animação - WordPress.com
Transcrição
animação - WordPress.com
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - UNIRIO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – CCH DEPARTAMENTO DE ESTUDOS E PROCESSOS MUSEOLÓGICOS – DEPM ESCOLA DE MUSEOLOGIA DISCIPLINA: ORIENTAÇÃO À MONOGRAFIA E PESQUISA MUSEOLÓGICA: MONOGRAFIA PROFESSORA: AVELINA ADDOR ORIENTADOR: ANTONIO CARLOS DE CARVALHO CO-ORIENTADORA: TATIANA MARTINS ALUNA: INGRID FIORANTE ANIMAÇÃO Quadro a quadro através do olhar museológico RIO DE JANEIRO 2010 9 Dedico este trabalho à minha mãe e ao meu irmão, que sempre permanecem ao meu lado com fortes incentivos pelos meus estudos. À arte, que cada vez mais, possibilita ampliar meu olhar sobre a vida. 10 AGRADECIMENTOS A todos os professores e profissionais que despertaram meu interesse nesta pesquisa e me orientaram nos caminhos e escolhas. Em especial à Avelina Addor, pelo apoio na universidade; e à Tatiana Martins, por me incentivar na continuidade do tema neste trabalho. A todos os amigos que me apóiam e torcem por este e outros futuros projetos. 11 “What the animator does on each frame of film is not as important as what he or she does in between." 1 Norman McLaren and Gram Munro 1 “O que o animador faz em cada frame (quadro) do filme não é tão importante quanto o que é feito entre eles (frames).” 12 RESUMO O presente trabalho tem como tema principal a análise da Animação2 através da Museologia. A proposta é observar a Animação sem rótulos específicos de classificação tais como “cinema de animação”, “cinema experimental”, ou outras demais denominações que, ao mesmo tempo em que especificam, também excluem outros tipos de análise. A pesquisa possui ênfase no artistaanimador Norman McLaren e tendo em vista que a sua obra ultrapassa classificações, é utilizado um viés interdisciplinar, para observar que a arte está para além do suporte, este não seria o elemento principal para a definição do artista. Os trabalhos de McLaren possuem diferentes estilos e dialogam com as vanguardas da arte de sua época, como surrealismo e abstracionismo, por exemplo. A Museologia neste trabalho auxilia a investigação e apresentação, além de recuperar importantes aspectos sobre a memória da Animação, através do seu caráter interdisciplinar. Além de apontar o surgimento de museus e espaços culturais relacionados à animação e as suas abordagens, com a intenção de verificar as lacunas existentes a serem ainda exploradas pela museologia. Palavras-chave: Animação; Norman McLaren; Arte do movimento; Cinema de Animação; Artes visuais; Audiovisual e Museologia. 2 Para diferenciar, será utilizado o termo neste trabalho Animação, em alguns momentos poderá ser utilizado também o termo Arte do Movimento. 13 ABSTRACT The present work has as its main subject the analysis of Animation through the Museology. The proposal is to observe Animation3 without specific labels of classification such as “animation cinema”, “experimental cinema”, or others denominations that, while they specify, also exclude other types of analysis. The research has emphasis on the artist-animator Norman McLaren, having in view that his work defies classification. The view adopted is interdisciplinary, observing that art is beyond the technical, and technique is not the only definition of the artist. The work of McLaren contains different styles and dialogue with the vanguards of the art of its time, for example, surrealism and abstract. The Museologia in this research intends to assist in the inquiry and academic presentation, going beyond recording important historical aspects of Animation, reinforcing the interdisciplinary character between the different areas. Beyond pointing to the emergence of animation related museums and cultural spaces and their approaches, the research verifies the existing gaps still to be explored by Museology. Key-words: Animation; Norman McLaren; Art of Movement; Film of Animation; Visual arts; Audiovisual e Museology. 3 To differentiate the term Animation will be use and, in some places in the text, the term Art Movement could also be used. 14 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................. 09 1. CONCEITOS, DEFINIÇÕES E HISTÓRICO.................................... 11 1.1. O que é Animação? ............................................................................. 11 1.2. Animação x Cinema ............................................................................ 20 2. ARTISTAS-ANIMADORES E SUAS OBRAS.................................. 24 2.1. Mestres da Animação............................................................................24 2.2. Norman McLaren...................................................................................31 3. MUSEOLOGIA E ANIMAÇÃO..........................................................43 3.1. A Importância da Museologia para a Animação....................................43 3.2. A Relação de Museus e Instituições Culturais sobre Animação...........50 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................60 REFERÊNCIAS ................................................................................................62 ANEXOS Anexo 1 – Cronologia das técnicas e instrumentos antecedentes ao Cinema e à Animação Anexo 2 – Lista de Ilustrações Anexo 3 – Norman McLaren – vida e obra Anexo 4 - Técnicas de animação – por Donald McWilliams (1991) in Creative Process: Norman McLaren. 15 INTRODUÇÃO O tema deste trabalho surgiu após assistir a uma sessão no Anima 4 Mundi que homenageou Norman McLaren. As obras exibidas despertaram tamanho interesse que ocasionou a minha participação nos cursos de Animação Básica e Stop Motion 5 no Anima Mundi. A introdução à História da Animação apreendida nestes cursos me instigou, conseqüentemente, a compreender os artistas da Arte do Movimento e suas produções. Percebo que o caráter interdisciplinar da Museologia permite a interação com a Animação e o Cinema, possibilitando uma análise a partir da qual é possível observar sua relação entre as áreas artísticas, buscando compreender a arte para além do suporte utilizado. Entre os artistas-animadores pesquisados, o recorte será dirigido a Norman McLaren, para compreender porque, apesar de ser considerado um dos mestres da Animação, é ao mesmo tempo pouco reconhecido ou mencionado nas artes plásticas ou no cinema, inclusive. O seu trabalho ficou marcado pelas inovações técnicas e pela influência de diferentes linguagens presentes nos estilos da sua época, como surrealismo e abstracionismo. A arte de Norman McLaren é objeto deste estudo, e sua análise aponta diferenças e relações entre as artes plásticas e o cinema através da museologia. Existem poucos estudos críticos sobre Animação, segundo o relato de William Moritz em “Norman McLaren and Jules Engel: Post-Modernists”6, aponta a escassez de análises, em especial a Norman McLaren, e detalha em sua nota os poucos artigos e livros que considera como referência. Por isso, é importante a recuperação e conservação desta memória, muitos nomes como Oskar Fischinger, Lotte Reiniger e Alexander Alexeieff precisam ser devidamente reapresentados. Na Animação, o reconhecimento da arte de cada um destes animadores foi “nublado” pela indústria cinematográfica. O impacto e a velocidade que o cinema proporcionou no século XX, ainda é 4 Anima Mundi – Festival Internacional de Animação do Brasil que ocorre anualmente. Stop Motion – Técnica de Animação que utiliza objetos ou bonecos. 6 Moritz, William. "Norman McLaren and Jules Engel: Post-modernists." A Reader In Animation Studies. Ed. Jayne Pilling. Sydney: John Libbey, 1997, 104-111. 5 16 tema recentemente discutido, existem diferentes definições, classificações e conceitos sobre o que é animação, por exemplo. Neste trabalho, serão brevemente apresentados alguns termos e autores, a fim de facilitar a discussão sob um olhar ampliado e ainda avaliar como algumas definições sobre os artistas e suas obras podem ser precipitadas ou limitadas. Norman McLaren está entre os artistas-animadores que devem ser reconhecidos e revisitados tanto pela história da arte quanto pela história do cinema. Primeiramente, é preciso uma reflexão na academia artística e nos espaços museológicos que discutem diversas transformações de linguagem e diferenciação de suportes, como por exemplo, a vídeo-arte, as instalações, as performances, mas à primeira vista não incluíram a animação. E num segundo aspecto, o cinema ganhou uma dimensão tão inesperada no século XX, que ainda está sendo digerido e segue em incessante transformação. A Animação é definida por muitos, equivocadamente, como uma categoria do cinema, às vezes é apenas associada ao desenho animado para público infanto-juvenil, ou ainda, vista como produto comercial. Animação é muito mais que isso. Existe essencialmente uma necessidade de levar ao público, estudantes e pesquisadores estas diferenças e conceitos, inclusive para que esta arte tenha seu merecido reconhecimento. Estas questões e lacunas demonstram que é necessário fazer mais pesquisas e fundamentações sobre a trajetória da animação. A museologia proporciona, através de um estudo interdisciplinar, que sejam levantadas questões para áreas da preservação, conservação e pesquisa, além de sua reapresentação ao público. Para facilitar a visualização neste trabalho, foram inseridas imagens indicadas de acordo com o texto e ainda, as informações estão detalhadas no Anexo 2 (Lista de Ilustrações). 17 CAPÍTULO 1 - CONCEITOS, DEFINIÇÕES E HISTÓRICO 1.1. O QUE É ANIMAÇÃO? “A animação não é feita com desenhos que se movem, mas com movimentos que são desenhados” (Norman McLaren) Se na arte são possíveis amplos conceitos e reinterpretações, é preciso que haja espaços para reflexões para além definições já firmadas. Muitas vezes, os conceitos se repetem e acabam generalizando ou reduzindo certa obra, são abrangentes ou específicos demais, o que leva algumas manifestações artísticas a serem mantidas à margem do “sistema da arte” e acabam passando despercebidas pelo público. Neste trabalho, a abordagem da pesquisa foi realizada a partir das questões: quais os motivos da lacuna na história sobre Animação; quais as relações entre a Animação e as vanguardas artísticas, a exemplo da obra de Norman McLaren; e a Animação como objeto observado pela Museologia, verificando como é o tratamento de acervos desta natureza, e as possíveis formas de auxiliar na recuperação de informações para sua memória. A busca do movimento na arte é tão antiga quanto às primeiras pinturas humanas nas cavernas. A intenção humana de expressar o movimento pode ser observada na pintura rupestre de um no javali de “oito pernas” numa caverna na Espanha, com datação a cerca de 30 mil anos7 (Figura 1); nas pinturas e esculturas barrocas que dinamizaram as formas com estruturas instáveis; ou na proposta dos futuristas como na obra de Giacomo Balla: “(...) A inusitada moldura preto-e-branco em forma de ‘vê’, de Ritmo de Violinista, de 1912 [Figura 2] sugere que a pintura fazia parte desse esquema decorativo seu efeito sobre a composição enfatiza o movimento ascendente do instrumento, do arco e das mãos do músico. As linhas finas e meticulosamente pintadas, estendendo os pontos do divisionismo a fim de sugerir movimento, evocam uma forma de cronofotografia.(...)”(HUMPHREYS. 2001. p.34) 7 Mencionado como exemplo por BARBOSA Jr. em Arte da Animação. Técnica e estética através da história. 2002 p. 29. 18 Figura 1 Figura 2 Diversas técnicas foram buscadas para representar o movimento e encantar o público reproduzindo este desejo lúdico através dos brinquedos ópticos, como por exemplo, o Teatro de Sombras Chinês. Alguns destes instrumentos passaram a ser objetos de estudos científicos desenvolvidos para a descoberta de fenômenos físicos, e assim podemos observar a participação de cientistas como Thomas Edson na história da Animação. Para não deter a apresentação neste trabalho aos detalhes técnicos – que não fazem parte desta discussão –, diversos inventos antecedentes a animação e ao cinema foram listados em ordem cronológica com a descrição dos inventos e ilustrações no Anexo 1. “Quando se indaga a respeito da pré-história do cinema, muitos historiadores vêem nele o aparelho mais aperfeiçoado da mais velha ilusão: a lanterna mágica, a câmara obscura, as sombras chinesas. Mas o cinema provocou uma conversão total da imagem, ao fazer do movimento não mais uma ilusão, mas uma possibilidade de produção do novo. (...)” (POPPER, 1993. p.15) A fotografia foi uma grande impulsionadora para o rompimento das artes plásticas com a representação da realidade, o que permitiu a liberdade dos temas propostos pelas vanguardas e foi ela, sem dúvida, uma possibilidade técnica que impulsionou a animação e o cinema. As fotos seqüenciais captadas por doze câmeras de um cavalo de corrida em 1872 feitas por Eadweard Muybridge (Figura 3), interpretando a decodificação do movimento, influenciaram muitos artistas em diferentes suportes, e tornou uma clássica referência para animação. 19 Figura 3 Figura 4 Outro trabalho com fotos seqüenciais foi feito por Etienne-Jules Marey, um fisiologista que utilizou a fotografia para estudar o movimento do corpo, associando a questão científica à estética da época. Com criatividade fez uma cronofotografia, em 1884, do movimento de um homem andando vestido totalmente de preto com listas brancas que marcavam somente a sua lateral do corpo (Figura 4). Todas essas experiências auxiliaram no surgimento de técnicas que foram adaptadas para o objetivo da arte do movimento. Basicamente a animação é constituída por quadros em sequência que varia a velocidade e o detalhamento da imagem de acordo com a quantidade de quadros (frames) por segundo. Os experimentos para conseguir a ilusão óptica do movimento 20 iniciaram com 12 quadros por segundo, até chegarem aos 24 quadros por segundo como padrão no cinema por causa do efeito sonoro. As apresentações ao vivo (Lightning Sketches - Figura 5 e 6) eram feitas por homens que mais pareciam mágicos, pois montavam um espetáculo para trazer a novidade da animação nos espaços públicos de lazer. Aos poucos estas apresentações deram espaço às telas dos “desenhos que se moviam” através das projeções em salas escuras. Mas, a animação foi, pouco a pouco, deixando de ser apenas um truque tecnológico. O encantamento com a magia foi dando lugar à descoberta de técnicas (trickfilms). E passada a fascinação inicial que apenas divertia o público, iniciou-se um período de trabalhos que direcionou a animação para o campo estético. Figura 5 Figura 6 Emile Cohl utilizou a técnica de caixa de luz que ao sobrepor os traços do desenho anterior, facilitou a continuidade do desenho feita com precisão. 21 Também utilizou a “parada” que consistia na repetição do mesmo desenho em cenas seqüenciais, permitindo o domínio do tempo e espaço necessário para o movimento da animação. Winsor McCay é outro exemplo que também seguiu por este caminho, desenvolvendo personagens com características próprias e conquistando o público com seu filme Gertie the Dinosaur de 1914. (Figura 7) Emile Cohl e Winsor McCay encarnam estereótipo do artista/animador que não deixa dúvida a respeito de quem e qual o tipo de atividade é responsável pelo sentido da palavra arte (...) da imagem em movimento conhecida como animação. (…) Fica claro o papel da tecnologia na arte, e na animação em particular: algo que possibilita sua manifestação e que, por conseqüência, interfere na concepção visual. Mas o aprimoramento técnico precisa estar a serviço da arte, jamais o contrário.” (BARBOSA Jr, p. 59-60) Figura 7 Figura 8 Existe a necessidade de mais pesquisas nas áreas das ciências humanas e artes para documentar fatos e recuperar fontes da Animação, uma história tão particular que tem despertado cada vez mais interesse. Devido a poucas documentações, há controvérsias, por exemplo, sobre a autoria de quem teria sido o primeiro longa-metragem de Animação. 22 Quirino Cristiani, foi o animador que, segundo o documentário de Grabiele Zucchelli, The mystery of the first animated movies (2007)8, produziu o primeiro longa-metragem de animação na Argentina em 1917. Mas também, considera-se Winson McCay como realizador do primeiro desenho animado em longa-metragem com o filme Sinking of the Lusitania, de 1918. No Brasil, foi registrada como primeiro longa-metragem de animação brasileira: Sinfonia Amazônica, produzida entre 1946 e 1953 pelos irmãos Mário e Anélio Latini. (Figura 8) A História e o mercado cinematográfico não permitiram tanto espaço para discussões à Animação como ao Cinema, e por isso, muitas vezes a animação é classificada como meramente uma tipologia dentro da arte do cinema. Da mesma forma acontece nas artes visuais, a Animação ainda em alguns casos, não é considerada objeto artístico para ser estudada, discutida e apresentada, tal como uma obra de arte. Em relação à conservação de acervos, tanto animação como o cinema, não receberam os devidos e merecidos cuidados, o que ocasionou em menos de cem anos da existência destas artes, a perca de valiosas obras. Para Norman McLaren, tanto a câmera como a película foram um dos instrumentos utilizados como suporte para expressar suas idéias artísticas. Neste caso, o suporte e a técnica não podem prevalecer como principal discussão da sua obra, não deixa de ser o diferencial e devem ser mencionados. Porém, é preciso destacar a arte do movimento de McLaren, a sua busca do controle do tempo exato, conforme a análise de Magalhães em seu artigo: “A animação para McLaren é mais do que uma linguagem, é quase uma filosofia. De fato, o mundo ganha uma outra dimensão quando o tempo se torna o elemento principal. Animar é decodificar o tempo, e isto McLaren fez à exaustão. Se o tempo é a essência, a matéria é mutável. Daí a multiplicidade de veículos materiais usados por McLaren em sua obra.” (MAGALHÃES, 2001) O que é confirmado por Barbosa Jr. quando escreve que: “(...) Se o movimento é a essência da animação e esse é um fenômeno que ocorre no tempo, naturalmente a animação é a arte de lidar 8 Exibido no Festival Internacional Anima Mundi de 2008. 23 com o tempo. É espantosa a habilidade desses artistas na manipulação do tempo! (...)” (BARBOSA Jr. p. 126) A animação passou para a fase de valorização industrial e comercial, especialmente com a descoberta do acetato (celulóide transparente) por Earl Hurd, em 1914, que possibilitou mesclar planos de imagens, utilizando cenários “fixos” ao plano de fundo contracenando com os personagens, ou seja, apenas o personagem era desenhado quadro a quadro, economizando tempo. A partir deste momento surgiram os estúdios, consolidando a indústria da animação, uns dos mais renomados foram: Fleischer – com os personagens Betty Boop, Superman and Popeye; Hanna-Barbera com os Flinstones, Jetsons e Scooby-Doo; Warner e Disney, entre outros com personagens que fazem parte do imaginário de várias gerações. Os estúdios foram fundamentais para a difusão em grande escala da Animação para o público em geral; também foram importantes no sentido de reunir artistas e profissionais de diversas áreas. A Animação é uma arte que exige um trabalho tão intenso quanto extenso, e com o surgimento dos estúdios, reconheceu-se a necessidade de equipes para que as produções fossem mais ágeis e rendessem financeiramente. Este meio de expressão, porém, não pode ser observado meramente como produção comercial, havia os artistas-animadores que não obtiveram muito destaque individualmente devido à associação direta ao nome do estúdio, mas produziram excelentes trabalhos em traços que marcam até hoje. E justamente, a falta de apresentação e discussão sobre estes fatos contribui para aumentar a lacuna na constituição da memória da Animação. Por outro lado a Animação também foi utilizada para filmes educativos, de instrução ou propagandas. Norman Mclaren trabalhou para um órgão do governo canadense (National Film Board of Canada - NFB9), que permitiu certa liberdade de criação, apesar dos trabalhos terem propostas objetivas demarcadas pela NFB. Assim como ele, muitos artistas-animadores fizeram trabalhos que podem ser considerados comerciais, mas também desenvolveram paralelamente uma linguagem artística própria. 9 O National Film Board of Canada (NFB) é um órgão cultural federal criado em 1939 para produzir e distribuir e promover filmes do Canadá para o próprio país e para outras nações. 24 “(...) Até por estarem à margem do mercado de consumo de animação e das disputas comerciais entre os grandes estúdios, os animadores independentes – quase sempre subsidiados por órgãos governamentais ou instituições sem fins lucrativos – vão seguir trabalhando sempre na fronteira com o desconhecido. Um trabalho em geral solitário, pouco produtivo, mas de enorme importância para a animação, que dá bem uma idéia do espírito de pesquisa por trás dessa arte. Às vezes, esse trabalho abria as portas para a animação comercial.(...)” (BARBOSA Jr. p.82) Há vários casos particulares como o de Norman McLaren na História da Animação que precisam ser investigados. É preciso considerar os artistasanimadores e analisar as obras de forma particular, com o olhar de curadoria museológica para destacar os elementos a partir dos quais cada obra pode ser ainda explorada para pesquisa e apresentada ao público. De forma a contribuir tanto para a questão museológica, histórica e artística. Da criação dos estúdios, direto para as residências, a popularização da TV demandou as produções em séries de desenhos animados direcionados especialmente para um público infanto-juvenil. A entrada no meio televisivo contribuiu para a difusão, mas ao mesmo tempo rotulou no senso comum que Animação estava associada apenas para este fim. Fato que desvirtuou aprofundamentos de análise e pesquisa sobre Animação como objeto de estudo nas ciências humanas e artísticas. A partir do final dos anos 70 até hoje, a área da informática expande e as novidades tecnológicas alteram o cotidiano social, principalmente após a introdução dos computadores pessoais (PC Personal Computer), as formas de trabalho e de relacionamento tomaram novos rumos. Consequentemente na Animação foram desenvolvidos sistemas que facilitaram a sua produção, porém ao mesmo tempo em que ampliam possibilidades, banalizam a animação como apenas uma ‘técnica’, e isso também ocorre com a pintura, o desenho e a fotografia, como indica a citação abaixo. “(...) E técnicas estão sempre aparecendo, mas o importante é a alavancagem que uma ou outra proporcionará para a evolução da expressão artística – que deve, claro, ser o interesse primeiro e último de todo artista, em quem repousa essa definição.” (BARBOSA Jr. p.141) 25 A utilização de novas ferramentas – computador e sistemas de informática – permitem aos usuários agilidade para produção das Animações e em diferentes linguagens, como exemplo, os softwares de flash ou 3D. Porém, o conceito de Animação transita por equívocos entre a diferença da técnica e da arte. À medida que cada técnica nova é desenvolvida e é associada à Animação, corre-se o risco de esquecer que o motivador principal não é a utilização apenas do recurso, e sim a produção artística. Isso também ocorre com a bibliografia sobre a área, sendo mais técnica que teórica. “(...) a maioria das obras disponíveis limita-se em descrever os processos e as metodologias de produção sob a forma de manuais – alguns de excelente qualidade – mas não vão muito além disso. Em outras, os autores concentram sua atenção sobre os aspectos históricos da arte, produzindo textos – geralmente mais ilustrativos do que informativos (...). Por outro lado, do ponto de vista da análise, da crítica e da estética, o que se verifica nessa área é uma pobreza (...). No entanto o que preocupa é justamente o fato de que essas referencias acabam sendo sempre as mesmas. (...) artistas de valor extraordinário como Norman McLaren, Oskar Fischinger, Lotte Reiniger ou Alexander Aleixeieff (...) continuam longe da posição de destaque que lhes caberia dentro da memória da grande arte universal. (...)” (TASSARA in BARBOSA Jr. p. 09) Portanto, o termo “Animação” que deve ser considerado neste trabalho se refere à ampla conceituação da animação como arte, podendo ser considerada em algumas ocasiões como “arte do movimento”. Não pode ser associada aqui aos termos utilizados comumente: “desenho animado”, por considerar que este é um tipo específico, e ainda é um termo restrito. Também não é utilizado, o termo “cinema de animação”, pois não se pode reduzir e especificar a Animação apenas como um tipo de Cinema, porque apesar de utilizarem os mesmos suportes, seja película ou digital, são artes independentes. 26 1.2. ANIMAÇÃO X CINEMA O contato das artes com novas tecnologias possibilitou a expansão dos artistas para experimentar novos rumos, ao mesmo tempo em que deixavam de estar presos ao ofício artístico (como a pintura de retratos). A partir do final do século XIX foi possível maior desprendimento em relação ao suporte e técnica, com compreensão para desenvolver trabalhos que podiam ser essencialmente artísticos, sem a necessidade de produzir algo que objetivamente fosse realista. Após a fotografia diversas vanguardas despertaram no século XX, demonstrando os desejos de manifestar novas experiências artísticas, ligados à sua época de mudanças em que as “máquinas” interfeririam cada vez mais e começavam a fazer parte do cotidiano. “Cada tecnologia remete a um agregado homem-máquina que variará conforme o caso. O cinema - tanto quanto a fotografia, a videografia e a infografia – pode, em função de seus usos, integrar regimes sócio-imagéticos diferentes: o cinema a mais velha ilusão do movimento, o cinema como arte do movimento, o cinema como arte de reprodução e arte das massas, o cinema como automatismo espiritual.” (POPPER, p.15) O tempo e o espaço, após estas interferências cotidianas no uso da imagem, não foram mais os mesmos para a sociedade, e por sua vez reflete o modo como o espectador irá observar as artes. Estes elementos são essencialmente importantes na animação e no cinema, cada movimento representado na tela reflete um impacto causado ao público, onde ocorre o controle ou a intervenção do tempo natural do homem. “O espectador de um filme, observou Dorfles, habitua-se a um modo diferente de memorizar uma seqüência cinética, primeiramente porque são figuras em movimento, mas principalmente, porque se desenvolvem no tempo, quer dizer, numa duração de tempo que não é mais o tempo da vida real, uma duração que pode ser acelerada ou desacelerada, inteiramente imaginada. O olho humano é totalmente dominado, no cinema, pela manipulação do movimento que tal tecnologia possibilita. O movimento tornou-se, nessa arte, o seu medium expressivo, dando às imagens capacidades de metamorfoses ópticas impensáveis até então.” (VENTURELLI, p. 22) 27 A imagem em movimento, após ser conquistada no século XX com a Animação e o Cinema, seguiu mais tarde com a TV e o Vídeo, e hoje com as novas mídias, como o computador, invadiram totalmente o cotidiano social. Essa velocidade tecnológica que o século ultrapassou, não permitiu que se constituíssem simultaneamente as reflexões sobre os impactos que a imagem em movimento possa ter causado, especificamente para a consolidação da memória do audiovisual nas artes. A animação é classificada muitas vezes como um dos tipos de cinema, isso acaba desvirtuando a atenção nas análises, que acabam abrangendo mais a técnica do que a arte. A animação, assim como o cinema, é mais que simples operação de equipamentos, ambos são artes que em produções temos grandes exemplos de interações e trocas entre artistas, sendo eles, cineastas, fotógrafos, artistas plásticos, arquitetos, cenógrafos e outros. A questão levantada aqui é a de que sempre quando surgem novas tecnologias que servindo ou não como novos suportes para artistas, despertam um grande impulso para que as pessoas as utilizem. Mas, nem sempre há uma distinção clara entre novas ferramentas, novos tipos de suporte e as formas de pensar e fazer arte. Na verdade, o que importa é a produção artística, mas a banalização do fazer é o que acontece demasiadamente na Animação. Assim como na fotografia, por exemplo, e em outros tipos de arte com a popularização de equipamentos. “(...) Tecnologia não é necessariamente utilizada com criatividade, mas nas mãos certas, pode ser. A tecnologia tem um papel crítico no formato do filme, mas não é apenas um instrumento nas mãos dos artistas que dedicam suas idéias ao meio (...)” (DANCYGER, p.XX) “(...) Embora haja deferentes tecnologias, o filme e o vídeo começaram a se fundir. As telas do cinema são agora menores e as telas de televisão maiores do que já foram, e o público do filme está crescentemente vendo filmes no formato vídeo. Filmes que eram antes filmados e montados em película, são agora filmados em película e editados em vídeo(...)” (DANCYGER, p.437) É interessante observar que as análises contemporâneas das novas produções artísticas referenciam a interação entre as linguagens. Sem dúvida, 28 as trocas estão subentendidas nas áreas, mas já se privilegia pouco o cinema, e quando acontece não se menciona a Animação. (...) “A pintura é a referência principal do cinema contemporâneo. O arcaico no presente, o artesanal na reprodução técnica, o matérico no cinético. (...) A pintura pode ensinar o cinema a novamente ver?” (...) (PEIXOTO, p. 245) (...) “A pintura se coloca problemas de movimento e o cinema questões pictóricas, como a da perspectiva.”(...) (PEIXOTO, p. 247) É perceptível que nas pioneiras apresentações do cinema, houve conseqüentemente características e questões que a pintura já havia experimentado: o realismo, o retrato e paisagem. As primeiras imagens do cinema apresentadas pelos irmãos Lumière em 1895, em Paris, nos filmes La Sortie des ouvriers de l'usine Lumière (A saída dos operários da fábrica Lumière) e L'Arrivée d'un train en gare (Chegada de um trem à estação) são o exemplo que a grande sensação era ver a imagem em movimento, não importando se era apenas um fato corriqueiro. Na animação existem experimentações estilísticas variadas, mas a grande sensação no seu início também foi “a mágica” das figuras em movimento. Com isso, passada a euforia da novidade, tanto para o cinema como para animação, houve a introdução de roteiros e de liberdades expressivas com o uso da câmera. E apesar da possibilidade livre da exploração do movimento, observa-se na animação o impulso de buscar a reapresentação da realidade como as personagens e cenários dos clássicos desenhos animados de Walt Disney. E mais recentemente, nas produções em 3D, onde se observa a grande fascinação no público, que podem constituir imagens próximas do “real”, com perfeição quase imperceptível. E nesse ponto, o cinema e animação produziram muitos filmes em conjunto que aguçam as platéias e os críticos, como Uma Cilada para Roger Rabbit (1988) de Robert Zemeckis; a recente mega produção Avatar (2009) de James Cameron e Alice no país das maravilhas, de Tim Burton que estréia este ano no Brasil. (...) O Cinema, depois da pintura e da fotografia, ainda é o universo de um tipo determinado de representação ligada à ilusão, e, portanto. É uma expressão da imaginação. (...)” (MACIEL, p. 253) 29 É preciso ficar claro que o desenvolvimento das interações técnicas entre o cinema e a animação foi o que os permitiu mais próximos. Na película, na montagem dos planos, nos softwares avançados de edição, e finalmente na produção final, quando se exibe o filme na tela. Este é um fator que aproxima a Animação do Cinema para o público que assiste, porém as produções podem ser auxiliares ou independentes. O conceito do que é Animação precisa ser consolidado separadamente do cinema, pode parecer que fazer um filme é a mesma coisa de uma animação, porém são processos diferentes, de acordo com o que for proposto. Dentro da Animação, temos ainda um leque de diversidades de técnicas de produção, o que possibilita ampliar em termos classificatórios o que é animação. Torna necessário compreender alguns mecanismos para estabelecer os termos utilizados para o Cinema e a Animação. Por isso, a importância de incentivar mais pesquisas e debates dentro das áreas relacionadas à produção audiovisual. 30 CAPÍTULO 2 – ARTISTAS-ANIMADORES E SUAS OBRAS 2.1. MESTRES DA ANIMAÇÃO “(...) A anamorfose - que dá sentido ao trompe-l’oeil – mostra também que a pintura tem, tanto quanto o cinema, relação como o movimento. De Picasso a Bacon, a pintura promove uma aceleração de formas, abolindo ponto de vista, distância, horizonte, quadro. Essa pintura-movimento remete ao cinema, multiplicador. Faz a imagem transbordar. (...)” (PEIXOTO, p. 247) Para perceber a riqueza da Animação como objeto artístico que possibilita diversas análises e formas de apresentação, foram selecionados alguns artistas que se destacam na área e mantém alguma relação com a obra de McLaren. Estas escolhas foram feitas com vistas à ênfase voltada para o desenvolvimento e a inovação técnica à época do surgimento da Animação no século XX. Obviamente que muitos nomes importantes não serão mencionados, pelo motivo do recorte de pesquisa. O desenho como técnica sempre foi mais associado à animação, e é possível que a ligação direta do desenho animado ao público infanto-juvenil tenha restringido o desenvolvimento de estudos sobre a arte do movimento. O conceito de Animação perpassa por diferentes experiências de cada artistaanimador. Norman McLaren utilizou diversos suportes cujo propósito era buscar através da arte do movimento a forma mais próxima das suas idéias. A efervescência de novas possibilidades na arte permitia que os artistas se relacionassem entre as vanguardas e estas trocas resultaram em obras que podem ser consideradas artes plásticas, cinema ou animação. Posteriormente as definições foram dadas, mas para classificar artistas que fazem múltiplos trabalhos acaba sendo às vezes um desafio, por isso neste trabalho será empregado mais o termo artista-animador do que apenas animador. Nestes termos que também foram selecionados os nomes de destaque na animação, são artistas que ultrapassaram limites em diversos materiais com criatividade, hoje este conceito é utilizado na arte contemporânea onde a obra pode ser híbrida. 31 “Mas não é na instalação que a imagem contemporânea encontra lugar, como uma figura condenada ao hibridismo ao deslocamento. Ao contrário, as passagens, fazendo relações entre as artes, evocam o que elas têm de mais especifico. Não por acaso se vê, nas artes plásticas, um retorno à pintura.” (...) O vídeo assimila todas as outras imagens, permite a passagem entre os suportes, a transição entre a pintura, fotografia e cinema. Na medida em que é um medium capaz de integrar e transformar todos os outros. (...)” (PEIXOTO, p. 243) Um dos “mestres” que tornou referência essencial para estudo da Animação é Emile Cohl (1857-1938), inspirou diversos artistas inclusive Norman McLaren. Sua formação foi bastante ampla devido ao contato com as diversas expressões artísticas: desenhos, ilustrações, fotografias, cenários e mais tarde o cinema. Ele seguiu carreiras paralelas na sua vida, como desenhista e cineasta e talvez por isso, foi pioneiro nas experimentações técnicas para Animação. Emile Cohl teve contato com muitos artistas influentes na França, como André Gill (Figura 9), caricaturista10, pintor e poeta, eles tornaram-se amigos e participaram do grupo de arte “Incohérents”: “(…) Cohl se integra, na década de 1880, a um grupo interessado em questões estéticas chamado Os incoerentes, cuja filosofia era iconoclasta, antiburguesa, antiacadêmica e violentamente anti-racional. Eram descritos como anarquistas da arte, com suas exposições de estranhas pinturas e desenhos invariavelmente atraindo artistas (…) a exemplo de TolouseLautrec.” (BARBOSA Jr. p. 49) 10 Algumas gravuras de Andre Gill foram expostas na mostra “A França no Brasil 200 anos do desenho francês” no Centro Cultural dos Correios do Rio de Janeiro, em 2009. 32 Figura 9 Figura 10 O filme Fantasmagorie (Figura 10) é um curta metragem que foi projetado em 1908 no Thèátre du Gymnase em Paris, considerado uma das animações pioneiras e também, mais conhecidas, devido a sua grande repercussão, inclusive internacional. Ao utilizar traços simples, Emile Cohl faz questão de destacar o processo de elaboração ao colocar sua mão desenhando no início e no fim do filme. Os desenhos foram feitos à nanquim e depois revertidos em traços brancos sobre o fundo preto. BARBOSA Jr. aponta que “Cohl desenvolveu conceitos que garantiriam a eficácia de sua comunicação visual, ainda que por caminhos alternativos, sendo o mais característico e espetacular o uso da metamorfose”. Figura 11 Outro exemplo de artistas pioneiros é George Mélies (1861-1938), que começou a trabalhar com animação como diretor de uma sala para espetáculos de ilusionismo no o "Teatro Robert Houdin". Seus filmes têm como referencia a abordagem do tema "fantástico", como Viagem à Lua (1902), um de seus trabalhos mais conhecidos pela introdução da temática da ficção e “efeitos especiais” das cenas na lua (Figura 11). 33 Mesmo que Animação ainda possa ser percebida por muitos como um trabalho dirigido apenas para fins comerciais, é inevitável observar que o diálogo entre as vanguardas e a arte do movimento esteve sempre presente. É também perceptível, nos trabalhos de alguns artistas-animadores, como por exemplo, Otto Messmer (1892-1983), conhecido especialmente pelo seu personagem gato Felix, que encontra traços de expressões artísticas relacionadas às vanguardas da época, como o surrealismo e o expressionismo: “Otto Messmer [para o seu personagem gato Felix explora] experiências formais bem de acordo com tendências neoplásticas concretas; exploração dramática de sombras, como expressionistas, etc.” (...) “Messmer dá sequência à linhagem de geniais artistas animadores iniciadas por Emile Cohl e Winsor McCay, inclusive partilhando do gosto e explorando, inteligentemente, o poder surrealista da animação.” (BARBOSA Jr. p.79 e 80) Alexander Figura 12 Alexeieff (1901- 1982), artista plástico e animador russo, por volta da década de 1930, produziu várias técnica animações através extremamente de uma trabalhosa e especializada para animação tridimensional; processo conhecido como tela de pino (Figura 12). Alexeieff inclusive foi convidado em 1972, para demonstrar o processo desta técnica no National Film Board no Canadá, onde foi feito um documentário. “Essa técnica consiste basicamente de uma prancha com milhares de pequenos furos através dos quais deslizam o mesmo tanto de pinos de aço. Sendo os pinos mais compridos que a espessura da prancha projetam-se além das superfícies anterior e posterior. Quando todos os pinos estão em sua máxima posição de avanço em relação à superfície anterior (...) ela aparece negra, como resultado da sobreposição dos milhares de sombras projetadas pelos pinos.” (BARBOSA Jr. p.84) 34 Wladystaw Starewicz (1882 - 1965) também se destaca pela inovação da técnica de animação de bonecos. Em 1910, Starewicz foi diretor de um museu da história natural em Kaunas, na Lituânia, e o acervo do museu que o inspirou para seus personagens (besouros, gafanhotos, libélulas), e também, os temas folclóricos e as marionetes, muito utilizadas no leste-europeu. Entre seus filmes destaca-se The Cameraman's Revenge de 1912, para o qual fez cenário e objetos de cena em miniatura, e seus bonecos foram feitos a partir da estrutura de insetos (Figura 13). Figura 13 Por sua vez, nomes das vanguardas artísticas também se aproximaram da animação como mais uma forma de expor em novos suportes suas idéias. É o caso do artista Fernand Léger (1881-1955) com o filme Ballet Mécanique (1924), onde é filmada a mecânica dos objetos e ações repetidas de pessoas para trabalhar em sua pintura, o cinema influenciou os planos largos e a monumentalidade em suas pinturas. O artista Hans Richter, participante do movimento dadaísta, fez o filme Rhythmus 21 (1921) que utilizou animação de formas geométricas associadas aos ritmos musicais. No filme de Henri-Georges Clouzot, Le Mystère Picasso (1956) (Figura 14), foi utilizada técnica de animação para demonstrar o processo criativo do artista e consequentemente feita uma animação contínua através da tela que ia sendo pintada e captada quadro a quadro pela câmera. Walther Ruttmann (Figura 15) também utilizou a animação para expressar suas formas geométricas abstratas. 35 Figura 14 Figura 15 Figura 16 Oskar Fischinger (1900 - 1967) é reconhecido pela animação onde desenvolveu linguagem abstrata (abstração geométrica ou expressionismo abstrato) e técnicas para utilização de som sintético nos filmes (Figura 16). Ele trabalhou também como desenhista nos estúdios Disney, para a elaboração do filme Fantasia, porém não ficou por muito tempo, pois consideravam seus desenhos abstratos demais e acabavam alterados para serem figurativos. Fischinger foi um artista que inspirou a muitos a partir de seus trabalhos, inclusive Norman McLaren, através da técnica: método direto sobre a película, por exemplo, era feita para obtenção de movimentos rítmicos e efeitos cromáticos. Figura 17 Outro influenciou artista também que o trabalho de McLaren foi Len Lye (1901-1980) (Figura 17), cuja obra e estilo perpassam classificações. Seus trabalhos vão desde esculturas, pinturas, desenhos até filmes, sua intenção era a de “compor o movimento, apenas como os músicos compõem o som”. Através da película, Lye criava “figuras em movimento” pintando, escrevendo ou riscando. 36 Como já explanado, este trabalho serve como uma pequena introdução sobre Animação, como objeto de pesquisa para estudos ampliados sobre arte e áreas relacionadas. Existem muitos artistas e movimentos do século XX ainda não explorados neste viés, e observa-se também que muito do que se tem documentado está nos idiomas de origem (inglês ou francês), além da discussão ser bastante recente na academia, cerca de 30 anos apenas. 37 2.2. NORMAN MCLAREN Aqui será feita uma breve abordagem da vida e obra de Norman McLaren (Figura 18), relacionando fatos relevantes em relação ao tema proposto. Nem todos os dados caberão ser citados neste trabalho, por isso foi feita uma relação temática que possibilite uma abordagem dinâmica sobre McLaren e no anexo 3 foram inseridos os fatos pontuais e a lista da filmografia em ordem cronológica. Figura 18 A Animação observada através da museologia é o foco base deste trabalho, a partir do qual, destaca-se a memória de Norman McLaren e sua produção. Portanto, a sua obra é percebida nesta pesquisa, não apenas como filme de Animação, pois ao reconhecer que a arte do movimento é uma forma de expressão artística, passível de utilizar diversos materiais e recursos, indica na obra de McLaren o objeto artístico que ultrapassa classificações. Norman McLaren foi um artista múltiplo, e talvez por ser tão inovador e vanguardista, seja difícil classificá-lo. Muitos autores observam a falta de análises críticas sobre a obra de Norman McLaren, existe o reconhecimento dentro da área de Animação, mas como aponta o Dr. William Moritz em seu artigo11, o reconhece como pós-modernista por ser um artista à frente do seu tempo e ainda: “destacam o lado inventivo, mas não se observa as qualidades estéticas das suas obras” (tradução da autora)12. Em Stirling, na Escócia, em 11 de abril de 1914, nasceu Norman McLaren, criado em ambiente propício às artes, aprendeu piano e violino antes dos 12 anos. Entrou aos 18 anos na Glasgow School of Art, mas 11 MORITZ, William. "Norman McLaren and Jules Engel: Post-Modernists." A Reader In Animation Studies. Ed. Jayne Pilling. Sydney: John Libbey, 1997, 104-111. Disponível em: <http://www.iotacenter.org/visualmusic/articles/moritz/mclarenengel> Acesso em: 08 nov. 2009. 12 Of all the great names in animation, Norman McLaren has, paradoxically, suffered most from a kind of critical neglect. Everyone acknowledges his genius, but few discuss it. Numerous books and articles chronicle his life and describe his works, usually stressing the inventiveness of his filmic techniques, but rarely do they analyse his aesthetic qualities and achievements. 38 acabou não concluindo o curso, ele não se identificou com a arte acadêmica e seus interesses ultrapassavam as aulas tradicionais de modelo vivo. Suas experiências e observações sobre outras formas de arte (como o cinema) o fizeram compreender que precisava tomar novos rumos, nos quais a pintura não seria sua única forma de expressão. Ao acompanhar as novidades do cinema, empolgou-se com as possibilidades a serem exploradas, aderiu à Glasgow Film Society, onde assistiu a vários filmes que contribuíram para seus trabalhos posteriores, tais como os filmes de Serguei Eisenstein, Vsevolod Pudovkin e Oskar Fishinger. “Eu senti que aquela era a arte do futuro. Passei a faltar às minhas aulas de arte para fazer filmes” (in “Drawing” Norman McLaren por Marcos Magalhães). Figura 19 Uma das suas primeiras e inovadoras técnicas foi a experiência com pinturas e desenhos feitos à mão sobre as sobras de películas de filmes, nas quais dissolvia a emulsão com água sanitária. A cada quadro / fotograma da película, era desenhada seqüencialmente a sua Animação (anexo 4). A partir de tais experimentos, muitos de seus filmes foram realizados através destacando assim, desta a técnica, influência do surrealismo com a desconstrução das formas e o automatismo: “McLaren descobriu o surrealismo a partir de 1930, o que influenciou seu trabalho. Esta técnica de ‘cinema feito à mão’ (diretamente na película) era feita parte, porque ele queria explorar seu processo criativo junto às expressões conscientes e inconscientes através dos rolos de película; e parte, para demonstrar 13 a idéia do cinema como movimentos desenhados através do tempo” (McLaren. p.11 - Tradução da autora) 13 “McLaren's discovery of surrealism in the late 1930's and its influence on his work. His technique of hand-made cinema is described, partly because it is an ideal illustration lor 39 Através de um dos seus filmes experimentais: Hand-painted Abstraction (1934) o artista participou de um festival anual (Scottish Amateur Film Festival), onde um dos júris era John Grierson14 (à direita na figura 19), que reconheceu o talento do jovem e lhe ofereceu uma oportunidade de trabalho no British General Post Office Film Unit. Assim, McLaren mudou para Londres e durante três anos, desenvolveu a técnica baseada nas obras do animador francês Èmile Cohl15 e fez a sua primeira animação profissional: Love on the Wing (1937-38) (Figura 20), que serviria de propaganda para o serviço de correio aéreo. A Animação cuja técnica utiliza traços claros sobre fundo escuro, forma personagens que se transformam com dinamismo, a temática é sobre o relacionamento de um casal que trocam cartas, ilustra o conteúdo das correspondências. Porém, a animação não foi aprovada, pois não atingiu o objetivo da instituição, mesmo com o apoio do seu superior, o cineasta brasileiro Alberto Cavalcanti16. Figura 20 Com as dificuldades enfrentadas no período entre guerras, McLaren migrou para Nova York, em 1939. Lá, ele realizou alguns filmes para o Museum of Non-Objective Art (que depois seria o primeiro Museu Guggenheim), um centro que reuniu obras de artistas como Kandinsky, Mondrian, Léger, Chagall entre outros imigrantes europeus. McLaren propôs ao museu exibir, suspensos em uma parede da galeria, uma tela branca que funcionaria como um “quadro/frame”, quando os visitantes passassem ou sentassem à frente da obra, um circuito elétrico entraria em operação, iluminando parte da galeria enquanto que o ambiente próximo da obra escurecia, a tela ficava luminosa com cores e formas, num lento movimento rítmico e equilibrado, parecendo uma pintura em ação (nonobjective action), ao final, a tela escurecia e as luzes de galeria voltavam ao normal. McLaren's thoughts on the roles of the subconscious and the conscious in the creative process; and partly because it demonstrates McLaren's idea of cinema as movemenisdesignedthrough-time.” McLAREN, Norman. On the creative process. P.11 14 Formado pela universidade de Glasgow, foi pioneiro em filmes documentários. 15 Sobre Èmile Cohl, ver página 24 neste trabalho. 16 Cavalcanti aceitou o convite de John Grierson e entrou para a equipe do General Post Office Film Unit (1934?). 40 Estas animações possuem diferentes estilos, Dots (1940), por exemplo, foi feita com imagens de gotas de tinta que caem e se movimentam no ritmo do som sintético17 com o contraste entre as cores, as manchas de tinta “caem na direção do espectador” para a tela. É interessante perceber o interesse do museu com o trabalho de McLaren ao lado de outros artistas e como a museografia destas obras foram tão inovadoras. Ainda outras animações foram feitas para exposição no museu: Loops, Scherzo, Stars and Stripes and Boogie Doodle (Figura 21). “Eu freqüentemente dizia que nunca usava ‘script’ (roteiro), no sentido de escrever a coisa, eu nunca o usei. Em outro sentido, eu uso ‘scripts’ (roteiros) – em algum filme onde a música inicia o processo e para qual eu faço a pintura, a música é um ‘script’ 18 – um roteiro musical.” (McLAREN, p.23 – Tradução da autora) Figura 21 O McLaren importante, funcionou animação, som para é um elemento muitas como o porque Norman vezes roteiro a da música trabalha com ritmo e com a marcação do tempo, desenvolvendo o movimento. Ele foi educado desde criança com música clássica, aprendeu a tocar piano e violino, e também se interessou pelo jazz e as músicas populares folclóricas. Sua habilidade musical o possibilitou compor o som/música dos seus próprios filmes, substituindo instrumentos pelo som sintético direto da película, e no documentário (transcrito e publicado) “On The Creative Process”19, McLaren declara que a sua primeira tentativa séria na criação de música foi apenas no filme Neighbours (1952). 17 A técnica consiste na marcação direta na película sobre a trilha do som ótico que possibilitou construir padrões sintéticos que substituíssem os instrumentos musicais nos filmes. Exemplos de filmes com sons sintéticos: A Little Phantasy on a 19th-Century Painting (1946); Neighbours (1952). 18 I've often said I never use a script, and in the sense of a written-out thing, I never use it. In another sense, I do use scripts — any film where there is music to start with, and to which I make the picture, there is a script — a musical script. McLAREN, Norman. On the creative process. p.23 19 MCLAREN, Norman. On The Creative Process. Copiled and edited by Donald McWilliams. Canada: National Film Board of Canada. 1991. 41 A influência de Oskar Fischinger é visível em seus trabalhos que são voltados às formas abstratas e animados a partir da música. Através da combinação do movimento, cores, formas e sons, McLaren desenvolveu estudos que se direcionavam a expressões de ordem sinestésica conhecido como o “som das cores”20. No filme Blinkity Blank de 1955 (Figura 22), feito com riscos e desenhos diretamente sobre a película e sem o “registro”, que permite a seqüência e posição fixa do traço, McLaren deixa entre um frame e outro, espaços vazios onde, sob o fundo preto a visão completa a forma, gerando um efeito estereoscópico. (...) “Algumas imagens, diz Deleuze, têm o poder de estocar outras imagens. Estamos tão repletos de imagens que já não vemos as que nos chegam do exterior por si mesmas. As imagens sonoras, por outro lado, têm o poder de capturar outras imagens. Elas ditam nossa percepção.” (...) (PEIXOTO, p. 245) Figura 22 Chairy Tale (1957) é um filme que mescla o cinema mudo, e a técnica de animação stop motion (animação de objetos, no caso da cadeira), com a música de influências indianas, produzido junto com Ravi Shankar. McLaren não pretendia que caracterizasse como música indiana apenas, pois o filme teria que alcançar uma linguagem universal. Com uma temática simples e 20 Muito estudada no final do século 19, a sinestesia foi abandonada nas últimas décadas. Só recentemente a ciência voltou a pesquisar o cérebro das pessoas que ouvem cores ou sentem o gosto de canções. Enquanto os pesquisadores engatinham, os artistas se aproveitam dessa capacidade. É o caso do poeta francês Baudelaire, do compositor húngaro Franz Liszt e do pintor russo Wassily Kandinsky. (Fonte: http://super.abril.com.br/ciencia/ciencia-tras-arte446755.shtml) 42 leve, o filme transmite a mensagem da compreensão do outro, e da relação humana que pode ser dificultada ou harmonizada. “Para mim a cadeira poderia ser um símbolo como qualquer outra coisa, mas eu ouvi diferentes interpretações, como um homem e uma mulher; ou um empregado e seu chefe; ou até uma posterior interpretação de uma turma de alunos em sala de aula e seu professor. Chairy Tale mostrou o que pode dar errado num relacionamento. Eu fico feliz se as pessoas fazem sua própria interpretação.” (1971) 21 (McLAREN, p.38 – tradução da autora). McLaren descreve no documentário “On the creative process” que sempre ficou fascinado com a reação das pessoas às apresentações ao vivo (que então começavam a ser transmitidas pela TV), a surpresa e a expectativa causadas por uma competição esportiva, por exemplo. Comparava estas reações às animações feitas à mão direto na película, como se fosse “ao vivo”, cujo resultado era sempre surpreendente. Em 1941, John Grierson o convidou para trabalhar no Canadá, no órgão governamental, National Film Board of Canadá – NFB / Office National du Film du Canadá – ONF. Lá, mesmo trabalhando em uma agência federal, que utilizava métodos convencionais, McLaren teve a possibilidade de operar com liberdade. A primeira equipe de jovens animadores22 (Figura 23, ao lado), a pedido de Grierson, coordenada por Norman McLaren, formada por pioneiros no desenvolvimento da animação canadense como: Evelyn Lambart (1942), 21 “For me the chair could be a symbol of anything — the underdog — but I've heard many different interpretations, like a man and a woman; or the servant and master, or the last interpretation 1 had from a whole class of children — the teacher-pupil relationship, A Chairy Tale shows what can go wrong with that relationship. I'm happy if people take their own interpretation.” (1971) (MCLAREN. On The Creative Process. P.38) 22 Figura 23 - Norman McLaren e a equipe (foto: 1952) – Da esquerda para direita: Barry Helmer, Janet Preston, Evelyn Lambart, Sidney Goldsmith, Guy Glover, Norman McLaren, Colin Low, Robert Verrall, Marcel Racicot, Wolf Koenig, Grant Munro 43 Jean-Paul Ladouceur (1942), René Jodoin (1943), Grant Munro (1944) e Robert Verrall (1945). No primeiro momento, a proposta era produção de filmes sobre a guerra. Relacionados ao tema foram produzidos: V for Victory (1941), Five for Four (1942), Hen Hop (1942) (Figura 24), Dollar Dance (1943) e Keep Your Mouth Shut (1944). Outra temática de animações que a NFB produziu foi sobre o folclore canadense, um dos filmes feitos com baixo custo e bastante criatividade por Norman McLaren foi Le Merle (1958), um pássaro com formas geométricas simples feitas de recortes de papel (Figura 25). É uma história baseada no folclore franco-canadense na qual durante uma canção, o pássaro, a cada verso, perde partes do seu corpo, que depois reaparecem e com o progresso da canção, as partes perdidas acumulam-se. A presença de traços primitivos, cubista e surrealista na forma como o pássaro se movimenta é de extrema graciosidade. Figura 24 Figura 25 McLaren fazia interagir em seus filmes elementos simples associados à música, de forma criativa, complexa e inovadora para a época. Ele não se preocupava em tornar complexo o seu trabalho, as técnicas não lhe limitavam, pelo contrário, sempre tentava solucionar de acordo com a idéia da obra, até sentir que estava no caminho certo. Identificava-se muito com os pássaros por causa de seus movimentos, podemos perceber nas Animações: Hen Hop (1942) Le Merle (1958) e La Poulette grise (1947) (Figura 26), neste último com forte influência surrealista 44 na transformação das formas suavemente produzidas pelos traços da técnica de pastel utilizada. Por volta dos anos 40, McLaren pensava que poderia filmar como um sonho, utilizando o inconsciente, como o automatismo dos surrealistas. No filme Là-haut sur ces montagnes (1945) (Figura 27), ele usou pela primeira vez os contrastes (chiaroscuro) em uma paisagem desenhada pela técnica pastel, inspirado na Animação Night on Bare Mountain de Alexandre Alexeïeff do final dos anos 30, outro exemplo desta técnica está em A Little Phantasy on a 19th Century Painting (1946) (Figura 28). Figura 26 Figura 27 Figura 28 Entre os anos de 1946 e 1949, McLaren fez outros filmes sobre a guerra como Hoppity-Pop (1946) e Fiddle-de-dee (1947). Em 1949, viajou para a China através de um projeto da UNESCO (Figura 29) para ensinar métodos audiovisuais a artistas chineses. Lá ele presenciou a modificação revolucionária de um regime comunista. Quando jovem, havia se filiado ao partido comunista escocês, e ao se deparar novamente com os problemas da guerra e conflitos sociais, teve inspiração para fazer um filme com esta temática quando retornasse ao Canadá. Neighbours (1952) (Figura 30) foi considerado por ele mesmo um dos seus filmes mais importantes, por ter uma forte mensagem social: “É uma verdade humana que nenhum de meus outros filmes traz”, chegou a declarar McLaren. É também um de seus filmes mais conhecidos, no qual anima os atores e objetos da cena através da técnica pixilation23, filmando quadro a quadro. O filme retrata de forma simples, mas poética, a situação da guerra fria e o conflito entre os blocos. Em 1953, McLaren estava na Índia num 23 Pixilation é uma técnica de animação stop motion na qual atores vivos ou objetos reais são utilizados e captados quadro a quadro (como fotos), criando uma sequência de animação. (ver anexo 4) 45 projeto similar ao anterior da China, neste mesmo ano, recebeu o Oscar pelo filme Neighbours, o que não alterou suas atividades, pois realizava seu trabalho de forma livre, independente de reconhecimento por premiações. Figura 29 Em 1982, McLaren através de suas reflexões no documentário “On the Process Creative”, descreve que o fato de ter conseguido fazer seus filmes já foi uma satisfação, e também perceber que seu público não esteve restrito à uma elite. Seu desejo era de ser lembrado por ter feito alguns filmes que tocassem as pessoas de algum modo. Entre os colaboradores de Norman McLaren pode ser destacada Evelyn Lambart (Figura 31) que contribuiu através de uma relação de trabalho com muita troca de idéias que geraram soluções criativas. Ela esteve presente em muitos filmes, dentre os quais se destacam: Begone Dull Care (1949), Le Merle (1958), Lines (1960-62) e Mosaic (1965). Apesar de ter ficado mais conhecida pela associação a McLaren, Lambart foi uma das poucas mulheres pioneiras no trabalho com Animação, e posteriormente desenvolveu sua produção autoral independente. Figura 30 46 Grant Munro, considerado multi-talentoso, contribuiu e incentivou McLaren a fazer o filme Neighbours (1952). Participou também nos filmes Two Bagatelles (1952) e Canon (1964) como talentoso bailarino e ator, além de ser também diretor de animação e documentários em outros filmes no National Film Board of Canada - NFB. No campo musical, teve a contribuição notável de Maurice Blackburn que enriqueceu as animações. Ele trabalhou no NFB entre 1941 e 1983, desenvolvendo com Norman McLaren a técnica para produzir a sonoridade do filme diretamente na “pista de som” ("sound track") da película. Entre várias obras deste período que contam com sua colaboração, destaca-se Blinkity Blank (1955), um filme que ganhou treze prêmios, inclusive Palma de Ouro em Cannes. A dança é outro elemento que McLaren utilizou nos seus filmes formando a “trilogia dos balés”: Pás-des-deux (1967) (Figura 32), Ballet Adagio (1972) e Narcissus (1983). Neste último filme, McLaren parecia buscar outra linguagem e a Animação já não era seu foco principal de trabalho, foi feita apenas a filmagem direta dos dançarinos, sem interferências ou recursos de animação. Figura 31 “Posso dizer que o filme do qual possuo o maior prazer em rever é Pas des deux (1967)” (MCLAREN. On The 24 Creative Process. P.51) A luz projetada destaca apenas o contorno dos bailarinos, referenciando à obra de cronofotografias de Etienne-Jule Marey (Ver figura 4, p.13), e ainda para compor e destacar este efeito, vestidos de branco, os bailarinos foram filmados contra piso e fundo pretos. A velocidade da filmagem foi de 48 quadros por segundo25, para obter um efeito de movimento lento e leve. Na 24 “I can say that film I get most pleasure from is Pas de deux.” MCLAREN. On The Creative Process. P.51 25 A velocidade normal de um filme é de 24 a 30 quadros por segundo. 47 versão final de Pas des deux (1967), a imagem dos bailarinos foi replicada em várias outras imagens, sendo que ao congelar uma, as outras prosseguem continuando os movimentos. Foi essencial a iluminação nos bailarinos, que traça o contorno de luz, além da iluminação dianteira normal, o que leva à confusão visual quando as imagens se duplicam. No seu último filme: Narcissus (1983) (Figura 33), a metáfora da existência humana é interpretada através do mito grego conforme citado no artigo por Marcos Magalhães: “‘Narcissus’, seu filme testamento, quase não possui animação. Conta, também através do balé, a história do mito de Narciso. O cineasta, que raramente expunha suas angústias pessoais em seus filmes, declara aqui corajosamente a sua solidão, o seu aprisionamento pela imagem.” (MAGALHÃES, 2001) 26 Quando McLaren sai do National Film Board of Canada (NFB) em 1983, Donald McWillians27 descreve: “(...) Durante a sua carreira, McLaren recebeu interrogações contínuas do público e de outros diretores sobre os seus filmes e as suas técnicas. Portanto, ele adotou o costume de escrever notas técnicas e este foi um método eficiente e rápido de responder a estas perguntas. McLaren pediu que eu incluísse na biografia de carreira as suas notas técnicas revisadas. A sua outra atividade em produção de filmes foi a sua presença em 1986 como entrevistado no Creative Process: Norman McLaren, que dirigi. Além de jardinagem, natação e leitura, a atividade extra principal de McLaren que foi reacender de um interesse dos anos 1940 era: ‘stereo painting’ e desenho. Ele fez vários experimentos de trabalhos em serie ‘colour stereo’, principalmente com desenhos para recortar; e mantinha uma correspondência com artistas na Califórnia. McLaren morreu no dia 26 de janeiro de 1987 com 72 anos de idade..”28 (McWillians. Tradução da autora) 26 MAGALHÃES, Marcos. Designer do movimento. Revista Arc Design. São Paulo, nº. 22, 2001. 27 Diretor de cinema. Trabalhou com McLaren cuja experiência foi fundamental para o seu trabalho subseqüente. Produziu o documentário em 1990 Creative Process: Norman McLaren. 28 “Following his retirement from the NFB in 1983, McLaren turned away from filmmaking. He did, however, completely revise the technical notes for his films. During his career, McLaren received continuous inquiries from the public and other filmmakers about his films and his 48 Figura 32 Figura 33 É perceptível, com esta descrição de McWillians, que o reconhecimento dos trabalhos de Norman McLaren foi pontual, direcionado aos filmes e animações produzidas no National Film Board of Canada (NFB), o que reforça a necessidade de mais pesquisas e análises inclusive dos seus colaboradores. As suas obras percorrem uma grande quantidade de técnicas e estilos diversificados, o que torna um artista múltiplo e mesmo à frente de seu tempo, talvez ele realmente fosse pós-modernista como aponta William Moritz. McLaren pode ser abstrato, surrealista, figurativo, pode ter utilizado como recurso pintura, atores, dança e música. Não importa a técnica ou estilo, estava sempre inovando através da busca do seu elemento principal de trabalho: o movimento. techniques. So he got into the habit of writing technical notes and these were an efficient and speedy method of replying to these questions. McLaren asked me to write this career biography to accompany the revised technical notes. His only other filmmaking activity was his appearance in 1986 as interviewee and performer in Creative Process: Norman McLaren, which I directed. Aside from gardening, swimming and reading, McLaren's main retirement activity was the rekindling of an interest of the 1940s: stereo painting and drawing. He made several experiments for large-scale colour stereo works, primarily with cut-outs; and had an enthusiastic correspondence with stereo artists in California. McLaren died on January 26, 1987 at the age of 72.” (McWILLIANS, Biography Norman McLaren. Disponível em: http://www3.nfb.ca/animation/objanim/en/filmmakers/Norman-McLaren/biography.php) 49 CAPÍTULO 3 - MUSEOLOGIA E ANIMAÇÃO 3.1. A IMPORTÂNCIA DA MUSEOLOGIA PARA A ANIMAÇÃO; Entre a Museologia e a Animação, é possível abranger várias perspectivas, para este estudo, através do olhar museológico será observada a compreensão da Arte do movimento como objeto e fonte de informação. A utilização da Animação como fonte de pesquisa tem crescido nas últimas três décadas em diversas áreas acadêmicas (artes, comunicação, tecnológica), e torna-se necessária a consolidação destas fontes, assim como a catalogação dos dados para a preservação da sua memória e história. A Museologia possibilita auxiliar nestas questões, além de atuar também em outro ponto importante que é a própria preservação e conservação física dos objetos relacionados à Animação. O caráter interdisciplinar da Museologia permite uma ampla abordagem para a Animação, a qual, por sua vez, também estabelece relações com diversas áreas. “O desocultamento da moldura metacomunicacional da experiência museográfica e museológica pode servir de solo sobre o qual será possível uma construção mais sólida e abrangente de uma moldura teórica, favorecendo novas interlocuções entre a Museologia, a Ciência da Informação, a Comunicação, os estudos culturais e da memória. O lócus das questões museologicas, no grande fórum das ciências humanas e sociais, constituir-se-ia justamente onde se desconstrói o privilégio ontológico da sacralidade.” (CASTRO, p.17) A Museologia e a Ciência da Informação estão relacionadas “através das condições epistemológicas de junção e cruzamento entre a problemática da constituição do Museu e a da disponibilização e acesso social à informação.” (CASTRO, p.15) A partir deste enfoque é possível tratar a Animação como um documento, para que seu conteúdo seja disponibilizado como fonte de informação e pesquisa. Possibilita assim, tal acesso aos conceitos sobre arte do movimento e todos os seus aspectos, minimizando as lacunas existentes na história e na memória desta área. 50 É de extrema importância que o acervo de uma instituição como o museu seja bem documentado, isso porque o objeto em si, por exemplo, uma Animação é fonte de informação com particularidades que podem ser catalogadas e servir como documentos para pesquisadores, estudantes e usuários. “O conceito de documentação vem-se desdobrando à medida que é associado a atividades de disseminação do conhecimento, como uma experiência humana no tempo e no espaço. Ou ainda, quando é usado para indicar e descrever os processos da documentação, isto é, transferência e difusão do conhecimento, em perspectiva histórica e social, a fim de possibilitar a divulgação e a comunicação no campo da informação.”(CASTRO, p.148) A Animação carece de um trabalho de documentação extensa que pode ser feita através de uma instituição que possua o acervo, como também, por um projeto de pesquisa externo que reúna as informações entre as instituições e as torne acessíveis. A informação acerca de qualquer objeto é de extrema importância para agregar valor, do contrário, somente a guarda num museu não possui sentido ou função. Ao pensar a Museologia dirigida para a Animação, é preciso esclarecer que se trata de uma vertente recente que possibilita recuperar dados importantes da história e memória da arte do movimento, afim de que seja documentada e este material possa ser comunicado e difundido ao público. Neste trabalho, ao pensar em um museu para a Animação, foi feita uma reflexão na forma como estão alguns acervos dentro de museus ou instituições que não são específicos para animação ou cinema. Estes espaços que possuem acervo audiovisual, incluindo algumas animações, em película, VHS ou DVD, acabam dando preferência e importância a outros acervos. Então se observa que servem apenas como um local de guarda, e que muitas vezes não possui em condições de conservar adequadamente e por isso acabam se deteriorando. É necessário que ao menos sejam feitos dentro destas instituições mais projetos em relação à conservação e recuperação, além da valorização do conteúdo dos acervos audiovisuais. Para um objeto tão dinâmico que é a animação ou o cinema, são poucas as ações que os coloquem com devida importância, considerando o acesso como fonte de informação e pesquisa. Por isso, o ideal é que novos 51 espaços sejam criados para trabalhar apenas estes acervos, podendo explorar novas possibilidades para o público e o pesquisador. A exposição destes objetos (animações) pode ocorrer de diversas maneiras, além da própria exibição e exposição sobre o artista relacionado, ampliar as propostas que estimulem questionamentos ao público, como atividades educativas e de pesquisa, sem apresentar afirmações cristalizadas. Dentro do contexto tradicional, os museus já passaram pelos gabinetes de curiosidades; por espaços reservados a um grupo restrito; e por espaços de representação da memória coletiva idealizada pelas políticas de nacionalidade, que apenas se voltaram às comemorações ou aos objetos de estudo de interesse destes grupos. Hoje, o museu não é mais o espaço apenas contemplativo “(...) para que nada seja indagado, questionado. Só admirado.” (CASTRO, p.76) Continuar a tratar certos termos apenas de forma comemorativa através de datas, como por exemplo, os 100 anos do Cinema, é deixar de rever tantos outros aspectos relativos ao impacto social das artes audiovisuais como um todo. A memória de uma categoria artística como o Cinema ou a Animação não pode ser reduzida a uma simples comemoração: “(...) É inegável que as comemorações, em particular as cerimônias de “cultos aos aniversários”, têm um peso ainda considerável em nossos tempos, como vetores de integração social e legitimação. Na comemoração paradoxalmente dispensa a recordação, (...) a recordação pode existir, “mas o essencial é o papel dos outros.” (Casey, 1987, p.47). A comemoração tem “quase eclipsado as demais formas de memória coletiva”, na expressão de Johnston (1987, p.80), um especialista do tema.” (MENEZES, P.17) Os museus relacionados às artes plásticas procuram acompanhar as questões dirigidas principalmente pelos críticos e curadores, os quais orientam grande parte das exposições. Porém, o propósito da criação de alguns museus como os relacionados ao cinema em geral, parece ser um movimento direcionado para as questões comemorativas à memória da criação do fenômeno. Não parecem estar ligadas à apresentação e discussão de um novo viés de observação sobre o cinema, nem tampouco da Animação. Hoje há uma vertente que se dirige a abordar o conceito da “obra de arte” nos museus, sem restringi-la apenas a obra contemplativa, existe a troca de 52 conhecimentos que é reforçada pela ação educativa, por exemplo. Além disso, houve uma ampliação perceptiva em relação à valorização do patrimônio, antes mais restrita (Belas Artes e Histórico), expandindo os conceitos de salvaguarda como o patrimônio imaterial, por exemplo. Estas mudanças possibilitam reflexões acerca da museologia em relação à apresentação de diversos acervos, possibilitando explorar mais abordagens criativas no caso do audiovisual. A comunicação museológica é essencial para acervos complexos como a Animação, por auxiliar a transmitir informações e conteúdo para o visitante. A exposição não pode ser apenas contemplativa ou cronológica, precisa ser ampla, transformando o espaço em “museu-fórum” e não em “museu-templo”. A linguagem utilizada precisa valorizar a importância da arte em movimento para os séculos XX e XXI e suas prospecções para hoje e o futuro. “Perceber o processo comunicacional significa indagar pela efetiva troca que relaciona o sujeito e o objeto, questionar a amplitude social do museu (...) aprimorar o museu-templo em museu-fórum. (...) [onde] há maiores chances de se romperem as estratégias de ocultamento da informação e de possibilitar a interação ativa entre o público, objeto e museu, naquilo que tal experiência comunicativa resulta.” (CASTRO, p 126) A forma de divulgação que deve ser dada não é apenas de se “cristalizar e colocar numa vitrine” uma animação. Isto não faria o menor sentido, e “mataria” a obra. É possível pensar, para estes tipos de acervo, possibilidades que permitem desenvolver atividades para exploração da técnica de Animação, oferecendo ao público o acesso a novos conhecimentos, além de valorizar a história de artistas-animadores e suas produções. O descuido do acervo audiovisual, tanto em nível nacional como internacional, cujo material se decompõe com facilidade, ocasionou hoje, mesmo sendo breve a história do cinema e da animação, a perda de muitos filmes. Isto ocorreu devido à falta de estrutura técnica para armazenamento e acondicionamento necessários, como também, a pressão imediatista da indústria cinematográfica em sempre buscar novos suportes e acelerar as novas produções, sem a real valorização da produção que já estava se 53 perdendo. É urgente e necessária a atenção aos espaços que a princípio não se caracterizam como museus, as cinematecas, por exemplo, para que não continuem a ocorrer perdas lamentáveis como as descritas em diversos artigos: “A filmografia brasileira tem milhares de títulos considerados desaparecidos desde 1898, ano zero da produção cinematográfica no país. Não se tem esperança de encontrar qualquer material para a maior parte deles. Mesmo assim, vez por outra, acontece a rara e agradável surpresa do aparecimento de fragmentos ou até o conjunto completo de obras há muito tidas como definitivamente perdidas.(...)” (GARDNIER, 2001?) O valor atribuído pelo mercado preferencialmente às obras de arte, como as pinturas de grandes artistas, fez com que as instituições se voltassem mais aos cuidados destes acervos do que aos relacionados ao audiovisual. Isto gerou conseqüentemente um “esquecimento” dos cuidados necessários de acondicionamento por parte das instituições, nas quais as prioridades de investimento em relação à conservação acabam sendo para acervos cujo valor de seguro e de mercado são mais altos. Hoje, o reconhecimento de que existe a necessidade da recuperação e conservação dos filmes que restaram, possibilita projetos específicos para este tipo de ação, valorizando o acervo pelo seu conteúdo e importância estética ou histórica. A conservação de acervos audiovisuais exige, de certa forma, o estabelecimento de regras básicas como para qualquer tipo de objeto, mas em se tratando de materiais novos ou mesclados, exige ainda mais atenção. São recentes os estudos sobre a durabilidade de um DVD ou arquivos digitais, por exemplo. Por isso, tanto para Animação como para o Cinema, tudo que se refere à preservação e conservação, converge para um ponto em comum: o suporte, seja em película ou em novas mídias digitais, pode ter problemas ou soluções similares. A questão dos novos suportes digitais já está em debate com relação à conservação e preservação, tendo em vista a tecnologia digital: “(...) ao mesmo tempo em que abre oportunidades extraordinárias em todos os campos – da ciência à arte, do trabalho ao lazer. A urgência da sociedade contemporânea em transformar tudo – textos, imagens, vídeos, música (...) 54 para formatos digitais é justificada pela enorme economia de espaço físico de armazenamento (...) ganhos de produtividade (...) e a facilidade da manipulação. (...) a facilidade de produção, edição, publicação, integração e distribuição de informação em formatos digitais pelos meandros das redes de computadores mundiais. (...) talvez não haja desafio maior para os bibliotecários, arquivistas e demais profissionais de informação e conhecimento (...) do que garantir meios de acesso à informação digital às futuras gerações (...)” (LUKESH in SAYÃO, p.183) Para a Museologia, é importante salientar que entre o cinema e a Animação, a produção de cada um pode ser diferenciada, isso resulta na preservação de outros objetos relacionados que devem ter tratamentos específicos. Na Animação, por exemplo, a conservação também se aplica aos desenhos, acetatos, esboços, bonecos, cenários, entre outros objetos, além do próprio resultado final que é o filme em película ou em mídia digital. A restauração do filme “Branca de Neve” de Walt Disney (1937) é um exemplo, para tal foi necessária a utilização do negativo em nitrato e desenhos originais em conjunto com o processo tecnológico digital, possibilitando um filme recuperado com alta qualidade de imagem e som. O museu está no limiar entre o que ocupa um lugar na história e o mercado consumidor. As personagens dos desenhos animados são objetos de consumo, seja pela projeção no cinema, ou na TV, ou através da comercialização de produtos. Alguns personagens viraram marcas e atravessam gerações, são conhecidos pela força da imagem, mas têm a história da sua criação obliterada pelo silêncio, por exemplo. Os outros tipos de Animação, experimentais, por exemplo, acabam sendo ainda mais negligenciados e caem no esquecimento. Podem as animações ser reduzidas apenas a objetos de consumo? O significado simbólico das animações contribuiu para a formação do imaginário de gerações de espectadores, estas obras mostram sem dúvida, recortes da sociedade contemporânea, de como apresenta e organiza parte do seu universo lúdico. “Gradualmente, o uso do objeto museológico desloca-se para o foco da animação cultural. O museu passa a ser integrado à ideologia da sociedade de consumo. O objeto museológico liberta-se de sua função didática, representativa de certo conceito de transmissão de conhecimento, 55 para se transformar em um dos itens do consumo cultural. Deixa de ser protagonista e passa a ser coadjuvante no grande desempenho consumista.” (CASTRO, p.76) Em termos museográficos, pode-se pensar para além da exibição do filme, a valorização da produção e do artista-animador, apresentar a história e as técnicas utilizadas. Existem alguns exemplos dos próprios artistasanimadores que utilizaram o espaço dos museus: Emile Reynaud projetou suas animações no Museu Grévin, na França, entre 1892 e 1900, como um espetáculo; Norman McLaren exibiu de forma inovadora alguns filmes na galeria do Museum of Non-Objective Art (Museu Guggenheim). Outro exemplo recente é a exposição que está sendo realizada no Museum of Modern Art – MOMA, uma retrospectiva da carreira de Tim Burton, cuja obra abrange desde seus desenhos até produções cinematográficas. A repercussão e o interesse do público atingiram grandes proporções. “Às vésperas de lançar Alice no País das Maravilhas, seu 15º longa, e presidir um dos mais prestigiados festivais internacionais de cinema, o de Cannes, Tim Burton, o menino malucão do surrealismo pop americano, compartilha o panteão de grandes nomes das artes visuais ao ser homenageado com a primeira exposição de seus trabalhos feita por um museu.” (Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,moma- reverencia-o-surrealismo-pop-de-tim-burton,508249,0.htm) É preciso observar e explorar as possibilidades que a Animação, como objeto, representa para as atividades do museu, ao promover oficinas e palestras, por exemplo. Além de ser um atrativo, abre espaço para o desenvolvimento e troca de idéias. Recentemente, temas como este têm atraído a atenção do público (visitantes ou pesquisadores), por isso, a quantidade de novos espaços culturais e eventos tem crescido. A museologia pode acompanhar estas oportunidades ao desenvolver projetos que supram as necessidades de documentação, conservação e difusão, valorizando tanto a animação como a própria área da museologia. 56 3.2. A RELAÇÃO DE MUSEUS E INSTITUIÇÕES CULTURAIS SOBRE ANIMAÇÃO. As mudanças científicas e tecnológicas do século XX repercutiram em diversas alterações sociais, refletindo inclusive nas galerias e museus. Fato em analise neste trabalho, a fim de perceber e discutir a inserção do museu no século XX e nos dias atuais como espaço a serviço da sociedade. Além disso, é preciso observar o papel da Museologia e o seu potencial de tramitar em outros espaços além do museu. (...) A paisagem contemporânea é um vasto lugar de passagem. Benjamin foi um dos primeiros a descobrir os mistérios das passagens. As galerias parisienses do século XIX eram corredores que levavam o “flaneur” para outros lugares e tempos. (...) Nelas o caminhante transitava através de lugares exóticos e épocas há muito passada. A galeria é um dispositivo ótico. Não por acaso nelas se alojavam uma das formas de espetáculo que já anunciava a função entre a pintura, fotografia e cinema: o panorama. (...) Essas passagens servem para introduzir outros tempos e espaços. Como as antigas galerias parisienses, elas nos conduzem através de outras experiências das dimensões, entre o passado e presente, o próximo e o longínquo, a pintura e a computação eletrônica. As passagens são os caminhos do futuro das imagens. (PEIXOTO, p. 237) É preciso, para realizar este trabalho, se desprender da titulação “museu” à observação de outros espaços que acolheram acervos ou atividades diferenciadas como a Animação, portanto, não precisa necessariamente ser um museu o espaço destinado a estas ações. Ainda hoje, os museus tradicionais são consolidados por suas coleções, mas também é possível perceber espaços alternativos que permitem solucionar os problemas de novos e diferentes tipos de acervo, inclusive em espaços virtuais, por exemplo. Muitos museus ainda configuram-se ao formato original e tradicional, caracterizado pelas coleções e o discurso museográfico, e nestes espaços muitas vezes acaba ocorrendo a exclusão de determinados acervos. Os acervos diferenciados como os relacionados ao campo das idéias, imateriais ou materiais como películas e arquivos digitais, envolvem possibilidades diversas de tratamento pela museologia, por caminhos inovadores e criativos. 57 O valor informativo agregado é um dos aspectos importantes em torno de qualquer acervo, que amplia o acesso do usuário, seja ele pesquisador ou visitante. São poucas as iniciativas de se tratar a Animação como objeto dinâmico no museu, pois a intenção não é encerrar o seu uso, como objeto a ser conservado, deixando em segundo plano o acesso ao conteúdo da obra em si. O acervo audiovisual requer cuidados técnicos específicos e gera reflexões e alterações nas concepções tradicionais da Museologia. No Brasil, quando se encontram notícias relacionadas a espaços institucionais ou a museus dirigidos à animação ou ao cinema29, normalmente se referem a alguma mostra, evento ou curso nos centros culturais ou salas de cinema. Alguns museus que foram criados na Europa possuem diferentes propostas para estes acervos: O Filmmuseum de Berlim [Figura 34, abaixo], (...) “Para a exposição, utiliza parte do acervo da Deustche Kinemathek, fundada em 1963, além de outras aquisições”. Segundo a diretoria, "utiliza-se os mais modernos equipamentos digitais para preservação e a pesquisa é sempre constante para vencer os desafios propostos para os novos tipos de mídia, já que o objetivo do Filmmuseum também é arquivar produções contemporâneas". 29 Segundo o Grupo Executivo Caminho Niemeyer, O Centro BR de Cinema, em Niterói-RJ, deve ficar pronto em 2010. 58 Entre poucas referências encontradas nesta pesquisa sobre exposições que explorem animação e arte, encontra-se a mostra que ocorreu no museu Hypo-Kunsthalle em Munique. A exposição foi sobre a inspiração de alguns desenhos de Disney nas artes européias (Figura 35), e inclusive mencionou ilustradores que não são muito conhecidos, conforme notícia publicada na revista museu: “BRASIL, São Paulo - Um museu de Munique, na Alemanha, exibe uma exposição que revela que várias criações de Walt Disney foram inspiradas em pinturas e sagas européias. A mostra O maravilhoso mundo de Disney e suas raízes européias, em cartaz no museu Hypo-Kunsthalle, compara as cenas de vários desenhos animados com obras de famosos artistas europeus, deixando claro que o estúdio do famoso cineasta e animador americano tirou deles boa parte de sua inspiração. Entre os desenhos analisados estão clássicos como Cinderela, Alice no País das Maravilhas e Branca de Neve e os Sete Anões. A exposição inclui cerca de 350 obras e objetos, entre eles ilustrações originais dos cenários de desenhos animados e fitas originais. A exposição também honra em uma seção especial o trabalho de dezenas de ilustradores que faziam parte da equipe de Disney e cujos nomes ficaram esquecidos. (...)” (BBC Brasil - Marcelo Crescenti 04.10.2008) Figura 35 Salvador Dalí Claude Coats Destino - White telephone and ruins, 1946 Fantasia - The Sorcerer's Apprentice, 1940 Productionbackground, oil on wood, 47,9 x 60,6 cm study, oleo sobre papel, 25 x 31,3 cm Burbank, Walt Disney Animation Research Library Burbank, Walt Disney Animation Research Library © Disney Enterprises, Inc. © Disney Enterprises, Inc. As cinematecas são os espaços de grande importância, tanto para a preservação como para o desenvolvimento de atividades em relação a acervos audiovisuais. Segundo o artigo de Hernani Heffner, a palavra cinemateca inicialmente estava associada ao sentido da biblioteca, e já teve 59 este sentido de filme como documento desde seu início. O cinegrafista Boleslav Matuszewski, que trabalhou com os Lumière, percebeu a importância documental dos filmes e publicou em 25 de março de 1898 um artigo sobre esta abordagem: “Uma Nova Fonte Histórica”. Outras iniciativas isoladas, no sentido de coleções de filmes, mantiveram alguns acervos preservados, porém as dificuldades de conservação e preservação e o desconhecimento fizeram com que grande parte dos filmes produzidos entre 1895 e 1950 desaparecessem: (...) Neste campo cumpre destacar a extraordinária e pioneira experiência brasileira com a criação da Filmoteca do Museu Nacional em 1910. Idealizada pelo antropólogo Edgard Roquette-Pinto para servir de repositório da evolução dos costumes urbanos nacionais e de registro das culturas indígenas presentes no país, a Filmoteca funcionou durante décadas e reuniu importante coleção de filmes. O descaso, a falta de conhecimentos de conservação de filmes e o tempo destruíram quase todas as películas. Na década de 60 o pesquisador Jurandyr Passos Noronha resgatou na sede da Quinta da Boa Vista umas poucas latas originárias da Filmoteca contendo alguns dos mais antigos títulos da filmografia brasileira, como o Circuito de São Gonçalo, de 1910. (HEFFNER, 2001) Diante deste quadro, em relação às dificuldades na conservação dos filmes, tendo em vista seu suporte, três grandes problemas relacionados à preservação na história do cinema devem ser mencionados para compreender o quanto foi perdido e como. Os dois primeiros momentos se referem à questão dos produtores reaproveitarem a matéria-prima dos rolos de filmes antigos devido à mudança de preferência do público pelas novidades: o longametragem e a inserção do som a partir de 1927. Depois, em 1950, ocorreu a troca de película de nitrato por acetato, não inflamável. E ainda assim, descobriu-se anos depois que o acetato também se deteriora rapidamente com o conhecido processo “síndrome do vinagre”. Na Museologia, pouco se menciona sobre as cinematecas, apesar de muitas estarem associadas a Museus como é o caso da Cinemateca do MAM e da Cinemateca Brasileira em São Paulo30 no início da sua formação. A 30 A Cinemateca Brasileira é a instituição responsável pela preservação da produção audiovisual brasileira. Desenvolve atividades em torno da difusão e da restauração de seu 60 Cinemateca do MAM no Rio de Janeiro sempre foi atrelada ao Museu de Arte Moderna como setor Cinematográfico. Iniciou em 1955 com exibições mensais de filmes e transformou-se em Cinemateca em 1957, com o propósito da guarda, preservação, restauração, pesquisa, exibição e divulgação de filmes e do cinema em geral, além de uma biblioteca e setor de documentação e pesquisa, formulando sua programação e editando um boletim periódico. Teve importante papel na formação e produção de cineastas e técnicos através de seus cursos (a partir de 1964) e um estúdio de som e moviolas (de 1966 a 1974). Figura 36 A Cinemateca Brasileira (Figura 36) foi criada a partir do Clube de Cinema de São Paulo, em 1940, como era um ponto de debates e críticas foi fechada pela polícia do Estado Novo. Em 1946 foi aberto outro cineclube a partir do qual o acervo de filmes constituiu a Filmoteca do Museu de Arte Moderna (MAM). Apenas em 1984 passou a ser reconhecida como órgão cultural pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC) e hoje está ligada à Secretaria do Audiovisual. As cinematecas possuem uma história particular, foram sendo criadas, inicialmente, na Europa e EUA com o reconhecimento do cinema como arte e documento. Além das próprias películas, houve também o acolhimento de itens relacionados ao cinema como: acervo, um dos maiores da América Latina. São cerca de 200 mil rolos de filmes, entre longas, curtas e cinejornais. Possui também um amplo acervo de documentos formado por livros, revistas, roteiros originais, fotografias e cartazes. Fonte: <http://www.cinemateca.gov.br/page.php?id=1> 61 “roteiros, boletins de continuidade e de marcação de luz, cartazes, fotos, documentos de produção, revistas de cinema e outros, configurou propriamente a área de atuação o e perfil institucional das cinematecas e definiu simultaneamente o cinema como documento e fato cultural em suas múltiplas manifestações. (...) Conservar neste momento era entendido quase sempre como guardar de maneira relativamente ordenada. Essa guarda desinteressada do passado não implicava padrões rígidos de armazenamento, não tinha fins lucrativos e não dava direitos sobre a exploração comercial das obras, que permaneciam com os produtores originais ou seus sucessores, tal como hoje. Práticas pouco profissionais como simplesmente empilhar latas somavam-se a conceitos importantes no relacionamento com a desconfiada comunidade cinematográfica. Mas o verdadeiro senão deste momento estava na continuação da guarda seletiva.” (HEFFNER, 2001) 1933 - Svenska Filmsamfundets Arkiv (Cinemateca Sueca); 1934 - BundesArchiv (Cinemateca Alemã); 1935 - British Film Institute; 1935 - Arquivo de filmes do Museum of Modern Art of New York (MoMA); 1936 - Cinémathèque Française; 1938 - Federação Internacional dos Arquivos de Filmes (FIAF).31 Após a 2ª Guerra Mundial, surgiram outras questões que permeariam os espaços de museus ou cinematecas, como viés da valorização do indivíduo e a memória como elemento de formação da identidade nacional. As cinematecas “do antigo Leste Europeu, da Ásia e da América Latina [surgiram] entre 1945 e 1955, entre elas a Cinemateca Brasileira, em 1949, e a Cinemateca do MAM, em 1955.32” Possuem relação com a História e as “memórias subterrâneas” como se refere Pollak: Essas memórias subterrâneas que prosseguem seu trabalho de subversão no silêncio e de maneira quase imperceptível afloram em momentos de crise em sobressaltos bruscos e exacerbados. (...) A memória entra em disputa. Os objetos de pesquisa são escolhidos de preferência onde existe conflito e competição entre memórias concorrentes. (...) Tecnicamente difícil ou 31 Hernani Heffner. Preservação. Revista Contracampo. Nº34. Disponível em: < http://www.contracampo.com.br/34/frames.htm> Acesso em: 09 set.2009 32 Ibidem. 62 impossível captar todas essas lembranças em objetos de memória confeccionados hoje, o filme é o melhor suporte para fazê-lo: donde seu papel crescente na formação e reorganização, portanto o enquadramento da memória. Ela se dirige não apenas às capacidades cognitivas, mas capta as emoções. (...) O filme-testemunho ou documentário tornou-se um instrumento poderoso para os rearranjos sucessivos da memória coletiva e, através da televisão, da memória nacional. (POLLAK p. 4 e 11) Mesmo diante de tantas dificuldades, pode se observar hoje um avanço em relação ao tratamento do acervo nos casos da Cinemateca Brasileira (SP), na Cinemateca do MAM: “(...) Pela primeira vez na história da preservação de filmes no Brasil, está se buscando o diferencial de qualidade para a sobrevivência da filmografia brasileira. Pela primeira vez entrou em cena a possibilidade de uma preservação de longo prazo (em termos arquivísticos nunca inferior a um século). Com a inauguração recente do novo depósito climatizado da instituição, os materiais com baixo nível de deterioração poderão ser guardados a baixas temperaturas (10ºC), ganhando a perspectiva de chegarem inteiros ao século XXII, permitindo assim a aplicação dos recursos disponíveis a um maior número de títulos ameaçados por mais tempo.” (HEFFNER, 2000-2002?) Percebe-se atualmente que muitos museus, fundações e espaços culturais que se propõem a cuidar deste tipo de acervo, surgem por iniciativa de parentes, amigos, admiradores ou mesmo dos próprio artista. Na França existe a Associação dos Amigos de Emile Reynaud, por exemplo. Outra associação preserva a memória de Emile Cohl, junto a outros caricaturistas e animadores, e que, segundo informações disponibilizadas no portal,33 na internet, este espaço organiza retrospectivas, mostras, exposições, conferências, concursos e publicações; centraliza os acervos de filmes, desenhos, fotos e documentos sobre Emile Cohl. O Museu Grévin, em Paris, possui como atrativo, além das reproduções em bonecos de cera de pessoas famosas, um espaço muito importante para história da animação: a sala de espetáculo do Théâtre Grévin (Figura 37) e o 33 “Sur lês traces d’Emile Cohl” Disponível em: <http://www.emilecohl.com> 63 Palais des Mirages (atração que utiliza o princípio da ilusão de óptica), local onde Émile Reynaud exibiu suas animações entre 1892 e 1900. Figura 37 Na Flórida está localizado o International Museum of Cartoon Art, fundado por Mort Walker em 1974. Walker começou a colecionar desde cedo cartuns, e a motivação para criar o museu foi justamente porque muitos destes trabalhos originais dos cartunistas eram perdidos ou destruídos. O museu foi criado com propósito de coletar, preservar e exibir trabalhos originais de cartum do mundo inteiro, também faz parte da coleção, a artefinal, incluindo a arte original da animação, tira de jornal e ilustrações de livros. O museu possui também livros, películas e vídeos, disponíveis ao público através de uma biblioteca no local para pesquisa. Um espaço que exemplifica a criação pelo próprio artista é a Fundação do Lye Len. Criada a seu pedido pouco antes de falecer em 1980, a coleção está na Nova Zelândia, seu país de origem. A fundação é registrada com a função de continuar a conservação, a reprodução e a promoção dos trabalhos do Lye Len (Figura 38), além de disponibilizá-la para a pesquisa. Outra organização fundamental para a preservação e a memória do acervo audiovisual é a própria National Film Board of Canada (NFB) onde Norman McLaren trabalhou. Pelo seu portal na internet é possível explorar diversos artigos, filmes e informações referentes à instituição e às pessoas relacionadas (diretores, animadores, atores). Figura 38 64 A questão da preservação da memória e história, reconhecendo a Animação como objeto de estudo, é importante na configuração de museus ou espaços culturais. O Festival Internacional Anima Mundi, que acontece todos os anos na cidade do Rio de Janeiro, São Paulo e outras capitais, sempre homenageia um artista-animador e isso possibilita trazer sua obra para novas gerações, levantando questões complementadas através de debates ou palestras. Este evento movimenta questões importantes referentes à memória e à concepção da animação como arte; a exemplo, a mostra de 2007 que homenageou Norman McLaren e ainda, a montagem realizada em 2008, da galeria animada (figura 39): Há obras de animação que, por sua proposta estética não-convencional ou experimental, merecem ser vivenciadas em um ambiente mais próximo de uma galeria de arte do que de uma sala de cinema convencional. Dentro da linha do festival de sempre abrir o seu leque de espaços para formatos e linguagens diversificadas, criamos este ano a Galeria ANIMA MUNDI. Concebida especialmente para animações de forma e conteúdo originais e investigativos, a galeria permitiu ao público a apreciação destas obras sem limitação de tempo, num espaço diferenciado com áudio e vídeo de qualidade. (ANIMA MUNDI, portal) É perceptível que não é preciso o museu propriamente instituído para que se desenvolva um espaço destinado à preservação e desenvolvimento de atividades acerca de um acervo sobre Animação. O desafio para Museologia é compreender e reconhecer que devem ser buscadas alternativas para tipos de acervos diferenciados (seja animação, cinema, vídeo, digital, quadrinhos) a fim de recuperar a tempo estes e outros acervos que sofreram com o descaso. Isto traz para a Museologia uma abrangência para a área que ao absorver novas vertentes pode criar novas oportunidades. 65 Figura 39: Algumas animações que foram exibidas na galeria ANIMAM MUNDI: Aanaatt Max Hattler O modelo do Futurismo Análogo, sempre em transformação. Japão, Reino Unido [2008] Duração: 00:04:45 Técnica: animação de objetos Insano Jazz Hélio Coelho Uma narrativa aleatória e sensorial, com alusão ao clima, cultura e imaginário cotidiano do Espírito Santo, que pretende ilustrar uma trilha de free jazz. Brasil [2009] duração: 00:05:00 técnica: direto na película 66 CONSIDERAÇÕES FINAIS A breve pesquisa neste trabalho foi instigante para aprofundar conhecimentos sobre os impactos que a inserção de experimentos e tecnologia proporcionou à criação da animação e do cinema no século XX. Ao observar que animação possui um caráter interdisciplinar, deve se considerar vários pontos de vista ao definir o que é Animação, para não reduzir a conceitos específicos demais. Na academia, cada vez mais trabalhos de análise são freqüentes e importantes para consolidar a arte do movimento como objeto de estudo. Este fato auxilia a mudar o senso comum sobre o que é animação, introduzido principalmente pelo mercado cinematográfico e televisivo ao público. O museu ou qualquer instituição cultural que se dispõe a trabalhar com a arte do movimento precisa ir muito além da exibição de filmes, deve explorar ao máximo as possibilidades para que o público compreenda os processos criativos da animação. Estas experiências museográficas estão de acordo com a própria arte contemporânea, e quando os recursos multimídia são bem aplicados ampliam temas como este. Além disso, deve se observar que a princípio havia exibições (mostras ou exposições) tão inovadoras para época, justamente pela amplitude que é a animação, muito antes de estabelecerem os conceitos conhecidos hoje e aqui atribuídos (arte contemporânea, interdisciplinaridade). A inovação sempre está presente no processo criativo do artista. E isso não pode se perder quando exposto numa sala de exposição; o público que se emociona com as telas de cinema através das exposições, terá o acesso a mais conhecimento acerca do assunto. A animação permite conceber vários tipos de exposição, e a museologia contribui para que o panorama apresentado seja condizente com a proposta do artista ou do objeto, além de auxiliar em relação aos efeitos cenográficos e expográficos para não sobressaírem mais que a obra. Há muito que refletir sobre o público e sobre os museus. Compreender “o que” no século XXI a sociedade encara como cultura, lazer e conhecimento, para que os espaços museológicos sejam lugares dirigidos para estes fins. É preciso despertar no espectador-visitante a visão que é possível 67 observar diversos elementos estéticos artísticos numa animação, assim como numa obra plástica elementos audiovisuais. As instituições e profissionais devem acompanhar as novas vertentes da comunicação e de recursos multimídias, para que o museu não vire literalmente um “museu”, no sentido pejorativo, como um depósito sem utilidade. Através do olhar interdisciplinar da museologia, a animação ganha possibilidades de análise sobre classificação, catalogação, fonte de pesquisa, conservação, exposição e recuperação de uma memória social coletiva. E, ao mesmo tempo, a museologia através da animação possui oportunidade de ampliar e desenvolver o campo de trabalho. Artistas como Norman McLaren são exemplos desta multiplicidade de obras que possibilitam diversas abordagens e são verdadeiros desafios para área museológica. É pertinente que sejam feitas pesquisas e documentação referente à área da animação no Brasil, afim de que não se percam valiosas fontes de informação. . 68 REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA JUNIOR, Alberto Lucena. Arte da Animação. Técnica e Estética através da história. São Paulo: Editora Senac. 2002 BRADLEY, Fiona. Surrealismo. Tradução: Sérgio Alcides. São Paulo: Cosac Naify. 2001. CAMPOS, Fernando Ferreira. Na sala de espera do Odeon. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura Turismo e Esportes, Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural (Rio de Janeiro): 1991. CASTRO, Ana Lúcia Siaines de. O Museu do sagrado ao segredo. Rio de Janeiro: Revan, 2009. DANCYGER, Ken. Técnicas de edição para cinema e vídeo: história, teoria e prática. Tradução: Maria Angélica Marques Coutinho. Rio de Janeiro; Elsevier, 2003 – 2ª ed. HARRISON, Charles; FRASCINA, Francis; PERRY, Gill. Primitivismo, Cubismo, Abstração. Começo do século XX. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 1998. HUMPHREYS, Richard. Futurismo. Tradução: Luiz Antônio Araújo. São Paulo: Cosac e Naify Edições, 2001. 2ª ed. JANSON, H.W. História Geral da Arte. Tradução e adaptação: Maurício Balthazar Leal. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 2ª ed. MACIEL, Kátia A Última Imagem. In PARENTE, André (org.) ImagemMáquina: A era das tecnologias do virtual. Rio de Janeiro. Ed.: 34, 1993. MAGALHÃES, Marcos. Designer do movimento. Revista Arc Design. São Paulo, nº. 22, 2001. MCLAREN, Norman. On The Creative Process. Copiled and edited by Donald McWilliams. Canada: National Film Board of Canada. 1991. MENEZES, Ulpiano T. Bezerra de. A crise da memória, história e documentos: reflexões para um tempo de transformações. In: SILVA, Zélia Lopes da. Arquivos, patrimônio e memória: trajetórias e perspectivas. São Paulo: UNESP; PAPESP, p. 11-30, 1999. PEIXOTO, Nelson Brissac. Pintura, Fotografia, Cinema, Arquitetura. In PARENTE, André (org.) Imagem-Máquina: A era das tecnologias do virtual. Rio de Janeiro. Ed.: 34, 1993. 69 SAYÃO, Luiz Fernando. Conservação de documentos eletrônicos. In: (Org.) GRANATO, Marcus. SANTOS, Claudia Penha dos. e ROCHA, Cláudia Regina Alves da. Conservação de acervos / Museu de Astronomia e Ciências Afins. Rio de Janeiro: MAST, 2007. MAST Colloquia; 9. VENTURELLI, Suzete. ARTE espaço_tempo_imagem. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2004. REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS ANIMA MUNDI. Disponível em: <http://www.animamundi.com.br/animemoria.asp?ano=2008> acesso em 11 dez. 2009 ANIMA MUNDI [blog] Galeria Animada: curtas em exposição. Publicado em 16 jul 2009. Disponível em: <http://animamundifestival.blogspot.com/2009/07/voce-ja-foi-galeria-animada.html> acesso em 03 dez 2009 AMERICAN SOCIETY OF CINEMATOGRAPHERS. 2001. Disponível em: <http://www.universohq.com/cinema/nc30102001_02.cfm>. Acesso em: 09.nov.2008 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CINEMA DE ANIMAÇÃO. DIA INTERNACIONAL DA ANIMAÇÃO. Disponível em: <http://abca.org.br/dia/index.php?option=com_content&view=article&id=790&Itemid=5 3> acesso em 03 dez 2009 BIOGRAPHY OF JOHN GRIERSON. Disponível em: <http://www.universitystory.gla.ac.uk/biography/?id=WH2035&type=P> acesso em 18 dez. 2009 CINEMA 10. “Qual a melhor animação de todos os tempos?” Por Jean Garnier. Disponível em: <http://cinema10.com.br/materias/qual-a-melhor-animacao-de-todos-os-tempos> Acesso em 21 fev. 2010 CINEMATECA BRASILEIRA. História. Disponível em: <http://www.cinemateca.gov.br/page.php?id=1> acesso em 03 dez 2009 CINEMATECA PORTUGUESA-MUSEU DO CINEMA. Disponível em: <http://www.cinemateca.pt/cpmc.asp>. Acesso em: 16 out. 2009 CRUZ, Gabriel. “Sinfonia Amazônica: o primeiro longa-metragem brasileiro de animação” 11 ago. 2009. Disponível em: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/cultura/cinema_teatro/0059.html> Acesso em 20 out 2009 ENCYCLOPÉDIE DE LA MUSIQUE AU CANADÁ. 2009. Disponível em: <http://www.thecanadianencyclopedia.com/index.cfm?PgNm=TCE&Params=Q1ARTQ 0002301> Acesso em: 04 set. 2009. 70 ENCICLOPÉDIA DO CINEMA BRASILEIRO. Disponível em: <http://www.meucinemabrasileiro.com/personalidades/alberto-cavalcanti/albertocavalcanti.asp> Acesso em: 15 out. 2009. ESTADAO. “MoMA reverencia o surrealismo pop de Tim Burton” por Tonica Chagas. Publicada em 9 fev. 2010. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,moma-reverencia-o-surrealismo-popde-tim-burton,508249,0.htm> Acesso em: 21 fev 2010. GARDNIER, Ruy. Filmes brasileiros considerados perdidos ou prestes a sê-lo. Revista Contracampo. Nº 34. Disponível em: <http://www.contracampo.com.br/34/frames.htm> Acesso em: 07 out. 2009. GEORGE MÉLIÈS – Biografia. Disponível em: <http://www.eba.ufmg.br/midiaarte/quadroaquadro/genese/melies.htm> acesso em 03 dez 2009 GOVETT-BREWSTER ART GALLERY [Len Lye]. Disponível em: <http://www.govettbrewster.com/LenLye/about/biography.htm> acesso em 03 dez 2009 HEFFLER, Hernani. Preservação. Revista Contracampo. Nº 34. Disponível em: http://www.contracampo.com.br/34/frames.htm Acesso em: 09 set. 2009. KATCHIANNYA. Norman McLaren: animação e humanismo. No Escurinho do Cinema. 2007. Disponível em: <http://www.abacaxiatomico.com.br/?p=349> Acesso em: 08 nov. 2009. L’ASSOCIATION LES AMIS D’ÉMILE REYNAUD. Disponível em: <http://www.emilereynaud.fr/index.php/> Acesso em 22 set. 2009. MAM - Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Por administrador. Publicado em 28 de junho de 2006. Disponível em: <http://www.mamrio.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=17&Itemid= 33> acesso em 03 dez 2009 McWILLIAMS, Donald. Biography Norman McLaren. Disponivel em: <http://www3.nfb.ca/animation/objanim/en/filmmakers/NormanMcLaren/biography.php> Acesso em 21 ago. 2009 MILLARCH, Aramis. “Há 60 anos, o artista plástico Hans Richter já realizava filmes de vanguarda. Exposição de filmes e fotos de Hans Richter” originalmente publicado em 23 de abril de 1987. Disponível em: <http://www.millarch.org/artigo/ha-60-anos-o-artista-plastico-hans-richter-ja-realizavafilmes-de-vanguarda-exposicao-de-film> Acesso em: 21 fev 2010. MOMA - The Museum of Modern Art: “Tim Burton Sidebar: Waking Sleeping Beauty and Forbidden Zone” Disponível em: <http://www.moma.org/visit/calendar/exhibitions/313> Acesso em 71 MORITZ, William. "Norman McLaren and Jules Engel: Post-Modernists." A Reader In Animation Studies. Ed. Jayne Pilling. Sydney: John Libbey, 1997, 104-111. Disponível em: <http://www.iotacenter.org/visualmusic/articles/moritz/mclarenengel> Acesso em: 08 nov. 2009. MUSEU DO CINEMA DE BERLIM – Uma Visita. Disponível em: <http://www.contracampo.com.br/79/pgfilmmuseum.htm>. <http://www.berlin.de/orte/museum/filmmuseum-berlin/index.en.php> Acesso em: 09. nov. 2008 MUSEU GRÉVIN. Disponível em <http://www.grevin.com/histoire_grevin> acesso em 09 nov. 2008. Musée National Fernand Léger. Disponível em: <http://www.musee-fernandleger.fr/> Acesso em: 21 fev 2010. NATIONAL FILM BOARD OF CANADÁ. 2009. Disponível em: <http://www.onf-nfb.gc.ca/eng/about-us/organization.php> <http://films.nfb.ca/normanmclaren/expo_en/page4.html> <http://www3.nfb.ca/animation/objanim/en/index.php> Acesso em: 20 ago. 2009. NATIONAL MEDIA MUSEUM. Disponível em: http://www.nationalmediamuseum.org.uk/ acesso em 09 nov. 2008 OMELETE. Crítica: Avatar. Por Érico Borgo. Publicada em 14 dez 2009. Disponível em: <http://www.omelete.com.br/cine/100024033/Critica__Avatar.aspx> Acesso em: 21 fev 2010. POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. 1989. Disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/43.pdf acesso em 09 set.2009 QUIRINO CRISTIANI “The Mystey of the First Animated Movies” por Gabriele Zucchelli. Disponível em: <http://www.quirinocristianimovie.com> Acesso em 02 ago 2009. REVISTA ÉPOCA, Matéria: “Branca De Neve E Os Sete Anões”. Publicado em 27 set. 2009 Disponível em: <http://www.disney.com.br/VideoDVD/brancadeneve/noflash/mine/mine_fun.html http://www.tudodvd.com.br/blu-ray/branca-de-neve-e-os-sete-anoes-materia-revistaepoca/> Acesso em 30 set.2009 REVISTA MUSEU. Mostra revela raízes européias do mundo de Walt Disney. Publicado em 04 out 2008. Por Marcelo Crescenti - BBC Brasil. Disponível em: <http://www.revistamuseu.com.br/noticias/not.asp?id=17912&MES=/10/2008&max_por =10&max_ing=5#not> Acesso em: 20 ago. 2009. “Sur lês traces d’Emile Cohl” Disponível em: <http://www.emilecohl.com> Acesso em 03 dez. 2009 THE HISTORY OF THE DISCOVERY OF CINEMATOGRAPHY. Disponível em: <http://www.precinemahistory.net/index.html> acesso em 13 dez. 2009 72 STOP MOTION BRASIL. Oskar Fischinger. Publicado em 7 de maio de 2009. Disponível em: <http://www.stopmotionbrasil.art.br/2009/05/oskar-fischinger.html> Acesso em: 14 out 2009. SUPER INTERESSANTE. “A ciência por trás da arte...” por Tiago Cordeiro. Disponível em: < http://super.abril.com.br/ciencia/ciencia-tras-arte-446755.shtml> acesso em 10 dez. 2009 REFERÊNCIAS AUDIOVISUAIS NATIONAL FILM BOARD OF CANADÁ. 2009. Disponível em: <http://www.onf-nfb.gc.ca/eng/about-us/organization.php> <http://films.nfb.ca/normanmclaren/expo_en/page4.html> http://www3.nfb.ca/animation/objanim/en/index.php http://www.onf.ca/film/la_poulette_grise/ Acesso em: 20 ago. 2009. Filme Fantamasgorie. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=aEAObel8yIE> acesso em 03 dez 2009 Filme Ballet Mécanique. Disponível em: <http://video.google.com/videoplay?docid=-5833675049570762242# http://filmescopio.blogspot.com/2007/10/bal-mecnico-ballet-mcanique-charlot.html> acesso em 03 dez 2009 Demais fontes referenciadas nos anexos correspondentes 73 ANEXO 1 – Cronologia das técnicas e instrumentos antecedentes ao Cinema e à Animação As tentativas para conseguir o movimento da imagem foram diversas, os motivos podem ser variados, mas sempre se tornavam objetos de fascinação e curiosidade. Muitos autores trabalham com a possibilidade da “pré-história” do cinema e descrevem todas estas iniciativas, estudos e “instrumentos” que foram concebidos com a intenção de obter a “arte do movimento”, ou da ”ilusão de ótica”. Neste anexo, estão descritas as principais técnicas e instrumentos utilizados que antecederam ao Cinema e à Animação, mas muitos podem não estar aqui descritos, pois é extensa a listagem de aprimoramentos técnicos. As demais técnicas que são particulares à animação e a torna diferente do cinema serão descritas no anexo 4. 121 A.C – Teatro de sombras chinês é formado por sombras projetadas nas paredes ou atrás de telas finas por fantoches ou máscaras. 1500 – Foram encontrados estudos detalhados de Leonardo da Vinci sobre os efeitos da câmera obscura, com observações, diagramas e explanações. Este material foi descoberto pelo professor Giovanni Battista Venturi que o publicou em 1797. 1645/1671 – Athanasius Kircher (Roma) criou a Lanterna Mágica que “tratavase de uma caixa com uma fonte de luz e um espelho curvo em seu interior, um equipamento simples que possibilitava a projeção de slides pintados em lâminas de vidro” (BARBOSA Jr. p.30); 1674 - Claude Francois Milliet de Chales utilizou a idéia da Lanterna Mágica, mas com o ponto focal para a imagem, além de introduzir corrediças de vidro ao lado, para mostrá-las em sucessão. 74 1794 – Etienne Gaspard Robert (Paris) tornou o Phantasmagoria popular entre adultos e crianças por causa do seu efeito ilusório ao explorar projeções em locais escuros, utilizando efeitos complementares com vidros, espelhos, fumaça e gaze com parafina translúcida. 1824 – Peter Mark Roget publicou o artigo “The Persistence of Vision with Regard to Moving Objects” – Teoria que originou o termo “brinquedos ópticos”; 1825/1826 - William Henry Fitton criou “Thaumatrope”, um pequeno disco circular feito de papel que preso por um fio (barbante) tenciona e gira o desenho da frente e verso do papel. De um lado do papel estava a gravura de um pássaro e no outro, de uma gaiola. Com a velocidade cria-se a ilusão que o pássaro está dentro da gaiola. 75 1832 – Joseph Antoine Ferdinand Plateau criou o Fenaquistoscópio (Phenakistoscope) disco constituído de uma série de desenhos que ao girar cria a ilusão do movimento. 1834 – William Horner criou o zootroscópio ao estudar a persistência do fenômeno ótico, parecido com o fenaquistoscópio, porém com fendas que permitem olhar as figuras em seqüências presas no interior. Gira na velocidade de 14 frames por segundos, as figuras parecem executar movimentos naturais. A palavra Zoetrope é derivada do grego, “roda da vida”. A palavra Daedaleum (como também ficou conhecido o instrumento) é interpretada como a “roda do diabo”. 1850 – Franz von Uchatius utilizou um equipamento baseado na Lanterna Mágica com discos giratórios simulando um projetor de cinema; 1868 – John Barnes Linnett criou o Kineograph ou Flipbook (livro mágico), cujos desenhos são feitos de trás para frente e ao folhear as páginas, cria-se a ilusão do movimento dos desenhos. 76 1876 – A primeira invenção de Emile Reynaud34 foi o Praxinoscópio, trata-se de um brinquedo óptico que possui 12 espelhos com série de desenhos que permite visualizar uma cena em movimento ao girar, é um aperfeiçoamento do zootroscópio com utilização de lanternas. Foi, inclusive, bastante comercializado e apresentado na Exposição Internacional de Paris de 1878; 1870 – Etienne Jules Marey aperfeiçoou a câmara - Esfimógrafo – que utilizava para estudar os movimentos de animais; 1878 – Eadweard Muybridge publicou “Catalogue of Photographic Views” após utilizar 12 (depois 24) câmaras para fotografar a seqüência do movimento de um cavalo de corrida; 1879 – 1880 - Eadweard Muybridge criou Zoopraxinoscópio, associação da lanterna mágica com disco giratório através de 24 slides; 1880 - Emile Reynaud criou Praxinoscópio para projeção: o princípio continuava o mesmo, mas Emile Reynaud acrescentou uma lanterna mágica que lhe permitia projetar para que a imagem fosse visível por um público mais numeroso. Os personagens são desenhados sobre placas de vidro ligadas entre si por pedaços de tecido. 1882 – Emile Reynaud adaptou sua invenção para o Teatro Praxinoscópio fazendo animação de figuras com histórias e cenário; 34 Emile Reynaud é outra grande referencia dos primórdios da animação, sua educação também foi repleta de conhecimentos diversos que resultará na criatividade do seu trabalho. Exerceu a profissão de professor de física e ciências naturais, onde pode desenvolver experimentos relacionados às suas projeções. 77 1892, 28 de outubro - Emile Reynaud, com seu Teatro Óptico – pantomines lumineuses – apresentou a partir desta data dezenas de desenhos e chegou a mais de 13 mil apresentações; por isso, 28 de outubro é considerado o Dia Internacional da Animação. 1887 – Hannibal Williston Goodwin criou a emulsão sensível à luz sobre película flexível de celulóide. George Eastman fez um produto similar, mas enrolado em bobina para câmara Kodak, auxiliando o trabalho de Marey que desenvolveu a estrutura básica da câmara; 1891 – Thomas A. Edison e William K.L.Deckson criam o Kinetoscópio cuja observação das cenas era de uma pessoa por vez e não projetava; Kinetógrafo era a máquina que produzia os filmes; 1895 – Irmãos Lumière criam o Cinematógrafo, projetor de imagens em uma sala para várias pessoas assistirem. Fonte das Imagens: ARTE CAPITAL. Espaços de Filmar. Imagem: Lanterna Mágica, Athanasius Kircher, 1645 Disponível em: <http://artecapital.net/arq_des.php?ref=16> acesso em 13 dez. 2009 L’ASSOCIATION LES AMIS D’ÉMILE REYNAUD. Disponível em: <http://www.emilereynaud.fr/index.php/> Acesso em 22 set. 2009. THE HISTORY OF THE DISCOVERY OF CINEMATOGRAPHY. Disponível em: <http://www.precinemahistory.net/index.html> acesso em 13 dez. 2009 78 ANEXO 2 - LISTA DE ILUSTRAÇÕES CAPA Norman McLaren. Fonte: <http://www.cinematografo.com.br/wp-images/2007/11/mclaren.jpg> Acesso em 03 nov. 2009. Imagem de fundo na capa: repetição da obra de Richard Reeves, um seguidor de McLaren. Fonte: <http://www.superpink.com/interface/index.php?itemid=38> Acesso em 03 nov. 2009. CAPITULO 1 - CONCEITOS, DEFINIÇÕES E HISTÓRICO Figura 1 – Pintura rupestre de Javali com “oito pernas” na caverna da Espanha, com datação de 30 mil anos ......................................................... p.12 Fonte: BARBOSA Junior, Alberto Lucena. Arte da Animação. Técnica e estética através da história. 2002 p. 29 Figura 2 - Giacomo Balla - Ritmo de Violinista, de 1912 ..............................p.12 Fonte: HUMPHREYS, Richard. Futurismo. 2001. p.34 Figura 3 - Eadweard Muybridge - The Horse in Motion, 1872 ……..…..……p.13 Fonte: Disponível em: http://static.royalacademy.org.uk/images/width370/jumping-93.jpg Acesso em 20 out 2009 Figura 4 - Etienne-Jules Marey – Homem de roupa Negra com Listas Brancas nos Braços e nas Pernas Andando em Frente de uma Parede Negra.......... p.13 Fonte: Etienne Jules Marey. Disponível em: http://bilisimkavramlari.files.wordpress.com/2007/04/etienne-jules-marey.jpg Acesso em 20 out 2009 Figura 5 - The lightning sketcher, de Edwin G. Lutz. Ilustração para a revista Life de 15 abr.1897........................................................................................ p.14 Fonte: lightning_sketches. Disponível em: http://1.bp.blogspot.com/_58VRwV_Ih0/SOukTIzzY6I/AAAAAAAAABg/yKs73Bw2Sow/s400/lightning_sketches.jpg Acesso em 20 out 2009 Figura 6 - Fotogramas do filme The enchanted drawing (1900). Ilustração de um espetáculo de lightning sketches. ............................................................p.14 Fonte: lightning_sketches. Disponível em: http://1.bp.blogspot.com/_58VRwV_Ih0/SOukTIzzY6I/AAAAAAAAABg/yKs73Bw2Sow/s400/lightning_sketches.jpg Acesso em 20 out 2009 Figura 7 – Winsor McCay – Cartaz do filme Gertie the Dinosaur (1914).......p.15 Fonte: <http://www.zazzle.com.br/gertie_o_dinossauro_cartao_postal-239402562161238425> Acesso em 20 out 2009 Figura 8 – Cartaz do 1º longa-metragem de Animação Brasileiro – Sinfonia Amazônica – (1953)........................................................................................p.15 79 Fonte: Sinfonia Amazônica: cartaz. Disponível em: <http://www.animamundi.com.br/filmes/8346.jpg> Acesso em 20 out 2009 CAPITULO 2 - ARTISTAS-ANIMADORES E SUAS OBRAS Figura 9 – Gravura de Emile Cohl e Andre Gill..............................................p.26 Fonte: “Sur lês traces d’Emile Cohl” Disponível em: <http://www.emilecohl.com> e <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Emile_Cohl_and_Andr%C3%A9_Gill.jpg> Acesso em 03 dez. 2009 Figura 10 – Emile Cohl – cenas do filme Fantasmagorie (1908) e Emile Cohl com cerca de 80 anos (1937).........................................................................p.26 Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=aEAObel8yIE> acesso em 03 dez 2009 Figura 11 - George Mélies – cena do filme Viagem a Lua (1902) ................p.26 Fonte: GEORGE MÉLIÈS – Biografia. Fonte: Disponível em: <http://www.eba.ufmg.br/midiaarte/quadroaquadro/genese/melies.htm> acesso em 03 dez 2009 Figura 12 - Alexander Alexeieff e Claire Parker – cena de Night on Bald Mountain (1933)..............................................................................................p.27 Fonte: Disponível em: http://www.mellart.com/2008/03/night-on-bald-mountain-1933.html Figura 13 - Wladystaw Starewicz – filme The Cameraman's Revenge (1912) ……………………………………………………………………………………….p.28 Fonte: Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=vIC0Sb6pLvI Figura 14 - filme de Henri-Georges Clouzot, Le Mystère Picasso (1956).....p.29 Fonte: Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Bo9UDldSDgk Figura 15 - Walter Ruttmann, Light-Play Opus I (1921)………………………p.29 Fonte: Disponível em: http://www.medienkunstnetz.de/works/opus1/ Figura 16 - Oskar Fischinger e cena de Allegretto (1936)…......................…p.29 Fonte: Disponível em: http://www.oskarfischinger.org/ Figura 17 – Len Lye e cena de Colour Box (1935)….................................…p.29 Fonte: GOVETT-BREWSTER ART GALLERY [Len Lye]. Disponível em: <http://www.govettbrewster.com/LenLye/about/biography.htm> acesso em 03 dez 2009 Figura 18 – Norman McLaren.....................................................................…p.31 Fonte: NATIONAL FILM BOARD OF CANADÁ. 2009. Disponível em: <http://www.onf-nfb.gc.ca/eng/about-us/organization.php> <http://films.nfb.ca/normanmclaren/expo_en/page4.html> <http://www3.nfb.ca/animation/objanim/en/index.php> Acesso em: 20 ago. 2009. Figura 19 - John Grierson (à direita).........…………………………................p. 32 Fonte: Ibidem Figura 20 - Norman McLaren – cena de Love on the Wing (1937-38)………p.33 Fonte: Ibidem 80 Figura 21 - Norman McLaren – cena de Boogie Doodle................................p.34 Fonte: Ibidem Figura 22 - Norman McLaren – cena de Blinkity Blank..................................p.35 Fonte: KATCHIANNYA. Norman McLaren: animação e humanismo. No Escurinho do Cinema. 2007. Disponível em: <http://www.abacaxiatomico.com.br/?p=349> Acesso em: 08 nov. 2009. Figura 23 - Norman McLaren e a equipe National Film Board of Canadá – NFB / Office National du Film du Canadá – ONF (foto: 1952)................................p.36 Fonte: NATIONAL FILM BOARD OF CANADÁ. 2009. Disponível em: <http://www.onf-nfb.gc.ca/eng/about-us/organization.php> <http://films.nfb.ca/normanmclaren/expo_en/page4.html> http://www3.nfb.ca/animation/objanim/en/index.php Acesso em: 20 ago. 2009. Figura 24 - Norman McLaren – cena de Hen Hop.........................................p.37 Fonte: Ibidem Figura 25 - Norman McLaren trabalhando para animação Le Merle.............p.37 Fonte: Ibidem Figura 26 - Norman McLaren – cena de La Poulette grise............................p.38 Fonte: Ibidem Figura 27 - Norman McLaren – cena de Là-haut sur ces montagnes............p.38 Fonte: Ibidem Figura 28 - Norman McLaren – cena de A Little Phantasy on a 19th-Century Painting …………………………………………………….……………………….p.38 Fonte: Ibidem Figura 29 - Norman McLaren na China em 1949...........................................p.39 Fonte: Ibidem Figura 30 – Norman McLaren – cena do filme Neighbours...........................p.39 Fonte: Ibidem Figura 31 – Norman McLaren e Evelyn Lambart ..........................................p.40 Fonte: Ibidem Figura 32 – Cena do filme: Pás-des-deux .....................................................p.42 Fonte: KATCHIANNYA. Norman McLaren: animação e humanismo. No Escurinho do Cinema. 2007. Disponível em: <http://www.abacaxiatomico.com.br/?p=349> Acesso em: 08 nov. 2009. Figura 33 – Cena do filme: Narcissus ...........................................................p.42 Fonte: KATCHIANNYA. Norman McLaren: animação e humanismo. No Escurinho do Cinema. 2007. Disponível em: <http://www.abacaxiatomico.com.br/?p=349> Acesso em: 08 nov. 2009. 81 CAPITULO 3 - MUSEOLOGIA E ANIMAÇÃO Figura 34 – Filmmuseum de Berlim....................................................,..........p.51 Fonte: MUSEU DO CINEMA DE BERLIM – Uma Visita. Disponível em: <http://www.contracampo.com.br/79/pgfilmmuseum.htm>. <http://www.berlin.de/orte/museum/filmmuseum-berlin/index.en.php> Acesso em: 09. nov. 2008 Figura 35 – Claude Coats Fantasia - The Sorcerer's Apprentice, 1940. study, oleo sobre papel, 25 x 31,3 cm. Burbank, Walt Disney Animation Research Library © Disney Enterprises, Inc e Destino - White telephone and ruins, 1946. Productionbackground, oil on wood, 47,9 x 60,6 cm. Burbank, Walt Disney Animation Research Library © Disney Enterprises, Inc.........................52 Fonte: Hypo-Kunsthalle. Disponível em: < http://www.hypokunsthalle.de/newweb/edisney.html> Acesso em 08 jan.2010 Figura 36 – Sede atual Cinemateca Brasileira...............................................p.54 Endereço: Largo Senador Raul Cardoso, 207 - Vila Clementino - São Paulo. O espaço era o antigo Matadouro Municipal (século XIX) foi cedido pela Prefeitura da cidade a partir de 1992. Os prédios foram tombados pelo Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo, e restaurados pela entidade. Fonte: CINEMATECA BRASILEIRA. História. Disponível em: <http://www.cinemateca.gov.br/page.php?id=1> acesso em 03 dez 2009 Figura 37 – Théâtre Grévin (Paris) ..................................................................57 Fonte: MUSEU GRÉVIN. Disponível em <http://www.grevin.com/histoire_grevin> acesso em 09 nov. 2008. Figura 38 – Exposição sobre Len Lye da Govett-Brewster Art Gallery e The Len Lye Foundation em New Plymouth.............................................................57 Fonte: GOVETT-BREWSTER ART GALLERY [Len Lye]. Disponível em: <http://www.govettbrewster.com/LenLye/about/biography.htm> acesso em 03 dez 2009 Figura 39 – Galeria ANIMA MUNDI e Algumas animações que foram exibidas na galeria ANIMAM MUNDI...............................................................................59 Fonte: ANIMA MUNDI [blog] Galeria Animada: curtas em exposição. Publicado em 16 jul 2009. Disponível em: <http://animamundifestival.blogspot.com/2009/07/voce-ja-foi-galeriaanimada.html> acesso em 03 dez 2009 82 ANEXO 3 - Norman McLaren – Vida e Obra 1914 (11 de abril) – Stirling, Scotland - Nasce Norman McLaren 1932 – Ingressa na Escola de Belas Artes de Glasgow (Glasgow School of Art) 1935 - Conhece John Grierson - futuro fundador do National Film Board of Canadá 1935 – Polychrome Phantasy 1935 – Colour Cocktal 1935 – Five Advertising Shorts 1936 - Fez um curta com Helen Bigger e MacLean que mesclou técnicas de documentário e animação criticando a guerra Hell Unlimited. 1936 - Trabalha como camera de um documentário durante a Guerra Civil Espanhola Defense of Madrid – fato que o influencia a migrar para os Estados Unidos anos depois. 1937 - Book Bargain, News for the Navy, GPO Trailer, Mony a Pickle, com Cavalcanti (produtor) 1936-1939 - À convite de John Grierson trabalha no General Post Office Film Unit 1938 - Love on the Wing - 1º filme profissional, com Cavalcanti e Jacques Ibert (produtores) 1939 – The Obedient Flame – com Arthur Elton (produtor) 1939 – NBC Xmas Card – com Benny Goodman 1939 – Migra para EUA, Nova York. 1940 - Realiza filmes para o Museum of Non-Objective Art, (futuro Museu Guggenheim) 1940 - Dots 1940 - Loops 1940 – Scherzo e NBC Valentine Greeting (com Albert Ammons) – são filmes que não foram finalizados. Estavam perdidos, foram recuperados, restaurados e completados em 1985 por Norman McLaren e Donald McWilliams. 1941 – Happy Birthday for Solomon Guggenheim 1941 - Stars and Stripes - com John P. Sousa 1941 - Boogie Doodle 1941 - Spook Sport 83 1941 – Em outubro muda-se para o Canadá para trabalhar no National Film Board of Canadá – NFB / Office National du Film du Canadá – ONF 1941 – Mail Early – filme publicitário, com Benny Goodman. 1941 - V for Victory - com J.P. Sousa. 1942 - Five for Four - com Ammons. 1942 - Hen Hop – com música e tema folclórico 1943 - Dollar Dance – com Louis Applebaum, Guy Glover e Robert Anderson. 1944 - Alouette – com René Jodoin - primeiro da série onde Grierson’s coordena. 1944 - C'est l'aviron – com Maurice Blackburn e Alouette Trio. Série de canções populares. 1944 - Keep your Mouth Shut – com George Dunning, relacionado à guerra. 1945 - Là-haut sur ces montagnes – com Maurice Blackburn e Alouette Quartet. Série de canções populares e folclóricas. 1946 - A Little Phantasy on a 19th-Century Painting – Applebaum – som sintético. 1946 - Hoppity Pop – com musica de órgão mecânico. 1947 - Fiddle-De-Dee – com Eugene Desormeaux 1947 - La Poulette grise – com Anna Malenfant e Evelyn Lambart, canção folclórica. 1949 – McLaren viaja para China para um projeto educacional de artes para UNESCO 1949 - Begone Dull Care – com Evelyn Lambart e o Trio de Oscar Peterson de jazz. 1950 - Pen Point Percussion – Sobre o som sintético. 1951 - Around is Around – Utiliza o método de fotografar modelos diretamente para a área de trilha sonora, gerando efeito estereoscópico. Raymond Spottiswoode, Chester Beachall e múisica de Louis Applebaum. 1951 - Now Is the Time – Técnica idem ao filme anterior - com Raymond Spottiswoode. Som sintético. 1952 - Neighbours – com Grant Munro, Jean-Paul Ladouceur, Wolf Koenig e Evelyn Lambart. Som sintético. 1952 - A Phantasy – com música do saxofone de Maurice Blackburn e sons sintéticos. 1952 - Two Bagatelles – com Grant Munro e Koenig. Som sintético. 1953 – Oscar do filme Neighbours 84 1955 - Blinkity Blank – com Maurice Blackburn e som sintético. 1955 – X-Rays – com Donald McWilliams – desenho sobre raio-x da sua própria cabeça 1956 - Rythmetic – com Evelyn Lambart. Som sintético. 1957 - A Chairy Tale – Música interpretada por Ravi Shankar et Chatur Lal; Claude Jutra, Evelyn Lambart, Hebert Taylor. 1958 - Le Merle – Feito com recortes de papel e montagem. Canção folclórica. Com Maurice Blackburn, Trio Lyrique e Evelyn Lambart. 1959 - Mail Early for Christmas – Música de Eldon Rathburn. 1959 - Serenal – com a orquestra Grand Curacaya de Trinidad. 1959 - Short and Suite – Música de Eldon Rathburn. 1960 - Lines Vertical – com Maurice Blackburn no piano eletrônico e Evelyn Lambart 1962 - Lines Horizontal – com Pete Seeger e Evelyn Lambart. 1964 - Canon – Filme semi-didático sobre a música para empresa Canon. Com participação de Grant Munro e música de Rathburn. 1965 - Mosaic – com Evelyn Lambart e Ron Alexander. Som sintético. 1967 - Pas de deux – com Ludmila Chiriaeff, Vicent Warren, Margaret Mercier, Maurice Blackburn, Jacques Fogel, Waily Howard. 1969 - Spheres – com Jodoin, Glenn Gould. J.S. Bach 1971 - Synchromy - Som sintético. 1972 - Ballet Adagio – com David e Anna-Marie Holmes Albinoni 1976-78 - Et Animated Motion – Série de cinco estudos preparados por McLaren sobre técnicas de animação. Com Munro, Auteur Stephen C. Willis e Patrícia Wardrop 1983 - Narcisse – Interpretação sob forma de balé do mito grego. Com Donald mcWilliams, Fernand Nault, J.L. Morin, S. Kinal, S.Lafortune, Maureen Forrester, D. de Volpi, Maurice Blackburn, entre outros. 1987 (26 de janeiro) – Morre com 72 anos Norman McLaren. 85 ANEXO 4 - Técnicas de animação – por Donald McWilliams (1991) in Creative Process: Norman McLaren. Buscando aproximar as técnicas a este trabalho, foi feita a adaptação deste texto que expõe basicamente as técnicas mais utilizadas na animação, referenciando o artista-animador Norman McLaren. Na animação, o movimento é criado através da seqüência dos “quadros” (frames), “dando vida”, de forma lúdica, a objetos inanimados ou desenhos. Seguindo este princípio, quase tudo pode ser animado: desenhos, barro, areia, palitos de fósforo, pregos, pintura a óleo, etc. As técnicas são inumeráveis, limitando-se apenas pela imaginação do animador. Basicamente o equipamento necessário para animação é uma câmera que possa “fotografar quadro a quadro”, cada imagem que irá compor o filme. Mas, como McLaren demonstrou, nem a câmera é extremamente necessária quando o animador desenha diretamente no filme. Hoje em dia, os sistemas de computação gráfica cada vez mais estão sendo utilizados por animadores com este mesmo intuito. ANIMAÇÃO EM ACETATO Os desenhos são feitos em folhas transparentes de acetato, cada etapa da ação. Cada plano de uma cena é criado em uma folha, apenas o que precisa ser movimentado, vai sendo alterado “quadro a quadro”. ANIMAÇÃO EM PAPEL Ao invés da transparência, é desenhado em folhas de papel e todos os elementos precisam ser repetidos para cada quadro. Por isso, uma forte característica da animação em papel é simplificar o trabalho utilizando desenhos em preto e branco. ANIMAÇÃO COM RECORTES As formas bidimensionais são movidas à mão e filmadas quadro a quadro a cada alteração para dar a ilusão do movimento. Le Merle e Rythmetic são exemplos de trabalhos de McLaren com esta técnica. ANIMAÇÃO DE OBJETOS Semelhante à animação de recortes, neste caso o animador move os objetos tridimensionais, que podem ser extremamente pequenos ou grandes como manequins. Também é conhecida por Stop-motion. AREIA, PINTURA, PASTEL ETC. Nesta técnica utiliza-se de materiais fluidos animados de forma seqüencial. O animador começa "com uma pintura", e capta quadro a quadro após cada alteração, conseqüentemente, os erros não podem ser corrigidos. Se for o caso, deve recriar a obra no estado original e começar novamente. Lahaut o Sur ces Montagnes, e La Poulette Grise são exemplos desta técnica de McLaren. 86 PlXILLATION Os atores são filmados quadro a quadro e sequencialmente, desta forma, eles podem apresentar ações e tempos diferentes de uma atuação humana direta, causando a impressão que os atores são bonecos manipulados. Neighbours e Two Bagatelles são exemplos na obra de McLaren nesta técnica. ANIMAÇÃO SEM CÂMERA, DIRETA NA PELÍCULA Esta técnica, primeiro realizada por Len Lye nos anos 1920, é feita pelo animador com pinturas ou arranhões diretamente na película. McLaren fez vários filmes desta forma: Begone Dull Care, Hen Hop e Blinkity Blank. MCLAREN, Norman. On The Creative Process. Copiled and edited by Donald McWilliams. Canada: National Film Board of Canada. 1991. Tradução da autora das páginas 105 e 106. Texto original: “In animation film, an illusion of movement is created frameby-frame, so that otherwise inanimate objects and forms become lifelike on the screen. As a consequence, Norman McLaren defined animation as movements which are drawn, rather than drawings which are moved. He believed that "how it moves is more important than what moves. Though what moves is important, in relative order of importance, it's how it moves that's the important thing." Almost anything can be animated: drawings, clay, sand, matchsticks, nails, oil paint, etc. Techniques are myriad, limited only by the imagination of the animator. Basic equipment consists of a camera which can shoot one frame at a time. But, as McLaren demonstrated, not even the camera is necessary when the animator draws directly on the film. Now, computers are being used increasingly by animators; and the opportunities offered by this piece of technology have, as yet, only been glimpsed. Here are descriptions of some of the more common animation techniques.” CEL ANIMATION This is the most common method. Drawings are made on transparent sheets of acetate (eel) for each stage in the action. Consequently, elaborate static backgrounds (in full chiaroscuro) can be painted on one eel, and only the moving foreground figures have to be redrawn frame-byframe on separate eels. PAPER ANIMATION Instead of eel, the film is drawn on sheets of paper. Since paper is not transparent as in eel animation, all the elements in the drawing have to be repeated for each frame. A characteristic of paper animation is, therefore, simplified drawing without chiaroscuro. CUT-OUTS Two-dimensional forms are moved by hand and filmed frameby-frame. Le Merle, Spheres and Rythmetic are examples of McLaren's work with cut-outs. OBJECT ANIMATION Similar in spirit to cut-out animation; but here the animator will move three-dimensional objects, some as small as beads, others as large as mannequins. SAND, PAINT, PASTEL ETC. Fluid materials are animated a frame at a time. The animator begins with a "painting," and then proceeds to aller il frameby-frame. Consequently, errors cannot be corrected. The animator must recreate the original state and begin again. Lahaut sur ces montagnes, and La Poulette grise are examples of McLaren's work in this method; although, as he demonstrated in Creative 87 Process, he tended to use the dissolve as the means of moving from one slate of the drawing to the next, rather than the single-frame mechanism on the camera. PlXILLATION Human beings are moved one frame at a time. Consequently, they can behave in ways not normally possible for humans. Neighbours and Two Bagatelles are two examples of McLaren pixillation. ANIMATION WITHOUT A CAMERA In this technique, first executed by Len Lye in the 1920s, the animator draws or paints or scratches directly onto movie film. McLaren made several films in this manner, most notably Begone Dull Care, Hen Hop and Blinkity Blank. And, of course, there are all those other techniques waiting to be invented! Donald McWilliams ( 1991) 88