Estudo da influência do clima, qualidade da liteira e - LERF
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Estudo da influência do clima, qualidade da liteira e - LERF
Projeto de Mestrado Estudo da influência do clima, qualidade da liteira e fauna do solo sobre o processo de decomposição de três formações florestais do Estado de São Paulo Orientada: Camila de Toledo Castanho Orientador: Prof. Dr. Alexandre Adalardo de Oliveira Ribeirão Preto Abril/2003 1. RESUMO A atividade de decomposição constitui-se em importante indicador do padrão funcional dos ecossistemas, pois controle processos básicos relacionados à disponibilidade de nutrientes e produtividade do sistema. Alguns autores salientam a importância de elementos como o clima, a qualidade da liteira e a comunidade de decompositores no processo de decomposição e classificam tais fatores em ordem de importância. No entanto, não sabemos se os padrões encontrados até o momento podem ser generalizados para todos os ecossistemas tropicais. O objetivo deste trabalho é avaliar a influência conjunta do clima, qualidade da liteira e fauna do solo nas taxas de decomposição acima e abaixo da serapilheira de três diferentes formações florestais do Estado de São Paulo. As áreas onde serão realizados o estudo são uma Floresta de Restinga no Parque Estadual da Ilha do Cardoso, uma área de Floresta Estacional Semidecidual na Estação Ecológica de Caetetus, e uma porção de Floresta Atlântica de Encosta do Parque Estadual Carlos Botelho. Serão utilizados sacos de tela padronizados contendo dois tipos de serapilheira para avaliar os efeitos de sua qualidade na taxa de decomposição, assim como sacos de serapilheira com dois tamanhos de malhas para comparar os efeitos da fauna do solo. Os efeitos do clima serão avaliados através das variações de temperatura e pluviosidade encontradas nas três áreas. Em relação ao ambiente de decomposição, serão dois tratamentos: acima da superfície do solo mineral e abaixo, simulando o ambiente de decomposição de raízes. Estudos como este, usando metodologia idêntica, estão sendo realizados em outras 19 áreas de florestas tropicais distribuídas no mundo, possibilitando a comparação de dados e discussões mais abrangentes sobre os processos de decomposição em ecossistemas tropicais. 2. INTRODUÇÃO A decomposição de tecidos vegetais representa uma importante etapa da ciclagem de nutrientes, a qual representa um dos fatores limitantes no estabelecimento e desenvolvimento de ecossistemas florestais (Vitousek & Sanford, 1986). A decomposição regula a transferência de nutrientes e carbono para o solo, representando então um processo chave na manutenção de sua fertilidade (Lavelle et al., 1993; Silver & Miya, 2001). Essa regulação é exercida através de dois mecanismos distintos: a mineralização e humificação. A mineralização determina a fertilidade química através da liberação de nutrientes para o crescimento das plantas, e a humificação é importante para a manutenção de um nível satisfatório da matéria orgânica (Lavelle et al., 1993). Nas regiões tropicais a importância da matéria orgânica como fonte de nutrientes para plantas e microorganismos é ainda maior, porque na maior parte destas regiões os nutrientes não se encontram associados a minerais de argila como nas zonas temperadas, e sim à matéria orgânica do solo (Montagnini & Jordan, 2002). A taxa de decomposição da serapilheira é controlada pelas condições ambientais, composição química da liteira e atividade dos organismos do solo (Mason, 1980; Seastedt, 1984). No entanto, a importância destes componentes não é igual em diferentes escalas de tempo e espaço. Dessa forma, Lavelle et al. (1993) propõem que esses fatores exercem um controle organizado hierarquicamente na decomposição da serapilheira. Estes pesquisadores identificam quatro níveis hierárquicos: fatores climáticos, particularmente temperatura e umidade; propriedades físicas do solo, composição química da liteira e a regulação biológica através das interações entre macro e microorganismos. Considerando uma escala global, o clima é o fator principal na decomposição da serapilheira devido a seu papel regulador no metabolismo de bactérias e fungos (Aerts, 1997). No entanto, em escala regional, geralmente ocorre uma mudança na ordem de importância dos fatores controladores do processo de decomposição. Esta alteração é mais evidente na região tropical, em que os valores de temperatura e umidade são na maior parte do tempo próximos ao ótimo para a atividade biológica (Lavelle, 1993; Aerts, 1997). Sob essas circunstâncias, as restrições geradas pelos fatores climáticos são aliviadas, e segundo Aerts (1997) a composição química da liteira torna-se o fator determinante mais importante da taxa de decomposição. Por outro lado, González & Seastedt (2001) destacam que nas regiões tropicais úmidas as taxas de decomposição são intensamente influenciadas por fatores bióticos, e estes processos não podem ser explicados apenas pelos fatores climáticos e qualidade da liteira isoladamente. Modelos matemáticos elaborados para decomposição não levam em consideração a composição e abundância da fauna do solo como um dos componentes reguladores de maior importância, pois estes baseiam-se principalmente em trabalhos realizados em regiões temperadas onde o efeito da fauna é relativamente menor (Lavelle et al., 1993; Heneghan et al., 1999; González & Seastedt, 2001). A maior parte dos trabalhos citados acima explicitam diferenças entre as regiões temperadas e tropicais em relação à ordem de importância dos fatores controladores da decomposição. No entanto, não se sabe até que ponto os padrões encontrados na região tropical podem ser generalizados para esse ecossistema. González & Seastedt (2001) demonstraram que a fauna do solo tem papel mais importante sobre a decomposição da serapilheira de florestas tropicais úmidas do que florestas tropicais secas. Gholz et al., 2000 encontrou diferenças na taxa de decomposição acima e abaixo da superfície entre florestas tropicais úmidas e secas, indicando que em florestas tropicais úmidas as folhas se decompõem mais rapidamente que as raízes e que nas florestas tropicais secas ocorre o inverso. Tais diferenças entre decomposição acima e abaixo da superfície são confirmadas por Silver & Miya (2001), que afirmam que os fatores determinantes da decomposição diferem em ordem de importância entre folhas e raízes, dependendo das condições microclimáticas a que estão submetidas. Tais dados salientam as variações encontradas no ecossistema tropical, demonstrando a necessidade de intensos estudos para entender o papel relativo dos diferentes fatores sobre o processo de decomposição neste ecossistema. 3. OBJETIVOS Avaliar os efeitos independentes, assim como as interações do clima, qualidade da liteira e fauna do solo na decomposição da serapilheira acima e abaixo da superfície do solo em três Formações Florestais do Estado de São Paulo. Baseando-se em dados da literatura, é esperado que a hierarquia dos fatores mais importantes no controle da decomposição varie de acordo com a Formação Florestal e com o ambiente de decomposição (acima e abaixo da superfície). Espera-se que abaixo da superfície a qualidade da serapilheira tenha um efeito relativo maior nas três Formações Florestais. No entanto, acima da superfície, a importância relativa dos fatores deve ser alterada dependendo da Formação Florestal. Na Floresta de Restinga, onde a precipitação média é mais alta e também melhor distribuída ao longo do ano a fauna deve ter um efeito relativo maior do que nas outras duas florestas. Na Floresta Estacional Semidecidual, onde a sazonalidade de precipitação é acentuada (6 meses com precipitação < 100mm) o clima deve ter um efeito mais pronunciado em relação a qualidade da liteira e a fauna. A Floresta Atlântica de Encosta selecionada apresenta alta precipitação média anual, porém possui estação seca relativamente extensa (5 meses com precipitação < 100mm) e nestas condições espera-se que o clima também seja o fator mais relevante para a taxa de decomposição. 4. JUSTIFICATIVA O tamanho do reservatório de carbono orgânico do solo depende da decomposição dos resíduos vegetais, assim como do aporte de material vegetal (Coûtexaux et al., 1995). O estoque de carbono orgânico nos solos é de 1500 Pg (Pg = 105 g), de 1,5 à 3 vezes o total de carbono contido na biomassa da vegetação e de 2 à 3 vezes a quantidade de carbono da atmosfera (Post et al., 1982; Sombroek et al., 1993). A quantidade de carbono que retorna para a atmosfera pela decomposição de matéria orgânica morta é um importante componente do fluxo de carbono global (Coûtexaux et al., 1995). Estima-se que a média global de CO2 resultante da decomposição da serapilheira é de 68 PgC/ano, o que representa 70% do fluxo de carbono total anual (Raich & Schlesinger, 1992). Esses dados demonstram a importância do reservatório de carbono dos solos, assim como o papel chave da decomposição no controle deste estoque e sua notável influência como fonte de CO2 para a atmosfera. O aumento do conhecimento sobre os fatores que interferem na decomposição permitirá aumentar o poder de previsão de como o sistema se comportará diante de fenômenos mundiais como o aquecimento global. Além de enriquecer o conhecimento sobre a decomposição em diferentes florestas do Estado de São Paulo, este trabalho colaborará para discussões mais abrangentes sobre os principais fatores controladores do processo de decomposição em ecossistemas tropicais, já que os dados gerados serão comparados com outros 19 estudos de decomposição espalhados por toda região tropical. Essas discussões serão importantes para elaboração de modelos que simulem a decomposição de maneira mais coerente com o sistema tropical. Do estoque total de carbono terrestre de todo o mundo (incluindo vegetação e solo), estima-se que as florestas tropicais estoquem aproximadamente 20% deste total, tendo assim um papel de destaque no ciclo de carbono orgânico global (Brown & Lugo, 1982). Entender os processos, como a decomposição, que interferem na dinâmica desse carbono estocado na forma de matéria orgânica, é imprescindível para a elaboração de manejos apropriados nestas regiões. 5.MATERIAL E MÉTODOS 5.1. Áreas de Estudo O presente estudo será realizado em três Formações Florestais do Estado de São Paulo, cada qual inserida em uma Unidade de Conservação (U.C.). São elas: Floresta de Restinga do Parque Estadual da Ilha do Cardoso, Floresta Atlântica de Encosta do Parque Estadual de Carlos Botelho e Floresta Estacional Semidecidual da Estação Ecológica de Caetetus. O trabalho será realizado dentro de parcelas permanentes, pertencentes ao Projeto “Diversidade, dinâmica e conservação em florestas do Estado de São Paulo: 40 ha de parcelas permanentes” parte do programa Biota/Fapesp, processo no. 1999/09635-0. Cada uma das U.C. possui uma parcela permanente de 10 ha, em que estão sendo desenvolvidos trabalhos de mapeamento e identificação das árvores, além de obtenção de dados microclimáticos, caracterização edáfica (nutrientes e granulometria), análise da diversidade da fauna do solo e outros (resumo do projeto em anexo). Os dados gerados por tal projeto serão utilizados como fatores a serem relacionados à taxa de decomposição. Segue-se as descrições das áreas de estudo como citado no projeto temático “Diversidade, dinâmica e conservação em florestas do Estado de São Paulo: 40ha de parcelas permanentes” (item 8). O Parque Estadual da Ilha do Cardoso situa-se no extremo sul do litoral do Estado de São Paulo no município de Cananéia, entre os paralelos 25003’05”- 25018’18” e os meridianos 47053’48”-48005’42”. Faz parte do complexo estuarino lagunar de Iguape- Cananéia-Paranaguá, considerado o terceiro do mundo em termos de produtividade pela União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN). O Parque Estadual da Ilha do Cardoso possui uma área de aproximadamente 22.500 ha. Dados climáticos coletados em baixa altitude (<200 m) para o período de dois anos (19901991) revelam que a média das temperaturas mínimas está em torno de 190C, a média das máximas em torno de 270 C e a precipitação anual entre 1800-2000 mm. Geralmente, apenas nos meses de julho e agosto a precipitação é menor que 100 mm. A topografia é predominantemente montanhosa, sendo a região central da ilha ocupada por um maciço que atinge mais de 800 m de altura. Os solos das planícies, onde se situa a Floresta de Restinga, são resultado de sedimentação marinha recente e são de tipo podzol hidromórfico, caracterizado pelo alto teor de areia, baixos teores de argila e silte e baixa fertilidade. A composição e a estrutura da floresta de restinga em duas situações, floresta alta e baixa, foi estudada por Sugiyama (1993). Foram encontrados 1256 indivíduos com DAP≥ 2,5cm, pertencentes a 53 espécies e 23 famílias em 0,27 ha na restinga alta. Na restinga alta ocorreu o domínio de Myrtaceae, com 45% dos indivíduos, sendo as espécies mais importantes segundo o índice de valor de importância (Curtis e MacIntosh, 1951) respectivamente: Myrcia bicarinata (Berg.) Legr., Ocotea pulchella (Nees) Mez., Geonoma schottiana Mart., Calyptranthes concinna DC., Pimenta pseudocaryophyllus (Burret) Landrun e Euterpe edulis Mart.. O Parque Estadual de Carlos Botelho (PECB) possui área total de 37.793,63ha e encontra-se na região sul do Estado de São Paulo (24o00’ a 24o15’S, 47o45’ a 48o10’W). Engloba parte dos municípios de São Miguel Arcanjo, Capão Bonito e Sete Barras, com altitudes que variam de 30 a 1003 m. A área do PECB compreende duas unidades geomorfológicas: o Planalto de Guapiara, drenado pelos rios que formam a bacia hidrográfica do rio Parapanema, e a Serra de Paranapiacaba, drenada pelos ribeirões Travessão, Temível e da Serra e pelos rios Preto e Quilombo, todos formadores da bacia do rio Ribeira de Iguape. Predominam no Parque as rochas graníticas, que definem um relevo altamente acidentado e associado aos elevados índices pluviométricos, definem morfogênese acelerada nas médias e altas vertentes, acumulando material nos sopés e canais fluviais. Este relevo define dois tipos climáticos diferentes, segundo a classificação de Köppen (1948): a) clima quente úmido sem estiagem (Cfa), que ocupa áreas do Planalto de Guapiara com altitudes inferiores a 800 m, a média e a baixa escarpa da Serra de Paranapiacaba; possui temperaturas inferiores a 18oC no mês mais frio e superiores a 22oC no mês mais quente e o total pluviométrico do mês mais seco é superior a 30 mm; b) clima temperado úmido sem estiagem (Cfb) , nas partes mais elevadas da Serra de Paranapiacaba e que difere do anterior apenas pela temperatura média do mês mais quente, a qual não ultrapassa 22oC . A média de precipitação anual varia de 1400 a 2200 mm, e a extensão da estação seca (precipitação < 100 mm) é de aproximadamente cinco meses, de abril à agosto. A temperatura média anual fica em torno de 19ºC. No PECB foram descritas a ocorrência de solos Hidromórficos e Podzólicos Vermelho-Amarelo “intergrade” Latossolo Vermelho-Amarelo. Os solos do Parque foram descritos com elevados teores de matéria orgânica e de alumínio, baixos teores de bases trocáveis e ainda acidez elevada, como a maioria dos solos da região serrana do litoral do Estado. Este estudo será realizado em um trecho no Núcleo Sete Barras (Floresta Ombrófila Densa Montana ou Floresta Atlântica de Encosta), em altitude em torno de 800m, na vertente atlântica da Serra de Paranapiacaba. Nesse Núcleo foi realizado um levantamento fitossociológico, com 597 árvores amostradas , pertencentes a 112 espécies, das quais Euterpe edulis Mart. (Palmito) foi a de maior destaque, com valores muito superiores aos das demais espécies florestais. A Estação Ecológica dos Caetetus (EEC) possui uma área contínua de 2178,84 ha, situada nos municípios de Gália e Alvilândia, Estado de São Paulo, entre as coordenadas geográficas: 22o41’e 22o46’S e 49o10’e 49o16’W, dentro da bacia hidrográfica do Médio Paranapanema. Predominam nas áreas mais elevadas da EEC (altitude média de 650m) o Latossolo de textura média Álico, enquanto nas partes mais baixas (altitude média de 550m) o Podzólico Vermelho-Amarelo Profundo de textura arenosa/média. O clima local, segundo a classificação de Köppen, é Cwa, mesotérmico de inverno seco. A temperatura média anual é de 20ºC e a média de precipitação anual é de aproximadamente 1480 mm. Possui uma estação seca (precipitação < 100 mm) de 6 meses, estendendo-se de abril à setembro. A E.E. de Caetetus se caracteriza como um grande remanescente de Floresta Estacional Semidecidual do Planalto Ocidental do Estado de São Paulo. Esta formação florestal revestia originalmente parte do Planalto Paulista, a Depressão Periférica, a Cuesta Basáltica e parte do Planalto Ocidental do interior paulista, certamente se constituindo hoje na formação florestal mais ameaçada do Estado de São Paulo, face a sua fragmentação como consequência de alterações antrópicas. Trata-se de uma floresta com trechos em excelente estado de preservação, que abrigam espécies arbóreas ameaçadas de extinção no Estado pela agressividade do extrativismo nos últimos anos, como o guarantã (Esenbeckia leiocarpa Engl.), a peroba-rosa (Aspidosperma polyneuron Müll. Arg.) e a cabreúva (Myroxylon peruiferum L.f.). 5.2. Metodologia Este trabalho faz parte de um projeto maior denominado “The joint influences of climate, litter quality and soil fauna in regulating above- and belowground decomposition processes: a pan-tropical study” (projeto original em anexo). Tal projeto, financiado pela A.W. Mellon Research Exploration Award in Tropical Biology from Organization for Tropical Studies (OTS) e Smithsonian Tropical Research Institution (STRI), representa um esforço conjunto de vários pesquisadores para estudar o processo de decomposição e entender melhor o ciclo de carbono em 22 florestas tropicais espalhadas por todo o globo (http://life.bio.sunysb.edu/ee/powers). Este projeto possibilitará a comparação dos dados e discussões mais abrangentes sobre os processos de decomposição em ecossistemas tropicais. Para tanto a metodologia desenvolvida é a mesma para os trabalhos envolvidos no projeto, inclusive o presente estudo. Utilizaremos a técnica de sacos de serapilheira para investigar os efeitos do clima, qualidade da liteira, ambiente de decomposição e fauna do solo no processo de decomposição. Apesar de subestimar a decomposição da serapilheira, a técnica do saco de serapilheira tem sido a mais utilizada, especialmente em estudos comparativos de decomposição (Mason, 1980; Silver & Miya, 2001). Os sacos de serapilheira foram padronizados e preparados por um grupo de pesquisadores que coordenam o projeto “The joint influences of climate, litter quality and soil fauna in regulating above- and belowground decomposition processes: a pan-tropical study”. Posteriormente este material foi enviado para todos os pesquisadores envolvidos no projeto. Para estudar o efeito do clima, desenvolveremos o estudo em três Formações Florestais do Estado de São Paulo com diferentes médias anuais de temperatura e pluviosidade, além de extensões diferentes de estação seca (número de meses com precipitação < 100 mm). Esses dados climáticos estão sendo coletados por estações climáticas instaladas pelo projeto, próximas a cada uma das parcelas nas três Formações Florestais. Serão usados dois tipos de substratos com qualidades químicas diferentes para verificar o efeito da qualidade da serapilheira sobre o processo de decomposição. Um deles é Raffia (Raphia farinifera (Gaertn.) Hyl.) da família Arecaceae. Suas folhas possuem uma relação C/N de 67, a qual denominaremos como de baixa qualidade. Este valor de relação C/N está dentro da taxa C/N média para raízes finas (diâmetro menor que 2mm) que é de 67±6 (Silver & Miya, 2001). O outro substrato são folhas de louro (Laurus nobilis L.), da família Lauraceae, representando o substrato de alta qualidade, com uma relação C/N de 35, a qual se enquadra nos valores 54±38 estabelecidos para folhas de serapilheira no trópicos (Aerts, 1997). Nenhuma das duas espécies é nativa das áreas em que este estudo será realizado. Todo o material utilizado como substrato foi esterilizado com radiação gama. O material foi então estocado em temperatura ambiente em um laboratório da Universidade de Minnesota. Amostras de 1-2 g de substratos foram secos ao ar e colocados em sacos de serapilheira individuais de 10 x 15 cm com uma etiqueta de identificação. Durante todo este processo, subamostras dos substratos foram periodicamente coletadas, pesadas, secas em estufa a 55° C, e repesadas. Todos os pesos iniciais foram convertidos para peso seco à estufa. Para verificar o efeito do ambiente de decomposição metade dos sacos de serapilheira serão colocados na superfície do solo mineral para simular a decomposição dos detritos acima da superfície e a outra metade será enterrada para simular o ambiente de decomposição das raízes. Serão utilizados sacos de serapilheira com dois diferentes tamanhos de malha para comparar os efeitos da fauna do solo na decomposição. Metade dos sacos foram construídos com telas de náilon de malha de 52 micron (0,052 mm), que representam o tratamento com exclusão de fauna. Este tamanho de malha é suficientemente fino para permitir o acesso de bactérias, fungos, nematóides e protozoários, enquanto restringe o acesso da mesofauna (maiores que 0,1 mm) e macrofauna. Os demais sacos de serapilheira foram construídos com telas de náilon de malha de 2 mm, que permite o acesso da mesofauna, como ácaros e colêmbolas, representando então o tratamento com inclusão de fauna. Serão três réplicas por combinação fatorial de tratamento para cada uma das Formações Florestais. Os sacos de serapilheira serão colocados no campo no início da estação chuvosa (outubro/2003) e coletados depois de 1, 3, 5, 7 e 9 meses. No total serão monitorados 360 sacos de serapilheira, 120 sacos de serapilheira em cada área de estudo. Em cada uma das Formações Florestais, os sacos de serapilheira serão distribuídos em dois blocos em uma porção plana do relevo. Os dois blocos estarão distantes 10m um do outro e todo esse arranjo ocupará aproximadamente um espaço de 20 x 10 m. A área utilizada para o experimento será demarcada com fita zebrada para evitar pisoteios no material. Em cada uma das florestas, haverá duas estacas de plástico, uma em cada bloco. Essas estacas serão enterradas num ângulo perpendicular à superfície, distanciando-se 15 m uma da outra. Os sacos de serapilheira que serão retirados na mesma data estarão ligados por um fio de náilon de 2 m de comprimento, que por sua vez estará preso por uma das extremidades à estaca. Cada bloco possuirá dez fios de náilon presos à estaca central e a cada fio de náilon estarão presos seis sacos de serapilheira, ou seja, 60 sacos por bloco, totalizando 120 sacos de serapilheira por área (Fig 1). Todos os fios de náilon com sacos de serapilheira que ficarão acima do solo serão presos à estaca central e distanciarão um do outro num ângulo de aproximadamente 72°. Os filamentos de sacos de serapilheira que ficarão abaixo da superfície serão enterrados, entre aqueles colocados acima da superfície, usando a técnica desenvolvida por Harmon et al. (1999). Os tratamentos de exclusão e inclusão de fauna e baixa e alta qualidade da serapilheira serão distribuídos nos dois blocos. Bloco2 Bloco1 mês5 mês5 mês1 mês5 mês5 mês1 mês9 mês1 mês9 mês7 mês7 mês1 mês7 10m de distância mês9 mês7 mês9 mês3 mês3 mês3 Estaca de plástico Fio de náilon com sacos de serapilheira na superfície Fio de náilon com sacos de serapilheira enterrados Saco de serapilheira Fig1. Esquema da disposição dos sacos de serapilheira no campo mês3 Os fios de náilon com sacos de serapilheira que ficarão acima do solo serão colocados na superfície do solo mineral. Se houver uma camada de serapilheira, ela será delicadamente afastada antes deles serem colocados sobre a superfície. Para evitar que se desloquem durante o experimento, os sacos de serapilheira serão ancorados à superfície por um arame em forma de “U” preso a extremidade de cada um deles. Em cada recoleta, serão retirados um fio de náilon com sacos da superfície e um fio de náilon com sacos enterrados de cada um dos blocos. No total, em cada recoleta serão retirados quatro fios de náilon com seis sacos cada, totalizando 24 sacos de serapilheira por área de estudo. Cada um dos sacos será retirado do fio de náilon e colocado individualmente em um saco de papel etiquetado para então serem transportados ao laboratório. No laboratório, os detritos presentes na superfície de cada saco de serrapilheira serão cuidadosamente retirados com um pincel. Em seguida cada saco será aberto com uma tesoura e o conteúdo será removido e colocado em uma bandeja. A serapilheira será lavada individualmente, colocando-a em uma caixa com água. As amostras serão retiradas com uma pinça e então cada uma será colocada em um saco de papel etiquetado. O objetivo dessa etapa é remover as partículas de solo, detritos estranhos, ou raízes que aderirem ao substrato. Os sacos de papel contendo as amostras serão colocados em estufa a 50-55 C° até peso constante. Posteriormente o material será pesado em balança com precisão de no mínimo ± 0,01 g. Se os sacos de serapilheira não forem imediatamente processados quando chegarem do campo, serão armazenados em refrigerador por até uma semana, ou em um freezer quando for necessária mais de uma semana de armazenamento. 6. ANÁLISE DOS RESULTADOS As análises estatísticas serão feitas utilizando o programa STATISTICA. Previamente serão realizados teste de homogeneidade segundo Levene e o teste de Kolmogorov-Smirnov para testar a distribuição normal dos dados. Segundo Wieder & Lang (1982), análises de variâncias são muito usadas em estudos de decomposição que empregam sacos de serapilheira, se o objetivo do trabalho é a comparação de tratamentos. Então, se os testes de homogeneidade e normalidade forem positivos, análises de variância (ANOVA) serão aplicadas para verificar o efeito dos tratamentos (Formações Florestais, espécies de serapilheira, exclusão de fauna e ambiente de decomposição) e suas interações na perda de massa (variável dependente) ao longo do experimento. Comparações múltiplas entre pares de médias serão realizadas através do teste Post hoc de Turkey. Se não for verificada distribuição normal dos dados, nem homogeneidade das variâncias será aplicado teste não paramétrico correspondente à ANOVA. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AERTS, R. Climate, leaf litter chemistry and leaf litter decomposition in terrestrial ecosystems: a triangular relationship. Oikos, Copenhagen, v. 79, p.439-449, 1997. BROWN, S. & LUGO, A. E. 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Equipe técnica envolvida no projeto temático “Diversidade, Dinâmica e conservação em florestas do Estado de São Paulo: 40ha de parcelas permanentes” Prof. Dr. Ricardo Ribeiro Rodrigues (Coordenador Geral) Professor Titular/ Depto. de Ciências Biológicas/ESALQ/USP Prof. Dr. Alexandre Adalardo de Oliveira Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto/USP Geraldo A. Daher Corrêa Franco Pesquisador Científico III/ Divisão de Dasonomia/ Instituto Florestal Prof. Dr. Gerd Sparovek Professor Associado/ Depto. de Solos e Nutrição de Plantas/ESALQ/USP Profª. Drª. Giselda Durigan Pesquisadora Científica VI/ Estação Experimental de Assis/ Instituto Florestal Prof. Dr. João Luiz Ferreira Batista Depto de Ciências Florestais/ESALQ/USP Prof. Dr. Miguel Cooper Depto. de Solos e Nutrição de Plantas/ESALQ/USP Prof. Dr. Pablo Vidal Torrado Professor Associado/ Depto. de Solos e Nutrição de Plantas/ESALQ/USP Prof. Dr. Paulo Sentelhas Depto. de Ciências Exatas/ESALQ/USP Prof. Dr. Vinícius Castro Souza Depto. de Ciências Biológicas/ESALQ/USP 9. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES Ano 2003 2004 2005 Mês A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J Cumprimento de créditos X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Instalação dos sacos de X X X X serrapilheira no campo Recoletas X Processamento e pesagem X X X X X X X X X X X X X X das amostras em laboratório Análise estatística X X X Análise dos dados X X X X X X X X X X X X Revisão Bibliográfica Redação da dissertação e X X X X X X X X X X X X X X publicação referente Apresentação da dissertação X