The Economist Pequenas e médias empresas atraem o crescimento

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The Economist Pequenas e médias empresas atraem o crescimento
The Economist
Pequenas e médias empresas atraem o crescimento em mercados em
expansão
Embora estejam esperando condições mais difíceis no mercado para os
próximos anos, os gerentes de PMEs nos mercados emergentes estão
confiantes com as perspectivas para suas empresas, mas estão lutando para
lidar com a burocracia e com outros obstáculos.
Quando a Senior Solution, empresa especialista no desenvolvimento de
softwares sediada em São Paulo, vender suas ações em uma oferta pública
inicial (IPO) no Bovespa Mais para empresas de rápido crescimento em 2013,
a diretoria espera utilizar os proventos para fazer aquisições e para fomentar o
crescimento contínuo da empresa. Nos últimos seis anos as receitas da
empresa cresceram a uma média anual de 28%—superando em muito seu
próprio setor, assim como a economia brasileira. Caso o IPO seja um sucesso,
diz o CEO Bernardo Gomes, “nossas taxas de crescimento nos próximos anos
serão ainda maiores”.
A Senior Solution é um símbolo da rápida expansão vista entre as muitas
pequenas e médias empresas (PMEs) nas economias emergentes como Brasil,
Rússia, Índia e México. Milhões de PMEs em rápido crescimento nesses
mercados são fundamentais para suas economias nacionais. De acordo com
um relatório realizado pela Parceria Global para Inclusão Financeira (Global
Partnership for Financial Inclusion), uma organização intergovernamental, as
PMEs formais são responsáveis por 45% do total de empregos nas economias
emergentes; esse número é ainda maior quando considerados os negócios
informais. Além disso, as PMEs tendem a criar empregos em um ritmo mais
rápido do que as empresas maiores, e nos mercados emergentes elas ajudam
a acelerar a transição de economias agrícolas para economias industriais.
Ainda sim, estas PMEs preveem uma piora no clima econômico. Como parte
desta pesquisa, a Economist Intelligence Unit entrevistou mais de 530 gerentes
de PMEs em cinco economias emergentes—Brasil, Rússia, Índia, China e
México. Os resultados das pesquisas mostram que 60% dos altos executivos
das PMEs nessas economias emergentes acreditam que o ambiente global de
negócios ficou ainda mais difícil nos últimos três anos.
Além disso, cerca de 65% deles esperam que o ambiente de negócios se torne
ainda mais difícil ao longo dos próximos três anos. Enquanto há um consenso
nas previsões do PIB—a empresa de serviços de pesquisas de investimento
Morningstar indica um crescimento econômico global de 3,6% em 2013, ante a
3,2% de crescimento registrado em 2012—diversas preocupações econômicas
continuam diminuindo as perspectivas. “Existe o problema na Europa e a
economia americana está em uma situação volátil”, diz Arvind Singhania,
presidente da Ester Industries, uma fabricante de filmes de poliéster
especializado com sede na Índia. “O clima econômico global é um pouco
preocupante para nós.”
Não obstante, as pequenas empresas na amostragem—aquelas com receitas
abaixo de US$100m—estão mais propensas a esperar tempos mais difíceis
nos próximos três anos do que seus colegas de maior porte. Enquanto 19%
dos gerentes de pequenas empresas concordam plenamente com o fato de
que o ambiente de negócios ficará muito mais difícil nos próximos três anos,
entre as grandes empresas essa é a expectativa de apenas 12% dos gerentes.
E enquanto 22% dos executivos de pequenas empresas concorda plenamente
com o fato de que o ambiente de negócios ficou mais difícil nos últimos três
anos, entre os gerentes de PMEs relativamente maiores este número é menor,
16%. Isso sugere que as pequenas empresas podem estar mais pessimistas
do que as grandes empresas—ou mais suscetíveis a mudanças no clima
econômico.
Apesar das expectativas generalizadas de que as condições econômicas
ficarão piores, os gerentes dos mercados emergentes parecem estar confiantes
com relação às perspectivas para suas empresas para os próximos 12 meses.
Um total de 78% dos respondentes da pesquisa diz esperar que seu volume de
negócios aumente durante este período—um número significantemente maior
do que os 64% que diz que sua empresa aumentou as vendas anuais, em
média, nos últimos três anos. Outro sinal de confiança entre os gerentes é que
72% dos executivos espera impulsionar a força de trabalho de suas empresas
nos próximos 12 meses.
Prioridades de crescimento
Quando perguntados sobre sua principal prioridade de negócios nos próximos
12 meses, os respondentes da pesquisa estão mais propensos a indicar que a
prioridade é o aumento das vendas e dos ganhos, sinalizada por 55% dos
participantes da pesquisa. Para muitas PMEs, crescer parece ser um objetivo
permanente de negócios. Uma possível explicação para isso é que, como as
pequenas empresas têm mais chances de falir do que as grandes, os gerentes
estão sempre priorizando a busca de uma maior escala a fim de proteger a
sobrevivência da companhia. Isso também pode explicar por que os gerentes
de PMEs estão tão confiantes com as expectativas de crescimento de suas
próprias empresas, mesmo quando esperam uma piora nas condições
econômicas em geral.
Nos esforços para aumentar as vendas e os ganhos, algumas PMEs estão
utilizando novas tecnologias para ganhar vantagem competitiva sobre as
grandes empresas, ou para responder de forma ágil às oportunidades
emergentes. Um exemplo disso é a Oktogo.ru, uma agência de viagens on-line
fundada na Rússia em 2010. Embora o modelo de negócios da empresa seja
baseado na internet, sua fundadora e CEO, Marina Kolesnik, explica que agora
ela está estendendo as ofertas da internet da companhia para plataformas
móveis, tanto para clientes como para fornecedores. “Os telefones celulares
são um grande negócio na Rússia e a penetração dos smartphones é muito
alta” diz ela. Além disso, Kolesnik salienta que a empresa está agora investindo
na mídia social para construir sua marca, fortalecer a fidelização dos clientes e
para aumentar as vendas.
Enquanto isso, na Nutriplant, uma empresa de ciências agrárias brasileira, o
CEO Ricardo Pansa diz que o mercado doméstico para os produtos da
empresa está em rápida expansão. Para buscar expandir sua fatia no
crescente mercado a empresa também está utilizando a internet para converter
prospectos em clientes. “A educação é uma grande parte de nossa empresa”,
explica o CEO. “Ao informar os fazendeiros e produtores, nossos clientes,
esperamos que eles adotem nossos produtos de forma mais rápida”, diz ele. É
por isso que a empresa está criando webinars, cursos e programas de
treinamento pela internet disponíveis para prospectos e clientes, isso aumenta
a eficácia de seus esforços de vendas sem um grande aumento nos custos.
Além do aumento das vendas e dos ganhos, outra principal prioridade de
negócios para os gerentes das PMEs é melhorar a eficiência. Os ganhos em
eficiência podem levar ao aumento dos ganhos, claro, mesmo no melhor dos
tempos. Mas agora o aumento dos custos com salários e os preços
relativamente altos das mercadorias estão entre os fatores que fazem da
melhoria da eficiência uma prioridade específica. “Temos que trabalhar ainda
mais para melhorar a eficácia de nossas operações a fim de reduzir o aumento
dos custos”, diz Singhania, presidente da Ester Industries. “Estamos olhando
para processos de fabricação para ver onde podemos reduzir nossos custos e
melhorar a eficácia em termos de aprimoramento da produtividade, da
qualidade e dos tempos de resposta.” Gerentes como Singhania estão entre os
55% dos respondentes dos mercados emergentes que diz buscar uma melhor
eficiência nos próximos 12 meses.
Além disso, de acordo com os resultados da pesquisa, 50% dos executivos
planeja utilizar a tecnologia de forma mais eficaz e 64% deles diz estar
automatizando mais tarefas e funções hoje do que há três anos. Os resultados
desta pesquisa são uma indicação clara de que as PMEs nas economias
emergentes estão abraçando a tecnologia para impulsionar as vendas, obter
eficiências e aumentar a lucratividade. Um exemplo disso é dado por um dos
respondentes da pesquisa, um alto gerente de uma empresa de
saúde, produtos farmacêuticos e biotecnologia na Rússia, que descreve a
maior oportunidade da empresa nos próximos 12 meses como “melhorar o
desempenho com tecnologias novas e inovadoras que auxiliem na redução de
custos”.
Enquanto perseguem o crescimento nas vendas e nos ganhos, as PMEs estão
colocando em prática diversas medidas para garantir que estão bem
posicionadas para explorar as oportunidades de crescimento. No topo da lista
está o financiamento, 41% dos respondentes da pesquisa estão em busca
de novos financiamentos para aproveitar as oportunidades disponíveis para
eles. No entanto, isso não é nada simples: de acordo com o Banco Mundial, os
empréstimos para PMEs são apenas 3% do PIB dos mercados emergentes,
um número significantemente menor do que os 13% nos países desenvolvidos.
Por isso é compreensível que 61% dos respondentes da pesquisa dizem ter
ficado mais preocupados com as dívidas da empresa naquele momento e 50%
deles dizem ter ficado mais preocupados com o acesso a financiamentos nos
últimos três anos.
Gomes, da Senior Solution, diz que levantar capital tem sido uma grande luta
para sua empresa. “Levantar dívidas a longo prazo por meio de empréstimos
bancários é raro no Brasil”, explica. “Na maioria dos casos, os bancos de
desenvolvimento são a única fonte de dívidas de longo prazo para as PMEs.”
Em 2005 a Senior Solution conseguiu levantar capital por meio da BNDESPAR,
um braço de investimentos do BDES e do Stratus Group, um fornecedor de
capital privado. Agora, com 45 potenciais alvos de aquisição em vista, Gomes
vê o IPO planejado da empresa como a melhor forma de financiar a rápida
expansão da empresa.
Para explorar ainda mais oportunidades de crescimento, os pequenos negócios
também estão procurando ter acesso à experiência certa e às habilidades
corretas. 34% dos líderes empresariais diz estar contratando consultores
externos, enquanto 33% deles diz estar aumentando ou redirecionando os
gastos com treinamento. A Ester Industries é uma das empresas que está
aumentando seus investimentos em treinamento de acordo com a expansão da
empresa: “antes de mais nada, gostaríamos de dar oportunidade à nossa
equipe já existente para que possamos atender às necessidades crescentes da
empresa”, diz Singhania, presidente da empresa. “Por isso dependemos de um
programa muito forte de treinamento, um programa de treinamento contínuo,
dos trabalhadores até o nível gerencial” Singhania acredita que o investimento
em treinamento está se tornando cada vez mais importante, uma vez que é
cada vez mais difícil encontrar pessoal qualificado na Índia, além de mais caro
para contratar.
A preocupação com o Governo
Para chegar ao crescimento, os líderes de negócios devem superar diversos
obstáculos, e parece que muitos gerentes de PMEs de mercados emergentes
estão lutando contra estes obstáculos. Apenas 25% deles dizem que a
empresa está bem preparada para lidar com os desafios que enfrentam. No
Brasil e na China apenas 21% deles diz estar em uma posição favorável para
lidar com esses problemas, ao contrário de 15% dos gerentes de PMEs de
mercados emergentes, que dizem estar lutando para lidar com a maioria
desses problemas; no Brasil este número chega a 29%. Ainda mais
preocupante, os gerentes de empresas relativamente menores parecem estar
em uma posição bem mais fraca se comparada aos seus colegas de empresas
maiores: 19% dos executivos das menores PMEs diz que suas empresas estão
lutando contra a maioria dos obstáculos que enfrentam, contra 11% das
maiores empresas.
Quais os principais obstáculos que as PMEs devem superar? 90% dos
respondentes aponta a burocracia do governo e a regulamentação. Além disso,
a carga da burocracia parece estar crescendo: 60% dos respondentes de
economias emergentes diz que a conformidade regulatória consome
atualmente mais de seus recursos do que consumia há três anos. A pesquisa
mostra que a burocracia é um fardo pesado no Brasil: 90% dos respondentes
diz que esse é um obstáculo para o crescimento de sua empresa, mas 50%
deles descreve isso como o maior obstáculo. No relatório Doing Business 2012,
publicado em conjunto pelo Banco Mundial e pela Corporação Financeira
Internacional (CFI) - International Finance Corporation (IFC) -, o Brasil está na
126º posição entre os 183 classificados com base na regulamentação dos
negócios.
De acordo com a grande maioria (87%) dos respondentes da pesquisa, outra
barreira para o crescimento é a crescente carga tributária, onde 94% dos
chineses consideram os impostos como um obstáculo para o crescimento. Na
verdade, este é o fator que a maioria dos executivos de mercados emergentes
(47%) descreve como o maior obstáculo. Os gerentes de empresas no Brasil
são os mais propensos a dizer que o crescimento da carga tributária é a maior
preocupação (60% deles concorda), seguidos pelos gerentes na Índia (55%).
Não é de surpreender que o Brasil e a Índia são os dois países na amostragem
com a maior taxa de impostos corporativos (desde janeiro de 2012), de acordo
com a Corporate Tax Ranking 2012, publicada pelo Oxford University Centre
for Business Taxation.
Se comparado com o número de líderes de negócios nas economias
emergentes, que se preocupam com o governo, com impostos e com os
problemas regulatórios, o baixo número de gerentes profundamente
preocupados com as condições comerciais é significante. Por exemplo, entre
os fatores que os gerentes estão menos propensos a descrever como
obstáculos para o crescimento estão a rápida mudança no modelo de negócios
ou da indústria (descrito por 73% deles como sendo o principal ou menor
obstáculo), uma redução na confiança dos consumidores (73%), as fracas
perspectivas econômicas e os mercados em recessão ou estagnados (74%).
Isso pode refletir no crescimento econômico relativamente forte nos mercados
emergentes avançados.
Sobre esta pesquisa
Para determinar a opinião das pequenas e médias empresas (PMEs), a
Economist Intelligence Unit (EIU) conduziu uma pesquisa com mais de 1070
altos gerentes em cinco mercados desenvolvidos e cinco mercados
emergentes em todo o mundo em Julho e Agosto de 2012. As economias
desenvolvidas incluídas na pesquisa são: França, Alemanha, Japão, Reino
Unido e os Estados Unidos; as economias emergentes são Brasil, China, Índia,
México e Rússia. A pesquisa perguntou aos gerentes das PMEs qual seu nível
de confiança; quais são suas principais prioridades de negócios; como eles
estão abordando as oportunidades; e quais obstáculos estão enfrentando.
Todas as empresas pesquisadas relatam receita anual abaixo de US$750m;
mais de três quartos de todos os respondentes (76%) representam empresas
com receitas abaixo de US$250m; mais da metade deles (52%) representam
empresas com receitas abaixo de US$100m. Além disso, a EIU conduziu um
programa de entrevistas com altos gerentes de PMEs em economias
desenvolvidas e emergentes, com volume de negócios entre US$2m e
US$475m. Este artigo foi baseado na pesquisa e no programa de entrevistas. A
EIU gostaria de agradecer a todos os respondentes da pesquisa e
entrevistados.