SECRET °i - Arquivo Nacional
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D SECRETO ATA PA TRIgÈsiMA SEJÇTA SESSflQ DO CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL Aos onze dia? do mês de março do ano de mil novecentos sessenta e seis, às oito horas e quarenta minutos, nesta cidade e do RIO DE JANEIRO, ESTADO DA GUANABARA, no PALÁCIO LARANJEIRAS, realizou -se a trigésima sexta sessão do CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL, sob a presidência do Excelentíssimo Senhor Marechal HUMBERTO DE ALENCAR CAS ÍTELLO BRANCO, Presidente da República, e com a presença dos seguintes membros: Almirante-de-Esquadra ZILMAR CAMPOS DE ARARIPE MACEDO, Minis tro da Marinha; General ARTHUR DA COSTA E SILVA, Ministro da Guerra; Embaixador JURACY MONTENEGRO MAGALHÍES, Ministro das Relações Exterio res; Professor OCTÁVTO GOUVEIA DE BULHÕES, Ministro da Fazenda; chal JUAREZ DO NASCIMENTO FERNANDES TÁVORA, Ministro da Maré Viação e 0_ bras Públicas; General NEY AMINTHAS DE BARROS BRAGA, Ministro da Agri cultura; Professor PEDRO ALEIXO, Ministro da Educação e Cultura; Dou tor WALTER PERACCHI BARCELLOS, Ministro do Trabalho e Previdência So ciai; Marecha-do-Ar EDUARDO GOMES, Ministro da Aeronáutica; RAIMUNDO DE MOURA BRITO, Ministro da Saúde; Doutor Doutor PAULO EGYDIO MA£ TINS, Ministro da Indústria e do Comércio; Doutor MAURO THIBAU, Minis tro das Minas e Energia; Professor ROBERTO DE OLIVEIRA CAMPOS, Minis tro Extraordinário para o Planejamento e Coordenação Econômica;Doutor LUIZ VTANNA FILHO, Ministro Extraordinário para Assuntos do Civil da Presidência da República; Tenente-Brigadeiro Gabinete NELSON FREIRE LAVANÈRE WANDERLEY, Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas; General DÉCIO PALMEIRO DE ESCOBAR, Chefe do Estado-Maior do Exército; Tener te-Brigadeiro CLÓVIS MONTEIRO TRAVASSOS, Chefe do Estado-Maior da Ae ronáutica; Almirante-de-Esquadra ARNOLDO TOSCANO, Chefe do Estado-Ms ior da Armada. Participou da reunião o General GOLBERY DO COUTO E SII Departamento de Imprensa Nacional — SECRETO - 2 - VA, Chefe do Serviço Nacional de Informações; na qualidade de Assessg res do Ministro das Relações Exteriores, compareceram: o Professor HA ROLDO TEIXEIRA VALADftO, o Embaixador JOÍO GUIMARÃES ROSA e o Coronel OCTÂVIO TOSTA DA SILVA. Esteve ainda presente o General ERNESTO GEI SEL, Secretário-Geral do Conselho de Segurança Nacional. PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Está iniciada a reunião Segurança Nacional^ 0 assunto do Conselho de consiste na apreciação do Projeto de Nota, elaborado pelo Sr. Ministro das Relações Exteriores. Trata -se de uma questão que não e propriamente complexa, mas que não deixa ser bastante delicada. Já há mais de um ano que se desenha o de proble ma, e o Governo tem tratado continuamente do assunto com a nossa Charj celaria e com a nossa Representação no Paraguai. 0 assunto não deixa de ter já implicações sul-americanas pelas repercussões que se pode, mais ou menos, avaliar. No trato da questão, o Presidente da Repúbli ca tem persistido no seguinte: 1) defender a integridade territori ai, como condição, inclusive, da soberania nacional; pela paz entre o Brasil e o Paraguai, 2) como fator básico da paz continente, particularmente, na América do Sul; de modo sabemos que poderemos ficar vulneráveis no continente; uma atitude a ser ponderada por nós; tudo fazer 3) contrário, será com todos países sul-americanos que a questão de limite está completa; mos no Paraguai com a fase da demarcação terminada e, agora, se pro. 4) relativamente à temos um passado de investimentos, até de ajuda militar no Paraguai; não temos a menor conveniência em perder mento e esta ajuda militar que penetrou a no Paraguai; já esta o Paraguai desempenha papel relevante na limitação da hegemonia argentina, 5) de os a fase da caracterização da fronteira; o Paraguai desempenha uma outra circunstância: nossa; sempre não reabrir a questão limites propriamente dita, pois o Brasil já assentou cessa, de há muito tempo, do 6) fundo este investi nas Forças Armadas evitar também uma interferência comunista; SECRETO ! desde - 5 que as relações se tornem deterioradas, vamos ter incursões comunls. tas de esquerdismo bem conhecido na América do Sul; 7) também deixar de levar em conta que o nosso não podemos desenvolvimento economi. co está justaposto ao Paraguai, não só por questão de pontes, de e.s_ tradas, como também, futuramente, das Sete Quedas; 8) Finalmente, temos tido sempre a preocupação de nunca fechar a porta a negocia, ções, quando são feitas no bom sentido, sem cavilações. Achamos que nunca deverá partir de nós cerrar o caminho que possa levar a um bom entendimento com o Paraguai. Desejava, primeiramente, fazer este re. lato aos Senhores Membros do Conselho de Segurança Nacional, a fim de que tomem conhecimento de como o Presidente da República tem comportado desde que aqui chegou, no posto que ocupa, política com o Paraguai. 0 Senhor se em relação Ministro das Relações à Exteriores vai tomar a palavra para apresentar Proposta de Nota. MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Senhor Presidente; Senhores Mem bros do Conselho de Segurança Nacional. Esta Nota, que está submetida a estudo no Conselho, requereu um longo estudo sendo do Itamara. ty; reunimo-nos em pequenos grupos, em grupos maiores, durante ses. soes inteiras, tendo culminado uma delas, com um trabalho de oito hp_ ras e meia, num dia em que, afinal, se estabeleceu o texto da Nota. A toda hora a Nota vem sendo melhorada. Por isso mesmo, peço ao Se_ nhor Presidente da República e aos Senhores Membros do Conselho que não estranhem se, na apresentação final da Nota, ainda houver modifi. cações, porque a cada hora nós modificamos a redação e,por certo, ou. trás alterações ocorrerão com as contribuições substanciais que sur_ girão aqui. 0 escopo, no processo, é apresentar, o melhor a posição do Brasil. Trouxe cinco Assessores, possível, os principais Assess& res do Ministério, apesar de ter lá deixado outros tantos, não menos valiosos para o nosso trabalho. São eles: o Professor Haroldo Vala. dão, os Embaixadores Manoel Pio Corrêa Jr., Arnaldo Vasconcellos Departamento de Imprensa Nacional — SECRETO e » ! 4 Guimarães Rosa, e o Coronel Octávio da Silva Tosta. Estes cinco forair os mais responsáveis pelo trabalho redigido. Ditas essas palavras ini ciais, gostaria de expor ao Conselho o sentido geral da causa em deba. te: A fronteira Brasil-Paraguai foi definida pelo artigo 19 do Trata do de Limites de 9 de janeiro de 1872. Os trabalhos da Comissão Demar. cadora, que terminaram a 24 de outubro de 1874, são documentados por 18 atas e conferências. 0 Tratado de Limites Complementar do de 1872, assinado em 21 de maio de 1927* não põe em causa a linha definida pe Io Tratado de 1872 mas se ocupa apenas do trecho (Chaco) que na época da assinatura do instrumento básico não fora abrangido por ser objeto de contestação entre o Paraguai, Argentina e Bolívia: foz do rio Apa no rio Paraguai e o desaguadouro da Baía Negra. 0 referido Tratado de I927 considera a linha de fronteira "já definitivamente estabelecida no trecho que vai da foz do rio Iguaçu no rio Paraná, até a foz rio Apa no rio Paraguai. - Isso é um ponto da máxima do importância, porque os paraguaios, normalmente, queixam-se de que foram obrigados a assinar o tratado de 1872 com o seu território invadido, mas no tra. tado de 1927 foi considerada definitivamente estabelecida essa fron. teira que, agora, não admitem. - Em 9 de maio de 1950 foi assinado o Protocolo de Instruções para a Demarcação e Caracterização da Prontei ra Brasil-Paraguai, que confirma o caráter já consagrado e pacífico da linha de limites definida em 1872 e demarcada de I872 a 1874. acordo com o referido Protocolo, na linha de limites deve-se De apenas executar "outros serviços", observadas as prescrições do Tratado de 1872 e que se contém na Ata da 18a. Conferência da Comissão Mista De marcadora. Há mais de 20 anos, porém, foi criada, em Assunção, uma Cp. missão Especial, a princípio secreta, verdadeiro estado-maior encarre. gado de conduzir a luta contra a validade da demarcação de 1872/1874. Em 12 de março de I962, foi recebida a primeira Nota de protesto ea tregue pela Embaixada do Paraguai no Rio de Janeiro. Revelava-se ofi cialmente o que já se pressentira no seio da Comissão Mista e na ati, [SECRETO %J «._ s.V l *fc-L.I V i / - 5 tude geral do Governo paraguaio. Estavam lançadas as coordenadas do processo que se acelerou quando o então Ministro das Minas e Energia do Brasil contratou, em 1962, o Escritório Técnico Octávio Marcondes Ferraz (OMP) para elaborar um "estudo sobre o aproveitamento hidráu lico do desnível existente no rio Paraná, denominado Sete Quedas,jun. to à cidade de Guaíra ..." Assim, logo após a iniciativa do Minis tro Gabriel Passos se tornar pública (15 de fevereiro de 1962), tes portanto de serem conhecidos os resultados dos estudos, o arj. Gover no paraguaio afirma na nota citada que o Paraguai possui títulos se_ culares sobre o Salto; que as operações de demarcação naquele trecho ainda não estavam terminadas; e que nem o Brasil, nem o Paraguai po_ deria propor-se, unilateralmente, o aproveitamento integral na ener. gia hidráulica de Sete Quedas. Pela Nota n? AAA/DAMSDF/DAJ/24/254<43), de 19 de setembro de 1962, o Itamaraty refutou a pretensão paraguaia baseando-se: a) no Tratado de 1872; b) nas atas, Carta Geral e plantas parciais da demarcação de 1872/1874; c) no Tratado de Limi. tes Complementar de 1927; d) no "Protocolo de Instruções para a De_ marcação e Caracterização da Fronteira Brasil-Paraguai de 1930; e ad. mite a "possibilidade de participar a República do Paraguai da utili. zaçao dos recursos energéticos e de quaisquer outros a explorarem-se no referido Salto, se em tal sentido for solicitado pelas autorida- des paraguaias". Oito meses depois, em junho de 1965» nova nota para guaia, que reafirma suas pretensões e declara sua melhor disposição para estudar conjuntamente um Acordo sobre a utilização integral da energia hidráulica e de qualquer outro recurso das águas do Salto do Guaíra. Em conseqüência disso o Itamaraty articulou a Missão Olivei. ra Brito (agosto-setembro de 1963). 0 então Ministro das Minas nergia, desde os seus primeiros contatos com as autoridades e £ paragua ias, reafirmou o desejo do Governo brasileiro de realizar estudos de finitivos sobre a questão energética e solicitou a autorização do Go vêrno paraguaio para que os técnicos encarregados do problema Departamento de Imprensa Nacional — SECRETO pude 1 •!!• " • SECRETO - 6 sem efetuar trabalhos em território do país vizinho. Prometeu a re_ messa do relatório e estudos completos ao Governo guarani. 0 Chance, ler Sapena Pastor, ouvido o Ministro brasileiro e submetido o assun. to ao Conselho de Governo, apresenta uma sugestão de comunicado junto que denota claramente a malícia com que se procurava con. envolver o Ministro Oliveira Brito: "ambos os Governos do Brasil e do Para. guai estão dispostos a empreender em forma conjunta estudos de aprp_ veitamento da energia hidráulica das águas comuns pertencentes ao Pa raguai e ao Brasil NO SALTO GRANDE DAS SETE QUEDAS". Depois do gresso do Senhor Oliveira Brito, o Itamaraty e a Chancelaria re_ para. guaia divulgaram o texto definitivo do comunicado conjunto: "como re_ sultado das cordiais conversações mantidas durante as entrevistas SQ_ bre o aproveitamento do potencial hidrelétrico do Salto de 7 Quedas, o Ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Chanceler Sapena Pas. tor, e o Ministro das Minas e Energia dos Estados Unidos do Brasil, Doutor Oliveira Brito, manifestaram, era nome dos Governos que repre_ sentam, o pleno acordo para a realização de estudos que visem à ela. boração de um anteprojeto de aproveitamento do aludido potencial e_ nergético". Daí por diante (fins de 1965), cresce de intensidade a campanha no país vizinho pela modificação da linha de fronteira no trecho de que nos ocupamos. 0 presidente Stroessner declara: "0 Para. guai já está acostumado a demarcar com sangue suas fronteiras". Sur. ge a idéia do encontro Stroessner-Goulart, soprada pelo primeiro Senhor Abelardo Jurema que então ocupava o Ministério da Justiça. encontro teve lugar na "Fazenda Três Marias" em 19 de janeiro ao 0 de 1964. Presentes: os dois Presidentes e o General Amaury Kruel. 0 Ita. maraty, pelo seu titular, Embaixador Araújo Castro, se apressa a pon. derar a necessidade de não ser abordado o problema de fronteiras.Não se conhecem detalhes do encontro. 0 comunicado à Imprensa distribui, do pela Presidência da República do Paraguai, no seu parágrafo 2?,in. forma: "Os dois mandatários estiveram de acordo sobre todos os aspec. SECRETO —-»***«*-—-V*"«f* SECRETO : - 7 tos gerais referentes ao aproveitamento conjunto do potencial hidre_ létrico dos Saltos do Guaíra e resolveram que, por meio das Chancela, rias do Paraguai e do Brasil, será subscrito, quanto antes, um convg. nio pelo qual se criará uma comissão mista paraguaio-brasileira, que terá a seu cargo o estudo de todos os problemas econômicos, financei. ros da grande obra que os dois Estados levarão a efeito em conjunto e que será a mais importante dentre as de seu gênero até hoje empre. endida em todo o mundo". Como conseqüência do encontro de Três Mari. as surgiu a Missão exploratória do Embaixador Jobim. As conclusões da referida Missão constam de valioso relatório secreto entregue em 6 de maio de 1964. Entre as sugestões contidas no relatório Jobim,ca be mencionar o anteprojeto de convênio (o Paraguai já apresentara ou tro texto) para o aproveitamento em conjunto do potencial energético de Sete Quedas. Está portanto perfeitamente configurada a boa-fé do Governo brasileiro quando em 1962, ao responder à Ia. nota paraguaia de protesto, admitiu a possibilidade de ser examinado em conjunto o problema energético. Durante todo o restante do ano de 1964 e começo de 1965* tinha-se a impressão de que uma trégua fora firmada entre os dois países. 0 assunto Sete Quedas deixou de ser mencionado nas conversações entre paraguaios e brasileiros. Em 1965» com a partici. pação do Senhor Presidente da República, é inaugurada a "Ponte da A. mizade"; por ordem expressa do Primeiro Mandatário brasileiro, todos os projetos ligados á cooperação brasileiro-paraguaia passam a rece_ ber tratamento prioritário; o Colégio Experimental é entregue aos es. tudantes paraguaios no meio de grandes festividades: continua o Br& sil a prestar assistência ao projeto e construção da estrada que une Concepcion a Ponta-Porãj o Ministro da Viação e Obras Públicas ta Assunção e reafirma, em todas as ocasiões, o firme propósito visi. do Brasil de colaborar; chega o episódio de São Domingos e nós acedemos em fornecer equipamento para o contingente paraguaio; na ONU o Bra. sil apoia iniciativas que visam a criar melhores condições de comuni. Departamento de Imprensa Nacional — SECRETO SECRETO - 8 cação para os países sem litoral. E nada demove o Paraguai de suas pretensões. Ao contrário, em março de 1965* o Paraguai promove uma cerimonia de caráter cívico no local situado cerca de 2 quilômetros ao norte do limite que termina na 5a. Queda. A cerimônia, por mais de 100 pessoas entre as quais se contam altas assistida personalida. des do Governo e soldados armados, inclui o hasteamento da bandeira, a execução do Hino Nacional e uma série de discursos inflamados afirmam ser paraguaio aquele território, este acontecimento, de cuidadosamente estudado, fez com que as autoridades que depois brasileiras determinassem o deslocamento para o local, região de Porto Coronel í^g. nato, de um pequeno destacamento militar. Começam de imediato as ge,§_ toes da Chancelaria paraguaia e os apelos pessoais do próprio Presi. dente Stroessner para a retirada dos militares brasileiros da zona que consideram como ainda submetida à demarcação fronteiriça. Forte pressão é exercida sobre o nosso Embaixador em Assunção. Sapena Pas. tor, ao visitar-nos oficialmente em julho de 1965* volta a insistir na retirada do contingente militar. Em setembro de 1965* rompida a trégua, é entregue ao Embaixador Souza Gomes a primeira nota paragua. ia de protesto. Reafirma as pretensões e recapitula os argumentos co_ nhecidos sem qualquer elemento novo. Com a Nota n? 310, entregue em Assunção a 29 de outubro de 1965» o Itamaraty, rebate, ponto por pon. to, as falsas alegações e, aceitando um risco calculado, admite a possibilidade de que o "desentendimento em torno da caracterização. seja submetido ao alto julgamento de uma arbitragem internacional". Friso bem que admitimos o arbitramento em torno da caracterização e não da demarcação. Aproximava-se a Reunião da OEA onde o assunto po. deria ser explorado desfavorávelmente para o Brasil. Convinha naque. le momento tomar a iniciativa do gesto conciliador. Tenha-se porém muito presente que a arbitragem admitida, era unicamente em torno da caracterização e sem por em jogo a validade da demarcação realizada nos termos do Tratado de 1872. Datada de 22 de outubro, nova Nota pa. SECRETO) Is SECRETO - 9 raguaia foi entregue, protestando contra maus tratos que teriam do inflingidos pelos militares brasileiros do destacamento, a si. altas personalidades paraguaias que, no local, examinavam o problema e pro_ curavam documentar-se com fotografias. E enquanto correspondência di. plomática era trocada, enquanto se manifestava repetidas vezes o de. sejo de continuar a dialogar, a imprensa do país vizinho, nos ataca. va com insultos os mais soezes, a representação diplomática brasilei. ra era vítima de verdadeiras agressões, a bandeira brasileira era vi. lipendiada nas ruas de Assunção e as paredes da Embaixada eram pixa. das com dizeres ofensivos. Os métodos de ação que vêm sendo seguidos pelo Governo paraguaio para forçar o reconhecimento da existência de um litígio sobre a linha de fronteira, denotam claramente o intuito de, através de um sistema de pressão internacional, forçar o Brasil a renunciar aos direitos que lhe asseguram o Tratado de 1872 e os instrumentos diplomáticos mais recentes. Surgem entrevistas nos nais dos demais países latino-americanos, começam a falar os jor repre. sentantes diplomáticos do Paraguai. São reavivados revanchismos desa. parecidos, procura-se criar um ambiente de emocionalismo altamente impróprio para o prosseguimento de qualquer conversação. Segue-se a Missão Juan Chavez, Presidente do Partido Colorado, portador de novo apelo do General Stroessner ao Presidente Castelo Branco para a reti. rada do destacamento. 0 Governo brasileiro envia a resposta do Presi. dente Castelo Branco pelas mãos do General Golbery do Couto e Silva. A posição brasileira não se modifica. Em todas as gestões efetuadas, a preocupação do Governo de Assunção está concentrada no destacamen. to, nos doze homens, na presença de tropas brasileiras em território que alegam paraguaio. Cabe elogiar aqui a hábil e oportuna decisão das autoridades militares brasileiras que destruiu a manobra pacien. te e cuidadosa do Governo paraguaio. A oposição paraguaia pressente a importância do tema e inicia violenta campanha contra a "usurpação territorial", contra a presença do "invasor imperialista no solo Departamento de Imprensa Nacional — [SECRETO] p£ - io - ! trio". 0 Presidente Stroessner se vê obrigado a recolher a bandeira e a iniciar polêmica em condições que certamente lhe desagradam por. que nao foram de sua escolha. Ainda em outubro, o Brasil responde à 2a. Nota paraguaia, desmascara o incidente das descortesias e o colo, ca nas suas verdadeiras dimensões. Finalmente, em 12 de dezembro 1965, é recebida a 5a. Nota paraguaia (n? 712) à qual se de pretende responder nos termos do projeto que examinamos. A referida Nota para, guaia é emaranhada, confusa, isenta de boa-fé e inçada de sofismas e paralogismos, o que demorou a elaboração da resposta, que teria de ser muito bem pesada e articulada, pois o que com ela se pretende é encerrar a polêmica. Contrastando com o tom acrimonioso e agressivo da nota guarani, a resposta, sem sacrificar a firmeza, não se afasta do tom comedido e nobre que caracteriza a ação diplomática do Br&, sil. 0 projeto de resposta sob exame, tem necessariamente de ser lon. go, porquanto, ao fazer às vezes de Livro Branco para efeitos de es clarecimento e de contrapropaganda, necessita esgotar os pontos im portantes do assunto, de modo a por um ponto final à discussão pole. mica. Ditas essas palavras, Senhor Presidente, gostaria de ir até mapa para pedir a atenção dos Senhores Membros do Conselho para o os seguintes fatos: aqui esta, no mapa, desde a foz do Iguaçu até a foz do Apa, a fronteira como foi demarcada, de acordo com o Tratado 1872. No Tratado de 1927* que era complementar ao de 1872 - o de Trata do de Barra e Mangabeira - foi fixada a maneira de traçar a fronte^. ra do Rio Paraguai, desde a foz do Apa até o desaguadouro da Baía Ne. gra. Esta Comissão nova nomeada, tinha por dever empreender a demar cação desses trechos e a caracterização desses trechos que o Tratado de 1927 considerou definitivamente assentado. Não há, portanto, que.§_ tão de limites, apenas questão de caracterização de fronteira, por_ que, se bem que a Comissão de 1872/74 tenha colocado apenas três mar cos no terreno, ela promoveu o levantamento de 26 pontos durante o trajeto e balisou toda a fronteira com picadas. Nesse trecho, agora [SECRETO] [SECRETO - 11 - aparentemente em litígio, foi feita a picada que se transformou estrada hoje chamada Internacional. Todo mundo, lá na região, na sabe qual o limite: é o limite da Estrada Internacional. Então, o que gos_ taria que o Conselho fixasse é que, enquanto nós falamos em rização, eles falam em demarcação para considerar aberto o caracte. problema de limites, mas o Itamaraty se fixa nessa posição com todo vigor,por. que não podemos reabrir essa questão de limites, que determinaria, provavelmente, uma reação em cadeia. Não podemos, então, ceder quan. to ao limite em si mesmo. A saída do nosso destacamento, aparentemen. te, era muito simples de promover, o que eqüivale, militarmente, um destacamento de um grupo de combate; praticamente nada. Mas a tem conotações também com o problema de contrabando; eles receiam a pre. sença desse destacamento, que dificulta o contrabando de fronteira que é extremamente favorável ao Paraguai. Sei de um caso, por exem- plo, de um americano, que tem um frigorífico no Paraguai, e que nos pediu licença para retirar, oficialmente, bois do Brasil, para matar no seu frigorífico. Não concedemos a licença pleiteada. 0 Paraguai recebeu esses bois e entregou-os no frigorífico como contrabando de fronteira. Este é um depoimento pessoal que dou para mostrar como o problema de limites tem conotações também com as vantagens do contra bando. No Paraguai, a linha de demarcação foi feita por essa Comis, são Demarcadora, depois de dois anos de exaustivo trabalho e saiu por esta linha de cumiada (apontando para o mapa), e o Tratado dizia, que as águas para o Norte e para Leste eram brasileiras, e para Sul e para Oeste, eram paraguaias. A linha saiu em frente da o Quinta Queda, mas as conferências falam e foi marcado, com a chegada da Co_ missão Demarcadora, exatamente na 5a •* principal das Sete Quedas. les procuram minimizar a importância desse fato, mas esquecem o é essencial: é que, no Tratado, há um marco, considerado firme e tural, que é o marco das Sete Quedas; que havia recomendação de £ que n& que a Comissão não precisava colocar um marco ali, porque havia um marco Departamento de Imprensa Nacional — SECRETO J - SECRETO - 12 - natural. Portanto, Sete Quedas e um ponto indisfarçável da fronteira do Brasil com o Paraguai, eles agora, através de correlações na Co. missão Demarcadora e Caracterizadora, procuraram sempre dar um senti, do de demarcação a essa missão que era, puramente, de caracterização. Esse problema de densificação de fronteira, onde existia apenas 100 marcos, passariam a existir 1000 e tantos marcos. Mas esse é um fen£>. meno que existe em todas as fronteiras do mundo inteiro. Nos Estados Unidos, na fronteira com o México, os marcos iniciais são da de 100 milhas de um ordem para outro, depois vêm densificando à proporção que a fronteira se vai transformando de fronteira morta para frontei. ra viva. Ê a mesma coisa que está acontecendo no Paraguai. Mas essa Comissão não tem autoridade para modificar o limite daqui para ali. Ela tem apenas autoridade para substituir os marcos que tiverem sido danificados pelo tempo e a aumentar o número dos marcos, densifican. do como disse, a fronteira. Mas eles agora, a pretexto de que esse contraforte, que não representa uma linha seca, porque morre num bâ. nhado, não chega até o Rio Paraná. Ainda que nós concedêssemos a ida da linha limite por esse contraforte que eles desejam, de qualquer rça neira, por imposição do Tratado, o limite deveria acabar na Quinta das Sete Quedas, porque é imposição do Tratado. Diz-se que eles ago. ra pretendem denunciar o próprio Tratado. É uma atitude que pode SL correr. De qualquer maneira, eles estão pretendendo a retirada desse âestacamento, que tem um valor de importância fundamental para nós, porque se nós o retirarmos, se nós concedermos a retirada do destaca, nento, nós reconhecemos o argumento deles, de que isso é terreno li. tigioso e, para nós não é; é território brasileiro, porque está ao norte da linha seca limite. Como vimos, o limite, pelo Tratado, cor. re, inicialmente, pelo alto do Rio Paraná; depois, pela linha de ai. tura da serra de Maracaju e, daí, segue em linha reta para a serra do Amambaí até as cabeceiras do Apa, pelo alto do Apa até o Rio Para. uai e deste até a Baía Negra. Este, Senhor Presidente e [SECRETO Senhores SECRETO - 13 Membros do Conselho de Segurança Nacional, e o limite que nos cabe defender; este é o limite a que a Nota procura defender; este é o li mite que, acredito, nenhum de nós deixará de defender como uma monstração da soberania nacional. — — — — — PRESIDENTE DA REPÚBLTCA - de. — Passo a recolher a apreciação dos Senha, res Membros do Conselho de Segurança Nacional. Primeiro seria o Mi. nistro da Justiça que está ausente, mas deixou a sua apreciação en. tregue ao Ministro do Exterior. Pediria a este que a lesse. MINISTRO DAS RELAÇÕES ECTERIORES - Não poderei lê-la porque é ex tremamente simpática ao Ministério das Relações Exteriores; mas o Mi. nistro Mem de sá conclui pela aprovação da Nota, tal como está. PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Concedo a palavra ao Senhor Ministro da Marinha. MINISTRO DA MARINHA - Voto pela aprovação da Nota, como está. PRESIDENTE DA REPÚBLTCA nistro da Guerra. MINISTRO DA GUERRA - Passo a palavra, a seguir, ao Senhor Mi. — — — - Voto integralmente pela Nota emitida pelo Ita_ maraty. Pediria, como esclarecimento ao Conselho, licença para um documento do Comandante da 4a. DC, sediada justamente no ler territá. rio em causa. Creio que justamente as providências tomadas, do ponto, -de-vista militar, para vivificar a fronteira abandonada, esta vai do Amambai até Porto Renato, tenham aaao lugar a esta que ativação das pretensões paraguaias, que vejo muito menos como um problema de território do que como um problema de repressão ao contrabando. Por. que todos nós sabemos - e está dito aqui pelo Comandante da 4a. DC, Departamento de Imprensa Nacional *- SECRETO ÍSECR£T0[ - 14 - que é um General que Sua Excelência o Presidente da República conhe_ ce, militar de alto gabarito, o General Frota te, perspicaz - ativo, inteligen- - que esta faixa da fronteira era "o paraíso dos con. trabandistas". De maneira que esse pequeno contingente, posto lá no extremo sul da área estava abandonado - PORTO RENATO - e a execu, çao de obras, inclusive uma estrada ligando Amabai àquele Porto, pas_ sando por Iguatemi tornaram a fronteira ativamente vigiada, impedia do o trânsito de produtos brasileiros que eram contrabandeados o Paraguai, com grandes vantagens para esse País. Se Vossa cia permite - e não vou tomar muito tempo - para Excelên- lerei somente o ofi. cio que define perfeitamente o problema. Diz o Comandante da 4a. DC ao Excelentíssimo Senhor Chefe do Estado-Maior, com vistas à verba pa, ra manobras da 4a. DC: "Existe na 6a. Região do Sul do Estado de Ma. to Grosso, confiada à vigilância da 4a. Divisão de Cavalaria, uma área especial de apreciáveis dimensões, quase completamente desconhe. cida, na qual estão sediados pequenos destacamentos de cavalaria,com a nobre, difícil e extenuante missão de impedir a ação dos contraban. distas, em abundância nessa zona, e tornar vivas aquelas plagas quecidas e inóspitas desse Estado da Federação. Constitui essa o canto sul de nossa fronteira com a República do Paraguai - es_ área justa, mente o canto sul é aquele ponto ali (apontando para o mapa),abarcan. do a cidade de Dourados, Amambaí e Iguatemi, bem como inúmeras localidades e povoados do tipo de Jaguaretê, Pacuí, Antônio João, Para. nhos, Mundo Novo, Coronel Renato e, ainda, pequenos portos fluviais, como Cauai, Santa Isabel e Morumbi. 0 flanço sul do Rio Paraná encoa. tra a linha fronteiriça com a República do Paraguai, na região de Guaíra, em porto que, no momento, passou a ser motivo de debate, is_ so que as autoridades paraguaias manifestam claramente o desejo colocá-lo mais a leste do território brasileiro, de modo a de incluir, assim, o Salto das Sete Quedas no limite de seu País. Realiza, para isso, bem orientada campanha psicológica, através de documentação va. SECRET ^ —1 SECRETO, - 15 riada, palestras, declarações publicas, a fim de evidenciar os direi. tos guaranis sobre aquelas Quedas. Os marcos dessa parte da frontei. ra, em número aproximadamente de 19» não foram até hoje definitiva, mente fixados, o que deixa a perceber o intuito de discutir a demarcação de 72/74. Em fins de março do corrente ano, autoridades guaias, entre as quais se notavam generais, surgiram, para. inesperadamen te, na região de CORONEL RENATO, próximo ao Rio Paraná, e aí hastearam o pavilhão tricolor daquela Nação após discursos,disposições com auxílio de uma carta" (Tenho até uma fotografia aqui. Então, houve uma solenidade, o hasteamento da bandeira paraguaia, mas, fe_ lizmente, a bandeira foi retirada no fim da cerimênia, porque, do contrário, o destacamento brasileiro o faria. Quer dizer, foi uma vi. sita e não houve reação porque até causou surpresa aquilo). "... com o auxílio de uma carta, visando provar que os Saltos eram paraguaios, retiraram-se todos, levando mastro e a bandeira, o que poupou ao Co. mandante da 4a. Divisão de Cavalaria o trabalho de mandar retirá-la. Ultimamente, difundiram-se boatos entre os pequenos proprietários da. quela zona, de que suas chácaras estavam em território paraguaio que, portanto, seriam confiscadas." (Quer dizer, para causar e Justa mente agitação no meio dos brasileiros que têm suas chácaras lá. I.§_ so é um General que fala - não é um argumento meu). "A região que tratamos é ainda o paraíso dos contrabandistas que, nas ras das matas, constróem campos de pouso para aviões, até de ciarei, Douglas C-47, e depósito para material contrabandeado. Dada a permeabilidade da fronteira, seca nessa parte, a tolerância tradicional das autori. dades guaranis com o contrabando e o grupo que rege os produtos dês. se comércio proibido, são constantes os choques das tropas da DC e dos funcionários do Instituto Brasileiro do Café com os contrabandi^. tas que percorrem a zona em busca do país vizinho..." (Quero esclarg. cer que contrabando maior, que era feito em caminhões, com a presen. ça da Divisão de Cavalaria, pelo menos aparentemente desapareceu.Agp. Departamento de Imprensa Nacional «— SECRETO [SECRETO] - ra, o avião é que faz 16 - - menos rendoso - mas os caminhões comprados, carregados e dirigidos para o Paraguai. Se fosse eram captura, do o caminhão, este estava pago e o dono do caminhão não perdia na. da. De maneira que era um negócio sem risco para quem transportava a mercadoria, porque seu caminhão já estava pago). "Os contraventores, normalmente homens de dupla nacionalidade, que lutam por sua sobrevi. vencia, são violentos e impiedosos, não hesitando em atacar a bala o destacamento do Exército, quando cercados ou surpreendidos em ação. Os fatos comprovam essa assertiva; recentemente foi morto, na foz do Iviema, o Major RI Raul Matos, quando, em companhia de oficiais da 5a. Companhia de Fronteira, tentava apreender um avião com contraban do. 0 ataque dos contrabandistas foi tão sério que os oficiais daque_ Ia Companhia foram obrigados a retirar-se, abandonando o corpo do Ma. jor RI, que, depois de despojado de tudo, foi lançado desnudo no Rio Paraná." (Eles foram lá, pensando que a ação de presença era bastan. te; não foram armados, não levaram munição). "Em janeiro deste os contrabandistas, aliados aos soldados do destacamento ano paraguaio, atacaram em território brasileiro um caminhão com sacas de café, que havia sido apreendido pelo destacamento brasileiro de Antônio João. Dada a falta de comunicação e de recursos mesmo da tropa" (lá, até então) "o caminhão foi apreendido e escoltado por dois soldados de cavalaria. No meio da viagem os contrabandistas simularam um defeito no motor do caminhão;" (desce aqui, vai buscar isso ou aquilo ... en. quanto isso, vem o destacamento paraguaio e leva o caminhão à força; um soldado conseguiu fugir e outro foi preso, e solto depois, do ou tro lado. Esse episódio foi relatado verbalmente pelo Comandante do DC, em reforço a esse ofício). "Na madrugada de abril, os contraban distas investiram contra o posto de Maemi para recuperar material to_ mado, por ser ilegal o seu comércio. Desejaria realçar a Vossa Exce. lencia o destemor, a obstinação desses militares que, destacados a centenas de quilômetros da sede do Regimento de Cavalaria,enfrentam, SECRETO mm -• • SECRETO 17 dispondo apenas de antiquados fusis 908 e Madsen,a homens armados de modernas submetralhadoras e fusis semi-automaticos, do tipo Garand, americano, contando com aviões e velozes lanchas, 0 isolamento em que se acha o meu destacamento nessa área é o crucial problema que, não obstante o interesse do Exm? 3r. Comandante da 9a. Região Mili. tar, não tem tido solução compensadora. 0 destacamento de Mundo No. vo, ao qual só podemos chegar através de uma picada de extensão de trinta e cinco quilômetros e um metro e meio de largura, ficou dois meses sem ligação com o Comando do seu Regimento, em virtude de praticabilidade dos caminhos, etc. Como que a agravar as im preocupa, ções nascidas nesse panorama, acaba o Comandante da 4a. DC de descp_ brir, no curso superior do Rio Aquldauana, uma Escola de guerrilhas." (Todo mundo sabe dessa escola de guerrilhas, que era chefiada pelo Cp ronel Arruas, em Mato Grosso. Todo esse ofício do Comando da DC sulta no seguinte: ele propõe - re. "execução de manobras relacionadas com as instruções e aprimoramento profissional da tropa, e quadros;a preparação desses exercícios em importante trabalho de conservação, reparação e construção de trechos de estradas, melhoramentos de pon. tes e construção de campos de pouso. Essas tarefas se revestem, tam bém, de grande importância social, pelos benefícios que trarão às pp_ pulaçÕes servidas pela área; relativas à segurança interna, que mitirão levar a tranqüilidade àquela extinta região, per escoimando-a dos elementos subversivos e criminosos, nocivos à sociedade e que ali pululam." (Para atender às despesas resultantes do deslocamento da tropa sediada a mais de 200 quilômetros de distância e outras necessidades eventuais, ele pede uma verba para ...) "localizar tropa na região de Coronel Renato e abrir uma estrada que levasse da sede do Esquadrão, que era o elemento mais forte destacado do Regimento, até o destacamento que ia ficar lá isolado." 0 Coronel Tosta bem o problema, porque esteve até no meu Gabinete e reforçou conhece isso. Então, em combinação com a Faixa de Fronteira, mandamos todos os re_ Departamento de Imprensa Nacional <— SECRETO foi SECRET - 18 cursos para o General Frota: colocamos uma Companhia de Engenharia de Combate a disposição dele para o desbravamento dessa estrada, ei. tada até no documento paraguaio, chamando grande concentração de tro_ pas dessa região. Trata-se de batalhão de engenharia e um esquadrão de cavalaria que está percorrendo agora essa região, porque mantém transportes motorizados, como jipes, jipÕes, munição, armamentos e possibilidade de construir a estrada. De maneira que isso reduziu de muito o contrabando em caminhões. 0 próprio Ministro da Aeronáutica, que compreendeu bem o problema, colocou à disposição do Comandante dessa Divisão, um avião Regente, tipo Cessna, que permite ao mesmo sobrevoar de quando em quando essa região. Aliás, foram dois aviões; e o Comandante da Região recebeu um DC-j5 para esse trabalho .Isso foi em agosto. MINISTRO DA AERONÁUTICA MINISTRO DA GUERRA - - Mais trinta mil contos. Exatamente: para preparar os campos; tinha-me esquecido dessa parte. Houve, então, uma atuação militar nessa zona; uma ativação de vigilância e de policiamento, digamos assim,nessa zp_ na que era completamente despoliciada. Daí por diante foi um protes. to bárbaro do Paraguai em torno disso. Creio que há uma conexão en. tre essas pretensões que já eram antigas, naturalmente, mas que fo_ ram ativadas a partir exatamente dessa época. Não só me limitei a man dar os recursos e mesmo estimular esse trabalho, mas fui a Mato Gros. so; fui a este Estado a título de inspeção das fronteiras, porém não pude ir justamente a essa região porque o mau tempo não permitiu que fosse até lá; e como tinha outros deveres aqui no Rio, tive de voX tar. Mas tenho programada uma ida lá para verificar. Já há uma estra. da pronta, de cem quilômetros mais ou menos, que foi feita pelo Bata. lhão de Engenharia, que ainda está lá. Noto, então, pelo documento que temos a partir dessa época, e inclusive os nossos jornais comen- [S E C R E T O SECRET - 19 2l - tavam o assunto. Vejam bem: o Jornal do Brasil, em janeiro de 1966, diz assim: "A ação militar garante a posse do Salto das Sete Quedas, mas tira a tranqüilidade dos moradores da fronteira." E diz ainda: "A permanência do destacamento da 5a. Companhia de Fronteira, que é do lado do Paraná, nas proximidades do Salto de Guaíra, e a ação de militares brasileiros interrompendo o intercâmbio de gêneros entre a cidade paranaense de Guaíra e o vilarejo paraguaio de Patrimônio, pp_ derão provocar novos incidentes na fronteira entre o Brasil e o Para. guai." Não houve ainda um incidente militar porque, felizmente, não houve ação de força do Paraguai sobre esse pequeno destacamento está lá; mas pode, a qualquer momento, ser surpreendido e causar que um impasse muito sério. Mas até hoje eles respeitaram o destacamento .Que ria dar esse esclarecimento, ler esse documento, para mostrar que, a meu ver, existe alguma conexão entre o problema puramente de delimitação de fronteira, levantada agora com tanta intensidade, e esse fe. nomeno. 0 Exército não parará de ativar aquela fronteira com recur. sos, com a presença de visitas e mesmo com recursos que possibilitem o exercício do comando em toda a região. Era isso o que queria escla. recer. PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Concedo agora a palavra ao Senhor Minis. tro da Fazenda. MINISTRO DA FAZENDA - Senhor Presidente; diante dessas explicações que são feitas pelo Ministro do Exterior, não tenho nada a acrescen tar. Mas, como disse o Ministro do Exterior, há uma preocupação de rever sempre esse documento, porque não se trata apenas de uma res>. posta ao Ministro do Exterior do Paraguai que, claro, não se vai con formar com a resposta. Trata-se de uma espécie de "livro branco", de uma explicação da situação brasileira e, por isso, não só deve muito bem documentada, como deve ser de leitura amena, fácil, Departamento de Imprensa Nacional — [SECRETO ser para IO ECRETO - 20 - ser . . . MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES (interrompendo) - Arranjamos até um Mestre da Academia de Letras: o Embaixador Guimarães Rosa. MINISTRO DA FAZENDA (retomando a palavra) - ... de modo que todos possam ler e compreender com facilidade, embora muito bem documenta, do. Âs vezes, um documento cheio de referências torna um pouco monç. tona sua leitura. É preciso que isso seja divulgado, explicado, por. que se trata de um assunto que a América Latina pode ser induzida explorar e voltar-se contra o Brasil. Geralmente os países que a pro. gridem, os países que se desenvolvem são muito atacados e antipatiza. dos. PfiESIPENTE PA REPÚBLICA - Passo a palavra, a seguir, ao Senhor Mi nistro da Viaçao. MINISTRO DA VIAÇKO E OBRAS PÚBLICAS - Senhor Presidente; li, com todo o cuidado, não só informações das notas anteriores, como o prp_ jeto de Nota aqui examinado; e já conhecia o assunto também pelas longas conversações mantidas, no ano passado, com o nosso Embaixador no Paraguai e com Sua Excelência o Presidente Stroessner, durante a visita que fiz a Assunção. Não tenho a menor dúvida de que a demarca, ção está consumada na fronteira, entre a foz do Iguaçu, o Salto Sete Quedas e a foz do Apa, de acordo com as disposições do de Tratado de 1872, e que essa demarcação foi feita com todo o cuidado,como tes. temunha em Ata o eminente membro da Delegação do Paraguai,Capitão de Fragata Domingo Ofício, que disse, referindo-se à demarcação conse. quente, do Tratado de 1872, que "esse trabalho foi realizado em tQ. das as suas partes e demarcada a fronteira de ambos os países com e§, crúpulo e exatidão, dirimindo, para sempre, quaisquer questões de 14. rS E C R E T O I SECRET - 21 3 - mites". Não há, portanto, como alegar que a fronteira não está demar cada, ou que tal demarcação tenha sido feita sem do. o necessário cuida,, Mas existe um fato que, a meu ver, justifica a medida que o Ita. maraty determinou, no Tratado complementar de 1928: de de locação e construção de marcos intercalares, a necessida. entre os marcos principais, locados e construídos durante aquela demarcação. Se nossos delegados não podem chegar a um acordo com os do Paraguai na locação desses marcos a intercalar entre os fixados de Tratado de 1872, devemos, os acordo com o em último caso, propor ou consentir o re. curso à mediação internacional que, sem melindres a nossa soberania, e reconhecendo a conclusão e validade da demarcação anterior,nos per mita sair do impasse ora existente. Como vamos fazer isso, eu sei. De qualquer maneira, tenho a impressão de que há, não da parte do Paraguai, uma dupla exploração: primeira, é feita pelos que estão in_ teressados em continuar a praticar o contrabando naquele trecho da fronteira; a segunda, pelos componentes da atual ditadura,que tentam manter-se no Poder a custa de agitações da política externa, já que os argumentos internos, ao que parece, não mais prevalecem. De qual. quer maneira, o Brasil, honrando sua tradição de generosidade, deve continuar com as portas abertas, para chegar diretamente a um enten. dimento com as autoridades paraguaias, com o Governo paraguaio, nos termos propostos pelo Embaixador Juracy Magalhães. Não devemos rea. brir a questão da demarcação, senão permitir que a locação de novos marcos a implantar na linha primitivamente demarcada, se faça livre de qualquer imposição de força pelo Brasil, mas, apoiada no reconhe. cimento de autoridades insuspeitas de caráter internacional. PRESIDENTE DA REPÚBLICA - 0 Senhor Ministro admite a arbitragem pa ra a caracterização? MINISTRO DA VIAÇflO E OBRAS PÚBLICAS - Exato: nos termos em que Departamento de Imprensa Nacional — SECRETO *•**/&--•+,-; o JsECRETOJ - 22 - Itamaraty propôs. Alegam os representantes paraguaios que a demarca. ção não foi feita exatamente como prescreviam as instruções dadas ao seu Delegado na Comissão de 1872: perseguir a linha de Serra de Maracaju, desde Rio das. as cabeceiras do até cumiada as da Sete Que_ Ê possível que tenha havido um pequeno equívoco, mas esse erro não deve invalidar a demarcação feita. E há uma referência do Embai. xador Juracy que é exatamente o Quinto Salto das Sete Quedas, que es tá fixado, inclusive, por coordenadas geográficas. Quer dizer, a re. visão, portanto, seria para verificar onde essa linha se teria afãs. tado da linha de cumiada, na direção daquele 5? Salto, como marca o Tratado, como marcam as instruções que o Governo paraguaio deu ao seu Delegado naquele tempo. MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Está na Ata da 16a.Conferência, de 19 de outubro de 1874: 5a» e mais importante das Sete Quedas. MINISTRO DA VIAÇflO E OBRAS PÚBLICAS - De acordo. Não há marco, mas está definido por coordenada geográfica. É o meu voto. PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Em seguida, usará da palavra o Senhor Mi - Senhor Presidente; nistro da Agricultura. MINISTRO DA AGRICULTURA voto pela aprovação da Nota apresentada pelo Itamaraty. PRESIDENTE DA REPÚBLICA ducação. - Passo a palavra ao Senhor Ministro da — — - - — --—,--*.,,. - — - — MINISTRO DA EDUCAÇÃO E CULTURA - --— — — £ ___—-— Senhor Presidente; voto pela apro. vação da Nota e adiro ao ponto-de-vista explicitamente anunciado pe_ Io Senhor Ministro da Viação. Considero que, pelas conseqüências que L ECRETO SECRETO - 23 o próprio debate pode trazer, o importante e que, tendo em conta tradição internacional do Brasil, estejamos sempre acessíveis a a uma proposta de arbitramento. A arbitragem que se pudesse fazer, portan. to, deveria tomar, como ponto de partida, a execução do Tratado I872, já perfeitamente delineado o terreno pelos marcos de estabeleci, dos. A Nota que li revela a alta competência de seus redatores. As últimas palavras, decisivas, foram convenientemente invocadas e trazidas com fundamento da resposta que está sendo dada. Creio que ne.s_ sa proposta do Ministro das Relações Exteriores sugestão que faço - e é apenas uma levando em consideração a linguagem pouco deli. cada de uma Nota emitida pelo Governo do Paraguai, conviria tomarmos uma posição contrária, atenuando qualquer expressão que pudesse slgni. ficar que vamos responder no mesmo tom. Isso porque o nosso direito parece tão evidente que a simples exposição do fato, independentemen. te de qualquer adjetivação, há de convencer a quem li, de boa fé, a resposta, que nós estamos com a razão, que não precisamos ressalta- i-la senão com a indicação daquilo que ocorreu e que não está, eviden. temente, impondo uma conclusão. A arbitragem anunciada, que vem zer, evidentemente, para quem se lançou no protesto, umas tra. inspira çoes que foram desvendadas no voto do Ministro da Viação, terá, real. mente, o efeito de impedir que prossigam medidas que mais revelarão desespero de quem não tem razão, do que propriamente o anseio de uma reivindicação. Ê o meu voto. PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Com a palavra o Senhor Ministro do Traba lho. MINISTRO DO TRABALHO E PREVIDÊNCIA SOCIAL - De acordo com a Nota apresentada pelo Itamaraty, PRESIDENTE PA REPUBLICA Departamento de Imprensa Nacional •— - Passo, a seguir, a palavra ao Senhor BO A SECRETO Mi [SECRETO} - 24 - nistro da Aeronáutica. MINISTRO DA AERONÁUTICA - Senhor Presidente; sou pela aprovagão da Nota e concordo com o Senhor Ministro da Guerra, de que a reação por parte do Governo do Paraguai não é só pela questão da delimitação da fronteira, mas porque as medidas tomadas pelo Governo brasileiro eram também no sentido de dificultar o contrabando, muito vantajoso o Paraguai. Anualmente, vão mais de 250 mil cabeças de gado para contra, bandeadas para lá. Assim, o Ministério da Aeronáutica, dentro dessas pequenas providências que tomou, de acordo com o Ministro da Guerra pos à disposição do Governo do Estado um oficial da Aeronáutica para exercer as funções de Secretário de Segurança do novo Governo, visaji do exatamente a combater esse contrabando. PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Com a palavra o Senhor Ministro da Sa£. de. MINISTRO DA SAÚDE - De acordo com a Nota do Itamaraty. PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Concedo a palavra ao Senhor Ministro da Indústria e do Comércio. MINISTRO DA INDÚSTRIA E DO COMERCIO - Senhor Presidente: estou de acordo com a Nota do Itamaraty, ao mesmo tempo em que endosso as ob_ servaçoes feitas pelo Senhor Ministro da Guerra e pelo Senhor Minig, tro da Aeronáutica, com relação ao contrabando. As informações que possuímos no IBC sobre o volume de café contrabandeado indicam c^ fras de algumas dezenas de milhões de dólares. Além disso, é conheci, do o tráfico de contrabando de gado a jusante de Guaíra, na altura, provavelmente, de Porto Toledo, na fronteira com o Paraná. E parece, -me, Senhor Presidente, que os interesses econômicos contrariados pe_ Ei C R E T O.7 —1 i - 25 ECRETO - Io cerceamento ao contrabando esta provocando parte dessa reação. Ou tro fator, Senhor Presidente, que também me permitiria focalizar, se_ ria o problema da subversão. Ha, nitidamente sa fronteira - - principalmente nes. infiltrações de movimentos comunistas, que não po_ dem estar satisfeitos com o atual Governo brasileiro. Endossaria, in tegralmente, a Nota do Itamaraty, muito bem exposta pelo Embaixador Juracy Magalhães, mas chamaria a atenção para esses dois fatos que podem influir no desenvolvimento futuro dessa Comissão. - — MINISTRO DAS MINAS E ENERGIA - Senhor Presidente; manifestando-me de inteiro apoio e de acordo com o Itamaraty, pediria licença para dar um esclarecimento com relação à questão da Hidroelétrica de Sete Quedas, que talvez seja útil para desfazer algum equívoco no qual la_ borem os nossos amigos paraguaios e, eventualmente, algum também lado brasileiro. Pediria licença para me reportar ao mapa do do Senhor Ministro das Relações Exteriores, onde a questão se delineia com mui. ta clareza. 0 projeto de aproveitamento das Sete Quedas contempla u ma barragem que desvia as águas do Rio Paraná para a margem brasilei, ra, começando nessa região exatamente do Contestado - que eles di. zem Contestado. Essa barragem, entretanto, ensecará esse trecho do rio a jusante e, por conseguinte, o fato da ombreira se apoiar nes. se ponto do território não quer dizer que aqui se defina o caráter internacional da obra, uma vez que o simples desvio das águas enseca. rá o leito natural do rio e afetará o interesse paraguaio, abaixo do seu ponto de tomada. Por conseguinte, acredito que exista, da parte paraguaia, no caso particular do aproveitamento hidrelétrico das Sete Quedas, um equívoco básico: é que, em se apossando desse trecho, lhe seria assegurada a caracterização de obra internacional. Não é este caso; a obra é internacional, independente desse trecho ser bra_ Departamento de Imprensa Nacional — SECRETO SECRETO i pmt <mmm - 26 • "• — i - ! sileiro ou paraguaio, uma vez que não podemos desviar as águas rio completamente, deixando a seco um ponto que é fronteira do interna, cional. Do ponto-de-vista de interesse específico de direitos adqui. ridos sobre o potencial hidrelétrico da região, tanto faz esse ritório ser brasileiro como ser paraguaio. Isso é muito ter- importante manter em mente, porque, eventualmente, será um ponto decisivo para um Acordo, uma vez que, aparentemente, também há um certo desejo pa. raguaio de capitalizar sobre seus eventuais direitos nesse grande po_ tencial. Outro ponto muito importante a ser mantido ao discutirmos o assunto, é que esse potencial das Sete Quedas, embora muito - dez milhões de KW - grande e de custo muito barato na sua produção,não e, entretanto, decisivo no momento atual para o suprimento de ener gia para o Brasil. Não estamos premidos pelas nossas necessidades pa. ra buscar essa energia. Logo aqui, em cima, começa um trecho de rio que possui várias possibilidades de barragem; cinco quilômetros acima, já se pode pensar em fazer uma barragem em que se obterão 4 milhões de KW, suficientes para sustentar as necessidades durante um razoável período - a 5 nacionais digamos de 1975 a 1985. Essa barra gem é em território brasileiro, inconteste e insofismável. Não neces. sitamos do potencial das Sete Quedas para suprimento das nossas cessidades num futuro imediato; devemos cogitá-lo daqui a dez ne. anos. Poderemos, entretanto, nos interessar pelo aproveitamento, por razão econômica, não contingencial. esses dois pontos que me ocorrem no mo mento parecem ser de grande importância no contexto do assunto versa do, uma vez que, além do contrabando, parece ser o desejo de capitalizar sobre as vantagens econômicas desse potencial uma das motiva. çÕes dos paraguaios, ao levantarem o assunto. Mas parece que o pro. blema de terreno, propriamente dito, é o de soraenos importância. PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Passo a palavra, em seguida, ao Ministro do Planejamento. SECRETO! - 27 MINISTRO EXTRAORDINÁRIO PARA O PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO - ECONÔMICA Senhor Presidente; estou de pleno acordo com a Nota preparada pe_ Io Itamaraty. Endosso, também, a sugestão feita pelo próprio Minis. tro do Exterior e, a seguir, endossada pelos Senhores Ministros da Viação e da Educação, no sentido de que devemos estar preparados pa. ra aceitarmos uma arbitragem limitada ao aspecto de caracterização de fronteira. Isto por dois motivos: o primeiro, de natureza politi. ca; nós somos um País grande, que pode se dar ao luxo de ser generoso e, além disso, confia na objetividade do seu julgamento e na valida de dos documentos históricos que confirmam a demarcação. 0 Paraguai, por exemplo, como um país pequeno, que assinou esse Tratado em fins de guerra, tem naturais complexos; e parece tão sólida a nossa posi. ção jurídica, que a disposição de aceitarmos um arbitramento interna, cional provaria a objetividade nossa de julgamento, o nosso desejo conciliatório e se enquadraria, além do mais, na longa tradição br a. sileira de solução pacífica de controvérsias, inclusive através de laudos arbitrais, que nos têm sido quase uniformemente favoráveis em matéria de fronteira. 0 segundo motivo é de natureza econômica; en quanto persistirem dúvidas sobre a caracterização da fronteira já de. marcada, seria extremamente difícil, senão impossível,empenharmo-nos numa obra internacional de vulto para geração hidrelétrica área. Qualquer obra desse porte teria que se basear em naquela financiamen tos internacionais que seriam obviamente facilitados se acordássemos numa partilha da energia gerada. Conversamente, a mobilização de in vestimentos e financiamentos internacionais seria praticamente impo.s_ sível, ou, pelo menos, extremamente difícil, numa situação ainda su. jeita a qualquer vislumbre de controvérsia - controvérsia que,acre. dito, poderia ser felizmente dirimida, se aceitássemos um arbitramen to quanto à caracterização da fronteira, por parecerem claros os nos. sos títulos à linha demarcada, principalmente em virtude da Ata n9 16 - se bem me lembro Departamento de Imprensa Nacional — - de de 1874. Como muito bem indicou o Mi. SECRET °i - 28 nistro das Minas e Energia, não se coloca, com urgência econômica,em termos de abastecimento de energia elétrica, a obra Sete Quedas, de vez que a montante do próprio Rio Paraná temos um potencial; se so. marmos os três pontos: Ilha Solteira, Jupiá e Miracema teríamos algo que oscila entre oito e dez milhões de KW, sem sequer tocar em Sete Quedas. Mas, para um futuro mais remoto, a obra é extremamente impor tante: primeiro, como um instrumento de integração, podendo interes. sar Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai; segundo, se for construi, do um sistema de eclusas, que seria altamente dispendioso, porém tèç. nicamente possível, poderíamos ter uma navegação ininterrupta desde Jupiá e, talvez, desde Ilha Solteira até Buenos Aires, com óbvias vantagens futuras, se se desenvolverem, industrialmente, as zonas 0. este de São Paulo e Sul de Mato Grosso. PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Passo a palavra ao Senhor Chefe do Servi. ço Nacional de Informações. CHEFE DO SERVIÇO NACIONAL DE INFORMAÇÕES - Acredito, ou melhor nho por certo, que o fato de ter a honra de comparecer a esta nião do Conselho de Segurança Nacional deve ser não só pela te reu minha qualidade de Chefe do Serviço Nacional de Informações, obrigado, por ofício, a acompanhar problemas que se desenrolam no País e suas vizi. nhanças, mas, em particular, pela circunstância de haver servido no Paraguai durante três anos, manter relações de amizade com muitos elementos do Governo daquele país e ali ter estado, recentemente, por determinação do Senhor Presidente, quando da entrega da Carta-respos. ta ao Senhor Presidente Stroessner. Nessas condições, sinto-me no de_ ver de prestar um depoimento, traduzindo, exatamente, o que entendo sobre o assunto e, em especial, buscando interpretar o que me parece será a reação paraguaia à nossa Nota, elaborada pelo Itamaraty. Real mente, o problema com que nos defrontamos é um conjunto de três prp_ SECRETO ] SECRETO - 29 blemas: há o problema do Salto; há o problema da questão desse tre. cho não caracterizado na fronteira, embora demarcado; e há o proble_ ma dos incidentes resultantes da presença de tropa brasileira, reprg. sentada por um destacamento naquela região. São três problemas corre, latos sem dúvida, mas que se podem distinguir e, além disso, de im. portancia muito diferente ura dos outros, importância essa que não cor. responde, realmente, à urgência que os mesmos apresentam. Tenho para mim que o problema do Salto é, sem dúvida, um problema fundamental que está subjacente a toda essa questão, inclusive a. tentativa para. guaia de jogar o limite um pouco para o Norte, o que lhe dará ele_ mentos para apresentar a tese de um condomínio ou domínio do Salto.0 problema da tropa é, realmente, um problema secundário mas, ao que me parece, um problema que está excitando tremendamente a opinião pú. blica paraguaia, não só pela influência dos fatores que aqui assinalados dos, - interesses econômicos de contrabandistas forças interessadas na subversão - foram contraria, mas também pelo jogo da pp_ lítica interna paraguaia, em que se vêem, desde logo, as forças opo_ sicionistas - o Partido Pebrerista, o Partido Democrata-Cristiano, o.Partido Liberal - se conjugarem num ataque maciço contra o Govêr. no do Presidente Stroessner, a fim de, senão derrubá-lo, pelo menos enfraquecê-lo muito, argiíindo com o fato de que, tradicionalmente, é considerado no Paraguai - e acho que por nós aqui também o Partido Colorado e, em particular, o atual Presidente - que Stroessner são brasileiristas, isto é, muito mais atentos ás ligações com o Bra_ sil do que às relações com a Argentina, que sempre caracterizaram, estas, a atuação do Partido Liberal. Seja-me permitido apresentar ai. gumas observações, nao só porque me sinto no dever de fazê-lo,Senhor Presidente, mas ainda em face do desejo manifestado pelo Senhor Mi. nistro do Exterior de que algumas contribuições possam ser levadas para melhoria dessa Nota substan, - embora saiba que contribuições ciais não poderia prestá-las eu. Mas creio que algo se poderá Departamento de Imprensa Nacional — 3£.',»w.. •.-—*—. '•«----~-'-i* 0S E C R E T O ••!"»-•»» tirar - 30 de útil daquilo que gostaria de submeter à consideração do Conselho. E, para seriar o problema, apreciarei, separadamente, o problema des. sa caracterização - o trecho em equação, o problema do Salto e o problema da tropa. Realmente, o esboço de Nota é exaustivo no abor dar, sob todos os aspectos possíveis e imagináveis, a questão daque. le trecho de limite. A argumentação aqui apresentada, histórica e ju rídica, sobre a questão de que a fronteira está realmente demarcada e assim foi reconhecida pelos próprios paraguaios, creio que é coisa que não admitirá contestação de forma alguma, tão substanciais, nume. rosas e concludentes são as provas aqui apresentadas. Entretanto,per mito-me assinalar o que, a meu ver, realmente influirá na reação pa. raguaia a essa Nota. A Nota esclarece muito bem que o Governo brasileiro nao deseja, de forma alguma, polemizar. Entretanto, a mim me parece que o tratamento dessa questão abrirá, necessariamente, por tas a polêmicas ainda maiores. Sobretudo porque a tese brasileira fundamentada, substancialmente, indiscutivelmente, no problema demarcação - da é, depois, analisada sob outro aspecto, o da fidelida, de da demarcação. De fato, no item 46 - a partir do item 46,depois de provado que a demarcação estava feita, era ato jurídico completo, perfeito, cabal e indiscutível, a Nota resolve fazer uma concessão à discussão, o que, até certo ponto, não deixa de ser uma concessão à polêmica. Quando diz: "Considere-se, ainda que simplesmente ad arpumentandum. a objeção da Nota de Vossa Excelência..... ter-se-ia afa.s_ tado dos termos do art. 1? do Tratado ". Deixemos de lado questão que, a meu ver, é sólida, de que a fronteira está a demarcada e que o problema não pode ser mais discutido, e passemos a analisar se a demarcação foi fiel ou não ao Tratado de Limites. Isto está djL. to aqui: "Considere-se, ainda que simplesmente ad argumentandum....": isso já é uma concessão a polêmica. Entretanto, no número 102 concessão toma aspecto um pouco diferente; está dito uma afirmação do Paraguai - - contestando o seguinte: "Essa afirmação de SECRETO? essa Vossa N» - 51 " Excelência não corresponde a verdade por duas razões: Primeira - A linha divisória entre o Brasil e o Paraguai é exatamente a desenhada na planta da Serra de Maracaju, que é um dos documentos oficiais da demarcação realizada de 1872 a 1874. Segunda - A linha de cumes de Maracaju representada na planta está na massa principal da serra,ver dadeiro ramal norte e não a do contraforte setentrional que Vossa Ex celência passou a chamar de "ramal norte". É a tese de que a demarca, ção foi obediente ao texto do Tratado. Acontece, porém, que mais adi. ante a Nota resolve apreciar a tese paraguaia da prevalência do Tra. tado sobre a Ata e da Ata sobre a planta. E aí se vê, no item n? 85* "A asserçao da Nota n? 712 Ata e esta sobre a planta se discute - - de que o Tratado prevalece sobre a não tem qualquer aplicação no caso que pois aqui os três elementos tam, inexistindo antinomia a respeito." são Eu me permito indagar, como não deixará de fazer um assessor qualquer ia: qual seria a prevalência, acordes e se comple. de uma autoridade paragua, no caso de não haver concordância s£ bre esses três elementos? Fica em aberto,pois, o problema de que,não havendo concordância, se deva admitir a tese de prevalência do Trata, do sobre a Ata e desta sobre a planta ou a de que tudo forme um con junto e, portanto, que planta e Ata integrem o Tratado. Creio que is. so tem, realmente, bastante importância e eu me permito alertar para o assunto, com o espírito de colaborar evitando campos abertos à po. lêmica e à contestação paraguaia. Pois vemos, para resumir, que o Brasil tem uma tese muito sólida,que é a da demarcação, exaustivamen te comprovada. Apenas para argumentar, o Brasil, nessa Nota, passa a encarar o problema da obediência da demarcação já feita ao texto do Tratado. Em seguida, há uma dúvida quanto ao que prevalece ta, ata ou tratado - embora, no caso, - plan. se afirme que há concordân cia nos pontos essenciais. No item 89* parece que o Brasil se coloca em uma posição eticamente muito louvável e interessante, digo-o porque conheço a mentalidade paraguaia Departamento de Imprensa Nacional — B5A!6«^~- ,.- ECRE TO • - poderá mas abrir - e um E E CRET O - 32 flanço, é quando diz: "Exigindo o cumprimento dos atos jurídicos vj|. lidos e perfeitos, nos mesmos não se escuda, porém o Brasil, de modo algum, para defender algo que em si fosse defeituoso ou vicioso...." Nesse trecho, realmente, se a demarcação tivesse sido viciada um erro decorrente da falta de conhecimentos da época, por então o Bra_ sil reconhece que não se escudaria no fato de a linha já estar demar cada, mas negociaria o problema por não querer defender algo que fos. se defeituoso. Espero que estas observações sejam recebidas como de. j se jo muito intenso de auxiliar a fortalecer a posição brasileira; pa rece-me que essa dualidade de fundamentação em mente poderia ser conveniente para nós, essas duas teses fossem se teses diferentes s^ sempre coerentes, isto é, se uma, em hipótese alguma, pudesse contra dizer a outra. Ora, no caso em apreço, eu pessoalmente julgo que não há contradição, mas os paraguaios julgam de modo diferente; e esta é a tese paraguaia. E não é só; há outro ponto, no item n9 48, em que a Nota brasileira diz o seguinte - guaia de o limite correr ao norte: mentalmente o Tratado, que coloca referindo-se à pretensão para "Tal pretensão contraria funda como ponto de referência o Salto Grande das Sete Quedas do mesmo Rio Paraná; e assim, não seria possí. vel admitir-se a localização de um tal ponto acima do Salto, também não se admitiria localizá-lo abaixo daquele Salto Grande, on de, aliás, está realmente a massa principal da Serra......" um aditamento que não consegui entender bem, por-se a afirmação anterior, e que diz: da, tomada pelos demarcadores, devesse executar-se, pois " como AÍ vem me parece contra que seria, sem dúvi. em qualquer tempo, caso a demarcação acompanhando a linha de descrição do Tratado, de Este para Oeste". Ora, os nossos amigos paraguaios, que são muito versados em cousas de Espanha, vão dizer que aqui reviveu aquele pro. blema dos Pirineus: "a verdade de um lado é uma, e de outro lado é outra". Quer dizer, a verdade da demarcação variaria com o modo como a demarcação tiver sido feita: de leste para oeste ou de oeste para 3 SECRETO b*a ECRET - 55 ~ leste. Confesso que entrevejo aqui uma pequena contradição no pr& prio período. Mas não é isso o que eu assinalo; o que assinalo é que nós mesmos levantamos, aqui, dúvidas sobre a demarcação, admitindo que, em qualquer época, houvessem os demarcadores seguido um caminho diferente - que aliás deveriam ter seguido realmente, porque a de. finição do Tratado foi feita em outro sentido - a linha poderia correr mais ao sul ou mais ao norte. Entretanto, admitindo mesmo que, no caso em espécie, não haja incoerência entre o tratado e a demarca, ção já feita, isto é, que a demarcação realmente tenha obedecido ao Tratado, peço vênia para reportar-me, inclusive, a um aspecto da quês tão que também foi assinalado pelo Sr. Ministro do Exterior. 0 sil defende, aqui, não é apenas um problema de limites com o Bra_ Pará. guai; o Brasil defende uma tese de alta importância quanto a questão de toda nossa ampla fronteira demarcada, mas não conhecida, e sobre a qual, mais dia ou menos dia, inevitavelmente surgirá um ponto onde a verdade dos novos conhecimentos geográficos demonstre que a demarcação estava errada. Então, essa tese de não nos amarrarmos, única e exclusivamente, ao fato de que a demarcação é um ato completo e acabado que nos dá o direito de sustentar essa posição, e admitirmos exame de outro aspecto, o aspecto de que se a demarcação foi o feita ou não rigorosamente de acordo com o Tratado, acho eu que nos abre a guarda - não é no Paraguai - nos vai abrir a guarda quem onde, nesse campo tão complexo das nossas fronteiras. Neste sabe parti- cular ainda do problema de limites, há alguns pontos que, se me per. mi tem e sem alongar-me muito porque se trata de pontos pequenos, gos_ taria de expo-los. No n? 81 a 85, o Governo paraguaio, na sua Nota, aliás vazada em termos a meu ver demasiadamente agressivos, realmente inquina o Tratado de Limites, lamentando que ele tenha sido feito logo após uma guerra, etc. Isso vem assinalado com multa precisão,em. bora antecedentes da questão, a generosidade brasileira abandonando a linha limítrofe, e t c , sejam argumentos mais do que suficientes pâ. Departamento de Imprensa Nacional — [SECRETO] SECRET • - 54 • — & - ra mostrar que não foi o Tratado descumprido. Entretanto, os números 81, 82 e 85 contem uma observação que Julgaria itens interessante não oferecermos como achega à discussão que os paraguaios inevitável, mente farão: "81 - Como simples ponderação adicional, note-se o Tratado de 1872, criando a Comissão Mista para o executar, que dispôs (Artigo 2?) que "três meses ao mais tardar, contados da troca das ra. tificações do presente Tratado, as altas partes contratantes nomea. rão comissários que, de comum acordo e no mais breve prazo possível, procederão à demarcação da linha divisória onde for necessário e de conformidade com o que fica estipulado no artigo precedente." 82 Davam-se aí aos comissários podêres amplos para a demarcação,que tor nava definitiva, se estivessem de comum acordo. Nem se falou em pos. terior aprovação pelos respectivos Governos. 85 ~ Isto se corrobo, ra pelo disposto no artigo seguinte, parágrafo 39, onde se previu a. té a demarcação unilateral (no caso de uma das partes deixar de mear seu Comissário) que, feita por uma só das partes, seria no_ levada à outra parte e, se esta não apresentasse reclamação fundamentada e dentro de seis meses, "ficará definitivamente a fronteira fixada de conformidade com a demarcação feita". Realmente, o artigo 29 do Tra tado é um pouco mais curioso, porque diz o seguinte: "Se acontecer (o que não é de esperar) que uma das altas partes contratantes, por qualquer motivo que seja, deixe de nomear o seu Comissário dentro do prazo acima marcado, ou que, depois de nomeá-lo, sendo mister substi. tuí-lo, o não substitua dentro de igual prazo, o Comissário da outra parte contratante procederá a demarcação e esta será Julgada válida, mediante a inspeção e parecer de um Comissário nomeado pelos gover nos da República Argentina e da República do Uruguai. Se os ditos Go. vernos não puderem aceder à solicitação ..." etc. Creio que isto per. mitirá ao Paraguai um reforço à tese de que o Tratado foi draconia no. Não devemos lembrar, pelo menos, esse argumento ao outro lado. Isso é apenas um detalhe, mas penso ser pertinente. Ainda há um pon. ISECRETO - 35 to nessa questão de limite, sobre o qual tenho uma dúvida e que gos. taria fosse considerado, porque talvez redundasse em melhor aclara, çao do assunto. No item n9 43 diz: "Vossa Excelência diz que no tre_ cho de 115 quilômetros, na Serra de Maracaju, a Comissão Mista tuou seus trabalhos de caracterização sem ter em conta a de 1872/74. 44 - efe. Demarcação Posse exata a afirmação, e registraria o fato maior gravidade, qual seja o de ter a Comissão Mista violado as terminações do Protocolo de 1930» 45 ~ da de. Não o é, entretanto. Os tra. balhos técnicos de caracterização, desde os 250 quilômetros, aproximadamente, se fizeram com a observância do contido na Ata da 18a. Conferência da Comissão Demarcadora de 1872/74, isto é, obedecendo ao Artigo 10? do Protocolo de Instruções, de 9 de maio de 1930." Em primeiro lugar, temos aqui uma simples contestação: o Para guai afirma uma coisa e o Brasil afirma outra. Isso não teria mente importância, se no n9 114 - real. e no item 120 está repetido não houvesse uma afirmação sobre a qual tenho dúvidas. Está dito:"As_ sim, Senhor Ministro, o Governo do Brasil considera como limite en_ tre os dois Estados naquela região o já marcado no terreno pela "Pi. cada" ou "Estrada Internacional", que termina no próprio "Pilar de Observação", diante da Quinta Queda." E no item 120 diz-se: "Assim o meu Governo espera, no real interesse das cordiais relações entre os dois países, que o Governo do Paraguai respeite a soberania do sil no território que confina na "Picada ou "Estrada da Comissão Limites", que se estende até o "Pilar de Observação". Eu Bra. de realmente tenho dúvidas, porque em face de toda a argumentação anterior, muito clara, entendi que essa Comissão ia fazer uma caracterização da fron teira, uma densificação de marcos entre pontos que haviam sido demarcação fixados. Então, entre dois pontos sucessivos da na demarca, ção, acreditava que a Comissão de Caracterização da fronteira pudes. se jogar a linha para o norte ou para o sul do picadão anterior, bus_ cando realmente - o que? A linha mais alta. E tanto assim me pare- Departamento de Imprensa Nacional — SECRETO] ECRE J.Ü - 56 ce deva ser que, folheando o Relatório da Campanha de 19Ó4, há lá um mapa muito sugestivo em que se vêem as duas linhas: a da picada e a linha com a qual a Comissão concordou até o último marco definido. Tenho a impressão, se não estou equivocado, de que os marcos primiti. vos não podem ser deslocados do lugar, mas que, entre dois pontos de demarcação, poderá haver pequenos reajustes; e, assim, não podemos a. firmar que a linha é o picadão . A linha, num trecho que não está ca. racterizado, pressupoe-se que seja o picadão, mas apenas até que,nos trabalhos de caracterização da fronteira e densificação dos marcos, estejam todos os pontos intermediários assinalados e a verdadeira li. nha traçada. Isto não tem realmente importância maior, mas creio que será de toda conveniência evitar esse ponto para discussão maior problema, tanto mais que o objetivo da Nota é expresso: evitar mica. E realmente a nossa posição é tão sólida que podemos, com do pole. a maior serenidade, embora com uma firmeza absoluta, sustentar nossa te se perante qualquer Tribunal. Sobre a questão do arbitramento, entre, tanto, há um ponto ainda que me deixou muito curioso; é que não en contrei nesta Nota a menor referência a esse assunto, quando era Nota anterior o Brasil ofereceu algo a respeito e o Paraguai respondeu,não repudiando o arbitramento, apenas pospondo-o para depois de um pro_ cesso de entendimentos bilaterais, mas aceitou-o, e o Brasil, agora, nesta Nota, não fala mais em arbitramento. Estranhei muito e acho que essa omissão deve ter alguma base. 0 Brasil não aceita nem aceitou o arbitramento; o Brasil concedeu-o; ofereceu-o como um arbitra, mento limitado sobre o problema da caracterização. E eu estranho,ape. nas, que nesta Nota não haja qualquer referência sobre o problema do arbitramento, o que pode ser explorado no sentido de que o Brasil es tá recuando da posição assumida na Nota anterior. Sobre o problema do Salto, que, sem dúvida, a meu ver, é o problema fundamental - por que essa questão de pequeno trecho de fronteira que o General Stroes. sner me disse ser uma "chucheria", e é realmente uma "chucheria", só SECRE TO ECRETO - 57 sairá de pauta no dia em que fique acertada a questão do Salto - Ha, realmente, a questão do aproveitamento econômico, do qual o Paraguai deseja participar. Creio importante desfazer-se um mito que lá exis. te: o de um apoio do Governo da União Soviética às obras de ção para aproveitamento do Rio. Depois da carta do constru Excelentíssimo Senhor Presidente da República ao Presidente Stroessner dizendo que o Brasil nada faria nessa questão do aproveitamento do Rio sem um entendimento com o Paraguai, que não tiraria nem uma cuia dágua do Rio sem entrar em entendimentos com o Paraguai, creio que esse blema de aproveitamento econômico, realmente importante, pro, importante para nós também, não é urgente. Mas aí existe também um outro aspeç. to: o aspecto político. Não é só o problema do aproveitamento econo. mico. 0 Paraguai tem pretensões de que, pelo menos, lhe seja reconhe. cido o condomínio. E isto, realmente, cria uma questão da maior portância, a meu ver - inj, o mais importante dos três problemas. Tenho a impressão de que o tratamento do assunto feito pela Nota num sim pies parágrafo, que é o de n9 115, ao fim de uma longa, substanciosa e erudita discussão do problema da demarcação dos limites, vai dei. xar o problema num plano que me parece extremamente secundário. Diz a Nota: "Senhor Ministro: como o meu Governo também reconhece que as relações entre o Brasil e o Paraguai permitem um diálogo cordial e amistoso, proponho a Vossa Excelência retomar conversações sobre a possibilidade de exploração - a ser feita em conjunto e união pelo Brasil e pelo Paraguai - fraternal do potencial hidrelétrico de. corrente do Salto Grande das Sete Quedas, era benefício do desenvolvi, mento econômico e do progresso social dos dois povos." Sinceramente, creio que o tratamento desse assunto em um parágrafo assim, isolado, tão peremptorlamente, causará, no Paraguai, uma reação muito sa; o paraguaio é o tipo do povo pobre mas orgulhoso e vai curio_ pensar que o Brasil, depois do que a Comissão de Limites fez, oferece, sim, uma iscazinha, uma barganha sobre esse problema. Se nós Departamento de Imprensa Nacional — SECRETO i as. quere_ | [SECRJTTO | - 38 - mos, realmente manter boas relações com o Paraguai muito cordiais e hoje não o são - - que já foram creio que deveremos dar ao pro. blema um pouco mais de relevo, o que poderia ser feito em outra No. ta. Finalmente, há o problema da deterioração das relações, que está abordado no parágrafo 116. A respeito, tenho uma opinião firmada: é a de que, embora o problema da deterioração das relações blema da ocupação militar, assim chamada por eles - - o pro_ seja um proble, ma profundamente, já não digo secundário, mas terciário, porque é de menor importância, tendo em vista que o destacamento que lá está é de significação quase nula, e t c , embora tudo isso, o que me parece é que esse problema é que está deteriorando as relações. Pode-se dizer que o seja por um mal entendimento por parte deles, por exploração de elementos subversivos, por exploração de elementos que são contra o Governo; tudo isso, eu admito, é verdade. Mas o que também é verdade é que as relações se estão deteriorando. A Nota paraguaia n9 712 é longa e tem um trecho muito interessante, no fim do qual diz: "0 que nos separa não é um problema de demarcação que, afinal de contas, po. de ter solução jurídica; o que nos separa, de fato, é a presença tropas militares na zona não demarcada, de " etc. Não podemos des. conhecer que esse problema existe, que ele está se agravando. 0ra,cp_ mo a Nota trata o problema? Diz a Nota: "Quanto ao que Vossa Excelên cia alega - que a deterioração de nossas relações não se deve to ao desentendimento acerca da demarcação da fronteira, mas à tan "ocu pação militar perpretada pelo Brasil, da zona ainda não delimitada" - meu Governo, peremptòriamente refutando as premissas, nega qual, quer sentido à conclusão." Eu, de minha parte, por exemplo, nego pe_ remptòriamente e refuto as premissas. Mas não. nego a conclusão, por que ela diz respeito a um fato social - as relações estão-se agra- vando; a bandeira brasileira foi vilipendiada, os estudantes fizeram demonstrações contra o SEPRO e outros órgãos brasileiros, a Embaixa da foi pixada e a imprensa, sobretudo da oposição, manifesta-se >1 SECRETO em SECRETO - 59 termos agressivos demais sobre o Brasil. Acredito que essa troca Notas dificilmente poderá levar a um apaziguamento, a um de tratamento mais cordial da questão, se aquilo que o Paraguai aponta como assun to principal na sua Nota é aqui tratado num parágrafo de seis linhas, ao fim quase de nossa Nota-resposta. Essas são as observações que me pareceu oportuno apresentar. Realmente, no problema do Paraguai não tenho dúvidas - o objetivo fundamental brasileiro é manter a integridade do limite nacional, e t c ; ora, esse objetivo pode ser a tingido de várias maneiras: uma das maneiras é nós dizermos isto ou aquilo e não nos preocuparmos, absolutamente, com o que vier daí;faz, -se a afirmação, toma-se essa posição e eles que se amolem ou queixem, etc. - se pouco importa. A outra solução será, embora manten. do com firmeza aquela posição, buscar fórmulas de aproximação. Gosta, ria apenas de salientar que a deterioração das nossas relações com o Paraguai, o que pode consistir em uma simples retirada do Embaixador do Paraguai - que não está mais aqui e não sei se vai voltar - e poderá ir até a um rompimento de relações, terá, a meu ver,conseqüên cias que não são desprezíveis para a política externa brasileira. EEL sa deterioração das relações, afinal de contas, irá por por terra trinta anos de trabalho de aproximação com o Paraguai, em que o Bra. sil despendeu muito dinheiro em obras, em manutenção de missões culturais, etc . Quer dizer, a política brasileira de acercamento com o Paraguai poderá, com essa deterioração progressiva das relações, che. gar até a um esfriamento total e, sem dúvida alguma, vamos por xo trinta anos de continuados esforços - abai. de brilhantes esforços fej. tos pelo Itamaraty, não menos pelas Forças Armadas, que lá sempre man tiveram, com pleno êxito, uma missão militar que é um elo muito im. portante com os militares que, na verdade, constituem o Governo do Paraguai. Mas não é só isso; vamos, sem dúvida alguma, abalar o domi. nio do Partido Colorado e não temos, nunca tivemos e nunca teremos interesse em que o domínio paraguaio seja exercido pelo Partido Libe. Departamento de Imprensa Nacional —• •SECRETO «a I SECRETO - 40 - ral, sempre contrário a nós -cristianos - - muito menos febreristas e democrata que lá mantêm conotações subversivas e esquerdistas. Abandonamos, também, a política tradicional brasileira de, no cora ção do Continente, opormo~nos a. influência argentina que,tradicional mente, aí tem buscado firmar-se, afastando-nos. Também nao esquecer que não iremos melhorar - antes, pioraremos - devemos a imagem brasileira perante os demais países da América Latina, todos eles com profundos e antigos ressentimentos, ainda não esquecidos, quanto ao Brasil - o devorador de terras, etc. Esses ressentimentos que, com o Paraguai eram mais fortes devido a Guerra Grande, existem, tam bém, por todos esses países afora, todos eles descontentes com a SQ lução brilhante que foi dada pelos grandes homens do Itamaraty. Esta é uma platéia que está pronta a apoiar o Paraguai, quer tenha este, ou nao tenha, razão. Seremos acusados como culpados e os jornais fe breristas, demócrata-cristianos, em grau muito menor os jornais do Governo paraguaio, responsabilizarão o Governo brasileiro. Estamos vivendo uma quadra em que nosso governo, fruto de uma Revolução, ain. da é apresentado aí por fora, como um governo militarista. Então, o Brasil será provavelmente apontado como entrando em uma fase de impe. rialismo militar, com seu Governo militar, uma ditadura, etc. Isso no caso de que a idéia seja manter a nossa posição sem qualquer preo. cupaçao com essas conseqüências que poderão ocorrer. Creio que, sem prejuízo da solidez da nossa posição, da firmeza de nossa atitude da segurança dos nossos direitos, poderemos, como sugeriu o Sr. e Mi nistro da Educação, com serenidade e em linguagem não agressiva, re. forçar até a nossa posição, como um País grande, que tem segurança nos seus direitos e espera que esses direitos sejam, sem dúvida, corç preendidos. Era o que tinha a dizer. PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Concedo a palavra ao Ministro das ções Exteriores. — SECRETO KVi. '••*•..H' . ' •• 1 =~-"»R>S—r* Rela SE C R E T O i N.»21 MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Senhor Presidente, Senhores Mem bros do Conselho de Segurança Nacional. Ouvi, com toda atenção, a brilhante refutação do meu preclaro Colega, Ministro Golbery, a ai guns pontos da Nota apresentada pelo Itamaraty. Quero dizer a Vossa Excelência, Senhor Presidente, que a quase totalidade dos argumentos apresentados por ele foram objeto de discussão, entre nós, nos inúme. ros contatos que tivemos para chegar a uma conclusão. Eu irei respon der a alguns, mas vou dar a palavra aos donos de alguns dos argumen. tos apresentados por Sua Excelência, para que refutem, como refuta, ram uns aos outros, durante as reuniões que tive a oportunidade presidir. Gostaria, de início, de salientar que não há uma de verdade no leste e uma verdade no oeste. A linha demarcadora foi fixada pelo Tratado de 1872, evidentemente de leste para oeste, mas por condi çoes técnicas, a Comissão Demarcadora teve de faze-lo ou preferiu fa. zê-lo do oeste para leste. Mas havia um ponto que impunha fosse a verdade uma só: era a presença do Salto das Sete Quedas, como um mar co; ainda que, ad argçumentandum. concedêssemos ao Paraguai o desloca, mento da linha de fronteira do ponto exato que está para esse contra, forte novo, ainda assim, a linha teria de infletir para o Salto Sete Quedas, como obrigação imposta pelo Tratado. As mesmas das dúvidas que assaltaram o espírito do nobre Ministro Golbery, assaltaram tara. bem o nosso. Mas antes de nós, assaltaram o Hamlet, cujo castelo vi agora na viagem que fiz a Dinamarca: "Ser ou não ser, eis a questão". Não podemos, Senhor Presidente, aceitar como os melhores os nossos argumentos, mas foram os argumentos que vieram à conclusão depois de imensa controvérsia. 0 Dr. Valadão, no seu parecer, também foi"ad ar gumentandum", mas já não se apresentava tão interessado que fosse posto na Nota; era apenas para conhecimento do Ministro de Estado. A discussão se deveríamos apresentar uma Nota singela, contando "tout court" a questão ou se deveríamos entrar num "entrevero" da Nota pa. raguaia, refutando artigo por artigo, também aflorou nas nossas dis. CRETO - 42 - cussoes e nós preferimos esse caminho mais longo porque, quando um Ministério do Exterior toma uma decisão, ele tem dois auditórios: o do lado de lá e o do lado de cá. Nos falamos para os paraguaios mas também falamos para os brasileiros. Se depois de todas essas demons. trações de violência que estão surgindo dos paraguaios, o Governo bra sileiro ficar indiferente a elas, nós também perderemos o pundonor nacional. Tirar o destacamento do exército de lá, dessa faixa de ter ra do Território nacional, é uma solução mais cômoda para o Itamara. ty, mas não é aquela que convém ao prestígio do Brasil e à defesa da nossa soberania. Ê de fato o "punctum dollens" dos paraguaios, por que, ainda agora, quando o Embaixador Raul Pena conversou com o Se_ cretário-Geral do Itamaraty - Embaixador Pio Correia - teve a portunidade de dizer que se nós tirássemos o destacamento do 2. ponto onde está para 300 metros para trás, eles se contentavam. Quer di. zer, isso era um problema para o prestígio deles, estamos dando ga. nho de causa a eles e isto é um terreno litigioso, e o que não quere_ mos é abrir um litígio num dos nossos limites. Nos insistimos na ca racterizaçao; esta não é, como disse o Senhor Ministro Golbery, for. cada; ela pode, desde que não infrinja os pontos demarcados, passar mais aqui ou mais ali, mas sem forçosamente seguir nesse trecho demarcado na estrada; ela não pode afastar um metro, porque já seria uma concessão a. violência com que eles montaram essa operação. Como disse, na exposição eles montaram, há 20 anos, essa operação e estão desencadeando aquilo que prepararam com grande pertinácia. Nas niões da atual Comissão Demarcadora é freqüente sentir que os reu para. guaios procuram confundir demarcação com caracterização. Algumas zes, os nossos companheiros cairam no engodo, e falam em v£ demarcação quando é caracterização, mas, evidentemente, temos que repor as cou_ sas nos seus devidos termos. A Nota não podia ser mais branda do que é, porque ela já foi muito adoçada. Havia quem quisesse uma Nota mui. to mais enérgica. 0 nosso Embaixador, em Assunção, quer, a toda r—*—• SECRETO ho ÍSECRE T 0 [ - 45 - ra, que a Nota vá depressa e muito forte. A Nota é uma média de pen. samento. Gostaria que o Ministro Golbery mandasse para o Itamaraty as suas emendas à Nota, porque seriam objeto de estudo e,também, hon rar-nos com a sua própria presença, a fim de conciliarmos alguns de. talhes e que possamos dar-lhe um aspecto menos forte. Mas uma das c& racterizações da Nota é que ela deveria ser enérgica; serena, mas e. nérgica, porque depois de todos esses incidentes, se nós não manifes. tarmos energia, estaremos estimulando cousas mais graves que podem ocorrer. 0 Itamaraty está bem apercebido que pode resultar dessa No. ta um rompimento de relações. Um funcionário, nosso, recentemente vjji do de Assunção, nos deu essa impressão; deu-me, pessoalmente, a im pressão de que a reação do Paraguai seria um rompimento de relações, o que seria desagradável para nós, mas muito mais desagradável do que isso, seria o Itamaraty capitular a uma imposição paraguaia. Não queremos mostrar um autoritarismo que a grandeza do País permitiria, mas não queremos também mostrar vacilações na defesa de nossos direi, tos. Pediria licença, Senhor Presidente, para que o Dr. Valadão re,§_ pondesse a parte que lhe cabe na contestação do nobre Colega Ministro Golbery. PROFESSOR HAROLDO TEIXEIRA VALADflO - Excelentíssimo Senhor Presl dente e Excelentíssimos Senhores Membros do Conselho de Segurança Na. cional. As observações do Ministro Golbery são muito importantes pertinentes em vários casos e Sua Excelência, o Ministro do e Exteri. or, já pediu que Sua Excelência nos desse essas observações por es crito, em forma de emendas, para um trabalho construtivo e objetivo. Mas naquela primeira parte ad argumentandum. quero expor ao Conselho qual foi a orientação do meu parecer. 0 parecer foi dado a Sua Exce. lência o Senhor Ministro de Estado, confidencialmente, secreto,e não era para ser incluído todo, evidentemente, na Nota, porque dei toda a nossa argumentação, inclusive os pontos que achava relevantes e os Departamento de Imprensa Nacional — [SECRETO! SECRETO] - 44 - que achava secundários. Em síntese, o Paraguai usava de uma argumen. tação que dizia: primeiro, que o Tratado de 1872 não valia, porque foi feito sob força. Resposta: o Tratado de 1927 não foi feito sob força e diz que o de 1872 estava válido. Segunda argumentação: a de. marcação não está de acordo com o Tratado. Nos discordamos e disse, mos que essa demarcação foi feita de comum acordo, aprovada pelo Go. vêrno paraguaio e, portanto, essa demarcação devia prevalecer. Recen. temente, num caso levado à Corte de Haya entre a TAILÂNDIA e a CAM. BODJA, justamente há dois anos atras, decidiu-se que havendo Comis. são Demarcatória, nomeada por Tratados, presume-se que o seu traba. lho seja válido; há presunção de que o que ela fez em virtude do Tra. tado estar válido. Mas nessa área de argumentos, nessa cascata de ar gumentos, evidentemente, o grande argumento qual era? Era: a demarca, ção está feita, é definitiva e não podemos reabrir a questão. Apenas ad argumentandum para Sua Excelência, o Senhor Ministro, disse: Su ponhamos, vamos discutir se, de fato, a demarcação está contra o Tra_ tado. Então, estudei cora outros Colegas,com maior profundidade o Tra. tado, e descobrimos: pusemos ênfase naquela cláusula que embora ga: pela linha de cumiada — diz também — di. as vertentes que cor- rem para o norte são do Brasil e as vertentes que correm para o sul do Paraguai. Resultado: a linha de cumiada conjuga-se com a linha de divisão de águas e esta frase do Tratado devia ser e foi atendida. Mas, evidentemente, a orientação, o Senhor Ministro poderá, depois, refletir sobre o assunto: se convém mostrar que a demarcação é vali. da e não continuar com argumentação. Nos, como advogados, usamos mui. to isso - e o Prof. Pedro Aleixo sabe muito bem - damos, primei. ro, um argumento e, depois, um segundo. As vezes, o Senhor que este ve no Paraguai e conhece o ambiente, poderá pensar que essa questão talvez fosse melhor deixar para o futuro. Esta foi a minha primeira opinião. Vossa Excelência tocou num ponto importante: afirmar que os dois Governos aprovaram a demarcação. Quando se fez a Comissão de Ca, f SECRETO <MÇJ*'-1>" — — M Ü M i » í SECRETO - 45 - racterização, em 1950* como disse muito bem Sua Excelência o tro do Exterior, o Paraguai aproveitou essa Comissão de Minis_ Caracteriza, ção para levantar toda aquela questão de demarcação. Mas o Protocolo também diz: "demarcação feita". E quanto ao argumento do artigo 59, Vossa Excelência não deixa de ter uma certa razão, porque é um argu mento que serve a nosso favor, mas talvez Vossa Excelência, que este. ve no Paraguai três anos, pode dizer, talvez, que é draconiano para os paraguaios. Habitualmente nos Tratados se diz: "A demarcação será aprovada pelos Governos". Naquele Tratado não se fêz isso. E ainda determinam os Tratados que se faça a demarcação. Mas no artigo seguto te, supondo que um dos Governos pudesse fugir à demarcação, o artigo diz: que se um não nomeasse delegado, será eleito outro, como Vossa Excelência disse, e naquela forma, inclusive com outros Governos que participaram do Tratado; e ficará em definitivo. Nos usamos como um argumento "ad majorem", quer dizer, se aceito por um só, é definiti. vo, muito mais será, quando de comum acordo, este é um argumento que se pode tirar ou não e o Ministro do Exterior pode refletir sobre le, mas poderá ter esses aspectos. Outro ponto: sobre a £ arbitragem. Este ponto está muito bem considerado: o Senhor Ministro do Exterior ponderou bem isso; seria uma questão aqui porque o Governo do Para guai na Nota diz: "Quanto à arbitragem, nós preferimos seguir os ca minhos normais". De fato, os caminhos normais, quais são? Ei-los: ne_ gociaçoes diretas, conciliação, etc. e a arbitragem vem em 4? ou lugar, e a Corte de Haya vem em último lugar. Não está expresso 5? que recusamos a arbitragem. No caso da "lagosta", da França, que dei parecer, nós recusamos a arbitragem, mas o caso era diferente. Não sei se o Ministro tem algum outro problema de ordem jurídica que gosta, ria de esclarecer, para o que estou às suas ordens. Também nos itens 45/4/5, página 29, Vossa Excelência acha que esses três itens não es. tariam muito de acordo com o item 114, da página 148, porque aqui se fala em linha de demarcação, ao passo que, no final da Nota, se fala Departamento de Imprensa Nacional — SECRETO - 46 na Estrada da Picada ou Estrada Internacional. Vossa Excelência tara bém fala na possibilidade do reajuste. Na Comissão de Caracterizaçãoj as possibilidades de reajuste são sempre com mútuo acordo dos Gover nos. Em qualquer reajuste, como nós sabemos, porque temos os Trata, dos, nas diretivas, que a Comissão Demarcatória vai ao terreno e a Comissão em questão,anos depois, pode decidir, mas ninguém pode aite. rar o que foi feito pelo outro. Mesmo quando há um reajuste, mas nes. se caso não há. Agora, Vossa Excelência acha que falar no terreno da Picada é muito importante que esse terreno determine onde está nossa linha. De forma que daí vai o interesse da Nota do Itamaraty. MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Muito obrigado; quanto ao pro blema do arbitramento, Senhor Presidente, o Itamaraty não ofereceu o arbitramento; ele admitiu o arbitramento na Nota anterior e, por isso, nós deixamos para conversar sobre esse problema quando o emissá rio for levar a Nota. Como as relações do nosso Embaixador no Para. guai são muito tensas com o Governo paraguaio, estava pensando o Ita. maraty de encarregar o Embaixador Guimarães Rosa de entregar a Nota em companhia do Embaixador nosso naquele país, a fim de não diminuí-lo, e lá, então, manter a conversa construtiva, que é necessária, com o Governo paraguaio. Quer dizer, acenando com essa solução do aproveitamento das águas em benefício comum. Quando o Embaixador Gor don foi despedir-se de nós, no Itamaraty, ele nos perguntou se o Bra_ sil estava preparado para admitir uma solução de aproveitamento co mum das águas; nós lhe respondemos que sim. No parecer do Dr. Vala dão, ele inclui que nós podíamos oferecer um condomínio de 35#* e eu perguntei por que: mas é verdade que ele baseava esse parecer no pa. recer de outro Colega. PROFESSOR HAROLDO TEIXEIRA VALADflO - Eu reproduzi um parecer do tamaraty, de condomínio de até 35$>« Como não fui ouvido sobre 1 isso, SECRETO - 47 - por essa razão não me manifestei; apenas reproduzi. MTNISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Mas nós podemos admitir o condo. mínio com o Paraguai em igualdade de condições, desde que o excesso de energia, não utilizada por ele, seja adjudicado ao Brasil, pelo preço de custo. São formas de entendimento que podem ser encontradas desde que haja, da parte deles, interesse em conciliar. 0 Embaixador Guimarães Rosa levará esse sentido construtivo para discutir o blema do arbitramento. Se quiserem fazer o arbitramento quanto à pro. ca racterização, está tudo pronto. 0 que não vamos permitir é reabrir o problema da fronteira, mandando ao tribunal o que já está estabeleci, do. Senhor Presidente, pediria a Vossa Excelência fosse permitido ao Embaixador Guimarães Rosa fazer algumas considerações em aditamento. EMBAIXADOR JOflO GUIMARÃES ROSA - Excelentíssimo Senhor da República, Senhores Membros do Conselho de Segurança Presidente Nacional. Creio que os pontos argüidos por Vossa Excelência (dirigindo-se eo Che fe do Serviço Nacional de Informações) já foram mais ou menos esclarecidos, aliás muito bem esclarecidos pelo Ministro de Estado das Re_ laçÕes Exteriores e seu Consultor Jurídico e, ainda, o Chanceler,meu Ministro, agradeceu a Vossa Excelência a colaboração e solicitou-lhe que a remetesse para o Itamaraty, em forma de emendas. Gostaria dar alguns esclarecimentos que ajudem, inclusive, coisas de pequenas, quase marginárias, mas que podem ajudar Vossa Excelência na redação dessas emendas. Começo pelo parágrafo 48 da Nota, onde Vossa Excelên cia provocou a minha maior admiração pela sua argúcia em localizar um ponto que, realmente, como disse o Ministro do Exterior, que a No. ta está sempre submetida a alterações porque, sem cessar, estamos fo_ calizando pontos, discutindo, melhorando sua redação. 0 que não hou ve foi tempo de trazer já a Nota com modificações supervenientes nos Departamento de Imprensa Nacional — -_ ^ ^m. t .. ..—*- ECRETO & - SECRETOl - 48 últimos dois dias, porque, inclusive, na gênese dessa Nota, no dese jo de fazê-la como deveria ser feita, ou seja, a mais cautelosa pos sível, adotamos o processo de dois fazerem, em separado, e, depois, confrontarem para melhor facilitar as pesquisas. Era um estilo de trabalho em equipe que nos pareceu bom, e nessa fusão,evidentemente, alguma coisa serve em matéria de perspectiva, principalmente porque não há tempo de consultar outras pessoas e já temos muito assunto na cabeça. Nesse parágrafo 48, pediria para Vossa Excelência notar que, na parte depois de " localizá-lo abaixo daquele Salto Grande, onde, aliás, está realmente, a massa principal da Serra ", foi transformada e eliminada, porque o que havia aqui era uma concentra ção exagerada e, realmente, para qualquer leitor, mesmo da melhor fé daria uma impressão contraditória. 0 que se queria dizer era o se guinte: essa massa principal da serra termina abaixo do Salto. Essa parte está alterada. Depois, entra o assunto de aplicarmos a objeção a Nota, por ter adotado, depois de expor os documentos, firmados pontos de vista do Brasil, baseados em documentos, tratados, os conv| nios claros, passarmos a estudar ad argumentandum. como se procedeuà demarcação, se foi bem feita, enfim, objeções de outra ordem. foi discutido da seguinte maneira: primeiro, a finalidade da Isso Nota; evidentemente, esta é uma espécie de diálogo com o Governo do Para. guai; até o último momento, há esperança de podermos convencê-los de alguma coisa. Mas não parece - já nos pareceu - que não há possi, bilidades de entendimentos, porque não só a opinião do Governo para. guaio, dos diplomatas paraguaios quando conversam conosco, como da imprensa paraguaia, mostram um desarrazoado completo a tal ponto que os jornais publicam documentos, deturpando-os sistematicamente; quan. do falam, por exemplo, do Ajuste da Conferência de Cotegipe, em havia uma parte, uma declaração importante da central do plenipoten. ciário do Paraguai, que dizia que era muito bem se a linha tomasse, como eixo do Salto, uma base adiante do Paraguai: do Salto para SECRETO que ei SECRETO - 49 ma, integralmente brasileiro e do Salto para baixo, integralmente pa. raguaio. Eles reproduzem com maiúsculas esses trechos,colocando "mar gem esquerda". Então, a massa de informações que temos, não só de te_ legramas do Embaixador, como dos jornais, mostram algo impressionas, temente estranho, coisa que raia pela esquisofrenia, onde não possi. bilidade de aceitar, porque o que aconteceu, Senhor Presidente e Se_ nhores Ministros, é que jamais o Paraguai quis aceitar a representa, ção consciente do que tinha acontecido com ele; jamais. De forma que esses atos foram coisa de superfície, e o povo se recusava a aceitá-los; e gerações se criaram com uma crença no Salto, que quase tornou fetiche; o assunto estava nas notas de dinheiro e em se cartões postais, mesmo antes da noção do valor hidrelétrico energético do Salto. Mas dessa maneira prevaleceu, depois de muita discussão,e con. tra várias opiniões - do diabo" também veio a idéia da Nota Longa, como um - porque tínhamos de fazer papel de "advogado esclareci, mento ao mundo; porque nós poderíamos, a qualquer tempo,organizar um "Livro Branco", contando todos os aspectos do caso, mas um "Livro Branco", que é composto de Notas, tem uma vivência, uma qualidade, u. ma autenticidade muito maior. Tive oportunidade de verificar, por exemplo, em importante Conferência da Paz, em Paris, em 1ÇH6, livros primorosos, encadernados, ilustrados com belos mapas, jogados cestos. A Nota tem uma vivência. 0 País que mandou a Nota nos permitiu que o outro refutasse; ao passo que o que não foi Nota, foi lançado a última hora, e mesmo se assemelhando a uma Enciclopédia Britânica, não faz fé. Então, pensando na necessidade de esclarecermos ou de respondermos ao Paraguai para que colocassem um pouco de bom senso, um pouco de lógica dentro do encaminhamento da argumentação, porque a Nota deles é, realmente, impressionante e, às vezes, a maior difi. culdade nossa era retomar o equilíbrio psicológico, depois de encon. trar coisas tão desastradas, falseadas e declaradas sem pejo,apresen. tadas a um povo, sem respeito por esse povo. 0 Governo que Departamento de Imprensa Nacional — [SECRETO] —— •"• M M publica SECRETO - 50 essa Nota reconhece que não há elite era seu país capaz de analisar. A outra finalidade é esclarecer a platéia que nós formávamos: a Livro Branco e, mais tarde, em publicações, esclarecendo os do demais países, na medida do possível, americanos e outros interessados vão ao Itamaraty, que querem saber da Nota. Porque uma Nota que dessas vai certamente para Toulouse, universidades, etc., e, também, ao po_ vo brasileiro que espera uma resposta dessa, e, se possível, o povo paraguaio. Partindo dessa idéia geral, é que achamos, em primeiro lu gar: a Nota é longa, e por uma razão muito simples: em 1962, quando diante do fato de o Brasil estar pensando em aproveitar, desde já, os recursos das Sete Quedas, o Governo paraguaio formulou o primeiro protesto; nós respondemos a esse protesto em Nota curta, em que argumentávamos, e só apresentávamos documentos. 0 Governo nao paraguaio retrucou, replicou com uma Nota que salteava, não discutia, não acel, tava e não olhava as nossas argumentações - aliás esta é uma atitu de dos paraguaios em todos os seus documentos: eles fogem à argumen tação. De maneira que a Nota deles evitava o assunto e aceitava acordo hidrelétrico. Depois disso, na segunda Nota, do ano e na terceira Nota - a de protesto do destacamento - ram uma Nota um pouco mais longa, mas nós, no desejo de o passado, eles fize. esclarecer, porque pensávamos sempre que o País forte é que deve justamente abrir a conversa para não dar a impressão do "argumento do lobo"; nós pre_ cisávamos de razões morais, de uma propaganda, mostrando à platéia a nossa boa vontade, de maneira a não dar a impressão do lobo.Entrou em discussão e eles retrucaram, e se nós, agora, fugíssemos a essa norma, que nós mesmos aceitamos, de discutir aspectos técnicos,daria, mos a impressão que seríamos explorados por eles e daríamos a impre.s_ são mesmo aqui no Brasil, de que tendo nós açulado o leão, não aguen. tamos a argumentação deles. Por outro lado, era como se a Nota tive,§_ se terminado com um ponto e vírgula;e para terminar a polêmica,valia a pena fazer uma Nota, já concebida no desejo de ultimar. Então, 3 SECRETO *»- a [SECRETO - 51 Nota seria longa, mas deveria responder também, pelo menos, aos pon. tos mais importantes da Nota paraguaia. A Nota paraguaia tem argumen. tos jurídicos, argumentos técnicos - poucos e maus - argumentos históricos da demarcação atual e muito sofisma. Mas esses pontos, to_ dos argüidos, sendo que alguns deles acreditamos possam, não convencer - convencidos já devem estar - digo mas, pelo menos, fazê- -los ponderar um pouco mais antes de fazer um gesto insensato, quan. do aparecem,também, esses outros aspectos. Se ficássemos, agora, ape_ nas, depois de termos discutido, refugiássemo-nos nos documentos que estão absurdamente a nosso favor, nitidamente era uma atitude de fu. gir em baixa retirada. Então, ela servia de efeito péssimo aqui Brasil, na América, no mundo e, no Paraguai, onde pode ser no exibida como um troféu. De maneira que há essa razão. Por isso estou ad gumentandum. No parágrafo 90, Senhor Presidente, gostaria de ar- obser var uma coisa. Vossa Excelência (dirigindo-se ao Sr. Chefe do Servi. ço Nacional de Informações), afirmou que no item 89 0 Brasil está exigindo o cumprimento do Tratado mas, ao exigir isso, ele não pára, não se apega somente a parte jurídica para defender alguma coi. sa errada. Então, nós temos de voltar a dizer que a demarcação boa. Isso foi exaustivamente examinado. Mas o Senhor Ministro foi obser vou que havia uma contradição ou, pelo menos, uma vulnerabilidade da Nota. Mas se Vossa Excelência, lendo o item de n? 90, não pode, de maneira alguma, separá-lo do contexto, repare a citação que vem abai. xo: "Mas é a todas as luzes notório mente assim entende e defende - - e o Governo brasileiro firme, que às demarcações não cabe perma necerem indefinidamente abertas ...." Então, são três elementos: o Brasil exige o cumprimento dos documentos, dos acordos e tratados. 0 segundo elemento: quando ele faz isso, são recapitulaçÕes no curso de uma Nota, que deve ter ampla divulgação. 0 documento, aqui refor. mado numa forma mais fluida, é um "leitmotiv", como é, por exemplo, todas as citações à demarcação. Creio que, dessa maneira, as Departamento de Imprensa Nacional ~ SECRETO M««HP«^S r obje_ IsECR E TOI 4, . •••• - - --..— •• i m - 52 ções de Vossa Excelência podem ser abrandadas. Nos itens 81 a 83, a ponderação adicional é um argumento jurídico e o Professor Valadão já explicou, mas acho que não é inútil voltar a dizer uma coisa sim. pies; o Tratado é um Tratado muito curto que se decora, que está pu. blicado amplamente em todos os jornais de Assunção. De maneira que a argüição de lembrá-lo pode parecer perigosa, porque ele já era apontado. De qualquer forma eles dirão isso. Falando ou não falando, não impede que ele volte. Justamente numa Nota que defende, que argumen ta, que aceita argumentar desde o começo, todos esses aspectos, não se pode tomá-los isoladamente. Este é um ponto para o Paraguai. Mas adiante, há também, no item 87* o seguinte: "Quer-nos às vezes pare. cer, Senhor Ministro, que o Governo paraguaio, quando considera ou menciona o TRATADO DE LIMITES DE 1872, toma-o como consistindo só de seu Artigo 1? " AÍ nos parece encontrar-se a tão gênese de todas as dificuldades, talvez, de compreensão dos paraguaios;eles consideram como se o Tratado consistisse apenas no artigo 1? e, no artigo 19, o "mais alto da Serra de Maracaju". Como isso está a favor deles, eles cristalizaram essa ilustração e dão uma predominân cia exagerada a esses dois elementos. 0 Professor acabou de citar a sentença da Corte de Haya, segundo a qual a demarcação feita num Tra. tado é válida; ela fixa a fronteira, e tem de ser obedecida. Pouco importa que ela tenha sido feita após a guerra. Talvez tenha havido falta de tato por parte do Itamaraty ao apresentá-la desta maneira, mas tenho a impressão de que, com a reestruturação da Nota, o conjun to da Nota faz isso justamente; por exemplo: na resposta a essa obje_ ção de Vossa Excelência, também está a cauda da entrada da parte "ad argumentandum". Os itens 43 e 44, eu, pessoalmente, nas conversas pa_ ra a redação da Nota, reputei da maior importância. Isso aqui já foi dito: é uma recapitulação, quando diz "43. Vossa Excelência diz que no trecho de 115 quilômetros, na Serra de Maracaju, a Comissão Mista efetuou seus trabalhos de caracterização sem ter em conta a Demarca SECRETO| N.°27 çao de 1872/1874. 44. Posse exata a afirmação, da maior gravidade - e registraria fato qual seja o de ter a Comissão Mista violado as determinações do Protocolo de 1930" . Inclusive, devo explicar uma coisa: essa Comissão, que trabalha até agora, pelo artigo 15 do Pro. tocolo, terá de submeter seus resultados aos Governos, e se não fo rem achados os pontos, os Governos podem não aprová-los. É convenien te não só lembrá-los disso, de u'a maneira indireta, importante, porque se trata de um ponto central, como também é e porque, de certo modo, resulta em grande parte dos argumentos da Nota. Na página 20, último parágrafo do item 15, diz: "Verifica-se, nas outras atas refe. rentes à inauguração de "marcos intermédios" ou de "segunda ordem", que o desenvolvimento da poligonal ficou sempre subordinado a essas mesmas exigências." Isso já foi dito de u'a maneira mais técnica,mas conviria dizer de u'a maneira mais acessível aos leitores; e, inclu sive, numa Nota longa, convém usar o princípio muito eficaz do re_ frão, do "leitmotiv", porque desperta interesse. A respeito de estra. da e picada ... MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES (interrompendo) - Gostaria que Vossa Excelência deixasse esse problema da picada para o Coronel Tos, ta. EMBAIXADOR JOÃO GUIMARÃES ROSA (prosseguindo) a um ponto que é a parte do arbitramento; - Queria referir-me como já disse o Chance, ler, as informações de Assunção falam na concessão de aceitar a arbi. tragem, que foi tomada, naturalmente, depois de feitas as considera, ções. 0 Brasil dispunha de toda a documentação, de toda a parte júri. dica a nosso favor, mas convinha, em se tratando de um país pequeno, fraco, que perdeu a guerra, aumentarmos a nossa dose de de elementos morais e, nesse caso, o assunto à OEA ou á ONU, argumentos se ele nos propusesse para levar talvez fosse o caso. Mas talvez fosse Departamento de Imprensa Nacional •— S ECRET O a 0; E C R E T O - 54 - maneira diplomática de recusarmos. Mas há uma coisa curiosa mos até uma fotocópia para mostrar - é que dezembro, houve um boato em Assunção de e te_ uma certa ocasião, em que o Brasil tinha retirado o destacamento. Então, tivemos a reação da imprensa de Assunção, que nos tratou malíssimo; diziam que o Brasil, já tendo afirmado em Nota o direito de colocar um destacamento, pouco importava tirar car o destacamento. Outro fato importante é que, ou colo, segundo os últimos jornais de Assunção, já estão sugerindo que o Brasil, digo já estão sugerindo que o Paraguai, também, entre as medidas que deve tomar,in clua um destacamento naquela área. PRESIDENTE DA REPÚBLICA (interrompendo) - Tenho de reunião por três minutos apenas, porque tenho suspender a de tomar uma providen. cia a respeito de minlia viagem, que deverá ser feita dentro de pou cas horas. PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Daremos reinicio à reunião. Com a pala. vra o Senhor Ministro das Relações Exteriores. MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Solicitaria a Vossa Excelência que o Coronel Octávio Tosta da Silva explicasse o problema da picada. CORONEL OCTAVTO TOSTA DA SILVA 1 - —i-, Excelentíssimo Senhor Presidente, Excelentíssimos Senhores Membros do Conselho de Segurança Nacional. 0 Ministro Golbery apresentou pontos que, exatamente, haviam sido pontos de discussão entre os membros relatores do anteprojeto.Quanto á picada, temos a esclarecer o seguinte: de fato, a picada nem pre passa pela linha de cumiada; por vezes ela se afasta um sem pouco. Mas, de acordo com o que está estabelecido pelos comissários demarca, dores, a posição dos marcos pode se afastar até 200 metros da pró. SECRETO1 - 55 pria linha de cumiada, com o objetivo de estabelecer uma perfeita in. tervisibilidade entre os marcos. Acontece que, não estando ainda com pletada a caracterização desse trecho do terreno, precisamos ter, n£ le, uma marca do limite de soberania, segundo a qual os elementos que defendem o território brasileiro possam saber até onde o mesmo se es_ tende. Em fins do ano passado, o Presidente Stroessner convidou o nosso adido militar em Assunção, para comparecer à cerimonia de inau guração de um campo de pouso na região de Guaíra. Confrontando diver. sos mapas, chegamos à conclusão de que o campo de pouso deveria es tar penetrando em nosso território. Pedimos informações à 5a. Região Militar. Um avião sobrevoou a área e as informações que tivemos não foram muito seguras. Durante a visita do Ministro Sapena Pastor ao Rio, o Ministro Vasco Leitão da Cunha abordou o assunto, tendo aque. le representante do Governo paraguaio declarado que, absolutamente,o campo de pouso não havia penetrado em nosso território. Naquela opor tunidade, o mesmo já havia sido inaugurado com grande pompa pelo Pre, sidente paraguaio. Mas nós, querendo verificar perfeitamente a situação, fomos à área e, percorrendo a picada da Comissão de tes, verificamos que o referido campo de pouso, de fato, se até o interior do território brasileiro. Temos sua Limi. estende fotografia aqui que Pode mostrar a fotografia, por documenta esse fato. MINISTRO DAS R E L A Ç O E S EXTERIORES - obséquio? CORONEL OCTÁVIO TOSTA DA SILVA (após atender á solicitação)- Quando lá estivemos, em dezembro, o campo de pouso avançava cerca de 200 me. tros no nosso território. De forma que discutimos esse aspecto ao co_ locá-lo na Nota, e chegamos à conclusão de,que,há. necessidade de ter mos esse limite marcado - não demarcado - marcado no terreno, pa. ra que, de fato, a tropa que está defendendo a área saiba qual o ter Departamento de Imprensa Nacional — JSECRE TOÍ SECRET - 2l 56 - ritório que tem de defender. E por outro lado, se esse limite não fi. car bem marcado, eles teriam até possibilidade de colocar tropas den. tro do nosso próprio território. Essa picada é reconhecida na área cg. mo uma divisa internacional, convencional, porquanto é chamada Picada ou Estrada Internacional, e o Pilar de Observação é chamado de "marco". Como o Pilar de Observação está em ponto de coordenadas, le. vantadas pelos antigos demarcadores e depois recalculadas pela atual Comissão de Limites; como para os habitantes da área essa picada é chamada de Estrada Internacional; como a chamada "Fazenda Gaúcha",eu. ja planta possuímos, foi, em 1965» demarcada e seu proprietário é um dos proprietários da colonizadora de Guaíra,e como todo esse terreno está cercado de arame farpado, Julgamos conveniente colocar na Nota que o Governo do Brasil considera aquele limite, marcado pela pica- da e pelo Pilar de Observação, como o limite existente. obviamente está, até certo ponto, completada a caracterização da linha mais ai. ta da serra de Maracaju. Era o que queria dizer. PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Vou continuar a recolher a apreciação dos demais membros do Conselho de Segurança Nacional. Lembro que ain. da devemos ouvir 6 votos, razão por que pediria para que fossem bem restritos ao tempo disponível. Concedo a palavra ao Senhor Chefe do Estado-Maior das Porcas Armadas. -' •— CHEFE DO ESTADO-MAIOR DAS FORCAS ARMADAS - Senhor Presidente; pare. ceram-me muito judiciosas as observações do Chefe do Serviço Nacio_ nal de Informações. Mas como o Ministro das Relações Exteriores já pediu a Sua Excelência que essas observações fossem apresentadas em forma de emendas à Nota, não tenho nada a acrescentar. PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Senhor Chefe do Estado-Maior da Armada.- SECRE TO «fato™™. SECRET _ , - 57 CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA - Estou de acordo com o espírito da Nota do Itamaraty e com a sua parte conclusiva. Entretanto,depois que ouvi os pontos argüidos pelo Ministro Golbery de modo brilhante, e respondidos pelo Itamaraty de maneira não menos brilhante, tenho, para mim, que há necessidade de um reexame do trecho da Nota, parte da argumentação, especialmente tendo em vista o na reajustamento do fundamento da Nota. A retirada ou a modificação de certos aspeç. tos que poderiam levar a uma continuação de polemica, principalmente atendendo à psicologia do povo paraguaio. Nos sabemos que, até hoje, os livros escolares do Paraguai ensinam que, esse país venceu a Bata lha naval do Riachuelo, levando os navios brasileiros a encalhar nos barrancos do rio. Depois disso, sente-se que os paraguaios poderão ser levados a qualquer espécie de argumento. Ouvi, de um dos brilhan. tes expositores do Itamaraty, um argumento de que certos aspectos da Nota, embora possam parecer atacáveis, são entretanto, defendidos em outros aspectos situados em outros pontos da Nota. Considero isso in teressante e até mesmo elegante. Mas em se tratando do Paraguai, não julgo isso conveniente, porque os paraguaios tratarão de isolar os argumentos que nao lhe sejam favoráveis e focalizar, com a maior ni. tidez possível, os argumentos que lhe sejam favoráveis. Entretanto,o Itamaraty sempre foi e continua a ser o cultor da perfeição e pelo que ouvi do Senhor Ministro das Relações Exteriores, a Nota não está fechada; está aberta às considerações do Ministro Golbery e às consi. deraçÕes dos demais Membros dP Conselho. Quanto à questão da arbitra, gem, acho que o Brasil deve manter, senão o oferecimento, pelo menos a aceitação dessa arbitragem; porque não me parece que a arbitragem seja uma demonstração de fraqueza; pelo contrário, é uma demonstra ção de força e é uma demonstração de prestígio. Muito obrigado. PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Em seguida, passo a palavra ao Chefe do Estado-Maior do Exercito. Departamento de Imprensa Nacional ~- SECRETOJ Senhor SECRET - 2] 58 - CHEFE DO ESTADO-MAIOR DQ EXÉRCITO - Concordo com a Nota do Itamara ty, feitas as alterações julgadas convenientes por esse Ministério, em face das ponderações de Sua Excelência o Senhor Ministro Golbery. Endosso as considerações do Exm9 Sr. Ministro do Planejamento. Em re_ lação ao problema do destacamento de Porto Coronel Renato, devo de. clarar que se trata de uma força simbólica: oito homens apenas, coman. dados por um oficial. Trata-se, efetivamente de um grupo, mas que cqn sideramos um pelotão menos. Entendo que esse destacamento poderia ser retirado, se isso fosse julgado necessário para que os paraguaios discutam o problema, imediatamente, da caracterização da fronteira, porque eles estão ganhando tempo, retardando essa discussão e a ação de uma Comissão Mista, que conclua o trabalho dessa caracterização. Julgo que não é interessante para nós termos, a sudoeste, um guai potencialmente inimigo nosso. Já no sul, o Uruguai, Paradominado por corrente de opinião de sentido marxista, toma atitudes nem pre condizentes com os nossos interesses. Não convém que se sem reavive uma hipótese de conflito em que Paraguai e Uruguai estejam alinhados contra o Brasil. Por outro lado, a nossa superioridade militar em re_ lação ao Paraguai é tão grande que poderemos dar-nos ao luxo de ser generosos. Essa generosidade consistiria em admitir a retirada do destacamento desde que uma Comissão Mista de caracterização de fron teira entrasse logo em ação ou que esse problema fosse logo decidido por arbitramento. Ê o que tinha a dizer, Senhor Presidente. PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Com a palavra, a seguir, ao Senhor Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica. CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA AERONÁUTICA - Senhor Presidente; aceito a Nota do Itamaraty. Admito que seja ela técnica e juridicamente per. feita. Ela, no entanto, no meu parecer, merece ser olhada sob o pon. to-de-vista político, no que, a meu ver, não atende aos SECRETO] interesses SECRETO - 59 nacionais. É necessário saber - e não vejo, Senhor Presidente, não por uma imposição do Paraguai, mas por nosso interesse, por que moti. vo esse destacamento não pudesse ser levado para uns dois quilome. tros ou um quilômetro e meio mais acima. E nesse ponto, é minha ira, pressão que a Nota tolhe, definitivamente, uma decisão. 0 que me pja_ rece capaz, por não terem sido analisadas as conseqüências,de o Bra sil concorrer para que o atual Governo do Paraguai não subsista o que julgo desinteressante para nossa política externa. Em linhas ge_ rais, é o que tinha a dizer a respeito. PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Com a palavra o Senhor Ministro, Chefe do Gabinete Civil. MINISTRO EXTRAORDINÁRIO PARA ASSUNTOS DO GABINETE CIVIL - Em ção ao direito do Brasil, parece-me que a Nota e exaustiva, rei* comple. ta, e deixa esse direito realmente exposto de maneira .brilhante e e. ficaz. Ha reparos que já foram feitos aqui; alguns, naturalmente, po_ derão ter procedência e serão objeto de exame pelo Itamaraty. E que foi dito pelo Ilustre Chanceler, apenas uma afirmação me o causou surpresa, porque me parecia que era uma matéria fora de apreciação:é que Sua Excelência deu uma informação de que o Paraguai pensa em de. nunciar o Tratado de 18?2. Este, para mim, será o ponto mais grave da questão. Não sei até que, em se tratando ... MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES (interrompendo) - É apenas uma informação. MINISTRO EXTRAORDINÁRIO PARA ASSUNTOS DO GABINETE CIVIL -(prosseguin do) Eu sei, mas não sei se, em se tratando de uma questão de limi- te, ele pode ser denunciado. Mas isso é questão de direito e que, Q, portunamente, poderá ser apreciada pelo Ilustre Consultor. Era só Departamento de Imprensa Nacional — SECRETO! o ^ ^ U t ^ — ^ B * * ' " * J — * " • • • • • • ' • * ' "" " [SECRETO] - 60 - que tinha a dizer. PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Passo a palavra ao Senhor Chefe da Casa Militar e Secretario-Geral do Conselho de Segurança Nacional. SECRETARIO-GERAL DO CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL - Senhor Presi. dente; li, atentamente, a Nota e ouvi as observações feitas aqui e, sobretudo, prestei bastante atenção no estado de espírito do Itamarji ty, que, com revisões sucessivas, pretende ir melhorando o texto própria Nota. Acredito que há muita eousa que se poderia da realmente melhorar, levando em conta grande parte das observações que o Gene. ral Golbery fez a respeito. Em virtude disso, eu me abstenho de trar nesse detalhe, porque acho que a matéria já está en. suficientemen. te debatida, e merecerá o exame que for adequado. Há, apenas, dois pontos sobre os quais desejaria falar um pouco: um é o da arbitragem. Quando isso foi levantado em Nota anterior, conversei com o Ministro Vasco Leitão da Cunha, que naquela época era o Chanceler, sobre o sentido, sobre que versaria esse arbitramento. Hoje, o Ministro Jura. cy Magalhães declarou que o arbitramento versaria, apenas, sobre problema da caracterização. Mas na conversa que tive com o o Ministro Vasco, ele mostrou que a arbitragem versaria sobre a questão da de. marcação. Então, esse ponto, para mim, está um pouco confuso. Êle di. zia que o Brasil admitiria, apenas, o arbitramento para definir a questão seguinte: a demarcação está feita ou não está feita. Porque é, nesse ponto, em que há a divergência entre o Brasil e o Paraguai. 0 Brasil afirma que a demarcação está feita desde 1874, e o Paraguai diz que, até hoje, a demarcação não está feita. Quer dizer, o Govêr no do Paraguai confunde demarcação com caracterização, não sei se in. tencionalmente ou de boa fé; acredito que seja intencional, para & tender a seus objetivos. Então, o arbitramento versaria, apenas, so. bre isso: o juízo arbitrai teria de manifestar-se, à luz da SECRETO] • M M M documen SECRETO - 61 taçao existente, dos antecedentes da questão, se a demarcação está realizada, ou ainda está por ser feita. Como, hoje, o Ministro Jura. cy Magalhães fala sobre caracterização, fiquei era dúvida sobre qual seria, realmente, o sentido desse arbitramento. MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Está aqui dito: "0 Governo bra sileiro, inspirado no mais elevado sentimento de boa convivência, no sentido de resguardar a harmonia continental, tão necessária na pre_ sente conjuntura histórica, estará pronto, a qualquer momento, a que o desentendimento existente entre as duas Nações, em torno da ca- racterização da fronteira do Salto Grande das Sete Quedas, seja sub_ metido ao alto julgamento de uma arbitragem internacional". Dei, na Nota anterior ... — SECRETÁRIO-GERAL DO CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL (interrompendo) - Então, não e o que o Ministro Vasco dizia. MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Esse problema de aceitar a arbi tragem foi muito discutido no Itamaraty. Ha, ainda hoje, quem enten da que não se devia ter proposto, ter admitido a arbitragem, porque está inteiramente consolidada do nosso lado, e não havia porque sub meter a arbitragem. SfiÇRffTARIQ-aERAL PQ CONSELHO PE SEQURANgA NACIONAL, - Por isso é que a questão importante para mim é essa: para aceitar ou não a arbi. tragem, é preciso saber sobre o que ela vai versar. MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Exatamente; quando dissemos na Nota anterior, já fixamos que se trata de caracterização da frontei. ra e não de demarcação. .-,— Departamento de Imprensa Nacional —• "SECRETO — SECRET - 62 3 - SECRETÁRIO-GSRAL DO CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL - Mas o que o árbitro diria, então? MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Diria que essa linha não foi ca. racterizada dentro da demarcação anterior e, verificada a demarcação anterior, então ... SECRETÁRIO-GERAL DO CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL - Se a demarca ção não está feita, ele não poderia caracterizá-la ainda, porque caracterização é uma operação de segunda ordem, baseada na a demarca. ção. MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES foram fixados os marcos. —- - A demarcação foi feita >—•"- quando r--.-- — ^ - - - — — — SECRETÁRIO-GERAL DO CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL - A divergência com o Paraguai não é sobre caracterização; a divergência é sobre is_ so: nós dizemos que a fronteira está demarcada e eles dizem que não está. Então, acho que o juízo arbitrai deveria manifestar-se ela s£, bre este ponto, como dizia o Ministro Vasco: saber se a fronteira de_ ve ser a linha azul ou a linha vermelha. MINISTRO DA EDUCACfiO E CULTURA - Vossa Excelência tem razão; o pro. blema é de saber se aqueles marcos estão no lugar. MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Acho, a respeito do que o emi nente Ministro diz, lá fora, é equívoco completo. Trata-se, evidente, mente, de aviventação de rumo. A demarcação está feita; a caracteri. zação é a densificação. SECRETÁRIO-GERAL DO CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL -— - Mas eles não [SECRETO - 63 aceitam essa caracterização; eles acham que a demarcação não está feita. MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Mas isso não aceitamos do nosso lado; porque, pelo que esta no Tratado ... aSSfiaEÁaiflZflfiÉai PO CONSELHO PE mm&BSA ~ * NACIONAL (interrompendo) - f\. Mas então o arbitramento nao e sobre a divergência. MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Não; é sobre a divergência quan to a caracterização. SECRETARI0-G2RAL DO CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL - Mas eles di vergem quanto a isso. MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Mas isso não vamos discutir. Se chegarmos, agora, e quiserem estabelecer um arbitramento para saber se deve vigorar o Tratado de Tordesilhas ... SECRETÃRIO-GERAL DO CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL - Não é isso; é sabermos se, a luz da documentação existente, se a fronteira deve ser considerada demarcada ou não. Este é o ponto que o Ministro Vas. co propunha dar em arbitramento. Não desejo que o problema seja re solvido aqui. Acho que ele merece um estudo. Como continua de pé a idéia de ir ao arbitramento, penso que devemos começar a fazer o e.s_ tudo para ver, realmente, o que deve ser submetido ao juízo arbi- trai, caso o arbitramento se realize. MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Primeiro, devemos que o arbitramento será uma iniciativa deles; não é uma considerar iniciativa conjunta. Quando propuserem o arbitramento, nós estudaremos para SÜ. Departamento de Imprensa Nacional — SECRETO »—mmm« SECR - 64 ber se o arbitramento que nos propõem nos convém, e o aceitaremos ou nao. Não é uma ação conjunta; é uma ação unilateral, eles é que de tomar a iniciativa do arbitramento. • têm ——.—.—.-,.,-... SECRETARIO-GERAL DO CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL - Mas na Nota que o Senhor nos enviou, o Brasil estava disposto a admitir o arbi. tramento. MINISTRO PAS BJSLASSEa ESgEBRIQRES SECRETARIO-GERAL " Não. 1 DO CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL -- - Mas a palavra caracterização para o Paraguai tem um sentido diferente do que tem para nós; para eles, caracterização é uma cousa diferente, eles cha mam demarcação o que chamamos caracterização. MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES internacional. — - Mas isto está fixado em direito — SECRETARIO-GERAL DO CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL - 0 que apenas desejo é colocar um vidro de aumento na questão e dizer que ela mere. ce ser estudada; não tenho ponto-de-vista "a priori" . MINISTRO DAS RELAÇÕES EJCTERTORES - Nao temos feito outra cousa no Itamaraty. SECRETARIO-GERAL DO CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL - Mas estou no. tando a divergência neste aspecto: o que seria esse arbitramento. segundo ponto, Senhor Presidente, é o que se refere ao 0 aproveitamen to hidrelétrico do Salto das Sete Quedas. Foi dito aqui, e é notório de que, possivelmente, esse é o ponto nevrálgico da questão e o fun. iamento de todos os problemas. Considero "esse ponto importante e acho SECRET o\ [SECRETO - 65 - que as diferentes manifestações que o Governo brasileiro tem feito, inclusive nesta Nota, se não me engano no item 115* permitirão melho rar muito a posição psicológica do Brasil no ambiente internacional, e dada a importância que isso tem para mim, acho que, em vez de se por esse novo oferecimento do Brasil, de considerar, em conjunto, os trabalhos do aproveitamento desse Salto Grande, em vez de colocar is. so num item de 10 linhas, acho que essa questão deveria constituir objeto de uma Nota à parte. Deveria fazer-se uma Nota à parte, reca. pitulando todos os .antecedentes desse problema do aproveitamento hi drelétrico, desvinculando-o do problema de fronteira. Então, eu pro_ poria uma Nota, em que se daria muito maior importância a esse apro_ veitamento; recapitular-se-iam todos os antecedentes e far-se-ia que§ tão de mostrar que o aproveitamento dos Saltos não tem nada a ver com o problema de fronteira; ao passo que encaixada a matéria aqui ela quase aparece como um instrumento de barganha. MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Mas aí é um aceno para o apro veitamento hidrelétrico.- SECRETARIO-GERAL D O CONSELHO D E SEGURANÇA NACIONAL - Sei; não diS cuto a intenção COÍÜ que foi feita. Mas acho que o problema é tão im portante que ele merece muito mais do que um item. Não colocaria es sa questão aqui, mas, sim, em separado. É apenas uma sugestão que a. presento. MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Estou de acordo com Vossa Exce lência, de que merece uma atenção especial e, por isso mesmo, eu dis, se que, quando o Embaixador Guimarães Rosa fosse conversar, na. entre, ga da Nota, ele acentuaria essa questão. SECRSTÁRIO-GERAL DO CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL Departamento de Imprensa Nacional — SECRETO - Mas Ministro, SECRET • - 66 — • - essa Nota não é feita só para o Governo paraguaio. V. Exa. mesmo dis. se que essa Nota era para o público brasileiro e para o público in temacional. Então, a conversação verbal que o Ministro Guimarães Ro_ sa vai ter com o Presidente do Paraguai não vai chegar ao público. - MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES - Mas nisso está o "chamado para conversa". PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Ouvimos, aqui^ apreciações e depoimentos quase todos pertinentes à Nota propriamente dita, mas algumas rentes a própria conduta posterior do Governo. Ouvimos um to de depoimento feito pelo Sr. Ministro da Guerra, refe. complemeri caracterizando muito bem o aspecto da ocupação militar de um território nosso, e chamando atenção para o lado do contrabando que, também, pode ser de terminante na posição paraguaia. 0 Senhor Ministro da Viaçao também fez um depoimento concernente a uma declaração de autoridade para. guaia, quando ele lá esteve, que julgo de muito relevo para nosso co. nhecimento. E, finalmente, o depoimento do Sr. Ministro das Minas e Energia, quando bem caracterizou a questão hidrelétrica do Salto das Sete Quedas; a linha passando mais ao sul ou passando mais ao norte. Quanto ás apreciações, desejo chamar a atenção sobre as seguintes: o Senhor Ministro da Fazenda lembrou ao Senhor Ministro do Exterior a conveniência de a Nota ser feita também para o leitor não ilustrado, e que constitui a maioria dos que vão ler a Nota. 0 Senhor Ministro da Viaçao foi o primeiro que aflorou a questão da arbitragem, sem ca. racterizar bem quando e para que e, também fez acentuada lembrança para se deixar uma porta aberta de negociações com o Paraguai, e que a Nota, então, criasse um ambiente de continuação de negociações. 0 Senhor Ministro da Educação expressou a mesma cousa do Senhor Minis tro da Viaçao, mas com outras considerações, e lembrou muito não dei. xar de constar da Nota a questão dos fatos, mas também, SECRE jfcS)mr>tar•"'.'*»• 11 ' • > - • >•- 13 parece-me, SECRETO] - 67 " uma apresentação adequada, para entendimento dos que vão ler a Nota. Na Nota deveria haver a expressão de porta aberta à continuação das negociações; traduzindo o desejo de um clima de entendimento, a ser desdobrado, posteriormente, ou em seguida. 0 Senhor Ministro do Pia nejamento aflorou, também, uma proposição para a arbitragem e sou fundamentos econômicos. Sua Excelência acha que a Nota anali deverá deixar francamente aberta a porta à arbitragem e a posteriores con- versações. 0 Chefe do Serviço Nacional de Informações alongou-se bre aspectos da Nota, no que diz respeito a possíveis so divergências. Êle chamou muito a atenção para que a Nota tivesse coerência na exposição sobre o tratado, e, principalmente, de vez que a sua demarca ção já é um fato, não se venha a abrir um flanco para ser continuada a discussão em torno desse assunto. 0 voto do Chefe do Estado-Maior do Exército não é propriamente pertinente à Nota, mas, sim, trata da conduta posterior pois Sua Excelência diz que o destacamento ser recuado se isso corresponder a uma atuação correta e poderá inteligea te. E, finalmente, o Chefe do Gabinete Militar que voltou a tratar da questão da arbitragem, e que esta deve ter uma finalidade bem mais expressa, e que não haja nenhum conflito, como lhe parece,entre as declarações do Ministro Vasco Leitão da Cunha e o entendimento tual do Itamaraty. E também Sua Excelência fala que a parte a economi ca deverá ser tratada no momento, onde e quando, na própria Nota, ou numa Nota posterior. Pediria, então ao Senhor Ministro do Exterior que levasse em conta essas observações e, particularmente, convocas: se o Senhor Chefe do Serviço Nacional de Informações para que êle cerrasse suas argumentações. Concluindo, direi que o eminente Chan. celer tratará comigo a redação final. Está encerrada a sessão. E, para constar, eu, General de Divisão ERNESTO GEISEL, Secretário- Geral, mandei lavrar a presente ata, que assino com os membros sentes à reunião do Conselho de Segurança Nacional. Departamento de Imprensa Nacional — pre - 68 - Presidente do Conselho de Segurança Nacional Ministro da Marinha ""-j Ministro da Guerra Ministro da Fazenda Ocr#r/0 Min. da Viaçao e Obras Publicas '• . i . Ministro da Agricultura «fé í- / Ministro da Educação e Cultura Pí <s , ,- Al ;•-?><? « . ' « < ; •#• Ministro do Trabalho e Previdência Social Yfr Ministro 'A- ' A '. '" y da Saúde •.•••;• r/t Ministro da Industria e do „ Comércio Min^átro das~ Minas e Energia Min.Extraord.para o Planejamento e Coordençao Econômica Ministro Extraordiriário ppaarra Assuntos do Gabine eVe C i v i l < v/2 [JAJ ^ - v - l :>' <*/jyyv*/v WjMS^ Chefe do /Estado-Maior das. P o r c a s Armadas Chefe do Estado-Maior do , Exército - '' ^.""7 Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica Chefe do Estado-Maior da Armada SECRE TO E CRETO N.°35 - 69 - ^ ^ 2^hefe 46 ServiçoNas InIJawTiSçoés yfer4iA> P r o f . Haroldo T e i x e i r a Valadão \*^UAI4A ' Smb. João Guimarães Rosa C - «5fc> i/Ser Ú *•*>{'« Cel Departamento de Imprensa Nacional — SECRETO Octávio Tosta da 3iTvãcÍ*7