A matemática do pênalti

Transcrição

A matemática do pênalti
Probabilidade
A matemática do pênalti
Diz o chavão que a cobrança de cinco tiros é loteria – não é, demonstram os cientistas
Até 1970, as partidas de futebol empatadas nos noventa minutos regulamentares e nos trinta
da prorrogação eram decididas na sor-te, com uma moeda jogada para o alto. Foi o alemão
Karl Wald, hoje com 94 anos, quem propôs a decisão por pênaltis. Apenas em 1982 ela
começou a ser usada em Copas do Mundo. Desde então, vinte jogos foram resolvidos com
tiros diretos – entre eles, duas finais, a de 1994 (Brasil 3 x 2 Itália, com o célebre chute de
Roberto Baggio que quase saiu fora do Rose Bowl, em Los Angeles) e a de 2006 (Itália 5 x 3
França, sem Zinedine Zidane, expulso depois da cabeçada em Materazzi, em Berlim). O Brasil
– além da vitória nos Estados Unidos – disputou dois outros jogos eliminatórios pelo tiro da
marca de 11 metros: as quartas de final de 1986, contra a França (perdeu), e a semifinal de
1998, contra a Holanda (ganhou).
A frequência e a dramaticidade das decisões por pênaltis as transformaram em objeto de
estudo de cientistas, numa tentativa de descobrir quais são as chances de acerto e de erro.
Pesquisadores da Universidade Ben-Gurion, de Israel, analisaram 286 tiros diretos dos
principais torneios de futebol do mundo – em 80% das vezes, a bola foi à rede. Em 93% dos
chutes, os goleiros escolheram saltar para a direita ou para a esquerda. O estudo demonstra,
contudo, que a postura ideal do camisa 1 é manter-se no meio, parado (veja o quadro abaixo).
Poucos fazem isso. Trabalham com a intuição, por serem obrigados a reagir muito
rapidamente. "Mesmo assim, não contamos apenas com a sorte", disse a VEJA o goleiro do
Brasil, Júlio César. "É preciso conhecer os batedores, e sempre observar com muita atenção a
corrida para a bola."
Some-se, portanto, o treinamento com velocidade e sorte e tem-se uma possibilidade real de
defesa. Outro estudo, este da Universidade John Moores, de Liverpool, na Inglaterra,
demonstra que a leitura do movimento de corpo dos batedores ajuda os goleiros na defesa de
cobranças. A conclusão: se os quadris de quem bate estiverem bem de frente para o goleiro,
um atacante destro (a maioria) tenderá a chutar em direção ao lado direito do goleiro; se os
quadris estiverem um pouco abertos, de lado, o chute tenderá a ser do lado esquerdo. No
papel, é fascinante. No gramado, menos. "E se o batedor mudar tudo intencionalmente?",
indaga Júlio César. Eis a graça do futebol, sobretudo agora que os cartolas proibiram a
paradinha, recurso que deixava os goleiros ainda menores debaixo da armação de 2,44 metros
de altura por 7,32 de comprimento.
Roberto Baggio, 1994 Até mesmo um craque como o meia italiano pode errar, como aconteceu na final
da Copa dos Estados Unidos – mas quase sempre é o goleiro que leva a pior
Tática
Para entender a sopa de números e letras
O treinador da África do Sul, Carlos Alberto Parreira, explica a história e o significado dos
esquemas de jogo. Assunto cada vez mais frequente em discussões de especialistas ou nas
mesas de bar, tática é coisa séria no futebol. Um treinador que domina e sabe usar os
diferentes esquemas de jogo vence campeonatos. Um torcedor que os entende verá uma Copa
mais interessante. VEJA convidou Parreira, mestre nesses desenhos dentro do gramado, a
explicá-los.
Pirâmide
Século XIX à década de 20
O que é. São dois defensores, três meio-campistas
e cinco atacantes – daí o desenho triangular.
A origem. Surgiu no século XIX, na Universidade
de Cambridge, para acabar com a desorganização
dos jogadores em campo, que corriam para todos os
lados nos primórdios do esporte bretão.
Comentário de Parreira: "Foi a primeira forma
de noção tática registrada por um time, o início da
inteligência no futebol."
WM
Década de 20 à de 50
O que é Três zagueiros, dois meias recuados, dois
meias ofensivos e três atacantes. O desenho é de um
"W" no ataque e de um "M" na defesa.
A origem. Em 1925, o técnico inglês Herbert
Chapman, do Arsenal, desenvolveu esta tática para
adaptar seu time à nascente regra do impedimento –
os zagueiros se adiantavam, deixando o atacante
adversário fora de jogo.
Comentário de Parreira: "Inaugurou o
surgimento da marcação homem a homem, pois os
dois times jogavam sempre da mesma maneira."
4-2-4
Décadas de 50 e 60
O que é. Ofensivo, marca a criação do quarto
zagueiro e o avanço de um meia para jogar fixo no
ataque.
A origem. O primeiro sistema batizado por
números entrou para a história com a vitória da
Hungria por 6 a 3 sobre a Inglaterra, em Wembley,
em 1953. Na Copa de 1962, Aymoré Moreira
aproveitou a versatilidade do ponta-esquerda
Zagallo, que recuava para compor o meio-campo, e
montou o 4-3-3.
Comentário de Parreira: "A consagração do 42-4 veio com a conquista do título de 1958, pelo
Brasil, mas o desequilíbrio no meio-campo logo
selou seu fim."
3-5-2
Década de 80 até hoje
O que é. Retorna à antiga tradição de três
defensores, mas reforça o meio-campo, prevenção à
surpresa dos contra-ataques.
A origem. Foi usado pela primeira vez por Carlos
Bilardo na Argentina campeã do mundo em 1986.
Comentário de Parreira: "É um esquema
equilibrado. Mas, como boa parte das equipes joga
em bloco atrás, acho desperdício usar três zagueiros
para marcar apenas um atacante avançado. Poucas
equipes usam este sistema na Europa. O Brasil está
na contramão: os últimos campeões nacionais
jogavam assim."
4-4-2
Década de 60 até hoje
O que é. Quatro defensores, seguidos por quatro
meio-campistas e dois atacantes.
A origem. Na Copa de 1966, o inglês Alf Ramsey
desistiu de usar o 4-3-3 – variação cautelosa do 4-2-4 –
e fez um dos atacantes recuar para dar mais
consistência ao meio-campo, permitindo que os laterais
avançassem.
Comentário de Parreira: "Neste esquema, todos
os setores estão bem preenchidos. Na Copa de 2006,
trinta das 32 seleções, entre as quais as finalistas,
França e Itália, usaram variações deste esquema."
Estilo e tecnologia
Campeões da estica
O estilista Alexandre Herchcovitch escolheu os quatro semifinalistas do torneio de elegância
nos gramados da África do Sul.
MÉXICO
Adidas
"Riquíssima nos detalhes, com modelagem especial
na região da cava. Há um fascinante trabalho de
combinação do verde e do vermelho, casamento
sempre difícil. Além disso, a camisa tem um desenho,
feito pela trama do próprio tecido (o chamado
jacquard), em forma de penas de canetas, bem
interessante."
A ciência: há duas camisas com inovações diferentes.
Inspirada nos maiôs tecnológicos de natação, agora
banidos, a Techfit fica ajustada ao corpo, comprime
os músculos, corrige a postura e ajuda no salto e na
velocidade. A ForMotion é menos colada.
BRASIL
Nike
"Extremamente clean em sua criação, traz a
essência das cores da bandeira e o tradicional
brasão. O detalhe vintage na manga faz toda a
diferença. Ela é do tipo raglan – ou seja, o corte
da cava e da manga não acompanha o formato
natural do ombro, segue da axila direto para o
decote."
A ciência: o tecido, feito de poliéster obtido de oito
garrafas PET, economiza cerca de 30% de
energia na confecção e pesa 15% menos. Os
furos na lateral, feitos a laser, facilitam a troca de
ar quente por frio.
ITÁLIA
Puma
"Os efeitos de combinação com o corpo, variados,
chamam atenção. A transparência é delicada. A
padronagem do desenho no tecido, em forma de
músculos, casa-se à perfeição com as mangas e
cavas bem justas."
A ciência: as camisas da família PowerCat 1.10
têm tramas mais espaçadas nas regiões em que o
atleta transpira mais – costas, abdômen e axilas.
Isso faz com que a camisa não absorva tanta água
e, portanto, não fique tão pesada.
INGLATERRA
Umbro
"É a única camisa polo, com gola que promove um
ar mais alinhado, menos casual. Não é como as
outras, de decote careca."
A ciência: o uniforme inglês foi desenvolvido e
confeccionado pelo renomado alfaiate londrino
Charlie Allen com inspiração na camisa da equipe
campeã em 1966. Cada atleta convocado terá o
corte feito em seu próprio corpo.
Torcida
Quem aguenta as vuvuzelas?
O barulho estridente das cornetas é a arma sul-africana para incomodar os adversários (e nos
aborrecer em casa).
O ruído é estridente como o de uma sirene, em
algumas versões, ou de uma manada de
elefantes, em outras. Criada por um torcedor
fanático de um clube de Johannesburgo, o
Kaizer Chiefs, a vuvuzela – o cornetão de
plástico – é o 12º jogador sul-africano. Será o
som predominante, capaz de incomodar os
jogadores nos estádios e os espectadores
diante da televisão. A vuvuzela original, de cerca
de 1 metro de comprimento, deu filhotes. Há a
momozela, menor e mais estridente; e a vuthela,
a meio caminho entre as duas. Todas podem
fazer mal aos tímpanos, além de aborrecer.
Estudos mostram que, num estádio com 30 000
pessoas, os picos de barulho chegam a 140
decibéis – e a média durante duas horas ficou
na casa dos 100. Os médicos desaconselham
exposição acima dos 137 decibéis. A mania,
chata mas alegre, virou marca registrada da
África do Sul. Faz parte da galeria de invenções
dos torcedores ao longo das Copas.
ELEGÂNCIA (1930-1966)
Bob Thomas/Popperfoto
Nas primeiras Copas, a torcida vestia
terno e gravata (na foto, 1930). Quando
saía um gol, os chapéus voavam. Na final
de 1950, os torcedores cariocas
protagonizaram um belo espetáculo ao
sacudir lenços brancos antes da derrota
contra o Uruguai.
COORDENAÇÃO (1986)
Franck Seguin/Corbis/Latinstock
No México, em 1986, a Copa de
Maradona, o mundo foi apresentado
à ola – onda, em espanhol –,
movimento coordenado da torcida
que causa a sensação de uma
gigante maré de braços.
PATRIOTISMO (2002)
Ben Radford/Getty Images
Aos gritos de "Daehan-minguk",
República da Coreia no idioma local,
um mar vermelho de sul-coreanos
embalou a campanha dos anfitriões
rumo às semifinais do Mundial
dividido com os japoneses, que não
demonstraram
a
mesma
empolgação.
ORGULHO (2006)
Sean Gallup/Getty Images
Pela primeira vez desde o fim da II Guerra Mundial, os
alemães saíram de casa sem vergonha de sentir orgulho do
país. As bandeiras em preto, vermelho e amarelo coloriram
o país nas arquibancadas e nas Fan Fests, os
agrupamentos populares ao redor de imensos telões.
HISTÓRIA 1958
O mundo descobre o rei
Nas palavras do cronista e dramaturgo Nelson Rodrigues, na Suécia o Brasil "perdeu o
complexo de vira-latas". Aprendeu a ganhar, e mostrou ao mundo o choro juvenil de um
menino de 17 anos nos ombros do meia Didi e do goleiro Gilmar. Pelé fez o gol da vitória
contra o País de Gales, por 1 a 0, nas quartas de final. Marcou outros três contra a França, na
semifinal, e dois contra a Suécia, na final. Um deles, com um chapéu dentro da área, é
antológico, visto e revisto. Ladeado por outros gênios, como os já consagrados Didi e Nilton
Santos e o jovem e endiabrado Garrincha, Pelé foi o paradigma de um futebol que começou a
ser chamado de arte. E, no entanto, o camisa 10 do Santos não perdia a ingenuidade
impúbere. Só conseguiu falar com o pai, Dondinho, por meio de rádio, de Estocolmo, dois dias
depois. "O senhor me viu com o rei da Suécia? Câmbio. Apertei a mão do rei. Câmbio."
O capitão
Hideraldo Luiz Bellini, de 28 anos
Ao receber de Gustavo VI a Jules Rimet – 30 centímetros e 3,8 quilos de ouro puro –, ergueu-a
a pedido dos fotógrafos. Nascia ali um gesto eternizado em quase todos os esportes.
Os artilheiros
Do Brasil:
Pelé (6 gols)
Da Copa:
Just Fontaine,
França (13 gols)
A campanha
Brasil 3 x 0 Áustria
Brasil 0 x 0 Inglaterra
Brasil 2 x 0 União Soviética
Brasil 1 x 0 País de Gales
Brasil 5 x 2 França
Brasil 5 x 2 Suécia
HISTÓRIA 1962
Garrincha, a alegria do povo
Quando a seleção brasileira perdeu Pelé, aos 27 minutos de jogo na segunda partida da Copa,
contra a Checoslováquia, a impressão geral era de que a chance do bicampeonato no Chile
desmoronara. Sem o craque e com uma equipe formada por veteranos como Didi, Nilton
Santos, Djalma Santos e Vavá, era difícil não prever o pior. A entrada do garoto Amarildo, de
21 anos, causou certa dúvida, logo sanada pelos três gols marcados na competição e um estilo
furioso de jogo, pelo qual receberia o apelido de O Possesso. A seu lado, também na frente, o
endiabrado Mané Garrincha, que soube conciliar bem seu jeito debochado de jogo com
eficiência. O melhor exemplo: o segundo gol da vitória contra a Espanha. Garrincha driblou um
adversário pela ponta direita – um "joão", ele dizia. Em seguida, outros dois joões ficaram para
trás. Ele voltou a fintar o primeiro, para só então cruzar com precisão para Amarildo marcar.
O capitão
Mauro Ramos de Oliveira, de 31 anos
Lembrado pela elegância de seu estilo de jogo, coisa rara para um zagueiro, roubou a vaga de
titular e a braçadeira de capitão do amigo Bellini, cujo gesto repetiu ao levantar a Jules Rimet.
Os artilheiros
Do Brasil:
Vavá e Garrincha
(4 gols)
Da Copa:
Albert, Hungria; Ivanov,
União Soviética; Jerkovic,
Iugoslávia; e Sánchez,
Chile (4 gols)
A campanha
Brasil 2 x 0 México
Brasil 0 x 0 Checoslóvaquia
Brasil 2 x 1 Espanha
Brasil 3 x 1 Inglaterra
Brasil 4 x 2 Chile
Brasil 3 x 1 Checoslóvaquia
HISTÓRIA 1970
O perfeito balé do tri
O time perfilado para a final contra a Itália: 19 gols em apenas seis partidas
A seleção embarcou para o México cercada de dúvidas. Questionavam-se a qualidade da
defesa, a real condição de Pelé, se o time podia jogar com uma linha de ataque formada por
ele, Rivellino, Gérson, Tostão e Jairzinho. A resposta foi dada em campo por aquela que é
considerada a maior equipe da história das Copas. Foram seis vitórias incontestáveis, com
futebol eficiente e bonito, o suficiente para entronizar Pelé, definitivamente, como o maior de
todos os tempos. Uma seleção tão memorável que até mesmo os lances perdidos, em jogadas
espetaculares de Pelé, consagraram adversários – a defesa impossível do inglês Banks numa
cabeçada perfeita e o desespero do uruguaio Ladislao Mazurkiewicz ao ver a bola de um lado
e o rei do outro. Foram os "não gols" mais bonitos da história. A seleção do Tri virou uma rima
quase perfeita, declamada com facilidade pelo povo e pelo treinador Zagallo: Félix; Carlos
Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson, Tostão e Pelé; Jairzinho e Rivellino.
O capitão
Carlos Alberto Torres, de 25 anos
Era a última disputa pela Jules Rimet, hoje definitivamente em posse do Brasil. Nas tribunas do
Estádio Azteca, o autor do derradeiro gol da Copa beijou o troféu antes de levantá-lo.
Os artilheiros
Popperfoto/Getty Images
Do Brasil:
Jairzinho (7 gols)
Popperfoto/Getty Images
Da Copa:
Gerd Müller, Alemanha
A campanha
Brasil 4 x 1 Checoslóvaquia
Brasil 1 x 0 Inglaterra
Brasil 3 x 2 Romênia
Brasil 4 x 2 Peru
Brasil 3 x 1 Uruguai
Brasil 4 x 1 Itália
HISTÓRIA 1994
Ninguém pôde com Romário
O "baixinho" na janela do avião que trouxe a equipe do tetra
Foram 24 anos de espera até que o Brasil voltasse a conquistar um título mundial. Um hiato
preenchido por seleções memoráveis, como a de 1982, e outras nem tanto, como a de 1990. O
tetracampeonato veio com uma equipe bem organizada e burocrática, dirigida por Carlos
Alberto Parreira. Mas havia Romário, e ele fez a diferença. O "baixinho", como ficou conhecido,
tinha 1,69 metro. Nascera como jogador no Vasco, passara pelo PSV, da Holanda, e explodira
no Barcelona. Chamado para o derradeiro jogo das eliminatórias, contra o Uruguai, marcou
duas vezes na vitória por 2 a 0. Nos Estados Unidos, fez cinco gols – e a cada um deles
crescia ainda mais, tornando-se um gigante de arrogância e autossuficiência. Na chegada ao
Brasil – em meio ao escândalo da muamba trazida na bagagem, pela qual não se pretendia
pagar impostos –, pediu para aparecer na janelinha do avião, ao pousar no Recife. Foi
atendido. A Copa era dele.
O capitão
Dunga, de 30 anos
Símbolo da fracassada equipe de 1990, Dunga herdou a faixa de capitão de Raí depois da
primeira partida, contra a Rússia. Ao levantar o troféu, respondeu aos críticos (muitos, quase
todos) com palavrões.
Os artilheiros
Nelson Coelho
David Cannon
Do Brasil:
Romário
(5 gols)
Da Copa:
Hristo Stoichkov, Bulgária;
e Oleg Salenko,
Rússia (6 gols)
A campanha
Brasil 2 x 0 Checoslováquia
Brasil 3 x 0 Inglaterra
Brasil 1 x 1 Romênia
Brasil 1 x 0 Peru
Brasil 3 x 2 Uruguai
Brasil 0 x 0 Itália (vitória nos pênaltis)
HISTÓRIA 2002
A grande família Scolari
Até o apito inicial de 3 de junho de 2002,
contra a Turquia, em Ulsan, na Coreia do Sul,
a saga da seleção brasileira rumo ao penta
foi repleta de tropeços. Depois de trocar três
vezes de treinador, o time sofreu para se
classificar nas eliminatórias. A vaga veio
apenas com uma vitória sobre a Venezuela,
no último jogo. A dúvida central: Ronaldo
voltaria a jogar bem depois da segunda grave
contusão no joelho? O técnico Luiz Felipe
Scolari, o Felipão, foi xingado de tudo quanto
é jeito porque deixou Romário no Brasil. Mas
a Família Scolari, como ficou conhecido o
grupo da Copa da Coreia-Japão, viveu uma
temporada de pura felicidade. Ronaldo voltou
a ser o Fenômeno, decisivo. Rivaldo, com
sua deselegância discreta, foi genial. Nas
quartas de final, contra a Inglaterra, brilhou
Ronaldinho Gaúcho. O título veio com 100%
de aproveitamento, sete jogos e sete vitórias,
sucesso igual ao do tri de 1970.
A celebração contra a Inglaterra, nas quartas
de final: a explosão a caminho do penta,
sem derrota nem empate
O capitão
Cafu, de 32 anos
Quebrou o protocolo e subiu no suporte onde estava a taça. Na camisa, escreveu "100%
Jardim Irene", homenagem ao bairro pobre onde foi criado. Antes de levantar o troféu, fez uma
declaração de amor à mulher, Regina.
Os artilheiros
David Cannon/Getty Images
Do Brasil e da Copa:
Ronaldo (8 gols)
A campanha
Brasil 2 x 1 Turquia
Brasil 4 x 0 China
Brasil 5 x 2 Costa Rica
Brasil 2 x 0 Bélgica
Brasil 2 x 1 Inglaterra
Brasil 2 x 0 Alemanha
Retórica
Chutes verbais
Uma seleção de frases memoráveis em torno das vitórias e das derrotas da seleção brasileira
nos mundiais.
"Campeonatinho mixuruca, não tem nem segundo turno."
Garrincha, depois do primeiro título, em 1958
"Somos os campeões morais."
Cláudio Coutinho, treinador da seleção de 1978, depois
de o Brasil ficar com o terceiro lugar invicto
"O presidente escolhe seus ministros, e eu convoco a
seleção"
João Saldanha, ao comentar o pedido de Médici para
chamar o centroavante Dario, antes da Copa de 1970.
Dario foi para o México. Saldanha não
"A Holanda é muito tico-tico no fubá, que nem o
América dos anos 50."
O treinador Zagallo, dias antes de o Brasil ser atropelado
pela Laranja Mecânica de Cruyff na Copa de 1974
"A bola entrar ou não é apenas um detalhe."
Carlos Alberto Parreira, treinador do tetra, logo depois
do empate de 0 a 0 com o Equador, no primeiro jogo
das eliminatórias para a Copa de 1994
Derrotas
Eternos culpados
Uma galeria de jogadores que entraram para a história pela porta de trás,
bodes expiatórios de resultados incontornáveis
Tão certo como o nascimento de heróis nos cinco títulos mundiais do Brasil é o brotar de
culpados quando a seleção perde. Erros em Copa costumam resultar em condenações
inafiançáveis. Se a equipe de Dunga não trouxer o hexa da África do Sul, haverá uma única
certeza: novos nomes farão parte da triste galeria dos que carregam a derrota nos ombros.
VEJA selecionou três personagens emblemáticos.
MOACIR BARBOSA
16 de julho de 1950
Brasil 1 x 2 Uruguai
• Maracanã
• Final da Copa
O goleiro Moacir Barbosa foi acusado de falhar no gol de Ghiggia, o segundo do Uruguai, na
derrota por 2 a 1 na final da Copa de 1950, no Maracanã. Em 1993, sete anos antes de morrer,
ele resumiu o sentimento de carregar, por tanto tempo, o fardo. "No Brasil, a pena maior por
um crime é de trinta anos. Há 43 pago por um que não cometi." O cronista Armando Nogueira
resumiu com triste beleza a trajetória de Barbosa. "Certamente, a criatura mais injustiçada na
história do futebol brasileiro", escreveu. "Era um goleiro magistral. Fazia milagres, desviando de
mão trocada bolas envenenadas. O gol de Gigghia caiu-lhe como uma maldição. E, quanto
mais vejo o lance, mais o absolvo. Aquele jogo o Brasil perdeu na véspera."
TONINHO CEREZO
5 de julho de 1982
Brasil 2 x 3 Itália
• Estádio Sarriá, Barcelona
• Quartas de final
O meio-campista do Atlético Mineiro foi responsabilizado pelo segundo gol da Itália. Com a
bola nos pés e sem a proximidade dos adversários, ele deu um passe displicente da direita
para o centro do campo – a bola foi interceptada por Paolo Rossi, que cravou 2 a 1. No
intervalo da partida, Cerezo chorou nos vestiários. Voltaria a derrubar lágrimas quando Falcão
empatou o jogo – foi inútil, porque o Brasil perdeu por 3 a 2. "Eu disse ao Cerezo que aquela
não era hora de um homem chorar", contou o lateral Júnior a VEJA, ainda em 1982, ao
desembarcar no Galeão. Cerezo ficou dez anos sem rever a chamada "Tragédia do Sarriá"
pela televisão. Ele recusa a culpa pelo lance. "Fico bastante tranquilo, porque joguei muito
futebol, junto com meus companheiros", diz.
ROBERTO CARLOS
1º de julho de 2006
Brasil 0 x 1 França
• Waldstadion, Frankfurt
• Quartas de final
Zidane, numa de suas mais espetaculares atuações, cobrou falta pela esquerda aos onze
minutos do segundo tempo. Alçou a bola a caminho do gol de Dida. Thierry Henry entrou
sozinho e marcou. O lateral esquerdo Roberto Carlos estava parado, na linha da grande área,
ajeitando os meiões. "Não devia marcar ninguém", diz o jogador, de apenas 1,68 metro. Ele
atribui parte da responsabilidade pela péssima imagem que lhe foi colada depois daquele lance
ao narrador da Rede Globo, Galvão Bueno. "Ele fez minha mãe chorar, foi irresponsável", diz.
Para Galvão, os comentários, mesmo ácidos, eram mera reprodução do que as câmeras de
televisão registraram.
Almanaque
80 anos de estatística
Os recordes e os números desde a Copa de 1930 - e as marcas
que podem ser alcançadas em 2010
Em reunião nesta segunda-feira, Mantega e Bernardo defenderam o veto ao reajuste de 7,7%,
cujo porcentual já havia sido aprovado pelo Congresso, mas depende da sanção do presidente
Lula. Segundo eles, a decisão de Lula precisa Levar em conta a solidez orçamentária do
governo e a preocupação com os gastos públicos.
Televisão
Você dentro do campo
Pela primeira vez, todos os jogos serão
de alta definição. Saiba como escolher os aparelhos
transmitidos
com
recursos
A televisão de alta definição – promessa na Copa de 2006, na Alemanha – é realidade em
2010. Todos os 64 jogos na África do Sul serão filmados com 33 câmeras especialmente
concebidas para captar os movimentos de corpos e bolas. No Brasil, as partidas em HD serão
exibidas pela Rede Globo, Sportv, ESPN HD, Bandeirantes e Bandsports. Além de marcar
presença nas telonas acima de 40 polegadas, a tecnologia digital passeará também por
telefones celulares.
LED
Milhares de diodos emissores de luz na construção da imagem
Ideal para: quem gosta de novidade
Pró: a tecnologia IPS, que permite ótima vizualização mesmo para quem se senta muito de
lado em relação à TV
Contra: mesmo os modelos pequenos custam caro
Preço: de 2 600 a 7 900 reais
LG Infinita Live Borderless — LE5500, 42 polegadas, Full HD, 4 299 reais
LCD
Tela de cristal líquido
Ideal para: ambientes claros e muito bem iluminados
Pró: espessura mais fina
Contra: a imagem pode ficar ruim quando o ângulo de visão é muito lateral
Preço: de 650 a 13 000 reais
Philips LC 40PFL3605D, 40 polegadas, Full HD e conversor digital, 2 799 reais
PLASMA
A tecnologia mais antiga de TVs de alta definição
Ideal para: telas acima de 40 polegadas
Pró: ótimo contraste, com definição muito próxima à das telas de cristal líquido, mais modernas
Contra: consome mais energia que as telas de LCD
Preço: de 2 000 a 11 000 reais
Samsung Plasma PL-42B450,
42 polegadas, HDTV, 2 599
reais
FUTEBOL em 3D
A Fifa filmará 25 partidas com essa tecnologia. No Brasil, por enquanto, só no cinema e para
poucos
O recurso 3D está na moda – ainda que incomode, em alguns casos provoque náuseas e seja
frustrante. A Copa do Mundo da África do Sul não poderia perder essa bola. A Fifa anunciou
que filmará 25 das 64 partidas nesse formato. No Brasil, oito jogos serão transmitidos com
essa tecnologia, numa parceria da Rede Globo com a rede de cinemas Cinemark, que os
exibirá em 25 salas de sete capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília,
Curitiba, Porto Alegre e Salvador). A má notícia: não haverá venda de ingressos, apenas
distribuição de bilhetes por meio de patrocinadores.
"Fiquei com a sensação de estar num camarote próximo ao campo", compara Daniel
Malachias, gerente da consultoria Golden Goal, uma das responsáveis por viabilizar essas
exibições já nesta Copa. Ele acompanhou uma transmissão-teste de um jogo do campeonato
francês no início do mês, num cinema emSão Paulo. Em 3D, ganha-se na noção de
profundidade dos lances – e aquela sensação, habitual, de a bola estar indo em uma direção,
quando na verdade corre para outra, desaparece. Por ora, como é tecnologia ainda em
experiência, talvez caiba sensatez: 3D mesmo, no futebol, só dentro do estádio –
e essa oportunidade o torcedor brasileiro terá na Copa de 2014.
Os avanços tecnológicos ao ritmo dos mundiais
1970 Na primeira Copa transmitida ao vivo e em cores, o Brasil via
os jogos em preto e branco. A novidade: o replay.
1974 O Brasil enfim tem acesso aos jogos ao vivo e em cores. O
avanço tecnológico desta vez são os lances em câmera lenta.
1994 Ajudados por um computador, comentaristas aprofundam as
análises com desenhos aplicados na tela com computação gráfica.
2002 A internet entra em campo. Pela primeira vez, internautas têm
acesso a imagens dos jogos no computador.
2006 Todas as partidas são filmadas e transmitidas com sinal digital
e em alta definição. No Brasil, só alguns poucos tiveram acesso à
novidade.
Fontes: Revista Veja - edição 2167 – 2 de junho de 2010
Jornal O Popular – 06/06/2010