Abr 2008 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino

Transcrição

Abr 2008 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino
2
abr-mai/08
Quem vai ser o Ponteiro?
O ARCO JORNAL
é o veículo informativo da
ASSOCIACÃO BRASILEIRA DE CRIADORES
DE OVINOS – ARCO
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1° Vice-presidente: Teófilo Pereira Garcia
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1° Secretário: Wilson José Mateo Dornelles
2° Secretário: Antônio Gilberto da Costa
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Paulo Sérgio Soares
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Edição
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Jornalista responsável
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a fonte.
Colaborações, sugestões, informações,
críticas: [email protected]
P
or vários estados que
ando, em várias reuniões que já estive
ou exposições que participo um assunto é recorrente
entre os criadores. E é um
tema que aparece com uma
solicitação junto. Criadores
de todos os cantos do Brasil
estão sempre falando - às vezes em tom de reclamação, às vezes de indignação - que está faltado organizar a cadeia produtiva da ovinocultura, seja no setor de carne, seja no de lã, ou pele. Dizem que estão
faltando projetos que levem, por exemplo, a carne
ovina à mesa do consumidor em maior quantidade
ou mesmo em valores mais adequados à realidade
do bolso da maioria dos brasileiros. E, novamente,
neste momento, me pedem para que a ARCO tome
uma atitude para organizar este processo.
Já dissemos em momentos anteriores que a ARCO
tem projetos e os está executando, em nível nacional.
É o caso do Carne de Qualidade, realizado em parceria com o Senar/RS, o Sebrae e a nossa entidade.
Um projeto-piloto que reúne todos os componentes
da cadeia, colocando a carne em estabelecimentos
comerciais de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
Mas quero aproveitar este tema para lançar bem
mais uma reflexão e uma proposição do que um
olhar crítico. Tenho lido em diversas publicações especializadas ou mesmo em jornais diários, notícias
sobre produtores ou empresários que criam projetos
de produção de ovinos com o objetivo de atender ao
mercado de consumo deste produto. Fico feliz com
isto porque são exemplos de pessoas que tomaram
a atitude e enfrentaram todas as adversidades para
conquistarem um espaço neste mercado. E, de certa
forma, eles acabam aumentando o interesse de outros pela ovinocultura.
E quando junto as solicitações dos criadores com
estes exemplos, uma idéia me ocorre de pronto. Tenho me reunido com as associações estaduais de
criadores, nossas afiliadas, para tratarmos de assuntos diversos. E nestes fóruns são recorrentes as
Leitor
Linhas de crédito
Gostaria, se possível, o telefone
do Sr. Cristiano Costalunga
Gotuzzo que está na matéria
da pg 4, intitulada “Linhas de
crédito para a ovinocultura”.
Estou interessado em fazer um
projeto e gostaria de alguns
esclarecimentos.
Gabriel Brasil Cardoso
gabrielbrasilcardoso@hotmail.
com
Caro Gabriel
Muito obrigado pela consulta.
Espero que tenha gostado da
edição de fevereiro/março do
ARCO JORNAL. Você pode
encontrar a fonte desta notícia,
Cristiano Costalunga Gotuzzo,
pelos fones: 53-3257.2925 e
9973.7724 ou email cgotuzzo@
yahoo.com.br
Editorial
solicitações destas entidades por ações que possam
trazer mais para perto delas, os criadores dos seus
estados e seus associados, a fim de que participem
mais das atividades que elas propõem.
Pois é aí que vem minha proposição. Creio que
as associações estaduais, podem e devem exercer
um papel bem mais pró-ativo, com proposições e
ações que tragam para si o interesse dos criadores
e resultem em novos sócios. Creio que se a ARCO
está realizando projetos em nível nacional, com o
objetivo de movimentar a cadeia produtiva da ovinocultura, os representantes estaduais poderiam
fazer o mesmo, em nível local, buscando recursos
e realizando concretamente projetos que tragam benefícios a todos os criadores de ovinos. Quem sabe
tomem para si, a tarefa de serem os ponteiros para
desencadearem uma reação de todos no sentido de
organizar grupos de produtores em projetos de produção de carne, lã, pele e outros produtos? Porque
se em minhas conversas vejo que os criadores estão
clamando para que alguém os guie por um caminho,
quem melhor para fazer isto do que as associações e
staduais, que vivem a realidade local e conhecem os
representantes governamentais que podem auxiliar
a concretizar o projeto?
Creio e vejo desta forma. Os ovinocultores estão
maduros, sedentos por terem alguém que os oriente ou os ajude a se organizarem em um projeto. As
associações são seus representantes nos Estados.
Porque não juntar uma vontade com a outra e, unidos, realizarem um trabalho cujo fruto, todos vão
usufruir? E este é o momento. Nunca a ovinocultura
esteve tão em destaque como agora. E precisamos
aproveitar o momento para crescermos enquanto
atividade econômica. Precisamos aumentar o rebanho e projetar, como objetivo, que o brasileiro consuma, pelo menos uma vez por semana, a carne que
produzimos. Pois isto movimenta a todo o setor e
muitos vão ganhar com isto. E quem pode começar
tudo isto? As associações estaduais de criadores. E
então, quem vai ser o ponteiro?
Paulo Schwab - Presidente da ARCO
3
abr-mai/08
Entrevista
C
A ovinocultura vista pelo Nordeste
omo que confirmando a existência da
lenda da Fênix, o pássaro que renasce
das cinzas, a ovinocultura do Norte e
do Nordeste brasileiro passa por um momento vigoroso, de “renascimento”, de pujança.
Investimentos em rebanhos, em projetos de
construção da cadeia produtiva para a comercialização da carne e dos produtos ovinos,
melhoramento genético em alta. Para fazer
uma reflexão sobre a ovinocultura do País e
do Nordeste, o Arco Jornal convidou Suetônio
Vilar Campos, vice-presidente da entidade,
para um dedo de prosa. Sue como é chamado carinhosamente é Engenheiro Agrônomo,
produtor rural em Taperoá, cidade a 250 km
de João Pessoa, aonde cria ovinos Santa Inês
e Rabo Largo e bovinos Simental. É um apaixonado pela ovinocultura e vai completar, em
2008, 50 anos de seleção na raça Santa Inês.
Arco Jornal – Qual a importância da Ovinocultura
no País hoje?
Suetônio Campos – A ovinocultura vem crescendo
como um todo, em todas as
raças de corte, no Brasil inteiro, confirmando a grande vocação agropecuária do nosso
País.
AJ – E no nordeste?
Suetônio Campos – No nordeste as raças deslanadas que
ciclam o ano todo, são o carro chefe do desenvolvimento,
nos últimos vinte anos. A raça
Santa Inês que tem resistido
heroicamente, aos mais loucos cruzamentos de falsos
selecionadores que só atrapa-
lham, uma vez que a pecuária
de pequenos ruminantes é a
principal atividade produtiva
do nosso semi-árido.
AJ – Quais os principais
planos que podem ser desenvolvidos para o crescimento
desta atividade no Brasil?
Suetônio Campos – O Ministério da Agricultura acena
com planos que possam povoar o norte do Brasil com
ovinos. Seguindo os passos
do Zebu que é o grande desbravador da região amazônica. Acredito piamente no
potencial do meu País e na
força de vontade dos nossos
criadores. Falta apenas um
plano de crédito rural decente
Suetônio: Devemos nos defender das mestiçagens transitórias
e compatível com a ovinocultura, a exemplo do que vi na
Austrália e nos Estado Unidos
(Texas).
AJ – Qual a contribuição
das raças deslanadas para
este objetivo?
Suetônio Campos – Uma
contribuição essencial, seja
pela qualidade de sua carne
magra e enxuta, pela sua prolificidade, rusticidade, adaptação aos mais difíceis ambientes e, principalmente, a qualidade das suas peles.
AJ – Qual é a sua visão
sobre a função da ARCO
para a ovinocultura?
Suetônio Campos – A principal função seria a racionalização dos padrões raciais para
o registro formal dos animais,
incluindo parâmetros com
técnicas novas que regula o
serviço cartorial do registro
genealógico. O regulamento
Suetônio e sua "Hebe Camargo" - ventre tem 16 anos em produção
desse importante serviço deveria criar condições a serem
atendidas, convertendo-o num
impulso para o melhoramento
funcional das deslanadas, de
forma efetiva. É o caso de
criar peso mínimo por idade
e categoria e, principalmente,
peso máximo, eliminando assim, aberrações que destroem
a genética essencial das deslanadas, patrimônio do Brasil e,
mais ainda, da floresta seca do
Nordeste, onde vivem 25 milhões de brasileiros.
AJ – Qual seria o papel
dos criadores para ajudarem
a ovinocultura a crescer?
Suetônio Campos – Conscientizarem-se que a ovinocultura das deslanadas é uma
atividade econômica básica do
semi-árido, libertadora da pobreza nordestina e defender-se
das distorções que exposições
e juízes praticam. Desorientan-
Criador mostra seu rebanho da raça Santa Inês
do com mestiçagens de efeito
transitório e caricaturado, a
realidade econômica e política
da pecuária nordestina.
AJ – Qual a importância
das Câmaras setoriais de ovinos para a atividade?
Suetônio Campos – Na sua
dimensão política são fundamentais para o fomento e a
produção em bases sólidas da
pecuária ovina do Nordeste e
de todo o País.
AJ – Faça as suas considerações finais.
Suetônio Campos – Finalmente me sinto a vontade, como
técnico e selecionador pioneiro
de ovelhas Santa Inês, para dizer da experiência de uma vida
inteira, driblando equívocos e
reservando o companheirismo
dos que se envolvem com esse
importante setor da produção
possível nesse meu mundo do
sertão seco do Nordeste. ●
4
fev-mar/08
História
Por Nicolau Balaszow
“Quando um grupo de
criadores proclamou a idéia
da fundação da ARCO, em
1942, certamente não imaginava que a semente então
lançada iria se transformar
na árvore produtiva de hoje,
proporcionando a colheita
de tão abundantes frutos.
Longo e árduo foi o caminho percorrido. Depois
de uma fase inicial difícil,
conseguiu a sua verdadeira
estruturação em 1944, realizando, no ano seguinte, a
primeira exposição de ovinos controlados”.
A
ssim começa o editorial
deste mês no site oficial
da ARCO, e o texto quer
relembrar a passagem dos 66 anos
de existência da entidade, comemorados no último dia 18 de janeiro de 2008. Ela foi idealizada
pelo engenheiro agrônomo Geraldo Velloso Nunes Vieira (hoje
com 97 anos, vivendo em Porto
Alegre), na época chefe do Serviço de Ovinotécnica da Secretaria
da Agricultura do estado do Rio
Grande do Sul. Entusiasta da ovinocultura, o agrônomo organizara
em 1939 a 1ª Exposição Estadual
de Lãs, na cidade de Uruguaiana.
Ali, através de suas idéias inovadoras e pela persistência doutrinária junto aos criadores, nascia a
exploração racional e econômica
da ovelha. Passaram-se ainda três
anos para a oficialização da Associação. A sede se estabeleceu na
cidade de Santana do Livramento
para, posteriormente, em 1944,
ser transferida para o município
de Bagé onde criou raízes. A sua
localização, inicialmente, se deu
onde hoje está instalada a Câmara de Vereadores do município.
Coube a João Farinha assumir a
direção da primeira gestão, tendo
como presidente de honra Ataliba
Figueiredo Paz, secretário de Indústria e Comércio do RS. Passados dois anos, a tarefa de solidificar a entidade esteve nas mãos do
engenheiro agrônomo José Alves
Nunes Vieira, entre os anos de
1944 e 1950.
“A ARCO é Brasil”, diz o superintendente de Registros Genealógicos de Ovinos, engenheiro
agrônomo Francisco Perelló (82),
quando se referia ao grau de importância que a atual Associação
Brasileira de Criadores de Ovinos
alcançou desde a sua fundação.
Ele explica que a sigla (antiga
Associação Rio-Grandense de
Criadores de Ovelhas) foi man-
ARCO - Desde 1942
transformando a ovinocultura
Sede da ARCO em Bagé, RS
tida porque nos mercados da
Austrália, África do Sul e Nova
Zelândia, em especial, a marca
já era uma referência largamente
difundida. A sua nacionalização
aconteceu em 1975 na gestão do
veterinário Amilcar da Rosa Bittencourt.
A história da Associação também pode ser contada através de
números e, na atualidade, estes
mostram 3.922 associados regulares, um plantel estimado de 14
milhões de cabeças com 26 raças oficiais espalhadas por todo
o país. “E mais, enfatiza Perelló,
nos últimos dez anos vimos o
crescimento da ARCO em mais
de 600%, pois passamos de 10
mil certificados de registro para
cerca de 70 mil ao ano”. Também
informa que a entidade dispõe de
21 representações nos estados da
federação, sendo que outros dois,
no Amazonas e Roraima estão em
vias de formalizarem a sua adesão.
Abnegados e teimosos, os
criadores protagonizaram através
da Associação, a partir da década de 60, um salto quantitativo e
qualitativo nos rebanhos graças à
criação do Registro Genealógico Brasileiro (RGB). Além desta
providência, Perelló dá relevância a atuação do veterinário Geraldo Nunes Vieira: na época, ele
iniciou um grupo de profissionais
que passariam a atuar como Inspetores Técnicos (IT). “O sucesso
do último encontro de IT na cidade de Avaré em São Paulo, comprovou mais uma vez o importante papel exercido por Nunes
Vieira. Sendo que, no presente, a
ARCO conta com 123 profissio-
nais espalhados em todo o território nacional”, destaca.
Já para o veterinário João Manoel Vieira “a entidade vive um
momento espetacular”, e não esquece de citar a figura do ex-ministro da Agricultura Cirne Lima,
no início dos anos 70, quando
convocou a primeira Jornada de
Ovinocultura no nordeste. “Esta
ação foi decisiva não só para a
expansão da ARCO e de sua representatividade, mas como para
toda a comunidade de criadores”,
enfatiza. Presidente da Associação na gestão de 84 a 86, João
Vieira assistiu aos primeiros passos dos estudos da Fisiopatologia
da Reprodução em ovelhas e chefiou os trabalhos de inseminação
no Brasil e conseqüente seleção
das raças que conhecemos hoje.
O engenheiro agrônomo Ricardo Wagner Saraiva Vieira (73),
testemunhou aquilo que considera como decisivo para que a entidade ganhasse status nacional; “a
inclusão do nordeste no roteiro da
criação de ovinos foi estimulada
pelo então ministro da agricultura”. Daí, no final dos anos 60 e
início dos 70, Vieira, diretor técnico, fora designado para realizar
o primeiro estudo de viabilidade
das raças ovinas da região. “Visitamos os estados do Ceará, Bahia,
Piauí e Goiás, e constatamos a
possibilidade de unificar diversas raças ali existentes. Tempos
depois obtivemos a homologa-
ção das raças Bergamacia, Rabo
Largo, Somális, Morada Nova e
Santa Inês, entre outras, que participaram oficialmente da primeira exposição de ovinos na cidade
de Uaua, na Bahia em 1971”. A
propósito, a raça Santa Inês tem
este nome devido a sugestão do
agrônomo Ricardo Vieira. Ele
também guarda até hoje ofício
emitido em 1976 pela Associação dos Criadores de Ovelhas do
Estado do Ceará (Acocece), onde
estão documentadas as ações decisivas descritas anteriormente.
Presidente da ARCO entre 1962
e 64, o engenheiro agrônomo, José
Cypriano Nunes Vieira (81), continua acompanhando os passos da
entidade e, em seu depoimento fez
questão de referir-se ao trabalho
desempenhado pelo atual gestão,
“eles assumiram a entidade num
momento bastante delicado e, ainda assim, conseguiram resgatar a
saúde financeira e mantiveram os
princípios originais que sempre
nortearam a Associação”. Cypriano também presenciou a diversos
acontecimentos e os valorizou de
tal modo que hoje podemos ler
os seus relatos no livro: “Fastos
da História Gaúcha”, editado em
1998 pela Urcamp de Bagé. As
suas lembranças permitem dimensionar com profundidade o valor de
inúmeros personagens que produziram, no final das contas, um rico
material literário e transformaram a
cara da ovinocultura brasileira. ●
Geraldo Nunes Vieira - pioneiro e visionário
Em 1939, quando ocupava
o cargo de chefe do Serviço de
Ovinotecnia da Secretaria da
Agricultura do RS, o engenheiro agrônomo Geraldo Velloso
Nunes Vieira aproveitou a 1ª
Exposição Estadual de Lãs, em
Uruguaiana, para convencer e
estimular um expressivo contingente de pecuaristas quanto
à necessidade da criação de
uma entidade oficial para a
organização da ovinocultura.
Nascia daí a atual Associação Brasileira de Criadores de
Ovelhas (ARCO).
Considerado um verdadeiro
símbolo da agropecuária brasileira, Geraldo, muito próximo
de completar 98 anos de vida,
é natural de Pelotas, onde nasceu em 22 de outubro de 1910.
Formou-se e passou a dedicarse, como técnico, a um trabalho
de pioneirismos, próprios dos
grandes visionários. Assim,
também é dele a idéia de ofere-
Geraldo é grande incentivador da ovinocultura nacional
cer anualmente um certificado
de qualidade da lã produzida a
cada criador cadastrado regularmente junto à ARCO. Ele
foi ainda mais generoso quando organizou, em 1959, a primeira Exposição Nacional de
Animais, em Porto Alegre, da
qual se originou a Expointer.
Dono de um currículo sem
igual, Geraldo ocupou mais de
15 cargos em funções públicas,
48 participações no magistério
(Professor Emérito da UFRGS
em 1982), 27 homenagens recebidas, igual número de atuações
em atividades associativas, 45
cursos ministrados no Brasil e
no exterior, quase uma centena de artigos e trabalhos sobre
agropecuária publicados em
revistas e jornais.
“Leitor contumaz, ele sempre teve o hábito de colecionar frases”, explica a sua esposa Teresinha. Dentre tantas
que poderiam ser escolhidas,
talvez, a que mereça maior
destaque seja aquela que ele
escolheu figurar na introdução do seu livro, Agropecuária – Verdades que Resistem
ao Tempo, da editora AGE
de 1995. “Para que não sejas
esquecido tão logo morras,
escreve coisas que merecem
ser lidas ou então, faze coisas
a respeito das quais se escrevam”. Esta citação é de Benjamim Franklin e, ao que se
sabe, tanto os escritos como
as ações mostram o homem
empenhado em favorecer a
ciência através de sua sabedoria e à sociedade pelo seu
exemplo.
Obrigado Geraldo! ●
5
abr-mai/08
Notícias do brete
Expocrato
vai reunir o melhor do Nordeste
De 13 a 20 de julho,
Expocrato deve passar
mais de mil animais
em pista, buscando título
de melhor exposição
do Nordeste
Ela é considerada atualmente a primeira Exposição
em termos de relevância, na
pecuária cearense, e pretende
se tornar a número um entre
todas, no que se refere à importância econômica. Para
tanto o parque de Exposições
já está passando por importantes reformas a fim de melhorar as dependências e ampliar
a capacidade de recepção de
animais. Marcada para os dias
13 a 20 de julho a Expocrato,
realizada na cidade de Crato,
sul do Ceará está esperando um volume de inscrições
maior que o ano passado.
Segundo o presidente do
Francisco Leitão de Moura
comitê Gestor do evento,
Francisco Leitão de Moura,
a razão para esta expectativa
está no fato de que a Expocrato
vai sediar a IIª Exposição Nacional de Morada Nova, a Vª
Nacional de Caprinos da Raça
Anglonubiana e a Iª Nacional
de Ovinos da Raça Somalis,
além de diversos leilões e julgamentos de outras raças ovi-
nas, caprinas, bovinas de corte
e leite e eqüinas. “Devemos
passar de mil animais em pista, imagino”, salienta Leitão.
Para a Exposição, conforme
os organizadores comparecem
criadores do Ceará e de diversos estados vizinhos, movimentando o parque ao longo
dos 10 dias, em julgamentos e
leilões que serão transmitidos
por canal de TV.
O presidente do Comitê diz
que estão negociando com as
raças Santa Inês e Bôer para
que a Exposição seja ranqueada, valendo pontos para o
campeonato nacional. Dentro
do parque há demonstrações
de fenação, produção artesanal de cachaça e rapadura, o
modelo de uma propriedade
familiar e barracas de artesanato. “Estamos investindo
forte para nos tornarmos a
melhor exposição agropecuária do Nordeste”, finaliza. ●
Exposição Berro chega à
5ª edição
Uma das mais famosas feiras regionais de ovinos e caprinos do Nordeste, O Berro, foi
criada por Francisco Cunha,
professor da Universidade Regional do Cariri, URCA, para
reunir o setor e dar um foco de
relevância nas raças nativas
do sertão – Morada Nova, Cariri, Somalis Brasileira, Santa
Inês entre outras. Segundo
Cunha a idéia deste evento era
tirar a ovinocaprinocultura da
marginalidade econômica e
mostrar o quanto o nordeste
depende dela. “Reunimos a
Secretaria de Agricultura do
Governo Estadual, a entidades
de criadores da região, a Universidade, o Sebrae e além dos
julgamentos e leilões, criamos atividades paralelas que
mostrassem possibilidades de
exploração do negócio ovinocaprinocultura”, lembra o idealizador. Normalmente o Berro é realizado na
primeira semana
de maio, mas com
o crescimento da
Expocrato, os organizadores resolveram transferi-la
para o segundo
semestre. “Ainda
não temos a data,
mas vamos fazer
um grande esforço
para mantê-la com
a relevância que
merece”, assegura
Cunha. ●
6
abr-mai/08
Reportagem
Fotos: Kátia Marcon/Emater-RS
Por Luciana Radicione
Se na década de 1990 a
superoferta mundial derrubou
os preços pagos pela lã no
mercado brasileiro – o que
acabou por gerar uma crise
interna e um direcionamento
da produção para a carne -,
agora o cenário é outro: o
mundo tem fome de lã. Para
conquistar mercado, porém,
alguns entraves precisam
ser solucionados, entre eles
a baixa produtividade e a
qualidade do produto.
E
Lã - Muito espaço para crescer
mbalado pelo novo cenário que se estabeleceu
para a atividade, caracterizado especialmente pelo
grande número de países compradores e pela escassez mundial do produto, o Rio Grande
do Sul retomou há pouco menos de dez anos o interesse e
voltou a intensificar a criação
de raças laneiras. No passado
o desestímulo gerado pela crise mundial – caracterizada pelos altos estoques australianos,
pela entrada dos sintéticos no
mercado e pelo colapso da antiga União Soviética - levou o
Rio Grande do Sul a reduzir
drasticamente sua população
ovina: passou de 12 milhões de
cabeças para pouco mais de 3
milhões de animais nos dias de
hoje. Na carona, a produção de
lã caiu de mais de 35 milhões
de quilos para aproximadamente 10 milhões de quilos de
lã bruta nos últimos três anos.
Apesar do rebanho reduzido, o
Estado, que concentra mais de
90% da produção nacional de
lã, vem mantendo a disposição
em manter a criação voltada
para a lã.
Se por uma questão de conjuntura o produto virou artigo
raro no mundo, os criadores
brasileiros precisam saber
aproveitar melhor esse momento, mesmo que os preços
atuais não estejam tão remuneradores em função do dólar,
já que a lã é considerada uma
commodity e tem seus preços
atrelados à moeda norte-americana. Desde a derrocada do
dólar, no ano passado, o preço ao produtor acumula uma
queda da ordem de 50%. O
cenário, segundo o presidente
da Cooperativa Tejupá, de São
Gabriel, Carlos Cleber Dias
Leal, não deve se modificar no
curto prazo, por isso os produtores precisam investir mais
na qualidade para obter melhores preços e se diferenciar.
Ele lembra que em 2002, com
o dólar a R$ 3,80, houve uma
grande mobilização pela produção laneira. Hoje, em vez
de receber em média R$ 7,00
pelo quilo da lã, o produtor
ganha cerca de R$ 3,80 pelo
mesmo produto, com a mesma
qualidade. Na avaliação do supervisor administrativo da Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos (Arco), Paulo
Sérgio Soares, o momento
para a ovinocultura é bom para
aqueles produtores que investem no rebanho, independentemente da raça utilizada. “Tem
produtor que tira 3 quilos de lã
de uma ovelha. Mas também
há os que conseguem retirar 6
quilos de um animal da mesma
raça e de uma mesma região”,
exemplifica, mensurando o
diferencial de produtividade
obtido por quem trabalha com
melhoramento.
A enxurrada de fibras sintéticas no mercado não é considerada um entrave ao aumen-
RS é o maior produtor de lã ovina do País
to da produção, pois o público
consumidor não é o mesmo.
“A concorrência com os sintéticos sempre existiu e vai
continuar. Temos é que buscar
um produto diferenciado para
ganhar mercado e aumentar a
rentabilidade”, afirma o presidente da Federação das Cooperativas de Lã no Brasil (Fecolã), Álvaro Lima da Silva.
“No mundo todo a lã representa menos de 3% do total de
fibras consumidas. No entanto, ela possui nichos específicos e garantidos, mais voltada
às camadas da população com
maior poder aquisitivo”, ressalta o diretor da Divisão Tops
de Lã da Paramount Têxteis,
Claudio Bortolini. De acordo com ele, o produtor deve
focar na qualidade, pois há
grandes países consumidores
na Europa e a China se apresenta hoje como uma potência
a ser explorada. Atualmente o
Brasil oferta menos de 1% da
lã consumida no mundo. “Se
cada chinês resolver comprar
um par de meias de lã, faltará
lã no mundo”, exemplifica o
presidente da Tejupá, Carlos
Cleber Dias Leal.
De acordo com ele, o produtor brasileiro deve pensar
à frente, ter perseverança, já
que a ovinocultura como um
todo tende a crescer. “Os esto-
ques mundiais estão baixos e
a hora é de aproveitar este cenário investindo em um produto natural que tem consumo
garantido”, ressalta o dirigente da Tejupá, cooperativa que
reúne 4 mil associados em 80
municípios do Rio Grande do
Sul.
Para o presidente da Fecolã, o trabalho no Brasil deve
começar com o aumento da
oferta de matéria-prima mais
fina, a mais exigida pelos países compradores e a que melhor remunera. A diferença,
explica, é sentida no bolso.
Enquanto o produtor recebe
cerca de US$ 2,00 pelo quilo
de lãs cruzas, consideradas
mais grossas e provenientes
de Corriedale - raça que povoa 70% das propriedades
gaúchas, a lã das raças Merino Australiano e Ideal remuneram de US$ 3,30 a US$
3,50 pelo quilo. “É grande a
procura por lãs finas em todo
o mundo, fato que deve ser
percebido pelo mercado interno”, afirma o dirigente.
Segundo ele, o Brasil tem
capacidade para expandir a
oferta de lã entre 30% a 40%,
mas para isso são necessários
programas que resultem em
maior produtividade, qualidade e, principalmente, mais
entusiasmo.
»
7
abr-mai/08
Reportagem
Procura por lãs finas
e superfinas cresce no
mercado internacional
O
campeões, com genética superior, que são utilizados pelos
produtores cooperados. A iniciativa já possibilitou a aquisição de mais de 10 exemplares
das raças Merino, Corriedale e
Ideal, com uma cobertura superior a 10 mil ovelhas em diversas propriedades gaúchas.
Dentro desse mesmo projeto
ainda é feito o sorteio de um
carneiro por ano entre os cooperados de baixa renda. “No
primeiro ano do projeto foram
beneficiados 20 criadores, no
segundo, 40, e no terceiro 50
criadores gaúchos utilizaram
genética de ponta propiciada
pelo programa”, conta o diretor da Paramount, Claudio
Bortolini.
Outra meta em vista é desenvolver um programa de estímulo à produção de lãs finas.
Para isso, estão em processo de
importação do Uruguai mais
dois carneiros para que a genética seja disseminada entre
os criadores. O trabalho contará com o acompanhamento e
assistência técnica. O objetivo
é fazer com que haja um crescimento da oferta de matériaprima em médio prazo, a fim
Foto: Kátia Marcon/Emater-RS
de atender a demanda da
indústria. No caso da Paramount, que beneficia
cerca de 600 toneladas
de lã por ano, a produção interna não atende
nem 10% do consumo
da tecelagem, atualmente com unidades em Esteio, Uruguaiana, Bagé,
no Rio Grande do Sul, e
em Santa Isabel, no interior paulista. Com o programa a expectativa é de
alcançar um aumento de
até 20% da produção de
lãs finas no País em um
RS produziu 100 ton de lã super fina
prazo de quatro anos.
Há quatro anos a Paramount,
Qualidade exige cuidados
em parceria com o Governo
da porteira para dentro
do Estado, Emater, Embrapa
Um dos aspectos que vem
e cooperativas Tejupá, de São
contribuindo para reduzir os
Gabriel, e Mauá, de Jaguarão,
preços pagos ao produtor é a
vem desenvolvendo um projequalidade do produto. Proceto de melhoramento genético
dimentos inadequados durante
do rebanho. O programa fia esquila e o acondicionamennancia a compra de carneiros
to da lã acabam prejudicando
mercado internacional, dessa vez, não se
apresenta como um
inimigo da atividade. Bortolini não acredita em redução
da demanda, já que o cenário
internacional não sinaliza com
quadro de superoferta nos próximos anos. Ele sugere que o
produtor aproveite este momento favorável para aumentar a oferta e melhorar a qualidade do produto colocado no
mercado. “Nos últimos cinco
anos houve um crescimento
do mercado de lãs superfinas.
Nossa expectativa é de que
o mercado interno aumente
a produção que hoje está em
cerca de 100 toneladas de lãs
finas”, afirma.
Algumas iniciativas conjuntas começam a dar o retorno
há tanto tempo esperado pela
ovinocultura voltada à lã. Se é
importante melhorar a qualidade para culminar em preços
mais atrativos ao produtor, é
necessário também fomentar a
criação nas pequenas propriedades, onde está concentrada a
maior parte do rebanho laneiro.
Empresa faz parceria com produtores para qualificar rebanho
o processo de rastreamento do
produto nas indústrias. “Além
de maior capacitação durante
a esquila, é fundamental o uso
de embalagens adequadas para
acondicionar a lã”, salienta
Bortolini, acescentando que a
empresa conta com mais de 7
mil fornecedores no País.
Segundo ele, a grande
maioria dos produtores brasileiros ainda utiliza embalagens de polipropileno e juta,
em vez das de polietileno,
que se diferencia por não
contaminar a lã. “A contaminação por fibras sintéticas
é um problema grave que
precisa ser combatido’, salientou. No Uruguai, cerca de
Mercado
internacional
é francamente
comprador e
busca lás finas
e superfinas, já
beneficiadas
95% dos produtores utilizam
corretamente bolsas de filme
de plástico. Um dos motivos
da diferença na remuneração
entre brasileiros e uruguaios,
que pode chegar a 10%, reside justamente neste aspecto.
O presidente da Cooperativa
Tejupá lembra que erros nessas duas fases do processo
produtivo são responsáveis
pela formação de um preço
médio inferior para o setor.
“Neste caso o justo paga pelo
pecador”, diz Leal. Para fugir dos prejuízos, o dirigente
recomenda a entrega do produto já classificado, uma forma de beneficiar e diferenciar
quem investe mais na ativi-
dade. Estima-se que 50% da
lã comercializada no Brasil,
além de não-classificada, é
acondicionada em bolsas de
juta e polipropileno. “O custo
entre um material e outro é o
mesmo. “O maior custo ainda
é a resistência”, declara Leal.
Na área de atuação do escritório municipal da Emater
em São Gabriel, a situação
não difere do resto do Estado. Lá, segundo o veterinário
Luiz Ignácio Jacques, além
da necessidade de se trabalhar em cima do rebanho Corriedale para conseguir uma lã
mais fina, a assistência técnica
tenta há alguns anos reverter
o uso das bolsas acondicionadoras feitas com material inadequado. “A adoção da bolsa
de polietileno é muito lenta,
pois os criadores são muito resistentes a mudanças”,
explica. Ele acredita que só
mesmo com a renovação de
criadores e a contratação de
mais pessoal qualificado pela
Emater para atuar junto às
propriedades possa reverter
esse quadro. “Para trabalhar
com ovinos é preciso perfil e
muita dedicação”, ressalta o
técnico. ●
Jornalista
8
abr-mai/08
Reportagem especial
Viagem ao centro do Nordeste
Foram mais de mil quilômetros pelo sertão nordestino adentro, visitando criadores
em três estados, em uma jornada que buscou fazer uma radiografia da região
Por Nelson Moreira
A
Praça do Meio do
Mundo fica no entroncamento da BR 230 – a
Transamazônica – e a BR 412,
no município de Pocinhos, a
150 km de João Pessoa, e não
é apenas uma referência irônica de um historiador, restaurador e paleontólogo autodidata
paraibano, o “Dr” Lélis. É a
demarcação física de que o
viajante está no centro do sertão, região também conhecida
como Cariri. Na Paraíba ele
está localizado no sul do Estado e é formado por 29 cidades,
dentre as quais, destacam-se
Sumé, Monteiro, Taperoá,
Serra Branca e Cabaceiras,
abrigando uma população de
mais de 160 mil pessoas. Seu
clima é tipicamente semi-árido, caracterizado pela baixa
ocorrência de chuvas e por
uma quantidade de luz solar
superior a 2 mil e 800 horas
anuais.
Geograficamente o Cariri está dividido em Oriental e
Ocidental. O nome vem da tribo dos Kariris que habitavam
a região e significa silencioso.
Eles viviam no sul do Ceará,
onde ficam as cidades de Crato, Juazeiro do Norte (terra
de Padre Cícero) e Barbalha.
Em tempos de verão, como a
população chama, pode fazer
seca de até nove meses, quando tudo corre bem. Na época
de chuvas, que começam em
Janeiro, Fevereiro ou até mesmo Março, dependendo do
ano, a natureza mostra toda a
sua exuberância, em diversos
tons de verdes e os rios transbordam, transformando-se em
atração turística. Para o lado
de Pernambuco, o centro des-
Fotos: Nelson Moreira
Vista geral do Vale do Araripe
ta região é Sertânia. É neste
ambiente que vive o homem
nordestino, gente que tem a
arte de sobreviver com a falta
de água, ou com as enchentes.
Que tem na ovinocultura uma
das bases da produção de alimento, com raças já adaptadas
a estas condições.
A Paraíba tem, segundo o
secretário do Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca,
Francisco de Assis Quintans,
86% de sua área geográfica inserida no semi-árido com pouquíssimas chances de irrigaFoto: Divulgação
Os contrastes do sertão: no inverno seca, no verão a fartura
ção. Esta situação forçou aos
que trabalham na terra a procurarem alternativas de produção. A primeira vocação foi a
pecuária, com rebanhos adaptados às condições climáticas
e de vegetação. Por isto a criação de ovinos tornou-se uma
das atividades principais do
Estado. Conforme Quintans,
o rebanho paraibano tem hoje
411 mil cabeças, e ele acredita
que 80% sejam da raça Santa
Inês. O restante é composto
pelas raças Morada Nova, Somalis Brasileira, Cariri, Rabo
Largo e um biotipo chamado Cara
Curta, que está em
estudo para ser elevada à condição de
raça.
Quintans, que
também é criador de Santa Inês,
afirma que o seu
Governo está muito empenhado na
melhoria genética
destas raças, propondo programas de trocas e suporte na
selecão. Da mesma forma que
procurou dar apoio à agricultura familiar para que ampliassem o nível zootécnico de seus
rebanhos. Por outro lado também buscou organizar a cadeia
produtiva através da construção de um frigorífico no município de Monteiro, com ins-
peção SIF, coordenado por um
consórcio entre produtores,
Governo e prefeituras. “Para
dar um destino a todo este rebanho que criamos”, afirma.
Mas a maior preocupação de
Quintans, neste momento, é
conquistar a condição de zona
livre de aftosa com vacinação.
Por não ter atingido o índice de
90% de vacinação no rebanho,
é considerado como zona desconhecida de risco de aftosa,
o que impede a circulação de
seus animais para os estados
vizinhos. “Vamos investir forte na questão de fiscalização
sanitária, inclusive com apoio
de recursos internacionais”,
comenta o Secretário.
O recém-empossado presidente da Associação Paraibana de Criadores de Caprinos e
Ovinos, Apacco, Luiz Gonzaga Tagino de Moura, acredita
que a Paraíba tem excelentes
condições de ser um expoente
na ovinocultura. Precisa apenas trabalhar mais na união dos
produtores em torno de uma
cadeia produtiva que melhore
o valor dos produtos ovinos ao
criador. “A demanda por carne
ovina é bem maior que a oferta. Se nos concentrarmos no
melhoramento genético e também no aumento dos rebanhos
comerciais, a atividade vai ganhar seu destaque na economia
paraibana”, sentencia.
O Cariri Cearense - O
Santuário de Padim Padi Ciço
(Padre Cícero) está no alto da
encosta da Serra do Araripe,
voltada para a cidade na qual
ele tanto tempo viveu e dedicou seu trabalho religioso.
Abençoa a cidade de Juazeiro do Norte, mas emana seus
bons fluidos para os municípios de Barbalha e de Crato,
cidade em que ele nasceu. Em
tempos de romaria ao santo padre, padroeiro
dos pobres do
Nordeste e
por eles considerado um
milagreiro, a
região recebe
mais de 600
mil pessoas.
Do alto da
serra se avista o vale do Araripe, o chamado Cariri Cearense, mas que possui um regime
de águas e clima diferenciado
dos demais. Tem rios perenes
que nascem na serra ou foram
perenizados através de programas de Governos federais ou
estaduais. Às vezes se tornam
subterrâneos.
Conta o povo destas terras
para todos que quiserem ouvir,
e quem contou ao repórter foi
Francisco Cunha, professor da
URCA, Universidade Regional do Cariri, que um dia, Padre Cícero chamou Floro Bartolomeu, médico e braço político do Padre e disse: “O Cariri
tem que Berrar!”. Cunha afirma que ele e os criadores de
ovinos tomaram para si, esta
frase e crêem que precisam lutar pela atividade, para que se
torne uma importante fonte de
renda para a região.
O presidente da ACCOA,
Associação dos Criadores de
Caprinos e Ovinos da Biorregião do Araripe, Ricardo Técio, um corretor de imóveis
que entrou na criação de ovi-
»
9
abr-mai/08
Reportagem especial
nos em 2001, concorda com o
professor e diz que a ovinocultura precisa crescer na região.
Ele calcula que atualmente devem
existir cerca de 1,5 a 2 mil criadores, trabalhando um rebanho ao
redor de 230 mil cabeças. Em termos de incentivo já acertou com
a Secretaria do Desenvolvimento
Agrário do Ceará, a assinatura
de convênios para repasse de recursos para a realização de dois
cursos de capacitação de mão de
obra para a pequena propriedade
e de tratamento de verminoses.
Pretende ainda fazer um sobre
produção de alimentos (fenação).
“O microclima que temos aqui favorece muito o desenvolvimento
desta atividade e eu creio que ela
vai crescer bastante ainda, principalmente quando se tem o Governo Estadual por perto”, ressalta.
Francisco Leitão Moura é o
governo por perto. Promotor de
Justiça, professor de Direito na
URCA e presidente do Grupo
Gestor da ExpoCrato, é criador
de ovinos na cidade de Tauá, região central dos Inhamuns, uma
das mais secas do Ceará. Também é vice-presidente do Clube do Berro, entidade que reúne
criadores de ovinos e caprinos em
O Nordeste é uma região cheia de contrastes, alternando fortes secas e épocas de abundância.
Neste cenário, a ovinocultura encontrou seu espaço e garante o sustento de muitas famílias
Fotos: Nelson Moreira
O Nordeste tem os seus
contrastes: ao lado exposição
de alta genética e acima feira
de animais comerciais
Fortaleza. Além de tudo isto, tem
uma relação familiar com o Governador Cid Gomes. Esta força
política tem levado à região do
Cariri muitos recursos e projetos.
Mas Leitão, como é conhecido,
prefere citar os de abrangência estadual, que vão favorecer os criadores de todo o Ceará. “Criamos
um programa que já está sendo
executado e vai absorver cerca de
R$ 2,4 milhões para fazermos um
levantamento em todo o estado,
em cada propriedade, sobre o que
está sendo produzido em termos
de agricultura e pecuária. Aí poderemos saber com certeza qual
o tamanho do nosso rebanho ovino”, afirma.
Leitão disse ainda que é uma
ação conjunta do Departamento
de Defesa Sanitária e da EmaterCE. Com estes dados ele acredita
que o Governo do Ceará poderá
agir mais seguramente em outros
programas para o setor. O Promotor lembrou ainda que em Tauá,
em um outro programa, pequenos
produtores receberam um carnei-
ro e 10 fêmeas. Hoje a cidade é
grande fornecedora de cordeiros para abate. “E temos ainda,
em parceria com o Ministério da
Agricultura, um trabalho de produção integrada entre frutas e hortaliças com a ovinocultura, cujos
resultados têm sido satisfatórios”,
conclui. ●
10
abr-mai/08
Reportagem especial
Ovinocultura é o suporte do nordestino
E
Fotos: Nelson Moreira
Manoelito segura um cordeiro do biotipo cara curta
le diz que existem três
tipos de seres humanos
sobre os quais ele desistiu de tentar salvá-los ensinando-os alguma coisa e, por isto,
afirma categoricamente que já
os colocou nos primeiros lugares para a fila do inferno. Os
agrônomos, os veterinários e
os zootecnistas. Mas valeu-lhe
uma praga de ter justamente
casado, pela segunda vez, com
uma zootecnista. Para esta ele
diz que reserva os últimos lugares. Formado engenheiro
sanitarista, tem uma inteligência e conhecimento muito
apurados. Fez muita pesquisa
por conta própria, leu muitos
livros e tem a certeza que as
raças deslanadas são o suporte para o povo nordestino poder sobreviver nas condições
de clima que existe no sertão
onde o regime médio de chuvas é de 580 mm ao ano..
Manoel Dantas Vilar Filho,
ou simplesmente Monoelito Vilar, é um homem de 71
anos, cinco filhos e 5.440 mil
hectares para cuidar. Investe
em bovinos Guzerá e Sindi,
ovinos Santa Inês, Cariri, Morada Nova o biotipo chamado Cara Curta e um filho cria
Somális. Além disto, tem uma
produção de cabras leiteiras e
um laticínio cujos produtos –
leite, yogurte e queijo – são
vendidos em Campina Grande. Sua casa, típica de fazenda, com varanda grande, tem
ao lado a casa do primo famoso, o escritor Ariano Suassuna.
A Fazenda Carnaúba com 940
ha, fica em cima da Chapada
da Borborema, no município
de Taperoá. Foi fundada em
1782 e está nas mãos da quarta
geração. É uma sociedade por
cotas, algo diferente no meio
rural nordestino.
A Carnaúba é reconhecida
como a Fazenda berço do nascimento da raça Cariri. Manoelito conta que nasceu de um
animal segregado de outros
cruzamentos (mutação genética dominante) e foi homologada em 1998 pelo Ministério
da Agricultura. É neste ponto
que ele briga com o técnico
da ARCO, Marconi Sales. Segundo o técnico a Cariri tem
origem na raça Barriga Negra,
ou Black Berry. Manoelito
contesta veemente, mostrando
livros de pesquisadores. O fato
é que a raça Cariri é genuinamente brasileira, e conforme
diz o criador tem alta prolificidade, partos duplos e triplos,
habilidade materna qualidade
de pele superior às outras des-
lanadas, velocidade no ganho
de peso e excelente qualidade
de carne. “Quando dá a seca
braba ele é como um cabrito,
sobe aonde for necessário para
comer as ramas mais altas das
árvores”, comenta Manoelito.
Sobre a raça Morada Nova
ele diz que ela é predominante
no sertão do Ceará, de onde se
originou. Seu nome foi dado
por Otávio Domingues, considerado o pai da zootecnia brasileira. Conforme Manoelito,
existem três tipos de Morada,
a vermelha, a preta e o branco
ou avermelhado. “São animais
que morrem pouco e em nível
de sertão não tem animal com
melhor rendimento de carcaça
que ela”, salienta. Para enfrentar a seca ou o inverno, como
chamam, ele procurou um tipo
de pasto que suportasse este
período e trouxe da Austrália;
o capim bufel. “Com ele faço
o feno e também é o único
que resiste à seca”, explica.
Para Manoelito a pecuária é
a forma do nordestino sobreviver e sair da agricultura de
subsistência. “É a região mais
populosa do país e a que mais
precisa de soluções e apoios
de governos para diminuir a
fome e o sofrimento”, afirma
o criador. ● Raça Santa Inês explode no mercado
Em apenas quatro leilões
de elite realizados durante a
Exposição Paraíba Agronegócios, em João Pessoa, no final de março deste ano, a raça
Santa Inês arrecadou mais de
R$ 1,5 milhão com a venda de
pelo menos 150 animais. Isto
se deve ao momento de grande
valorização que esta raça está
vivendo, principalmente porque está sendo comercializada
para o sudeste brasileiro que
resolveu investir forte no mercado de alta genética ovina.
Para o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Santa Inês, ABSI, o veterinário Álvaro Borba, dono
da fazenda Monte Alegre, em
Campina Grande, PB, este
mercado de genética cresceu
numa velocidade muito grande, e demonstra que tem espaço para evoluir ainda mais.
Borba diz que este movimento
de investidores também está
chegando ao rebanho comercial, “não através dos valores,
mas via aumento de criadores
que se interessam em produzir
carne com a raça Santa Inês”,
salienta.
O criador afirma que o rebanho que possui algum grau de
sangue da raça deve girar em
torno de 7 milhões de cabeças.
Diz ainda que por ser um animal com alta fertilidade, larga
faixa de adaptação ao clima
brasileiro e características semelhantes ao Zebu, a Santa
Inês tem uma perspectiva muito grande, principalmente para
cruzamentos industriais com
o objetivo de produzir carne.
“É uma carne de sabor suave,
light por natureza e muito valorizada na gastronomia. Então eu vejo que também em
nível de mercado consumidor,
temos um grande potencial e
é, por isto, que a raça esta se
expandindo para várias regi-
ões do País”, afirma com certo
orgulho.
Certa Polêmica – O novo
padrão morfológico da Santa Inês que está aparecendo e
prevalecendo nas pistas de julgamento em praticamente todo
o País, está causando polêmica. Um número expressivo de
criadores se mostra indignado
com o tamanho dos animais muito mais alto que os padrões
anteriores - e com o peso que
eles estão atingindo – mais de
100 kg. As palavras de Antonio
Soares, da Fazenda Riacho do
Açude, em Boa Vista, Paraíba
são a síntese do que a maioria
disse nas conversas entre criadores. Para ele os animais que
estão em pista fogem muito do
padrão racial original da Santa Inês. “É um animal que só
vive se tiver ração, porque se
for largado a campo, nas condições da seca, não sei se resiste”, diz com ar de indignação.
Outros criadores que pediram
anonimato desconfiam que
este novo perfil da raça tenha
a ver com cruzamentos que
foram feitos com outras raças, chegando a citar a Suffolk
como exemplo.
O presidente da ABSI concorda
que a raça cresceu e aumentou seu
tamanho, mas não acredita que isto
vá atrapalhar seu desempenho produtivo nos rebanhos de alta genética e
comerciais. Suetônio Vilar Campos,
de Taperoá, PB, diz que ao longo dos
seus 50 anos de criação já viu estas
“ondas de modernidade” acontecerem em várias raças, “e como toda
onda, meu filho, passa, ficando só o
que é verdadeiro”, afirma com
um sorriso largo no rosto. ● Borba: Santa Inês é o Zebu das ovelhas
11
Uma realidade no presente
com um grande futuro
abr-mai/08
Reportagem especial
Fotos: Nelson Moreira
É
crença de todos que
lidam com ovinos no
nordeste que a atividade
tem grande futuro. Alguns dizem que a ovinocultura já está
vivendo o momento importante porque começa a ser reconhecida e incentivada, através
de diversos programas governamentais. O inspetor técnico
da Arco na Paraíba, um dos
mais antigos no quadro da associação, Marconi Dias Sales,
é um dos primeiros a afirmar
isto. Para ele, as raças nativas
têm grande produtividade e
podem, como já estão, servir como base de cruzamento
industrial para o aumento da
oferta de carne no mercado.
O secretário da Agricultura
da Paraíba, Assis Quintans,
acredita neste potencial. Apenas ressalta que é preciso criar
Bráulio aposta na ovinocultura
criadas enfrentam este problema, possuem uma qualidade
invejável para outras regiões,
principalmente o sul do Brasil. Elas ficam prenhas, pelo
menos duas vezes ao ano e no
período de dois anos têm duas
parições. “As vezes com partos duplos”, assinala Marconi.
Outro fato significativo é que
mesmo com toda a adversidade, o índice de mortalidade
médio dos rebanhos é de 2%.
“Geralmente por uma fatalidade ou um predador”, explica
o técnico acrescentando que
a necessidade de comida e de
fazer renda faz do criador um
sujeito zeloso dos animais que
possui. “Já ouvi estórias de
famílias em que as meninas
eram responsáveis por dois ou
até três cordeiros guaxos (sem
a mãe)”, comenta Marconi.
Quintans: ovinocultura é grande opção do Nordeste
soluções alimentares para evitar o problema da “sanfona”.
“Quando vem o inverno nossos ovinos emagrecem muito e
no verão retomam o peso certo. Não conseguimos mantêlos num estado corporal médio que seja produtivo o ano
todo”, ressalta.
Se as raças que por lá são
O criador Bráulio Japiassu,
da Fazenda Veneza do Juá, do
município de Sumé, no Cariri Oriental, a cerca de 300
km de João Pessoa, é um entusiasta da ovinocultura. Por
isto concorda com Marconi
e aposta na atividade. Produtor de animais com alto grau
de genética, trabalha com as
raças Santa Inês (50 matrizes
e 2 carneiros) e Dorper (13
matrizes). Começou em 1974,
assumindo a propriedade da
família de 290 hectares. Tem
mais uma pequena área de 18
hectares na localidade de Malhada da Pedra e arrendou outra área também na região. Ele
diz que optou pelo mercado
de alta genética porque dá um
retorno financeiro melhor. Em
geral vende uma borrega Santa
Inês pelo preço médio de R$
1,5 mil, “já a Dorper tá valendo uns R$ 4 mil e macho que
não fica pro rebanho eu vendo
tudo”, afirma.
Em seu sistema de produção
diz que permite uma fêmea falhar mais de uma vez até porque, quando ficam prenhas a
produtividade é bastante alta.
“Aqui quase não se perde
cordeiros”, assinala. Este ano
pretende adotar a técnica de
ultrasom a fim de confirmar
as prenhezes com mais antecedência. O desmame é entre
70 a 90 dias e logo coloca em
suplementação. Nos períodos
de seca utiliza a Palma com
a Algaroba. “Eu dou o complemento para poder manter
o peso neste período brabo
do sertão”, comenta o criador.
Para ele o Governo deveria
ter um programa de incentivo
para a ovinocultura, a fim de
promover e sustentar o crescimento da atividade. “Eu vejo
que a criação de ovinos está
crescendo, inclusive com a entrada de pequenos produtores
e todo este movimento, precisa de um suporte do Governo,
seja em que nível for, porque
ela é uma atividade que traz
renda e mantém o homem no
campo”, conclui de maneira
inflamada.
Vaqueiro por muitos anos,
Luiz Vilar é considerado pelo
técnico da ARCO, Marconi Sales, um dos melhores selecionadores da raça Santa Inês em
Taperoá, porque conserva em
seu rebanho linhagens do carneiro 71 e agora do 683, do seu
criatório e que vêm de animais
que foram a base de formação
da raça. Por esta razão a Estân-
Luiz Vilar investe em Santa Inês
cia Dolly – uma das principais
responsáveis pela expansão da
raça no sudeste do Brasil - lhe
ofereceu uma parceria para
vender no mercado paulista.
Com isto tem conseguido bons
preços por seus animais. Dono
do sítio Jundiá, de 80 hectares,
possui 130 animais PO. Para
enfrentar a seca diz que dá
ração comprada, mas está na
raça justamente porque ela é
rústica, adaptada a estas condições e muito resistente.
Luiz diz que seu grande professor foi Manoel Vilar, com
quem trabalhou por 12 anos.
Foi seu patrão e outros parentes que tem na região, além de
Marconi, que lhe ajudaram a
montar o rebanho. Assim realizou um sonho antigo. “Fui
economizando todo o dinheiro
possível para comprar as terras
e os animais. Comecei com 40
ovelhas base. Hoje trabalho
na minha propriedade ajudado
pelo filho Evandro”, afirma,
acrescentando que ele é um
dos nove que teve. A grande
Marconi: mortalidade é de 2%
maioria, conforme Luiz está no
Rio de Janeiro ou em São Paulo, tentando a sorte e fugindo da
seca.
Em seu sistema de produção programa a primeira parição para maio, no período pós
seca e a segunda em novembro/
dezembro. Para esta parição ele
precisa sempre se preparar na
parte de alimentação pois é o
momento em que ainda há seca.
Sobre a parceria com a Dolly ele
diz que está sendo muito positiva pois está ajudando a divulgar
sua criação. “Vai ajudar a me
manter na atividade e a investir
na preparação e melhoramento
da genética, que é o que importa
para quem trabalha neste mercado”, diz o criador, acrescentando que pelo que está vendo
no mercado e pela televisão, a
ovinocultura está passando por
um momento muito bom e deve
crescer bastante. “Espero que
sim, porque é o meu negócio,
né, e eu preciso que todo mundo
ganhe para eu ganhar também”,
finaliza. ●
12
abr-mai/08
Reportagem especial
Dois técnicos porretas!!!
Marconi Dias Sales
Francisco Fernandes Ferreira
Ele não tem este título nem a
certidão que comprove, mas é considerado o pai da raça ovina Cariri.
E leva este mérito por realizar pesquisas e levantamentos de documentação para encaminhar o processo de reconhecimento e abertura do registro genealógico da raça
junto ao Ministério da Agricultura.
Marconi Dias Sales é paraibano
nascido e criado em fazenda. Saiu
para os estudos no Recife e se formou Engenheiro Agrônomo. Não
conta em detalhes, mas esteve envolvido em política estudantil, contra o governo da época. E por esta
razão, quando terminou a faculdade, não conseguiu assumir cargos
no governo. Isto o levou a aceitar
um trabalho em uma empresa no
Rio Grande do Sul. Demorou um
certo tempo até retornar à Paraíba,
aonde vive até hoje. Já fez viagens
ao exterior, já foi jurado de exposições e há mais de 30 anos é inspetor técnico da ARCO.
Marconi é um profundo conhecedor da ovinocultura nordestina.
Sabe das mazelas da criação e
conhece quase todos os cantos do
seu Cariri. Tem uma certa queda
pela raça Rabo Largo. Cria Santa
Inês e acredita que a atividade tem
enorme potencial de crescimento
enquanto atividade. Segundo seus
cálculos hoje ele atende a uns 10
criadores, dentro da Paraíba, no
Crato CE e em Pernambuco. “É
um rebanho de mil animais registrados”, ressalta. É incansável e,
pelo visto, não vai parar de trabalhar tão cedo.
Morando a mais de 400 km distante de Marconi, mais certamente
no Crato, sul do Ceará. Francisco
Fernandes Ferreira, mais conhecido como Fernando, é o Inspetor
Técnico da ARCO na região sul
deste estado. Produtor rural, agrônomo, cria Santa Inês, Morada
Nova, Somalis Brasileira, Cariri,
num rebanho com 900 cabeças.
Como técnico atende a 16 criadores com média de 300 animais por
criatório, distribuídos em 28 municípios.
Segundo ele a ovinocultura é
atividade que faz parte do sertão
porque está no hábito alimentar da
população. “Toda a carne produzida é consumida na região”, ressalta. Como agrônomo desenvolveu
uma pesquisa com o Feno Mata
Pasto, uma forrageira leguminosa
dos campos abertos e das pastagens nativas do Ceará. Enquanto
verde é desprezado para consumo
animal pela baixa palatabilidade e
sabor amargo. “Mas sob a forma
de feno, constitui um alimento rico
em nutrientes para todos os ruminantes”, assegura. ●
Luiz do Berro é o sertão
Luiz e seu uniforme padrão
O sotaque carregado, o chapéu de vaqueiro nordestino e o
colete de guerra são sua marca
registrada. Onde quer que esteja conhece todo mundo. Em
uma exposição, por exemplo, é
difícil ficar 5 minutos em uma
conversa sem ele cumprimentar
meia dúzia de pessoas que passam perto. E todos querem sua
atenção. É um relações públicas
nato. José Alberto Britto Mendez não vai ser conhecido se não
for chamado de Luiz do Berro.
E tem este nome porque há alguns anos trabalha na revista
O Berro. Acompanhado de sua
mulher Dona Novinha, viaja por
todo o sertão, mas gosta mesmo
é de voltar para sua casa, em
Sertânia, Pernambuco.
Veterinário, é um defensor
forte da ovinocaprinocultura
como importante atividade econômica para o Nordeste e, por
isto, quando passamos em sua
casa, para tomar um café, mostrou mais uma vez sua indignação com os rumos que algumas
raças estão tomando. Mas se
resignou. Sabe que estas ondas
passam. Enquanto saíamos para
continuar a viagem, terminava
a revisão do seu carro para uma
próxima jornada. Ele não pára
nunca... ●
L
Apacco tem nova diretoria
uiz Gonzaga Tagino de
Moura é o novo presidente da Associação Paraibana de Criadores de Caprinos e Ovinos (Apacco), cargo
que assumiu no dia 4 de abril.
Na composição da diretoria ficaram: Vice-presidente: Mario
Antonio Borba, 2º Vice-presidente: João Luiz Borges Filho;
1º Tesoureiro: João Clímaco
Nóbrega; 1º Secretário: Aralto
Bomfim Alves. Luiz é Juiz de
Direito aposentado e criador
de Santa Inês e Dorper em ovinos, além de criador de Cavalo
Crioulo, na região de Curumatau, no município de Cacimba
de Dentro, Paraíba.
Entre seus projetos estão a
aproximação com os pequenos
produtores, visando descobrir
neles o potencial genético que
possuem em seus rebanhos e
propor trocas desta genética.
Ele também pretende estabelecer um ranking entre as exposições estaduais para as raças, promover o encontro dos
inspetores técnicos para troca de experiência e trabalhar
para que a ARCO tenha maior
proximidade com a Apacco,
principalmente em projetos
de conexão da cadeia produtiva. “Quero também promover
uma série de cursos em todo o
estado para aperfeiçoar o nível
técnico de quem lida com a
ovinocultura”, finaliza.
A composição completa da
nova diretoria é a seguinte:
Presidente: Luiz Gonzaga
Tagino de Moura; 1º vice- presidente: Mário Antonio Pereira Borba; 2º vice-presidente:
João Luis Borges Filho; 1º
Tesoureiro: João Clímaco Nóbrega Marinho; 2º Tesoureiro:
Gilvam Pereira de Moraes;
1º Secretário: Aralto Bomfim
Alves; 2º Secretário: Paulo
Siqueira de Moraes. Conselho Consultivo: Suetônio Vilar Campos, Pompeu Gouveia
Borba, Ricardo Vilar Wanderley Nóbrega, Churchill Cavalcante César, Raimundo Tadeu
Farias Couto. Conselho Fiscal:
Aderaldo Matias de Oliveira,
Raimundo Queiroga Neto, Perón Ribeiro Japiassú. ●
Fotos: Nelson Moreira
Mário Borba (e) vice-presidente e Luiz Tagino (d) presidente
Cordeiro de Negócio
É meio da manhã. Genevaldo ou Maria do Socorro chega
na frente da farmácia e amarra
um borrego – que havia trocado
por serviço, no dia anterior - na
primeira árvore ou poste que
encontra. Entra, cumprimenta
a todos e indo ao balcão, entrega a lista pro farmacêutico, recebe a mercadoria e sai. Antes,
passa no caixa e diz pro dono
da farmácia que o borrego está
ali fora como pagamento da
compra feita. O sujeito nem sai
para ver o animal. Genevaldo
ou Maria do Socorro vai embora com seus remédios. No
chegar do meio dia, Seu Virgulino (talvez uma referência a
Lampião) vai almoçar. Desata
o borrego e caminha com ele
até o armazém do Zé. Amarra o
animal no toquinho que tem na
frente. Faz as compras e deixa
o borrego pro Zé que decidiu
fazer um churrasco na noite prá
família e uns amigos.
Quando dá uma folga no ar-
Venda de ovinos movimenta vários negócios no Nordeste
mazém, pega o borrego e leva
até o açougue. Amarra o bicho
na porta do estabelecimento de
Valdevino, compra as carnes
que queria e deixa o borrego
no armazém. Na manhã seguinte, o borrego está pendurado em várias partes, à venda
prá quem quiser ou precisar
de uma boa carne de carneiro. Maria Antônia é a primeira
freguesa do dia. Compra um
pernil prá fazer um assado no
domingo. E assim o ciclo do
borrego está fechado.
Mesmo parecendo uma estória, com personagens diversos ela é uma realidade quase
que diária em dezenas de cidades do interior do nordeste e,
talvez, quem sabe, em outras
regiões brasileiras. Não se usa
dinheiro, mas vários negócios
foram realizados ao longo do
dia, por conta da ovinocultura.
Mostra assim a importância,
mesmo que num ato tão pequeno, desta atividade para aquela
região e para todo o País. ●
13
fev-mar/08
Reportagem
O
Criadores montam projetos com carne ovina
movimento com o mercado de carne ovina está
crescendo. O interesse
por consumo também. Embora não haja produção suficiente
para abastecer todos os mercados,
sempre é possível atender a um
pequeno círculo de consumidores.
Motivados por esta perspectiva,
projetos de abate e colocação deste produto no mercado começam a
surgir em todo o Brasil. Às vezes
são iniciativas conjuntas, cooperativadas; outras, de um só criador.
O positivo neste processo é que
aumenta cada vez mais a vontade
de criar uma cadeia produtiva que
leve a carne da produção à mesa
do consumidor.
Um exemplo vem da propriedade rural localizada a 200 km
de Cuiabá, no MT, que está se
tornando referência para a ovinocultura do Estado. É a Fazenda
São Jorge, em Porto Estrela, do
casal Fernando e Rejane Redivo
Waltrick Branco, que iniciou, há
três anos, um projeto de criação
e, agora, fechou o círculo da atividade, com a implantação de um
abatedouro no local. O frigorífico
está processando 50 cordeiros/dia,
transformados em cortes especiais
e outros itens diferenciados. Com
inspeção estadual, coloca sua produção em supermercados, açougues e restaurantes de Cuiabá.
Em Goiás, no município de
Jussara, Alexandre Marchesi, da
Fazenda Pau Brasil, está com 2
mil matrizes em produção e comprando mais animais, para executar o seu projeto de colocação no
mercado regional, da carne Cava
Cordeiro. Conforme o produtor, o
objetivo é ter 7 mil matrizes em
produção própria e mais 3 mil
com parceiros. “O abate de 500
animais/mês é terceirizado e agora estamos mantendo contato com
as lojas de carne e supermercados
da região para colocar o nosso
produto”, salienta.
Produtores mineiros também
vislumbram o potencial de mercado da carne ovina. Por esta razão
fundaram a Procordeiro – Cooperativa Mineira de Produtores de
Cordeiro. Segundo Pedro Nobre
de Lima, dois anos após ter sido
fundada, a cooperativa conseguiu
iniciar suas atividades comerciais
e desde então, tem crescido constantemente, comercializando animais destinados ao abate, se responsabilizando por todas as fases
fora das porteiras.
A Procordeiro é uma cooperativa de âmbito estadual, sendo que
a maior parte dos cooperados tem
suas propriedades na região central do Estado. Desde sua fundação, a cooperativa abate cordeiros
Severino vai atender toda a sua região com carne ovina
exclusivamente de seus cooperados - com plantéis de 10 a 12
mil matrizes. Caso o crescimento
verificado nas vendas não possa
ser suprido integralmente, a cooperativa pode adquirir animais de
terceiros, desde que atendam aos
mesmos padrões de qualidade.
“Nosso segredo está na visão
de construir uma cooperativa qcapaz de dar suporte ao processo
produtivo e desenvolvimento da
ovinocultura empresarial, como
importante atividade econômica
do agronegócio mineiro”, diz Nobre de Lima. Segundo ele a cooperativa presta assistência técnica
e transferência de tecnologia aos
produtores.
Alexandre Marchesi
O criador diz que o produtor,
com este suporte que ganha, pode
se dedicar exclusivamente à fase
de produção, sabendo que estão
sendo providenciados a programação do abatedouro para o abate, o transporte solidário, o abate
em si, a execução dos cortes, a
embalagem a vácuo e a venda da
produção e subprodutos estão sendo feitos por sua própria empresa,
sem que ele tenha de se preocupar
com isso. Além do mais, ele pode
ter a garantia de que recebe os
melhores preços do mercado pela
sua produção, sem sofrer as oscilações de remuneração relativas a
oferta e procura.
Alta gastronomia
Por gostar de degustar vinhos
consumindo carne de cordeiro, o
economista Robson Leite, diretor
do Grupo Savana resolveu fazer uma pesquisa com 180 chefs
de cozinha de cidades como São
Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. O
objetivo era identificar o que estes
experts da culinária desejavam da
carne de cordeiro. As respostas
sempre o levavam para produtos
de fora do País. A partir dessas informações, Leite começou a criar
cordeiros, cruzar animais e descobriu que os ovinos da raça Santa
Inês, originária do Nordeste brasileiro, quando criados em sistema
de confinamento, apresentavam as
mesmas características desejadas
pelos chefs e um diferencial: uma
carne mais magra, sem a gordura
habitual dos ovinos lanados.
Há dois anos, criou a Savana, que comercializa a carne de
cordeiro para restaurantes de
alta gastronomia, como Fasano,
na cidade de São Paulo. Hoje, a
Savana tem uma demanda maior
do que produtos para ofertar. Ao
todo, a empresa possui 14 integrados, que fornecem para a empresa, o que dá uma média de 2 mil
abates por mês.
Mas ela está em busca de mais
parceiros. Como a ovinocultura é
uma cadeia que só agora começa
a se estruturar no Sudeste, o que
prevalece são os pequenos cria-
dores, o que dificulta a logística.
No entanto, a Savana está como
parceira do Sebrae, em um projeto
que une a Associação Paulista dos
Criadores de Ovinos e a Câmara
Setorial da Ovinocultura e tem por
meta aumentar para 6 milhões o
número de matrizes de ovinos no
Brasil. Por isso irá financiar parte dos projetos de construção de
apriscos e confinamentos coletivos. “Isso nos ajuda na questão do
transporte e na parte da uniformização do rebanho”, relata Leite.
Severino Gonçalves Duarte
adora a ovinocultura e por isso
cria há 20 anos. Mas também vê
que ela é um grande negócio quando se trabalha o mercado de carne.
Por esta razão está investindo em
um confinamento que tem cerca
de 800 a mil animais, colocados
em pastagem irrigada e depois em
ração. Na maioria são animais cruzados, meio sangue entre Dorper
com a Santa Inês ou Morada Nova
ou outra raça nordestina.
Na sua propriedade, o Haras
Betânia, em Juazeiro do Norte, Ceará, pretende construir um
abatedouro para 2,4 mil animais
/ano e abastecer o seu Estado e
também os vizinhos, como Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do
Norte. Atualmente ele está ofertando cerca de 120 toneladas/ano
somente para os mercados da sua
cidade. Para chegar ao objetivo
que traçou já tem cerca de 3 mil
matrizes em produção e está fazendo parcerias com outros criadores. “A ovinocultura dá retorno
e agora fazendo todo o processo,
ou seja, criando, abatendo e colocando no mercado, creio que vou
ganhar ainda mais”, avalia.
Vontade de fazer
Se por um lado há produtores
e investidores fazendo os projetos acontecerem, por outro ainda
existem muitos criadores que possuem o desejo de “fazer algo”, mas
não se entusiasmam ou não acham
parceria para concretizar o sonho.
É o caso de Bruno Soares, criador
em São João do Cariri, na Paraíba.
Ex-consultor do Sebrae, diz que a
ovinocultura em seu Estado precisa formar grupos que trabalhem a
cadeia produtiva, que formem um
abate e coloquem a carne no mercado. Mas não encontra parceiros
que se juntem a esta idéia. Outro
que também manifestou a vontade
de juntar um grupo de produtores
foi Francisco Fernandes Ferreira,
da cidade do Crato, Ceará. Ele diz
que o potencial de consumo de
carne ovina na sua região, principalmente na época das romarias a
Padre Cícero, garantiria bons lucros para uma iniciativa deste porte. “Mas como montar o projeto e
organizar o grupo?” pergunta ele.
O presidente da ARCO, Paulo Schwab responde dizendo que
uma das figuras que poderiam ser
os facilitadores ou organizadores
deste tipo de projeto seriam as associações estaduais de criadores.
Para ele, assim como a ARCO
busca formatar projetos que levem à organização da cadeia
produtiva em nível nacional, as
afiliadas regionais poderiam atuar em nível estadual e, com isto,
conquistar a atenção dos criadores
pelas ações que estariam fazendo
em prol da ovinocultura. “O fruto
está caindo de maduro, é só dar o
primeiro passo”, aponta Schwab,
acrescentando que o programa
Carne de Qualidade, feito em parceria com o Sebrae, é um caminho
para todos estes que querem iniciar um processo de produção da
carne ovina. “Eles têm todo o ferramental. É só ir buscar, arregaçar
as mangas e trabalhar, porque o
mercado já provou que está muito disponível para consumir este
produto”, finaliza o dirigente. ●
Robson Leite
14
abr-mai/08
Reportagem
Por Eduardo Fehn Teixeira
Border Collie:
Eficiência e economia no manejo do rebanho
Eficiência e economia sempre foram as palavras-chave que impulsionam e tornam viável qualquer exploração pecuária. Assim, ser ou não eficiente vai determinar o sucesso ou fracasso, tanto
do criador de ovinos, como de qualquer criação
pecuária em moldes empresariais.
Eficiência na seleção genética pelo constante
melhoramento do rebanho; eficiência alimentar
com o fornecimento de nutrientes adequados, de
qualidade mas de bom preço; eficiência sanitária,
sobretudo na prevenção de doenças, e eficiência
no manejo. Sim, porque ao lidar com os animais
com eficiência, mas com baixo custo, o resultado
será um estresse mínimo para os animais e rendimento máximo na atividade.
E
m todo o mundo o manejo correto e eficiente
dos animais têm sido
cada vez mais uma preocupação fundamental na exploração
pecuária, com o mesmo nível
de importância da genética,
da sanidade e da alimentação,
instalações, entre outros itens”,
enfatiza o produtor de ovinos
Alexandre Zilken de Figueiredo, criador da raça de cães
pastores Border Collie, em São
Lourenço do Sul (RS), onde
toca o seu Canil Torena (www.
caniltorena.com). Alexandre
também é integrante da diretoria da Associação Gaúcha
de Criadores de Border Collie,
membro da Comissão Técnica
de Provas de Pastoreio da entidade e juiz de provas de pastoreio no Brasil.
Segundo ele, nos países de
ovinocultura
desenvolvida,
como Austrália, Nova Zelândia, EUA, Canadá, Inglaterra
e África do Sul, os criadores
não dispensam três coisas para
o apropriado manejo dos animais: mão-de-obra especializada, boas instalações e um item
pouco conhecido no Brasil: os
cães de trabalho treinados, pastores, como os da raça Border
Collie. “Não são cães comuns.
São cachorros de raças especializadas de trabalho com animais a campo e em mangueiras
e adequadamente adestrados”,
argumenta Alexandre.
É mesmo incrível, senão
incompreensível – comenta o
criador - que no Brasil, como
de resto na maior parte da América Latina, esses fantásticos
cães de trabalho são menosprezados e todo o seu potencial
Fotos: divulgação
De longe o cão fixa o olhar...
...mais próximo ele contém o rebanho
simplesmente não é utilizado
pelos produtores.
Entre as razões do não uso
dos cães de pastoreio, ele destaca: não há tradição de treinar
cães e os animais usados no
Brasil não têm aptidão genética
para o trabalho eficiente nem
são adestrados minimamente para executar estas tarefas.
“O uso de cães errados acaba
criando a falsa idéia de que
Mil ovelhas manejadas sem cerca
Pode-se dizer que Arthur Baumgartner
é um pecuarista realmente diferenciado no
Brasil. Proprietário da Fazenda Sabiá, em
Guaimbe (localidade que fica entre Marília e Lins), em São Paulo, ele é produtor
comercial de ovinos e de gado Nelore. Só
que além de empregados, ele conta em
seu estabelecimento com a valiosa ajuda
de trabalho a campo de nada menos que
seis cães pastores treinados da raça Border Collie.
“Conheci esses cães e o que eles são
capazes de fazer em trabalho de campo na
Suíça, nos anos 90, e fiquei realmente admirado. Então, trouxe uma cadela da Suíça e mais dois cães dos Estados Unidos. E
foi assim que tudo começou ...”, recorda o
criador paulista.
Baumgartner maneja e alimenta mil
ovelhas por 45 dias em palhada e depois
em rebrota de amendoim. “E fazemos isto
sem ter cercas. Todo o manejo é realizado
pelos cães, que á noite conduzem os ovinos para potreiros formados com telas/redes elétricas móveis”, conta o criador.
“Depois que se conhece os cães da raça
Border Collie e que se vê o trabalho que
eles fazem com o rebanho, a gente fica
realmente maravilhado e nunca mais produz sem eles. Ao natural, esses cães fazem
com que o rebanho fique mais ligado ao
criador. Tudo sem violências ou estresse,
o que se traduz em maiores lucros na atividade”, sentencia. ●
cães mais atrapalham do que
ajudam no manejo”, desabafa.
É comum os pecuaristas valorizarem seus cavalos de trabalho, de boa genética e bem
domados. Mas não reconhecem
as vantagens de ter bons cães de
trabalho treinados. “Um bom
cão pode, sem exagero, fazer
serviços que nem três homens
bem montados conseguem. Na
maior parte das lides de campo, um cão bem treinado será
sempre mais rápido e eficaz
que o melhor peão montado em
cavalo preparado”, exemplifica
Alexandre.
Para o criador, essa realidade
brasileira vai se reverter, com
toda certeza. É só uma questão
de tempo. A introdução de cães
de trabalho treinados se dará
à medida que os pecuaristas
perceberem que é muito mais
econômico e eficiente ter um
só peão trabalhando com cães
treinados, de modo eficiente e
sem estresse para os animais,
do que um grupo de homens
aos gritos e correrias num trabalho desgastante para todos”,
sintetiza.
“Na nova Zelândia e Austrá-
lia é comum um único fazendeiro cuidar de 10 mil ovinos
contando apenas com auxilio
de cães. E na Inglaterra há
muitos ovinocultores com mais
de 70 anos que conseguem manejar rebanhos em zonas montanhosas e sem cercas, apenas
comandando cães de pastoreio.
Assim como nos Estados Unidos, é corriqueiro que cowboys manejem a pé milhares
de cabeças de gado em confinamentos com auxilio de cães
de trabalho”, conta o criador de
Border Collie.
Nestes países – destaca estes cães são tão valorizados
que as provas de pastoreio são
grandes acontecimentos, como
nossas exposições de animais,
que duram vários dias e reúnem milhares de pessoas, principalmente fazendeiros.
De onde vem a eficiência
do cão pastor
Por não possuírem fala, os
animais desenvolveram uma
linguagem de gestos e posturas muito rica e eficiente, compreensível por outras espécies.
“Entre o cão e ovino ou bovino
existe uma relação de caçador
e presa, onde é usada uma linguagem que ambos entendem
muito bem. E nesse “diálogo”
há um respeito mútuo que facilita o trabalho e reduz o estresse dos animais”, relata Figueiredo, para quem o modo como
o cão se posiciona e a maneira
como ele olha a sua presa, informam a ela a sua intenção, a
sua vontade. “Tanto o bovino
como o ovino percebem essas
sutilezas e respondem também
com gestos (recuando, parando, caminhando, etc.). E o cão
é capaz de perceber a intenção
dos animais do rebanho e se
antecipar a ele antes mesmo
dele tentar alguma fuga. Isso
faz que os animais conduzidos
desistam de se rebelar contra a
condução, pois vêm frustradas
quaisquer tentativas de escape, acabando por se deixarem
submeter ao comando do cão”,
ensina o criador.
Figueiredo cita outras qualidades do cão, tais como a
velocidade de deslocamento,
a capacidade de mudar de direção e a coragem e precisão
»
15
abr-mai/08
Fotos: divulgação
Os Britânicos
devem muito aos
seus cães. Pinturas
do século IX
mostram que eles
não dispensavam
cães treinados. Na
foto, fazendeiros
participam
orgulhosos
de provas de
pastoreio em 1961
(fotos de Border
Collie Museum)..
para cercar e punir os animais
rebeldes, quando se faz necessário. “Essas características do
cão aumentam a sua vantagem
sobre um peão, mesmo que
bem montado. E por serem pequenos e leves, os cães podem
trabalhar em vegetações e terrenos que impedem o trabalho
a cavalo, como matos e zonas
de muitas pedras”, argumenta.
Os sons e os cheiros
Os cães de trabalho possuem
os sentidos da audição e principalmente do olfato muito mais
apurados que os do homem,
permitido o trabalho à noite ou
em vegetação fechada, onde a
visão é dificultada. “Esses cães
são capazes de atravessar rios
e alagados a nado pra trazer
animais de volta ao rebanho”,
informa o criador.
Os cães pastores treinados
se encaixam perfeitamente nos
preceitos que englobam o bemestar animal. Assim, rebanhos
trabalhados corretamente com
cães bem treinados são sempre
mais tranqüilos, menos ariscos
ao homem e mais produtivos
que aqueles tratados com gritos,
relhaços, guizos, choques ou
cães descontrolados que latem
e mordem desordenadamente.
“Ao trabalhar com mais eficiência o cão se torna útil também por causar menor estresse
ao rebanho, e menos estresse
no manejo dos animais resulta em menor perda de peso”,
lembra Alexandre Figueiredo,
apontando enormes vantagens
aos criadores que usam cães no
trabalho.
Conforme ele, estudos realizados por universidades
americanas demonstraram que
um manejo sob estresse intenso, como banho carrapaticida,
pode determinar a perda de até
8 quilos por ovino. Mas essa
perda pode ser bastante reduzida com uso de cães treinados.
O baixo estresse é conseguido
com um trabalho ágil, silencioso (cães de raças de trabalho
não latem!), eficiente, sem movimentações desnecessárias e
sem impor terror aos animais.
De onde veio o cão pastor?
As raças de cães pastores foram desenvolvidas exclusivamente para o trabalho. Desde
a pré-história, em sua luta pela
vida, o homem tem seleciona-
O treinamento de cães pastores não é difícil nem complicado. Não é coisa
de circo nem de quem tenha superconhecimentos, segredos ou técnicas complexas. Pelo contrário. O fato do cão de trabalho possuir grande inteligência,
treinabilidade e forte instinto de pastoreio, faz com que qualquer pessoa que
tenha algum conhecimento possa treiná-lo com bons resultados.
do cães para ajudá-lo em suas
atividades pastoris. O cão foi o
primeiro animal a ser domesticado, há cerca de 15 mil anos.
Inicialmente ele era um companheiro de caçadas, mas logo
passou a auxiliar o homem a
recolher animais selvagens
para domesticar. “Na Grã-Bretanha ter um cão pastor eficiente sempre foi questão de sobre-
vivência econômica. E desde
a antiguidade os britânicos
vivem pastoreando em zonas
de montanhas íngremes, pedregosas e sem cercas, o que torna
o trabalho a cavalo impossível
e a movimentação a pé inútil”,
ilustra Figueiredo. Perder parte
do rebanho significava a perda
de suprimento de carne e lã,
ameaçando a manutenção das
Uma máquina de trabalho que reduz custos
com caprinos valentes e teimosos”, define o criador.
A importância de uma boa genética
Eficiente, de baixo custo e amiga de seu dono
Pinturas antigas já mostravam o uso do cão no pastoreio
famílias. “Por essa necessidade surgiu, há centenas de anos,
na fronteira (border) da Escócia com a Inglaterra, o Border
Collie, companheiro inseparável dos pecuaristas britânicos
e, atualmente, dos homens do
campo do mundo todo. Desta
raça derivaram quase todas as
modernas raças de trabalho”,
enfatiza. ● »
Alexandre Figueiredo alerta que o cão de pastoreio não deve ser encarado apenas como um
animal de estimação. Para o criador, ele é amigo
como um cão, mas também é uma verdadeira máquina de trabalho, que representa mais eficiência
com menor custo”. Ele enfatiza que os cães pastores não são cães de “show” ou de apresentação
em rodeios, nem mesmo apenas um animal para
provas. “Estes cães são essencialmente obstinados
cães de trabalho. Eles nasceram para trabalhar, e
é do que eles gostam, seja com rápidas e sensíveis
ovelhas, seja com o gado mais rebelde e arisco ou
A satisfação de trabalhar com esses incríveis
cães pastores não pode ser alcançada pulando etapas ou pegando atalhos. Tudo começa necessariamente com um cão de origem comprovada. “Esse
filhote deve ser criado adequadamente e, finalmente, receber um bom treinamento. Só assim se
terá nas mãos todo o potencial desta surpreendente
e insuperável raça de trabalho”, alerta Figueiredo.
Segundo ele, no Brasil já há criadores honestos
e criteriosos (infelizmente poucos ainda) que têm
importado cães de trabalho de consagrados criatórios da Inglaterra, da Europa continental e dos
Estados Unidos. Aqui eles são experimentados
criteriosamente antes de serem acasalados com
outros cães, também selecionados. Suas proles,
então, são testadas nas fazendas e nas pistas de
provas (desde o ano 2000, há no Brasil campeonatos regionais e nacionais de pastoreio), com muito
rigorismo, procurando produzir cães confiáveis,
de ótimo desempenho e de genética superior e
estável, capazes de trabalhar com perfeição nas
condições brasileiras, com nosso tipo em nossas
propriedades. ●
16
abr-mai/08
Fotos: divulgação
Como e onde surgiu essa raça extraordinária?
Raça existe há mais de 200 anos
M
uitas vezes se lê ou se
escuta que a raça Border Collie tem 150,
200, 300 anos de seleção. Mas
conforme o criador Alexandre
Zilken de Figueiredo, a origem
dessas informações e os motivos
que levam a estas conclusões
são sempre omitidos ou obscuros. “Será possível que há 200
anos, em um determinado dia,
um inglês, morador na fronteira com a Escócia, decidiu fazer
uma raça de cães pastores com
determinadas características e
começou a selecioná-la?”, questiona. “Lógico que não aconteceu desta maneira”, responde.
Criador de Border Collie e cordeiros da raça Texel em sua
Estância Adalgisa, Alexandre
Figueiredo observa que a seleção de canídeos com aptidões
de pastoreiro existe muito antes
do homem ter contato com esses animais, possivelmente há
milhões de anos.
Falando sobre as origens e
o início da formação da raça, o
criador diz que a seleção natural
se encarregou, durante milhares
de anos, de preservar e reproduzir os genes para essas atividades em populações de lobos,
raposas, coiotes, chacais, etc.
Quando finalmente o homem se
associou a esses animais, no início da domesticação, essas características já existiam e talvez
por percebê-las o homem avaliou vantagens em ter canídeos
para ajudá-lo em suas caçadas.
“Desde então há uma seleção
artificial empírica buscando preservar os cães mais amigáveis,
menos agressivos, mais colaboradores, mais treináveis, mais
“inteligentes”, conta Figueiredo.
As evidências sobre a época e o
modo de domesticação - como
ossos e ferramentas encontrados à volta dos antigos acampamentos e cavernas, desenhos
e entalhes nas paredes de cavernas, ou ornamentos - são incompletos. Mas não há dúvida
que o homem já tinha domesticado o cão no período paleolítico. “Sabe-se, por exemplo,
que os aborígines paleolíticos
foram para a Austrália levando consigo o cão”, assinala.
ajudavam a cuidar de rebanhos.
É óbvio que os cães agressivos,
que dispersavam rebanhos ou
que não obedeciam a seu dono,
já eram também eliminados,
num processo seletivo. “Possivelmente iniciando a seleção
do cão pastor, assim como de
quase todas as outras raças de
cães”, aponta.
As raças de cães pastores
modernas têm hoje quase a
mesma função para o homem
que já tinham os primeiros canídeos domesticados, ou seja,
de juntar (e não de dispersar)
rebanhos e conduzi-los a um local onde podiam ser abatidos ou
aprisionados.
“Algumas espécies de lobos
caçam deste modo. Lobos de
hierarquia inferior arrebanham
1570. Muitos crêem que o nome
“collie” possa derivar de uma
palavra gaélica que significava
útil. Outros autores afirmam que
“collie” vem da palavra “colley”, uma raça de ovelhas. Outra
pista é a existência da palavra
“coolie” em inglês, que quer
dizer trabalhador. Mas qualquer
que seja a hipótese verdadeira,
o certo é que há muito tempo
“Collie” designava o cão preto
(como eram quase todos) e útil
que servia aos pastores daquela
região do globo.
“Durante séculos esses cães
pastores trabalharam com seus
donos cuidando de rebanhos sob
chuva, neve e mormaços, em
terras íngremes e pedregosas,
sem nenhum reconhecimento,
fora o de seus próprios donos”,
As raças de cães pastores modernas caçam de modo semelhante
aos lobos, que conduzem instintivamente os rebanhos para
o líder da matilha que, no caso do Border Collie, é o ser humano
Mas se os registros arqueológicos mostram os restos de cães
domésticos com aproximadamente 14 mil anos, análises
genéticas que consideram a
divergência do DNA mitocondrial entre cães, lobos, coiotes
e outros canídeos, sugerem que
a domesticação do cão tenha
ocorrido há 100 mil anos.
Alexandre Figueiredo garante que o Border Collie ainda carrega hoje traços físicos e
comportamentais de seus antepassados, os lobos.
No período neolítico – diz o
criador – quando o homem polia pedras e construía cabanas,
quase todas as raças modernas
já estavam domesticadas. E
muito provavelmente os cães já
Border tem origem na Escócia
lotes de herbívoros e os conduzem a um ponto onde o lobo
alfa, descansado, está à espera
para abater uma presa que servirá de alimento à matilha. O
homem faz hoje o papel desse
lobo alfa, para quem o Border
Collie, como seus ancestrais,
conduz o rebanho. E não é
por acaso que os cães pastores
mantém, além das características comportamentais, muito da
aparência física dos seus antepassados lobos.
A criação da raça
O Border Collie é originário da região fronteiriça entre
a Escócia e a Inglaterra. Mas a
raça é muito mais antiga, com
referências literárias e pictóricas que datam de, pelo menos,
diz Figueiredo, informando que
foi em Bala, no País de Gales, a
9 de Outubro de 1873, o início
dos primeiros concursos de pastoreio, quando pela primeira vez
foi mostrada esta raça aos olhos
do público. “O encantamento foi
inevitável. E a popularidade da
raça como grande ferramenta
de trabalho foi crescendo rapidamente, acompanhando o desenvolvimento da indústria da
lã e mais tarde da carne ovina”,
argumenta. Por volta de 1800,
os cães Border Collie tinham
se tornado ajudantes invariavelmente presentes nas fazendas
inglesas.
Em 1906, alguns pastores que
se preocupavam com a preservação da raça fundaram a Interna-
cional Sheep Dog Society (ISDS)
por encontrarem-se insatisfeitos
com o Kennel Club. O descontentamento vinha do fato desta
entidade se preocupar mais com
o aspecto exterior dos cães do
que com as sua funcionalidade.
A ISDS é hoje responsável pelo
Stud Book que registra os cães de
trabalho e que organiza as provas
de pastoreio (sheepdog trails).
Em 1918, James Reid, secretário da ISDS, acrescentou pela
primeira vez a palavra “Border”
a raça que então era conhecida
apenas como “collie”, fixando
assim o nome Border Collie,
“collie da fronteira”.
Mas que características eram as
selecionadas pelos pastores ingleses que criavam e dependiam
do Border Collie? Quais cães
eram apreciados e reproduzidos?
Segundo Figueiredo, primeiramente era fundamental que o cão
tivesse o instinto de arrebanhar
os animais sem nunca dispersálos ou afugentá-los, e trazê-los
ao seu dono. Depois era preciso que o cão fosse capaz, física
e mentalmente, de fazer isto de
modo eficiente e seguro. Para tal
exigia-se um cão calmo e equilibrado, mas que tivesse resistência, velocidade e agilidade superior às das ovelhas.
Resistência e obstinação
Sobretudo na Grã-Bretanha,
berço da maioria das raças bovinas e ovinas, ter um cão pastor
eficiente era questão de sobrevivência. Isto se explica pelo fato
de aqueles fazendeiros viverem
pastoreando em zonas montanhosas, totalmente abertas e íngremes, que tornava o trabalho a
cavalo impossível e a movimentação a pé inútil para o controle
dos animais. “Esses cães quase
sempre trabalhavam em condições severas e desgastantes. Dominar por muitas horas seguidas,
rebanhos ariscos, velozes e rebeldes, em montanhas íngremes,
com pedras ásperas, frio intenso,
chuva... Muitas vezes sem ver o
dono nem receber deste qualquer
orientação, exigia uma obstinação e uma tenacidade incomuns.
E foi justamente a partir dessa
necessidade fundamental que o
pastor daquela região e acabou
por criar o Border Collie, reconhecido como o melhor cão pastor do mundo. ●
Jornalista
17
abr-mai/08
Reportagem
Garanta o nascimento de cordeiros saudáveis
Por Eduardo Fehn Teixeira
E
steja onde estiver, de Norte a Sul do Brasil, é agora
a hora de o criador adotar as providências para que não
haja mortalidade de cordeiros
na próxima temporada de nascimentos, que em média ocorre
no início da próxima Primavera,
ou a partir dos meses de julho e
agosto. Agora, portanto, é o momento adequado a que o produtor
forme as pastagens que vão dar
sustentação nutricional às fêmeas
cobertas para a produção de cordeiros deste ano.
Sim, simplesmente porque a
principal causa da mortalidade
de cordeiros que historicamente
ocorre na ovinocultura, é conseqüência direta da falta de nutrição
adequada das borregas e ovelhasmães. E principalmente as borregas de primeira cria devem ser
apoiadas e cuidadas com esmero,
pois somando sua inexperiência
com uma condição física debilitada, vamos ter como resultado a
morte do cordeiro (ou dos cordeiros) nascidos.
Só no Rio Grande do Sul, segundo o próprio presidente da
Arco, Paulo Afonso Schwab, a
taxa de mortalidade de cordeiros
chega a alarmantes 40%. E segundo ele, essa mortalidade ou déficit de nascimentos de cordeiros
não é um privilégio dos gaúchos,
mas ocorre, em índices variáveis,
em todas as regiões produtoras
do Brasil.
“A redução destes índices
preocupantes de mortalidade de
cordeiros não representa investimentos pesados, mas sim cuidados com o manejo dos rebanhos,
onde os destaques precisam ser
dados pelo criador basicamente
nas áreas de sanidade e de nutrição das fêmeas e dos rebanhos de
modo geral”, sintetiza o dirigente.
Para ele, na atualidade o produtor
conta com uma série de avanços
técnicos que, através dessas práticas, ele é capaz de adequar principalmente as épocas ideais para
o encarneiramento e, por conseqüência, as épocas mais propícias
para os nascimentos dos cordeiros”, examina Paulo Schwab.
Conforme a veterinária Sônia
Desimon, assistente técnica estadual em pecuária da Emater/RS,
em linhas gerais o criador precisa
estar constantemente preocupado com a saúde de seu rebanho,
adotando todos os procedimentos
(vacinações, vermifugação, etc.),
Preparar as fêmeas é fundamental
porque animais saudáveis são
menos suscetíveis a contrair doenças. Mas a técnica adverte que
quando o produtor observar que
o úbere da borrega ou da ovelha
prenha está começando a ficar
mais dilatado (começa a amojar,
a descer o leite), isto significa
que o nascimento do cordeiro vai
acontecer dentro de 10 a 15 dias.
Principalmente neste momento
o criador precisa colocar essas
fêmeas prenhas em uma boa pastagem. “Isto vai proporcionar o
estado nutricional ideal para que
a fêmea traga à vida seus filhos
de forma saudável”, diz a veterinária.
Sônia observa que os filhos de
fêmeas saudáveis e bem nutridas
já nascem fortes, com bom tamanho e levantam rápido, caminham
e evitam a morte tanto por chuva
e frio como pela ação de predadores. “E a fêmea, bem nutrida e
saudável, está apta a amamentar
de forma correta os seus filhos,
possibilitando um fortalecimento e o crescimento mais rápido
da cordeirada”, assinala. Ela diz
inclusive que com as ovelhas e
os cordeiros fortalecidos, os predadores também se retraem, porque suas vítimas preferidas são
aquelas que enfrentam debilidade
física.
Outra prática apontada pela
veterinária como eficaz é esquila
pré-parto, feita normalmente de
um mês a até 60 dias antes da parição. “Mas essa esquila tem que
ser feita com muito cuidado para
não prejudicar a gestação. E principalmente em regiões frias e/ou
com muita chuva, a ovelha precisa ser protegida, normalmente
com o uso de uma capa”, aponta.
Mas a técnica também recomenda que o produtor prepare locais adequados à parição de suas
borregas e ovelhas. Um lugar
escolhido e incrementado para
ser uma verdadeira maternidade.
“Esses potreiros, principalmente
nas regiões mais ao Sul do Brasil, onde o frio e chuva são intensos, precisam ser locais ideais,
com abrigos e proteções contra
as intempéries, como por exemplo a plantação de cortinas contra
Segundo ele, em sua região a mortalidade dos
cordeiros fica na média
de 10% nos rebanhos de
produção e a metade deste índice nas cabanhas
produtoras de reprodutores repassadores de genética. “Aqui não temos
o frio como o principal
inimigo dos cordeiros,
mas enfrentamos outros
problemas como os de
ordem sanitária”, identifica o veterinário. “Estamos tendo muitos abortos e fica difícil identificar com precisão o que
está provocando isto”,
revela.
Joselito cita algumas
práticas como básicas
a serem executadas pelo produtor: proteger os animais do vento, chuva e frio; fazer o cordeiro
mamar (se já não tiver feito isso)
antes de passadas duas horas do
nascimento; o cordeiro deve ficar
no pasto, com sua mãe, até 15
dias após o nascimento e a partir
de 15 dias o criador deve controlar a eimeriose, um protozoário
que causa diarréia e pode levar o
cordeiro á morte.
A ovinocultura, assim como
qualquer outra atividade econômica, precisa de muita organiza-
Cordeiros bem nutridos vivem mais
o vento feitas com o plantio de
cercas-vivas”, recomenda a dra.
Sônia Desimon.
Já o veterinário Joselito Araújo Barbosa atribui a acentuada
taxa de mortalidade de cordeiros
que ocorre na região do Brasil Sul
ao frio intenso que ocorre nesta
parte do País. “Sem a ajuda do
produtor, a mãe e principalmente
o seu cordeiro ficam expostos à
sua própria sorte”, diz o Barbosa,
que é técnico da ARCO na Bahia,
baseado em Feira de Santana, na
região central daquele estado.
ção e controle, para que a receita
possa não só ser positiva, mas a
mais elevada possível. É o que
diz o pesquisador da Embrapa
Pecuária Sul, em Bagé, RS, Carlos José Hoff de Souza.
Para ele, quando se fala em
reduzir a taxa de mortalidade de
cordeiros, tudo precisa começar
pela prevenção. “O produtor tem
que programar os acasalamentos,
para que os nascimentos possam
ocorrer na melhor época do ano
em termos de clima”, aponta.
Conforme o especialista, saben-
do quando as ovelhas vão parir,
o criador deve se preocupar em
manter os animais com sanidade
e boa condição corporal. “E um
mês antes da parição, as ovelhas
precisam ser vacinadas, para que
o seu colostro esteja rico em anticorpos, especialmente para o
combate à clostridiose”, recomenda o pesquisador.
“Já vi cordeiros nascerem na
neve, na Patagônia. O cordeiro
caiu na neve e em seguida levantou e foi mamar. Saiu de 40 graus
positivos no útero da ovelha e
caiu num solo com neve com
cinco graus negativos. Mas teve
forças para cumprir seus instintos
...”, contou o técnico em zootecnia Vitor Ferraz, um gaúcho que
já trabalhou em vários pontos do
Brasil, no Uruguai, andou pelo
mundo e atualmente é um dos
responsáveis pelo plantel de ovinos Dorper da VPJ Pecuária, em
Jaguariúna, SP.
Segundo Ferraz, o cordeiro
agiu assim porque sua mãe estava
com uma excelente condição corporal, o que fez com que o cordeiro nascesse forte, saudável.
Vitor Ferraz concorda com as
observações dos demais técnicos.
Mas ele chama a atenção dos criadores para um aspecto que considera de suma importância: fazer
a seleção das fêmeas pela habilidade materna. “Se a ovelha, bem
nutrida, cuida bem de seu cordeiro, fica no plantel para produzir
mais. Mas se não é boa mãe, deve
ser eliminada, para não transmitir
à sua descendência essa característica negativa”, assinala. Para
o técnico, a habilidade materna
é avaliada pelo criador a partir
da condição do cordeiro desmamado. “Ele precisa nesta fase de
sua vida estar bonito e saudável,
o que mostra que teve uma boa
mãe”, diz.
O especialista em ovinocultura
e prática de campo alerta também
que é mais importante manter um
rebanho num nível nutricional
médio do que superalimentar as
fêmeas no último terço da gestação. “Agindo assim o criador vai
evitar a distocia no parto – quando
o cordeiro é muito grande, sacrificando a ovelha no nascimento.
Essa é uma das principais causas
do abandono da cria pela ovelha
mãe, que passa a se preocupar
mais com seu próprio sofrimento
do que em cuidar de seu cordeiro”, explica Vitor Ferraz. ●
Jornalista
18
abr-mai/08
Artigo
Suplementação mineral
de borregas na recria favorece
acabamento e funções reprodutivas
Por Maria Angela Machado Fernandes*
I
niciada logo após o desmame, a recria é a fase do
sistema de produção da
criação ovina em que definese a destinação dos animais,
ou mais diretamente, se vão
ser acabados para o abate ou
preparados para entrar em
reprodução. O sucesso desta
fase, cujo objetivo é necessariamente melhorar a condição
corporal dos ovinos, está calcado basicamente na alimentação de qualidade.
Em diversos sistemas de
produção de ovinos, a alimentação exerce influencia sobre a
produção, o melhoramento, a
saúde e o rendimento econômico dos animais, manifestando seus reflexos especialmente sobre o ganho de peso, a
produção do leite, no trabalho
muscular e na acumulação de
gordura.
Para isso, a dieta deve ser
baseada em volumoso, sejam
forragens verdes ou conservadas (feno e silagem), ressaltando que estes alimentos devem
ser de boa qualidade nutritiva.
No entanto, a suplementação
mineral é uma prática indispensável em especial a indivíduos jovens em fase de crescimento, pois funciona como
um importante complemento
alimentar.
A correta suplementação da
dieta favorece funções vitais
como desenvolvimento ósseo e
muscular, digestão, respiração,
circulação, sistema locomotor,
entre outros. É indispensável
utilizar suplementos minerais
específicos para ovinos, nunca sal branco ou suplementos
para bovinos.
A idéia de suplementação
mineral adequada, até recentemente difundida e aceita pela
maioria dos especialistas, era
aquela em que os ovinos recebiam uma mistura mineral
“completa” 365 dias por ano,
sem considerações quanto ao
tipo de dieta, época do ano,
categoria animal e natureza
Notícias do brete
Hampshire Down
faz Exposição Nacional
A ABCOHD (Associação Brasileira de Criadores de Ovinos
Hampshire Down) decidiu realizar entre os dia 28 de maio e 1º de
junho, junto à Fenasul, a V Exposição Nacional de Ovinos Hampshire. Conforme o presidente da entidade, Wilson Barbosa, a expectativa é reunir animais e criadores de vários estados.
Confira a programação do evento
– 28/5 (quarta-feira): Das 6h às 22h - Chegada dos animais.
– 29/5 (quinta-feira): A partir das 9h - Julgamento de Admissão.
– 30/5 (sexta-feira): A partir das 9h - Julgamento de Classificação
– 31/5 (sábado): 10h Palestra; 11h - Reunião da ABCOHD; - 16h
Leilão Hampshire Down (animais premiados, a galpão e a campo)
– 1º/6 (domingo): A partir das 18h - saída dos animais.
Promoção e Realização: ABCOHD (Associação Brasileira de
Criadores Ovinos Hampshire Down) Informações pelos telefones 51
3259.5522 / Liane e 51 9982.3533 / Wilson Barbosa, ou pelo e-mail:
[email protected] ●
Parque de Taperoá
Rebanho mal nutrido tem problemas na reprodução
e nível de desempenho. Este
conceito de suplementação
parte da premissa de que cada
animal consome da mistura
mineral à sua disposição, a
quantidade aproximadamente necessária para atender às
suas demandas metabólicas, o
que pressupõe uma sabedoria
nutricional instintiva por parte
do animal.
Hoje, sabe-se que o consumo de determinado suplemento é muito mais uma função de
sua palatabilidade do que de
sua capacidade em satisfazer
demandas nutricionais específicas. Dessa forma, é importante ministrar suplementos
minerais por meio da ingestão forçada, preparando uma
mistura que contenha todos
os macro e micro elementos
necessários junto ao concentrado. É preciso atentar para
a ingestão excessiva de certos
minerais, que pode ser prejudicial á saúde causando distúrbios nutricionais.
Um rebanho ovino mal nutrido além de apresentar queda
na sua produção terá, problemas de ordem reprodutiva e
sanitária. Atenção à suplementação de fêmeas em final de
gestação, em lactação e animais em crescimento, pois são
as épocas da vida em que há
maior probabilidade de aparecimento de deficiências minerais.
Atenção também deve ser
dada á forma de fornecimento
dos suplementos minerais. Um
experimento conduzido na
Universidade Federal do Paraná, com borregas em fase de
crescimento alimentadas sob
dieta de confinamento avaliou
o desenvolvimento de dois
grupos com base em diferentes formulações de suplementos minerais.
Foi observado que animais
que receberam suplementação
mineral adequada em mistura
na dieta e à vontade no cocho
de suplementação apresentaram os melhores resultados de
desempenho. Os animais que
não receberam suplementação
mineral apresentaram desempenho inferior. A ração com
2,0% de suplemento mineral
atendeu melhor às exigências
orgânicas das borregas em
crescimento, se comparada à
concentração inicial de 1,5%.
Assim, conclui-se que é
importante observar que a suplementação mineral precisa
se feita de forma diferenciada, sempre com o objetivo de
atender as necessidades de
cada rebanho. Neste processo,
é importante levar em conta a
racionalidade econômica do
investimento na suplementação, avaliando a todo momento os benefícios da técnica no
ganho de peso dos animais. ●
* Médica veterinária e
colaboradora da Tortuga
Cia Zootécnica Agrária.
É diferente de todos os parques de exposições que existem
no país. Seus idealizadores dizem inclusive que é o único feito
todo ele em pedras. E realmente
impressiona o visitante. Desde o
portal de entrada, as baias, e o
cercado da pista de julgamento,
tudo é feito em pedra, montada
como muralhas. Ali foi construída uma estrutura para palestras,
cursos e uma sala de ordenha
para caprinos, hoje usada para
bovinos. “Quando acontecem
as feiras junta um povo que dá
alegria de ver”, diz o técnico da
ARCO, Marconi Sales. ●
Caroatá completa 10 anos
O Rebanho Caroatá, com
sede em Gravatá, Pernambuco,
e em Baixa Grande, na Bahia,
completa 10 anos de alta seleção
genética de caprinos Boer e ovinos Santa Inês e Dorper. A criação do pecuarista Luiz Felipe
Brennand, iniciada
a partir da importação de embriões da
África do Sul e animais campeões dos
Estados
Unidos,
desenvolveu-se a
partir do uso das mais modernas
técnicas de reprodução animal
e hoje é referência nacional na
criação das raças. A qualidade é
evidenciada nas pistas: na Expo-
sição Nacional de Santa Inês de
2007 levou sete prêmios, entre
eles o de Melhor Criador Nacional para Luiz Felipe Brennand.
O rebanho também atua fortemente na promoção de leilões,
sendo um dos que mais promove
esse tipo de evento,
com 14 realizados
em 2007. Há sete
anos criadores de
todo o Brasil participam dos leilões
Caroatá, Pompeu
Borba e Três Ases e Um Curinga, realizados anualmente nas
cidades de Gravatá-PE, RecifePE, João Pessoa-PB e SalvadorBA. ●
Texel realiza
1ª Expo Nacional
Evento conta com julgamentos e um remate coordenado pela Brastexel, a associação dos criadores da raça. A Associação Brasileira de Criadores de Texel,
com sede na capital gaúcha Porto Alegre, confirmou a realização da 1ª Exposição
Nacional da raça.
O evento faz parte da agenda da Fenasul 2008, mostra com forte presença de
gado leiteiro, eqüinos e máquinas, que acontece em Esteio, RS, entre os dias 28
de maio e 1º de junho. Além dos julgamentos, a previsão é realizar um leilão com
oferta de animais de várias categorias e idades.
Maiores Informações com a Brastexel, fones: Telefone / Fax (51) 3211.0930 /
3211.0820 ou pelo Endereço Av. Borges de Medeiros, 541 - 5°andar Casa Rural
– Centro Porto Alegre / RS - CEP 90000-000. ●
19
abr-mai/08
Notícias do brete
Paraíba Agronegócios movimenta
R$ 5 milhões em venda de animais
Na raça Santa Inês, forte disputa nas filas de julgamento
Considerado o maior evento
do setor rural do Estado o “Paraíba Agronegócios 2008” realizado entre 23 e 30 de março
no Parque de Exposições Henrique Vieira de Melo, em João
Pessoa (PB), fecha o balanço
com vendas de R$ 5 milhões
em animais. De acordo com
o presidente da Faepa, Mário
Borba, o evento pode ser considerado um sucesso também
pela estrutura, público e entrosamento que proporcionou
entre os produtores rurais. “Se
não foi a maior, com certeza foi
a melhor realizada nos últimos
anos. Conseguimos trazer mais
de 2 mil animais, contemplando praticamente todas as raças
do Estado e do Nordeste”.
O setor de ovinos e caprinos
foi um dos mais completos no
Paraíba Agronegócios 2008,
reunindo mais de 1.300 animais das diferentes raças, de
Paraíba, Ceará, Alagoas e Pernambuco. Segundo o gerente
da Apacco, Marcelo Torquato,
mais de 200 baias foram contratadas por 130 criadores.
Os julgamentos abriram a
temporada do ranking nacional de Santa Inês e Dorper. De
acordo com o então presidente
da Apacco, Aralto Alves, a exposição de João Pessoa é conhecida como uma das melhores do país para o setor de ovinos de caprinos. “Nosso Estado
conta com um rebanho de alta
linhagem e o Paraíba Agronegócios consegue reunir os melhores criadores de toda região
nordeste”, disse Aralto. ●
Resultado dos Leilões:
Os 4 leilões movimentaram um total de R$ 2.578.184,00. Confira aqui os detalhes
e médias de cada evento: Baby Paraíba - Santa Inês macho/fêmea e embriões, e
Dorper fêmea - total 26 animais e 9 embriões - total - R$ 169 mil; Paraíba Show Matrizes e reprodutores de ovinos: Dorper, Santa Inês P3, Santa Inês PO – número
de animais 68 - total, 712 mil - média por cabeça: R$ 12 mil; 1º Leilão Santa Inês
Paraíba - animais PO, Prov III, e Prov II, machos e fêmeas - Número de animais:
56 - total R$ 499,6 mil - média por animal: R$ 9,25 mil; Destaques: Bandidinho 355
- Santa Inês PO/Macho - cota de 10% vendida por R$ 10 mil e Cantinho Joana 1328Santa Inês PO/fêmea - cota de 50% vendida por R$ 32 mil; 7º Leilão Pompeu Borba
- Santa Inês macho / fêmea PO e Prov III - Bôer PO e Dorper. Número de animais:
68 - total em vendas R$ 1,19 milhão - média por animal: 17,6 mil.
Um comércio muito popular
A regra principal é a negociação direta entre vendedor e
comprador. Enquanto a negociação está acontecendo entre um
e outro, ninguém interfere nem
acrescenta outra proposta. Se o
negócio não acontecer, aí sim
outro proponente vai conversar
com o vendedor. Não existe um
leiloeiro ou local específico de
venda como se conhece em outros estados. Assim é o funcionamento da comercialização de
ovinos, nas dezenas de feiras de
animais que acontecem nos estados nordestinos, ao longo da
Feiras
vendem
2 mil ovinos
por encontro
semana. E não há determinação
de quantos animais levar para
vender, tanto pode ser um quanto duzentos. Muitos são levados
a pé, outros de carroça ou ainda
de caminhão.
A feira de Campina Grande,
na Paraíba, acontece sempre às
quartas-feiras e os feirantes chegam por volta das 6h para pegar
o melhor lugar de venda. Por
volta de 10h ela está quase terminada. Segundo o comerciante
de animais, Arnaldo Cândido,
toda a semana são vendidos
cerca de 2 mil ovinos, pela mé-
dia de R$ 80. Na época da seca
os preços baixam em torno de
10%. O criador Bruno Soares de
São João do Cariri, é criador de
animais PO e comercial e fornecedor de Arnaldo. Ele diz que a
feira é o movimento de compra
e venda mais democrático que
existe. “É um mercado paralelo,
que se auto regula em termos de
preço e sempre dá certo”, afirma.
Coréia – O sistema de compra e venda é igual ao das feiras
de animais. A diferença é que
acontece nos bretes durante as
Exposições oficiais de ovinos
que acontecem nos municípios
do Nordeste. Também é diferente entre um e outro local, o nível
zootécnico dos bichos. A Coréia
é o apelido do local em que ficam os animais que não estão
nas baias. Em geral são bretes
avulsos colocados sob uma lona.
Ali, durante a Exposição os interessados nos produtos vão fazendo seus negócios, diretamente com o dono do animal. ●
Feinco 2008
fatura R$ 10 milhões
Raça White Dorper - uma das atrações da Feinco 2008
Com acréscimo de vendas de 145% sobre a edição
do ano passado, a Feinco
2008 – realizada entre 11
e 15 de março, tornou-se
um dos maiores eventos
da ovinocaprinocultura da
América Latina. Em 13 leilões, as vendas alcançaram
os R$ 10,4 milhões, superando em 145% a marca registrada no ano anterior, de
R$ 4,2 milhões. “Sem dúvida alguma, nesta edição,
nos tornamos referência
mundial. Mais de 20 mil
visitantes conferiram novidades tecnológicas e animais apresentados por 150
expositores, que levaram
ao Centro de Exposições
Imigrantes, em São Paulo
um total de 3.896 animais
de 20 diferentes raças ovinas e caprinas.
A consagrada Cozinha
Interativa Feinco / Savana,
recebeu neste ano 890 visitantes e 132 chefs, um crescimento de quase 100% em
relação à edição passada.
Do total de chefs participantes, 28 eram da América Latina, 8 da Europa e
96 da Federazione Italiana
Cuochi - Delegazione Brasile (Delegação Brasileira
da Federação Italiana de
Chefes-FIC). Além deste
espaço gastronômico, uma
das atrações da feira foi o
Lounge Bahia, local criado
para homenagear o Estado
baiano, detentor do maior
rebanho da raça Santa Inês
do País.
Além do III Congresso
Internacional Feinco, voltado para mercado e gestão, a programação da feira
contou ainda com palestras
e cursos gratuitos, focados
em manejo e preservação
ambiental. Entre os temas,
destaque para a construção
de cercas, casqueamento e
cães de guarda de rebanho,
além de palestras sobre reflorestamento e recuperação de matas ciliares.
O Sebrae-SP, em parceria com o Agrocentro
e a Associação Paulista
dos Criadores de Ovinos
(Aspaco), promoveu o encontro “Relacionamentos
& Negócios”, que buscou
colocar em um mesmo espaço produtores rurais - de
confinamentos coletivos e
individuais – e representantes de abatedouros e frigoríficos.
Segundo o coordenador
da Feinco, Décio Ribeiro
dos Santos, “há carência
de produtos no mercado.
A demanda de carne ovina,
por exemplo, é bem maior
do que a oferta. São mais
de 30 mil toneladas de déficit, compensadas pelas
importações. Isso mostra
o potencial que tem este
mercado. Se somente o
consumo interno fosse suprido, toda a cadeia produtiva ganharia com isso,
desde os criadores até a
indústria”. ●
20
abr-mai/08
Novidade
ARCO lança dois novos documentos
Homenagem
C
om o objetivo de dar segurança nos negócios entre os criadores, o setor de Registro
Genealógico criou dois instrumentos que
visam dar maior agilidade na comercialização e
transferência de produtos entre comprador e vendedor com relação à ARCO. O primeiro é um certificado de registro provisório para produtos PO e
PCOC. Ele serve para que vendedor e comprador
tenham garantias de que o produto comercializado
encontra-se apto para posterior confirmação junto
ao Registro da ARCO. Este documento vai agilizar
prováveis vendas entre criadores de estados diferentes. O Certificado de Registro deve sempre ser
solicitado pelo vendedor.
Já o segundo documento, que é a Autorização
de Uso por Comodato, procura dar maior agilidade
nos procedimentos de empréstimos de fêmeas para
reprodução utilizados nos criatórios. Ele servirá
também para o comprador na regularização dos
procedimentos quando das notificações de coberturas e nascimentos.
Estes documentos estão disponíveis no site da
ARCO - www.arcoovinos.com.br mas devem ser
enviados obrigatoriamente para o setor de Registros com todos os dados preenchidos e devidamente assinados. Maiores informações com o Serviço
de Registro Genealógico da ARCO. ●
Lemos (à direita): sempre presente às exposições
Ovinocultura perde
grande criador
Facsímile do formulário a ser preenchido e
enviado ao setor de Registros da ARCO
Câmara Setorial define ações para 2008
A inclusão da cadeia produtiva no Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes
(PNCRC) foi defendida pela Câmara Setorial da
Cadeia Produtiva de Caprinos e Ovinos na primeira reunião do ano, realizada dia 15 de abril,
em Brasília. As principais ações para o setor de
caprinos e ovinos em 2008 foram definidas no
encontro.
O coordenador do PNCRC, Leandro Feijó,
acredita que a inclusão do setor no plano é necessária em função do crescimento mercado nacional
e internacional para caprinos e ovinos. Ele recomendou o engajamento da cadeia produtiva por
considerar o PNCRC um requisito para a venda
no mercado externo. “Sem a ajuda do setor produtivo, esse programa não pode dar certo”, afirmou. O Plano Nacional de Sanidade de Caprinos
e Ovinos (PNSCO), previsto para entrar em vigor
ainda este ano, também foi discutido na reunião.
Entre as propostas do plano estão o credenciamento de laboratórios, desenvolvimento de programas sanitários específicos, cadastro de estabelecimentos e treinamento para veterinários.
A agenda estratégica para 2008 do setor prevê
a implementação do Programa Nacional de Sanidade dos Caprinos e Ovinos. Deverá entrar em
vigor também o Programa Nacional de Melhoramento Genético e ações de pesquisa e desenvolvimento, visando tecnologias para a produção
de carne, leite, pele e lã de qualidade. Dentro da
proposta de tornar o setor mais competitivo, figuram ações para um estudo do complexo do agronegócio da caprinovinocultura no País, a adequação e a equalização dos impostos estaduais e
federais e no âmbito do Mercosul e a criação de
um programa nacional de capacitação contínua
para técnicos, produtores e trabalhadores rurais
da cadeia produtiva. ●
Pecuarista, proprietário da Estância e Cabanha Vista Alegre, no município de Pedras Altas,
o advogado José Antônio de Azeredo Lemos faleceu dia 5 de março de 2008, as 65 anos, após
enfrentar séria enfermidade. Nascido em Porto
Alegre, em 10 de dezembro de 1942, filho de
Floriano Kruel de Lemos e Elza Azeredo Lemos,
ao longo da vida dirigiu entidades e participou
ativamente da vida rural, desde que, em 1972,
junto com o pai, iniciou a criação de ovinos da
raça Corriedale fundando a Cabanha Vista Alegre.
O plantel da Vista Alegre foi formado inicialmente com a importação de ventres do Uruguai
e Argentina, respectivamente dos criatórios de
Caorsi, Mosca e Crossato, além de fêmeas das
principais cabanhas gaúchas. José Antônio Lemos sempre incorporou ao plantel carneiros destacados de sangues nacionais e neozelandezes,
como, recentemente, um exemplar Clifton.
Na profissão de advogado, estabeleceu-se
com banca própria, sendo assessor jurídico de
empresas e entidades, como Associações Rurais,
Associação Brasileira de Criadores de Cavalos
Crioulos (ABCCC) e a ARCO.
Além de criar ovinos Corriedale, Lemos também possuía plantel Polled Hereford, Cavalos
Crioulos e Pônei Brasileiro. Ocupou, entre outros, os cargos de secretário da Associação Nacional de Criadores – Herd Book Collares, foi
presidente da ABCCC de 1975 a 1977 e da Associação Brasileira de Criadores de Corriedale,
de 2000 a 2004. Foi casado com a pecuarista e
também presidente da ABCCC, Elisabeth Amaral Lemos por 38 anos.

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