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Como controlar o uso dos dispositivos móveis em família
Bruce Feiler - The New York Times | 12 Abril 2015 | 06h 00
Alguns falam em liberdade e responsabilidade, dão o celular para o filho e então reagem à medida que surge uma
situação. Mas outros tentam fazer mais, estabelecendo regras
Embora as pessoas achem que os filhos sabem tudo sobre a mídia social, na verdade
eles ainda estão aprendendo
Os pais têm uma relação de amor e ódio com tudo o que é a primeira vez. Por exemplo, adoram o primeiro sorriso,
os primeiros passos, a primeira vez de um sono a noite inteira. Mas há coisas que odeiam: a primeira gripe, a
primeira crise de birra, o primeiro osso quebrado. À medida que as crianças crescem, essas primeiras vezes se
tornam mais sutis, gerando alegria pela independência dos nossos filhos e o temor de escaparem: as primeiras
férias de verão fora de casa, o primeiro namorado, a primeira carta de motorista.
Mas poucas primeiras vezes geram mais ambivalência do que o primeiro celular.
De um lado, muitos pais acolhem com satisfação esta descoberta. Agora podem monitorar os filhos quando
estiverem fora de casa e avisá-los de que estão atrasados. Além disso podem ter mais influência. Uma mãe disseme que "descobri que o telefone me deu um novo poder porque posso confiscá-lo".
Por outro lado, as crianças tendem a desaparecer através do espelho quando conseguem seu primeiro telefone.
Ficam vulneráveis ao lado sombrio da internet e atividades rotineiras mudam completamente. "Costumávamos ser
uma família antes de eles terem os telefones. Agora nunca estamos juntos", queixou-se um pai. (Este problema
assumiu mais importância em Nova York este mês, já que as crianças agora podem levar seus celulares para a
escola, isto porque o prefeito Bill de Blasio anulou proibição estabelecida pelo prefeito Bloomberg).
Como devem os pais lidar com esta transição? Alguns falam em liberdade e responsabilidade, dão o celular para o
filho e então reagem à medida que surge uma situação. Mas outros tentam fazer mais, estabelecendo regras.
O casal Obama, por exemplo, diz que não permitiu que suas filhas usassem celular até os 12 anos, e não podem
usá-los nos dias de semana, as meninas ficaram longe do Facebook até os 17 anos e deram a elas o que a
primeira dama chamou de "palestras" sobre o perigo de conversas com estranhos. Janell Burley Hoffman, uma
mãe de Massachusetts escreveu a seu filho de 13 anos uma carta quando ele ganhou seu primeiro celular, com
uma lista de 18 ordens, incluindo: "se o telefone tocar, atenda. É um telefone. Diga alô, seja educado. Nunca ignore
uma chamada se a tela mostrar que é sua mãe ou seu pai. Nunca".
A Internet está explodindo com dezenas de contratos para múltiplas plataformas para os pais executarem com os
filhos. Como pai de gêmeos gosto da ideia, mas sou bastante realista para saber que um contrato de três páginas
será rapidamente ignorado e nem vai se adequar com o último aplicativo para evitar chamadas dos pais. O que eu
desejo muito seria um conjunto de regras abrangentes para guiar nossas interações:
Ainda sou o seu pai. Yalda Uhls, psicóloga na Common Sense Media e autora do livro "Media Moms & Digital
Dads", diz que os pais têm de estabelecer diretrizes antecipadamente. "Acho que quando você dá ao seu filho algo
que vai dar a ele acesso ilimitado à internet e a seus amigos, é importante deixar claro que você é o proprietário do
aparelho, você paga por ele e no caso de um comportamento que, na sua opinião, não respeita os valores da sua
família, você poderá tirá-lo das suas mãos".
Deve fazer parte deste acordo cláusula de que você respeitará os seus limites, disse a psicóloga, mas por outro
lado terá o direito de entrar em qualquer rede social que eles entrarem, conhecer as senhas deles e checar o que
escrevem. Isto pode criar situações incômodas, disse ela, como quando sua filha mencionou numa página no
Instagram de um amigo como era divertido quando ele roubava de alguma loja. "Fiquei horrorizada, mas preferi
concentrar o impacto nele. 'Este é um fórum público', escrevi: 'seus pais verão isto'". Ele removeu o comentário.
Embora as pessoas achem que os filhos sabem tudo sobre a mídia social, na verdade eles ainda estão
aprendendo. "Eles estão tão concentrados em si mesmos e seus amigos que não percebem que outras pessoas
estão observando".
Quando os pais dizem, 'você pode usar o celular somente a partir de tal hora a tal
hora', é difícil de monitorar isto
Afaste-se do seu telefone. Dos dez contratos que examinei, um item apareceu com mais frequência: "os telefones
serão desligados e guardados determinadas horas da noite". A pesquisa apoia esta regra. Um estudo feito na
Universidade de Basileia concluiu que os adolescentes que continuam com seus celulares à noite têm mais
probabilidade de assistir vídeos, escrever mensagens e dormir pouco, além de revelarem níveis mais altos de
depressão. Lynn Schofield Clark, professor na Universidade de Denver e autor do livro "The Parent App", disse-me
que estabelecer limitações físicas é mais fácil do que exigir restrições de tempo.
"Quando os pais dizem, 'você pode usar o celular somente a partir de tal hora a tal hora', é difícil de monitorar isto.
A psicóloga recomenda que todos os celulares sejam colocados numa caixa ao lado da porta quando as crianças
entrarem em casa, ou todos os aparelhos sejam colocados no centro da mesa na hora das refeições, mesmo no
restaurante.
"Não importa as regras que foram estabelecidas, certifique-se de colocar os carregadores do celular num lugar
público, de modo que os telefones têm de estar fora do alcance à noite", disse ela.
É função dos pais explicarem que a comunicação digital pode facilmente ser mal interpretada. Ken Denmead, editor
do GeekDad.com e autor de diversos livros, disse-me que explica a seus filhos adolescentes que conversas de
texto não têm nenhuma nuance emocional a menos que você faça algo mais para colocar alguma emoção. "Você
pode usar sorrisos e Emoticons para dar um colorido àquilo que está dizendo", disse ele. Conclusão: antes de
enviar uma mensagem releia o texto. Reflita se um ponto de exclamação poderia ser entendido como algo
agressivo.
Regra da vovó. Todos concordam que é preciso impedir as crianças de escreverem mensagens com conotação
sexual, intimidatórias ou postar alguma coisa inadequada. Mas como comunicar isto? Uma mãe disse-me que
exige que as crianças colem suas postagens potenciais na porta da geladeira e então esperem o voto da maioria
da família. Ken Denmead diz a seus filhos: "Sempre finja que está falando diante de uma multidão".
Yalda Uhls recomenda dar às crianças um exemplo ilustrativo. "Pense na sua avó. Pense no indivíduo mais
inoportuno na sua vida. Antes de enviar uma mensagem pense como essa pessoa reagiria". Minhas filhas
independentemente sugeriram a mesma regra e quando perguntei quais seriam as consequências por violá-la, elas
disseram "mostrar a postagem para a vovó".
Nada de telefones quando a família estiver reunida. Todas as pessoas com quem conversei haviam estabelecido
algumas regras sobre o tempo com a família. Yalda Uhls disse que "quando era mais jovem e tinha aulas sobre
educação dos filhos todos diziam: 'apenas dez minutos no chão com as crianças. Hoje digo a mesma coisa,
'apenas dez minutos sem aparelhos. Este é o momento de ficarmos juntos'".
Na família de Ken Denmead, os primeiros 20 minutos de cada passeio de carro são reservados para bate-papo.
Depois disto os aparelhos podem ser ligados. "Acho que somos extremamente nostálgicos do 'jogo das placas de
carro'. É apenas para substituir o tédio".
Schofield Clark foi ainda mais longe, acrescentando o tempo junto com a família no acordo que fez com seus filhos.
A regra estabelecida foi: "semanalmente faremos atividades em que tecnologia não entra, como caminhadas, andar
de bicicleta, passear com os cachorros. De vez em quando sairemos em retiro, também sem nenhum aparelho de
tecnologia, vamos pescar ou acampar".
Os pais também estão incluídos. Algo que ouvi e me surpreendeu no caso destes acordos é que eles deveriam
incluir restrições para os pais, que seriam os que mais abusam da tecnologia. A filha de Schofield Clark insistiu na
cláusula: "quando tenho algo a dizer, mamãe tem de fechar seu laptop e ouvir".
Esta história comporta também uma lição final sobre o controle da mídia em família: nenhum acordo de tecnologia
pode ser considerado definitivo. Ele tem de ser revisto com cada novo filho, cada fase nova, ou no caso de um
novo aparelho ou aplicativo.

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