o léxico dos adolescentes da cidade de itaberaba-ba
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Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 3 • Número 9 • março 2013 Edição Especial • Homenageada PROFESSORA DOUTORA MARIA LUIZA BRAGA COMO FALAM OS ADOLESCENTES NA CIDADE DE ITABERABA-BA Ludinalva S. do Amor Divino1 [email protected] Catharine S. da Silva² [email protected] RESUMO: Levando-se em consideração as possíveis variações que ocorrem na língua, este trabalho objetiva detectar a presença desta variação (de gírias e de neologismos) no cotidiano dos adolescentes. Coletou-se dados de oito conversas informais entre adolescentes do município de Itaberaba-BA, a fim de identificar basicamente os tipos de lexias utilizadas como respostas aos seguintes campos lexicais: (i) o cumprimento entre eles; (ii) exprimir que algo deu errado; (iii) designar algo de que gostou muito; e (iv) se referir aos pais. Os resultados da pesquisa mostram que os adolescentes utilizam lexias variadas como respostas a cada um dos campos lexicais selecionados. PALAVRAS- CHAVE: Léxico. Variação. Adolescência. ABSTRACT: Taking into account the possible variations that occur in the language, this paper aims to detect the presence of this variation (of slang and neologisms) in teenagers’s everyday life. Data was collected from eight informal conversations among teenagers in the city of Itaberaba-BA, to identify the types of lexias basically used as answers to the following lexical fields: (i) greetings among them, (ii) express that something went wrong, (iii) designate something that really liked, and (iv) refer parents. The survey results show that teenagers use varied lexias as responses to each of the selected lexical fields. KEYWORD: Lexicon.Variation. Adolescence. 1. INTRODUÇÃO A fase de transição da infância para a idade adulta é marcada por inúmeras mudanças que, por vezes, parecem estar limitados ao corpo e a mente. No entanto, é fácil conceber que estas transformações inerentes à adolescência reflitam, direta e 1 Mestre em Linguística pela UFBA. ² Graduada em Letras pela Uneb. (Campus XXIII). 158 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 3 • Número 9 • março 2013 Edição Especial • Homenageada PROFESSORA DOUTORA MARIA LUIZA BRAGA indiretamente, na linguagem. O vocabulário do adolescente ocupa um lugar expressivo na língua portuguesa e, considerando que essa é uma fase complexa e de duração prolongada, é importante analisar a influência que seu vocabulário exerce na sociedade, pois seus termos, além de fazerem parte do linguajar cotidiano, podem interferir na comunicação. Assim, levando-se em consideração as possíveis variações que a língua pode operar na sociedade, este trabalho objetiva detectar a presença desta variação (de gírias e de neologismos)no cotidiano dos adolescentes itaberabenses. 2. HISTÓRICO DA COMUNIDADE A pesquisa foi realizada em Itaberaba, um município brasileiro do estado da Bahia, localizado na Chapada Diamantina. De acordo ao último censo, datado de 2004, possui uma área de 2.366,1 km. Registra-se uma população total de 70.611 habitantes, destes, 75,53% vivem na zona urbana do município. A quantidade de adolescentes na faixa etária de 10 a 19 anos no município corresponde a 25,09% da população total, o que equivale a 15.320 habitantes. A principal atividade econômica da comunidade é a produção e exportação do abacaxi, no entanto, destaca-se também nas indústrias de móveis e de calçados. 3. METODOLOGIA Utilizou-se como corpus para o levantamento lexicográfico desse registro, a observação de oito conversas informais em que os participantes eram adolescentes com faixa etária entre 14 e 18 anos. Os informantes são moradores da zona urbana. Buscou-se identificar basicamente quatro tipos de lexias utilizadas para: (i)o cumprimento entre eles; (ii) exprimir que algo deu errado; (iii)designar algo de que gostou muito e (v) se referir aos pais. A observação foi feita na área urbana, principalmente em locais públicos, como praças e quadras esportivas, por concentrar um maior número de pessoas de diferentes 159 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 3 • Número 9 • março 2013 Edição Especial • Homenageada PROFESSORA DOUTORA MARIA LUIZA BRAGA classes sociais e níveis de escolarização. A faixa etária foi o único critério exigido, visto que a escolaridade e posição social serviram apenas como subsídio para a análise dos dados. A observação processou-se do seguinte modo: escolhia-se um grupo com 4 a 5 adolescentes, em seguida, a pesquisadora procurava participar de alguma forma da conversa, sem que soubessem que a finalidade era para estudos lingüísticos.Tivemos um total de oito grupos distintos. As conversas eram gravadas em um aparelho de gravador e as lexias que interessavam eram anotadas posteriormente. Cada uma das lexias encontradas está, neste trabalho, com os respectivos significados, tanto para os usuários quanto o sentido dicionarizado, caso haja. Cumpre destacar que as definições serão retiradas ipsis literis do dicionário Ferreira(2000). 4. NEOLOGIA E GÍRIA O léxico, como se sabe, não é um sistema estático, ele está em constante movimento e, nesse processo, ele expande-se, se altera e, por vezes, se contrai. Segundo (Bakhtin,1990,p.123): A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas lingüísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenônemo social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua. Um fenômeno que contribui significadamente para essa “vivacidade” léxica é o neologismo, conceituado por Ieda Maria Alves(1990) como o produto da neologia (processo de criação lexical).A palavra nova poderá surgir tanto por empréstimos quanto por processos autóctones, porém em ambos estão presentes novidades relativas ás diversas áreas. 160 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 3 • Número 9 • março 2013 Edição Especial • Homenageada PROFESSORA DOUTORA MARIA LUIZA BRAGA Nos neologismos encontramos o verdadeiro retrato da sociedade de uma determinada época. Neles estão presentes novidades no que diz respeito à economia, à política, aos esportes, à arte, à tecnologia, à faixa etária, etc. O neologismo é um fenômeno lingüístico que consiste na criação de uma palavra ou expressão nova, ou na atribuição de um novo sentido a uma antiga palavra; pode ser um comportamento espontâneo próprio do ser humano ou meramente artificial para fins pejorativos. Os neologismos muitas vezes constroem-se com o auxílio dos mecanismos usuais de produção lexical, como a composição (justaposição, aglutinação, prefixação) e a derivação, geralmente por sufixação, como os exemplos brasileiros “petismo”(de PT) e “pefelista”( de PFL).Um exemplo prático, muito usado no Brasil, é o caso do termo “refri”, onde se faz uso de um neologismo, uma vez que esta palavra é uma criação relativamente recente. Acredita-se que as principais lexias encontradas no vocabulário dos adolescentes correspondam a uma ressignificação dos vocábulos antigos. De acordo as pesquisas realizadas por Simone Ribeiro (2010) esse fator tende a atenuar o desejo de se autoafirmar, de não se permitir entender por aqueles que não fazem parte do seu grupo e de,até mesmo, demarcar um limite entre as diferentes ideologias e convicções próprias da adolescência. Nelly Carvalho(1984) e Ieda M. Alves(1990) utilizam-se de alguns critérios que parecem convenientes ao corpus pesquisado. As autoras distinguem basicamente três tipos de neologismos: neologismos semânticos (vocábulos dicionarizados, porém com uma significação nova, não dicionarizada); neologismos lexicais(vocábulos que ainda não foram dicionarizados) e neologismos locucionais(ocorrem quando os componentes da locução, separadamente, podem ser encontrados no dicionário, mas, juntos adquirem um novo valor semântico-não dicionarizado. No decorrer da história, a língua portuguesa vem sofrendo constantes modificações. Ela é dinâmica e, portanto, renova-se constantemente. Essas transformações consistem não só na alteração fonética das palavras, mas também na 161 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 3 • Número 9 • março 2013 Edição Especial • Homenageada PROFESSORA DOUTORA MARIA LUIZA BRAGA introdução ou criação de novas frases e vocábulos, ou ainda na reintegração de palavras arcaicas do idioma que, na sua grande maioria, possuem novas significações. Os neologismos podem ser criados da própria língua, ou incorporações de termos estrangeiros ao idioma, como é o caso do vocábulo inglês brother. A gíria é uma linguagem de caráter popular, criada e usada por determinados grupos sociais ou profissionais. São criadas para substituir termos ou conceitos oficiais (usados tradicionalmente). Elas são próprias de uma determinada época e, muitas vezes, deixam de existir quando caem em desuso. Muitas gírias são tão utilizadas por grande parte da população de um país que acabam sendo incorporadas pelo vocabulário oficial, fazendo parte dos dicionários. De certa forma, todos os grupos sociais possuem uma certa quantidade de palavras ou expressões que usam em seu ambiente. Estas são chamadas de gírias de grupos. Possuem gírias próprias dos estudantes, advogados, jogadores de futebol, médicos, policiais, vendedores, entre outros. Sabemos que a gíria dá um novo significado as formas já existentes ou que tenham sido alteradas nesse sistema lingüístico comum. O objetivo da gíria é não se fazer entender por quem não pertence a um determinado grupo. Logo, ela pretende manter a identidade e a consciência de um determinado grupo social. Muitas gírias são criadas pelos jovens e adolescentes, em função da necessidade de buscar palavras e conceitos novos e a criação de termos e expressões pode servir ao desejo de não se fazer entender por estranhos ao grupo, mas a esse objetivo pode-se acrescentar a natural necessidade de auto-afirmação desse mesmo grupo. 5. IDENTIDADE ADOLESCENTE É na adolescência que o sujeito está se percebendo como integrante de um mundo social e necessita do outro para construir sua identidade, de uma referência externa e também precisa se sentir aceito socialmente. 162 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 3 • Número 9 • março 2013 Edição Especial • Homenageada PROFESSORA DOUTORA MARIA LUIZA BRAGA Considerar a fase da adolescência como o período mais conturbado no desenvolvimento humano, especialmente na construção da identidade, é de senso comum, o que se dá pelo fato de ser este um momento de transição para o indivíduo, o qual deixa de ser criança, sem ser ainda totalmente adulto, pois não atingiu o grau de maturidade que é esperado socialmente. Para Erikson e Erikson (1998), a construção da identidade adolescente é um processo que advém da observação e da releitura de identificações anteriores, o que significa dizer que o adolescente não busca a cópia de um modelo de conduta, mas tenciona modificar, questionar, acrescentar e reconstruir tal modelo de acordo com sua visão, e assim se constituir como sujeito. É na adolescência que o sujeito está se percebendo como integrante de um mundo social e necessita do outro para construir sua identidade, de uma referência externa, além de ser este o período em que se acentua a busca por aceitação social. Para obter tal aceitação, o adolescente seguirá os seus pares, compartilhando com eles diversas afinidades, como vestimentas, formas de se expressar e atitudes, dentre outros aspectos. Por conseguinte, a variedade linguística por ele utilizada é também parte de sua identidade, assim sendo, a particularidades regionais ou dialetais que perpassam sua fala devem ser respeitadas, a fim de que sua identidade também o seja, o que é corroborado pelos PCNs (1998) quando relatam que é preciso considerar o fato de que os adolescentes desenvolvem um tipo de comportamento e um conjunto de valores que atuam como forma de identidade, tanto no que diz respeito ao lugar que ocupam na sociedade e nas relações que estabelecem com o mundo adulto quanto no que se refere a sua inclusão no interior de grupos específicos de convivência. Esse processo, naturalmente, tem repercussão no tipo de linguagem por eles usada, com a incorporação e criação de modismos, vocabulário específico, formas de expressão etc. São exemplos típicos as falas das tribos, grupos de adolescentes formados em função de uma atividade (surfistas, skatistas, funkeiros etc.). (Brasil, 1998, p. 46) Percebe-se, portanto, que o adolescente, como já observado, é vulnerável a qualquer tipo de influência no decorrer das etapas de sua formação e, como a língua também se mostra como um instrumento para balizar sua identidade, cada fase 163 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 3 • Número 9 • março 2013 Edição Especial • Homenageada PROFESSORA DOUTORA MARIA LUIZA BRAGA ultrapassada será representada por formas diferenciadas de usar a língua, formas que, por vezes, poderão, inclusive, ser divergentes. Ou seja, ele poderá, em dado momento, utilizar determinada gíria, uma formação frasal, uma escolha lexical que, em outra instância, por influência de um novo grupo, uma nova rede de contatos, não mais lhe será interessante, o que não significa falta de personalidade, mas sim, característica de um período de mudanças, que sofre interferência externa ao sujeito. 6. ANÁLISE DOS DADOS De todas as lexias observadas e utilizadas nos mais diversos contextos do cotidiano do adolescente, foram selecionadas apenas aquelas que se enquadravam nos seguintes campos lexicais: (i) cumprimento usado entre eles; (ii) expressão usada para designar algo de que gostaram muito; (iii) expressão usada para se referir aos pais; (v) expressão usada para exprimir que algo deu errado. 6.1 CUMPRIMENTO USADO ENTRE ELES Todas as seis lexias encontradas neste campo lexical possuem uma mesma significação: saudação entre membros de um mesmo grupo ou conhecidos; porém, cada um é utilizado em um contexto específico. Pivete Dicionário: “sm. Brás. RJ SP Gír.Menino ladrão e\ ou que trabalha para ladrões.” Comunidade: usada para pessoas mais novas (tanto do grupo quanto de outras “tribos”) ou recentemente integradas ao grupo. 164 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 3 • Número 9 • março 2013 Edição Especial • Homenageada PROFESSORA DOUTORA MARIA LUIZA BRAGA Obs.: predomina no vocabulário dos homens. Brother É uma palavra de origem inglesa que , no dicionário desta língua, significa irmão. Comunidade: usada para as pessoas mais próximas, aquelas que eles mais se identificam no grupo. Obs.: presente no vocabulário tanto de homens quanto de mulheres. Sacaninha Palavra não dicionarizada. Comunidade: usada, principalmente quando reencontram pessoas que não vêem há algum tempo ou é direcionada a quem tem alguma novidade já esperada pelo grupo. Obs.: predomina no vocabulário dos homens. Mano Dicionário: “sm.Fam. 1.Irmão(I). 2.Amigo cordial. Comunidade: usada com a segunda significação encontrada no dicionário. É relevante destacar que a pronúncia também interfere na significação: quando a última sílaba é mais demorada denota o prazer em rever o outro. Obs.:o gênero feminino também é utilizado e possui a mesma significação. Bicho 165 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 3 • Número 9 • março 2013 Edição Especial • Homenageada PROFESSORA DOUTORA MARIA LUIZA BRAGA Dicionário:”sm.1.Qualquer dos animais terrestres. 2.Pessoa muito feia e\ou intratável. 3.Bras. Pop. Zool. Broca. 4. Brás. O jogo do bicho Comunidade: usado geralmente em tom de cobrança. Obs.: não se admite o gênero feminino,uma vez que, como tal, adquire uma outra significação que não a desejada. Cara Dicionário: “sf. 1.V. rosto(1). 2.Semblante, fisionomia. 3. Aspecto, ar. 4.Ousadia, coragem. Comunidade: usado para pessoas que, embora estejam no mesmo grupo, não se tenha muita aproximação. 6.2 EXPRESSÃO USADA PARA DEMONSTRAR ALGO DE QUE GOSTARAM MUITO As lexias, abaixo apresentadas, não diferem quanto a significação – todas indicam contentamento. Massa Dicionário: “sf.1.Quantidade apreciável de matéria sólida ou pastosa, em geral de forma indefinida. 2. Quantidade relativamente grande dum fluido. 3.Aglomerado de elementos(em geral, da mesma natureza) que formam um conjunto. Comunidade: visto que o sentido já fora explicitado anteriormente, cabe destacar apenas que a palavra ganhou uma significação inteiramente nova, diferindo das apresentadas no dicionário. 166 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 3 • Número 9 • março 2013 Edição Especial • Homenageada PROFESSORA DOUTORA MARIA LUIZA BRAGA Irado Dicionário: “adj. V. iracundo” Comunidade: usado pelos adolescentes com um sentido inteiramente novo. Filé Dicionário: “sm. 1.Nome comum a certo músculo das reses.2. Bras.Bife.” Comunidade: a lexia filé adquire um sentido ainda não dicionarizado. Bacana Dicionário: “adj. 2g. Brás. Gír. Palavra que exprime inúmeras idéias apreciativas, equivalendo a bom, excelente, belo, etc., tudo no superlativo, aplicável a pessoa e coisas. Comunidade: correspondente ao sentido que aparece no dicionário. Decente Dicionário: “adj2g. 1. Honrado, honesto. 2. Digno, adequado. 3. Que tem bons modos.” Comunidade: pode-se observar a criatividade da mente do adolescente adaptando um novo sentido à palavra. 167 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 3 • Número 9 • março 2013 Edição Especial • Homenageada PROFESSORA DOUTORA MARIA LUIZA BRAGA 6.3 EXPRESSÃO USADA PARA SE REFERIR AOS PAIS As quatro lexias encontradas neste item equivalem a uma substituição dos lexemas pai e mãe, que ocorre, na maior parte das vezes, apenas em conversas com amigos. Coroa Dicionário: “sf. 1. Ornato circular com que se cinge a cabeça. 2. O poder da dignidade real; a realeza. 3. Tonsura. 4. V. cume(1). 5.Anat.Porção de dente situada acima da linha formada pela gengiva.6. Brás. Gír.Pessoa madura ou idosa. Comunidade: empregada com sentido equivalente ao último apresentado no dicionário. Vei\veio Embora não apareçam nos dicionários, correspondem a variações de velho(forma dicionarizada) Velho Dicionário:”adj. 1.Muito idoso. 2. Antigo(3). 3.Gasto pelo uso. 4. Experimentado, veterano. 5. que há muito exerce uma profissão ou tem certa qualidade. 6. Desusado, obsoleto. Sm. 7. Homem idoso. 8.Fam. pai. Comunidade: utilizado com os dois últimos sentidos encontrados no dicionário. Obs.:quando utilizam a palavra velho para se dirigir diretamente ao genitor, na maioria das vezes,é significando pai. 168 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 3 • Número 9 • março 2013 Edição Especial • Homenageada PROFESSORA DOUTORA MARIA LUIZA BRAGA 6.4 EXPRESSÃO USADA PARA EXPRIMIR QUE ALGO DEU ERRADO A maior parte das lexias encontradas neste campo lexical é correspondente ao pretérito perfeito de verbos dicionarizados, porém, no contexto em que são empregados, adquirem significações novas e, portanto,não dicionarizadas. Furou É uma lexia que não consta no dicionário, mas deriva do verbo furar, que é uma forma dicionarizada. Sujou Forma derivada do verbo sujar. Barriou Palavra não dicionarizada. Entrou água Separadamente cada uma das palavras ou são dicionarizadas ou possuem um correpondente no dicionário. Entrou deriva do verbo entrar. Água: “sf.1. Quim. Líquido incolor, inodoro, insípido, essencial à vida. 2. A parte líquida do globo terrestre. 3. Chuva(1) 4. Cada uma das superfícies planas que formam um telhado. No entanto, a espressão junta forma um lexema não dicionarizado e, portanto, com um novo sentido. 169 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 3 • Número 9 • março 2013 Edição Especial • Homenageada PROFESSORA DOUTORA MARIA LUIZA BRAGA CONSIDERAÇÕES FINAIS Os dados coletados permitem que se tenha apenas uma visualização geral do Léxico dos adolescentes de Itaberaba.Visto que cada uma das lexias encontradas não é própria de um grupo em partícula; todas faziam parte do vocabulário dos membros dos oito grupos observados, mesmo entre os adolescentes de posição social elevada. As lexias e a análise das mesmas, apresentadas acima, nos permitem ratificar que o léxico de uma língua é um processo de contínua reelaboração e perpetuação. E não seria audacioso dizer que esse processo em desenvolvimento resulta da mente criativa dos falantes, responsável por criar e conservar o vocábulo dessa língua. Essa criatividade é acentuada quando o falante é um adolescente, capaz de acelerar o ritmo de criação e ampliação dos significados de determinadas palavras. O vocabulário do adolescente ocupa, na Língua Portuguesa, um lugar expressivo. Essa formação e ressignificação de vocábulos compõem um novo tipo de linguagem, uma linguagem que tem muito de originalidade e riqueza. REFERÊNCIAS ALVES, Ieda Maria. Neologismo. São Paulo: Ática, 1990. BIDERMAN,Maria T. Camargo. A Categorização Léxica. In: Teoria Lingüística: teoria lexical e lingüística computacional. São Paulo:Martins Fontes,2001. BIDERMAN,Maria T. Camargo. A Expansão do Léxico, Neologismo. In: Teoria Lingüística: teoria lexical e lingüística computacional. São Paulo:Martins Fontes,2001.p.203-213. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. CARVALHO, Nelly. O que é neologismo?. São Paulo: Parisiense, 1984. CDL.Produção de abacaxi.Disponível em: <http:\\www. edlitaberaba.com.br>.Acesso em 18 de fev. de 2010. 170 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 3 • Número 9 • março 2013 Edição Especial • Homenageada PROFESSORA DOUTORA MARIA LUIZA BRAGA ERIKSON, Erik; ERIKSON, J. M. O ciclo de vida completo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 4ª ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. FIEB. Guia industrial do estado da Bahia. \\www.fieb.org.br>.Acesso em 18 de fev. de 2010. Disponível em: <http: RIBEIRO,Simone Nejaim.Um estudo sobre o vocabulário das revistas destinadas a adolescentes. Disponível em:<http\\www.filologia.org.br>.Acesso em 18 de fev. de 2010. UPB. Densidade demográfica.Disponível em: <http: \\www.upb.org.br>.Acesso em 18 de fev. de 2010. Recebido Para Publicação em 28 de fevereiro de 2013. Aprovado Para Publicação em 13 de março de 2013. 171
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