af BoletimAPEF13-08

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af BoletimAPEF13-08
Boletim
ANO I
Nº 2
SÃO PAULO
Editorial
A Associação
Paulista para o
Estudo do Fígado, com o apoio
de vários laboratórios farmacêuticos, vem
desenvolvendo
suas atividades,
conforme o cronograma planejado. Concluímos o primeiro semestre do Curso de
Educação Continuada em Hepatologia em novo local, que se mostrou confortável e acolhedor. Os alunos
têm participado ativamente, principalmente na discussão de Casos Clínicos, como se vê na foto acima.
No resultado da avaliação das diferentes atividades
em cada módulo, predominam os graus 4 e 5, correspondendo a muito bom e ótimo. As sugestões propostas (graus 2 ou 3), mesmo sendo da minoria, são
sempre levadas em consideração. No website da
APEF, já em elaboração, disponibilizaremos todas as
aulas ministradas no Curso, desde que autorizadas
pelos palestrantes.
Neste Boletim divulgamos as diferentes categorias de
membros da APEF, as normas para tornar-se membro de nossa associação, além de seus direitos e
deveres. A programação do Curso no segundo semestre sofreu algumas modificações recentemente,
que estão incorporadas neste programa, como o
adiantamento do horário de início para 9h00.
No segundo semestre teremos o nosso Curso
Monotemático sobre Esteatose e Esteatohepatite não
alcoólica, com todos convidados confirmados e programa definido (ver página 6). Em setembro acontece em Campos do Jordão o Congresso Paulista de
Gastroenterologia, e a APEF foi convidada a organizar um Curso pré-Congresso, que versa sobre
“Atualização Terapêutica em Hepatologia”, também à
disposição dos leitores deste Boletim, com
palestrantes confirmados.
O segundo semestre de 2007 está bastante movi-
Boletim APEF
ANO I
Nº2
AGOSTO/2007
mentado, ganhando destaque o Congresso Brasileiro
de Hepatologia, que será em Ouro Preto, Minas
Gerais, sob a presidência do Dr. João Galizzi Filho.
Outros eventos de Hepatologia deste semestre também foram alencados, com as informações
necessárias àqueles que queiram participar.
O Caso Clínico deste Boletim, fornecido pela nossa
ex-presidente Maria Lucia Ferraz, é de extrema importância, pois considera as dificuldades diagnósticas e a conduta em paciente com Hepatite C aguda.
Finalmente, em 4 de julho deste ano, o Prof. Luiz
Caetano da Silva completou 80 anos, merecendo de
todos nós, hepatologistas de São Paulo, uma justa
homenagem por seu pioneirismo em hepatologia, sua
brilhante carreira acadêmica, sua excelente atividade
didática e, particularmente, pela
extrema dedicação
aos pacientes, que
perdura até o momento.
Edna Strauss
Neste Boletim
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Editorial
Estatuto da APEF
Curso de Educação Continuada
Monotemático de “Esteatose e
Esteatohepatite não alcoólicas”
Congresso Paulista de
Gastroenterologia – Curso PréCongresso APEF
WebSite da APEF em elaboração
Conduta na Hepatite Aguda C
Homenagem da APEF aos 80 anos do
Prof. Luiz Caetano da Silva
Agenda de Eventos 2007
Estatuto da Associação
Paulista para o Estudo
do Fígado – APEF
CAPÍTULO III
DOS MEMBROS
Art. 4o. - A APEF será constituída de membros
diplomados em Medicina ou áreas afins, que
possuam em comum o interesse pelo estudo e
pesquisa no campo da Hepatologia.
Art. 5o. - A APEF terá as seguintes categorias de
membros:
A) Membros Fundadores
B) Membros Titulares
C) Membros Associados
D) Membros Eméritos
E) Membros Beneméritos
SEÇÃO I
Art. 6o. - São Membros Fundadores aqueles que
compareceram e assinaram a ata de fundação da
APEF.
SEÇÃO II
Art. 7o. - São Membros Titulares todos aqueles que:
A) Possuem Título de especialista em Hepatologia,
emitido pelo SBH/AMB, ou
B) São Membros Titulares da SBH, ou
C) Possuem Título de Mestre ou Doutor em
Medicina com dissertação ou tese na área de
Hepatologia, ou
D) Possuem, a critério da Diretoria, referendado pela
Assembléia, reconhecido e notório saber e
experiência em Hepatologia.
SEÇÃO III
Art. 8o. - São Membros Associados aqueles que,
embora não se enquadrem nos itens do Art. 7o. da
Seção II, respeitem fielmente o prescrito no Art. 4o.
deste estatuto.
SEÇÃO IV
Art. 9o. - São Membros Eméritos aqueles que, por
julgamento da Diretoria, referendados pela
Assembléia tenham dado relevantes contribuições
científicas para a área da Hepatologia.
Parágrafo Único:- Os Membros Eméritos, tanto
nacionais quanto internacionais, gozarão dos direitos
dos Titulares e estarão isentos das anuidades e
eventuais contribuições.
SEÇÃO V
Art. 10o. - São Membros Beneméritos as pessoas
físicas ou jurídicas que tenham feito contribuições
valiosas e significativas à APEF, sempre
encaminhados pela Diretoria e referendados pela
Assembléia.
Parágrafo Único:- Os Membros Beneméritos estão
isentos das anuidades, bem como do direito de voto,
mas terão o direito de participar e colaborar com as
atividades científicas da APEF.
SEÇÃO VI
Art. 11o. - São consideradas as seguintes condições
para tornar-se sócio da APEF:
A) Que o candidato não possua nada de
desabonador em sua conduta;
B) Que o candidato seja apresentado por dois
Membros Titulares;
C) Que a proposta de filiação do candidato seja
apreciada pela Diretoria e referendada em
Assembléia Geral.
Art. 12o. - É direito do associado demitir-se quando
julgar necessário, protocolando junto à Secretaria
da APEF seu pedido de demissão.
Art. 13o. - A Diretoria da APEF poderá adotar medidas
de caráter punitivo, desde que referendado pela
Assembléia, em relação à conduta de seus
associados, quando julgar assim necessário. Para
este fim, são consideradas as seguintes medidas:
A) Advertência
B) Suspensão
C) Exclusão
Parágrafo Único:- Na hipótese de exclusão do
associado, caberá este recurso à Assembléia Geral.
Art. 14o. - São deveres dos membros da APEF:
A) Cumprir e fazer cumprir o presente estatuto;
B) Respeitar e cumprir as decisões da Assembléia
Geral;
C) Zelar pelo bom nome da APEF;
D) Defender o patrimônio e os interesses da APEF.
Art. 15o. - São direitos dos membros da APEF
participar da Assembléia Geral e das demais
atividades, na forma e condições previstas neste
estatuto, bem como gozar dos benefícios oferecidos
pela entidade.
Diretoria Biênio 2007/2008
Edna Strauss - Presidente
Edison Roberto Parise - Vice-Presidente
Maurício F.A. Barros - 1º Secretário
Regina Helena G. M Mattar - 2ª Secretária
Mário Guimarães Pessoa -1º Tesoureiro
Maria de Fátima G.S. Ribeiro - 2ª Tesoureira
Conselho Fiscal:
Hoel Sette Junior
Edson Cartapatti
Claudia Marques Oliveira
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Boletim APEF
ANO I
Nº2
Curso de Educação Continuada em Hepatologia da
APEF - programa do segundo semestre de 2007
Data: 11/08/07
Data: 24/11/07
Tema da Manhã - Fibrose e Cirrose Hepática
Tema da Manhã - Transplante de Fígado
(9h00 às 11h45)
- Patogênese da fibrose hepática
- Avaliação da fibrose hepática: histologia x novos testes
- Síndrome metabólica nas doenças hepáticas e relação
com fibrose
- Cirrose hepática: classificação e etiologias
- Classificações funcionais da cirrose
(9h00 às 11h45)
- Conceituação e caracterização de “doença hepática
terminal”
- Necessidade de transplante fora dos critérios de
gravidade?
- Avaliação de resultados antes e após utilização do MELD
- Inovações cirúrgicas de interesse prático
- Como evitar a recidiva da doença original após o
transplante
Tema da Tarde - Hipertensão Portal: Complicações
Sistêmicas
(13h15 às 16h00)
- Disfunção circulatória na cirrose
- Insuficiência renal e tipos de síndrome hepato-renal
- A síndrome hepatopulmonar e a hipertensão
portopulmonar
- A hiponatremia e suas conseqüências
- Infecções bacterianas na cirrose
Data: 15/09/07
Tema da Manhã - Hipertensão Portal:
Hemorragia Digestiva e Ascite
(9h00 às 11h45)
- Importância da Circulação hiperdinâmica
- Mecanismos que propiciam a hemorragia digestiva
- Condutas terapêuticas antes, durante e após o
sangramento
- Fisiopatologia da ascite
- Cuidados fundamentais nas ascites de grande volume
Tema da Tarde - Doenças Metabólicas
(13h15 às 16h00)
- Doenças metabólicas na infância
- A deficiência de alfa 1 anti-tripsina na criança e no adulto
- Patogênese e clínica da hemocromatose
- Tratamento das desordens do metabolismo do cobre
- Fibrose cística e suas manifestações hepato-biliares
Data: 27/10/07
Tema da Tarde - Casos Clínicos e Avaliação Final
(13h15 às 16h00)
- Discussão de “casos clínicos problemáticos” previamente
preparados pelos alunos
- Avaliação interativa de final do Curso
Alunos que tiveram bom aproveitamento do
curso, no primeiro semestre:
- Adriana Zuolo Coppini
- Adrina Porta
- Antonio Cesar de Azevedo Pedro
- Antonio Nagib Arbex Filho
- Carla Zonelotto Neves
- Fabio Luiz Maximiano
- Francisco Augusto Porto Ferreira
- Hugo Ricardo Amaral da Silveira
- Jader Luiz Araujo Godinho
- Joaquim Graf
- Juliana Ramalho de Vasconcelos
- Ligia Cristina Pereira Dias Biagini
- Marilia Tavares Campos de Oliveira
Gaboardi
- Michel Laks
- Michelle Zicker
- Paula Tuma
- Raul Carlos Wahle
- Silas Rocha das Neves
Tema da Manhã - Nódulos Hepáticos
(9h00 às 11h45)
- Exames de imagem e seus critérios diagnósticos
- Nódulos benignos: sua origem e evolução
- Qual a contribuição efetiva de dados clínico-laboratoriais?
- Contribuições do exame anátomo-patológico
- Conduta terapêutica: cirurgia x não cirurgia
Tema da Tarde - Carcinoma Hepatocelular
(13h15 às 16h00)
- Exames de rastreamento e sua relevância
- Importância dos diferentes métodos de imagem
- Contribuição da histologia em nódulos pequenos x
grandes
- Tratamentos invasivos não-cirúrgicos
- Época e tipo de cirurgia a ser proposta
10 pontos
(freqÜência e aproveitamento)
Local do Curso:
Rua Mato Grosso 306, 19º andar. Higienópolis, SP.
Inscrições e Informações: Cidinha: fone (11)
9750 5620 e e:mail [email protected]
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Boletim APEF
ANO I
Nº2
Programa do Curso Monotemático de
“Esteatose e Esteatohepatite não alcoólicas”
10h45 / 11h10 Debate: Necessidade de
Biópsia em DHGNA
· Argumentação contrária
· Argumentação favorável
11h10 / 11h35 Conferência: A Esteatose Pode
Ser Tóxica à Célula Hepática?
Data: 18/08/07
Horário: das 08h00 às 17h00
Local: Hotel Blue Tree Towers
Comissão Organizadora: Edison Parise,
Claudia Oliveira e Edna Strauss
8h00 Inscrições e credenciais
8h30 Abertura: Importância Epidemiológica da
“Doença Hepática Gordurosa Não-Alcoólica
(DHGNA)”
8h45 / 10h30 Mesa Redonda: Conceito,
Diagnóstico e História Natural da DHGNA
· Conceituação e diagnóstico anátomo-patológico
da DHGNA
· Conceito de síndrome metabólica e sua relação
com DHGNA
· História natural da DHGNA
· A DHGNA na criança
· Marcadores indiretos de esteatose,
esteatohepatite e fibrose
· Discussão
Intervalo
Patrocinadores:
11h35 / 12h30 Mesa Redonda:
Fisiopatogênese da DHGNA
· A esteatose hepática e sua relação com
resistência insulínica
· Papel das citocinas e do estresse oxidativo no
desenvolvimento de esteatohepatite
· Aspectos moleculares da DHGNA
· Discussão
12h30 / 14h00 Almoço
14h00 / 15h00 Mesa Redonda: Hepatite C e
DHGNA
· Esteatose e hepatite C
· Papel da resistência insulínica na hepatite C
· Relevância dos achados histológicos na
associação entre hepatite C e DHGNA
· Discussão
15h00 / 15h20 Conferência: Presente e
Futuro da DHGNA
Intervalo
15h40 / 17h00 Mesa Redonda: Tratamento da
Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica
· Tratamento não medicamentoso
· Tratamento medicamentoso
· Cirurgia bariátrica
· Novas perspectivas terapêuticas
· Discussão
Apoio:
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Boletim APEF
ANO I
Nº2
Congresso Paulista de Gastroenterologia
Curso pré-Congresso da APEF
Atualização Terapêutica em Hepatologia
Módulo 1 – Hepatites por Vírus
Moderadora – Edna Strauss
8h30 – Tratamento da Hepatite Crônica C – Hoel Sette
8h50 – Tratamento da Hepatite Crônica B – Zuzane Ono-Nita
9h10 – Tratamento da Co-infecção HIV-HCV – Mario Gonzalez
9h30 – Discussão
Módulo 2 – Hepatopatias Crônicas
Moderadora: Claudia Oliveira
9h45 – Tratamento da Hepatite Auto-imune – Gilda Porta
10h05 – Tratamento da Esteato-Hepatite – Edison Parise
10h25 – Tratamento das Colestases Crônicas – Eduardo Cançado
10h45 – Discussão
11h00 – 11h15 – Intervalo
Módulo 3 – Nódulos Hepáticos
Moderador: Hoel Sette Jr.
11h15 – Conduta em Nódulos Hepáticos Benignos – Eduardo Carone
11h35 – Tratamento Não Cirúrgico do Hepatocarcinoma – Flair Carrilho
11h55 – Indicações de Cirurgia ou Transplante em Nódulos Hepáticos – Maurício Barros
12h15 – Discussão
12h30 – 13h30 – Intervalo para Almoço
Módulo 4 – Complicações da Hipertensão Portal
Moderador: Edison Parise
13h30 – Tratamento da Ascite – Maria de Fátima Ribeiro
13h50 – Tratamento de Urgência na Hemorragia Digestiva – Alberto Farias
14h10 – Tratamento Farmacológico Eletivo e Profilático – Elza Cotrin Soares
14h30 – Dicussão
14h40 – Tratamento da Peritonite Bacteriana Espontânea – Wanda Caly
15h00 – Tratamento da Encefalopatia Hepática – Edna Strauss
15h20 – Discussão
15h30 - ENCERRAMENTO
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Boletim APEF
ANO I
Nº2
WebSite da APEF em elaboração
Previsão de funcionamento para agosto/2007
apefigado.org.br ou spfigado.org.br
Conteúdo proposto
Institucional
1) Diretoria atual e anterior
2) Estatutos completos
3) Lista de sócios adimplentes (nome, endereço, telefone, etc.) com link para o endereço www, desde que
autorizado
4) Boletins APEF (arquivos PDF)
Eventos
5) no país – todos os Eventos em que consta a Hepatologia
6) no exterior – a lista de Eventos relacionados com Hepatologia fora do Brasil, suas datas e informações
gerais
7) Eventos da APEF – curso monotemático de NASH, Curso Continuado Anual e o Curso pré-Congresso
da Associação Paulista de Gastro – com os respectivos programas
Atualização científica
8) Trabalhos Científicos – trabalhos de membros (PDF) selecionados poderiam ter destaque de capa
9) Aulas do Curso Continuado em Hepatologia (PDF)
10) Aulas do Monotemático e do Pré-Congresso (PDF)
Interativo
- Fórum (grupo de discussão) para os membros da APEF
11) Notificação de Casos de Hepatite Fulminante, formulário e exposição
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Boletim APEF
ANO I
Nº2
Discussão Clínica
Conduta na Hepatite Aguda C
Paciente feminina, de 49 anos, natural e procedente
de São Paulo, manicure, procurou serviço médico por
ter notado que seus olhos ficaram amarelos e a urina
ficou escura.
A paciente referia estar assintomática desde 1 semana
antes da consulta, quando começou a apresentar
desconforto abdominal, astenia e, a seguir, notou
icterícia, colúria e acolia fecal. Negava prurido ou dor
importante acompanhando o quadro.
Como antecedentes, referia ter sido submetida à
cesárea há 19 anos e abdominoplastia há 8 anos;
nesta última cirurgia referia ter recebido transfusão
de sangue. Negava outras doenças associadas ou
uso de medicamentos.
Ao exame físico, constatou-se altura de 1,61 m e peso
de 58 Kg. Encontrava-se em bom estado geral,
ictérica 2+/4. O fígado estava palpável a 3 cm do RCD.
Frente a esta história, levantou-se a hipótese de
hepatite aguda, possivelmente de natureza viral, uma
vez que não havia suspeita de icterícia obstrutiva
(ausência de quadro doloroso) e outros
antecedentes, sobretudo de exposição a drogas e
medicamentos. Outra hipótese a se considerar seria
a de uma manifestação aguda de doença hepática
crônica subjacente, como pode ocorrer na hepatite
auto-imune ou nas hepatites crônicas virais. O
antecedente de transfusão há 8 anos poderia suportar
a última hipótese. Exames laboratoriais foram
solicitados, buscando esclarecer a etiologia do
quadro.
Os exames laboratoriais iniciais mostraram: AST=588
UI/L (nl=32), ALT=1460 UI/L (nl=31), Bilirrubina total=6,1 mg/dL (BD=4,8 e BI=1,3 mg/dL), Fosfatase
alcalina=182 UI/L (nl=250), gama-GT=101 UI/L
(nl=24). No hemograma, Hb=13,6 g/L,
leucócitos=5.300/mm3, plaquetas=340.000/mm3 .
O ultra-som de abdômen constatou somente
hepatomegalia. Foi solicitada sorologia, que revelou:
HBsAg negativo, anti-HBc IgM negativo, anti-HBs
negativo; anti-HAV IgM negativo, anti-HCV negativo.
Os achados bioquímicos foram compatíveis com
hepatite aguda, com ALT elevada em cerca de 50
vezes o limite superior da normalidade. Entretanto,
as sorologias foram todas negativas. Devido ao
antecedente desta paciente, de eventual exposição
parenteral por ser manicure, foi solicitada pesquisa
de HCV-RNA, que resultou POSITIVA. Esta evolução
sorológica pode ocorrer, em casos de hepatite aguda,
pelo vírus C, com aparecimento tardio do anticorpo,
que pode levar de 8 a 12 semanas para se tornar
positivo. Assim, quando existe forte suspeita do
diagnóstico de infecção aguda pelo vírus C, a pesquisa
do HCV-RNA, por técnica de PCR, pode auxiliar no
diagnóstico.
A paciente foi
orientada
quanto
ao
diagnóstico de
infecção aguda pelo
vírus C e foi recomendado
repouso relativo, com afastamento temporário de sua
atividade habitual. Após 30 dias, os exames
mostravam: AST=84 UI/L, ALT=257 UI/L, Bilirrubina
total = 1,5 mg/dL (BD=0,8 e BI=0,7 mg/dL). Foi
realizada nova determinação de anti-HCV, que
resultou novamente negativa; o HCV-RNA persistia
positivo.
A questão que se impõe neste momento é a
conduta frente a uma hepatite aguda pelo vírus
C. Estaria indicado o tratamento? Se sim, quando
e como?
É sabido que a infecção pelo HCV tende a se tornar
crônica em grande percentual de indivíduos
agudamente infectados (figura 1).
Devido a este fato, muitos estudos se preocuparam
em avaliar o efeito do tratamento, durante a fase
aguda, sobre a erradicação viral, no sentido de
prevenir a evolução para a cronicidade. Uma
metanálise, publicada em 2003 (Liccata A. et al. Journal of Hepatology. 2003;39:1056) reuniu 12 trabalhos,
envolvendo 640 pacientes: 320 tratados e 320 não
tratados. A análise claramente demonstrou-se
favorável ao tratamento, alcançando índices de
resposta sustentada superiores aos obtidos de forma
espontânea (figura 2).
Em relação ao momento ideal para iniciar a terapia,
havia dúvida se o tratamento deveria ser iniciado tão
logo quando feito o diagnóstico, ou se seria oportuno
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Boletim APEF
ANO I
Nº2
esperar alguns meses, buscando uma eventual
resolução espontânea. Respondendo a esta questão,
há um trabalho que demonstra que o clareamento
espontâneo, na hepatite C aguda, é maior nas
primeiras semanas, mas nunca ocorre após 16
semanas (Gerlach JT et al. Gastroenterology.
2003;125:80) (Figura 3). Com base neste e em outros
estudos com achados semelhantes, atualmente
recomenda-se que se aguarde 12 semanas (3 meses)
após o início do quadro. Se o HCV-RNA persistir
positivo após este período, iniciar o tratamento.
com IFN, com fase de indução, da forma como foi
feita para a paciente em questão, é um esquema com
alto índice de sucesso. No estudo de Jaeckel (Jaeckel
E et al. N Engl J Med. 2001;345:1452) a taxa de
resposta virológica sustentada (RVS) foi de 98%,
embora o estudo tenha incluído grande número de
mulheres, jovens, com quadros ictéricos, situações
que cursam com maiores índices de resolução
espontânea. Os estudos com IFN peguilado (Khamal
et al, Gastroenterology, 30:632-8, 2006; Khamal et
al, Hepatology. 2004;39:1721) também demonstraram
altos índices de resposta (80 a 95%), e não
conseguiram demonstrar a vantagem da associação
de ribavirina. Assim sendo, atualmente tem sido
empregada a monoterapia com IFN convencional, com
esquema de indução, por 6 meses.
Seis meses após o tratamento, a paciente
apresentava os seguintes exames: AST=27 UI/L,
ALT=28 UI/L. O HCV-RNA tornou-se indetectável,
caracterizando RVS. Após 1 ano foi novamente
avaliada, permanecendo com ALT e AST normais, e
o HCV-RNA continuava negativo.
O quadro 1 resume a conduta na hepatite aguda C,
de acordo com os conceitos apresentados neste caso.
Após 3 meses a paciente estava assintomática e
apresentava os seguintes exames: AST=36 UI/L,
ALT=46 UI/L, Bilirrubina total = 0,7 mg/dL (BD=0,3 e
BI=0,4 mg/dL). Nesta ocasião o anti-HCV resultou, pela
primeira vez, positivo. E o HCV-RNA persistia positivo
(tabela 1).
Com estes resultados, foi iniciada monoterapia com Interferon convencional, 6 MU/dia, por 4 semanas. A seguir
recebeu IFN 3 MU 3 vezes/semana por mais 5 meses.
O esquema de tratamento para hepatite C aguda tem
sido bastante discutido na literatura. A monoterapia
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Boletim APEF
ANO I
Nº2
Homenagem da APEF aos 80 anos do
Prof. Luiz Caetano da Silva
O
Prof.
LUIZ
CAETANO DA SILVA
realizou o curso
médico na FMUSP, de
1946 a 1951, tendo
iniciado seus primeiros contatos com
a clínica em 1948. Em
1958 recebeu bolsa
do “BRITISH COUNCIL” para estágio no
“POSTGRADUATE
MEDICAL SCHOOL,
HAMMERSMITH HOSPITAL”, em Londres, no Serviço
da Profa. SHEILA SHERLOCK. Retornando ao Brasil,
o Prof. CAETANO desenvolveu estudos sobre
HEPATOLOGIA, os quais resultaram em sua tese de
Doutoramento
intitulada
“ESTUDO
DA
HIPERBILIRRUBINEMIA PÓS-ANASTOMOSE
PORTO-CAVA EM PACIENTES COM ESQUISTOSSOMOSE HEPATO-ESPLÊNICA E CIRROSE
HEPÁTICA” defendida em 1961. Seu livro “CIRROSE
HEPÁTICA”, da Editora Sarvier, foi publicado
em 1969.
Em 1968, com a oportunidade de maior
aproximação entre clínicos e cirurgiões, o Prof.
Caetano passou a colaborar na orientação clínica
de pacientes cirúrgicos do Prof. Silvano Raia.
Tornava-se, assim, concreta a possibilidade de se
constituir uma Unidade de Fígado nos moldes da
existente em Londres. Com este objetivo, tratou de
dividir a Hepatologia em setores e convidou colegas
interessados e preferencialmente com experiência.
Como resultado do pleno entrosamento entre as
áreas clínicas e cirúrgicas, foram criadas diversas
linhas de investigação que culminaram com a
publicação de trabalhos no país e no exterior, além
de dissertações de mestrado e teses de
doutoramento.
O contínuo interesse pela Hepatologia
conduziram-no à eleição para Presidente da
Sociedade Brasileira de Hepatologia e da Sociedade
Latino-Americana de Hepatologia nos biênios 19701971 e 1971-1972, respectivamente. Muito mais
tarde, quando da criação da APEF, amplamente
apoiada por ele, participou da primeira Diretoria,
como Membro do Conselho Fiscal.
Em 1978 assumiu a responsabilidade do
Curso de Pós-Graduação em Gastroenterologia
Clínica, Disciplina de Hepatologia Clínica
(FMUSP). O curso realizou-se regularmente,
abrangendo temas ligados a aspectos básicos como
imunologia, etiopatogenia e mecanismos de lesão
do hepatócito e fisiopatologia das principais
síndromes em doenças hepáticas, além dos
aspectos terapêuticos em Hepatologia.
Em 1976 foi convidado pelo então Ministro da
Saúde, Dr. PAULO DE ALMEIDA MACHADO, para
observação e análise do Plano Especial de Combate
à Esquistossomose (PECE) iniciado na cidade de
Touros, Rio Grande do Norte. Desde então, passou
a interessar-se também por aspectos
epidemiológicos da enfermidade e pelo PECE,
particularmente no Estado de Alagoas, tendo se
deslocado várias vezes para o interior daquele
Estado, com intuito de observar o andamento do
projeto.
Durante sua vida acadêmica, além da
publicação de trabalhos científicos e apresentações
em Congressos, ele orientou teses em todos os
níveis e participou no desenvolvimento de Centros
de ensino e pesquisas, na formação de discípulos,
muitos dos quais ocupando posições importantes em
nosso país.
Além de médico clínico, gastroenterologista,
hepatologista, pesquisador e cientista, professor e
orientador, a convivência com LUIZ CAETANO me
mostrou outros aspectos que merecem ser
mencionados:
·
a mentalidade jovem e o gosto pela
convivência com os jovens, pela vida e pelo que faz;
·
o contagiante estímulo que dá aos seus
discípulos (líder natural);
·
o comportamento ético que impõe no
relacionamento com os doentes, seus pares e na
condução de seus trabalhos científicos;
·
a permanente acolhida aos colegas iniciantes
ou mesmo aos mais experientes provenientes de
vários pontos do Brasil e da América Latina que
demonstraram interesse em aprender Hepatologia;
·
a humildade de ouvir e o respeito à opinião
dos colegas, mesmo os mais jovens, nas discussões
de casos clínicos e projetos de pesquisa.
Completando 80 anos de vida e com mais de
50 anos de dedicação à Hepatologia, nada mais
justo do que render uma Homenagem a esta figura
humana ímpar, que deve servir de exemplo a todos
os médicos que se dedicam ao estudo das doenças
do fígado.
Prof. Dr. Flair José Carrilho
Ex-Presidente da APEF
9
Boletim APEF
ANO I
Nº2
Agenda de Eventos 2007
04 a 06 de julho de 2007
V HEPGASTRO - Gastroenterologia - Hepatologia Endoscopia Digestiva - Informações: Eventus System
Tel.: 71.2104-3477
28 a 30 de setembro de 2007
V Congresso Paulista de Gastroenterologia
Campos do Jordão - SP - Informações: Paradigma
Eventos - Tel.: 11 3813-8896 / fax: 3815-2285
E-mail: [email protected]
17 a 18de agosto de 2007
IV Simpósio de Hepatologia e Cirurgia Hepática Maringá-PR - Informações: Fone/Fax: (44) 3262-0066 E-mail: [email protected]
17 a 20 de outubro de 2007
XIX Congresso Brasileiro de Hepatologia
Parque Metalúrgico - Centro de Artes e Convenções da
UFOP - Ouro Preto - MG - Informações:
Tel.: 31 3273-1121
E-mail: [email protected]
www.sbhepatologia.org.br
18 de agosto de 2007
Monotemático “Esteatose e Esteatohepatite Não
Alcoólicas”
Hotel Blue Tree Towers
Av. Brig. Faria Lima, 3989
Informações:
Fone: 11 3812-3253
E-mail: [email protected]
02 a 06 de novembro 2007
The Liver Meeting® - Boston, Massachusetts
John B. Hynes Convention Center
www.aasld.org
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Boletim APEF
ANO I
Nº2
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Boletim APEF
ANO I
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