Novo sistema para avaliação do teste de Desenho da Figura

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Novo sistema para avaliação do teste de Desenho da Figura
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Novo sistema para avaliação do teste de Desenho da Figura
Humana como instrumento projetivo
V Mostra de
Pesquisa da PósGraduação
Gisele Vieira Ferreira, Maria Lucia Tiellet Nunes (orientador)
Faculdade de Psicologia, PUCRS
Resumo
O Teste de Desenho da Figura Humana (DFH) avalia a cognição, e os estados
emocionais (ou a personalidade), através da projeção. Com a Resolução 25/2001 do Conselho
Federal de Psicologia (CFP), o DFH, como teste projetivo só pode ser avaliado pelo sistema
de correção de Buck (2003). Para oferecer outro sistema de avaliação, esse estudo analisou,
através de análise de conteúdo (Bardin, 1977), quatro outros sistemas de avaliação do teste
como instrumento projetivo. Os quatro sistemas somente podem ser usados para fins de
pesquisa e não para avaliação psicológica porque não apresentam qualidades psicométricas
para seu uso para amostras brasileiras. Foi concluído que se deve realizar estudos das
qualidades psicométricas do DFH como teste projetivo pelo sistema proposto por Naglieri,
McNeish & Bardos (1991) porque é o mais recente e há possibilidade de uma pesquisa em
colaboração com docente do PPG de Psicologia da UNICAMP.
Introdução
Em 1926 Goodenough, estudiosa do DFH para avaliação cognitiva, afirmou que os
desenhos poderiam ser utilizados como um recurso para avaliação da personalidade, pois
apareciam muitos detalhes raros e com significados para aquele sujeito em particular e não
associados a componentes intelectuais (Hammer, 1981). Entre as décadas de 30 e 40 surgiu o
interesse pelo DFH projetivo (Hammer, 1981; Liporace, 1996); começou-se a verificar que
crianças com dificuldades emocionais não conseguiam desenhar a figura humana conforme
sua capacidade intelectual, problemas emocionais intervinham no desempenho.
Metodologia
Quatro sistemas de avaliação do DFH como teste projetivo foram analisados pela
mestranda, através de análise de conteúdo, tendo a orientadora servido como juíza da
discussão.
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Resultados
Machover (1949) propõe o DFH projetivo para avaliar características de personalidade e
o conceito de imagem corporal, a partir dos desenhos de um homem e uma mulher.
Comentários e perguntas realizadas antes e durante o desenho, o tempo de realização e a
sequência das partes desenhadas devem ser anotados em uma folha separada. Caso o sujeito
não consiga contar histórias sobre os desenhos, deve ser estimulado a falar através de
perguntas sobre o desenho: idade, o que a pessoa está fazendo, sua escolaridade, dentre outras
que podem fornecer mais dados sobre as figuras. Tais procedimentos e a história pessoal e
clínica complementariam as informações obtidas com o DFH. Machover não desenvolveu
uma forma padronizada de correção do DFH. Através da análise minuciosa destes itens e a
integração dos vários indicadores, seria possível obter a expressão dos conflitos emocionais e
o diagnóstico do sujeito (Machover, 1949), o que limita o instrumento à percepção do
avaliador.
Koppitz (1966) elaborou uma lista de indicadores emocionais que permitissem a
detecção de tais problemas (Van Kolck, 1973; Azevedo, 2003). A administração do teste
consiste em entregar à criança uma folha de papel, lápis e uma borracha, solicitando que
desenhe uma pessoa de corpo inteiro. O tempo de execução dos desenhos é livre, assim como
apagá-lo e mudá-lo, cabendo ao examinador observar e anotar esta conduta. Além disso,
deve-se observar a sequência das partes desenhadas, as atitudes e os comentários da criança,
enquanto desenha. São analisados os itens que caracterizam diferentes significados
emocionais; a soma dos itens é transformada em um escore, que demonstra a dificuldade
emocional da criança.
Naglieri, McNeish & Bardos (1991) propõem um sistema para avaliar problemas
emocionais ou distúrbios de comportamento em crianças e adolescentes; fornecem um
sistema de pontuação do desenho da figura humana composto por itens que podem ser
objetiva e facilmente pontuados para diferenciar a população clínica da não-clínica. A
avaliação do teste analisa item por item dos desenhos da figura masculina, feminina e a de si
mesmo; o que produz um escore total do DFH ao somar os escores dos três desenhos.
Conclusão
Para o sistema de Naglieri, McNeish & Bardos (1991) não há ainda estudos sobre suas
qualidades psicométricas básicas: validade, fidedignidade, padronização, normatização
(Nunes & Levenfus, 2002). Para oferecer esse sistema para uso no Brasil, será realizada, em
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cooperação com Solange Weschler, do PPG Psicologia da PUCCampinas, uma pesquisa de
validação do teste. Num primeiro momento, os resultados do teste com dez crianças atestam a
possibilidade de uso deste sistema.
Referências
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