1 A PROTEÇÃO JURÍDICA DOS CONHECIMENTOS

Transcrição

1 A PROTEÇÃO JURÍDICA DOS CONHECIMENTOS
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
A PROTEÇÃO JURÍDICA DOS CONHECIMENTOS TRADICIONAIS NA AMAZÔNIA
FERNANDO ANTONIO DE CARVALHO DANTAS1
O presente trabalho trata de lançar algumas ideias sobre o direito, a Amazônia e suas naturezas, a
física e a humana. Trata dos sujeitos, dos bens, das relações e regulações, tomando como âmbito
primordial de enfoque, as classificações e categorizações jurídicas das pessoas, das coisas, das
relações e dos conhecimentos focadas nos direitos dos povos indígenas aos seus espaços e aos seus
bens. Assim sendo, os bens da natureza, bens ambientais em geral, alguns, hoje categorizados
tecnicamente como saberes e serviços ambientais, ou sejam, aqueles conhecimentos dos bens
intrínsecos da natureza, como as paisagens, ou aqueles obtidos pelo processo de interação da dos
seres humanos com a natureza, ainda, especificamente, quando a própria natureza gera processosprodutos como é o caso da relação da floresta com a atmosfera, quando aquela atua como fonte ou
sumidouro de carbono. Esse processo gera novo produto, passível negociação, como crédito de
carbono. Trata de lançar breves aportes para reflexão sobre como precisar, quantificar, valorar
econômica e financeiramente, ou, no sentido mais importante, definir a natureza jurídica, escalas de
soberania e competências e, consequentemente, titularidades desses bens, considerando o complexo
espaço amazônico em suas dimensões biológica, cultural, geopolítica e indígena. Por fim trata de
refletir como, no caso de uso comercial, regular a autorização, remuneração e repartição de
benefícios. A natureza, o espaço e as ações humanas sobre este, constituem objetos de profícuos e
densos estudos no âmbito das ciências, especialmente das naturais, das humanas e sociais. A
regulação desses espaços e das relações humanas que os transformam, são objetos de estudos,
reflexões e normatizações jurídicas, aqui centradas no campo do direito. Este âmbito se reveste de
fundamental importância, porque regula a proteção jurídica sobre o espaço e as coisas, sobre os
sujeitos e, acima de tudo, sobre as relações entre eles.
PALAVRAS-CHAVE: Amazônia. Saberes. Riquezas materiais e humanas. Proteção jurídica.
1
Professor Titular de Teoria do Direito da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás. Diretor do Centro de
Estudos Sociais América Latina. Professor colaborador do Programa de Doctorado en Pensamiento Latinoamericano da
Universidade Nacional da Costa Rica.
1
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
BIOPROSPECÇÃO DE MOLÉCULAS BIOATIVAS EM AMBIENTE
SEMIÁRIDO: UMA REALIDADE POSSÍVEL E PROMISSORA
MÁRCIA VANUSA DA SILVA1
O Brasil abriga a maior biodiversidade do planeta. A Caatinga é um dos maiores e mais distintos
biomas brasileiros, com mais de 25 milhões de habitantes. Ocupa uma área de aproximadamente
800 mil km2, incluindo partes dos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais. É o único bioma exclusivamente brasileiro,
portanto, grande parte do patrimônio biológico dessa região não é encontrada em nenhum outro
lugar do mundo. Entretanto, dentre os biomas brasileiros, a Caatinga é provavelmente, o mais
desvalorizado e pouco conhecido botanicamente. Apesar de se apresentar em um estado bastante
alterado, a Caatinga contém uma grande variedade de tipos vegetacionais, com elevado número de
espécies, e, também, de remanescentes de vegetação, ainda, bem preservados, que incluem um
número expressivo de táxons raros e endêmicos. Com olhar na diversidade da Região a ser
explorada, conservada e estudada, o Núcleo de Bioprospecção e Conservação da Caatinga
(NBioCaat) tem a participação de diversos grupos de importância nacional que realizam projetos
nas áreas de sustentabilidade, atividades biológicas de produtos naturais, caracterização estrutural
de produtos naturais, aplicações biotecnológicas, legislação e difusão do conhecimento,
popularização da ciência e capacitação profissional. Nesse contexto, espera-se que os resultados
científicos obtidos contribuam também para o estabelecimento de políticas de mapeamento e
preservação da flora do semiárido, a qual está sendo dizimadas em que sequer se conheça seu uso
potencial. Demonstrar a importância e aplicação terapêutica dos produtos naturais poderá, de
alguma forma, mobilizar o poder público e também os moradores da região no sentido de preservar
ou utilizar os recursos vegetais da caatinga de forma sustentável.
1
Universidade Federal de Pernambuco-UFPE/CCB/Bioquímica
2
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
A INDÚSTRIA DE FITOTERÁPICOS NO BRASIL
FERNANDA GUILHON SIMPLICIO1
Atualmente, a indústria farmacêutica brasileira se caracteriza por empresas de pequeno e médio porte
dedicadas principalmente ao segmento dos medicamentos genéricos, resultado de uma série de
marcos legais que acabaram por confundir e acomodar os empresários do país. São empresas que,
comparativamente com outros países industrializados, pouco investem em pesquisa, desenvolvimento
e inovação, detendo-se em produzir cópias de medicamentos desenvolvidos por empresas estrangeiras
a partir de matérias-primas importadas, o que causa um grande déficit na balança comercial do setor.
Tal perfil contrasta com o grande potencial do país como produtor de medicamentos, dada sua ampla
capacidade tecnológica, evidenciada pela qualidade em quantidade de estudos científicos produzidos
por suas universidades e institutos de pesquisa, sua imensa e diversificada flora e seu mercado
consumidor interno, um dos maiores do mundo. De fato, não é compreensível que um país cuja cultura
aceita plenamente o uso de plantas medicinais, sendo ainda portador de um terço de todas as espécies
vegetais do planeta, sujeite-se ao papel de mero pagador de royalties. É sabido que as plantas são
fontes de medicamentos desde a existência do homem na terra e, nesse contexto, a produção de
fitoterápicos é um caminho indicados por muitos estudiosos para alavancar o desenvolvimento da
indústria farmacêutica brasileira, oferendo ainda medicamentos inovadores, seguros e bem aceitos
por nossa população. Essa palestra propõe-se a discutir brevemente essas questões, colocando em
perspectiva o modo como as universidades, sejam privadas ou públicas, podem contribuir para essa
mudança de paradigma.
1
Profa. M.Sc. da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Amazonas
3
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
OBTENÇÃO DE SUBSTÂNCIAS ATIVAS A PARTIR DE FONTES VEGETAIS
FERNANDA GUILHON SIMPLICIO1
De todos os produtos naturais, as plantas são aqueles que mais tem fornecido insumos para a
descoberta ou desenvolvimento de medicamentos. Sua contribuição passa pelo fornecimento de
extratos e óleos para preparações medicinais caseiras ou mesmo fitoterápicos, até o fornecimento de
substâncias biologicamente ativas, que atuam elas mesmas como fármacos ou servem de protótipos
para a produção de substâncias empregadas na terapêutica humana. Nesse sentido, várias são as
técnicas empregadas para a obtenção dessas substâncias a partir extratos vegetais, o que envolve,
necessariamente, estudos multidisciplinares que contemplam aspectos de botânica, agronomia,
biologia, química, farmacologia, entre outros ramos da ciência. Este minicurso versará sobre algumas
dessas técnicas, abordando desde a escolha da espécie vegetal para estudo e preparação da matériaprima, passando por fracionamento de extratos e purificação de substâncias, até modificações
moleculares para melhoramento de características de substâncias naturais, para que possam ser
empregados como fármacos, de forma didática e objetiva.
1
Profa. M.Sc. da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Amazonas
4
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DE MICROORGANISMOS
MÁRCIA VANUSA DA SILVA1
Com o aperfeiçoamento de técnicas moleculares e o seqüenciamento de genomas, uma enorme
quantidade de informação genética foi disponibilizada à comunidade científica. Este conhecimento
estimulou a elaboração de técnicas moleculares para identificação, classificação e monitorização da
abundância e diversidade de inúmeras espécies em ambientes complexos. Tornou-se necessário o
desenvolvimento de ferramentas moleculares para realizar de forma rápida e fácil a enumeração de
microrganismos presentes em diferentes ambientes.Ensaios moleculares com o uso da reação em
cadeia da polimerase (PCR) são importantes ferramentas para a detecção de microrganismos e
podem contribuir para o diagnostico precoce com alta sensibilidade, mesmo quando os alvos estão
presentes em quantidades extremamente baixas (10 a 100 copias de DNA). As investigações de
microrganismos com uso da PCR tem sido exploradas com sistemas de detecção múltipla
conhecidos como Multiplex-PCR. Esta técnica e baseada na amplificação de segmentos distintos de
DNA empregando-se dois ou mais pares de primes em um único tubo de reação, o que, por sua vez,
geralmente significa custos mais baixos e redução de tempo.
1
Universidade Federal de Pernambuco-UFPE/CCB/Bioquímica
5
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
DESVENDANDO O DNA
CARLOS HENRIQUE DOS ANJOS DOS SANTOS1
A descoberta do DNA (ácido desoxirribonucleico), no início do século XX foi uma grande
contribuição para a Ciência, pois possibilitou conhecer o código genético da hereditariedade. O
DNA é uma molécula formada por nucleotídeos, moléculas de fósforo (P) e por bases nitrogenadas
complementares (Adenina, Timina, Citosina e Guanina). Em 1953, a corrida para determinar como
a molécula do DNA formava uma estrutura tridimensional foi descoberta por James Watson e
Francis Crick, na Inglaterra. Eles mostraram que as moléculas de desoxirribose e fosfato
alternadas formavam um espiral da escada do DNA. Os degraus da escada são formados por pares
complementares de bases nitrogenadas, na qual adenina sempre emparelha com timina e guanina
sempre emparelha com citosina. Com o advento do conhecimento gerado pela genética, alguns
pesquisadores começaram a revisar os conceitos sobre a teoria da evolução proposta por Darwin e,
confirmaram que através dos mecanismos de mutação era possível espécies evoluirem. Com os
conhecimentos genéticos associados as teorias da seleção natural proposta por Darwin, chegamos
ao período que passamos a chamar de Neodarwinismo, que é a que estudamos atualmente e o que
nós temos de mais plausível. Além disso, a genética nos proporcionou novos conhecimentos sobre o
desconhecido mundo da expressão gênica, surgindo então a Epigenética, que nada mais é do que o
estudo de alguns mecanismos moleculares onde a expressão gênica é afetada através de
modificações do ambiente. E isso ocorre por que existe um processo chamado metilação, que nada
mais é do que a adição de um grupo metil (-CH3) em uma região específica do DNA. Nos lugares
onde esse grupo metil está ligado, não há a expressão gênica, pois ele não dá "espaço" para as
proteínas responsáveis pela transcrição realizarem sua função. Porém, a metilação do DNA
ocorrendo de forma errada pode acarretar em desordens sérias, como as síndromes de Angelman e
Prader-Willi. Pois bem, tanto as descobertas sobre o DNA no seéculo XX, mais os conhecimentos
Epigenetica nos dias atuais nos mostram o quanto ainda temos de conhecer sobre o DNA, ficando
neste momento uma pergunta. Quando iremos realmente conseguir desvendar todo o DNA?
1
Doutor em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva.
6
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
LICENCIAMENTO AMBIENTAL NO ESTADO DO AMAZONAS
JANAÍNA DE ALMEIDA ROCHA1
Apenas na década de 1960 que o termo “meio ambiente” foi usado pela primeira vez –
numa reunião do Clube de Roma1, cujo objetivo era a reconstrução dos países no pósguerra. Ali foi estabelecida a polêmica sobre os problemas ambientais. A avaliação e
priorização de projetos se encontravam extremamente limitados a uma análise
econômica, sem meios de identificar e incorporar as consequências ou efeitos
ambientais de um determinado projeto, plano ou programa que acarretassem
degradações ao bem estar social e ao seu entorno. Em junho de 1972, em Estocolmo, foi
realizada a I Conferência Mundial de Meio Ambiente com o objetivo de “estabelecer
uma visão global e princípios comuns, que sirvam de inspiração e orientação à
humanidade para preservação e melhoria do ambiente”, que resultou na declaração
sobre o Ambiente Humano, a qual, entre outras deliberações, determina: “...deve ser
confiada, às instituições nacionais competentes, a tarefa de planificar, administrar e
controlar a utilização dos recursos naturais dos Estados, com o fim de melhorar a
qualidade do meio ambiente”. O Licenciamento Ambiental é um instrumento da Política
Nacional de Meio Ambiente instituído pela Lei nº 6938, de 31 de agosto de 1981, com a
finalidade de promover o controle prévio à construção, instalação, ampliação e
funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais,
considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer
forma, de causar degradação ambiental. O processo de licenciamento ambiental tem
como principais normas legais a Lei nº 6938/81; a Resolução CONAMA1 nº 001, de 23
de janeiro de 1986, que estabeleceu diretrizes gerais para elaboração do Estudo de
Impacto Ambiental - EIA e respectivo Relatório de Impacto Ambiental – RIMA nos
processos de licenciamento ambiental; e a Resolução nº 237, de 19 de dezembro de
1997, que estabeleceu procedimentos e critérios, e reafirmou os princípios de
descentralização presentes na Política Nacional de Meio Ambiente e na Constituição
Federal de 1988. No seu Artigo 23 a constituição já previa a divisão de atribuições entre
União Estados e Municípios, sendo a regulamentação dada pela Lei complementar 140
Mestre em Ciências de Florestas Tropicais - Área de concentração Manejo Florestal Comunitário em
Unidades de Conservação pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA. Analista Ambiental
do Instituto de proteção ambiental do estado do Amazonas, pesquisadora associada do Laboratório de
Manejo Florestal do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Professora Efetiva Nível I e
Coordenadora-geral de Engenharias e Tecnologias da Universidade Nilton Lins - Manaus/AM
1
7
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
de 2011. No Amazonas o Licencimento ambiental;e regido pela Lei 3875/2012 e
Resolução CEMAAM nº15. Para a condução do Licenciamento Ambiental, foi
concebido um processo de avaliação preventiva que consiste no exame dos aspectos
ambientais dos projetos em suas diferentes fases. Com o Licenciamento ambiental,
procura-se deixar de dizer apenas o “não pode”, e mostrar a forma correta de “como
fazer”.
8
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
DESENVOLVENDO A METODOLOGIA CIENTÍFICA DAS PESQUISAS EM CIENCIAS
SOCIAIS
ERIK LIMA DE SOUZA 1
O objetivo deste minicurso é orientar os interessados em pesquisa na área das Ciências Humanas ou
Sociais a desenvolver uma metodologia científica que lhes proporcione um desenvolvimento
adequado da busca de evidências para sustentar hipóteses na resolução de um problema. Motivar
acadêmicos dos cursos da UNINILTON LINS a desenvolverem projetos de pesquisa, seja em
Iniciação Científica, seja em Trabalho de Conclusão de Curso, seguindo uma metodologia científica
que lhes permita testar e comprovar hipóteses no desenvolvimento de seu trabalho. Para tal
finalidade será abordado a definição do objeto de pesquisa, levantamento de hipóteses, abordagens
metodológicas e análise de dados, a pesquisa qualitativa em Ciências Sociais, a pesquisa
quantitativa em Ciências Sociais e pesquisa como fonte de conhecimento cotidiano e científico.
1
Professor M.sc. da Universidade Nilton Lins.
9
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
EDUCAR NA PERFIFERIA: UM DESAFIO PARA A ESCOLA DE HOJE
ROBERTO LUIZ ABTIBOL PORTO1
O presente curso intitulado Educar na periferia: um desafio para a escola de hoje tem por
objetivo fazer uma reflexão sobre como a educação na periferia está articulada a partir de elementos
desafiadores que entrecruzam a vida do educador na periferia. Com o advento das novas tecnologias
e maior exposição deste jovem a um número cada vez maior de informação, a vulnerabilidade do
aluno diante das drogas ocorre um forte apelo à novas maneiras de educar, que possa dar respostas
as novas necessidades deste aluno. Este, que está diante e de uma nova formatação familiar, faz-se
necessário escutar suas demandas e reconhecer suas marcas oriunda das camadas populares.
Interpretar o seu jeito de ser, conhecer o seu senso estético, suas representações, bem como,
perceber a maneira como cada um tem encontrado soluções aos seus problemas constitui um ponto
importante a ser colocado em pauta no debate atual da educação na periferia. A abordagem
metodológica desenvolve-se a partir de uma experiência prática da comunidade periférica do bairro
do Grande Vitória – zona Leste da Cidade de Manaus no Estado do Amazonas – de onde se
pretende trazer uma contribuição para a teoria. A ênfase aqui pretendida tem como foco o processo
de formação de professores de educação popular, e intenciona-se resgatar os laços identitários entre
a trajetória do educador, e os desafios assumidos pelos membros da comunidade escolar diante da
possibilidade do trabalho coletivo desenvolvido na comunidade. O caráter exemplar presente nas
práticas e nas manifestações cotidiana do espaço da sala de aula será fundamental para fazer a
relação teoria e prática com a contribuição de Paulo Freire a partir da metodologia da
problematização. A crítica produzida por Freire à escola tradicional, em sua obra Pedagogia do
Oprimido, assim como sua capacidade de dar ouvido aos clamores das camadas populares serão
elementos importantes para demonstrar através deste curso como é possível revirar a escola de
cabeça para baixo e repensar o espaço da sala de aula na periferia e torná-lo mais produtivo,
atraente, criativo e dinâmico. A formação de jovens na periferia dos grandes centros urbanos é,
hoje, uma temática importante para educação em nível nacional, posto que esta nos permita avaliar
a fragilidade das políticas adotadas na educação, bem como, construir um diagnóstico do papel que
a escola vem desenvolvendo e, sobretudo, no sentido de denunciar a precária formação destes
jovens no contexto da contemporaneidade.
1
Prof. M.Sc. em Educação-Universidade Nilton Lins.
10
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
AS NARRATIVAS DE HISTÓRIA DE VIDA: MÉTODO DE RESGATE NA
INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA
MARIA DO SOCORRO GONÇALVES DOS SANTOS1
O minicurso, intitulado “As narrativas de história de vida: método de resgate na investigação
científica”, objetiva apresentar as narrativas em relato oral ou escrito como método ou
procedimento de colheita ou coleta de dados em pesquisa, por meio da escuta ou leitura de relatos
de participantes de pesquisa científica, visando o resgate de trajetórias que constituem o Ser, seja
ele pessoal ou profissional. As narrativas fazem parte do método (Auto) Biográfico. É a narrativa
que confere papéis aos personagens de nossas vidas, que define posições e valores entre eles: é a
narrativa que constrói, entre as circunstâncias, os acontecimentos, as ações, as relações de causa, de
meio, de finalidades; [...] que compõe uma totalidade significante, na qual cada evento encontra seu
lugar, segundo sua contribuição na realização da história contada. [...] É a narrativa que faz de nós o
próprio personagem de nossa vida; [...] que dá uma história de nossa vida [...] (DELORYMOMBERGER, 2008, p. 37). Pesquisas realizadas na perspectiva da história de vida, utilizando as
narrativas como instrumentos de coleta, fazem emergir valores, crenças, hábitos, atitudes,
representações, opiniões e reflexões sobre fatos e processos particulares ao pessoal e ao coletivo,
pois o encontro entre o narrador e o investigador, exige uma relação aberta, possibilitando que o
narrador confie ao investigador o que constitui a malha da sua existência: sua história de vida. A
escolha da temática para este minicurso deu-se pela intenção de divulgar, a partir própria
experiência da pesquisadora/ministrante, este importante suporte para a teoria científica, por
considerar que se trata de mais um relevante suporte procedimental de investigação científica.
PALAVRAS-CHAVE: Método de Investigação Científica. (Auto) Biografia. História de Vida.
1
Professora Mestre em Educação. Especialista em Leitura e Produção Textual.
Universidade Nilton Lins
11
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
O COTIDIANO DO TRABALHO DOCENTE COMO CONSTRUTO PARA A
INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA
MÁRCIA MARIA BRANDÃO ELMENOUFI 1
Neste minicurso pretende-se fazer uma reflexão sobre a pesquisa-ação como instrumento de análise
do trabalho docente, abordando aspectos norteadores da referida metodologia, avaliando suas
implicações em relação ao cotidiano de sala de aula, evidenciando as estratégias de formação e de
aprendizagem profissional capaz de tornar o trabalho do professor mais crítico e coerente, além de
enfatizar a observação do cotidiano para a produção de conhecimento. A pesquisa-ação é uma
metodologia muito utilizada em projetos de pesquisa educacional. “Com a orientação metodológica
da pesquisa-ação, os pesquisadores em educação estariam em condição de produzir informações e
conhecimentos de uso mais efetivo, inclusive ao nível pedagógico” (THIOLLENT, 2002 apud
VAZQUEZ; TONUZ, 2006). A pesquisa-ação caracteriza-se, principalmente, pela colaboração e
negociação entre especialistas e práticos, integrantes da pesquisa. Três pontos são considerados na
pesquisa-ação: caráter participativo, impulso democrático e contribuição à mudança social. Os
benefícios dessa modalidade de instrumento de pesquisa são significativos, entre os quais se
destacam os processos de autoconhecimento e o enfoque à educação, informando e auxiliando em
transformações.
1
Profa. M.Sc. Da Universidade Nilton Lins.
12
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
MÚSICA E MOVIMENTO: PONTES PARA A OBSERVAÇÃO DO APRENDIZADO
MARIA DE NAZARÉ BARROSO DA SILVA1
O objetivo do minicurso é trabalhar música e movimento no processo ensino-aprendizagem
da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, utilizando o recurso como
pontos de observação de cunho científico, para a detecção de problemas de socialização,
deficiência na psicomotricidade entre outros. A Educação Infantil e os Anos Iniciais do
Ensino Fundamental são momentos importantes no desenvolvimento físico e mental da
criança. Por isso é imprescindível trabalhar com música e movimento, onde se está usando o
lúdico como ferramenta do processo do ensino e da aprendizagem. A música acalma e
proporciona momentos de socialização, recreação e harmonia entre os grupos. Interagindo a
música e o movimento, estamos socializando a participação das crianças no mundo da
imaginação criadora. Também facilita o desenvolvimento das habilidades de raciocínio,
transformando o aprendizado em ato prazeroso, significativo e útil. Com a experiência
vivenciada em turmas de Educação Infantil e Anos Iniciais, foi possível observar que as
crianças, quando estão cantando e acompanhado uma coreografia, estão concentradas
desenvolvendo a atenção, memória, relações espaciais, expressão e comunicação. As danças
e as brincadeiras fazem parte do cotidiano dos alunos da Educação Infantil e Anos iniciais do
Ensino Fundamental. É através da dança que eles poderão conhecer os vários movimentos
como, por exemplo, o expressivo leve/pesado, forte/fraco, rápido/lento, fluido/interrompido,
intensidade, duração, direção. Quando esses aspectos não ocorrem nesse tipo de atividade, o
professor, numa atitude reflexiva, analisando sobre o que foi observado e poderá recorrer às
alternativas de solução para o problema. Considera-se, pois, de grande relevância o trabalho
com música e movimento como instrumentos de coleta na investigação científica, por
proporcionar momentos de espontaneidade dos sujeitos, possibilitando uma aproximação mais
concreta entre o pesquisador e o seu objeto de estudo e, consequentemente, a busca de
respostas satisfatórias para a solução de problemas detectados.
1
Professora M.Sc. Da Universidade Nilton Lins.
13
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
O DESENHO DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO: CONHECENDO AS FERRAMENTAS DO
PROJETO DE PESQUISA
MARCIO GONÇALVES DOS SANTOS1
A construção do Projeto de Pesquisa Científico tem se tornado um dos grandes obstáculos na
Universidade. Um dos fatores que contribuem para esse entrave é a organização cognitiva do
projeto (campo psicológico da atividade intelectual do processo de produção: gerar, selecionar e
organizar ideias; esboçar em uma primeira versão; revisar; editar em uma versão final), sendo
considerada na atualidade, a essência desse gênero científico. Produzir textos escritos é um ato
complexo, pois envolve o desenvolvimento da capacidade de coordenar e integrar operações de
vários níveis e conhecimentos diversos: linguísticos, cognitivos e sociais. Esse curso objetiva
ampliar e potencializar o olhar acadêmico para as ferramentas de um bom projeto de pesquisa a
começar por seu Desenho, promovendo, dessa forma, o desenvolvimento do raciocínio e
criatividade científica. Estes itens são os promotores para o delineamento da estética do
conhecimento, pois uma pesquisa “bonita” não se constrói por seu caráter inédito e, sim, pela
proposta de criação do pesquisador. Foram a partir do acompanhamento das aulas de pesquisa
aplicada e orientação de TCC que se verificou a necessidade de um esboço, um sumário, um
diagrama, um brainstorm, um esquema, um mapa mental, como versões preliminares à produção da
escrita dos projetos científicos ou, até mesmo, de outros gêneros. É o caso do artigo científico ou
monografia. A metodologia adotada para esse curso constitui-se em identificar o objeto de estudo
para em seguida tomar a decisão sobre qual o desenho, dentre os citados, será adotado pelo
participante. Essa etapa do desenho é uma das mais importantes porque auxiliará o alunopesquisador a construir a unidade do projeto, encadeando todos os elementos necessários a sua
produção textual, tecendo-o sem perder o fio que une o pensamento e o raciocínio lógico-científico.
Após a construção individual dos desenhos, será oportunizado aos participantes compartilharem
seus trabalhos para que possam tanto se autoavaliar como apreciar e aprender com seus pares a
lógica de construção adotada por cada um, expondo suas impressões e, portanto, adquirindo
destreza e percepção científica.
PALAVRAS-CHAVE: Desenho da Pesquisa. Organização Cognitiva. Projeto de Pesquisa.
Educação.
1
Professor, Psicólogo, Mestre em Educação-UNINILTONLINS.
14
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
ATIVIDADE ANTIFÚNGICA DO EXTRATO VEGETAL DE Piper alatipetiolatum SOBRE
O FUNGO Alternaria solani
MARILENA MENDES RIBEIRO1; SIMONE BRAGA CARNEIRO2; ANDRE CORREA DE
OLIVEIRA3; AARON FERREIRA MACHADO4; WILSON CASTRO SILVA5
RESUMO: O uso indiscriminado de agrotóxicos tem ocasionado diversos problemas ambientais, além de encarecer a
produção agrícola de alimentos. Os princípios ativos encontrados nas plantas são uma alternativa de interesse
econômico e ecológico bastante promissor, para substituir ou minimizar o uso de produtos sintéticos no campo. O
objetivo deste trabalho é avaliar a atividade antifúngica do extrato vegetal de Piper alatipetiolatum sobre o fitopatógeno
Alternaria solani, causador da pinta preta, que é a doença mais grave do tomateiro (Lycopersicon esculentum). As
folhas de P. alatipetiolatum foram coletadas no Horto da Universidade Nilton Lins, no município de Manaus-AM,
foram secas em estufa a 40 °C durante cinco dias e, em seguida, trituradas. A extração foi realizada em aparelho tipo
Soxhlet durante 12 horas. Foram utilizados 200g de plantas trituradas e 3L de solvente etanol. Após a extração, o
solvente foi evaporado por meio de evaporador rotativo para obtenção do extrato bruto. O isolamento do fungo foi
realizado por meio do isolamento direto e a identificação foi realizada por meio de microcultura. O extrato vegetal, nas
concentrações de 1, 25, 50, 75 e 100mg.mL -1, foi utilizado sobre o fitopatógeno A. solani, para avaliação da inibição do
crescimento. A análise dos dados foi realizada por meio do teste de Análise de Variância, seguido do teste de Tukey (α
= 0,05). O isolado A. solani apresentou coloração marrom-escura a negra. Os conidióforos apresentaram estrutura
simples, conídios tipicamente com septos transversais e dois longitudinais. Observou-se que o extrato vegetal de P.
alatipetiolatum apresentou inibição sobre o crescimento do fungo A. solani em todas as concentrações avaliadas.
PALAVRAS-CHAVE: Alternaria solani. Piper alatipetiolatum. Extrato vegetal. Fitopatógeno.
Antifúngico.
INTRODUÇÃO
O fungo Alternaria solani é o agente causal da pinta preta, doença considerada como a mais
importante e frequente na cultura do tomateiro no Brasil, caracterizando-se pelo seu alto potencial
1
Acadêmico da Universidade Nilton Lins Endereço: Av. Professor Nilton Lins, 3259. Parque das Laranjeiras - CEP:
69058-030 - Telefone: (92)3643-2000 - MANAUS (Amazonas). E-mail:[email protected]
2
Mestranda do Mestrado acadêmico em Biologia Urbana da Universidade Nilton Lins Endereço: Av. Professor Nilton
Lins, 3259. Parque das Laranjeiras - CEP: 69058-030 - Telefone: (92)3643-2000 - MANAUS (Amazonas). Email:[email protected]
3
Mestrando do Mestrado acadêmico em Biologia Urbana da Universidade Nilton Lins Endereço: Av. Professor Nilton
Lins, 3259. Parque das Laranjeiras - CEP: 69058-030 - Telefone: (92)3643-2000 - MANAUS (Amazonas). E-mail:
[email protected]
4
Doutorando em Biologia Urbana na Universidade Nilton Lins Endereço: Av. Professor Nilton Lins, 3259. Parque das
Laranjeiras - CEP: 69058-030 - Telefone: (92)3643-2000 - MANAUS (Amazonas). E-mail: [email protected]
5
Doutor/Professor da Universidade Nilton Lins Endereço: Av. Professor Nilton Lins, 3259. Parque das Laranjeiras CEP: 69058-030 - Telefone: (92)3643-2000 - MANAUS (Amazonas). E-mail: [email protected]
15
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
destrutivo, podendo incidir sobre folhas, hastes, pecíolos e frutos, ocasionando elevados prejuízos
econômicos (BALBI-PEÑA et al., 2006).
O tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.) é uma das principais hortaliças de valor
econômico no mundo e é a segunda solanácea mais cultivada, sendo superada apenas pela batata. A
espécie está sujeita a várias doenças que comprometem seu desenvolvimento, dentre elas: a pinta
preta, causada pelo fungo A. solani, que se caracteriza como a doença mais frequente em cultivos de
diversas regiões brasileiras (ABREU, 2006).
O fitopatógeno A. solani encontra-se entre os patógenos mais destrutivos e de difícil
controle presentes nas lavouras brasileiras de diversas culturas (DILL, 2009), principalmente, no
tomateiro, o que resulta no uso exagerado de agrotóxicos.
O emprego de agrotóxicos na agricultura tem ocasionado riscos à saúde humana e frequentes
danos ao meio ambiente (SILVA et al., 2012). Os princípios ativos encontrados nas plantas é uma
alternativa de interesse econômico e ecológico bastante promissor, para substituir ou minimizar o
uso de produtos sintéticos no campo (SOUZA et al., 2008). Espécies vegetais brasileiras são
usualmente utilizadas como antifúngicos e é notório que o Brasil, devido à sua diversidade vegetal,
é um país conhecido mundialmente pela variedade de produtos com propriedades medicinais,
largamente utilizados em suas diversas regiões (BOTELHO et al., 2007).
Considerando o efeito dos extratos vegetais sobre o desenvolvimento de fitopatógenos e a
importância da doença causada por A. solani em diversos sistemas agrícolas, o presente trabalho
objetivou avaliar in vitro o efeito do extrato de Piper alatipetiolatum no controle do patógeno A.
solani.
MATERIAL E MÉTODOS
Local do experimento
Os experimentos foram realizados no laboratório de Bioatividade de Plantas da Amazônia
da Universidade Nilton Lins.
Coleta e processamento do material botânico
As folhas da espécie P. alatipetiolatum foram coletadas no mês de agosto de 2012 no Horto
da Universidade Nilton Lins (Latitude 3° 3’38.393” S e Longitude 60° 00’32.754” W). As folhas
foram lavadas em água corrente, expostas para secar em estufa de circulação forçada de ar, à
temperatura de 40 °C, durante cinco dias e, em seguida, trituradas.
16
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Elaboração do extrato vegetal
A extração foi realizada utilizando o método de extração em aparelho tipo Soxhlet (Soxhlet,
1879) durante 12 horas. Foram utilizados 200g de plantas trituradas e três litros de solvente etanol.
Após a extração, o solvente foi evaporado por meio de evaporador rotativo para obtenção do extrato
bruto.
Isolamento do fitopatógeno
As folhas do tomateiro contendo os sintomas do fitopatógeno A. solani foram visualizadas
em microscópio, onde se constatou os esporos do fungo. Os esporos foram transferidos para placas
de Petri contendo o meio de cultura BDA (batata-dextrose-ágar), as quais foram incubadas a 28 ºC e
fotoperíodo de 12 horas durante sete dias.
Identificação do fungo Alternaria solani por microcultura
Sobre lâmina limpa e esterilizada foi colocado um fragmento de meio de cultura BDA com
1cm de área e 2mm de espessura. Esporos ou fragmentos miceliais do isolado fúngico foram
repicados para o centro de cada face lateral do bloco de meio de cultura, em seguida cobertos
imediatamente com lamínula. O material permaneceu suspenso sob um bastão de vidro em formato
de V dentro de uma placa de Petri contendo no fundo papel filtro umedecido formando dessa forma
uma câmera úmida. Após sete dias, a lâmina e lamínula apresentaram vestígios de crescimento do
fungo. Foi retirada a lâmina da câmara úmida e removida a lamínula que foi depositada sobre outra
lâmina previamente preparada com líquido lactofenol, para visualização por microscopia.
Avaliação da atividade antifúngica
A cultura estoque do micro-organismo teste foi obtida em meio de cultura BDA a 28 ºC
durante sete dias. Desta suspensão, as células foram retiradas com um swab estéril e,
posteriormente, inoculadas em placas de Petri contendo meio de cultura BDA, formando uma
camada uniforme.
Nas culturas do fungo selecionadas para os testes em placa de Petri, foi feito um poço no
meio de cultura por placa, utilizando um tubo de ensaio esterilizado de 8 mm de diâmetro. Em cada
poço foi colocado extrato vegetal nas concentrações de 1, 25, 50, 75 e 100 mg.mL-1; um poço por
placa foi utilizado como controle negativo, no qual foi colocada solução 5% (v/v) de Tween-80; e
em um poço na placa de Petri foi utilizado nistatina como controle positivo. Em seguida, as placas
17
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
de Petri foram incubadas a 28 ºC por sete dias. A atividade antifúngica foi determinada em
milímetro, medindo-se o diâmetro do halo pelo reverso da placa de Petri (TELLES; MOSCA,
2000).
Análise estatística
O delineamento foi inteiramente casualizado, com cinco tratamentos, três repetições mais
dois grupos controle, perfazendo um tamanho amostral (n = 21). Os dados foram analisados por
meio de teste de Análise de Variância (ANOVA) e as médias comparadas pelo teste de Tukey (α =
0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos no isolamento e identificação de A. solani (Figura 1) foram
compatíveis com o trabalho de Barnett e Hunter (1998), no qual os isolados fúngicos em placa de
Petri apresentaram micélio e esporos de coloração marrom-escura a negra. Os conidióforos
possuem coloração castanho-escuro a marrom sendo a maioria de estrutura simples, bastante curta e
alguns alongados; conídios marrom-claros a negros, tipicamente com septos transversais e dois
longitudinais; possuem forma elíptica ou ovóide, freqüentemente suportados no apêndice apical
com estrutura simples ou ramificada. Os resultados alcançados na identificação do fitopatógeno
também foram compatíveis com o trabalho de Simmons (2000), os conídios quando jovens são
alongados a ovoides com septos variando de três a seis. Quando maduros possuem de 10 a 11
septos transversais e um a dois longitudinais. São lisos e tipicamente ovoides e tem coloração
marrom. O bico possui de 5 a 8 µm de largura e de 40 a 80 µm de comprimento, podendo atingir até
150 µm. Conídios com um único bico afilado são predominantes na população de A. solani, porém,
ocorrem conídios com dois bicos e, raramente, com três bicos. Os conídios são inseridos em
conidióforos septados, retos ou sinuosos, geralmente com 50 x 10 µm e apresentam coloração
similar a dos conídios (Figura 2).
18
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Figura 1 – Isolado de A. solani em placa de Petri. Foto: Carneiro, B.S. (2013)
Figura 2 – Conídios e conidióforos de A. solani. Foto: Carneiro, B.S. (2013)
O extrato etanólico de P. alatipetiolatum apresentou atividade sobre o fitopatógeno A. solani
(Figura 1). Resultados semelhantes foram reportados no trabalho de Abreu (2006), o qual avaliou a
atividade do óleo essencial de P. hispidinervum sobre o fungo A. solani, observando os coeficientes
19
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
angulares do crescimento micelial do fitopatógeno, e verificou que a concentração de 1000µl.L-1
inibiu o crescimento micelial.
Figura 1 – Inibição do crescimento do fitopatógeno A. solani medidos por meio do diâmetro do halo em
placa de Petri.
As plantas do gênero Piper apresentam potencial fungicida, como observado neste trabalho
e relatada em várias pesquisas realizadas por diversos autores, como Bastos e Albuquerque (2004)
que evidenciaram atividade inibitória do óleo essencial de Piper aduncum contra Crinipelis
perniciosa ; Hanada et al. (2004), os quais verificaram inibição parcial da germinação de conídios de
Mycosphaerella fijiensis utilizando óleo essencial de Piper hispidinervum; e Navickiene et al.
(2006), os quais avaliaram a atividade fungicida de óleo essencial de Piper aduncum, Piper
arboreum e Piper
tuberculatum sobre Cladosporium sphaerospermum e Cladosporium
cladosporioides, observando potencial fungicida destas piperáceas.
CONCLUSÃO
Os resultados obtidos neste trabalho, em relação ao isolamento, identificação e atividade
fungicida da espécie P. alatipetiolatum, apresentam perspectiva para novos estudos observando a
base fitoquímica para isolamento e identificação de compostos ativos, que possam ser utilizados
contra este micro-organismo.
20
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
REFERÊNCIAS
ABREU, M.L.C. Controle de Alternaria solani em tomateiro (Lycopersicon esculentum) com óleos
essenciais. 2006. 14p. Tese (Doutorado em Agronomia) – Faculdade de Ciências Agronômicas da
UNESP, Botucatu- São Paulo. 1998.
BALBI-PEÑA, M.I. Controle de Alternaria solani em tomateiro por extratos de curcuma longa e
curcumina - II. Avaliação in vivo. Fitopatologia Brasileira , Brasília. v. 31, p. 401-404. 2006.
BARNETT, L. H.; HUNTER B. B. Illustrated Genera of Imperfect Fungi. The American
Phytopathological Society, St. Paul, Monnesota, 1998, p. 132.
BASTOS, C.N.; ALBUQUERQUE, P.S.B. Efeito do óleo de Piper aduncum no controle em póscolheita de Colletotricum musae em banana. Fitopatologia Brasileira. v. 29, p. 555-557. 2004.
BOTELHO, M. A.; NOGUEIRA, N. A.; BASTOS, G.M.; et al. Antimicrobial activity of the
essential oil from Lippiasiloides, carvacrol and thymol against oral pathogens. Brazilian Journal of
Medical Biological Research. v. 40, p. 349-56. 2007.
DILL, A. M. Extratos vegetais no controle da pinta preta (Alternaria solani) em tomateiro. 2009.
55p. Dissertação (Mestrado em Agronomia) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.
2009.
HANADA, R.E.; GASPAROTTO, L.; PEREIRA, J.C.R. Eficiência de desinfestantes na
erradicação de conídios de Mycosphaerella fijiensis aderidos à superfície de bananas. Fitopatologia
Brasileira. v. 29, p. 94-96. 2004.
NAVICKIENE, H.M.D.; MORANDIM, A.A.; MARQUES, M.O.M.; et al. Composition and
antifungal activity of essential oils from Piper aduncum, Piper arboreum e Piper tuberculatum.
Quimica Nova. v. 29, p. 467-470. 2006.
SILVA, L, J.; TEIXEIRA, V. N. R.; SANTOS, P. I. D.; et al. Atividade antifúngica de extratos
vegetais sobre o crescimento in vitro de fitopatógenos. Revista Verde. Rio Grande do Norte. v. 7, p.
80-86. 2012.
SIMMONS, E. G. Alternaria themes and variations (244-286), species on Solanaceae. Mycotaxon,
Ithaca. v. 56, p. 1-115. 2000.
SOUZA, T.J.T.; APEl, M.A.; BORDIGNON, S.A.L.; et al. Composição química e atividade
antioxidante do óleo volátil de Eupatorium ivifolium L. e Eupatorium inulifolium HBK. XXIX
Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química. Anais. Águas de Lindóia. v.18, p. 28-36, 1994.
21
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
TELLES, M.A.S.; MOSCA, A. Avaliação da técnica de microdiluição em placa para determinação
de concentração inibitória mínima da isoniazida em cepas de Mycobacterium tuberculosis. Revista
Adolfo Lutz, v. 59, p. 15-19, 2000.
22
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE LARVICIDA DE EXTRATOS DE Piper marginatum
(PIPERACEAE) NO CONTROLE DE Aedes aegypti (DIPTERA‫ ׃‬CULICIDAE) EM
LABORATÓRIO
GUILHERME DOS SANTOS ALCÂNTARA1; ANDRÉ CORREA DE OLIVEIRA2; WILSON
CASTRO SILVA3; ROSEMARY APARECIDA ROQUE4
RESUMO: O Aedes aegypti é um mosquito originário da África, vetor da dengue e da febre amarela urbana, sendo
responsável por epidemias em vários países de clima tropical e subtropical. Objetivou-se com este trabalho avaliar a
atividade larvicida do extrato etanólico de Piper marginatum sobre A. aegypti. As folhas da espécie vegetal foram
lavadas, secas e trituradas até a obtenção do pó. A extração foi realizada pelo método de maceração, utilizando um
frasco Mariotti de 4L, nos quais foram colocados 100g do pó e 1L de solvente etanol, para o processo de maceração
durante 24 horas. Após a extração, o extrato foi filtrado e colocado em evaporador rotativo para eliminação do solvente
e obtenção do extrato bruto. Para os bioensaios laboratoriais, foram utilizadas 300 larvas de A. aegypti, as quais foram
divididas em grupos de 10, colocadas em Becker de 250 mL, contendo 50 mL de água destilada e tratadas com o extrato
etanólico nas concentrações de 1, 25, 50, 75 e 100 mg.mL-1. As taxas de mortalidade foram avaliadas de 12h em 12h,
durante 72h. O delineamento utilizado foi com cinco tratamentos, cinco repetições, mais um grupo controle. Os dados
foram analisados por meio de Análise de Variância, seguido do teste de Tukey (α = 0,05). O extrato etanólico de P.
marginatum induziu a mortalidade de 100% de larvas de A. aegypti em 12 horas de experimento.
PALAVRAS-CHAVE: Mosquitos. Vetor. Dengue. Controle biológico. Inseticidas.
INTRODUÇÃO
Aedes aegypti (LINNAEUS, 1762) é um mosquito de origem africana, encontrado,
principalmente, em países de clima tropical e subtropical. É o principal vetor da febre amarela
urbana e da dengue em mais de 100 países, é um inseto holometábolo passando pelas fazes de ovo,
larva, pupa e adulto (FONLEY et al., 2007). Este culicídeo apresenta maior distribuição em
ambientes urbanos, ricos em criadouros artificiais gerados pelos aglomerados de residências e
acúmulo de lixo, as fêmeas desta espécie são vetores dos quatro sorotipos (DENV-1, DENV-2,
DENV-3 e DENV-4) do vírus da dengue e também do vírus da febre amarela em seu ciclo urbano
(MS, 2008). A transmissão de ambas as doenças para os humanos ocorre a partir da picada da
fêmea previamente infectada com o vírus do gênero Flavivirus (FORRATINI; MASSAD, 1998). A
Dengue é caracterizada como uma das principais arboviroses de repercussão mundial. (FONLEY et
1 Acadêmico de Medicina da Universidade Nilton Lins - Laboratório de Entomologia Aplicada. Av. Professor Nilton
Lins, 3259, Manaus, AM. CEP: 69058-30. E-mail: [email protected]
2
Mestrando em Biologia Urbana da Universidade Nilton Lins – Laboratório de Bioatividade de Plantas da Amazônia,
Laboratório de Entomologia Aplicada. Av. Professor Nilton Lins, 3259, Manaus, AM. CEP: 69058-30. E-mail:
[email protected]
3 Doutor da Universidade Nilton Lins - Laboratório de Bioatividades de Plantas da Amazônia. Av. Professor Nilton
Lins, 3259, Manaus, AM. CEP: 69058-30. E-mail: [email protected]
4 Doutora da Universidade Nilton Lins – Laboratório de Entomologia Aplicada. Av. Professor Nilton Lins, 3259,
Manaus, AM. CEP: 69058-30. E-mail: [email protected]
23
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
al., 2007; CDC, 2008). Os inseticidas sintéticos utilizados indiscriminadamente no controle de A.
aegypti já não se mostram tão eficientes, devido à resistência adquirida pelos mosquitos a esses
produtos, sendo registrados vários casos (FERREIRA et al., 2012). Devido a este e outros fatores,
novas formas de controle tem sido desenvolvidas nos últimos anos, visando reduzir os riscos de
propagação de vetores e efeitos nocivos produzidos pelos inseticidas sintéticos (MS, 2011).
Algumas plantas, ao longo de sua evolução, desenvolveram suas próprias defesas, sintetizando
substâncias com atividade tóxica contra insetos, podendo em alguns casos matá-los e, em outros,
apresentar ação repelente (EMBRAPA, 2008). A família Piperaceae é conhecida tradicionalmente
como aromática. O gênero Piper , o mais representativo da família, comum em matas de galeria,
inclui espécies já conhecidas como produtoras de extratos e óleo essencial (ROEL, 2001).
Objetivou-se com este trabalho avaliar a atividade larvicida de extratos de Piper marginatum sobre
A. aegypti em laboratório.
MATERIAL E MÉTODOS
Local do experimento
O estabelecimento e manutenção da colônia de Aedes aegypti foram realizados no
laboratório de Entomologia Aplicada e as extrações e os bioensaios foram realizados no laboratório
de Bioatividades de Plantas da Amazônia da Universidade Nilton Lins.
Coleta e identificação do material botânico
As folhas de Piper marginatum foram coletadas no Horto da Universidade Nilton Lins
(Latitude 3° 3’38.029” S, Longitude 60° 00.404” W).
Processamento do material botânico
As folhas de P. marginatum foram separadas, manualmente, dos galhos e lavadas em água
corrente. Posteriormente, foram colocadas em bancada no laboratório, à temperatura de 17 ºC,
durante 24h, para a eliminação total da água resultante da lavagem e, em seguida, colocadas em
estufa de circulação forçada de ar a 40 oC, para secagem, durante cinco dias. Após esse processo,
foram trituradas em liquidificador, obtendo-se o pó das folhas.
Elaboração do extrato vegetal
Para elaboração do extrato vegetal, 100g do pó das folhas de P. marginatum e 1L de solução
hidroalcoólica etanol (95,57%) e água (4,43%) foram colocados em frasco Mariotti de 4L para
24
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
maceração durante 24 horas. Posteriormente, a solução foi filtrada e coada ocorrendo a separação da
parte sólida da líquida. Sequencialmente, a solução obtida foi colocada em um evaporizador
rotativo (modelo TECNAL 210) a 78.2ºC, para evaporação do solvente e obtenção do extrato bruto.
Coleta dos ovos, estabelecimento e manutenção de colônia de Aedes aegypti
A colônia de A. aegypti utilizada nos bioensaios foi mantida no laboratório a temperatura de
27 ± 1 °C, umidade relativa de 75 a 80% e 12L:12E de fotoperíodo (ROQUE; EIRAS 2008). Papéis
de filtro contendo ovos de A. aegypti foram colocados em potes plásticos de 500mL com água
desclorada até a eclosão das larvas. Posteriormente, as larvas foram transferidas para recipientes
plásticos retangulares (20x30cm) com aproximadamente 5 cm de profundidade de água desclorada,
sendo alimentadas com dieta em pó, que consiste de uma ração de camundongo triturada,
autoclavada e peneirada, até atingirem o estágio de pupa. As pupas foram retiradas diariamente das
cubas de criação e transferidas para as gaiolas de polipropileno (30x30x30cm) com tela fina, até
ocorrer à emergência dos adultos. Os mosquitos adultos foram mantidos nestas gaiolas e receberam
solução açucarada (10% sucrose), como alimento. Para a manutenção da colônia e para os
bioensaios, as fêmeas receberam o repasto sanguíneo em camundongo anestesiado (Thiopental
sódico). No interior das gaiolas foram colocados recipientes de oviposição (potes plásticos de 100
mL) contendo água desclorada e papel de filtro para a postura de ovos. Os papéis filtro contendo os
ovos retirados dos recipientes de oviposição foram mantidos em recipientes plásticos retangulares
(15x26x10cm) com tampa em câmara de ambientação (BOD) com umidade relativa de 75 a 80%.
Visando manter a umidade relativa adequada para a conservação dos ovos, um frasco contendo
solução de KOH (10%) foi colocado no interior destes recipientes (CONSOLI; De-OLIVEIRA,
1994).
Bioensaios
Os bioensaios foram realizados utilizando larvas do estádio 3º estádio. Trezentas larvas, por
tratamento, foram divididas em grupos de dez e colocadas em 30 Beckers (250mL), contendo 50
mL de água destilada e 0,5 mL de extrato de P. marginatum. As concentrações utilizadas nos
tratamentos foram: 1, 25, 50, 75 e 100 mg.mL-1 e no grupo controle água destilada e Tween-80. O
delineamento constou de cinco tratamentos, cinco repetições e um grupo controle (n = 30). Os
tratamentos foram mantidos em câmaras de ambientação (BOD) à temperatura 28 ºC e umidade do
ar de 80%. As larvas foram alimentadas com 100 g de ração de camundongo a cada 48 horas. A
25
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
resposta à exposição das larvas aos extratos foi avaliada a cada 12 horas, durante o período de
tempo de 72 h, registrando a mortalidade das larvas frente aos diferentes tratamentos e tempos de
exposição avaliados. As larvas mortas foram conservadas para posterior estudo morfofuncional.
Análise estatística
Os dados foram colocados em planilha do Excel e o programa estatístico Bioestat for
Windows versão 5.0 (AYRES et al., 2007) foi utilizado para análise dos dados. Análise de
Variância (ANOVA) foi utilizada para comparar os diferentes tratamentos avaliados e o teste Tukey
foi utilizado para comparação das médias em nível de significância (α = 0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O extrato etanólico de P. marginatum apresentou efeito larvicida contra larvas de A. aegypti
em todas as concentrações testadas, com resultados significativos na concentração de 50 mg/ml-1
obtendo 100% de mortalidade em 12 horas de experimento (Figura 1), demonstrando ser uma
alternativa viável no controle do vetor. Resultados semelhantes foram obtidos nos trabalhos
realizados por Santos et al. (2009), os quais avaliaram a atividade larvicida de extratos das sementes
de Moringa oleifera sobre larvas de A. aegypti, observando 100% de mortalidade das larvas durante
24 horas.
Resultados obtidos nesta pesquisa, referente à mortalidade de A. aegypti (100%) diferiram,
em valores observacionais, dos encontrados por Moura et al. (2008), os quais avaliaram a atividade
do extrato de Myracrodruon urundeuva sobre larvas de A. aegypti, nas concentrações 20, 25 e 30
mg/mL-1, verificando mortalidade de 60, 70 e 80% de larvas, respectivamente, no período de tempo
de 24 horas. Observa-se que a concentração do extrato utilizado neste trabalho for maior que a
utilizada pelos autores referenciados. Entretanto, verificou-se maior eficácia do extrato etanólico de
P. marginatum em relação ao extrato de M. urundeuva , considerando o percentual de mortalidade
em relação ao tempo. Resultados semelhantes também foram encontrados por Cavalheiro et al.
(2009), os quais utilizaram extrato etanólico de sementes de Caesalpinia ferrea , espécie da família
Leguminosae, verificando que esse extrato induziu a mortalidade de 80% de larvas de A. aegypti
após 24 horas do início do experimento.
26
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
120
a a
Mortalidade (%)
100
a
80
1 mg.mL-1
60
b
25mg.mL-1
50mg.mL-1
40
75mg.mL-1
20
100mg.mL-1
0
12h
24h
36h
48h
60h
72h
Tempo
Figura 1 - Percentual de Mortalidade das larvas de A. aegypti expostas ao extrato de P. marginatum
CONCLUSÃO
O extrato etanólico de Piper marginatum apresentou o potencial larvicida para larvas de
Aedes aegypti, o que ressalta sua importância como uma alternativa no controle deste vetor. Estes
resultados são promissores e possibilitam a realização de estudos fitoquímicos, a fim de isolar e
elucidar as estruturas bioativas e, também, avaliar a atividade biológica de P. marginatum sobre
outros vetores de importância agrícola e médica.
REFERÊNCIAS
CAVALHEIRO, M.G.; FARIAS, D.F.; FERNANDES, G.S.; et al. Atividade biológica e
enzimáticas do extrato aquoso de sementes de Caesalpinia ferrea Mart., Leguminosae. Revista
Brasileira de Farmacognosia , v. 19(2), p. 586-591, 2009.
CDC (Centers for Disease Control and Prevention). Dengue, tropical and subtropical regions.
Disponível em: <http://www.cdc.gov/travel/contentDengueTropicalSubTropical.aspx>. Acesso em
03 dez. 2008.
CONSOLI, R.A.G.B.; de-OLIVEIRA, R.L. Principais Mosquitos de Importância Sanitária no
Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1994, 228p.
FERREIRA, B.J.; SOUZA, M.F. M.; FILHO, A.M.S.; et al. Evolução histórica dos programas de
prevenção e controle da dengue no Brasil. Ciências & Saúde Coletiva , v. 14(3), p. 961-972, 2012.
FOLEY, D.H.; RUEDA, L.M.; WILKERSON, R. Insight into global mosquito biogeography from
country species records. Jornal de Medicina Entomológica , v. 44, p. 554-567, 2007.
27
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
FORATTINI, O.P.; MASSAD, E. Culicidae vectors and anthropic changes in a southern Brazil
natural ecosystem. Ecosystem Health, v. 4, p. 9-19, 1998.
MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS). Disponível (online) <http://www.saude.gov.br> Acessado em: 03
de julho de 2011.
MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS). Dengue manual de enfermagem adultos e crianças. 1ª ed:
Brasília DF. 2008.
MOURA, K.S.; BIEBER, L. W. Avaliação da ação larvicida de extratos de preparações lectínicas
de entrecasca e folhas de Myracrodruon urundeuva. XVI – COINC – Congresso de Iniciação
Científica – UFPE. 2008.
ROEL, A.R. Utilização de plantas com propriedades inseticidas: uma contribuição para o
desenvolvimento rural sustentável. Revista Internacional de Desenvolvimento Local, v.1, p.43-50,
2001.
SANTOS, N.D.L.; GOMES, F.S.; COELHO, J.S.; et al. Atividade larvicida de lectina solúvel em
água de sementes de Moringa oleifera sobre Aedes aegypti. Encontro Nacional de Moringa .
Setembro de 2009 – Aracaju – Sergipe, 2009.
VALADARES, F.A.; FILHO, J.R.; PELUZIO, J.M. Impacto da dengue em duas principais cidades
do estado de Tocantins: infestação e fator ambiental (2000 a 2010). Epidemiologia Serviços de
Saúde, v. 22(1), p. 56-66, 2013.
28
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
AVALIAÇÃO ENDÓCRINA DE PACIENTES PORTADORES DE
MUCOPOLISSACARIDOSES EM MANAUS-AM
SAMARAH PAULA NASCENTE JORCELINO1; JOSÉ MARIA CABRAL2
RESUMO: As mucopolissacaridoses são doenças decorrentes de mutações que impedem a expressão de genes que
codificam enzimas responsáveis pela digestão hidrolítica de moléculas de glicoaminoglicanos. O acúmulo de substrato
nos lisossomos danifica as células e compromete a função de tecidos e órgãos, definindo quadros clínicos de fenótipos
variados. Constituem síndromes raras, de grande morbidade e de desfecho letal precoce. Sete diferentes tipos de MPSs
foram descritos até o momento, três das quais dispõem de tratamento de reposição enzimática capaz de alterar a história
natural de pacientes, quando introduzido precocemente. O presente estudo teve como objetivo avaliar alterações
endócrinas de síndromes designadas MPS I (Hurler-Scheie), II (Hunter) e VI (Maroteaux-Lamy) por terem sido
diagnosticadas em pacientes amazonenses, a partir da confirmação laboratorial de deficiência enzimática específica.
Para tal finalidade, dados clínicos obtidos de oito pacientes, complementados pelos resultados de exames bioquímicos e
de imagens, permitiram a identificação de doenças endócrinas com destaque para a baixa estatura e atraso de idade
óssea, obesidade, dislipidemia e hipogonadismo primário e secundário. Este estudo abre perspectivas para novas
pesquisas. A ampliação das dosagens hormonais, o emprego de testes dinâmicos e a introdução de exames de imagens
mais precisos, poderão permitir a identificação de outras endocrinopatias e o aprofundamento dos caminhos
fisiopatológicos em novos casos.
PALAVRAS-CHAVE: Mucopolissacaridoses. Enzimas. Hormônios. Doenças endócrinas.
INTRODUÇÃO
As mucopolissacaridoses (MPS) constituem erros inatos do metabolismo agrupados no
capítulo das doenças de depósito lisossômico (HOPWOOD et al. 1997; MEIKLE 1999). São
enfermidades genéticas com modelo de transmissão autossômico recessivo, decorrentes de
mutações variadas em genes específicos que codificam enzimas responsáveis pela hidrólise de
moléculas complexas denominadas mucopolissacarídeos ou glicosaminoglicanos (GAGs). As ações
enzimáticas deficientes por baixa expressão desses genes modificados ou por alterações póstraducionais alteram a dinâmica das reações catalíticas em cascata. O resultado é o armazenamento
de GAGs parcialmente degradados (CRIVER et al. 1995) nos lisossomos das células do tecido
conjuntivo. O acúmulo progressivo de substrato causa prejuízo funcional de células, tecidos e
órgãos, definindo quadros clínicos multissistêmicos com ampla variabilidade fenotípica, mesmo
dentro de uma mesma síndrome. Ossos e articulações, vias respiratórias, sistema cardiovascular,
fígado, baço e muitos outros órgãos, o SNC em alguns casos, e as funções cognitivas, estão
comprometidos em graus variados. Até o momento, foram identificados onze defeitos enzimáticos
1. Graduanda em Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade Nilton Lins (UNiLins). Manaus, AM, Brasil.
2. Médico Endocrinologista; Coordenador da Disciplina de Endocrinologia e Metabologia Universidade Nilton Lins (UNiLins); Mestre em Endocrinologia e Metabologia, Doutorando
em Genética Médica (INPA/UNL); Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Manaus, AM, Brasil.
Endereço para correspondência: Dr. José Maria Cabral. Rua Terezina, 386/7D – Bairro Adrianópolis. CEP: 69057-070. Manaus, AM.
E-mail: [email protected]
29
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
que causam sete tipos diferentes de mucopolissacaridoses, designados classicamente por algarismos
romanos ou por epônimos que eternizam nomes de personalidades médicas pioneiras no estudo e
descrição dessas enfermidades.
O conjunto de sinais e sintomas fundamenta a hipótese diagnóstica, mas não se manifesta ao
nascimento por depender do acúmulo progressivo de GAGs nos tecidos. A partir de dois anos de
idade algumas alterações podem ser notadas, especialmente a rigidez articular e alteração dos traços
fisionômicos. No entanto, dados clínicos não se mostram seguros na identificação do tipo específico
da doença, não existe sinal patognomônico e muitos achados são comuns e se sobrepõem.
Pacientes com a mesma síndrome podem exibir fenótipos diferentes em decorrência do tipo
de mutação, mesmo em se tratando de mutações pontuais que representam a maioria. Alguns, com
proximidade parental e, portanto com o mesmo genótipo, mostram quadros clínicos diferentes, o
que pode ser atribuído à influência de fatores ambientais sobre o DNA sem envolver mudança na
sequência de bases nitrogenadas (mutações) (NOVIK et al. 2002).
As MPSs são inegavelmente doenças raras. Dados de literatura apontam uma incidência de
1,9 a 4,5 pacientes para cada 100.000 nascidos vivos (NELSON 1997; MEIKLE et al. 1999;
POORTHUIS et al. 1999; NELSON et al. 2003; BAEHNER et al. 2005). Dados epidemiológicos na
população brasileira não são precisos. Segundo informa o Laboratório de Erros Inatos do
Metabolismo sediado no Serviço de Genética Médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre
(SGM/HCPA), as MPS I, II e VI foram os tipos mais frequentes atendidos de 1982 a 2010.
As baixas dosagens das enzimas envolvidas, em plasma ou leucócitos, confirmam o
diagnóstico de MPS, na maioria dos casos. Técnicas de biologia molecular, disponíveis apenas em
alguns centros de excelência no Brasil, devem ser requeridas para a precisão do diagnóstico através
da definição das mutações em genes específicos de pacientes e de portadores da mutação em
heterozigose, aqueles que “carregam” a doença sem exibi-la clinicamente. Esses dados novos
complementam o estudo genealógico que se faz a partir dos casos índice, e fortalecem o
aconselhamento genético.
MATERIAL E MÉTODOS
O diagnóstico clínico de MPS contemplou apenas 14 casos entre os pacientes amazonenses
atendidos no Ambulatório-Escola de Endocrinologia da Disciplina de Endocrinologia do Curso de
Medicina da Universidade Nilton Lins, encaminhados por profissionais de saúde que tiveram acesso
às informações básicas sobre esse grupo de doenças. Amostras de sangue venoso foram colhidas em
30
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
seringas heparinizadas, acondicionadas em embalagens adequadas sob baixa temperatura e enviadas
ao SGM/HCPA dentro das exigências da ANVISA. Os resultados das dosagens enzimáticas
confirmando o tipo de MPS foram recebidos por via eletrônica.
Do total de pacientes diagnosticados ao longo dos anos, dez são atendidos no Centro de
Terapia de Reposição Enzimática das MPS (CTRE/MPS), instalado na Fundação Hospital Adriano
Jorge, em Manaus. Destes, oito foram incluídos no estudo: 3 portadores de MPS tipo I, 3 do tipo II
e 2 portadores do tipo VI. Outro paciente, com suspeita clínica de MPS IV, ainda aguarda
confirmação laboratorial de deficiência da enzima específica e não pode ser admitido. Os dois
pacientes restantes, dois irmãos adultos portadores de MPS VI, não foram incluídos. Um por motivo
de trabalho e o outro por convalescer de valvuloplastia cardíaca.
Cada pessoa identificada como responsável por determinado paciente (menor de idade ou
incapaz) foi informada dos objetivos do estudo e assinou o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). Esteve presente durante a entrevista e exame físico do paciente.
O presente estudo de caráter observacional e descritivo, longitudinal e retrospectivo,
submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa institucional, teve como meta estabelecer
um protocolo de exames bioquímicos e de imagens (Quadro 1), que somado aos achados clínicos
pudesse identificar alterações hormonais representativas de endocrinopatias subjacentes.
Quadro 3. Exames bioquímicos e de imagens utilizados na identificação de alterações hormonais.
Exames bioquímicos
Hemograma, ferro sérico, ferritina e transferrina; glicemia em jejum/ TOTG; lipidograma e
ácido úrico; TGO, TGP e Gama GT; Na+, K+, Ca++, Fósforo e Mg++.
Dosagens hormonais
GH, IGF 1, IGFBP3,
TSH, T4 livre, anticorpos anti tireoperoxidase, anticorpos
antitireoglobulina, anticorpos antireceptor de TSH (TRAb); ACTH e cortisol plasmático;
FSH, LH, Prolactina, Estradiol, Progesterona e Testosterona total /livre.
Exames de imagens
RX simples de crânio e sela, RX das mãos e punhos – idade óssea (método de GreulichPyle) e RX de tórax; RNM crânio; US de tireoide/Doppler; US abdome total, US pélvica
(sexo feminino).
Toda a investigação foi realizada no Hospital CheckUp (Rua Paraíba, 500, Adrianópolis,
Manaus – AM), instituição privada que aderiu ao programa absorvendo integralmente os custos,
sem qualquer ônus para as famílias dos pacientes e pesquisadores. Os exames de imagens e laudos
técnicos foram realizados pelo mesmo profissional. Os resultados obtidos, dispostos em tabelas
individuais no programa Excel 2010, mereceram cuidadosa análise baseado no conjunto entre
experiência clínica e nos parâmetros de normalidade emitidos pelo laboratório e pelos laudos de
imagens dos exames complementares. O trabalho não prestigiou análise estatística pela pequena
31
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
população estudada. Os resultados formulados foram baseados em comparações dos dados
adquiridos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com as estimativas do IBGE/2012, a população de Manaus, a cidade mais
populosa de toda a região norte, era estimada em 1 832 423 indivíduos. Dados de literatura apontam
uma incidência de MPSs de 1,9 a 4,5 pacientes para cada 100.000 nascidos vivos (NELSON 1997;
MEIKLE et al. 1999; POORTHUIS et al. 1999; NELSON et al. 2003; BAEHNER et al. 2005).
Aceitando como válidas essas taxas para a população manauara, cálculos simples permitem estimar
grosseiramente entre 34 a 82 os portadores de MPS na capital amazonense, em 2012. Esses
números mostram-se muito superiores aos casos efetivamente diagnosticados. Onde estarão os
demais pacientes? Sem acesso a um sistema de saúde pública de qualidade, muitos indivíduos
nascem, vivem e morrem nas cercanias de Manaus, sem diagnóstico e sem tratamento.
A centralização dos exames no Hospital CheckUp e os laudos de exames de imagens
emitidos pelo mesmo profissional, permitiram a padronização de procedimentos e de métodos, que
trouxe maior confiabilidade à análise dos resultados obtidos.
A literatura que trata da descrição das manifestações clínicas das MPSs ou de grupos de
pacientes, faz referência à parada de crescimento estatural, baixa estatura final e obesidade para
muitos pacientes, sem outras considerações. Destaque para a baixa estatura dismórfica que se situa
muito abaixo dos padrões mínimos de normalidade e fora dos canais de crescimento dedutíveis para
a família (GIUGLIANI et al. 2010; FILOCAMO et al. 2011).
O perfil hormonal não tem registro consistente na literatura especializada. Existem apenas
escassas citações. A sela túrcica alargada, achado comum em pacientes portadores de MPS VI, pode
levar a alterações na produção de trofinas adenohipofisárias e definir quadros de hiper ou
hipopituitarismos (BORGES et al. 2003). É provável que a infiltração hipofisária e eventualmente, a
sela vazia, levem a deficiências hormonais. Buyukgrbiz et al. (1995), encontraram deficiência de
GH em portadores de MPS VI. O papel do hormônio do crescimento (GH), de seus produtos, bem
como a influência dos hormônios tireoideanos, não está dimensionado.
O quadro 2 resume os dados clínicos e laboratoriais necessários para traçar o perfil
endócrino de portadores de mucopolissacaridoses.
32
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Quadro 2. Dados clínicos e laboratoriais do perfil endócrino de portadores de Mucopolissacaridose.
Achados clínicos e laboratoriais
Pacientes/ sexo
Idade cronológica IC – Idade óssea – IO
(Greulich-Pyle)
Velocidade crescimento (VC) - estatura
4 a 6 m – atrasada
11 a 3 m - atrasada
4 a 3 m – atrasada
baixa – 0,91 m
baixa – 1,31 m
baixa – 0,97 m
GH – IGF1- IGFBP3
normais
normais
normais
Peso corporal (PC) – obesidade
17 kg - normal
27,2 kg - normal
14,2 kg - normal
TOTG- lipidograma
90 e 92 - normal
Estádio puberal (Tanner)
73 e 130 – triglic.
elevados
I
II
79 e 80 – triglic.
elevados
I
US bolsa escrotal –US pélvico
NR
NR
USG Pélvico - normal
Bócio – US tireóide
ausente - normal
ausente - normal
ausente - normal
Disfunção tireóide – TSH,T4 livre, anticorpos
ausente - normais
ausente - normais
ausente - normais
Proptose ocular - TRAb
discreta - normal
ausente - normal
ausente - normal
Disfunção adrenal – ACTH,cortisol
ausente - normal
ausente – normal, baixo
Trofinas adenohipofisárias
normais
normais
ausente – normal,
baixo
normais
Hepatomegalia – TGO,TGP,GamaGT
presente -normais
presente - normais
presente - normais
NR: não realizado
A diminuição da VC (velocidade de crescimento), parada do crescimento estatural ao início
das manifestações da doença e a baixa estatura (inferior ao percentil 3) foram observadas em todos
os pacientes. O atraso da IO (idade óssea), acima de 2 desvios-padrão - SD só não foi constatado em
um paciente. Aos 20 anos de idade já apresenta IO no limite detectável.
GH basal, IGF1 e IGFBP3 estiveram normais em todos os pacientes estudados, exceto para
um paciente (GH e IGF1 elevados). O acúmulo de GAGs no fígado causador da hepatomegalia
poderia interferir na produção de IGF1 (somatomedina C), comprometendo a ação hormonal nas
cartilagens de crescimento. No entanto, embora todos os pacientes exibissem hepatomegalia, as
enzimas não confirmaram agressão funcional hepática. O fator limitante do crescimento pode
seguramente, ser creditado à disostose óssea, embora outros fatores devam ser considerados desnutrição protéica, infecção crônica das vias aéreas e valvulopatia cardíaca, condições muito
comuns observadas nos pacientes.
A obesidade esteve presente na metade dos casos estudados, contrariando dados da
literatura. Um paciente exibiu peso abaixo do normal. A perda de peso pode ser atribuída à anorexia
que acompanhou processo infeccioso extenso de pele. Não se registrou nenhum caso de Diabetes
Mellitus ou de intolerância glicídica e o lipidograma mostrou-se normal, exceto para dois pacientes
(hipertrigliceridemia), sem relação à obesidade. Um paciente exibiu CT (colesterol total) e LDLc
(Low-density lipoprotein) elevados, de par com a obesidade.
33
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
O estadiamento puberal foi compatível com a Idade Cronológica (IC), embora se registrasse
atraso da Idade Óssea (IO) em todos os pacientes. Dois pacientes exibiram níveis reduzidos de
testosterona total e livre, em desacordo com o estadiamento puberal. FSH e LH baixos com
prolactina (Prl) elevada denunciam hipogonadismo hipogonadotrófico, enquanto FSH, LH e Prl
normais com alterações parenquimatosas difusas em ambos os testículos são compatíveis com
hipogonadismo primário em um paciente. A hiperprolactinemia documentada em um paciente,
resultado do comprometimento do SNC (forma grave de MPSII), figura como a causa mais
provável do hipogonadismo secundário. As alterações parenquimatosas testiculares difusas podem
ser atribuídas à infiltração de GAGs. O prejuízo da função de células de Leydig está documentado
neste paciente. Presume-se que o comprometimento da espermatogênese possa estar em curso.
A presença de bócio confirmado ao USG atingiu apenas um paciente. O exame revelou
hipoplasia. Discreta proptose ocular foi notada, porém com TRAb (anticorpo anti- receptor TSH)
normal. Um dos pacientes estudados mostrou níveis elevados de anticorpos antitireoglobulina
(AATG) e antitireoperoxidase (AATPO), denunciando tireopatia auto-imune. No entanto, em todos
os doentes não houve registro clínico de disfunção da tireóide e os níveis de TSH e T4 livre
estiveram normais.
Não foi constatada a presença de disfunção adrenal, embora o cortisol (às 8:00 h) estivesse
discretamente diminuído em dois pacientes, com ACTH normal. As trofinas hipofisárias não
fugiram à normalidade, exceto em casos isolados, sem repercussão clínica.
CONCLUSÕES
O protocolo de exames estabelecido neste estudo, em complemento aos dados clínicos
colhidos de pacientes, favoreceu a identificação de algumas alterações endócrino-metabólicas em
pacientes portadores de MPSs dos tipos I, II e VI - atraso da IO, hipertrigliceridemia e
hipercolesterolemia, hipogonadismo primário e secundário, hiperprolactinemia, bócio e hipoplasia
de tireóide, para citar apenas as mais importantes. Se por um lado, a pequena amostragem não
permitiu análises estatísticas que pudessem fundamentar conclusões aplicáveis a outros pacientes
com MPSs, os achados de endocrinopatias em grupo tão reduzido permite deduzir que as doenças
existem e devem ser diagnosticadas precocemente e tratadas. Os achados que se repetem em
pacientes portadores de tipos diferentes de MPs faz supor que os mecanismos fisiopatológicos
semelhantes dessas síndromes, não criam fenótipos distintos em relação ao perfil endócrino. Este
trabalho não encontra paralelo na literatura e abre perspectivas para novas pesquisas. A ampliação
das dosagens hormonais, o emprego de testes dinâmicos provocativos ou inibitórios e a introdução
34
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
de exames de imagens como a ressonância nuclear magnética, vão nortear outros estudos mais
aprofundados que possam avançar no diagnóstico e esclarecimento fisiopatológico das doenças
endócrinas mais prevalentes nesse grupo de doenças especiais.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos primeiramente a Deus por cuidar de cada detalhe de nossas vidas. Aos
responsáveis pelos pacientes que em nome deles entenderam os objetivos e benefícios deste estudo.
À Enfermeira Joseleide Almeida e equipe pela atenção e cuidados dispensados a cada paciente. À
Alinne Costa Cavalcante, por auxiliar na revisão do projeto e na exposição de resultados obtidos.
Ao Dr. Ronaldo Jackmont, Diretor do Hospital Check Up e sua equipe, por oferecer aos pacientes a
oportunidade de realização de exames bioquímicos e de imagens de resultados confiáveis. Ao Dr.
Sérgio Laskani pela qualidade dos exames de imagens e clareza dos laudos emitidos.
REFERÊNCIAS
BAEHNER F, SCHMIEDESKAMP C, KRUMMENAUER F, MIEBACH E, BAJBOUJ M,
WHYBRA C, KOHLSCHUTTER A, KAMPMANN C, BECK M. Cumulative incidence rates of
the mucopolysaccharidoses in Germany. J Inherit Metab Dis. 2005;28:1011–7.
BORGES MF. Mucopolissacaridose Tipo VI (Síndrome de Maroteaux-Lamy): Avaliação
Endócrina de Três Casos. Arquivo Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia 2003; 47: 87-94.
BUYUKGEBIZ B. EROGLU Y, KAVANLIKAYA I, SEN A, BUYUKGEBIZ A. MaroteauxLamy syndrome associated with growth hormone deficiency. Jornal de Pediatria e Endocrinologia e
Metabologia 1995;8: 305-7.
CRIVER CHR, BEUADET AL, SLY WS, VALLE T. The metabolic and molecular bases of
inherited diseases. Nueva York: Mac Graw-Hill 1995; 1: 7.
GIUGLIANI R, CABRAL JM, SANTOS ES, MARTINS AM et al. Mucopolysaccharidosis I, II,
and VI: Brief review and guidelines for treatment. Genet Mol Biol. 2010;33:589-604.
HOPWOOD JJ, BROOKS DA. An introduction to the basic science and biology of the lysosome
and storage diseases. In: Organelle Diseases,. New York: Chapman and Hall, 1997; 7: 213–235.
IBGE. Censo Demográfico de 2010. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; dados
referentes ao município de Manaus. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home. Acesso em:
01/06/2012.
MEIKLE PJ. Prevalence of lysosomal storage disorders. Jama 1999; 281:249-54.
NELSON J, CROWHUST J, CAREY B, GREED L. Incidence of the mucopolysaccharidosis in
Western Australia. Am J Med Genet 2003;123:310-313.
35
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
NELSON J. Incidence of the mucopolysaccharidoses in Northern Ireland. Hum. Genet. 101: 355–8.
NOVIK NL, NIMMRICH I, GENC B, MAIER S, PIEPENBROCK C, OLEK A, BECK S.
Epigenomics: Genome-wide study of methylatrion phenomena. Curr. Issues Mol. Biol. 2002;111128.
POORTHUIS BJ, WEVERS RA, KLEIJER WJ. The frequency of lysosomal storage diseases in
The Netherlands Hum Genet. 1999;105:151-6.
36
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL MICROBIOLÓGICO SUBGENGIVAL E DA SALIVA
EM ADULTOS COM OU SEM PERIODONTITE CRÔNICA.
VICTOR HUGO MARQUES COELHO1; PATRÍCIA PUCCINELLI ORLANDI NOGUEIRA2;
PRISCILA FARIAS NAIFF3
RESUMO: Uma das doenças bucais mais frequentes é a periodontite crônica, ela tem início após uma gengivite,
durante ou após a puberdade, mas os sintomas, como reabsorção óssea aparente com formação de bolsa periodontal e
perda de inserção clínica só são observados em longo prazo. Atualmente a doença periodontal tem seu diagnostico
basicamente direcionado por parâmetros clínicos por isso a importância dos exames laboratoriais. O objetivo deste
trabalho foi detectar o perfil microbiológico presente na saliva em adultos com ou sem periodontite crônica. Foram
realizas coletas de saliva de dez pacientes na clínica de periodontia da Universidade Nilton Lins e posteriormente
levadas para a realização do PCR (Reação em cadeia da polimerase) Multiplex na Fundação Oswaldo Cruz – AM. No
PCR Multiplex foram identificadas quatro periodontopatogénos sendo eles: Aggregatibacter actinomycetemcomitans,
Campylobacter rectus, Prevotella intermedia e Tannerella forsythia. Com isso pode-se observar que é possível à
aplicação do PCR Multiplex para complementar o diagnóstico da periodontite crônica.
PALAVRAS-CHAVE: Periodontia. Microbiologia. PCR.
INTRODUÇÃO
A periodontite é uma doença inflamatória dos tecidos de sustentação dos dentes, causada
por diversos microrganismos e leva à destruição do osso alveolar, ligamento periodontal e cemento,
ocasionando mobilidade dentária e, frequentemente, perda dental (CARRANZA et al., 2004;
LINDHE et al., 2005). Esta patologia acomete principalmente, indivíduos adultos com má higiene
bucal. Sua prevenção evita a perda dentária futura além do surgimento ou agravo de patologias
sistêmicas que podem estar associadas a periodontopatias.
A associação de microrganismos específicos com as diversas formas de periodontite
permitiu e incentivou o desenvolvimento de métodos de diagnóstico baseados na detecção de uma
ou mais espécies de bactérias, ou de alterações em sua proporção no biofilme (BRETZ; LOESCHE,
1987; LOESCHE et al., 1990). As pesquisas em Periodontia voltaram-se então para determinação
de quais os microrganismos, dentre as mais de 700 espécies bacterianas presentes na cavidade bucal
(KAZOR et al., 2003), seriam os responsáveis pelo desenvolvimento da doença periodontal.
Os microrganismos associados à periodontite podem variar dependendo de diferentes
fatores, por exemplo, classificação e severidade da doença periodontal. A identificação da
1
Acadêmico da Faculdade de Odontologia/Universidade Nilton Lins. Avenida Professor Nilton Lins, 3259, Manaus,
AM. CEP: 69058-030. E-mail: [email protected]
2
Professora da Universidade Nilton Lins. Avenida Professor Nilton Lins, 3259, Manaus, AM. CEP: 69058- 030.
E-mail: [email protected]
3
Professora da Universidade Estadual do Amazonas. Avenida Codajás, 25, Manaus, AM. CEP: 69065-130. E-mail:
[email protected]
37
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
microbiota responsável pela manifestação das doenças periodontais é de extrema importância, pois
precede a adoção de medidas eficazes na prevenção e tratamento das doenças periodontais. Pelo uso
da técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real poderiam ser identificadas,
mesmo que em níveis extremamente reduzidos, as espécies de microrganismos periodontais,
podendo-se avaliar o risco futuro individual da doença. Os testes microbiológicos suplementam o
diagnóstico de diversos tipos de doenças periodontais. Servem como indicadores do início e
progressão da doença e determinam os sítios periodontais que possuem maior risco de destruição
ativa (SILVA, 2007).
Pela utilização da saliva pode ser analisado o perfil microbiológico das doenças
periodontais, verificando-se a ocorrência de periodontopatógenos, por meio técnicas de diagnóstico,
visto que esta representa o veículo de transmissão desses microrganismos (SHIMADA et al., 2008).
Assim a pesquisa irá mostrar a importância da realização de exames laboratoriais para a
identificação da periodontite, para caracterização do perfil microbiológico da saliva por meio da
técnica de reação em cadeia polimerase (PCR) em adultos com ou sem periodontite crônica a fim de
prevenir e tratar, mais fidedignamente, indivíduos com doenças periodontais.
MATERIAL E MÉTODOS
Modelo de estudo
Foi realizado um estudo observacional transversal, com elementos descritivos e analíticos
pelo qual foi analisado o protocolo de reação em cadeia polimerase (PCR), visando à detecção de
bactérias periodontopatogênicas em sítios previamente identificados clínica e radiograficamente
como de periodontite crônica. O estudo inclui a coleta de dados epidemiológicos e entrevista (idade,
gênero, uso de tabaco e doenças sistêmicas) com os pacientes.
Universo do estudo
O estudo foi conduzido na Clínica de Periodontia, da Universidade Nilton Lins (UNL) e
contou com a participação de dois pacientes portadores de periodontite crônica no grupo teste e de
oito pacientes sem evidência de doença periodontal, no grupo controle. Todos os pacientes foram,
individualmente, informados sobre o estudo proposto e precisaram concordar com sua participação
na pesquisa, bem como assinar o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).
38
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
Coleta da saliva
No total foram coletados 5mL de saliva não estimulada por paciente e colocadas em um
tubo estéril de 10 mL pela manhã, antes do desjejum e sem qualquer procedimento de higiene
dental prévio. Após a coleta o material foi imediatamente levado à Fundação Oswaldo Cruz – AM.
Estas amostras foram mantidas em -80⁰C antes de serem submetidas para PCR (PABON et al.,
2008).
Extração de DNA
Amostras foram transferidas para os microtubos e centrifugada à 12.000 rpm por 10
minutos à 4ºC. Descartou-se o sobrenadante e ressuspendeu-se o pellet em 300 microlitros de
tampão TEN e homogeneizada em vórtex. Adicionou-se 30 microlitros de lisozima e logo em
seguida as amostras foram encubadas por 30 minutos em temperatura ambiente. Foi adicionado às
amostras 50 microlitros de triton x-100 à 10% junto de 20 microlitros de NACL 3M e aquecimento
em banho seco à 60ºC por 5 minutos. Logo depois se adicionou 2 microlitros de RNAse seguida de
nova incubação em estufa por 15 minutos à 37ºC. Adicionou-se 25 microlitros de SDS 10% e
homogeneizado em vortéx logo em seguida adicionou-se 3 microlitros de proteinase k e mais uma
incubação à 37º C por 15 minutos. Adicionou-se 500 microlitros de fenol e foi agitado
manualmente por 5 minutos. A amostra foi centrifugada a 12000 rpm por 10 minutos em
temperatura ambiente, retirou-se a primeira fase, recuperando a fase aquosa e trocando de
microtubo. No microtubo novo adicionou-se 400 microlitros de clorofórmio e foi agitado
manualmente por 5 minutos. Novamente as amostras foram centrifugadas a 12000 rpm por 10
minutos em temperatura ambiente, retirou-se a primeira fase e fez-se a troca de microtubo mais uma
vez adicionando-se 25 microlitros de NACL 3M. Foi adicionado vagarosamente 1ml de etanol
100% à 20ºC. As amostras foram centrifugadas a 12000 rpm por 10 minutos à 4ºC e ressuspensa em
etanol 70% e homogeneizada em vórtex. O último passo foi centrifugar as amostras a 12000 rpm
por 10 minutos à 4ºC, descartou-se o sobrenadante com cuidado. O microtubo com DNA foi posto
no fluxo pra secar, logo em seguida ressuspendeu-se em 200 microlitros de TE e estocou-se à 20ºC. Protocolo de extração, com modificações, descrito em (CRUMP et al., 1999; CASAMAYOR
et al., 2002).
39
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
PCR Multiplex
A reação foi realizada nas seguintes condições: 40 ng de DNA, tampão 10X 0,25 mM de
dNTPs, 2,5 mM de MgCl2, 5 mM de cada iniciador, 2,5 U de Taq DNA polimerase e água
deionizada esterilizada para um volume total de 25 μL. O programa de PCR utilizado em
termociclador (Eppendorf) foi composto pelos seguintes passos: desnaturação inicial a 95°C por 5
minutos; seguida de ciclo de 45 vezes com um passo de desnaturação a 95°C por 15 segundos,
anelamento dos iniciadores com temperatura a 65°C por 20 segundos e um passo de extensão das
fitas a 72°C por 2 minutos; além de um passo de extensão final a 72°C por 2 minutos. Após a PCR,
as amostras foram submetidas à separação eletroforética em gel de agarose submerso em tampão
TBE 1X e visualizado sob luz UV. Este foi preparado nas concentrações de 100mM Tris, 90mM
ácido bórico e 1mM EDTA. (FUJIMOTO, 2004; SANTOS, 2005).
Para o DNA extraído da saliva (10 μL) foi realiza a PCR. Iniciadores específicos para
DNA ribossomal 16S de A. actinomycetemcomitans, C rectus, E. corrodens, F.nucleatu, P.
intermédia, P. nigrescens, T. forsythia , T.denticola .
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As 10 amostras foram fenotipadas por meio da PCR multiplex. O PCR multiplex mostrouse eficaz para diagnóstico da periodontite crônica, sendo identificadas 4 bactérias dos 7 patógenos
citados
no trabalho.
As bactérias identificadas
nos
pacientes
foram
Aggregatibacter
actinomycetemcomitans, Campylobacter rectus, Prevotella intermedia e Tannerella forsythia.
A Aggregatibacter actinomycetemcomitans é uma bactéria gram-negativa que possa
induzir na destruição do periodonto. Embora tenha sido encontrada com maior frequência em
periodontite, a prevalência em qualquer população é bastante elevada. Campylobacter rectus é uma
bactéria gram-negativa que pode induzir a perda óssea e é muito frequente em indivíduos com
periodontite. A Prevotella intermedia é uma bactéria gram-negativa muito encontrada em infecções
orais como gengivite e periodontite, ela usa esteróides como fatores de crescimento com isso seus
números são mais elevados em mulheres grávidas. Tannerella forsythia é uma bactéria gramnegativa comumente encontrada em doenças periodontais.
40
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
Figura 1: Perfil microbiológico de pacientes com periodontite crônica.
Figura 2: Perfil microbiológico de pacientes sem periodontite crônica.
41
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
Figura 3: Perfil eletroforético dos patógenos encontrados na saliva por meio da PCR multiplex nas amostras
1 a 10 em gel de agarose 1,5%.
As amostras 9 e 10 da Figura 3 são de pacientes com periodontite crônica e estes pacientes
foram classificados com o grau de periodontite crônica avançada, portanto apenas na amostra 10 foi
detectada a presença de periodontopatogénos, sendo eles os Campylobacter rectus e Tannerella
forsythia.
Foi possível observar que pacientes que não apresentavam os sintomas da doença tinham
as bactérias características da doença o que leva a concluir que estas pessoas são assintomáticas,
mas que são pessoas que se não tomarem um devido cuidado são enormes candidatas a contraírem a
doença. As bactérias Campylobacter rectus e Tannerella forsythia encontradas no paciente com
periodontite crônica são bactérias que promovem uma extensa profundidade à sondagem,
sangramento à sondagem e nível de inserção clínica, sendo essas características encontradas neste
paciente.
Não foi possível fazer a extração de DNA das amostras com biofilme, pois a padronização
da extração do DNA em relação ao biofilme não foi efetivada com êxito, foi mudado o protocolo de
extração mas mesmo assim não se teve êxito e devido ao pouco tempo para a realização da pesquisa
acabou-se por não tentar mais vezes.
CONCLUSÃO
Este trabalho foi de suma importância para mostrar que a identificação dos
periodontopatogénos é eficaz por meio da PCR multiplex tornando assim o diagnóstico da
42
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
periodontite crônica mais completo, pois ao ser identificado os patógenos no paciente além de poder
prevenir a doença, também pode-se tratar mais fidedignamente os pacientes afetados com a doença.
REFERÊNCIAS
CARRANZA, F.A; NEWMAN, M.G; TAKEI, H. Periodontia Clínica. 9.ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2004.
CASAMAYOR et al. Identification of multiple
colonizing.Microbiology, 2002: v.20, n.5, p.489-493.
strains
of
Staphylococcus
aureus
CRUMP et al. Comparison of Staphylococcus aureus human skin, pulsed-field gel electrophoresis,
and binary typing. Journal of Clinical Microbiology, 1999: v.40, n.11, p.3894-3902.
FUJIMOTO, J. et al; Quantitative PCR with 16S rRNA-gene-targeted species-specific primers for
analysis of human intestinal bifidobacteria. American society for microbiology, 2004: v. 35, n.8,
p.893-898.
KAZOR, C.E; MITCHELL, A.M; LEE, A.M; STOKES, L.N; LOESCHE, W.J; DEWHIRST FE et
al. Diversity of bacterial populations on the tongue dorsa of patients with halitosis and healthy
patients. J Clin Microbiol, 2003: v.41, 558-563p.
LINDHE, J; KARRING, T; LANG, N.P. Tratado de Periodontia Clínica e Implantologia Oral.
4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
LOESCHE, W; BRETZ, W.A; KERCHENSTEINER, D; STOLL, J; SOCRANSKY, S.S;
HUJOEL, P. et al. Development of a diagnostic test for anaerobic periodontal infections based on
plaque hydrolysis of Benzoyl-DL-Arginine-Naphthylamide. J Clin. Microbiol, 1990: v.28, 15511559p.
PABÓN, M.C.M; OSPINA, D.P.R; GUZMÁN, D.M.I; ROJAS, L.M.O; ARROYAVE, S.I.T.
Detection of Treponema denticola in saliva obtained from patients with various periodontal
conditions. Clin Oral Invest, 2008: v.12, 73-81p.
RETZ, W.A; LOESCHE, W.J. Characteristics of trypsin-like activity in subgingival plaque
samples. J Dent Res, 1987: v.66, 1668-1672p.
SANTOS, P.P de A; Saliva: Métodos atuais para coleta e obtenção de amostra. R. fac.
Odontologia, Porto Alegre, 2005: v. 48, p. 95-98.
SHIMADA, M.H; ANGELIS, L; CIESIELSKY, F.I.N; GAETTI-JARDIM, E.C;
GAETTIJARDIM JR, E. Use of saliva in the evaluation of risk for periodontal diseases: clinical and
microbiological aspects. Rev Odontol UNESP, 2008: v. 37, n.2, 183-189p.
43
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
SILVA, I.G. Avaliação da microbiota gengival e subgengival de seres humanos por PCR.
Dissertação (Mestrado em Patologia). Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas
Gerais, 2007.
44
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
CONSTRUÇÃO E CALIBRAÇÃO DE ALIMENTADOR ARTIFICIAL PARA
MANUTENÇÃO DA COLÔNIA DO MOSQUITO Aedes aegypti (DIPTERA: CULICIDADE)
EM LABORATÓRIO
THIAGO VIANA QUEIROZ1; KATLEN LEANDRO VIDINHO2; SILVIA CÁSSIA BRANDÃO
JUSTINIANO3; ROSEMARY APARECIDA ROQUE4.
RESUMO: A alimentação artificial supre as necessidades nutricionais das fêmeas de Aedes aegypti sem os inconvenientes
da manutenção de hospedeiros vivos, oferecendo uma maior comodidade e facilidade no controle de fatores ambientais,
dessa forma supre a demanda de insetos para testes e para a manutenção da colônia de mosquitos em laboratório. O objetivo
deste trabalho foi desenvolver um sistema eficiente de alimentação artificial para fêmeas de A. aegypti, capaz de atender a
demanda de insetos para teste e manutenção da colônia de mosquitos em laboratório, visando substituir a alimentação com
cobaias. O alimentador artificial desenvolvido é constituído de quatro cilindros (funil) de vidro interligado por meio de
mangueiras de silicone ao equipamento de banho Maria, que tem por função manter constante a temperatura do sangue de
galinha heparinizado adicionado no interior do cilindro. Membrana biológica (pele de frango) imitando a pele humana foi
colocada na parte inferior do cilindro. Os resultados demonstraram que a água do Banho Maria deve ser mantida a 37ºC,
uma vez que uma variação de ± 0,5º C foi verificada durante o estudo. O número ideal de fêmeas por gaiola foi 30 sendo,
observado uma variação de 86,7 a 96,7% de fêmeas ingurgitadas quando este tratamento foi avaliado. Também foi
observado que 20 minutos, foi o tempo médio necessário para que pelo menos 76,6% das fêmeas realizasse o repasto
sanguíneo no alimentador artificial. Estes resultados preliminares demonstram que o alimentador artificial pode ser utilizado
como fonte de repasto sanguíneo em substituição a alimentação com cobaias em condições de laboratório.
PALAVRAS CHAVE: Dengue. Repasto sanguíneo. Cobaias. Vetores.
INTRODUÇÃO
A dengue é uma doença febril aguda (AGUIAR e RIBEIRO, 2006) que está presente nas
regiões tropicais e subtropicais do mundo, como América Latina e alguns países da África e Ásia,
particularmente em áreas urbanas e semiurbanas. A enfermidade é responsável por uma média anual de
50 a 100 milhões de infecções no mundo, sendo 500 mil casos hospitalares e de 15 a 20 mil mortes, na
maioria crianças.
______________________________
1 Acadêmico de Medicina da Universidade Nilton Lins - Laboratório de Entomologia Aplicada. Av. Professor Nilton Lins,
3259, Manaus, AM. CEP: 69058-30. E-mail: [email protected]
2
Mestranda em Biologia Urbana da Universidade Nilton Lins – Laboratório de Entomologia Aplicada. Av. Professor Nilton
Lins, 3259, Manaus, AM. CEP: 69058-30. E-mail: [email protected];
3 Doutora em Entomologia da Universidade Nilton Lins - Laboratório de Entomologia Aplicada. Av. Professor Nilton Lins,
3259, Manaus, AM. CEP: 69058-30. E-mail: [email protected]
4 Doutora em Parasitologia da Universidade Nilton Lins – Laboratório de Entomologia Aplicada. Av. Professor Nilton Lins,
3259, Manaus, AM. CEP: 69058-30. E-mail: [email protected]
45
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
Evidências faunísticas, primitiva e silvestre do Aedes aegypti na África indicam que esse
mosquito surgiu naquele continente. É provável que o A. aegypti tenha sido introduzido
nas
Américas pelas expedições colonizadoras dos europeus (FRANCO, 1969). A sua alta densidade, aliada
à avidez por sangue humano, tornou-o uma praga das cidades. No Brasil, o A. aegypti foi erradicado na
década de 50 e reintroduzido no ano de 1967, devido à falha na vigilância epidemiológica dos países
limítrofes (CONSOLI e LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1998).
A preocupação particular em se estudar o A. aegypti, deve-se ao fato deste ser vetor da dengue
e da forma urbana da febre amarela (EIRAS, 2011). O A. aegypti se desenvolve muito bem em países
tropicais e subtropicais devido às condições climáticas destes países e por ser muito bem adaptado ao
meio urbano (EIRAS, 2011). O agente etiológico da dengue é um arbovírus do gênero Flavivirus da
família Flaviviridae de genoma RNA (LINDENBACH et al., 2007). O vetor é holometábolo, isto é
possui metamorfose completa, passando pelos estágios de ovo, larva (quatro estádios = L1, L2, L3 e
L4), pupa e adulto.
Os ovos do mosquito são depositados, próximos a lamina d’água, e os embriões, contidos no
interior dos ovos levam de 2 a 3 dias para se desenvolverem. Isso representa uma grande barreira para a
eliminação do mosquito (CONSOLI & LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1998). O período larvário não
ultrapassa cinco dias, sendo a fase de alimentação e crescimento, e depende da temperatura, densidade
das larvas no criadouro e disponibilidade de alimentos. A pupa não se alimenta, sendo a fase onde
ocorre a transformação para o estágio adulto (EIRAS, 2011). Para passar da fase do embrião até a fase
adulta (ovo, larva e pupa), o A. aegypti demora em média dez dias (COSTA, 2001).
A dengue é uma doença de etiologia viral e de gravidade variável podendo apresentar-se sob a
forma clássica (DC), hemorrágica, febre hemorrágica da dengue (FHD) ou Síndrome do choque da
dengue (SCD) (AGUIAR e RIBEIRO, 2006). O agente etiológico da doença, Flavivirus, tem a
capacidade de multiplicar-se nos tecidos dos artrópodes (GULLAN e CRASNON, 2008) e ser
transmitido ao homem pela fêmea do A. aegypti no momento do repasto sanguíneo, uma vez que a
fêmea esteja infectada poderá transmitir o vírus para sua prole (CONSOLI e LOURENÇO-DEOLIVEIRA, 1998).
A criação e manutenção de insetos vetores de doenças em laboratório para fins experimentais
requer o desenvolvimento de um sistema de alimentação sanguínea para as fêmeas grávidas que
necessitam das proteínas presentes no sangue para maturação dos seus ovos que se encontram nos
46
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
ovários. Normalmente, as fêmeas do A. aegypti encontram-se aptas para a postura dos ovos três dias
após a ingestão de sangue, passando então a procurar local para realizar a oviposição (COSTA, 2001).
O repasto sanguíneo em laboratório pode ser realizado de forma natural, utilizando cobaias
anestesiadas (camundongos, hamster, aves etc) ou de maneira artificial (alimentadores). A alimentação
artificial tem facilitado a infecção de vetores com parasitas e patógenos e vários arbovírus transmitidos
por mosquitos (NOVAK et al, 1991).
Este trabalho teve como objetivo desenvolver um sistema eficiente de alimentação artificial
para fêmeas de A. aegypti, capaz de atender a demanda de insetos para teste, bem como para a
manutenção da colônia do vetor em laboratório, visando substituir a alimentação com cobaias. A
calibração do sistema consistiu em: determinar a temperatura da água do banho Maria capaz de manter
o sangue adicionado nos cilindros a 37º C; definir o número de fêmeas que pode ser colocado em cada
recipiente sem comprometer a qualidade do repasto e determinar o tempo de duração do repasto
sanguíneo no alimentador artificial.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas fêmeas do mosquito A. aegypti provenientes de ovos procedentes do insetário
(colônia) mantido no Laboratório de Entomologia Aplicada da Universidade Nilton Lins. Os mosquitos
adultos fêmeas da colônia com idade cronológica entre quatro e sete dias foram utilizadas nos
bioensaios e mantidos em B.O.D a temperatura de 27 ± 1oC, 70 a 80% de umidade relativa e
fotoperíodo de 12 horas (12L: 12E) (ROQUE e EIRAS, 2008).
O alimentador artificial constitui-se de um sistema contendo quatro cilindros de vidros,
interligados por mangueiras de silicone, por onde passa água quente, proveniente de um banho Maria
(AHMED, 1999). Sangue de galinha heparinizado foi utilizado, sendo o mesmo colocado na parte
superior dos cilindros de vidro, com o auxilio de uma seringa sem agulha. A água do Banho Maria foi
transportada por meio de uma bomba de aquário (Better 650) que leva água quente para todo o sistema,
esta água em contato com o sangue, porém sem misturar-se a ele, mantém a temperatura do mesmo
constante. A parte inferior dos cilindros de vidros foi coberta por uma membrana biológica (pele de
frango) que simula a pele humana. As fêmeas que receberam alimentação artificial foram colocadas em
gaiola telada para criação de adultos com dimensões 30x30x30 cm. As gaiolas foram colocadas sobre
47
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
uma base de madeira e o cilindro de vidro contendo o sangue de galinha heparinizado e a membrana
biológica em sua base foram colocadas na abertura da gaiola.
Na calibração desse sistema foram avaliados: a) a temperatura da água do banho Maria, capaz
de manter o sangue adicionado nos cilindros a 37 º C; b) número ideal de fêmeas por gaiola de 20, 30 e
40; c) Tempo necessário para realização do repasto, 10, 20 e 30 minutos no alimentador artificial.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados do presente estudo demonstraram que a água do banho Maria deve ser mantida a
37 ºC, uma vez que uma variação de ± 0,5 ºC foi verificada no circuito durante a realização dos
bioensaios. Portanto, para que a temperatura do sangue adicionado aos cilindros atinja temperatura
semelhante a corporal descritos em estudos fisiológicos, cerca de 36.5 º C, (GAYTON e HALL, 2006)
a água do banho Maria deve ser mantida a 37 ºC durante todo o procedimento de alimentação das
fêmeas. Também foi observado que a elevação da temperatura, acima de 38 ºC, compromete a função
do alimentador, pois as fêmeas percebem essa hipertermia afastando-se do cilindro de vidro que é um
ótimo condutor de calor. Foi verificado que o aumento da temperatura e a presença do sangue na
membrana biológica produziram agitação das fêmeas que pousavam sobre a superfície do cilindro de
vidro e testavam aleatoriamente a membrana biológica até identificar o local adequado para introdução
da probóscide e ingestão de sangue. Esta característica termofílica está de acordo com o descrito por
(GREENBERG, 1949) e parece ter sido o fator responsável pela atração dos mosquitos. A importância
do aquecimento do sangue para garantia do ingurgitamento das fêmeas também foi relatada por Galun
(1967) e Pipkin e Connor (1968).
Visando determinar o número ideal de fêmeas que deveriam ser colocadas nas gaiolas sem
comprometer a qualidade do repasto foram avaliados os seguintes tratamentos 20, 30 e 40
fêmeas/gaiola. Os resultados demonstraram que os maiores percentuais de ingurgitamento foram
observados quando foram utilizadas 20 (90 a 100% das fêmeas ingurgitadas) ou 30 (86,7 a 96,7% das
fêmeas ingurgitadas) fêmeas por tratamento (Tabela 1). O pior desempenho foi verificado quando
foram adicionadas 40 fêmeas/gaiola sendo verificado apenas 65 a 72,5% de ingurgitamento das fêmeas
avaliadas (Tabela 1).
Estes valores comparam com os resultados obtidos por Bishop e Gilchrist (1946) que
obtiveram, testando vários tratamentos, um percentual máximo de 73% de ingurgitamento de fêmeas de
48
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
A. aegypti alimentados por meio de membrana de pele de pintos, com sangue de galinha heparinizado.
Galun e colaboradores (1963), trabalhando com membrana Silverlight, conseguiram um percentual de
alimentação, em A. aegypti, de até 85 ± 1,6% quando foi adicionado tetrafosfato de adenosina à fonte
alimentar. Rutledge et al (1973) relataram o ingurgitamento de 6 a 82% das fêmeas de A. aegypti
avaliadas quando utilizaram sangue de galinha, fornecido por meio de membrana de Baudruche.
Tabela 1. Determinação do número ideal de fêmeas de Aedes aegypti por gaiola durante o repasto sanguíneo em
alimentador artificial.
DETERMINAÇÃO DO NÚMERO IDEAL DE FÊMEAS POR GAIOLA
JANEIRO
Nº DE
FEVEREIRO
MARÇO
ABRIL
FÊMEAS
POR
Repetição
Repetição
Repetição
Repetição
Repetição
Repetição
Repetição
Repetição
No 1
No 2
No 3
No 4
No 5
No 6
No 7
No 8
20
95%
100%
95%
90%
85%
95%
90%
100%
30
96,6%
93,3%
90%
96,6%
86,6%
93,3%
96,6%
90%
40
70%
72,5%
67,5%
72,5%
70%
65%
70%
72,5%
GAIOLA
A avaliação do desempenho das fêmeas durante o repasto foi realizada de acordo com o tempo
necessário para realização da alimentação artificial, sendo quantificado o número de fêmeas
ingurgitadas após 10, 20 e 30 minutos do início dos experimentos. Observou-se que independente do
número de fêmeas avaliadas, 20, 30 ou 40 fêmeas por gaiola, o tempo de duração do repasto em que foi
observado o maior percentual de fêmeas ingurgitadas foi o de 20 minutos seguintes ao início do
procedimento alimentar, sendo verificado 45.0, 46.6 e 37.5% de fêmeas ingurgitadas respectivamente
(Tabela 2). Também foi verificada uma queda no percentual de fêmeas ingurgitadas, independente do
número de fêmeas adicionadas em cada gaiola (20, 30 ou 40) quando foi avaliado o tempo de 30
minutos que apresentou um percentual de apenas 15 a 20% de ingurgitamento das fêmeas (Tabela 2).
Evidenciando que o repasto sanguíneo ocorre nos momentos iniciais de realização dos experimentos.
49
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
Tabela 2. Avaliação do tempo necessário para a realização do repasto sanguíneo de fêmeas de Aedes aegypti em
alimentador artificial. .
DETERMINAÇÃO DO TEMPO DE DURAÇÃO DO REPASTO NO ALIMENTADOR
ARTIFICIAL
TEMPO DO
GAIOLA COM FÊMEAS
REPASTO
20 FÊMEAS
30 FÊMEAS
40 FÊMEAS
10 MIN
35%
30%
20%
20 MIN
45%
46,6%
37,5%
30 MIN
20%
20%
15%
CONCLUSÃO
O sistema de alimentação artificial descrito propiciou o estabelecimento da colônia do
mosquito A. aegypti em laboratório utilizando sangue de galinha heparinizado e membrana biológica
(pele de frango). Foram estabelecidas as condições ideais de funcionamento: sendo a temperatura do
banho Maria de 37 oC, 30 fêmeas por gaiola e tempo mínimo de repasto 20 minutos. Estes resultados
preliminares demonstram que o alimentador artificial pode ser utilizado como fonte de repasto
sanguíneo em substituição a alimentação com cobaias em condições de laboratório.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, ZN.; RIBEIRO, MCS. Vigilância e controle das doenças transmissíveis. 2ª. Edição. São
Paulo: Martinari. 2006.
AHMED, AM.; MAINGON, RD.; TAYLOR PJ.; HURD, H. The effects of infection with Plasmodium
yolii nigeriensis on the reproductive fitness of the mosquito Anopheles gambiae. Invertebrate
Reproduction and Development 36: 217-222. 1999.
BISHOP, A.; GILCHRIST, BM. Experimenls upon the feeding of Aedes aegypti through animal
membranes with a view to applying this method to lhe chemotherapy of malária. Parasitology, 35:85100. 1946
50
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
CONSOLI, RAGB.; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, R. Principais mosquitos de importância sanitária
no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz. 1998.
COSTA, MAR. A Ocorrência do Aedes aegypti na Região Noroeste do Paraná: um estudo sobre a
epidemia da dengue em Paranavaí – 1999, na perspectiva da Geografia Médica. 214 p. Dissertação
(Mestrado em Institucional em Geografia). Universidade Estadual Paulista - Faculdade Estadual de
Educação Ciências e Letras de Paranavaí, Presidente Prudente. 2001.
EIRAS, AE. Culicidae. in: Neves dp. Melo AL, Genaro O. Parasitologia humana. 12ª ed São Paulo:
Atheneu. 2011. P.355-67.
FRANCO, AA. Contribution of the legume-Rhizobium symbiosis to the ecosystem and food
production. In: DÖBEREINER, J. et al. Limitations and potentials for biological nitrogen fixation in
the tropics. London, Plenum., 1969. p. 65-74.
GALUN, R. Feeding stimuli and artificial feeding. Bulletin World Health Organization, 36:590-593.
1967.
GALUN, R.; AVI-DOR, Y.; BAR-ZEEV, M. Feeding response in Aedes aegypti: stimulation by
Adenosine Triphosphale. Science, 142: 1674-75. 1963.
GREENBERG, J. A method for artificially feeding mosquitoes. Mosquito News., 9:48-50. 1949
GULLAN, PJ.; CRASNTON, OS.; CRASNTON, OS. Entomologia médica e veterinária .in : Os
insetos um resumo de entomologia. 3ªed.California:roca ltda;. 2008. P.334-50.
GUYTON, AC.; HALL, JE. Tratado de Fisiologia Médica. 11ª ed. Rio de Janeiro, Ed. Elsevier. 2006.
LINDENBACH DB.; THIE HJ.; RICE, CM. Flaviviridae: The viroses and their Replication. In: Fields
Virology> Knipe DM, Howley, PM. 5ht, Philadelphia, USA, Wolters Kluwer Health. 2007. P.11011152.
NOVAK, MG.; BERRY, WJ.; ROWLEY, WA. Comparison of four membranes for artificially
bloodfeeding mosquitoes. Environmental Mosquito Control association. 7:327-29. 1991
PIPKIN, AC. e CONNOR, JC. A temperature-controlled feeding apparatus for hematophagous
arthropods. Journal Medical Entomology. 5: 507-509. 1968.
ROQUE, RA. e EIRAS, AE. Calibration and Evaluation of Field Cage for Oviposition Study with
Aedes (Stegomyia ) aegypti Female (L.) (Diptera: Culicidae). Neotropical Entomology. 37:478-485.
2008.
RUTLEDGE, LC.; MOUSSA, MA.; BELLETTI, CJ. An in vitro blood-feeding system for quantitative
tesling of mosquito repellents. Mosquito News, 36:2. 1973.
51
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica |outubro 2013
Universidade Nilton Lins
EFEITO DOS EXTRATOS DE Carapa guianensis E Mansoa alliacea SOBRE Aedes aegypti
KAREN GOES TAVARES1; GUILHERME DOS SANTOS ALCANTARA2; ANDRÉ CORREA
DE OLIVEIRA3; SIMONE BRAGA CARNEIRO3; AARON FERREIRA MACHADO4; WILSON
CASTRO SILVA5
RESUMO: Aedes aegypti é um culicídeo vetor da dengue que se tornou um dos principais problemas de saúde pública
no mundo. Objetivou-se com esta pesquisa avaliar o efeito dos extratos de folhas de Carapa guianensis e Mansoa
alliacea sobre larvas de A. aegypti. As folhas das espécies vegetais foram lavadas, secas e, posteriormente trituradas. Os
extratos foram obtidos por meio de maceração em frasco Mariotti, utilizando 100 g do pó de folhas e 1 L de solvente
etanol. Os extratos etanólicos foram solubilizados com água destilada e Tween 80 nas concentrações 1, 25, 50, 75 e 100
mg.mL-1. Foram utilizados 0,5 mL da solução no tratamento de 300 larvas de A. aegypti, que foram divididas em grupos
de 10 e colocadas em Becker de 100 mL, contendo 50 mL de água destilada. As taxas de mortalidades foram
observadas de 12 em 12 h, durante 72 h. O delineamento utilizado constou de cinco tratamentos, cinco repetições, mais
um grupo controle. Os dados foram analisados por meio de Análise de Variância, seguido do teste de Tukey (α = 0,05).
Os extratos etanólicos de C. guianensis e M. alliacea não causou mortalidade significativa de larvas de A. aegypti em
72 horas de experimento.
PALAVRAS-CHAVE: Aedes aegypti. Dengue. Carapa guianensis. Mansoa alliacea . Inseticidas.
INTRODUÇÃO
O mosquito Aedes aegypti é um culicídeo vetor da dengue que se tornou um sério problema
de saúde pública no mundo, principalmente em países em desenvolvimento, nos quais o vetor
encontra as condições favoráveis para se desenvolver (VALADARES et al., 2013). A dengue é
causada pelo vírus do gênero Flavivirus e são conhecidos quatro sorotipos DENV1, DENV2,
DENV3 e DENV4 (MACIEL et al., 2008). Ao longo de sua evolução, o mosquito desenvolveu um
comportamento sinantrópico e antropogênico e seu habitat está intimamente ligado às condições
domiciliares ou peridomiciliares ofertadas pelo modo de vida das populações humanas (BEZERRA
et al., 2009). Esse culicídeo tem sido responsável por epidemias em várias capitais brasileiras
(JERÔNIMO et al., 2012). Os programas de saúde no controle de vetores consistem em utilizar os
inseticidas sintéticos (JARDIM et al., 2009), entretanto, os mosquitos têm adquirido resistência a
estes produtos, os quais são produzidos à base de organofosforados, carbamatos, entre outros. Além
1 Acadêmica de Odontologia da Universidade Nilton Lins. Av. Professor Nilton Lins, 3259, Manaus, AM. CEP: 6905830. E-mail: [email protected]
2
Acadêmico de Medicina da Universidade Nilton Lins. Av. Professor Nilton Lins, 3259, Manaus, AM. CEP: 69058-30.
E-mail:[email protected]
3 Mestrandos em Biologia Urbana da Universidade Nilton Lins. Av. Professor Nilton Lins, 3259, Manaus, AM. CEP:
69058-30. E-mail: [email protected], [email protected]
4 Doutorando em Biologia Urbana da Universidade Nilton Lins. Av. Professor Nilton Lins, 3259, Manaus, AM. CEP:
69058-30. E-mail: [email protected]
5 Doutor da Universidade Nilton Lins. Av. Professor Nilton Lins, 3259, Manaus, AM. CEP: 69058-30. E-mail:
[email protected]
52
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica |outubro 2013
Universidade Nilton Lins
deste problema, os inseticidas sintéticos têm ocasionado grandes impactos ambiental e social como
a intoxicação de agentes de saúde, intoxicação de espécies benéficas ao homem, contaminação de
sistemas aquáticos e terrestres (FERREIRA et al., 2012). Devido a estes fatores, tem-se tornado
emergente o interesse pela pesquisa de novas substâncias de origem vegetal para controle de
vetores. Entre as diversas plantas medicinais utilizadas como fitoterápicos, destacam-se a Carapa
guianensis e Mansoa alliacea . C. guianensis, conhecida como andiroba, é uma árvore muito
conhecida na região amazônica e o óleo extraído desta espécie tem apresentado grande interesse
pela indústria farmacêutica e cosmética. Dentre suas propriedades destacam-se a atividade antiinflamatória (LEÃO, 1997), repelente de inseto (ROLIM et al., 2006) e, recentemente, foi descrito
sua atividade antialérgica e analgésica (COSTA et al., 2008). M. alliacea, conhecida como cipóalho, é encontrada em toda a América do Sul e utilizada por muitas comunidades da região
amazônica nos tratamentos de artrite, epilepsia, tônico reconstituinte, febre, dor de cabeça e fixador
de perfumes (FERREIRA et al., 2006; COSTA et al., 2008). O objetivo deste trabalho foi avaliar o
efeito dos extratos de folhas de C. guianensis e M. alliacea sobre as larvas de A. aegypti.
MATERIAL E MÉTODOS
Local do experimento
O estabelecimento e a manutenção da colônia de A. aegypti foram realizados no laboratório
de Entomologia Aplicada e as extrações e os bioensaios foram realizados no laboratório de
Bioatividade de Plantas da Amazônia da Universidade Nilton Lins.
Coleta e processamento do material botânico
As folhas das espécies vegetais C. guianensis e M. alliacea foram coletadas no Horto da
Universidade Nilton Lins: C. guianensis (Latitude 3° 3’37.159” S, Longitude 60° 00’32.988” W) e
M. alliacea (Latitude 3° 00.451” S, Longitude 60° 00’32.964” W) e em outubro de 2012. As folhas
foram separadas dos galhos manualmente e lavadas em água corrente para a remoção de resíduos
provenientes do campo e, em seguida, foram colocadas em bancada, no laboratório, à temperatura
de 17 ºC para a remoção da água excedente da lavagem. Posteriormente, foram colocadas em estufa
de circulação forçada, a uma temperatura de 40 °C, durante cinco dias, para secagem. Após este
processo, foram trituradas em liquidificador para obtenção do pó das folhas.
53
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica |outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Elaboração dos extratos vegetais
A extração de folhas de C. guianensis e M. alliacea foi realizada pelo método de maceração
utilizando frasco Mariotti. Foram utilizados 100 g de pó de folhas de cada espécie vegetal e 1 L de
solvente etanol, os quais foram colocados, individualizados, em frasco Mariotti para maceração
durante 24 horas. Posteriormente, a solução foi filtrada e submetida ao processo de eliminação do
solvente em evaporizador rotativo (modelo TECNAL 210), para obtenção do extrato bruto.
Coleta dos ovos, estabelecimento e manutenção de colônia de A. aegypti
Os ovos de A. aegypti foram coletados em 25 residências no bairro Jorge Teixeira,
localizado na zona leste do munícipio de Manaus – AM, utilizando armadilhas de oviposição
ovitrampa. Após a coleta, os ovos foram enviados ao laboratório e colocados em cuba plástica para
eclosão. Após a eclosão, as larvas foram alimentadas a cada 48 h com 100 g de ração de
camundongo. Ao atingir o 3° estágio, as larvas foram colocadas em recipientes contendo 300 ml de
água de torneira e acondicionadas em gaiolas com as dimensões 19,5 cm2 teladas com malha fina.
Ao atingir a fase adulta, foram alimentados com solução açucarada. Para a alimentação sanguínea,
foi usado alimentador artificial em circuito fechado, utilizando-se sangue de galinha contendo
heparina. Após a postura, os ovos foram colocados em pequenos sacos plásticos e armazenados em
incubadora B.O.D à temperatura 26 ± 2 °C e umidade relativa de 80% (CONSOLI; De-OLIVEIRA,
1994).
Atividade larvicida
Foram utilizados 300 larvas de 3° ínstar, as quais foram divididas em grupos de dez. Cada
grupo foi colocado em um recipiente (Becker) de 100 mL, contendo 50 mL de água destilada e 0,5
mL de extrato vegetal. O extrato foi solubilizado em água destilada e Tween 80 e as soluções
utilizadas nos testes biológicos foram estabelecidas nas concentrações de 1, 25, 50, 75 e 100
mg.mL-1. Utilizou-se como controle água destilada e Tween 80. As taxas de mortalidade foram
avaliadas em 12, 24, 36, 48, 60 e 72 horas.
Análise estatística
O delineamento foi inteiramente casualizado, com cinco tratamentos, cinco repetições, mais
o grupo controle, perfazendo um tamanho amostral (n=30). Os dados foram descritos por meio de
estatística descritiva, utilizando gráficos para representação dos dados de mortalidade.
54
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica |outubro 2013
Universidade Nilton Lins
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os extratos etanólicos de C. guianensis e M. alliacea testados em larvas de A. aegypti não
apresentaram atividade larvicida significante, mesmo nas concentrações mais elevadas (100
mg.mL1) (Figuras 1 e 2). Resultados semelhantes foram obtidos por Coelho et al., (2009), os quais
utilizaram extratos vegetais de Guarea guidonia e Guarea kunthiana em larvas de A. aegypti,
verificando que não houve atividade larvicida, apesar destas espécies vegetais terem um acentuado
efeito na mortalidade de Rhodnius milesi, uma espécie de triatomíneo. Observa-se que o potencial
tóxico dos constituintes químicos existentes nas plantas varia de acordo com a concentração e,
também, com a capacidade metabólica do agente passivo para resistir a determinados fitoquímicos.
Ressaltando que um determinado extrato vegetal pode conter fitoquímico capaz de ser um agente
ativo para determinada espécie de inseto e para outros não apresentar atividade, considerando
também a família e o gênero da planta, os quais possuem compostos químicos com características
próprias como agentes ativos.
Figura 1 - Mortalidade de larvas em diferentes concentrações de extratos de C. guianensis.
55
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica |outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Figura 2 - Mortalidade de larvas em diferentes concentrações de extratos de M. alliacea
CONCLUSÃO
Os extratos etanólicos de C. guianensis e M. alliacea não demonstram efeito larvicida
contra larvas de A. aegypti. Estes resultados sugerem a realização de novos estudos utilizando
solventes de baixa polaridade para extração de folhas dessas espécies vegetais, pois os extratos
apolares podem apresentar compostos ativos, suficientemente tóxicos, para induzir a mortalidade do
vetor da dengue.
REFERÊNCIAS
BEZERRA, E.B.; FREITAS, E.M.; SOUZA, J.T.; et al. Ciclo de vida de Aedes (Stegomyia ) aegypti
(Diptera, Culicidae) em águas com diferentes características. Iheringia, Série Zoologia . Porto
Alegre, RS, v. 99(3), p. 281-285, 2009.
COELHO, A.M.; PAULA, J.E.; ESPINDOLA, et al. Atividade larvicida de extratos vegetais sobre
Aedes aegypti (L.) (Diptera: Culicidae), em condições de laboratório. BioAssay, v.4(3), p. 5-7, 2009.
CONSOLI, R.A.G.B.; de-OLIVEIRA, R.L. Principais Mosquitos de Importância Sanitária no
Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1994, 228p.
COSTA, D.R.M.; SILVA, M.N.; OLIVEIRA, A.J.A.; et al.. Avaliação Alelopática do Extrato
Hidroalcoólico das folhas de Mansoa Alliacea. Dissertação. Programa de Pós-Graduação em
Química - Faculdade de Química - ICEN - Universidade Federal do Pará-Belém-Pará, 2008.
FERREIRA, B.J.; SOUZA, M.F. M.; FILHO, A.M.S.; et al. Evolução histórica dos programas de
prevenção e controle da dengue no Brasil. Ciências & Saúde Coletiva , v. 14(3), p. 961-972, 2012.
56
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica |outubro 2013
Universidade Nilton Lins
FERREIRA, M.G.R.; GONÇALVES, E.P. Propagação Vegetativa de Cipó-alho (Mansoa alliacea )
(Lam.) A. Gentry. 57° Congresso Nacional de Botânica . Porto Velho, RO, 2006.
JARDIM, J.B; SCHALL, V.T. Prevenção da dengue: a proficiência em foco. Caderno de Saúde
Pública , v. 25(11), p. 2529-2530, 2009.
JERONIMO, C.E.; NASCIMENTO, L.P.; BALBINO, C.P. Impacto ambiental derivação das ações
de controle e combate a dengue no Rio Grande do Norte. 2012. 2021-2030p. Monografias
Ambientais. REMOA/UFSM. 2012.
LEÃO, R.N.Q. Doenças Infecciosas e Parasitárias: Enfoque Amazônico. Editora CEJUP. Belém:
Cejup: UEPA: Instituto Evandro Chagas, p. 227 – 241, 256 – 282, 1997.
MACIEL, I.J; JÚNIOR, J.B.S.; MARTELLI, C.M.T. Epidemiologia e desafios no controle do
dengue. Revista de Patologia Tropical, v. 37(2), p. 111-130, 2008.
ROLIM, W.; GIL, L.; SILVA, A; et al. Monitoramento do Vetor da Dengue, Aedes (Stegomyia)
aegypti L, (DIPTERA: Culicidade). Anais da 58ª reunião anual da SBPC, Florianópolis – SC, 2006.
TRINDADE, R.C.P.; SILVA, P.P.; OLIVEIRA, D.S.; et al.. Efeito de extratos orgânicos de
Meliaceae na mortalidade larval de traça-das-crucíferas, Plutella xylostella L. (Lepidoptera:
Plutellidae). Departamento de Fitotecnia e Fitossanidade/CECA/UFAL, 2007, 4p..
VALADARES, F.A.; FILHO, J.R.; PELUZIO, J.M. Impacto da dengue em duas principais cidades
do estado de Tocantins: infestação e fator ambiental (2000 a 2010). Epidemiologia Serviços de
Saúde, v. 22(1), p. 56-66, 2013.
57
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
ESTUDO DA INCIDÊNCIA DE SÍNDROME METABÓLICA NA HANSENÍASE
ANANIAS NOGUEIRA MENDES1; HELENA LÚCIA ALVES PEREIRA2
RESUMO: Verificar a incidência de síndrome metabólica nos pacientes com hanseníase. Pacientes, acima de 18 anos,
com diagnóstico de hanseníase acompanhados no Ambulatório de Dermatologia da Fundação Alfredo da Matta. Foi
aplicado um questionário avaliando e coletando dados antropométricos. Resultados: a casuística foi pequena para
inferências estatísticas, contudo foi identificado anormalidades em alguns componentes da síndrome.
PALAVRAS-CHAVE: Leprae. Prednisona. Metabólica.
INTRODUÇÃO
A hanseníase e uma doença granulomatosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae,
que afeta primariamente nervos periféricos e pele. A doença tem uma apresentação clínica espectral
de acordo com a classificação de Ridley e Jopling. (1966).
Num pólo, pacientes com hanseníase tuberculoide (T) tem uma vigorosa resposta imune
celular ao bacilo, limitando o número de lesões cutâneas e de troncos nervosos acometidos. No sítio
da lesão a resposta imune é dominada pelas citocinas pro inflamatórias do tipo Th1 (IFN-γ e IL-2) e
formação de granulomas. Nestas lesões, os bacilos estão ausentes ou são raros. No outro pólo, a
forma virchowiana (VV) é caracterizada por pobreza de resposta imune celular especiífica, com
proliferação dos bacilos em numerosas lesões e extensa infiltração de pele e nervos, caracterizada
por resposta do tipo Th2 com produção de citocinas (IL-4 e IL-10) e produção de anticorpos. Entre
os dois pólos, situa-se um grupo constituído por formas intermediárias e instáveis, denominadas
borderline virchowiana (BV), borderline (BB) e borderline tuberculoide (BT), conforme apresentem
aspectos clínicos e histopatológicos que se aproximem do pólo virchowiano ou do tuberculóide
(AHALEY et al 1992; MISRA e VENKITSUBROMANIAN 1964).
Durante o curso crônico da hanseníase pode haver episódios agudos de inflamação,
denominados estados reacionais, que afetam pele e nervos e são a principal causa de morbidade e
incapacidade funcional pelo comprometimento dos nervos periféricos. Esses quadros reacionais são
classificados em: reação tipo 1 e reação tipo 2 (HOTAMISLIGIL 2006).
1
Acadêmico de Medicina da Universidade Nilton Lins. Av. Professor Nilton Lins, 3259. Parque das Laranjeiras - CEP:
69058-030 - MANAUS (Amazonas). E-mail: [email protected]
2
Professora de Reumatologia da Universidade Nilton Lins. Av. Professor Nilton Lins, 3259. Parque das Laranjeiras CEP: 69058-030 - MANAUS (Amazonas). E-mail: [email protected]
58
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Apesar dos esforços da OMS para o controle da hanseníase, a doença permanece como um
problema de Saúde Publica em algumas regiões do mundo. A região norte do Brasil tem índices
considerados endêmicos da doença. Outras doenças infecciosas também permanecem endêmicas em
diversas regiões do pais, como a tuberculose, malária, hepatites virais, e, nas ultimas décadas, a
infecção pelo HIV/Aids (HOTAMISLIGIL 2006).
Segundo Ponte et al (2010), estudos acerca da relação entre hanseníase e alterações
metabólicas são escassos. Dalpino e Cols (1997), avaliaram o perfil lipídico, glicemia e ácido úrico
em 82 pacientes com hanseníase virchowiana. Os níveis de colesterol total, HDL-C, LDL-C,
triglicerídeos e glicemia estavam dentro dos limites da normalidade. A única alteração foi um
aumento dos níveis de apoliproteína A.
Em estudo realizado em serviço de referência em dermatologia, encontrou-se prevalência
de DM2 de 14,2% em portadores de hanseníase versus 2,0% no grupo controle. Nesta série, a maior
frequência de diabetes (19,3%) foi verificada em pacientes com a forma virchowiana, ao passo que
uma menor proporção foi observada entre os pacientes com a forma tuberculoide (6,4%). Observouse ainda uma diminuição dos níveis glicêmicos após o tratamento da hanseníase, sugerindo uma
possível associação entre a infecção pela Mycobacterium leprae e o metabolismo dos carboidratos
(BANSAL et al 1997).
Em adição, os fármacos utilizados para o tratamento da hanseníase e dos estados
reacionais, como corticosteroides e a rifampicina, podem ter ações deletérias sobre o controle
glicêmico de portadores de DM2 (DALPINO et al 1997).
A síndrome metabólica caracteriza-se por um conjunto de fatores de risco cardiovasculares
como hipertensão, hiperglicemia, obesidade central e dislipidemia. O termo síndrome metabólica
tem origem em estudos de fatores de risco associados a diabetes mellitus (DM) tipo 2 e doença
cardiovascular (DCV) (PALIOS e KADOGLOU 2012).
A etiologia da síndrome metabólica é desconhecida, mas provavelmente ocorre a partir de
uma interação complexa entre fatores genéticos, ambientais e metabólicos. Resultados de diversos
estudos sugerem que o estado pró-inflamatório pode contribuir para o desenvolvimento dessa
síndrome. A ocorrência de síndrome metabólica e fatores de risco cardiovascular tradicionais não
são conhecidas na hanseníase. Os fatores inerentes à doença que poderiam estar implicados no
desenvolvimento da síndrome ou no agravamento da mesma são o uso de corticosteroides, a
atividade inflamatória e a incapacidade física. Neste contexto, torna-se relevante conhecer o perfil
metabólico dos pacientes portadores de hanseníase, dados pouco pesquisados e, muito menos,
divulgados na região norte do país.
59
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado no Ambulatório de Dermatologia e Venereologia da Fundação
Alfredo da Matta (FUAM) localizado em Manaus, Amazonas. A população em estudo foi
constituída pelos pacientes com diagnóstico de hanseníase regularmente cadastrados no serviço de
hansenologia. Os critérios de inclusão foram pacientes com diagnóstico de hanseníase do sexo
masculino e feminino acima de 18 anos, que estavam em tratamento da hanseníase durante o
atendimento de rotina no ambulatório de hansenologia entre os meses de maio a julho de 2013.
Após seleção, um questionário considerando dados clínicos e demográficos foi aplicado a
todos os participantes, incluindo história de doenças cardiovasculares (angina pectoris, infarto
agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral), história familiar de doença coronariana (parente
de primeiro grau com IAM ou CVA antes dos 55 anos de idade para homens, antes dos 65 anos de
idade para mulheres), uso de medicação que afete o perfil lipídico e tabagismo. A história clínica da
hanseníase foi coletada através de revisão de prontuário para obter informações adicionais sobre a
doença, co-morbidades e tratamento.
A coleta dos dados antropométricos seguiu as recomendações da organização Mundial de
Saúde (OMS) que preconiza a medida da circunferência abdominal no plano frontal no ponto médio
entre a costela inferior e a crista ilíaca. Índice de massa corporal (IMC) foi calculada usando a
seguinte fórmula: peso/altura (Kg/m2) indicando sobrepeso, de 18,5 a 24,9 será considerada normal,
de 25 a 29,9 expressa sobrepeso, e 30 ou mais será classificada como obesidade. A pressão arterial
foi determinada pela média entre duas medidas obtidas com intervalo de 5 minutos, com uma
coluna de mercúrio do esfigmomanômetro, no braço direito, após permanecer sentada e ficar em
repouso por 5 minutos.
Síndrome metabólica foi definida de acordo com critério revisado do National Cholesterol
Education Program Adult Treatment Panel (NCEP-ATP III) , que requer a presença de três ou mais
das seguintes condições: largura da circunferência abdominal (maior que 88cm na mulher e maior
que 102cm nos homens), aumento dos níveis de triglicerídeos (maior que 150 mg/dl), ou estar em
tratamento para hipertrigliceridemia, baixo nível do colesterol lipoproteína de alta densidade (HDLC) (menor que 50 mg/dl em mulheres e menor que 40 em homens) ou em tratamento com drogas
para baixar o HDL-C, aumento da pressão sistólica e diastólica (≥ 130 x 85mmHg) ou estar em
tratamento para hipertensão arterial sistêmica e aumento da glicemia de jejum (≥ 100 mg/dl) ou em
tratamento de aumento da glicose sanguínea.
60
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Amostras de sangue foram coletadas de manhã, após jejum de 12 horas para determinação
da glicemia, colesterol total, lipoproteína de baixa densidade (LDL), alta densidade (HDL),
triglicerídeos. Os exames serão processados no laboratório de análises clínicas da FUAM. As
informações coletadas foram registradas em um banco de dados. (Excel)
Na análise estatística para as variáveis numéricas foram utilizadas medias e desvio padrão e
para as variáveis categóricas, frequências absolutas e porcentagens. A avaliação entre duas variáveis
categóricas foi analisada por meio do teste do qui-quadrado. Na presença de valores esperados
menores que cinco foi empregado o teste exato de Fisher. O teste t de Student para comparação de
variáveis quantitativas. Valores de p<0,05 foram considerados estatisticamente significantes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram deste estudo 10 pacientes sendo seis do sexo feminino e quatro do masculino,
com idade entre 28 e 59 anos. Os dados demográficos e as características clinicas da hanseníase
estão demonstrados na tabela 1.
Tabela 1. Dados demográficos e as características clinicas da hanseníase
Variáveis
Idade (anos) - Média ± DP
n
%
49,40 ± 9,19
Sexo
Feminino
Masculino
6
4
60,0
40,0
Forma Clínica
BT
V
1
9
10,0
90,0
Reação
Não
Sim
5
5
50,0
50,0
Prednisona
Não
Sim
5
5
50,0
50,0
Dose do Medicamento - Média ± DP
34,00 ± 13,4
61
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Os pacientes negaram historia pessoal e desconheciam historia familiar de doença
cardiovascular. Sete pacientes estavam com sobrepeso (IMC entre 25,1 e 29,7), dois com obesidade
grau I. Seis pacientes referiram tabagismo prévio e um, tabagismo atual. Os valores obtidos dos
componentes da síndrome metabólica estão listadas na tabela 2.
Tabela 2. Variáveis do estudo pacientes com hanseníase
Variáveis
Circunferência Abdominal
Hipertensão Arterial
Sistólica
Diastólica
Glicemia
Triglicerídeos
HDL colesterol
Peso
Altura
Média ± DP
94,50 ± 11,28
130 x 77
130,00 ± 18,86
77,00 ± 10,59
104,70 ± 19,09
125,30 ± 32,56
44,10 ± 6,10
72,12 ± 11,32
1,57 ± 0,06
Mínimo Máximo
76
114
110 x 60 170 x 80
110
170
60
90
70
138
62
168
31
51
62
96
1,49
1,67
Dentre os pacientes avaliados, verificou-se alteração de pelo menos dois componentes da
síndrome metabólica. A distribuição dos pacientes de acordo com o número de componentes da
síndrome metabólica está apresentada no Quadro 1. Verifica-se que seis pacientes preencheram
critérios para síndrome metabólica, 3 do sexo feminino e 3 do masculino.
Quadro 1. Distribuição dos pacientes por número de componentes da Sd. Metabólica
Numero de componentes
% (n)
1
2 (20%)
2
2 (20%)
3
4 (40%)
4
2
(20%)
O componente de maior frequência foi obesidade central, seguida por pressão arterial e
glicemia expostos na Tabela 3.
62
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Tabela 3. Frequência de cada componente da síndrome metabólica nos pacientes estudados
CRITÉRIO DE SÍNDROME
Paciente com critério / total de pacientes
METABÓLICA
OBESIDADE CENTRAL
7/10
88CM NA MULHER E 102CM NO
HOMEM
HIPERTENSÃO ARTERIAL
5/10
PAS>130mmHg e PAD>85mmHg
GLICEMIA DE JEJUM
5/10
ATÉ 110mg/dL
TRIGLICERÍDEOS
3/10
ATÉ 150mm/dL
HDL COLESTEROL
4/10
<40mg/dL EM HOMENS e <50mm/dL em
MULHERES
Dentre os pacientes com glicemia acima do limite normal, quatro destes estavam em uso de
prednisona com dose media de 30 mg (min 20 e max 40mg).
O sexo masculino apresentou valores superiores de pressão arterial e da glicemia em relação
ao sexo feminino. A circunferência abdominal teve valores superiores no sexo feminino. Dentre as
6 pacientes do sexo feminino a circunferência abdominal foi acima dos valores normais em 5
pacientes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nosso estudo, apesar da pequena casuística mostrou que os pacientes com hanseníase tem
alterações metabólicas evidenciado pela presença de síndrome metabólica em seis pacientes. Não há
estudo na literatura avaliando a prevalência da síndrome metabólica em pacientes com hanseníase.
Os estudos existentes avaliaram o perfil lipídico e apresentam resultados conflitantes. Um aumento
dos níveis de triglicerídeos do soro foi relatado por Misra et al, enquanto Bansal et al relataram uma
diminuição nos seus valores. Ahaley et al e Bansal et al encontraram baixos níveis de colesterol
total em pacientes multibacilares. Os autores especulam que os níveis baixos estariam relacionados
com atividade da hanseníase. Por outro lado, Gokhale observaram níveis mais elevados no seu
estudo. Os níveis de HDL estavam normais em pacientes paucibacilares e aumentado nos
multibacilares no estudo de Bansal et al. Em nosso estudo observamos hipertrigliceridemia em e
aumento do HDL-c em alguns pacientes. Os pacientes do nosso estudo eram predominantemente
virchowianos, e, pela pequena casuística não foi possível correlação com forma clinica.
63
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
O estudo verificou que os pacientes que tinham níveis glicêmicos anormais estavam em uso
de prednisona em doses moderadas, que pode ser justificada pelo uso do fármaco.
Concluindo, nossos achados sugerem que pacientes com hanseníase possam ter um aumento
da prevalência da síndrome metabólica. Mais estudos com maior casuística são necessários para
estabelecer a relação entre hanseníase e síndrome metabólica e conhecer seu papel como fator de
risco cardiovascular.
REFERÊNCIAS
AHALEY SK, SARDESHMUKH AS, SURYAKAR AN, et al. Correlation of serum lipids and
lipoproteins in leprosy. Int J Lepr 1992;64:91-97.
BANSAL SN, JOIN VK, DAYAL S, et al. Serum lipid profile in leprosy. Indian J Dermatol
Venereal Leprol 1997, 63:78-81.
BRITTON, W. J. e LOCKWOOD, D. N. (2004). Leprosy. Lancet 363, 1209-1219.
DALPINO D, MAGNALA, OPROMOLLA DV. Avaliação dos níveis de lipídeos, lipoproteínas,
apoproteínas e o papel da lipoproteína (a) no desenvolvimento de aterosclerose e alterações
fibrinolíticas nos pacientes portadores de hanseníase virchowiana. Hansen Int.1997;22(2):20-30.
GOKHALE SK, GODBOLE SH. Serum lipolytic enzyme activity and serum lipid partition in
leprosy and tuberculosis. Indian J Med Res 1975;45:327-336.
HOTAMISLIGIL GS. Inflammation and metabolic disorders. Nature. 2006;444(7121):860-7.
MIRANDA AE, et al. Tuberculosis and AIDS co-morbidity in Brazil: linkage of the tuberculosis
and AIDS databases. Braz J Infect Dis. 2009;13(2):137-41.
MISRA UK, VENKITSUBROMANIAN TA. Serum lipids in leprosy by silicic acid column
choromatography. Int. J Lepr 1964, 32:248-259.
NAAFS B. Leprosy reactions. Trop Geogr Med. 1994; 46(2):80-84.
PALIOS J, KADOGLOU NP, Lampropoulos She pathophysiology of HIV-/HAART-related
metabolicsyndrome leading to cardiovascular disorders: the emerging role of adipokines. Exp
Diabetes Res. Volume 2012, Article ID 103063, 7 pages.
PONTE, et al. Distúrbios metabólicos em doenças infecciosas emergentes e negligenciadas. Arq
Bras Endocrinol Metab. 2010; 54/9.
PFALTZGRAFF R, RAMU G. Clinical Leprosy. In: Hastings R Ed. Leprosy. Edinburgh: Churchill
Livingstone, 1994; 237-287.
RIDLEY DS, JOPLING WH. Classification of leprosy according to immunity. A five group
system. Int J Lepr Other Mycobact Dis. 1996; 34(3):255-73.
64
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e
Tratamento da Síndrome Metabólica. Arq Bras Cardiol. 2005;84(Suppl 1):2-28.
65
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
ESTUDO DA ASSOCIAÇÃO ENTRE DISLIPIDEMIA E NEUROPATIA PERIFÉRICA EM
PORTADORES DE DIABETES MELLITUS
CASSANDRA QUEIROZ CAVALCANTE FERNANDES1; JEAN JORGE SILVA DE SOUZA2
RESUMO: A neuropatia diabética periférica (NDP) é uma neuropatia somática e, ou também, autonômica atribuída
exclusivamente ao diabetes mellitus (DM) que pode se manifestar através de sintomas sensoriais, motor ou ambos,
podendo ainda ser assintomática em 50% dos pacientes. Entre os fatores de risco envolvidos na NDP estão os
cardiovasculares, como colesterol total, HDL-c, LDL-c e os triglicerídeos. Este estudo visa avaliar se há associação
entre NDP e dislipidemia em nosso meio, para saber se é semelhante à observada em outras regiões do país e do mundo.
De dezembro de 2012 a junho de 2013, foram avaliados 14 pacientes com DM, nos quais foram realizados entrevista e
coleta de dados, incluindo perfil lipídico, e nos quais foram realizados testes neurológicos para avaliar se tinham NDP.
Utilizaram-se o Instrumento de Rastreamento de Neuropatia Diabética de Michigan (MNSI) e o Escore de Neuropatia
Diabética de Michigan (MDNS). Considerou-se como portador de NDP o paciente com MDNS  7. A prevalência de
NDP foi elevada, de 50%, porém, na análise estatística realizada não se observou associação significativa entre esta e as
alterações lipídicas. Embora seja necessário o aumento na casuística para que se possa tirar conclusões definitivas, até o
momento não foi possível demonstrar uma associação entre dislipidemia e NDP no presente estudo.
PALAVRAS-CHAVE: Dislipidemia. Neuropatia. Diabetes Mellitus.
INTRODUÇÃO
A neuropatia diabética periférica (NDP) é uma das complicações mais comuns do diabetes
mellitus (DM) (BRUCE & YOUNG, 2008; ELLIOT et al., 2009). Por definição a NDP é uma
neuropatia somática e, ou também, autonômica atribuída exclusivamente ao DM. É um distúrbio
heterogêneo que inclui mononeuropatia e polineuropatia, plexopatias e radiculoneuropatias. Podem
ser classificadas como simétricas ou assimétricas, ou como focais ou multifocais. (CORNBLATH,
2004).
A forma distal simétrica é a mais comum, e é conhecida por vários nomes, entre eles,
polineuropatia diabética, neuropatia periférica sensório-motora ou neuropatia diabética periférica
simétrica (CORNBLATH, 2004).
A NDP pode ser assintomática em 50% dos pacientes, porém, em 15% dos pacientes os
sintomas são severos e necessitam de tratamento. Tais sintomas incluem a dor crônica, disestesias e
perda da qualidade de vida. Contudo, a complicação mais importante e temida da NDP são as
úlceras nos pés, que pode levar à gangrena e amputações, sendo o DM responsável por 50-75% de
todas as amputações não-traumáticas de membros inferiores (BRUCE & YOUNG, 2008).
1
2
Acadêmica de medicina da Universidade Nilton Lins (Bolsista)
Professor da disciplina de Endocrinologia da Universidade Nilton Lins (Orientador)
66
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
A NDP tem uma fisiopatogenia multifatorial, com diferentes mecanismos bioquímicos, tais
como aumento no estresse oxidativo, neuro-inflamação, diminuição na perfusão periférica e
consequente hipóxia interneuronal. Entre as os fatores de risco envolvidos na NDP estão os
cardiovasculares que são fatores fortemente relacionados aos mecanismos bioquímicos citados
acima (ELLIOT et al., 2009; AL-ANI, AL NIMER & ALI, 2011). No estudo Eurodiab de ELLIOT
et al. (2009), observaram que o colesterol total, HDL-c, LDL-c e os triglicerídeos estavam
associados à NDP, avaliada através de testes para a sensibilidade vibratória. Mostrou-se inclusive,
neste estudo, que os triglicerídeos eram fator de risco independente para NDP.
Os mecanismos através dos quais a hiperlipidemia pode levar à neurotoxicidade no DM
pode envolver a apoptose das células de Schwann, responsáveis pela produção da mielina.
PADILLA et al. (2011), observaram que células de Schwann expostas ao ácido graxo saturado
ácido palmítico associadas a concentrações elevadas de glicose apresentavam um grau maior de
apoptose. Devemos lembrar também que a hipóxia tecidual é frequente em portadores de DM, o que
agrava a peroxidação dos lipídios, aumentando a disfunção e morte celulares. A redução da mielina,
por sua vez, ocasionando desmielinização dos nervos e degeneração axonal, levando à neuropatia
periférica.
Este estudo visa, portanto, avaliar a presença de sintomas de polineuropatia diabética em
portadores de diabetes mellitus com e sem dislipidemia, correlacionar escores de sintomas de
polineuropatia diabética com níveis de colesterol total, HDL-colesterol, LDL-colesterol e
triglicerídeos; e comparar escores de sintomas de polineuropatia diabética entre usuários e nãousuários de medicações hipolipemiantes.
METODOLOGIA
1. Casuística
Foram incluídos na pesquisa 14 (quatorze) portadores de diabetes mellitus (DM) com ou
sem neuropatia diabética atendidos no ambulatório de Endocrinologia da Policlínica Codajás, do
Sistema Único de Saúde (SUS), conveniada com a Universidade Nilton Lins. A seleção dos
pacientes ocorreu a partir do final do mês de dezembro de 2012, quando ocorreu a aprovação pelo
Comitê de Ética da Universidade Nilton Lins, até o mês de junho de 2013.
1.1. Critérios de exclusão:
Foram excluídos do estudo: portadores de outras doenças que cursam com neuropatia
periférica; usuários de medicações que causem sintomas de neuropatia periférica; pacientes
menores de 18 anos de idade; gestantes; e pacientes que não podiam colaborar com a pesquisa.
67
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
2. Desenho do estudo
Este é um estudo observacional, prospectivo, sobre os escores de sintomas de neuropatia
diabética periférica (NDP), avaliados através de questionários internacionalmente aplicados a esta
finalidade (Anexos I e II) (BAKHSHAYESHI et al., 2011), e sua correlação com os níveis médios
de colesterol total, HDL-colesterol, LDL-colesterol e triglicerídeos, assim como o uso de
medicações hipolipemiantes (Anexo III) em portadores de DM. Para o diagnóstico de neuropatia
diabética, foi utilizado um resultado maior ou igual a 7 no Escore de Neuropatia Diabética de
Michigan (MDNS) (anexo II).
O perfil lipídico foi medido através dos testes comerciais nos laboratórios indicados pelo
serviço de saúde onde o paciente foi atendido. Não houve interferência da pesquisa ou dos
pesquisadores sobre os exames solicitados. Foram considerados, tanto para o diagnóstico quanto
durante o seguimento dos pacientes, os níveis de lípides recomendados pelas diretrizes da
Sociedade Brasileira de Cardiologia (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2007).
3. Etapas do estudo
Após a seleção dos portadores de DM, foram realizadas as seguintes etapas:
- Coleta de dados de identificação e clínico-laboratoriais de cada paciente oriundos de seus
prontuários médicos, os quais foram anotados em uma ficha de cadastro (Anexo III). Os dados
laboratoriais foram os solicitados rotineiramente pelo médico assistente do paciente.
- Avaliaram-se os sintomas de NDP do indivíduo, através de escores de sintomas já
utilizados internacionalmente (POP-BUSUI et al., 2009), os quais foram preenchidos durante
entrevista em formulários semi-estruturados padronizados (Anexos I e II).
4. Análise estatística
Os resultados foram expressos em média  desvio-padrão. Como até o presente momento o
número de sujeitos selecionados para a pesquisa não foi suficiente para a utilização de testes
paramétricos, foram utilizados, para análise estatística, testes não-paramétricos realizados através
do portal VASSARSTATS (2013). Para comparação das variáveis entre os pacientes com e sem
dislipidemia, e das variáveis entre os pacientes com e sem neuropatia periférica, foi utilizado o teste
de Wilcoxon-Mann-Whitney. Para a análise de correlação foi utilizado o teste de Pearson
(WESSA.NET, 2013). Considerou-se o nível de significância α de 0,05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
68
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
No período de dezembro de 2012 a junho de 2013, foram selecionados 14 (quatorze)
pacientes com diabetes mellitus. Os dados clínicos e laboratoriais dos pacientes estão descritos na
tabela 1.
Tabela 1. Características clínicas e laboratoriais dos portadores de diabetes mellitus
Idade (anos)
Resultados
(N=14)
53,9  6,3
Sexo Feminino (n)
11 (78,6%)
Variáveis
Tempo de DM (anos)
10,3  9,9
HAS (n)
10 (71,4%)
Usuários de estatinas (n)
6 (42,9%)
Hemoglobina glicada* (%)
Colesterol total (mg/dl)
HDL-colesterol (mg/dl)
LDL-colesterol (mg/dl)
Triglicerídeos (mg/dl)
Uréia (mg/dl)
Creatinina (mg/dl)
MNSI**
MDNS ***
8,7  3,1
208,6  25,0
47,8  8,7
116,6  31,6
238,2  79,8
41,3  13,2
0,9  0,4
2,9  1,3
9,1  7,8
DM: diabetes mellitus.
* Valores brutos, não corrigida pelo valor de referencia.
** Instrumento de rastreamento de neuropatia diabética de Michigan.
*** Escore de Neuropatia Diabética de Michigan.
Os resultados observados demonstram variação elevada no tempo de diagnóstico de diabetes
mellitus, sem muita variabilidade quanto ao sexo. Por fazer parte da síndrome metabólica, a HAS é
comum em portadores de DM, como ocorreu neste estudo. O mesmo ocorreu em relação à
hipertrigliceridemia e à diminuição do HDL-colesterol, que também fazem parte da síndrome
metabólica.
A hemoglobina glicada está representada com valores brutos não corrigidos, da maneira
apresentada pelos laboratórios de análises clínicas. Como ainda existe grande variabilidade entre os
métodos de análise de hemoglobina glicada, também ainda existem muitos valores de referencia
69
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
diferentes entre os diversos laboratórios, indo de 6 até 9,2 %. Esta variabilidade dos valores de
referencia dificultou a análise desta variável.
Dos 14 pacientes, 9 apresentavam dislipidemia no momento da avaliação, dos quais 6
(66,7%) utilizavam estatina como tratamento. A distribuição dos pacientes de acordo com a
presença de dislipidemia é apresentada na tabela 2.
Como esperado, pela associação na síndrome metabólica, a prevalência de HAS foi maior no
grupo com dislipidemia do que no grupo sem dislipidemia.
Tabela 2. Distribuição das características clínicas e laboratoriais de acordo com a presença de dislipidemia
Com
Dislipidemia
N=9
53,9  6,3
Sem
Dislipidemia
N=5
49,8  3,6
NS
Sexo Feminino (n)
7 (77,8%)
4 (80,0%)
NS
HAS (n)
8 (88,9%)
2 (40,0%)
0,05
Idade (anos)
Tempo de DM (anos)
Hemoglobina glicada* (%)
Colesterol total (mg/dl)
HDL-colesterol (mg/dl)
LDL-colesterol (mg/dl)
Triglicerídeos (mg/dl)
MNSI**
MDNS***
10,3  9,9
8,7  3,1
208,6  25,0
47,8  8,7
116,6  31,6
238,2  79,8
2,9  1,3
9,1  7,8
11,8  3,1
7,2  2,9
164,4  18,0
55,0  8,3
85,8  8,7
117,0  28,7
2,8  1,9
7,6  6,8
P
NS
<0,05
NS
<0,05
<0,01
NS
NS
DM: diabetes mellitus; NS: não significativo.
* Valores brutos, não corrigida pelo valor de referencia.
** Instrumento de rastreamento de neuropatia diabética de Michigan.
*** Escore de Neuropatia Diabética de Michigan.
Foram considerados como sendo portadores de neuropatia diabética periférica os pacientes
que tinham Escore de Neuropatia Diabética de Michigan (MDNS). Dos 14 pacientes, 7 (50%)
apresentavam neuropatia diabética pelo MDNS. Houve uma correlação significativa, de 0,71
(p<0,01) entre o MNSI e o MDNS. Não houve correlação significativa entre o colesterol total e o
MDNS (correlação: 0,2103), nem entre o LDL-c e o MDNS (correlação: 0,2603) e nem entre o
MDNS e os triglicerídeos (correlação: 0,0390). A comparação entre os pacientes com e sem
neuropatia diabética periférica estão apresentadas na tabela 3.
70
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Tabela 3. Distribuição das características clínicas e laboratoriais de acordo com a presença de neuropatia
diabética pelo Escore de Neuropatia Diabética de Michigan (MDNS)*
Com Neuropatia
N=7
52,9  6,0
Sem Neuropatia
N=7
52,0  5,8
NS
Sexo Feminino (n)
4 (57,1%)
7 (100,0%)
0,05
HAS (n)
6 (85,7%)
4 (57,1%)
NS
Idade (anos)
Tempo de DM (anos)
Hemoglobina glicada** (%)
Colesterol total (mg/dl)
HDL-colesterol (mg/dl)
LDL-colesterol (mg/dl)
Triglicerídeos (mg/dl)
MNSI***
13,7  9,2
7,7  1,4
198,7  34,1
47,7  5,9
118,3  30,0
186,0 88,7
3,7  1,4
8,0  6,0
8,6  3,7
186,9  29,2
53,0  10,8
93,0  24,7
203,9  94,1
2,0  1,0
P
NS
NS
NS
NS
NS
<0,05
DM: diabetes mellitus; NS: não significativo.
* Considerados portadores de neuropatia diabética os pacientes com escore  7 no MDNS.
** Valores brutos, não corrigida pelo valor de referencia.
*** Instrumento de rastreamento de neuropatia diabética de Michigan.
Havia um número significativamente menor de mulheres no grupo com NDP do que no
grupo sem NDP. Os resultados demonstram, porém, que não houve outras diferenças significativas
entre os pacientes com e sem NDP, o que pode ser devido a casuística ainda pequena do estudo. A
ausência de diferença de idade entre os pacientes com e sem NDP mostra que este não é um fator
preponderante no aparecimento desta complicação do DM. Mas, quanto ao tempo de doença, não se
pode descartar que apareça relação com NDP com o aumento da casuística.
Como esperado, o MNSI foi maior nos portadores de NDP, corroborando a correlação
significativa entre os dois métodos de avaliação da neuropatia.
71
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O diabetes mellitus (DM) é uma doença crônica de prevalência elevada que apresenta
diversos tipos de complicações, com alterações do sistema nervoso periférico e autonômico, com
variadas repercussões clínicas, dentre eles a neuropatia diabética periférica (NDP), associadas à
hiperglicemia e dislipidemia, deletérias à saúde, predispondo a amputações e ulcerações, vistas na
progressão das complicações crônicas do DM.
Observou-se que, se comparados, o instrumento de rastreamento de neuropatia diabética de
Michigan (MNSI) e o escore de Neuropatia Diabética de Michigan (MDNS) não apresentaram
diferenças significativas. Utilizando estes escores, verificou-se que a NDP é muito frequente nos
portadores de DM.
Não se observou, até o presente momento, associação entre dislipidemia e neuropatia
diabética periférica. Porém, a casuística do estudo ainda é pequena para que se possa tirar
conclusões definitivas sobre esta ausência de associação. O aumento da casuística permitirá
conclusões definitivas sobre a associação entre as variáveis e a neuropatia diabética periférica.
REFERÊNCIAS
AL-ANI, F.S.; AL-NIMER, M.S.; ALI, F.S. Dyslipidemia as a contributory factor in
ethipatogenesis of diabetic neuropathy. Indian J Endocrinol Metabol, Mumbai, v. 15, n. 2, p.110114, Apr-Jun. 2011.
BAKHSHAYESHI, S. et al. Effects of Semelil (AngiparsTM) on diabetic peripheral neuropathy:
A randomized, double-blind Placebo controlled clinical trial. DARU, Tehran, v.19, n. 1, p. 6570, Jan. 2011.
BRUCE, S.G.; YOUNG, T.K. Prevalence and risk factors for neuropathy in Canadian First
Nation Community. Diabetes care, Alexandria, v.31, p. 1837-1841, Sep. 2008.
CORNBLATH, D.R. Diabetic neuropathy: diagnostic methods. Adv Stud Med, v. 4, n. 8A, p.
S650-S661, Sep. 2004.
ELLIOTT, J. et al. Eurodiab prospective complications study group. Large fiber dysfunction in
diabetic peripheral neuropathy is predicted by cardiovascular risk factors. Diabetes care,
Alexandria, v.32, p. 896-1900, Oct. 2009.
PADILLA, A. et al. Hyperglycemia Magnifies Schwann Cell Dysfunction and Cell Death
Triggered by PA-Induced Lipotoxicity. Brain Research, Amsterdam, v. 1370, p. 64-79, Jan.
2011.
72
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
POP-BUSUI, R. et al. Prevalence of diabetic peripheral neuropathy and relation to glycemic
control therapies at baseline in the BARI 2D cohort. J Peripher Nerv Syst, New York, v. 14, n. 1,
p. 1–13, Mar. 2009.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e
Prevenção de Aterosclerose. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v. 88, Supl. I, p. 219, Apr. 2007.
VASSARSTATS: WEBSITE FOR STATISTICAL COMPUTATION. Disponível em:
<http://www.vassarstats.net/utest.html> . Acesso em 26 de agosto de 2013.
WESSA.NET - FREE STATISTICS AND FORECASTING SOFTWARE. Disponível em:
<http:// www.wessa.net/>. Acesso em 26 ago. 2013.
73
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
ESTUDO DAS MANIFESTAÇÕES RADIOGRÁFICAS EM PACIENTES
COM HANSENÍASE
KALINE THAÍS FERNANDES BARROS1; HELENA LÚCIA ALVES PEREIRA2
RESUMO: O comprometimento osteoarticular na hanseníase é importante causa de incapacidade física
permanente e a avaliação radiográfica desses pacientes permite melhor acompanhamento e manejo
terapêutico clínico ou cirúrgico das lesões articulares a fim de evitar sequelas irreversíveis. O estudo avaliou
as alterações osteoarticulares por meio de radiografias em pacientes com hanseníase atendidos no
ambulatório de hansenologia da Fundação Alfredo da Matta. Foram incluídos 20 pacientes, com predomínio
da forma virchowiana, As alterações observadas nas mãos foram aquelas relacionadas ao comprometimento
inflamatório; nos pés predominaram as lesões relacionadas a sequelas neurológicas da hanseníase.
PALAVRAS-CHAVE: Osteoarticular. Complicações. Sequelas. Lesões ósseas.
INTRODUÇÃO
A hanseníase é endêmica no Brasil. O número de casos registrados posiciona o país como o
segundo no mundo, sendo um dos poucos na América Latina a registrar crescimento das taxas de
detecção de casos. É uma doença granulomatosa, infecciosa e crônica, causada pelo Mycobacterium
leprae, bacilo intracelular obrigatório que afeta, principalmente, a pele e os nervos periféricos. Sua
manifestação clínica inclui um amplo espectro que varia de acordo com a resposta imunológica do
paciente.
Os sintomas osteoarticulares são queixas comuns dos pacientes com hanseníase e
podem ocorrer em qualquer época da evolução da doença (VERARDINO et al).
As primeiras referências ao comprometimento osteoarticular foram observadas nos
escritos de Nei Ching, em 600 a.C., na China que descreveu
edema das articulações
(VERARDINO et al).
A classificação de Madri (1953) adota critérios de polaridade, baseados nas características clínicas
da doença, que foram acrescidos pelos aspectos bacteriológicos, imunológicos e histológicos da
hanseníase, definindo os grupos polares, tuberculoide (T) e virchoviano (V) ou lepromatoso (L); o
grupo transitório e inicial da doença, a forma indeterminada (I); e o instável e intermediário, a
forma borderline (B) ou dimorfa (D) (VERARDINO et al).
1
Acadêmica de Medicina da Universidade Nilton Lins. Av. Professor Nilton Lins, 3259. Parque das Laranjeiras - CEP:
69058-030 - MANAUS (Amazonas). E-mail: [email protected]
2
Professora de Reumatologia da Universidade Nilton Lins. Av. Professor Nilton Lins, 3259. Parque das Laranjeiras CEP: 69058-030 - MANAUS (Amazonas). E-mail: [email protected]
74
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
A classificação de Ridley e Jopling (1966) adota subgrupos dentro do espectro, que obedece,
critérios clínicos e bacteriológicos, e enfatiza os aspectos imunológicos e histopatológicos. Siglas
são utilizadas para indicar as duas formas polares tuberculoide-tuberculoide (TT) e lepromatosolepromatoso (LL) e os três subgrupos: borderline-tuberculoide (BT), borderline- borderline (BB),
borderline-lepromatoso (BL) (VERARDINO et al).
As lesões osteoarticulares atribuídas à hanseníase podem ser divididas em específicas
e não-específicas (FAGET GH; MAYORAL A.). As lesões específicas são observadas nos
pacientes com hanseníase virchowiana e sua frequência varia de 3 a 5%. São decorrentes da invasão
óssea pelo bacilo por extensão de um foco infeccioso localizado na pele ou mucosas e acomete
principalmente ossos da face, mãos e pés. As alterações radiográficas destas lesões são cistos ósseos
isolados ou múltiplos, espessamento periosteal e aumento do forâmen nutriente dos vasos (ENNA et
al).
As lesões ósseas não-específicas são as lesões mais comuns, podendo ocorrer em
todas as formas clínicas da hanseníase. Ocorrem em 20 a 70% dos pacientes e resultam do
comprometimento dos nervos periféricos, com consequente denervação e perda da propriocepção
levando à osteoartropatia neuropática. As mãos e os pés são os locais mais frequentemente
acometidos (PEREIRA et al).
Radiograficamente, são observados vários graus de reabsorção das extremidades
distais envolvendo mãos e pés, ocasionando perda dos dígitos e osteoartropatia neuropática de
pequenas articulações. Os achados radiológicos são semelhantes às outras condições nas quais há
déficit sensorial, como esclerodermia, siringomielia e diabetes mellitus (PEREIRA et al).
O comprometimento articular inflamatório ocorre principalmente no curso das reações
hansênicas em pacientes virchowianos e nas formas instáveis da hanseníase. Manifestam-se oligo
ou poliartrites, agudas ou crônicas simulando doenças reumatologicas. O mecanismo patogênico do
envolvimento articular na hanseníase ainda não está completamente elucidado. Postula-se que a
liberação de antígenos pelos bacilos mortos poderá levar à produção de imunocomplexos
circulantes com consumo de complemento, resultando em vasculite e inflamação. Outros possíveis
mecanismos patogênicos seriam a invasão da membrana sinovial pelo bacilo ou reação a antígenos
bacterianos (PEREIRA et al).
O diagnóstico e tratamento precoces da hanseníase reduzem o ciclo de
transmissão da doença, além de prevenir o surgimento de incapacidades físicas irreversíveis
(PEREIRA et al). Por isso, o principal objetivo desse estudo é estimar a frequência das alterações
radiográficas em pacientes com diagnóstico de hanseníase.
75
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
METODOLOGIA
O estudo foi realizado no Ambulatório de Dermatologia e Venereologia da Fundação
Alfredo da Matta (FUAM) localizado em Manaus, Amazonas.
A população em estudo foi
constituída pelos pacientes com diagnóstico de hanseníase regularmente cadastrados no serviço de
hansenologia. Os critérios de inclusão foram pacientes com diagnóstico de hanseníase do sexo
masculino e feminino acima de 18 anos, que estavam em tratamento da hanseníase com
poliquimioterapia ou que tinham terminado o curso da poliquimioterapia e estavam em
acompanhamento para tratamento das reações hansênicas, ou por incapacidades. Todos os pacientes
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os critérios de exclusão foram pacientes
com comprometimento osteoarticular não relacionado à hanseníase.
Fez-se um estudo transversal e descritivo. Os pacientes foram alocados durante o
atendimento de rotina no ambulatório de hansenologia entre novembro de 2012 a janeiro de 2013.
Após seleção, um questionário considerando dados clínicos e demográficos foi aplicado a todos os
participantes. A história clínica da hanseníase foi coletada por meio de revisão de prontuário para
obter informações adicionais sobre a doença, co-morbidades e tratamento. Queixas referentes ao
comprometimento osteoarticular, como dor, edema e incapacidade funcional, foram registradas. As
informações coletadas foram registradas em um banco de dados no Microsoft Office Excel versão
11.0.
Os pacientes foram encaminhados para realizar estudo radiográfico das extremidades, pela
técnica convencional nas incidências ântero-posterior (AP) e/ou oblíquas. As radiografias foram
realizadas pelo Sistema Único de Saúde em clinicas conveniadas e foram avaliadas por um
reumatologista e um radiologista.
Os dados foram analisados de forma descritiva e apresentados em tabelas, onde
demonstram-se as frequências e médias das variáveis do estudo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O estudo incluiu 20 pacientes, sendo 13 do sexo masculino e 07 do sexo feminino, com
média de idade de 44,6 anos. A forma clínica predominante foi a virchowiana, e o tempo médio de
duração de doença foi de 9,2 ± 10,0 anos. Tabela 1.
76
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Tabela 1: Dados demográficos e distribuição da forma clinica da hanseníase dos 20 pacientes com
hanseníase
Variáveis
n
%
Sexo
Feminino
6
31,5
Masculino
13
68,4
Idade (anos) - Média ± DP
44,63 ± 13,45
Forma clinica
BB
3
15,7
BT
4
21,0
BV
3
15,7
T
1
5,2
V
8
42,1
Todos os pacientes realizaram exame radiográfico das extremidades (mãos, pés ou ambos) A
tabela 2 mostra as alterações radiográficas observadas nos 20 pacientes. Nas mãos e pés as
principais alterações foram aumento da densidade de partes moles seguida por porose justa articular
e diminuição do espaço articular.
Tabela 2: Análise das alterações radiográficas
Exames Radiográficos
n
%
Raio X
Mãos
4
21,0
Pés
7
36,8
Ambos
8
42,1
Normal
3
25,0
Alterado
9
75,0
Raio X mão
77
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Alteração no Raio X das
mãos
Aumento de partes moles
6
66,7
Porose justa articular
3
33,3
Diminuição espaço articular
3
33,3
Osteoporose
1
11,1
Normal
1
6
Alterado
14
93,3
Aumento de partes moles
6
42,8
Diminuição do espaço
5
35,7
Amputação extremidades
3
21,4
Periostite
2
14,3
Porose justa articular
2
14,3
Reabsorção distal
2
14,3
Osteoartrite
2
14,3
Subluxação articular
2
14,3
Cistos
1
7,1
Fratura
1
7,1
Osteomielite secundária
1
7,1
Osteoporose
1
7,1
Lesões osteolíticas
1
7,1
Raio X pés
Alteração no Raio X dos
pés
As lesões ósseas específicas e não específicas foram observadas somente nos pés de
pacientes com deformidades. As lesões específicas foram observadas em apenas 3 pacientes. Em
um paciente havia cistos e em dois, periostite. Com relação às lesões não específicas foram
observadas a osteoartropatia neuropática representada por amputação de extremidades e reabsorção
distal (Figura 1 e 2).
78
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Quanto às manifestações clínicas da hanseníase, onze pacientes não tinham história
de reação hansênica (57,8%) e oito tinham história atual ou pregressa de reação. O tipo de reação
predominante foi o tipo 2 ou eritema nodoso hansênico. (87,5%). Nos pacientes com reações foi
observado comprometimento articular, evidenciado por dor e edema (artrite) em uma ou mais
articulações (figura 3). Nestes pacientes as alterações radiográficas mais frequentes foram aumento
da densidade de partes moles, porose justa articular e diminuição do espaço.
Figura 1: Radiografia do pé esquerdo na incidência póstero-anterior e oblíqua de paciente com hanseníase
virchowiana mostrando sinais de reabsorção óssea das cabeças dos metatarseanos, com luxação das
respectivas articulações metatarso-falangeanas; sinais de amputação da falange distal do 2º pododáctilo;
espessamento da cortical e reação periostal do 5º metatarseano.
Figura 2: Radiografia de pé esquerdo na incidência ântero-posterior e oblíqua de paciente com hanseníase
tuberculoide, sendo evidenciado lesões osteolíticas e destrutivas no 1º, 2º, 3º e 5º metatarsiano do pé
esquerdo.
79
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Figura 3: Paciente com hanseníase dimorfa e eritema nodoso hansênico, com edema simétrico de MCFs e
IFPs, mais evidente à esquerda.
O presente estudo, apesar da pequena casuística corrobora estudos anteriores que
demonstram alta incidência de alterações osteoarticulares relacionadas à hanseníase.
Nos pacientes com deformidades predominaram as alterações ósseas não específicas, em
consonância com a literatura, onde se registra incidência de 20 a 70% deste tipo de lesão.
Como descrito na literatura entre os pacientes com queixas de dor e edema articular o polo
virchowiano reacional foi o mais frequente e as alterações radiográficas observadas, como aumento
da densidade de pares moles, porose justa articular e diminuição do espaço refletem o
comprometimento articular inflamatório.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O comprometimento osteoarticular na hanseníase é importante causa de incapacidade
física permanente. A avaliação radiográfica desses pacientes associada a dados clínicos e
epidemiológicos permitem avaliar essa consequência. Além do mais, possibilita um melhor
acompanhamento e manejo terapêutico, clínico ou cirúrgico, das lesões articulares a fim de evitar
sequelas irreversíveis.
80
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Ana Regina; RAMOS, Andréa; ARAÚJO, Marcelo; MIRANDA, Silvana. Endemias e
epidemias: tuberculose e hanseníase. – Belo Horizonte: Nescon/UFMG, 2012.
BALACHANDRA S, HOMBAL A, SUDHAKAR R, VARNA M. Radiological Changes in the
Hands and Feet of Leprosy Patients with Deformities. Journal of Clinical and Diagnostic Research.
2011 August, Vol-5(4): 703-707.
ENNA CD, JACOBSON RR, RAUSCH RO. Bone changes in leprosy: A correlation of clinical and
radiographical features. Diag Radiol 1971.
FAGET GH, MAYORAL A. Bone changes in leprosy. A clinical and roentgenologic study of 505
cases. Radiology 1944;42:1-13.
PEREIRA, H.; RIBEIRO, S.; CICONELLI, R.; FERNANDES, A. Avaliação por Imagem do
Comprometimento Osteoarticular e de Nervos Periféricos na Hanseníase. Rev Bras Reumatol, v. 46,
supl.1, p. 30-35, 2006.
PEREIRA, H.; RIBEIRO, S.; SATO, E. Manifestações Reumáticas da Hanseníase. Órgão Oficial da
Sociedade Portuguesa de Reumatologia - Acta Reumatol Port. 2008; 33: 407-14.
RIDLEY DS, JOPLING WH. Classification of leprosy according to immunity. A five group
system. Int J Lepr Other Mycobact Dis. 1996; 34(3):255-73.
VERARDINO, G.; PRESOTTO, C.; CARNEIRO, S. Comprometimento Osteoarticular na
Hanseníase. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ. Ano 10, Janeiro a Março de 2011,
45-48.
WHO. Report on the third meeting of the WHO Technical Advisory Group on the elimination of
leprosy. Geneva, WHO: 2005, WHO/CDS/CPE/CEE/2005.
81
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
HIGIENE BUCAL EM CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL E DE IDOSOS COM
CONHECIMENTO ETNOBOTÂNICO
JULIANE VIEIRA AZEVEDO1; KEILLAH MARA DO N. BARBOSA²; SUELEN COSTA
LIMA³
RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar o conhecimento e as atitudes de estudantes e idosos relacionadas à
cárie dental. O estudo foi realizado na zona Centro-Oeste da cidade de Manaus em uma escola da rede estadual Thomé
de Medeiros com crianças do ensino fundamental. Também foram pesquisados os idosos frequentadores do Parque
Municipal do Idoso da Fundação Dr. Thomas. Foi utilizado um questionário e planilhas em Excel para montagem do
banco de dados. Foram feitas entrevistas com crianças (8-10 anos) e idosos (60 a 80 anos), (critério de inclusão e
exclusão) de ambos os sexos. Os entrevistados responderam sobre hábitos de higiene bucal e para o uso de plantas que
atuam no combate à cárie e foram feitas palestras educativas. Quanto aos aspectos éticos foi obtido parecer
consubstanciado CEP-305444. Em crianças do nível fundamental, existe um conhecimento coerente sobre a cárie
dental: 34% responderam escovar os dentes três vezes ao dia; 41% relatam fazer uso do fio dental todos os dias. 43%
costumam visitar o dentista. Sobre a aplicação de flúor, 41% fizeram aplicação, enquanto outras 59%, nunca realizaram
aplicação de flúor. Quanto aos idosos à maioria não consegue manter bons níveis de higiene bucal, 88% visita o dentista
uma vez por ano, mas há uma carência grande do uso do fio dental 82%, relatam não utilizá-lo, pois usa prótese. Quanto
ao conhecimento sobre algumas plantas que possam servir como meio fitoterápico 78% responderam conhecer plantas
que possam ajudar a prevenir doenças bucais, como bochecho e cárie.
PALAVRAS-CHAVE: Educação preventiva. Plantas medicinais. Escolares. Higiene bucal.
INTRODUÇÃO
A informação preventiva sobre os cuidados com a saúde bucal têm sido destacada por
diversos pesquisadores. De acordo com Antunes et al. (1999), a falta do conhecimento sobre
cuidados necessários de higiene bucal representa um fator a ser considerado, embora estas
informações não cheguem a todos os níveis populacionais. A importância de programas
odontológicos educativos sobre prevenção é fazer com que a população obtenha mais
conhecimentos sobre prevenção de cárie, atendendo as necessidades das populações de menor
acesso aos serviços de saúde.
No Brasil, a despeito do declínio da cárie dentária documentado para os escolares, ainda
persistem importantes discrepâncias na população infantil, apresentando prevalência mais elevada
1 - Aluna do curso de odontologia da Universidade Nilton Lins/ Av. Professor Nilton Lins, 3259- Parque das
Laranjeiras- Manaus- Amazonas- Brasil. Cep: 69058-040
2 – Professora, Dra. do PPG em Biologia Urbana, Orientadora da Universidade Nilton Lins /Av. Professor Nilton Lins,
3259- Parque das Laranjeiras- Manaus- Amazonas- Brasil. Cep: 69058-040. Email: [email protected]
3- Aluna de mestrado em Biologia Urbana da Universidade Nilton Lins/ Av. Professor Nilton Lins, 3259- Parque das
Laranjeiras- Manaus- Amazonas- Brasil. Cep: 69058-040
82
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
nas crianças em idades escolares e uma situação bastante grave entre adultos e idosos. Dessa forma,
desenvolver ações de saúde bucal direcionadas a grupos populacionais com conhecimento sobre a
situação epidemiológica pode ser conseguido por meio de levantamentos de Índices, coeficientes,
taxas e razões os quais são instrumentos utilizados nas pesquisas epidemiológicos, de acordo com
as características de cada doença ou agravo (NEWMAN et al. 2004).
Conceitua-se a cárie dentária como um processo anormal. Porque um indivíduo que vivia
em condições naturais, isto é, o homem primitivo, não desenvolvia uma lesão no esmalte que
pudesse ser considerada cárie dentária, por estar inserido em uma biodiversidade comandada pela
natureza. Apesar de todos os elementos serem necessários para desenvolver uma cárie, havia uma
condição de desequilíbrio e reequilíbrio, que eram denominados pelo fenômeno da
desmineralização e remineralização, mediadas pela saliva, que mantinha a estrutura do esmalte
dentário intacto (OLIVEIRA et al., 1999).
Portanto, cabe esclarecer os temas relacionados à cárie dentária e tentar explicar como
fatores isolados, como microrganismos, dieta e suscetibilidade dentária podem resultar em
conceitos de “causa e efeito” influenciando profundamente a maneira pela quais programas de
educação e informação são projetados, sem efetiva redução da incidência de cárie (NEWMAN,
2004).
De acordo com Oliveira et al. (1999), para a realização de levantamentos epidemiológicos
é necessário que haja uniformidade metodológica de procedimentos, entre os quais citam a escolha
da amostra, os critérios de avaliação, os instrumentos a serem utilizados e a apresentação de dados,
de modo a viabilizar a sua reprodutibilidade, nas mesmas condições, e em qualquer situação ou
lugar, por profissionais da área de Saúde Bucal ou Saúde Coletiva. Com isso o objetivo deste
trabalho é avaliar o conhecimento e as atitudes relacionadas à prevenção da cárie dental em crianças do
ensino fundamental e de idosos com conhecimento etnobotânico, bem como seu comportamento com relação
à higiene bucal.
MATERIAL E MÉTODOS
Localização da área de Estudo
O estudo foi realizado na zona Centro- Oeste da cidade de Manaus em uma escola da rede
estadual Thomé de Medeiros com crianças do ensino fundamental. Também foram pesquisados os
idosos freqüentadores do Parque Municipal do Idoso da Fundação Dr. Thomas.
Procedimentos
83
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
O material utilizado para a pesquisa teve como instrumento um questionário impresso
com perguntas abertas e fechadas, planilhas em Excel para montagem do banco de dados.
Foram feitas entrevistas com crianças de ensino fundamental entre oito e dez anos de
idade e idosos moradores do Dr. Thomas (60 a 80 anos), (critério de inclusão e exclusão) e ambos
os sexos. Os entrevistados responderam sobre hábitos de higiene bucal e para o uso de plantas que
atuam no combate à cárie. O tamanho amostral para as crianças foi igual a 100 e para os idosos
iguais a 50 entrevistados.
Obteve-se a aprovação do projeto pelo comitê cientifico, e um relatório final será enviado
ao comitê de ética da Instituição, como resultado do parecer consubstanciado CEP-305444.
Foram feitas palestras educativas de acordo com a demanda da comunidade na
infraestrutura utilizada para a coleta de dados.
As Palestras para as crianças abordaram os seguintes temas:
Palestra 1 – Higiene bucal em crianças do ensino Fundamental;
Palestra 2- Cuidados gerais e higiene oral para prevenção de cáries em crianças.
A palestra educativa para o grupo de idosos da Fundação Dr. Thomas foi:
Palestra 1 – Higiene bucal em idosos e com conhecimento etnobotânico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O tema permitiu identificar algumas tendências: ações curativas e preventivas; ações
preventivas por meio de bochechos que podem ser feito por meio de plantas medicinais que
proporcionam uma ação preventiva viabilizando a saúde bucal mais saudável do idoso; prevenção e
práticas educativas de conscientização para idosos e para crianças do ensino fundamental.
De acordo com os resultados a frequência com que os idosos visitam o dentista foi de uma
vez por mês (2%); e a cada seis meses (10%), e uma vez ao ano (88%). A frequência que os idosos
escovam os dentes foi registrada: duas vezes ao dia 14%, três vezes ao dia 64%, cinco vezes ao dia
22% (Figura 1). Quanto ao uso da escova de dente, 78% disseram manter sempre a escova nova, e
outros 22% não mantêm escova nova, 2% relatam trocar a escova cada quinze dias, 12% a cada
mês, 48% a cada dois meses, 20% a cada três meses 8% a cada quatro meses, e 10% a cada seis
meses. Perguntados sobre o uso de fio dental (Figura 2), 18% relatam o uso do fio dental após cada
refeição, 82% não usam fio dental porque relatam não precisarem, pois usam prótese. Para os idosos
que utilizam fio dental, 4% relatam usar somente quando acorda outros 4% depois do almoço, e 10
% somente após o jantar.
84
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Figura 1 – Frequência de escovação durante o dia Figura 2 – Frequência do uso do fio dental durante o
relatada pelos Idosos do Parque do idoso da dia relatada pelos idosos do Parque do idoso na
Fundação Dr. Thomas. Manaus, 2013.
Fundação Dr. Thomas. Manaus, 2013.
Sobre o conhecimento de cárie entre os idosos, 84% responderam que sabem o que é cárie
e 16% responderam não saber a respeito (Figura 3), apenas 18% responderam quais as doenças que
podem ocasionar a cárie dentária, outros 82% não souberam responder. Um alto índice de cárie foi
encontrado: 92% já apresentaram cárie e outros 8% nunca apresentaram nenhuma cárie (Figura 4).
Figura 3 - Conhecimento de idosos sobre o que é
Figura 4 –Incidencia de cárie dentária em idosos
cárie dental. Manaus, 2013.
entrevistados com idade entre 60-80 anos. Manaus,
2013
Quanto ao conhecimento etnobotânico, 78% responderam conhecer plantas que possam
ajudar a prevenir doenças bucais, 18% relatam que a planta jucá serve como bochecho para prevenir
a cárie, outras 14% responderam que a hortelã serve para eliminar placa dentária, 2% pião branco
que é feito através do leite extraído da planta, 16% cajueiro, 28% crajiru, 76% como chá, outros
2% utilizam o sumo, 78% utilizam como bochecho (Figura 5).
85
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Figura 5 - Conhecimento sobre plantas medicinais, que possa servir como prevenção a cárie, relatados
por idosos. Manaus, 2013.
Os resultados da coleta de dados com crianças do ensino fundamental da faixa etária de
oito a dez anos foram: Sobre a frequência com que escovam os dentes ao dia, 30% relatam escovar
os dentes somente quando acordam, 22% só após o almoço, 14% só após o jantar, 34%
responderam escovar os dentes três vezes ao dia, 61% responderam que a escova sempre está nova,
39% disseram que a escova tem muito tempo de uso (Figuras 6 e 7).
Figura 6 - Frequência com que escolares de oito
Figura 7- Número de escolares que relatam manter
a dez anos de idade escovam os dentes por dia.
a escova sempre nova. Manaus, 2013.
Manaus, 2013.
Quanto ao uso do fio dental, 1% relata usar todos os dias, outros 59% não usam, e 2% usam
somente quando acordam, 21% somente após o almoço, 12% após o jantar, 6% usam três vezes ao
dia, 67% responderam que tem conhecimento sobre o que é cárie dental, e outros 33% não tem
conhecimento, 83% já tiveram cárie, outros 17% responderam que nunca apresentaram cárie, 43%
costumam visitar o dentista, outros 57% não frequentam há algum tempo (Figuras 8 e 9).
86
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Figura 8 -
Frequência de escolares com
conhecimento sobre é cárie dental. Manaus,
Figura 9 - Frequência que os escolares relatam
visitar o dentista.
2013.
Sobre a aplicação de flúor, 41% de crianças relataram ter feito aplicação, enquanto outras
59% nunca realizaram aplicação de flúor.
De acordo com Muller (2002) é necessário também um conhecimento do professor sobre
higiene bucal, sabendo-se que atua como multiplicador de informações e formador de opiniões. A
interação professor e aluno fazem-se necessária para que a construção do conhecimento seja
alcançada, realizando programas preventivo-educativos em saúde bucal, os quais deveriam utilizar
estes métodos como transmissão de conceitos para melhor aprendizado.
A falta de conhecimentos e prática sobre a higiene bucal, que é a falta de educação
preventiva como conscientização dos alunos e dos professores, é notória quando os alunos são
questionados sobre o tema, pois a incidência de cárie nesta faixa etária é bastante ampla, conforme
mostrou esta pesquisa concordando com o trabalho de Muller (2002).
Quanto aos idosos, a maioria não consegue manter bons níveis de higiene bucal
necessitando muitas vezes do auxílio dos cuidadores para realizá-la. Esse estudo ampliou o
conhecimento sobre saúde bucal do idoso, pois acredita-se que conhecer a condição bucal das
pessoas deve ser o primeiro passo na elaboração de uma programação que alterne entre ações
educativas que sejam facilitadoras de hábitos saudáveis de modo a ser melhor culturalmente aceito.
Neste âmbito, pôde-se falar de medicamentos alternativos que podem prevenir cáries ou outras
doenças bucais, tais como o uso de plantas como chá, enxágues, dentre outros. No entanto as
plantas medicinais que se destacaram foram hortelã, jucá, Pião branco, crajiru e cajueiro,
proporcionando alternativas de tratamento econômicas para afecções odontológicas.
87
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
CONCLUSÃO
O grande número de idosos que não utilizam o fio dental demonstrou que a falta do uso vai
além do não conhecimento da necessidade como um auxiliar da higiene bucal, pois a maioria deles
não possui a dentição e utiliza prótese total. Esses idosos, provavelmente, não tiveram acesso aos
serviços odontológicos, devido a indisponibilidade dos mesmos na infância e adolescência.
Entre os idosos, a maioria tem conhecimento de meios alternativos para saúde oral. A
citação quando entrevistados quanto ao uso de fitoterápicos para a prevenção da cárie é comum,
entretanto, o índice de cárie entre os idosos apresentou-se muito alto, talvez isso esteja ligado ao
conhecimento dessas alternativas, sem o uso das plantas curativas.
Em contrapartida, as crianças de ensino fundamental de escola pública, demonstraram ter
maior acesso ao sistema de saúde ambulatorial de odontologia. Eles estão mais esclarecidos sobre o
tema de um modo geral.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, J.L.F. et al. Risco de cárie dentária em escolares de 5 a 12 anos, nos distritos do
município de São Paulo, 1996. VI Congresso Paulista de Saúde Pública. Águas de Lindóia (SP), 1720 out. 1999. Caderno de Resumos. 1999. p. 34.
CAMPOS, J.A.D. B; GARCIA, P.P.N.S. Comparação do conhecimento sobre cárie dental e higiene
bucal entre professores de escolas de ensino fundamental, Cienc. Odontol. Bras., Araraquara, SP,
jan./mar. 7 (1): p. 58-65, 2004.
MULLER, L. S. A. Interação professor-aluno no processo educativo. Integração Ensino Pesquisa
Extensão nov, 8(31): p. 276-80, 2002.
NEWMAN, M. G. Periodontia clínica . Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2004.
OLIVEIRA, F. Privatização do público, destituição da fala e anulação da política: o totalitarismo
neoliberal in OLIVEIRA, Francisco de & PAOLI, Maria Célia (orgs) Os sentidos da democracia:
políticas do dissenso e hegemonia global. Petrópolis: Vozes, 1999. p. 55- 81.
88
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
ANOMALIAS CROMOSSÔMICAS EM GATOS (Felis catus domesticus) NA CLÍNICA
VETERINÁRIA DA UNIVERSIDADE NILTON LINS
BARBARA ANNE DE SOUZA FREIRE1; ISOLDA SOUZA PEREIRA2; LUIS EDUARDO
SARMIENTO LOZANO3; WALTER DE JESUS GARCIA PARRA4
RESUMO: Sabe-se gato doméstico possui 18 pares de cromossomos autossômicos e um par de cromossomos sexuais
resultando em um número diploide 2n= 38 cromossomos e com uma estrutura cromossômica devidamente classificada
em cromossomos metacêntricos e submetacêntricos (Lyons, 2012) e mesmo sendo conhecido a sua estrutura cariotípica
poucos estudos ainda são realizados relacionados à anomalias cromossômicas nesses animais. O presente trabalho teve
como objetivo aprofundar os estudos citogenéticos realizados em felinos. A partir da execução do protocolo para
obtenção de metáfases a partir da cultura de leucócitos do sangue periférico que teve como base o que é usado para
seres humanos chegou-se à conclusão de que alterações precisavam ser feitas no protocolo para que o mesmo fosse
mais adequado para os felinos. Após a essa adaptação, metáfases de melhor qualidade puderam ser obtidas, porém ainda
não ideais para montagem do cariótipo desses animais. Para realizar estudos citogenéticos é necessário dispor de
bastante tempo e dedicação para se obter um resultado final satisfatório, por isso é importante que mais estudos nessa
área sejam realizados, não só para felinos como também para outras espécies de animais.
PALAVRAS-CHAVE: Cromossomos. Gatos. Metáfases. Citogenética. Anomalias.
INTRODUÇÃO
As anomalias cromossômicas reportadas em gatos domésticos geralmente não são
detectadas a menos que sejam realizadas análises cariotípicas. Quando realizados os estudos dos
cromossomos do gato é possível observar, por exemplo, a monossomia do X, descrita como a
ausência de um cromossomo X (Nicholas, F. W., 2011)
Outra condição também reportada em animais domésticos inclusive em gatos é conhecida
como sítios frágeis (Nicholas, F. W., 2011). Os sítios frágeis são locais específicos que exibem uma
instabilidade cromossômica e são observados como espaços ou quebras nos cromossomos
metafásicos (Durkin & Glover, 2007).
Ocasionalmente, também são registrados gatos “tortoiseshell” machos, (Nicholas, F. W.,
2011). Uma das explicações para o aparecimento de gatos “tortoiseshell” machos é uma
1
Acadêmica da Universidade Nilton Lins. Avenida Prof. Nilton Lins, 3250- Parque das Laranjeiras. Manaus/AM. CEP
69058 – 040. E-mail: [email protected]
2
Acadêmica da Universidade Nilton Lins. Avenida Prof. Nilton Lins, 3250- Parque das Laranjeiras. Manaus/AM. CEP
69058 – 040. E-mail: [email protected]
3
Professor do Curso de Medicina Veterinária/Universidade Nilton Lins. Avenida Prof. Nilton Lins, n º 3259 - Parque
das Laranjeiras– Manaus/AM. CEP 69058 – 040. E-mail: [email protected]
4
Professor do Curso de Medicina Veterinária/Universidade Nilton Lins. Avenida Prof. Nilton Lins, n º 3259 - Parque
das Laranjeiras– Manaus/AM. CEP 69058 – 040. E-mail: [email protected]
89
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
constituição anormal dos cromossomos sexuais, devido à presença de um cromossomo X extra
(Vella, C., et al 2005).
Também foi observada em gatos a reversão sexual XY, onde esses indivíduos irão possuir o
cariótipo XY, ou seja, o cariótipo de um macho normal, mas fenotipicamente serão fêmeas
(Ostrander, E., et al 2006).
Considerando que em muitos casos cariótipos anormais podem ser observados em animais
saudáveis e de alta produção, cariótipos normais também podem ser vistos em animais doentes ou
improdutivos (Nicholas, F. W., 2011), o objetivo deste trabalho foi estudar as anomalias
cromossômicas numéricas e estruturais e aprimorar a técnica de obtenção de metáfases em gatos
(Felis catus domesticus) a partir da cultura de leucócitos.
MATERIAL E MÉTODOS
Animais e procedimentos gerais
Neste projeto foram utilizou-se o sangue periférico de 7 gatos domésticos (Felis
catus domesticus) escolhidos aleatoriamente e 1 gato selecionado após uma possível suspeita de
alteração cromossômica, todos com idade superior a 6 meses e com peso acima de 2 quilogramas. O
material coletado para obtenção de metáfases foi obtido de gatos atendidos nas clínicas veterinárias
mencionadas durante o período compreendido entre o mês de novembro de 2012 e o mês de maio
de 2013.
Foi coletado 1 ml de sangue periférico de cada animal com a seringa do tipo insulina
e o material sanguíneo armazenado em tubos de heparina de lítio e transportados para
processamento em laboratório no período de até 24 horas.
Obtenção das metáfases
Foi utilizada a técnica para obtenção de metáfases a partir da cultura de leucócitos do
sangue periférico descrita por Beiguelman (1982), para estudos cromossômicos de humanos e
posteriormente modificada por Ruddle, F. H.(2004), para estudo cromossômico de humanos em geral,
com modificações posteriores feitas em laboratório para estudo de cromossomos de gatos. A
metodologia usada neste trabalho (Cultura celular, colchicinização, hipotonização e fixação) consiste
em:
1- Ligar a Capela de Fluxo Laminar, deixar por 30 minutos a UV em funcionamento.
2- Preparar o meio de cultura (meio pronto) adicionando em um tubo falcon 7,5 ml de RPMI +
1,5 de soro fetal bovino + 0,2 ml de fitohemaglutinina.
90
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
3- Adicionar a um tubo de eppendorf 1 ml do meio pronto e 3 gotas do sangue.
4- Levar o material para a estufa a 37°C por 72 horas.
5- 2 horas antes de retirar o material da estufa, adicionar 25 µl de colchicina.
6- Após completar as 72 de cultura, retirar o material da estufa e centrifugar por 5 minutos a
2500 rpm.
7- Extrair o sobrenadante, deixando 0,250 ml aproximadamente no tubo e resuspender o
material.
8- Em um tubo novo adicionar 1,25 ml de solução hipotônica (0,4026 gr de KCL + 100 ml de
H2O) pré aquecida no banho maria a 37 °C.
9- Retirar do tubo com uma pipeta o material resuspendido.
10- Deixar cair o material resuspendido pela parede do novo tubo com calma.
11- Deixar o material por 20 minutos no banho maria a 37°C.
12- Após retirar do banho maria, centrifugar o material por 5 minutos a 2500 rpm, extrair o
sobrenadante e resuspender o restante.
13- Em um tubo novo adicionar 0,750 ml de carnoys (3 partes de metanol ou etanol + 1 parte de
ácido acético).
14- Retirar o resuspendido com a pipeta.
15- Esvaziar e pipeta com o resuspendido com força, e resuspender a mistura 2 a 3 vezes.
16- Deixar repousar a preparação em ambiente por 20 minutos.
17- Centrifugar por 5 minutos a 2500 rpm, eliminar o sobrenadante e resuspender o restante.
18- Repetir o procedimento 13, 14, 15 2 vezes mais.
19- Antes da última centrifugação, levar a amostra a geladeira por 30 minutos e depois
centrifugar por 5 minutos a 2500 rpm.
20- Eliminar o sobrenadante deixando 0,500 ml de líquido por cima do precipitado.
21- Retirar as lâminas previamente colocadas na geladeira para iniciar a montagem das laminas
(as laminas devem estar geladas).
22- Banhar as lâminas com a solução de extensão (ácido acético 40% em água).
23- Sem deixar a lamina secar pingar de 3 a 4 gotas do material resuspendido a uma altura de 40
a 50 cm.
24- Deixar a lâmina com as gotas secar ao ambiente.
25- Adicionar o corante (GIEMSA) na lâmina e deixar por 10 minutos.
26- Retirar o GIEMSA, lavar a lâmina para retirar o excesso e deixar secar ao ambiente para
posterior visualização.
91
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os primeiros estudos dos cromossomos do gato doméstico (Felis catus domesticus)
revelaram um cariótipo facilmente distinguível constituído por 18 pares autossomos e um par de
cromossomos sexuais, sendo assim 19 pares de cromossomos, resultando em um número diplóide
2n=38 de cromossomos (Lyons, 2012).
Para a obtenção desses cromossomos num primeiro momento foi utilizado o protocolo para
obtenção de metáfases que é utilizado para humanos. O material sanguíneo de 4 animais foram
submetidos a esse protocolo, porém observou-se que as metáfases resultantes dessa cultura não
eram de boa qualidade como é possível observar na figura 1, pois os cromossomos se encontravam
muito inchados, espiralados e com uma coloração escura, dificultando assim a visualização e
classificação dos cromossomos.
Figura 1: Metáfases de Gato Fêmea (04) com objetiva de aumento de 40x.
Após o primeiro procedimento de cultura do sangue, foram realizadas alterações no
protocolo para que as próximas 4 amostras pudessem resultar em melhores metáfases. Uma das
alterações feitas foi em relação à quantidade de colchicina adicionada à amostra durante o
procedimento de cultura, passando de 12,5 µl para 25 µl, o tempo em que a amostra era submetida à
colchicinização também foi alterado de 10 minutos para 2 horas. Em relação à montagem das
lâminas passou a ser utilizada a solução de extensão visando à expansão dos cromossomos na
lâmina. Com essas alterações foi possível obter metáfases com uma qualidade razoável, mas ainda
não ideais como pode ser observado na figura 2.
92
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Figura 2: Metáfases de Gato Macho (04) com objetiva de aumento de 100x.
CONCLUSÃO
Com base nos resultados obtidos, nas condições laboratoriais em que foi realizada a
pesquisa pode-se concluir:
- As metáfases dos gatos podem ser obtidas através da utilização da colchicinização, hipotonização
e fixação, de células em suspensão obtidas a partir da cultura de leucócitos do sangue periférico.
- Essa metodologia possibilitou a obtenção de um alto índice mitótico das suspensões celulares dos
gatos estudados (Felis catus domesticus).
- As preparações cromossômicas obtidas neste estudo não são ideais para a contagem e
identificação dos tipos cromossômicos.
- Os cromossomos observados apresentaram-se indistinguíveis e sobrepostos impossibilitando
assim a contagem dos cromossomos e sua identificação na busca de alterações numéricas e
estruturais.
- Alterações no protocolo laboratorial precisaram ser feitas para melhorar a qualidade das
metáfases.
93
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
- Estudos posteriores são necessários para que se obtenham metáfases de melhor qualidade,
realizando ainda se necessário adaptações no protocolo, para que assim seja possível realizar a
completa identificação e contagem dos cromossomos.
AGRADECIMENTOS
Após a longa caminhada de um ano executando este projeto é impossível não deixar os
devidos agradecimentos às pessoas que de uma forma ou de outra contribuíram para o projeto.
Ao professor Dr. Walter García que é responsável pela orientação deste projeto e não só por
ter orientado, mas também por todo o apoio cientifico pelo incentivo à introdução na iniciação
científica. Expresso aqui meus mais sinceros agradecimentos. Ao professor Luis Eduardo Sarmiento
Lozano por toda a contribuição com seus conhecimentos e por todo apoio dado ao longo do projeto.
Ao professor William Sérgio do Sacramento que forneceu materiais indispensáveis para a
realização do procedimento. À Cynthia Rafaela, responsável técnica do laboratório onde o projeto
foi executado, que também deu a sua indispensável contribuição para a realização do trabalho.
REFERÊNCIAS
DURKIN, G. S. e Glover, W. T. Chromosome Fragile Sites. 2007
LYONS, L. A. Genetic testing in domestic cats. 2012
NICHOLAS, F. W., Introduction to veterinary genetic. Ed. Wiley- Blackwell, 3 ed.2011.
OSTRANDER, E.; GIGER, U.; e LINDBLAD-TOH, K. The dogs and Its Genome. Ed. Cold Spring
Harbor Laboratory Press, Nova Iorque. 2006.
VELLA, C.; SHELTON, L.; MCGONAGLE, J.; STANGLEIN, T. Genetics for cat breeders and
veterinarians. Ed. Butterworth Heinemann. 2005.
94
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
ANOMALIAS CROMOSSÔMICAS EM CANIS LUPUS FAMILIARES NA CLÍNICA
VETERINÁRIA DA UNIVERSIDADE NILTON LINS.
ISOLDA SOUZA PEREIRA1; BARBARA ANNE DE SOUZA FREIRE2;
LUIS EDUARDO SARMIENTO LOZANO3; WALTER DE JESUS GARCIA-PARRA4
RESUMO O cão doméstico, Canis lupus familiares, tem o número diploide(2n) de cromossomos de 78 (Minouch,
1928). Devido a pouco se saber acerca de estudos citogenéticos nessa espécie, os objetivos deste trabalho foram
descobrir a técnica citogenética ideal para a espécie para obtenção de metáfases e procurar a existência de alterações
cromossômicas em cães comparando com que já se tem descrito na literatura. O resultado obtido no presente trabalho
foi a obtenção de metáfases de qualidade regular pois o protocolo utilizado foi para humanos. Após várias repetições no
procedimento com o protocolo especifico para ser humano, chegou-se a conclusão que mais tempo seria necessário para
um protocolo ideal para a espécie canina.
PALAVRAS-CHAVE:
Cromossomos.
Cariótipo
canino.
Cão.
Citogenética
convencional.
Anomalia.
INTRODUÇÃO
O número diploide de cromossomos em cães é 2n= 78 e foi determinado primeiramente por
estudos em células meióticas por Minouch, 1928. O cariótipo canino é constituído por 38 pares de
cromossomos acrocêntricos, por um cromossomo X submetacêntrico (ou dois X quando animal é
do sexo feminino e normal) e por um pequeno cromossomo Y metacêntrico quando o individuo se
trata de um macho normal (OSTRANDER, et al 2001).
Devido a essa característica cariotípica canina, é impossível montar o cariótipo usando
somente a citogenética convencional pois os cromossomos autossômicos são muito semelhantes uns
aos outros. Outras técnicas mais avançadas são requeridas para isso. O cariótipo completo do cão
foi feita com a técnica de FISH( Flourescense In Situ Hybridization) (O’CONNER, 2011).
No entanto, estudos na área de detecção de anomalias cromossômicas em cães é
extremamente escasso e os únicos relatos até então tratam-se de alterações numéricas envolvendo
1
Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária/Universidade Nilton Lins. Avenida Prof. Nilton Lins, n º 3259 - Parque
das Laranjeiras – Manaus/AM. CEP 69058 – 040. E-mail: Isolda Pereira <[email protected]>
2
Acadêmica de Medicina Veterinária/Universidade Nilton Lins. Avenida Prof. Nilton Lins, n º 3259 - Parque das
Laranjeiras– Manaus/AM. CEP 69058 – 040. E-mail: Barbara Anne de Souza Freire <[email protected]>
3
Professor do Curso de Medicina Veterinária/Universidade Nilton Lins. Avenida Prof. Nilton Lins, n º 3259 - Parque
das Laranjeiras– Manaus/AM. CEP 69058 – 040.
E-mail: Luis Eduardo Sarmiento Lozano
<[email protected]>
4
Professor do Curso de Medicina Veterinária/Universidade Nilton Lins. Avenida Prof. Nilton Lins, n º 3259 - Parque
das Laranjeiras– Manaus/AM. CEP 69058 – 040. E-mail: "Walter J. Garcia - Parra" <[email protected]>
95
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
os cromossomos sexuais do tipo XO, XXX, XXY e mosaicismo XX/XXY (OSTRANDE;
RUVISNKY, 2001). Nas variações estruturais, as translocações Robertsonianas e ainda
anormalidades na determinação do sexo gonadal ( OSTRANDER et al, 2006).
Os objetivos deste trabalho abrangem a obtenção de metáfases a partir do protocolo
utilizado em humano no intuito de adapta-lo e torna-lo ideal para a espécie canina e ainda procurar
qualquer alteração cromossômica.
MATERIAL E MÉTODOS
Animais e Procedimentos Gerais
Neste projeto foram utilizados o sangue de oito(8) cães domésticos, com idade superior a 6
meses e com peso a partir de um quilograma. Sete cães foram selecionados aleatoriamente e apenas
um com suspeita de alteração genética.
Para realização da coleta sanguínea dos animais, utilizou-se a veia cefálica de cada animal
após a contenção dos mesmos. A quantidade de 1 ml de sangue foi coletada de cada animal e
armazenada em tubos de coleta com heparina de lítio até 24 horas e em seguida transportados em
caixas de gelo até o laboratório.
Obtenção de metáfases
Essa metodologia foi originariamente descrita por BEIGUELMAN (1982), para estudos
cromossômicos de humanos e posteriormente modificada por Ruddle, F. H.(2004), para estudo
cromossômico em humanos em geral, e por OSTRANDER et al, (2006) para estudos cromossômicos
em cães tendo sofrido algumas modificações posteriores neste laboratório para os estudos dos cães na
Universidade Nilton Lins.
A metodologia usada neste trabalho (Cultura celular, colchicinização, hipotonização e fixação),
consistiu em:
1- Ligar a Capela de Fluxo Laminar, deixar por 30 minutos a UV em funcionamento.
2- Preparar o meio de cultura (meio pronto) adicionando em um tubo falcon 7,5 ml de RPMI +
1,5 de soro fetal bovino + 0,2 ml de fitohemaglutinina.
3- Adicionar a um tubo de eppendorf 1 ml do meio pronto e 3 gotas do sangue.
4- Levar o material para a estufa a 37°C por 72 horas.
5- 2 horas antes de retirar o material da estufa, adicionar 25 µl de colchicina.
96
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
6- Após completar as 72 de cultura, retirar o material da estufa e centrifugar por 5 minutos a
2500 rpm.
7- Extrair o sobrenadante, deixando 0,250 ml aproximadamente no tubo e resuspender o
material.
8- Em um tubo novo adicionar 1,25 ml de solução hipotônica (0,4026 gr de KCL + 100 ml de
H2O) pré aquecida no banho maria a 37 °C.
9- Retirar do tubo com uma pipeta o material resuspendido.
10- Deixar cair o material resuspendido pela parede do novo tubo com calma.
11- Deixar o material por 20 minutos no banho maria a 37°C.
12- Após retirar do banho maria, centrifugar o material por 5 minutos a 2500 rpm, extrair o
sobrenadante e resuspender o restante.
13- Em um tubo novo adicionar 0,750 ml de carnoys (3 partes de metanol ou etanol + 1 parte de
ácido acético).
14- Retirar o resuspendido com a pipeta.
15- Esvaziar e pipeta com o resuspendido com força, e resuspender a mistura 2 a 3 vezes.
16- Deixar repousar a preparação em ambiente por 20 minutos
17- Centrifugar por 5 minutos a 2500 rpm, eliminar o sobrenadante e resuspender o restante.
18- Repetir o procedimento 13, 14, 15 2 vezes mais.
19- Antes da ultima centrifugação, levar a amostra a geladeira por 30 minutos e depois
centrifugar por 5 minutos a 2500 rpm.
20- Eliminar o sobrenadante deixando 0,500 ml de líquido por cima do precipitado.
21- Retirar as lâminas previamente colocadas na geladeira para iniciar a montagem das laminas
(as laminas devem estar geladas).
22- Banhar as lâminas com a solução de extensão (ácido acético 40% em água).
23- Sem deixar a lamina secar pingar de 3 a 4 gotas do material resuspendido a uma altura de 40
a 50 cm.
24- Deixar a lâmina com as gotas secar ao ambiente.
25- Adicionar o corante (GIEMSA) na lâmina e deixar por 10 minutos.
26- Retirar o GIEMSA, lavar a lâmina para retirar o excesso e deixar secar ao ambiente para
posterior visualização.
97
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nos primeiros quatro exemplares, seguiu-se o protocolo original para humanos feito para
obtenção de metáfases. No entanto notou-se que as metáfases não eram de boa qualidade pois os
cromossomos se encontravam muito espiralados e inchados, dificultando assim a visualização e
classificação dos cromossomos. Adaptou-se então pequenas mudanças nas ultimas 4 amostras na
hora de montar e corar as lâminas.
No caso dos cães, obteve-se metáfases razoáveis, ainda não ideais, após a solução de
extensão e amostra já na lâmina usou-se orceína acética (substância fixadora/corante que cora
eletivamente o núcleo e seus componentes) por 5 minutos e em seguida usando o corante
convencional giemsa. Pode-se notar que a melhora na nitidez das figuras a seguir ao comparar a
metáfase corada apenas com giemsa (Figura 1 a) e a corada com orceína e giemsa (Figura 1 b).
a
b
Figura 1. a - Metáfase cão 02- Böse - corante Giemsa, e b - Metáfase cão 08-Bob –Corante orceína e
Giemsa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mais tempo seria necessário para obtenção de metáfases de melhor qualidade pois precisa-se
eleger o protocolo ideal para a raça canina visto que foi usado o de seres humanos, ou seja, teria que
98
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
experimentar diferentes quantidades dos reagentes e tempo de ação diferenciados pois é sabido que
os animais divergem também no ponto de vista molecular. Como as metáfases não foram de boa
qualidade, impossibilitou-se a identificação e contagem dos cromossomos para detecção de alguma
alteração numérica e/ou estrutural nas metáfases obtidas.
AGRADECIMENTOS
Agradecimentos especiais para meu orientador Walter de Jesus Garcia Parra que sem ele, o
aprendizado adquirido ao longo do ano não seria o mesmo, Prof. Luís Eduardo Sarmiento Lozano
que estava sempre disposto a apoiar, orientar e ensinar no laboratório, Prof. William Sérgio do
Sacramento que forneceu os reagentes indispensáveis para realizar a montagem da Cultura de
Células em Suspensão, Prof. Jorge Carneiro que me ensinou a técnica da punção venosa, e Cynthia
Rafaela, Técnica de laboratório, que nos orientou na Preparação dos reagentes.
REFERÊNCIAS
MINOUCH, O. The spermatogenesis of the dog, with special reference to meiosis. JPN J. Zoo.,
1:255-268, 1928.
NICHOLAS, F.W., Introduction to Veterinary Genetics. Editora Wiley-Blackwell, Iowa, 2011.
O’CONNOR, C.L.O; SCHEIZER, C.; GRADIL, C.; SCHLAFER, D.; LOPATE, C.; PATRICK,
U.; MEYER-WALLEN, V. N. Trisomy X with estrous cycle anomalies in two female
dogs.Theriogenology- Animal reproduction. 76, issue 2: 374-380, 2011.
OSTRANGER, E.; GIGER, U. E LINDBLAD-TOHN, K. The Dogs and Its Genome. Editora Cold
Spring Harbor Laboratory Press, Nova Iorque, 2006
OSTRANGER, E.; RUVINSKY, A. The Genetics of the Dog, 2a Edição, Editora CABI,
Cambridge, 2001.
RUDDLE, F. H. Theophilus Painter: First steps toward and understanding of the human genome. J.
Exp. Zool. 301:375-377, 2004.
99
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
BANHOS TERAPÊUTICOS COM FORMALINA NO CONTROLE DE
MONOGENOIDEOS EM JUVENIS DE PIRARUCU Arapaima gigas Schinz, 1822
(OSTEICHTHYES: ARAPAIMATIDAE).
PAULA GISELE FREITAS CORRÊA1; SANNY MARIA DE ANDRADE PORTO2; ELIZABETH
GUSMÃO AFFONSO3
RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficácia dos banhos terapêuticos com formalina no controle de
monogenoideos em juvenis de pirarucu Arapaima gigas. Os ensaios foram conduzidos utilizando diferentes
concentrações de formalina e tempos de exposição: banho curto (1 hora) nas concentrações de 0,5, 0,4, 0,3, 0,2 ml/L e
controle (sem adição de formalina); e banho longo (12 horas) nas concentrações de 0,06, 0,05, 0,04, 0,03 ml/L e
controle. Análises parasitológicas antes e após os banhos terapêuticos foram realizadas. As variáveis físico-químicas da
água foram monitoradas. Os banhos terapêuticos com período de exposição de 1 hora apresentaram melhores
resultados, com eficácia de 99,35% e 93,65% nas concentrações de 0,5 ml/l e 0,4 ml/ respectivamente. Não foram
observados sinais de intoxicação e mortalidade nos peixes após exposição à formalina nos tratamentos realizados.
PALAVRAS-CHAVE: Sanidade. Piscicultura. Parasitas. Tratamento.
INTRODUÇÃO
O Pirarucu (Arapaima gigas) é uma das espécies mais promissoras para o desenvolvimento
da criação de peixes em regime intensivo na região Amazônica. Possui um crescimento inigualável
em relação a qualquer outra espécie explorada pela aquicultura continental no Brasil e no mundo,
podendo alcançar 10 kg no primeiro ano e apresenta alta rusticidade. Sobrevive em ambientes com
baixas concentrações de oxigênio por meio de respiração aérea, efetuada através da bexiga natatória
modificada. Apresenta adaptações fisiológicas e bioquímicas que auxiliam a sobrevivência nessas
condições (ONO et al., 2004; SEBRAE, 2010).
Por todas estas características o pirarucu tem sido alvo de numerosas pesquisas nos últimos
tempos, porém existem ainda muitas lacunas a serem preenchidas, como as dificuldades no manejo
reprodutivo e condições sanitárias durante a produção, o que tem ocasionado uma elevada taxa de
mortalidade de peixes e grandes perdas econômicas (GOMES, 2007).
O pirarucu possui uma rica fauna de parasitas, e dentre os pátogenos que tem ocasionado
doenças nos cultivos de pirarucu, destacamos os monogenóideos (ARAÚJO et al., 2009). Os
monogenéticos são helmintos ectoparasitos de peixes, anfíbios e répteis, caracterizam-se pela
1
Acadêmica da Universidade Nilton Lins (UNINILTON LINS). Avenida Professor Nilton Lins, 3259, Parque das
Laranjeiras, Manaus, AM, Brasil. CEP=69058-040. Email: [email protected]
2
Universidade Nilton Lins (UNINILTONLINS), Laboratório de Zoologia Aplicada. Avenida Professor Nilton Lins,
3259, Parque das Laranjeiras, Manaus, AM, Brasil. CEP=69058-040. Email: [email protected]
3
Coordenação de Pesquisa em Aquicultura (CPAQ), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Avenida
André Araújo, Manaus, AM 2936, 69.060-001. Email: [email protected]
100
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
presença de estruturas de fixação esclerotizadas e pelo ciclo biológico direto (LUQUE, 2004).
Localizam-se nas brânquias e superfície corporal, causando anorexia, aumento na produção de
muco, hemorragias cutâneas e nas brânquias, hiperplasia nos filamentos branquiais, podendo levar a
óbito. Em infecções menos intensas as pequenas lesões são portas abertas para infecções
secundárias (PAVANELLI et al., 2008).
Desta forma, essa pesquisa visa atender as necessidades da cadeia produtiva do pirarucu,
gerando conhecimentos sobre o manejo sanitário da espécie, contribuindo com o aumento da
produção e melhoria da sanidade, portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia de banhos
terapêuticos com formalina no tratamento de monogenoideos em juvenis de pirarucu criados em
cativeiro.
MATERIAL E MÉTODOS
Juvenis de pirarucu (23,9 ± 7,26 g e 13,83 ± 1,4 cm) foram expostos a banhos terapêuticos
com formalina em diferentes tempos de exposição e concentração. As concentrações do banho curto
(1 hora) e longo (12 horas) foram respectivamente 0,5; 0,4; 0,3 e 0,2 ml/L e 0,06; 0,05; 0,04 e 0,03
ml/L e um controle (sem adição de formalina), com três repetições por tratamento, num
delineamento inteiramente casualizado. Foram utilizados 15 aquários de vidro de 60 L, na
densidade de seis peixes por aquário em sistema estático.
A distribuição dos peixes e dos
tratamentos nos aquários foi de forma aleatória.
Os juvenis de A. gigas foram submetidos à análise parasitológica antes e depois dos
tratamentos para quantificação dos monogenoideos nas brânquias. Após os banhos terapêuticos
foram coletados 9 peixes de cada tratamento (3 por repetição), para quantificação dos parasitos,
segundo o protocolo do “Laboratório de Parasitologia de Peixes” do INPA. Os demais exemplares
retornaram para tanques de recuperação, por 48 horas, para verificação de mortalidade e/ou sinais
de toxicidade.
As variáveis físicas e químicas da água, oxigênio dissolvido, temperatura, condutividade,
pH, amônia total, nitrito, alcalinidade, dureza total, CO2, e os íons cálcio, sódio, magnésio e
potássio foram monitorados antes e após os banhos terapêuticos. Para verificar se houve diferença
estatística entre os tratamentos, os dados foram submetidos à análise de variância pelo Teste F e as
médias comparadas pelo Teste de Tukey com 5% de probabilidade.
101
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A formalina é um produto amplamente utilizado na aquicultura e aprovado pela Food and
Drug Administration (1998) para o tratamento de ectoparasitas em peixes (GÁNDARA et al.,
2002). O uso de formalina, em diferentes concentrações tem sido amplamente recomendado para
tratamento de infestações de monogenoideos em diferentes espécies de peixes (FAJER-ÁVILA et.
al., 2003 JITHENDRAN et al., 2005; SANCHES et. al., 2007; SILVA et. al., 2009).
De acordo com a Portaria n° 48, de 12.05.97, da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA),
que regulamenta o licenciamento e/ou renovação de licença de produtos antiparasitários de uso
veterinário, e embora não tenha na legislação parâmetros organismos aquáticos, determina que o
registro de antiparasitários só é possível se sua eficácia não for inferior a 90%.
Os resultados da eficácia dos banhos terapêuticos (curto e longo) são apresentados na Tabela
1. Os tratamentos com 0,5 ml/L e 0,4 ml/L apresentaram os melhores percentuais de redução da
carga parasitária, com eficácia de 99,35% e 93,65% respectivamente.
Tabela 1. Eficácia da formalina no controle de monogenoideos em brânquias de A. gigas após os banhos
curtos (1 h) e longos (12 horas).
Banho Curto
Banho Longo
Concentrações (ml/L) Eficácia (%) Concentrações (ml/L) Eficácia (%)
0
0
40,21
34,35
0,2
0,03
62,58
43,76
0,3
0,04
93,65
44,52
0,4
0,05
99,35
55,46
0,5
0,06
Em estudos realizados para controle de monogenoideos em diversas espécies de peixe, a
formalina apresenta uma variação quanto à eficácia, tempo de exposição e concentração. Estudos
realizados com juvenis de Hemigrammus sp. para o controle de monogenoideos, a formalina foi
utilizada nas concentrações de 0,25 ml e 0,1 ml L-1 (1 hora exposição), e obtiveram 100% de
eficácia, porém os peixes apresentaram mortalidade de 100% e 66,6%, respectivamente (PAIXÃO
et. al., 2013). Delgado et al. (2012) utilizaram a formalina a 1% visando eliminar monogenoideos
de tucunaré-amarelo (Cichla monoculus), com banho de 1 hora de duração, e não obtiveram
sucesso, registrando 100% mortalidade dos peixes e 100% de prevalência dos parasitos. No
presente trabalho, utilizando concentrações semelhantes, não foram evidenciados sinais clínicos de
toxicidade e mortalidades durante os banhos terapêuticos e período de recuperação de 48 h,
sugerindo que as concentrações utilizadas são seguras para juvenis de pirarucu. Já no tratamento
102
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
utilizado por Cruz et al. (2005), a concentração de 2,5 ml/L utilizada no tratamento para larvas de
trairão (Hoplias lacerdae) foi letal para os peixes após 24 h, indicando que a concentração utilizada
foi elevada para a espécie.
Fajer-Ávila et. al. (2003) utilizaram 0,05 ml/L de formalina para controle de monogenoideos
em baiacu (Sphoeroides annulatus), em banhos 1 hora, e obtiveram uma eficácia de (97%) para
monogenéticos de pele e (68%) para brânquias, com mortalidade de 2% dos peixes durante o tempo
de exposição. Silva et. al. (2009) no controle de monogenoideos em larvas de tilápias (Oreochromis
niloticus), utilizaram formalina nas concentrações de 0,025 ml/L e a associação de cloreto de sódio
2,5 g/L-1 com formalina 0,025 ml/L em banhos curtos, e obtiveram total eliminação dos
ectoparasitas e sobrevivência acima de 90% dos peixes. No presente trabalho, a eficácia foi acima
de 90%, corroborando com os resultados destes autores. Apesar da utilização de concentrações mais
elevadas (0,5 e 0,4 ml/L de formalina), a sobrevivência dos peixes foi de 100%.
O banho longo com exposição de 12 horas nas concentrações testadas, não foi efetivo para
eliminação dos monogenoideos, obtendo na concentração mais alta (0,06 ml/L) uma eficácia de
apenas 55,46% (Tabela 1).
Fajer-Ávila et al. (2003) avaliando a eficácia da formalina no controle de monogenoideos
em baiacu (Sphoeroides annulatus) utilizaram a dosagem de 0,004 ml/L em banhos com 7 horas de
exposição, demonstrando eficácia do tratamento para controle de monogenoideos de pele (66%) e
brânquias (84%), sem ocorrência de mortalidade. Fujimoto et al. (2006) utilizando banho longo de
24 horas com água formolizada (0,015 ml de formol/L), em alevinos de acará-bandeira
(Pterophyllum scalare), em 6 aplicações em dias alternados para controle de monogenoideos,
obtiveram 71% de eficácia. Banhos com duração de 10,5 h e 24 horas em “West Australian
dhufish” (Glaucossoma hebraicum), na concentração de 0,025 ml/L de formalina para controle de
monogenéticos não foram eficazes no controle dos ectoparasitas (STEPHENS et al., 2003). Os
resultados destes autores são semelhantes ao do presente experimento, onde não se obteve sucesso
no controle de monogenoideos utilizando banhos longos.
Segundo Williams & Lightner (1988), banhos de longa duração, acima de 120 minutos, não
são tão eficazes no controle de parasitas, uma vez que a formalina é rapidamente consumida por
átomos que ligam moléculas de partículas gerais e proteínas solúveis dentro da coluna d’água.
No presente experimento, as variáveis físico-químicas da água do banho curto (Tabela 2) e
do banho longo (Tabela 3) estiveram dentro dos limites considerados adequados para peixes
tropicais (KUBTIZA, 2003; CAVERO et. al. 2003; SEBRAE, 2010), com exceção dos parâmetros
de Temperatura, Alcalinidade e Dureza Total. No entanto, vale ressaltar que os valores apresentados
103
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
por esses autores são para ambiente natural, onde a qualidade de água sofre influência da água das
chuvas e da matéria orgânica.
Nos banhos terapêuticos com 1 e 12 horas de exposição, foram observadas diferenças
significativas (p<0,05) na temperatura da água, com variação entre 25,43 a 26,2 °C, ficando nos
dois experimentos fora dos valores adequados para pirarucu (28 a 32°C) (SEBRAE 2010; ONO,
2011). No entanto, juvenis de pirarucu mantidos em condições laboratoriais com temperaturas
estáveis ao redor de 25 a 26 °C continuaram apresentando resposta ativa à alimentação (SEBRAE,
2010).
A alcalinidade está diretamente ligada à capacidade da água em manter seu equilíbrio ácidobásico e a dureza total representa a concentração de íons metálicos, principalmente cálcio e
magnésio. Geralmente os valores de alcalinidade e dureza total se equiparam, no entanto existem
águas com valores distintos, com diferentes associações entre os íons (KUBTIZA, 1998). Segundo
Ono (2011) os valores para alcalinidade e dureza total devem ser maiores que 20 mg/L.
Tabela 2. Parâmetros físico-químicos da qualidade de água dos aquários. Basal (antes da adição de
formalina) e depois do banho com formalina (1 h). Valores expressam as médias ± desvio padrão.
Parâmetros
OD mg/L
T °C
pH
Cond µS/cm
AmTotal mg/L
Nitrito mg/L
Alc CaCO3mg/L
DTotalmg CaCO /L
CO mg/L
Cálcio
Magnésio
Sódio
Potássio
Basal
7,53±0,08
25,6±0,32a
6,38±0,07
30,4±1,74 a
1,18±0,18a
0,06±0
6,23±0,57a
3,83±0,14a
11±2,65
0,67±0,21a
0,08±0
1,79±0,1a
1,63±0,10
Concentração de Formalina (ml/L)
0
0,5
0,4
7,47±0,04
7,39±0,1
7,47±0,03
25,87±0,29b 26,23±0,06b 25,93±0,06b
6,39±0,04
6,50±0,08
6,44±0,05
b
b
31,17±1,77
34,23±1,04 31,73±0,40b
b
0,46±0,79
0,06±0,002b 0,02±0,002b
0,02±0,03
0,08±0,01
0,07±0,005
6,88±0b
6,6±0,73b
5,96±0,57b
2,5±0b
3,92±0,52b
3,67±0,52b
11,67±1,44
10±2,5
14,17±1,44
b
b
0,77±0
0,78±0,01
0,77±0,02b
0,08±0
0,07±0,01
0,07±0
b
b
1,86±0,002
1,93±0,02
1,86±0,01b
1,61±2,22
1,54±0,02
1,62±0,14
0,3
7,39±0,14
26,03±0,29b
3,68±0,11
32,33±1,77b
0,04 ± 0,04b
0,06±0,01
6,42±0,42b
2,92±0,52b
10,83±1,44
0,78±0,04b
0,07±0
2,03±0,23b
1,52±0,08
0,2
7,45±0,05
25,97±0,25b
6,41±0,14
34,77±2,70b
0,03±0,01b
0,07±0,004
5,59±1,3b
2,92±0,29b
10±0
0,87±0,23b
0,08±0,01
2,44±1,11b
1,52±0,10
Letras diferentes na mesma linha indicam médias significativamente diferentes (*p<0,05); OD: oxigênio dissolvido;
Cond: condutividade elétrica; AmTotal: amônia total; Alc: alcalinidade; DTotal: dureza total.
104
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Tabela 3. Parâmetros físico-químicos da qualidade de água dos aquários. Basal (antes da adição de
formalina) e depois do banho com formalina (12 h). Valores expressam as médias ± desvio padrão.
Parâmetros
OD mg/L
T °C
pH
Cond µS/cm
AmTotal mg/L
Nitrito mg/L
Alc mg CaCO /L
DTotalmg CaCO /L
CO mg/L
Cálcio
Magnésio
Sódio
Potássio
Basal
7,27±0,04a
25,97±0,06a
6,62±0,10
25,93±0,68a
0,47±0,01a
0,04±0,01a
5,5±0,47
3,33±0,14
10,17±1,44
0,68±0,05a
0,10±0,01
1,96±0,09a
1,68±0,08
Concentração de Formalina (ml/L)
0
0,03
0,04
0,05
b
b
b
7,49±0,03
7,39±0,08
7,37±0,08
7,40±0,06b
b
b
b
25,63±0,21 25,77±0,06
25,6±0,26
25,43±0,23b
7±0,01
6,92±0,03
6,72±0,55
7,11±0,06
30,2±1,04b 30,73±0,25b 32,07±1,36b 31,53±1,24b
0,92±0,03b
0,10±0,10b 0,03±0,01b
0,04±0,01b
b
b
b
0,02±0,01
0,31±0,38
0,60±0,75
1,19±0,49b
7,61±0,69
6,33±0,28
5,50±2,44
4,44±1,64
3,75±0,43
4,42±0,63
3,67±0,29
3,92±0,58
11,17±3,55
9,17±3,40
8,67±2,31
9,83±0,29
0,76±0,01b
0,81±0,04b 0,82±0,06b
0,80±0,08b
0,1±0
0,09±0,01
0,09±0,01
0,09±0,01
2,06±0,13b
1,98±0,02b 2,14±0,03b
2,09±0,04b
1,75±0,03
1,75±0,09
1,74±0,06
1,66±0,03
0,06
7,45±0,10b
25,53±0,10b
7,07±0,06
32,6±1,81b
0,02±0,01b
0,50±0,71b
6,97±1,24
4,59±0,29
9,50±0,87
0,92±0,10b
0,11±0,01
2,17±0,06b
1,74±0,09
Letras diferentes na mesma linha indicam médias significativamente diferentes (*p<0,05); OD: oxigênio dissolvido;
Cond: condutividade elétrica; AmTotal: amônia total; Alc: alcalinidade; DTotal: dureza total.
No presente experimento, os valores de alcalinidade e dureza total, tiveram variação entre
5,59 e 7,88 mg/L e 2,5 a 4,17 mg/L, respectivamente, ficando abaixo dos aceitáveis para cultivo do
pirarucu e apresentaram diferença significativa (p<0,05), com redução dos valores após os banhos.
Entretanto, estudos realizados por Araújo et al. (2009) para avaliar infecções parasitárias em
pirarucu também obtiveram valores de alcalinidade (3,64 mg/L) e dureza total (2,43 mg/L) abaixo
dos sugeridos por Ono (2011).
CONCLUSÕES
Os resultados sugerem que a formalina aplicada na forma de banhos terapêuticos, com
exposição de 1 hora é eficaz no controle de monogenoideos de pirarucu nas concentrações de 0,5 e
0,4 ml/L. No entanto a utilização da formalina em banhos longos com período de exposição de 12
horas nas concentrações testadas, não é indicada, pois apresentaram uma baixa eficácia no controle
dos parasitas. Em todas as concentrações testadas não foram observados sinais clínicos de
toxicidade, com 100% de sobrevivência dos peixes. Para pesquisas futuras, sugerimos que outras
concentrações e períodos de exposição sejam realizados com a formalina para banhos longos.
105
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
AGRADECIMENTOS
Ao Programa de Iniciação Científica PROIC/UNINILTON LINS pela concessão da bolsa de
iniciação científica; à Dra. Elizabeth Gusmão Affonso e aos colegas do Laboratório de Fisiologia
Aplicada à Piscicultura (LAFAP/INPA) pela ajuda nas diversas etapas deste trabalho; aos alunos do
curso de Medicina Veterinária da turma 02/2014 pela colaboração na realização deste experimento.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, C.S.O.; GOMES, A.L.; DIAS, M.T.; ANDRADE, S.M.S.; COSTA, A.B., BORGES,
J.T.; QUEIROZ, M.N.; BARBOSA, M. 2009. Infecções parasitárias e parâmetros sanguíneos em
Arapaima gigas Schinz, 1822 (Arapaimidae) cultivados no estado do Amazonas, Brasil. In:
Tavares-Dias, M. (Org.). Manejo e Sanidade de Peixes em Cultivo. Embrapa Amapá, Macapá.
cap.16, p. 389 – 424.
BRASIL. Brasília, DF 2012. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Legislação
Relacionada aos Produtos de Uso Veterinário - Portaria n° 48, de 12 de maio de 1997.
CAVERO, B.A.S.; PEREIRA-FILHO, M.; ROUBACH, R.; ITUASÚ, D.R.; GANDRA, A.L.;
CRESCÊNCIO, R. 2003. Biomassa sustentável de juvenis de pirarucu em tanques-rede de pequeno
volume. Pesquisa Agropecuária Brasileira, vol. 38, n. 6, p. 723 – 728.
CRUZ, C.; FUJIMOTO, R.Y.; LUZ, R.K.; PORTELLA, M.C.; MARTINS, M.L. Toxicidade aguda
e histopatologia do fígado de larvas de trairão (Hoplias lacerdae) expostas à solução aquosa de
formaldeído a 10%. Pesticidas: Revista de Ecotoxicologia e Meio Ambiente, vol. 15, p. 21-28.
FAJER-ÁVILA, E.J.; PARRA, I.A.; AGUILAR-ZARET, G.; CONTRERAS-ARCE, R.;
ZALDIVAR-RAMIREZ, J.; BETANCOURT-LOZANO, M. 2003. Toxicity of formalin to bullseye
puffer fish (Sphoeroids annulatus Jenyns, 1843) and effectiveness to control ectoparasites.
Aquaculture, Amsterdan, v. 223, p. 41-50.
FDA. Food and Drug Administration: FDA Approved Animal Drug Products. 1998. Disponível
em:< http://www.accessdata.fda.gov/scripts/animaldrugsatfda/details.cfm?dn=137-687>. Acesso
em: 03/03/2013.
FUJIMOTO, R.Y.; VENDRUSCOLO, L.; SCHALCH, S.H.C.; MORAES, F.R. 2006. Avaliação de
três diferentes métodos para o controle de monogenéticos e Capillaria sp. (Nematoda:
Capillariidae), parasitos de acará-bandeira (Pterophyllum scalare Liechtenstein, 1823). B. Inst.
Pesca, São Paulo, vol. 32, n. 2, p. 183 - 190.
GÁNDARA, F.; JOVER, M.; GARCÍA-GÓMEZ, A. Efecto del tratamiento con formol sobre el
consumo de oxígeno de juveniles de seriola mediterránea Seriola dumerili (Risso, 1810). Bol. Inst.
Esp. Oceanogr. 18 (1-4) 377-383.
106
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
GOMES, A.L. 2007. Estrutura da comunidade de metazoários parasitas do Arapaima gigas Schinz,
1822 (Osteichthyes: Arapaimatidae) da Reserva de Desenvolvimento sustentável Mamirauá,
Amazonas. Tese de Doutorado, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/Fundação
Universidade do Amazonas, Manaus, Amazonas. 60pp.
JITHENDRAN, K.P.; VIJAYAN, K.K.; ALAVANDI, S.V.; KAILASAM, M. 2005. Benedenia
epinepheli (Yamaguti 1937), a monogenean parasite in captive broodstock of grouper, Epinephelus
tauvina (Forskal). Asian Fisheries Science, vol. 18, p. 121-126.
KUBTIZA, F. 1998. Qualidade da água na produção de peixes – Parte I. Revista Panorama da
Aquicultura: vol. 8, n. 45, p.36-41.
KUBTIZA, F. 2003. Qualidade da água no cultivo de peixes e camarões. Jundiaí. 229 pp.
LUQUE, J.L. 2004. Parasitologia de peixes marinhos na América do Sul: estado atual e
perspectivas. In: Sanidade de organismos aquáticos. Ed. Varela, São Paulo, p. 199-214.
ONO, E.A.; HALVERSON, M.R.; KUBITZA, F 2004. Pirarucu, o gigante esquecido. Revista
Panorama da Aquicultura: vol. 14, n.81, p.14-25.
ONO, Eduardo. 2011. A produção de Pirarucu no Brasil: uma visão geral. Revista Panorama da
Aquicultura: vol.21, n.124, p. 40-45.
PAIXÃO, L.F.; SANTOS, R.F.B.; RAMOS, F.M.; FUJIMOTO, R.Y. 2013. Efeitos do tratamento
com formalina e sulfato de cobre sobre os parâmetros hematológicos e parasitos monogenéticos em
juvenis de Hemigrammus sp. (Osteichthyes: Characidae). Acta Amazonica, Vol. 43(2): 211 – 216.
PAVANELLI, Gilberto C. 2008. Doenças de Peixes: Profilaxia, Diagnóstico e Tratamento.
EDUEM: Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil. 3ª ed., 2008. 311 p.
SANCHES, E.G.; OSTINI, S.; RODRIGUES, C.DOS S. 2007. Ocorrência e tratamento de
monogenoides em alevinos de Pampo (Prachinotus carolinus) cultivados experimentalmente na
região norte do estado de São Paulo. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 16, n. 1, p.14.
SEBRAE, 2010. Manual de Boas Práticas de Produção e Cultivo do Pirarucu em Cativeiro. Porto
Velho, RO.
SILVA, A.L.; MARCASSI ALVES, F.C.; ANDRADE TALMELLI, E.F.; ISHIKAWA, C.M.;
NAGATA, M.K.; ROJAS, N.E.T. 2009. Utilização de cloreto de sódio, formalina e a associação
destes produtos no controle de ectoparasitas em larvas de tilápia (Oreochromis niloticus). Bol. do
Inst. Pesca. São Paulo, 35(4): 597 – 608.
STEPHENS, F.J.; CLEARY, J.J.; JENKINS, G.; JONES, J.B.; RAIDAL, S.R.; THOMAS, J.B.
2003. Treatments to control Haliotrema adaddon in the West Australian dhufish, Glaucosoma
hebraicum. Aquaculture, 215: 1-10.
WILLIAMS, R.R.; LIGHTNER, D.V. 1988. Formalin loss in seawater associated with varying
levels of organic detritus. Journal of the World Aquaculture Society, v.19, p.163-168.
107
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
COMPARAÇÃO DO MANEJO EM CONFINAMENTO E DO MANEJO LIVRE A CAMPO
DE OVINOS DESLANADOS NO MUNICÍPIO DE MANACAPURU (AM)
THIAGO BITAR ALVES1; MONIQUE SANTOS DA SILVA2; GILVAN MACHADO
BATISTA3; ZENIA MARCIA RODRIGUEZ CHACÓN4
RESUMO: A ovinocultura é uma ótima opção de investimento no Amazonas por trazer um rápido retorno financeiro e
exigir uma área pequena para a execução da atividade. A estabulação de ovinos é uma prática bastante utilizada nos
países tropicais úmidos. As instalações e equipamentos são de fundamental importância para proporcionar condições de
manejo adequadas ao sistema de produção. Objetivou-se com este experimento comparar a eficácia do manejo em
confinamento e do manejo livre a campo de ovinos no município de Manacapuru - Amazonas. Utilizaram-se 10 ovinos,
fêmeas, da raça Santa Inês e mestiças distribuídos em dois tratamentos com cinco animais cada, de pesos e tamanhos
semelhantes, sendo o tratamento 1 (T1) com o manejo tradicional a campo e fornecimento de aproximadamente 1,200kg
de casca de soja por dia e o tratamento 2 (T2) com animais confinados com fornecimento 15kg de capim elefante
(Penisetum purpureum) e 1,200kg de casca de soja por dia e fornecimento de sal mineral à vontade para ambos os
tratamentos. O experimento teve duração de 51 dias, e foram feitas 3 pesagens. Os ovinos do T1 obtiveram ganho de
peso significativamente maior em relação aos ovinos do T2 (P<0,05).
PALAVRAS-CHAVE: Ovinocultura. Santa Inês. Capim elefante.
INTRODUÇÃO
O rebanho de ovinos soma hoje mais de um bilhão de cabeças, distribuídas por
praticamente todas as regiões do planeta. São mais de 800 raças manejadas nas mais distintas
condições ambientais, desde situações de pastagens em solos pobres e com deficiências nutricionais
até sistemas de manejo intensivo com fornecimento de rações balanceadas em confinamento
constante (MATOS 2010).
Um sistema organizado implica na utilização de instalações e principalmente áreas de
tamanho apropriadas, pois segundo Vidal et al. (2006), para animais em pastejo, áreas inferiores a 5
hectares não são economicamente rentáveis. As instalações e equipamentos são de fundamental
importância para proporcionar condições de manejo adequadas ao sistema de produção. É
necessário que sejam de fácil limpeza e desinfecção, funcionais e seguras para os animais e
1
Acadêmico do curso de Medicina Veterinária, aluno PIBIC - CNPq/Universidade Nilton Lins. Av. Professor Nilton
Lins, 3259. Parque das Laranjeiras, Manaus, AM - CEP: 69058-030. E-mail: [email protected]
2
Acadêmica do curso de Medicina Veterinária, aluna PIBIC - CNPq/Universidade Nilton Lins. Av. Professor Nilton
Lins, 3259. Parque das Laranjeiras, Manaus, AM - CEP: 69058-030. E-mail: [email protected]
3
Engenheiro de pesca, Mestre em Ciência de Alimentos/ Universidade Nilton Lins. Av. Professor Nilton Lins, 3259.
Parque das Laranjeiras, Manaus, AM - CEP: 69058-030. E-mail: [email protected]
4
Dra. Professora da Universidade Nilton Lins. Av. Professor Nilton Lins, 3259. Parque das Laranjeiras, Manaus, AM CEP: 69058-030. E-mail: [email protected]
108
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
trabalhadores, evitando estresse dos animais, favorecendo o controle e prevenção de doenças,
protegendo o rebanho de furtos, predadores e otimizando o emprego da mão de obra (CODEVASF,
2011).
A estabulação de ovinos é uma prática bastante utilizada nos países tropicais úmidos, já
que a mesma, junto com um programa adequado de desparasitação, diminui consideravelmente o
índice de parasitismo dos animais (SANDOVAL et al., 2009), melhorando a produtividade do
rebanho. Segundo Oliveira (2008) apud Oliveira et al., (2011), a produção da carne de cordeiros é
uma possibilidade de renda para o produtor do Estado do Amazonas quando considerado o grande
potencial de crescimento do setor, mas, para que seja viável, é necessária a correta utilização do
manejo reprodutivo, sanitário e nutricional. A ovinocultura é uma ótima opção de investimento no
Estado, principalmente devido às novas leis ambientais que determinam a preservação de 80% das
áreas. As áreas destinadas à atividade são pequenas, onde não há incentivo para a bovinocultura de
corte (AGROSOFT BRASIL, 2011). De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) até o ano de 2010, na região norte concentravam-se 586.237 cabeças de ovinos, e
destes 56.285 no Amazonas (IBGE, 2010).
O Santa Inês é um ovino deslanado de porte grande, apresentando peso corporal de 80 até
100 kg para os machos e 60 até 80 kg para as fêmeas (animais adultos). Troncos fortes, quartos
dianteiros e traseiros grandes, ossatura vigorosa. Tratando-se de um ovino de porte expressivo, é
exigente em alimentação. É a ovelha indicada para ser criada nos ambientes de melhores recursos
nutritivos (SEBRAE, 2012). A raça Santa Inês é uma raça nativa do nordeste que provavelmente
originou a partir de cruzamentos alternados entre as raças do nordeste Morada Nova e Crioula e a
raça Bergamácia (de origem italiana). Ela vem sendo difundida em grande parte do Brasil tropical
devido à sua rusticidade, produtividade e habilidade materna nos diversos climas brasileiros. É
uma raça de dupla aptidão: produção de carne e pele (SEBRAE, 2012). Oliveira et al. (2011)
relatam a importância da criação de ovinos na Amazônia decorrentes das vantagens, como:
eliminação das queimadas, menor impacto ambiental gerado pela criação quando comparado aos
grandes ruminantes, redução da área/há/unidade animal; desenvolvimento da produção no Estado
com responsabilidade agroambiental. A carne ovina é amplamente aceita no mercado amazonense
e, por isso, a ovinocultura tem sido cada vez mais estimulada pelos pecuaristas estaduais. Apesar de
o seu valor vir crescendo bastante nos últimos anos, a produtividade local ainda é baixa, atendendo
a apenas 18% da demanda. O restante é importado de outras regiões brasileiras.
109
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
Trabalhos como o realizado por Sarmento et al. (2006) em ovinos Santa Inês, mostram a
importância de organizar o rebanho através de um sistema adequado de marcação e registro dos
animais, já que a partir dos dados do mesmo podem ser determinadas curvas de crescimento, para
serem utilizadas na melhora alimentar, na melhora no manejo dos animais e no melhoramento
genético. Silva Costa et al. (2009) estudando a adaptabilidade da raça Santa Inês ao clima
amazônico, observaram alto estresse devido ao clima, porém, apesar das condições, os ovinos da
raça Santa Inês nascidos e criados sob as condições climáticas da região amazônica apresentam boa
adaptação à região. A utilização de áreas e instalações apropriadas para estudantes de Cursos de
Medicina Veterinária realizar práticas com animais de médio e grande porte é essencial. O projeto
visa mostrar quais as vantagens obtidas no quesito conhecimento para o aluno e o orientador, e
ainda, considerando o clima, pretende-se mostrar a importância de uma boa instalação e o manejo
mais viável a ser utilizado na criação desses ovinos. O trabalho teve como objetivo acompanhar e
comparar o ganho de peso de ovinos manejados em sistema de confinamento e em manejo livre a
campo.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido na Fazenda Ferradurinha, localizada no quilometro 66 da AM070 (Estrada Manoel Urbano), Manacapurú-AM (Latitude: 3º17’S; longitude: 60º37’O; altitude
60m).
a
b
Figura 1. a - Localização do município de Manacapurú no Amazonas. Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manacapuru; e b - A localização da Fazenda Ferradurinha no mapa está
representada pelo alfinete (Quilômetro 66, AM-070, Manacapurú-AM). Fonte: Apple Maps app, dados de
mapeamento TOMTOM (http://www.tomtom.com/pt_br/)
Foram utilizados 10 ovinos deslanados (Santa Inês e mestiços), fêmeas, distribuídos em
dois tratamentos com cinco repetições cada, de pesos e tamanhos semelhantes, sendo o tratamento 1
110
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
(T1) com o manejo tradicional a campo e o tratamento 2 (T2) com animais confinados em baia de
4x4m² com piso de terra. Para os animais do T1 foi fornecido aproximadamente 1,200kg de casca
de soja e sal mineral à vontade após passarem o dia ao pasto. Para os animais do T2 foi fornecido
capim de corte: capim elefante (Penisetum purpureum) picado, duas vezes ao dia: 7,5kg de capim
elefante + 600g de casca de soja pela manhã, e 7,5kg de capim elefante + 600g de casca de soja pela
tarde, totalizando em 15kg de capim elefante, 1,200kg de casca de soja e fornecimento de sal
mineral à vontade para ambos os tratamentos.
O trabalho teve uma duração de 51 dias, sendo uma semana de adaptação e dois períodos
experimentais de 21 dias cada um. Foi realizada a análise nutricional da pastagem consumida pelos
ovinos do T1, do Capim Elefante fornecido aos animais do T2 e da casca de soja fornecida a ambos
os tratamentos através de Análise Centesimal (Wende).
As análises bromatológicas foram realizadas no laboratório de Análise de Alimentos da
Universidade Nilton Lins. Por se tratar de pastagem nativa, para a análise bromatológica do capim
que os ovinos do T1 (não confinados/manejo livre a campo) se alimentavam, foram feitas coletas
em áreas aleatórias do campo onde eles pastejavam. Foi utilizado um delineamento experimental
inteiramente casualizado, com dois tratamentos e cinco repetições por tratamento e foi utilizado o
teste de F para comparar a média dos tratamentos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos das pesagens aparecem na figura 2.
a
T1 (34,06)
T2 (32,20)b
Figua 2. Comparação do ganho de peso (kg) médio dos ovinos do T1 e T2 no período experimental.
a,b
: Médias seguidas de letras diferentes, diferem significativamente (P<0,05) pelo teste F (0,034482759).
Foi observado um significativo ganho de peso dos ovinos do T1 (P<0,05). Os ovinos do T1
e T2 obtiveram um ganho de peso médio equivalente a 71,4 e 9,0 g/dia respectivamente.
Comparando com o peso obtido pelos animais do T2, os resultados foram inferiores aos
111
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
encontrados por Oliveira et al. (1986), que obtiveram valores entre 92,6 e 106,2 g/dia, trabalhando
com ovinos Morada Nova confinados e alimentados com restolho de milho e feno de mata pasto
(Cassia sericea). Camurça et al. (2002) cita diversos autores que trabalharam com ovinos machos
jovens, com aproximadamente quatro meses de idade, confinados e alimentados com dietas que
continham acima de 60% de concentrado (ração) e estes obtiveram resultados positivos, diferente
do presente trabalho, onde foi oferecido uma quantidade muito baixa (7,5%), apenas para estimular
a alimentação dos animais. Camurça et al. (2002) cita ainda que é recomendado para confinamento
que o animal tenha de 15 a 18kg de peso vivo, e esteja com idade entre 4 a 6 meses, porém o peso
vivo dos animais no início do presente experimento era em média 32 kg e estavam com idade bem
acima do recomendado. A composição químico-bromatológica do capim elefante, da pastagem
nativa e da ração encontra-se na tabela 1.
Tabela 1. Composição química do Capim elefante (Penisetum purpureum), da pastagem nativa e da casca de
soja.
Análises (%)
Matéria Seca (MS)
Estrato Etéreo (EE)
Matéria Mineral (MM)
Matéria Orgânica (MO)
Proteína Bruta (PB)
Fibra em Detergente Neutro (FDN)
Fibra em Detergente Ácido (FDA)
Capim elefante
(Penisetum purpureum)
91,43
0,74
0,90
99,10
2,39
**73,94
**41,73
Pastagem nativa
Casca de soja
90,20
0,73
1,53
98,46
2,59
X
X
91,74
0,58
4,01
95,99
9,62
*69,20
*43,02
*Dados obtidos da Revista Eletrônica Nutritime, v.1, n°1, p.59-68, julho/agosto de 2004.
**Dados obtidos da Revista Bras. Saúde Prod. An., v.9, n.3, p. 397-406, jul/set, 2008
X: Dados não avaliados
O capim-elefante apesentou o teor de proteína bruta muito baixo, porém este resultado se
assemelha com os encontrados por Leite et al, 2000, onde esse baixo teor de proteína é relacionado
com a baixa quantidade de matéria orgânica no solo, como também devido à falta de adubação de
reposição, principalmente de nitrogênio, esta explicação pode justificar também o baixo teor de
proteína encontrado na pastagem nativa, pois ambas as amostras foram coletadas de áreas próximas.
112
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
CONCLUSÃO
Os ganhos de peso encontrados no presente trabalho estão aquém do esperado,
provavelmente devido a fatores ligados à ineficiência do confinamento de ovinos em baias com piso
de terra, pois o aprisco suspenso com piso ripado é o mais indicado para regiões quentes e úmidas
(CODEVASF, 2011). Acredita-se que elevando a porcentagem de ração na alimentação e
oferecendo boas condições sanitárias no confinamento pode-se obter maior ganho de peso.
REFERÊNCIAS
AGROSOFT BRASIL. Ovinocultura na mira de investidores. 2011. Disponível (online)
http://pt.scribd.com/doc/56192058/ovinos (03/06/2013)
AZEVEDO, M. O BERRO – Revista Brasileira de caprinos e ovinos. As portas estão se abrindo:
Ovinos na Amazônia. Edição 100 - Abril / 2007. Disponível (online) http://www.zebus.com.br/
berro/noticias_ver.php?CdNotici=81 (05/08/2013)
CAMURÇA, D. A.; NEIVA, J. N. M.; PIMENTEL, J. C. M.; VASCONCELOS, V. R.; LÔBO, R.
N. B. Desempenho Produtivo de Ovinos Alimentados com Dietas à Base de Feno de Gramíneas
Tropicais. R. Bras. Zootec., v.31, n.5, p.2113-2122, 2002.
CODEVASF - Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba. Manual
de Criaão de Caprinos e Ovinos. 2011. Disponível em: https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=
j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&ved=0CC4QFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.code
vasf.gov.br%2Fprincipal%2Fpublicacoes%2Fpublicacoes-atuais%2Fmanual_ovinos_e_caprinos_
versao_final_rev_jun2011.pdf&ei=BKAmUpebHdevsQS2m4DwAg&usg=AFQjCNGOUqD7aOV
MHAaHEJOLbbQrN-NJpQ&sig2=dZjpbyG1SHllg7b2qn7Cxg&bvm=bv.51495398,d.cWc
(01/07/2013)
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção da Pecuária Municipal – volume
38. 2010. Disponível (online): http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/ppm/2010/ppm
2010.pdf (03/06/2013)
113
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz. v.1. Métodos químicos
e físicos para análise de alimentos. 3. ed. São Paulo: IMESP, 1985. p. 53-54
LEITE. R,M,B; FILHO. J,L,Q; SILVA. D.S. Produção e valor nutritivo do campim-elefante
cultivar cameroon em diferentes idades. 2000. Disponível em:http://www.cca.ufpb.br/revista/pdf/
2000_4.PDF (03/06/2013)
MATOS, F. L. Situação atual da ovinocultura no Brasil. Apostila CPT Cursos Presenciais. 2010.
Disponível
em:
http://www.cptcursospresenciais.com.br/artigos/ovinos/gestao-e-comercio-da-
ovinocultura/situacao-atual-da-ovinocultura-no-brasil/
OLIVEIRA, E.R.; BARROS, N.N.; ROBB, T.W. et al. Substituição da torta de algodão por feno de
leguminosas em rações baseadas em restolho da cultura do milho para ovinos em confinamento.
Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.21, n.5, p.555-564, 1986
OLIVEIRA, R.; OLIVEIRA, F.; MADURO, A.; SILVA, A.; ASSANTE, R. I Workshop de ovinos
e caprinos da Amazônia Ocidental: Contribuindo para uma pecuária sustentável. 2011. Disponível
(online)http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=I+Workshop+de+ovinos+e+caprinos+da+Am
az%C3%B4nia+Ocidental%3A+Contribuindo+para+uma+pecu%C3%A1ria+sustent%C3%A1vel&
source=web&cd=2&cad=rja&ved=0CCoQFjAB&url=http%3A%2F%2Fmedia.wix.com%2Fugd%
2F1776a3_e99fbdaa42e1551b9a09136a59b99009.pdf%3Fdn%3DI%2BWorkshop%2Bde%2BOvin
os%2Be%2BCaprinos%2Bda%2BAmaz%25F4nia%2BOcidental_%2BContribuindo%2Bpara%2B
uma%2BPecu%25E1ria%2BSustent%25E1vel.pdf&ei=N5JqUMzOAoTm8gS2xoCICg&usg=AFQj
CNFaJatOqUtFNq4hCjAXJ4rOPn9g9w (03/06/2013)
PEREIRA, R. G. A.; COSTA, N. L., TOWNSEND , C. R. E MAGALHÃES, J. A. Os ovinos em
sistemas de produção na Amazônia. 2008. Disponível (online):
http://pt.scribd.com/doc/9652519/Os-Ovinos-em-Sistemas-de-Produção-da-Amazonia (03/06/2013)
SANDOVAL, E.; MORALES, G.; JIMENEZ, D.; PINO, L.; MARQUEZ, O. Efecto del albendazol
incorporado a un bloque multinutricional sobre la eliminación de huevos de nematodos
gastrointestinales y ganancia de peso en ovejas en estabulación. Zootecnia Trop. v.27 n.3 Maracay
set. 2009.
114
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
SARMENTO, J. L. R.; REGAZZI, A. J.; SOUSA, W. H.; TORRES, R. A.; BREDA, F. C.;
MENEZES, G. R. O. Estudo da curva de crescimento de ovinos Santa Inês; R. Bras. Zootec. v.35
n.2 Viçosa mar./abr. 2006.
SEBRAE- Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Ovinocaprinocultura/Santa
Inês. 2012. Disponível (online) http://www.sebrae.com.br/setor/ovino-e-caprino/o-setor/racaovino/santa-ines (03/06/2013)
SILVA COSTA, E.P.; Takeda, F.R.C.; Lima, R.S. Adaptabilidade de ovinos da raça Santa Inês ao
clima amazônico. 2009. Disponível (online): http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=
Adaptabilidade+de+ovinos+da+ra%C3%A7a+Santa+In%C3%AAs+ao+clima+amaz%C3%B4nico
&source=web&cd=1&ved=0CCUQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.abz.org.br%2Ffiles.php%3
Ffile%3Ddocumentos%2FADAPTABILIDADE_DE_OVINOS_DA_RA__A_SANTA_IN__S_AO
_CLIMA_AMAZ__NICO_284669178.pdf&ei=GZNqUI_QAoaA9QS254CoBQ&usg=AFQjCNHP
pgVD1Vx-Jln-vWUC9Qe1yczTMQ (03/06/2013)
VIDAL, M. F.; NEIVA, J. N. M.; CÂNDIDO, M. J. D.; SILVA, D. S.; PEIXOTO, M.J.A. Análise
econômica da produção de ovinos em lotação rotativa em pastagem de capim tanzânia (Panicum
maximum) (Jacq), Rev. Econ. Sociol. Rural v.44 n.4 Brasilia out/dez 2006.
115
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS ACIDENTES OFÍDICOS NO AMAZONAS NO
PERÍODO DE 2008 A 2012
RAQUEL TOMÉ DA SILVA1; ANA PAULA MIRANDA MUNDIM2
RESUMO: Entre os acidentes por animais peçonhentos, aqueles envolvendo serpentes são os mais frequentes na região
Amazônica. A identificação deste acidente, bem como da serpente envolvida e perfil da população acometida é
fundamental para o planejamento de medidas profiláticas efetivas. Desta forma este trabalho objetivou identificar o
perfil epidemiológico dos acidentes ofídicos no Estado do Amazonas, durante o período de 2008 a 2012, período que
abrange as duas maiores cheias dos rios. Trata-se de um estudo observacional descritivo retrospectivo baseado em
dados secundários oriundo do Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN. Os resultados
demonstraram 7.685 casos notificados, com maior frequência no período chuvoso. Serpentes do gênero Bothrops são as
principais envolvidas nos acidentes. Os casos predominam em pessoas do sexo masculino, com idade superior a 50
anos. Conclui-se que o perfil epidemiológico não se diferencia dos achados em relação ao país como um todo. Constatase que existe relação entre a precipitação pluviométrica e risco de acidentes ofídicos.
PALAVRAS-CHAVE: Amazonas. Acidentes ofídicos. Perfil epidemiológico.
INTRODUÇÃO
Existem aproximadamente 3 mil espécies de serpentes em todo o mundo, sendo que apenas
410 são consideradas perigosas para o homem (UETZ, 2008). Dentre as espécies peçonhentas
encontradas no Brasil, 20 pertencem ao gênero Bothrops, 19 ao gênero Micrurus, uma ao gênero
Crotalus e uma ao gênero Lachesis (BÉRNILS, 2010).
Segundo Campbell e Lamar (1989), ocorrem no Estado do Amazonas sete serpentes da
família Viperidae (Bothriopsis bilineata , Bothriopsis taeniata , Bothrops atrox, Bothrops brazili,
Crotalus durissus, Lachesis muta muta e Porthidium hyoprora ), pelo menos, onze espécies da
família Elapidae (Micrurus averyi, M. collaris, M.filiformis, M. hemprichii, M. karlschimidti, M.
lagnsdorff, M. lemniscatus, M. narducci, M. putumayensis, M. spixii e M. surinamensis) e três
gêneros da família Colubridae com registro de envenenamento, em humanos (Philodryas
viridissimus, Clelia clelia e Erythrolamprus aesculapii) (BRASIL, 1994).
1
Bolsista de Iniciação Científica da Universidade Nilton Lins. Av. Professor Nilton Lins, 3259. Parque das Laranjeiras
- CEP: 69058-030, Manaus, AM. E-mail: [email protected]
2
Orientadora de Iniciação Científica da Universidade Nilton Lins; Doutoranda da Universidade de São Paulo/USP. Av.
Professor Nilton Lins, 3259. Parque das Laranjeiras – CEP:69058-030, Manaus, AM. E-mail: [email protected]
116
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Quanto aos acidentes ofídicos, a Organização Mundial de Saúde (OMS), calcula que
ocorram em nível mundial aproximadamente 2.500.000 acidentes por serpentes peçonhentas por
ano, com 125.000 mortes (CHIPPAUX, 1998). As regiões mais atingidas são o sudeste da Ásia e a
América Tropical. Dentre os países sul-americanos o Brasil é o que apresenta maior número de
acidentes/ano (WHO, 1981).
No Brasil são registrados cerca de 26.000 casos por ano, sendo que a maioria acontece nos
meses quentes e chuvosos (BRASIL, 2008). A região Norte registra a maior incidência do país
(52.6/100.000 habitantes), seguida da região Centro-Oeste (16,4/100.000 habitantes) (BRASIL,
2008).
Em um estudo epidemiológico realizado no Instituto de Medicina Tropical do Amazonas,
durante o período de 1986 a 1992, foi observado que as principais espécies de serpentes causadoras
de acidentes nesta região foram Bothrops atrox (76%) e Lachesis muta muta (10%) (SÁ-NETO &
DOS SANTOS, 1995). Os envenenamentos por estas espécies apresentam sintomatologias
semelhantes, tais como: edema, dor, hemorragia local e sistêmica, necrose tecidual e insuficiência
renal aguda.
A ocorrência do acidente ofídico está, em geral, relacionada a fatores climáticos e aumento
da atividade humana nos trabalhos no campo (PINHO E PEREIRA, 2001).
Em 2011, realizou-se um estudo a fim de estabelecer dados epidemiológicos dos acidentes
ofídicos no Amazonas no período de 2009 e 2010, no presente trabalho observou-se que o ano de
2009, no qual registrou a maior cheia do Rio Negro nos últimos 100 anos, apresentou maior
frequência de notificação de acidentes ofídicos, fortalecendo a ideia da influência da precipitação
pluviométrica, onde elevaria os níveis de águas dos rios, fazendo com que as serpentes que habitam
as regiões próximas dessas margens se desloquem a procura de terra firme, e com a diminuição do
espaço territorial, aumente o contato com o Homem, facilitando a ocorrência dos acidentes. Já em
2012, a cheia do Rio Negro ultrapassou o nível das águas alcançado em 2009. Sendo assim,
havendo a necessidade da continuidade do estudo, afim de comparar as duas maiores cheias para
que possa estabelecer medidas profiláticas eficazes com o intuito de reduzir os índices de acidentes
ofídicos no Estado, coletando dados diretamente da Fundação de Vigilância Sanitária – FVS, com a
finalidade de possuir dados que ainda não alimentaram o Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (SINAN).
O acidente ofídico é um problema de saúde pública no Amazonas, sendo importante a
realização de estudos epidemiológicos e clínicos para seu melhor conhecimento. Por este motivo, o
presente trabalho descreveu os aspectos epidemiológicos do acidente ofídico no estado do
117
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Amazonas, comparando os anos que apresentaram as duas maiores cheias do Rio Negro, afim de
estabelecer um planejamento de medidas profiláticas eficazes.
MATERIAL E MÉTODOS
Tipo de estudo
Tratou-se de um estudo observacional descritivo de caráter retrospectivo oriundo de fonte
de dados secundárias obtidos a partir das notificações de acidentes ofídicos no Estado do
Amazonas, no período de 2008 a 2012.
Área de estudo
O estudo se restringiu ao Estado do Amazonas, contemplando assim cada um dos 62
Municípios, com uma população de 3.483.985 e área de 1.559.161,682 km².
População de estudo
Foi abarcada no estudo a população que tenha sido vítima de acidente ofidico e tenha sido
inserida no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) a partir das Fichas
Individual de Notificação (FIN) e Fichas Individual de Investigação (FII).
Coleta de dados
Os dados foram coletados visando contemplar cada um dos objetivos propostos neste
estudo.
Foram coletadas variáveis envolvendo características da vítima do acidente, do tipo de
serpente envolvida, distribuição e frequência de ocorrência da mesma. Foram elas:
•
Números de acidentes ofídicos por área de ocorrência do acidente ofídico
•
Classificação taxonômica (gênero) da serpente envolvida do acidente
•
Frequência dos acidentes segundo cada mês e ano do estudo
•
População acometida segundo gênero e faixa etária
Análise dos dados
Os dados coletados sobre acidentes por animais peçonhentos no Amazonas foram
utilizados para o cálculo da incidência a partir da seguinte relação: casos/população x 10n
118
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Foi considerado como dominador para efeito do cálculo de taxa de incidência a população
total de cada município segundo censo realizado pelo IBGE.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período de 2008 a 2012 foram notificados 7.685 casos de acidentes por serpentes
peçonhentas no Amazonas, possuindo incidência de 2,20/1.000 habitantes.
Aparentemente pela frequência absoluta não há grande diferença entre os acidentes nos
anos de estudo, porém a frequência absoluta (número de casos) não nos revela detalhes e a análise
baseada nela nos leva a erros, daí a importância de avaliar a taxa de incidência.
O Amazonas possui uma grande problemática de subnotificação de casos, no qual é
agravado devido a grandes distâncias territoriais, e muitas percorridas apenas por via fluvial, sendo
assim ainda são escassas as informações epidemiológicas (BORGES E SADAHIRO, 1999).
As áreas de maior risco concentram-se na porção as margens do rio Amazonas (BRASIL,
2007). O município de Uarini predominou durante os 4 primeiros anos de estudo, e segundo Guedes
et al., (2011), o município de Uarini (570 km distante da Capital) trata-se de um conglomerado de
alto risco para os acidentes ofídicos. Sabe-se que o município é parcialmente povoado por
indígenas. Já nos anos de 2008, 2010 e 2011 o município de Alvarães (531 km distante da Capital)
foi identificado como uma das principais incidências do Estado, fato que pode ser explicado devido
ao município possuir limites territoriais com o município de Uarini ao oeste. O município de São
Gabriel da Cachoeira predominou em 2008, 2009 e 2012, há relatos de que picadas de cobras
matam 25 vezes mais no município de São Gabriel da Cachoeira do que em qualquer outro lugar do
Brasil. De acordo com Soares e Silva (2007) o veneno da jararaca originária do Rio Negro tem
potência 30 vezes maior do que o da encontrada no Estado de São Paulo, o que reduziria a
ineficácia do soro produzido no Brasil, que se destina a um uso em geral.
O ano de 2009 apresentou maior frequência de notificação de acidentes ofídicos, neste ano
foi registrada uma das maiores cheias dos rios, enaltecendo a ideia da influência da precipitação
pluviométrica, onde elevaria os níveis de águas dos rios, fazendo com que as serpentes que habitam
as regiões próximas dessas margens se desloquem a procura de terra firme, e com a diminuição do
espaço territorial, aumente o contato com o Homem, facilitando a ocorrência dos acidentes (SÁNETO E SANTOS, 1995).
Relacionam-se os fatores climáticos e o aumento da atividade humana no campo à
elevação da ocorrência de tais acidentes (BRASIL, 2001).
119
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Por conta da subida das águas, os acidentes ofídicos, são os principais casos diagnosticados
de doenças em municípios em situação de emergência devido à cheia (OLIVEIRA, 2012).
Os meses com maior ocorrência de acidentes foram: Janeiro, Fevereiro, Março, Abril e
Maio, tratam-se do período de inverno amazonense, e de acordo com dados do Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET), tratam-se dos meses com maior precipitação chuvosa, com média de 200 a
400 mm. Os acidentes ofídicos costumam ocorrer com mais frequência no início e no final do
inverno, época de chuva. No início, as serpentes procuram refúgio em lugares mais secos, pois seus
abrigos ficam alagados. No final do inverno os igapós secam e as cobras retornam para seus lugares
novamente. Nos dois períodos, tornam-se mais ativas, pois estão à procura de novas tocas.
O reconhecimento dos períodos de maior risco, dado pela sazonalidade característica na
ocorrência desses acidentes, tem importância não apenas para preparar os serviços e os profissionais
de saúde para o aumento na demanda de casos, mas também para estabelecer estratégias de
distribuição e controle dos estoques de antivenenos nos locais de atendimento, e fortalecer as ações
de prevenção com atividades de educação em saúde (BRASIL, 2001).
A ocorrência dos acidentes ofídicos também está relacionada à atividade das serpentes, que
aumenta quando estão em busca de alimento, à procura de parceiros para acasalar, de local para
parir ou desovar, ou para controle de sua temperatura corporal (BRASIL, 2001).
A distribuição dos acidentes, ao longo do ano, não ocorre de maneira uniforme,
verificando-se um incremento no número de casos na época de calor e chuvas, que coincide com o
período de maior atividade humana no campo (BRASIL, 2001).
O gênero de serpente com maior incidência de acidentes foi Bothrops (67%), seguido de
Lachesis (22%). O gênero Micrurus raramente causa acidentes ofídicos na Região Amazônica
(GUEDES ET AL., 2011). Serpentes do gênero Lachesis dificilmente são encontradas na região
amazônica, pois estas habitam áreas secas.
Observou-se considerável proporção de acidentes onde o gênero de serpente envolvida
não foi informado (9%), sendo que esta informação é de extrema importância para a qualidade do
atendimento ao paciente como para estudos epidemiológicos acerca deste tema. O atual
conhecimento da composição dos venenos e seus principais efeitos sobre o organismo humano
permitem ao médico reconhecer o gênero do animal envolvido no acidente e selecionar o antídoto
adequado, mesmo na ausência da serpente (AZEVEDO-MARQUES, 2003).
Uma vez que a identificação da serpente causadora do acidente nem sempre é possível de
ser feita, o diagnóstico do tipo de envenenamento é baseado em critérios clínicos e epidemiológicos.
120
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Foram mais acometidas as pessoas do sexo masculino (79%) e com faixa etária acima de
50 anos (17%), trata-se de uma população ainda ativa no Amazonas e que dependem tanto da terra
de trabalho para a agricultura de subsistência, quanto do seu acesso às águas de trabalho, onde
desenvolve atividades da pesca, uma fonte importante de proteína e principal dieta alimentar do
ribeirinho (BIORN, 1999). Eles tiram proveito das águas e dos depósitos anuais de sedimento fértil
que os rios proporcionam, assim como, eles vivem dos produtos de colhem da natureza, da colheita
dos produtos regionais, como ainda cultivam a juta e malva, e extraem o látex das seringueiras para
venda em mercados locais e regionais (OLIVEIRA, 2012).
A maioria destes acidentes ocorre com trabalhadores rurais do sexo masculino
(BOCHNER E STRUCHINER, 2003). As serpentes não apresentam interesse em picar uma pessoa
e, quando fazem isso, é para se defenderem. E no Brasil nenhuma espécie peçonhenta vem
intencionalmente até uma pessoa para picá-la, são as pessoas que não percebem a presença da cobra
e se aproximam dela. Por isso, toda atenção é recomendada quando estamos nos habitats desses
animais (BERNARDE, 2011).
O perfil epidemiológico em animais ainda é desconhecido, por não tratar-se de casos de
notificação obrigatória, dificultando assim o conhecimento a cerca do tema. Portanto, é de extrema
importância o conhecimento clínico em humanos para que assim possa auxiliar no atendimento
veterinário.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O perfil epidemiológico no Amazonas não se diferencia ao encontrado no restante do país.
Constata-se que existe relação dos acidentes ofídicos com a precipitação pluviométrica e cheias dos
rios. É possível que a subnotificação de casos seja um grande problema no Estado, dificultando o
obtenção de resultados que possam representar a realidade estudo. Contudo os estudos
epidemiológicos a cerca do tema na região Norte ainda são bastante escassos.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO-MARQUES, M.M.; CUPO, P.; HERING, S.E. Acidentes por animais peçonhentos:
Serpentes peçonhentas. SIMPÓSIO: URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS DERMATOLÓGICAS E
TOXICOLÓGICAS. Capítulo IV. Medicina, Ribeirão Preto, 36: 480 – 489. Abr/dez 2003.
Disponível
em:
<
121
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
http://www.saudedireta.com.br/docsupload/134049903640animais_peconhetos_serpentes.pdf>
Acesso: 10/06/2013.
BERNARDE, PS. Mudanças na Classificação de Serpentes Peçonhentas Brasileiras e suas
implicações na Literatura Médica. Gazeta Médica da Bahia, v. 81, n. 1, p. 55-63, 2011. Disponível
em:
<http://editora.unoesc.edu.br/index.php/evidencia/article/view/1572/pdf_280>
Acesso:
10/06/2013.
BÉRNILS, RS. Brazilian Reptiles – List of species. Sociedade Brasileira de Herpetologia. 2010.
Disponível em: <http://www.sbherpetologia.org.br/checklist/repteis.htm> Acesso em: 10/06/2013.
BOCHNER, R.; STRUCHINER, CJ. Epidemiologia dos acidentes ofídicos nos últimos 100 anos no
Brasil: uma revisão. Cad. Saúde Pública, 2003, 19(1): 7-16.
BORGES, CC.; SADAHIRO, M.; DOS-SANTOS, MC. Aspectos epidemiológicos e clínicos dos
acidentes ofídicos ocorridos nos municípios do Estado do Amazonas. Rev. Soc. Bras. Med.
Trop.,1999, 32(6): 637-646. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rsbmt/v32n6/0860.pdf>
Acesso em: 10/06/2013.
BRASIL. Ofidismo, análise epidemiológica. Brasília, DF.1994.
BRASIL. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. Fundação
Nacional de Saúde (FUNASA), Brasília, DF. 2001, 120pp.
BRASIL. Sistema Nacional de Vigilância em Saúde. Mato Grosso do Sul, MS. 2008
CAMPBELL, JA. e LAMAR, WW. The Venomous Reptiles of Latin America. Ithaca:
Cornell
University
Press,
1989.
Disponível
em:
<
http://www.jstor.org/discover/10.2307/2390563?uid=2&uid=4&sid=21102761509873> Acesso em:
10/06/2013.
GUEDES, WC.; AMORIM, GB.; NUNES, GG. Uma análise puramente espacial para os casos de
acidentes por animais peçonhentos no estado do Amazonas. 42ª Reunião Regional da Associação
Brasileira de Estatística. Manaus, AM. 2011. CD-ROM.
OLIVEIRA, AEM. Amazonas: Desafios para a saúde nas cheias e vazantes. Memorias Convención
Internacional de Salud Pública. Cuba Salud 2012. La Habana 3-7 de diciembre de 2012. Disponível
em:
<
http://www.convencionsalud2012.sld.cu/index.php/convencionsalud/2012/paper/viewPaper/756>
Acesso em: 10/06/2013.
PINHO, FMO; PEREIRA, ID. Ofidismo: artigo de revisão. Revista 11 da Associação Médica
Brasileira, São Paulo, SP, v.47, n.1, p24-29, 2001.
SÁ-NETO RP.; SANTOS MC. Aspectos epidemiológicos dos acidentes ofídicos atendidos no
Instituto de Medicina Tropical de Manaus (IMTM), 1986-92: estudo retrospectivo. Rev. Soc. Bras.
Med. Trop., 1995, 28(supl I): 171.
UETZ., P. How many species? In TIGR reptile database (P. Uetz & J.
Hallerman).
2008.
Disponível em: <http://www.reptile-database.org/db-info/SpeciesStat.html.> Acesso em:
01/07/2013.
122
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
WHO (World Health Organization). Progress in the
characterization
and standardization of antivenoms (WHO offset Publication, 58). 1981.
of
venoms
123
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro
2013Universidade Nilton Lins
UTILIZAÇÃO DO “FLUSHING” NA MELHORIA DA EFICIÊNCIA REPRODUTIVA EM
FÊMEAS OVINAS DESLANADAS NO MUNICÍPIO DE MANACAPURU (AM).
MONIQUE SANTOS DA SILVA1; THIAGO BITAR ALVES2; GILVAN MACHADO
BATISTA3; ZENIA MARCIA RODRIGUEZ CHACÓN4
RESUMO: Este trabalho analisou o desempenho reprodutivo de ovelhas submetidas a suplementação alimentar antes e
durante o período de acasalamento. Utilizaram-se 08 ovelhas da raça Santa Inês e mestiças em atividade reprodutiva,
em delineamento inteiramente casualizado. As ovelhas foram separadas em dois grupos: T1 (suplementação com 500
g/dia de milho triturado misturado com a casca de soja) e T2 (sem suplementação). Nas análises bromatológicas do
milho triturado misturado com a casca de soja foram encontrados valores de 90,65% para MS, 7,24% para PB, 3,18%
para MM, 96,81% para MO, 1,19% para EE. As ovelhas sob suplementação apresentaram ganho de peso significativo
(P<0,05) ao final do período de cobertura. Os escores da condição corporal também foram maiores nas ovelhas
suplementadas ao final do período de cobertura, notando-se maior deposição de tecidos (músculo e gordura) no corpo
do animal. O “flushing” propiciou resultados efetivos no índice de prolificidade (100% no TI contra 50% no T2) e taxa
de fertilidade (100% no TI contra 50% no T2). A suplementação alimentar com milho triturado misturado com casca de
soja antes e durante o período de monta pode atuar de maneira benéfica no desempenho reprodutivo das ovelhas
deslanadas Santa Inês e mestiças.
PALAVRAS-CHAVE: Suplementação alimentar. Desempenho reprodutivo. Ovinos deslanados.
Santa Inês.
INTRODUÇÃO
Os ovinos são altamente representativos na composição do sistema de produção em
propriedades familiares em toda a região Amazônica, aumentando a partir da década de 80 com a
importação de ovinos deslanados das raças Morada Nova e Santa Inês (PEREIRA, 2008). Segundo
dados expostos do IBGE, 2010, 586.237 ovinos encontravam-se na Região Norte, 56.285 no
Amazonas, tendo a raça Santa Inês como a mais difundida. A criação de ovinos deslanados é
considerada uma opção interessante para a região pois são animais de pequeno porte, de fácil
manejo e algumas raças têm como característica a alta adaptabilidade a diferentes condições
ambientais e climáticas (PEREIRA, 2009).
Veloso, 2008, afirma que a nutrição pode afetar a atividade do estro, a taxa ovulatória, a
sobrevivência embrionária em ovinos e ainda pode ter reflexos sobre a concepção, perdas
embrionárias, taxa de parição, taxa de fertilidade, peso dos cordeiros ao nascer e índice de partos
duplos. Em condições especiais de manejo, apresentam cios ainda com a cria ao pé, o que diminui o
Acadêmica do curso de medicina veterinária da Universidade Nilton Lins, aluna
([email protected]).
2
Acadêmico do curso de medicina veterinária da Universidade Nilton Lins, aluno PIBIC- CNPq
([email protected]).
3
Engenheiro de pesca, mestre em ciência de alimentos ([email protected]).
4
Dra. Professora da Universidade Nilton Lins ([email protected]).
1
PIBIC–CNPq
124
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro
2013Universidade Nilton Lins
intervalo entre partos, sendo possível intervalos inferiores a oito meses. Possuem boa habilidade
materna favorecendo a sobrevivência dos cordeiros, aumentando a disponibilidade de animais para
abate e reposição de matrizes (BUENO et al, 2006). Segundo Dukes, 1996, as fêmeas ovinas entram
em puberdade em torno do sétimo mês de idade. O estro apresenta uma duração média de 3 dias.
O período de gestação dura aproximadamente 21 semanas (150 dias ou 5 meses).
Entende-se como “flushing” o aumento no aporte nutricional com a finalidade de
promover um efeito no peso e na condição corporal durante a fase reprodutiva da fêmea ovina. Para
Sá e Sá, 2001, o objetivo é aumentar a taxa de ovulação e a taxa de natalidade, beneficiando a
produção, nutrição, reprodução e saúde. A prática consiste em proporcionar aos animais uma dieta
de alto nível energético ou energético e proteico, por algumas semanas, antes e durante o período de
acasalamento, para que as fêmeas entrem nesse período ganhando peso, ou seja, melhorando sua
condição corpórea, aumentando a taxa de ovulação e, consequentemente, o desempenho
reprodutivo. Segundo Rodriguez et al, 2007, em fêmeas da raça Santa Inês não existe
estacionalidade no ciclo reprodutivo, com uma boa uniformidade de cios ao longo do ano sendo
portanto o fator nutricional fundamental no processo reprodutivo.
De acordo com EMBRAPA, 2005, acompanhar mensalmente o escore corporal das
matrizes ovinas é fundamental para o desempenho produtivo dos rebanhos de modo que haja tempo
suficiente para os devidos ajustes nutricionais. Segundo Sá e Sá, 2001, o sistema de avaliação de
escore corporal tem por base uma escala de 1 a 5, onde os escores são obtidos pela sensibilidade da
palpação da região lombar onde se dá a deposição de gordura e músculo na vértebra. Para
identificar a região da palpação, deve-se localizar a última costela e subir com os dedos até
encontrar a vértebra lombar. Nesta, sente-se dois processos denominados de apófises espinhosa e
transverso.
De acordo com Mendes e Ferreira, 2007 a casquinha de soja é comercializada na forma de
casca (Figura 1) ou peletizada (Figura 2). É considerada como um ingrediente volumosoconcentrado, pois tem a função fisiológica de fibra vegetal e funciona como um grão de cereal em
termos de disponibilidade de energia. Possui ainda boa palatabilidade e promove a manutenção do
pH ruminal.
125
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro
2013Universidade Nilton Lins
Fig 1: Subproduto de soja na forma de casca
Fonte: Mendes e Ferreira, 2007.
Fig 2: Subproduto de soja na forma peletizada
Fonte: Mendes e Ferreira, 2007.
O milho é altamente energético, e a energia é o nutriente mais importante na relação entre
nutrição e reprodução de ovinos. As ovelhas submetidas ao “flushing” incrementaram a proporção
de nascimento de cordeiros gêmeos, a taxa de ovulação, maior ocorrência de cios, a taxa de
fecundidade, e diminuíram a mortalidade embrionária (NATEL; MEDINA, 2011).
O objetivo deste trabalho foi aplicar métodos nutricionais em fêmeas ovinas deslanadas
para obter uma reprodução mais eficiente, trabalhando o “flushing” na melhora da condição
corporal das fêmeas que possuíam escore corporal baixo, bem como aprimorar a taxa de fertilidade
e índice de prolificidade.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido na Fazenda Ferradurinha no município de Manacapuru (AM),
no Km 66 da estrada Manaus-Manacapuru, localizado na região metropolitana de Manaus (Região
Norte do Brasil) a 60m de altitude à 3.29° de latitude sul e 60.62° de longitude W (oeste)
Greenwich (IBGE, 2010).
Fig 1- Manacupuru no Brasil
Fig 2- Manacapuru no Amazonas
Fonte: IBGE, 2010.
Fonte: IBGE, 2010.
Foram utilizadas oito ovelhas deslanadas da raça Santa Inês e mestiças vazias, sendo
quatro fêmeas no tratamento 1 (T1)– com “flushing” e quatro fêmeas no tratamento 2 (T2) – sem
126
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro
2013Universidade Nilton Lins
“flushing”, ficando as oito a partir da seleção fora da presença dos machos. Antes do início do
“flushing”, foi realizada coleta de fezes de duas das fêmeas do tratamento 1 e duas das fêmeas do
tratamento 2 e foi realizado também o exame parasitólogico para se conhecer a condição de saúde
dos animais. Foi realizada a identificação das oito fêmeas com brincos plásticos próprios para
ovinos na orelha direita. As fêmeas não foram vermifugadas durante o período experimental. O
“flushing” iniciou 21 dias antes da cobertura (passando por uma semana prévia de adaptação) e foi
até 21 dias após o início da cobertura. O “flushing” constituiu em 500g/dia/animal, sendo 250g de
manhã e 250g no final da tarde, de casca de soja e milho triturado misturado com capim de corte:
capim elefante (Penisetum purpureum) picado para as quatro fêmeas do T1; as fêmeas do T2
continuaram ao longo do experimento com o manejo alimentar tradicional (pastejo a campo sem
nenhuma suplementação). Todas elas receberam sal mineral e água à vontade.
Foi realizada a introdução de dois machos (raça Santa Inês) 21 dias após o início do
“flushing” para acasalamento. O macho mais velho ficou confinado com 5 fêmeas para cobrí-las,
sendo 3 fêmeas do T1 e 2 fêmeas do T2 sem grau de parentesco com o macho, o macho mais novo
ficou confinado com 3 fêmeas para cobrí-las, sendo 1 fêmea do T1 e 2 fêmeas do T2 sem grau de
parentesco com o macho. A pesagem das oito fêmeas foi realizada antes, durante e no final do
período experimental (a cada 21 dias) sempre no período vespertino, após jejum de 6 horas.
As análises bromatológicas foram realizadas no laboratório de Análise de Alimentos da
Universidade Nilton Lins, seguindo a metodologia de Wende ou sistema proximal de análise,
descritos por Instituto Adolfo Lutz (1985). Foi utilizado um delineamento experimental
inteiramente casualizado com dois tratamentos e 4 repetições por tratamento e foi empregado o teste
de F para comparar a média dos tratamentos. Foram avaliados: escore da condição corporal no
início da suplementação alimentar e no final do período de monta, peso ao início do período de
suplementação, ao início e ao término da estação de monta, taxa de fertilidade (percentual do
número de fêmeas em cobertura que ficaram prenhes durante o período de exposição reprodutiva),
índice de prolificidade (percentual de cordeiros nascidos por ovelha exposta ao carneiro na estação
reprodutiva), e sexo dos cordeiros nascidos. O escore da condição corporal foi determinado segundo
metodologia descrita por Sá e Sá, 2001, atribuindo valores de 1 a 5, em que 1 corresponde a animal
muito magro, escore 2 significa magro, escore 3 significa ideal, escore 4 significa gordo, escore 5
significa obeso. A Taxa de fertilidade e o índice de prolificidade foram determinados segundo
método descrito por Paula, 2011 e Souza, 2007.
127
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro
2013Universidade Nilton Lins
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao início do período de suplementação as ovelhas do T1 e T2 apresentavam escore
corporal 2, onde a apófise espinhosa apresentava-se proeminente e bem definida. Sobre o músculo
lombar era visível uma pequena cobertura de gordura. Ao final da estação de cobertura as ovelhas
do T1 apresentaram escore 3 onde a apófise espinhosa se apresentou de forma suave e arredondada.
O músculo lombar visivelmente mais volumoso apresentando uma boa cobertura de gordura. Esses
resultados assemelham-se aos observados por Mori et al, (2006) onde relataram que o escore
corporal das ovelhas dos tratamento com suplementação foi superior (P<0,05) somente no final da
estação de cobertura.
Na tabela 1, constam os resultados da análise bromatológica (% na MS) do capim-elefante e
do “flushing”
Tabela 1. Análise bromatológica do capim-elefante e do “flushing”.
Alimento
MS
PB
EE
Capim elefante
27,46
2,39
0,74
Flushing
90,65
7,24
1,19
MM
MO
FDN
0,92
99,10
68,70Y
3,18
96,81
X
FDA
41,37Z
X
*MS= matéria seca, PB= proteína bruta, EE= extrato etéreo, MM= matéria mineral, MO= matéria orgânica,
FDN= fibra em detergente neutro, FDA= fibra em detergente ácido.
Y,Z
= Dados obtidos por Costa et al, 2008. X= dados não avaliados.
Não foram encontrados dados em outros trabalhos de análise bromatológica de milho
triturado misturado com casca de soja, ficando difícil realizarmos uma comparação com outros
resultados. Na análise bromatológica do capim-elefante, o teor de proteína bruta ficou muito baixo e
concordam com os resultados encontrados por Leite et al, 2000, onde relacionaram esse baixo teor
de proteína com a baixa quantidade de matéria orgânica no solo, como também devido a falta de
adubação de reposição, principalmente de nitrogênio.
Houve influência positiva do “flushing” sobre o índice de prolificidade e taxa de
fertilidade, em que todas as ovelhas do T1 apresentaram índice de prolificidade equivalente a 100%
e as ovelhas do T2 apresentaram índice de prolificidade equivalente a 50%. As ovelhas do T1
apresentaram 100% como resultado da taxa de fertilidade e as ovelhas do T2 apresentaram 50%
como resultado da taxa de fertilidade, caracterizando-se um aumento significativo no desempenho
reprodutivo das ovelhas suplementadas. Esses resultados contrastam com os encontrados por
128
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro
2013Universidade Nilton Lins
Veloso, 2008, em que as taxas de fertilidade e o índice de prolificidade não foram influenciados
pelo sistema de suplementação. Em relação ao sexo dos cordeiros nascidos, nas ovelhas do T1 todos
os neonatos foram do sexo feminino, nas ovelhas do T2, todos os neonatos foram do sexo
masculino não havendo uma explicação clara para esses resultados.
O “flushing” não provocou a ocorrência de partos gemelares. Esses resultados concordam
com os de Mori et al, (2006), no qual o “flushing” não determinou maior número de partos gemelares.
As ovelhas do T1 apresentaram peso corporal superior e diferente estatisticamente
(P<0,05) em relação as do T2 ao final da estação de cobertura (Tabela 2). Esse resultado difere do
encontrado por Veloso, 2008, onde a raça Santa Inês alcançou maior perda de peso (P<0,05)
durante todo o período de tratamento (42 dias), acreditando que pode ter havido influência de
fatores externos sobre o tratamento, como o meio ambiente.
Tabela 2. Peso (Kg) das ovelhas no início do período de suplementação (IPS), início de período de monta
(IPM) e final de período de monta (FPM).
Tratamento
IPS
IPM
FPM
T1
43
41
43
43
43
42
43
43
45
41
42
45
T2
32
34
34
36
37
37
26
24
28
45
46
48
X
(42,83)a
(35,58)b
F = 8,68199
T1: Tratamento 1 (suplementação com 500g/dia de milho triturado misturado com a casca de soja); T2:
Tratamento 2 (sem suplementação).
a,b
...: Médias seguidas de letras diferentes, diferem significativamente (P<0,05) pelo teste F.
CONCLUSÃO
As ovelhas suplementadas obtiveram resultados desejáveis no quesito ganho de peso e
escore da condição corporal. O “flushing” propiciou resultados efetivos no índice de prolificidade e
129
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro
2013Universidade Nilton Lins
taxa de fertilidade. Não houve influência do “flushing” sobre a ocorrência de partos gemelares. A
suplementação alimentar com milho triturado misturado com casca de soja antes e durante o
período de monta pode atuar de maneira benéfica no desempenho reprodutivo das ovelhas
deslanadas Santa Inês e mestiças.
AGRADECIMENTOS
Aos proprietários da fazenda Ferradurinha por disponibilizar o espaço e os animais para o
desenvolvimento do trabalho, à Universidade Nilton Lins pelo transporte, encorajamento e
incentivo oferecido para a elaboração de trabalhos científicos e ao CNPq pelo oferecimento das
bolsas de iniciação científica. Agradecemos.
REFERÊNCIAS
BUENO, M. S.; CUNHA, E. A.; SANTOS, L. E.; VERÍSSIMO, C. J. Santa Inês: uma boa
alternativa para a produção intensiva de carne de cordeiros na região Sudeste. 2006. Artigo em
Hypertexto. Disponível em: http://www.infobibos.com/Artigos/2006_2/SantaInes/index.htm.
Acesso em: (20/09/2012).
COSTA. M, ALMEIDA. R,H,A; CABRA.L,S;BHERING.M; ABREU.J,G; ZERVOUDAKIS.
J,T;RODRIGUES.R,C;OLIVEIRA. I.S. Valor nutritivo do capim-elefante obtido em diferentes
idades de corte. 2008. Disponível em: http://www.rbspa.ufba.br. Acesso em: (02/09/2013).
DUKES, H.J. Fisiologia dos animais domésticos. 11ª edição. Rio de Janeiro Guanabara Koogan,
1996. 586 p.
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. (2005). Disponível em:
http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/CaprinoseOvinosdeCorte/CaprinosOvin
osCorteNEBrasil/reproducao.htm#titulo6. Acesso em: (19/09/2012).
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA . (2010) Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/ppm/2010/ppm2010.pdfhttp://www.ibge.gov.br/
cidadesat/painel/painel.php?codmun=130250http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1.
Acesso em: (20/09/2012).
INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz. v. 1: Métodos
químicos e físicos para análise de alimentos, 3. ed. São Paulo: IMESP, 1985. p. 53-54.
LEITE. R,M,B; FILHO. J,L,Q; SILVA. D.S. Produção e valor nutritivo do campim-elefante
cultivar cameroon em diferentes idades. 2000. Disponível em: http://www.cca.ufpb.br/revista/pdf
/2000_4.PDF. Acesso em: (05/09/2013).
130
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro
2013Universidade Nilton Lins
MENDES,C.C.Q; FERREIRA, M.E. Por que utilizar a casca de soja na alimentação do rebanho.
2007. Disponível em: http://www.farmpoint.com.br/radares-tecnicos/nutricao/por-que-utilizar-acasca-de-soja-na-alimentacao-do-rebanho-33654n.aspx. Acesso em: (03/06/2013).
MORI. R.M; R. RIBEIRO.E,L,A; MIZUBITI. I.Y; ROCHA. M,A; SILVA. L,D,F. Desempenho
reprodutivo das ovelhas submetidas a diferentes formas de suplementação alimentar antes e durante
a estação de monta. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbz/v35n3s0/30726.pdf.
Acesso em: (02/09/2013).
NATEL,A; MEDINA, I.M. (2011). Alimentação de ovinos criados em sistema intensivo –
concentrados. Disponível em: http://www.farmpoint.com.br/radares-tecnicos/nutricao/alimentacaode-ovinos-criados-em-sistema-intensivo-concentrados-69702n.aspx. Acesso em: (03/06/2013).
PAULA. E.F.E. Escrituração zootécnica na ovinocaprinocultura: conceitos e aplicabilidade. 2011.
Disponível em: http://ovinosecaprinos.iepec.com/noticia/escrituracao-zootecnica-naovinocaprinocultura- conceitos-e-aplicabilidade. Acesso em: 02/09/2013)
PEREIRA, E.M.O. Torta de cupuaçu (Theobroma grandiflorum) na alimentação de ovinos. Tese.
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Campus deJaboticabal . Jaboticabal -São
Paulo. (2009)
PEREIRA, R. A ovinocultura no Estado do Amazonas. 2008. Disponível em:
http://workshopovinoscaprinosam.blogspot.com.br/2010/09/ovinocultura-no-estado-do-amazonas_
1625.html. Acesso em: (27/07/12).
RODRIGUEZ, P.A.; COELHO, L.A.; NONAKA, K. O.; SASA, A.; VICENTE,
W.R.R.;BALIEIRO,J.C.C.; SIQUEIRA, E.R. Annual characteristics of estrous activity in wool
and hair ewe lambs under subtropical conditions. Sci. agric. (Piracicaba, Braz.) v.64 n.5
Piracicaba set./out. 2007.
SÁ, C. O. ; SÁ, J. L. (2001). Flushing. Disponível em:http://www.crisa.vet.br/extern_2001/flushing
.htm. Acesso em: (27/07/2012).
SOUZA, D.A. Utilizando índices de desempenho. 2007. Disponível em: http://www.farmapoint.
com.br/cadeiaprodutiva/dicasdesucesso/utilizando-indices-de-desempenho-parte-ii-41536n.aspx.
Acesso em: (02/09/2013).
TATIT, L.T; SILVA, F.L.S.P. Cordeiro bem manejado garante carne de qualidade. 2012. Disponí
vel em: https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:c_32ENE5dEcjwww.projepec.com.br/cor
deiro%2520bem%2520manejado%2520garante%2520carne%2520de%2520qualidade.pdf+peso+do
s+ovinos+rec%C3%A9m+-+nascidos&hl=ptBR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEEsirTioiNeo7xwCbu
uYakdwxS1L9YoupqnnsYDUAoO1Tir5meTYUdj91Jladu0F37zMR7FoYMoA2gGdp6COEZdM_
s5srRTL-8r6HCcZW7n_H-I8I8HGQ99vtXbnjdlfv4uxFC9&sig=AHIEtbQSy5UswWRoE95rmcE9
bcXjs9uhug. Acesso em: (21/09/2012).
VELOSO, J.L.O. Desempenho produtivo e reprodutivo de ovelhas submetidas a diferentes sistemas
de “flushing”. 2008. Dissertação. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB - Campus
de Itapetinga (BA). Brasil.
131
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
DIVERSIDADE DE VESPAS-DE-FIGO (AGAONIDAE: CHALCIDOIDEA) EM
RELAÇÃO AO TAMANHO DO SICÔNIO (FICUS, MORACEAE).
SABRINA LIMA DE MENEZES1; RAQUEL RIBEIRO DE SOUZA CASTRO2; ALINNE
COSTA CAVALCANTE REZENDE3; OTILENE SANTOS MATTOS4
RESUMO: Ficus L.(Moraceae) é um dos grupos de plantas tropicais mais importantes devido às diversas interações
interespecífica que estabelece com um grupo de vespas-de-figo (Chacidoidea), tais como competição, predação e
mutualismo. Este estudo teve como objetivo analisar a diversidade de vespas da família Agaonidae associadas a três
espécies do gênero Ficus (F. citrifolia, F. mathewsii e F. obtusifolia) na área urbana de Manaus/AM. Um total de 46
morfo-espécies de vespa-de-figo foram encontradas em 450 sicônios analisados, pertencentes a sete gêneros, sendo um
gênero de polinizadoras e seis de não-polinizadoras. Dentre os gêneros identificados o mais diverso foi Physothorax
com 10 morfo-espécies. Ficus citrifolia apresentou a fauna mais diversa, com 30 morfo-espécies de vespas, seguidos de
F. mathewsii (24) e F. obtusifolia (18). Foi verificada a correlação significativa para o diâmetro dos sicônios nas três
espécies de Ficus em relação à abundância, ou seja, quanto maior o tamanho e mais flores disponíveis, mais locais para
oviposição haverá para as vespas se reproduzirem. Já para riqueza em relação ao diâmetro, diferença estatística
significativa não foi observada para as espécies F. mathewsii e F. citrifolia. Para F. obtusifolia teve diferença
significativa, pois, muito embora F. obtusifolia possua um diâmetro maior, apresentou a menor diversidade. Esse
trabalho poderá auxiliar em novos estudos ecológicos referente à comunidade de vespas associadas aos hospedeiros em
relação à diversidade da área urbana de Manaus/AM.
PALAVRAS-CHAVE: Ficus. Mutualismo. Agaonidae.
INTRODUÇÃO
Ficus L. pertence à família Moraceae e compreende cerca de 750 espécies encontradas nas
regiões tropicais e subtropicais. Essas espécies estão distribuídas em seis subgêneros e 19 seções
(VERKERKE 1989; RONTED et al 2005; BERG 1989). A principal característica do gênero Ficus
é sua inflorescência globosa em forma de urna, chamada sicônio (ou figo), cujas flores masculinas e
femininas se desenvolvem internamente. Externamente se encontra o ostíolo, uma pequena abertura
que permite a comunicação entre o meio interno e o meio externo (PEREIRA 2005; PEREIRA e
PENG 2008).
As flores unisexuadas das figueiras estão guardadas no interior dos sicônios e não têm
contato direto com o ambiente externo, de forma que o pólen não pode ser transferido de uma planta
a outra espontaneamente. (PEREIRA e PENG 2008; FIGUEIREDO et al 1995). Essa estrutura
reprodutiva única presente nas figueiras (sicônio) gera uma dependência no processo de
polinização, de um grupo específico de vespa, no qual é um dos raros exemplos na natureza de
1
Acadêmico da Universidade Nilton Lins/Departamento de Biologia/Programa de Iniciação Científica. Rua e Bc. São
Sebastião, 87, Japiim I, Manaus, AM. CEP= 69078330. E-mail: [email protected]
2
Pós-graduação em Biologia Urbana, Universidade Nilton Lins
3
Pós-graduaçaõ em Biologia Urbana, Universidade Nilton Lins
4
Pro-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação, Universidade Nilton Lins
132
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
mutualismo obrigatório entre planta e inseto (FLEMING e HOLLAND 1998). Estas diminutas
vespas-de-figo com menos de 2 mm, pertencentes a subfamília Agaoninae, família Agaonidae,
superfamília Chalcidoidea (Hymenoptera). Essas vespas promovem a polinização das flores e
recebem em troca um ambiente onde suas larvas podem desenvolver com segurança (BOUCEK
1988; BRONSTEIN 1992; CASTRO 2013). Os ovos dessas vespas só se desenvolvem dentro do
figo, onde elas passam todo o seu ciclo de vida polinizando e ovipositando (PEREIRA e PENG
2008; BRONSTEIN 1992; FIGUEIREDO 1995).
As vespas que não realizam a polinização são consideradas parasitas do mutualismo, são
espécies que utilizam estratégias oportunistas beneficiando-se dessa relação, realizando a
oviposição pelo lado de fora, inserido o seu longo ovipositor pela parede do figo, depositando ali os
seus ovos (COMPTON et al 1996; WEIBLEN 2002; FARACHE 2010). As vespas não
polinizadoras podem ser galhadoras, cleptoparasitas (inquilinas) ou parasitóides (WEIBLEN 2002),
e apresentam maior riqueza de espécies em comparação as polinizadoras (CASTRO 2013).
Este trabalho teve como objetivo identificar a fauna de vespas associadas à Ficus
mathewsii, Ficus citrifolia e Ficus obtusifolia e avaliar o diâmetro do sicônio em relação à
diversidade de vespas-de-figo.
MATERIAL E MÉTODOS
Local de estudo e Espécies estudadas
O trabalho foi realizado na área urbana do município de Manaus/AM. As espécies
estudadas foram: Ficus obtusifolia, F. mathewsii e F. citrifolia, pertencentes à seção Americana do
subgênero Urostigma . Foram coletados 25 sicônios por indivíduos (plantas), seis plantas para cada
espécie, em fase próxima a emergência das vespas, tendo um total de 150 sicônios por espécie, em
um total de 450 sicônios analisados. No laboratório da Universidade Nilton Lins foram
individualizados e mantidos por 48 horas em frascos plásticos. Após esse período foram mortos por
congelamento (02 dias) e acondicionados em álcool 70%, as vespas foram triadas com o auxílio de
lupa estereoscópica, separadas em morfo-espécies e identificadas ao nível de gênero (BOUCEK
1993; RASPLUS e SOLDATI 2006; FARACHE 2010). Os táxons foram tratados como morfoespécies, pois possivelmente tratam-se de espécies novas. O único trabalho taxonômico com
vespas-de-figo nos Neotrópicos foi realizado em 1993 por Boucek, e nenhuma das espécies
descritas foi encontrada neste estudo. A continuidade dos estudos taxonômicos com as vespas da
Amazônia faz necessário para comprovação dessa hipótese.
133
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Para verificar se o tamanho do sicônio esta relacionado com a riqueza e a abundância total
dos insetos entre as três espécies de figueiras foi feita uma correlação de Spearman no programa
estatístico Bio stat 5.0 para cada uma das três espécies de figueiras.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foi analisado e identificado nos 450 sicônios em três espécies de Ficus um total de 46
morfo-espécies de vespas-de-figo pertencentes a sete gêneros (Tabela1). Dentre os gêneros de
vespas não-polinizadoras, somando as três espécies estudadas, Physothorax foi o mais diverso com
10 morfo-espécies, seguido do gênero Aepocerus com 09 morfo-espécies, Anidarnes e Idarnes com
8 morfo-espécies cada um. A espécie de Ficus com mais espécies de vespas associadas aos seus
sicônios foi F. citrifolia com 30, seguida de F. mathewsii com 24 morfo-espécies. A F. obtusifolia
foi a menos diversa com 18 morfo-espécies (Tabela2).
Tabela 1. Número de morfo-espécies por gênero de vespa-de-figo.
(Sub) Família
Gênero
Agaoninae
Pegoscapus1
Torymidae
Physothorax2
Eurytomidae
Eurytoma 2
Incertae sedis
Heterandrium2
Sycophaginae
Anidarnes2
Incertae sedis
Aepocerus2
Sycophaginae
Idarnes2
1
Polinizadora 2 Não polinizadora
Número de morfo-espécies por gênero
das três espécies de Ficus
03
10
06
04
08
09
08
Tabela 2. Quantidade de gênero de vespa-de-figo em cada hospedeiro (Ficus), com suas respectivas
quantidades de morfo-espécies.
Hospedeiro
(Sub) família
Gênero de vespas
F. obtusifolia
Agaonidae
Sycophaginae
Pegoscapus
Idarnes (grupo carme)
Idarnes (grupo flavicolis)
Idarnes (grupo incerta)
Aepocerus
Physothorax
Anidarnes
Eurytoma
Pegoscapus
Idarnes (grupo carme)
F. citrifolia
Incertae sedis
Torymidae
Sycophaginae
Eurytomidae
Agaonidae
Sycophaginae
Quantidade de
morfo-espécie
01
03
01
01
04
04
03
01
01
06
134
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Continuação...
F. mathewsii
Incertae sedis
Torymidae
Sycophaginae
Incertae sedis
Idarnes (grupo incerta)
Aepocerus
Physothorax
Anidarnes
Heterandrium
Eurytomidae
Eurytoma
Agaonidae
Sycophaginae
Pegoscapus
Idarnes (grupo carme)
Idarnes (grupo flavicolis)
Idarnes (grupo incerta)
Aepocerus
Physothorax
Anidarnes
Heterandrium
Eurytoma
Incertae sedis
Torymidae
Sycophaginae
Incertae sedis
Eurytomidae
01
06
06
03
04
03
01
03
01
01
07
01
05
01
04
No presente estudo foram encontradas 46 morfo-espécies de vespas em três espécies de
figueiras enquanto no trabalho de Castro (2013) foram encontradas 62 morfo-espécies em cinco
espécies de figueiras. Já em Farache (2010) foram encontradas 61 morfo-espécies de vespas num
total de oito espécies de figueiras e Costa (2010) foram encontradas 31 morfo-espécies de vespas
em três espécies de figueiras extra amazônica. Igualmente aos resultados dos trabalhos citados
acima, foi observado neste estudo uma ampla diversidade em espécies de vespas não-polinizadoras.
Em relação ao número de vespas presentes em um único sicônio, foi possível observar no
presente estudo, 30 espécies de vespas associadas a um único sicônio de F.citrifolia . Segundo
Compton e Hawkins (1992) é possível encontrar de três até 30 espécies de vespas associadas a um
único sicônio em diferentes espécies de árvores hospedeiras. No trabalho de Beardsley (1988), por
exemplo, foi observado 28 espécies de vespas, exclusivo de parasitas, a um único sicônio de Ficus
thonninguii (seção Americana ) na África. No trabalho de Elias (2008), elaborado nas regiões sul e
sudeste do Brasil, foi encontrado para F. citrifolia um número total de 14 espécies de vespas não
polinizadoras, diferenciando assim dos resultados registrados neste presente estudo para região
amazônica.
A riqueza de espécies por gênero de vespas-de-figo encontrada na cidade de Manaus/Am foi
maior do que a riqueza de espécies encontrada em estudos realizado por Farache (2010), com dez
espécies para o gênero Physothorax, seis para Eurytoma e nove para Aepocerus. Ele encontrou
quatro espécies para Aepocerus e Physothorax e três para Eurytoma . No gênero Anidarnes teve a
135
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
mesma riqueza de espécies (oito). Já a riqueza de espécies para Idarnes foi inferior (oito espécies)
ao encontrado no trabalho de Farache (2010), visto que ele encontrou (dezoito espécies). De acordo
com Boucek (1993), ainda há muitas espécies de vespas a serem descritas para os gêneros
Aepocerus, Eurytoma , Physothorax e Anidarnes. O mesmo observou poucas espécies de vespa-de-
figo descritas para os Neotrópicos na revisão taxonômica, pois existe uma enorme diversidade nessa
região.
Em relação ao diâmetro do sicônio, para este estudo foi verificado que F. mathewsii
apresentou sicônios com menor diâmetro e menor número de flores (galhas) quando comparado
com as demais espécies, enquanto que o maior diâmetro e número de flores foram observados para
a espécie F. obtusifolia . Diferença estatística significativa foi verificada quando comparado os
diâmetros e números de flores das três espécies de Ficus estudadas. Correlação significativa foi
verificada entre o diâmetro dos sicônios e o número de flores para as espécies F. citrifolia
(p=0,0148, gl =148, rs =0,1973), F. obtusifolia (p<0,001; gl=148; rs=0,3821). Para as espécies F.
mathewsii não foi observada diferença estatística significativa (p>0,05).
Os resultados mostram que houve correlação significativa entre a abundância de espécies de
vespa-de-figo versus diâmetro do sicônio em F. mathewsii (rs=0.1547; gl=148; p=0.0587), F.
citrifolia (rs=-0.2807; gl=148; p=0.0005) e F. obtusifolia (rs=-0.5649; gl=148; p<0.001). Em
relação a esses resultados, observa-se que o número de vespas está relacionado com o diâmetro do
sicônio, e com a quantidade de flores que esse sicônio possui. Quanto mais flores estiverem
disponíveis, mais locais para oviposição haverá para as vespas se reproduzirem. Isso explica o
porquê de F. obtusifolia da seção Americana teve a maior abundância de espécies de vespas.
Foi observado que a relação entre a riqueza de espécie, não esta associada com o diâmetro
para as espécies de F. mathewsii e F. citrifolia (p>0,05). Para F. obtusifolia , teve associação em
relação à riqueza de espécie e o diâmetro (rs=-0.2348; gl=148; p=0.0038). Esses resultados
mostram que, apesar de F. obtusifolia possuir o maior diâmetro foram encontradas apenas 18
espécies de vespas-de-figo. Por outro lado, F. mathewsii que possui o menor diâmetro entre as três
espécies estudadas, abriga 24 espécies e F. citrifolia , com diâmetro intermediário entre as duas,
apresenta 30 espécies. Esses resultados diferem dos encontrados em trabalhos realizados em outras
regiões do Brasil. Por exemplo, no estudo de Costa (2010) F. obtusifolia também apresentou 18
espécies, mas dentre as três espécies de Ficus estudada, foi considerado com maior diversidade. No
trabalho de Farache (2010), das oito espécies de Ficus estudadas, a espécie de F. citrifolia , foi a que
apresentou maior riqueza de espécies (19).
136
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Existem poucos trabalhos referente à diversidade e sobre as vespas e suas respectivas
figueiras, pouco se sabe sobre essas interações ecológicas. Portanto, estudos relacionados à biologia
e a taxonomia dessas vespas precisam de maior atenção, pois ao analisar outros trabalhos, foi
possível perceber que existe uma grande quantidade de vespas que precisam ser descritas e ter sua
biologia reprodutiva desvendada.
CONCLUSÕES
O presente trabalho apresentou os primeiros dados quantitativos referentes à comunidade de
vespas-de-figo em três espécies de Ficus na região amazônica. As 46 morfo-espécies encontradas
estão distribuídas nos sete gêneros. Em relação à abundância de espécies de vespa-de-figo versus
diâmetro do sicônio, observa-se que nas três espécies estudadas o número de vespas está
relacionado com o diâmetro do sicônio, e com a quantidade de flores que esse sicônio possui. Por
outro lado, não houve correlação significativa entre a riqueza de espécies de vespas versus diâmetro
do figo, para F. mathewsii e F. citrifolia , para F. obtusifolia houve correlação significativa,
demonstrando que, apesar de F. obtusifolia possuir o maior diâmetro, apresentou a menor
diversidade de vespas-de-figo.
AGRADECIMENTO
Agradeço a Deus em primeiro lugar e ao Cnpq pela bolsa concedida durante todo o projeto.
REFERÊNCIAS
BEARDSLEY, JW. Chalcid wasps (Hymenoptera: Chalcidoidea) associated with Fruit of Ficus
microcarpa in Hawai’i. Proc. Haw. Ent. Soc.33, 19-34, 1988.
BERG CC. Classification and distribution of Ficus. Exper. 45: 605-11, 1989.
BOUCEK, Z. Australian Chalcidoidea (Hymenoptera): A biosystematic revision of genera of
fourteen families, with a reclassification of species. CAB International, Wallingford, pp. 832, 1988.
BOUCEK, Z. The genera of chalcidoid wasp from Ficus fruit in the New World. J. Nat. Hist. 27:
173-217, 1993.
BRONSTEIN, JL. Seed predator as mutualists: Ecology and evolution of the fig pollinator
interaction. In: E Bernays, ed Insect-Plant Interaction, CRC Press, B. Rat.1-43, 1992.
BRONSTEIN, JL. Mutualism Antagonism and the Fig-Pollinator Interaction. Ecol. 69:1298–302,
1988.
137
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
BUSH, AO; KBD; LAFFERTY J.M. LOTZ, AW, SHOSTAK. Parasitology meets ecology on it
own terms: Margolis et al. revisited. J. of Paras. 83: 575–83, 1988.
CASTRO, RRS. Identificação da fauna de vespas agaonidae (Hymenoptera: Chalcidoidea)
associadas a Ficus obtusifolia (Moraceae) na área urbana de Manaus/AM, 2013.
CEREZINI, MT. Efeito da fragmentação florestal no mutualismo Ficus citrifolia vespaspolinizadoras no Estado de São Paulo. Anais do III Congresso Latino Americano de Entomologia 12, 2009.
COSTA, PC.; GRACIOLLI, G. Insects associated with syconia of Ficus citrifolia (Moraceae) in
central Brazil. Revista Brasileira de Entomologia, no prelo, 2010.
COMPTON, SG., WIEBES, J.T. & BERG, C.C. The biology of fig trees and their associated
animals. Journal of Biogeography 23:405-407, 1996.
COMPTON, SG.; HAWKINS, BA. Determinants of species richness in southern African fig wasp
assemblages. Ecologia, v. 91, p. 68–74, 1992.
ELIAS, LG, MENEZES, J.R.A.O., PEREIRA, RAS. Colonization sequence of non-pollinating fig
wasps associated with Ficus citrifolia no Brazil. Symb. 45:107–11, 2008.
FARACHE, FHA. e PEREIRA, RAS. Comunidade de vespas (Hymenoptera, Chalcidoidea)
associadas a algumas espécies Neotropicais de Ficus (Moraceae). Dissertação de mestrado.
Faculdade de Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 2010.
FIGUEIREDO, RA. DE. As vespas e a polinização das figueiras. In: morelhato, L.P.C. e LeitãoFilho, H.F.(eds). Ecologia e preservação de uma floresta tropical urbana: Reserva de Santo
Genebra. Editora da Unicamp, Campinas, p. 56-59, 1995.
FLEMING TH; HOLLAND JN. The evolution of obligate pollination mutualisms: senita cactus and
senita moth. Oecologia 114, p. 368-375, 1998.
JANZEN, DH. 1979a. How to be a fig. Annual Review of Ecology and Systematics 10:13-51, 1979.
NAZARENO, AG; SILVA, RBQ e PEREIRA, RAS. Fauna de Hymenoptera em Ficus spp.
(Moraceae) na Amazônia Central, Brasil. Iheringia (Série Zoologia) 97: 441–446, 2007.
MURRAY, MG. Figs (Ficus spp.) and fig wasps (Chalcidoidea, Agaonidae): Hypotheses for an
ancient symbiosis. Biological Journal of the Linnean Society 26:69-82, 1985.
PEREIRA RAS; YQ PENG. Uma árvore versátil. Ciên. hoje.42: 249, 2008.
PEREIRA RAS. Lutas fatais dentro do figo. Ciên. Hoje. 36:215, 2005.
RONSTED, N.; WEIBLEN, GD.; COOK, JM.; SALSMIN, N.; MACHADO, CA.; SAVOLAINEN
,V. 60 million years of co-divergence in the fig-wasp symbiosis. Proceeding of the Royal Society B:
Biological Science, v. 272, p. 2593–2599, 2005.
VERKERKE, W. Structure and function of the fig. Exper. 45: 612-22, 1989.
138
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
WIEBES, JT. Co-evolution of figs and their insect pollinators. Annual Review of Ecology and
Systematics 10:1-12, 1979.
WEIBLEN GD. How to be a fig wasp. An. Rev. of Ento. 47; 299–330, 2002.
139
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
MACROFUNGOS (HYMENOCHAETACEAE) DA ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE
SILVICULTURA TROPICAL - ZF2 –INPA
JOSÉ FLÁVIO BOREL DOS SANTOS1; MARIA APARECIDA DE JESUS2
RESUMO: Hymenochaetaceae (Basidiomycota) foi criada por Donk em 1948 para abrigar as espécies que apresentam
ou não setas, hifas septadas e o basidioma escurece na presença de KOH. Esses fungos são importantes decompositores
de madeira e recicladores de nutriente no ecossistema florestal, por outro lado muitas espécies são fitopatógenos. O
presente trabalho objetiva identificar e comparar a diversidade de macrofungos (Hymenochaetaceae) de área de manejo
e preservada da Estação Experimental de Silvicultura Tropical-INPA. Os macrofungos foram coletados em substratos
lignocelulolíticos. Na identificação das espécies foram observadas e mensuradas as características macroscópicas e
microscópicas. Os dados preliminares revelam a ocorrência de 21 espécimes de Hymenochaetaceae, distribuídos nos
seguintes gêneros: Cyclomyces, Phellinus, Phyloporia e Stipitochaete, o último com maior número de representantes
(12). O maior número de espécimes (10) foi encontrado na área manejada com 26 anos, (5) na T4, (3) na área controle e
(2) na área T3. A maior ocorrência de macrofungos é no Bloco IV. As exsicatas estão depositadas na Coleção de
Macrofungos Lignocelulolíticos do Instituto de Pesquisa da Amazônia – INPA.
PALAVRAS-CHAVE: Diversidade, Macrofungos lignocelulolíticos. Fitopatogênicos.
INTRODUÇÃO
Os fungos são eucariotos, suas hifas multinucleadas, com septo simples ou do tipo doliporo
mais funcionalmente cenocítica. As hifas podem ser haploides, diploides ou dicarióticas, com
núcleo homocarióticos ou heterocarióticos. Os fungos são heterotróficos, produzem enzimas que
degradam os substratos de onde eles absorvem os compostos mais simples por osmotrófia (Lacaz et
al., 1970)
Os fungos do grupo Basidiomycetes apresentam grande importância ecológica, dentre eles
os saprofíticos e parasíticos (saprófiticos se alimentam de matéria orgânica vegetal morta e os
parasitas vivem dentro de ou sobre árvores vivas, absorvem nutrientes em vez de ingeri-los, com
corpos frutíferos que medem de alguns centímetros até quase um metro, possuem basídios (estrutura
produtora de esporos) e esporos exógenos. (RAVEM, 2001).
Aluno de Graduação Licenciatura em Ciências Biológicas - Universidade Nilton Lins Av. Professor Nilton Lins, 3259.
Parque das Laranjeiras - CEP: 69058-030 - Telefone: (92)3643-2000 - MANAUS (Amazonas)
2. Pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia- INPA, Av. André Araújo, 2.936 - Petrópolis - CEP
69067-375 - Manaus -AM, Brasil Cx. Postal 2223 - CEP 69080-971
1
140
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
A família Hymenochaetaceae está na classe Agaricomycetes (Kirk etal. 2.008) e abriga as
espécies com basidiocarpos resupinados, pileados e, raramente clavarioides. Sua superfície himenial
poroide é geralmente de coloração amarelo ao marrom. Possui sistema de hifa mono-dimítico, com
hifas variando de hialina, amarelada a marrom. São pertencentes a esta família os basidiomas
xantocróicos que não possuem grampo de conexão e cistidia, ausência ou presença de seta.
Apresentam pigmentos estiril-pironas (hispidina, hifolomina B, himenoquinona) que causam reação
xantocroica, ou seja, reagem com KOH 3% (K+ negro). São importantes decompositores de
madeira e recicladores de nutriente no ecossistema florestal. Muitas espécies, como Phellinus e
Innotus, são associadas à podridão do lenho de árvores vivas e decompositoras de árvores mortas.
São adaptadas para penetrar em lesões de árvores vivas e atingir o cerne, causando o
enfraquecimento das árvores atacadas e até a morte (ALEXOPOULOS et al; 1996; RYVARDEN,
L.; JOHANSEN, I. 1980; TOVAR et al, 2007).
Objetivando contribuir com o conhecimento de Hymenochaetaceae, o presente trabalho visa
identificar e comparar a diversidade de macrofungos de área de manejo e preservada da Estação
Experimental de Silvicultura Tropical- ZF2 - INPA.
MATERIAL E MÉTODOS
A área de estudo, localiza na Estação Experimental de Silvicultura Tropical -INPA, km 23
da estrada vicinal ZF2, cerca de 80 km ao Norte de Manaus – AM ( 02°37’ a 02°38’ de latitude Sul
e 60º09’ a 60°11’ de longitude Oeste. Os macrofungos foram coletados nos seguintes substratos
lignocelulolítico: árvore viva e morta, galho, tronco caído e solo (raiz) nos Blocos II e IV, e Subblocos, com diferentes intensidades de corte na floresta natural a partir de 1987, áreas manejadas
com 26 anos (T1 e T2), 25 anos (T3), 19 anos (T4) e área controle (T0) (Figura1).
141
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Figura 1: Localização dos blocos da área de manejo florestal na Estação Experimental de Silvicultura
Tropical ZF-II. Os Blocos II e IV, sub-blocos T0 (área controle), T1e T2 (área manejada com 26 anos.), T3
(área manejada com 25 anos) e T4 (área manejada com 19 anos).
Para identificação das espécies foram mensuradas as características macroscópicas e
microscópicas, tais como: píleo, poros, estipe, contexto, himênio, basídios, esporos e presença ou
ausência de setas. Foram utilizados os reagentes de Melzer e KOH 3% conforme Ryvarden &
Johansen (1980) visando evidenciar as reações dextrinoide e amiloide das hifas e dos esporos. A
identificação dos macrofungos foi baseada nas chaves dicotômicas descritas em Ryvarden (1985,
2004); Gilbertson & Ryvarden, L., 1986; Nunez & Ryvarden, L., 1995; Ryvarden & Johansen,
1980, e MYCOBANK, 2013. As exsicatas de macrofungo Hymenochaetaceae foram incorporadas
ao acervo do Herbário/INPA.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Como resultados preliminares, um total de 20 espécimes de Hymenochaetaceae foram
coletados e estão distribuídos nos seguintes gêneros: Cyclomyces, Phellinus, Phyloporia ,
Stipitochaete (Tabela 1). Destaca-se Stipitochaete damicornis (Link) representado por 6 espécimes,
e S. reniformis (Fr.) por 6 espécimes. Ambas as espécies são muito semelhante possuindo as
mesmas características macroscópicas, no entanto S.damicornis tem consistência um pouco mais
142
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
rígida, dando maior resistência ao píleo, e apresentam setas himeniais maiores (Figura 2). Além
disso, as setas em S. reniformes estão distribuída em vários níveis do himênio e o contexto é
dividido por uma linha escura (Figura 3). Estas são as principais diferenças encontradas entre as
duas únicas espécies do gênero. Esses fungos foram coletados, principalmente no solo próximo da
base da árvore ou ao redor da base ou na base do tronco das mesmas, de acordo com Ryvarden
(1985) são considerados parasitas de raízes.
Phylloporia é descritas para basidiocarpo com contexto esponjoso e ausência de seta, poucas
espécies são parasitas de plantas. Distribuição comumente tropical, podendo ser encontradas na
Europa e África. Foram encontrados Phylloporia frutica (Berk. e W. A. Curtis) Ryv. e P. spathulata
(Hook.) Ryv. com 2 e 1 espécimes, respectivamente parasitando raízes e árvores vivas em três áreas
de manejo (T2, T3 e T4) (Tabela 1).
Ciclomyces, representado por Cyclomyces tabacinus (Mont.) Pat. por 3 espécimes, o mais
comum do gênero, e C. iodinus (Mont.) Pat. por 1 espécime. Apresentam uma linha negra no
contexto e os basidiocarpos não demonstram grande variação nas características morfológicas e
macroscópicas, entre estas duas espécies, podendo ser confundidos, no entanto C. tabacinus, difere
principalmente, por apresentar poros menores (0,5-1 mm) que C. iodinus (3-5 mm) por mm.
Encontrados em árvore morta e material decomposto (Tabela 1).
Phellinus pachyphloeus (Pat.) Pat representado por 1 espécime. Encontrado em tronco
caído, tem potencial fitopatogênico (RYVARDEN, 1980). O contexto é distintamente estratificado
em camada intermitente refletindo diferentes fases de crescimento. Distribuição tropical e
subtropical da Ásia, Austrália e África, é considerado raro na região amazônica.
Os macrofungos encontrados na Estação Experimental de Silvicultura Tropical –INPA- ZF2
estão amplamente distribuídos principalmente em nas áreas com tratamento florestal com mais de
26 anos de estratificação (Tl) nas áreas manejadas com 26 anos (T2) onde foram encontrados 10
espécimes e 5 na área com exploração de mais de 19 anos (T4), seguido, pela área controle (T0)
com 3 espécimes, e 2 espécimes em área manejada por 25 anos (T3) (Tabela1).
143
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Tabela
1.
Relação
de
macrofungos
(Hymenochaetaceae)
coletados
em
diferentes
substratos
lignocelulolíticos na Estação Experimental de Silvicultura Tropical
Táxon
Cyclomycesta bacinus(Mont.) Pat.
Áreas de manejo
Substrato Área de
controle T1 T2 T3 T4
TC
1
1
AM
1
1
G
Cyclomyces iodinus (Mont.) Pat.
TC
Phellinus pachyphloeus(Pat.) Pat.
TC
Phylloporia frutica (Berk. & W. A. Curtis)
Ryvarden
AV
1
1
1
1
1
R
1
Stipitochaete damicornis(Link) Ryvarden
AM
1
TC
2
R
3
R
1
1
Phylloporia spathulata (Hook.) Ryvarden
TC
1
1
R
Stipitochaete reniformis (Fr.) Ryvarden
Nº de
espécimes
1
1
1
1
2
2
1
4
1
1
TOTAL
2
1
2
20
O estudo sugere futuras pesquisas direcionadas a ocorrência de Hymenochaetaceae e suas
aplicabilidades na biotecnologia considerando que possuem alta potencialidade lignocelulolítica e
fitopatogênicas.
FIGURA 2: Stipitochaete damicornis; (A) Basidiocarpo; (B) Setas himeniais.
144
Legenda:Substrato
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
FIGURA 3: Stipitochaete reniformes;(A) Basidiocarpo; (B) Setas em vários níveis do himênio.
CONCLUSÃO
Os dados preliminares revelam a ocorrência de 21 espécimes de Hymenochaetaceae,
distribuídos nos seguintes gêneros: Cyclomyces, Phellinus, Phyloporia e Stipitochaete, este último
com maior número de representantes (12). O maior número de espécimes (10) foi encontrado na
área manejada com 26 anos, (5) na T4, (3) na controle e (2) na área T3. A maior ocorrência de
macrofungos é no Bloco IV. A maioria das espécies estudadas é considerada fitopatogênicas,
enquanto as demais ocorrem em árvores mortas, galhos ou troncos caídos e degradados.
REFERÊNCIAS
GILBERTSON, R. L. e RYVARDEN, L. North American Polypores.Vol. 1. Oslo: Fungiflora,
1986. 433p.
GILBERTSON, R. L. e RYVARDEN, L. North American Polypores.Vol. 2. Oslo: Fungiflora,
1986. p. 443.
RYVARDEN, L. Neotropical Polypores, Part1: SynopsisFungorum. Vol. 19. Oslo: Fungiflora,
2004. 228p.
MYCOBANK, 2013. Disponível em: http://www.mycobank.org/. Acesso em 20/08/2013.
NUNEZ, M., RYVARDEN, L. Polyporus (Basidiomycotina) and related genera. Oslo:
Fungiflora,1995. 85p.
RYVARDEN, L. Genera of polypores.Nomenclature and Taxonomy.Synopsis Fungorum 5.Oslo:
Fungiflora,1991. 363 p.
RYVARDEN, L.; JOHANSEN, I. A Preliminary flora of East Africa.Oslo: Fungiflora, 1980. 636p.
145
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
A AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA: ATENDENDO A PACIENTES COM
DIAGNÓSTICO DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO (AVE) E OS PORTADORES
DE MAL DE ALZHEIMER EM SITUAÇÃO DE INTERNAÇÃO NO HOSPITAL PRONTO
SOCORRO DA ZONA LESTE DE MANAUS.
ERGINA ALDALICE FERREIRA DO NASCIMENTO1; ELIANA MARIA MONTENEGRO
MONTEIRO2
RESUMO: Este artigo propôs investigar através de levantamento de prontuários a prevalência de deterioração
cognitiva, em pacientes com o diagnóstico de Acidente Vascular Encefálico, no hospital Pronto Socorro da Zona Leste
da cidade de Manaus. O método foi avaliação e intervenção com os testes neuropsicológicos, estrevista e questionários.
O estudo se ateve a 10 sujeitos com o diagnóstico desta doença, na faixa etária entre 43 a 86 anos todos residentes na
cidade de Manaus/AM.
PALAVRAS-CHAVE: Intervenção Neuropsicológica. Pacientes de AVE. Avaliação.
INTRODUÇÃO
A neurociência estuda o funcionamento cerebral e tem contribuído para o avanço das
descobertas das doenças do cérebro. Esta ciência subdivide-se em cinco áreas de conhecimento:
neurociência celular, a neurociência sistêmica, a neurociência comportamental, a neuropsicologia e
a neuropsicologia clínica.
A neuropsicologia clínica é uma técnica de intervenção pouco usada no meio médico, é
uma ciência nova no Brasil, nos últimos dez anos vem sido reconhecida no meio científico. Procura
trabalhar nas descobertas de alterações das capacidades mentais complexas e com as alterações
comportamentais providas de algumas disfunções cerebrais, é técnica específica do psicólogo com a
especialização.
A avaliação neuropsicológica passou a investigar o funcionamento cognitivo que a partir de
um episódio de trauma, alguma função da cognição fica comprometida ou lesionada, muitas vezes
não ser possível a detectação pela neuroimagem.
O objetivo do estudo foi trabalhar com método de intervenção e avaliação neuropsicológica,
no Hospital Pronto Socorro com grande incidência de pacientes com o diagnóstico de Acidente
1
Acadêmica do 7º período do curso de Psicologia na Universidade Nilton Lins. Rua 178 , 25, Quadra 339, Núcleo 15 ,
Cidade Nova II Manaus, AM. CEP=69098-090. E-mail: [email protected].
2
Professora Msc. da Universidade Nilton Lins. Av: Ponta Negra, Condomínio Jardim Europa I , Manaus, E-mail:
[email protected].
146
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Vascular Encefálico (AVE), Hospital Pronto Socorro Dr. João Lúcio (HPSJL).
MATERIAL E MÉTODOS
Neste capítulo, explicito os estudos que mantiveram os passos da investigação, descrevo o
local da pesquisa e a técnica utilizada para a obtenção dos dados.
Método é uma forma de selecionar técnicas, formas de avaliar alternativas para ação
científica. Assim, enquanto as técnicas realizadas são frutos de suas decisões, o método pelo qual
tais decisões são tomadas, depende de suas regras de decisão. Método são regras de escolha;
Técnica são as próprias escolhas (HEGENBERG, 1976).
O estudo foi de base qualitativo\quantitativo e interpretativo, ou seja, método misto, que se
apoiam em diferentes concepções de tornar cientificamente traduzíveis as ocorrências descritivas
pelos depoentes.
A abordagem qualitativa, segundo Minayo (2000), possibilita aprofundar os significados
das ações e relações humanas, a fim de desvendar o fenômeno e suas origens, captando o
significado de inserção na vida de cada sujeito.
De acordo com Lakatos e Marconi (2003) as fases da pesquisa de campo requerem em
primeiro lugar, a realização de uma pesquisa bibliográfica sobre o tema em questão. Em segundo
lugar entrar no conhecimento histórico e geográfico do local da pesquisa.
A coleta de dados consistiu de dois instrumentos: entrevista semiestruturada e um
questionário. Seguindo a análise de Protocolos, seleção dos sujeitos, registros e anotações. Na
investigação foram usados para a avaliação neuropsicológica, os testes: labirinto, Torre de Hanói e
o FAZ, os primeiros na avaliação cognitva das funções executivas no lobo frontal, o outro na
avaliação e intervenção da linguagem principalmente, nomeação de objetos e coisas. Com esses
testes pode ser avaliada as funções cognitivas buscando alguns danos causados ao cérebro após o
trauma de AVE.
A prática de campo pode ser realizada após a liberação do CONEP, ocorrendo a partir do dia
20 de março de 2013. As orientações seguindo sempre as terças e sextas-feiras, a pesquisa em uma
rotina de duas vezes na semana com a duração de seis horas.
Consistindo o campo da pesquisa, no Setor de Arquivamento Médico e Estatístico (SAME)
do Hospital Pronto Socorro Dr. João Lúcio (HPSJL), com o levantamento de Prontuários, do qual
passamos a selecionar os dados coletados e a população do estudo. Onde foram escolhidos por faixa
etária, gêneros, estado civil, grau de escolaridade, moradia e o tipo de AVE. Assim, a pesquisadora
147
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
pode os convidar a fazer parte deste estudo, no aceite, assinaram o Termo de Consentimento Livre
Esclarecido, marcando um novo contato.
Abre-se um parêntese para pontuar as dificuldades enfrentadas: a demora da autorização do
CONEP, a seleção dos sujeitos, ser reduzido o número da amostra, apriori seria de 20 sujeitos,
passando a 10 indivíduos na faixa etária entre 30 a 83 anos de idade, casados, solteiros e viúvos,
grau de escolaridade variada, identificado pela história clínica dos prontuários. Nessa visão,
percebeu-se que nem todos os dados estavam preenchidos, a explicação da assistente social do
plantão, o motivo seria, o familiar ou acompanhante só se interessava, quando lhe era oferecido
direitos alimentar. No processo de internação havia uma ficha social direcionada ao cuidador de
uma pessoa idosa e aos pacientes vindo do interior.
A coleta de dados transcorreu no leito de cada um, aplicação dos testes não pode ser
realizado no hospital, devido a alta de pacietes. Assim, deu-se na residência dos pacientes após o
processo de alta.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados do estudo da avaliação neuropsicológica dos pacientes de acidente vascular
encefalico, conforme a metodologia descrita, foram analisados segundo as anállises dos devidos
instrumentos. No primeiro momento o apoio bibliográfico: em livros, artigos científicos e revistas
eletrônicas do SCIELO.
Analisando os dados do senso demográfico de 2010 na pesquisa do Instituto Brasileiro
Geográfico e Estatístico (IBGE) mostra que o Amazonas é o estado de maior íncidencia de
mortalidade em doenças conhecidas como endêmicas, seguindo a estimativa de 855 pessoas em
morbidades infecciosas e parasitárias, grupo onde se enquadra a malária, dengue e hepatite
encontradas na Cidade de Manaus. Essas doenças são endêmicas da região e por isso são elas que
mais matam, os casos de morte entre os homens e as mulheres, na distribuição por essas doenças,
492 das mortes ocorre nos homens e 363 as mulheres.
As causas e os dados estatísticos de mortalidade por AVE, de acordo com dados do IBGE, o
segundo grupo de mortalidade no Estado do Amazonas, são as doenças circulatórias. No ano de
2010 houve um total de 566 casos, entre essas ocorrências, 347 casos em homens e 219 casos em
mulheres, é visto que, a maioria das doenças que atinge a população Amazonense são as doenças:
isquemia do coração, infarto e o acidente vascular encefálico (AVE). São doenças de lesão cerebral
que causam danos cerebrais e afetam algumas áreas das funções cognitivas e comprometem seus
148
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
funcionamentos.
Obteve-se neste estudo, segundo os resultados de análise de prontuários, em 2008 a 2013
deram entrada um total de 3.615 pacientes com o diagnóstico de Acidente Vascular Encefálico. Na
distribuição entre gêneros em incidência de internações, a prevalência para os homens é de 2.106
que deram entrada com a doença, e de 1.506 para as mulheres.
Comparando os resultados de internações de pacientes com a doença de AVE, o ano de
2008 consta uma porcentagem de 324, no ano de 2012 ouve uma porcentagem superior de 936
internações de paciente com a doença de AVE.
A distribuição do tipo de AVE entre as mulheres foi superior á do tipo hemorrágico,
enquanto que nos homens, a do tipo isquêmica teve uma maior relevância. (TABELA 1).
Tabela 1- Cálculo de base do Sistema de Arquivamento Médico e Estatístico (SAME)
ANO
ACIDENTE
MASCULINO FEMININO
TOTAL
ISQUÊMICO
158
122
280
HEMORRÁGICO
16
28
44
ISQUÊMICO
267
222
489
HEMORRÁGICO
73
75
148
ISQUÊMICO
284
129
413
HEMORRÁGICO
117
93
213
ISQUÊMICO
408
281
689
HEMORRÁGICO
85
90
175
ISQUÊMICO
476
333
809
HEMORRÁGICO
74
53
127
ISQUÊMICO
128
70
198
10
30
1.506
3.615
VASCULAR
ENCEFÁLICO (AVE)
2008
2009
2010
2011
2012
2013
HEMORRÁGICO
TOTAL
20
2.106
No que trata a faixa etária de idade, percebe-se que os sujeitos entre os 43 aos 60 anos de
idade, os homens estão em igualdade com as mulheres. E os que se encontram na faixa etária entre
149
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
os 60 aos 85 anos de idade, os homens em comparação as mulheres se apresentam em maior
quantidade TABELA 2.
Tabela 2- Distribuição por faixa etária e gênero dos sujeitos da pesquisa.
IDADE
MASCULINO
FEMININO
TOTAL
42 A 60
1
1
2
60 A 85
4
3
7
No quesito religião na análise dos instrumentos percebeu-se que 70% dos sujeitos são de
católicos. Quanto a escolaridade, a proporção de 70% são só alfabetizados, 10% tem o ensino
fundamental e 2% terminaram o ensino médio. Para os itens, estado civil, 70% casados, 10%
solteiros e 20% viúvos. A Condição de moradia, todos tem residência própria, quanto o tipo de
moradia 80% é de alvenaria e 2% possuem casas de madeira, em localização precária. Nas questões
econômicas, 70% são aposentados, 10% são autônomos e 20% pensionistas. Nas condições sociais,
alguns se remeteram não ter convívio social, pontuando a doença e condição pós- doença o motivo
deste fato, a grande maioria afirmava ter bom relacionamento familiar, enquanto a relação com os
amigos, teve afastamento após a doença.
Dado que os 100% dos sujeitos apresentavam algum tipo de doença, dentre as doenças
citadas por eles, a hipertensão prevaleceu com 80%, em segundo lugar, problema cardíaco com
50%.
Os pacientes ainda internados apresentavam queixas como: dor no peito, inchaço nos pés e
falta de ar, vertigem e fadiga. Verificando aos cuidados com a saúde na condição após terem sofrido
o AVE, responderam que tomavam regularmente a medicação.
No que trata os hábitos nocivos 80% fumavam, 70% afirmaram ser usuário de bebidas
alcoólicas. No histórico de doença na família, 80% de derrame, pressão alta, e morte por infarto. No
que trata da responsabilidade do familiar cuidador com o paciente, a maioria disse receber cuidados
da família com a proporção de 80% e 20% disseram não receber esses cuidados por morarem longe
de seus familiares.
Na avaliação dos instrumentos, percebeu-se que os sujeitos da pesquisa após terem sofrido o
AVE sofreram alguns danos, a maioria teve alterações cognitivas.
Entre a população deste estudo 40% acima dos 75 anos apresentaram a doença de Alzheimer
após um índice elevado de reincidência da doença de AVE.
150
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Os que conseguiram realizar a tarefa com êxito no teste labirinto que avalia a função
executiva no lobo frontal, envolvida com a memória de trabalho, o FAZ na avaliação da linguagem,
e o Torre de Hanói que requer habilidade na resolução de problemas não apresentaram
comprometimento de função cognitiva, podemos correlacionar as idades de 43 a 62 anos.
Os resultados apontam que dentre 100% dos pacientes, somente 60% conseguiram realizar
as tarefas e alguns tiveram dificuldades na execução. Ficando com um score abaixo da média, no
jogo da torre de Hanói, a maioria dos sujeitos tiveram dificuldades em realizar a tarefa com as três
peças, não chegando á segunda etapa do jogo que seria a utilização das quatro peças da torre, tendo
como objetivo aumentar o grau de dificuldade. Os pacientes começavam ao montar a torre com uma
quantidade de movimentos e durante as tentativas seguintes foram aumentando o numero de
movimentos, e o tempo de execução, no que se espera que diminua no decorrer das tentativas
seguintes, que são de três vezes consecutivas.
Apesar dos baixos escores, as dificuldades são esperadas a quem sofreu um trauma recente.
Como afirma os autores, a capacidade para a solução e o planejamento de problemas diminui após
uma lesão cerebral provocada por traumatismo. (CATROPPA, 2006 apud STERNBERG).
Notou-se no estudo, frente á frente com os sujeitos da pesquisa, que eles demonstravam
sofrimento após a doença, devido á nova situação, principalmente quando não conseguiam realizar
as tarefas com os testes. Teve alguns pacientes que chegaram a chorar dizendo não prestar mais
para nada. Os que estavam com sinais de Alzheimer apresentavam um leve grau de depressão,
segundo a família, eles se recusavam a sair de casa, por não reconhecerem mais seus próprios
familiares, não tinham motivação para o contato com os outros familiares.
CONCLUSÃO
Os testes provaram que após o trauma de AVE, o sujeito fica com comprometimento nas
funções cognitivas e as funções motoras, dependendo da área do cérebro afetada, as sequelas são
mais ou menos graves. Com a reincidência da doença foi provado que o paciente desenvolve o
Alzheimer, dentre ao pacientes avaliados, 40% apresentavam demência, sintoma característico da
doença. Notou-se que os pacientes que desenvolveram Alzheimer tiveram
uma mudança no
comportamento e no humor, segundo seus familiares, alguns ficaram mais extrovertidos, mais
alegres e outros ficaram mais impacientes, intolerantes.
151
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Conclui-se que a maioria dos pacientes teriam chances de recuperação mais rapidamente se
não fosse o descaso do poder público com este tipo de paciente, não há programas de reabilitação
acessíveis a estes pacientes, para eles a reabilitação é quase impossível.
Na maioria dos casos, o paciente não tem nem acesso a medicação de direito. Eles saem do
hospital com a receita na mão, mas sem receber os remédios porque falta na drogaria do hospital, a
família tendo que buscar recursos para comprar a medicação. Quem não tem condições acaba
ficando sem tomar os remédios. Como foi o caso de um dos pacientes da pesquisa de 66 anos, que
após vinte dias de alta, ainda não estava tomando a medicação, e já apresentava sinais de uma
possível reincidência da doença.
Em muitos outros casos, além desses problemas percebeu-se que a família negligencia seus
doentes, deixando o paciente a mercê da própria sorte. Sempre com o mesmo discurso, dizendo que
ninguém pode ajudar, ficando somente uma pessoa cuidadora carregando a responsabilidade com o
familiar doente sozinha.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que contribuíram com este estudo, a minha orientadora Eliana Maria
Montenegro Monteiro a colega de curso Alessandra Mota Teixeira, estava sempre presente na
pesquisa de campo, a Universidade Nilton Lins, por ter me proporcionado este diferencial em minha
vida acadêmica e ao local do estudo, hospital João Lúcio com seus funcionários de boa vontade que
foram fundamentais para essa pesquisa acontecer.
REFERÊNCIAS
HEGENBERG, Leônidas. Etapas da investigação científica: Leis, Teorias, Método. V.II, 2004.
Neuropsychological assessement and The Shool Child. (pp. 277 - 302) New York. Grune& Strattor
1981.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia de pesquisa. São Paulo:
Atlas,1991.
MINAYO, Cecília de Souza. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. São Paulo: Vozes,
2000.
STERNBERG, Robert J. Psicologia cognitiva. São Paulo: Cengage Leaning, 2012.
152
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
ESTUDO DAS INTER-RELAÇÕES AMBIENTE-COMPORTAMENTO E OS
DETERMINANTES DA SAÚDE E SEUS IMPACTOS NOS MORADORES DO
PURAQUEQUARA EM MANAUS-AM
ALANNY CELERINO CORRÊA1; MARIA DA CONSOLAÇÃO QUEIROZ DA SILVA2
RESUMO: O presente estudo trata-se do relatório final de Iniciação Científica 2012/2013 desenvolvido no Bairro do
Puraquequara em Manaus-AM. O processo saúde-doença como é entendido hoje diz que vários fatores interferem para o
sujeito ter saúde ou adoecer e os determinantes sociais assumem destaque. Em um primeiro momento, a pesquisa buscou
averiguar as inter-relações entre ambiente-comportamento e os determinantes da saúde e seus impactos nos moradores do
Puraquequara em Manaus-AM, bem como, os principais problemas enfrentados, as melhorias aspiradas pelos mesmos e
o reconhecimento dos determinantes da saúde que os moradores usufruem. No segundo momento, a pesquisa trouxe como
farol a divulgação destes conhecimentos obtidos a fim de contribuir com a comunidade científica e acadêmica e estimular
a autonomia das comunidades entrevistadas por meio da devolutiva dos resultados. A pesquisa de campo foi na
abordagem quantitativa, descritiva. Os dados foram coletados a partir de dois questionários aplicados em seis diferentes
comunidades do bairro, totalizando 324 domicílios, dos quais, foram representados por seu responsável ou membro maior
de dezoito anos. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Nilton Lins através do Parecer
nº 055/11-GRAD/CEP, em plenária de 30 de setembro de 2011. A pesquisa mostrou que os moradores possuem um
apresso significativo pelo local onde vivem. No entanto, apesar do apego assinalaram algumas dificuldades que enfrentam
nesse meio, desta forma, mobilizando a capacidade reflexiva da sociedade para o debate e posicionamento em torno dos
percalços enfrentados no espaço em que vivem.
PALAVRAS-CHAVE: Ambiente. Comportamento. Determinantes da Saúde. Psicologia.
INTRODUÇÃO
A dinâmica relação entre a questão ambiental e saúde teve início na primeira metade do século
XIX com um movimento denominado de medicina social que reunia trabalhadores, sindicalistas,
políticos e médicos, tendo como pólo central do movimento a Alemanha a Inglaterra e França. Esse
movimento reconheceu a saúde como resultante de condições de vida e ambientais (MINAYO,
2009). Desta forma, a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a
alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o
transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1990).
As diversas definições de Determinantes Sociais de Saúde (DSS) expressam, com maior ou
menor nível de detalhe, o conceito atualmente bastante generalizado de que as condições de vida e
1
Acadêmica do 8º período do curso de Psicologia na Universidade Nilton Lins. Rua Circular dois, 59, Quadra 114,
Amazonino Mendes, Manaus, AM. CEP=69099-370. E-mail: [email protected].
2
Professora Msc. da Universidade Nilton Lins. Rua Joaquim Uchoa , 15, Condomínio Residencial Espanha, Bloco
Sevilha, Ap. 404, Manaus, AM. CEP=69060-103. E-mail: [email protected].
153
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
trabalho dos indivíduos e de grupos da população estão relacionadas com sua situação de saúde. Para
a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), os DSS são os fatores
sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a
ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população (BUSS; PELLEGRINI
FILHO, 2007).
A pesquisa buscou averiguar as inter-relações ambiente-comportamento e os determinantes
da saúde e seus impactos nos moradores do bairro Puraquequara em Manaus-AM, levando em
consideração o levantamento sobre as principais problemáticas enfrentadas, os DSS usufruídos, além
de investigar as melhorias almejadas pelos mesmos. A partir disso, traçou-se como objetivo principal
o de divulgar os conhecimentos obtidos através do levantamento destes dados avaliando os
resultados, apresentar aos sujeitos que participaram da pesquisa os dados alcançados e por fim relatar
por intermédio da produção de um artigo científico a contribuição da pesquisa para a ciência
psicológica e de saúde pública.
MATERIAL E MÉTODOS
Tratou-se de uma pesquisa de campo do tipo quantitativa e descritiva. A proposta amostral
inicial foi de 420 domicílios, no entanto, devido algumas variáveis intervenientes como, por exemplo,
a insuficiência na quantidade de moradores, aumento da margem do rio provocando alagamento em
algumas comunidades e consequentemente à evasão de alguns moradores, não foi possível alcançar
essa totalidade, sendo portanto, sua amostra de 324 domicílios, sendo 69 da comunidade Vila do
Puraquequara, 69 da Bela Vista, 32 do Igarapé da Castanheira, 45 do Giró, 58 da Agrícola João Paulo
e 51 do Monte Orebe selecionadas de forma não probabilística, por conveniência. O domicílio foi
representado pelo proprietário ou seu substituto, maior de idade, conhecedor da dinâmica familiar. A
autorização para se visitar os domicílios foi dada pelo Presidente da Associação de cada comunidade.
Os dados coletados foram realizados no período de 22 de outubro de 2011 a 26 de maio de
2012. Foram aplicados 2 (dois) questionários: um elaborado para atingir os objetivos da pesquisa e
um questionário da Amostra do Censo Demográfico 2000-IBGE- adaptado ao estudo. Os resultados
da pesquisa foram inseridos em planilhas eletrônicas e apresentados em gráficos com valores
absolutos e percentuais, utilizando-se a estatística, além de posterior diálogo dos autores com os
principais dados, sendo como teoria de base a Psicologia Ambiental e as políticas públicas.
154
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
O estudo foi encaminhado para apreciação e obtenção de autorização do Comitê de Ética em
Pesquisa - CEP da Universidade Nilton Lins, através do Parecer nº 055/11-GRAD/CEP, em plenária
realizada em 30 de setembro de 2011. Os respondentes dos questionários foram orientados quanto
aos objetivos da pesquisa e que sua participação seria voluntária e sem ônus para os mesmos,
assinando o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), bem como a garantia de anonimato.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesquisa científica é um meio de adquirimos e aprofundarmos conhecimentos. A pesquisa
sobre a percepção ambiental é considerada uma ferramenta valiosa para o planejamento urbano
devido a sua aptidão para evidenciar as características mais importantes que um ambiente oferece aos
seus usuários (CASTELO, 2004).
Quanto aos dados obtidos, observou-se o predomínio do sexo feminino (58,9%). Estado civil
solteiro (38,9%). Ensino Fundamental incompleto (39,5%). Com idade equivalente entre 20 e 30 anos
(28,1). E residentes de 1 a 5 pessoas por domicílio (67,3%).
A pesquisa mostrou que os moradores possuem um apresso significativo pelo local onde
vivem. Pois, ao serem questionados quanto à estima que sentiam pelo ambiente 94,5 % dos
entrevistados afirmaram gostar do meio onde estão inseridos em detrimento a apenas 5,5% dos que
afirmaram não ter apreço pelo local. No entanto, também foi visto que apesar do apego ao ambiente
os moradores identificaram lacunas e elencaram algumas dificuldades que enfrentam nesse meio.
Como mostra o gráfico abaixo:
Principais problemas enfrentados pelos moradores
N° de domicílio de 324
Porcentagem (%)
228
186
109
14 4,3 11 3,4 37 11,4
33,6
57,4
19 5,8
70,3
16 4,9
Gráfico 1: Quantidade dos principais problemas enfrentados pelos moradores.
155
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
O determinante Transporte, Segurança e Saúde foram descritos como itens de maior
problemática, sendo também os que aspiram maiores melhorias, segundo as opiniões dos pesquisados.
Conforme os dados a seguir:
Melhorias que os moradores desejam para a Comunidade
N° de domicílio de 324
Porcentagem (%)
130
106 109
62
22
6,8 8 2,5
16
19,111 13
3,4 4
4,9
55
37
32,7 33,6 40,1
16,9 11,4
9
2,8
Gráfico 2: Quantidade das melhorias que os moradores desejam para a comunidade.
A partir desses dados pode-se avaliar a construção perceptiva que os sujeitos fazem do local
onde estão inseridos, e o pesquisador por sua vez, mantêm-se a consciência objetiva de transcrever
fidedignamente os dados apresentados pelos entrevistados, haja visto que, “a postura científica é
imparcial; não torce os fatos e respeita escrupulosamente a verdade” (CERVO; BERVIAN; DA
SILVA, 2007 p. 14).
A partir do reconhecimento dos sujeitos sobre os principais percalços enfrentados e quais as
melhorias almejadas, os mesmos destacaram os DSS usufruídos, e desta forma sendo convocados
pela pesquisa a repensar sobre suas percepções em torno do ambiente ao qual estão inseridos.
Conforme ilustra o gráfico abaixo:
156
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Determinantes Sociais da Saúde que os moradores usufruem
N° de domicílio de 324
273 274 274
Porcentagem (%)
272 265
179
170
116 108
84,2 84,5 84,5
83,9 81,8
83 95
55,2
52,4 25,6 29,3
35,8 33,3
33,9
110
Gráfico 3: Quantidade de determinantes da Saúde que os moradores usufruem.
Atrelado ao determinante educação, os determinantes amigos, alimentação, moradia e paz
apresentaram percentual expressivo de condicionantes usufruídos pelos moradores entrevistados.
Importante salientar que os vínculos de amizade nutridos e o sentimento de paz foram mais
expressivos do que as problemáticas apresentadas. Conforme Giuliani (2004), o laço com o local não
se restringe as suas qualidades específicas, mas aos sentimentos que suscitam em nós, já que o
ambiente onde residimos constitui a base territorial de nossa existência.
O gosto pelo ambiente está diametralmente ligado não só aos condicionantes oferecidos por
este meio, mas também ao valor subjetivo atribuído a ele, de acordo com Fischer “[...] é-nos possível
apreender uma vez mais o valor psicológico do lugar através dos usos que nele se manifestam e dos
sentimentos que lhe estão associados” (FISCHER, 2006 p.195).
A lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 caracteriza determinantes e condicionantes que
devem ser considerados para que haja saúde, entre outros a alimentação, a moradia, o saneamento
básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e
serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do
País. Dizem respeito também à saúde as ações que se destinam a garantir às pessoas e à coletividade
condições de bem-estar físico, mental e social (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1990).
157
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Esta lei assumiu uma perspectiva progressista ao vincular a saúde a um conjunto de
determinantes ambientais e sociais. Apesar dos surgimentos de medidas legislatórias para garantir
saúde às pessoas, os moradores entrevistados apontam a saúde como um fator determinante que
necessita de melhorias no ambiente em que vivem, sendo significativo o percentual apurado em torno
deste aspecto. O cuidado à saúde não deve ser só humana, mas também ambiental, pois segundo
Vargas (2005) entende-se a saúde e a doença como processos tanto individuais quanto coletivos.
Isso posto, não necessariamente direito se traduz em concessão, pois, estamos amparados
constitucionalmente, a saúde é um direito de todos e dever do Estado, e como visto pela presente
pesquisa, a saúde (digo isto com todos os seus fatores determinantes) foi um aspecto evidente que
necessita de melhorias. Pois, implementar o texto da lei em sua plenitude implicaria colocar os
determinantes da saúde da população como um dos objetivos centrais das ações governamentais.
Portanto, a segunda etapa da pesquisa, teve como farol a divulgação desses achados científicos
a fim de contribuir com a comunidade científica e acadêmica, estimulando a autonomia das
comunidades entrevistadas por meio da devolutiva dos resultados, assim quão grandemente a
pesquisa se emprestar como instrumento para a melhoria do planejamento urbano do bairro a partir
do reconhecimento empírico e científico dos resultados obtidos.
Ao passo que, um dos objetivos deste trabalho foi apresentar os dados obtidos aos sujeitos
que participaram da pesquisa se fez necessário um retorno às comunidades participantes com
finalidade de informar os resultados, deste modo, realizou-se a devolutiva das informações aos líderes
comunitários de cada comunidade entrevistada, sendo elas, Vila do Puraquequara, Bela Vista, Igarapé
da Castanheira, Giró, Agrícola João Paulo e Monte Orebe. Essa devolução à comunidade é
fundamental, pois, “os indivíduos e as comunidades devem ter a oportunidade de conhecer e controlar
os fatores determinantes da sua saúde” (BUSS, 2000, p. 170).
A pesquisa viabilizou aos entrevistados que perfilhassem seus problemas e a partir dessa
devolutiva, os mesmos tiveram a capacidade de reconhecimento do que já explícito como
problemática por eles próprios, e de tal modo, possam operar efetivamente no meio em que estão
inseridos apesar dos percalços enfrentados.
Desse ponto, percebeu-se a necessidade de divulgação da pesquisa a um âmbito mais
abrangente, pois, partindo dos pressupostos da postura científica fez-se necessário a produção de um
artigo como forma de exposição e sintetização dos dados, tornando-os mais acessíveis a compreensão
de um público mais amplo. O artigo foi elaborado e submetido para apreciação na Revista Psicologia:
Ciência e Profissão que faz parte do sistema Scielo de publicação, aguardando retorno do corpo
diretor. Ainda no que tange a divulgação da pesquisa, cabe pontuar que o trabalho conquistou espaço
158
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Semana de Psicologia da Universidade Nilton Lins – 50 anos da Profissão no Brasil na mesa temática:
“Iniciação Científica” e no 8º Conpsi- Congresso Norte-Nordeste de Psicologia ocorrido em
Fortaleza-CE entre os dias 8 a 11 de maio de 2013.
De fato, a popularização da ciência ou divulgação científica (termo mais frequentemente
utilizado na literatura) pode ser definida como o uso de processos e recursos técnicos para a
comunicação da informação científica e tecnológica ao público em geral (ALBAGLI, 1996). Assim
sendo, a divulgação científica incorporou-se ao rol de objetivos deste trabalho, tornando crucial o
modo pelo qual a sociedade percebeu a atividade científica e absorveu seus resultados.
CONCLUSÃO
Em linhas gerais, pode-se dizer que ficou marcada a contribuição da pesquisa para o meio
científico e acadêmico, pois, mediante evidências robustas o ambiente não é estimado pelas pessoas
que o habitam apenas pelas suas capacidades físicas, mas também, pelo valor psicológico e pela
tradução subjetiva que cada sujeito faz deste meio, ponto este que não amputa a capacidade de
reconhecimento de melhores condições de vida e saúde. Ao passo que, a difusão científica destes
conhecimentos, digam-se de passagem, inovadores abrem diálogos e incitam mudanças.
REFERÊNCIAS
ALBAGLI, Sarita. Divulgação Científica: informação científica para a cidadania? Ci. Inf. Brasília. v.
25,
n.
3,
p.
396-404.
set./dez.
1996.
Disponível
em:
<
http://www
revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/download/465/424>. Acesso em: 10 set. 2013.
BUSS, P. M. Promoção da saúde e qualidade de vida. Ciênc. saúde coletiva. v.5, n.1, pp. 163-177.
2000. Disponível em: <http://www.scielosp.org/pdf/csc/v5n1/7087.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2013.
BUSS P. M.; PELLEGRINI FILHO, A. A saúde e seus determinantes sociais. Rev. Saúde Coletiva,
Rio
de
Janeiro,
17(1):
pp
77-93.
2007.
Disponível
em:
<
http://www.scielo.br/pdf/physis/v17n1/v17n1a06.pdf>. Acesso dia: 24 ago. 2013.
CASTELO, L. Admirável nova urbanidade. In: TASSARA, E. T. O. et al. Psicologia e ambiente. São
Paulo: EDUC, 2004.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; DA SILVA, R. Metodologia Científica. 6 ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2007.
FISCHER, G. Psicologia social do ambiente. 5 ed. São Paulo: Instituto Piaget, 2006.
159
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
GIULIANI, M. V. O. Lugar do apego nas relações pessoas-ambiente. In: Tassara, E. T. O. et al.
Psicologia e ambiente. São Paulo: EDUC, 2004.
MINAYO, M. C. S. Saúde e ambiente: uma relação necessária. In: CAMPOS, G. W. S. et al. Tratado
de saúde coletiva. São Paulo: Hucitec, 2009.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Disponível em:
https://www.saude.gov.br. Acesso em: 24 abr. 2013.
VARGAS, L. A. Enfermagem e a questão ambiental. In: FIGUEIREDO, Nébia. Org. Ensinando a
cuidar em saúde pública. São Caetano do Sul, SP: Yendis editora, 2005.
160
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA DECISÃO DO TIBUNAL DO JÚRI
THAIS SOARES AUZIER1; ANTÔNIO DE PÁDUA GARCIA2
Resumo: O presente estudo tem como vertente a análise da influência da mídia na decisão do Tribunal do Júri,
abordando os principais aspectos do processamento judicial da investigação do fato delituoso, bem como a
pressão que a mídia exerce sobre as pessoas em geral, o que, consequentemente, atinge a imparcialidade do
julgamento proferido pelo conselho de sentença, visto ao grande clamor social pela condenação do “réu”.
Abordando a amplitude da liberdade de expressão, a publicidade do processo penal e sua divulgação pela
imprensa, assim também como os efeitos do confronto entre preceitos constitucionais fundamentais, traçando,
por fim, um paralelo entre os pontos positivos e negativos da cobertura jornalística investigativa.
PALAVRAS-CHAVE:
Fundamentais.
Conselho
de
Sentença.
Mídia.
Pré-Julgamento.
Direitos
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo compreender as relações que existem entre
a mídia e o Tribunal do Júri, de modo medir a influência que a imprensa exerce sobre o
conselho de sentença, pois à medida que transmitem acontecimentos e opiniões ela tem o
poder de construir a compreensão da realidade, exercendo um meio de controle social
indireto.
Dentre outros aspectos, vale ressaltar que o crime e o jornalismo, desde os mais
remotos tempos, andam por caminhos estreitos, portanto, a sua notícia pode causar
consequências piores, pois a mídia acaba por levar aos espectador/leitor à formação de
pareceres.
E em se tratando de crimes de competência do júri a situação se agrava ainda
mais, por se tratar de atos atentatórios contra a vida, visto que ocasionam um grande impacto
social, mexendo com valores morais e éticos humanos.
No entanto, não se pode dizer que a sua cobertura jornalística é completamente
negativa, por isso, este projeto se justifica pelo fato de ser necessário que se ache a solução
para o impasse que surge neste contexto, uma vez que o Estado de Direito garante tanto um
julgamento justo, com um juiz imparcial, bem como a liberdade de imprensa.
Acadêmico da Faculdade de Direito da Universidade Nilton Lins. Av. Prof. Nilton Lins, 3259, Parque das
Laranjeiras, CEP 69058-030, Manaus AM.
2
Professor de Direito da Universidade Nilton Lins. Av. Prof. Nilton Lins, 3259, Parque das Laranjeiras, CEP
69058-030, Manaus AM.
1
161
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
MATERIAL E MÉTODOS
No projeto de pesquisa a ser desenvolvido, será utilizada a pesquisa exploratória,
cuja finalidade primordial é desenvolver, esclarecer e/ou modificar conceitos e idéias,
mediante levantamento bibliográfico e/ou documental, de modo a propiciar uma visão ampla
acerca de determinado tema.
No tocante aos meios, será utilizada a pesquisa bibliográfica, desenvolvida a partir
de material já elaborado (GIL, 2008), que poderá abranger publicações avulsas, boletins,
revistas comuns e especializadas, livros de doutrina jurídica nacionais e estrangeiras, anais de
congressos, monografias, dissertações, teses, Constituições (nacional e estrangeira),
legislações, jurisprudências dos Tribunais, periódicos, dicionários jurídicos, etc. A principal
vantagem da pesquisa bibliográfica, apontada por Gil (2008), consiste no fato de possibilitar
ao pesquisador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que em outras
modalidades de pesquisa, uma vez que se utiliza das contribuições de diversos autores sobre
determinado assunto.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O dever-poder de punir do Estado só nasce quando uma norma préestabelecida, geral e abstrata, é violada, a isto se dá o nome de princípio constitucional da
legalidade penal, e só a partir deste momento é que aquele, através de seus órgãos
responsáveis, apurarão todos os fatos e circunstâncias da infração, sempre garantido ao
indivíduo todos os seus direitos e garantias fundamentais.
É desta forma, que segundo o doutrinador Paulo Rangel, “surge a chamada
persecutio criminis, que é exercida pela polícia de atividade judiciária (através do inquérito
policial) e pelo Ministério Público (através da competente ação penal).” (2011:74)
Sobre o inquérito policial, o Código de Processo Penal Português preleciona
que “compreende o conjunto de diligências que visam investiga r a existência de um crime, determinar os seus
agentes e a responsabilidades deles e descobrir e recolher as provas, em ordem à decisão sobre a acusação.”,
assim, tem valor apenas informativo, ou seja, nele não pode haver juízo de valor sobre o fato
ou sobre o autor, visto que é um sistema inquisitivo, desta feita a decisão judicial não pode
condenar o acusado somente com as provas colhidas nesta fase, devendo ser portanto
corroborada em juízo sobre o crivo do contraditório e da ampla defesa.
162
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
E é justamente esta fase que desperta o grande interesse da mídia, que na sua
busca insaciável por ibop, passa a veicular todas as etapas da investigação policial, elaborando
diversas teorias sobre o crime, “explorando a dramatização da dor humana, de forma a
catalisar a aflição das pessoas e suas iras”, e é aqui também que residem as maiores
distorções realizadas pela imprensa no que diz respeito às garantias constitucionais e
processuais do “réu”.
Este sensacionalismo se dá principalmente naqueles crimes cuja competência para
julgar é do Tribunal do Júri, quais sejam, os dolosos contra a vida: homicídio, instigação,
induzimento e auxílio ao suicídio, infanticídio e aborto; isto porque por se tratarem de crimes
causadores de forte impacto moral e ético na sociedade, que busca se informar de todos os
atos praticados no curso da persecução penal.
Tal instituição é composta por um juiz de direito, o chamado juiz presidente, e
os juízes de fato, que formam o conselho de sentença, sendo sete jurados sorteados dentre
cidadãos comuns, dos mais diversos status sociais, políticos, ideológicos e religiosos.
Na definição de Adriano Marrey, Alberto Silva Franco e Rui Stoco (1997: 107)
“Jurado é órgão leigo, incumbido de decidir sobre a existência da imputação, para concluir se houve fato
punível, se o acusado é seu autor e se ocorreram circunstâncias justificativas do crime ou de isenção de pena,
agravantes ou minorantes da responsabilidade daquele.”.
Concluem, ainda, Flávio Prates e Neusa
Felipim (p. 38/2008) que:
[...]
É valiosa a pretensão de que o réu seja julgado por seus pares, como
garantia da justiça, mas nem sempre, ou até mesmo poucas vezes, estes “pares” terão
o equilíbrio e o discernimento para filtrar o que foi reiteradamente incutido em seus
pensamentos antes do julgamento do processo que irão decidir. Dificilmente um
jurado consegue manter-se isento diante da pressão da mídia e do prévio julgamento
“extrajudicial” transmitido diariamente para suas casas.
A doutrina chama este fenômeno de pré-julgamento realizado pela mídia,
absolvendo ou condenando na maioria das vezes, antecipadamente, direcionado deste modo a
opinião pública e, consequentemente, o convencimento do juiz e principalmente dos jurados.
Isto porque, se acham respaldados pelo tão superestimado princípio da
liberdade de imprensa, que atualmente dá lugar ao direito de informação, devendo ser um bem
da sociedade e não de profissionais ou empresas ligadas a este setor, visto que essa liberdade
não é absoluta, de forma que a liberdade de uma pessoa ou sociedade vai até onde começa a
163
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
da outra, ou seja, quando uma pessoa vai exercer sua liberdade não pode esquecer que todas
as outras pessoas têm o mesmo direito.
Segundo Rodrigo César Rebello Pinho:
A liberdade de informação jornalística compreende o direito de informar e,
bem como o do cidadão de ser devidamente informado. Qualquer legislação
infraconstitucional que constitua embaraço à atividade jornalística, por expressa
disposição da nossa Carta Magna, deve ser declarada inconstitucional, conforme o
art 220, §1°. Tal liberdade, deve ser exercida de forma compatível com a tutela
constitucional da intimidade e da honra das pessoas, evitando situações de abuso
ao direito de informação previsto na Constituição (2007: 90).
É neste ponto, quando a impressa abusa de sua prerrogativa de liberdade, que
tal direito se choca com o direito do réu de ser julgado por um juiz imparcial, neste caso, por
um júri imparcial.
A imparcialidade do juiz é uma das maiores garantias de realização da justiça,
bem como característica essencialmente legitimadora da função estatal jurisdicional. Embora,
não consagrado expressamente pela Constituição Federal de 1988, ele é parte integrante do
devido processo legal (art. 5°, LIV).
Assim, no conflito entre princípios deve-se fazer uma valoração destes e aplicálos de maneiro proporcional, evitando a interpretação de seu uso exagerado. No caso em tela,
a liberdade de imprensa deve ser aplicada com cautela, principalmente na cobertura da
persecutio criminis e do processo judicial, porque é inconcebível pensar que o exercício de
um desse direito signifique a negação essencial de outros.
No
entanto,
não
se
pode
afirmar
que
a
divulgação
das
fases
administrativas/processuais penais é totalmente negativa, na realidade existi um delicado
balanço entre o direito da sociedade a que se sancionem os infratores da lei, o direito de um
devido processo legal e o direito dos meios de comunicação a informar o público sobre eles.
Sendo assim, quando a imprensa leva a sociedade informações processuais livres
de pré-concepções, atendo-se a realidade dos fatos e, claro, sem sensacionalismo, ela acaba
por facilitar a compreensão do linguajar jurídico, que é muito rebuscado, e incompreendido
pela maioria da população.
Ademais, a sociedade tem direito a um processo público - não sendo ele, contudo,
um direito absoluto, devendo, portanto ser restringido “quando a defesa da intimidade ou
interesse social” o exigirem (art. 5, inc. LX, da CF/88) – e com certeza a cobertura jornalística
amplia o seu alcance.
164
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
No entanto, não se pode entender que imprensa é sinônimo de publicidade, como
visto, ela apenas a amplia, nem pretender ver uma violação de sua liberdade onde não existe,
pois, um verdadeiro Estado Democrático de Direito busca conciliar estas liberdade evitando
tanto a justiça de portas fechadas com a justiça do reality show.
É a partir do momento que a mídia deixa de publicar o fato tido como criminoso
de maneira imparcial, e passa a veiculá-los de maneira leviana e sensacionalista, em evidente
afronta aos direitos daqueles submetidos à persecução penal, tais como o de ser considerado
inocente até o transito em julgado da sentença condenatória, bem como o de ser inviolável sua
vida privada, intimidade, honra e imagem, que a sua interferência passa a ser negativa.
Isso acontece porque em regra os meios de comunicação são empresas, cuja
subsistência, tal como é pregado pelo capitalismo globalizado, dependem da utilidade do que
produzem, esta busca por lucro segue a premissa de que o que não vende não interessa.
CONCLUSÃO
Sendo assim, percebe-se que há um tênue equilíbrio o qual se deve buscar, entre o
direito de informar e ser informado e o direito garantido a pessoa processada de ser julgada
por um tribunal imparcial, desta forma, ressalta-se que em nenhum momento deste estudo
defendeu-se a censura da liberdade de imprensa.
Que tem o direito de exercer seu papel social de informar e orientar a população,
bem como o de denunciar e levar ao conhecimento público os atos praticados no curso do
processo judicial, prestando-se nesse caso como instrumento de controle de poder do
Estado/Juiz.
Entretanto, buscou-se mostrar que a maneira desvirtuada da mídia sensacionalista
de noticiar a persecução penal, acaba prejudicando o seu andamento e a sua justiça,
contrariando precisamente o que deveria garantir com a publicidade do processo. A imprensa
não deve, e nem pode, ser censurada, mas como toda liberdade há de ter limites e
responsabilidades.
REFERÊNCIAS
CÓDIGO
DE
PROCESSO
PENAL
DE
PORTUGUAL
http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=199&tabela=leis&ficha=1&pagi
na=1, acessado em 02/03/2013.
165
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
CONVENÇÃO INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS- PACTO DE SÃO JUSÉ
DA COSTA RICA - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm, acessado em
05/04/2013.
MARREY, A. et al. Teoria e Prática do Júri. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.
PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0592.htm,
05/04/2013.
E
POLÍTICOS acessado
em
PINHO, RCR. Teoria geral da constituição e direitos fundamentais. São Paulo: Saraiva,
2007.
PRATES, FC.; TAVARES, NF dos A. A influência da mídia nas decisões do conselho de
sentença. Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 34, n. 2, p. 34, jul./dez. 2008. Disponível em:
<http://verum.pucrs.br/F/JSQ4PEMN6HVE7KCYJHB8GS8FUR81FEN1HCNXX41GKETD
VK5L4B-37826?func=full-set-set&set_number=004325&set_entry=000002&format=999>.
Acesso em: 05/04/2013.
RANGEL, P. Direito Processual penal – Inquérito Policial - 18º ed. Revista, ampliada e
atualizada. 1º tiragem. Editora Lumen Juris, Rio de Janeiro:2011.
ROMANHOL, FB. A influência da Mídia no Processo Penal Brasileiro. 53 folhas. TCC.
Faculdade
Suldamérica. 2010 www.sudamerica.edu.br/arquivos_internos/.../Fernanda%20Bella.pdf - consultado em:
10/04/2013.
SANTOS, GCB. A Liberdade de imprensa e os limites constitucionais. Disponível em:
<http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=301CID001>. Acesso em:
05/04/2013.
166
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
MANAUS: ANALISE DA ARQUITETURA ECLÉTICA NO AMBIENTE URBANO EM UM
TRECHO DA AVENIDA SETE DE SETEMBRO
ANDREW AUGUSTO GUEDES BRAGA1; TAISE COSTA DE FARIAS2
RESUMO: A cidade como produção da ação humana, se apresentando como o reflexo de valores, construções
históricas, sociais e culturais, ou seja, um campo fértil para a compreensão da história de uma determinada sociedade.
Com a necessidade de se preservar as manifestações produzidas na vida em sociedade, estudos, proteções e outras
providências são tomadas na tentativa de fazer permanecer as valorosas expressões do povo. Dessa maneira, a
arquitetura se apresenta como uma manifestação social importante para o estudo e compressão da história e das ações
sociais dentro do espaço urbano que compõem as cidades. Partindo desse contexto o presente projeto de pesquisa vem
contribuir para a compreensão e preservação do patrimônio cultural manauara, através da leitura da Avenida Sete de
Setembro, destacando os edifícios mais representativos e conservados da arquitetura eclética, com finalidade a seu
reconhecimento e valorização.
Palavras-chave: Patrimônio cultural, Avenida Sete de Setembro, Arquitetura Eclética.
INTRODUÇÃO
O tema aqui proposto abrange questões referentes à preservação do patrimônio cultural no
âmbito da importância de se preservar a memória e a identidade de uma sociedade, a partir da
leitura da Avenida Sete de Setembro, no centro histórico da cidade de Manaus, e o reconhecimento
da produção arquitetônica eclética remanescente.
Segundo a Carta de Atenas (1933) a história está inscrita no traçado e na arquitetura das
cidades. Sendo assim, a cidade como produção da ação humana, se apresenta como o reflexo de
valores, construções históricas, sociais e culturais, tornando-a um campo fértil para a compreensão
da história de uma determinada sociedade. A diversidade de extratos, que compõem a paisagem
urbana, com as diversas edificações construídas em diferentes tempos, relata uma época e marcam
um tempo, que é sempre diferente daquele que o substituiu, ou seja, uma herança que testemunha as
aspirações de uma determinada sociedade, no qual cada grupo social ou indivíduo deixa sua marca
no ambiente construído, contribuindo para a definição das características que configuram um
determinado espaço urbano.
Percebe-se então que a arquitetura e o traçado urbano se apresentam como manifestações
importantes para o estudo e compressão da história e das ações sociais dentro do espaço urbano que
compõem as cidades. Dentro desse contexto, a arquitetura é entendida aqui como um patrimônio
Aluno do Curso de Arquitetura e Urbanismo e bolsista do Programa de Iniciação Científica (PROIC) da Universidade
Nilton Lins, Manaus/AM. E-mail: [email protected]
2 Professora da Universidade Nilton Lins, mestre em “História da Arquitetura e Urbanismo” pelo Programa de PósGraduação da Universidade Federal da Paraíba. E-mail: [email protected]
1
167
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
cultural não apenas pelo seu caráter material e documental do passado, mas também como
portadora de afazeres sociais e suporte de memória, inserida na dinâmica urbana das cidades, assim
como afirma Fonseca (2009):
É necessário pensar na produção de patrimônios culturais não apenas como
a seleção de edificações, sítios e obras de arte que passam a ter proteção
especial do Estado, mas (...) como ‘narrativas’, ou, (...) como uma
‘formação discursiva’, que permite ‘mapear’ conteúdos simbólicos, visando
a descrever a ‘formação da nação’ e constituir uma ‘identidade cultural
brasileira’. (FONSECA, 2009:66).
Por tanto, estudar o traçado e a produção arquitetônica, de um determinado espaço urbano,
se apresenta como uma forma de contribuir para o resgate e conhecimento do processo histórico de
formação das cidades (MARX, 1991) e é através da compreensão de sua evolução urbana e
arquitetônica que as cidades podem melhor organizar-se e desenvolver-se.
Partindo dessa constatação, a presente pesquisa tem como objetivo principal oferecer um
suporte documental e referencial, corroborando para uma melhor compreensão e reflexão da atual
situação do núcleo de origem da cidade de Manaus, através de uma leitura da Avenida Sete de
Setembro e a análise das suas edificações ecléticas remanescentes, possibilitando assim, a possível
identificação dos elementos que constituem os elos entre o passado e o presente e que, ao final,
representam os traços da identidade histórica e cultural da sociedade manauara.
O Ecletismo e a cidade de Manaus
O fim do século XIX e início do XX se apresenta como um período de grandes
transformações socioeconômicas e tecnológicas que, no Brasil, provocaram mudanças nos velhos
hábitos de construir e habitar.
Nesse contexto, a arquitetura inspirada no ecletismo3 surge como resposta à “modernização”
das cidades brasileiras. Para Mendes (2011), o ecletismo pode ser compreendido como “uma
liberdade de escolha sobre o que se considerava melhor ou positivo, abandonando alguns dogmas
como aqueles cânones estabelecidos pelo repertório neoclássico” (MENDES, 2011:145).
As primeiras transformações verificadas estão nas soluções de implantação, onde há o
esforço de liberar a edificação dos limites dos lotes, ou seja, recuar a edificação dos limites laterais,
conservando-o frequentemente sobre o alinhamento da via pública. Ao mesmo tempo a arquitetura
aproveitava o esquema da casa com porão alto, desenvolvido no período anterior, com a arquitetura
3
O Ecletismo enquanto estilo teve início na Europa, ainda na metade do século XIX, caracterizado pelo emprego de
vários estilos de construção em um mesmo edifício. No Brasil, o Ecletismo surge como resposta a “modernização”,
sendo contemporâneas as reformas urbanas que tinham o objetivo de qualificar a vida nas grandes cidades.
168
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
neoclássica, porém, transferindo a entrada principal para a fachada lateral. Dessa maneira, as casas
conservavam uma altura da rua, protegendo suas intimidades, além de aproveitarem os porões para
o alojamento dos empregados e locais de serviço.
Vivenciando esse contexto, Manaus se apresenta como uma cidade de aspecto bastante
civilizado e moderno, a partir dos melhoramentos urbanos e o grande número de construções
públicas e particulares, caracterizando o período como “Belle époque”, que proporcionou belas
edificações com estruturas e acabamentos de alta classe e requinte, constituindo um grande acervo
de edificações no estilo eclético.
Atualmente a cidade de Manaus ainda conserva boa parte das suas características originais,
no âmbito urbanístico e arquitetônico de sua área central, herdadas do século XIX e do início do
XX. A Avenida Sete de Setembro, área de estudo desse projeto, está estruturada entorno da antiga
zona portuária, e segundo Guimarães (2012) em sua dissertação de mestrado:
“Este núcleo concentrou a maior parte das funções urbanas, desde os
primeiros tempos de formação da Vila da Barra do Rio Negro, até a
execução do plano de melhoramentos de Eduardo Ribeiro, na última década
do século XIX, quando novas áreas foram urbanizadas e a cidade expandiuse redistribuindo suas funções.” (GUIMARÃES, 2012:20).
Nesse sentido, a Avenida Sete de Setembro, apresenta–se como parte integrante da memória e
história de Manaus compondo o patrimônio cultural manauara.
Conhecida como Rua Municipal, a atual Avenida Sete de Setembro, tem sua origem na
fundação do Município Lugar da Barra, atual cidade de Manaus, participando da história urbana
como uma importante via dentro do desenho urbano original até os dias atuais. Com a expansão da
cidade a partir do centro de origem, a Avenida facilitou o acesso às outras áreas do município, se
tornando uma rua de grande importância dentro do traçado urbano do centro. Tal importância
proporcionou a construção de edificações de grande porte, englobando um conjunto de exemplares
da arquitetura eclética, que passaram a ser predominantes nesse espaço urbano.
MATERIAL E METÓDOS
Para atingir tal objetivo, a metodologia dessa pesquisa procura manter a relação entre o
contexto histórico e seus reflexos no meio urbano, focando prioritariamente no caráter
arquitetônico, nesse caso, as edificações em estilo eclético, situadas na Avenida Sete de Setembro.
A primeira etapa do trabalho compreendeu no levantamento bibliográfico, que embasou de forma
conceitual a pesquisa em desenvolvimento. Na segunda etapa, teve-se o cadastro dos edifícios, da
169
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Avenida Sete de Setembro, de características ecléticas através de uma ficha desenvolvida durante a
primeira etapa, onde foram recolhidos os dados históricos, fotos, desenhos, sistema construtivo, uso
atual, ocupação do solo, elementos decorativos, estado de conservação e tudo que foi pertinente à
pesquisa, procurando um entendimento da situação atual das edificações existentes. A terceira etapa
consiste na elaboração de mapas temáticos, a partir dos dados obtidos em campo, que permitirão a
leitura geral da Avenida Sete de Setembro e das edificações remanescentes no estilo eclético. Para
tanto se fez necessário à divisão da extensa Avenida em quatro trechos (Figura 01), onde será
analisado o trecho 01 onde se encontra em um percurso de grande acervo de edificação e uso da
sociedade, para depois se compilar as informações obtidas.
Figura 01: A Avenida Sete de Setembro dividida em quatro trechos a serem trabalhados.
Fonte: https://maps.google.com.br, modificado por Andrew Braga, em 2013.
Por fim, criar-se-á uma análise conclusiva, a partir da leitura da situação atual da Avenida
Sete de Setembro, além da possibilidade de selecionar parte das edificações mais representativas e
bem preservadas do estilo eclético do trecho 01 desenvolvido na cidade de Manaus.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
a) Estilos
A arquitetura da Avenida Sete de Setembro revela construções de porões altos que
possibilitou por meio dos óculos, a ventilação e aeração dos pisos assoalhos dos pavimentos térreos.
O embasamento perfurado pelos óculos de diferentes formas e tamanhos possibilitou dar aos
sobrados e aos palacetes assobradados uma maior imponência, juntamente com os portões de ferro,
as escadarias, as portas trabalhadas em madeira, os guarda-corpos, as sacadas e todos os elementos
decorativos de estuque.
As fachadas dos edifícios apresentam uma tendência à horizontalidade (Figura 02), com
composições em três partes (embasamento, corpo e coroamento) e simétricas, ricamente
ornamentadas com elementos decorativos. Algumas edificações exploram os espaçamentos em
relação ao limite do lote com belos jardins. Os coroamentos são encimados por platibandas cegas,
170
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
vazadas com balaústres ou coroadas com frontões triangulares. Em algumas edificações pode-se
destacar ainda a estatuária e os relevos em estuque, além das datas das edificações e medalhões.
Figura 02: Colégio Amazonense D. Pedro II, como exemplo da arquitetura eclética remanescente no trecho
01 da Avenida Sete de Setembro.
Fonte: Acervo pessoal, Andrew Braga, 2013.
Contudo, nesse primeiro trecho estudado (Figura 03), da Avenida Sete de Setembro,
percebe-se que dos 36 lotes presentes, apenas 10 apresentam o estilo eclético ainda predominante na
fachada, estando todo o restante das edificações bastante descaracterizadas, apresentando pouco ou
nenhum elemento que remeta a estética do estilo eclético.
Figura 03: Levantamento dos estilos arquitetônicos presentes no trecho 01, da Avenida Sete de Setembro.
Fonte: Acervo pessoal, Andrew Braga, 2013.
b) Tipologias
O espraiamento do tecido urbano, as atividades de lazer são deslocadas para outras áreas da
cidade, assim como os bairros habitacionais, que gradativamente afastam-se do centro urbano.
Nesse processo a Avenida, assim como a maior parte da área central da cidade, é absorvida por
atividades comerciais que irão instituir uma nova dinâmica a essa área.
Tais modificações são percebidas até hoje, como se pode observar no levantamento
realizado no trecho 01(Figura 04): dos 36 lotes presentes, 31 se destinam ao uso comercial ou de
171
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
serviço e apenas dois são utilizados para fins institucionais. Encontra-se ainda 02 lotes que
combinam o uso de comércio e residência, não existindo nesse trecho nenhum lote vazio ou sem
uso, e com o uso apenas residencial. Ou seja, percebe-se que 86% dos lotes existentes nesse trecho
da Avenida Sete de Setembro são de uso comercial, instaurando uma inversão das atividades de
caráter habitacional e institucional antes desenvolvida.
Figura 04: Levantamento das tipologia/usos presentes no trecho 01, da Avenida Sete de Setembro.
Fonte: Acervo pessoal, Andrew Braga, 2013.
c) Preservação
Com a substituição dos lotes habitacionais e institucionais pelas atividades comerciais as
edificações passaram por transformações a fim de adaptar-se ao novo uso. Tais modificações
ocorreram principalmente no andar térreo, com a abertura de grandes vitrines e letreiros, além da
utilização de novos materiais de revestimentos nas fachadas, que descaracterizam quase que por
completo as edificações. Sem uma fiscalização eficiente tais “reformas” continuam acontecendo
proporcionando a perda da originalidade estilística da edificação, ou seja, de uma parte importante
da história, da memória e do patrimônio edificado da cidade de Manaus.
Segundo o levantamento realizado (Figura 05), dos 36 lotes, apenas 3 apresentam-se
preservados a sua origem eclética, sendo que 2 desses lotes são de uso institucional o que pode
justificar a sua preservação estilística. Tem-se ainda 8 lotes com edificações modificadas, ou seja,
que apresentam de forma parcial alguns elementos que remetem o que um dia foi o estilo daquela
arquitetura. Os outros 24 lotes possuem edificações totalmente alteradas que trazem pouquíssimos
elementos ecléticos ou que não traduzem nenhum estilo arquitetônico especifico.
172
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
Figura 05: Levantamento do estado de preservação das edificações existentes no trecho 01, da Avenida Sete
de Setembro, realizado em 2013.
Fonte: Acervo pessoal, Andrew Braga, 2013.
A leitura do ambiente urbano
Percorrendo a Avenida Sete de Setembro notam-se edificações que se destacam da linha de
perfil da Avenida, tanto por sua monumentalidade, quanto por sua estética mais trabalhosa.
No início do trecho 01 encontra-se o Colégio Amazonense Dom Pedro II, exemplificando a
ideia de monumentalidade das construções no auge do ecletismo. A edificação apresenta-se com
uma escadaria central que dá acesso ao pavimento composto por três portões de ferro. A fachada
possui quatro colunas de ordens clássicas presentes em todos os pavimentos, com esquadrias em
sequência simétrica construídas em madeira e vidro. A edificação é coroada por uma platibanda
cega e um frontão triangular, fazendo um belo encaixe na parte central da fachada. Prosseguindo ao
mesmo lado da Avenida, no terceiro lote do trecho 01, encontra-se a Biblioteca Pública do
Amazonas que transmiti um verdadeiro resgate do tempo áureo da cidade. A edificação possui dois
pavimentos com elevação do solo através do porão com óculos em formato retangular arredondado.
A leitura do ambiente em questão é quebrada pelas edificações totalmente descaracterizadas.
Com 36 lotes, apenas três edificações se encaixam no perfil original da avenida, resguardando o seu
estilo arquitetônico. A quantidade elevada de edifícios comerciais acarretou em modificações
arquitetônicas para melhor suprir as necessidades da nova tipologia, nota-se que tais modificações
não se limitam as fachadas ou aberturas de novos vãos, mas também no aumento desproporcional
das edificações e da poluição visual.
CONCLUSÃO
Com o desenvolvimento do presente projeto de pesquisa, tem-se como resultado principal a
leitura da Avenida Sete de Setembro, pontuando a má preservação e conservação da arquitetura
eclética edificada nesse traçado e identificando aquelas que se apresentam mais representativas e
173
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | outubro 2013
Universidade Nilton Lins
bem conservadas, com finalidade a seu reconhecimento e valorização, contribuindo para a
compreensão da história e das ações sociais de uma determinada época, além da preservação de um
acervo arquitetônico que contempla o patrimônio cultural da cidade de Manaus. A relevância
acadêmica desse estudo apresenta-se no sentido de vir a ser mais um subsídio de pesquisa para
profissionais e estudantes da área de arquitetura e urbanismo, onde é possível refletir sobre a
importância da preservação do patrimônio eclético remanescente na Avenida Sete de Setembro,
como parte integrante da história, memória e identidade da cidade de Manaus.
REFERÊNCIAS
IPHAN. Carta de Atenas. Disponível em:
<http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=12372&sigla=Legislacao&retorno
=paginaLegislacao>. Acesso em: março de 2013.
FILHO, NGR. O quadro da arquitetura no Brasil. 10° ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 2004.
GUIMARÃES, MR. A paisagem urbana como diferencial no turismo em Manaus: uma análise da
Avenida Sete de Setembro. Dissertação (Mestrado em Turismo e Hotelaria). Universidade do Vale
Itajaí – UNIVALI, 2012.
MESQUITA, OM. Manaus: história e arquitetura – 1852-1910. 3° ed. Manaus: Editora Valer, 2006.
MARX, M. Cidade no Brasil. Terra de quem? São Paulo: Nobel: Edusp, 1991.
MENDES, C. A arquitetura no Brasil: de D. João VI a Deodoro. Rio de Janeiro: Imperial Novo
Milênio, 2011.
174
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
ANÁLISE DO APLICATIVO DIGITAL PARA TECNOLOGIA MÓVEL COM
PLATAFORMA TOUCH SCREEN UTILIZADA NO ENSINO DA LEITURA DE
CRIANÇAS COM DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM
PALOMA BEZERRA CASTRO DE ALBUQUERQUE1 MARIA DO SOCORRO;
GONÇALVES DOS SANTOS2
RESUMO: A importância desse tema é avaliar o rendimento das crianças com o uso das tecnologias como um
instrumento pedagógico. Compreende-se que o tema usufrui de pesquisas referentes à educação, tecnologia e ensino da
leitura. Sendo avaliada a dificuldade da leitura em cada criança. A tecnologia que foi usada como instrumento de estuo
foi o celular. A coleta de dados foi baseada em entrevista aberta com professores do 2º a 4º ano do ensino fundamental,
e avaliação da leitura de alunos de 3º ano do ensino fundamental, com a utilização de um livro e de um aplicativo com
uma tecnologia móvel. Constatou-se, portanto, que é possível utilizar aplicativos tecnológicos que as crianças já
manuseiem como auxiliar no processo de ensino e aprendizagem e que com isso, poderá tornar esse processo mais
prazeroso e atrativo, contribuindo para a superação de dificuldades de algumas crianças, principalmente, na leitura em
sala de aula e fora dela.
PALAVRAS-CHAVE: Tecnologia. Educação. Aprendizado da Leitura.
INTRODUÇÃO
Atualmente, a escola se constitui num espaço fundamental para a criança, onde ocorre ou
deve ocorrer o aprendizado, a socialização, o lúdico e, onde se deve possibilitar alternativas de
superação para criança com dificuldade de aprendizagem. Além das ações/estratégias tradicionais, a
escola contemporânea deve utilizar a tecnologia como aliada no processo de aprendizagem, por ser
uma ferramenta importante para a aquisição do conhecimento, sendo primordial na educação para: o
ensino da criança, o lazer, a pesquisa e a informação. Nas escolas públicas e/ou privadas há
possibilidade de ter um equipamento tecnológico eficaz para melhorar o aprendizado da criança.
Os sistemas tecnológicos, nos últimos tempos, têm contribuído para a melhoria do ensino
e, consequentemente, facilitando a aprendizagem, como: jogos educativos, filmes entre outros. Essa
tecnologia tem sido bastante apreciada por crianças de 06 a 10 anos bem como a tecnologia móvel:
computador, celular, tablet, smartphone e outros. As crianças de hoje tem ou desejam algum tipo de
tecnologia para se comunicar ou se divertir. O presente estudo tem a finalidade de apresentar
resultados de pesquisa que analisam o uso de aplicativo digital para tecnologia móvel, no ensino da
leitura de crianças com dificuldade de aprendizagem.
1
2
Graduanda de Pedagogia, aluna de PIBIC, da Universidade Nilton Lins
Professora MsC. Orientadora da Pesquisa, pela Universidade Nilton Lins. E-mail: [email protected]
175
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa de campo foi realizada na Escola Municipal República do México, localizada
na zona norte de Manaus. As pessoas selecionadas para pesquisa foram: duas professoras, sendo
uma de 2o. e outra de 4º ano, 19 alunos do 3º ano dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental bem
como a Pedagoga da Escola.
As técnicas usadas foram: a entrevista aberta aos professores e a observação sistemática
aos alunos numa primeira atividade de leitura, no modo convencional e numa segunda atividade de
leitura, usando aplicativo tecnológico. Segundo Marconi e Lakatos (2001, p.107), a entrevista “é o
encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado
assunto, mediante uma conversa de natureza profissional”. Já a observação sistemática, Fonseca
(2010, p. 99) afirma que se trata de uma atividade de controle, planejada e estruturada de acordo
com os objetivos e propósitos previamente definidos.
O roteiro da análise de um aplicativo digital para tecnologia móvel, no ensino da leitura,
avaliou um aplicativo com um jogo, submetendo a criança a 4 (quatro) gêneros de jogos, sendo eles:
trava-línguas, parlendas, histórias infantis e músicas.
Em relação à atividade de leitura convencional, foi solicitado que a professora entregasse os
livros a cada participante, para que pesquisadora acompanhasse a leitura e registrasse os dados. No
segundo momento, foi explicado aos participantes sobre a atividade que seria realizada com o jogo,
usando o aplicativo no celular como proposto no projeto. Não foi possível a utilização do aparelho
celular, tendo-se que recorrer à atividade interativa com o laptop. Todo a coleta de dados foi
registrada em ficha de leitura.
Foram analisadas as seguintes variáveis: Leitura, utilizando os critérios: leitura alta e
firme, leitura correta, erros de leitura, dificuldade na leitura, leitura baixa e lenta, leitura silabada;
Comportamento cujos critérios foram: interesse, agitação, concentração, interação com o
aplicativo e; Atenção com os critérios: atenção e falta de atenção. Após avaliação dos participantes
foi realizada uma enquete com a professora da turma, para saber a opinião sobre o uso do aplicativo
digital na sala de aula.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados da pesquisa, envolvendo um grupo de alunos, serão apresentados a seguir, por
meio de tabelas, obtidos para os critérios de avaliação de Leitura, de Comportamento e de Atenção.
176
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
Tabela 1 – Dados sobre os critérios da variável LEITURA, utilizando o método convencional, realizada na
Escola Municipal República do México, localizada na Zona Norte do município de Manaus, durante os
meses de junho, julho e agosto.
Resultados da Atividade de leitura com método convencional
VARIÁVEL LEITURA
Alta e
firme
Critérios
Desempenho
ÓTIMO
BOM
REGULAR
INSUFICIENTE
Total
N.
5
5
4
5
19
Erros de leitura
Correta
%
26
26
22
26
100
N.
5
7
6
1
19
%
26
37
32
5
100
N.
2
6
8
3
19
%
10
32
42
16
100
Baixa e
lenta
Dificuldade
N.
2
8
8
1
19
%
10
42
42
5
100
N.
8
3
1
7
19
%
42
16
5
37
100
Silabada
N.
1
3
1
14
19
%
5
16
5
74
100
Observa-se por meio da Tabela 1 que descreve a variável LEITURA, somando-se o regular
e o insuficiente, obtiveram-se os seguintes percentuais nos critérios de: leitura alta (48%), leitura
correta (37%), erros de leitura (58%), dificuldade de leitura (47%), leitura baixa (42%) e leitura
silabada (79%). A partir desses dados, pode-se pensar que as possibilidades de motivar
adequadamente os alunos são bastante escassas, se não houver a busca de alternativas.
Tabela 2 – Dados sobre os critérios da variável Leitura, utilizando o aplicativo digital, realizados na Escola
Municipal República do México, localizada na Zona Norte do município de Manaus durante os meses de
junho, julho e agosto.
Resultados da Atividade de leitura com aplicativo digital
Critérios
Desempenho
ÓTIMO
BOM
REGULAR
INSUFICIENTE
Total
Alta e
firme
N.
6
8
3
2
19
%
32
42
16
10
100
VARIÁVEL LEITURA
Erros de
leitura
Correta
Dificuldade
N.
5
10
3
1
19
%
26
53
16
5
100
N.
3
2
4
10
19
%
16
10
22
53
100
N.
1
2
9
7
19
%
5
10
47
37
100
Baixa e lenta
N.
2
3
11
3
19
%
10
16
58
16
100
Silabada
N.
2
4
9
4
19
%
10
22
47
22
100
Na Tabela 2 que apresenta o processo de leitura com o aplicativo digital os alunos
apresentaram desempenho mais elevado. Somando-se o desempenho ótimo e o bom, obtiveram-se
os resultados de cada critério: leitura alta e firme (74%), leitura correta (79%), margem menor de
177
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
erros de leitura (26%), menor dificuldade de ler (15%), leitura baixa e lenta (26%) e leitura silabada
(32%).
Comparando-se os dados da primeira com a segunda tabela, analisa-se que a leitura com o
aplicativo se desenvolveu de modo mais eficaz. As crianças tiveram melhor desempenho, erraram
menos.
Segundo Freire e outros (2008, p. 72), “ao analisarmos a escola e a mídia que consegue nela
penetrar, identificamos aí um dos grandes obstáculos no sistema educacional [...], a escola funciona,
de maneira geral, no paradigma da simplicidade em que tudo é mecânico, reducionista, linear [...]”.
Tabela 3 - Dados sobre os critérios da variável COMPORTAMENTO na atividade de leitura, utilizando o
método convencional, realizados na Escola Municipal República do México, localizada na Zona Norte do
município de Manaus durante os meses de junho, julho e agosto.
Resultados da Atividade de leitura no método convencional
VARIÁVEL COMPORTAMENTO DURANTE A LEITURA
Interesse
Agitação
Concentração
Critérios
Desempenho
N.
%
N.
%
ÓTIMO
BOM
REGULAR
INSUFICIENTE
Total
9
10
19
47
53
100
1
7
5
6
19
5
37
26
32
100
.
N.
4
13
2
19
%
22
68
10
100
Analisam-se os dados Tabela 3, que descreve os dados obtidos para a variável
COMPORTAMENTO durante a leitura com método convencional, que: os alunos não
demonstraram interesse, ficando em 100% o nível desse critério, no critério agitação 58% dos
alunos se apresentaram agitados e 78% dos alunos não se concentraram na atividade de leitura.
Tabela 4 – Dados sobre os critérios da variável COMPORTAMENTO na atividade de leitura, utilizando o
aplicativo digital, realizados na Escola Municipal República do México, localizada na Zona Norte do
município de Manaus durante junho, julho e agosto.
Resultados da Atividade de leitura com aplicativo digital
Critérios
Desempenho
ÓTIMO
BOM
REGULAR
INSUFICIENTE
Total
VARIÁVEL COMPORTAMENTO DURANTE A LEITURA
Interesse
Agitação
Concentração
N.
%
N.
%
.
N.
%
5
26
2
11
8
42
13
68
7
37
9
47
1
6
6
32
2
11
4
20
19
100
19
100
19
100
178
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
Observando-se os dados da Tabela 4, que se refere à leitura com o aplicativo digital,
Variável COMPORTAMENTO na leitura se dá assim: expressivamente, 94% dos alunos
demonstraram interesse pela leitura, o critério de agitação ficou dividido, ficando em 48%. No
critério de concentração também foram significativos os dados: 89% dos alunos demonstraram
concentração na leitura. A importância de inserir as tecnologias no processo de ensino
aprendizagem é um desafio para os professores em sala de aula. Nesse sentido, a tecnologia deve
servir para enriquecer o ambiente educacional, propiciando a construção de conhecimentos por
meio de uma atuação ativa, critica e criativa por parte dos alunos e dos professores (BETTEGA,
2004, p. 16).
Tabela 5 – Dados sobre os critérios da variável ATENÇÃO na leitura, utilizando método convencional de
leitura, realizada na Escola Municipal República do México, localizada na Zona Norte do município de
Manaus durante junho, julho e agosto.
Resultados da Atividade de leitura no método convencional
VARIÁVEL ATENÇÃO NA LEITURA COM MÉTODO CONVENCIONAL
Critérios
Atenção
Falta de atenção
Desempenho
ÓTIMO
BOM
REGULAR
INSUFICIENTE
Total
N.
2
7
10
19
%
10
37
53
100
N.
3
7
5
4
19
%
16
37
26
21
100
A Tabela 5 mostra os dados alusivos à variável ATENÇÃO à leitura convencional, com os
critérios atenção e falta de atenção, ficando assim, os resultados obtidos para a atenção durante a
leitura com método convencional: apenas 10% dos alunos deram atenção à atividade de leitura,
77% dos alunos demonstraram falta de atenção.
179
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
Tabela 6 – Dados sobre os critérios da variável ATENÇÃO na leitura, utilizando o aplicativo digital,
realizados na Escola Municipal República do México, localizada na Zona Norte do município de Manaus
durante junho, julho e agosto.
Resultados da Atividade de leitura com aplicativo digital
VARIÁVEL ATENÇÃO NA LEITURA COM APLICATIVO DIGITAL
Critérios
Atenção
Falta de atenção
Desempenho
ÓTIMO
BOM
REGULAR
INSUFICIENTE
Total
N.
%
N.
16
84
3
2
11
5
100
4
5
7
19
1
-
19
%
16
21
26
37
100
Observa-se que a utilização do aplicativo digital na atividade de leitura os alunos
demonstraram mais atenção (95%). A falta de atenção registrada foi de 37%. É crescente o interesse
das crianças para o uso de mídias, principalmente as móveis, como celular e leptop.
Amaral (2003, p. 45) afirma que, “são as crianças as que melhor dominam um novo aparato
tecnológico e estão na ponta de um processo transformador que atinge, cada vez mais, áreas da vida
cotidiana”. Cabe então, à escola o olhar mais apurado para a concretização do dessas e de outras
mídias no espaço da sala de aula.
CONCLUSÃO
Algumas crianças apontadas como portadora de dificuldade na leitura, tiveram uma
melhoria de 50% na leitura com o uso das tecnologias. Na leitura convencional foram detectadas
quatro crianças, com leitura silabada e na leitura com o aplicativo foram detectadas apenas duas.
Constatou-se que é possível utilizar aplicativos tecnológicos que as crianças já manuseiem
como auxiliar no processo de ensino e aprendizagem e, com isso, tornar esse processo mais
prazeroso e atrativo, podendo contribuir para a superação de dificuldades de leitura de algumas
tanto em sala de aula e fora dela.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, meus pais, aos profissionais que me ajudaram na
realização desse projeto.
180
Anais da IX Mostra de Iniciação Científica | setembro 2013
Universidade Nilton Lins
REFERÊNCIAS
AMARAL, SF. Internet: novos valores e novos comportamentos. In: FREIRE, Fernanda M. P. A
leitura nos oceanos da internet. São Paulo: Cortez, 2003.
BETTEGA, MHS. Educação continuada na era digital. São Paulo: Cortez, 2004.
FONSECA, LAM. Metodologia Científica ao alcance de todos. 4. ed. Manaus, Valer, 2010.
FREIRE, W. Tecnologia e educação: as mídias na prática docente. Rio de janeiro: Wak Ed., 2008.
MARCONI, M; LAKATOS, E. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2001.
181

Documentos relacionados