Os primórdios da América pré-colombiana Os habitantes da

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Os primórdios da América pré-colombiana Os habitantes da
Os primórdios da América pré-colombiana
Os habitantes da América pré-colombiana não são
naturais do continente, mas oriundos de outras regiões, isto
é, são alóctones. Recentes achados arqueológicos indicam
que eles chegaram ainda na época paleolítica, em
pequenos grupos nômades – e isto certamente antes de
50000 a.C. O provável caminho percorrido por esses
homens, originários da Ásia, em direção à America foi o
que passa pelo estreito de Bering. No entanto, não se pode
descartar outras possibilidades, talvez também associadas
ao estreito de Bering, como a travessia do Pacifico, mas
usando como escala as inúmeras ilhas existentes entre a
Ásia e a America do Sul. Estas e outras ondas migratórias
ao longo da pré-história podem justificar as mais de 2.500
línguas diferentes que existiam na América quando teve
inicio a conquista européia do século XV.
Uma primeira conclusão destes dados parece
confirmar o que já disseram alguns historiadores: de que
houve vários descobrimentos da América, uns advindos da
inconsciência e outros, da ignorância.
A “passagem” de Bering, tida como a mais antiga
rota da chegada do homem à América, associa-se a vários
fatores, especialmente à estreita proximidade entre os dois
continentes (Ásia –América )naquele local. Acredita-se
que a glaciação (fenômeno climático de longa duração,
representado pela diminuição intensa das temperaturas por
vários séculos e pelo aumento das massas de gelo nos
continentes, com rebaixamento do nível do mar em mais
de 100 metros) tenha levado a um recuo das águas no
estreito, permitindo uma passagem relativamente fácil
entre os dois continentes para o nômade homem
paleolítico.
Contudo, vestígios humanos bem antigos espalhamse por todo o continente, alguns anteriores a trinta mil
anos, tanto na América do Norte quanto na América do
Sul, mantendo diversas incógnitas desse primeiro período
humano da América.
No Brasil, existem evidências da presença humana
muito antigas, algumas ainda em fase de estudo e
reconhecimento internacional, como as da região do
município de Central, na Bahia, e nas proximidades do
município de São Raimundo Nonato, no Parque Nacional
da Serra da Capivara, Toca de Pedra Furada, estado do
Piauí.
Somente no Piauí, mais de trezentos sítios
arqueológicos foram encontrados e muitos deles estudados
pela arqueóloga francesa naturalizada brasileira Niède
Guidon e pelo arqueólogo italiano Fabio Parenti, os quais
dataram as pinturas rupestres de mais de vinte mil anos e
as pedras lascadas e restos de fogueiras deixadas por
grupos pré- históricos, de mais de 56 mil anos. Apesar de
polêmicos, muitos dos estudos recentes chegam a apontar
vestígios humanos no Brasil e no resto da América do Sul
de bem mais de setenta mil anos.
Seja como for, os homens pré-históricos
americanos, entre 7000 e 3000 a.C., acrescentaram à caça,
pesca e coleta de alimentos para a sobrevivência o cultivo
de diversas plantas (algodão, abacate, pimenta, abóbora,
feijão, milho, batata, mandioca, etc.) e a domesticação de
vários animais (Ihama, peru, abelhas,etc.). Isto ocorreu
especialmente em algumas regiões, como no México e no
Peru atuais, caracterizando a passagem para a etapa
neolítica da evolução pré-histórica.
Também ocorreram grandes avanços na tecelagem
e especialmente na cerâmica, produzindo recipientes de
barro resistentes, favoráveis tanto ao armazenamento e
transporte como ao cozimento de alimentos, contribuindo
para a melhoria da alimentação e ampliando as
perspectivas de vida da comunidade. Neste caso,
destacam-se os objetos de cerâmica de Valdívia, no norte
do atual Equador, datados de mais de 3500 a.C., tidos
como os mais antigos da América.
As principais civilizações pré- colombianas
Na época da descoberta da América, estima-se que
sua população estivesse próxima de cem milhões de
habitantes, irregularmente distribuídos pelo continente e
em diferentes estágios de desenvolvimento. “Havia de tudo
entre os indígenas da América: astrônomos e canibais,
engenheiros e selvagens da Idade da Pedra. Mas nenhuma
das culturas nativas conhecia o ferro nem o arado, nem o
vidro e a pólvora, nem empregava a roda, a não ser em
pequenos carrinhos.” (GALEANO, Eduardo. As veias
abertas da América Latina.)
Algumas tribos tinham uma estrutura primitiva,
eram nômades e viviam da caça e da pesca, como os
esquimós (América do Norte), os charruas (Uruguai), os
tapuias, xavantes e timbiras (Brasil). Outras tinham vida
sedentária, vivendo em aldeias e praticando a agricultura,
como os pueblos (América do Norte), os caribes e
aruaques (Antilhas e norte da América do Sul) e os tupisguaranis (Brasil).
Os ameríndios mais avançados tecnologicamente e
que possuíam sofisticada organização sociocultural
formavam a maioria da população americana no século
XV. Isto porque o aumento demográfico propiciado pela
agricultura neolítica permitiu que se formassem, em certos
locais, concentrações populacionais, resultando na
urbanização, processo que caracterizou séculos a até
milênios da história dos povos pré- colombianos.
Em meio esta evolução, surgiram sociedades
divididas em classes sociais como um Estado estruturado e
dominador, que impunha tributos, transformando a ordem
tribal em civilizações com crescente complexidade de
organização e cultura, especialmente na América Central e
nos Andes. Na primeira, destacaram-se as civilizações
maia e asteca e na região andina, a inca, não sendo,
porém, as únicas.
As civilizações da região andina central
As civilizações da região andina central habitaram
principalmente os atuais territórios do Peru e da Bolívia,
estendendo-se também sobre o Equador, Chile e
Argentina. Os primeiros núcleos de civilização surgiram
bem antes do inicio da era cristã, baseados em cidadesestados, com centros cerimoniais que difundiram cultos, e
envolvendo-se em sucessivas disputas pela hegemonia
regional. Ao que tudo indica, o sucesso na unificação
andina só acabou acontecendo depois de 600 d.C., quando
emergiram os primeiros impérios controladores de uma
vasta região. Entre estes destacou-se o de Tiahuanaco, na
parte boliviana da bacia do lago Titicaca, e o Império
Huari, no vala do Mantaro, no atual Peru.
Após estes impérios, ainda muito pouco
conhecidos, surgiram diversos outros Estados regionais
independentes, como o Reino Chimu, com a capital em
Chancham, no vale do Moche, Peru, uma cidade
planificada com aproximadamente oitenta mil habitantes.
Contudo, de todas as civilizações poderosas da região
andina central, coube à inca a maior importância e
grandiosidade. O seu surgimento remonta ao século XII,
quando houve uma reunião de povos sob o comando do
grupo quíchua ou inca, na região peruana de Cuzco,
assumindo e transformando a herança cultural das
civilizações anteriores.
De inicio, tiveram de disputar com os vários povos
o controle da região, vivendo em permanente estado de
guerra. Foi nesse processo que , aos poucos, estabeleceu-se
um poder político em que o imperador acabou investido de
autoridade religiosa, sendo visto como um semideus pelos
seus súditos, passando a ser considerado o “filho do sol”, o
Deus principal do panteão inca.
Entre os 13 soberanos relatados pela história oral
inca, certamente mesclada com lendas, mitos e propaganda
oficial, destacava-se Manco Cápac, o primeiro rei, o
fundador da dinastia imperial. A representação do
pensamento inca, ao que parece, nunca chegou a
transformar-se numa escrita, usando tão-somente
pictografias e ideogramas, sobressaindo-se a contabilidade
destinada a reconhecer valores estatísticos de uma
sociedade controlada pelo Estado.
A fase mais conhecida dos incas começa somente
no século XV, a partir de 1438, com sua enorme expansão
imperial, e que continuou até a chegada dos espanhóis, em
1531.Sob o governo dos imperadores Pachakuti (14381471), Tupa Yupanki (1471-1493) e Huayna Cápac
(1493-1525), os domínios do império estenderam-se do
Equador as norte do Chile, por um território norte-sul de
mais de 4 500 quilômetros.
Com Pachakuti, a cidade de Cuzco, que na língua
quíchua quer dizer “umbigo”,transformou-se na capital do
império, chegando a atingir, no seu apogeu, perto de cem
mil habitantes. Seus suntuosos templos abrigavam
estátuas, santuários, paredes e muro em ouro, como os de
Qori Kancha, onde se cultuavam o sol, a lua e as estrelas.
O império ainda produziu várias outras cidades com
planejamento e arquitetura sofisticadas, a exemplo de
Machu Pitchu, Tumipampa e Cajamarca. O total da
população imperial seguramente beirava os seis milhões de
habitantes.
A sociedade inca, como era comum nas sociedades
de servidão coletiva, tinha no topo da escala hierárquica o
soberano inca, depois vinham seus parentes, os
funcionários da administração e os sacerdotes, formando a
elite que detinha o poder e a riqueza do império. Abaixo,
estavam os camponeses e escravos.
Na administração, a capital Cuzco era o eixo
controlador da rede de estradas, do funcionamento do
correio público, dos centros fortificados, dos depósitos de
alimentos e da contabilidade administrativa do Império.
Este, dividido em quatro grandes territórios, eram
comandados, pelos apos (chefes), que assessoravam o inca
(imperador). Cada território, por sua vez subdividia-se em
wamanis (províncias) sob o comando do kuiricuk
(governador) e era responsável pelos curucas
(funcionários hereditários), que recolhiam os impostos.
Na base da sociedade estavam os ayllus, as aldeias
comandadas pelos curacas e seus camayocs (capatazes
hereditários), encarregados de distribuir as terras,
consideradas propriedades do imperador, e de determinar
os trabalhos e tributos das famílias dos ayllus,firmando a
base agrária da economia inca.Eram os curacas o centro do
poder e de riquezas nas aldeias, determinando também a
mita , o trabalho forçado dos aldeões na realização das
obras públicas e outros serviços ao governo. Foram os
mitaios os responsáveis pelo incremento de terras
cultiváveis do Estado, na expansão imperial, construindo
terraços agrícolas nas colinas e canais de irrigação.
Também construíram e mantinham os caminhos, pontes,
edifícios públicos, templos, etc.
Após a morte do imperador Huayna Cápac, abriu-se
uma vigorosa disputa pelo trono entre Huascar e
Atahualpa , seus dois filhos de esposas diferentes, que
devastou o poderio inca, correspondendo ao momento da
chegada dos conquistadores espanhóis. O vitorioso
Atahualpa acabou prisioneiro, sendo morto e seu império
destruído pelos comandados de Francisco Pizarro, em
1531.
Os meso-americanos
A região meso-americana , correspondente a boa
parte dos atuais México, Guatemala, El Salvador,
Honduras, Nicarágua e Costa Rica, produziu ao longo de
25 séculos diversas civilizações poderosas, destacando –se
entre outras a dos olmecas, maias, toltecas e
principalmente a dos astecas.
Das primeiras civilizações meso-americanas a dos
olmecas é considerada a fundadora da “cultura mãe” da
América Central, cujo desenvolvimento situa-se entre um
pouco antes de 1000 a.C. até pouco depois do século V
a.C.
A população olmeca, que deve ter atingido um total
próximo a 350 mil habitantes, era basicamente rural com
uma dieta alimentar centrada na cultura do milho, feijão e
abóbora ao longo dos rios, completada pela caça e pesca.
Toda a vida olmeca estava ligada aos vários , como os de
San Lorenzo, La Venta e Tres Zapotes.Ao que se sabe, o
grupo sacerdotal tinha o predomínio na sociedade, apesar
da existência de mercadores com alguma força que
comercializam especialmente o jade, um mineral
esverdeado usado para fazer adornos. Os olmecas, além de
uma cerâmica rudimentar, foram os criadores de uma
escrita e calendário pouco conhecidos, os quais serviram
de base para as civilizações posteriores da região. A
decadência olmeca deve ter acontecido por pressão de
povos vizinhos, desaparecendo nos primeiros séculos da
era cristã, época em que já despontava a primeira cidade
meso-americana, a nordeste da atual Cidade do México
chamada Teotihuacán (que significa “lugar onde os
homens se convertem em deuses”).
A civilização de Teotihuacán teve inicio perto de
100 a.C. e atingiu o seu apogeu entre os séculos V e VII. A
cidade, chegando a possuir uma população de mais de
oitenta mil habitantes, tinha se transformado no centro
religiosos hegemônico da região, obrigando seus vizinhos
ao pagamento de diversos tributos. O predomínio social
em Teotihuacán, uma cidade com centro administrativo e
religiosos, com palácios, pirâmides, avenidas, aristocracia
guerreira e sacerdotal, associada a mercadores a aos
funcionários da administração estatal.
Por volta do ano 750,a cidade foi incendiada ,
provavelmente devido às revoltas camponesas ligadas a
ataques externos, permitindo o surgimento de outras
civilizações como a dos totonacas e especialmente dos
maias,
A civilização maia, ocupando uma região que
corresponderia hoje à península mexicana de lucatã,
Guatemala, Belize e Honduras, na América Central,
atingiu o seu apogeu econômico e cultural entre os séculos
III e XI , organizando-se em cidades0 estados, como
Palenke, Tikal, Copan, entre outras, O predomínio social
cabia hereditário, comandada pelo Halach Uinic,
responsável pela administração e cobrança de impostos,
Nos arredores das cidades ficavam as aldeias de
camponeses submetidos à servidão coletiva.
Estima-se que a população maia tenha alcançado
um total próximo de dois milhões de habitantes,
construindo aperfeiçoados sistemas de irrigação,
imponentes palácios e grandes templos de adoração aos
deuses da natureza (chuva, sol, lua,milho,etc.) Chegaram
também a desenvolver apurados cálculos matemáticos,
usando inclusive do zero, além de criarem vários
calendários, destacando-se um religioso, o “Tzolkin”, de
260 dias , e um civil, o Haab, composto de 18 meses de 20
dias, completando com 5 dias finais.
No século IX, floresceram cidades-estados que
antes eram de pouca expressão, como El Tajin (atual Vera
Cruz), Xochicalco (atual Morelos)e Colula (atual Puebla),
as quais pouco depois entraram em declínio devido os
espanhóis, no século XV,todas as cidades maias estavam
arruinadas, beirando a total desintegração, uma decadência
de vários séculos cujas razões são ainda pouco conhecidas.
Ao final da civilização maia surgiram novas hegemonias
de invasores meso-americanos, destacando-se por um
breve período a dos toltecas e, seguir, a dos mexicas,
também conhecidos por astecas.
Os toltecas atingiram seu apogeu entre os anos
1000 e 1224, tendo como centro a cidade de Tollan de 37
mil habitantes, a atual Tula, que fica ao norte da atual
capital mexicana, envolvendo numerosas aldeias por uma
área de 1 500 quilômetros quadrados e mais de sessenta
mil pessoas. Tollan foi invadida e destruída entre os anos
1150 e 1200, seguida do fim da civilização tolteca.
De todas as grandes culturas pré-colombianas da
região meso-americana, a asteca foi a mais grandiosa. A
civilização asteca reuniu um império que se estendia desde
o oeste mexicano até o sul da Guatemala, uma área
superior a trezentos mil quilômetros quadrados,
envolvendo uma população próxima a 12 milhões de
habitantes. A sua capital, Mexihco-Tenochtitlán (hoje
Cidade do México), espalhava-se por 13 quilômetros
quadrados e tinha uma população perto de cem mil
pessoas, segundo estimativas mais seguras (há quem
chegue a apontar quinhentos mil habitantes).
Em seu apogeu, o império asteca era sustentado
pelo domínio sobre povos vizinhos, obrigados a pagarem
tributos, o que era conseguindo com alianças,
confederações e constantes expedições punitivas dos
astecas, assemelhando-se muitíssimo às civilizações da
Antiguidade Oriental, como Egito e Mesopotâmia.
A sua estrutura política era altamente centralizada,
contando com 38 províncias, mantendo o controle sobre as
atividades agrícolas e sobre a construção dos sistemas de
irrigação, bem como o zelo pela cobrança de impostos. A
maior autoridade asteca era a do imperador, o qual era
escolhido por um conselho e que recaia, quase sempre,
sobre os membros da mesma família imperial. Ao
imperador cabia dirigir a “casta” sacerdotal e as atividades
religiosas, políticas e militares, constituindo o que se
denomina de império teocrático de regadio.
Na religião, havia um panteão numeroso de deuses,
com conceitos e rituais, com praticas e atividades que
envolviam toda a população asteca, sendo comum o
sacrifício humano.
A sociedade dividia-se em camadas rígidas, sem
mobilidade social, tendo no topo nobres e sacerdote,
seguidos depois pelos comerciantes e, na base da escala
hierárquica, pelos grupos populares e escravos (em geral,
prisioneiros de guerra).
A posse da terra era comunal, cabendo às aldeias
coletivas, chamadas calpulli, o direito de uso da terra para
o cultivo. Parte da produção servia para a sobrevivência di
calpulli e o restante pra pagar tributos ao
Estado,sustentando os governantes, os sacerdotes e demais
camadas aristocráticas da sociedade. Era o predomínio da
estrutura de servidão coletiva da sociedade asteca.
Segundo a tradição oficial da elite de Tenochtitlán,
a origem dos astecas remontava a uma região que ficava a
noroeste, chamada Aztlan(daí asteca, o povo de Aztlan),
onde seu Deus Uitzilopochtli ordenou a emigração no
século XII, vagando por vários territórios até chegar ao
vale Texcoco no século XIV.
O significado da palavra México
Apoiando-se no glifo, termo que significa os
caracteres da escrita maais ou asteca, alguns acreditam
que a palavra México seja a águia empoleirada no cacto,
devorando uma serpente. Tal símbolo estaria ligado à
lenda de que o sacerdote Quauhcoaltl tivera a visão da
águia com a serpente sobre o cacto, no local onde o deus
Uitzilopochtli queria que levantasse a cidade de MexihcoTenochtitlá.
“Esta águia seria o símbolo de Mexitl, outro nome
de Uitzilopochtli, o grande deus nacional.Outros lançamse à etimologia deste nome;apoiando-se na autoridade do
Padre Antonio Del Rincón, descobrem nele a raiz da
palavra metzli, a Lua, e de xictli, o umbigo ou
centro.México seria “(a cidade que está) no meio (do
lago) da lua” :tal era , com efeito, o nome antigo da
laguna, Metzliapan.”
SOUSTELLE. Jaques. A vida quotidiana dos astecas. Belo
Horizonte, Itatiaia, 1962.p.29.
Em sua evolução histórica, os astecas só
conseguiram autonomia em relação aos povos vizinhos no
século XV, com o chefe Itzcoatl, iniciando a conquista de
um vasto território. Com Montezuma I (c. 1440-1469),
Axayacatl(1469-1481),
Tizoc
(1481-1486)
e
Ahuitzotj(1486-1502), o império continuou se ampliando,
estendendo-se até a costa do Pacifico, sendo sucedidos por
Montezuma II, em 1503,o ultimo governo asteca, que
acabou derrotado pelos conquistadores espanhóis.
A dominação espanhola sobre a América alterou
violentamente o destino da civilização asteca, assim como
dos demais povos pré- colombianos. Os europeus
saquearam suas riquezas, dizimaram seus habitantes e
destruíram suas culturas.
A América espanhola
Como pretexto para a exploração colonial, utilizouse o argumento da necessidade de civilizar os povos
americanos, por meio da cultura e da fé cristã. Dessa
forma, acobertou-se a dominação dizimadora, justificandoa como um empreendimento comercial e de cristianização.
Até meados do século XVI, praticamente toda a
América fora subjugada pelos conquistadores europeus –
que se utilizavam para isso, da pólvora e do cavalo,
desconhecidos pelos ameríndios, além de se valerem da
fragilidade grupal das tribos, divididas em facções muitas
vezes rivais. No Peru, por exemplo, as disputas pelo trono
entre Atahualpa e Huàscar enfraqueceram o império inca,
o que ajudou os espanhóis e se assenhorearem do
“eldorado” tão cobiçado.
“Os indígenas foram derrotados também pelo
assombro. O imperador Montezuma recebeu em seu
palácio, as primeiras noticias: um grande „monte‟ andava
mexendo-se pelo mar.Outros mensageiros chegaram
depois: „[...] muito espanto lhe causou ao ouvir como
dispara um canhão, como ressoa seu estrépito, como
derruba as pessoas; e atordoam-se os ouvidos. E quando
sai o tiro, uma bola de pedra sai de suas entranhas: vai
chovendo fogo [...]‟. Os estrangeiros traziam „veados‟ nos
quais montavam e „ficavam da altura dos tetos‟. Por todas
as partes tinham o corpo envolto, „somente as caras
aparecem. São brancas, como se fossem de cal. Têm
cabelo amarelo, embora alguns o tenham preto.Sua barba
é grande [...]‟. Montezuma acreditou que era o deus
Quetzalcoatl que voltava.”
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina.
P.28.
Hernán Cortez, no México, Francisco Pizarro e
Diogo Almagro, no Peru, foram os conquistadores
espanhóis que, devido à violência e extensão de suas
conquistas, marcaram mais fortemente o inicio do processo
de colonização dos territórios espanhóis na América.
Efetuada a conquista, a exploração de ouro e
principalmente de prata passou a ser o eixo da colonização
espanhola, durante os séculos XVI e XVII. México, Peru
e Bolívia respondiam pela produção de metais preciosos,
enquanto, simultaneamente, outras regiões se integravam
ao sistema econômico colonial como de animais de tração,
como mulas, e produtoras de tecidos (Argentina), entre
outras.
A produção colonial foi organizada a partir da
exploração da mão-de-obra indígena. Uma das formas de
utilização dos nativos era a mita , pela qual os indígenas
eram tirados de suas comunidades para trabalhar nas minas
por um prazo determinado e sob um pagamento
irrisório.Esse método, fundado numa instituição incaica
adaptada pelos espanhóis, foi utilizado especialmente nas
minas de prata de Potosí, e acabou por arruinar a estrutura
comunitária, culminando com o extermínio da população
indígena.
A encomienda, sistema mais usado, consistia na
exploração dos nativos como servos nos campos e nas
minas. A coroa encomendava a captura de indígenas a um
intermediário- o encomendero – e os distribuía aos
colonizadores, que recebiam o índio como seu servo. A
servidão era justificada como um pagamento de tributos,
feito pelos índios em forma de serviços, por receberem
proteção e educação cristã. O encomendero, por sua vez,
transferia parte dos tributos para a Coroa.
Organizada com base na exploração estabelecida
pelo mercantilismo metropolitano, a sociedade colonial
apresentava no topo da escala hierárquica os chapetones,
espanhóis da metrópole que ocupavam altos postos
militares e civis(justiça e administração), e o clero. A
aristocracia colonial era constituída de espanhóis nascidos
na América, os criollos, grandes proprietários e
comerciantes que , por constituírem a elite colonial ,
participavam das câmaras municipais, denominadas
cabildos (ou ayuntamientos). Abaixo deles, vinham os
mestiços, indivíduos nascidos de espanhóis com indígenas,
que eram em geral capatazes, artesãos e administradores;
em seguida, totalmente subjugados aos brancos, estavam
os escravos negros, numericamente insignificantes,
exceto nas Antilhas, e os índios, o grupo mais populoso,
submetidos à mita e à encomienda.
Chamava-se Conselho Real e Supremo das Índias
o órgão controlador da colonização, centralizado na
Espanha e representado nas colônias pelos chapetones. Os
negócios e a arrecadação de impostos cabiam às Casas de
Contratação, e as ligações comerciais entre metrópole e
colônia se faziam pelo sistema de “porto único”, ou seja,
toda transação colonial de comercio deveria,
necessariamente, passar por determinado porto na
metrópole – inicialmente foi Sevilha e , depois, Cádiz.
Esse porto recebia as mercadorias vindas dos portos
autorizados na colônia, que eram Vera Cruz (México),
Porto Belo (Panamá) e Cartagena (Colômbia).Dessa
forma, a metrópole espanhola tinha o controle quase
absoluto do comercio realizado com suas ricas colônias
americanas.
A estrutura administrativa das colônias espanholas
dividia o território em quatro vice- reinados – de
importância econômica – e algumas capitanias gerais, que
constituíam áreas estratégicas.
A nomeação dos vice- reis e a fiscalização
administrativa cabia ao conselho Real e Supremo das
Índias. Os vice-reinados compunham –se de intendências,
governadas por alcaides, e as cidades mais importantes
possuíam uma câmara municipal.
À medida que a Espanha perdia a hegemonia
econômica e progressivamente sujeitava-se potencias
como França e Inglaterra, seu império no Novo Mundo ia
se desestruturando. Além disso, a predominância absoluta
dos chapetones (espanhóis) sobre os prósperos criollos
(brancos americanos) criou rivalidades que culminariam,
no século XIX, na independência da América espanhola.
A América inglesa
A Inglaterra só entrou efetivamente no processo
colonial no reinado de Elizabeth I (1558 -1603) quando a
construção naval, o comércio marítimo e a atividade
corsária ganharam estímulo. Houve, então, um choque
entre Inglaterra e Espanha – potência da época – culminou
com a derrota da Invencível Armada espanhola, em 1588.
Nesse período, tentou-se colonizar a América do Norte
organizando-se três expedições sob o comendo de Walter
Raleigh, em 1584, 1585 e 1587, que, entretanto, não
alcançaram o sucesso esperado.
O nome Virgínia
A ocupação na América do Norte pelos ingleses
iniciou-se na costa leste, onde atualmente estão o estado
da Carolina do Norte e a Ilha de Roanoke. A região
recebeu o nome Virginia em homenagem à rainha
Elizabeth I, que era solteira. Os insistentes ataques
indígenas, entretanto, arruinaram essas primeira empresa
colonizadora e só a partir d 1606 iniciou-se de forma
definitiva e duradoura a colonização da América inglesa.
No século XVII, a atividade colonial inglesa
edificou-se com a derrocada da Espanha e a criação de
companhias de comércio, numa aliança entre o Estado e a
emergente classe burguesa para a exploração e ocupação
das Antilhas e da América do Norte. O empreendimento
colonial contou também com o excelente populacional
proveniente do processo dos cercamentos na Inglaterra. A
existência desse excelente, que não encontrava colocação
na cadeia de produção nas cidades, ia ao encontro da
necessidade de pessoas para colonizar o Novo Mundo,
representado, consequentemente, uma solução para os
problemas urbanos da metrópole.
Outro aspecto que ativou a colonização inglesa
foram os conflitos político-religiosos dos séculos XVI e
XVII, que estimularam a emigração de puritanos e
quakers, em direção à América do Norte.Durante os
séculos XVII e XVIII, estruturaram-se treze colônias na
América do Norte: ao norte desenvolveu-se uma economia
autônoma =, mercantil e manufatureira, não dependente da
metrópole, e , ao sul, uma economia agrícola, que produzia
exclusivamente para o mercado externo.
“ Quakers era um grupo religioso, de tradição
protestante, surgido na Inglaterra no século XVII, fundado
por George Fox. Os Quakers [...] constituem agrupamentos
radicais formados por homens e mulheres procedentes dos
meios humildes da população inglesa. Os Quakers
apresentavam-se como contrários ao calvinismo e a
qualquer autoridade eclesiástica, intitulando-se „amigos da
verdade‟. O nome „Sociedade dos Amigos‟ para rotular
esse grupo só foi citado a partir de 1665, prevalecendo,
porém, queker, que significa „tremulo‟, adotado desde
1650 quando Fox., levado a um tribunal, pedira que todos
tremessem diante de Deus. O nome Quaker, dado
inicialmente por caçoada, foi, depois, empregado
orgulhosamente pelos adeptos.”
AZEVEDO. Antonio Carlos do Amaral. Dicionário de nomes,
termos e conceitos históricos. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1990, p.
325.
Virgínia, a primeira colônia inglesa fundada na
América, transformou-se num grande centro de produção
de tabaco, produto altamente consumido na Europa. O
sucesso econômico do empreendimento levou as
companhias comerciais a fundarem outras colônias para a
produção de itens tropicais de grande aceitação no
mercado europeu: índigo(anil), arroz e , mais tarde,
algodão.Todos esses produtos eram obtidos por meio do
sistema plantation, caracterizado pela monocultura
praticada em grandes propriedades e com a utilização de
mão-de-obra escrava, e eram destinados ao mercado
esterno. Esse sistema foi a marca das colônias do sul,
denominadas, por isso, colônias de exploração.
A parte setentrional dos Estados Unidos, de clima e
condições naturais semelhantes aos da Europa, ficou
conhecida como Nova Inglaterra. Nessa região, a
colonização desdobrou-se de forma diversa: predominaram
os colonizadores provenientes da perseguição políticoreligiosa, como os puritanos, cujo primeiro gripo
desembarcou, do navio Mayflower, em 1620, na costa de
Massachusetts, fundando a cidade de Plymouth.
Logo novas levas de colonos ativaram a
colonização da região, transformando a parte setentrional
em uma colônia de povoamento, diferente em sua
estrutura das colônias do sul. A ocupação baseou-se na
pequena e média propriedade agrícola, em que o
trabalhador era não raramente o próprio colono.
Diversificou-se, assim, a produção, implementando-se
também manufaturas e comércio. Necessária para o
escoamento da produção e a obtenção de itens externos, a
construção naval ganhou grande impulso e as relações
comerciais chegaram às Antilhas, à ÁFRICA EATÉ À
Europa. A evolução econômica da Nova Inglaterra
resultou, assim, numa capitalização progressiva, ao
contrario do que aconteceu no sul, onde houve uma
extroversão econômica, com a produção visando somente
ao mercado externo e vivendo em função dele.
As peculiaridades da colonização inglesa
As restrições e o controle intensivo sobre a colônia,
tão característicos do mercantilismo ibérico, não se
apresentaram na colonização inglesa da América do Norte.
O resultado foi uma relativa autonomia econômica e
política das colônias, fato mais evidente na Nova
Inglaterra.Por seu caráter de povoamento, os colonos ali
procuraram criar e desenvolver uma “nova Inglaterra”, em
tudo semelhante à sua terra de origem, e não apenas
enriquecer-se para regressar à metrópole. Contribuiu
também para o ameno pacto colonial na região a
instabilidade política inglesa no século XVII, com suas
guerras civis(Revolução Puritana, Revolução Gloriosa) e
guerras européias, que concentravam a atenção da Coroa e
DAE elites nacionais, deixando num segundo plano a
intensificação da exploração colonial.
No século XVII, quando a Inglaterra emergiu como
grande potência mundial e a monarquia parlamentar
inglesa estabilizou o país, redefiniu-se a política colonial,
ampliando-se as restrições econômicas e a tributação aos
colonos americanos. Sob a justificativa de dificuldades do
Tesouro público inglês, especialmente após a Guerra dos
Sete Anos (1756-1763), criaram-se inúmeros impostos
coloniais, o que levou os colonos a se unirem para
conquistar a independência, em 1776.
A colonização de outros países na América
A participação da França no processo de
colonização iniciou-se concretamente no século XVII, com
o patrocínio do governo absolutista dos Bourbons, sob a
orientação mercantilista dos ministros Richelieu e Colbert,
Uma das primeiras regiões ocupadas pelos franceses foi o
norte da América –atual Canadá - , onde a colonização
alicerçou-se no extrativismo (madeiras e peles) e no
comércio com os indígenas. Também tomaram uma grande
faixa interior, que ia dos Grandes Lagos ao México, área
que denominaram Lousiana, em homenagem a seu
monarca Luis XIV, e algumas ilhas das Antilhas.
No século XVII, as desastrosas guerras em que se
envolveu a França na Europa, como a Guerra da Sucessão
Espanhola (1701-1713) e a Guerra dos Sete Anos(17561763), levaram-na a perder boa parte de suas colônias.
Com a Revolução Francesa (1789) e as guerras
napoleônicas, no início do século XIX, esse processo se
aceleraria. O Canadá, por exemplo, foi para a Inglaterra ao
final da Guerra dos Sete Anos e a Louisiana,entregue aos
Estados Unidos, já independente , por Napoleão
Bonaparte, em 1803.
A atuação dos Países Baixos, ou Holanda, como
metrópole colonial começou em meio à luta pela
independência contra a Espanha, iniciada no final No
século XVI. Em 1648, com o Tratado de Vestfália, os
Países Baixos – já poderosos comercialmenteconstituíram uma república autônoma. Durante esse
processo foi criada a Companhia das Índias Orientais
(1602), destinada a explorar o comércio com a África e a
Ásia e, pouco depois, a Companhia das Índias
Ocidentais (1621), dirigida para o comércio e ocupação de
regiões americanas. As invasões ao Nordeste brasileiro
(1624-1625 e 1630-1654) fizeram parte da estratégia dessa
companhia.
Quanto a Portugal, integrou o Brasil ao capitalismo
europeu, com base na exploração agrícola nos séculos XVI
e XVII (cana-de-açúcar) e na mineração no século XVII.