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Cálcio (total no soro/plasma e urina; ionizado no soro/plasma) Descrição É um catião bivalente constituindo o elemento mineral mais abundante do organismo (cerca de 2% do peso corporal total do adulto). Cerca de 98% do cálcio total do adulto está presente tecido ósseo sob a forma de hidroxiapatite – [Ca5(PO4)3OH] que é responsável pela rigidez da matriz proteica dos ossos e dos dentes, e dos restantes 2% metade encontra-se distribuída por vários tecidos, principalmente no músculo liso, esquelético e cardíaco, e a outra metade está no fluído extracelular. O cálcio presente no fluido extracelular, sobretudo no soro/plasma, encontra-se num equilíbrio dinâmico ativo rapidamente variável com a fração óssea sob três formas: ligado às proteínas, principalmente à albumina (cerca de 40%) constituindo a fração plasmática não filtrável, ligado ao citrato, lactato, fosfato, sulfato e bicarbonato formando complexos moleculares inorgânicos (cerca de 10%) e livre ou ionizada – Ca2+ (biologicamente ativa). Para além da mineralização óssea o cálcio desempenha uma função importante na coagulação sanguínea, na atividade de muitas enzimas (cofator), na secreção hormonal, na condução neuromuscular, na contratilidade e na manutenção do tónus muscular, assim como da integridade e permeabilidade das membranas celulares. A manutenção da homeostasia do cálcio, em particular da sua forma biologicamente ativa, envolve a participação do intestino delgado proximal (absorção), dos rins (excreção) e do esqueleto ósseo (reserva funcional mobilizável), assim como a ação reguladora interdependente da paratormona - hPTH (glândulas paratiroideias), da 1,25dihidroxicolecalciferol [1,25-(OH)2D3] e da calcitonina – hCT (células C da glândula tiroideia). O cálcio circulante é excretado por filtração glomerular e reabsorvido pelos túbulos proximais. A sua reabsorção é influenciada pela concentração do sódio, enquanto a hPTH induz a sua reabsorção pelos túbulos distais e coletores. O excesso de cálcio circulante é excretado pela urina e pelas fezes. O metabolismo do cálcio está intimamente relacionado com o do fósforo; valores da fosforemia multiplicados pelos da calcemia superiores a 70 mg/dL estão associados com a formação e deposição de precipitados fosfocálcicos nos tecidos moles (exemplos: cardiovascular, renal, pulmonar, córnea, pele e tecido periarticular). A concentração do cálcio total no soro/plasma está diretamente relacionada com a das proteínas, em particular com a da albumina; nos indivíduos saudáveis é também diretamente proporcional à do cálcio ionizado, biologicamente ativo, exceto nos doentes com alterações do equilíbrio ácido-base (variações da concentração do Ca2+ com valores de cálcio total normais; o Ca2+ varia inversamente com o pH em cerca de 0,2 mg/dL ou 0,05 mmol/L por cada variação de 0,1 unidades de pH), a fazer hemodiálise ou com hipoproteinemias ou hiperproteinemias graves como as que ocorrem frequentemente na insuficiência hepática ou no mieloma múltiplo respetivamente (alterações da concentração do cálcio total secundárias à das proteínas com valores do Ca2+ normais). Valor semiológico A concentração do cálcio total no soro/plasma reflete a reserva funcional mobilizável rapidamente disponível, a disponibilidade e a ação da vitamina D, bem como os níveis das proteínas, e a sua determinação tem o seu principal valor semiológico no diagnóstico e na monitorização da evolução clínica e da resposta à terapêutica de diversas patologias envolvendo o tecido ósseo, os rins, as glândulas paratiroideias e o aparelho gastrointestinal. A determinação do cálcio ionizado é fundamental para o estudo da sua atividade biológica. NOTA: concentrações séricas/plasmáticas elevadas de acetilcisteína (agente quelante) podem estar associados a resultados falsamente diminuídos do cálcio total em relação ao seu valor real. Data emissão: 2015-11-12 Pag. 1 de 3 A determinação do cálcio na urina (amostras: primeira urina da manhã, amostra única aleatória, de 2 ou de 24h com o cálcio reportado em função da creatinina) tem o seu principal valor semiológico no estudo dos doentes com discrasia litiásica ou com alterações do metabolismo fósfocálcico e do tecido ósseo, assim como no diagnóstico diferencial das causas absortivas em relação às não absortivas da hipercalciúria. A presença de produtos de contraste radiológico (até uma semana após a sua administração) pode estar na origem de falsos resultados diminuídos da concentração do cálcio nas amostras de soro/plasma. Informação adicional A partir de determinados valores as alterações da concentração do cálcio no soro/plasma podem ter repercussões clínicas graves de ordem neurológica, cardíaca, muscular, gastrointestinal e renal (exemplos): » Cálcio total: - Superior a 3,00 mmol/L (> 12,0 mg/dL): hipercalcemia clinicamente significativa (sintomática: letargia e estupor; muitas vezes associada a cálculos renais, nefrocalcinose, pancreatite e arritmias cardíacas – bradicardia e bloqueio auriculoventricular). - Superior a 3,38 mmol/L (> 13,5 mg/dL): hipercalcemia grave (coma hipercalcémico). - Inferior a 1,85 mmol/L (< 7,5 mg/dL): hipocalcemia clinicamente significativa (sintomática associada a tetania latente ou manifesta e a osteomalácia). - Inferior a 1,75 mmol/L (< 7,0 mg/dL): hipocalcemia grave (aumento da irritabilidade neuromuscular - espasmo carpo-pedal, broncospasmo, laringospasmo, tetania, insuficiência cardíaca e arritmias graves; convulsões). » Cálcio ionizado (Ca2+): - Inferior a 0,37 mmol/L (< 1,50 mg/dL): hipocalcemia grave (aumento da irritabilidade neuromuscular - espasmo carpo-pedal, broncospasmo, laringospasmo, tetania, insuficiência cardíaca e arritmias graves; convulsões). A concentração do cálcio total na urina reflete a quantidade ingerida na dieta (é considerado normal um consumo médio diário de cálcio entre 600 to 800 mg), a dinâmica da renovação óssea e o funcionamento dos mecanismos de excreção renal. Em situações normais a quantidade excretada representa cerca de 30% da quantidade consumida. Nos doentes com litíase renal a calciúria está aumentada, cuja causa tanto pode ser devida a um excesso de ingestão como a uma alteração dos mecanismos de excreção. Soro/plasma: Tem caracteristicamente uma variabilidade fisiológica pré-analítica, apresentando um coeficiente de variação biológico intraindividual normal entre 2,1 e 2,8%. Exemplos de situações clínicas em que a concentração do cálcio no soro/plasma está elevada (hipercalcemia): » Produção excessiva de paratormona (hPTH): hiperparatiroidismo primário (hiperplasia, adenoma e raramente carcinoma: 90% doa casos) e terciário (estimulação prolongada da hPTH nos doentes com insuficiência renal crónica), secreção ectópica de hPTH (muito rara: tumores do pulmão ou do ovário), hipercalcemia hipocalciúrica familiar (FHH - relação cálcio / creatinina na urina < 0,01) e terapêutica com lítio (10% dos doentes). » Neoplasias: hiperprodução de hPTH-related peptide (exemplos: tumores epidermoides da cabeça e pescoço, pulmão ou pele; mama, geniturinários e gastrointestinais), metástases osteolíticas (exemplos: mieloma múltiplo, neoplasias da mama, da próstata, do pulmão e da glândula tiroideia). » Produção excessiva de 1,25-(OH)2D3: doenças granulomatosas (exemplos: sarcoidose, tuberculose e silicose), neoplasias das células linfóides e intoxicação pela vitamina D. Data emissão: 2015-11-12 Pag. 2 de 3 » Aumento da reabsorção óssea: hipertiroidismo e imobilização prolongada (exemplo: acamados). » Excesso de ingestão de cálcio (exemplo: nutrição parentérica total), doenças endócrinas (exemplo: insuficiência suprarrenal, feocromocitoma e VIPoma), intoxicação pelo alumínio (hemodiálise) e fármacos (exemplos: tiazidas, vitamina A e antiestrogénios). Exemplos de situações clínicas em que a concentração do cálcio no soro/plasma está diminuída (hipocalcemia): » Concentrações diminuídas de hPTH (hipoparatiroidismo): agenesia (primária) ou destruição (secundária: iatrogénica, autoimune ou neoplásica) das glândulas paratiroideias e hipomagnesemia (< 1,0 mg/dL: diminuição da função glandular). » Concentrações elevadas de hPTH (hiperparatiroidismo secundário): diminuição da concentração ou da ação da 1,25-(OH)2D3, resistência à hPTH, insuficiência renal crónica (diminuição da síntese de [1,25-(OH)2D3], hiperfosfatemia aguda (exemplo: síndroma de lise tumoral, insuficiência renal aguda e rabdomiólise) e aumento da resistência do tecido ósseo à ação da hPTH) e pancreatite aguda (ocorre em 25% dos doentes - sinal de mau prognóstico); neoplasias e metástases ósseas associadas a um aumento da atividade osteoblástica (exemplo: neoplasia da próstata); fármacos (exemplos: quelantes do cálcio; inibidores da reabsorção óssea - bifosfonatos e plicamicina; alteração do metabolismo da vitamina D - fenitoína e ketoconazol). » A diminuição do Ca2+ é observada frequentemente nos doentes com insuficiência renal crónica, acamados com patologias graves, após transfusão rápida de sangue ou seus derivados contendo citrato (o citrato é um quelante do cálcio ionizado inativando a sua atividade biológica). Urina: Tem caracteristicamente uma variabilidade fisiológica pré-analítica, apresentando um coeficiente de variação biológico intraindividual normal de cerca de 27,5%. Exemplos de situações clínicas em que a concentração do cálcio na urina está elevada (hipercalciúria - aumento da relação cálcio/creatinina na urina em unidades convencionais: 0-12 meses: ≥ 0,210; 13-24 meses: ≥ 0,450; 25 meses-5 anos: ≥ 0,350; 6-10 anos: ≥ 0,300; 11-18 anos: ≥ 0,260; > 18 anos: ≥ 0,220): » Hiperparatiroidismo, hipertiroidismo, doença de Paget, neoplasias associadas a lesões osteolíticas (mieloma múltiplo e metástases de neoplasias, nomeadamente da próstata), osteoporose, acidose tubular renal (tipo I - distal), doenças granulomatosas (exemplo: sarcoidose, tuberculose, lepra lepromatosa), síndroma de Bartter (incidência na Europa é de cerca de 1 / 1 milhão; hipocaliemia, alcalose metabólica e hipercalciúria), intoxicação por excesso de vitamina-D ou de consumo de cálcio na dieta, e hipercalciúria por aumento da absorção intestinal. Exemplos de situações clínicas em que a concentração do cálcio na urina está diminuída (hipocalciúria): » Hipoparatiroidismo, deficiência de vitamina-D (síndromas de mal absorção e insuficiência renal crónica), pancreatite aguda, alcoolismo crónico, insuficiência hepatocelular, hiperfosfatemia, neoplasias e metástases ósseas associadas a um aumento da atividade osteoblástica e terapêutica com diuréticos tiazídicos. Data emissão: 2015-11-12 Pag. 3 de 3