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Mamíferos de médio e grande porte da Reserva Biológica de Pinheiro Grosso Jéssica dos Santos Galego, Peterson Sylvio de Oliveira Nunes, Razzo da Silva Ferreira, Rafaela Cobuci Cerqueira e Fernando Martins Costa IF Sudeste MG – Câmpus Barbacena Introdução A Mata Atlântica originalmente cobria 15% do território brasileiro e vem sofrendo impactos desde o descobrimento, resultando na destruição de seus habitas. Atualmente restam apenas 8% de sua vegetação original na forma de fragmentos florestais, isolando populações e assim, reduzindo a variabilidade genética. Apesar da constante ameaça, a Mata Atlântica possui grande riqueza em biodiversidade, abrigando milhares de espécies, das quais aproximadamente 250 são mamíferos, sendo 55 endêmicos. A mastofauna de médio e grande porte desempenha papéis importantes no equilíbrio dos ecossistemas por meio da dispersão de sementes e controle de população de outros animais por predação e competição. Entretanto, por necessitarem de territórios grandes, essas espécies são fortemente impactadas pela fragmentação, sendo também ameaçadas pela caça e competição com espécies exóticas. A criação de unidades de conservação contribui para amenizar os impactos causados pelo uso indiscriminado de recursos naturais na Mata Atlântica, e nos outros biomas. Porém, nem sempre existem investimentos e recursos técnicos para o efetivo funcionamento dessas áreas protegidas, como é o caso da Reserva Biológica de Pinheiro Grosso (RBPG), que se encontra secionada pela estrada MG132 e sofre ações de caça, desmatamento, ocupação irregular, queimadas, invasão de animais domésticos, dentre outros problemas. Desde sua criação, em 1987, não foram realizados estudos sistemáticos sobre sua biota, existindo poucos trabalhos de curto prazo (Gheosfera, 2006; Instituto Rio Limpo, 2007). Estudos da mastofauna da RBPG fornecem dados importantes sobre seu estado, os quais poderão ser utilizados no desenvolvimento de estratégias de conservação. Palavras chave: levantamento, fauna, unidade de conservação Categoria/área de pesquisa: nível Superior (BIC) / Ciências Biológicas e Ciências da Saúde Objetivos Determinar a riqueza de mamíferos de médio e grande porte que habitam a RBPG. Material e métodos O estudo foi desenvolvido na RBPG (467,16 ha), localizada em Pinheiro Grosso, distrito de Barbacena-MG, coordenadas 21º15’ de Latitude Sul e 43º45’ de Longitude Oeste. Está situada no domínio da Mata Atlântica. Insere-se na bacia hidrográfica do Rio das Mortes e apresenta cobertura vegetal caracterizada como Floresta Estacional Semidecidual. O levantamento de mamíferos de médio e grande porte foi realizado utilizando 2 metodologias principais: parcelas de areia (PA) e armadilhas fotográficas (AF). Adicionalmente, utilizou-se a análise de pêlos encontrados em fezes e tufos, além da visualização e vocalização em campo. Foram considerados mamíferos de médio e grande porte aqueles com peso superior a 1kg quando adultos. A amostragem de pegadas foi realizada em 8 campanhas de campo de 4 dias cada, sendo 4 na estação seca e 4 na chuvosa, entre julho de 2013 e fevereiro de 2014. Foram utilizadas 8 áreas amostrais, cada qual com 4 PA distantes 10m entre si. Cada PA foi representada por uma área de 70x70cm, preenchida com areia fina e úmida, coberta com lona plástica de 1,5mx1,5m para evitar chuva e danos as pegadas. As PA foram iscadas com bacon, banana e sal. Cada PA foi vistoriada durante 4 dias consecutivos a cada mês, o que totalizou um esforço amostral de 1024 armadilhas/dia. As pegadas eram identificadas em campo, fotografadas e os dados anotados. A areia era então revolvida, umedecida e as iscas renovadas. A amostragem por meio das AF foi realizada nos meses de janeiro, março, junho a dezembro de 2013; e janeiro e fevereiro de 2014. Inicialmente foi utilizada uma AF analógica (Tigrinus®), que percorreu todas as áreas, ficando 15 dias em cada. Ao longo do projeto 5 novas AF foram adquiridas (Trapa-Câmera). Estas eram distribuídas entre as áreas e trocadas para uma nova área a cada 15 dias. A instalação foi feita em troncos de árvores em locais que apresentavam vestígios como tocas, trilhas e fezes. As AF foram posicionadas a aproximadamente 40cm do solo e com inclinação de 45º. O esforço amostral foi de 544 armadilhas/dia. Para avaliar a riqueza foram utilizados os estimadores Jacknife (Jack1), Chao 1 e Bootstrap, com uso do programa EstimateS 8.0. A curva de rarefação foi obtida baseada no número de espécies registradas/mês, considerando os registros de PA e AF. Foram considerados somente os meses comuns de registro para os dois métodos e para ambos foi considerado somente um registro/espécie/dia/área. Resultados e discussão Foram registradas 18 espécies, de 13 famílias e 7 ordens. Destas 3 foram registradas apenas em PA e 3 apenas em AF. A ordem Carnivora, assim como no estudo de Pires e Cademartori (2012) foi a que apresentou maior riqueza. A tabela 1 apresenta as espécies registradas. Tabela1: Lista da mastofauna encontrada na RBPG: PA: parcela de areia, AF: armadilha fotográfica, Vi: visualização; Vo: vocalização. Ordem Carnívora Família Canidae Espécie Canis familiares Método PA, AF Nome comum Cão doméstico Cerdocyon thous PA Cachorro do mato Puma yagouaroundi AF Gato mourisco Felis silvestris catus PA, AF Gato doméstico Leopardus tigrinus Eira barbara PA, AF PA, AF Gato do mato Irara Galictis sp. PA Furão Procyonidae Nasua nasua PA, AF Quati Didelphimorphia Didelphidae Didelphis sp. PA, AF Gambá Cingulata Dasypodidae Dasypus novemcinctus PA, AF Tatu galinha Cuniculidae Cabassous sp. Cuniculus paca AF PA, AF Tatu de rabo mole Paca Dasyproctidae Dasyprocta leporina PA Cutia Erethizontidae Sphiggurus sp. AF Ouriço Cebidae Callicebus sp. Vo, Vi Sauá Callithrichidae Callithrix penicillata Vo, Vi Mico estrela Artiodactyla Bovidae Bos taurus Vo, Vi Boi Perissodactyla Equidae Equus caballus Vo, Vi, AF Cavalo Felidae Mustelidae Rodentia Primates Observou-se altas taxas de registros de Didelphis sp., o que pode indicar intensa perturbação da área devido aos hábitos extremamente tolerantes destes animais (Silva e Passamani, 2009). Na RBPG ainda existem carnívoros de médio porte como L. tigrinus, P. yagouaroundi, E. Barbara e P. cancrivorus. Os primatas foram registrados por vocalização e visualização. A figura 1 apresenta a curva de rarefação para três estimadores. O Jack1 determinou 17,5 espécies; o estimador Chao1 apontou 17 espécies e o Bootstrap estimou 15,7 espécies. Figura 1: Riqueza observada e estimada na RBPG segundo estimadores Chao 1, Jack 1 e Bootstrap. Observa-se que a curva não atingiu a assíntota e os valores apontados pelos estimadores encontram-se distantes do valor observado. Em Pires e Cademartori (2012) e Ferreira (2008), apesar do elevado esforço amostral, a curva também não atingiu a assíntota. Porém, ao contrário do observado em Ferreira (2008), as curvas não mostram tendência à estabilização, indicando a possibilidade de ocorrência de outras espécies. A ocorrência de espécies domésticas como C. familiares e F. s. catus provavelmente se deve à proximidade das áreas de ocupação humana. Elas foram fotografadas em locais de registros de tatus, pacas, gambás, e outros carnívoros como quatis, gato do mato e gato mourisco, alertando para a possibilidade de constantes interações interespecíficas. A cinomose e a parvovirose são doenças comuns em cães domésticos que podem ser transmitidas aos carnívoros silvestres pelo contato com fezes, urina e secreções de animais doentes, e são responsáveis por afetarem populações de animais silvestres em diversas regiões do mundo. O crescimento de populações humanas em torno de áreas naturais aumenta o número de animais domésticos circulantes por essas áreas, e além de transmitir doenças, eles podem predar espécies silvestres (Negrão e Valladares-Pádua, 2006). Duas outras espécies domésticas foram registradas: Equus caballus e Bos taurus. Essas também podem ser foco de transmissão de doenças aos silvestres, como raiva e leptospirose. Conclusão Apesar da RBPG se apresentar fragmentada, ela ainda mantém vertebrados de topo de cadeia. Novos estudos precisam ser realizados, mas considera-se que a RBPG pode atuar como área de refugio da fauna desta região. A ameaça aos animais silvestres pela presença de animais domésticos merece destaque na área, considerando-se que essa é uma das maiores causas de extinção de espécies. Os dados apresentados nos revelam a importância de se incrementar os estudos da biota local, e também nos mostram a necessidade de sensibilização da população humana por meio de programas de educação ambiental. Referências bibliográficas FERREIRA, G. B. O mosaico de habitats e a comunidade de mamíferos de médio e grande porte do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, norte de Minas Gerais, 2008. Dissertação de mestrado em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre. Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte – MG. 2008 GHEOSFERA CONSULTORIA AMBIENTAL. Reserva Biológica Pinheiro Grosso. Diagnóstico ambiental e plano de manejo. Relatório originado na aplicação de medida compensatória gerada no processo de licenciamento ambiental de empreendimentos minerários da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). 2006 INSTITUTO RIO LIMPO. Caracterização fitossociológica, faunística, socioambiental, mapa georeferenciado e memorial descritivo da Reserva Biológica de Pinheiro Grosso, Barbacena, MG. Relatório técnico final. 2007 NEGRÃO, M.F.F.; VALLADARES-PÁDUA, C. Registros de mamíferos de maior porte na Reserva Florestal do Morro Grande, São Paulo. Biota Neotrop. May/Aug 2006 vol. 6 no. 2, http://www.biotaneotropica.org.br/v6n2/pt/ abstract? article+bn00506022006. ISSN 1676-0603. PIRES, D. P. S.; CADEMARTORI, C. V. Medium and large sized mammals of a semideciduous forest remnant in southern Brazil. Biota Neotropica. Jul/Sep 2012 vol. 12, no. 3, 2012. SILVA, L. D.; PASSAMANI, M . Mamíferos de médio e grande porte em fragmentos florestais no município de Lavras, MG. Revista Brasileira de Zoociências 11 (2): 137-144. 2009. Agradecimentos Aos voluntários Aline Martins Teixeira, Maressa Parreiras Brandão, Samantha Priscila Silva Campos, Bruno da Silva Brandão Gonçalves, Priscila Paolucci Andrade Filardi, José Galdino de Souza Junior e João Marcos Almeida da Silva que auxiliaram nas atividades de campo. Ao Giovanne Ambrósio Ferreira (UFJF) pela ajuda nas análises de dados e com a tricologia. Ao mateiro Marcos Elisete Ribeiro pela ajuda em campo (IEF). À Associação Regional de Proteção Ambiental (ARPA) pelo empréstimo das armadilhas fotográficas. Ao setor de transporte do IF Sudeste MG. Apoio financeiro FAPEMIG – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais e IF Sudeste MG - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais – Câmpus Barbacena