Os primórdios da América pré-colombiana Os habitantes da
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Os primórdios da América pré-colombiana Os habitantes da
Os primórdios da América pré-colombiana Os habitantes da América pré-colombiana não são naturais do continente, mas oriundos de outras regiões, isto é, são alóctones. Recentes achados arqueológicos indicam que eles chegaram ainda na época paleolítica, em pequenos grupos nômades – e isto certamente antes de 50000 a.C. O provável caminho percorrido por esses homens, originários da Ásia, em direção à America foi o que passa pelo estreito de Bering. No entanto, não se pode descartar outras possibilidades, talvez também associadas ao estreito de Bering, como a travessia do Pacifico, mas usando como escala as inúmeras ilhas existentes entre a Ásia e a America do Sul. Estas e outras ondas migratórias ao longo da pré-história podem justificar as mais de 2.500 línguas diferentes que existiam na América quando teve inicio a conquista européia do século XV. Uma primeira conclusão destes dados parece confirmar o que já disseram alguns historiadores: de que houve vários descobrimentos da América, uns advindos da inconsciência e outros, da ignorância. A “passagem” de Bering, tida como a mais antiga rota da chegada do homem à América, associa-se a vários fatores, especialmente à estreita proximidade entre os dois continentes (Ásia –América )naquele local. Acredita-se que a glaciação (fenômeno climático de longa duração, representado pela diminuição intensa das temperaturas por vários séculos e pelo aumento das massas de gelo nos continentes, com rebaixamento do nível do mar em mais de 100 metros) tenha levado a um recuo das águas no estreito, permitindo uma passagem relativamente fácil entre os dois continentes para o nômade homem paleolítico. Contudo, vestígios humanos bem antigos espalhamse por todo o continente, alguns anteriores a trinta mil anos, tanto na América do Norte quanto na América do Sul, mantendo diversas incógnitas desse primeiro período humano da América. No Brasil, existem evidências da presença humana muito antigas, algumas ainda em fase de estudo e reconhecimento internacional, como as da região do município de Central, na Bahia, e nas proximidades do município de São Raimundo Nonato, no Parque Nacional da Serra da Capivara, Toca de Pedra Furada, estado do Piauí. Somente no Piauí, mais de trezentos sítios arqueológicos foram encontrados e muitos deles estudados pela arqueóloga francesa naturalizada brasileira Niède Guidon e pelo arqueólogo italiano Fabio Parenti, os quais dataram as pinturas rupestres de mais de vinte mil anos e as pedras lascadas e restos de fogueiras deixadas por grupos pré- históricos, de mais de 56 mil anos. Apesar de polêmicos, muitos dos estudos recentes chegam a apontar vestígios humanos no Brasil e no resto da América do Sul de bem mais de setenta mil anos. Seja como for, os homens pré-históricos americanos, entre 7000 e 3000 a.C., acrescentaram à caça, pesca e coleta de alimentos para a sobrevivência o cultivo de diversas plantas (algodão, abacate, pimenta, abóbora, feijão, milho, batata, mandioca, etc.) e a domesticação de vários animais (Ihama, peru, abelhas,etc.). Isto ocorreu especialmente em algumas regiões, como no México e no Peru atuais, caracterizando a passagem para a etapa neolítica da evolução pré-histórica. Também ocorreram grandes avanços na tecelagem e especialmente na cerâmica, produzindo recipientes de barro resistentes, favoráveis tanto ao armazenamento e transporte como ao cozimento de alimentos, contribuindo para a melhoria da alimentação e ampliando as perspectivas de vida da comunidade. Neste caso, destacam-se os objetos de cerâmica de Valdívia, no norte do atual Equador, datados de mais de 3500 a.C., tidos como os mais antigos da América. As principais civilizações pré- colombianas Na época da descoberta da América, estima-se que sua população estivesse próxima de cem milhões de habitantes, irregularmente distribuídos pelo continente e em diferentes estágios de desenvolvimento. “Havia de tudo entre os indígenas da América: astrônomos e canibais, engenheiros e selvagens da Idade da Pedra. Mas nenhuma das culturas nativas conhecia o ferro nem o arado, nem o vidro e a pólvora, nem empregava a roda, a não ser em pequenos carrinhos.” (GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina.) Algumas tribos tinham uma estrutura primitiva, eram nômades e viviam da caça e da pesca, como os esquimós (América do Norte), os charruas (Uruguai), os tapuias, xavantes e timbiras (Brasil). Outras tinham vida sedentária, vivendo em aldeias e praticando a agricultura, como os pueblos (América do Norte), os caribes e aruaques (Antilhas e norte da América do Sul) e os tupisguaranis (Brasil). Os ameríndios mais avançados tecnologicamente e que possuíam sofisticada organização sociocultural formavam a maioria da população americana no século XV. Isto porque o aumento demográfico propiciado pela agricultura neolítica permitiu que se formassem, em certos locais, concentrações populacionais, resultando na urbanização, processo que caracterizou séculos a até milênios da história dos povos pré- colombianos. Em meio esta evolução, surgiram sociedades divididas em classes sociais como um Estado estruturado e dominador, que impunha tributos, transformando a ordem tribal em civilizações com crescente complexidade de organização e cultura, especialmente na América Central e nos Andes. Na primeira, destacaram-se as civilizações maia e asteca e na região andina, a inca, não sendo, porém, as únicas. As civilizações da região andina central As civilizações da região andina central habitaram principalmente os atuais territórios do Peru e da Bolívia, estendendo-se também sobre o Equador, Chile e Argentina. Os primeiros núcleos de civilização surgiram bem antes do inicio da era cristã, baseados em cidadesestados, com centros cerimoniais que difundiram cultos, e envolvendo-se em sucessivas disputas pela hegemonia regional. Ao que tudo indica, o sucesso na unificação andina só acabou acontecendo depois de 600 d.C., quando emergiram os primeiros impérios controladores de uma vasta região. Entre estes destacou-se o de Tiahuanaco, na parte boliviana da bacia do lago Titicaca, e o Império Huari, no vala do Mantaro, no atual Peru. Após estes impérios, ainda muito pouco conhecidos, surgiram diversos outros Estados regionais independentes, como o Reino Chimu, com a capital em Chancham, no vale do Moche, Peru, uma cidade planificada com aproximadamente oitenta mil habitantes. Contudo, de todas as civilizações poderosas da região andina central, coube à inca a maior importância e grandiosidade. O seu surgimento remonta ao século XII, quando houve uma reunião de povos sob o comando do grupo quíchua ou inca, na região peruana de Cuzco, assumindo e transformando a herança cultural das civilizações anteriores. De inicio, tiveram de disputar com os vários povos o controle da região, vivendo em permanente estado de guerra. Foi nesse processo que , aos poucos, estabeleceu-se um poder político em que o imperador acabou investido de autoridade religiosa, sendo visto como um semideus pelos seus súditos, passando a ser considerado o “filho do sol”, o Deus principal do panteão inca. Entre os 13 soberanos relatados pela história oral inca, certamente mesclada com lendas, mitos e propaganda oficial, destacava-se Manco Cápac, o primeiro rei, o fundador da dinastia imperial. A representação do pensamento inca, ao que parece, nunca chegou a transformar-se numa escrita, usando tão-somente pictografias e ideogramas, sobressaindo-se a contabilidade destinada a reconhecer valores estatísticos de uma sociedade controlada pelo Estado. A fase mais conhecida dos incas começa somente no século XV, a partir de 1438, com sua enorme expansão imperial, e que continuou até a chegada dos espanhóis, em 1531.Sob o governo dos imperadores Pachakuti (14381471), Tupa Yupanki (1471-1493) e Huayna Cápac (1493-1525), os domínios do império estenderam-se do Equador as norte do Chile, por um território norte-sul de mais de 4 500 quilômetros. Com Pachakuti, a cidade de Cuzco, que na língua quíchua quer dizer “umbigo”,transformou-se na capital do império, chegando a atingir, no seu apogeu, perto de cem mil habitantes. Seus suntuosos templos abrigavam estátuas, santuários, paredes e muro em ouro, como os de Qori Kancha, onde se cultuavam o sol, a lua e as estrelas. O império ainda produziu várias outras cidades com planejamento e arquitetura sofisticadas, a exemplo de Machu Pitchu, Tumipampa e Cajamarca. O total da população imperial seguramente beirava os seis milhões de habitantes. A sociedade inca, como era comum nas sociedades de servidão coletiva, tinha no topo da escala hierárquica o soberano inca, depois vinham seus parentes, os funcionários da administração e os sacerdotes, formando a elite que detinha o poder e a riqueza do império. Abaixo, estavam os camponeses e escravos. Na administração, a capital Cuzco era o eixo controlador da rede de estradas, do funcionamento do correio público, dos centros fortificados, dos depósitos de alimentos e da contabilidade administrativa do Império. Este, dividido em quatro grandes territórios, eram comandados, pelos apos (chefes), que assessoravam o inca (imperador). Cada território, por sua vez subdividia-se em wamanis (províncias) sob o comando do kuiricuk (governador) e era responsável pelos curucas (funcionários hereditários), que recolhiam os impostos. Na base da sociedade estavam os ayllus, as aldeias comandadas pelos curacas e seus camayocs (capatazes hereditários), encarregados de distribuir as terras, consideradas propriedades do imperador, e de determinar os trabalhos e tributos das famílias dos ayllus,firmando a base agrária da economia inca.Eram os curacas o centro do poder e de riquezas nas aldeias, determinando também a mita , o trabalho forçado dos aldeões na realização das obras públicas e outros serviços ao governo. Foram os mitaios os responsáveis pelo incremento de terras cultiváveis do Estado, na expansão imperial, construindo terraços agrícolas nas colinas e canais de irrigação. Também construíram e mantinham os caminhos, pontes, edifícios públicos, templos, etc. Após a morte do imperador Huayna Cápac, abriu-se uma vigorosa disputa pelo trono entre Huascar e Atahualpa , seus dois filhos de esposas diferentes, que devastou o poderio inca, correspondendo ao momento da chegada dos conquistadores espanhóis. O vitorioso Atahualpa acabou prisioneiro, sendo morto e seu império destruído pelos comandados de Francisco Pizarro, em 1531. Os meso-americanos A região meso-americana , correspondente a boa parte dos atuais México, Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Costa Rica, produziu ao longo de 25 séculos diversas civilizações poderosas, destacando –se entre outras a dos olmecas, maias, toltecas e principalmente a dos astecas. Das primeiras civilizações meso-americanas a dos olmecas é considerada a fundadora da “cultura mãe” da América Central, cujo desenvolvimento situa-se entre um pouco antes de 1000 a.C. até pouco depois do século V a.C. A população olmeca, que deve ter atingido um total próximo a 350 mil habitantes, era basicamente rural com uma dieta alimentar centrada na cultura do milho, feijão e abóbora ao longo dos rios, completada pela caça e pesca. Toda a vida olmeca estava ligada aos vários , como os de San Lorenzo, La Venta e Tres Zapotes.Ao que se sabe, o grupo sacerdotal tinha o predomínio na sociedade, apesar da existência de mercadores com alguma força que comercializam especialmente o jade, um mineral esverdeado usado para fazer adornos. Os olmecas, além de uma cerâmica rudimentar, foram os criadores de uma escrita e calendário pouco conhecidos, os quais serviram de base para as civilizações posteriores da região. A decadência olmeca deve ter acontecido por pressão de povos vizinhos, desaparecendo nos primeiros séculos da era cristã, época em que já despontava a primeira cidade meso-americana, a nordeste da atual Cidade do México chamada Teotihuacán (que significa “lugar onde os homens se convertem em deuses”). A civilização de Teotihuacán teve inicio perto de 100 a.C. e atingiu o seu apogeu entre os séculos V e VII. A cidade, chegando a possuir uma população de mais de oitenta mil habitantes, tinha se transformado no centro religiosos hegemônico da região, obrigando seus vizinhos ao pagamento de diversos tributos. O predomínio social em Teotihuacán, uma cidade com centro administrativo e religiosos, com palácios, pirâmides, avenidas, aristocracia guerreira e sacerdotal, associada a mercadores a aos funcionários da administração estatal. Por volta do ano 750,a cidade foi incendiada , provavelmente devido às revoltas camponesas ligadas a ataques externos, permitindo o surgimento de outras civilizações como a dos totonacas e especialmente dos maias, A civilização maia, ocupando uma região que corresponderia hoje à península mexicana de lucatã, Guatemala, Belize e Honduras, na América Central, atingiu o seu apogeu econômico e cultural entre os séculos III e XI , organizando-se em cidades0 estados, como Palenke, Tikal, Copan, entre outras, O predomínio social cabia hereditário, comandada pelo Halach Uinic, responsável pela administração e cobrança de impostos, Nos arredores das cidades ficavam as aldeias de camponeses submetidos à servidão coletiva. Estima-se que a população maia tenha alcançado um total próximo de dois milhões de habitantes, construindo aperfeiçoados sistemas de irrigação, imponentes palácios e grandes templos de adoração aos deuses da natureza (chuva, sol, lua,milho,etc.) Chegaram também a desenvolver apurados cálculos matemáticos, usando inclusive do zero, além de criarem vários calendários, destacando-se um religioso, o “Tzolkin”, de 260 dias , e um civil, o Haab, composto de 18 meses de 20 dias, completando com 5 dias finais. No século IX, floresceram cidades-estados que antes eram de pouca expressão, como El Tajin (atual Vera Cruz), Xochicalco (atual Morelos)e Colula (atual Puebla), as quais pouco depois entraram em declínio devido os espanhóis, no século XV,todas as cidades maias estavam arruinadas, beirando a total desintegração, uma decadência de vários séculos cujas razões são ainda pouco conhecidas. Ao final da civilização maia surgiram novas hegemonias de invasores meso-americanos, destacando-se por um breve período a dos toltecas e, seguir, a dos mexicas, também conhecidos por astecas. Os toltecas atingiram seu apogeu entre os anos 1000 e 1224, tendo como centro a cidade de Tollan de 37 mil habitantes, a atual Tula, que fica ao norte da atual capital mexicana, envolvendo numerosas aldeias por uma área de 1 500 quilômetros quadrados e mais de sessenta mil pessoas. Tollan foi invadida e destruída entre os anos 1150 e 1200, seguida do fim da civilização tolteca. De todas as grandes culturas pré-colombianas da região meso-americana, a asteca foi a mais grandiosa. A civilização asteca reuniu um império que se estendia desde o oeste mexicano até o sul da Guatemala, uma área superior a trezentos mil quilômetros quadrados, envolvendo uma população próxima a 12 milhões de habitantes. A sua capital, Mexihco-Tenochtitlán (hoje Cidade do México), espalhava-se por 13 quilômetros quadrados e tinha uma população perto de cem mil pessoas, segundo estimativas mais seguras (há quem chegue a apontar quinhentos mil habitantes). Em seu apogeu, o império asteca era sustentado pelo domínio sobre povos vizinhos, obrigados a pagarem tributos, o que era conseguindo com alianças, confederações e constantes expedições punitivas dos astecas, assemelhando-se muitíssimo às civilizações da Antiguidade Oriental, como Egito e Mesopotâmia. A sua estrutura política era altamente centralizada, contando com 38 províncias, mantendo o controle sobre as atividades agrícolas e sobre a construção dos sistemas de irrigação, bem como o zelo pela cobrança de impostos. A maior autoridade asteca era a do imperador, o qual era escolhido por um conselho e que recaia, quase sempre, sobre os membros da mesma família imperial. Ao imperador cabia dirigir a “casta” sacerdotal e as atividades religiosas, políticas e militares, constituindo o que se denomina de império teocrático de regadio. Na religião, havia um panteão numeroso de deuses, com conceitos e rituais, com praticas e atividades que envolviam toda a população asteca, sendo comum o sacrifício humano. A sociedade dividia-se em camadas rígidas, sem mobilidade social, tendo no topo nobres e sacerdote, seguidos depois pelos comerciantes e, na base da escala hierárquica, pelos grupos populares e escravos (em geral, prisioneiros de guerra). A posse da terra era comunal, cabendo às aldeias coletivas, chamadas calpulli, o direito de uso da terra para o cultivo. Parte da produção servia para a sobrevivência di calpulli e o restante pra pagar tributos ao Estado,sustentando os governantes, os sacerdotes e demais camadas aristocráticas da sociedade. Era o predomínio da estrutura de servidão coletiva da sociedade asteca. Segundo a tradição oficial da elite de Tenochtitlán, a origem dos astecas remontava a uma região que ficava a noroeste, chamada Aztlan(daí asteca, o povo de Aztlan), onde seu Deus Uitzilopochtli ordenou a emigração no século XII, vagando por vários territórios até chegar ao vale Texcoco no século XIV. O significado da palavra México Apoiando-se no glifo, termo que significa os caracteres da escrita maais ou asteca, alguns acreditam que a palavra México seja a águia empoleirada no cacto, devorando uma serpente. Tal símbolo estaria ligado à lenda de que o sacerdote Quauhcoaltl tivera a visão da águia com a serpente sobre o cacto, no local onde o deus Uitzilopochtli queria que levantasse a cidade de MexihcoTenochtitlá. “Esta águia seria o símbolo de Mexitl, outro nome de Uitzilopochtli, o grande deus nacional.Outros lançamse à etimologia deste nome;apoiando-se na autoridade do Padre Antonio Del Rincón, descobrem nele a raiz da palavra metzli, a Lua, e de xictli, o umbigo ou centro.México seria “(a cidade que está) no meio (do lago) da lua” :tal era , com efeito, o nome antigo da laguna, Metzliapan.” SOUSTELLE. Jaques. A vida quotidiana dos astecas. Belo Horizonte, Itatiaia, 1962.p.29. Em sua evolução histórica, os astecas só conseguiram autonomia em relação aos povos vizinhos no século XV, com o chefe Itzcoatl, iniciando a conquista de um vasto território. Com Montezuma I (c. 1440-1469), Axayacatl(1469-1481), Tizoc (1481-1486) e Ahuitzotj(1486-1502), o império continuou se ampliando, estendendo-se até a costa do Pacifico, sendo sucedidos por Montezuma II, em 1503,o ultimo governo asteca, que acabou derrotado pelos conquistadores espanhóis. A dominação espanhola sobre a América alterou violentamente o destino da civilização asteca, assim como dos demais povos pré- colombianos. Os europeus saquearam suas riquezas, dizimaram seus habitantes e destruíram suas culturas. A América espanhola Como pretexto para a exploração colonial, utilizouse o argumento da necessidade de civilizar os povos americanos, por meio da cultura e da fé cristã. Dessa forma, acobertou-se a dominação dizimadora, justificandoa como um empreendimento comercial e de cristianização. Até meados do século XVI, praticamente toda a América fora subjugada pelos conquistadores europeus – que se utilizavam para isso, da pólvora e do cavalo, desconhecidos pelos ameríndios, além de se valerem da fragilidade grupal das tribos, divididas em facções muitas vezes rivais. No Peru, por exemplo, as disputas pelo trono entre Atahualpa e Huàscar enfraqueceram o império inca, o que ajudou os espanhóis e se assenhorearem do “eldorado” tão cobiçado. “Os indígenas foram derrotados também pelo assombro. O imperador Montezuma recebeu em seu palácio, as primeiras noticias: um grande „monte‟ andava mexendo-se pelo mar.Outros mensageiros chegaram depois: „[...] muito espanto lhe causou ao ouvir como dispara um canhão, como ressoa seu estrépito, como derruba as pessoas; e atordoam-se os ouvidos. E quando sai o tiro, uma bola de pedra sai de suas entranhas: vai chovendo fogo [...]‟. Os estrangeiros traziam „veados‟ nos quais montavam e „ficavam da altura dos tetos‟. Por todas as partes tinham o corpo envolto, „somente as caras aparecem. São brancas, como se fossem de cal. Têm cabelo amarelo, embora alguns o tenham preto.Sua barba é grande [...]‟. Montezuma acreditou que era o deus Quetzalcoatl que voltava.” GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. P.28. Hernán Cortez, no México, Francisco Pizarro e Diogo Almagro, no Peru, foram os conquistadores espanhóis que, devido à violência e extensão de suas conquistas, marcaram mais fortemente o inicio do processo de colonização dos territórios espanhóis na América. Efetuada a conquista, a exploração de ouro e principalmente de prata passou a ser o eixo da colonização espanhola, durante os séculos XVI e XVII. México, Peru e Bolívia respondiam pela produção de metais preciosos, enquanto, simultaneamente, outras regiões se integravam ao sistema econômico colonial como de animais de tração, como mulas, e produtoras de tecidos (Argentina), entre outras. A produção colonial foi organizada a partir da exploração da mão-de-obra indígena. Uma das formas de utilização dos nativos era a mita , pela qual os indígenas eram tirados de suas comunidades para trabalhar nas minas por um prazo determinado e sob um pagamento irrisório.Esse método, fundado numa instituição incaica adaptada pelos espanhóis, foi utilizado especialmente nas minas de prata de Potosí, e acabou por arruinar a estrutura comunitária, culminando com o extermínio da população indígena. A encomienda, sistema mais usado, consistia na exploração dos nativos como servos nos campos e nas minas. A coroa encomendava a captura de indígenas a um intermediário- o encomendero – e os distribuía aos colonizadores, que recebiam o índio como seu servo. A servidão era justificada como um pagamento de tributos, feito pelos índios em forma de serviços, por receberem proteção e educação cristã. O encomendero, por sua vez, transferia parte dos tributos para a Coroa. Organizada com base na exploração estabelecida pelo mercantilismo metropolitano, a sociedade colonial apresentava no topo da escala hierárquica os chapetones, espanhóis da metrópole que ocupavam altos postos militares e civis(justiça e administração), e o clero. A aristocracia colonial era constituída de espanhóis nascidos na América, os criollos, grandes proprietários e comerciantes que , por constituírem a elite colonial , participavam das câmaras municipais, denominadas cabildos (ou ayuntamientos). Abaixo deles, vinham os mestiços, indivíduos nascidos de espanhóis com indígenas, que eram em geral capatazes, artesãos e administradores; em seguida, totalmente subjugados aos brancos, estavam os escravos negros, numericamente insignificantes, exceto nas Antilhas, e os índios, o grupo mais populoso, submetidos à mita e à encomienda. Chamava-se Conselho Real e Supremo das Índias o órgão controlador da colonização, centralizado na Espanha e representado nas colônias pelos chapetones. Os negócios e a arrecadação de impostos cabiam às Casas de Contratação, e as ligações comerciais entre metrópole e colônia se faziam pelo sistema de “porto único”, ou seja, toda transação colonial de comercio deveria, necessariamente, passar por determinado porto na metrópole – inicialmente foi Sevilha e , depois, Cádiz. Esse porto recebia as mercadorias vindas dos portos autorizados na colônia, que eram Vera Cruz (México), Porto Belo (Panamá) e Cartagena (Colômbia).Dessa forma, a metrópole espanhola tinha o controle quase absoluto do comercio realizado com suas ricas colônias americanas. A estrutura administrativa das colônias espanholas dividia o território em quatro vice- reinados – de importância econômica – e algumas capitanias gerais, que constituíam áreas estratégicas. A nomeação dos vice- reis e a fiscalização administrativa cabia ao conselho Real e Supremo das Índias. Os vice-reinados compunham –se de intendências, governadas por alcaides, e as cidades mais importantes possuíam uma câmara municipal. À medida que a Espanha perdia a hegemonia econômica e progressivamente sujeitava-se potencias como França e Inglaterra, seu império no Novo Mundo ia se desestruturando. Além disso, a predominância absoluta dos chapetones (espanhóis) sobre os prósperos criollos (brancos americanos) criou rivalidades que culminariam, no século XIX, na independência da América espanhola. A América inglesa A Inglaterra só entrou efetivamente no processo colonial no reinado de Elizabeth I (1558 -1603) quando a construção naval, o comércio marítimo e a atividade corsária ganharam estímulo. Houve, então, um choque entre Inglaterra e Espanha – potência da época – culminou com a derrota da Invencível Armada espanhola, em 1588. Nesse período, tentou-se colonizar a América do Norte organizando-se três expedições sob o comendo de Walter Raleigh, em 1584, 1585 e 1587, que, entretanto, não alcançaram o sucesso esperado. O nome Virgínia A ocupação na América do Norte pelos ingleses iniciou-se na costa leste, onde atualmente estão o estado da Carolina do Norte e a Ilha de Roanoke. A região recebeu o nome Virginia em homenagem à rainha Elizabeth I, que era solteira. Os insistentes ataques indígenas, entretanto, arruinaram essas primeira empresa colonizadora e só a partir d 1606 iniciou-se de forma definitiva e duradoura a colonização da América inglesa. No século XVII, a atividade colonial inglesa edificou-se com a derrocada da Espanha e a criação de companhias de comércio, numa aliança entre o Estado e a emergente classe burguesa para a exploração e ocupação das Antilhas e da América do Norte. O empreendimento colonial contou também com o excelente populacional proveniente do processo dos cercamentos na Inglaterra. A existência desse excelente, que não encontrava colocação na cadeia de produção nas cidades, ia ao encontro da necessidade de pessoas para colonizar o Novo Mundo, representado, consequentemente, uma solução para os problemas urbanos da metrópole. Outro aspecto que ativou a colonização inglesa foram os conflitos político-religiosos dos séculos XVI e XVII, que estimularam a emigração de puritanos e quakers, em direção à América do Norte.Durante os séculos XVII e XVIII, estruturaram-se treze colônias na América do Norte: ao norte desenvolveu-se uma economia autônoma =, mercantil e manufatureira, não dependente da metrópole, e , ao sul, uma economia agrícola, que produzia exclusivamente para o mercado externo. “ Quakers era um grupo religioso, de tradição protestante, surgido na Inglaterra no século XVII, fundado por George Fox. Os Quakers [...] constituem agrupamentos radicais formados por homens e mulheres procedentes dos meios humildes da população inglesa. Os Quakers apresentavam-se como contrários ao calvinismo e a qualquer autoridade eclesiástica, intitulando-se „amigos da verdade‟. O nome „Sociedade dos Amigos‟ para rotular esse grupo só foi citado a partir de 1665, prevalecendo, porém, queker, que significa „tremulo‟, adotado desde 1650 quando Fox., levado a um tribunal, pedira que todos tremessem diante de Deus. O nome Quaker, dado inicialmente por caçoada, foi, depois, empregado orgulhosamente pelos adeptos.” AZEVEDO. Antonio Carlos do Amaral. Dicionário de nomes, termos e conceitos históricos. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1990, p. 325. Virgínia, a primeira colônia inglesa fundada na América, transformou-se num grande centro de produção de tabaco, produto altamente consumido na Europa. O sucesso econômico do empreendimento levou as companhias comerciais a fundarem outras colônias para a produção de itens tropicais de grande aceitação no mercado europeu: índigo(anil), arroz e , mais tarde, algodão.Todos esses produtos eram obtidos por meio do sistema plantation, caracterizado pela monocultura praticada em grandes propriedades e com a utilização de mão-de-obra escrava, e eram destinados ao mercado esterno. Esse sistema foi a marca das colônias do sul, denominadas, por isso, colônias de exploração. A parte setentrional dos Estados Unidos, de clima e condições naturais semelhantes aos da Europa, ficou conhecida como Nova Inglaterra. Nessa região, a colonização desdobrou-se de forma diversa: predominaram os colonizadores provenientes da perseguição políticoreligiosa, como os puritanos, cujo primeiro gripo desembarcou, do navio Mayflower, em 1620, na costa de Massachusetts, fundando a cidade de Plymouth. Logo novas levas de colonos ativaram a colonização da região, transformando a parte setentrional em uma colônia de povoamento, diferente em sua estrutura das colônias do sul. A ocupação baseou-se na pequena e média propriedade agrícola, em que o trabalhador era não raramente o próprio colono. Diversificou-se, assim, a produção, implementando-se também manufaturas e comércio. Necessária para o escoamento da produção e a obtenção de itens externos, a construção naval ganhou grande impulso e as relações comerciais chegaram às Antilhas, à ÁFRICA EATÉ À Europa. A evolução econômica da Nova Inglaterra resultou, assim, numa capitalização progressiva, ao contrario do que aconteceu no sul, onde houve uma extroversão econômica, com a produção visando somente ao mercado externo e vivendo em função dele. As peculiaridades da colonização inglesa As restrições e o controle intensivo sobre a colônia, tão característicos do mercantilismo ibérico, não se apresentaram na colonização inglesa da América do Norte. O resultado foi uma relativa autonomia econômica e política das colônias, fato mais evidente na Nova Inglaterra.Por seu caráter de povoamento, os colonos ali procuraram criar e desenvolver uma “nova Inglaterra”, em tudo semelhante à sua terra de origem, e não apenas enriquecer-se para regressar à metrópole. Contribuiu também para o ameno pacto colonial na região a instabilidade política inglesa no século XVII, com suas guerras civis(Revolução Puritana, Revolução Gloriosa) e guerras européias, que concentravam a atenção da Coroa e DAE elites nacionais, deixando num segundo plano a intensificação da exploração colonial. No século XVII, quando a Inglaterra emergiu como grande potência mundial e a monarquia parlamentar inglesa estabilizou o país, redefiniu-se a política colonial, ampliando-se as restrições econômicas e a tributação aos colonos americanos. Sob a justificativa de dificuldades do Tesouro público inglês, especialmente após a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), criaram-se inúmeros impostos coloniais, o que levou os colonos a se unirem para conquistar a independência, em 1776. A colonização de outros países na América A participação da França no processo de colonização iniciou-se concretamente no século XVII, com o patrocínio do governo absolutista dos Bourbons, sob a orientação mercantilista dos ministros Richelieu e Colbert, Uma das primeiras regiões ocupadas pelos franceses foi o norte da América –atual Canadá - , onde a colonização alicerçou-se no extrativismo (madeiras e peles) e no comércio com os indígenas. Também tomaram uma grande faixa interior, que ia dos Grandes Lagos ao México, área que denominaram Lousiana, em homenagem a seu monarca Luis XIV, e algumas ilhas das Antilhas. No século XVII, as desastrosas guerras em que se envolveu a França na Europa, como a Guerra da Sucessão Espanhola (1701-1713) e a Guerra dos Sete Anos(17561763), levaram-na a perder boa parte de suas colônias. Com a Revolução Francesa (1789) e as guerras napoleônicas, no início do século XIX, esse processo se aceleraria. O Canadá, por exemplo, foi para a Inglaterra ao final da Guerra dos Sete Anos e a Louisiana,entregue aos Estados Unidos, já independente , por Napoleão Bonaparte, em 1803. A atuação dos Países Baixos, ou Holanda, como metrópole colonial começou em meio à luta pela independência contra a Espanha, iniciada no final No século XVI. Em 1648, com o Tratado de Vestfália, os Países Baixos – já poderosos comercialmenteconstituíram uma república autônoma. Durante esse processo foi criada a Companhia das Índias Orientais (1602), destinada a explorar o comércio com a África e a Ásia e, pouco depois, a Companhia das Índias Ocidentais (1621), dirigida para o comércio e ocupação de regiões americanas. As invasões ao Nordeste brasileiro (1624-1625 e 1630-1654) fizeram parte da estratégia dessa companhia. Quanto a Portugal, integrou o Brasil ao capitalismo europeu, com base na exploração agrícola nos séculos XVI e XVII (cana-de-açúcar) e na mineração no século XVII.