pontifícia universidade católica de são paulo faculdade de filosofia
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0 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, COMUNICAÇÃO, LETRAS E ARTES COMUNICAÇÃO E MULTIMEIOS Ignácio Seiti Lima Ito AudioBranding na televisão brasileira Rede Globo e Rede Record SÃO PAULO 2012 1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, COMUNICAÇÃO, LETRAS E ARTES COMUNICAÇÃO E MULTIMEIOS Ignácio Seiti Lima Ito AudioBranding na televisão brasileira Rede Globo e Rede Record Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência para Graduação no curso de Comunicação e Multimeios da Faculdade de Comunicação e Filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Orientadora: Profa. Dra. Pollyana Ferrari. . SÃO PAULO 2012 2 BANCA EXAMINADORA _________________________________ _________________________________ _________________________________ _________________________________ 3 DEDICATÓRIA A todos os amigos e irmãos caminham comigo no chão da vida. que 4 AGRADECIMENTOS “Eis que a bondade e a misericórdia me seguirão por todos os dias de minha vida. Sl23”. Agradeço ao meu bom Deus. Agradeço a minha esposa. Sem você não seria possível Anginha. Eu te amo. Aos meus pais, irmãos e amigos. Em especial a Cláudia Amorim e Lilica Cysne pelo apoio direto, em me acolher para me ensinar. Obrigado minhas amadas. À equipe da Videoteca PUC-SP pelo apoio e a Marlene Cardozo pela ajuda com a revisão. Agradeço a minha orientadora Profª Pollyana Ferrari pela orientação e apoio. 5 RESUMO A associação de um objeto sonoro, seja ele um ruído, uma música ou uma melodia, arranjados em diversas formas diferentes é uma ferramenta de comunicação capaz de fixar uma marca na memória de uma pessoa de modo a levá-la a fazer associações subconscientes e, consequentemente, fazê-la lembrar dessa marca, ou ícone a ela associado (marca ou logotipo). O projeto visa avaliar a comunicação sonora associada à marca das maiores emissoras de TV aberta da atualidade, Rede Globo e Rede Record e verificar a relação ou coerência desse material com a marca a ele associada, de acordo com as formas de relação entre diferentes linguagens no que se refere a semelhança, correspondência ou analogia propostas pela semiótica pierceana 1. O projeto analisa as propriedades sonoras de cada audiobrandings pertencentes a essas emissoras, de modo a dissecar os aspectos melódicos, rítmicos, harmônicos e timbrísticos. A análise faz a relação com a imagem em todas as dimensões possíveis, como por exemplo a associação de sons e cores e a sua análise. Palavras chaves: audiobranding, Emissoras de TV, Rede Globo, Rede Record. 1 SANTAELLA, Lúcia. Matrizes da linguagem e do pensamento: sonora, visual, verbal. São Paulo: Iluminuras, 2001. 6 ABSTRACT The association of a sound object, being it a noise, a song or a melody, arranged in several different ways is a communication tool able to set a mark in the memory of a person in order to take it to do subconscious associations, consequently make to remember this brand, or icon associated with it (brand or logo). The project aims to evaluate the noise associated with the brand communication of the largest TV stations opened nowadays, Rede Globo and Rede Record and verify the relationship or consistency of this material with the brand associated with it, according to the forms of relationship among different languages in as regards the similarity, or match proposed by analogy Peircean 2 semiotic. The project analyzes the properties of each audio sound brandings belonging to these stations in order to dissect aspects melodic, rhythmic, harmonic and timbre. The analysis makes a correlation with the image at all possible dimensions, such as the association of sound, color and analysis. Keywords: audiobranding, TV stations, Rede Globo, Rede Record 2 SANTAELLA, Lúcia. Matrizes da linguagem e do pensamento: sonora, visual, verbal. São Paulo: Iluminuras, 2001. 7 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1: A primeira marca Rede Globo, de 1965 ..................................................... 29 Figura 2: Marca Rede Globo apresentada em 1966 ................................................. 30 Figura 3: Globo com dois hemisférios e vários círculos, de 1973 ............................. 30 Figura 4: Primeira versão da marca definitiva da Rede Globo, de 1975 ................... 31 Figura 5: Audiobranding Rede Globo criada na década de 80 .................................. 31 Figura 6: Cronologia das vinhetas do Plim Plim, Rede Globo ................................... 32 Figura 7: Histórico das alterações das marcas Record até o ano de 2012 ............... 34 Figura 8: Marca Record lançada em 2012 ................................................................ 34 Figura 9: Cronolodia de marcas Record Globo ......................................................... 35 Figura 10: Audiobranding da vinheta Record utilizada nos anos de 2007 a 2011 ..... 37 Figura 11: Vinheta sonora Rede Record de 2006 ..................................................... 38 Figura 12: Vinheta 1, Rede Record ano 2000 ........................................................... 39 Figura 13: Vinheta 2, Rede Record ano 2000 ........................................................... 39 Figura 14: Vinheta Rede Record 1994 ...................................................................... 40 Figura 15: Vinheta sonora Rede Record 1993/1994 ................................................. 40 Figura 16: Intervalo reproduzido na audiobranding Rede Record 1992 .................... 40 Figura 17: “Cama” sonora Rede Globo 2012 ............................................................ 45 Figura 18: Trecho harmônico Rede Globo 2012 ....................................................... 46 Figura 19: Arranjo Vinheta Interprogramas Rede Globo 2012 .................................. 47 Figura 20: Transcrição vinheta Rede Record 2012 ................................................... 49 Figura 21: Audiobranding da emissora NBC ............................................................. 52 Figura 22: Audiobranding da emissora ABC ............................................................. 52 Figura 23: Audiobranding da emissora BBC ............................................................. 53 Figura 24: Vinheta sonora da emissora CCTV .......................................................... 53 8 SUMÁRIO RESUMO .................................................................................................................... 5 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10 1 O PROCESSO COMUNICATIVO NA DIMENSÃO DAS AUDIOBRANDINGS ... 12 1.1 Vinhetas ..................................................................................................................................... 14 1.2 A tecnologia e a audiobranding ............................................................................................. 17 2 O DIREITO DA AUDIOBRANDING NA MARCA TELEVISIVA ........................... 22 3 A CONSTRUÇÃO ONTOLÓGICA DA MARCA .................................................. 25 A interferência do sons ...................................................................................................................... 25 As características visuais das marcas televisivas REDE GLOBO e REDE RECORD . 28 3.1 3.1.1 Análise da marca ................................................................................................................... 30 3.1.2 Hans Donner .......................................................................................................................... 32 4 CRONOLOGIA DAS VINHETAS DA REDE GLOBO E DA REDE RECORD ..... 34 5 DESENVOLVIMENTO DAS ANÁLISES “A LINGUAGEM SONORA DA AUDIOBRANDING .............................................................................................. 48 6 PESQUISA DE AUDIOBRANDING, A ANÁLISE SOB A TELEVISÃO ............. 577 CONCLUSÃO............................................................................................................ 61 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 63 10 INTRODUÇÃO A marca sonora, denominada audiobranding e também com outras denominações como soundbranding, sonic branding, acoustic branding ou sonic mnemonics, é um método de criação publicitária de identidade sonora para comunicação de marcas. Cada vez mais as marcas focam o seu olhar na experiência que provocam nos consumidores e em como podem estreitar essa relação de identificação sonora do produto com a experiência do seu público. Para isso, algumas empresas utilizam até mesmo o branding sensorial, conquistando o consumidor através de uma experiência sensória acentuada artificialmente, por exemplo no barulho crocante da batata ao ser mastigada, o cheio de pipoca do cinema e a música inquietante nos restaurantes dos parques temáticos da disney que estimulam os clientes a irem embora assim que acabam de comer. Som, cheiro, e experiências táteis são ferramentas fundamentais para que as marcas sejam lembradas não só pela memória visual, mas também pelos sentidos. As marcas precisam de novos elementos para serem reconhecidas com facilidade e um dos caminhos para alcançar esse objetivo é por meio de melodias e composições sonoras. As emissoras de televisão brasileiras há muito tempo utilizam o recurso de áudio branding. Aplicando-o tanto como um elemento em vinhetas de aberturas de programas, como em chamadas emergenciais jornalísticas e de pronunciamentos extraordinários indicando até mesmo o teor de tais intervenções. As emissoras tradicionalmente se utilizam da técnica para comunicar a sua marca, o seu símbolo, o seu signo. O estudo se volta para a audiobranding das vinhetas da marca das duas maiores emissoras de televisão aberta do Brasil, a Rede Globo e a Rede Record de televisão. O caso mais conhecido é o da Rede Globo de televisão, com o seu famoso Plim Plim, talvez o mais bem sucedido caso de audiobranding da televisão brasileira. O contexto comunicacional no qual se enquadra o objeto sonoro do estudo é estudado e exposto, afim de elucidar o desenvolvimento das análises, no que diz 11 respeito à percepção do receptor, o qual unilateralmente recebe os estímulos sonoros acompanhados de outras linguagens, como visual e verbal, tendo a imagem da marca estrategicamente imprimida em sua memória, com toda a bagagem de significados que ela carrega. Buscou-se abranger todo o processo de criação, naquilo que é mais essencial, isto é, as questões de direito, e padrões televisivos para a criação da audiobranding, visto que se trata de um trabalho de mídia e que envolve as questões de criação no dispositivo que não somente demandam um dissecamento do aparelho fonográfico, quanto ao uso dos sintetizadores, a composição, as análises sonoras, mas também de toda a aparelhagem midiática possível. 12 1 O PROCESSO COMUNICATIVO NA DIMENSÃO DAS AUDIOBRANDINGS Do ponto de vista etimológico a palavra comunicação vem do latim cummunis que traz a ideia de comunhão (PEREZ; BAIRON, 2002, p.14). Esta noção de comunhão traz o sentido de participar, transmitir, compartilhar, que vai de encontro com as necessidades humanas e com a manutenção da vida em sociedade. Segundo Bordenave (1982) a comunicação e a sociedade são a mesma coisa. As linguagens são a matéria prima da comunicação, que acontece pela via linguística visual, verbal e sonora. Bordenave denomina o conceito de meio ambiente social da comunicação (rodapé: por exemplo: em um estádio de futebol, uma câmara de deputados, na feira livre e na reunião familiar). Segundo a enciclopédia Barsa (2005): A comunicação acha-se estreitamente vinculada ao conceito de comunidade e, portanto, ao de civilização. Como tantas outras conquistas do homem, é causa e efeito do progresso social. Assim, a história da humanidade é, até certo ponto, a história dos meios de comunicação. Entende-se por comunicação o processo de troca de significados entre indivíduos por meio de um código comum (signos, sinais, símbolos, linguagem falada ou escrita). Envolve a transmissão de mensagem entre uma fonte e um destinatário. Implica, portanto, dois polos: um transmissor ou emissor (fonte) e um receptor (destinatário), em um processo que ocorre através de um meio denominado canal. Este pode ser natural, como o aparelho fonador, ou industrialmente concebido, como a imprensa, o rádio, a televisão etc. Mesmo entre os animais existe um sistema rudimentar de comunicação, embora limitado a sinais e sons intimamente ligados ao instinto de conservação da espécie. Na comunicação existe uma infinita escala de valores. Abarca desde o gesto mais elementar até a transmissão por satélite artificial. A dimensão histórica nos processos de comunicação deve ser introduzida como uma heterogênea pluralidade articulada em cada país, em cada região e não como uma história do progresso, como uma história unificada de desenvolvimento, significando dizer que a televisão possui uma característica específica de acordo com o seu contexto político e cultural. 13 Em referência à dimensão comunicativa da audiobranding, é preciso notar ao que será chamada de gerência histórica da marca. Antes de mais nada, vale ressaltar a importância, maior do que o próprio produto, no caso a programação, que os estudiosos da comunicação, sobretudo da comunicação como ferramenta da publicidade, dão a essa dimensão sígnica. O produto pode ser depreciado pelo uso, mas a marca, que agrega valores ontológicos que dão a ele um significado que supera a necessidade, transforma-se em um verdadeiro mito. A marca é hoje em dia, o único valor intelectual que a legislação reconhece como sendo uma propriedade eterna. Pois as patentes e até os direitos autorais tem um prazo de validade limitado no tempo e as marcas permanecem sendo de seus proprietários até que eles a vendam ou a deixem morrer por maus tratos 3. A audiobranding é um elemento da marca como objeto sonoro 4, alimentando-a e funcionando como uma impressão perceptiva, auxiliando a comunicação da marca de modo a atingir assim o máximo possível de dimensões sensoriais na emissão. Naturalmente existe uma demanda para o audiobranding na televisão, já que nem sempre o telespectador está assistindo as imagens que estão sendo transmitidas na tela, apenas ouvindo enquanto está envolvido com outras atividades. Essa função sonora da televisão é um dos motivos pelo qual o rádio nunca acabou. Acredita-se que a qualidade midiática na qual se classificou a televisão no final dos anos 1960 como mídia de massa é o ponto de partida deste capítulo e visase elucidar de maneira a focar, não transcricional daquilo que já foi dito pelos inúmeros teóricos do tema, os argumentos e fatores importantes para o seu desenvolvimento na audiobranding 5, sobretudo das emissoras de televisão Rede Globo e Rede Record. Uma das primeiras etapas deste estudo e que precede o desenvolvimento das análises é a realização de uma eluciadação do processo de comunicação que envolve a televisão (emissor) e o receptor em suas implicações, em esferas que sejam convenientes de serem tratadas, para proveito da pesquisa sobre audiobranding. 3 SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z: como usar a propaganda para coonstruir marcas e empresas de sucesso. - 2ª ed. revista e ampliada. - Rio de Janeiro: Campus: ABP.1999. 4 Conceito cunhado por Schafer (1992) para descrever qualquer tipo de emissão sonora possível. 5 Marca sonora ou peça sonora associada a uma marca. 14 Como meio de comunicação de massa a televisão, envolve uma aparelhagem cuja produção tem origem em um paradigma comunicacional anterior às novas mídias, mas que, além das atualizações tecnológicas constantes se adequa a essa nova realidade de uma comunicação relativamente participativa da integração com as novas plataformas existentes, basicamente pelo advento da internet gráfica no início dos anos 90. Analisar a peça sonora de modo a considerar o objeto visual é relevante e mostra-se intrínseco ao estudo, por se tratar de uma mesma mensagem, que se define como vinheta. 1.1 Vinhetas As vinhetas são linguagens que operam por meio de linguagem e de som, utilizando elementos pertencentes ao imaginário cultural coletivo, com função persuasiva. Equipadas tecnológica e cientificamente, as vinhetas são produtos de uma sociedade de consumo destinadas a obter resultados materiais. Pelo seu poder de manipular inconscientemente o receptor e possuir uma natureza cultural o seu produto final é basicamente o símbolo e a ideologia, com a intenção de consolidar a imagem da emissora. São peças de curta metragem, constituídas de algum tipo de signo ou representação, compostas de elementos imagéticos, sonoros e mensagens de expressão verbal, usadas com fim informativo, decorativo, ilustrativo, de remate, de chamada, de passagem, de identificação institucional e de organização do espaço televisivo, etc. (PETRINI, 2004). A vinheta é uma forma de linguagem capaz de dar suporte e organizar o material televisivo afim de operacionalizar o número elevado de informações que a televisão necessita veicular durante a sua grade, fazendo convites ao telespectador, indicando dias e horários de uma série de eventos de sua programação, divulgando as principais manchetes, prestando serviços, divulgando mensagens governamentais e publicitárias. A intenção das mensagens comunicadas pela emissora nas audiobrandings, não se reduz apenas à uma explicação obtida nas justificativas e argumentações 15 contidas na criação em si, mas, como Jesús Martin-Barbéro 6 expõe em suas pesquisas, é necessário um estudo do próprio processo de comunicação, neste caso (o da televisão como mídia) em que “comunicar é fazer chegar uma informação um significado já pronto, já construído de um pólo à outro.” Nele a recepção é um ponto de chegada daquilo que já está concluído. Esse processo demanda o levantamento da dimensão histórica para se obter uma sólida fundamentação de uma comunicação contextualizada para o objeto “emissão x recepção” no Brasil. A idéia de vinheta remonta aos tempos de idade média e sua função era ornamentar os antigos manuscritos através de desenhos e pinturas com valores simbólicos. Com a revolução da imprensa, surge o termo vinheta – do francês vignette (folha da videira) – tendo uma função decorativa, passando a fazer parte da editoração gráfica. Posteriormente a vinheta é adaptada para o cinema, rádio e televisão, sendo também empregada na pintura, arquitetura e design (AZNAR, 1997). O rádio no Brasil, desde a sua implantação, lançou mão das vinhetas para atender a uma portaria do Ministério das Comunicações que determinava que as emissoras se identificassem de hora em hora. Logo as vinhetas ganharam criatividade para atrair a atenção dos ouvintes. A televisão, nos anos 50, emprega a vinheta precariamente, mas a medida que o sistema se modernizou, levando em conta a proximidade que há entre artes gráficas contemporâneas, que trabalham a imagem em vídeo e a arte própria da televisão, através da arte eletrônica, da computação gráfica e da arte televisual, a vinheta também evolui (AZNAR, 1997). É interessante perceber o pioneirismo e influência da Rede Globo, com uma política de investimento voltada para a evolução tecnológica, fora o posicionamento político que exige um postulado à parte. A vinheta passa a ser utilizada amplamente nos meios de comunicação de massa e na televisão acaba ocupando um papel essencial. A partir de 1970, a Rede Globo começa a investir na sua criação com o desenvolvimento tecnológico e basicamente explorando o design gráfico e a música. Os avanços da tecnologia, a partir de 1975, com computadores, engenharia de telecomunicações, a televisão em cores, etc, proporcionam uma grande melhora nos atributos da sensação audiovisual, tal como com o som estério, criar brilho, 6 SOUZA, Mauro Wilton de. (Org.). Sujeito, o lado oculto do receptor. Tradução e transcrição Silvia Cristina Dotta; Kiel Pimenta. São Paulo: Brasiliense, 2002. p. 40. 16 matiz e saturação. Isso tudo aliado às novas máquinas, ao design em movimento e ao know-how, faz surgir a nova era das imagens sintéticas em movimento (PETRINI, 2004). A Rede Globo começa a dar ênfase ao emprego das vinhetas em movimento, que antes eram criadas à base de trucagens do cinema e, em seguida, por meio dos recursos do design e da computação gráfica, sob a direção do designer austríaco Hans Donner, que foi a pessoa responsável por introduzir um novo conceito de vinhetas na televisão. O processo é denominado por videographics, que é um tipo de criação que envolve inúmeros profissionais de diversas áreas de ciência no âmbito da comunicação, como produtores, músicos, maquiadores, maquetistas , ilustradores, diretores de arte, editores, fotógrafos, diretores de fotografia, animadores, designers, coreógrafos, cenógrafos e câmeras. Segundo Theodor Adorno 7 a concorrência entre empresas, já aplicando a expressão ao contexto da televisão brasileira, é uma ilusão de opções iguais (por exemplo, a concorrência entre Chrysler e General Motors, Warner Bros e MGM) em que a essência do produto permanece invariável, na maioria dos casos desgraçavelmente, apenas com distinções pontuais que não o alteram em relação ao todo entre programações, já tendo a programação televisiva em mente como produto desta indústria cutural 8. Suas pequenas variações apenas trazem uma identidade ilusória que confere a um determinado objeto uma singularidade, admitida culturalmente como original, autêntica. Adorno coloca a indústria cultural das produções, que tem como chão as matrizes verbal, visual e sonora, sobre suas diversas expressões platafórmicas e interfáticas, como súditas de uma ditadura do padrão. Esse é o triunfo do capital investido. Segundo Adorno: “A arte sem sonho produzida para o povo realiza aquele idealismo sonhador que parecia exagerado ao idealismo crítico. Tudo advém da consciência de Deus; na arte de massas, a da terrena diretoria de produção. Não só os tipos de música de dança, de astros e soap operas, retornam cíclicamente como entidades invariáveis, 7 ADORNO, Theodor W. Indústria Cultural e Sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002. p. 12. Termo cunhado pelos filósofos sociólogos alemães Theodor W. Adorno (1903 - 1969) e Max Horkheimer (1895 - 1973) para designar a situação da arte na sociedade capitalista industrial. 8 17 quanto o conteúdo particular do espetáculo, aquilo que aparentemente muda, é, por seu turno, derivado daqueles.” Pensando na função da audiobranding, faz sentido falar dessa invariabilidade evidenciada por Adorno através dos fatos e pela interpretação que deles faz, poderia muito bem fundamentar o posicionamento de uma análise na busca de uma explicação para o processo cognitivo do sujeito receptor que recria a marca sonora, de modo a associá-la à uma imagem, um discurso, um produto de consumo. Na dimensão da linguagem visual e verbal, busca-se criar a viva impressão de que o que é assistido no cinema é possível de ser vivido no “mundo real”. Essa proposição de Adorno (2002) é conveniente à justificativa proposta para a marca Rede Globo, que propõe essa espécie de espelho, em que o telespectador encherga a si próprio na televisão. A expressão “a gente se vê por aqui”, slogan utilizado por muitos anos pela emissora Rede Globo, deixa patente essa intencionalidade. Nos estudos de recepção realizados por Jesús Martin-Barbero 9, essa noção baseia-se no conceito iluminista de educação, na qual a iniciativa da atividade comunicativa está toda colocada no lado do emissor, enquanto do lado do receptor a única possibilidade seria a de reagir aos estímulos que lhe envia o emissor. 1.2 A tecnologia e a audiobranding A forma como o cérebro humano infere acerca das percepções mais primitivas dos estímulos sonoros, tranformando-os em símbolos, signo etc. O modo de funcionamento da estrutura neural dos seres humanos está condicionada a sua cultura latente e mais especificamente falando, é motivada ao seu contexto tecnológico também. Segundo Pierre Levy (2004, p. 75): Pierre Levy fala sobre o quanto as tradições linguísticas influenciaram a história, como no caso de Joana D'arc que era analfabeta por isso tinha uma cultura muito mais auditiva do que visual, o que facilitava a incidência de pessoas que ouviam vozes.’ Levy (2004, p. 77) afirma: 9 SOUZA, Mauro Wilton de. (org.) / Martin-Barbero, Jesús. América Latina e os anos recentes: o estudo da recepção em comunicação social_ in Sujeito, o lado oculto do receptor;[tradução e transcrição Silvia Cristina Dotta e Kiel Pimenta] - São Paulo: Brasiliense, 2002. 18 Como e por que diferentes tecnologias intelectuais geram estilos de pensamentos distintos? Passar das descrições históricas ou antropológicas habituais a uma tentativa de explicação requer uma análise precisa das diversas articulações do sistema cognitivo humano com as técnicas de comunicação e armazenamento... As lições da psicologia cognitiva sobre a memória nos permitem compreender melhor como sociedades que não dispõem de meios de armazenamento como a escrita, o cinema ou a fita magnética codificaram seus conhecimentos. 10 Pierre Levy fala das tecnologias do pensamento destacando a atual linha de cognição baseada no hipertexto 11. É interessante para o estudo o entendimento do atual paradigma tecnológico afim de se compreender o quanto estas interfaces de um funcionamento baseado na economia do tempo e do espaço físicos ditam uma forma específica de pensamento, influenciando indiretamente na capacidade perceptiva e diretamente na interpretação dos sentidos e estímulos recebidos. Essas formas de cognição cuja capacidade de memorização de uma representação deve atender a alguns critérios de condições entre as relações e conexões que o ser humano faz em sua cognição estão intimamente ligadas a fortes características do mito. Não será estranho para o estudo a presença da discussão sobre as novas mídias e a forma como elas vieram a mudar a forma como se consome a televisão nos dias de hoje. Para começar, um dos fatos principais é que todas as amostras das vinhetas sonoras das emissoras Rede Globo e Rede Record foram coletadas via web, desde vídeos, publicados por usuários comuns, isto é, pessoas que possuem o material em arquivos pessoais e que compartilham em redes sociais com o youtube; até os próprios web sites das emissoras Rede Globo e Rede Record, no caso da Rede Globo muito mais atuante em relação à publicação de seus arquivos audiovisuais. A Rede Record eventualmente possibilitou a coleta de um ou outro material em seu web site, o www.rederecord.r7.com. Da mesma forma aconteceu com a Rede Globo. Praticamente constata-se a impossibilidade da realização da pesquisa pela falta do material audiovisual necessário em outros meios que não fossem a internet. No início da pesquisa procurou-se um contato direto com as emissoras Rede Globo e Rede Record, através dos seus respectivos centros de documentação, conhecidos 10 Levy (2004, p. 81) Conceituação disponível em < http://trabalhohipermedia.do.sapo.pt/conceitos_de_hipertexto.htm> Acesso em: 12/11/2012 11 19 como C.DOC, para que se conseguisse uma amostra das vinhetas sonoras de cada uma das emissoras. Viabilizou-se apenas um negócio com a emissora Rede Globo por meio de uma empresa terceirizada chamada Conteúdo Expresso e que se propôs a vender uma amostra de uma vinheta da emissora utilizada no ano de 2012, conforme o pedido, feito via e-mail. Foi cobrada por parte da empresa uma quantia no valor de R$150, pois segundo a mesma havia uma necessidade de concessão de direitos de uso das imagens da emissora para a finalidade descrita no pedido feito via e-mail, o uso acadêmico. Além da cobrança do valor descrito, o material concedido pela empresa foi um DVD de 15 segundos, sendo que o conteúdo do material causou frustração ao se perceber que se tratava de um trecho apenas da vinheta da Rede Globo, com a duração de 3 segundos, onde se executava apenas o Plim Plim; sendo repetido por 5 vezes seguidas. O relato do episódio se dá pelo fato de que o mesmo levantou um questionamento para a pesquisa do audiobranding e culminou no capítulo “O direito da audiobranding na marca televisiva”, que trabalhou a questão jurídica da criação de vinhetas sonoras no direito brasileiro e também desmistificou essa questão do uso de imagem ou trabalho com direito autoral em trabalhos de finalidade meramente acadêmica, significando dizer que o gasto com a empresa foi em vão e desnecessário. A emissora Rede Record também foi procurada na mesma época, mas manifestou-se de modo diferente através de seu próprio Centro de Documentação, negou o fornecimento do material e deu orientações para que o material fosse coletado na internet. É certo que o advento da internet modificou a forma como as pessoas, ponderando as proporções de seus contextos, lidam com as mídias em geral e consequentemente com o espaço e o tempo. O comportamento das pessoas é profundamente afetado em uma análise rasa apenas considerando a maneira como lidamos com o nosso dia a dia, utilizando, por exemplo, ferramentas que auxiliam a nossa rotina de estudos, de trabalho etc. O e-mail quebrou paradigmas da comunicação, de modo que a forma de comunicação praticada anteriormente a este e outros novos meios, como o celular, se torna inviável para a subsistência em uma sociedade cada vez mais cheia de desafios e que impõe um ritmo bastante “desumano” por assim dizer. Uma comunicação que na era do telegrama levava semanas, até meses para acontecer é contraposta por uma comunicação que demanda imediata resposta, as vezes em até poucos segundos, sob o risco de 20 causar danos ao polo que não corresponda à emergência da comunicação; essa é uma forte característica das novas mídias. Esse exemplo, todavia não retrata uma influência apocalíptica de uma “nova mídia” que por sua funcionalidade obriga uma civilização que se renda ao seu uso a se comportar como um “funcionário da máquina”, noção cunhada por Vilém Flusser 12. Segundo Henry Jenkins (2006, p. 30), as pessoas são sujeitos do uso que fazem dos aparelhos na convergência, criam o seu próprio mito pessoal através de pedaços e fragmentos de informações extraídos do fluxo midiático. Ainda neste ponto, Jenkins traz em seu trabalho a noção de inteligência coletiva cunhado por Levy (2004). A possibilidade de construir um conhecimento partindo de vários sujeitos colaboradores é vista como um poder midiático alternativo. A emissora Rede Globo modificou o seu slogan 13 que antes era “Globo, a gente se vê por aqui”, que segundo Paula P. Paschoalick (2009) 14 A longa permanência do slogan nos dá sinais de que esse discurso mantém-se apropriado ao lugar que a emissora pretende ocupar na sociedade, um lugar de encontro, de oferta de propostas e organização de sentidos. O slogan foi modificado para “Globo, a gente se liga em você”, a partir de 2011, que torna evidente um possível reflexo da cultura da convergência em que o telespectador é um outro agente que antes apenas se identificava com os personagens da emissora em “Globo, a gente se vê por aqui”, mas agora é um articulador de opiniões e de ações coletivas que forçam a programação e o conteúdo da emissora. Novelas com personagens que interagem com a realidade do universo “virtual” dos telespectadores, criando blogs, respondendo a chats etc, são um exemplo dessas novas formas de narrativa desenvolvidas sob a influência dessas novas configurações midiáticas. O caráter das rede sociais, blogs e dos materiais audiovisuais que são compartilhados nas novas mídias é de efemeridade. Frases curtas que exprimem pensamentos e idéias que normalmente demandariam um aprofundamento maior alimentam esses meios e criam toda uma forma de comportamento alinhada com 12 FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta: Ensaios para uma futura filosofia da fotografia. São Paulo: Hucitec, 1985. 13 Disponível em < http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_slogans_da_Rede_Globo> Acesso em: 12 nov. 2012 14 Disponível em < http://www.pos.eca.usp.br/sites/default/files/file/bdt/2009/2009-mepaschoalick_paula.pdf> Acesso em: 12 nov. 2012. 21 esses novos formatos. Como é tratado no capítulo “O direito da audiobranding na marca televisiva”, a internet instaura a cultura do remix. As próprias vinhetas das emissoras televisivas são utilizadas para compilações e sátiras de material disponível na web. A música também sofre suas mutações, na aparelhagem da indústria fonográfica etc. Esse panorama deixa claro que a cultura da convergência midiática é um fator chave para se entender a maneira como as novas mídias modificam, não só a forma como se consome televisão, mas o próprio audiobranding. Na era da convergência o consumidor está cada vez mais seletivo. Em diferentes níveis nos muitos mercados no mundo, ele está ficando mais sofisticado, mais sensível, mais seletivo e mais cético do que jamais foi. O grande fluxo de informações ao qual recorrentemente temos acesso. O volume exagerado de informações que cada pessoa recebe é extraordinariamente mais elevado do que jamais a humanidade já viu. A televisão, o rádio, a imprensa e todas as manifestações da indústria cultural, são formas permanentes de alterações da percepção social, política e cultural de todas as pessoas. Legislações como a recente Lei de Defesa do Consumidor são de grande influência no amadurecimento do mercado, até porque dão respaldo legal para que o consumidor exija seus direitos. Isso faz com que haja uma forte tendência de valorização da qualidade, do preço e do tempo. 22 2 O DIREITO DA AUDIOBRANDING NA MARCA TELEVISIVA A ciência do som começou a receber a atenção durante a segunda guerra mundial, com o desenvolvimento de suas aplicações militares, tais como o sonar (Sound Navigation and Ranging)# para o rastreamento de navios inimigos no mar. Murray Schafer Busco aqui trazer uma noção da questão de direitos autorais da trilha sonora na aplicação da peça sonora que é feita na marca televisiva. Em termos da discussão da utilização da música no contexto de indústria cultural 15 cunhado por Adorno, em que tudo se torna negócio, “enquanto negócios, seus fins comerciais são realizados por meio de sistemática e programada exploração de bens considerados culturais” 16, a audiobranding é a manifestação da música como uma composição provida de todas as características de uma obra artística musical concebida como tal, no contexto mais genuíno que se poderia imaginar, sendo essa uma outra discussão que trata de o que é arte ou não, ou o que é culturalmente legítimo, e não será abordada nesta pesquisa. Nosso principal objetivo, aqui, é traçar uma des-evolução da música como arte, no que diz respeito a ser a manifestação de todos os sentimentos e intenções da alma em expressão de sons, de modo a ser um simples adendo a marca, ou seja, pura mercadoria. Em primeiro lugar, normalmente a legislação de cada país possui a sua própria constituição dos dispositivos que são vigentes em relação a cada tema jurídico, não sendo diferente neste contexto, como será exposto com alguns exemplos. No contexto da indústria cultural, a cultura do remix 17 se articula com todos os seus produtos midiáticos, a música, a fotografia, o cinema etc. De um lado as grandes coorporações detentoras dos direitos autorais de suas obras buscam assegurar a restrição do uso das mesmas, por outro lado uma geração que cresce com a popularização da internet e se apropria de tais produtos, resignificando-os 15 Navegação e localização pelo som. (N.T.) ADORNO, Theodor W. Indústria Cultural e Sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 17 Versão alternativa de um trablho gravado, feita a partir de uma versão original, que implica em alteração ou recombinação de trechos de modo a criar algo novo. 16 23 segundo as suas próprias visões de mundo, criando algo “novo”. Esse envolvimento exacerbado em atividades de remix que encontramos na internet aponta para a necessidade de se reavaliar o direito autoral, criado em uma era anterior à internet e, no entanto, anterior a essa cultura de remix, e que então parece não dar conta deste novo paradigma cultural, estabelecido pelas novas mídias 18. O direito autoral está enquadrado no direito de propriedade pátrio pelo fato de cada país possuir o seu próprio sistema legislativo em relação ao tema. Normalmente a legislação de cada país possui a sua própria constituição dos dispositivos que são vigentes em relação a cada tema jurídico, não sendo diferente neste contexto, como será exposto com alguns exemplos. Na legislação brasileira 19, pensando na forma como é vista a peça sonora utilizada em cada vinheta, ou jingle 20, o artigo 46 da lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, trata das limitações aos direitos autorais no que tange àquilo que não constitui ofensa a esses direitos, declarando: VIII - (não constitui ofensa aos direitos autorais) a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras pré-existentes, de qualquer natureza, ou de obra integral, quando de artes plásticas, sempre que a reprodução em si não seja o objetivo principal da obra nova e que não prejudique a expoloração normal da obra reproduzida nem cause um prejuizo injustificado aos legítimos interesses dos autores. A audiobranding é cada vez mais o elemento diferencial para as empresas fixarem a sua identidade de modo indelével. Apesar disso, Zanna Lopez 21 tece críticas a respeito da utilização da audiobranding que evidencia um problema na dimensão do direito contextualizando a audiobranding nos dias de hoje no Brasil 22, esse problema transita na idéia de plágio, mas que é de certo modo “amenizado” quando é considerado apenas um clichê. 18 Extraído de “Em colaboração com o Prof. Sérgio Branco e Paula Martini. Um manifesto remixado: utilizando trechos de obras alheias. Disponível em: <http://estrombo.com.br/tag/cts>. Acesso em: 04 out. 2012 19 BITELLI, Marcos Alberto Sant’Anna (Org.). Coletânia de legislação de comunicação social. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. 20 A definição de jingle é conveniente à mesma noção que é dada aqui para vinheta. “Um jingle é uma mensagem publicitária musicada e elaborada com um refrão simples e de curta duração, a fim de ser lembrado com facilidade.” 21 diretora de criação da Zanna Sound, primeira agência de sound branding da América Latina 22 BÜRGUER, André. Sound Branding: o poder do som para transmitir os valores de uma marca Disponível em: <http://www.nosdacomunicacao.com.br/panorama_interna.asp?panorama=530&tipo=R>. Acesso em: 03 out. 2012. 24 Nesses termos, é possível o entendimento do dispositivo do artigo 46 da lei de direitos autorais no sentido de que a vinheta é uma obra curta, por isso é juridicamente legítimo vedar a reprodução, ainda que parcial, por qualquer concorrente, pois ela já refletiria a finalidade mesma da vinheta. O direito do autor é um ramo do direito privado que regula as relações jurídicas decorrentes da criação estética e de sua utilidade econômica. Visa proteger a integridade e a paternidade da obra. É fundamental pois se entende sob o aspecto moral ou extrapatrimonial, efeito natural do princípio constitucional da dignidade humana. Para o direito autoral norte-americano a questão é muito mais flexível pois o "som " e o "aroma" desenvolvidos no contexto de uma marca ou de uma tecnologia industrial que tenha direito de patente ou direito de marca podem receber a proteção da propriedade intelectual de cunho industrial-comercial e não apenas de direito de autor, como ocorre pacificamente no Brasil. Um exemplo conhecido é o da empresa automotiva Harley-Davidson que buscou em mais de uma ocasião patentear a sonoridade produzida por seus motores: A Harley-Davidson não conseguiu fazer com que os tribunais Americanos reconhecessem que o ressoar de um V2 de Milwuakee é suficientemente distinto para obter uma patente pelo que decidiu levar o caso à sua legião de fiéis. Depois de um apoio considerável pot parte dos seus seguidores a marca Norte-Americana anunciou que vai encerrar o processo de querer registar o som das suas motos. A Harley-Davidson tentou registar o som rouco e prolongado dos seus motores V-Twin em 1994. E tanto o U.S. Patent como o Trademark Office aprovaram. Todavia, outros fabricantes de motos aprese (...) ntaram queixas contra e estabeleceu-se um impasse que durou os últimos seis anos. A Harley achou que já era demais e desistiu de todas as tentativas de registar o seu som. 23 23 CARMONA, Bruno. Harley Davidson desiste da patente do som. Disponível em:<http://www.motoclubevirtual.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=477&Itemid=58>. Acesso em: 09 out. 2012. 25 3 A CONSTRUÇÃO ONTOLÓGICA DA MARCA A interferência do sons A questão que este ponto do estudo busca trazer e estudar é a maneira com a qual o ser humano capta as informações fornecidas pelo ambiente que o cerca. Mais especificamente, o desejo do estudo é explorar o processo de comunicação do audiobranding e o modo como esta comunicação é captada pelo ser humano. A percepção humana é uma área de difícil trânsito na área da ciência. Descrever os fenômenos físicos e estímulos muitas vezes não encontram uma linguagem comum mas que demandam conhecimentos específicos. O fenômeno sonoro é um tema que na dimensão da linguística ainda é abordado de modo tímido. Segundo Santaella (2001, p. 73) os conceitos linguísticos começaram a ser aplicados aos mais diferenciados sistemas de linguagem por volta da segunda metade do século XX. O corpo humano é dotado de órgãos e uma estrutura fisiológica que o coloca em contato com o mundo. A sensibilidade humana possui peculiaridades em seu funcionamento que revelam muito do aspecto comunicativo das matrizes da linguagem, visual, verbal e sonora. Segundo Ana Maria Jorge (2011, p. 11) os canais pelos quais os sentidos recebem os estímulos são uma janela aberta pela qual o indivíduo capta energia potencial como luz, calor, pressão etc, sendo transformados em código neural bioelétrico enviado ao cérebro. A comunicação sonora como um fenômeno externo que é captada, gerando uma relação intelectual, pressupõe uma capacidade de recriação cognitiva que a faça ganhar significado. No entanto e já afirmando categoricamente o fato de que o audiobranding está hierarquicamente submetido ao produto visual, em matéria de percepção, Santaella (2001, p. 73) afirma: Nenhum sentido goza do mesmo tipo de intimidade que o olho mantém com o cérebro a ponto de podermos afirmar que o olho é uma parte do cérebro em interface direta com o mundo externo. Também o ouvido poderai assim ser considerado, pois ambos são orifícios que ligam o mundo exterior ao cérebro. Entretanto, há diferenças substanciais entre olho e ouvido que tornam a intimidade 26 do ouvido com o cérebro não tão estreita quanto é a da visão”...”A questão do som e do receptor é uma realidade Física-Fisiológica. Enquanto a radiação luminosa viaja a 300mil Km/seg., a sonora se propaga no ar a 331 metros/seg. Vem daí que o ouvido seja um órgão mecânico, tanto quanto o tato é mecânico. Os sentidos trabalham em harmonia, um colabora com o outro na subsistência humana, complementando a eficiência que cada um outro exerce sobre a percepção do indivíduo diante da natureza que o cerca. De acordo com Ana Maria Jorge (2011): A percepção dos fenômenos do mundo não depende somente do aparelho sensorial específico, ou seja, do sentido da visão, ou do tato, ou da audição, ou do olfato, ou do paladar, pois há um conjunto de sentidos integrados atuando na percepção dos objetos. Saboarear um gosto depende do funcionamento conjunto dos receptores do sabor e do aroma. Nariz entupido é sinônimo de comida sem gosto. Há uma tendência de integração, organização e cooperação dos diversos sentidos na geração de um quadro mais ou menos estável da realidade experimentada. Em termos sonoros Ana Maria fala sobre a experiência do cinema, na qual as vozes dos personagens são aceitas como vindo das imagens projetadas na tela, apesar de estarem sendo transmitidas pelos falantes das caixas de som. Contudo com informações suficientes para chegar a algumas definições quanto ao processo físico de percepção dos fenômenos externos, ao ponto de se obter algumas conclusões importantes, além de fundamentar algumas outras já levantadas em linhas antecedentes a esta, é preciso maior atenção sobre a questão para uma dimensão mais subjetiva, o fenômeno simbólico e o seu aspecto perceptivo. Quais são os fenômenos perceptivos que esses estímulos produzem? Isto é, algumas características dos fenômenos existentes possuem a capacidade específica de conclamar reações dos indivíduos de modo a se obter um produto específico, sendo este o objetivo mesmo da publicidade. Em face da audiobranding é preciso antes de mais nada pensar acerca da música como linguagem. Santaella (2001, p. 97): São inúmeros os estudos que colocam em discussão se a música pode ser considerada como uma linguagem. Essa discussão se acentuou a partir dos anos 60 sob a influência do estruturalismo linguístico. As descobertas empreendidas pela linguística sobre o caráter sistêmico da língua, sua natureza codificada, sobre seus pares antiéticos, tais como a diacronia e sincronia, língua e fala, significante e significado, sintagma e paradigma, expressão e 27 conteúdo, fonema 24 e monema 25, metáfora 26 e metonímia 27 exerceram grande influência e chegaram mesmo a ser absorvidas, mesmo que criticamente, por outras áreas das ciências humanas, especialmente pela antropologia de Lévi-Strauss (1970), a psicanálise de Lacan (1966) e a filosofia de Derrida (1973). A grande explosão do estruturalismo linguístico também foi provocada por sua expansão para o campo semiológico nos anos 60 e 70, quando os conceitos linguísticos passaram a ser aplicados aos mais diferenciados sistemas de linguagem: literatura, artes visuais, música, quadrinhos, vestuário, cinema, teatro, televisão etc. Com isso, a semiologia colocou à mostra que as formas de codificação e de comunicação humanas não se restringem apenas à linguagem verbal, oral ou escrita, mas abrangem todos os tipos de sinais e signos que operam no seio da vida social, tornando possíveis a comunicação e a cultura. Atentando para a audiobranding da Rede Globo o Plim Plim, audiobranding mais famoso da emissora, é um exemplo de linguagem sonora que comunica muito bem a sua finalidade. Entretanto ganha outros significados com o tempo. Foi criado para a comunicação entre as filiais da emissoras, indicando o início de uma nova transmissão. Além de ser o sinal do início e pausa dos filmes. Essa comunicação é nos dias de hoje consolidada e faz parte da própria cultura da televisão brasileira. O apresentador de televisão Fausto Silva, o Faustão, refere-se aos comerciais da emissora como “os reclames do Plim Plim, como sendo o Plim Plim a própria personificação da emissora Rede Globo. De acordo com uma idéia de cultura televisiva da vinheta da marca, a vinheta televisiva por si mesma já cria uma comunicação que é própria da audiobranding, dando significado à sua sonorização, mesmo não tendo uma utilização adequada para um audiobranding, automaticamente elevando-a a status de audiobranding; já que a vinheta da marca de uma emissora possui esse papel interprogramas e que é reconhecido como tal, mesmo quando somente ouvido, sem a ferramenta da imagem, por exemplo a dona de casa que passa a roupa na cozinha 24 Fonemas são as menores unidades sonoras da fala. São os sons elementares e distintivos que, articulados e combinados, formam as sílabas, os vocábulos e a teia da frase, na comunicação social. Disponível em <http://www.grupoescolar.com/pesquisa/conceito-de-fonema.html>. Acesso em: 25 out. 2012. 25 Unidade da primeira articulação ou morfologia, segundo a teoria estruturalista de André Martinet, mais ou menos equivalente ao conceito de morfema, para o distribucionalismo americano. Disponível em <http://www.infopedia.pt/$monema>. Acesso em: 25 out. 2012. 26 Metáfora é uma figura de linguagem em que há o emprego de uma palavra ou uma expressão, em um sentido que não é muito comum, em uma relação de semelhança entre dois termos. Disponível em: <http://www.significados.com.br/metafora/>. Acesso em: 25 out. 2012. 27 Metonímia ou transnominação é uma figura de linguagem que consiste no emprego de um termo por outro, dada a relação de semelhança ou a possibilidade de associação entre eles. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Meton%C3%ADmia>. Acesso em: 25 out. 2012. 28 enquanto ouve a televisão ligada na sala, e em relação ao seu papel fixador da marca é pela audiobranding que essa mesma dona de casa identifica qual é o canal em que ela está. 3.1 As características visuais das marcas televisivas REDE GLOBO e REDE RECORD A marca Rede Globo e a marca Rede Record é mais do que o caráter de sua programação, a qualidade de suas produções, seu jornalismo, seus programas etc. A marca se funda em dimensões muito mais amplas e se mantém através de um valor que vai para além de um produto físico, ou que esteja apenas no primeiro plano, de sua qualidade ou competência. Randazzo (1996) propõe que a marca existe não apenas em uma imagem, como um rótulo apenas, mas que ela mesma subsiste psicológicamente na mente do consumidor. É criado um inventário de símbolos, imagens, experiências e inúmeros aspectos emocionais e que aguçam uma ou outra natureza latente no ser humano. Randazzo (1996, p. 22) declara: “Dentro desse espaço perceptual da marca podemos criar sedutores mundos e personagens míticos que, graças à publicidade, ficam associados a nosso produto.” A abordagem psicológica ganha muito espaço no campo da publicidade, fato que deve ser considerado no estudo de marca, pois trabalha em um terreno que para o estudo da audiobranding pode ser uma perda, já que o propósito no trabalho que se desenrola é o estudo de uma dimensão mais essencial, a da comunicação, como linguagem, na forma, no estímulo etc. Todavia é importante que haja uma interdisciplinaridade que complemente o entendendimento e o aprendizado do audiobranding, além de acrescentar ao estudo a riqueza das áreas competentes à análise dos estudos relacionados. Quanto a forma como o indivíduo vê, imagina ou pensa a marca não é algo de somenos para o estudo. Essas noções determinam a mitologia da marca. A marca abarca uma comunicação que propõe alguns significados, a visão, os ideais, os objetivos etc. A marca Rede Globo 29 A marca visual da Rede Globo é composta por um círculo com um retângulo e um círculo dentro deste retângulo. O logo é usado pela emissora desde de 1973, tendo a estrutura original mantida até os dias de hoje, ano de 2012, sofrendo apenas algumas variações de cor, textura e dimensionamentos. Porém com a solidificação absoluta da marca, as mudanças nos últimos anos, no caso da Rede Globo, ocorreram visivelmente de modo discreto. A solidez da marca, sua estabilidade e hegemonia da empresa talvez possam ser indicadores em potencial de uma estabilidade que não exige mudanças significativas, segundo SAMPAIO (1999). A Rede Globo de televisão lança mão de algumas variações de sua vinheta em sua programação diária, no entanto sendo uma variação da mesma vinheta apenas como uma redução da mesma completa, que será o objeto das análises a serem desenvolvidas. A vinheta da Rede Globo, o famoso Plim Plim 28, possui quinze segundos de tempo cronológico, quando executada completamente. Ela é composta por um tema orquestrado que antecede o Plim Plim. A vinheta do Plim Plim é criada em 1971 para realizar a marcação entre as pausas dos intervalos comerciais. O ruído fora encomendado pelo diretor da emissora, José Bonifácio, o Boni, com a ideia de criar um som que pudesse ser ouvido a quadras de distância, reunindo toda a família à frente da televisão. A ideia é então executada por Mauro Borja Lopes, o Borjalo e segundo ele o “Plim Plim nasceu da necessidade de demarcar o instante exato para as afiliadas da Rede Globo entrarem juntas no intervalo comercial do Festival Internacional da Canção. Antes essa entrada em rede era feita pelo telefone.” A marca Rede Record A vinheta da Rede Record de televisão é construída sobre um modelo de animação semelhante ao da Rede Globo de televisão, porém possuindo as suas peculiaridades. Por exemplo, assim como a vinheta da Rede Globo é construída por uma panorâmica pelo interior da marca que vai se constituindo aos poucos em uma forma líquida 29, o mesmo ocorre com a vinheta da marca Record, porém com a marca já constituída sendo apenas animada com um movimento panorâmico 28 Onomatopéia de fonética abrupta e palatal que descreve o som produzido para ilustrar a marca rede globo, sendo uma espécie de clique duplo estilizado, resultado de uma produção analógica acrescida de efeitos especiais sonoplásticos que geram uma sonoridade singular. 29 Modo figurado de descrever a animação da emissora Rede Globo. 30 detalhando a esfera interior da marca que gira como se fosse o globo terrestre, inclusive mostrando o continente sul americano. 3.1.1 Análise da marca A análise da marca, uma introdução para as análises sonoras, é um dos aspectos primordiais deste estudo, sendo o seu papel de fundamental importância para a análise que fará sobre a relação entre som e imagem, afim de ao máximo encerrar o assunto em uma conclusão que contemple a comunicação sonora em relação às imagens. A análise de marca 30 das emissoras está disposta de modo separado, uma após a outra, por se considerar mais organizado o seu desenvolvimento, de modo a facilitar a leitura entendendo-se ser melhor conduzida no sentido estrutural, afim de que não seja uma leitura cansativa. Muitas informações da Rede Record em relação aos itens pesquisados, como visão, identidade, empresa, perfil da marca, posicionamento e outras informações que demandam uma manifestação direta da empresa não foram encontradas em nenhum meio pelo qual a emissora se faz presente, levando o estudo a uma análise que lança mão de duas metodologias distintas de levantamento das informações que se fizeram necessárias para a análise da marca. Uma delas é o uso das próprias informações que a Rede Globo fornece para caracterizar o seu perfil. O outro método utilizado em quase todos os pontos da Rede Record seria o método da observação e levantamento de dados obtidos nos web sites da emissora. A Rede Record não possui nenhuma informação disponível a respeito de sua missão e valores. Rede Globo A proposta da Rede Globo é documentar o dia-a-dia da diversidade cultural do povo faz parte do cotidiano da Rede Globo. A emissora faz os telespectadores se 30 Disponível em http://www.slideshare.net/s1mone/personare-anlise-da-marca 31 enxergarem em uma programação feita por brasileiros, para os brasileiros. É o espelho que reflete a nossa cultura, a janela que mostra aos outros povos as cores do Brasil e através da qual se vê o Brasil e o mundo. Tudo isso está consolidado no slogan da emissora: “Globo. A gente se vê por aqui”. E dentro desse compromisso com o Brasil, ao longo dos anos, a Rede Globo vem descobrindo caminhos para entreter, informar e educar. Em questão às empresas, a Rede Globo é uma rede de televisão brasileira, fundada em 26 de abril de 1965, na cidade do Rio de Janeiro, pelo jornalista Roberto Marinho. Possui inúmeros sites na internet com todo o conteúdo de sua programação disponível. O site da emissora possui conteúdo exclusivo, produzido para a plataforma digital. A Rede Globo investe pesado em personalização com web sites próprios, com uma identidade visual fortemente conectada ao público, presente em diversas redes sociais produzindo e compartilhando conteúdo. Possui um canal próprio bastante simples no youtube 31, sem muita participatividade e identidade, com cerca de 37 mil visualizações, perfil no Twitter (@rede_globo) com cerca de 4 milhões de seguidores e página oficial no Facebook. Em relação ao perfil da marca, segundo o site da emissora 32, a Rede Globo se apresenta como uma marca que zela pela sua qualidade técnica e criativa e que tem como principal foco a liderança. Manifesta a sua preocupação com a sua integridade perante o seu espectador. Rede Record A Rede Record é uma rede de televisão aberta brasileira fundada por Paulo Machado de Carvalho, em 1953, sendo a mais antiga emissora de TV em atividade no país. Possui web site com o conteúdo televisivo, com ênfase em sua dramaturgia e reality shows. A Rede Record investe grandemente em personalização com web sites próprios, possui também identidade visual fortemente ligada ao seu público e está presente em diversas redes sociais produzindo e compartilhando conteúdo. A Rede Record possui canal oficial no youtube que é bastante trabalhado, com inúmeros hiperlinks e identificação com a sua programação na interface. Possui 31 Disponível em: <http://www.youtube.com/user/canalredeglobo?feature=results_main>. Acesso em: 06 out. 2012. 32 TV Globo e Você. Disponível em:<http://redeglobo.globo.com/TVG/0,,9648,00.html>. Acesso em: 06 out. 2012. 32 cerca de 69 milhões de visualizações em seu canal, perfil oficial no Twitter (@rederecordtv), com cerca de 71 mil seguidores e página oficial no Facebook. A Rede Record coloca-se diante de seu espectador com o slogan “TV de primeira pra você” posicionando-se como uma televisão de qualidade. A Rede Record apresenta um histórico de disputas pela liderança através da contratação de grandes nomes, demonstrando também grande preocupação com qualidade criativa e técnica. 3.1.2 Hans Donner Em 1974 Hans Donner decidiu morar no Brasil após conhecer parte de um trabalho publicitário criado por brasileiros e se interessar pelo país. Hans Donner é apresentado a Walter Clark, então diretor-geral da TV Globo. Na época, a emissora não possuia um departamento de arte, e as aberturas dos programas eram realizadas por uma empresa terceirizada. Hans Donner conquistou o emprego um dia antes de desistir do sonho de desenvolver a sua carreira no Brasil, após vinte dias de frustração por não conseguir um emprego em qualquer outro lugar. Esse fato é muito importante para a história do designer, pois é em sua volta para o seu país de origem, no avião, que nasce, em um guardanapo de papel, o primeiro esboço para o que seria a nova marca da Rede Globo. Hans Donner retorna para seu país para regularizar documentos e a sua mudança definitiva para o Brasil. Hans Jurgen Donner nasceu em 31 de julho de 1948, em WuppertalElberfeld, na Alemanha. Aos dois anos foi viver com a mãe e os irmãos às margens do Lago de Constance na fronteira entre Suíça, Alemanha e Áustria. Estudou em Viena na Hohere Graphische Bundeslehr-und-Versuchsanstalt, quando se formou em 1970. Hans Donner ingressa na Rede Globo no ano de 1975, ano que coincide com a comemoração de 10 anos de aniversário da emissora. Considerou-se importante o estudo do trabalho do designer Hans Donner por ser importante para as análises da marca Rede Globo. As influências do designer, sua escola, seu estilo etc, pode ser peça chave para uma percepção mais 33 coerente da marca da emissora. O estudo se faz necessário para o entendimento de todas as dimensões da pesquisa de conclusão do curso de Multimeios. No avião da Swissair, quando eu sobrevoava o Atlântico, o logotipo da Globo veio ao mundo, sobre um guardanapo de papel que guardo até hoje. Tive a súbita compreensão de que a palavra globo só poderia remeter a idéia de mundo, só poderia ser visualizada como volume" Hans Donner 33. 33 HANS DONNER: a história de sucesso. Disponível em: http://www.hansdonner.com/portuguese/tsstory/index.htm. Acesso em: 23 out. 2012. 34 4 CRONOLOGIA DAS VINHETAS DA REDE GLOBO E DA REDE RECORD O estudo das vinhetas das emissoras Rede Globo e Rede Record necessita do levantamento cronológico de suas vinhetas como parte fundamental de sua análise. No entanto não com o propósito quantitativo de transcrever vinheta por vinheta de modo documentativo, mas apenas traçar um plano que aponte alguns fatores influentes na criação das vinhetas sonoras analisadas, as vinhetas sonoras de 2012. Somente tal estudo pode responder a alguns problemas surgidos durante o desenvolvimento das análises. Um deles se deu em relação ao próprio conceito de audiobranding, afinal a emissora Rede Globo utiliza praticamente o mesmo recorte melódico (que melodiza a frase “rede globo”) desde quando o designer Hans Donner redesenhou a sua marca. Por outro lado a emissora Rede Record, a mais antiga rede de televisão aberta em atividade e com um histórico de marcas sonoras muito mais diversificado, no sentido de serem diferentes entre si. Muitas vezes com uma estrutura complexa e de pouco apelo mnemônico para a marca. Portanto apenas alguns exemplos são transcritos para finalidades específicas. A cronologia das vinhetas das duas emissoras serão reduzidas apenas ao que é considerado relevante para o estudo, não se colocando a pesquisa no compromisso de encerrar todos os detalhes das vinhetas sonoras das emissoras Rede Globo e Rede Record. Sendo o audiobranding um objeto sonoro que identifica uma marca e se associa a ela de modo indelével de modo a ser uma das linguagens da comunicação publicitária e midiática de uma empresa, algumas das peças sonoras criadas pela Rede Record seriam um caso de audiobranding ou apenas uma trilha sonora da marca? Deste modo o audiobranding seria apenas uma peça sonora que atingisse a finalidade de se perpetuar como complemento comunicativo da marca, legitimando assim o uso repetitivo do recurso sonoro, como faz a Rede Globo, ou uma peça sonora indistinta que possuísse as mesmas características, mas que não atingisse necessariamente uma função de associação entre marca e objeto sonoro? Uma questão importante que a pesquisa da cronologia levanta é o quanto o estilo adotado por cada emissora ao longo dos anos, ainda que sofrendo variações ou até mesmo mudanças abruptas de estilos, caracteriza um Ethos da emissora (disponível em <http://www.significados.com.br/ethos/> acessado em 30/10/2012), 35 significando dizer qual é a maneira, carácter, posicionamento e postura com que essa emissora se apresenta. Rede Globo A Rede Globo de televisão possui dez mudanças em sua marca ao longo dos anos, sendo três delas essenciais segundo o designer Hans Donner, a primeira em 1965, a segunda em 1966, e a última, sua obra prima, em 1975 com a chegada do desginer Hans Donner. Marcas utilizadas pela Rede Globo: A Rede Globo possuiu essencialmente três marcas, a primeira marca da emissora criada em 1965 por Aloísio Magalhães, por ocasião da fundação da emissora. O logo representou a empresa por pouco tempo, sendo substituído em 1966. Figura 1: A primeira marca Rede Globo, de 1965 O desenho representa um cata-vento (rosa dos ventos) de quatro pontas. A Rede Globo possuía o canal 4 em sua fundação na cidade do Rio de Janeiro e o elemento número 4 é claro e visível na imagem, que na verdade é formada simetricamente por quatro números 4. A Rede Globo não utilizou nenhum recurso sonoro para essa marca, apenas exibia a marca em um fundo preto, a transmissão ainda era em preto e branco. Em 1966 a marca sofre sua primeira mudança essencial. Um globo com duas esferas: 36 Figura 2: Marca Rede Globo apresentada em 1966. Com essa nova marca a Rede Globo produz a sua primeira vinheta sonora, depois de, com a mesma marca, a de duas esferas, produzir duas vinhetas mudas. Uma música militar conclama o telespectador com uma voz imponente que diz: “No ar, mais um campeão de audiência no seu canal 4”. Em 1973 o globo com dois hemisférios continua o mesmo mas com uma mudança, vários círculos acompanham a marca, que agora se apresenta como um logotipo, contendo a inscrição Rede Globo. A intenção é trazer a idéia de rede e interligação. As vinhetas criadas para este logotipo da Rede Globo continham algumas imagens de programas da época que eram transmitidos pela emissora. No mesmo ano surge o famoso coro de quatro notas que entoa o Rede Globo. Coro este que é utilizado até os dias de hoje e que precede o Plim Plim. Figura 3: Globo com dois hemisférios e vários círculos, de 1973 Em 1975 o designer Hans Donner cria a nova marca da Rede Globo, sendo esta a última mudança essencial na identidade visual da emissora. A forma original 37 seguiu imutável até o ano de 2008, sendo modificada em suas características superficiais somente cinco vezes. Figura 4: Primeira versão da marca definitiva da Rede Globo, de 1975 A nova marca da Rede Globo traz uma esfera representando o planeta terra, dentro do globo um retângulo com lados curvilíneos, que representam a televisão e dentro dela mesma outra esfera é apresentada, representando a imagem do mundo dentro dele mesmo. A Rede Globo desde suas primeiras vinhetas utiliza slogans com frases de efeito, por exemplo “o que é bom está na globo”, que trazem para o ambiente da emissora uma noção de universo, no slogan “Globo, a gente se vê por aqui”, a diretora de Comunicação Corporativa da Rede Globo, Mônica Albuquerque 34, declara “A TV Globo se consolidou como espelho, janela e ponto de encontro para muitas pessoas, por isso, há sete anos (2005), adotamos o slogan”. Na década de 80 a Rede Globo lança o audiobranding “Rede Globo” melodizado com quatro notas e que perdura até hoje. Figura 5: Audiobranding Rede Globo criada na década de 80 Fica sendo o segundo audiobranding da emissora o Rede Globo com uma característica essencial de audiobranding. 34 Disponível em <http://redeglobo.globo.com/globouniversidade/noticia/2011/07/seminario-tematico-intercompesquisa-na-tv-globo.html>. Acesso em: 02 nov. 2012. 38 O Plim Plim foi o primeiro audiobranding criado pela Rede Globo de televisão em 1971, para realizar a sincronização entre suas filiais. Em sua primeira vinheta, o Plim Plim era apenas uma espécie de bip 35 e foi utilizado sem mudanças de 1971 até 1976. De 1976 até 1978 já com uma nova versão da marca criada por Hans Donner, o mesmo bip ganha uma nova versão também e desde 1978 estabeleceu-se a sonoridade que até hoje é utilizada sendo apenas modificada em níveis mais superficiais de timbre, mas com a mesma proposta sonora, uma espécie de bip recheado de delays e ecos, sendo assim uma audiobranding com uma sonoridade bastante marcante. Em linhas gerais o Plim Plim acompanha a marca de um modo quase indissociável desde 1971; cronológicamente e de modo seqüenciado com as vinhetas suas mudanças aconteceram da seguinte maneira: 1971 Um vortex estático funciona com o Plim Plim em forma de bip. – 1972 1972 1976 1976 1978 1978 1981 1981 1982 O vortex agora colorido indica a chegada da televisão colorida. O mesmo bip continua. A marca dá um zoom duas vezes acompanhando o Plim Plim que ainda subsiste em forma de bip, porém um bip mais agudo. Dois logos “Rede Globo” em ciano se colidem e brilham na cor branca, essa é a primeira versão do Plim Plim tal como o conhecemos. Um círculo contornado passa pelo circulo preenchido e o círculo preechido rotaciona, estourando a cor branca, que acommpanha um Plim Plim com um pouco mais de sustain. 1982 1983 A marca Rede Globo surge da parte inferior do plano preto. Dois brilhos brancos cintilam ao som do Plim Plim que parece permanecer igual ao ano anterior. 35 Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=9mYXZNeA5SU>. Acesso em: 02 nov. 2012. 39 1983 1984 Foram criadas duas verões, na primeira, a marca Rede Globo executa Um movimento rotativo e estaciona. Um Plim Plim com menos eco é tocado. Na segunda a marca executa dois movimentos rotativos, desta vez com um contraste menor, mais escuro, e estaciona da mesma forma. 1984 1987 1987 1994 1994 Três partes da marca se movimentam diametralmente e um Plim Plim com mais eco e reverb é tocado. As três partes de dois logos Globo movimentam, agora levemente coloridos com o Plim Plim. O Plim Plim recebe uma nova proposta, vinhetas animadas feitas por cartunistas famosos como Ziraldo, Chico Caruso, Millôr e Borjalo. Mensagens de cidadania, dicas de prevenção à Aids e à dengue foram alguns dos temas abordados nas animações, que tinham duração de 30 segundos. 36 2009 As duas esferas do Globo realizam o movimento de translação pelo espaço e se fundem na marca, finalizando com o Plim Plim. Figura 6: Cronologia das vinhetas do Plim Plim, Rede Globo. As vinhetas do Plim Plim além de sinalizar na programação da emissora, possuem um papel de entretenimento, através de animações temáticas, sejam elas na simples brincadeira com o logo animado ou em animações educativas de curta duração, que buscam demonstrar o compromisso, visão e valores da empresa. Rede Record A Rede Record foi fundada em 1953, sendo a mais antiga rede de televisão canal aberto em atividade no país. As vinhetas da Rede Record são inúmeras e as mudanças em sua marca também. A Rede Record já fez em torno de quinze alterações essenciais em sua marca: 36 Disponível em: <http://redeglobo.globo.com/Tv_globo/Noticias/0,,MUL1097229-16162,00VOCE+SABIA+O+PLIM+PLIM+FOI+CRIADO+PARA+MARCAR+IDA+E+VOLTA+DOS+INTERVALO S.html>. Acesso em: 03 nov. 2012. 40 Figura 7: Histórico das alterações das marcas Record até o ano de 2012 Figura 8: Marca Record lançada em 2012 41 Uma descrição histórica da marca Rede Record: Primeira marca Record, uma rosa-dos-ventos com a descrição "TV 953 Record" Record completa 1 ano no ar com logotipo comemorativo. 954 Record completa 5 anos no ar com logotipo comemorativo. 958 Record completa 10 anos no ar com logotipo comemorativo. 963 Uma Torre de Transmissão e com a marca "Record 7" é inaugurada. 965 Record completa 15 anos no ar com logotipo comemorativo. 968 O logo "Record 7" permanece. A Rede Record completa 20 anos no 973 ar com logotipo comemorativo. O logotipo com um sol (semelhante a um girassol ou a um olho) e o 976 nome "TV Record" reaparecem. A Record completou 25 anos no ar com logotipo comemorativo. 978 Um semicírculo colorido semelhante a um arco-íris, com o nome 980 "Record" é inaugurado. A Record completa 30 anos no ar com logotipo comemorativo. 983 Um Logotipo com Quatro faixas formando um losango dourado e o 986 nome "Record" é inaugurado. Record completa 35 anos no ar com o logotipo comemorativo. 988 Primeira concepção do logotipo atual, uma esfera de cor azul claro, 990 com três faixas circulares em vermelho, verde e azul ao seu redor. Marcou a entrada de Edir Macedo no comando da emissora, a partir de julho,a antiga TV Record começou a formar uma cadeia de emisoras em rede nacional, passando a se chamar "Rede Record" 42 A Rede Record completa 40 anos no ar com um logotipo 993 comemorativo. A esfera fica maior e cinza e as faixas passam a ser duplas e 994 prateadas com bordas coloridas. Meses depois, ainda no mesmo ano, as faixas passam a ser coloridas e o nome "Rede Record" permanece. Número 45 aparece depois do logotipo da "Rede Record". 998 A esfera passa a ser o planeta Terra, simbolizando o sinal da Rede 003 Record Internacional, nos 50 anos da emissora. O logotipo da "Record" gira e depois, aparece as palavras Record, e depois, 50 anos. A imagem sofre uma pequena modificação, os arcos deixam de ser 005 transparentes e ficam reflexivos, o planeta fica mais nítido e centralizado, além das inscrições "Record" ficarem brancas com bordas em azul-claro. O planeta Terra passa a ser todo azul, representando apenas o 007 contorno dos continentes. As faixas passam a ter cores uniformes. Lançado no dia da inauguração da TV digital no Brasil, o significado é o mesmo do anterior. a Record completou 55 anos no ar com logotipo comemorativo e teve 008 vinheta pós-chamadas. O planeta Terra passa a ser levemente prateado, e representa o contorno dos continentes (em destaque a América do Sul e o Brasil) e as 012 faixas passam a ser grudadas na esfera. A nova logomarca da Record foi lançada no final do mês de fevereiro, durante o Domingo Espetacular. A partir daí, a nova logomarca será usada em suas vinhetas pós-chamadas e durante a programação da emissora. Figura 9: Cronolodia de marcas Record Globo 37 Achou-se interessante metodológicamente a abordagem da cronologia das vinhetas sonoras da Rede Record a partir de 2012 de modo retrocedido, primeiramente pela busca de uma relação evolutiva da vinheta sonora de 2012, objeto do estudo, afinal a história da emissora, rica em mudanças em aspectos administrativos, que não vem ao caso relatar, e de outras naturezas, de certo modo 37 Extraído de <http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_logotipos_da_Rede_Record> Acesso em: 4 Nov. 2012. 43 retalham a produção das vinhetas em relação a constância. As mudanças na marca também demonstram essa inconstância, significando dizer também que as vinhetas da Rede Record dão os indícios de tais mudanças administrativas na emissora. Não existe praticamente uma mudança evolutiva, as modificações são bruscas, no que diz respeito ao objeto sonoro das vinhetas, com raras exceções. Mas voltando à questão metodológica, o modo retrocedido como se escolhe abordar esta cronologia também não altera em nada a sua análise. A vinheta sonora da Rede Record criada em 2012 é uma renovação para a vinheta que vinha sendo reproduzida desde o ano de 2007 e que dá evidências de que foi criada para a nova marca especificamente. Uma marca sonora nova para uma nova marca. A vinheta antecedente foi o primeiro audiobranding criado pela emissora Rede Record. É interessante verificar que, semelhantemente a audiobranding da emissora Rede Globo, a Rede Record “melodizou” o nome Record, uma melodia de duas notas (sétima maior > tônica), um G# e um A, que acompanham o ditongo crescente “re - cord”. A sétima maior em direção a tônica caracteriza o intervalo sensível de um dominante, significando dizer que induz a resolução ½ tom acima, ou em direção à tônica. Figura 10: Audiobranding da vinheta Record utilizada nos anos de 2007 a 2011 Essa mesma nota A (lá) é repetida em uma espécie de bip que sonoriza um “tilintar brilhoso” na marca. A vinheta sonora do ano de 2006 conta com o seguinte slogan: “Record, tudo passa aqui” e uma orquestração no estilo de trilha sonora, apenas um tema com harmonia e melodia em um estilo progressivo na tonalidade A (lá maior), fazendo alguns empréstimos modais da tonalidade de AM (lá menor). 44 Figura 11: Vinheta sonora Rede Record de 2006 As vinhetas de 2006 até 2000 são genéricas em seu ponto de vista sonoro e com a mesma característica sonoro, baseada em um estilo de arranjamento, composição e estrutura melódica/harmônica bastante relacionável entre si, talvez seja esse o ponto em comum que seja possível de se traçar entre as vinhetas sonoras da Rede Record. É notável o quanto o ritmo é um elemento fortemente presente e que gera uma sensação peculiar no exercício de sua audição, já fazendo uma análise um tanto intuitiva desses materiais produzidos, como se houve alguma espécie de interação, no sentido de que pensando no processo hipermidiático, no sentido de que o telespectador vê imagem, ouve sons e faz inferências a respeito dos estímulos, é como se a marca o chamasse para dançar; segundo Santaella (2001, p. 170): “Padrões rítmicos regulares criam expectativas cujo preenchimento funciona como uma fonte de prazer para o ouvinte, gerando um estado de bem estar físico inerente ao movimento regular do corpo”. A vinheta sonora da Rede Record do ano 1997 possui características de um audiobranding, sendo uilizado pela emissora até o ano 2000. Sua simples forma melódica e harmônica sugere uma fácil assimilação, característica principal da audiobranding e que é utilizada na função de chamadas comerciais da emissora. O exemplo sonoro transcrito 38 é referente a duas versões da mesma vinheta mas arranjadas diferentemente, uma com sintetizador, mais simples, com uma harmonia em sustain (que tem sustentação) e a melodia com timbre estilo fantasia (que tem características sonoras que sugerem a noção de fantasia, metaforicamente falando), denominada “vinheta 1”. E a outra com a mesma melodia, desta vez executada com uma guitarra com timbre estilo overdrive (tipo de timbre sujo e levemente distorcido) e uma sessão percussiva, denominada “vinheta 2”. 38 Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=rhxOXVF_db8> Acesso em: 10 nov. 2012 45 Figura 12: Vinheta 1, Rede Record ano 2000 A “vinheta 1” produzida no ano 2000 aqui apresentada é uma vinheta de chamada para comerciais da Rede Record. Os vídeos possuem em média 5 segundos, no qual a marca com o logotipo Record são exibidos no quadro da TV. No exemplo, a tonalidade é D (ré maior), com o Eb (mi bemol) funcionando como uma dominante, conhecido como SubV (sub-quinto) ou bII dominante (bemol dois dominante). A melodia de três notas acompanha a harmonia com um movimento de dominante. A primeira nota, um Bb (si bemol) é faz um intervalo de 5º (quinta justa) com o acorde principal Eb (mi bemol). No compasso seguinte a nota A (lá), faz um intervalo de 5º (quinta justa) com a tonalidade D (ré), em seguida um D (ré) na própria melodia, reforçando o repouso. Figura 13: Vinheta 2, Rede Record ano 2000 No segundo exemplo a tonalidade está a um tom abaixo, isto é, C. A tonalidade é C (dó maior), com o Db (ré bemol) funcionando como uma dominante, conhecido como SubV (sub-quinto) ou bII dominante (bemol dois dominante) De igual modo, em relação a vinheta 1, de mesma estrutura em todos os aspectos, a primeira nota Ab (lá bemol) faz um intervalo de 5º (quinta) com o acorde principal Db (ré bemol) e no segundo compasso uma variação da mesma intenção, o G (sol) representa a 5º (quinta justa) do acorde de C (dó), aqui a nota F (fá), 4º (quarta justa) surge como uma nota de passagem da melodia que resolve em um C (dó), tônica, como no primeiro caso. 46 A vinheta sonora do ano de 1994 traz um audiobranding da emissora Rede Record que é bastante forte. Figura 14: Vinheta Rede Record 1994 O audiobranding é uma variação em torno do primeiro grau (Iº) A (lá). Estrutura simples, em uma escala diatônica maior, de fácil assimilação. A vinheta sonora de 1994 39 possui uma outra versão mais em formato de trilha sonora do que um audiobranding, por possuir uma orquestração e não existir uma melodia presente. Figura 15: Vinheta sonora Rede Record 1993/1994 Em 1992 o audiobranding conta com um intervalo de quarta justa na vinheta de chamada. Figura 16: Intervalo reproduzido na audiobranding Rede Record 1992 O intervalo está presente no Hino Nacional Brasileiro, por exemplo, nas palavras iniciais, mais especificamente em “ou-viram...” as duas notas que melodizam as duas sílabas em negrito, caracterizam o intervalo de 4ª justa (quarta justa). Até este ponto da história da emissora é possível se traçar uma panorâmica de sua história de criação de vinhetas e já é possível se chegar a algumas conclusões em relação à noção de audiobranding e a um dos objetos do estudo, a emissora Rede Record. 39 Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=Qu-az74TKJw>. Acesso em: 10 nov. 2012. 47 Basicamente, diferentemente do que inicialmente se inferiu a Rede Record encara a sua vinheta sonora como o audiobanding de sua marca, porém não a vê como uma composição que deva ser perpetuada o máximo possível. Talvez o fato de sua marca ainda ser uma concepção bastante nova, pois foi criada em 1990, e ainda passar por transformações significativas, e em alguns momentos bastante abruptas. É válido ter-se em mente o fato de que a emissora é adquirida por Edir Macedo (Líder máximo da denominação religiosa Igreja Universal do Reino de Deus) no ano de 1989, ano em que a marca definitiva da emissora é concebida. A marca que representou a emissora no período de 1985 a 1989 já é um protótipo do novo logo que é instituído a partir de 1990. As vinhetas sonoras produzidas nos anos antecedentes a 1986 acompanham a mesma linha de criação dos anos subsequentes. As orquestrações predominam mais como trilhas sonoras nas vinhetas do que como sons que tenham um papel como timbre da marca. Desse modo considerou-se o trabalho das cronologias das vinhetas das emissoras Rede Globo e Rede Record por encerrado e satisfatório para o propósito almejado. 48 5 DESENVOLVIMENTO DAS ANÁLISES “A LINGUAGEM SONORA DA AUDIOBRANDING Para o desenvolvimento das análises sobre as audiobrandings das emissoras Rede Globo e Rede Record serão utilizados basicamente os materiais vinculados no ano de 2012 entre o período de agosto e setembro, período que o material fora coletado. Iniciando as considerações a respeito das características sonoras de cada vinheta levo em consideração a seguinte ordem para as análises, em primeiro lugar a vinheta da emissora de televisão Rede Globo e em segundo lugar a Rede Record. Em primeiro lugar alguns rudimentos básicos e conceitos foram fundamentais para a exposição das análises sonoras, assim como julgou-se importantíssimo o estudo do objeto visual, a análise da marca e outros aspectos complementares ao estudo da audiobranding. Conceitos importantes como as propriedades do som, são fundamentais para o pensar no processo perceptivo e fazem todo o sentido para a pesquisa de audiobranding. O som apresenta as seguintes propriedades: altura, duração, intensidade e timbre. Em palavras mais descritivas, temos a altura no som representada como agudo ou grave. A duração é relacionada ao tempo em que uma nota soa ou quanto tempo de silêncio há entre um som e outro (LIMA 2001). A intensidade pode ser relacionada com o volume dos sons que são emitidos. E o timbre pode ser relacionado à característica sonora que cada instrumento produz, relativa a qualidade dos instrumentos em densidade, condutividade etc, isto é, um instrumento de madeira maciça pode ressoar uma vibração com mais sustentação do que outros de madeira com menos qualidade. Tendo em mente esses quatro elementos da física sonora, traz-se o conceito de objeto sonoro, matéria prima do estudo, que contempla as quatro propriedades e ainda um cabedal de significados e valores multiplos e ambíguos. Segundo Schafer (1992): O objeto sonoro pode ser encontrado em qualquer parte. Ele é agudo, grave, longo, curto, pesado, forte, contínuo ou interrompido. Os objetos sonoros podem ser encontrados dentro ou fora das composições musicais...Frequentemente o objeto sonoro ocorre nas 49 vizinhanças de outros objetos sonoros. Nesse sentido, podemos falar da vida social do objeto sonoro. Quando falamos assim, falamos metaforicamente, pois na realidade o som consiste em vibrações mecânicas sem vida. É uma preferência antropomórfica que nos inclina a falar de música em tão grandes metáforas como o ato de trazer sons a vida e dar-lhes existência social. Os objetos sonoros podem diferir de vários modos importantes, através de variações em: 1. frequencia (altura), 2. intensidade (volume), 3. Duração, 4.timbre (Timbre). Segundo Schafer (1992, p. 174), “Qualquer coisa que se mova, em nosso mundo, vibra o ar. Caso ela se mova de modo a oscilar mais de dezesseis vezes por segundo, esse movimento é ouvido como som”. As análises das audiobrandings da Rede Globo e da Rede Record de televisão são realizadas com uma linguagem musical e descritiva com base na teoria musical clássica e na música descritiva de Schafer (1999) respectivamente. Nas análises sonoras, as notas musicais, dó, ré, mi, fá, sol, lá e si, são representadas graficamente por cifras, C, D, E, F, G, A e B, respectivamente. Foi realizada uma análise harmônica funcional em cada tema apresentado, cujo propósito é dissecar o objeto sonoro e apresentar a forma com a qual essas composições são construídas e também evidenciar o papel comunicativo de cada composição. Em relação a harmonia funcional, Koeullreutter (1986) define: Função é uma grandeza suceptível de variar, cujo valor depende do valor de uma outra. Na harmonia, entende-se por função a propriedade de um determinado acorde, cujo valor expressivo depende da relação com os demais acordes da estrutura harmônica. Esta é determinada pelas relações de todos os acordes com um centro tonal, a tônica...O sentido da função musical resulta no contexto, do relacionamento, consciente ou inconsciente, de fatores musicais, antecedentes e consequentes, que devem ser ouvidos e sentidos. Varia, oscila, entre os conceitos de repouso (tônica) e movimento (subdominante e dominante), afastamento (subdominante) e aproximação (dominante). A audiobranding analisada neste estudo da Rede Globo é uma cama harmônica que culmina no famoso Plim Plim, elemento sonoro fixador. Utilizou-se para as transcrições um teclado Korg X50; a estrutura dos timbres é igual a do modelo Triton, cuja lista de timbres e efeitos atendeu a todas as necessidades exigidas para a demanda. Para a notação musical utilizou-se o Musescore, um software gratuito, editor de partituras para Linux. Toda a relação de timbres está contida nas imagens, inclusive os comentários cabíveis. 50 Os timbres conseguidos são apenas uma aproximação do real, utilizado pelos criadores das vinhetas. Julgou-se não ser necessária a busca por um resultado fiel, mas apenas o que trouxesse a possibilidade de uma análise sonora coerente com os resultados alcançados. A estrutura sonora das audiobrandings das emissoras Rede Globo e Rede Record foi escrita em pautas musicais para a sua análise. Os aspectos sonoros da vinheta são analisados de modo a dissecar os seus atributos, no que tange aos timbres, a funcionalidade da harmonia, os movimentos das vozes, da melodia etc. Iniciando pela Rede Globo, o Plim Plim é um elemento sonoro a parte. Foi concebido para cumprir uma função específica e ganhou uma força mítica sem precedentes na história do audiobranding. A vinheta do Plim Plim é criada pela Rede Globo para marcar a passagem de ida e de volta dos intervalos comerciais. A intenção era fazer com que o som pudesse ser ouvido a quadras de distância, conclamando as famílias a voltarem para a frente do televisor. Foi encomendado em 1971 pelo então diretor da emissora, José Bonifácio, o Boni, ao qual se atribui a proposta inicial de buscar com a vinheta, conclamar as pessoas à quadras de distância. A idéia foi executada por Mauro Borges Lopes, conhecido como Borjalo 40. O audiobranding Plim Plim também exercia uma função técnica para as emissoras afiliadas, ele era utilizado para que essas se alinhassem com a emissora nas entradas dos intervalos comerciais do Festival internacional da Canção 41. Fato curioso é que antes disso esse alinhamento era realizado pelo telefone. Originalmente o Plim Plim era um simples Bip 42 apenas ganhando o efeito que se é usado até hoje em 1978, ficando marcado e naturalmente apelidado como Plim Plim. O tema, ou a música da audiobranding está disposto em um encadeamento de combinações harmônicas. 40 “Você sabia? O plim plim foi criado para marcar ida e volta dos intervalos”. Disponível em:http://redeglobo.globo.com/Tv_globo/Noticias/0,,MUL1097229-16162,00VOCE+SABIA+O+PLIM+PLIM+FOI+CRIADO+PARA+MARCAR+IDA+E+VOLTA+DOS+INTERVALO S.html. Acesso em: 11 out. 2012. 41 Festival criado em 1966 para promover a MPB e incentivar jovens compositores e arrajadores. Disponível em: http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,GYN0-5273-257639,00.html. Acesso em: 11 out. 2012. 42 Onomatopéia que analogiza o som duplo de uma pulsação sonora padronizada. 51 São duas seções que estão em tonalidades distintas (Eb e F) mas que funcionam como se fossem uma só. O que se tem é um contraste harmônico, que fica patente na mudança abrupta de movimento na segunda frase, a que antecede o Plim Plim. Cama sonora para o movimento do logo Rede Globo: Figura 17: “Cama” sonora Rede Globo 2012 A audiobranding analisada neste estudo da Rede Globo é uma cama harmônica que prepara a frase que antecede o Plim Plim, elemento sonoro fixador. Neste primeiro trecho, a tonalidade gira em torno de Eb (mi bemol) e seu relativo menor, Cm (dó menor), em um movimento combinado, acompanhando as duas notas principais da melodia, G e Bb (Sol e Si bemol), que são notas de uma melodia bem sutil, significando dizer que não se situam na ponta da harmonia, isto é, não são as notas mais agudas, mas nas notas mais graves do agrupamento. A melodia é um movimento de terça menor entre a terça (G) e a quinta (Bb) de Eb (tonalidade). Caracterizando uma Consonante Imperfeita 43 que cria uma sensação de repouso, contrário da sensação de movimento criada por intervalos dissonantes. A peça antecede a frase de preparação para o Plim Plim. Há duas células rítmicas, uma semínima e uma mínima. A harmonia contida na semínima conta com duas notas apenas, o que seria mais ou menos um Double Stop , que são o G (sol) como baixo e o C (dó) como tenor. Em seguida, na célula seguinte, mantém-se o G no baixo, o C (dó) desce um tom, indo para Bb (si bemol) e mais duas notas são acrescentadas, formando uma tétrade , a nota Eb (mi bemol) e a nota F (fá), gerando um acorde de Eb9 (mi bemol maior com nona) acorde de primeiro grau, tônica. 43 Imperfeita porque são intervalos fechados, de terça menor = 1 tom e ½. É igual ao intervalo de segunda aumentada. 52 O movimento das vozes 44 da primeira célula para a segunda é um movimento oblíquo, já que uma voz se conserva firme, no caso do G (sol), enquanto a outra se movimenta para qualquer direção, no caso do C (dó) que vai para o B (si). Os timbres utilizados para a execução da peça contam com efeitos sonoros que criam uma sensação em relação ao Plim Plim, no sentido de haver uma relação sonora comunicativa entre os sons. Nesta primeira parte da vinheta curta da Rede Globo trata-se de um Pad estilo “PROG B025” e PROG C025 Korg Triton. Um teclado sintetizador. A impressão de um ornamento crescente é produzido por um filtro chamado EG intensity e um chimbal eletrônico chamado reverse cymbal (G120), isto é, um chimbal no modo reverso. Em relação ao Plim Plim, a noção de repouso parece ser proposital, pois o ruído do Plim Plim é uma resolução da tensão criada pelo acorde. De modo mais descritivo 45 o Plim Plim funciona como um ponto final da assinatura, incorporada pelo segundo trecho harmônico: Figura 18: Trecho harmônico Rede Globo 2012 O segundo trecho da vinheta da Rede Globo é o fraseado melódico em unísono de quatro notas que será chamado de assinatura. O audiobranding é utilizado pela emissora desde meados da década de 70. A Rede Globo já percebia o quão importante era a sua identidade sonora e já a trabalhava desde o início de sua jornada. Como a frase resolve em F (fá), a tônica, supõe-se que o movimento D - Bb C - F (ré - si bemol - dó - fá), trabalhe um movimento de subdominante > dominante 44 KOELLREUTTER, H. J. Harmonia funcional: introdução à teoria das funções harmônicas. 2. ed. São Paulo: Ricordi, 1986. 45 De acordo com “Música Descritiva” Shaffer (1999, p. 172) 53 > tônica, tendo o D (ré) uma função de terça do IV grau subdominante Bb (si bemol). O C (dó) possui função dominante, por ser o V grau de F (quinto grau de fá), tônica. A dimensão ritmica da frase diz muita coisa, é uma frase acentuada e rápida, feita de quatro acentos ritmicos, resolvendo no I grau, fechando a peça de modo conclusivo para a execução do Plim Plim. Como as vozes estão em uníssono, o movimento das vozes é paralelo, visto que todas as vozes mantém o mesmo intervalo entre si, o de oitava. Anteriormente à passagem é tocado um Pad com uma harmonia de fundo, com um timbre da categoria Motic da Korg (similar ao COMBI A034 Triton) com abertura do filtro EG intensity. O timbre principal utilizado no sintetizador é o Synth Brass. No último ataque a nota F (fá) é enfatizada com a sua duplicação e o acréscimo da quinta, o C (dó). O timbre é diferenciado do restante da frase, trata-se de um Orchestra Hit (GM 056). A vinheta completa da Rede Globo possui dezenove segundos e é uma orquestração bastante elaborada que segue o mesmo motivo sonoro desde 2003 e que apenas sofre algumas alterações. Entretanto já é possível perceber nos últimos anos que a audiobrading da emissora está ficando cada vez mais sólida com praticamente as mesmas variações desde 2007. É conhecida como vinheta interprogramas. Figura 19: Arranjo Vinheta Interprogramas Rede Globo 2012 A peça sonora da audiobranding interprogramas da Rede Globo possui seis compassos, sendo que os quatro primeiros estão sob uma fórmula de 12/8 (doze por oito), o quinto em 6/8 (seis por oito) e o último em 4/4 (quatro por quatro). 54 O arranjo transcrito é a representação de uma única linha, isto é, as três linhas transcorrem de modo paralelo, representando uma seção melódica e uma harmônica que acontecem na primeira e na segunda linha e uma seção rítmica que acontece na terceira linha. Trata-se de um tema orquestrado cuja tonalidade está em F (fá maior). A segunda linha da transcrição representa a linha do baixo que fica sempre em F (fá), uma espécie de baixo pedal 46, (em vermelho) até o terceiro compasso. A melodia, no primeiro compasso faz um movimento ascendente quartal, C > F > Bb, indicando o movimento para o IV grau subdominante Bb (si bemol), sendo o baixo um F, o IV grau (quarto grau) está na segunda inversão, isto é, com a sua quinta (F) no baixo. No terceiro compasso o acorde caracteriza-se um F (fá maior) pela melodia A > C > F (lá, dó e fá, respectivamente terça, quinta e tônica) e o baixo F. Em análise, o movimento harmonico funcional dos três primeiros compassos é I grau maior > IV grau maior > I grau maior; movimento Subdominante > Tônica. Um movimento ascendente de Ab > Bb > C representa uma modulação para a tonalidade de C, bVI > bVII > I (sexto grau bemol, sétimo grau bemol, tônica). Todas as vozes caminham em um movimento paralelo 47, já que as vozes seguem a mesma direção, conservando o mesmo intervalo entre si. Estão disposta em tônica, oitava, terça e quinta. O último compasso é o fraseado melódico em unísono de quatro notas chamado assinatura. Ele está na tonalidade de F, e harmonicamente é uma modulação abrupta, sem ligação com o encadeamento anterior. O último acorde utiliza um timbre estilo GM056, Orchestra Hit. Os sons são conhecidos como fantasia, terminologia empregada para o estilo estético da peça e que denomina alguns timbres utilizados na mesma. A vinheta emprega o timbre Synth Brass (GM063 ou GM064) com um Reverse Cymbal (GM120) crescente, com o tema da vinheta entrando subtamente, sofrendo alterações no andamento, que acelera. O padrão rítmico está em Fade in, após uma série de efeitos sintetizados com o efeito não cromático de abertura e fechamento de filtro. A percussão (espécie de tambor) executa ligeiras variações do padrão anotado na seção rítmica, espelhado também no primeiro compasso pelo timbre da melodia principal, tocando o acorde cifrado, em menor intensidade. 46 47 Independente da variação harmônica, o baixo mantêm-se na mesma nota. KOELLREUTTER, 1986. 55 O audiobranding da Rede Globo é um produto da maturidade da emissora em perceber a importância e o valor de sua marca na dimensão sonora. A pesquisa das vinhetas da emissora ao longo dos anos deixa claro o seu pensamento em relação a esta matéria. A Rede Record é o ponto do estudo de maior dificuldade para o desenvolvimento das análises, um dos motivos é a ausência completa de uma preservação pública da memória da empresa, o que dificultou em muito o acesso ao material necessário para um estudo relacionado das duas emissoras. Em relação com o que há disponível em termos de audiobranding televisiva no mundo, a Rede Record não possui essa ferramenta, muito menos uma identidade sonora permanente, apenas insere trilhas sonoras a suas vinhetas. A vinheta utilizada pela emissora no ano de 2012 é uma peça de cerca de treze segundos. A peça foi transcrita nos mesmos moldes das transcrições das vinhetas Rede Globo. Figura 20: Transcrição vinheta Rede Record 2012 A vinheta sonora da Rede Record é um tema simples fácil de ser compreendido, com apenas um sintetizador e uma bateria eletrônica. Utiliza-se um timbre sintetizador fantasia para a melodia e um Sinth Bass para a linha de baixo. O filtro Reverse Cymbal (GM120) crescente, é utilizado com súbitas pausas no início da peça. A transcrição da peça possui quatro compassos simples com uma fórmula de compasso em 4/4 (quatro por quatro). A tonalidade inicial é G (sol maior) nos três primeiros compassos, modulando em seguida para C (dó), semelhantemente à 56 vinheta da Rede Globo, com o encadeamento Ab > Bb > C, bVI grau (sexto grau bemol maior), bVII grau (sétimo grau bemol maior), I grau (primeiro grau maior). O estilo adotado pela Rede Record tem uma característica mais popular de composição. O contrabaixo contrapõe a melodia e exerce função rítmica executando colcheias, alternando entre tônica e oitava. Retomando uma questão que outrora fora abordada para discutir a recepção no contexto de indústria cultural, cunhado por Adorno (2002, p. 12), quanto a concorrência entre empresas. No caso Adorno dá o exemplo de grandes empresas de segmentos diversos que demonstram um paradigma natural desta indústria cultural a que ele se refere, a repetição do mesmo conteúdo, afirmando apenas que há apenas uma “ilusão de opções iguais“, em que a essência do produto permanece invariável, apenas com distinções pontuais. Chamo a atenção para essa questão colocada para um fato que veio a tona no desenvolvimento das análises. A Rede Record possui uma história riquíssima de experiência na construção de suas vinhetas institucionais, porém a emissora apesar de ter produzido boas audiobrandings, isto é frases sonoras marcantes, nunca deu continuidade a nenhuma dessas criações, como por exemplo a vinheta da marca produzida para a Rede Record no ano de 2009 48, em que vozes proclamavam ao coro de uma melodia a palavra Record, semelhante à assinatura da vinheta da emissora Rede Globo, utilizada até hoje pela emissora. Essa prática da emissora reflete a sua fraca identificação sonora. Conclui-se a falta de enfoque para uma identidade sonora permanente para a emissora, tornando-a a sua marca sonora efêmera e frágil, sendo que não cria uma sequência narrativa de sua sonoridade em sua identidade. O trecho final da harmonia da emissora Rede Record possui encadeamento harmônico idêntico ao da emissora Rede Globo. Esse fator é um forte indício de um clichê, considerando-se que a vinheta sonora da Rede Globo precede a vinheta da emissora Rede Record. 48 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=muUW8X9wZ8I. Acesso em: 15 out. 2012. 57 6 PESQUISA DE AUDIOBRANDING, A ANÁLISE SOB A TELEVISÃO O audiobranding é praticado no mundo inteiro como uma ferramenta de comunicação de marcas. As grandes empresas lançam mão do recurso para atingir os seus objetivos junto ao seu consumidor. A criação de um audiobranding demanda pesquisa, estudos de mercado e alinhamento com a proposta da empresa. Existem inúmeras empresas que se dedicam à criação do audiobranding exclusivamente. Definir o audiobranding é importante e a maneira como os profissionais dessa área atuam e lidam com as diversas questões do processo de criação é fundamental para o estudo, já que a concepção do audiobranding se dá de modo interdisciplinar. A empresa AudioLab 49 define o conceito como: Soundbranding é o processo de síntese sonora dos conceitos de uma marca e a gestão de seus pontos de contato com o público. O som complementa o visual, a linguagem e o comportamento na identidade da marca. As empresas de audiobranding estruturam o seu projeto a mesma forma como uma empresa de branding: estudando a marca, o público alvo e analisando dados de pesquisas. As análises do audiobranding das emissoras Rede Globo e Rede Record necessitam da base do estudo de audiobrandings pelo mundo como um complemento a sua análise. Ambientes relacionados a marca, como lojas, eventos etc, que necessitam criar uma atmosfera favorável a marca em relação ao cliente são um dos objetos da prática do audiobranding. Para comemorar os seus 200 anos, o Banco do Brasil transformou os conceitos ligados à instituição, como sustentabilidade, tradição e solidez, em sons que deram origem a um tema musical. O mesmo foi realizado por Zanna Sound 50, empresa de audiobranding, para a Unimed-Rio, a partir de um estudo de branding, “a partir daí materializamos em 49 Disponível em <http://www.audiolab.mus.br/audiolab/> Data do acesso 12/11/2012 58 som os atributos da personalidade da marca”, declara Zanna Lopes, produtora. A empresa realizou um case completo para a Unimed, produzindo um “tema musical”, um “logo sonoro”, uma “voz da marca”, uma “trilha sonora” para o web site da empresa e para um videoclipe. Na televisão o audiobranding é uma ferramenta muito comum utilizada pelas emissora, graças à cultura herdada do rádio. A NBC (National Broadcasting Company), é uma rede de televisão e rádio dos Estados Unidos 51 e utiliza um audiobranding 52 simples de três notas: Figura 21: Audiobranding da emissora NBC A variação melódica G (sol) > E (mi) > C (dó) é um encadeamento melódico de três intervalos, sexta maior ascendente e uma terça maior descendente. A ABC (American Broadcasting Company), mais conhecida pela sigla ABC, é um grupo midiático comercial norte-americano, que inclui várias mídias, sendo a rede de televisão homóloga e a estação de rádio as mais conhecidas 53. A emissora utiliza um audiobranding de três notas também 54. Figura 22: Audiobranding da emissora ABC 50 Disponível em < http://www.mundodomarketing.com.br/imprimirmateria.php?id=19179> Data do acesso 12/11/2012 51 Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/National_Broadcasting_Company> Data do acesso 12/11/2012 52 Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=aIUyoDrG6ew> Data do acesso 12/11/2012 53 Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/American_Broadcasting_Company> Data do acesso 12/11/2012 54 Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=w15OX-Kc2HM&NR=1&feature=endscreen> Data do acesso 12/11/2012 59 A variação melódica Bb (si bemol) > Eb (mi bemol) > C (dó) é um encadeamento melódico de três intervalos também, notasse o mesmo movimento das vozes, porém uma 4ª justa ascendente e uma terça menor descendente, sonoridades distintas entre NBC e ABC. A British Broadcasting Corporation ("Corporação Britânica de Radiodifusão", mais conhecida pelo acrônimo BBC), é uma emissora pública de rádio e televisão do Reino Unido fundada em 1922 55. A emissora utiliza um audiobranding baseado em uma variação rítmica estilizada em um intervalo simples de duas notas que se repetem. Figura 23: Audiobranding da emissora BBC China Central Television ou Televisão Central da China, comumente abreviado como CCTV, é a emissora de televisão estatal predominante na China continental 56. Sua vinheta sonora 57 é muito semelhante a vinheta sonora da Rede Record e também tem como característica marcante a rítmica das percussões. Figura 24: Vinheta sonora da emissora CCTV 55 Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/British_Broadcasting_Corporation> Data do acesso 12/11/2012 56 Disponível em <http://en.wikipedia.org/wiki/China_Central_Television> Data do acesso 12/11/2012 57 Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=V1-5ek0Lbxg> Data do acesso 12/11/2012 60 Trata-se de uma orquestração para uma melodia de estrutura simples, notas da tétrade C7M (dó maior com sétima maior) que fazem um movimento ascendente, descendente e ascendente. Os exemplos de audiobranding demonstram que a quantidade de letras, no caso de siglas, e sílabas, no caso de nomes, nos nomes das emissoras determinam aproximadamente a quantidade de notas contidas em um audiobranding ou melodia de uma vinheta sonora. A audiobranding televisiva é um produto da cultura radiofônica, viva desde a fundação das mesmas. O estudo do audiobranding das maiores emissoras de televisão do mundo demonstra o padrão semelhante que todas elas adotam, o exemplo dado foi entre a Rede Record e a rede de televisão chinesa CCTV, mas entre as emissoras NBC e ABC também foi possível perceber as semelhanças até mesmo nos movimentos das vozes. 61 CONCLUSÃO Falar sobre o que é audiobranding de fato demanda o estudo das mídias em que ela se insere e avaliar a maneira como ela é utilizada, pois o audiobranding só se caracteriza como tal quando o objeto sonoro, seja ele uma melodia marcante, um ruído ou qualquer outra forma sonora, por exemplo uma frase cantada, quando é utilizado como instrumento de perpetuação da marca, por meio da repetição.(Citar A criação do Mito na Publicidade) O uso que a marca faz da peça sonora determina se ela é uma audiobranding ou não. A simples trilha sonora de uma vinheta não caracteriza o objeto como audiobranding, portanto é necessário englobar o procedimento midiático na caracterização do audiobranding. Apesar disso, os estudos de percepção da audiobranding em relação a fisiologia humana e considerando o aspecto simbólico do processo de percepção, a vinheta, neste caso da marca televisiva, possui funções específicas próprias da cultura televisiva, que caracterizam a sonorização como audiobranding, identificando a emissora na qual o televisor está ligado e identificando o telespectador com a marca da empresa televisiva. As vinhetas das emissoras Rede Globo e Rede Record apresentatam inúmeras questões sobre audiobranding, tanto nas análises harmônicas quanto nas análises comparativas entre uma emissora e outra. Uma delas foi a importância da data de veiculação de cada vinheta, esse dado evidencia o fato de as duas emissoras utilizarem a mesma cadência final na peça da vinheta, o que indica uma inspiração motivada por parte de uma delas. A Rede Globo se apropria do conceito de audiobranding em sua vinheta sonora utilizando o mesmo motivo sonoro desde a década de setenta até os dias de hoje. Além disso a emissora possui mais de um audiobranding, fato que se repete em inúmeras vinhetas da emissora, mas pelo menos três motivos sonoros são recorrentes na vinheta de sua marca. A Rede Record demonstra ainda buscar uma identidade em relação a sua marca sonora. Todos os anos a vinheta sonora da emissora é modificada radicalmente. A Rede Record não utiliza nenhuma marca sonora, isto é, ruído, vocalizes etc. As duas emissoras modificaram o aspecto de suas marcas para se 62 adequarem a uma nova realidade tecnológica, a das novas mídias, que modificou a sua relação com os seus telespectadores, exigindo uma nova postura e estratégia frente a sua concorrência. No entanto na dimensão sonora de sua marca a Rede Globo não necessitou de alterações que não fossem apenas variações e reinterpretações de sua audiobranding original. O trecho final da harmonia da emissora Rede Record possui encadeamento harmônico idêntico ao da emissora Rede Globo. Esse fator é um forte indício de um clichê, considerando-se que a vinheta sonora da Rede Globo precede a vinheta da emissora Rede Record. Sobre a questão da recepção, a vinheta sonora possui um papel mnemônico de grande utilidade, ela funciona como um professor de música, na área sonora, que ensina uma melodia simples para crianças em um curso de iniciação musical. A intenção é fazer com que esse receptor aprenda a sua música, que é auxilidada pela imagem, que traz toda a sua bagagem ideológica, sígnica e simbólica. Imagem esta que por sua vez é auxiliada pela música. A recepção da audiobranding é uma categoria muito importante na comunicação de uma marca, esta conclusão fica embasada nos estudos realizados sobre inúmeras empresas que utilizam audiobranding, pelo mundo, principalmente as redes de televisão estudadas no capítulo 6. No direito, a audiobranding no Brasil é qualificada como obra de direito autoral, não obtendo suporte de nenhum dispositivo relativo a propriedade intelectual de cunho industrial-comercial ou direito de patente. 63 REFERÊNCIAS ABREU, Rogerio. Design na TV. São Paulo: Shoba, 2011. ADORNO, Theodor W. Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002. ______. Textos escolhidos. Tradução Luiz João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Os Pensadores). AZNAR, S. C. Vinheta: do pergaminho ao vídeo. 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