ViX Swimwear: The Challenges of Enduring an

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ViX Swimwear: The Challenges of Enduring an
ViX Moda-Praia e os Desafios de Continuar uma Trajetória Empreendedora Internacional
ViX Swimwear: The Challenges of Enduring an International
Entrepreneurial Path
ABSTRACT
This teaching case aims to provide tools for discussion of international entrepreneurship
phenomenon in a traditional industry – the beachwear fashion – and the difficulties faced by
the entrepreneur facing a rapid growth in international context. The case portrays the process
of setting up a Born global company in the United States (USA), whose sales are dispersed in
the USA, Brazil, Europe and some countries of Latin America, but manufacture is outsourced
from Brazil. The case is intended to entrepreneurs training programs and courses, primarily in
the areas of administration, entrepreneurship, international marketing and fashion.
Key-words: internationalisation, entrepreneurship, fashion industry.
ViX Moda-Praia e os Desafios de Continuar uma Trajetória
Empreendedora Internacional
RESUMO
O presente caso de ensino tem por objetivo oferecer um instrumento para discussão do
fenômeno empreendedorismo internacional em uma indústria tradicional – a de produtos de
moda-praia – e das dificuldades enfrentadas pelo empreendedor diante de um crescimento
acelerado em contexto internacional. O caso retrata o processo de criação de uma empresa
Born global nos Estados Unidos (EUA), cujas vendas estão dispersas nos EUA, Brasil,
Europa e alguns países da América Latina, mas cuja fabricação é terceirizada no Brasil. O
caso se destina a programas de treinamento de empreendedores e cursos de graduação,
principalmente nas áreas de administração, empreendedorismo, marketing internacional e
moda.
Palavras-chave: internacionalização, empreendedorismo, indústria da moda.
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ViX Moda-Praia e os Desafios de Continuar uma Trajetória Empreendedora Internacional
O CASO VIX MODA PRAIA
Introdução
Brasileira de origem, a designer Paula Hermanny mudou-se muito jovem para os Estados
Unidos, para estudar inglês, e acabou encontrando sua vocação e seu futuro nesse país. A ViX
Swimwear, fundada em 1998, iniciou suas operações no mesmo ano, quando a designer
fechou um contrato exclusivo com uma fábrica de biquínis sediada no Rio de Janeiro. Em
2009, além de ter boa distribuição no mercado brasileiro, a empresa era a maior exportadora
de biquínis de marca do Brasil para os Estados Unidos, superando em muito as exportações de
suas concorrentes brasileiras. No entanto, diversas preocupações afligiam Paula Hermanny,
entre as quais a sobrevalorização da moeda brasileira – o Real – em relação ao dólar, que
afetava diretamente seus custos de produção. Além disso, a trajetória futura da ViX era
também motivo de reflexão. De um lado, o crescimento da empresa era fonte de orgulho, mas,
por outro, de preocupação. No momento, Paula era, ao mesmo tempo, a pessoa de criação da
ViX e sua executiva principal, acumulando funções que teriam que ser divididas caso a
empresa prosseguisse em sua trajetória de crescimento.
Antecedentes
Paula Hermanny nasceu na cidade de Vitória, capital do Espírito Santo: estado brasileiro com
extenso litoral marítimo, formado por belas praias. O próprio nome da empresa – ViX – era
uma homenagem a sua cidade natal. Suas primeiras memórias, segundo revelado pela
designer, estavam ligadas a praia e sol e as suas duas avós, as quais exerceram grande
influência sobre suas decisões futuras. De um lado, a avó materna: uma mulher prendada, com
grande habilidade para a costura e o artesanato, que ensinou a Paula os mistérios dessa arte.
De outro, a designer foi influenciada pela avó paterna: mulher de impecável elegância, que
lhe passou o gosto pela alta costura, pelas grifes e observação de tendências dessa indústria.
Essas duas fortes influências na infância plasmaram o futuro de Paula Hermanny, que se
tornou designer de moda.
Fascinada por viagens e desejando conhecer o mundo, a jovem viajou para os Estados Unidos
para estudar inglês em San Diego, Califórnia, ali encontrando um ambiente percebido como
similar ao de sua terra natal, pela presença de praias, muito sol e vida ao ar livre. Apesar
dessas semelhanças, a jovem designer ficou impressionada com a falta de estilo e criatividade
dos modelos de moda-praia então disponíveis, que em muito diferiam das peças mais sensuais
que eram usadas no Brasil. Foi neste ambiente que Paula Hermanny concebeu a criação de
sua empresa, voltada para o atendimento ao mercado norte-americano, mas inspirada em
motivos e cores brasileiras e com o toque de sensualidade característico de sua terra natal.
Paula Hermanny dispunha, além das influências familiares, de formação universitária sólida
que em muito ajudaria no processo de criação e desenvolvimento de sua empresa em território
americano: era economista, formada pela Universidade Federal do Espírito Santo, no Brasil, e
especializou-se em Business Marketing, em San Diego, nos Estados Unidos.
Processo de Internacionalização
Após sua formação superior nos Estados Unidos, Paula Hermanny trabalhou como
representante da Rygy, grife de maiôs original da cidade do Rio de Janeiro, adquirindo assim
experiência sobre a comercialização de produtos de moda-praia no mercado norte-americano.
Em uma entrevista, a designer comentou, sobre o exigente mercado norte-americano:
“Eles querem eficiência. Não esperam três meses para você fazer uma encomenda que
pode ou não chegar no prazo”.
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O fato de que havia nascido e crescido no Brasil, país com tendências específicas de modapraia, juntamente com o aprendizado adquirido naquele período lhe foi muito útil quando
decidiu lançar sua própria grife. Ela iniciou desenhando e desenvolvendo produtos adequados
ao mercado norte-americano, cujas preferências e especificidades ela já conhecia. Isso
permitiu à empresária elaborar uma proposta de posicionamento para a ViX bastante
diferenciada de seus principais concorrentes locais e estrangeiros. A designer observou:
“Nestes anos todos já consigo definir as estampas e modelos que mais vão agradar, o que
me permite ter um estoque grande sem medo de encalhe... Fui me adaptando aos poucos
até chegar à perfeição e só há três anos que as americanas começaram a aceitar o
“Brazilian cut”, com uma calcinha que mostra um pouco mais o bumbum. Dizer
simplesmente que elas gostam de peças grandes é errado. Eu descobri, por exemplo, que
elas odeiam qualquer coisa empapada. Mas isso vem da minha experiência. Sempre morei
em praia, então percebia o que agradava a mim e às outras mulheres. Nosso design é bem
arrojado, sempre antenado.”
A empresa tinha sede em San Diego, Califórnia, onde a designer havia fixado residência. Esse
contato direto com o mercado californiano permitia à ViX reagir rapidamente às tendências
do mercado doméstico, essencial quando se trata de moda Além disso, um contato frequente e
próximo com os principais clientes tornava mais ágil a parte comercial. Porém, para a
fabricação das peças, ela subcontratou uma fábrica de biquínis no Rio de Janeiro, que
produzia os modelos de acordo com suas especificações.
Para atender rapidamente os clientes, a empresa dispunha de um centro de distribuição nos
Estados Unidos, o que lhe permitia atender pedidos em 48 horas. Também no que se refere à
produção a ViX ia na contramão da concorrência, ao terceirizar a fabricação, permitindo à
empresária concentrar suas atenções no desenvolvimento da marca e da clientela.
O trabalho de captação de clientes foi feito pela própria designer, que contatou compradores
de grandes redes com posicionamento compatível com a qualidade de seu produto. Um passo
fundamental para a aceitação do produto pelo mercado foram os contatos com a mídia, que
lhe permitiram estar presente nos editoriais de moda das principais revistas norte-americanas.
A empresária Paula Hermanny assim descreveu a forma pela qual obteve publicidade gratuita
para sua marca:
“Fiz um trabalho de formiguinha. Levava nas revistas, falava com os produtores, fui me
relacionando. E sempre que eles me pediam qualquer peça eu arrumava imediatamente.
Hoje, que já tenho um bom relacionamento com os editores, é que contratei uma agência
para fazer este trabalho.”
Os biquínis da ViX eram vendidos no mercado norte-americano por preços entre 120 e 200
dólares, concorrendo com grifes de alto prestígio como Dolce & Gabbana e Gucci. Uma
cadeia de lojas de departamento de prestígio, a Bloomingdale’s, representava 10% de suas
vendas. Outras redes de lojas que levavam seus produtos eram Saks, Neiman Marcus e
Barneys. Como outras marcas de biquínis brasileiros, a ViX Swimwear obteve boa aceitação
nos catálogos da Victoria’s Secret, chegando a ter dez modelos de biquíni nesses catálogos em
2007, quando a Victoria’s Secret representava aproximadamente 10% de suas vendas.
As coleções da ViX recebiam cobertura recorrente nas principais revistas de moda, como
Vogue e Marie Claire; revistas voltadas para um estilo de vida esportivo, entre as quais Sports
Illustrated, Fitness, Shape, Sports Fitness e Oxygen; e revistas especializadas em moda praia,
como a Swimsuit Editions. O diferencial dos produtos oferecidos eram o corte inspirado nos
biquínis brasileiros, a variedade de tamanhos, as cores e combinações de desenhos da
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estamparia, a aderência dos biquínis ao corpo da cliente e a escolha de acessórios, como
ferragens douradas ou em cores.
Em 2007, a empresa vendeu quase 500.000 peças no mercado dos Estados Unidos, e
aproximadamente 25.000 peças na Europa. Os principais mercados europeus atendidos eram
França, Inglaterra e Itália. Além disso, exportava para o México e a Austrália. Seu
faturamento era de mais de 10 milhões de dólares, distribuindo seus produtos para cerca de
650 pontos de venda.
Nesse mesmo ano a designer voltou sua atenção para o mercado brasileiro. A ViX montou um
showroom em São Paulo e passou a vender suas criações, no Brasil, por meio da rede de lojas
multimarca chamada Mixed. A linha lançada no Brasil dispunha de aproximadamente 150
peças. Além disso, a designer lançou no Brasil sua segunda linha: a Sofia. Enquanto a marca
ViX era definida como high fashion, a marca Sofia era posicionada para um público
adolescente e concebida para o verão brasileiro. A empresa via sua expansão futura no Brasil
por meio de abertura de lojas próprias e ampliação de sua distribuição via lojas multimarcas.
Em 2008, a ViX se viu diante da necessidade de substituir a fábrica terceirizada no Brasil,
pois essa havia lançado sua própria linha de maiôs e biquínis, passando a ser concorrente da
ViX. Essa nova concorrente pretendia exportar para os Estados Unidos, tendo já realizado
contatos com a Victoria’s Secret. Em função disso, a ViX decidiu investir em produção
própria, instalando uma fábrica na cidade de Nova Friburgo, polo de produção de confecções
localizado no estado do Rio de Janeiro. Além disso, um escritório comercial foi também
instalado na cidade do Rio de Janeiro.
Mix de Produtos e Distribuição
A ViX vende as mesmas coleções e produtos tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil e
demais países. Segundo Paula Hermanny, enquanto as americanas começavam a se render ao
Brazilian cut (i.e. formato dos biquínis de menores tamanho, com grande penetração no
mercado brasileiro), as brasileiras também buscavam biquínis maiores. Além, de vender suas
próprias peças, a ViX valeu-se de sua rede de contatos e passou também a representar outros
fabricantes de moda-praia no mercado norte-americano.
A linha de produtos da empresa inclui biquínis, maiôs, saídas de praia e vestidos leves para o
verão, além de acessórios para praia, como chapéus e bolsas. A empresa oferece três linhas de
produto no mercado: (1) a linha ViX, primeira a ser lançada, atendia ao segmento de jovens
adultas, com modelos coloridos e ousados; (2) a linha Sofia, mais casual, voltada para
adolescentes; (3) a linha ViX Girls desenvolvida para crianças.
A ViX tem a maior parte de suas vendas oriundas de mais de 110 pontos de vendas dispersos
pelo território brasileiro e por meio de algumas dezenas de cadeias de varejistas e
distribuidores norte americanos. Ela vende também pela internet, seja por meio de seu próprio
website, seja por meio websites de grandes varejistas como Amazon, Saks, Bloomingdales e
Nordstrom.
Decisões Futuras
Paula Hermanny acreditava que sua empresa tinha ainda grande potencial de crescimento. Em
menos de uma década, ela havia se tornado uma das principais referências em termos de
biquínis e moda-praia no mercado norte-americano, sendo seus produtos vendidos em lojas de
departamento de prestígio, no catálogo da Victoria’s Secret e em sites online dedicados a high
fashion. Seus produtos combinavam elementos do Brasil e da Califórnia, envoltos em uma
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imagem de sensualidade e estilo. Porém, seria esse posicionamento adequado para a expansão
em outros mercados internacionais?
Por outro lado, havia a limitação específica de seu próprio trabalho, já que Paula cuidava ao
mesmo tempo da criação de produtos e da gerência da empresa, o que, de alguma forma,
poderia ser um entrave futuro. Deveria ela continuar a frente de uma fórmula que vinha dando
certo, ou deveria ela considerar a contratação de um executivo experiente para gerir a
operação da empresa, liberando-a para dedicar mais tempo às atividades de criação de
coleções e prospecção de novos clientes?
Havia também uma preocupação, com a situação cambial do real em relação ao dólar (figura
1), já que os analistas não previam uma inversão na tendência de valorização da moeda
brasileira, o que impactava as exportações para os Estados Unidos, encarecendo
desnecessariamente o produto. Talvez fosse necessário reconsiderar a decisão de produção
própria no Brasil e estudar a possibilidade de produzir em outros mercados, como o chinês.
Fato esse que se reforçava ao se analisar a evolução das importações de produtos moda-praia
para o mercado brasileiro (tabela 1), cuja maior parcela provinha da China. Será que Paula
deveria manter a fabricação no Brasil ou deslocar para outros locais de mais baixo custo? Que
fatores deveriam ser considerados? Quais seriam as vantagens e desvantagens?
Além disso, Paula visualizava oportunidades no mercado brasileiro que crescia rapidamente
em alguns segmentos, como o de produtos de moda, graças à ascensão da nova classe média
brasileira, o que talvez levasse a empresa a lançar uma marca para esse segmento. Por outro
lado, a crise no mercado norte-americano não parecia próxima do fim. Talvez fosse o
momento para considerar um maior foco no mercado brasileiro. Como Paula deveria se
dividir perante seus dois principais mercados e a expansão pretendida em outros mercados?
Enfim, a ViX, uma empresa nascida internacional, cujo crescimento havia sido impulsionado
fortemente pelo empreendedor e fundador da empresa – Paula Hermanny – se deparava com
uma nova realidade empresarial em um contexto global, que demandava por mudanças
estruturais e operacionais para poder continuar sua trajetória de crescimento. Quais seriam
essas mudanças? Que impacto elas provocariam?
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Figura 1:
Evolução da Taxa de Câmbio (01/2000 a 12/2010) – reais por dólar
4,00
3,50
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
Fonte: IPEA (Disponível em: http://dados.gov.br/dataset/taxa-de-cambio/resource/eb2db170-ddc5-4d7e-83717e053dabd6e7. Acessado em 07/06/2013).
Tabela 1:
Comércio exterior brasileiro de Moda Praia: 2009 – 2010
Valores em US$
2009
2010
Variação 09/10
Importação
618.787
1.203.574
94,5%
Exportação
12.377.350
11.337.509
-8,4%
Saldo
11.758.563
10.133.935
Fonte: (Moiseichyk, Brum, Da Veiga, Da Veiga, 2012)
-13,8%
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Outras informações disponíveis:
Figura 2:
Valor adicionado da porta da fábrica até o ponto de venda do varejista americano
Varejista
Americano
70 USD
Importador/
Distribuidor
Preço CIF
EUA
Preço FOB
Brasil
Custo de
Fabricação
30 USD
16 USD
10,6 vezes
(+ 961%)
11 USD
6,6 USD
Fonte: entrevista com representantes de vendas nos Estados Unidos.
Figura 3:
Taxa de Crescimento anual média das exportações brasileiras de moda praia 1997-2005
Fonte: Global Trade Information Services. NCMs 6112.41.00, 6112.49.00, 6112.31.00, 6112.39.00, 6211.11.00.
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Figura 4:
Países exportadores de biquínis para os EUA (2004)
Fonte: Global Trade Atlas.(Disponível em www.gtis.com/gta. Acessado em 07/06/2013).
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NOTAS DE ENSINO
Objetivos de Ensino
O caso procura atender aos seguintes objetivos de ensino:
•
Analisar de que forma pôde surgir uma empresa de caráter empreendedor, com
características de Born global, e como foi sua trajetória de crescimento internacional.
•
Identificar os fatores que contribuíram para o sucesso de uma pequena empresa moda
e empreendedora internacional.
•
Entender as opções estratégicas com que se defronta o pequeno empreendedor
internacional diante da busca por crescimento e o impacto na estruturação das
operações, assim como posicionamento e gerenciamento do negócio.
Público-alvo
O caso se destina a programas de treinamento de empreendedores e cursos de graduação,
principalmente nas áreas de administração, empreendedorismo, marketing internacional e
moda.
Perguntas para Discussão
•
O que caracteriza a ViX como uma Born Global?
•
Quais os fatores críticos para o sucesso da ViX e quais fatores ambientais
possibilitaram sua rápida expansão internacional?
•
Como você avalia a decisão de atender ao mercado brasileiro, além do norteamericano, europeu e latino americano? Quais as alternativas com que se defronta a
empresária e quais as vantagens e desvantagens de cada uma?
•
Quais seriam os próximos passos a serem empreendidos pela ViX em termos
estratégicos e operacionais?
Discussão do Caso
Diversos parecem ser os fatores críticos de sucesso no caso da ViX. Primeiro, a presença em
um mercado que a empresa deseja desenvolver é sempre um elemento importante para a boa
aceitação do produto. Naturalmente, isso pode ser obtido por meio de um bom agente ou
representante, que ajude a empresa a colocar seus produtos e tenha os contatos certos. No
entanto, nada substitui a presença de uma pessoa da própria empresa vivendo naquele
mercado. Isso é ainda mais importante quando se trata de um produto de moda, porque é
necessário estar em contato com o mercado, de modo a entender e interpretar as tendências.
No caso da ViX, o fato de a designer ter optado por morar nos Estados Unidos foi
fundamental para a boa aceitação de seus produtos no mercado. A vivência lhe mostrou
aspectos peculiares da cultura e dos hábitos dos americanos que só são desvendados quando
se vive realmente no país. A partir desse conhecimento, ela não só desenvolveu produtos
adequados ao mercado, como passou a dominar as práticas de negócios locais.
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Outro aspecto relevante pode ter sido o fato de a empresa haver iniciado suas atividades com
produção offshore. A produção offshore tem sido usada por grandes e pequenas empresas de
moda em todo o mundo. Consiste em dedicar esforços ao desenvolvimento da marca e à
conquista de mercados, ao mesmo tempo em que se terceiriza a produção a fornecedores em
países emergentes, cujo custo de produzir é menor, dado que já dispõem de fábricas
montadas, em funcionamento e que podem, assim, diluir os custos fixos de fabricação entre
várias linhas e clientes.
Para uma empresa iniciante, a terceirização pode ser um grande negócio, não só porque ela
consegue começar com um custo de produção mais baixo, mas porque pode dedicar seus
esforços e sua atenção às questões cruciais de marketing que se colocam no início de suas
atividades (Bilkey & Nes, 1982). No entanto, diante de problemas com o fornecedor, a ViX
optou por instalar uma fábrica própria no Brasil, o que acabou não se mostrando a melhor
decisão, dada a trajetória de sobrevalorização da moeda brasileira. Por outro lado, a favor
dessa decisão, podem-se considerar dois fatores: primeiro, a ViX não compete no mercado
norte-americano à base de preço; segundo, o controle da operação se torna mais fácil, uma vez
que a empresa opera também no mercado brasileiro e o Rio de Janeiro é um dos principais
mercados brasileiros para biquínis.
Por outro lado, outra decisão diz respeito à fabricação de biquínis estar localizada no Brasil.
Tal decisão merece ser reavaliada. Dados do comércio exterior de moda-praia no Brasil
(tabela 1) apontam um forte aumento das importações, frente a uma redução das exportações.
Tal fato aparenta ser indicativo de uma perda de competitividade global da dessa indústria no
Brasil, principalmente, quando comparada à crescente participação de peças chinesas no
mercado brasileiro (Moiseichyk, Brum, Da Veiga, Da Veiga, 2012).
Outro fator crítico de sucesso reconhecido na literatura sobre Born globals é o perfil do
empreendedor (Chandra, Styles, & Wilkinson, 2012; Oviatt & McDougall, 1994). O fato de
Paula Hermanny ter feito um curso de Business Marketing em San Diego certamente deve ter
auxiliado a empresária a desenvolver relacionamentos de negócios com grandes clientes no
mercado norte-americano, apesar de ser brasileira (Sharma & Blomstermo, 2003). Além
disso, Paula dominava o idioma inglês e já havia percebido as nuances da cultura norteamericana, o que lhe possibilitou tomar as rédeas da área comercial, sem precisar depender de
terceiros. Seus contatos iniciais, tanto com compradores, como com a mídia especializada,
foram fundamentais para que sua empresa tivesse sucesso. Mais do que isso, a empresária
mostrou ter uma abertura para o mundo desde muito jovem. A existência de um mind set
global é frequentemente citada como um dos aspectos que distinguem os empresários de Born
globals.
Paula Hermanny soube também combinar o lado sensual e exótico do Brasil à imagem
avançada e high fashion da Califórnia, criando uma grife que incorpora os elementos da
imagem dessas duas localizações, tirando proveito de ambas, sem basear-se excessivamente
em nenhuma delas. É sempre difícil utilizar o chamado efeito “Made in”, ou seja, obter
benefícios da imagem do país de origem. No limite, o posicionamento puramente “Made in
Brazil” poderia evocar algo demasiadamente exótico, tropical ou sensual, afastando as
consumidoras mais conservadoras, antes mesmo de considerarem o produto como alternativa
de compra. Um posicionamento que tangencia os aspectos de brasilidade, sem exagerá-los,
combinado a linhas de produtos direcionadas a diferentes segmentos, mostrou-se uma
estratégia de posicionamento muito acertada .
Por outro lado, Paula conseguiu obter uma boa exposição gratuita para a marca, por meio de
publicidade. Particularmente com relação a produtos de moda, como roupas, calçados e
acessórios, é possível obter menções gratuitas de colunistas e mídia especializada em moda, já
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que é essa a matéria-prima com que eles trabalham. Isso parece ter sido um diferencial para a
ViX. Paralelamente, a empresária posicionou o seu website na internet – um nos EUA e outro
no Brasil – não só como um canal de venda e exposição de produtos e novas coleções, mas
como um canal dinâmico de relacionamento, com dicas sobre tendências diversas
relacionadas à moda, lazer e comportamento. Atualmente, a rede tem também um canal online
no twitter, duas comunidades no Facebook, uma para a cliente americana e outra para a
brasileira.
No momento, Paula Hermanny está à frente de uma empresa bem posicionada e dinâmica,
mas se defronta com as opções de crescer ou não crescer, como é característico de empresas
empreendedoras que atingem certo tamanho.
É possível que a empresa já necessite desenvolver uma estrutura administrativa profissional e
que Paula passe a exercer apenas as funções de designer e responsável apenas por decisões
estratégicas, deixando o dia-a-dia da empresa a gerentes profissionais. É comum em empresas
criativas de sucesso o compartilhamento da liderança por dois líderes com perfis e funções
distintas: um mais emocional e criativo, responsável pela inovação e outro, mais analítico e
racional, responsável pela gestão operacional e financeira da empresa (Rigby, Gruver, e
Allen, 2009). Porém, tal decisão terá implicações não só nas funções de Paula, como também
na estrutura de decisão e controle da empresa.
Material Multimídia
Como apoio ao desenvolvimento do caso em sala de aula, com o intuito de ambientar o
estudante com o contexto do caso, de tornar a dinâmica de aplicação do caso mais atraente e
de estimular os estudantes a buscar outras informações na internet, recomendamos a
apresentação de dois vídeos da empresa que podem ser encontrados no hotsite da ViX no
Youtube (https://www.youtube.com/user/vixswimwearbrasil/videos).
No que diz respeito aos vídeos, o primeiro é um vídeo institucional em que Paula Hermanny
conta a história da criação da empresa e fala sobre sua visão de posicionamento do produto
biquíni:
https://www.youtube.com/watch?v=4zdCONjFj4c
O segundo é um vídeo apresentado por um canal de TV a Cabo americano (nome não
mencionado), falando sobre o corte dos biquínis brasileiros. Ele pode ser acessado pelo
seguinte link:
https://www.youtube.com/watch?v=pm2tzopl5kU
Se os alunos dispuserem de computador/notebook para desenvolver o caso em sala de aula, ou
se o caso for aplicado para desenvolvimento em casa, sugerimos a visita aos dois websites da
empresa para adquirir informações mais detalhadas que enriqueçam o desenvolvimento do
caso:
•
Website americano da Vix:
http://www.vixpaulahermanny.com/
•
Website brasileiro da Vix:
http://www.vixbrasil.com/
•
Facebook Americano da Vix: https://www.facebook.com/vixpaulahermanny?fref=ts
•
Facebook brasileiro da Vix:
https://www.facebook.com/vixbrasil
•
Twitter da Vix:
https://twitter.com/vixswimwear_br
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Assim, o aluno poderá compreender melhor o posicionamento da empresa, visualizar os
canais de venda online, analisar sua rede de distribuição e descobrir que ambos são websites
que também têm a preocupação de comunicar tendências de comportamento, divulgar estilos,
bem como recomendações de programas individuais para casais e em grupo.
Por fim, se o caso for aplicado para estudantes de moda, recomenda-se a visualização dos
seguintes vídeos:
•
Making Off da Coleção 2013:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=QDtLY4NDzaM
•
Making Off da Coleção 2012
http://www.youtube.com/watch?v=jSyQf8wn2Xk
•
Desfile de Moda 2010:
http://www.youtube.com/watch?v=vGtuQlf1aNU
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