8 de agosto de 2015

Transcrição

8 de agosto de 2015
H1
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O ESTADO DE S. PAULO
SÁBADO, 8 DE AGOSTO DE 2015
DÍVIDAS
EM AJUSTE
A realidade econômica mudou – para o País e para as
pessoas. Desafio agora é quitar as contas, arrumar a
casa e manter as conquistas dos últimos anos
H2 Especial
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O ESTADO DE S. PAULO
SÁBADO, 8 DE AGOSTO DE 2015
IMÓVEIS
FOTOS: JANAINA RIBEIRO/ESTADÃO
SEM
VIZINHOS
A falta de
moradores é
um problema
para o síndico
Lucas
Nascimento
DOIS SONHOS
2
EM 70m
Daniel Machado Vivacqua
Felipe Pontes
Júlia Lewgoy
Mariana Ribeiro
S
índico há seis meses, Lucas Nascimento nunca passou por um
único episódio de briga entre moradores, disputa por vagas de garagem ou som alto na madrugada. Seu maior problema é a falta de vizinhos. A poucos metros da faixa de “últimas unidades à venda”, o analista de sistemas, de 34 anos, conta que apenas 20 famílias habitam os cerca de 300 apartamentos
do condomínio, entregue em janeiro. Entre imóveis vazios e devolvidos, falta dinheiro para fechar as contas.
A cena é um retrato do mercado imobiliário de São Paulo: as vendas de imóveis novos caíram 11,4% na capital nos cinco primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo
com o Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP). Como se não bastasse, disparou o número de imóveis vendidos em
anos anteriores que agora estão sendo devolvidos antes mesmo da entrega das chaves. São os chamados distratos. A Associação Brasileira de Mutuários Habitacionais
(ABMH) registra uma alta de 30% nas reclamações envolvendo esses casos no primeiro semestre de 2015.
Enquanto caminha pela área de lazer deserta – com piscina, quadra poliesportiva,
salão de festas e forno de pizza –, Nascimento diz que a construtora costuma acumular alguns meses antes de pagar as taxas
de condomínio das unidades vagas. Isso dificulta arcar com os custos de manutenção
e segurança. A empresa rebate e diz que as
contas estão em dia.
O vazio nos corredores não é exclusivo
do condomínio localizado no bairro Jaguaré, na zona oeste de São Paulo. Corretores
da região reconhecem: é o momento mais
difícil em pelo menos oito anos. Trabalhando para diferentes incorporadoras simultaneamente, eles já se dão por satisfeitos se
conseguem vender um único apartamento
por mês. Quando muito.
A visão dos prédios evidencia o problema. À medida que o dia escurece, poucas luzes se acendem nas quatro torres que
compõem o empreendimento de classe média, com unidades na faixa de R$ 400 mil.
“Somente nesta semana foram liberados 17
distratos para revenda”, revela um dos corretores. É provável que uma das unidades
já tenha sido do consultor de TI Wagner
Augusto Júnior, que desistiu da compra da
casa própria em janeiro.
Ele se sentiu pego no contrapé. Com os
negócios fraquejando e maior incerteza em
relação à própria renda, o profissional autônomo decidiu, a contragosto, devolver o
apartamento à incorporadora. Após três
anos pagando a entrada de 20% em parcelas mensais, ele voltou ao
aluguel. Pretendia vender
um carro para liquidar a
entrada antes de finan- “Somente nesta semana
ciar o restante pela Caixa.
foram liberados 17
Mas o endurecimento na
aprovação de crédito pelo distratos para revenda”,
banco público, principal
diz o corretor
fonte de recursos de pesde plantão
soas físicas para a aquisição de imóveis, foi a pá de
cal no sonho do consultor. Um sonho de 70 metros quadrados e
três dormitórios.
Após uma década de inédita e vertiginosa expansão do crédito imobiliário no Brasil, 2015 começou com os sinais trocados.
Um encolhimento nos recursos disponíveis para essa modalidade de financiamento, sobretudo por causa do volume robusto
de saques na caderneta de poupança, deixou os bancos mais seletivos na concessão
Queda nas vendas
e desistências na
compra de
apartamentos
deixam novos
condomínios com
os corredores
vazios
do empréstimo, sem contar a elevação dos
juros. A estabilidade no emprego com carteira assinada e o planejamento financeiro
foram determinantes para que Carolina
Gomes e seu marido, Pedro, conseguissem
assinar o contrato com o banco e comprar
seu apartamento no Jaguaré.
O casal pagou metade do imóvel na entrada e incluiu nos cálculos a correção
anual do valor pelo Índice Nacional da
Construção Civil (INCC). Eles acreditam,
inclusive, que só conseguiram trocar sua
unidade de fundos para uma com vista livre para o câmpus da USP por causa de um
distrato anterior. Até março, os imóveis de
frente estavam esgotados, conta a advogada em meio ao entulho da reforma de seu
apartamento. O mesmo sonho de 70 metros quadrados do consultor Augusto Júnior, que o casal resolveu reduzir de três
para dois quartos para ampliar a área social
e receber os amigos. “Viemos aqui quase todos os dias pra ver o que aconteceu de diferente, já estamos na fase final.”
A expectativa de Carolina é compartilhada pelos outros condôminos, que já fizeram até churrasco. Recém-casados, a maioria deles vive pela primeira vez o sonho da
casa própria. “Tenho certeza que daqui a
pouco vai estar cheio de crianças correndo
por aqui”, diz o síndico Nascimento, apontando para a área de lazer.
Enquanto isso, Augusto Júnior refaz
seus planos. “É melhor não sonhar antes
que o mercado se estabilize.” Até que o
imóvel novo se torne realidade, ele deixa o
dinheiro em uma aplicação e pensa em sair
da cidade e construir uma casa em um terreno que possui em Vargem Grande Paulista. “Meus planos hoje são gastar o mínimo
e esperar o momento certo.”
HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO
Conheça
os focas
No alto, primeira fileira:
Felipe Pontes, Flavia
Alemi, Lucas Loconte,
Jéssica Alves, Luiza
Facchina, Rodolfo
Mondoni, Igor Costa e
Caio Rinaldi.
Na segunda fileira:
Tiago Nicacio, Ítalo
Rômany, Arthur Cagliari,
Estevão Taiar, Renato
Alban, Rafaela Malvezi,
Isabela Bonfim,
Rafael Aloi e Fellipe
Bernardino.
Na terceira fileira:
Daniel M. Vivacqua, Guilherme Simão, Hermínio
Bernardo, Ana Carolina
Neira, Patrícia de Oliveira,
Mariana Lima, Nana Soares, Júlia Lewgoy e Mariana Ribeiro.
Realização:
Patrocínio:
SUPLEMENTOS FOCAS
Supervisão editoral João Caminoto e Roberto Gazzi - Edição Andréia
Lago, Carla Miranda e Márcia Furlan - Reportagem Alunos do 5º Curso
Estado de Jornalismo Econômico - Direção de Arte Fábio Sales Diagramação Dennis Fidalgo - Fotos Janaína Ribeiro Colaboração Marilena Oliveira e Marisa Oliveira