Projeto otimizado de um rebocador
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Projeto otimizado de um rebocador
24º Congresso Nacional de Transporte Aquaviário, Construção Naval e Offshore Rio de Janeiro, 15 a 19 de Outubro de 2012 Projeto otimizado de um rebocador: Avaliação da fronteira de Pareto conceitual e dos barcos em operação Karla Ysla Santos Thiago Pontin Tancredi Bernardo Luis Rodrigues de Andrade Laboratório de Otimização e Projeto Integrado Universidade de São Paulo Resumo: O propósito deste trabalho é apresentar uma metodologia de projeto otimizado de embarcações rebocadoras, em alternativa ao clássico processo de evolução por espiral usualmente empregado no projeto de navios. A metodologia tem como finalidade automatizar e otimizar cada uma das etapas do projeto, aperfeiçoando o resultado final do produto mediante a busca de soluções viáveis que minimizem os atributos definidos pelo projetista e atendam aos requisitos do armador. Por fim é apresentada uma análise da Fronteira de Pareto conceitual determinada, comparando-a com as embarcações rebocadoras atualmente em operação. 1 – Introdução Os rebocadores são essenciais na atividade portuária e seu desempenho está diretamente associado à eficiência dos portos. No atual modelo competitivo de negócios, aumentos de produtividade em portos representam reduções substanciais em tarifas e taxas, além de aumentarem a eficiência das operações dos navios oceânicos. Tradicionalmente o projeto de rebocadores é feito por meio da clássica espiral de projeto (EVANS, 1959) e, por serem embarcações de pequeno porte, baseia-se fortemente em embarcações semelhantes. Essa abordagem, em geral, resulta em uma solução que apenas satisfaz os requisitos do projeto, fazendo com que o desempenho da solução dependa da experiência de engenheiros e projetistas. Este artigo apresenta uma metodologia na qual o problema do projeto conceitual/preliminar do navio de reboque portuário é tratado como um problema de otimização multiobjetivo/multidisciplinar. TANCREDI (2008) descreve como a última década consagrou o processo de otimização como vital para a busca de novos paradigmas nos projetos de engenharia. Atualmente, praticamente qualquer projeto de engenharia procura, por meio de um processo de otimização, um diferencial competitivo ou tecnológico que propicie redução de custos ou ganhos de produtividade. Em geral, essa busca pela “melhor solução” é empreendida de forma intuitiva e depende fortemente da experiência do engenheiro. Ainda conforme discutido por TANCREDI (2008), motivados pelo crescente avanço e pela redução de custos dos recursos computacionais, o uso de metodologias e algoritmos de otimização tem se intensificado. Evidentemente, o conceito de melhor solução deve ser algo bem definido e deve ter por base um ou mais critérios de qualificação. Existem muitos critérios possíveis para avaliar um projeto, sendo função do engenheiro definir a importância desses critérios para cada projeto realizado. Geralmente tais critérios são influenciados por diversos parâmetros, e a obtenção da melhor solução depende de ciclos sucessivos de projeto. Mesmo com algumas etapas automatizadas do processo, a variação dos parâmetros depende unicamente da experiência do projetista. Nesse caso, um algoritmo de otimização deve ser capaz de 1 realizar mudanças no projeto, direcionando-o para a solução otimizada. O propósito deste trabalho é apresentar uma metodologia de projeto otimizado de embarcações rebocadoras que tem como finalidade aperfeiçoar o resultado final do produto mediante a busca de soluções viáveis que minimizem atributos definidos pelo projetista e atendam aos requisitos do armador. A abordagem de projeto baseada em otimização depende da construção de um modelo de síntese sobre o qual são empregadas as técnicas de otimização. O modelo de síntese construído avalia os atributos principais da embarcação (deslocamento (Δ), capacidade de reboque (1) (BP) estabilidade (GM), estrutura, resistência ao avanço, entre outras) em função das dimensões geométricas e coeficientes de forma (comprimento (L), boca (B), calado (T), pontal (D) e coeficiente de bloco (Cb)). O principal resultado apresentado é um conjunto de soluções ótimas (2) para diferentes valores de capacidade de reboque, denominado: Fronteira de Pareto. Por fim, é apresentada uma análise da Fronteira de Pareto conceitual comparando-a com diversas embarcações rebocadoras atualmente em operação. 2 – Rebocadores Segundo ALAMILLO (2007), rebocadores são embarcações que auxiliam a navegação e manobra de outras embarcações e/ou sistemas flutuantes desprovidos de meios para navegação autônoma. Por serem embarcações relativamente pouco complexas, geralmente são projetadas e construídas com base na experiência de projetistas e estaleiros, sendo, portanto, um excelente objeto de estudo para a metodologia proposta neste artigo. 2.1 – Função dos rebocadores O reboque portuário é um componente vital da infra-estruturara portuária. Pois, embora a maioria de navios tenha melhorado os sistemas de propulsão e manobra, ainda existe grande necessidade de uso dos rebocadores nas operações portuárias. A tendência de operar navios cada vez maiores e a necessidade de se manter uma programação nas escalas exige um serviço de (1) Este artigo utiliza o termo em inglês, mais comum na literatura: Bollard Pull. (2) Disse-se que uma solução é ótima quando a melhoria de um atributo resulta, invariavelmente, no deterioramento de outro. reboque especializado e profissional nos grandes portos. Junto com o reboque portuário convive o reboque oceânico, destinado a apoiar a segurança marítima. Entre as diferentes tarefas desempenhadas pelos rebocadores, pode-se destacar: • Auxiliar os navios nas manobras de atracação, desatracação, parada ou em manobra de giro em uma área pequena; • Rebocar e auxiliar navios sem propulsão ou danificados; • Combater incêndios em unidades marítimas e apoiar o combate a incêndios em instalações costeiras; • Controlar a poluição em caso de derramamentos; • Transportar sistemas flutuantes; • Escoltar embarcações com cargas perigosas em zonas de riscos; • Proporcionar o apoio necessário para neutralizar a ação do vento, ondas ou correntes. 2.2 – Características fundamentais Segundo OTHMAN (2009), um dos atributos mais importantes na avaliação do desempenho de um rebocador é a manobrabilidade. A habilidade de manobra de um rebocador é fundamental para o desenvolvimento da suas funções, porque em manobras com grandes navios em espaço reduzidos o rebocador terá que se deslocar com eficiência em todas as direções. A manobrabilidade de um rebocador vai depender da forma do casco e dos sistemas de propulsão e governo. Outro atributo importante é a estabilidade. As normas (IMO 1968) e (IMO 1985) estabelecem que a curva de estabilidade estática para o rebocador deve ser positiva até os 70°, com altura metacêntrica de no mínimo 60 cm. Em relação a potência instalada, (MAM 2012) estabelece que esta terá que permitir ao rebocador realizar a função designada. Para operações de transporte a potência deverá ser no mínimo a necessária para rebocar ou empurrar um determinado deslocamento a uma velocidade mínima que permita navegar nas piores condições meteorológicas. O valor desta potência vai depender do rendimento do motor, da linha de eixos, do hélice, e das formas do casco. A respeito das formas do casco, uma das características mais importantes e distintivas dos rebocadores é a altura reduzida, os rebocadores de última geração tentam manter a altura do convés a menor possível, visando manter baixa a altura do ponto de reboque e assim apresentar uma melhor estabilidade. 2 Por fim, todos os rebocadores de última geração são projetados para tripulações de três pessoas, pois estudos (ALAMILLO, 2007) mostram que a maioria dos acidentes nos rebocadores é causada por erros humanos e assim a redução da tripulação torna-se um fator importante para o desenvolvimento do projeto. 2.3 – Sistemas de propulsão e governo Usualmente a propulsão dos rebocadores é feita por meio de motores dieseis que trabalham com hélices convencionais ou não convencionais. A definição do tipo de propulsor afeta significativamente as características gerais do rebocador. Segundo (LAMB, 2003) os sistemas de propulsão de rebocadores podem ser divididos em três categorias: Convencionais: Podem estar dispostos em um, dois ou três eixos. No entanto, a configuração de dois eixos, ilustrada na Figura 1, é utilizada pela grande maioria dos rebocadores dotados de propulsores convencionais. Figura 2 – Arranjo típico do rebocador equipado com 2 propulsores convencionais. Fonte: (DAMEN, 2012). Azimutais: Desenvolvidos no fim dos anos 1960, permitem direcionar o empuxo para qualquer direção aprimorando a capacidade de manobra da embarcação. Os propulsores azimutais requerem barcos similares a aqueles equipados com propulsores convencionais. No entanto em virtude do sistema azimutal, podem requerer um maior pontal na região de popa, conforme o arranjo típico abaixo: Figura 1 – Rebocador equipado com propulsor convencional na configuração de dois eixos. Fonte: (LAMB, 2003). Os rebocadores que possuem propulsores convencionais dispostos em dois eixos apresentam, tipicamente, uma boca na região de popa similar a boca máxima, resultando em barcos com baixo coeficiente L/B e alto coeficiente de área de linha d’água, como pode ser visto no arranjo típico apresentado na Figura 2. O uso de propulsores em duto, apesar de, como ressalta (LAMB, 2003) aumentar o arrasto do rebocador em movimento, resulta em um ganho da capacidade de reboque e por essa razão é empregado na grande maioria dos projetos atuais de rebocadores. Figura 3 – Arranjo típico do rebocador equipado com 2 propulsores azimutais. Fonte: (DAMEN, 2012). Voith Schneirder (VSP): O propulsor cicloidal, foi desenvolvido da década de 1930. A principal vantagem desse tipo de propulsor é a alta manobrabilidade obtida pelas embarcações. Por outro lado, como ressalta (LAMB, 2003), essa categoria de propulsores apresenta baixa eficiência, quando comparada as outras categorias de propulsores. Uma comparação entre os propulsores não convencionais pode ser vista na Figura 5. 3 Os rebocadores portuários são aqueles empregados no trafego interior do porto. Na Tabela 1 têm-se as informações gerais de diversos rebocadores de porto. Tabela 1 – Rebocadores de porto Parâmetros Rebocadores Azimutais L (m) B (m) D (m) T (m) Pot. (HP) AZZAWIYA 6 16.56 5.54 2.54 2.04 1216 87 THISEAS II 16.89 5.29 2.51 1.86 940 84 TARPON BAY 18.70 8.06 2.75 2.09 960 196 MAK 22.64 7.84 3.74 3.23 2720 260 DON LUCHO 22.64 7.84 3.74 3.44 2720 279 ARABIAN TAHR 22.64 7.84 3.74 3.33 2816 268 RESOURCE 22.65 8.00 2.99 2.00 1200 160 BULAT 22.73 10.43 4.50 3.69 4023 398 WENZINA 24.47 11.33 4.60 3.19 5600 455 PB ENDEAVOUR 24.47 10.70 4.60 3.28 5600 483 PB MURRUMBID. ADSTEAM FERRIBY MOSCHNYI 24.47 10.70 4.60 3.27 5600 477 24.55 11.49 4.60 3.24 5592 490 25.86 8.94 4.30 3.30 3500 420 TARKA 26.02 9.10 3.60 2.65 2200 381 SILIN 26.09 7.94 4.05 2.67 3500 240 SHA’M 26.16 7.94 4.05 3.62 3822 363 IBRAHIM 1 26.16 8.54 4.05 3.61 3300 387 ABEILLE DALIA 28.67 10.43 4.60 3.54 4930 519 TORNADO 28.67 10.43 4.60 3.48 4200 550 WATERSTROOM 28.67 10.43 4.60 3.50 5000 532 SMIT GUADELOU. 28.67 10.43 4.60 3.63 4930 570 ISOLA DEL TINO 28.67 10.43 4.60 3.47 4930 520 PB LEICHHARDT 28.67 10.43 4.60 3.66 4930 591 SMIT CURAÇAO 28.75 10.59 4.60 3.71 4626 541 PAK 29.16 8.84 4.40 4.09 4525 495 AGBODRAFO 29.24 8.84 4.40 4.31 5000 551 BOREY 29.65 8.00 3.76 3.23 2480 376 Voith Schneirder Figura 5 – Propulsores não convencionais. Fonte: (LAMB, 2003). Nos últimos anos, o uso de propulsores VSP tem se intensificado, especialmente em função de sua capacidade de manobra. Tipicamente os rebocadores equipados com propulsores VSP possuem um menor valor de Cb, apresentando formas mais hidrodinamicas, conforme o arranjo típico apresentado na Figura 6. Figura 6 – Arranjo típico do rebocador equipado com propulsor VSP. Fonte: (DAMEN, 2012). Outras características notáveis dos rebocadores equipados com propulsores VSP são: a praça de máquinas localizada a vante e a superestrutura localizada a meia nau. Por fim, convêm observar que os hélices não convencionais cumprem, simultâneamente, as funções de propulsão e de governo, substituindo o leme. 3 – Levantamento de dados Para identificar as características do projeto de um rebocador é importante analisar as diferentes classes de rebocadores, que se diferenciam quanto ao tipo de operação que realizam. As principais classes de rebocadores são apresentadas nesta seção. 3.1 – Rebocadores de porto Δ (ton) Fonte: Tug of the World (2007), SVITZER-COESS (2012), DAMEN (2012) e RS (2012). Dos dados levantados, podem-se determinar algumas características típicas dos rebocadores portuários: • Comprimento (L) entre 20 e 30 metros; • Calado (T) entre 3 e 4.5 metros; • Velocidade operacional (Vs) entre 5 e 13 nós; • Velocidade máxima (Vm) entre 15 e 16 nós; • Potência instalada (BHP) entre 400 e 5000 HP. 3.2 – Rebocadores de porto e alto mar Os rebocadores portuários e de alto mar podem dividir as operações entre o serviço de 4 porto e o reboque costeiro. Podem-se observar informações gerais de rebocadores de porto e alto mar na Tabela 2. Tabela 2 – Rebocadores de porto e alto mar Parâmetros Rebocadores L (m) B (m) D (m) T (m) Pot. (HP) Δ (ton) BOA MASTER 30.00 10.00 5.40 4.48 4000 675 ELHAMDAB 30.00 8.84 4.40 4.35 2600 461 ZEETIJGER 30.08 9.10 4.40 3.20 3344 350 PILBARA NEPTU. 30.60 11.20 5.00 3.81 5000 680 PAWLINA 30.60 11.20 5.00 3.56 5600 635 KARLOO 30.60 11.24 5.00 3.45 5600 597 AKHILL 30.82 10.20 4.80 3.75 4520 664 VENTSPILS 30.82 10.20 4.80 3.84 3500 KIBOKO II 30.82 10.20 4.80 3.60 4626 SULTAN HABIB A. 30.82 10.20 4.80 3.68 SMIT OWENA 30.82 10.20 4.80 HELIOS 31.91 8.84 LAMNALCO PUM. 32.14 13.29 SMIT PANTHER 32.14 STANFORD 3.3 – Rebocadores de alto mar, salvamento Os rebocadores de alto mar e salvamento, por seu tamanho e potência, podem efetuar reboques oceânicos e dar assistência a navios em perigo no alto mar. Na Tabela 3, têm-se as informações gerais de rebocadores de alto mar e salvamento. Tabela 3 – Rebocadores de salvamento ADMIRAL S L (m) 41.45 B (m) 11.12 Parâmetros D T (m) (m) 5.84 4.97 Pot. (HP) 5750 CCS 1 42.00 10.00 4.20 3.00 3200 839 SIR MICHAEL 42.42 11.14 5.55 4.65 4300 1104 686 AL SALAAM 45.70 11.22 4.90 4.04 4000 1135 525 WARRIS 45.70 11.22 4.90 5.12 7268 1458 4750 602 CCS 4000BHP 57.62 12.00 5.00 4.20 4000 1852 3.88 4930 640 ATRIYA 58.55 12.67 5.90 4.69 3000 1615 4.40 3.95 4750 624 AGAT 58.55 12.67 5.90 4.69 3000 1651 5.50 4.62 6530 998 STLS1423 60.52 12.80 5.03 4.27 6140 2398 13.29 5.50 4.93 7268 1035 KAPITAN KLYU. 72.50 13.64 7.20 5.96 6800 2786 32.22 11.24 5.00 4.15 5310 840 SPRAVEDLIVYJ 74.41 18.32 9.00 6.70 7600 4388 SMIT LYNX 32.22 11.24 5.00 4.07 5605 790 SMIT LONDON 74.83 15.68 7.60 6.79 13494 4821 SMIT RIO MUNI 32.22 11.24 5.00 4.16 5605 804 SINGAPORE 75.32 15.68 7.60 6.80 13500 4819 BULGU 32.70 12.82 5.35 4.10 5600 772 DE ZHOU 89.96 17.20 8.50 6.80 15866 6850 MULTRATUG 19 32.70 12.82 5.35 4.10 6772 806 DE HONG 96.37 16.40 8.40 6.92 15437 6004 MARS 33.00 11.00 5.30 4.10 3594 737 DE DA 98.00 15.80 8.00 6.44 20800 6294 SMIT MANDJI 35.26 8.85 4.40 3.76 3959 678 SB‐131 99.00 19.45 9.00 7.20 24120 980 SARAH‐1 35.53 8.84 4.40 3.24 4136 570 1402.0049 35.59 8.18 2.80 2.50 2640 346 CCS 3 36.02 10.60 4.80 3.60 5000 630 ALEXANDER K 38.91 9.82 5.50 4.83 4000 1035 Fonte: Tug of the World (2007), SVITZER-COESS (2012), DAMEN (2012) e RS (2012). Dos dados levantados, podem-se determinar algumas características típicas dos rebocadores de porto e alto mar: • Comprimento (L) entre 25 e 40 metros; • Potência instalada (BHP) entre 3000 e 7000 HP. Rebocadores Δ (ton) 980 Fonte: Tug of the World (2007), SVITZER-COESS (2012), DAMEN (2012) e RS (2012). Dos dados levantados, podem-se determinar algumas características típicas dos rebocadores de salvamento: • Comprimento (L) entre 40 e 80 metros; • Potência instalada (P) entre 4000 e 20000 HP; • Velocidade máxima (Vm) entre 15 e 16 nós. 3.4 – Análise dos dados Nesta secção serão apresentadas as análises realizadas a partir das informações obtidas no levantamento de navios semelhantes apresentado. O objetivo deste artigo é apresentar uma metodologia para o projeto otimizado de rebocadores portuários em acordo com os atuais paradigmas existentes. Nesse contexto, (LAMB, 2003) destaca que existiu uma evolução significativa no projeto das instalações propulsoras nas últimas décadas resultando em um aumento da relação entre a potência instalada e o porte dos rebocadores 5 Potência por unidade de volume em função do ano de construção 5.0 6.00 4.0 5.00 4.00 3.00 2.00 1.00 0.00 0 3.0 2.0 Porto 1.0 0.0 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 Ano de Construção Porto 20 40 60 80 100 Com prim ento (m ) Porto e Alto Mar Alto Mar e Salvamento Figura 7 – Relação entre a potência instalada e o número cúbico da embarcação em função do ano de construção para as diferentes classes de rebocadores. A utilização do NC para representar o porte de um rebocador ao invés do deslocamento é uma estratégia apresentada por (LAMB, 2003) e deve-se ao fato de que na região da praça de máquinas o coeficiente é consideravelmente maior do que na região de proa do navio. Sendo que é justamente o volume da praça de máquinas que delimita o porte dos motores e, portanto, a potência instalada. Observando-se o gráfico apresentado na Figura 7, pode-se verificar que de fato os navios construídos na última década possuem, na média, quase o dobro de potência instalada por unidade de volume do que os navios construídos na década de 1970. Por essa razão serão considerados na análise apenas os rebocadores construídos a partir de 1985, que melhor caracterizam o objetivo deste trabalho. Além disso, pode-se verificar que, quanto menor o porte dos rebocadores, maior é a relação da potência instalada por unidade de volume. A relação entre a potência instalada e o porte da embarcação é apresentada no gráfico da Figura 8, no qual é possível constatar que rebocadores portuários têm BHP/NC tipicamente entre 2 e 5 com valor médio de 3.7 HP/m3. Rebocadores de porto e alto mar possuem BHP/NC tipicamente entre 2 e 4 com valor médio de 3.0 HP/m3. Por fim, rebocadores oceânicos possuem BHP/NC tipicamente entre 1 e 3 com valor médio de 1.6 HP/m3. Porto e Alto Mar Alto Mar e Salvamento Figura 8 – Relação entre a potência instalada e o número cúbico da embarcação em função do comprimento para as diferentes classes de rebocadores. 3.4.1 – Coeficientes de forma A partir dos dados levantados, pode-se relacionar o comprimento do navio com sua boca, obtendo a distribuição apresentada na Figura 9. Pode-se observar que existe uma faixa típica de valores para o coeficiente L/B que varia entre 2.2 e 5.5. Boca em função do Comprimento 25 L/B =2.2 20 Boca (m) BHP / NC (HP/m^3) 6.0 Potência por unidade de volume em função do comprimento BHP / NC (HP/m^3) portuários. Para verificar esse fato, é apresentada na Figura 7 a relação entre a potência instalada e o número cúbico (NC) para os navios semelhantes considerados. 15 L/B = 5.5 10 5 0 0 20 40 60 80 100 Com prim ento (m ) Porto Porto e Alto Mar Alto Mar e Salvamento Figura 9 – Boca em função do comprimento para as diferentes classes de rebocadores. (3) Analisando o gráfico da Figura 9 pode-se observar que os rebocadores portuários possuem uma menor relação L/B, com valor tipicamente entre 2.0 e 3.5, e média de 2.9, enquanto que os rebocadores de porto e alto mar apresentam L/B tipicamente entre 2.5 e 4.0, com valor médio de 3.0. No entanto, os rebocadores de alto mar e salvamento apresentam coeficiente L/B entre 3.0 e 6.0 com valor médio de 4.4. (3) Todos os gráficos apresentados nesta secção foram produzidos a partir do conjunto de dados de navios semelhantes. 6 A variação do coeficiente L/B em função do comprimento do navio é apresentada no gráfico da Figura 10. Coeficiente L / B em função do Comprimento 7 6 L/B 5 4 3 2 1 0 0 20 40 60 80 100 Em alguns casos, para proteger o propulsor, são instalados apêndices sob o casco do rebocador. Nesses casos, o calado medido considera tais apêndices, distorcendo os coeficientes de forma do casco da embarcação. Tais considerações podem ser observadas no arranjo típico do rebocador mostrado na Figura 4. Por essa razão a correlação apresentada no gráfico da Figura 11 pode ser considerada satisfatória. Por fim pode-se estabelecer uma relação entre o pontal e a boca da embarcação. Essa relação é especialmente importante para determinar o porte da praça de máquinas e pode ser vista na figura abaixo. Com prim ento (m ) Porto Porto e Alto Mar Boca em função do Pontal Alto Mar e Salvamento 25 Figura 10 – Coeficiente L/B em função do comprimento para as diferentes classes de rebocadores. Boca (m) 20 De maneira análoga, pode-se relacionar o calado do navio com a boca, obtendo a distribuição apresentada na Figura 11. Também é possível observar uma faixa típica de valores para o coeficiente B/T que apresentam média de 2.8. 15 10 5 0 0 8 B/T = 2.79 R2 = 0.69 Calado (m) 6 4 2 0 0 5 10 15 20 25 Boca (m ) Porto Porto e Alto Mar Alto Mar e Salvamento Figura 11 – Calado em função da boca para as diferentes classes de rebocadores. É importante destacar que a determinação do calado de um rebocador é uma tarefa complicada que pode resultar em diversas interpretações. Para efeito de projeto da embarcação o calado relevante é o calado do casco. No entanto, alguns rebocadores, buscando maximizar sua capacidade de reboque, utilizam propulsores com diâmetro superior ao calado do casco, nestes casos as informações referentes ao navio podem considerar o calado no propulsor, mascarando os coeficientes do projeto do casco. 2 4 6 8 10 Pontal (m ) Porto Calado em função da Boca B / D = 2.22 R2 = 0.87 Porto e Alto Mar Alto Mar e Salvamento Figura 12 – Boca em função do pontal para as diferentes classes de rebocadores. Conforme já mencionado, (LAMB, 2003) destaca a importância de se utilizar o NC como medida de porte do rebocador ao invés do deslocamento. Nesse contexto o coeficiente de bloco tornar-se um parâmetro de menor importância na caracterização do rebocador. No entanto, é interessante observar que rebocadores portuários possuem, na média, coeficientes de bloco menores do que os rebocadores de alto mar e salvamento. Isto se deve ao fato de que os rebocadores portuários destinam-se unicamente ao reboque, enquanto rebocadores oceânicos são, em muitos casos, utilizados como navios de apoio, transportando cargas, suprimentos e tripulação nas viagens em alto mar. Por essa razão, os rebocadores de alto mar e salvamento possuem um corpo médio paralelo mais extenso, aumentando o coeficiente de bloco da embarcação. A variação do Cb (4) em função do comprimento da embarcação é apresentada na Figura 13. (4) Para o cálculo do Cb foi estimado que o comprimento molhado do rebocador corresponde a cerca de 90% do comprimento total. 7 Coeficiente de Bloco em função do Comprimento Bollard Pull em função do Deslocamento 120 0.90 100 Bollard Pull (ton) 0.80 0.70 Cb 0.60 0.50 0.40 Cb = 0.0021 * L + 0.506 0.30 0.20 80 60 40 20 0.10 0 0.00 0 Porto 20 40 60 Com prim ento (m ) Porto e Alto Mar 80 0 100 500 1000 1500 2000 2500 Deslocam ento (ton) Alto Mar e Salvamento Porto Porto e Alto Mar Alto Mar e Salvamento Figura 13 – Coeficiente de bloco em função do comprimento da embarcação. Figura 15 – Bollard Pull em função do deslocamento da embarcação. Na Figura 14 são apresentados os arranjos típicos de um rebocador portuário com comprimento de 16.89 metros e um rebocador de alto mar e salvamento com comprimento de 45.70 metros. Pode-se observar no gráfico da Figura 15 que rebocadores de pequeno porte apresentam baixa capacidade de reboque, enquanto rebocadores de grande porte apresentam alta capacidade de reboque. Portanto, o projeto de rebocadores passa pelo compromisso entre a minimização do deslocamento e a maximização do Bollard Pull. Para confirmar essa correlação, é apresentada na Figura 16 a relação entre o Número Cúbico e o Bollard Pull dos rebocadores analisados. Comprimento: 16.89 m; Cb: 0.56. Bollard Pull em função do Número Cúbico 120 Comprimento: 45.70 m; Cb: 0.62. Bollard Pull (ton) 100 80 60 40 20 Figura 14 – Arranjo típico de um rebocador portuário (a) e de um rebocador de alto mar e salvamento (b). Fonte: (DAMEN, 2012). 0 0 Um dos aspectos mais importantes a cerca do projeto de rebocadores diz respeito a sua capacidade de reboque. Embora a capacidade de reboque dependa de vários fatores, como por exemplo, o diâmetro do propulsor, é possível estabelecer uma correlação entre o deslocamento e o Bollard Pull de um rebocador. No gráfico da Figura 15 é apresentado o Bollard Pull em função do deslocamento para os rebocadores selecionados no levantamento de dados. 2000 3000 4000 5000 6000 Núm ero Cúbico (m ^3) Porto 3.4.2 – Bollard Pull e potência instalada 1000 Porto e Alto Mar Alto Mar e Salvamento Figura 16 – Bollard Pull em função do número cúbico da embarcação. Novamente observa-se que a capacidade de reboque de uma embarcação é proporcional ao seu porte. Por fim, o estudo apresentado na Figura 17, permite observar que existe uma relação direta entre a potência instalada na embarcação e sua capacidade de reboque. É interessante observar que esta relação independe do porte do rebocador, sendo a mesma para rebocadores portuários, de alto mar e de salvamento. 8 amplamente utilizado para tratar problemas com múltiplos objetivos. Bollard Pull em função do BHP 300 Bollard Pull (ton) 250 BP = 0.0107 * BHP + 6.9406 R2 = 0.95 200 4.1 – Variáveis 150 100 50 0 0 5000 10000 15000 20000 25000 Potência Instalada (HP) Bollard Pull em função do BHP 120 Bollard Pull (ton) 100 Durante a fase do projeto conceitual/preliminar do rebocador portuário, a solução de projeto será descrita unicamente por meio de suas dimensões geométricas e coeficientes de forma. Esses parâmetros descritivos constituem as variáveis de projeto do modelo de síntese proposto e são apresentados na Tabela 4, juntamente com suas respectivas faixas de variação, obtidas por meio do levantamento bibliográfico. BP = 0.0107 * BHP + 6.9406 R2 = 0.95 80 Tabela 4 – Variáveis de Projeto 60 Variáveis Minimo (m) 10 40 Símbol o 20 L Comprimento B Boca 5 T Calado 1 15 D Pontal 1.5 15.5 Cb Coeficiente de Bloco 0.4 0.7 0 0 2000 4000 6000 8000 Potência Instalada (HP) Porto Porto e Alto Mar Alto Mar e Salvamento Figura 17 – Bollard Pull em função da potência instalada na embarcação. 4 – Modelo de síntese Conforme já apresentado, a maioria dos problemas de engenharia naval e oceânica envolve critérios conflitantes. Grande parte dos projetos se baseia na espiral de projeto, que resulta numa solução viável, mas não ótima. Num mercado onde se exige cada vez mais eficiência, as técnicas de otimização se inserem como uma importante ferramenta na busca de uma solução ótima global, achando um ponto de equilíbrio, no qual há compromisso entre os critérios conflitantes. Primeiramente, foi desenvolvido um modelo de síntese onde os principais atributos da embarcação, como o deslocamento e Bollard Pull, são determinados a partir dos parâmetros e variáveis de projeto. O conceito de projeto paramétrico de embarcações é bastante conhecido e pode ser visto em diversos trabalhos tais como MISTREE et al. (1990), PARSONS (2004) e o recente trabalho de XUEBIN (2009). Finalmente, uma técnica de otimização multiobjetivo foi aplicada ao modelo de síntese por meio do algoritmo de natureza evolutiva NSGA-2, originalmente proposto por DEB ET AL.(2000). Este algoritmo tem sido Descrição Máximo (m) 100 30 É importante observar que as faixas de valores das variáveis de projeto, embora se baseiem nos dados de navios semelhantes, não constituem restrições absolutas do modelo. Caso as soluções encontradas estejam nos limites da região viável convém expandi-la, reavaliando os resultados obtidos. 4.2 – Atributos avaliados Nesta secção são apresentados os atributos avaliados pelo modelo de síntese proposto. 4.2.1 – Estabilidade Para a avaliação da estabilidade estática transversal, utilizou-se as clássicas formulações propostas por WATSON (1998) e que são apresentadas nas equações de 1 a 5. KB =T * (0.9 - 0.3 * Cm - 0.1 * Cb) (1) KG = 0.76 * D (2) BM = C1 * Lwl * B ^ 3 / Δ (3) C1 = 0.0727*Cwp² + 0.0106 * Cwp - 0.003 (4) Cwp = 0.262 + 0.81 * Cp (5) Onde: Cm representa o coeficiente da secção mestra. Cp representa o coeficiente prismático. Cwp representa o coeficiente da área de linha d’água. 9 Existem diversas formulações para a estimativa da potência instalada (BHP) de um rebocador. As propostas mais clássicas tentam correlacionar a potência instalada de um rebocador em função de seu comprimento. A seguir são apresentadas três formulações propostas: (GERR, 2001) BHP = 100 + ( Lwlf BHP em função do numero cubico 14000 12000 10000 BHP = 42.987 * NC 0.6219 R2 = 0.65 8000 6000 4000 4.15 (6) ) / 111000 (ALLAN, 2005)* (0.1002 BHP = 127.25 * E 2000 0 (ALLAN, 2005) BHP = (95.3 * L) – 597 (7) 0 Conforme pode ser visto no gráfico da Figura 18, nenhuma das formulações propostas representa corretamente os dados existentes para os rebocadores construídos nos últimos 25 anos. BHP em função do Comprimento 14000 12000 10000 8000 6000 4000 2000 4000 6000 NC (m ^3) Porto Porto e Alto Mar Alto Mar e Salvamento (8) * L) Onde: representa o comprimento molhado medido em Lwlf pés e foi estimado como sendo 90% do comprimento total do rebocador. BHP A aplicação das formulações (9) e (10) pode ser visto na figura abaixo. BHP 4.2.2 – Potência instalada (BHP) 8000 10000 (ALLAN, 2005) (ALLAN, 2005)* Figura 19 – Potência instalada (BHP) em função do número cúbico da embarcação. Embora os resultados sejam melhores do que as formulações anteriores, apenas a formulação (9) apresentou bons resultados e apenas na determinação da potência instalada para navios com NC menores do que 3000 m3. Analisando os dados apresentados nos gráficos das figuras 18 e 19, percebeu-se que a potência instalada independia do comprimento da embarcação. Por essa razão o autor propõe que, ao invés do NC seja utilizado o produto da boca pelo pontal da embarcação na determinação da potência instalada no rebocador. A relação da potência instalada em função do produto B * D da embarcação pode ser vista no gráfico da figura abaixo. BHP em função de B * D 2000 12000 0 20 40 Com prim ento (m ) Porto Porto e Alto Mar Alta Mar e Salvamento 60 80 (GERR, 2001) (ALLAN, 2005) (ALLAN, 2005)* 10000 BHP = 104.21 * B * D - 438.2 R2 = 0.84 8000 BHP 0 Figura 18 – Potência instalada (BHP) em função do comprimento da embarcação. 6000 4000 Um segundo conjunto de formulações, apresentado a seguir, segue na linha de (LAMB, 2003) e propõe correlacionar a potência instalada com o número cúbico (NC) do rebocador. (ALLAN, 2005) BHP = 1.958 * NC + 304 (9) (ALLAN, 2005)* ) BHP = 0.295 * NC + 44 (10) 2000 0 0 20 40 60 80 100 120 Boca * Pontal (m ^2) Porto Porto e Alto Mar Alto Mar e Salvamento Figura 20 – Potência instalada em função do produto boca e pontal da embarcação. A formulação proposta pelo autor e apresentada na Figura 20 obteve grande aderência com os dados de navios semelhantes. 10 Um atributo importante na síntese de uma embarcação é sua resistência ao avanço, visto que esta está diretamente ligada à potência que deverá ser fornecida pelo motor ao navio. Como conseqüência, a resistência ao avanço é um fator que está, eventualmente, associado ao custo da embarcação. Para a determinação da resistência ao avanço da embarcação utilizou-se o clássico modelo proposto por HOLTROP (1984), que se adapta muito bem a navios rebocadores. No caso de rebocadores o objetivo é maximizar a capacidade de reboque e, portanto, a curva de resistência ao avanço é utilizada apenas na determinação da velocidade do rebocador em corrida livre. 4.2.4 – Velocidade em corrida livre Uma segunda estimativa da velocidade do rebocador em corrida livre foi obtida utilizando o Coeficiente de Almirantado (CA). A relação entre o CA e o comprimento dos rebocadores é apresentada na figura abaixo. formulação se mostrou distante da atual realidade dos rebocadores em operação, principalmente para motores de até 2000 HPs. Essa diferença pode ser atribuída ao processo de modernização dos motores, que reduziu consideravelmente o peso de motores navais nos últimos 30 anos, graça, por exemplo, ao uso de novos materiais. Para tornar esse modelo mais coerente com a atualidade, determinou-se uma regressão com base nos dados levantados de motores utilizados por rebocadores modernos. A regressão, vista na Figura 22, foi então incorporada ao modelo de síntese. Peso em função da potência do motor 140 Peso = 4.44E-07 * BHP2 + 7.61E-03 * BHP R2 = 0.94 120 100 Peso (ton) 4.2.3 – Resistência ao avanço 80 60 40 20 0 0 2500 5000 7500 10000 12500 Potência (HP) Coeficiente de Almirantado em função do Comprimento Peso em função da potência do motor 14 12 CA = 0.0068 * L2 + 0.6875 * L + 7.7671 R2 = 0.89 140 10 120 Peso (ton) Coeficiente de Almirantado (ton^2/3 * nos^3 / HP) 160 100 80 60 8 6 4 40 2 20 0 0 0 20 40 60 80 100 0 Caterpillar Porto e Alto Mar 1000 1500 2000 Potência (HP) Com prim ento (m ) Porto 500 Wartsila MAN Parsons Alto Mar e Salvamento Figura 21 – Coeficiente de Almirantado em função do comprimento da embarcação. Novamente é importante observar que tradicionalmente o CA é utilizado para determinar a potência requerida por uma embarcação para que esta atinja a velocidade desejada. No entanto, o rebocador não é projetado para corrida livre e, nesse caso, o CA é utilizado para, a partir da potência instalada e do porte da embarcação, estimar a velocidade alcançada. 4.2.5 – Peso do Motor A estimativa do peso do motor foi inicialmente feita utilizando-se a formulação proposta por PARSONS (2003). Porém essa Figura 22 – Peso do motor em função da potencia fornecida. 4.2.6 – Diâmetro do Propulsor A partir do levantamento de dados de navios semelhantes é possível estimar o diâmetro máximo do propulsor em função do pontal da embarcação. Tradicionalmente o diâmetro máximo do propulsor é definido como uma porcentagem do calado da embarcação, respeitando margens em relação ao casco. No entanto, no caso de rebocadores, o objetivo de maximizar a capacidade de reboque resulta em propulsores que, na maioria dos casos, ultrapassada o calado do casco da embarcação (Figura 2) e por essa 11 razão, uma melhor estimativa do diâmetro máximo do propulsor é obtida considerandose o pontal da embarcação. Essa relação é apresentada na figura abaixo. Diâmetro do propulsor em função do Pontal Diâmetro do Propulsor (mm) 3500 Dprop = 531.79 * D R2 = 0.82 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 0 1 2 3 4 5 6 A determinação do coeficiente de secção mestra dos rebocadores foi feita com base na secção estrutural apresentada na Figura 24. É importante ressaltar que o modelo trabalha apenas com a hipótese de duplo fundo, não sendo possível considerar a existência de fundo simples. Essa hipótese simplificadora foi adotada, pois a introdução da possibilidade de fundo singelo aumentaria a complexidade do modelo e não representaria a atual tendência da presença de duplo fundo entre os rebocadores modernos. A espessura mínima requerida para cada uma das chapas e conveses é obtida por meio do gráfico especifico para o projeto de rebocadores portuários, apresentado na figura abaixo. Pontal (m ) Porto Porto e Alto Mar Alto Mar e Salvamento Figura 23 – Diâmetro do propulsor em função do pontal da embarcação. Pode-se observar na Figura 23 que uma primeira aproximação para o diâmetro do propulsor de um rebocador, a partir das variáveis de projeto, pode ser obtida como sendo 0.53 do pontal. 4.2.7 – Projeto Estrutural Essa etapa consiste na construção de um modelo de síntese do arranjo estrutural a partir das recomendações de projeto estabelecidas por (LAMB, 2003) e das formulações da norma DNV (Det Norske Veritas, 2012) para navios de deslocamento construídos em aço com comprimento inferior a 100 metros. A definição da secção mestra estrutural segue o arranjo proposto por (LAMB, 2003) para rebocadores portuários, o qual é apresentado na figura abaixo. Figura 24 – Arranjo típico da secção mestra de rebocadores portuários. Fonte: (LAMB, 2003). Comprimento (m) Figura 25 – Espessura do chapeamento em função do comprimento da embarcação. Fonte: (LAMB, 2003). O cálculo das dimensões correspondentes aos reforçadores longitudinais, transversais e das anteparas foi realizado seguindo as determinações da norma DNV (Det Norske Veritas, 2012). Uma vez que todos os elementos tenham sido dimensionados, o modelo calcula o módulo da secção projetada a fim de assegurar que atenda ao módulo mínimo requerido pela norma. Uma primeira estimativa da massa dos elementos longitudinais pode então ser feita calculando-se a área de cada um desses elementos estruturais e considerando que essa será constante ao longo do comprimento do navio. O segundo passo para o cálculo da massa é considerar as estruturas transversais do 12 A relação incorporada ao modelo e apresentada na Figura 26, correlaciona a capacidade de combustível disponível na embarcação em função de seu deslocamento. Capacidade de combustivel em função do Deslocamento 500 Capacidade de Combustivel (m^3) navio, isto é, os perfis que constituem as cavernas gigantes e anteparas. Embora essa estimativa precise ser ajustada para as regiões de proa e popa da embarcação, fornece uma primeira estimativa coerente para o peso estrutural do rebocador. É importante ressaltar que a distância entre anteparas é tratada como um parâmetro fixo do problema, visto que esta característica está associada ao arranjo e a estabilidade avariada da embarcação. No caso dos rebocadores, foi assumido que a distância entre anteparas corresponde ao comprimento da praça de máquinas, o qual foi estimado a partir dos navios semelhantes. Combustivel = 3.460E-05 * Δ^2 + 0.1668 * Δ R2 = 0.99 400 300 200 100 0 0 4.2.8 – Integração casco hélice motor Esse processo consiste em se determinar o ponto de operação do motor, partindo da potência consumida pelo casco, e analisando a eficiência do propulsor. Tradicionalmente, essa integração é feita a partir do emprego das curvas Kt e Kq do propulsor. O modelo de síntese construído considera apenas os hélices da série BTroost, já que esta é uma das séries mais utilizadas e cobre uma grande faixa de aplicações. Eventualmente, poder-se-ia considerar qualquer outro propulsor que fosse de interesse do projeto. Assim, partindo-se dos dados do motor, do diâmetro do propulsor e da curva de resistência ao avanço é determinado o coeficiente de avanço (J) para a condição de corrida livre do rebocador. 500 Porto 4.2.10 – Capacidade de combustível A estimativa da capacidade de combustível foi realizada com base nos dados obtidos de navios semelhantes. 2000 Alto Mar e Salvamento Figura 26 – Capacidade de combustível em função do comprimento da embarcação. 4.2.11 – Comprimento entre perpendiculares Analisando-se os dados de navios semelhantes observa-se uma excelente correlação entre o comprimento total dos rebocadores e seu comprimento entre perpendiculares. Essa relação é apresentada na figura abaixo. Comprimento entre Perpendiculares em função do Comprimento Total 90 80 Lpp = 0.8893 * Loa R2 = 0.99 60 Lpp (m) Embora, conforme já mencionado, a capacidade de manobra seja uma característica importante para a avaliação de desempenho de um rebocador, esta se deve muito mais aos equipamentos e sistemas de governo do que do projeto conceitual/preliminar da embarcação. Ou seja, a capacidade de manobra de um rebocador é mais influenciada pelas características do leme, a existência de bow thrusters, hélices azimutais, etc., do que pelas características geométricas do casco da embarcação. Por essa razão, esse atributo não será avaliado diretamente pelo modelo de síntese proposto. 1500 Porto e Alto Mar 70 4.2.9 – Manobra 1000 Deslocam ento (m ^3) 50 40 30 20 10 0 0 20 40 60 80 100 Loa (m ) Porto Porto e Alto Mar Alto Mar e Salvamento Figura 27 – Comprimento entre perpendiculares em função do comprimento total da embarcação. 5 – Projeto otimizado Entre os diversos atributos avaliados pelo modelo de síntese descrito na secção anterior, foram definidos dois atributos para servirem de critério na avaliação das soluções de projeto: o deslocamento e a capacidade de reboque (Bollard Pull). 13 5.1 – Objetivos Nesta secção serão apresentados os atributos do rebocador que serão utilizados como critérios de qualificação e otimização das soluções propostas. 5.1.1 – Deslocamento O primeiro objetivo a ser analisado no projeto será o deslocamento do navio, sendo que este pode ser determinado pela equação: Δ = Lwl * B * T * Cb (6) Onde: Lwl representa o comprimento molhado e foi estimado como sendo 90% do comprimento total do rebocador. A minimização do deslocamento está associada a redução do peso leve e eventualmente ao custo de fabricação e operação da embarcação, além de representar menor massa inercial a ser movida durante as manobras da embarcação. A influência do deslocamento na capacidade de manobra do rebocador pode ser vista no gráfico da figura abaixo. Bollard Pull por unidade de potência em função da Densidade de Potência 22 Bollard Pull por unidade de Potência (kg/kW) Conforme visto na Figura 15, o objetivo de minimizar o deslocamento da embarcação é conflitante ao objetivo de maximizar o Bollard Pull do rebocador. Dessa forma, deve-se determinar um conjunto de soluções que representem um balanço entre esses dois atributos. 20 18 16 14 12 10 200 300 400 500 600 700 Densidade de Potência (kW/m ²) Figura 29 – Determinação do Bollard Pull em função da densidade de potência instalada. Fonte: (MAN, 2012). É importante observar que o modelo proposto pressupõe um sistema propulsor composto por dois eixos paralelos de mesmo diâmetro. Para a utilização do gráfico da Figura 29, é necessário determinar a densidade total da potência instalada, a qual é função da potência dos motores e do diâmetro do propulsor: Densidade de Potência = SHP / (π / 4 * Dprop² ) (7) Onde: é o diâmetro do propulsor (m). Dprop SHP é a potência disponível nos eixos propulsores (kW), foi estimado como 0.97 da potência instalada. Para verificar a aderência do modelo proposto, as informações dos barcos disponíveis foram comparadas as estimativas realizadas. Os resultados são apresentados na figura abaixo. Avaliação do modelo de predição do Bollard Pull 140 Figura 28 – Influência do deslocamento na manobrabilidade da embarcação. Adaptado de (NOMOTO, 1960). 5.1.2 – Bollard Pull O segundo objetivo será o Bollard Pull, o qual foi modelado segundo o trabalho de MAN (2012), e pode ser calculado por meio do gráfico apresentado na Figura 29. Bollard Pull (ton) 120 100 80 60 40 20 0 1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 Rebocador Valor Estimado Valor Real Figura 30 – Comparação entre o valor de Bollard Pull previsto pelo modelo e o valor existente nas embarcações estudadas. 14 5.2 – Restrições O projeto de um navio está sujeito a restrições que vão desde os requisitos do armador até restrições de construção e modelagem. 5.2.1 – Restrições de arranjo O projeto do rebocador está diretamente associado ao arranjo da praça de máquinas. O modelo proposto estima a potência instalada a partir do porte da embarcação. Essa relação está eventualmente associada a relação existente entre a potência fornecida e as dimensões geométricas dos motores. No entanto, o arranjo típico da praça de maquinas somente é viável se certas proporções geométricas forem respeitadas, permitindo assim a instalação correta dos motores e demais equipamentos. Para assegurar esse arranjo, foram incluídas duas restrições (R12 e R13), apresentadas nas Figuras 31 e 32, que relacionam os valores mínimos admissíveis de B e D em função da potência instalada na embarcação. Boca em função da potência instalada 20 18 16 14 Boca (m) O gráfico da Figura 30 está dividido em 3 grupos de dados: O primeiro correspondendo as embarcações portuárias, o segundo aos rebocadores de porto e de alto mar e o último correspondendo ao rebocadores de alto mar e salvamento. Os resultados obtidos apresentam um erro médio de 6.6% representando uma aderência suficientemente boa para serem utilizados na metodologia proposta. É importante considerar que este modelo de predição já considera a existência de dutos nos propulsores. Segundo (MAN, 2012), o rendimento de um hélice com duto na atividade de reboque pode ser de 25% a 40% superior ao sistema sem duto. Por outro lado, a existência do duto aumenta o arrasto do rebocador em corrida livre. Por essa razão alguns rebocadores de alto mar e salvamento (que precisam realizar longas viagens em alto mar) não apresentam dutos, sendo justamente nesses casos os maiores erros do modelo desenvolvido para a predição da capacidade de bollard pull. 12 10 8 6 4 B min = -1.776E-08 * BHP2 + 1.059E-03 * BHP + 4.235 2 0 0 5.2.1 – Restrições explícitas Porto 5000 7500 BHP Porto e Alto Mar 10000 12500 15000 Alto Mar e Salvamento Figura 31 – Restrição de boca em função da potência instalada na embarcação. (R12) Pontal em função da potência instalada 10 9 8 Pontal (m) O primeiro grupo de restrições está relacionado a faixa de variação admissível para cada uma das variáveis de projeto. Essas restrições são chamadas de restrições explicitas e foram apresentadas na Tabela 4. É importante observar que essa faixa de valores não deve ser muito restritiva para não condicionar as soluções determinadas pelo processo de otimização, fornecendo apenas uma restrição preliminar para o inicio do processo. Inicialmente o modelo considerava o coeficiente de bloco (Cb) como uma variável de projeto. No entanto, o modelo de síntese construído indica que o Cb não influência no Bollard Pull do rebocador e nesse caso o resultado do processo de otimização seria a óbvia convergência do Cb para o menor valor da região viável. Para evitar esse resultado inverossímil o Cb será estimado a partir da curva apresentada na Figura 13, se tornando um atributo da embarcação a ser determinado. 2500 7 6 5 4 3 2 D min = -8.889E-09 * BHP2 + 5.102E-04 * BHP + 1.916 1 0 0 Porto 2500 5000 7500 BHP Porto e Alto Mar 10000 12500 15000 Alto Mar e Salvamento Figura 32 – Restrição de pontal em função da potência instalada na embarcação. (R13) A eliminação da variável L no cálculo da estimativa da potência instalada na embarcação resultou em uma incoerência observada no processo de otimização. 15 A seguir encontram-se as restrições referentes aos requisitos normativos, as quais estão listadas na Tabela 5. Essas são as restrições mais fortes do projeto e não devem ser violadas sob pena de que o projeto final não seja viável ou não apresente o desempenho desejado. Tabela 5 – Restrições funcionais Símbolo Variáveis Descrição Mínimo ( ) R1 Gmt Altura Metacentrica * R2 BHP Potência Instalada R3 J Coeficiente de Avanço R4 Z Módulo da Secção R5 BL Borda Livre R7 Dprop Diâmetro do Propulsor R8 Wcarga Carga / Lastro R9 Vm Velocidade máxima Máximo 0.6 m ‐ ‐ 20000 0 ‐ (**) ‐ 0.3 m 3.0 m ‐ 7.0 m 0.005 * Δ ‐ 10 nós Tabela 6 – Faixa de validade dos métodos Parâmetro (DNV, 2012) (HOLTROP, 1977) Sigla Mínimo Máximo Número de Froude R6 Fn 0.00 0.55 (*) Coeficiente Prismático R15 Cp 0.55 0.85 Coeficiente de Bloco R16 Cb 0.4 0.8 Boca / Calado B/T 2.1 4.0 Comprimento / Boca R18 L/B 3.9 14.9 Comprimento R10 L ‐ 100 m 1.0 m ‐ R11 ‐ T Sistema de eixo duplo ‐ ‐ ‐ Existência de duto ‐ ‐ ‐ 2.2 ‐ Altura Duplo Fundo Raio do Bojo (MAN, 2012) 5.2.2 – Restrições funcionais 1984). No caso dessas restrições serem violadas, a avaliação da resistência ao avanço da embarcação deve ser feita a partir do emprego de outro método, como por exemplo, a simulação numérica computacional. Navios Semelhantes Ao se minimizar o deslocamento, o processo resultava na óbvia convergência ao menor valor de L/B admissível, pois, no modelo desenvolvido, o comprimento não resultava em aumento da capacidade de reboque do rebocador. Para contornar esse problema o autor sugere duas alternativas: a inclusão da formulação proposta na Figura 19, que estima a potência instalada no rebocador com base no número cúbico, ou a inclusão de uma restrição de mínimo comprimento admissível. Na ausência de informações sobre o comprimento requerido pela praça de máquinas em função da potência instalada, a alternativa foi a substituição da predição da potência instalada em função do produto B * D, pelo modelo preditivo baseado no número cúbico. Comprimento / Boca R17 L/B Comprimento / Boca R18 L/B ‐ 5.5 Boca / Calado R19 B/T 1.0 Borda Livre R10 BL 3.0 m Boca / Calado R20 B/T 4.5 * Embora o método permita calcular embarcações com Froude até 1.0, na prática, rebocadores alcançam no máximo Froude 0.55, indicando regime de planeio. Nas Tabelas 5 e 6 aparecem diversas restrições equivalentes, as quais foram explicitadas a titulo de comparação, não interferindo na construção do modelo. 6 – Fluxograma de avaliação da solução Na figura abaixo é apresentado o fluxograma do processo de avaliação de cada uma das configurações de projeto analisadas. ( ) * O valor 0.6 m já incorpora a reserva de estabilidade transversal em decorrência da atividade de reboque. ( **) Estimado com base na norma (DNV, 2012). 5.2.2 – Restrições de modelagem Por fim encontram-se listadas na Tabela 6 as restrições de modelagem. Essas restrições advêm das faixas de aplicação dos métodos empregados na análise do desempenho da embarcação. Essas restrições podem ser consideradas fracas, pois quando violadas, requerem que um novo método de avaliação seja empregado para verificar os resultados. Um exemplo ocorre com as restrições relativas ao Método de Holtrop (HOLTROP, Figura 33 – Processo de avaliação das características de desempenho do rebocador. A partir da solução descrita apenas pelas variáveis de projeto enumeradas na Tabela 3, são calculados, de acordo com os modelos descritos na secção anterior, os seguintes atributos de desempenho da embarcação: 16 coeficientes de forma, características hidrostáticas, resistência ao avanço, instalação propulsora, capacidade de reboque, estrutura, arranjo, pesos e centros e finalmente estabilidade. Por fim as estimativas iniciais de massa e ângulo de trim são reavaliadas para assegurar que os dados são coerentes com os valores avaliados na etapa de pesos e centros. Parâmetros Descrição Real Estimado Wfuel Capacidade Combustível (ton) 155 147 S Espaçamentro entre Cavernas (mm) 500 497 tmin Chapa: Espessura Minima (mm) 9.0 10.5 tfundo Chapa: Espessura Fundo (mm) 12.0 13.6 tcrit Chapa: Espessura Critica (mm) 19.0 25.3 GMt Altura Metacentrica Transversal (m) ‐ 1.4 LCB LCB % do LWL ‐ ‐ 0.28 % 6.1 – Exemplo de aplicação Wstell ‐ 187 Para a validação do modelo de síntese construído é necessário realizar uma avaliação através da análise de embarcações cujos dados são conhecidos e confiáveis. A embarcação escolhida para a avaliação do modelo de síntese desenvolvido foi o clássico projeto RAmparts Class 3200, desenvolvido por (RA, 2012). Diversas embarcações baseadas nesse projeto foram consultadas para obterem-se as informações necessárias, entre elas: Boa TBN, Statia Star, Boa Njord, Pilbara Thor e Sea Boats RAmparts Class 3200 ASD Tug. Na Tabela 7 são mostrados as dimensões principais referentes aos rebocadores da classe RAmparts 3200. Gsteel Massa da Estrutura (ton) Pos. Vertical do Centro Estrutural (m) Carga ou Lastro (ton) ‐ 2.85 ‐ 348 Tabela 7 – Dados do navio exemplo Loa Descrição Navio Padrão Comprimento 32.00 m B Boca 11.60 m T Calado 4.30 m D Pontal 5.36 m Na Tabela 8 são apresentados os resultados estimados por meio do modelo de síntese apresentado neste artigo, a partir das dimensões descritas na Tabela 7, bem como os respectivos valores apresentados pela embarcação real em cada um dos atributos considerados. Tabela 8 – Comparação entre dados reais e estimados pelo modelo de síntese Parâmetros Descrição Real Estimado Lwl Comprimento Linha d’água (m) 30.4 30.4 Lpp Comprimento Perpendiculares (m) 30.0 28.5 Δ Deslocamento (ton) 901 891 ( ) (*) Calculado com base no deslocamento nominal. Para se verificar a estimativa da massa estrutural obtida pelo modelo de síntese, foi realizada uma comparação com a formulação proposta por WATSON (1998). O modelo proposto estimou a massa estrutural em aproximadamente 187 toneladas de aço, enquanto a formulação de Watson estimou a massa em 191 toneladas, uma diferença de cerca de 3%. Os resultados obtidos foram suficientemente bons para a aplicação da metodologia de otimização proposta neste artigo. 6.2 – Algoritmo de otimização. Variáveis Símbolo Cb Coeficiente de Bloco * 0.61 0.57 BHP Potência Instalada (HP) 4824 4840 Dp Diâmetro do Propulsor (mm) 2600 2850 BP Bollard Pull (ton) 65.7 62.6 Vm Velocidade Máxima (nós) 13.5 12.5 Segundo (DEB, 2002), os algoritmos genéticos são técnicas de busca inspiradas em mecanismos de genética e seleção natural. Dada uma população inicial de soluções, esta evolui até os indivíduos convergirem para uma solução, por meio da aplicação de operadores genéticos de seleção, cruzamento e mutação. Considerando um problema de otimização qualquer, os algoritmos genéticos iniciam a busca da melhor solução a partir de um conjunto inicial de soluções aleatórias. Cada elemento do conjunto inicial de soluções é denominado indivíduo. Em seguida, uma nova população ou geração é construída a partir da população inicial. Para criar os indivíduos da nova população, são utilizados operadores genéticos de cruzamento e mutação. Uma população é obtida a partir da anterior aplicando-se o cruzamento para aqueles indivíduos com maior valor de aptidão, simulando o processo de seleção natural. O processo de geração de novas populações é repetido iterativamente até que o algoritmo genético chegue a uma solução aceitável, ou satisfaça alguma condição de parada. 17 7 – Resultados Bollard Pull em função do Deslocamento 300 7.1 – Busca exploratória (Sobol) Conforme descrito na secção anterior, a aplicação de um algoritmo genético depende da geração aleatória de uma população inicial. Infelizmente se todos os indivíduos da população inicial forem inviáveis, o algoritmo apresentará grandes dificuldades de convergência. Por essa razão, um estudo inicial do problema foi feito a partir de uma busca exploratória da região viável. Utilizando-se o algoritmo SOBOL (BRATLEY E FOX, 1988) foi gerado um conjunto representativo de 10000 soluções hipotéticas. Na figura abaixo é apresentada a efetividade de cada restrição no conjunto exploratório. R20 3% Efetividade das Restrições R2 3% R1 9% R19 5% R3 3% R4 4% R5 16% R18 0% R17 9% R6 1% R16 0% R15 0% R13 8% R7 6% R12 7% R11 6% R10 11% R9 4% R8 4% Figura 34 – Efetividade das Restrições: Sobol. Conforme pode ser verificado na Figura 34, as restrições mais ativas são na ordem de relevância: Estabilidade Transversal Inicial (R1), Borda Livre mínima e máxima (R5 e R10), Coeficiente L/B (R17), e Pontal Mínimo na praça de Máquinas (R13). Convém observar que apenas cerca de 2% das soluções geradas foram viáveis para o projeto do rebocador. Na Figura 35 é apresentada a dispersão dos dados referentes à correlação entre Bollard Pull e deslocamento das soluções analisadas na busca exploratória inicialmente. Para auxiliar na convergência do algoritmo de otimização, um conjunto de embarcações viáveis foi selecionado a partir do Sobol exploratório para ser utilizado como população inicial do processo de otimização. O autor destaca ainda que seria possível utilizar o conjunto de embarcações semelhantes como população inicial com resultados similares. Bollard Pull (ton) 250 200 150 100 50 0 0 Sobol 2000 Viáveis 4000 6000 8000 10000 12000 14000 Deslocam ento (m ^3) Figura 35 – Bollard Pull em função do deslocamento da embarcação Para aprofundar o estudo a cerca do problema foi elaborada uma análise da influência das variáveis de projeto em relação aos atributos considerados. A Figura 36 mostra um gráfico com os efeitos dos parâmetros geométricos no deslocamento da embarcação. O gráfico é elaborado da seguinte maneira: para cada fator, o conjunto de dados é dividido em dois grupos a partir da mediana, isto é, forma-se um grupo com as soluções com os maiores valores do fator (+) e outro com os menores valores (-). Em seguida é tomada a média da resposta em cada um desses grupos. A média do grupo (-) é representada em azul, já a do grupo (+) em vermelho. A distância entre os valores médios de cada grupo está diretamente correlacionada com a influência que esse parâmetro tem no atributo analisado. Figura 36 – Efeitos das variáveis do atributo Deslocamento da embarcação. Pode-se observar que todos os atributos apresentam influências similares no cálculo do deslocamento da embarcação. Teoricamente o pontal D não apresentaria influência no deslocamento. No entanto, convém lembrar que esse gráfico corresponde apenas as soluções viáveis e por essa razão, 18 certos limites dos coeficientes L/B e B/D devem ser atendidos, resultando na influência mostrada na Figura 36. Na figura abaixo é mostrada a influência das variáveis de projeto na capacidade de reboque da embarcação. Além disso, a proximidade da Fronteira obtida após 200 gerações e após 120 gerações do algoritmo genético indicam que as soluções encontradas caracterizam a Fronteira de Pareto conceitual do problema proposto. As soluções que correspondem aos extremos da Fronteira de Pareto mostrada na Figura 38 correspondem as soluções de mínimo deslocamento e máximo Bollard Pull. Na Tabela 9 são apresentados os dados referentes a essas soluções. Tabela 9 – Otimização monobjetiva do Deslocamento (Δ) e Bollard Pull (BP) Resultados Loa Figura 37 – Efeitos das variáveis do atributo Bollard Pull da embarcação. Novamente observa-se que todos os parâmetros influenciam a capacidade de reboque da embarcação. No entanto, o parâmetro de maior influência é o pontal, visto que este determina a potência instalada e principalmente, o diâmetro do propulsor existente na embarcação. 7.2 – Otimização multiobjetivo (NSGA2) (5) A seguir apresenta-se na Figura 38 o resultado da otimização multiobjetivo que minimiza o deslocamento e maximiza o bollard pull do rebocador para o modelo de síntese desenvolvido e apresentado neste artigo. BP * Comprimento Total (m) 17.04 38.35 Boca (m) 7.36 17.49 T Calado (m) 1.89 3.59 D Pontal (m) 3.54 6.55 Δ Deslocamento (ton) 125 1375 BP Bollard Pull (ton) 25.1 100.7 Cb Coeficiente de Bloco 0.54 0.59 Cp Coeficiente Prismático 0.64 0.70 L/B Coeficiente L/B 2.31 2.19 B/D Coeficiente B/D 2.08 2.67 B/T Coeficiente B/T 3.90 4.88 Lwl Comprimento Linha d’água (m) 16.19 36.43 Lpp Comprimento Perpendiculares (m) 15.15 34.10 BHP Potência Instalada (HP) 1905 7919 Dp Diâmetro do Propulsor (mm) 1883 3481 Vm Velocidade Máxima (nós) 11.8 14.2 Fn Número de Froude – Vm 0.48 0.39 Capacidade Combustível (ton) 17.9 245.9 Wfuel S Espaçamentro entre Cavernas (mm) 470 509 Chapa: Espessura Minima (mm) 8.57 13.45 tfundo Chapa: Espessura Fundo (mm) 10.61 16.5 tcrit Chapa: Espessura Critica (mm) 11.83 25.29 GMt Altura Metacentrica Transversal (m) 1.08 5.21 70 LCB LCB % do LWL ‐1.00 0.03 60 Wstell Massa da Estrutura (ton) 46.7 383.9 100 90 80 Bollard Pull (ton) ( ) Δ B tmin Bollard Pull em função do Deslocamento Descrição 50 40 Gsteel 30 BL 20 10 0 0 200 400 600 800 1000 1200 Deslocam ento (m ^3) NSGA2 - 200 Gerações NSGA2 - 120 Gerações NSGA2 - 80 Gerações NSGA2 - 40 Gerações Figura 38 – Fronteira de Pareto Pos. Vertical do Centro Estrutural (m) 1.88 3.80 Borda Livre 1.65 2.96 Carga ou Lastro (ton) 5.9 375.6 (*) Foi considerado um limite de 1200 m3 de deslocamento, para que a solução encontrada estivesse na categoria de reboque portuário. Por fim, apresenta-se na Figura 39 uma comparação entre a Fronteira de Pareto estabelecida e os pontos obtidos através do Sobol de exploração da região viável. (5) A aplicação das técnicas de otimização (NSGA2), busca exploratória (Sobol) e análise de correlação foram feitas com o auxílio do programa modeFrontier. 19 Bollard Pull em função do Deslocamento Boca em função do Deslocamento 20 300 18 16 14 200 Boca (m) Bollard Pull (ton) 250 150 12 10 8 100 6 4 50 2 0 0 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 0 200 Deslocam ento (m ^3) Sobol Viáveis 400 600 800 1000 1200 Deslocam ento (m ^3) Fronteira de Pareto Figura 39 – Comparação entre a Fronteira de Pareto e o Sobol exploratório Rebocadores Reais Pareto - Baixo Deslocamento Pareto - Médio Deslocamento Pareto - Alto Deslocamento Figura 40c – Comparação dos barcos reais e da Fronteira de Pareto (Boca) 7.3 – Avaliação da Fronteira de Pareto Bollard Pull em função do Deslocamento Calado em função do Deslocamento 6 5 Calado (m) Nesta secção são comparadas, na Figura 40, as embarcações existentes, apresentadas nas Tabelas de 1 a 3, em relação a Fronteira de Pareto conceitual obtida e apresentada na Figura 38. 100 4 3 2 1 Bollard Pull (ton) 80 0 0 60 200 400 600 800 1000 1200 Deslocam ento (m ^3) 40 Rebocadores Reais Pareto - Baixo Deslocamento Pareto - Médio Deslocamento Pareto - Alto Deslocamento Figura 40d – Comparação dos barcos reais e da Fronteira de Pareto (Calado) 20 0 0 200 400 600 800 1000 1200 Deslocam ento (m ^3) Fronteira de Pareto Porto Porto e Alto Mar Pontal em função do Deslocamento Alto Mar e Salvamento 8 Figura 40a – Comparação dos barcos reais e da Fronteira de Pareto (Bollard Pull) 6 Pontal (m) Comprimento em função do Deslocamento 60 Comprimento (m) 7 5 4 3 2 50 1 40 0 0 200 30 400 600 800 1000 1200 Deslocam ento (m ^3) 20 10 Rebocadores Reais Pareto - Baixo Deslocamento Pareto - Médio Deslocamento Pareto - Alto Deslocamento Figura 40e – Comparação dos barcos reais e da Fronteira de Pareto (Pontal) 0 0 200 400 600 800 1000 1200 Deslocam ento (m ^3) Rebocadores Reais Pareto - Baixo Deslocamento Pareto - Médio Deslocamento Pareto - Alto Deslocamento Figura 40b – Comparação dos barcos reais e da Fronteira de Pareto (Comprimento) A análise dos resultados permite concluir que o modelo de síntese desenvolvido e apresentado neste artigo forneceu resultados extremamente coerentes com a realidade dos 20 rebocadores portuários atualmente em operação. Os rebocadores projetados por meio da metodologia de otimização apresentaram valores maiores de Boca e Pontal quando comparados aos rebocadores atualmente em operação. Por outro lado os rebocadores projetados apresentam menores valores de Calado. A seguir é apresentada na Figura 41 a dispersão das variáveis e atributos das soluções da Fronteira de Pareto para o projeto otimizado de rebocadores. meio de um problema de otimização multiobjetivo. Apresenta-se a construção de um modelo de síntese e os resultados da Fronteira de Pareto para o projeto de rebocadores de máximo Bollard Pull e mínimo deslocamento. Os resultados da Fronteira de Pareto conceitual são então comparados aos dados referentes as embarcações reais analisadas. É importante observar que todas as embarcações consideradas no levantamento de dados foram analisadas e consideradas viáveis segundo o modelo de síntese desenvolvido e apresentado nesse artigo. Como recomendação futura, busca-se uma melhor modelagem do Coeficiente de Bloco do rebocador portuário. Eventuais variações entre os dados de embarcações reais e o modelo preditivo devem-se, em grande parte, a variabilidade do Coeficiente de Bloco. 9 – Referências Bibliográficas ALAMILLO, A. A., “Remolcadores Y Lanchas Remolcadoras De La Armada (1860-1940)”, Damare, ISBN: 9788493583545, 2007. Figura 41 – Dispersão das variáveis e atributos das soluções da Fronteira de Pareto. Por fim as soluções apresentadas no gráfico da Figura 41 são filtradas para melhor representarem a faixa de embarcações destinadas as operações portuárias. As soluções destinadas ao reboque portuário (comprimento menor do que 40 m) são apresentadas na figura abaixo. ALLAN, R. G.; “Report: The Impact of Regulations on Towing Vessel Safety: A Comparative Evaluation of Canadian and American West Coast Tug and Barge Operations”, Transport Canada. Marine Safety Directorate, 2005. ANDRADE, B. L. 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