o resgate histórico da industrialização de uberlândia

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o resgate histórico da industrialização de uberlândia
O RESGATE HISTÓRICO DA INDUSTRIALIZAÇÃO DE UBERLÂNDIA
(MG)
Micheli Pereira Costa
Rafaela Maximiano Dantas
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo analisar o desenvolvimento da indústria brasileira
durante o século XX, sobretudo no pós Segunda Guerra Mundial, e observar os
desdobramentos da macro política econômico-industrial brasileira na região de Uberlândia e
no Triângulo Mineiro neste mesmo período.
A luz das teorias de FURTADO (1964), SANTOS (1997), PAULA (2002), MORAES
(2009), NASCIMENTO JR. (2004), dentre outros teóricos, busca-se observar a íntima relação
entre o desenvolvimento da indústria no Brasil e a transição econômica e social vivenciada
pela sociedade durante a saída de um modelo agroexportador, para a entrada no modelo
urbano industrial que hoje vigora. Por fim salientar-se-á como esse processo verticalizado de
infiltrações de capital internacional, transformação do território e mudança social se refletiu
em Minas Gerais e no Triângulo Mineiro.
MORAES (2009) afirma que em alguns lugares do território a chegada da
modernidade, expressa na vinda de firmas (sobretudo ligadas ao ramo industrial) bem como
de obras estatais (rodovias, infraestrutura urbana etc) ocupa papel ímpar não somente no
sentido de objetivar a produção capitalista no lugar, mas também de superar a condição de
“sertão” e impregnar o território com novas “ideologias geográficas”. Deste modo, estudar a
industrialização no Triângulo Mineiro é também entender a chegada de novas ideais à região.
Na verdade, o sertão não é um lugar, mas uma condição atribuída a variados
e diferenciados lugares. Trata-se de um símbolo imposto – em certos
contextos históricos – a determinadas condições locacionais, que acaba por
atuar como um qualificativo local básico no processo de sua valoração.
Enfim, o sertão não é uma materialidade da superfície terrestre, mas uma
realidade simbólica: uma ideologia geográfica. (MORAES, 2009, p.90).
Assim veremos que ocorreu na história de Uberlândia, favorecida por fatores
locacionais e também pela vontade política de alguns agentes a época, a chegada da
industrialização transformou a cidade num ponto de referência na produção e no escoamento
da mesma do Centro-Sul brasileiro, superando a condição de isolamento, a ausência de poder
público e das grandes firmas capitalistas nesta porção do território.
DESENVOLVIMENTO
Da crise do café a formação das bases da indústria no Brasil
O economista Carlos Manoel Peláz em suas pesquisas engrossa a lista de teóricos que
creem que o desenvolvimento industrial brasileiro está intimamente ligado a crise
internacional do capitalismo no final da década de 1920. Peláz assume a teoria de que o crack
da bolsa de valores de Nova York foi fator fundamental para a substituição do modelo de
exportação de comodities agrícolas para a política de desenvolvimento industrial brasileira.
Até a década de 1930 a base da economia paulista, principal produtor de riquezas no
Brasil, estava fundamentada na produção e exportação do café. Com o colapso da economia
dos países capitalistas industrializados (EUA e Europa), as exportações do café brasileiro
ficaram congeladas, não havia capital ou crédito para comprar o produto. A abrupta contração
das exportações do café no Brasil foi um forte golpe na economia nacional.
A acumulação de grandes estoques de café, que resultou da política de
preços mínimos, pelos quais os governos estaduais adquiriam o excedente,
par a par com a queda das despesas dos países industriais, que implica a
contração da demanda das exportações brasileiras, acarretou uma crise
profunda no setor do café, responsável na época por 70% das exportações do
país. (PELÁZ, 1968, p.02)
Após a crise chegar à economia brasileira, o governo federal optou por tomar medidas
protecionistas, formando que FURTADO (1964) chamou de argumento da transferência.
Trata-se da ideia de incinerar os estoques de café para evitar o eventual impacto que o produto
sofreria no preço com a falta de demanda no mercado. Ainda segundo Furtado:
Na verdade o Brasil estava construindo a pirâmide que mais tarde seria
imaginada por Keynes (...) assim é que a política de proteção do café não
passou, na realidade, de um autentico programa de expansão de renda
nacional. O Brasil adotava na prática uma política anticíclica de envergadura
muito mais ampla do que a dos países industrializados, que não chegava nem
a ser sugerida... Segue-se claramente que a recuperação da economia
brasileira ocorrida de 1933 em diante, não teve por causa nenhum fator
externo, provocou-a a política de escorva de bomba (pumppimingpolitic)
adotada inconscientemente pelo Brasil como subproduto da proteção do café
(FURTADO apud PELÁZ, 1964, p.03)
Assim, no final da década de 1920 o governo brasileiro, mais por patrimonialismo do
que por qualquer afinidade com as teorias econômicas keynisianistas, optou por dar um giro
da estagnada economia cafeeira para o setor urbano industrial. Desde então nunca mais o
Brasil retrocederia no sentido do desenvolvimento econômico capitalista, iniciando o
processo que durante o pós Segunda Guerra se confirmaria na consolidação da indústria
brasileira.
Outra importante mudança que ocorreu neste período, e também por conta da crise
econômica internacional, foi a valorização do mercado interno. Com o mundo inteiro
sofrendo com a escassez de capitais o mercado interno passou a se tornar cada vez mais
atrativo. Com isso, o fluxo de investimentos que estava fortemente atrelado ao setor agrícola e
a economia do café se moveram para o desenvolvimento da indústria brasileira.
É importante notar que, primeiramente a indústria brasileira começou a crescer
utilizando-se do já existia de infraestrutura e mão de obra no país mas que não era plenamente
aproveitada devido a opção política dos grandes produtores de café paulistas. Ou seja, foi a
partir de 1933 que o maquinário existente no país passou a ser utilizando plenamente, e neste
sentido a demanda por mão de obra no setor da indústria cresceu também.
O fator mais importante da primeira fase da expansão da produção, não há
duvidar, a utilização mais intensiva da capacidade já instalada no Brasil. Por
exemplo: o produto da indústria têxtil subiu substancialmente, nos anos de
após crise, sem que houvesse nenhum aumento da capacidade instalada.Essa
utilização mais intensiva ensejou a obtenção de uma taxa de lucro por
unidade de capital mais alta, o que cria, dentro da própria empresa, os
recursos necessários para a subsequente expansão (FURTADO apud PELAZ,
1968, pag. 218)
O melhor uso das fábricas, ainda que poucas, mas mal aproveitadas gerou a primeira
leva de capitais para a expansão da indústria, o que foi ótimo para indústria brasileira que no
momento não enfrentava facilidades para obter empréstimos no exterior para compra de novas
máquinas. Um dos casos citados por Celso Furtado em seu livro é o da indústria têxtil, que
desde sua fundação no país enfrentava subsequentes crises por conta da concorrência no
exterior e outros fatores. O crack da bolsa era o que faltava para impulsionar as fábricas, que
só se recuperariam de verdade durante o pós Segunda Guerra.
A partir dos lucros obtidos com os primeiros passos da nova indústria nacional outros
equipamentos, principalmente de segunda linha, começaram a ser comprados direto das
fábricas estadunidenses e europeias em crise. O maquinário que chegava ao Brasil reforçou o
crescimento da indústria de bens de consumo. Carros, motocicletas, geladeiras, aparelhos de
rádio, roupas, dentre outros bens começaram a ser produzidos em larga escala no Brasil. A
impossibilidade comprar de fora foi o que motivou o crescimento da indústria de bens de
consumo nacional, como também afirma Furtado.
Reflete a expansão da produção orientada para o mercado interno e o
aumento substancial dos preços de importação dos bens concorrentes,
provocado pela depreciação da moeda, cria as condições que favorecem a
instalação de indústrias de bens de produção no Brasil. Por motivos óbvios
tais industriais, quando tentam instalar-se em países de economia dependente
enfrentam sérios obstáculos. A demanda dos bens de produção, em tais
economias, coincide com a expansão das exportações,principal fator que
determina o crescimento da renda e, consequentemente, comum a boa
situação cambial. .. as condições existentes no Brasil durante a década dos
trinta romperam com esse círculo vicioso.precisamente no estágio em que as
possibilidades de importação eram quase nulas"(FURTADO apud PELAZ,
1968, pag. 218)
As raízes da economia mineira
Ricardo Affonso de Paula, pesquisador do CEDEPLAR aponta que até o final do
século XVIII a economia mineira se manteve fragmentada e sem homogeneidade na cadeia
produtiva. Isso permaneceria até meados da década de 1940, quando a indústria no Brasil,
mas, sobretudo no Sudeste começou a deslanchar realmente.
O declínio da extração de ouro em Minas teve papel importante para o reforço de
outros setores da economia na época. Mesmo se mantendo desarticulada e provinciana a
economia mineira sobreviveu após a este período fundamentada em dois pilares. O primeiro
deles foi “a primeira tem na produção de gêneros alimentícios seu principal espaço de
acumulação de capitas [...] a outra, a cafeicultura se transformou na principal atividade
exportadora mineira, a partir da segunda metade dos oitocentos.” (PAULA, 2002)
Ainda segundo o autor, outro fator que impulsionou o desenvolvimento da economia
mineira foi a chegada da corte ao Brasil em 1808, o que impulsionou o crescimento da
produção de gêneros alimentícios no sul do Estado. Por outro lado durante o século XIX a
Zona da Mata assumiu o papel principal de destaque na produção de Minas Gerais, sendo a
maior zona produtora de café do Estado.
Porém o milagre do café em Minas Gerais não durou tanto quanto no Vale do Paraíba,
a partir do final do século XIX a crise que chegava a produção cafeeira mudaria os rumos do
desenvolvimento mineiro novamente.
Todavia, a partir dos anos de 1890, enquanto a cafeicultura fluminense entra
numa crise sem volta, chegando mesmo a ser substituída em vários pontos
daquela região pela pecuária extensiva, como afirma Stein (Stein, 1961: 344)
a cafeicultura mineira/matense, mesmo não tendo a desenvoltura da
cafeicultura paulista, estimulou com seus capitais a diversificação urbanoindustrial da Zona da Mata, tendo a cidade de Juiz de Fora, como principal
receptora destes estímulos. (PAULA, 2002, pag. 04)
Até o momento, o que se tinha no Estado eram poucas indústrias espalhadas,
sobretudo próximo a zona central, onde se concentravam as industrias na área de mineração
aurífera, siderúrgicas e indústria têxtil.
O desenvolvimento da siderurgia comercial mineira dependeu largamente da mão de
obra mancípia. Em que pese às fundições serem organizadas com base na separação entre
capital e trabalho, o escravo constituiu a principal força de trabalho nesse tipo de atividade
industrial. A importância do mancípio para a siderurgia mineira do século XIX leva-nos a
perceber que existiam entre os cativos bons conhecimentos na arte de fundir ferro,
constituindo-se assim em mão de obra especializada.
Na década de 1880 a indústria siderúrgica mineira sofreu dois duros golpes. O
primeiro com o início da penetração das ferrovias na região central da Província; e o segundo,
com a abolição da escravidão, que a privou de sua única vantagem diante concorrência
estrangeira, isto é, a mão de obra regular cativa. Ao falar sobre o fim da escravidão e a queda
do Império, PAULA (2002) aponta que as pequenas fundições desapareceram-se e o rápido e
quase total fracasso da tentativa de instalação de usinas durante a década de 1890 condenou
Minas Gerais a esperar mais três décadas para ver renascer a realização de sua vocação
siderúrgica.
Devido à importância da produção de café, nas Regiões da Mata e Sul, e da
produção siderúrgica, na Região Central, o crescimento industrial nas
primeiras décadas do século XX fez-se prioritariamente nestas áreas, sem a
existência de nenhum centro dominante. Juiz de Fora,posteriormente,
estagnou-se, devido à crise da cafeicultura da Zona da Mata e pela sua
incapacidade de competir com a Cidade do Rio de Janeiro(Giroletti, 1988).
Belo Horizonte, com falta de entorno agrícola dinâmico e pelas deficiências
de infraestrutura, especialmente energia elétrica,não assumiu o papel de
centro polarizador da indústria, como acontecia com as cidades de São Paulo
e Rio de Janeiro (Belo Horizonte, 1992).Somente com a criação da Cidade
Industrial de Contagem, a futura área metropolitana de Belo Horizonte
assumiria a liderança na produção industrial do Estado. (FIGUEIREDO;
DINIZ, 2000, pag. 03)
Se por um lado, a indústria siderúrgica do Estado enfrentava crises durante o século
XIX, a região sul e o Triangulo Mineiro, ao final do século começavam a experimentar a
expansão agropecuária que geraria os primeiros excedentes responsáveis por financiar o
desenvolvimento urbano industrial nestes lugares. (FIGUEIREDO; DINIZ, 2000)
Assim os já citados autores trabalham na perspectiva de que alguns fatores explicam a
configuração regional da indústria mineira. São eles: desenvolvimento de infraestrutura na
área de energia elétrica e transportes, as modificações no processo de trabalho, o acelerado
crescimento industrial que se sucedeu a partir da década de 1960, As mudanças no padrão
locacional do país (saída da indústria de São Paulo), e as políticas de incentivo (SUDENE).
Dentre outros fatores, estes impuseram uma nova dinâmica ao território de brasileiro
de Minas Gerais, possibilitando a recuperação e o surgimento de novas zonas industrias pelo
Estado, sobretudo após a década de 1950.
A chegada da indústria em Uberlândia e região
A colonização da região onde é Uberlândia remonta ainda ao século XVI, quando se
estima que os primeiros desbravadores portugueses passaram por esta região. Segundo Carlos
Brandão (1989) a região onde se situa o Triangulo Mineiro paulatinamente fora obtendo papel
de destaque no Estado como rota obrigatória de passagem para o Planalto Central.
Com o retrocesso na exploração do Ouro durante o século XVIII sabe-se que as
demais regiões da capitania de Minas Gerais tiveram papel importante na reorganização da
economia do Estado. Assim afirma Fausto (2007)
O retrocesso não atingiu toda a Capitania de Minas Gerais. Nela nem tudo
era mineração. Mesmo nos tempos de glória do ouro, a fazenda mineira
muitas vezes combinava a pecuária, o engenho de açúcar, a produção de
farinha com a lavra do ouro. Graças a pecuária, aos cereais e mais tarde à
manufatura, Minas não regrediu como um todo. Pelo contrário, no correr do
século XIX iria expandir essas atividades e manter um constante fluxo de
importação de escravos. (ANDREOZZI; MESQUITA, 2009, pag. 04).
O Triangulo Mineiro que apesar de alguns pequenos focos de mineração nunca teve
sua economia baseada nessa forma de extrativismo conseguiu não só se salvar da crise do
ouro, como ser polo de atração para novos imigrantes que vinham para Minas Gerais em
busca de oportunidades. “A origem dos povoadores da região é Minas Gerais, mais
densamente ocupada por efeito da intensa mineração do século XVIII, agora praticamente
extinta. Na sua marcha para Sudeste, os mineiros ocuparam primeiro o chamado Triângulo
Mineiro”. (PRADO JR. apud BRANDÃO, 1989, pag.20)
Com o novo contingente populacional que chegavam ao Triangulo as atividades
agropecuárias se ampliaram, fornecendo as bases para o futuro desenvolvimento industrial
que viria mais tarde.
A proximidade com São Paulo também foi fator fundamental para o crescimento da
economia regional, além de ser um entreposto entre o Sudeste e o Centro-Oeste, Uberlândia
recebeu obras importantes como a ferrovia Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, que
chegou até o local tendo em vista trazer a produção do interior do país para até o litoral
paulista.
Francisco Nascimento Jr. Afirma que “os sistemas técnicos vão se instalando no
território em função do uso que as empresas e setores da economia vão exigindo com a
finalidade de viabilizar suas atividades de forma mais competitiva (NASCIMENTO JR.,
2004, pág. 37) Neste sentido, não só a chegada da ferrovia Mogiana, mas todo o aparato
técnico que chegou a Uberlândia (estradas, silos, mercados, etc) por conta de sua histórica
posição enquanto entreposto comercial foi fundamental para o desenvolvimento da indústria
na região.
Para a chegada das industrias à cidade foi fundamental fornecer uma grande
quantidade de energia elétrica. Desta forma Uberlândia também se adiantou em procurar por
uma fonte que fosse suficientemente capaz de abrir as portas da cidade para o segundo setor.
A inauguração dos serviços de eletricidade, com o fornecimento de energia
para o desenvolvimento das indústrias, abriu incontestavelmente, para esta
cidade, uma nova era de atividade. A pouco e pouco foram se fundando
pequenas fábricas, máquinas de beneficiar arroz, algodão, serrarias etc. de
maneira que Uberlândia conta hoje (1910) cerca de 20 estabelecimentos
industriais movidos a eletricidade. (PEZZUTTI, 1922 apud BRANDÃO,
1989)
Outro fator importante que possibilitou o fortalecimento do mercado industrial em
Uberlândia foi contar com um extenso aparato de comunicações para época, o que
possibilitou não só o crescimento material da cidade, mas a interação com outros centros
urbanos de economia forte, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia, etc.
Segundo ANDREOZZI; DINIZ (2009), Uberlândia contava com a “Empresa Telefônica
Teixerinha”, criada em 1919, essa empresa que viria a se tornar a CTBC do Grupo Algar. E
que no ano de 1922 essa empresa atendia com 255 aparelhos.”
Por fim, vale comentar a opção do governo estadual e federal em optar pelo
rodoviarismo no país, o que possibilitou que Minas Gerais fosse coberta por estradas, que
facilitavam o escoamento da produção e interligavam a região a outros lugares do país. “Por
isso quanto mais avançarmos na “era rodoviária” mais sentiremos o predomínio de
Uberlândia como grande polo de redistribuição de mercadorias.” (BRANDÃO,1989, p.102)
Como já dito, o “boom” industrial brasileiro chegou somente durante a década de
1930. Com isso foi a partir desta época que a infraestrutura necessária para o
desenvolvimento industrial uberlandense começou a se fixar nesta região. Segundo NEGRI
(1966, pag.64) citada por ANDREOZZI; DINIZ:
As medidas adotadas pelo governo após 1937 fizeram com que o
desenvolvimento da indústria brasileira, e em especial a paulista, não ter
como base apenas um “crescimento industrial subordinado à dinâmica
cafeeira e sim a lógica da expansão da economia nacional, que tinha em São
Paulo seu centro dominante e onde se concentrava os principais resultados
da industrialização.
Desta maneira, fica claro que, a industrialização e a urbanização de Uberlândia tem
forte ligação com sua posição geográfica, próxima a São Paulo, polo difusor da modernidade
e cidade concentradora de capitais.
Ainda de acordo com os mesmos autores, desta vez baseados nas pesquisas de
SOARES (1988), apontam que as primeiras industrias de Uberlândia, até a década de 1940
estavam prioritariamente ligadas a carpintaria, insumos agrícolas, tenda de ferreiros, fiadeiras
fabricando tecidos de algodão, engenhos de cana, enfim, atividade prioritariamente ligadas ao
campo. Foi apenas com a instalação de sistemas técnicos modernos (como os já citados
sistemas de comunicação, transporte, etc) que a cidade conseguiu forjar um setor industrial
realmente moderno.
Milton Santos (1997) afirma que este é o paradoxo do território na modernidade, para
torna-lo mais fluído, mais veloz, mais apto a circulação de capitais é necessário torna-lo cada
vez mais ocupado por rígidos sistemas técnicos, cada vez mais modernos e velozes. Para gerar
fluidez no território é necessário torna-lo cada vez mais rígido.
Na cidade de Uberlândia não foi diferente, a chegada de modernas indústrias de
comunicações, petroquímicas,o moderníssimo agronegócio, industrias moveleiras, e grupos
atacadistas foi fruto da reorganização que o território triangulino sofreu a partir da fixação de
novos objetos técnicos capazes de deflagrar a intencionalidade dos agentes que os dominam
(novamente, ferrovias, rodovias, telecomunicações, etc).
Hoje a cidade possui (salvas algumas exceções) um moderno aparato técnico capaz de
receber várias grandes empresas na cidade. Por este motivo, segundo o relatório realizado pela
prefeitura da cidade em 2011, que se intitula, Uberlândia: projetos e resultados para
desburocratizar processos, aponta que a o município tem o segundo maior mercado
consumidor do Estado, uma grande gama de indústrias de diferentes ramos, muitos ligados a
“tecnologia de ponta”.
O mesmo relatório aponta que a localização privilegiada da cidade possibilita que num
raio de 600km da cidade haja 80 milhões de consumidores, o que representa 58% do PIB
brasileiro. O mercado destruidor e atacadista da cidade possui mais de 700 mil clientes ativos.
E recentemente a cidade recebeu o projeto de um entreposto da Zona Franca de Manaus que
promete ampliar ainda mais o raio de ação da cidade no mercado nacional. A cidade ainda
determina 60% da produção de biocombustíveis do Estado.
De acordo com referido relatório, no ano de 2011, o setor de serviços foi o setor de
maior promoção na geração de novos postos de trabalho, com 48,33% do total daquele ano,
seguido do setor de comércio (25,29%), setor industrial (18,47%), a construção civil (4,37%)
e a agropecuária com 3,54%. É possível notar que, apesar de Uberlândia ser uma cidade em
que o setor de serviços tem maior numero de trabalhadores, a indústria ainda é responsável
por mais de 18% da PEA da cidade.
Do mesmo modo, o setor industrial se destaca na contribuição ao Produto Interno
Bruto municipal em que, no ano de 2011, foi responsável por 28% do PIB total, ficando atrás
apenas do setor de serviços, cargo chefe na economia do município. Neste caso fica ainda
mais claro que, a indústria desenvolveu e desenvolve importante papel na produção de
riquezas em Uberlândia, tendo sido por muito tempo o polo principal da economia da cidade.
Estes dados comprovam a força não só da economia da cidade nos últimos anos, mas
comprovam também a importância que a indústria tem na atualidade e seu papel histórico
para consolidação de Uberlândia enquanto uma grande cidade do interior do Brasil. Só no ano
de 2009 a indústria foi responsável por 4,5 bilhões de reais injetados na economia da cidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Certamente o desenvolvimento industrial de Uberlândia foi fator fundamental para o
crescimento econômico da cidade durante a segunda metade do século XX. As razões
econômicas, políticas e históricas são muitos, e a tentativa de compreender o emaranhado de
complexas relações que floresce neste meio não é tarefa fácil.
Remontando as origens da economia brasileira vemos que a produção de café no em
São Paulo foi fundamental para engrenar não só a economia do próprio Estado, mas também
de todo Brasil. A excelente localização geográfica de Uberlândia, utilizada desde os
colonizadores foi fator fundamental para que a cidade pudesse absorver várias demandas da
economia brasileira. Sobretudo a proximidade com São Paulo motivou o “aparelhamento” do
território uberlandense por agentes hegemônicos do capital, afim de dinamizar a economia,
aumentar a produtividade e os lucros.
É no seio deste processo de desenvolvimento e progresso econômico que Uberlândia
saiu da condição de “boca do sertão” para uma das maiores cidades do Brasil. O
desenvolvimento econômico calcado primeiro nas industrias ligadas ao campo e
posteriormente as telecomunicações, transportes e alta tecnologia fez de Uberlândia grande
produtora de riqueza. Ainda que caiba avaliar a distribuição desta riqueza e a que papel se
prestou o chamado desenvolvimento econômico, neste trabalho busquei frisar a importância
da indústria uberlandense na realização deste projeto de modernização e capitalização da
cidade.
REFERÊNCIAS
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industrialização em Uberlândia: Uma análise das primeiras indústrias até o Estado
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BRANDÃO, Carlos Antônio. Triângulo: capital comercial, geopolítica e agroindustrial. 1989, 184 f.
Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Planejamento Regional) UFMG, Belo Horizonte, 1989.
NASCIMENTO JR, F. C. A especialização dos lugares na modernidade atual: O Fenômeno de
Expansão das Instituições de Ensino Superior no Território Brasileiro. 2004. Trabalho de Iniciação
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PELÁEZ, C.M. A balança comercial, a grande depressão e a industrialização brasileira. Revista
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MORAES, Antonio Carlos Robert. Ideologias geográficas: Espaço, Cultura e Política no Brasil. São
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em junho de 2014.
Acesso