faculdade são camilo - mg instituição chanceladora curso de

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faculdade são camilo - mg instituição chanceladora curso de
FACULDADE SÃO CAMILO - MG
INSTITUIÇÃO CHANCELADORA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM NEUROCIÊNCIAS E
PSICANÁLISE APLICADAS À EDUCAÇÃO
NEUROCIÊNCIAS E EQUOTERAPIA:
POSSIBILIDADES TERAPÊUTICAS CONTEMPORÂNEAS
PARA O BEM ESTAR PSÍQUICO
DANIELA MARINHO SOUSA
ORIENTADOR: PROF. LUIZ CARLOS PANISSET
TRAVASSOS, MsC
BELO HORIZONTE, JULHO DE 2011
DANIELA MARINHO SOUSA
NEUROCIÊNCIAS E EQUOTERAPIA:
POSSIBILIDADES TERAPÊUTICAS CONTEMPORÂNEAS
PARA O BEM ESTAR PSÍQUICO
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado como exigência parcial
para
obtenção
do
título
de
Especialista em NEUROCIÊNCIAS
E PSICANÁLISE APLICADAS À
EDUCAÇÃO, sob orientação do
Professor Luiz Carlos Panisset
Travassos, Msc.
FACULDADE SÃO CAMILO ± MG
INSTITUIÇÃO CHANCELADORA
BELO HORIZONTE, JULHO de 2011
NEUROCIÊNCIAS E EQUOTERAPIA:
POSSIBILIDADES TERAPÊUTICAS CONTEMPORÂNEAS
PARA O BEM ESTAR PSÍQUICO
DANIELA MARINHO SOUSA
Monografia aprovada pela Faculdade São Camilo ± MG, como
exigência parcial para a obtenção do título de Especialista em
Neurociências e Psicanálise Aplicadas à Educação.
Data: _____________ de _______________ de 2011.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
PROF. LUIZ CARLOS PANISSET TRAVASSOS, MSC
_______________________________________________
PROFA. LUCÍLIA PANISSET TRAVASSOS, DRA.
_______________________________________________
PROF. EDSON GOMES TRAVASSOS, MsC
DECLARAÇÃO DE AUTORIA
Eu, DANIELA MARINHO SOUSA, identidade nº M 8.856.321 emitida pela
SSP/MG declaro para os devidos fins e sob as penas da lei, que o trabalho que
YHUVD VREUH ³NEUROCIÊNCIAS
E
EQUOTERAPIA:
POSSIBILIDADES
TERAPÊUTICAS CONTEMPORÂNEAS PARA O BEM ESTAR PSÍQUICO´ é
de minha única e exclusiva autoria, estando a FACULDADE SÃO CAMILO-MG
autorizada a divulgá-lo, mantendo cópia em biblioteca, sem ônus referentes a
direitos autorais, por se tratar de exigência parcial para certificação do CURSO
DE ESPECIALIZAÇÃO EM Neurociências e Psicanálise Aplicadas à Educação.
Belo Horizonte, _________ de _____________ de 2011.
__________________________________________
Assinatura
1 INTRODUÇAO
³ePDLVimportante conhecer o tipo de pessoa
que tem a doença, do que conhecer
DGRHQoDTXHDSHVVRDWHP´
Hipócrates
O tema deste projeto nasceu do interesse em pesquisar as relações existentes
entre um diagnóstico de transtorno psiquiátrico e as possibilidades de
estabilização das queixas através do tratamento médico convencional, com
medicação e a psicoterapia complementar utilizando as técnicas da
Equoterapia e seus aspectos Neurocientíficos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1946), observando o
crescente adoecer psíquico é possível estimar que um quarto da população
mundial desenvolverá distúrbios psíquicos no decorrer da vida.
Normalmente diante de um comportamento diferente, fora do padrão
socialmente aceito muitas pessoas são rotuladas como portadoras de alguma
doença mental, algum distúrbio, disfunção, dito como anormal.
A pesquisa buscará discutir algumas questões eminentes dentro do diagnóstico
psiquiátrico, muitas vezes fechado e indiscutível. Trazendo assim, fatores
desencadeadores do sofrimento mental, possibilidades terapêuticas para
estabilização e/ou promoção de novas habilidades sociais, enfatizando o uso
da Equoterapia nesse processo de convergência das abordagens Psiquiátrica e
Cognitivo-Comportamentais.
Para abordar o tema proposto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica na qual
foram levantados os critérios de normal e patológico e as possíveis
intervenções e contribuições da Equoterapia aplicada como terapia auxiliar as
psicopatologias.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1946 apud Sonenreich
e Bassitt,1979, p.53), VD~GHp³XPHVWDGRGHcompleto bem-estar físico, mental
H VRFLDO TXH QmR FRQVLVWH DSHQDV QD DXVrQFLD GH GRHQoD RX HQIHUPLGDGH´
Esta abordagem amplia o conceito biológico da saúde, pois inclui os
componentes psicológicos e sociais do ser humano. Todo ato humano torna-se
um ato da pessoa na sua totalidade, envolvendo as dimensões biológicas,
emocionais, intelectuais e a capacidade de se adaptar, de criar ou de inovar.
Porém, essa definição de saúde dada pela OMS em 1946, apresenta uma
ambigüidade: qual é o significado da palavra completo? Quem o atinge, ou
TXHPGHILQHHVVHHVWDGRGH³FRPSOHWREHP-HVWDU´"
É comum dizer, o que não é sadio é doente; o que não é doente é sadio. O
conceito de saúde está intrinsecamente condicionado à ausência de doença, a
um completo bem estar físico, mental e social. Porém crenças e conceitos
sofrem mudanças, um exemplo é a Carta de Ottawa escrita na 1ª Conferência
Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em novembro de 1986, em
Ottawa no Canadá, na qual se define saúde não como ausência de doença,
PDVFRPR³XPFRQMXQWRGHDo}HVYROWDGDVSDUDSUHYHQomRGHGRHQoDVHULVFRV
individuais, considerando a influência de aspectos sociais, econômicos,
SROtWLFRV H FXOWXUDLV VREUH DV FRQGLo}HV GH SURPRomR GH YLGD H GH VD~GH´
(Carta de Ottawa, 1986, p.1)
Freud, (1951, apud Sonenreich e Bassitt,1979, p.49) também considerava
³LPSRVVtYHO HVWDEHOHFHU FLHQWLILFDmente uma linha de demarcação entre os
HVWDGRV QRUPDLV H DQRUPDLV´ SDODYUDV HVVDV FRPXPHQWH XVDGDV SDUD VH
dizer de saúde ou doença. Mas então, como avaliar a normalidade ou seria um
estado de normalidade?
Sonenreich e Bassitt (1979), estabeleceram 5 critérios básicos para se discutir
com mais clareza essa tênue linha que distingue o normal e o patológico que
são:
x
Critério Estatístico:
Discorre do que a maioria apresenta como normal, quanto mais excêntrico,
mais doente e a representação do normal se dará especialmente para os
comportamentos socialmente aceitos como critério de normalidade psíquica. A
média ou a maioria teria um valor quantitativo. O normal seria então, a função
encontrada na maioria da população.
³&RPSRUWDU-se como a média, seria comportar-VH GH PDQHLUD ViELD VDGLD´
Sonenreich e Bassitt (1979).
x
Critério de Valorização:
Não se trata de quantidade, mas de qualidade, à qualidade de vida do
indivíduo. Saúde corresponde a um determinado ideal, em oposição a esse
ideal está a doença. Voltando a definição da OMS (1946, apud Sonenreich e
Bassitt,1979, p. 53), HP TXH VD~GH VHULD R ³HVWDGR FRPSOHWR GH EHP HVWDU
ItVLFR PHQWDO H VRFLDO´ SRUWDQWR TXHP DWLQJLU HVWH HVWDGR GH FRPSOHWD
qualidade de vida, seria saudável, sendo assim um critério valorativo.
Os critérios valorativos, assim como os estatísticos são muito utilizados para
definir saúde ou doença. Porém os valores são evidentemente diferentes, a
subjetividade, a cultura, a ideologia, a individualidade, tornam esse critério
insatisfatório para uma definição precisa da existência ou não de uma doença
em tal pessoa.
x
Critério de Natural igual a normal, igual a sadio
'H DFRUGR FRP 6RQHQUHLFK H %DVVLWW S ³GL]HU QDWXUDO p HP JHUDO
GL]HU ERP HVSRQWkQHR GHVHMiYHO p GL]HU QRUPDO H VDGLR´ Essa afirmação
demonstra que este é também um critério valorativo, em que o natural é o que
está conforme a natureza, onde não há interferência do homem, espontâneo,
ordem regular e natural das coisas, portanto sadio.
Em oposição estaria a cultura, que é produzida pelo homem, pela sociedade,
DV QRUPDV D UD]mR RV DUWLItFLRV ³$ FXOWXUD LQYHQWD QHFHVVLGDGHV TXH VH
WRUQDP LPSRVLo}HV SDUD R LQGLYtGXR´ 1mR VHQGR REULJDWRULDPHQWH GRHQWLD
segundo os autores, a cultura, o artificial está em oposição a tudo que é natural
e o que é natural é sadio.
x
Critério Nosográfico
Conforme este critério, doente mental é aquele cujas características se
enquadram em uma das entidades nosográficas, como por exemplo, o DSM-IV
ou CID-10. Ou seja, doente mental é aquele que possui um diagnóstico, que
HVWiLPEXtGR³HPFDVRVQRVTXDLVDVDOWHUDo}HVSRGHPVHUUHODFLRQDGDVFRP
um mesmo mecanismo fisio-SDWRJrQLFR´6RQHQUHLFKH%DVVLWWS
É preciso ressaltar que esse critério traz uma importante padronização de
linguagem, onde se estabelece uma comunicação comum, porem pode, se
cristalizada localizar o indivíduo num ponto imutável, catalogado em seu
número, asujeitado às definições do mesmo.
x
Lesão Orgânica
Este critério aponta para a discussão de que se não existe lesão orgânica, não
existe doença. Para os autores que defendem essa idéia, a doença mental é
um mito. Por exemplo, Fuller-Torrey 1974, (citado por Sonenreich e Bassitt,
1979, p.1 GL] ³D PHQWH QmR SRGH DGRHFHU DVVLP FRPR R LQWHOHFWR QmR
pode ter um abscesso... Uma doença é algo que a gente tem, comportamento
p DOJR TXH D JHQWH ID]´ &RPR WRGRV RV FULWpULRV DSRQWDGRV DFLPD HVWH
também é bastante questionado.
E a discussão se HVWHQGHGLDQWHGRVHUSRUWDGRUGHDOJR³XPDGRHQoDpDOJR
TXHDJHQWHWHP´VHID]QHFHVViULRDQDOLVDUVHH[LVWHXPDHVFROKD- se ter ou
³SRUWDU´ DOJR TXH VHMD SUHMXGLFLDO HP WRGRV RV GRPtQLRV IDPLOLDU WUDEDOKR H
social, é passível de escolha.
Mais que critérios determinados para se diagnosticar o que é normal ou
patológico, sadio ou doente, deve-se necessariamente adotar uma atitude em
favor da vida, da individualidade humana e perceber que o que realmente
importa é como cada indivíduo se comporta diante do adoecer, como adere a
tratamento e a terapia e/ou quais comportamentos levam ao adoecer, as
causas do mesmo.
Outro ponto importante a ser destacado no processo terapêutico dos
transtornos mentais é a família. Uma família pode desestruturar-se quando um
de seus membros adoece. Sabendo que, qualquer adoecimento altera a
dinâmica familiar, as implicações do adoecimento mental apresentam-se mais
degradantes, pois podem romper barreiras e atingir contextos extra-familiares,
o trabalho e a rede social, por exemplo, trazendo muitas vezes preconceito,
isolamento, despersonalização e rótulo.
O desenvolvimento do tema foi dividido em quatro capítulos, o primeiro
apresentará algumas definições de transtorno, distúrbio, características, tipos
mais frequentes e implicações na vida cotidiana de pessoas acometidas pelo
adoecimento mental (psíquico).
O segundo capítulo apresentará através de revisão bibliográfica a definição e
uso da Equoterapia, indicações, contra-indicações, tipos e programas de
Equoterapia, equitação e movimento tridimensional.
No terceiro capítulo, a Equoterapia e a Psicologia, será elucidado pela atuação
do psicólogo na Equoterapia e como a mesma se manifesta como grande
aliada na Reabilitação Psicossocial do Praticante acometido de doença mental,
seus principais benefícios como tratamento de diversos males do corpo e da
mente associada à Terapia Cognitiva Comportamental.
No quarto capítulo serão apresentados aspectos neurobiológicos da
Equoterapia. Serão também abordadas as possibilidades de confluência dos
aspectos
Neurocientíficos
das
emoções
na
Equoterapia
e
como
a
Farmacoterapia e a Neurociência podem contribuir para uma melhor qualidade
de vida ao praticante de Equoterapia com algum tipo de adoecimento psíquico.
Através de evidências clínicas, será possível uma análise qualitativa de
melhoria da qualidade de vida dessas pessoas e das possibilidades de
alcançar bem estar psicossocial com o auxílio do cavalo e da equipe
multidisciplinar envolvida na Equoterapia.
E por fim, apresentar algumas considerações que se pretende com este
trabalho, especialmente evidenciar as possibilidades de um contexto e equipe
multidisciplinar voltada para um atendimento individualizado, personalizado,
mais humanitário, buscando meios de amenizar o sofrimento humano.
1. Adoecimento Mental: um breve panorama e implicações
Este primeiro capítulo será ilustrado pela definição de Transtorno, Distúrbio,
Adoecimento mental e suas implicações na vida cotidiana das pessoas.
Toda doença mental, pode ser considerada potencialmente grave em função
dos impactos lesivos na vida dos pacientes, afetando não só o organismo do
doente, mas estendendo-se à família, que se desestrutura diante do
inexplicável; ao trabalho, gerando prejuízos na produtividade profissional ou
desemprego; e a rede social, através do preconceito e isolamento.
³'DGRVGD2UJDQL]DomR0XQGLDOGH6D~GHDLQGDQDGpFDGDGH
evidenciaram que o Transtorno Bipolar (por exemplo) foi a sexta
PDLRU FDXVD GH LQFDSDFLWDomR QR PXQGR´ $%7%ï - Associação
Brasileira de Transtorno Bipolar)
Ainda segundo a Organização Mundial de Saúde, observando o crescente
adoecer psíquico é possível estimar que um quarto da população mundial
desenvolva distúrbios psíquicos no decorrer da vida.
Mas afinal o que é Transtorno? O que é Distúrbio? O que é Doença Mental?
De acordo com o dicionário Larousse (2006, vol.23, p.2597), o significado literal
de Transtorno é;
³DWRRXHIHLWRGHWUDQVWRUQDU´HWUDQVWRUQDUVHJXQGRDPHVPDIRQWHp
³DOWHUDU UHYLUDU D RUGHP desorganizar, causar problemas a;
atrapalhar, perturbar; tornar diferente do que era, transformar,
corromper moralmente, desencaminhar, levar a ou perder o equilíbrio,
desorientar (-se), perturbar (-se), deixar ou ficar com expressões
diferentes, desfigurar (-VH´
-i D GHILQLomR GH 'LVW~UELR p ³DOJR TXH SHUWXUED FRQIXVmR LQTXLHWDomR
UHEHOLmRWXPXOWRSHUWXUEDomRHPDOJXPDIXQomRRUJkQLFDGRHQoD´/DURXVVH
2006, vol.8, p.873)
Como já citado, o conceito de saúde é abrangente, porém o conceito literal de
doença é bem simples, segundo o dicionário Larousse (2006, vol.8, p.877),
GRHQoDp³DOWHUDomRQDVD~GHGRVVHUHVYLYRVPROpVWLDHQIHUPLGDGHmal´
Diante desses conceitos, surge então uma outra questão: O que é Saúde
Mental?
Segundo a ADEB ± Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares
(Portugal), Saúde Menal é;
³VHQWLUPR-nos bem conosco próprios e na relação com os outros. É
sermos capazes de lidar de forma positiva com as adversidades. É
termos confiança e não temermos o futuro. Mente sã em corpo são! A
saúde mental e a saúde física são duas vertentes fundamentais e
LQGLVVRFLiYHLVGDVD~GH´
Através da análise desses conceitos é possível compreender o que representa
a doença mental, ou como a ausência da saúde mental irá operar no sujeito.
O adoecer mental manifesta-se principalmente no pensamento, na percepção,
na linguagem e na cognição. E está associado a um alto grau de sofrimento,
tanto do paciente, quanto de seus familiares e amigos. As mudanças no humor,
na personalidade, no pensamento e nos comportamentos acarretam em fortes
efeitos nos relacionamentos interpessoais, desajustes familiares, no trabalho e
com amigos. Por esse motivo, afirma a ABTB (Associação Brasileira de
Transtorno Bipolar) o índice de mortalidade é bastante elevado, sendo o
suicídio a causa mais freqüente de morte, especialmente entre os jovens.
Não há uma causa específica, nem um único fator que determine o
adoecimento, sua etiologia é multifatorial, como também a variedade de
transtornos, distúrbios ou perturbações mentais e por isso, pode se manifestar
através da vulnerabilidade genética e biológica, geralmente desencadeada
quando a pessoa é submetida a estressores físicos, sociais e psicológicos, ou
fatores inexplicáveis, sem nenhuma justificativa aparente. (KEILA, 1999, p 107)
O diagnóstico e o tratamento são bastante complexos, freqüentemente há
diagnósticos inadequados, e a troca de medicação é uma constante, o que
dificulta a adesão ao mesmo.
O tratamento deve ser basicamente medicamentoso, mas o tratamento não é
razoavelmente satisfatório se for somente através do fármaco, ele sozinho, é
insuficiente para combater os efeitos físicos e psicológicos trazidos pela
doença. (KEILA,1999, p 107). Deve-se ainda ressaltar que os tratamentos e
efeitos detalhados dos fármacos não são a finalidade deste trabalho, embora a
sua associação a uma psicoterapia sim.
A compreensão dos aspectos psicológicos do adoecimento mental e as
peculiaridades de cada indivíduo são de fundamental importância. E hoje, com
o avanço dos estudos psicológicos, neurocientíficos e das terapias alternativas;
é possível acrescentar outras abordagens ao tratamento, como por exemplo, a
que será apresentada neste trabalho: A Equoterapia, que atenta ao
desenvolvimento biopisicossocial do praticante. Consta no capítulo seguinte
desta pesquisa um aprofundamento da Equoterapia e seus benefícios físicos,
psicológicos, educacionais e sociais ao praticante.
De acordo com Del Porto (Dep. Psiquiatria/UNIFESP/EPM, 1999, p. 06) ³R
diagnóstico (...) deve ser feito com base na história pessoal e familiar do
SDFLHQWH´
E o mais importante segundo KEILA (1999, p 108), é considerar o grau de
sofrimento do paciente, sua interpretação subjetiva do problema e o sentido
que ele confere ao seu sofrimento. Esse processo se fará através da adição
medicamentosa com a psicoterapia e com objetivos bem traçados buscando a
diminuição dos sintomas e a melhora da qualidade de vida das pessoas
envolvidas neste círculo de adoecimento.
Como já citado, o adoecer mental é de etiologia multifatorial, e muitas vezes
sem justificativa aparente, mas ainda de acordo com KEILA (1999), existem
alguns fatores que normalmente ou mais freqüentemente aparecem como
desencadeadores de adoecimento mental; que são:
Fatores como contratempos na vida (estresse), o uso de substâncias
psicoativas (por exemplo, estimulantes como cocaína e anfetaminas),
a privação de sono ou outra estimulação excessiva podem levar a um
desequilíbrio nos mecanismos que regulam o funcionamento do
cérebro. (KEILA, 1999, p.107)
De maneira geral ao longo da vida, qualquer pessoa pode ser afetada por
problemas de saúde mental, de maior ou menor gravidade.
Segundo a ADEB - Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares
(Portugal);
³algumas fases, como a entrada na escola, a adolescência, a
menopausa e o envelhecimento, ou acontecimentos e dificuldades,
tais como a perda de familiar próximo, o divórcio, o desemprego e a
SREUH]D SRGHP VHU FDXVD GH SHUWXUEDo}HV GD VD~GH PHQWDO´ 6LWH
ADEB)
Entre os problemas de saúde mental citados pela ADEB, os mais freqüentes
estão:
x
x
x
x
x
x
x
Ansiedade / Pânico
Mal-estar psicológico ou stress continuado
Depressão
Dependência de álcool e outras drogas
Perturbações psicóticas, como a esquizofrenia
Atraso mental
Demências
A Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares (ADEB) estima
que em ³cada 100 pessoas 30 sofram, ou venham a sofrer, num ou noutro
momento da vida, de problemas de saúde mental e que cerca de 12 tenham
uma doença mental grave´VLWH$'(%
Na maioria dos casos, pessoas com qualquer tipo de adoecimento mental são
muitas vezes incompreendidas, estigmatizadas, excluídas ou marginalizadas,
devido a falsos conceitos, que devem ser esclarecidos e desmistificados, tais
como:
x
As doenças mentais são fruto da imaginação;
x
As doenças mentais não têm cura;
x
As pessoas com problemas mentais são pouco inteligentes,
preguiçosas, imprevisíveis ou perigosas. (Site ADEB)
Os mitos, o estigma e a discriminação associados à doença mental, provocam
vergonha e medo nos pacientes e em seus familiares, prejudicando o
tratamento e o reconhecimento dos primeiros sinais ou sintomas de doença.
Por isso se fazem necessário novas formas de compreender e tratar as
doenças mentais. Lançar nonos olhares para a loucura.
2. A Equoterapia
³>«@RPRWLYRSHORTXDORDGHVtramento tem ação tão benéfica sobre
as pessoas dotadas de razão é que aqui é o único lugar no mundo
onde é possível entender com o espírito e observar com os olhos a
limitação oportuna da ação e a exclusão de qualquer arbítrio e do
caso. Aqui homem e animal fundem-se num só ser de tal forma que
não saberia dizer qual dos dois está efetivamente adestrando o
RXWUR´
Göethe
Neste segundo capítulo será apresentado através de revisão bibliográfica, um
breve histórico sobre a Equoterapia. Definição, indicações, contra-indicações,
equipe e os programas de equoterapia, os tipos de andamento (principalmente
o passo), o movimento tridimensional e os principais benefícios do tratamento
para diversos males do corpo e da mente.
2.1 Na História:
Há muitos anos, a relação entre homem e cavalo intriga pelos destinos que os
uniram. Em toda história do homem é possível perceber essa parceria através
de lendas e reais conquistas.
Medeiros e Dias (2008) relatam que;
³$ UHODomR KRPHP-cavalo provavelmente se iniciou no paleolítico na
forma de uma coabitação, que resultou no domínio do homem sobre
a manada de cavalos e, mais tarde, evoluiu para a equitação, sendo
esta, sem dúvida, a tecnologia biológica mais complexa que a
KXPDQLGDGHGHVHQYROYHX´
A utilização do cavalo como forma de terapia aparece registrada com data de
458-370 ou 351 a.C., quando Hipócrates, cognominado Pai da medicina, fez
referência à equitação como fator regenerador da saúde, principalmente no
tratamento da insônia (Freire, 1999).
Asclepíades (124-40 a.C.), médico grego da Prússia, recomendava a equitação
para o tratamento da epilepsia e vários tipos de paralisia. De acordo com Uzun
(2005), indicava os movimentos do cavalo a pacientes caquéticos, epiléticos,
paralíticos, apopléticos, letárgicos, frenéticos, e também para acometidos de
febre terçã.
Galeno, em 130-199 d.C., como médico, enfatizava os benefícios da atividade
eqüestre, recomendando essa prática para o Imperador Romano Marco Aurélio
como forma de fazer com que ele imperasse com mais rapidez, visto que era
lento em suas decisões (Lermontov, 2004).
Em 1569, Mercurialis, também médico, cita uma observação de Galeno em sua
obra De arte gymnastica, de que a equitação ocupa uma posição de destaque
entre os exercícios e ginásticas, pois exercita não só o corpo, mas também os
sentidos. (Usun, 2005)
Também Thomas Syndehan (que foi capitão da cavalaria durante a guerra civil)
em 1676, em Observationes Medical realça que;
³DHTXLWDomRHUDDFRQVHOKDGDFRPRVHQGRWUDWDPHQWRLGHal até para
tuberculose, cólicas biliares e flatulências, chegava a emprestar seus
cavalos para pacientes sem recursos. Em 1681, indicava equoterapia
em seu livro Tratado sobre gota´
Francisco Fuller, em 1704, descrevia a prática eqüestre como um método para
o tratamento da hipocondria. (Uzun, 2005)
Já Charles S. Castel, inventou em 1734 uma cadeira vibratória, denominada
por ele de ³tremoussoir´TXHID]LDPRYLPHQWRVVLPLODUHVDRVGRFDYDOR8]XQ
2005). Sua intenção era obter os mesmos resultados adquiridos pela
equoterapia, porem diminuir os gastos com a manutenção de um cavalo e com
a construção de pistas cobertas para utilização em condições climáticas não
favoráveis a prática ao ar livre.
Em 1747, Samuel Theodor Quelmaz (Leipzig-Alemanha) também inventou uma
máquina eqüestre que imitava os efeitos induzidos pelo movimento do cavalo.
Em sua obra A saúde através da equitação, faz a primeira referência ao
movimento tridimensional do dorso do animal. (Usun, 2005)
Através da observação dos militares, John Pringle, em 1752, descreveu que os
soldados que combatiam a pé eram mais atingidos por doenças epidêmicas do
que aqueles que combatiam a cavalo. (Usun, 2005)
De acordo com Usun (2005), Giuseppe Benvenutti (médico das termas dos
Banhos de Luccana Itália), em 1772;
³GHGLFRXVHXOLYURD6LJLVPXQGR&KLJLSUtQFLSHGH)DUQHWDGHVHMDQGR
µrestabelecimento da saúde com esta prática¶ e em as Reflexões
acerca dos efeitos do movimento a cavalo escreve que a equitação
mantém o corpo são e promove diferentes funções orgânicas, numa
DWLYDIXQomRWHUDSrXWLFD´(Uzun, 2005)
Joseph C. Tissot (1782) enumerava os efeitos benéficos da equitação, foi o
primeiro a citar as contra-indicações. Ilustra diferentes efeitos dos andamentos
e considera o passo como sendo o ideal para a prática equoterápica. Uzun,
2005)
Segundo Freire (1999), Göethe (Johann Wolfgang von Göethe, 1749-1832),
escritor, poeta, cientista e filósofo alemão (autor da epígrafe deste capítulo),
cavalgava diariamente e reconhecia o valor salutar das oscilações do corpo
acompanhando os movimentos do animal, a distensão benéfica da coluna
vertebral e o estímulo delicado e constante feito à circulação sangüínea.
Gustavo Zander, sueco, em 1890, afirmava que as vibrações, transmitidas ao
cérebro com 180 oscilações por minuto, estimulavam o sistema nervoso
simpático.
Em 1984, quase 100 anos depois, o médico e professor Dr. Detlvev Rieder, da
Alemanha,
mediu
essas
vibrações
sobre
o
dorso
do
cavalo
e,
coincidentemente, estas corresponderam aos valores a que Zander fez
referência (Cirilo, 2006)
A primeira aplicação em contexto hospitalar se deu em 1901, no Hospital
Ortopédico de Oswentry, na Inglaterra.
Em 1917 foi fundado o primeiro grupo de Equoterapia, com o objetivo de
atender os feridos da Primeira Guerra Mundial. A idéia era proporcionar o lazer
e a quebra de monotonia do tratamento, no Hospital Universitário de Oxford
(Lermontov, 2004).
Segundo Medeiros e Dias (2002), com o término da Primeira Guerra Mundial o
cavalo entrou definitivamente na área da reabilitação, sendo empregado como
instrumento terapêutico nos soldados seqüelados do pós-guerra.
Em 1952 e 1956, Liz Hartel, provou ao mundo a eficiência da equoterapia
conquistando nas Olimpíadas desses anos, a medalha de prata na modalidade
adestramento, mesmo precisando de ajuda para montar, devido as seqüelas da
poliomielite. (Uzun, 2005)
Na França, em 1963, surge a Reeducação Equestre, com o manual de
Delubersac e Lalleri, com introdução intitulada A reeducação através da
equitação. Outra obra é a de Kililea, De Karen com amor, é a história de uma
jovem deficiente reeducada com a equitação e a natação. Essa reeducação se
afirma rapidamente na França com a possibilidade de o deficiente recuperar e
valorizar suas potencialidades.
A isso se deve o fato de em 1965, a Universidade de Salpetrière (França)
incluir a Equoterapia como matéria didática.
Segundo Medeiros e Dias (2008), atualmente a equoterapia é praticada em
mais de trinta países, a maioria com suas associações, a primeira, na
Inglaterra, foi a RDA (Riding for Disable Association), criada em 1968.
1969 foi o ano da realização do primeiro trabalho científico de reeducação
eqüestre no Centro Hospitalar Universitário de Salpetrière, Paris. (Uzun, 2005)
Também em 1969, foi criada a NARHA (North American Riding for the
Handicapeed Association), e é o mais importante centro de referência para
equitação de deficientes dos EUA e do Canadá. (Medeiros e Dias, 2008)
Em 1970, foi criada a ANDRE (Association Nationale de Reeducation par
/¶(TXLWDWLRQQD)UDQoD0HGHLURVH'LDV
Então, em 1971 chegam ao Brasil as primeiras experiências na área, trazidas
por Elly Kogler e Gabriele B. Walter, fisioterapeutas (Uzun, 2005).
Em 1972, Dr. Collete Picart Trintelin, apresenta a primeira tese de doutorado
sobre equoterapia, em medicina, na Universidade de Paris. (Uzun, 2005)
A partir de 1974, começam a surgir os Congressos Internacionais sobre
equoterapia. (Uzun, 2005)
Em 1977, na Itália surge a ANIERE (Associação Nacional Italiana de
Reeducação Eqüestre). (Medeiros e Dias, 2008)
Na Bélgica em 1980, foi fundada a FRDI (Federation of Riding for the Disabled
International), entidade internacional voltada para a Equoterapia. (Medeiros e
Dias, 2008)
Nove anos depois, em 1989, é fundada a ANDE-Brasil (Associação Nacional
de Equoterapia- Brasil), localizada na Granja do Torto em Brasília- Distrito
Federal. (Medeiros e Dias, 2008)
No dia 09 de Abril de 1997, ocorre a oficialização da Equoterapia como Método
Terapêutico de Reabilitação Motora, pelo Conselho Federal de Medicina, por
meio do parecer número 06/97.
Em 1999 foi realizado o primeiro Congresso Brasileiro de Equoterapia. E em
2002 o segundo.
No ano de 2000, o Congresso Internacional de Equoterapia já estava em sua
décima edição, e foi realizado na França. Uzun, 2005)
Já em 2004, ocorreu o I Congresso Ibero-Americano de Equoterapia e o III
Congresso Brasileiro de Equoterapia, em Salvador, Bahia.
Em 2006, pela primeira vez no Brasil, foi realizado o XII International Congress
of Therapeutic Riding, em Brasília-DF.
Os congressos mostram que a área de Equoterapia está se desenvolvendo de
forma surpreendente e tende a se sobressair muito mais.
Analisando esse histórico desde as descobertas longínquas sobre a utilização
do cavalo como um instrumento terapêutico, observa-se a importância desse
método para a ciência, uma vez que origens remotas denotam força e solidez
para descobertas recentes.
"Os destinos do cavalo e do homem são inseparáveis. É conhecido e
admirado o valor do cavalo na vida do homem e o quanto tem sido útil
no progresso da humanidade associado à nossa evolução. O cavalo
foi utilizado como meio de conquista, de imigração, de transporte, de
trabalho, de veneração e de crença, na mitologia, na fabricação de
soro e vacina, no lazer e no esporte. Hoje lhe é dado um grande
destaque como instrumento de reabilitação e educaçãR´
DEUTSCHES KURTORIUM, 1998, p.6 apud UZUN, 2005)
2.2 Definição, indicações e contra-indicações
³A palavra EQUOTERAPIA foi criada pela ANDE-BRASIL para
caracterizar todas as práticas que utilizem o cavalo com técnicas de
equitação e atividades eqüestres, objetivando a reabilitação e, ou,
educação de pessoas portadoras de deficiência ou necessidades
HVSHFLDLV´ (WALTER e VENDRAMINI, 2000, p.7)
A criação deste termo pela ANDE-BRASIL (Associação Nacional de
Equoterapia), está abalizada em três intenções.
De acordo com WALTER e VENDRAMINI (2000, p.7);
x A primeira, homenagear a nossa língua mãe ± o latim ± adotando o
radical EQUO que vem de EQUUS. (...)
x A segunda, homenagear o pai da medicina ocidental, o grego
HIPÓCRATES de LOO (458 a 377 a.C.) que, QR VHX OLYUR ³'$6
',(7$6´, já aconselhava a prática eqüestre para regenerar a saúde,
preservar o corpo humano de muitas doenças e no tratamento de
insônia e mencionava que a prática eqüestre, ao ar livre, faz com que
os cavaleiros melhorem seu tônus. Por isso, adotou-se TERAPIA que
vem do grego THERAPEIA, parte da medicina que trata da aplicação
de conhecimento técnico-científico no campo da reabilitação e
reeducação;
x A terceira foi estratégica: quem utilizasse a palavra EQUOTERAPIA,
totalmente desconhecida até então, estaria engajado nos princípios e
normas fundamentais que norteiam esta prática no Brasil, o que
facilitaria o reconhecimento do método terapêutico pelos órgãos
competentes.
A palavra Equoterapia está registrada no Instituto Nacional da Propriedade
Industrial ± INPI, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, com
o Certificado de Registro de marca n.º 819392529, de 26 de julho de 1999.
(ANDE-BRASIL)
De acordo com o conceito da ANDE-BRASIL, EQUOTERAPIA é um método
terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem
interdisciplinar, aplicadas nas áreas de saúde, educação e equitação,
buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou
com necessidades especiais.
Essas pessoas são chamadas dentro da prática de equoterapia de Praticante.
Este termo é utilizado para instituir a pessoa com deficiência e/ou com
necessidades especiais quando em atividades equoterápicas como sujeito do
processo, pois participa de sua reabilitação, na medida em que interage com o
cavalo.
Conceitos estes reconhecidos e aprovados pelo Conselho Federal de Medicina
desde 1997.
O Conselho Federal de Medicina (CFM), em Sessão Plenária de 9 de
abril de 1997, aprovou o Parecer 06/97, que diz: A Equoterapia tal
como conceitua a Associação Nacional de Equoterapia - ANDEBRASIL, é um método terapêutico que utiliza o cavalo dentro de uma
abordagem interdisciplinar aplicada nas áreas de saúde e educação,
buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com
necessidades especiais.
Tornando-se, portanto, a Equoterapia, pelo reconhecimento do CFM um
método a ser incorporado ao arsenal de métodos e técnicas direcionados aos
programas de reabilitação de pessoas com necessidades especiais. (ANDEBRASIL)
Pela estratégia traçada pela ANDE-BRASIL e dentro da legislação
brasileira, há necessidade de comprovação científica, feita por
profissionais brasileiros, e dentro do que prescreve a resolução n.º
196/96, do Conselho Nacional de Saúde, que trata das normas de
pesquisa envolvendo seres humanos.
Diz ainda o parecer que:
Os dados levantados nas pesquisas devem ser concentrados na
ANDE-BRASIL que, juntamente com a Sociedade Brasileira de
Medicina Física e Reabilitação, encaminhará ao CFM para avaliação
e posicionamento definitivo desta Casa.
Também a Divisão de Ensino Especial da Secretaria de Educação do Distrito
Federal, calçada nas pesquisas realizadas pela ANDE-BRASIL e pela
Secretaria, após anos de convênio, reconhece a equoterapia como um método
educacional que favorece a alfabetização, a socialização e o desenvolvimento
global dos alunos portadores de necessidades educativas especiais.
De acordo com a ANDE-BRASIL, a prática da Equoterapia deve ter objetivos
bem traçados na busca de benefícios biopsicossociais às pessoas com
deficiências físicas ou mentais e/ou com necessidades especiais, tais como:
‡ Lesões neuromotoras de origem encefálica ou medular;
‡ Patologias ortopédicas congênitas ou adquiridas por acidentes
diversos;
‡'isfunções sensório-motoras.
‡1ecessidades educativas especiais;
‡'istúrbios e ou Transtornos:
- evolutivos;
- comportamentais;
- de aprendizagem;
- emocionais.
E é biopsicossocial, pois suas principais áreas de aplicação são:
‡6aúde, para pessoas com deficiência física e/ou mental (PCD);
‡ (ducação, para pessoas com necessidades educativas especiais
(PNE) e outros;
‡6ocial, para pessoas com distúrbios evolutivos ou comportamentais.
Fig.1: Apostila do Curso Básico de Equoterapia/ Brasília/ 2010. ANDE-BRASIL
De acordo com Medeiros e Dias (2008), o campo de ação da Equoterapia é
bastante amplo, e está indicada para pessoas portadoras de deficiências
neuromotoras, como:
x
x
Encefalopatia crônica da Infância.
Déficits sensoriais.
x
Atraso maturativo.
x
Síndromes Neurológicas (Down, West, Rett, Soto, e outras)
x
Acidente Vascular Cerebral.
x
Traumatismo Cranioencefálico.
x
Seqüelas de processos inflamatórios do Sistema Nervoso
Central (Meningo-encefalite e encefalite)
x
Lesão raquimedular, entre outras. (Medeiros e Dias, 2008)
Também nos distúrbios neuropsíquicos como:
x
x
x
x
x
Autismo
Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade
Deficiência Mental
Alterações Comportamentais.
Entre outras. (Medeiros e Dias, 2008)
Ainda segundo as autoras, existem algumas contra-indicações relativas e
absolutas para a prática da Equoterapia. Dentre as relativas estão:
x Alergia ao pêlo do cavalo, quando houver intolerância por rinite
alérgica.
x Subluxação de quadril, na presença de dor e/ou dificuldade no
alinhamento postural.
x Hipertensão arterial, quando esta não for controlada.
x Medo excessivo, após tentativas de aproximação com insucesso.
x Atividade reflexa intensa, dificultando o posicionamento correto sobre
o animal.
x Alterações biomecânicas da cintura pélvica, como contraturas
musculares ou anquiloses articulares que impeçam o posicionamento
biomecânico correto na postura de montaria.
x Mielomeningocele, quando esta apresentar desalinhamentos
estruturais na coluna vertebral. (Medeiros e Dias, 2008)
As contra-indicações absolutas, segundo Medeiros e Dias (2008) são:
x Instabilidade atlatoaxial presente em crianças portadoras de
Síndrome de Down, podendo ocasionar lesão medular.
x Luxação de quadril pela descoaptação coxofemoral.
x Escoliose estrutural acima de 35 graus, por acentuar, com a
movimentação do cavalo, o grau da deformidade.
x Osteoporose, pelo risco de micro fraturas.
x Hérnia de disco, pela compressão discal.
x Cardiopatia grave, pela sobrecarga cardíaca.
x Insuficiência respiratória, pela possibilidade de diminuição da
saturação de oxigênio. (Medeiros e Dias, 2008)
2.3 Equipe Multidisciplinar e Programas de Equoterapia
O grande diferencial da Equoterapia é que tem por base o atendimento
interdisciplinar, vários profissionais voltados para um praticante, considerandoo como único em sua totalidade.
Segundo UZUN (2005), a equipe da Equoterapia pode contar com
Fisioterapeuta, Psicólogo, Pedagogo ou Psicopedagogo, Psicomotricista,
Fonoaudiólogo, Terapeuta Ocupacional, Educador Físico, Equipe Médica,
Auxiliar Guia, Auxiliar Lateral. Acrescento o Equitador e o Assistente Social.
Segundo a ANDE-BRASIL, a equipe deverá ser o mais ampla possível, mas fim
de filiação à Associação, a equipe deverá obrigatoriamente ser composta por
Fisioterapeuta, Psicólogo e instrutor de equitação, todos com habilitação em
curso específico de Equoterapia.
Essa equipe deverá se reunir semanalmente para reavaliar cada caso de forma
individualizada e assim se necessário, alterar o programa da prática
equoterápica. A equipe multiprofissional deve levar em consideração:
‡23URJUDPDDVHUH[HFXWDGR
‡$)LQDOLGDGHGRSURJUDma;
‡2V2EMHWLYRVDVHUHPDWLQJLGRV
Além é claro da individualidade de cada praticante, pois;
É sabido que cada indivíduo, com deficiência e/ou com necessidades
HVSHFLDLV WHP R VHX ³SHUILO´ R TXH R WRUQD ~QLFR ,VWR HYLGHQFLD D
necessidade de formular programas individualizados, que levem em
consideração as demandas daquele indivíduo, naquela determinada
fase de seu processo evolutivo. (WALTER e VENDRAMINI, 2000,
p.17)
Por isso a Equoterapia é aplicada por intermédio de programas individualizados
organizados de acordo com:
- As necessidades e potencialidades do praticante;
- A finalidade do programa;
- Os objetivos a serem alcançados, com duas ênfases:
‡ D SULPHLUD FRP LQWHQo}HV HVSHFLILFDPHQWH WHUDSrXWLFDV XWLOL]DQGR
técnicas que visem, principalmente, à reabilitação física e/ou mental;
‡DVHJXQGDFRPILQVHGXFDFLRQDLVHRXVRFLDLV com a aplicação de
técnicas pedagógicas aliadas às terapêuticas, visando à integração
ou reintegração sócio-familiar. (ANDE-BRASIL)
Os Programas de Equoterapia podem ser:
x
Programas de Reabilitação para pessoas portadoras de deficiência física
e /ou mental;
x
Programa de Educação para pessoas com necessidades educativas
especiais e outros;
x
Programas sócio-educativos para pessoas com distúrbios evolutivos ou
comportamentais.
Para abarcar os programas acima a ANDE-BRASIL os qualificou como
Programas Básicos de Equoterapia, que são:
‡+LSRWHUDSLD
‡(GXFDomR5HHGXFDomR
‡3Up-esportivo
‡3UiWLFD(VSRUWLYD3DUDHTHVWUH
Embora o detalhamento dos programas de Equoterapia não seja o foco
principal deste trabalho, segue abaixo uma descrição detalhada dos objetivos e
ações de cada um, para melhor entendimento das técnicas. A descrição abaixo
foi transcrita da Apostila do Curso Básico de Equoterapia realizado em
dezembro de 2010, na sede da ANDE-BRASIL.
Programa de Hipoterapia (ANDE-BRASIL, 2010)
Programa essencialmente da área de saúde, voltado para as pessoas com
deficiência física e/ou mental; é chamado em várias partes do mundo de
hipoterapia; a ANDE-BRASIL também adota tal nome para este programa da
Equoterapia.
Neste caso o praticante não tem condições físicas e/ou mentais para se manter
sozinho a cavalo. Portanto, não pratica equitação.
Necessita de um auxiliar-guia para conduzir o cavalo. Na maioria dos casos,
também do auxiliar lateral para mantê-lo montado, dando-lhe segurança.
A ênfase das ações é dos profissionais da área de saúde, precisando, portanto,
de um terapeuta ou mediador, a pé ou montado, para a execução dos
exercícios programados.
O cavalo é usado principalmente como instrumento cinesioterapêutico. (ANDEBRASIL/2010)
Programa de Educação/Reeducação (ANDE-BRASIL, 2010)
Este programa pode ser aplicado tanto na área de saúde quanto na de
educação/reeducação.
Neste caso o praticante tem condições de exercer alguma atuação sobre o
cavalo e pode até conduzi-lo, dependendo em menor grau do auxiliar-guia e do
auxiliar lateral.
A ação dos profissionais de equitação tem mais intensidade, embora os
exercícios devam ser programados por toda a equipe, segundo os objetivos a
serem alcançados.
O cavalo continua propiciando benefícios pelo seu movimento tridimensional e
multidirecional e o praticante passa a interagir com o animal e o meio com
intensidade. Ainda não pratica equitação e/ou hipismo.
O cavalo atua como agente pedagógico. (ANDE-BRASIL/2010)
Programa Pré-esportivo (ANDE-BRASIL, 2010)
Também pode ser aplicado nas áreas de saúde ou educativa.
O praticante tem boas condições para atuar e conduzir o cavalo e embora não
pratique equitação, pode participar de pequenos exercícios específicos de
hipismo, programados pela equipe.
A ação do profissional de equitação é mais intensa, necessitando, contudo, da
orientação dos profissionais das áreas de saúde e educação.
O praticante exerce maior influência sobre o cavalo.
O cavalo é utilizado principalmente como agente de inserção social. (ANDEBRASIL/2010)
Programa Prática Esportiva Paraeqüestre (ANDE-BRASIL, 2010)
Após quinze anos de institucionalização da ANDE-BRASIL, já tendo apoiado
competições Paraolímpicas e o aparecimento da atividade chamada de
Hipismo Adaptado, resolveu criar o Programa Prática Esportiva Paraeqüestre.
Depois do Programa Pré-esportivo, que já tem um sentido de inserção social,
abre
o
caminho
para
o
PROGRAMA
PRÁTICA
ESPORTIVA
PARAEQÜESTRE.
Este programa tem como finalidade preparar a pessoa com deficiência para
competições paraeqüestres com os seguintes objetivos:
x
Prazer pelo esporte enquanto estimulador de efeitos terapêuticos;
x
Melhoria da auto-estima, autoconfiança e da qualidade de vida;
x
Inserção social;
x
Preparar atletas de alta performance.
Este programa abre caminho para competições paraeqüestres tais como:
- HIPÍSMO ADAPTADO modalidade de competição, dentro de um conceito
festivo, adaptada ao praticante de equoterapia, normatizada, coordenada, em
âmbito nacional pela Associação Nacional de Desportes para Deficientes e que
já realiza competições desta modalidade.
- PARAOLIMPÍADAS organizadas paralelamente às Olimpíadas e que se
destinam às pessoas com deficiência física. Nela, os atletas competem em
SURYDV ROtPSLFDV HP SDUWLFXODU QR ³DGHVWUDPHQWR SDUDROtPSLFR´ É regulada
pela Federação Eqüestre Internacional (FEI) e no Brasil pela Confederação
Brasileira de Hipismo (C-BH), em parceria com o Comitê Paraolímpico
Brasileiro.
- OLIMPÍADAS ESPECIAIS, criada para pessoas com deficiência mental que
buscam somente a participação e não a alta performance. Esta modalidade
está sendo regulamentada pela SPECIAL OLYMPICS BRASIL.
- VOLTEIO EQÜESTRE ADAPTADO, são exercícios realizados sobre o cavalo
que se movimenta em círculos, conduzido por um cavaleiro por intermédio de
XPD ³JXLD ORQJD´ 'HYHUi VHU UHJXODPHQWDGR SHOD )(, WRUQDQGR-se, portanto,
mais
uma
modalidade
provavelmente
terá
um
Paraolímpica.
progresso
O
bem
Volteio
maior
Eqüestre
que
o
Adaptado,
Adestramento
Paraolímpico, pelos seguintes motivos:
‡ SRGHUi VHU SUDWLFDGR LQGLYLGXDOPHQWH HP GXSla e o mais importante, em
equipe;
‡DXWLOL]DomRGHXPPHVPRFDYDORSRUYiULDVHTXLSHVWRUQDQGRDFRPSHWLomR
mais fácil de organizar e mais econômica em relação ao Adestramento;
‡ R QXPHUR GH DWOHWDV EHQHILFLDGRV SHOD FRPSHWLomR VHUi EHP PDLRU
reforçando os conceitos de colaboração, respeito e espírito de equipe. (ANDEBRASIL, 2010)
Toda atividade equoterápica deve se basear em fundamentos e normas
fundamentais que norteiam e caracterizam a Equoterapia.
Segundo WALTER e VENDRAMINI (2000) esses princípios e normas são:
x
x
x
x
x
x
x
x
Embasamento técnico-científico;
Atendimento Equoterápico de diagnóstico, indicação médica e
avaliação por profissionais das áreas de saúde, educação e equitação,
a fim de planejar um atendimento personalizado;
Execução equoterápica, feita por equipe interdisciplinar, a mais ampla
possível;
Avaliação e controle sistemático da evolução do praticante;
Respeito à ética;
Filantropia;
Segurança física dos praticantes;
Atenção às normas de seguridade.
Discorrendo sobre as normas e princípios acima, a ANDE-BRASIL constitui
que:
x
O atendimento equoterápico deve ser iniciado mediante parecer
favorável em avaliação médica, psicológica e fisioterápica.
x
As atividades equoterápicas devem ser desenvolvidas por equipe
multiprofissional com atuação interdisciplinar, que envolva o maior
número possível de áreas profissionais nos campos da saúde,
educação e equitação.
x
As sessões de equoterapia podem ser realizadas em grupo, porém o
planejamento e o acompanhamento devem ser individualizados.
x
Para acompanhar a evolução do trabalho e avaliar os resultados
obtidos, deve haver registros periódicos e sistemáticos das atividades
desenvolvidas com os praticantes.
x
A ética profissional e a preservação da imagem dos cidadãos
praticantes de equoterapia devem ser constantemente observadas.
x
O atendimento equoterápico tem que ter um componente de filantropia
para que possa, também, atingir classes sociais menos favorecidas, a
fim de não se constituir em atividade elitizada.
x
A segurança física do praticante deve ser uma preocupação constante
de toda a equipe, com vistas, particularmente:
‡ DR FRPSRUWDPHQWR H DWLWXGHV KDELWXDLV GR FDvalo e às circunstâncias que
podem vir a modificá-los, como por exemplo, uma bola arremessada ou um
tecido esvoaçando, nas proximidades do animal;
‡ DR HTXLSDPHQWR GH PRQWDULD SDUWLFXODUPHQWH FRUUHLDV SUHVLOKDV HVWULERV
sela e manta;
‡ j YHVWLPHQWD Go praticante, principalmente nos itens que podem trazer
desconforto ou riscos à segurança;
‡DRORFDOGDVVHVV}HVRQGHSRVVDPRFRUUHUSRUexemplo, ruídos anormais que
venham assustar os animais.
2.4 Sobre Equitação
De acordo com a ANDE-BRASIL, Equitação é a arte de montar a cavalo,
adestrá-lo e prepará-lo para as diversas atividades em que pode ser utilizado e
é baseada em doutrina consagrada em todo o mundo.
Todo esporte proporciona ao praticante: atividade física, destreza, robustez e
qualidades morais.
A equitação desenvolve com mais harmonia estas qualidades e ainda o
equilíbrio, a coordenação motora, a agilidade, a destreza; dá um sentimento de
força física e faz aumentar a autoconfiança; aumenta a vontade, o espírito de
decisão, a iniciativa e a resolução. O adestramento do cavalo desenvolve no
cavaleiro a tenacidade, a perseverança, a calma e o domínio de si mesmo.
Por tudo que foi dito acima, a equitação, além de ser uma prática esportiva
salutar, pode constituir-se em importante instrumento de educação e formação
do caráter dos jovens, desde que ministrada de forma didático-pedagógica e
por instrutor credenciado.
A equitação praticada por pessoa com deficiência física e/ou sensorial, sem
contra-indicação médica, busca tão somente o efeito lúdico, isto é, prazer e
esporte, como estimuladores de efeitos terapêuticos, ou seja, melhorar a
qualidade de vida e saúde, sua inserção social e o bem estar, um exemplo é a
dinamarquesa Elisabeth Hartel, medalha olímpica de prata duas vezes.
Países com grande tradição na equitação iniciaram a prática da equitação para
pessoas com deficiência com sessões ministradas por instrutores de equitação
especializados, que denominaram a atividade de equitação terapêutica
(therapeutic riding).
Na medida em que se aprofundaram nesta prática, através da experiência
adquirida,
de
pesquisas
e
participação
em
reuniões
e
congressos
internacionais, foram ampliando a utilização do cavalo como instrumento
cinesioterapêutico, abrangendo patologias mais graves e abarcando, também,
problemas mentais. Não é, portanto, um tratamento de reabilitação física. É um
tratamento de reabilitação BIOPSICOSSOCIAL.
2.5 O Movimento Tridimensional
³DQGDUVHPSHUQDV´
Strauss, 2000 apud UZUN, 2005
Sigmund Freud (1856-1939) recomendava o cavalo para os casos de histeria e
de insônia. E sobre o movimento do cavalo citou: ³eR~QLFRPRYLPHQWRTXHVH
assemelha ao mRYLPHQWRGR~WHURPDWHUQR´
Esse movimento ritimado, cadenciado, compassado e preciso recebeu o nome
de Movimento Tridimensional do Cavalo.
Ao caminhar o cavalo se desloca para frente e para trás, para a esquerda e
para a direita, e para cima e para baixo, simultaneamente, e esse movimento
pode ser comparado com a ação da pelve humana no andar, permitindo a todo
instante
entradas
sensoriais
em
forma
de
propriocepção
profunda,
estimulações vestibular, olfativa, visual, auditiva e cinestésica. (Lermontov,
2004)
Dessa forma o praticante da equoterapia acompanha os movimentos do
cavalo, tendo que manter o equilíbrio e coordenação para movimentar
simultaneamente tronco, braços, ombros, cabeça e o restante do corpo, dentro
de seus limites.
O movimento tridimensional do cavalo provoca a todo o momento um
deslocamento do centro gravitacional do praticante, forçando-o a desenvolver
o equilíbrio, a normalização do tônus, o controle postural, a coordenação, a
redução de espasmos, respiração, e informações proprioceptivas, estimulando
não apenas o funcionamento de ângulos articulares, como o de músculos e
circulação sangüínea. (Lermontov, 2004)
O andamento do cavalo assemelha-se ao da marcha humana; passando ao
praticante três ondas vibratórias simultaneamente. Nenhum outro aparelho
mecânico consegue imitar esses movimentos.
Uzun (2005, p. 65 FKDPRX HVVH SURFHVVR GH ³'LiORJR GR 0RYLPHQWR
7HUDSrXWLFRHQWUHR6HU+XPDQRHR&DYDOR´
Segundo Strauss (2000 apud UZUN, 2005);
Quando o praticante está sentado corretamente sobre o cavalo,
sendo sua base o assento em contato com o dorso animal, acontece
o estímulo do equilíbrio da pelve, coluna e cabeça. Durante o passo
do cavalo, essa estimulação é transmitida pelos movimentos
multidirecional e multiespacial, tendo-se como resposta, por parte do
paciente, um movimento Antero-posterior em cima de um eixo frontaltransversal, sendo a pelve impulsionada para uma flexão e extensão
num movimento rítmico.
Além do movimento tridimensional, o praticante recebe também estímulos do
ambiente, pois a Equoterapia é uma atividade realizada normalmente ao ar
livre, em locais abertos, cercados da natureza. São os mais diversos estímulos
possíveis, auditivos, olfativos, visuais, táteis, sensoriais, etc.
Portanto, pode-se concluir que o movimento tridimensional do cavalo,
proporciona ao praticante estímulos biopsicossociais, Strauss (2000, apud
UZUN, 2005) ainda acrescenta que esse movimento vivenciado pelo praticante
VREUHRDQLPDOVHULDFRPRXP³DQGDUVHPSHUQDV´ pois o cavalo caminha pelo
praticante.
Figura 2.
Movimento tridimensional. 1º estimulação infra-superior; 2º
estimulação
antero-posterior;
PIEROBON, 2005)
3º
estimulação
látero
-
lateral.
(Fonte:
3. Equoterapia e Psicologia: 8PµPasso¶ em busca do bem estar psíquico
³$ORXFXUDWHPPXLWDVIDFHVHQmRKiXPDGHVFULomR~QLFDGHVVH
estado mental que causa medo, aversão e ± não raro ± IDFtQLR´
(Paulus, 2010)
Neste terceiro capítulo; Equoterapia e Psicologia: Um ³Passo´ em busca do
bem estar psíquico; será elucidado como a Equoterapia se manifesta como
grande aliada na Reabilitação Psicossocial do Praticante acometido de doença
mental, e os principais benefícios da Equoterapia como tratamento de diversos
males do corpo e da mente associada à Terapia cognitivo-comportamental
enfatizando as bases psicológicas na Equoterapia.
É muito importante ressaltar que a Psicologia, vem gradativamente ampliando
seu campo de atuação, buscando cada vez mais recursos para a saúde, seu
objetivo é sempre o bem estar do indivíduo.
E o aumento dessa diversidade de recursos terapêuticos, amplia as condições
para o desenvolvimento, crescimento e melhoria na qualidade de vida das
pessoas.
Quando pensamos sobre a atuação do Psicólogo, normalmente nos vem à
mente um tratamento que ocorre individualmente, fechado entre quatro
paredes,
mitificado
ao
extremo,
ou
seja,
uma
relação
terapêutica
superestimada, elevada ao mito, e é exercida em sua maioria entre paciente e
terapeuta.
O grande diferencial da Equoterapia, além do uso do cavalo, é que o
atendimento ocorre de maneira interdisciplinar, isto é, há uma equipe de
profissionais das áreas de equitação, educação e saúde, envolvidos no
tratamento do praticante. Esse trabalho é um processo enriquecedor tanto para
a equipe quanto para o praticante, nele há parceria e troca de conhecimento de
profissionais de áreas diferentes, assim o indivíduo é visto como um todo e não
fragmentado com dificuldades específicas, ele torna-se Sujeito do tratamento.
Como em qualquer psicoterapia ou análise, a Equoterapia também se baseia
numa relação transferencial e aqui, essa relação se torna mais complexa, pois
na Equoterapia essa relação se constitui de forma triangular entre terapeuta,
praticante e o cavalo.
O trabalho lúdico e o ambiente, normalmente ao ar livre ou em pistas, o
acolhimento da equipe, a aproximação do cavalo, toda essa aceitação
incondicional proporcionarão ao indivíduo o acesso entre seu mundo
imaginário, pensamentos disfuncionais, automáticos, sonhos, e a realidade,
suas vivências e comportamentos.
Assim segundo ARLAQUE et al (1997), o cavalo emprega uma função de
intermediário entre o mundo intrapsíquico do praticante, composto de desejos,
fantasmas, angústias, e o mundo externo, ocupando o espaço lúdico do
praticante (LALLERY, 1988; HERZOG, 1989 apud ARLAQUE et al., 1997).
O psicólogo é um profissional indispensável para a formação de uma equipe de
Equoterapia, segundo a ANDE-BRASIL (2010), é ele quem irá estabelecer no
processo terapêutico, um vínculo de respeito, confiança recíproca, aceitação, e
afeto entre a equipe, cavalo e praticante.
Primeiramente ele fará a anamnese com a família ou próprio praticante, deverá
também analisar e avaliar a situação atual do praticante, bem como sua
condição de montar, acompanhar diretamente o trabalho de aproximação e
adaptação, cuidar da integridade do trabalho da equipe favorecendo o interrelacionamento dos profissionais envolvidos, entre outras funções.
Portanto de acordo com a ANDE-BRASIL (2010), o Psicólogo deve:
Em relação ao Praticante:
x
x
x
Prioriza o trabalho emocional, não esquecendo o ser global (fatores
biológicos, mentais e sociais);
Dar atenção a frustração, auto-estima, rejeição, carência afetiva,
criatividade, noção de espaço (no sentido da descoberta do próprio
EU e do seu espaço no mundo);
O Psicólogo deve sempre que necessário, intervir no sentido de atuar
para que haja melhor compreensão global do praticante, da família e
da equipe.
Em relação à Família:
x
Trabalha sentimentos advindos do fato de ter uma pessoa com
necessidade especial em casa: superproteção, rejeição, negação,
sempre com o objetivo de melhoria da Qualidade de Vida de todos.
Em relação à Equipe:
x
x
Traduz para toda a equipe o funcionamento mental do praticante e as
implicações e decorrências nos aspectos social, familiar e pessoal;
Junto à equipe, elabora o mais indicado plano de intervenções,
enfatizando a afetividade.
O cavalo foi citado na história da psicologia, por alguns autores de grande
eminência, entre eles se destacam segundo a ANDE-BRASIL:
Sigmund Freud (1856-1939):
Freud recomendava o cavalo para os casos de histeria e de insônia.
E sobre o movimento do cavalo citou: ³e o único movimento que se
DVVHPHOKDDRPRYLPHQWRGR~WHURPDWHUQR´
Carl Gustav Jung (1875-1961):
Nossa relação com o mundo é por meio de símbolos (arquétipos idéias).
Um dos símbolos arquetípicos mais fortes para a teoria jungiana é o
cavalo; ele evoca poder, força, autoridade e transmite em quem o
monta, a sensação de controle e domínio.
Donald Woolds Winnicott (1896- 1971):
Objeto transicional ± Cavalo (facilitador de novas condições, de novas
experiências)
A relação com um cavalo é de troca ± Formação de vínculo afetivo.
De acordo com a ANDE-BRASIL, podemos citar alguns benefícios da
Equoterapia do ponto de vista do Psicólogo:
x
x
x
x
x
x
x
x
Melhora da auto-estima e autoconfiança;
Sensação generalizada de bem estar;
Condições para desenvolver afetividade, vínculo;
Desenvolvimento psicomotor;
Aquisição de autonomia;
Estimulação de linguagem e de área sensório-perceptiva;
Socialização e autocontrole;
Re (inserção) social.
Para Carl Rogers (1977, apud Ramos, 2007, p.25), percussor da Psicologia
Humanista e Pai da Abordagem Centrada na Pessoa, propunha o seguinte ao
papel de terapeuta;
O terapeuta é a pessoa autêntica que realmente compreende as
vacilações e fraquezas do cliente e as aceita sem tentar negar ou
corrigi-las. Aceita, preza e valoriza o indivíduo todo, dando-lhe
incondicionalmente, a segurança e a estabilidade no relacionamento
de que ele precisa para correr o risco de explorar novos sentimentos,
atitudes e condutas. O terapeuta respeita a pessoa como ela é, com
seus anseios e medos, portanto, não lhe impõe critérios de como ela
deve ser. Acompanha-o no caminho que ela própria constrói, e
participa como elemento presente e ativo, deste processo de auto
criação, facilitando a percepção, a cada instante, dos recursos
pessoais e dos rumos deste caminho, tais como a pessoa os
vivencia.
Segundo RAMOS (2007, p.25);
Na Equoterapia, o terapeuta também é um mediador, pois ele media
a interação do praticante com o cavalo, acompanhando-o em seu
processo evolutivo para que benefícios psíquicos, cognitivos e físicos
que se alcançam ali se estendam para outras áreas da sua vida.
A Psicologia tem obtido resultados consideráveis através da Equoterapia, o
apoio à família e analisados com base na se deve ao fato de utilizar o animal,
permitindo assim, trabalhar o afeto, a autonomia de ir e vir. As emoções e as
sensações provocadas por ele levam o indivíduo a um confronto consigo
mesmo, que é corporal e ao mesmo tempo psico-afetivo. É por meio de
vibrações corporais que o cavaleiro vivencia uma experiência que remete ao
seu mundo interior, construindo e realizando seu próprio bem estar, pelo viés
do cavalo, este seu outro eu (BRENTEGANI, 2004).
A Equoterapia admite várias possibilidades psicoterápicas, é possível utilizar
fundamentos
da
teoria
Psicanalítica,
Sistêmica,
Behaviorista,
Gestalt,
Existencial Humanista e também a que neste trabalho se dará maior ênfase, a
Teoria Cognitivo Comportamental, considerando que, não se pode abrir mão de
nenhuma outra, a TCC ± Teoria Cognitivo Comportamental, foi aqui eleita como
embasamento teórico em função das bases Neurobiológicas envolvidas na
Equoterapia.
Gongora (2003, p. 94), relata que alguns pesquisadores da década de 60,
iniciaram a então chamada Análise Comportamental Aplicada. O livro
³3HVTXLVDVVREUH0RGLILFDo}HVGH&RPSRUWDPHQWR´RUJDQL]DGRSRU8OOPDQQH
Krasner IRL XP PDUFR TXH OHYRX ³D XP HQWXVLDVPR TXDQWR jV
possibilidades de se resolver diversos problemas comportamentais com a
aplicação dos princípios básicos de Análise de Comportamento, também
GHQRPLQDGRV3ULQFtSLRVGH$SUHQGL]DJHP´
Fundamentados
noV SUHVVXSRVWRV GD ³WHRULD GD DSUHQGL]DJHP´ RV
behavioristas formularam uma crítica consistente ao conjunto de conceitos
médicos relativos às doenças mentais. E em substituição ao modelo médico
sugeriram um modelo alternativo para explicar aqueles mesmos fenômenos
comportamentais descritos pela psiquiatria como síndromes das doenças
mentais.
Esse modelo psicológico tem como pressuposto fundamental a idéia que todo
FRPSRUWDPHQWR DSUHQGLGR VHMD HOH ³SDWROyJLFR RX VDXGiYHO´ QRUPDO RX
anormal, desejável ou
indesejável, segue
os mesmos princípios
de
aprendizagem. Ullmann e Krasner (1975 apud *RQJRUDS³DILUPDP
que o comportamento patológico ou anormal não é diferente do comportamento
saudável ou normal em seu desenvolvimento, em sua manutenção ou maneira
HPTXHHOHSRGHVHUPXGDGR´
Ullmann e Krasner (1975, apud Gongora 2003, p.106), ainda apontam uma
importante possibilidade de análise de problemas clínicos; afirmando que:
´ JUDQGH SDUWH GRV FRPSRUWDPHQWRV FRQVLGHUDGRV VRFLDOPHQWH
indesejáveis, em uma perspectiva operante, podem ser avaliados
como disfuncionais ou desadaptativos. Isso significa que as pessoas
SRGHP VHU FRQVLGHUDGDV ³DQRUPDLV´ VLPSOHVPHQWH SRUTXH QmR
aprenderam certos comportamentos que se esperam delas, ou
porque aquilo que aprenderam não é eficaz em determinado
FRQWH[WR´
Desta forma, segundo o modelo psicológico defendido por Ullmann e Krasner
(1975, apud *RQJRUDS³DTXLORTXHWHPVLGRGHQRPLQDGR³VLQWRPD
GH GRHQoD PHQWDO´ SDUHFH IHQ{PHQR GH QDWXUH]D GLIHUHQWH de outras
patologias médicas, parece mais tratar-VHGHIHQ{PHQRGHQDWXUH]DVRFLDO´
Porém os mesmo autores reconhecem que esta mudança de interpretação das
doenças mentais não simplifica a questão, pelo contrário, revela sua
complexidade. Também ressalva-se que essa linha de pensamento não
minimiza a gravidade e a existência de tais problemas, nem assume dar conta
de tais comportamentos indesejáveis (ou transtornos) sozinhos. Mas abre
caminho para a discussão dos fatores psicológicos e sociais inseridos no
cotidiano dessas pessoas. Considera principalmente a individualidade do
homem e como ele responde ao seu ambiente físico, social e interpessoal,
experimentando e tentando alterá-lo.
Diante desta constatação, muito tem se tentado fazer para unir forças e buscar,
senão a cura, o estabelecimento de condições razoáveis de aceitação e
manutenção dos desconfortos trazidos pelo adoecimento mental. Neste
sentido, muito já se ganhou, hoje já existem equipes multidisciplinares e um
diálogo se faz constante entre as partes médica e psicológica, em tons de
respeito e busca constante de informações recíprocas.
Knapp e Isolan (2005, p. 99), em estudos sobre o transtorno bipolar por
exemplo, afirmam que ³KiHYLGrQFLDVFUHVFHQWHVTXHVXJHUHPTXe o curso do
transtorno SRGH VHU PRGLILFDGR SRU PHLR GH DERUGDJHQV SVLFRWHUiSLFDV´ (
continuam:
As abordagens psicoterápicas no tratamento do transtorno bipolar
têm por objetivos principalmente o aumento da adesão ao tratamento,
a redução dos sintomas residuais, a identificação de pródromos
sindrômicos
com
a
conseqüente
prevenção
das
recaídas/recorrências, a diminuição das taxas e períodos de
hospitalização e a melhora na qualidade de vida dos pacientes e de
seus familiares. Tais abordagens também podem aumentar o
funcionamento social e ocupacional desses pacientes e as
capacidades de manejarem situações estressantes em suas vidas.
Pode-se notar no discurso acima, que a psiquiatria adere e aprova os princípios
das abordagens psicoterápicas, levantando inclusive várias possibilidades de
ajuda vinda de diferentes modalidades de psicoterapia. E são muitas, das mais
diferentes abordagens teóricas, segundo Scheidhacker (1998):
As referencias psicoterapêuticas utilizadas possuem aspectos das
terapias voltadas para o corpo e ao movimento, terapias cognitivistas
e comportamentais, como também das terapias psicanalíticas ou as
chamadas psicoterapias profundas. (Scheidhacher, 1998, pág. 16 ±
tradução Ute Hesse,2009)
Porem neste trabalho foi eleito para exposição e aprofundamento a Terapia
Cognitivo Comportamental aplicada nas sessões de Equoterapia.
O surgimento do modelo cognitivo comportamental se deu a partir dos anos 50,
com os trabalhos de Albert Ellis e depois nos anos 60 com Aron T. Beck., tal
movimento teve seu início nos Estados Unidos, marcado pelo estudo dos
quadros
depressivos,
onde
³foram
identificados
alguns
aspectos
do
funcionamento das estruturas cognitivas, como os esquemas negativos, a
tríade FRJQLWLYDHDVGLVWRUo}HVFRJQLWLYDV´%(&.- Desde então vem
desempenhando importante papel tanto na formulação de novos modelos
etiológicos como para o tratamento de transtornos mentais. Até então era
chamada de terapia cognitiva (CT). (CORDIOLI; KNAPP, 2008, p. 51)
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) como é designada hoje, é mais
abrangente pelo fato de através de várias pesquisas ao longo dos anos, ter
incluído muitos fatores da teoria comportamental. A terapia cognitivocomportamental utiliza intervenções do modelo cognitivo, como técnicas
destinadas à correção de crenças e pensamentos disfuncionais e soma às
técnicas comportamentais da terapia comportamental como a exposição e o
uso de reforçadores, entre outras. (CORDIOLI; KNAPP, 2008, p. 52)
De acordo com Beck e Alford, (2000, apud Junior et al. 2003, p. 93):
³(...) a teoria cognitiva é uma teoria sobre o papel da cognição no
desenvolvimento, na manutenção, no tratamento e na prevenção de
transtornos clínicos. Cognição inclui toda a gama de variáveis
implicadas no processamento de informação e significado. No atual
contexto, significado refere-se à consciência de relações entre
FRPSRUWDPHQWRHFRQVHTrQFLDV´%HFN$OIRUGS
De acordo com a terapia cognitivo-comportamental os pensamentos e crenças
disfuncionais, não são apenas sintomas, mas importantes fatores que afetam o
modo de pensar da pessoa. (Neto et al., 2001, p. 278)
Para Neto et al., (2001, p. 278) o objetivo da terapia cognitivo comportamental
é; ³possibilitar ao indivíduo um novo hábito de pensar, ampliando sua
consciência, ajudando-o a interpretar a realidade de modo realista e justo e
colaborando para a reconstrução de seu sistema de crenças´.
De acordo com Hesse (2009), as pessoas que manifestam algum tipo de
transtorno com dificuldade de relacionamento,
³(...) possuem uma tendência a distorções da auto-imagem, complexo
de inferioridade e desejo de regressão a estágios primários. O cavalo
na proposta terapêutica, atua aqui como um elemento que possibilita
reforçar a personalidade fragilizada, proporcionando equilíbrio nos
aspectos narcisísticos da pessoa, pois o praticante projeta no cavalo
seu desejo de posse, beneficiando-se da imponência e da beleza do
animal.´
Neto et al., (2001, p. 278) ainda considera que quando a pessoa compreende
melhor suas emoções e pensamentos torna-se capaz de desenvolver uma
atitude mais eficiente para lidar com seus problemas e promover mudanças
mais duradouras e cônscias.
O foco da terapia cognitivo comportamental é dirigido para as
investigações de pensamentos e sentimentos do paciente, a pessoa
precisa primeiramente aprender a decompor seu raciocínio de forma
discriminativa, separando situação, sentimento e pensamento. (Neto
et al., 2001, p. 279)
Hesse (2009), ainda ressalta que na prática equoterápica;
O cavalo pode significar um objeto de projeção ou um meio de
catarse para os praticantes, no qual podem ser eliminadas excitações
nervosas e tensões. Os SUDWLFDQWHV PXLWDV YH]HV ³FRQIHVVDQGR-VH´
ao cavalo passam por uma descarga afetiva com lágrimas e cólera,
podendo obter certo alívio momentâneo. É possível registrar no
setting com o cavalo, o papel que este desempenha para os
praticantes na elaboração de certos conflitos. (Hesse, 2009)
³2VSHQVDPHQWRVDXWRPiWLFRVGLVIXQFLRQDLVVXUJHPDSDUWLUGHFUHQoDVDFHUFD
GHVLSUySULRHGRPXQGRDVTXDLVVmRGHVHQYROYLGDVDRORQJRGDYLGD´1HWR
et al., 2001, p. 280). Essas crenças influenciam pensamentos, sentimentos e
comportamentos, determinam o entendimento sobre como a pessoa e as
coisas são, consideradas assim verdades absolutas.
De acordo com Neto et al. (2001, p. 282);
as crenças são idéias sobre si mesmo, as pessoas e o mundo, se
desenvolvem desde a infância, são para a pessoa verdades
absolutas, caracterizam-se como idéias globais e rígidas e começam
a influenciar o indivíduo por meio de pensamentos automáticos, em
períodos de crise ou sofrimento emocional.(Neto et al. 2001, p.282)
E cita algumas estratégias para modificação de pensamentos automáticos e
crenças disfuncionais que consistem em experiências de aprendizagem
especificas;
a) Observar e controlar pensamentos automáticos,
b) Reconhecer os vínculos entre cognição, afeto e comportamento,
c) Examinar as evidências a favor e contra pensamentos
automáticos distorcidos,
d) Substituir cognições tendenciosas por interpretações mais
orientadas para o real, e,
e) Aprender a identificar e alterar as crenças disfuncionais que o
predispõe a distorcer suas experiências. (Neto et al. 2001, p.282)
Neto et al. (2001, p. 282), continua descrevendo outras técnicas importantes
para modificação de pensamentos automáticos e crenças disfuncionais:
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Questionamento socrático: (...) o objetivo é ajudar a descobrir a
verdade sobre si mesmo, quem eu sou verdadeiramente, o que
está sendo encoberto por essas crenças irrealistas, injustas e
distorcidas.
Experimentos comportamentais: têm a finalidade de testar o
pensamento ou a crença em uma situação experimental real.(...)
Continuum cognitivo: é uma técnica útil pra encontrar um meio
termo quando o paciente utiliza um pensamento dicotomizado.
Propõe a construção de uma escala para verificar se há
realmente somente duas categorias, ou se é necessário
considerar graus entre elas.
Dramatização (Role-play) racional-emocional: é utilizado quando
a pessoa alega que entende o ponto de vista racional que a
crença é disfuncional, mas a sente como verdadeira. Então,
terapeuta e cliente encenam um diálogo argumentativo em que
cada um representa a seu tempo os papéis racional e emocional.
Essa troca de papéis possibilita que a pessoa verbalize os
argumentos racionais que foram modelados anteriormente pelo
terapeuta.
Usar os outros como um ponto de referencia: o distanciamento
facilita a avaliação das inconsistências. Quando a pessoa
identifica alguém com uma crença disfuncional parecida com a
sua, pode reconhecer a distorção e usar esse insight para si.
(QFHQDQGR ³FRPR VH´ SDUWH GR SULQFtSLR GH TXH PXGDU XPD
crença transforma o comportamento e reforça essa crença,
mesmo quando ainda não se acredita muito nela.
Auto-revelação: o terapeuta relata ao paciente uma experiência
particular, por meio de um exemplo genuíno e relevante.
Reforço da nova crença central: descrições que contradizem a
crença anterior, mas apóiam a nova, facilitando sua
reestruturação.
Contrastes externos: comparação com alguém real ou imaginário
que está no extremo negativo da qualidade relacionada ao
pensamento ou à crença central.
Desenvolvimento de metáforas: propicia um distanciamento
seguro para promover uma reflexão análoga à experiência sofrida
pela pessoa.
Reestruturar memórias antigas: consiste em estimular o afeto do
paciente por meio de uma reestruturação do sentido atribuído a
um evento anterior relacionado a uma situação conflitiva atual. Há
a oportunidade de resgatar o acontecimento anterior traumático e
atribuir-lhe um novo significado.
Segundo Junior et al (2003, p.92-93), existem muitas pesquisas que mostram a
terapia cognitivo-comportamental como importante adjunto no tratamento dos
pacientes com transtornos mentais H FLWD -XUXHQD TXH GL] TXH ³RV
sujeitos que compreendem o que significa possuir esse transtorno estarão mais
KDELOLWDGRVDWHUXPDDWLWXGHDWLYD´
A terapia cognitivo-comportamental consiste em uma terapia breve, mas
estruturada com objetivos bem definidos, voltados especificamente para a
solução de problemas. Envolve uma colaboração mútua e ativa entre o
paciente e o terapeuta. (Knapp e Isolan, 2005, p.100)
É
notável
a
concordância
de
objetivos
entre
a
Terapia
Cognitivo-
Comportamental e a Equoterapia ambas aspiram a independência e autonomia
do praticante, todas as sessões são estruturadas de forma que o praticante
seja agente no processo terapêutico.
Através da terapia cognitiva comportamental e do envolvimento recíproco o
paciente desenvolva papéis mais ativos diante do adoecer, que entenda o
significado de ter um determinado transtorno por isso a terapia cognitivocomportamental se inicia com o processo de educação/ orientação do mesmo,
para então de posse de todas as informações ele possa se reconhecer,
reconhecer os sentimentos e comportamentos que são próprios de sua
personalidade, os que estão alterados e/ou quais fatores tem causado tais
alterações. Só então serão utilizadas as técnicas.
Na Equoterapia há parceria e troca de conhecimento entre os profissionais das
diferentes áreas, assim o praticante com algum tipo de adoecimento mental é
visto como um todo, sua personalidade, sua história de vida, sua família, seu
ambiente e tudo que o afeta, ali ele não deverá ser tratado pelo rótulo do
transtorno ou distúrbio que carrega e não será fragmentado em suas
dificuldades, o terapeuta insere o praticante nesse contexto de forma que ele
se sinta parte da equipe, ele torna-se Sujeito do seu processo de tratamento,
reconhecendo-se nele.
De acordo com Juruena (2001, p. 323), a terapia cognitivo-comportamental é
baseada na noção de que sentimentos e comportamentos são interrelacionados, e se influenciam reciprocamente. Desta forma os pacientes são
ensinados a reconhecer sentimentos e comportamentos que pioram seus
sintomas, podendo assim através das técnicas da terapia cognitivocomportamental, modificar respostas buscando não entrar em crise maníaca ou
depressiva, no caso de um transtorno bipolar por exemplo.
Esses sinais reconhecidos pelo paciente precocemente irão contribuir de forma
significativa para o tratamento, a Equoterapia somada à terapia cognitivo
comportamental irão trabalhar de forma efetiva no melhor manejo dos
problemas psicossociais que estressam os pacientes impedindo recaídas ou
recorrências. (Juruena, 2001, p.324)
Segundo Dalgalarrondo (2000, pág 154, apud HESSE, 2009), ³RGHSULPLGRYLYH
seu corpo como algo pesado, lento, difícil, fonte de sofrimento e não de prazer.
Sente-se fraco, HVJRWDGRLQFDSD]GHID]HUIUHQWHjVH[LJrQFLDVGDYLGD´
Assim como nos quadros ansiosos graves, os praticantes sentem o
corpo como comprimido, asfixiado, com despersonalização corporal e
com a sensação que o corpo entra em colapso ou a desorganizar-se.
Nestes casos o movimento tridimensional do cavalo faz com que o
praticante seja estimulado a uma percepção corporal adequada e a
uma busca constante do equilíbrio. Esta busca do equilíbrio não se
restringe a aspectos físicos do praticante, mas está inerentemente
ligado a autopercepção do ³HXTXHUR´ H³HXSRVVR´ (Gäng 2003, p.75
apud Hesse, 2009).
Verriere (apud HERMANT, 1988; apud UZUN, 2005), descreve sobre a imagem
GR FRUSR UHYHODGD D FDYDOR SRU XP VHQWLPHQWR GR FRUSR ³$ cavalo, somos
HVFXOWRUGDQoDULQRDWRUGHQRVVRFRUSR´
Para a teoria freudiana, ³RFRUSRpRSDOFRRQGHRLQFRQVFLHQWHVHPDQLIHVWD´.
(QUINET, 2011)
Na Equoterapia, de acordo com Uzun (2005);
(...) a vivência sensitiva é uma vivência muito profunda que toca as
massas musculares, ósseas, articulares e também as viscerais. É na
sensação recriada, e depois reencontrada, que o corpo vai se
reconhecer e não apenas na lembrança mental de uma experiência
anterior. (Uzun, 2005)
Na Equoterapia o praticante pode enfrentar suas limitações e aos poucos
reconhecer suas competências, aumentando seu autoconhecimento, sua
autoconfiança, e conseqüentemente aumentando sua auto-estima.
Isso é de suma importância para um paciente psiquiátrico, pois eles se veem
na maior parte do tempo como pessoas incapazes, improdutivas, com grande
dificuldade de comunicação e relacionamento, o que gera medo, insegurança e
vergonha, agravando cada vez mais o quadro de adoecimento e fechamento
psíquico.
Uzun (2005), ainda ressalta que muitas vezes ³o homem precisa reviver suas
lembranças e que às vezes basta uma evocação tátil, olfativa ou auditiva, para
que o corpo volte a sentir a emoção passada, memorizada inconscientemente´
(VARRIERE apud HERMANT, 1988; apud UZUN, 2005)
E o cavalo pode nos remeter a essas lembranças, pois sua estimulação
sensório-motora, seu afeto, seu ritmo, sua cadência, seu balançar criam
segundo Uzun (2005), um efeito tranqüilizador e caloroso da maternagem.
Freud citou o movimento do cavalo como ³R ~QLFR PRYLPHQWR TXH VH
DVVHPHOKDDRPRYLPHQWRGR~WHURPDWHUQR´
Segundo Walter (2004 apud HESSE 2009),
A união pode ser tal que o cavalo é sentido como um companheiro
muito próximo, mesmo como um prolongamento do corpo que agita,
companheiro de fantasias e de loucuras, permitindo talvez, ao
cavaleiro, a descoberta de si mesmo. (Walter, 2004 apud Hesse
2010)
Embora a Terapia Cognitivo-Comportamental esteja alicerçada na cognição e
suas técnicas pareçam de certa forma, bem racionais, é bom ressaltar que a
terapia cognitivo-comportamental considera essencialmente o caráter subjetivo
e individual de cada paciente. A terapia cognitivo-comportamental estará
envolvida, através da aliança entre terapeuta e paciente, com as questões
particulares daquele indivíduo, qual significado ele dá para aqueles
acontecimentos, como o adoecimento o afeta, seus relacionamentos familiares,
profissionais, sociais, enfim, como ele pessoa única, percebe o ambiente e se
percebe nele.
O significado do tratamento para a pessoa deve ser discutido, seus
medos, o papel dos acontecimentos da vida no desencadeamento de
sintomas, o uso da medicação pelo resto da vida, o casamento e os
filhos, a gravidez e a amamentação, os filhos e familiares sendo
afetados psicologicamente, contar ou não sobre a doença ao patrão
ou aos colegas, a possibilidade de os filhos apresentarem a doença.
(Neto et al., 2001, p. 284)
Portanto, a união da Equoterapia e da Terapia Cognitivo-comportamental pode
ser grande facilitadora da reabilitação psicossocial do praticante, o cavalo se
torna co-terapeuta, pois segundo Hesse (2010),
O montar a cavalo com autonomia, passa pelo volteio até a condução
independente na sela ou na manta. Esta estratégia estimula as
capacidades como tomada de decisões, a autonomia nos aspectos
subjetivos e na estruturação do ego do praticante. Também o passeio
externo na natureza, estimula a vontade e a alegria de viver,
motivando assim, para novos desafios e maturidade pessoal dos
praticantes psiquiátricos.
A terapia Cognitivo e a Equoterapia têm basicamente o mesmo objetivo, tornar
o praticante autônomo, capaz de conhecer-se e reconhecer-se no ambiente,
dotado de certas dificuldades, mas também de potencialidades, levando-o a
condução de um Self ideal.
Abaixo
seguem
alguns
objetivos
e
práticas
da
Terapia
Cognitivo-
comportamental, utilizada da forma tradicional, em consultório, porém, pode-se
dizer que todas são passíveis de trabalho no setting equoterápico.
Neto et al., (2001, p. 284), descrevem os objetivos da terapia cognitivocomportamental para o tratamento do transtorno de forma esquematizada,
conforme a seguir:
x
x
x
x
x
x
x
x
Educar pacientes e familiares sobre o transtorno, seu tratamento
e suas dificuldades associadas à doença.
Ensinar métodos para monitorar a ocorrência, a gravidade e o
curso dos sintomas.
Facilitar a aceitação à medicação e a cooperação do tratamento.
Oferecer técnicas não-famacológicas para lidar com sintomas e
problemas.
Ajudar o paciente a enfrentar fatores de estresse que estejam
interferindo no tratamento.
Estimular a aceitação da doença.
Aumentar o efeito protetor da família.
Diminuir o trauma e o estigma associados ao diagnóstico.
A terapia cognitivo-comportamental terá uma agenda a ser seguida visando
primeiramente orientar e informar, como descrito acima, para então ensinar
gradativamente as técnicas a serem utilizadas.
Neto (et al., 2001, p. 284), descrevem ainda algumas variáveis que devem ser
consideradas para um tratamento eficaz:
x
Variáveis Intrapessoais: negação da doença crônica e fásica, (crônica,
pois dura muito tempo e fásica no sentido oscilatório, periódica, cíclica)
diminuição da energia e da criatividade, depressão, crenças e medos,
etc.
x
Variáveis do
tratamento:
efeitos colaterais,
horário
para
tomar
medicação, dificuldade em ir à terapia, e outros.
x
Variáveis
do
sistema
social:
estressores,
conselho
médico
ou
psicoterápico em discordância, diferentes opiniões de familiares e da
mídia, entre outros.
x
Variáveis Interpessoais: relacionamento ruim com terapeuta ou
psiquiatra.
x
Variáveis cognitivas: dependência do remédio, não conseguir controlar
os
sentimentos,
distorções
cognitivas
próprias
do
depressivo,
personalizar experiências ruins dos outros, etc. (Neto et al., 2001, p.
284),
Após ter seguido o protocolo de orientação e consideração do paciente em
questão, é hora de ensiná-lo algumas técnicas para monitoração dos sintomas.
As principais técnicas são descritas por Neto et al. ( 2001, p. 284-285), no livro
organizado por Bernard Rangé.
x
Mapeamento da vida: essa técnica ajuda o paciente a identificar o
curso de sua doença. Localizando as fases adoecimento e os possíveis
fatores estressores antecedentes a estas fases.
x
Folha de resumo dos sintomas: o objetivo dessa técnica é aumentar a
consciência do paciente a respeito do seu adoecimento. Com isso
espera-se a identificação precoce de recaídas. Também auxilia o
paciente e sua família a discriminar comportamentos característicos de
sua personalidade e do transtorno.
x
Gráfico do humor: tem por objetivo acentuar a percepção do paciente
sobre
mudanças
de
humor,
pensamentos
e
comportamentos,
identificando sintomas subsindrômicos para então entrar em contato
com o terapeuta ou psiquiatra em caso de necessidade.
x
Afetivograma: consiste na observação do terapeuta a cada consulta,
ele irá acompanhar o estado de humor, eventos vitais, dados sobre o
tratamento, exames laboratoriais e registrá-los, para que o médico e
terapeuta tenham controle do que já foi feito. Neto et al. (2001, p. 284285)
Segundo Junior et al. (2003, p. 93-101) também são utilizadas outras técnicas
comportamentais, de singular importância, como:
x
Solução de problemas: estratégia clínica geralmente rápida, lógica e
sistemática para lidar com situações que estão provocando algum tipo
de sofrimento ao paciente;
x
Treino de habilidades sociais e comunicação: auxilia os pacientes a
retomar ou aprender determinados comportamentos que são inseridos e
colocados em prática de acordo com o repertório comportamental da
pessoa. Pode utilizar técnicas comportamentais como:
x
x
x
x
Modelação: o paciente é submetido a situações cujo objetivo é
fazer com que ele observe o funcionamento de quem lhe
acompanha, podendo o próprio terapeuta servir de modelo;
Ensaio comportamental: é solicitado ao paciente quando este não
consegue realizar determinados comportamentos, que os faça
como se fossem um treino, uma imitação da realidade;
Reforçamento: quando a conseqüência da resposta é positiva,
agradável, de maneira que o indivíduo realize mais vezes a
atitude em função da recompensa positiva que terá, faz com que
o comportamento seja mantido em função de sua conseqüência.
(Junior et al., 2003, p. 101)
Reestruturação cognitiva, modificação de crenças: de acordo com
Arnold Lazaurus (1972:165) apud Junior et al.(S³SRGH-se
dizer que a maior parte dos esforços psicoterapêuticos gira em torno da
FRUUHODomR GH FRQFHSo}HV HUU{QHDV´ H VHJXQGR R PHVPR DXWRU HVVD
correção de concepções errôneas (crenças disfuncionais) pode
preceder ou seguir a mudança do comportamento. A reestruturação
cognitiva está ligada ao questionamento socrático que tem a finalidade
de modificar os pensamentos, interpretações e verdades que causam o
sofrimento da pessoa.
Todas as técnicas citadas acima são utilizadas com a finalidade de se
conhecer o paciente e fazer com que ele se conheça; ³&RQKHFH-WHDWLPHVPR´
(Sócrates, 470-399 a.c, apud Tommasi, 1999, p. 36) e estabelecer um vínculo
terapêutico essencial à aderência ao tratamento medicamentoso associado à
terapia cognitivo-comportamental e à equoterapia.
As mesmas técnicas deverão se estender à família, pois é comum que os
familiares
enfrentem
dificuldades
para
lidar
com
as
instabilidades
comportamentais causadas pelo adoecer de seu ente. Com isso a família
desenvolverá assim como o paciente, maiores habilidades para identificar
sintomas, reconhecer e contribuir para o enfrentamento do cotidiano.
Compreende-se, portanto, que a meta da Equoterapia associada às técnicas
da terapia cognitivo comportamental e a farmacologia (quando necessário),
para o tratamento dos transtornos psíquicos, é que o paciente se conhecendo,
identificando suas limitações, os fatores estressores inerentes e suas respostas
comportamentais ao ambiente; desenvolva autonomia e seja seu próprio
terapeuta, criando estratégias para lidar com seus altos e baixos, buscando
alcançar uma reestruturação cognitiva suficiente para obter uma melhor
qualidade de vida.
4. Aspectos Neurocientíficos na Equoterapia: As possibilidades da
Neurociência da Emoção
Estranha coincidência que todos os homens
cujo crânio foi aberto tivessem um cérebro!
Wittgenstein, Da certeza, § 207apud Serpa Jr. 2004
Neste capítulo serão enfatizadas as bases neurobiológicas ativadas com a
Equoterapia. Serão abordados os aspectos Neurocientíficos das emoções na
Equoterapia potencializando a plasticidade cerebral. Essa abordagem se
justifica por ser a emoção fortemente afetada pelo adoecer mental.
De forma sucinta será elucidado como a Farmacoterapia pode contribuir para
uma melhor qualidade de vida do praticante de Equoterapia, principalmente
aquele com algum tipo de perturbação mental, uma vez que a estabilidade
neuroquímica é uma condicionante para inserção em qualquer processo
terapêutico.
4.1 Neurociências e Equoterapia
Segundo Medeiros e Dias (2008), no século XIX, vários cientistas, incluindo
Darwin e Freud, consideravam o papel do cérebro na expressão das emoções.
Surgiram várias teorias sobre o assunto, destacando-se a de James Lange de
1884. SXD SURSRVWD HUD GH TXH ³H[SHULPHQWDPRV HPRo}HV em resposta a
mudanças psicológicas TXHRFRUUHPHPQRVVRFRUSR´
Para Lange (1884), nosso sistema sensorial envia informações ao nosso
cérebro de uma situação e, em resposta nosso cérebro envia sinais para fora
do corpo, mudando o tônus muscular, a frequência cardíaca, o humor, a
sudorese, a temperatura corporal, as expressões e comportamentos.
De acordo com Medeiros e Dias (2008), os sistemas sensoriais reagem às
mudanças evocadas pelo cérebro, e é essa sensação que constitui a emoção.
Medeiros e Dias (2008) completam ainda que;
Como resultado dessas sensações, mobilizamos processos internos,
ativando
neurotransmissores,
como
serotonina,
dopamina,
acetilcolina, noradrenalina, endorfinas, etc., capazes de criar uma
linguagem química complexa entre mente e corpo. (Medeiros e Dias
2008, p.20)
Ainda segundo Medeiros e Dias (2008), esta interconexão entre as respostas
autonômicas, endócrinas, e imunológicas, fornece uma base experimental para
as influências das emoções sobre o corpo e a saúde.
O sentimento de prazer e bem estar proporcionado pela Equoterapia, que
envolve afetividade e harmonia na relação com o cavalo aliadas à atividade
física realizada ao montar, desencadeará mudanças biológicas armazenando
memórias agradáveis.
De acordo com Serpa Jr. (2004) a Neuropsicologia através da reabilitação
cognitiva, conjunto de procedimentos que buscam resgatar funções cerebrais
comprometidas, está proporcionando mais qualidade de vida às pessoas.
Com o avanço da Neurociência, novas técnicas de imagens permitem observar
o cérebro e ver em atividade áreas específicas associadas ao pensamento e às
emoções. Essa técnica torna possível a validade das intervenções de
reabilitação cognitiva, pois áreas inoperantes ou sequeladas após as
intervenções são vistas novamente ativadas, revitalizadas.
Segundo Nunes (et al 2002);
(...) estímulos aos padrões normais de movimento e inibição dos
padrões anormais, provoca um aumento e aceleração no processo de
recuperação funcional cerebral. Em um estudo realizado em
pacientes com AVC crônico concluiu-se que houve um aumento da
representação motora cortical antes reduzida, graças a um efetivo
programa de reabilitação que induzia ao movimento. (Nunes et al
2002)
Com a estimulação sensório-motora, auditiva, visual, tátil, olfativa, emocional,
relacional e educativa recebida através da Equoterapia espera-se um aumento
da plasticidade cerebral, que segundo Serpa Jr (2004) é a capacidade
adaptativa do Sistema Nervoso Central, que modifica sua organização
estrutural e seu funcionamento, é a possibilidade real de outra área do cérebro
saudável, ou melhor, de outros neurônios, de outras áreas, estabelecerem
novas sinapses e assumirem a função que ficou ou está momentaneamente
comprometida em conseqüência de algum trauma ou transtorno.
A cada nova experiência, a cada estimulação redes de neurônios são
rearranjadas, novas conexões são estabelecidas, outras sinapses acontecem e
são reforçadas possibilitando novas respostas a estímulos ambientais dos mais
diversos.
Segundo Damásio (2003, apud Serpa Jr. 2004) as ³HPRo}HVSURYrPXPPHLR
natural para o cérebro e a mente avaliarem o ambiente ± dentro e ao redor ± do
organismo e UHVSRQGHUHPDGHTXDGDHDGDSWDWLYDPHQWH´
O estudo da neurobiologia das emoções e sentimentos vai explorar a função
avaliativa que possuem estes estados corporais e mentais e o seu papel na
regulação das interações do organismo com o meio em que vive.
De acordo com Serpa Jr. (2004),
(...) um evento descrito na primeira pessoa corresponde a uma
experiência vivida associada com eventos mentais (percepção, dor,
memória, imaginação, pensamento). Para o autor, estes eventos se
expressam, nesta descrição, como relevantes e manifestos para um
self, ou sujeito, que pode relatá-los.
Portanto essa redescoberta do cérebro se dá num momento em que a
neurobiologia e a psiquiatria se integram em prol do sujeito como um todo, com
sua subjetividade preservada, sendo extremamente relevante sua concepção
dos acontecimentos.
A Equoterapia e a teoria cognitivo comportamental
corroboram com essa concepção valorizando e trabalhando o ser humano na
sua dimensão biopsicossocial.
4.2 Os Fármacos
Intensos questionamentos cercam a interação entre Farmacoterapia e
Psicoterapias. Nas discussões excludentes e separatistas todos os envolvidos
saem perdendo (Piccoloto, et al. 2003, p. 247), afinal a psiquiatria deixa de
aprofundar-se sobre mecanismos e processos psicológicos e a psicologia não
se familiariza com as bases biológicas dos transtornos mentais. Mas, na
verdade quem mais perde com essa divergência são os pacientes que
recebem intervenções psicoterápicas pouco efetivas para seu sofrimento.
De acordo com Piccoloto (2003, et al.) as vantagens desse tratamento
combinado veem sendo avaliadas em inúmeros estudos ao longo de anos e
constatando-se que o uso de fármacos, devidamente prescritos, proporciona ao
paciente uma redução do desconforto eliciado pelas manifestações físicas dos
transtornos mentais, permitindo assim um maior e melhor rendimento e
aproveitamento na psicoterapia. (Piccoloto, et al. 2003 p. 249)
Faz-se ressDOYD j REUD ³$ 1DWXUH]D GR +RPHP´ GH +LSyFUDWHV DF apud
Tommasi, 1999, p. 40), indiscutivelmente o médico mais conhecido do seu
tempo e também conominado Pai da Medicina, pois foi o iniciador da
observação clínica, mostra as relações entre o que se come, bebe, e os
exercícios. Tommasi (1999, p.40) cita que;
Para Hipócrates, o verdadeiro médico deve observar minuciosamente
e empiricamente, registrar e descrever cada caso concreto e, após
suas conclusões receitar adequadamente a quantidade de caldos,
poções banhos e exercícios, pois cada indivíduo possui constituição
diferente. Para ele era inadmissível que se generalizasse a natureza
humana. (Tommasi, 1999, p. 40)
Ele ainda usou uma gama de 300 remédios diferentes que, juntamente com
uma mudança no estilo de vida e dieta, foram usados para corrigir
desequilíbrios no corpo. É recordado por utilizar massagens e aquaterapia.
(Tommasi, 1999, p. 40), e para completar a obra, fez referência à equitação
como fator regenerador da saúde, principalmente no tratamento da insônia
(Freire, 1999).
Diante disso, pode-se sugerir aí o início de uma confluência entre medicina e o
uso de diferentes técnicas psicoterápicas, ou acompanhamentos terapêuticos
associados às medicações prescritas pela medicina tradicional.
Hipócrates era um homem que se preocupava com a pessoa em sua
individualidade e interação com meio, e não com o sintoma isoladamente. Isso
fica evidente em suas palavras descritas na epígrafe deste trabalho; ³e PDLV
importante conhecer o tipo de pessoa que tem a doença, do que conhecer o
WLSRGHGRHQoDTXHDSHVVRDWHP´ (Hipócrates, 462 a.c., apud Tommasi, 1999)
Para Socrátes (470-399 a.c, apud Tommasi, 1999, p. 36), cuja principal
característica filosófica era a introspecção, que ficou marcada pelo lema:
³&RQKHFH-WH D WL PHVPR´ R HVVHQFLDO HUD TXH R KRPHP VH FRQKHFHVVH ³2
homem deve tomar conhecimento de si, de sua ignorância. O conhecimento de
VL PHVPR p D FRQGLomR EiVLFD SDUD VH FKHJDU j VDEHGRULD H j YLUWXGH´ TXH
eram então demonstradas pelo bem estar físico e mental.
É possível a partir das afirmações acima concordar tanto com Hipócrates,
quanto com Sócrates, pois, a Equoterapia e a terapia cognitivo-comportamental
se baseiam na identificação e na modificação de esquemas cognitivos e estão
intrinsecamente ligadas à maneira como o indivíduo se coloca no mundo, à sua
capacidade de prever e de compreender as experiências e situações
necessárias para o funcionamento normal. Segundo Neto et al. (2001, p.281)
os esquemas cognitivos são baseados;
(...) na hipótese de que as emoções e os comportamentos das
pessoas são influenciados por sua percepção dos eventos. As
experiências e as situações levam-nas a fazerem suposições ou
concepções gerais sobre si mesmas e o mundo, as quais são
subsequentemente usadas para organizar a percepção e orientar e
avaliar o comportamento. (Neto et al., 2001, p.281)
Tendo em vista que a reestruturação cognitiva é o principal objetivo da teoria
cognitivo-comportamental, e que a Equoterapia tem como meta a autonomia do
praticante, faz-se necessário a ascensão das contribuições dos fármacos no
caso específico do transtornos mentais, pois os medicamentos favorecem as
funções mentais necessárias para a participação efetiva na psicoterapia.
(Piccoloto et al., 2003, p. 252)
A farmacoterapia pode, desta forma, minimizar ou até mesmo
suprimir alterações sensoperceptivas, como alucinações auditivas ou
visuais em pacientes psicóticos; alterações do curso do pensamento,
como fuga de idéias em pacientes maníacos; alterações do conteúdo
do pensamento, como ideação delirante de ruína em pacientes
depressivos graves; alterações da atenção, como hipervigilância em
pacientes paranóides; alterações da concentração. Como
hipotenacidade em crianças hiperativas; alterações da memória,
como déficit mnemônico em idosos depressivos; alterações da
atividade psicomotora, como agitação intensa em pacientes ansiosos
e alterações de linguagem, com aumento da capacidade de
verbalização em pacientes com fobia social. (Piccoloto et al., 2003, p.
252)
Segundo Piccoloto et al. (2003, p. 252) a melhoria proporcionada pelo
medicamento de qualquer sintoma citado acima intensifica a habilidade do
praticante perante os processos de mudança ou reestruturação cognitiva
proposto pela Equoterapia.
Diante dessa afirmação, pode-se observar uma relação de contribuição mútua
ao tratamento dos transtornos mentais.
associada
a
psicoterapia
A confluência da Equoterapia
cognitivo-comportamental
com
o
tratamento
psiquiátrico, através dos medicamentos, traz uma conseqüência efetivamente
favorável ao praticante.
De acordo com Piccoloto (2003, et al.) recentes pesquisas sobre os
tratamentos de doenças psiquiátricas apontam para as psicoterapias como
principal fator de favorecimento à adesão ao tratamento medicamentoso.
Existe uma distância, bastante tortuosa, entre receber uma prescrição
medicamentosa e aderir a um tratamento farmacológico. Neste ponto,
destaca-se o papel da psicoterapia que, entre tantas outras
finalidades, têm participação ativa no processo de aceitação da ajuda
farmacológica. (Piccoloto et al., 2003, p. 253)
Para tanto, durante as sessões de Equoterapia, o psicoterapeuta cognitivocomportamental deverá encontrar espaço para a avaliação de pensamentos
disfuncionais a respeito da farmacoterapia, buscando reconhecer crenças
errôneas sobre os medicamentos.
2IDWRGHSHQVDUHPDQLIHVWDUHVVDVFUHQoDVDFHUFDGRVVHXV³UHPpGLRV´OHYD
necessariamente à reflexão de outras crenças em torno do adoecer, como o
significado de sua doença, sua capacidade pessoal para enfrentá-la, os
poderes atribuídos ao tratamento químico, enfim todas as nuances do
tratamento levarão a questionamentos afins para uma reestruturação das
representações mentais do praticante. (Piccoloto et al., 2003, p. 253)
Segue abaixo um quadro fidedigno ao autor contendo exemplos de crenças
disfuncionais a respeito da farmacoterapia com dados da realidade importantes
para o seu questionamento citado por Piccoloto (et al. 2001 p.254-255):
Exemplos de Crenças Disfuncionais sobre
Farmacoterapia
³7RPDUPHGLFDPHQWRpXPVLQDOGHIUDTXH]D
de que não tenho capacidade de enfrentar os
PHXVSUREOHPDV´
Evidências
contrárias
às
Crenças
Disfuncionais
A adesão ao uso correto dos medicamentos
representa um sinal de força, de utilização de
mais um recurso de enfrentamento na busca
dos resultados.
³6H FRPHoDU D WRPDU XP PHGLFDPHQWR Ter o mesmo conceito a respeito de todos os
SVLTXLiWULFRYRXILFDUGHSHQGHQWH´
medicamentos é um extremo reducionismo.
Existem várias classes diferentes de
psicofármacos, sendo que a grande maioria
não apresentam esse risco de dependência.
Mesmo aqueles que apresentam esse risco, o
têm minimizado através do uso racional, sob
supervisão médica.
³7RGR PHGLFDPHQWR SVLTXLiWULFR GHYHUi VHU O que determina o tempo de utilização do
tomado pelo resto da vida.´
medicamento são os aspectos da patologia, e
não do fármaco. Se o paciente necessita
utilizar o fármaco novamente após uma
interrupção, isto deve-se à recorrência da sua
doença, e não à dependência do fármaco. É
importante não confundir o tratamento
disponível para a doença com a doença em
si.
³0HGLFDPHQWRSVtTXLFRpSDUDORXFRV´
Os
psicofármacos
estão
entre
os
medicamentos mais prescritos na atualidade,
para pessoas com vários tipos de problemas,
transitórios ou permanentes, e que mantêm a
sua capacidade crítica e produtiva. O próprio
conceito de loucura é bastante variável e
abstrato, tendo o paciente suas próprias
crenças e a este respeito, que devem ser
devidamente avaliadas.
³2 PHGLFDPHQWR LUi PXGDU D PLQKD O medicamento não tem o poder de modificar
personalidade, me transformará em outra traços característicos de personalidade. O
SHVVRD´
objetivo da farmacoterapia não é deixar o
paciente irreativo ou hiperreativo aos
acontecimentos, mas devolver ao paciente a
capacidade de empregar os recursos
cognitivos e emocionais da sua personalidade
de uma forma equilibrada e proveitosa.
³6HWRPDUPHGLFDPHQWRVYRXHQJRUGDU´
O ganho de peso é um efeito adverso
associado a determinados psicofármacos,
mas em graus diferentes. Hoje existem
medicamentos onde este efeito é inexistente
ou bastante minimizado. O controle da dieta e
exercícios regulares também são recursos
utilizados para o controle deste efeito.
³6H WRPDU PHGLFDPHQWRV YRX ILFDU Atualmente, com o advento de psicofármacos
LPSRWHQWH´
mais modernos e seletivos, houve uma
redução desta manifestação. Quando ela
ocorre, normalmente incide sobre a libido, e
não sobre a potência, de uma forma
totalmente reversível. O aprimoramento da
estimulação sexual, o ajuste de dosagens e a
troca do fármaco (hoje existem muitas
alternativas de escolha) são exemplos de
estratégias aplicadas para contornar o
problema.
³(VWH HIHLWR FRODWHUDO SHUPDQHFHUi HQTXDQWR Em muitos tipos de psicofármacos, certos
HXHVWLYHUWRPDQGRRPHGLFDPHQWR´
efeitos adversos precedem em alguns dias ou
até semanas o surgimento dos efeitos
terapêuticos, o que aumenta o risco de
abandono do tratamento. Na verdade, esses
efeitos adversos costumam ser pouco
intensos e desaparecer gradativamente ao
longo dos primeiros dias, na medida em que
ocorre uma adaptação do organismo ao
medicamento. Basta que o paciente tolere
essa fase inicial até que o benefício do
tratamento possa se estabelecer.
³7RPDQGR PHGLFDPHQWRV HX QmR HVWRX Novamente, considerar uma psicopatologia
tratando a causa do problema, somente como tendo uma única causa ou causas
UHGX]LQGRDVPDQLIHVWDo}HVVXSHUILFLDLV´
restritas a um único aspecto é uma
simplificação extremamente limitante, que
ignora avanços científicos. O componente
biológico também faz parte da etiologia do
problema e pode ser tratado com fármacos,
desde que bem indicados.
³7RPDU PHGLFDPHQWRV VXEVWLWXL D DomR GD A Famacoterapia é um tratamento que
SVLFRWHUDSLD´
complementa a Psicoterapia e não a substitui.
O componente biológico é um aspecto
importante, mas parcial da Psicopatologia.
³7RPDU PHGLFDPHQWRV p D VROXomR ~QLFD H A Farmacoterapia é um recurso indicado para
LPHGLDWDSDUDRVPHXVSUREOHPDV´
determinadas situações ou psicopatologias,
como parte do tratamento. A melhora clínica
passa por uma série de fatores associados ao
paciente, sendo que a tomada do fármaco é
somente um desses fatores.
Figura 3: -Exemplos de crenças disfuncionais sobre farmacoterapia. Piccoloto (et al. 2001
p.254-255)
É de extrema importância que o psicoterapeuta tenha conhecimento básico de
psicofarmacologia, uma familiarização com classes, tipos, mecanismos de
ação, indicações e efeitos adversos dos principais psicofármacos, e seu real
papel no contexto terapêutico, sem idealizá-los e sem vilipendiá-los. Pois para
identificar e questionar crenças disfuncionais o terapeuta terá que ter passado
por tais questionamentos e identificado suas próprias crenças. (Piccoloto et al.,
2003, p. 253)
Piccoloto et al. (2003, p. 255) cita que o tratamento combinado que se faz entre
a terapia cognitivo-comportamental e a psicofarmacologia também podem
trazer alguns efeitos negativos, como por exemplo:
x
Efeitos Negativos dos Medicamentos sobre a psicoterapia: é quando o
praticante/paciente atribui aos medicamentos um efeito milagroso, como
mágica para seus problemas, esse efeito é desmotivador da
psicoterapia, pois a melhora dos sintomas proporcionada pelo fármaco
WUiV XP DOtYLR TXH HUURQHDPHQWH SRGH VHU FRQVLGHUDGR FRPR ³PHOKRUD
GHILQLWLYD´ OHYDQGR D XP ERLFRWH GD SVLFRWHUDSLD H D uma super
valorização da medicação.
x
Efeitos Negativos da Psicoterapia sobre o Tratamento Medicamentoso:
acontece quando as crenças disfuncionais do praticante/paciente não
encontram no terapeuta um referencial de questionamento das mesmas,
assim as idéias preconcebidas do paciente encontram reforço no
terapeuta, desenvolvendo uma cisão do tratamento combinado, privando
o paciente da união dos recursos disponíveis a sua melhora. (Piccoloto
et al. (2003, p. 255)
Na relação terapêutica algumas distorções errôneas acerca da farmacoterapia
costumam surgir de forma automatizada, associadas a sentimentos de temor
ou angústia , gerando o abandono do tratamento medicamentoso. Piccoloto et
al. (2003, p. 256) listou alguns desses erros mais comuns que ocorrem no
processamento de informação sobre a farmacoterapia:
x
Pensamento Dicotômico ou tudo-ou-nada: ora o medicamento recebe a
categoria de causa de todas as melhoras, ora é causa de todos os
sentimentos negativos e de incapacidades física.
x
Maximização/Minimização: Valoriza os efeitos adversos da medicação e
despreza os benefícios atingidos, ou o contrário.
x
Abstração seletiva: Abstrai vivências e informações de outras pessoas,
familiares, amigos e noticias, acumula elementos do seu passado, tudo
que se relacionar com efeitos adversos da medicação e impõe estes
fatos como realidade absoluta.
x
Hipergeneralização: acredita que terá todos os efeitos adversos
descritos na bula do medicamento, após manifestar um efeito.
x
Catastrofização: acredita que o efeito adverso manifestado lhe causará
grande sofrimento.
x
Pensamento irracional: acredita que assim que usar o fármaco, efeitos
positivos e/ou negativos irão se estabelecer em seguida (efeito placebo).
Piccoloto et al. (2003, p. 256)
Portanto, diante das afirmações dos autores citados, pôde-se verificar que o
tratamento combinado favorece a acessibilidade psicoterapêutica do praticante
portador de adoecimento psiquico, pois a medicação reduz a instabilidade
favorecendo uma posição ativa de reconhecimento de si e de comportamentos
estressores que facilitam o desencadeamento de crises.
Mais uma vez faz-se imprescindível a participação da família, pois também no
tratamento medicamentoso, assim como o praticante, a família tem suas
crenças à respeito dos medicamentos, a informação e os resultados atingidos
através do tratamento combinado aumentam significativamente a aderência ao
tratamento.
Neto (et al., 2001, p. 284), descreve que pesquisas recentes, mostram que
pacientes que receberam intervenções combinadas como terapia de casal
associada à terapia medicamentosa, aumentaram a aderência ao tratamento,
confirmando assim o papel essencial da participação da família ao tratamento.
5 Considerações finais
Diante da pesquisa realizada pôde-se concluir que nenhum critério, seja ele
estatístico, valorativo, natural, nosográfico ou orgânico, consegue responder à
subjetividade e individualidade humana, todos são falhos e questionáveis.
Também que, o conceito de saúde e doença, normal e patológico, esbarra na
mesma singularidade. Contudo, faz-se necessário um diagnóstico como ponto
de partida, e para que em associação, os conhecimentos multidisciplinares
alcancem respostas e novas propostas de trabalho na busca do bem estar
psíquico, inclusive no âmbito da prevenção.
Percebeu-se ao longo da pesquisa que o acompanhamento adequado para o
tratamento do adoecer psíquico reduz a incapacitação e a mortalidade dos
portadores deste mal. E que geralmente, faz-se necessário a prescrição de um
ou mais medicamentos para estabilização neuroquímica da saúde mental.
Porem percebeu-se também que o tratamento combinado que se constitui na
interconexão entre a psiquiatria através dos fármacos e psicoterapia
especialmente
a
Cognitivo-Comportamental
aplicada
nas
sessões
de
Equoterapia é perfeitamente admissível e recomendável. Pois a interação do
tratamento combinado proporciona respostas significativas para a melhora da
qualidade de vida do paciente com algum transtorno mental.
Essa associação entre a psiquiatria, psicoterapia e o os benefícios da
Equoterapia com seu olhar multidisciplinar, apresenta um novo significado de
saúde e doença, normal e patológico, identifica o psicopatológico não como
uma rotulação, um diagnóstico fechado, determinista e indiscutível, mas abre
os horizontes terapêuticos. Ele servirá para identificar e dar nome às formas de
sofrimento humano para melhor entendê-lo e enfrentá-lo, mas não mais como
limitador das capacidades e sim como facilitador das potencialidades.
Nessa perspectiva o diagnóstico deixa de ser um ponto final na observação
clínica do indivíduo e passa a ser um ponto de partida para a terapêutica, no
TXDO ³R SURILVVLRQDO GHYH HVWHQGHU R VHX FDPSR GH YLVmR SDUD DVSHFWRV
SHVVRDLV QmR QHFHVVDULDPHQWH HQFRQWUDGRV QD OLWHUDWXUD´ 3LFFRORWR et al.,
2003, p. 249) Especialmente os aspectos sociais e familiares, envolvendo o
paciente como ele se apresenta na descrição e enfrentamento diário como um
ser biopsicossocial.
Portanto, pode-se dizer que mais que critérios para diagnósticos determinados,
a psiquiatria, a neurociência e a psicologia devem adotar uma posição a favor
da vida. É imprescindível a necessidade de atrelar forças, juntar as peças deste
quebra-cabeça num trabalho multidisciplinar em função de um atendimento
individualizado, personalizado, de forma mais humana e sensível, buscando
meios de amenizar o sofrimento humano, promovendo maior qualidade de vida.
Com esta pesquisa foi possível compreender que com o método da
Equoterapia, a afirmação acima se torna real, palpável, pois o trabalho da
Equoterapia se apresenta com essas características, de um trabalho feito por
muitas bases de conhecimento visando o bem de um único ser, ser único no
palco de sua existência.
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