orgasmo com fins científicos
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orgasmo com fins científicos
CMYK Editor: José Carlos Vieira [email protected] [email protected] 3214-1178 • 3214-1179 CORREIO BRAZILIENSE Brasília, quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013 O PONTO G DAS PALAVRAS soal Pes ivo u q Ar /Divulgação erda Lac a n i st Cri “Não li Cinquenta tons de cinza. Ainda. Não gosto do que ouvi falar sobre essa trilogia. Fiquei com a impressão de que tem um revestimento revolucionário com um recheio banal. Essa coisa de sadomasoquismo light me parece algo como conhecer Paris no Epcot Center, sabe? Uma brincadeirinha, um passeio num mundo novo, mas sem ter a experiência real. Parece preconceito — e é” De Mara Altman. Tradução: Ana Luiza Lopes. L&PM, 352 páginas. R$ 39. /Repro Record Editora oal ess oP v i u rq O PENSAMENTO DE MARA ALTMAN: “As pessoas gostam de sentir tesão. E sexo, na ficção, excita as pessoas” “Não escolhi o humor deliberadamente, é só a maneira como vejo o mundo. Seria muito duro para mim fazer um tratado sério sobre minha vagina” “Nós somos pessoas muito diferentes, com apetites muito diferentes, então minha esperança é que essa literatura com sexo e ficção não represente apenas um estilo (como o BDSM* à la Cinquenta tons de cinza), mas continue a representar todo o nosso espectro de gostos e desejos” *BDSM é literatura que tenha Bondage, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo ORGASMO COM FINS CIENTÍFICOS Mara Altman foi além da ficção no livro em que parte da própria busca pelo orgasmo para falar técnica e detalhadamente sobre o prazer feminino. A sugestão veio de um amigo, que enxergou no livro a possibilidade de ver Mara refletir sobre as próprias dificuldades. Primeiro, a jornalista ficou zangada com a ideia e parou de falar com o amigo. Depois, começou a encarar o tema como algo possivelmente produtivo. “A ideia começou a crescer e eu percebi que poderia matar dois coelhos com um cajadada: meus interesses por jornalismo e escrita e um mergulho em uma aventura pessoal em direção a algo que virou um mito para mim e uma frustração a vida inteira”, conta. Mara passou por várias experiências para escrever o livro. Masturbou-se dentro de uma máquina de ressonância magnética para que um médico pudesse ver o comportamento de seu cérebro, visitou uma comunidade californiana especializada em proporcionar orgasmos diários a seus integrantes e consultou os mais variados (e bizarros) especialistas em terapias alternativas. “Qualquer ficção que envolva sexo será um sucesso porque as pessoas são sexualmente reprimidas”, garante Mara.“ Na maioria das vezes, não é permitido às pessoas expressar suas sexualidade e fantasias no cotidiano. Isso é especialmente verdade para as mulheres. Então, quando um escritor consegue colocar as fantasias e pensamentos em palavras, eu acredito que isso possa ser extremamente libertador e excitante para o leitor.” 40 — UM ROMANCE FEMININO AS JOIAS DE MANHATTAN — É POSSÍVEL ROUBAR A VIDA PERFEITA? PROFUNDAMENTE SUA De Martha Mendonça. Record, 112 páginas. R$ 29,90. De Carmen Reid. Tradução: Maura Paoletti. Betrand Brasil, 350 páginas. R$ 39. De Sylvia Day. Tradução: Alexandre Boide. Paralela, 252 páginas. R$ 29,90. CMYK ESSE TAL DE ORGASMO — UMA JOVEM MULHER EM BUSCA DO PRAZER Sexo não é o tema central de 40 — Um romance feminino, mas está nas entrelinhas. A personagem era uma bem-sucedida e bem-casada advogada até ser demitida e enfrentar um divórcio às vésperas dos 40 anos. “Não podemos fugir do fato de que há tipos de histórias, assuntos, estilos de que a leitora gosta mais. Os números falam por si. Ao longo da primeira década dos anos 2000, houve uma multiplicação da chamada chick lit”, repara Martha. “Nem todos os livros são de qualidade e a chamada literatura feminina ficou associada a ‘livrosmulherzinha’. Isso foi ruim. Há escritoras que soltam fogo pelas ventas quando perguntam a elas sobre literatura feminina, por causa dessa associação. Eu, sinceramente, não me importo quando dizem que escrevo para mulheres. O que eu quero é escrever aquilo que emociona, faz pensar, aquilo que tem o poder de questionar e não de reforçar o que já se sabe.” Em 2011, Martha publicou Canalha, substantivo feminino, no qual narra histórias de canalhices do ponto de vista feminino. O livro será transformado em série por Anna Muylaert ainda neste ano e a autora acredita que homens e mulheres precisam de histórias assim. No livro, as mulheres trapaceiam, manipulam e passam bem longe do papel de vítima. Em 40, o enfoque é outro. “Esse binômio vida afetivavida profissional é tudo que a mulher dessa geração quer equilibrar. Então, fiz com que ela perdesse essas duas coisas ao mesmo tempo — mas com um desfecho que mostrasse que já estava perdido antes, apenas ela não percebia, de tão agarrada à segurança e à estabilidade. Quis apontar para ideia de que, aos 40, reviravoltas podem ser positivas, mesmo que dolorosas.” 40 — Um romance feminino está na mesma classificação de gênero de Profundamente sua, da norte-americana Sylvia Day, mas tem uma diferença fundamental: Martha é sutil e tem um humor elegante, ao contrário do melodrama piegas do livro de Day. Sexo narrado à moda de um roteiro de filme pornográfico é o ingrediente da autora ao contar a vida de Eva, uma mulher encantada pelo dinheiro e pelo poder de um rico e célebre empresário nova-iorquino. Graças à combinação poderdinheiro-sexo, Profundamente sua andou em primeiro lugar na lista dos mais vendidos do The New York Times, mas tem muito menos a dizer do que Esse tal de orgasmo — Uma jovem mulher em busca do prazer. dução ção eprodu ditores/R E M P & L Martha Mendonça Gangorra literária dução z/Repro Schwarc Editora N enhuma delas leu Cinquenta tons de cinza, mas todas se aventuram pelos meandros da chick lit, termo usado no mercado norte-americano para designar um tipo de literatura muito popular que combina escrita leve e rápida com histórias de mulheres modernas e seus relacionamentos. Carmem Reid, Mara Altman, Sylvia Day e Martha Mendonça sabem que um livro com ingredientes picantes, algum romance e uma perspectiva feminina têm boas chances de atingir o topo das listas de mais vendidos de grandes jornais e revistas, uma colocação que equivale à medalha de ouro no mundo competitivo dos best-sellers. Não há Christian Gray nem homens ricos e superprotetores em As joias de Manhattan, mas a vontade de ter a vida do galã de Cinquenta tons de cinza é o que leva uma das irmãs Jewel a optar pelo roubo em uma Nova York, onde ter tudo nunca é suficiente. O livro é um exemplar típico do gênero. “O bom chick lit é uma história que entretenha e fale com a mulher de hoje. Precisa ter algo a ver com as vidas que vivemos hoje, precisa haver sentimentos verdadeiros e emoção, mas também é preciso haver humor e graça. Espero que As joias de Manhattan combine todos esses ingredientes. Adoro as duas personagens mais velhas. Elas são puro humor perverso”, explica Carmen Reid, especialista nesse tipo de literatura e autora das séries Annie Valentine e Secrets at St Jude’s, inéditas no Brasil. Para a história das irmãs ambiciosas, Reid se inspirou na imaginação da própria filha. Na época com 7 anos, a menina escreveu algumas linhas sobre amigas que decidem roubar uma joalheria. “Não conseguia parar de pensar sobre isso… Por que as garotas roubariam uma joalheria? O que roubariam? Será que elas escapariam com tudo isso?”. A autora não leu Cinquenta tons de cinza porque se sentiu muito incomodada com a vulnerabilidade da personagem. “Não gosto da ideia de uma heroína ser tão dominada e usada por um homem. Gosto que minhas heroínas sejam fortes e independentes. Mas acho que muitos leitores adoram a fantasia de Cinderela, de Cinquenta tons de cinza.” A carioca Martha Mendonça, autora de 40 — Um romance feminino, lembra que sexo é um excelente chamativo em tudo, até na literatura. Ela acha maravilhoso ler sobre sexo em uma ficção, mas se sente incomodada com os clones oportunistas que pretendem aproveitar o rastro do sucesso da trilogia de E. L. James. “No mercado de livros, o sexo é o novo vampiro (aliás, não por acaso, a autora E. L. James era fã de Crepúsculo e os enredos das duas trilogias têm tanto em comum). Até que venha por aí uma nova galinha dos ovos de ouro”, lamenta a brasileira. A » NAHIMA MACIEL ão produç rasil/Re rtrand B e B ra o Edit PARALELO AO MUNDO DO BEST-SELLER CINQUENTA TONS DE CINZA, HABITA UMA LITERATURA FEMININA POPULAR, LEVE, PICANTE E ATUAL