006) o crédito de carbono é negociado diferentemente nas diversas bolsas ou leilões mundiais que formam o atual e complexo mercado do carbono, mas em todos esses os créditos podem ser comercializados conforme as regras de mercado futuro. Devido a inexistência de uma regulamentação de preços, o que define o preço de cada crédito de carbono é a característica do projeto executado e a bolsa na qual está sendo comercializado. Não basta a preocupação apenas com o sequestro de carbono, mas também com a diminuição da produção de metano e N2O, devido a capacidade de sequestrar carbono ser limitado, estabilizando essa atividade. 4.9 Uso de Fertilizantes De forma crescente, a agricultura é vista como grande contribuidora para as emissões de gases de efeito estufa (GEE), os quais normalmente aumentam o potencial de aquecimento global (PAG), e o uso de fertilizantes nitrogenados tem sido identificado como fator crucial neste processo. A proporção de emissões de N2O de áreas cultivadas diretamente induzida por fertilizantes é estimada em aproximadamente 23% no mundo todo. Os solos é a maior fonte de N2O, sendo que as emissões antrópicas de óxidos de N estão associadas com a adição de fertilizantes e aumento da mineralização do N orgânico do solo em sistemas agrícolas (DUXBURY, 1995). O N2O é produzido biologicamente em solos através de processos microbianos de a nitrificação e desnitrificação (MOREIRA & SIQUEIRA, 2006). 24 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA A nitrificação, é a oxidação de amônio para nitrito (NO2) e em seguida nitrato (NO3). A desnitrificação é a redução microbiana do nitrato (NO3) ou nitrito (NO2) a N gasoso, com NO e N2O sendo produzidos como compostos intermediários dessa redução. Os princípios do manejo adequado de fertilizantes baseiam - se na utilização do produto correto, na dose certa, na época de aplicação adequada e com a localização correta (ROBERTS, 2007). A maior parte dos estudos tem demonstrado que condições do solo, como quantidade de água nos espaços porosos, temperatura e disponibilidade de carbono solúvel, têm influência dominante nas emissões de N2O. O manejo inadequado de dose, fonte, época de aplicação e localização do fertilizante nitrogenado e a ausência de um balanço adequado com outros nutrientes podem intensificar as perdas de nitrogênio (N) e a emissão de N2O. Quando o N é aplicado acima da dose adequada econômica, ou quando o N disponível no solo (especialmente na forma de NO3-) excede a absorção pela cultura, aumenta-se o risco de emissões de N2O. As emissões de N2O provenientes da nitrificação tendem a ser maiores, quando os solos apresentam adequadas condições de umidade (DUXBURY, 1995). A nitrificação é dependente da ciclagem de N dentro do sistema soloplanta,e consequentemente, as emissões de N2O são maiores em florestas e pastagens tropicais. Altas taxas de emissão de N2O ocorrem quando o solo apresenta grande parta da porosidade preenchida por água, o que dificulta a difusão de O2 no solo e favorece a formação de ambientes anaeróbicos (DOBBIE & SMITH, 2001). Em solos agrícolas, a aplicação de adubos nitrogenados diminui a taxa de oxidação de CH4 (MAJUMDAR & MITRA, 2004). O amônio atua como inibidor da oxidação do CH4 no solo ao competir pela enzima mono-oxygenase, encarregada de catalisar a oxidação de CH4 (BOECHX et al., 1997). 25 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA Fertilizantes de maior eficiência agronômica (fertilizantes de liberação lenta ou controlada e fertilizante nitrogenado estabilizado) têm sido considerados como produtos que minimizam as perdas potenciais de nutrientes para o ambiente, quando comparados com fertilizantes-padrões solúveis. Estes podem levar a um aumento na recuperação pela cultura e diminuição nas quantidades de N perdidas por lixiviação. Inibidores da urease ou de nitrificação mostraram bom potencial de aumento na retenção no solo e recuperação pelas plantas do N aplicado, mas pouco se sabe sobre seus impactos nas reduções das emissões de N2O. Como alternativa mais sustentável, pesquisadores oferecem a consorciação de pastos ao invés da utilização de fertilizantes. 4.9.1. Reflorestamento O desenvolvimento de novas tecnologias está diretamente ligado às necessidades do Protocolo de Quioto. Intensos estudos, em diversos países, buscam desenvolver fontes de energia renovável a custos viáveis, tais como a biomassa, o biodiesel, o reuso de água, novas técnicas de uso do solo e o desenvolvimento genético de plantas para reflorestamento. As florestas são importantes para o equilíbrio do estoque de carbono global, pois armazenam em suas árvores e no solo mais carbono do que o existente atualmente na atmosfera. Se as florestas forem cortadas, a maior parte do carbono guardado nas árvores será liberada para a atmosfera rapidamente por meio de queimadas ou, mais lentamente, via decomposição (HOUGHTON, 1994). Com relação ao reflorestamento, os principais negócios de carbono envolvem a substituição do carvão mineral e vegetal de madeira nativa por carvão de florestas plantadas especificamente para este fim. Há um duplo benefício ambiental nesse processo: além de evitar a emissão de CO2 com partículas de mercúrio (o caso do carvão mineral), há, 26 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA num primeiro momento, a apreensão de CO2 atmosférico nas plantas que, mais tarde, servirá de combustível. A indústria siderúrgica mundial tem adotado este modelo, pois, para cada tonelada de ferro produzida com carvão de reflorestamento, há um ganho ambiental de no mínimo 3 toneladas de CO2 em comparação ao uso de combustíveis fósseis ou não renováveis (GRÜTTER & STAUB, 2002). No Projeto Plantar 2004, para cada tonelada de madeira de reflorestamento queimada é lançada uma tonelada de CO2, mas são absorvidas, ao longo do crescimento das plantas, 3 toneladas desse GEE. É gerado, portanto, um crédito de 2 toneladas de carbono para cada tonelada de madeira derrubada (PROJETO PLANTAR, 2004). 4.9.2. A contribuição do etanol para a redução da emissão de GEE O etanol é produzido, principalmente, a partir de fontes renováveis, por meio da conversão de açúcares (cana-de-açúcar, beterraba, uvas etc.) ou de carboidratos (milho, trigo, batata, mandioca etc.). No Brasil, o combustível é produzido, exclusivamente, de cana-de-açúcar. Com os avanços observados na área de biotecnologia, é provável que, em menos de uma década, seja possível produzir etanol, em escala comercial e a custos competitivos, a partir de materiais que contêm celulose e hemicelulose, como o bagaço e a palha da cana de açúcar, trazendo substancial aumento à produtividade. O etanol produzido e utilizado de acordo com as práticas adotadas no Brasil é considerado, atualmente, uma das alternativas com melhor custoefetividade para a redução da emissão de CO2. Estimativa feita para 2003 indica que a substituição da gasolina pelo etanol no Brasil mais a substituição do óleo combustível pelo bagaço na indústria da cana-de-açúcar evitaram a emissão de 33,2 milhões de toneladas equivalentes de CO2. Os principais fatores que tornam o etanol produzido no Brasil uma opção viável para a mitigação dos GEE são: produção a partir da cana-de-açúcar, 27 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA matéria- prima renovável, de crescimento rápido e de safra anual, com alto poder de fixação de CO2 no ambiente por meio da fotossíntese; absorção, durante o crescimento da cana-de-açúcar, por meio do processo de fotossíntese, de quantidade de CO2 equivalente àquela gerada no ciclo de produção-uso do etanol; é por isso que se diz que o balanço de carbono do etanol é neutro. O carbono que é retirado do subsolo, na forma de gás natural e derivados de petróleo, aumenta o estoque de carbono existente no ar ao ser lançado na atmosfera; a emissão de CO2 pela combustão do etanol é menor que a dos combustíveis fósseis (SZWARC, 2007). Figura 3. Relação entre as emissões e unidade de produção de pecuária de leite e carne. 5. PECUÁRIA SUSTENTÁVEL A elevada competitividade e a importância do setor em âmbito mundial, aliadas ao tamanho do rebanho bovino, chamam a atenção da comunidade internacional, que passa a exigir práticas cada vez mais responsáveis do ponto de vista ambiental e social. A criação de gado no Brasil acontece majoritariamente de forma extensiva, muitas vezes em áreas com pastagem degradada e, portanto, de baixa produtividade. Esse fato possibilita à atividade uma grande oportunidade de redução do impacto causado ao meio ambiente, uma vez que ações 28 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA tomadas no sentido de melhorar o rendimento animal devem resultar em um menor consumo de recursos naturais (ex. terra e água) e maior eficiência do sistema digestivo animal. Investir recursos público e privados em recuperação de pastagens e de melhores tecnologias de manejo é a resposta mais eficaz para neutralizar os impactos ambientais provocados pelas mudanças climáticas e os efeitos da emissão dos GEE do rebanho bovino brasileiro. Os problemas ambientais da pecuária de corte são de grande evidência no Brasil em virtude do tamanho do rebanho nacional, ao redor de 180 milhões de cabeças. As emissões de gases de efeito estufa do setor agropecuário são responsáveis por 13,5% do total emitido, sendo a pecuária responsável por dois terços desse montante. No ano de 1994, para se produzir um litro de leite, foram emitidos aproximadamente 80 kg de CH4, a produção de uma tonelada de carne resultou na emissão de 1,3t de CH4, conforme Figura 3. Para reduzir os impactos ambientais da pecuária da corte, o Cepea sugere ações de melhoramento genético, como o desenvolvimento de raças com melhor conversão alimentar, pois quanto mais peso o animal ganha com menor ingestão de alimento, mais eficiente é a produção sob o ponto de vista do metano. Mas, os melhores avanços na redução do impacto ambiental virão da melhoria da alimentação e da eficiência do manejo do rebanho. (CEPEA, 2008). A intensificação das pastagens e a recuperação de pastagens degradadas são as melhores estratégias para aumentar a unidade animal por hectare e a produtividade da atividade, reduzindo o impacto ambiental. O coordenador do trabalho do Cepea, Sérgio De Zen, estima que de 30 a 70 milhões de hectares poderiam ser liberados para a produção agrícola caso as pastagens sejam melhor manejadas. A pastagem pode estocar 16-32% mais C que áreas nativas (Corazza et al, 1999). A Figura 4 apresentada pelo Cepea mostra que as emissões líquidas da 29 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA pecuária de corte podem ser substancialmente reduzidas pelo seqüestro de carbono pelas pastagens. A pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, Magda Lima, relata sobre as principais fontes de gases do efeito estufa ligadas à produção agropecuária: o CO2 (proveniente do desmatamento de florestas), o metano (proveniente da fermentação entérica do rúmen dos bovinos e outros ruminantes) e o óxido nitroso (proveniente das fezes e urina). Emissões, seqüestro e balanço de carbono na pecuária brasileira: Emissão do gado + 1,18 Mg CO2 eq/ha/ano − Seqüestro por pastagens 0,78 Mg CO2 eq/ha/ ano Estimativa de Balanço = 0,40 Mg CO2 eq/ha/ ano Fonte: CEPEA/USP (2008). Figura 4. Emissões liquidas de gás carbonico na pecuária brasileira. Todos estes gases contribuem para o aquecimento global, porém a pesquisadora foi categórica ao dizer que existem alternativas para a redução destes gases. De acordo com Magda, o cenário de evolução da produção de gás metano no Brasil projetado até 2020 indica que, se algumas estratégias forem adotadas visando uma pecuária mais sustentável haverá uma redução sensível da emissão destes tipos de gases. Dentre as estratégias citadas para esta redução estão as mudanças da microflora do rúmen bovino e da dieta destes animais e a necessidade de investimentos que viabilizem a recuperação de pastagens degradadas. Assim, estudos mostram que o primeiro passo na tentativa de diminuir a participação da bovinocultura no aquecimento da temperatura global seja o aumento da produtividade, através do fornecimento de alimentos de melhor qualidade. Apesar de o aumento das emissões diárias, essa ação diminuiria o 30 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA tempo de vida de um animal e, segundo pesquisadores, poderia diminuir 10% da emissão de metano por quilo e carne produzida. Com isso, torna-se importante o incentivo à adoção de sistemas mais intensivos de produção, podendo ser citados: melhoria de pastagens e implantação do sistema rotativo; semi-confinamento e confinamento; e sistemas alternativos como a integração lavoura-pecuária e sistemas silvipastoris, a fim de desenvolver uma pecuária sustentável e promover a intensificação sustentável da produção. 5.1 Técnicas para mensuração de metano ruminal Para possibilitar o desenvolvimento de estratégias que reduzam a emissão de CH4 pelos rebanhos, é necessário quantificar a emissão das várias categorias animais sob as mais diferentes condições de manejo alimentar. Existem muitas técnicas (mensuração em câmara fechada, equações de predição e uso de gás traçador inerte) para quantificar a emissão individual ou em grupo de CH4 ruminal. 5.1.1 Câmaras de respiração Consiste em câmaras fechadas, onde um fluxo de ar conhecido passa através da câmara contendo o animal, sendo coletada na saída a concentração de gases (absorção de oxigênio, produção de CO2 e CH4), a diferença entre a concentração de gases da entrada e da saída serve para gerarem a emissão total de gases naquelas condições. Esta técnica reduz a movimentação do animal durante a coleta de dados, requer animais treinados, e altos dispêndios o que acaba por limitar o número de animais avaliados. 31 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA 5.1.2 Equações de predição Permitem calcular as emissões de CH4 através da distribuição molar dos AGV. O balanço fermentativo tem sido usado extensivamente para predizer a produção de CH4 provinda da conversão de carboidratos dietéticos em AGV (CARMONA et al. 2005). A metodologia proposta assume que todo o excesso de H2 é convertido em CH4 e não existe H2 associado com a síntese de células microbianas e que da fermentação de substratos não carboidratos não há produção de AVG. Benchaar et al. (1998), ressaltam que as equações de predição da produção de CH4 no ecossistema ruminal exigem informações do consumo de matéria seca, composição química da dieta (incluindo solubilidade e taxa de degradabilidade), taxa de passagem das frações sólidas e líquidas do rúmen, volume ruminal e pH do fluído ruminal. Estas técnicas são precisas, porém com capacidade limitada, úteis em condições controladas, mas restritas em condições de campo. Uma técnica usada para aferições da emissão de CH4, sem as limitações encontradas em outras técnicas, em animais sob condições normais de pastejo é a técnica de utilização de um gás traçador inerte o hexafluoreto de enxofre (SF6). 5.1.3 Gás traçador hexafluoreto de enxofre (SF6) A técnica do traçador hexafluoreto de enxofre (SF6), para determinação de CH4 ruminal, foi desenvolvida por Kristen A. Johnson e Hal H. Westberg, na Washington State University, em Pullman, Washington, EUA. Esta técnica consiste no uso de uma pequena cápsula de permeação com SF6, inserida no rúmen e com liberação conhecida. Um cabresto equipado com tubo capilar é ajustado na cabeça do animal e conectado a uma canga amostradora submetida previamente a uma bomba de vácuo. A válvula fixada na canga é aberta, para iniciar a coleta do ar em torno do focinho e das narinas 32 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA do animal, a uma taxa constante de aspiração (Figura 5). O sistema amostrador é calibrado, para completar metade da capacidade de armazenamento da canga amostradora, (0,5 atm), no período de coleta predeterminado (normalmente 24 h). A regulagem do tempo de amostragem é realizada variando-se o comprimento ou o diâmetro do tubo capilar. Após a amostragem, a pressão na canga é medida precisamente, com medidor digital, e a canga é pressurizada com nitrogênio de alta pureza para uma pressão aproximada de 1,2 atm. Essa pressurização é necessária para a diluição das amostras coletadas e sua injeção no equipamento de análise. As concentrações de CH4 e de SF6 são determinadas por cromatografia gasosa. A taxa de emissão de CH4 é calculada por: QCH4= QSF6 x [CH4] / [SF6] Onde: QCH4: Taxa de emissão de CH4 em litros/hora; QSF6: Taxa de liberação de SF6 conhecida no tubo capilar; [CH4] e [SF6]: Concentração medida na canga. Essa técnica elimina a necessidade de confinar os animais em gaiolas ou câmaras barimétricas e permite que eles se desloquem e pastem normalmente. Também não é necessário realizar amostragem no rúmen ou na faringe do animal, porque o traçador acompanha as mudanças na diluição associadas ao movimento da cabeça do animal ou do ar. Como os ruminantes eructam e respiram a maior parte do CH4, a coleta de ar em torno do focinho e das narinas deve resultar em estimativa precisa da produção de CH4 pelo animal. Os procedimentos e equipamentos necessários para a utilização desta técnica estão mais detalhados em Primavesi et al. (2004). 33 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA Figura 5. Animais equipados com cabresto, tubo capilar e outros acessórios para mensuração do metano pela técnica gás traçador hexafluoreto de enxofre (SF6) 5.2 Compostagem A compostagem é um processo biológico, através do qual os microrganismos convertem a parte orgânica dos resíduos sólidos urbanos (RSU) num material estável tipo húmus, conhecido como composto. A compostagem, embora seja um processo controlado, pode ser afetada por diversos fatores físico-químicos que devem ser considerados, pois, para se degradar a matéria orgânica existem vários tipos de sistemas utilizados. Essa tecnologia é aprovada pela Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas e, além de transformar “lixo” em composto de altíssima qualidade em 8-10 semanas, contribui para reduzir emissões de metano, um gás gerador de efeito estufa 21 vezes mais poderoso que o CO2. Compostagem pode se transformar em adubo e virar crédito de carbono, a idéia é que futuramente, consiga créditos de carbono a partir do reaproveitamento do lixo que é produzido. 34 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA 5.3 Reduzindo a produção de metano pelos bovinos através da alimentação O crescimento da produção animal tem aumentado a preocupação da sociedade com os sistemas de produção agropecuária por potencialmente contribuírem com o desflorestamento e incorporações como áreas de pastagem. A adoção de sistemas mais intensivos, como os confinamentos, aumenta bastante a produção de resíduos podendo levar a contaminação da água e do solo. O metano, um subproduto anima da digestão de ruminantes, que apresenta uma perda de energia potencialmente produtiva para o animal, é um abundante gás presente na atmosfera terrestre com significativa participação no efeito estufa. A utilização de ionóforos reduz a metanogênese e aumentam a produção de propionato, porém são recomendados cuidados na utilização, já que podem diminuir a digestão da fibra e inibir o crescimento dos protozoários. A metanogênese também pode ser reduzida pela adição de gordura ou ácidos graxos de cadeia longa no rúmen. A preocupação ambiental com o nitrogênio se deve às perdas por volatilização como amônia e também a contaminação da água de superfície e do subsolo pelo nitrato. Da mesma forma, o excesso de fósforo também pode contaminar a água da superficie e o lençol freático. O dióxido de carbono é considerado atualmente como o gás mais importante a contribuir para o efeito estufa. Entretanto, o metano poderá tornarse o gás dominante nesse quesito: é abundante na atmosfera terrestre, aproximadamente 30 vezes mais eficiente que o CO2 em reter o calor e cuja concentração atmosférica tem aumentado rapidamente, como observado na Figura 6. O metano é um subproduto da digestão dos ruminantes e representa uma perda de energia e produtividade para o animal. A magnitude desta perda depende do tipo de dieta, mas usualmente considera-se que seja de ordem de 5-15% da energia bruta ingerida (CICERONE & OREMLAND, 1988). 35 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA O aumento no desempenho dos rebanhos é uma medida de reduzir as emissões, pois ocorre uma redução das e redução das emissões por unidade de produto. Entretanto, algumas das formas de se aumentar a produtividade do rebanho estão baseadas no aumento da ingestão de alimentos, podendo concorrer para o aumento da emissão de metano. Pois, aumentado a ingestão acima da manutenção pode aumentar proporcionalmente a produção de CH4. Figura 6. Variações nas concentrações de metano na atmosfera. Fonte: Manning et al., (1996). Estudos demonstram que o decréscimo do pH ruminal tem grande impacto sobre a redução na produção de CH4. Porém, a digestão da fibra no rúmen é diminuída com essa queda, devido as bactérias celulolíticas ruminais serem sensíveis a pH abaixo de 6,2 (OWENS et al., 1994). Assim, devem-se evitar estratégias para reduzir metanogenese que impliquem em redução na digestão da fibra. Sabe-se que a utilização de ionóforos reduz a metanogênese, porém Armstrong e Spears (1988) ressaltam que os ionóforos podem ser absorvidos e metabolizados pelos animais podendo permanecer na carne ou ser transferido par o leite e como tal, tanto o metabolismo dos animais hospedeiros como do homem pode ser afetado. Já a preocupação ambiental com o nitrogênio é devido as perdas por 36 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA volatilização como amônia. Grandes quantidades de N são trazidos para os sistemas de produção de carne, principalmente nos confinamentos. Para melhorar a eficiência do uso, um plano de manejo de nutrientes deve ser desenvolvido para que possa determinar o movimento e quantidade de nutrientes no sistema; tempo de aplicação para fertilizantes e estercos conforme as exigências das culturas, e definição de culturas para esquema rotacional que propicie a produção de alimentos de qualidade, melhorando a reciclagem e reduzindo perdas por erosão (KLAUSNER, 1993). No esterco, o N está presente principalmente na forma de amônia ou de N orgânico, este é oriundo de alimentos não digeridos no trato digestivo. A maioria dos dejetos bovinos fornece quantidade insuficiente de ácido para converter NH3 para NH4 e isto libera grandes quantidades de NH3 para atmosfera (VAN HORN et al., 1994). A NH3 é atribuída uma grande contribuição para chuva acida (TAMMINGA, 1996). O recomendado é que se faça um ajuste na porcentagem de proteína da ração, conforme recomendações do NRC (2001), que diminui os níveis de proteína da ração com aproximação da maturidade, sem ocasionar em perdas demasiadas, tanto ambientais como economicamente. 6. CONCLUSÕES O aquecimento global impõe diversas modificações ao cotidiano dos seres humanos. Muitos dos problemas ambientais ocasionados pelos aumentos das temperaturas medias globais ainda são desconhecidos, porem já são previstos e a probabilidade de que se confirmem aumenta a medida que a temperatura também se eleva. Desta foram, a implantação de atividades econômicas que se enquadram na categoria para otimizadoras os efeitos de gases é vista como uma possibilidade de conciliação entre o crescimento econômico e a garantia de condições de habitação terrestre. Apesar da complexidade e as dúvidas 37 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA que o cercam, o mercado de carbono é uma realidade mundial. Assim, pode-se considerar que o Protocolo de Quioto vem atendendo as expectativas internacionais, sendo considerado um sistema político que visa a questão da mudança no clima. Por meio de seus mecanismos de flexibilização, em especial o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, muitos países e/ou empresas estão se adequando as exigências que regem o Protocolo. Investir num projeto de mitigação é muito oneroso, entretanto o MDL permite que os mecanismos de mercado funcionem e reduzam os custos com a implantação das atividades de mitigação. Desta forma, o projeto passa a ser viável. E para ter custos cada vez menores, os países hospedeiros têm que oferecer muitas garantias econômicas, financeiras e sociais, além de possibilitar a comercialização dos créditos de carbono excedentes nas suas respectivas Bolsas de Crédito de Carbono, transformando-os em divisas. Todavia, independentemente dos benefícios ambientais e econômicos gerados pelo crédito de carbono, é inegável que o Protocolo de Quioto vem possibilitando uma reflexão ambiental mundial pela redução das emissões antrópicas dos GEE e transformação do atual sistema de produção para alcançar o desenvolvimento sustentável. Logo, a “obrigação” aos países signatários em reduzir as emissões de dióxido de carbono, principalmente, através da implementação de atividades de substituição energética fóssil, não pode ser visualizada como um fim, mas como o primeiro passo rumo a mitigação das emissões antrópicas de gases de efeito estufa, podendo ser aprimorada para alcançar futuras metas globais. As discussões sobre as emissões de GEE aumentam a necessidade de manejo correto de fertilizantes no sistema de cultivo. Como em todas as práticas de manejo de fertilizantes, aquelas selecionadas necessitam ser avaliadas no contexto da mitigação das emissões dos GEE em relação ao resto do sistema de cultivo. A combinação adequada de fonte, dose, época de aplicação e localização de fertilizantes que leva à otimização da produtividade das culturas 38 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA minimiza ao mesmo tempo o PAG por unidade de produção e reduz a necessidade de se converter áreas silvestres em agricultura. Práticas intensivas de manejo que aumentam a absorção dos nutrientes, além de elevar as produtividades, podem ser a forma principal de se obter reduções nas emissões de GEE em áreas agrícolas. Práticas adequadas de fertilização do solo e nutrição animal que minimizem as perdas de nutrientes são condições fundamentais para sustentabilidade dos sistemas de produção de bovinos de corte nas condições brasileiras. Os agentes envolvidos no estabelecimento e condução dos sistemas de produção animal devem preocupar-se em adotar técnicas e procedimentos que maximizem o desempenho animal, porém, minimizando a excreção de nutrientes. Deve-se ter consciência de que os recursos naturais são finitos e que não devemos ser egoístas ao ponto de comprometermos sua utilização pelas próximas gerações. Para reduzir os impactos ambientais da pecuária da corte, sugere ações de melhoramento genético, como o desenvolvimento de raças com melhor conversão alimentar, pois quanto mais peso o animal ganha com menor ingestão de alimento, mais eficiente é a produção sob o ponto de vista do metano. Mas, os melhores avanços na redução do impacto ambiental virão da melhoria da alimentação e da eficiência do manejo do rebanho. Apesar de grande emissora, a pecuária mostra ter um grande potencial de seqüestro de carbono, através de pastagens bem manejadas O investimento em pastagem poderia aumentar o rendimento animal e melhorar o trato digestivo animal, reduzindo assim a quantidade de GEE emitidos por quilo de carne produzida, tornando assim, a pecuária uma atividade sustentável. Investir recursos públicos e privados em recuperação de pastagens e adoção de melhores tecnologias de manejo é a resposta mais eficaz para neutralizar os impactos ambientais da atividades. Boa parte destas externalidades pode ser resolvida com a simples prática de melhoria de 39 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA pastagens e de técnicas de manejo. As emissões de GEE deve se manter constante nos próximos 15 anos, caso seja adotadas políticas de melhoria da produção, esse cenário pode apresentar melhorias. A neutralização das emissões dos gases de efeito estufa representa uma atitude pró-ativa na mudança do clima, atribuindo responsabilidade ao poder público, indivíduo e empresas, sinalizando uma imprescindível mudança nos padrões atuais de consumo e produção. Além dos ganhos ambientais, a neutralização pode proporcionar novos negócios, como fonte de emprego e renda, paralelamente com um processo de conscientização das partes envolvidas na promoção do uso racional dos recursos. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARMSTRONG, J.D.; SPEARS, J.W. Intravenous administration of ionophores in ruminants: effects on metabolism independent of the rumen. Journal of Animal Science, v.66, p.1807-1817, 1988. BARRETO, Luciana Vieira et al. Sequestro de Carbono - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Curso de Especialização em Meio Ambiente e Desenvolvimento, 2009 BATJES, N.H. & W.G. SOMBROEK. Possibilities for carbon sequestration in tropical and subtropical soils. Global Change Biology 3: 161-173, 1997. BENCHAAR, C., RIVEST, J., POMAR, C., CHIQUETTE, J. Prediction of methane production from dairy cows using existing mechanistic models and regression equations. Journal of Animal Science, 76: 617- 627, 1998. 40 Vieira et al., 2010 Práticas de manejo para minimizar a emissão de gases de efeito estufa associadas ou não ao uso de fertilizantes. Disciplina Ecologia de Pastagens, Curso de Pós-graduação em Produção Animal Sustentável. Instituto de Zootecnia, APTA/SAA CARMONA, J., BOLÍVAR, D., GIRALDO, L. El gas metano en la producción ganadera y alternativas para medir sus emisiones y aminorar su impacto a nivel ambiental y productivo. Revista Colombiana de Ciencias pecuarias Vol 18: 1. pp 49-63, 2005. CEPEA/USP – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo. Disponível em www.cepea.esalq.usp.br/economiaambiental/. Acesso em 05 de maio de 2009. CERRI, C.C., CERRI, C.E.P. Agricultura e Aquecimento Global. Boletim da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 32 (1), p. 40-44, 2007. CERRI, C.C. et al. Brazilian greenhouse gas emissions: The importance of agriculture and livestock. Sci. Agric. 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