03 - MGA

Transcrição

03 - MGA
Editorial......................................................................03
Conhecendo o MGA.........................................04
Oração........................................................................05
Bandeira Gay..........................................................06
Conferência Nacional......................................07
Marina Lima e Gal Costa
Travesti faz parto na rua...............................08
Quem...........................................................................09
Discurso Presidente Lula...............................10
Quem...........................................................................12
Quem...........................................................................13
Entrevista João Silvério Trevisan.............14
Chega de Preconceito.....................................17
Múltiplas Cores - Érika Kokay....................18
Opinião......................................................................19
Nota do PCdoB....................................................20
Quem...........................................................................21
Divórcio entre casal gay.................................22
V Parada Gay de Alfenas...............................24
Sargentos gays.....................................................26
Quem...........................................................................28
Quem............................................................................29
50 - Oswaldo Braga.........................................30
Personalidade........................................................31
Propostas LGBT....................................................32
Quem...........................................................................34
Quem...........................................................................35
Milton Cunha........................................................36
Carta aberta à Claudia Leite.......................38
Contos.........................................................................40
Entrevista Luiz Mott..........................................42
Código de Ética da Petrobrás....................45
Quem............................................................................46
Alerta Vermelho...................................................47
O Movimento Gay de Alfenas e região sul
de minas (nome oficial) foi criado em março de 2000 e registrado em maio de 2003.
É uma Organização Não Governamental, sem fins lucrativos formada por voluntários sem nenhuma remuneração nos
cargos e posições que ocupam. Sua missão é lutar por uma sociedade mais justa
02
Esta é uma publicação do MGA (Movimento
Gay de Alfenas e região Sul de Minas)
Av. São José, 185 - Centro - Alfenas - MG
CEP: 37130.000 Telefax: (35) 3291-6253
www.mga.org.br / [email protected]
Fotos: André Pereira Novais
Projeto Gráfico: Reinaldo Henrique Silva
[email protected]
Tiragem: 5000 exemplares
Impressão: Gráfica Gilcav Ltda.
Os artigos assinados são de total responsabilidade
dos autores e não refletem, necessariamente,
a opinião da diretoria do MGA.
O conteúdo desta revista pode ser reproduzido
desde que citada a fonte.
Financiamento:
e inclusiva que reconheça os direitos humanos e a diversidade de gays, lésbicas,
bissexuais e transgêneros. Assim, a Associação propõe e constrói políticas de
homo-inclusão, promove o reconhecimento e a visibilidade das diferentes expressões da homossexualidade e celebra
o orgulho de viver a diversidade.
Verão com 40 graus de Emoção
Poxa, o tempo voa mesmo! Lá
se vão 3 anos que a gente vem driblando os obstáculos e trabalhando duro para produzir uma nova
edição da DIVERSIDADE. Agora,
temos que comemorar e podemos
respirar aliviados por essa e mais 5
edições que virão, garantidas dentro de um projeto apresentado e
aprovado no Ministério da Cultura, indicação através de emenda
parlamentar do deputado José Fernando Aparecido de Oliveira do
Partido Verde daqui de Minas.
Atrasos, problemas gráficos, errinhos de português...mas cá estamos nós, chegando à edição 6,
e cheios de gás. Desta vez, dando
destaque ao resultado das eleições
em nossa cidade, onde com a ajuda, o apoio e o voto de cada um
de vocês, saímos vitoriosos, elegendo o PRIMEIRO VEREADOR
GAY ASSUMIDO DE ALFENAS, o
único eleito em toda região sudeste
do Brasil neste ano, o primeiro do
PV da cidade, o mais jovem da atual legislatura. Ufa! Que responsabilidade. Mas estou pronto e quero poder continuar contando com
a ajuda de cada um para juntos fazermos realmente um mandato
participativo.
Conheça
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Ano novo, que maravilha. O
grande babado é que janeiro significa VERÃO. E esta estação representa corpos suados, malhados, gostosos.. E pra presentearmos o leitor
antenado do MGA, estamos elaborando um calendário dentro de um
projeto aprovado pela Secretaria de
Estado de Saúde de Minas – o MENINOS DE ALFENAS, onde vamos
clicar e exibir 12 desses corpos fazendo parte da execução desse projeto que visa uma redição significativa de casos de HIV entre os HSH.
... Aguardem!!! Mais uma iniciativa pra lá de inédita em nossa
conservadora região sul mineira.
Mas fiquem de olho mesmo porque serão confeccionados apenas
500 calendários.
Sol escaldante. Está na hora de
transformar os tons de pele, de verde água, brancura OMO total, e
amarelo pálido para dourado sensação. Muito protetor solar, óculos
escuros, sungas da moda
(é claro!) e muita camisinha, de todas as cores,
formas e modelos.
Tudo isso para encarar
a estação do sexo selvagem.
Os animais podem
acasalar na primavera,
mas os homens se soltam mesmo, no verão.
Neste momento, nosso tesão vai a
mil por hora. Também pudera, é um
tal de bofes sem camisa, cruzando
nosso caminho, que não dá.
Fevereiro e Março, nem se fala.
Fica impossível circular por Alfenas
sem perceber o transtorno e a delícia que o reinício das aulas causa.
O transito fica engarrafado, os ônibus ficam mais cheios. É um tumulto geral. Mas, um olhar mais cuidadoso sobre esse caos urbano revela o lado positivo dessa bagunça. São esses belos exemplares da
beleza jovem (aí entra os meninos
e meninas) que circulam em direção às suas universidades. E há
tantas nuances e variedades de beleza que fica difícil decidir, num simples percurso de casa ao trabalho,
quem foram os mais “interessantes” que a gente viu pelo caminho.
É comum também esbarrar num
sinal de transito com aqueles grupos de calouros de faculdade levando trote, pedindo uma contribuição,
qualquer moedinha... E lá estão
eles, no auge de seus 18 anos, sem
camisa, com seus rostos e troncos
pintados, verdadeiras obras de arte.
É difícil dizer “não”numa hora dessas e a gente acaba contribuindo
com a brincadeira. Confessa vai..
Ainda mais se o bofe for belo. Rs.
Agora só falta o mais importante, saber a sua opinião...
Esperamos que gostem e que
nos mandem suas críticas, positivas ou negativas, para podermos
sempre melhorar.
Até a próxima.
Sander Simaglio
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“O amor é que é impor
tante, o se
xo é um acidente;
importante,
sex
pode ser igual, pode ser diferente!”
Fernando Pessoa
É sempre bom lembrarmos
quando tudo começou, e principalmente conhecermos como funciona esta instituição que em 2009
completa 9 anos de existência e de
trabalhos ininterruptos não só na
cidade de Alfenas, mas em toda a
extensa e conservadora região sul
de Minas Gerais.
Coloco aqui alguns itens que
são imprescindíveis para o conhecimento da estrutura e funcionamento de nossa ONG:
O que é:
O Movimento Gay de Alfenas –
MGA é uma entidade civil, sem fins
lucrativos, sendo pioneiro na região
sul do Estado de Minas Gerais na
defesa dos direitos de gays, lésbicas, transgêneros e bissexuais. O
MGA foi fundado em 10/03/2000
e é reconhecido de Utilidade Pública Municipal, pela Lei N° 3.670 de
03/12/2003, e de Utilidade Pública
Estadual, pela Lei N° 15.094 de 30/
04/2004.
O que realiza:
Luta de forma permanente pela
inclusão social dos/as homossexuais, através do ativismo, pela construção da cidadania e do fortalecimento da comunidade homossexual. Desenvolve diversas ações que visam a prevenção das DST/HIV/AIDS
e o apoio direto às pessoas que vivem com HIV/AIDS.
Como realiza:
- Através de reuniões com debates temáticos acerca das Homossexualidades, Cidadania e Saúde.
- Promovendo e/ou participan-
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do de atos públicos, debates e oficinas sobre homossexualidade e/ou
DST/AIDS, em escolas, universidades, unidades de saúde e comunidades;
- Prestando orientação jurídica,
psicológica e social às pessoas portadoras de HIV/AIDS e aquelas afetadas por discriminação em decorrência da orientação homossexual;
- Oferecendo ao portador HIV/
AIDS academia completa de musculação para o tratamento da Lipodistrofia;
- Desenvolvendo campanhas e
projetos de prevenção das DST/
AIDS, com fornecimento orientado
e gratuito de preservativos;
- Realizando treinamentos sobre ativismo, prevenção e desenvolvimento institucional;
- Contribuindo para a formação
e/ou fortalecimento de grupos de
promoção dos direitos homossexuais na região sul de Minas Gerais;
- Participando de diversos fóruns
de controle social das políticas públicas em Saúde e Direitos Humanos;
- Disponibilizando uma Lan
House para portadores e comunidade LGBT carente, além de
manter biblioteca e videoteca sobre Direitos Humanos, sexualidade e DST/AIDS para toda a sociedade.
Como é formado:
O MGA é formado por pessoas
de orientação homossexual (gays,
lésbicas, transgêneros) e também
por bissexuais e heterossexuais interessados/as na defesa da livre ex-
pressão sexual e dos direitos humanos.
Nossas Reuniões Gerais:
Em nossa sede, todas as quintas-feiras, às 19:00 horas, conforme nosso calendário de reuniões.
Como ajudar o MGA
MGA::
- Participando das atividades realizadas pela instituição e associando-se ao grupo;
- Nossas ações são custeadas
através de doações, apoios e parcerias, e principalmente através de
projetos financiados pelo Poder
Público Estadual e Federal;
- Para funcionarmos, há uma
série de despesas como aluguel,
telefone, transporte, limpeza, água,
luz etc, que depende inteiramente
de doações e contribuições diversas;
- Você pode doar recursos, assim como livros, revistas, fitas de
vídeo e CDs para a biblioteca e videoteca da instituição.
O Sócio Benemérito:
Colabore com o MGA. Agindo
assim, você estará contribuindo para
a defesa da cidadania de pessoas que
têm seus direitos, infelizmente, desrespeitados diariamente.
Você estará contribuindo para
uma sociedade mais justa onde o
respeito às diferenças seja, de fato,
uma regra.
Torne-se sócio/a benemérito/a
do MGA e contribua mensalmente, para que nós possamos desenvolver nossas atividades. Entre em
contato conosco.
Oração
Óh Deus
Força de todos os TTeus
eus filhos e filhas oprimidos,
Que apenas querem fazer par
te de TTeu
eu Reino de inclusão,
parte
Nos colocamos diante de TTeus
eus olhos de misericórdia.
Ajuda-nos a parar as exclusões, para que já não tenha mais
sofrimento e dor neste TTeu
eu mundo criado bom e belo.
Perdoa nossos silêncios, covardias e cumplicidades,
porque calar e fugir não podem ser as respostas de
Teu povo que quer testemunhar o TTeu
eu Evangelho.
Concede-nos a valentia de ser santuários de TTua
ua coragem
para fazer respeitar toda a diversidade de identidades,
para terminar com todas as iniqüidades de gênero,
para que ninguém tenha medo de amar
amar,,
para que ninguém seja excluído, humilhado e sofra violência,
para que ninguém tenha medo de falar de seu diagnóstico de hiv
...
hiv...
para que sejamos santuários de confiança e amizade verdadeiros.
Empodera a TTeu
eu povo para que seja um corpo que anuncia:
a paz na terra para todas as pessoas que trabalham pela justiça,
para todas as pessoas que trabalham pela paz,
para todas as pessoas que trabalham pela verdade
para todas as pessoas que trabalham pela liberdade
para todas as pessoas que praticam o que aprendem no TTeu
eu Evangelho
Isto TTe
e pedimos por Aquele que não foge e se faz Emmanuel,
o Deus que habita entre todos os grupos e pessoas, excluídas
em seus lares, em suas comunidades e em suas igrejas.
Amém.
Rev Gelson Piber
Pastor da ICM Niterói
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A bandeira gay chega
ao chão da fábrica
SÃO PAULO - A discussão sobre os preconceitos e direitos dos
homossexuais entrou oficialmente na pauta dos trabalhadores.
Desde março, a Central Única dos
Trabalhadores (CUT) criou de forma oficial o coletivo GLBTT (Gays,
Lésbicas, Bissexuais, Travestis e
Transexuais) um grupo onde os trabalhadores discutem temas como
piadas feitas com os gays e lésbicas nas empresas, prevenção a doenças sexualmente transmissíveis
e reivindicações de casais homossexuais a serem incluídas nas convenções coletivas das empresas.
- Assim como as mulheres e os
negros têm um grupo para discutir
suas políticas, achamos que a comunidade GLBTT também precisava ter um núcleo dentro da CUT diz Lucinei Paes Lima, secretária de
Políticas Sociais da CUT estadual e
responsável pelo grupo.
A idéia, diz ela, é ter um debate aberto e diversificado. Numa
das reuniões mais recentes, foi discutido o caso de um rapaz de
uma empresa da Baixada Santista, demitido por justa causa notadamente por ser homossexual.
Histórias de homossexuais homens e mulheres - descartados
ainda durante as entrevistas de
seleção de emprego também já
entraram na pauta. Um dos pontos mais importantes das discussões é como levar para as convenções coletivas das empresas os
direitos dos homossexuais.
Em algumas categorias, como
enfermeiros e bancários isso já está
acontecendo. No sindicato dos
enfermeiros, trabalhadores homossexuais podem justificar a ausência para acompanhar o companheiro ao médico, por exemplo.
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Nessa categoria, os casais homossexuais também já conseguiram a
extensão do auxílio-doença. E a
idéia é ampliar os benefícios como
assistência médica e auxílio funeral para casais que mantém relações homoafetivas.
- Duas companheiras do movimento sem-terra, no Pontal do
Paranapanema, obtiveram na
Justiça o documento de posse da
terra em nome de ambas. Essa é
uma vitória importante que queremos discutir no grupo e lutar
para transformá-la em lei - diz
Lucinei Lima, da CUT.
O coletivo é formado por 15 representantes indicados por sindicatos, que não necessariamente são
homossexuais. Estão representados
setores como químicos, bancários,
enfermeiros, metalúrgicos, metroviários e funcionários de limpeza. As
reuniões vinham acontecendo informalmente há cerca de dois anos,
mas o grupo foi oficializado este
ano. Os encontros acontecem uma
vez por mês. O último discutiu uma
postura mais política a ser levada
para a Parada Gay.
- Participamos nos últimos dois
anos e este ano também teremos
um carro. Mas queremos levar
para a semana do Orgulho Gay a
discussão de políticas públicas
para os homossexuais. A Parada
não pode ser apenas festa - diz
Elaine Aparecida Leoni, secretaria
geral do sindicato dos enfermeiros, que participa do grupo.
A criação oficial do núcleo GLBTT na CUT não significa que o
preconceito em relação ao universo homossexual tenha amainado
dentro das fábricas. Setores como
a construção civil ou de trabalhadores rurais, considerados mais
machistas pela própria instituição,
ainda relutam em mandar representantes ao grupo. Mesmo assim, a criação desse coletivo, único a existir numa central sindical
na América Latina, já é considerada uma vitória pelos seus integrantes.
- Há ainda muito preconceito
de alguns setores para indicar representantes para um grupo
como esse - diz Lucinei, da CUT.
“Marxismo, quando usado devidamente, é um sistema aber
to
aberto
que absor
ve novas experiências e
absorve
ajusta antigos paradigmas e conceitos a novas realidades”
Sam Webb
I Conferência Nacional de Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais
Os(as) delegados(as) da Conferência Nacional de Lésbicas, Gays, Bisse
ravestis e
Bissexuais,
Travestis
xuais, T
xuais aprovaram, na madrugada do dia 9, a Car
ta de Brasília. A Car
ta e
xpressa a
ransexuais
Carta
Carta
expressa
Transe
esperança de um futuro sem preconceito e discriminação.
Carta de Brasília
Nós delegadas e delegados, participantes da Conferencia Nacional de
Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e
Transexuais (LGBT), reunidos em Brasília, entre os dias 5 e 8 de junho de
2008, com o intuito de avaliar e propor estratégias de promoção da cidadania e de combate à violência e a
discriminação contra a população
LGBT, manifestamos nossa esperança e confiança de conquistarmos um
Brasil e um mundo sem nenhum tipo
de preconceito e segregação;
Consideramos que o processo de
mobilização social e a consolidação
de políticas públicas em todas as esferas do Estado são fatores determinantes para a construção de uma
sociedade plenamente democrática,
justa, libertária e inclusiva;
Para tanto, assumimos o compromisso de nos empenharmos cada
vez mais na luta pela erradicação da
homofobia, transfobia, lesbofobia,
machismo e racismo do cotidiano de
nossas instituições e sociedade, e por
um Estado laico de fato;
A humanidade conhece os horrores causados pelas diferentes formas e
manifestações de intolerância, preconceito e discriminações praticadas contra idosos, crianças, pessoas com deficiência, bem como por motivações de
gênero, raça, etnia, religião, orientação
sexual e identidade de gênero;
Contra o segmento LGBT tem recaído, durante séculos, uma das maiores cargas de preconceito e discriminações. Na idade média foram
queimados em fogueiras. Durante o
reino da barbárie nazista foram marcados com o triangulo rosa e assassinados em campos de concentração e fornos crematórios, juntamente com Judeus, Ciganos e Testemunhas de Jeová. Também nos países
ditos do “socialismo real”, lésbicas,
gays, bissexuais, travestis e transexuais foram vitimas de discriminações,
preconceito, e condenações, o que
mostra que a intolerância e a discriminação extrapolam as barreiras ideológicas e os regimes políticos;
Assim, como os preconceitos foram gerados e alimentados por determinadas condições históricas, é
chegado o momento de introduzir
no âmago dos valores essenciais da
sociedade: a consciência, o respeito e o reconhecimento da dignidade da pessoa humana, em sua absoluta integridade, em superação a
comportamentos, atitudes e ações
impeditivas ao avanço de conquistas civilizatórias, as quais dedicamos
nossos melhores esforços;
No mundo de hoje ainda existem
países onde uma pessoa pode ser presa, condenada e morta por sua orientação sexual e identidade de gênero. A ONU reconhece a condição de
refugiado político às pessoas que estejam ameaçadas em sua segurança
ou integridade em virtude de sua raça,
religião, nacionalidade, opinião política ou identificação a certos grupos
sociais – onde se incide a orientação
sexual e a identidade de gênero,
quando expostas a situações de ameaça, discriminação ou violência – circunstâncias características de grave
violação de direitos humanos;
Cumpre ao Poder Público (Executivo, Legislativo e Judiciário), o dever
do diálogo, entre seus órgãos, e com
a sociedade civil, com vistas à convalidação de direitos e à promoção
da cidadania LGBT; seja pela ampliação, transversalidade e capilaridade
de políticas públicas; pelo aprimoramento legislativo e pelo avanço jurisprudencial que reconheça, no ordenamento constitucional, a legitimidade de direitos e garantias legais
reivindicadas pelo público LGBT em
suas especificidades;
Nem menos, nem mais:
direitos iguais!
É oportuno que o governo brasileiro busque apoio na comunidade internacional para a retomada, junto ao
conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU),
das discussões para a aprovação de
uma nova resolução dedicada aos Direitos Humanos e a Orientação Sexu-
al e Identidade de Gênero, a exemplo
da Resolução já aprovada na OEA,
também apresentada pelo Brasil.
A prática afetivo-sexual consentida
entre pessoas do mesmo sexo integra
os direitos fundamentais à privacidade
e à liberdade. Por isso, o avanço da cidadania LGBT requer o reconhecimento das relações homoafetivas como
geradora de direitos, sem discriminação quanto àqueles observados nos
vínculos heterossexuais;
Repudiamos toda e qualquer associação entre a promoção de direitos da população LGBT com a criminosa prática da pedofilia e da violência sexual presente na sociedade brasileira, que devem ser tratadas, rigorosamente na forma de lei;
Consideramos que a luta pelo direito à livre orientação sexual e identidade de gênero constitui legítima
reivindicação para o avanço dos direitos humanos em nossa sociedade
e para o aprimoramento do Estado
Democrático de Direito;
Para tanto, solicitamos urgência
na criação do Plano Nacional de Direitos Humanos e Cidadania LGBT;
o cumprimento dos objetivos do Programa Brasil sem Homofobia e a
aprovação dos projetos de lei que criminaliza a homofobia; que reconhece a união civil de pessoas do mesmo sexo e que autoriza a mudança
do nome civil das travestis e transexuais pelo seu nome social;
Por isso, nós, participantes da Conferência Nacional de Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais reivindicamos ao Poder Público (nos três
níveis) que se aprofunde esforços, reflexões e ações em prol da consolidação de direitos de toda a comunidade LGBT, a fim de que as futuras gerações possam viver num mundo
onde toda modalidade de preconceito e discriminação, motivadas por
questões raciais, religiosas, políticas e
de orientação sexual e identidade de
gênero, estejam definitivamente suprimida do convívio humano.
Brasília 08 de junho de 2008
07
Marina Lima revela que sua 1ª
experiência gay foi com Gal Costa!
Em entrevista à revista Joyce
Pascowitch, a cantora Marina
Lima, famosa por suas polêmicas, revelou que a também
cantora Gal Costa foi sua primeira experiência homossexual, quando Marina tinha 17
anos. “Fiquei louca pela Gal.
Um tio meu da
Bahia me levou
a um show
dela e eu fiquei muito fã.
Passaram al-
guns anos e eu ouvi falar que
Gal era gay. Foi um choque
para mim. Um choque!”, disse
ela na revista.
Marina conta que não sabia
sobre a homossexualidade de
Gal Costa: “aí eu soube que
essa mulher, que era meu grande ídolo, transava com mulher.
Foi um choque, mas aquilo
abriu uma porta para mim. Até
que, enfim, eu conheci a Gal.
Eu tinha 16, 17 anos, e ela começou a brincar de sedução
comigo. Fiquei em pânico e
voltei para os Estados Unidos.
Aí, lá fora, eu vi que eu queria
experimentar, e que a pessoa
que eu queria era ela. E me
aproximei da Gal e acabei tran-
sando com ela. Foi muito importante para mim”.
Na entrevista, Marina afirma
ainda que chegou a ter relações
com outras cantoras, mas que
a mais famosa delas foi Gal Costa. “É a que vale a pena falar.
Foi a primeira, né?”
Foi muito bonito e emocionante o gesto de solidariedade
de uma travesti que, talvez sem
a ajuda de um soldado, o parto
improvisado de uma mulher em
plena via pública, não se concluísse exitosamente.
Tomaram parte no acontecimento o travesti Andréia, o
empresário Cobalchini e o investigador policial Santos em
uma passarela próximo à estação Niterói do Trensurb, na cidade de Canoas. A jovem mãe,
25, passava pelo local quando
inesperadamente estourou a
bolsa, entrou em serviço de
parto e tudo aconteceu.
Andréia, a primeira pessoa a
socorrê-la é uma travesti, moradora de rua que coincidentemente encontrava-se nas proximidades conversando com
amigos, quando ouviu o pedido de socorro da jovem Letícia.
Segundo relata, entrou em pânico quando ouviu chamar pelo
seu nome. Foi o quanto deu
para improvisar uma mesa de
parto em cima de um banco na
base da passarela, contou. Alguns curiosos se aglomeraram
e tentaram evitar o parto improvisado, chamando o serviço de
urgência, mas antes do socorro médico chegar vinha ao
muno uma bonita menina com
dois quilos e 195 gramas, que
passou a chamar-se Gabriela.
Tudo correu bem. A menina
já está com quase uma semana de vida.
08
Francisco Basso Dias
09
Discurso HISTÓRICO do
Lula na abertura da I
Conferência Nacional GLBT
(na íntegra)
Meu caro companheiro Paulo Vannuchi, secretário especial dos Direitos
Humanos,
Meu caro companheiro José Gomes Temporão, ministro da Saúde,
Meu caro Carlos Eduardo Gabas,
ministro interino da Previdência Social,
Meu querido companheiro Luiz
Dulci, ministro-chefe da SecretariaGeral da Presidência da República,
Meu querido companheiro José Antonio Toffoli, advogado-geral da União,
Meu querido companheiro Elói
Ferreira de Araújo, ministro-chefe interino da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial,
Nossa querida companheira Nilcéa
Freire, secretária especial de Política
para as Mulheres,
Minha companheira Marisa,
Minha querida companheira Cida
Diogo, presidente da Frente Parlamentar da Cidadania GLBT, em nome de
quem cumprimento todos os companheiros parlamentares aqui presentes,
Meu querido companheiro Tony
Reis, Fernanda Benvenuti e Negra Cris,
por meio de quem quero cumprimentar todas as delegadas e delegados presentes a esta I Conferência Nacional de
Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais,
Companheiros convidados,
Meu querido companheiro Sérgio
Mamberti,
Minha querida companheira Arlete,
Meus queridos companheiros representantes de delegações estrangeiras
aqui presentes – eu sei que são 14 países participando desta I Conferência,
Companheiros e companheiras da
imprensa,
Meus amigos,
Minhas amigas,
Companheiros e companheiras,
Primeiro, Paulinho, eu queria te
agradecer por este momento. O Paulinho, no ano passado, me procurou
para dizer que, de todas as conferências, de tantas que nós já fizemos...
Já foram 49 conferências nacionais
que nós fizemos. Certamente já envolvemos, ao todo, mais de 3 milhões
e meio de brasileiros e brasileiras, de
10
todo o território nacional. Neste ano
que se inicia, nós estamos fazendo a I
Conferência, e o Paulinho falou: “Lula,
é importante” – ele não me chama
de Lula, me chama de Presidente, apesar dos 40 anos de amizade –, “nós
precisamos fazer essa Conferência. E
eu queria saber se o Presidente a convocará por decreto”. Eu disse: “Paulinho, prepara o decreto, que nós a
convocaremos por decreto”.
E por que eu comecei elogiando o
Paulinho? Paulinho, eu penso que o
Temporão disse uma coisa aqui que,
se alguém não gravou, é importante
gravar, porque eu acho que o seu discurso é antológico. Quem faz muito
discurso, tem dia que acerta, tem dia
que não acerta.
Você que grava novela, Serginho,
não é assim? Tem dia que você vai lá,
grava um texto em 30 segundos e vai
embora; e tem dia que aquele texto
de 30 segundos leva 3 horas para gravar. Eu me lembro de que uma vez
nós ficamos com o Suplicy das 9 da
noite às 3 da manhã para gravar um
texto, acho que de 35 segundos.
Bem, meus companheiros, eu
quero agradecer a vocês por estar vivendo este dia. Não é fácil para um
presidente da República, nem aqui no
Brasil e nem em outro país do mundo, participar de eventos que envolvam um segmento tão grande, tão
heterogêneo e tão motivo de preconceitos com vocês. Não é fácil.
Então, quando o Tony Reis fala que
nunca antes na história do Planeta um
presidente convocou uma conferência como esta, eu fico orgulhoso porque nós estamos vivendo no Brasil um
momento de reparação.
Eu tenho dito, Paulinho, quando
vou inaugurar obras do PAC nas favelas, que o que nós estamos fazendo é
uma reparação de governantes irresponsáveis que, durante 50 ou 60 anos,
deixaram os pobres se amontoarem
em lugares que não deveriam se
amontoar. Na verdade, se quando
aparecessem os primeiros grupos de
pobres, o prefeito e os vereadores fossem lá e cuidassem deles, os colocassem num lugar mais adequado, não
permitiriam que virassem cidades, não
permitiriam a quantidade de gente
morando de forma degradante neste
País. Houve momentos de irresponsabilidade. Então, eu tenho dito que
nós estamos fazendo um processo de
reparação. E o Brasil precisa de um
processo de reparação.
Quando eu recebi, no Palácio do
Planalto, os nossos queridos companheiros e companheiras catadores de
papel, o companheiro lá de São Paulo
fez um discurso, e dizia: “Presidente,
se a gente não conquistar mais nada
na vida, só o fato de a gente estar colocando o pé dentro do Palácio do Planalto, já terá valido a pena, porque nós
nunca imaginamos passar nem perto
do Palácio do Planalto”.
Eu participei com a companheira
Nilcéa, no Rio de Janeiro, há dois anos,
acho que foi do Dia do Combate à
Aids, se não me falha a memória, e
eu dizia para a Nilcéa: nós precisamos
criar no Brasil o Dia do Combate à Hipocrisia. Eu sei que isso fere pessoas,
deixa outras angustiadas, mas o dado
concreto é que, se eu não conseguir
criar, alguém vai criar, Nilcéa. Sabem
por que é preciso criar o Dia do Combate à Hipocrisia? Porque quando se
trata de preconceitos, eu o conheço
nas minhas entranhas, eu sei o que é
preconceito. Talvez seja a doença mais
perversa impregnada na cabeça do ser
humano. É uma doença que a gente
não combate apenas com leis. A lei
ajuda, a Constituição ajuda, montar
conselhos ajuda, Tony, tudo ajuda,
mas é um processo cultural. É um processo que passa por uma revolução
cultural de as pessoas irem compreendendo que precisamos nos gostar
do jeito que somos, que não precisamos querer que ninguém seja igual.
Mesmo nesta platéia, é bem possível
que tenha diferenças, que tenha preconceitos, uns achando “eu posso
isso, mas aquele não pode aquilo”. Se
nós não arejarmos a cabeça, a despoluirmos de preconceitos, não cumpriremos o que o Paulinho pediu aqui,
que é a unidade em torno das coisas
votadas no Congresso Nacional.
Eu vou dizer a vocês o mesmo o
que eu disse no encontro que nós fizemos da Conferência da Igualdade
Racial. Nós temos um grande projeto
para fazer o Estatuto da Igualdade Racial dentro do Congresso Nacional. Eu
fui muito claro aos companheiros delegados: se vocês não se colocarem
de acordo, por mínimo que seja, alguém terá que abrir mão de alguma
coisa para construir o consenso para
o Congresso Nacional votar. Se vocês
estiverem divididos dentro do Congresso, não haverá Estatuto da Igualdade Racial nem hoje e nem nunca.
Vocês vão ter três dias de Conferência e, livremente, irão discutir, discursar, escrever, retratar e apresentar
uma proposta para o governo. Posso
dizer a vocês: o tratamento que vocês terão, com o documento que
apresentarem, será igual ao tratamento que nós demos às 49 conferências
que aconteceram antes da de vocês.
Se não for assim, nós estaremos fazendo apenas uma meia democracia,
aquela democracia que pode aparecer na hora que eu quero, quando eu
preciso, mas que não é plena, não
paira 24 horas em cima das nossas cabeças, em cima da cabeça daqueles
que, por preconceito, não querem entender o jeito de ser de cada um.
Obviamente que nós também seremos honestos, como fomos honestos com as outras conferências. Aquilo que não puder ser feito, a gente vai
dizer com o mesmo companheirismo:
companheiros, isso aqui não dá, isso
aqui não passa, isso aqui não vai. Se
não estabelecermos essa relação companheira entre nós, terminaremos a
Conferência e voltaremos a ter as desconfianças que tínhamos antes de entrar aqui.
Eu disse que agradecia o fato de estar aqui hoje, porque uma vez eu disse
que todo político é cheio de certezas,
todo político é cheio de convicções muito precisas. As pessoas se assustavam
quando eu dizia: “Olha, eu sou a metamorfose ambulante”. Na minha vida,
eu penso que tenho tudo definido. No
dia seguinte eu aprendo que tem uma
coisa que ainda não estou definido, e
que eu preciso me definir; que tem uma
coisa que eu era contra, agora sou a favor; que tem uma coisa que eu não concordava, agora eu concordo. É esse o
jeito de governar uma família que tem
190 milhões de filhos. Não é filho único,
não temos apenas uma religião, não temos apenas uma opção sexual. Disseram bem, todos os que falaram aqui,
do Paulinho ao companheiro Temporão: ninguém pergunta a opção sexual
de vocês quando vão pagar Imposto de
Renda, ninguém pergunta quando vai
pagar qualquer tributo neste País. Por
que discriminar na hora em que vocês,
livremente, escolhem o que querem fazer com o seu corpo? É mais fácil falar
do que transformar as palavras em coisas concretas, porque aí é preciso medir
a correlação de forças na sociedade. Mas
uma coisa sagrada vocês fizeram: conseguiram quebrar a casca do ovo, conseguiram gritar para o Brasil que vocês
existem e que não querem nada a mais,
nem nada a menos do que ninguém.
Vocês querem ser brasileiros, trabalhar
e viver respeitados, como todos querem
ser respeitados no mundo.
Por isso eu quero dizer a vocês que,
quando nós assinamos o Decreto, as
pessoas começaram: “Mas você vai,
Presidente?” Você sabe o que eu senti quando coloquei o boné na cabeça, Tony? O mesmo preconceito que
tinha contra mim quando, pela primeira vez, eu coloquei o boné do Movimento dos Sem-Terra na minha cabeça. Eu nunca apanhei tanto. Eu era
recém-presidente da República, recém-empossado, e coloquei o chapéu
dos Sem-Terra na cabeça. Eu apanhei
acho que mais de um mês na imprensa. Eu poderia colocar chapéu do Banco do Brasil, do Banco Real, do Bradesco, da Vale do Rio Doce, da Petrobras, do Corinthians, do Flamengo, do
Vasco, eu poderia falar qualquer...
Agora, eu não poderia colocar dos
Sem-Terra, e me veio uma luz: eu vou
colocar todos, porque somente assim
vou quebrar o preconceito que as pessoas têm, de achar que você pode ou
não pode fazer as coisas.
É gratificante vir aqui porque a
gente sai aprendendo uma lição, a lição da maturidade política do Movimento, a lição da compreensão de
que só existe um jeito de, cada vez
mais, a sociedade reconhecer o Movimento: é cada vez mais brigar, é
cada vez mais andar de cabeça erguida, é cada vez mais brigar contra o
preconceito, é cada vez mais denunciar as arbitrariedades. Somente assim
a gente vai conquistar a cidadania plena e poder, todo mundo, andar de cabeça erguida nas ruas, sem ninguém
querer saber o que nós somos, apenas que somos brasileiros e brasileiras
e que queremos construir este País
sem preconceitos.
Eu conheço líderes importantes.
Ao longo da minha vida, eu conheci
figuras muito importantes no Planeta, que não têm coragem de assumir
o homossexualismo no seu país. Dá a
impressão de que não existe, porque
as pessoas sempre pensam: “no meu
país não tem isso, na minha casa não
tem aquilo, eu nunca vou pegar isso,
eu nunca vou pegar aquilo”. Nós estamos sempre transferindo para os outros quando, na verdade, seria tão
mais simples e o mundo seria tão mais
alegre, se nós fôssemos menos rígidos com os tabus que foram colocados no nosso caminho ao longo da
nossa história.
Quero dizer a todos vocês, companheiros e companheiras: Deus ilumine vocês, e apresentem aqui a proposta que vocês entenderem seja a
melhor e que possa garantir... Eu posso dizer a vocês: no que depender do
apoio do governo, no que depender
do apoio do Poder Executivo e dos Ministros, nós iremos trabalhar para que
o Congresso Nacional aprove o que
precisar aprovar neste País.
Eu me lembro, Paulinho... Acho
que não te contei, porque isso ainda
não é do seu tempo. Você sabe que
uma vez eu descobri que aqui, em
Brasília – o Paulinho já era ministro –,
tinha o problema de uma lei que não
permitia que o portador de deficiência física – sobretudo a pessoa que tinha um problema de visão – andasse
no transporte com seu cão-guia, pegasse o metrô, entrasse no supermercado, entrasse na igreja. Aí eu falei:
“Paulinho, nós vamos convocar uma
reunião dentro do Palácio do Planalto, com os cachorros lá. Os cães vão
entrar dentro do Palácio do Planalto
porque, na verdade, os cães são uma
extensão daquele companheiro que é
portador de deficiência visual”.
Eu acho que são exemplos assim
que a gente vai tendo que fazer, cada
vez mais, até que um dia consiga andar na rua sem perceber ninguém
olhando meio de esguelha para a gente, aquele olhar de lado, aquele olhar
desconfiado.
Então, eu acho que este dia é, realmente, histórico. Eu penso que vocês não têm ainda a dimensão do que
este dia pode causar, como efeito multiplicador de quebra de preconceitos
e de conquista de direitos.
É uma pena, meus queridos deputados – quero agradecer a presença de vocês –, que mais deputados e
senadores não tenham vindo. É uma
pena porque, ao ver vocês, eles iriam
tomar um susto, e iam fazer uma exclamação: “São iguais a mim” Quem
sabe voltassem para suas atividades
com menos ranço e com menos preconceito.
Boa sorte, boa Conferência. Que
Deus abençoe a todos vocês.
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“O protesto se faz
justamente na festa”
“É uma novidade excepcional o
fato de um segmento minoritário
conseguir se afirmar publicamente
em dimensões tão extremas. Eu
chorei por várias vezes nas primeiras
edições da PParada
arada do Orgulho Gay
aqui de São PPaulo”.
aulo”.
Cer
ta vez, o sociólogo britânico
Certa
Anthony Giddens dissera: “O sexo
hoje em dia aparece continuamente no domínio público e, além disso,
fala a linguagem da revolução”. Liderança querida do movimento ho
ho-mossexual brasileiro, o escritor João
Silvério TTrevisan
revisan é exemplo vivo da
publicização contemporânea das
questões de ordem sexual. PProtago
rotago
rotago-nista do desenvolvimento das lutas
revisan discute, na
GLBT no Brasil, TTrevisan
entrevista a seguir
seguir,, a origem e a maturação da realização das chamadas
“paradas pela diversidade sexual” ou
“paradas pelo orgulho gay
gay””. “A priaulo nós
meira parada aqui de São PPaulo
fizemos em 1981. Naquele momento, enfrentamos uma resistência brutal. Em algumas ruas, as pessoas do
alto dos prédios jogavam merda na
gente”, lembra. Emocionado com a
dimensão social e cultural que as
manifestações assumiram no correr
da década de 1990, o escritor defende o caráter festivo dos eventos
do gênero e garante: “Um engajamento político feliz tem muito mais
sentido de ser
ser”” Quando a gente discute o surgimento das paradas GLBT
GLBT,,
sempre se apontam as manifestações contra a discriminação sexual
de 1969 em Greenwich Village,
Nova Iorque, como um marco desses movimentos. Na mesma época,
você começava a enveredar pelo cinema, com uma produção também
interessada por questões de ordem
sexual. FFoi
oi uma mera coincidência?
Absolutamente. Acho que o período favorecia tudo isso. Indiscutivelmente, essas manifestações homossexuais são resultado direto de maio de
1968. O meu interesse pelas questões
colocadas pelo movimento de maio de
1968 era tão grande e tão frustrado
aqui no Brasil que eu decidi ir aos Esta-
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dos Unidos. Aliás, eu não fui para os
Estados Unidos.
Eu fui para Buckley, na Califórnia,
que foi um pólo importante das lutas
estudantis de 1968 e também de efervescência para todo um conjunto de
informações novas que a esquerda
brasileira de então não me oferecia.
Claro, ali também estava em jogo
a minha homossexualidade. Eu havia
me assumido homossexual e estava
procurando novos caminhos que me
permitissem pensar essa minha condição. A esquerda brasileira abominava tudo isso. A esquerda brasileira ainda estava concentrada no conceito de
luta de classes. Então, todas as outras
lutas eram excluídas ou tidas como
lutas menores. Ou se defendia a luta
do proletariado ou não se defendia
luta alguma. As pessoas queriam que,
primeiro, se fizesse a revolução do proletariado para, só depois, caminhar
para as outras revoluções. Sempre
pensei o contrário: para mim, todas
as revoluções têm que estar juntas.
De que forma os episódios acontecidos nos Estados Unidos influenciaram o movimento gay brasileiro,
tendo em vista que aqui o PPaís
aís convivia com uma ditadura?
Olha, influenciaram através dos
exilados, basicamente. No Brasil dos
anos 1960 e 1970, a gente convivia
com duas ditaduras: uma ditadura de
Estado, de direita, político-militar; e
uma ditadura de esquerda, que não
compreendia o discurso da diversidade. Eu saí do Brasil, auto-exilado, por
três anos, circulando pelo continente. Fui por terra de São Paulo a Buckley, onde fiquei por um ano e meio.
De lá, fiquei outro tempo também no
México. Foi uma época da minha vida
em que optei por circular. Na verdade, a experiência que tive nos Estados Unidos foi crucial para o desenvolvimento do movimento homossexual brasileiro. A fundação do primeiro grupo de liberação homossexual
que surge no Brasil, que está agora
completando 30 anos, é fruto das minhas vivências nos Estados Unidos.
Buckley é uma cidade ao lado de São
Francisco, uma cidade basicamente
universitária, um caldeirão cultural
avançadíssimo nos anos 1970. Para
você ter uma idéia, em 1975, Buckley
tinha coleta seletiva do lixo! Buckley
tinha uma forte consciência ecológica, Buckley tinha uma forte consciência feminista, Buckley tinha forte
consciência negra por conta da influência de Oakland. Além disso, havia
um movimento homossexual organizado extraordinário. Absurdamente
contrário ao Brasil daquele período,
nos Estados Unidos era permitido e
comum entre os homossexuais que
eles conversassem sobre seus direitos.
Buckley colocou todas as minhas idéias pessoais em cheque e foi a partir
disso que comecei a mobilizar alguns
companheiros quando voltei ao Brasil. Cheguei em 1976 e me senti profundamente solitário... Organizar um
grupo foi o jeito que encontrei de existir. Mas a verdade é que, naquele momento, a gente nem sequer sabia
como começar uma conversa sobre
as questões homossexuais. A gente
tinha sérias limitações políticas, ideológicas e psicológicas para discutir
nossa sexualidade.
Passados 40 anos, que diálogo
o senhor vê entre aquelas manifestações de poucos militantes com
essas passeatas de milhares de pessoas que acontecem nas principais
metrópoles?
Historicamente, eu não consigo
traçar uma explicação para as paradas. Não havia indício de manifestações nessas proporções. Fico emocionado quando vejo que elas se tornaram possível. As paradas são a
grande exceção e a minha grande esperança no movimento homossexual. As paradas me parecem ser a única manifestação popular e coletiva da
comunidade homossexual. Então, as
vejo como um instrumento político
importantíssimo, apesar de muita
gente as considerar um carnaval fora
de época. Seja um carnaval ou não, o
fato é que homossexuais estão tomando as ruas, realmente rompendo com o esquema de invisibilidade,
fazendo o que nenhum outro grupo
ou movimento social faz. Isso tudo
com uma reivindicação muito sofisticada, que é o direito de amar.
As paradas tiveram mesmo uma
contribuição decisiva para uma ampliação dos direitos civis dos segmentos homossexuais?
Claro. Principalmente, enquanto
elemento de pressão. Antes, os homossexuais não tinham visibilidade
pública. Todo mundo sabia que os
homossexuais existiam aos montes,
mas ninguém tinha uma noção exata disso. Hoje, a Avenida Paulista fica
lotada de pessoas que se afirmam,
que têm cheiro, que têm corpo, que
têm idéias e identidades... Eu vou todos os anos e sempre fico emocionadíssimo quando vejo aquela multidão.
Olho a Parada do Orgulho Gay e penso: “Meu Deus, como valeu a pena
todo meu esforço”. Penso isso sem
nenhum tipo de pejo. Jamais pensei
que aqueles nossos encontros de
poucos gatos pingados pudessem se
transformar num evento de massas
nessas proporções. Além da pressão
social que vem no bojo da realização
das paradas, penso que os homossexuais ganham muito em termos de
politização com esses eventos. O homossexual que vai a uma parada conquista uma visibilidade pública que é
essencial. Nós, homossexuais, já sofremos muito por não termos uma
auto-imagem. Durante muitos anos,
nós estivemos completamente alheios de qualquer representação com
pretensões de dar conta da realidade.
É como se não existíssemos. As paradas nos dão existência pública. Uma
coisa que me emocionou muito, acho
que na terceira ou quarta parada aqui
de São Paulo, foi o fato de as pessoas
começarem a participar sem óculos
escuros. No começo, as pessoas meio
que se protegiam atrás dessa máscara... Fico felicíssimo quando vejo que
os homossexuais, aos poucos, estão
se expondo. Politicamente e psicologicamente, as paradas cumprem a
função de mostrar que nós, homossexuais, não estamos mais sozinhos.
Por que esses eventos tiveram um
crescimento tão dinâmico ao passo
que instrumentos também muito impor
tantes, a exemplo do jornal Lamportantes,
pião do qual o senhor fez par
te, não
parte,
vingaram?
Eu acredito que tem muito a ver
com a época. O Lampião só existiu
para que a parada pudesse existir. Isso
significa que houve um processo histórico. A primeira parada aqui de São
Paulo nós fizemos em 1981. Ali, a
idéia ainda era de passeata, mas reunimos 500 pessoas para protestar
contra um delegado que estava
prendendo deliberadamente travestis, prostitutas e homossexuais no
Centro de São Paulo. Naquele momento, enfrentamos uma resistência
brutal. Em algumas ruas, as pessoas
do alto dos prédios jogavam merda
na gente. Hoje, a situação é outra:
há uma disponibilidade muito solidária para a questão da diversidade.
É uma coisa impressionante a quantidade de idosos e crianças que esses eventos conseguem atrair. Isso,
para mim, é uma conquista sem precedentes para a causa homossexual. Sem o Lampião, a Parada do Orgulho Gay não seria possível. Ele
cumpriu uma etapa que abriu portas para as conquistas atuais. Sem
falar que o Lampião morreu por um
problema editorial, de viabilidade editorial que existe até hoje. O Lampião
não tinha anunciantes, como também a G Magazine enfrenta problemas econômicos seríssimos. A própria Parada do Orgulho Gay, com
toda a multidão de gente que atrai,
não encontra patrocínio de empresas privadas... Isso é uma atitude
completamente inaceitável. Para
mim, trata-se de uma atitude ilógica
comercialmente, financeiramente,
que só se justifica por questões preconceituosas.
A dificuldade do movimento ho
ho-mossexual em transformar esses 3,4
milhões de par
ticipantes da PParada
arada do
participantes
Orgulho Gay de São PPaulo
aulo em capital econômico também se repete no
âmbito da política?
Pelo contrário. A Parada do Orgulho Gay encontra investimento público justamente por se configurar como
estratégico economicamente. Hoje, a
parada é o maior atrativo turístico de
São Paulo. Por isso, a Prefeitura não
abre mão da realização do evento.
Para você ter uma idéia, o Ministério
Público decretou que todas as manifestações públicas fossem retirados da
Avenida Paulista, por conta do fluxo
do trânsito, e essa regra não vale para
a Parada do Orgulho Gay. A própria
cidade tem interesse no evento, interesse econômico, sobretudo. Graças
ao potencial econômico da parada é
que ela se impôs. Há três anos, o jornal Folha de São Paulo publicou uma
pesquisa sobre a Parada do Orgulho
Gay que atestava que 76% dos participantes homossexuais, bissexuais e
transsexuais do evento concordam totalmente ou em parte com a frase “alguns homossexuais exageram nos trejeitos, o que alimenta o preconceito
contra os gays”. O senhor foi uma das
vozes contrárias ao índice, lamentando o fato de os gays “praticarem o
mesmo preconceito que os vitima”.
O senhor arriscaria uma explicação para isso?
Isso é um sintoma do baixo, baixíssimo, nível de politização do movimento homossexual brasileiro. Por uma fatalidade histórica e cultural, a comunidade homossexual tem um nível político baixíssimo no Brasil. Isso tudo é
também um sintoma muito claro de
como o movimento homossexual brasileiro vem se conduzindo. É um movimento de elite, feito e voltado para a
classe média, em consonância direta
com o poder. Há um diálogo do movimento homossexual com o poder
que não passa pela comunidade homossexual e vejo isso como um problema. Esse problema é uma herança
que o movimento homossexual, mas
não só ele, tem das esquerdas.
Para as esquerdas, sempre foi
mais fácil pegar em armas do que
provocar uma mudança de mentalidade dos indivíduos. Isso aconteceu
também com as feministas. Quando elas começaram a se mobilizar,
muitas tiveram reação de seus mari-
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dos, que eram revolucionários só fora
de casa. Então, penso que esse tipo
de crítica é uma comprovação da falta de auto-estima da comunidade
homossexual e ainda uma falta de
consciência enquanto comunidade,
enquanto coletividade. A idéia que
tem que ser valorizada é a diversidade, por mais que esse termo seja desgastado. Não existe essa coisa do mais
gay e do menos gay. O que estamos
reivindicando é justamente isso: o direito à diferença.
Por que o caráter festivo das paradas provoca reações tão conflitantes?
Os organizadores quase sempre
argumentam que os trios elétricos e
shows com artistas famosos se justificam por atrair segmentos extra-GLBT.
Os militantes mais engajados, no entanto, reclamam de uma aparente
despolitização do evento.
Política e carnaval não podem
atuar conjuntas?
Essas lideranças que reclamam são
todas elas umas idiotas. Quem reclama de despolitização, na verdade, não
tem nenhum consciência política.
Não faz sentido essa revolta contra
uma manifestação política alegre. Um
engajamento político feliz tem muito
mais sentido de ser. Então, vamos festejar! O grande macete das paradas
foi tirar o caráter de passeata e inserir
o caráter de celebração. O protesto
se faz justamente na festa. Você pode
ser muito político, fazendo carnaval,
não há nenhum antagonismo de intenções. Aliás, os homossexuais deveriam ter a obrigação de perceber
que nós sempre fizemos isso. Nós
sempre fizemos da celebração um
mecanismo de resistência.
No contexto da popularização das
paradas GLBT no Brasil, é nítido um
aumento da contrapartida dos poderes públicos oficiais para com a realização desses eventos. Hoje, essas manifestações são legitimadas desde o
aporte de verbas do Ministério da Cultura ao ordenamento dos departamentos municipais de trânsito, por
exemplo.
Você diria que esse apoio tem se
projetado para além do factual?
O apoio é, sim, para além do factual e não é um apoio negativo. O
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que é negativo é uma relação subserviente com esse poder político estabelecido. Não vejo o fato de ter conseguido um respaldo maior junto às
esferas de poder público como uma
espécie de submissão. O perigo existe, mas, claro, as lideranças têm que
estar dispostas a enfrentá-lo. O movimento homossexual não pode ser
tratado nunca como política de governo, mas, sim, como movimento
social. Os movimentos sociais não são
correias de transmissão das ações de
um determinado governo ou de um
determinado partido. Eu, particularmente, acho fundamental que se
mantenha a total independência.
Com relação à realização das paradas, o apoio dos poderes públicos
pode até ser pontual, específico, mas
do ponto de vista político e cultural
ele é difícil de aquilatar. Tudo isso forma um quadro tremendamente dialético, os gays encontram apoio público para ir às ruas justamente para
pressionar por mais e mais apoio, mais
e mais direitos. Aliás, grande parte da
força do movimento homossexual
aqui de São Paulo se deve a nossa boa
e independente relação com os poderes estabelecidos. Muito freqüentemente, as pessoas pensam que o governo da Marta Suplicy foi uma maravilha para a comunidade homossexual. No entanto, nossas principais
conquistas legais foram com o PSDB
e com o DEM, e, não, com o PT. A
Marta nos deu um pé na bunda
quando assumiu a Prefeitura de São
Paulo.
para outros grupos sociais. Como elemento político, social e cultural, as
paradas estão tendo uma influência
decisiva. É uma novidade excepcional o fato de um segmento minoritário, tradicionalmente excluído, conseguir se afirmar publicamente em dimensões tão extremas. Eu chorei por
várias vezes nas primeiras edições da
Parada do Orgulho Gay aqui de São
Paulo. Nunca me passou pela cabeça
que uma cidade tão conservadora
fosse abraçar com tanto carinho a
causa homossexual! Essa receptividade se espalha hoje pelas mais diferentes regiões. Acabei de receber umas
fotos da Parada Gay de Alfenas, no
Interior de Minas Gerais. Então, há
uma novidade histórica se disseminando. Isso tem, sim, um sentido e
deverá repercutir muito ainda. Esse
ano, os empresários da noite gay boicotaram o desfile e os trios que foram
para a Avenida Paulista foram os trios
das centrais sindicais, entidades essas
que estiveram durante muito tempo
à margem do debate sobre sexualidade e sobre homossexualidade. Essa
integração só é possível porque as
pessoas, enfim, perceberam que não
faz sentido nenhum lutar sozinho. É
fundamental que as pessoas percebam que a luta dos homossexuais não
é só dos homossexuais, mas de todos nós. Também nós temos que entender essa coletividade.
Por fim, qual o maior legado das
paradas pela diversidade sexual?
Que contribuição você diria que
essas manifestações oferecem a outros movimentos sociais?
O Brasil e o mundo estariam hoje
demonstrando um interesse maior
por cruzar bandeiras e lutas?
Em que medida o militante gay já
se identifica em outros contextos e
vice-versa?
Eu acredito que estamos todos
aprendendo, por mais que ainda seja
muito delicado avaliar isso. A verdade
é que, historicamente, só um louco
poderia negar a importância das paradas para a comunidade homossexual. Isso, sem dúvida, serve como
uma espécie de modelo, de estímulo,
Criação ar
tística como
artística
manifestação política
Magela Lima
Repór
ter
Repórter
FIQUE POR DENTRO
Paulista de Ribeirão Bonito, João Silvério Trevisan desde cedo ofereceu seu
talento à militância homossexual. No cinema, como roteirista, é autor de ´Contestação´ (1969) e ´Orgia ou o homem
que deu cria´ (1971). Escritor e dramaturgo, tem grande contribuíção também
no jornalismo contemporâneo, sendo
um dos responsáveis pela edição do jornal O Lampião da Esquina, alternativo
voltado ao público homossexual que circulou entre 1978 e 1981. Na literatura,
assina vasta produção, da qual se destacam os títulos ´Testamento de Jônatas
Deixado a David´ (1976), ´Em Nome do
Desejo´ (1983), ´Devassos no Paraíso´
(1986) e ´Ana em Veneza´ (1994).
Chega de Preconceito!
Militar Lésbica do Exercíto Brasileiro
Mais uma vítima da atrocidade do EB. “UU”
Nesses últimos momentos
estamos vendo o preconceito
prendendo pessoas na cadeia.
Os sargentos do Exército Laci e
Fernando, de Brasília, perderam
seus mínimos direito de ser
gente ao serem presos, pelo
simples fato de denunciarem o
sofrimento que passam inúmeros gays, lésbicas e outros dentro das forças armadas pelo
simples crime de serem verdadeiros. Não que não possam
ter cometido nenhum tipo de
erro, mas a reação do Exército
contra eles é de uma força estúpida e preconceituosa.
Eu mesma, sendo ainda militar, sofri a dor de estar presa
por algumas horas dentro do
Hospital militar de Juiz de Fora,
em 03 de março de 2008, onde
perdi o direito de ser uma cidadã. E, em 01 de junho agora,
após o meu retorno ao Exército, num dia em que busquei
ajuda dentro do mesmo hospital um Capitão ameaçou-me
ser presa se eu não saísse imediatamente daquele lugar, por
estar “incomodando”, sendo
essa mais uma mostra da discriminação que tenho certeza
que não apenas eu, mas muitos outros, sofrem de um lugar
machista e homofóbico.
A luta não é contra o Exército pois ali existem nobres soldados, mas, infelizmente, há a
existência de militares que não
suportam que o outro seja diferente. E o Exército quer que
calemos nossa voz. Recebi uma
ordem dada pelo General da 4ª
Brigada de Infantaria Motorizada, de Juiz de Fora, MG, através dos meus superiores, de
que eu não poderia participar
do Programa Superpop. Mas,
sinceramente, se eu não falar,
as pedras clamarão e gritarão
que essa é a hora de todos os
sofredores e aqueles que já não
suportam mais tanta injustiça
se unirem para acabar de vez
com a lepra do preconceito em
nossa sociedade.
A mídia está se abrindo para
isso e não podemos deixar que
essa se feche com medo de
nossas próprias vidas. Eu mesma ouso colocar minha vida
em perigo na luta e convido a
outros companheiros de farda,
aos gays, lésbicas e outros discriminados, aos partidos políticos que realmente se importam
com o povo, às ONGs que lutam pelo direito dos desvalidos,
às igrejas abertas, aos verdadeiros filhos de Deus, e a população em geral para lutarem contra o preconceito.
Esse é o tempo de denunciarmos todo o erro, dentro das
Forças Armadas e dentro de
qualquer outro lugar, até mesmo dentro de nossas casas.
Não podemos mais agir como
avestruzes escondendo nossas
cabeças na terra e fingindo que
nada acontece. É isso que dá
força ao preconceito, o que faz
os excluídos serem vítimas de
violências, tortura e morte pelo
simples motivo de serem almas
sem defesa e não podendo
contar com o apoio do Esta-
do. E, nesse estado de impunidade, pessoas se reúnem
para nas madrugadas no simples prazer de espancar prostitutas e travestis e se dizerem
boas pessoas.
Não sou apenas eu, somos milhões de discriminados.
Mas ainda tenho esperança.
Ainda acredito em Deus.
Que isso possa ser espalhado
por todos os sites na Internet, Jor
Jor-nais e TTelevisão.
elevisão.
Fabiane – 13 Jun 08
‘O que me preocupa não é o
clamor dos maus. É o silêncio dos
bons’.
(Mar
tin LLuther
uther King)
(Martin
Edson Axé
(81) 87676533
Rede de Negros, Negras e Afro
LGBTT - RNAF/GGP.
17
Erika Kokay
O Projeto de Lei 122/2006, em trâmite no Senado Federal, já aprovado
pela Câmara dos Deputados, que torna crime a prática de homofobia, é um
passo importante na garantia dos direitos dos gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, porém tem suscitado debates recheados de muita desinformação e, sobretudo, intolerância
e preconceito contra o segmento GLBT.
Ao lado do nosso histórico de desigualdades sociais - os programas de
transferência de renda e assistência social são apenas parte da estratégia de
proteção social e enfrentamento da pobreza no país -, estima-se em mais de
18 milhões de pessoas consideradas, no
Brasil, cidadãos e cidadãs de segunda
categoria (os pobres e os negros mais
ainda) a quem é negado o pleno exercício da sexualidade. Em vez de terem
garantidas as suas individualidades, são
vítimas de discriminação e violência,
sendo que centenas são assassinadas
anualmente, demonstrando a gravidade da homofobia no Brasil.
Na Câmara Legislativa do Distrito
Federal, tenho pautado o meu mandato parlamentar em defesa dos direitos humanos, em especial dos direitos
do segmento GLBT, apresentando
emendas orçamentárias anuais, como
a que destina R$ 80 mil, em 2008, a
organizações GLBT para difusão e promoção cultural, e proposições, como
os projetos de lei que instituem os dias
de visibilidade lésbica, orgulho homossexual e combate à homofobia, bem
como sobre o sistema para receber denúncias de discriminação em face da
18
orientação sexual das pessoas e a implantação da Ouvidoria de Direitos
Humanos do Distrito Federal.
Além disso, realizamos atos e audiências públicas, tendo apresentado
também indicações à Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do
Distrito Federal para que o governo instalasse o Conselho Distrital de Defesa
dos Direitos do Segmento GLBT e constituísse grupo de trabalho para elaborar o programa “Brasília Sem Homofobia”, integrado por representantes do
Executivo, Legislativo, Ministério Público e sociedade civil organizada.
No Brasil, a homossexualidade ainda é vista, por alguns, como doença,
pecado ou desvio de comportamento.
A lei em tramitação não dispõe sobre
comportamentos - estes já existem -, e
sim defende a integridade física e psicológica das pessoas gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, garantindo-lhes dignidade no ordenamento
jurídico, criminalizando a homofobia de
forma equivalente ao racismo, sem ferir a liberdade religiosa ou de expressão,
até porque o Estado é laico, segundo a
Constituição Brasileira.
O caminho tem sido longo para
que todos passem a respeitar as diferenças entre os seres humanos. Que
mérito civilizatório tem uma sociedade que só respeita os chamados
“iguais”? O mérito maior de um Estado Democrático de Direito é respeitar
os “diferentes”.
O afeto e o amor entre os seres
humanos, assim como outras questões, não podem ser amordaçados em
amarras ou muros reducionistas e cerceadores da liberdade individual. A invisibilidade dos homossexuais diminuiu
bastante com as paradas e as políticas
públicas que, finalmente, começam a
ser implementadas no Brasil, a partir
do governo Lula.
De acordo com o deputado federal
Iran Barbosa (PT-SE), o PL 122/2006 apenas assegurará que as individualidades
das pessoas homossexuais não sejam
violadas pelos que não aceitam a livre
orientação sexual e a identidade de
gênero. As críticas ao projeto, em geral,
não aprofundam o seu conteúdo em
relação aos direitos humanos ou ao ordenamento jurídico. Há desinformação,
preconceito e interpretação equivocada de textos bíblicos, desconhecendo
a diversidade e a necessidade de expansão dos direitos de cidadania.
O projeto melhora o Brasil no sentido de romper com o preconceito e a
discriminação, ajudando a combater
a face homofóbica, como ilustra Julian Rodrigues, integrante do setorial
GLBT do PT, de um juiz paulista que,
em 2007, sentenciou de forma superpreconceituosa e ridícula que o futebol é “jogo viril, varonil”, não próprio
para jogadores gays. Apesar disso, é
no Poder Judiciário que se têm conquistado avanços importantes, como
no caso da justiça gaúcha que assegurou aos transexuais o direito a cirurgias de redesignação para pessoas
trans, custeadas pelo SUS.
Este ano será de grandes desafios
para o movimento e a comunidade
GLBT, como destravar o PL 122/2006
no Senado e participar ativamente da
I Conferência Nacional GLBT, convocada pelo governo federal para maio,
em Brasília, e que será precedida de
conferências preparatórias nos estados
e no Distrito Federal. 2008 será, sobretudo, um marco na luta contra o preconceito e a violência que vitimam
gays, lésbicas, bissexuais, travestis e
transexuais. Agora, pela primeira vez,
a partir de sua I Conferência, terão visibilidade como cidadãs e cidadãos sujeitos de direitos que necessitam de
políticas públicas específicas, calcadas
no respeito à diversidade expressa na
multiplicidade de relações afetivas entre as pessoas - de todas as cores.
Erika Kokay é psicóloga, deputada
distrital (PT) e presidenta da Comissão
de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Câmara Legislativa do Distrito Federal.
Orgulho Dia 28
Obrigado querido amigo, desde Uruguai, que também hoje festejamos o Dia do Orgulho, desejo-lhe a você e tod@s noss@s
companheir@s um belíssimo dia,
aonde a esperança de ser considerado um ser humano igual a todos, mantenha-se viva daqui pra
sempre desde o meu coraçao.
Ruben Lopez
Binho da Mangueira
Montevideu - Uruguai
Sunlight Vip Travel GLS
Agradecimento
Nunca estamos sós, é verdade. É bom saber que temos amigos em que podemos confiar.
Pessoas que nos apoiam e nos
acolhem com tanto carinho.
Quero agradecer a vocês pela
belissima homenagem recebida e
também aos meus amigos.
Saiba que eu também quero
fazer por vocês o que for possível.
Disponha da minha amizade
sincera.
Meu eterno agradecimento.
Clebinho
Sander,
Esses dias conversando com
uma amiga lésbica, ela contou que
quando ela era menina, ela já é
mais velha, apaixonou pela melhor
amiga dela, mas que era difícil....
Naquela época viver um romance
gay, mesmo que ambas as partes
quizessem e tal.... ela usou esse
termo, falou que era complicado
porque “naquela época não tinha
o Sander” aí eu pensei...quantos
meninos e meninas iriam sofrer e
não sofreram porque você faz o
que faz, quantos pais iriam sofrer
e não sofreram, quantos caras iam
ter casado e viveriam infelizes para
sempre... Aí eu fui entender a importância do que você faz, evita e
evitou sofrimento de muitos e isso
é muito valoroso. Se em toda cidade tivesse um Sander seria muito mais fácil as coisas.
Wladimir Miranda
Areado
Sander
Sander,, bom dia!
Parabéns pelo trabalho. Isso sim
é promoção da luta contra a homofobia. Sei bem que colocar essa
quantidade de outdoor em Alfenas, numa das regiões mineiras
mais conservadoras - onde se concentra os tradicionais cafeicultores,
não é uma tarefa fácil.
Parabéns pela coragem, garra
e determinação que você e os
companheiros do MGA tem demonstrado cada dia mais!
Domingo estaremos aí e juntos celebraremos o orgulho de sermos o que somos, sem medo e
sem preconceito!
Beijos
Carlos Bem
MGRV
19
Ousadia para lutar pela
livre orientação se
xual
sexual
O PCdoB sempre esteve presente
nas lutas do povo brasileiro, desde a
sua fundação em 1922, defendendo a
autonomia dos movimentos sociais e
lutando pela independência nacional,
pela democracia, pelos direitos sociais
dos trabalhadores e trabalhadoras. Os
comunistas lutam contra os fundamentalismos e pelo fim de toda e qualquer forma de opressão à livre orientação sexual e identidade de gênero.
Precisamos ousar sempre. Ousar lutar pela livre orientação sexual, compreendendo que lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais, são mulheres e
homens que ousam ser o que são e
com isso quebram muitos padrões sociais sustentados pelo capitalismo e suas
instituições políticas e jurídicas. A homofobia, e suas especifidades como a lesbofobia e a transfobia, também são fatores estruturantes das desigualdades
sociais. Fatores estes que precisamos
conhecer, entender e com base nisto tomar posição, pois a livre orientação sexual é um direito humano.
A livre orientação se
xual e
sexual
a luta pelo socialismo
A opressão a gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais está enraizada no modo como o capitalismo
está estruturado e organizado. No Manifesto do Partido Comunista, Marx e
Engels, além de afirmarem o papel da
família na reprodução da opressão da
mulher, indicam a possibilidade e a necessidade de transformar essa instituição. A denúncia contundente sobre os
valores e a (falsa) moral então predominantes na família burguesa, aspectos identificados com a lógica do modo
de produção capitalista, conduzia já
então à sua negação como instituição
“sagrada”, intocável.
A opressão que atinge a diversidade sexual torna-se, portanto, traço inevitável do atual sistema capitalista. Por
outro lado, a história da luta contra essa
opressão sempre esteve vinculada à
20
história da luta de classes e da luta pelo
socialismo. O movimento marxista já
em seus primórdios via a luta pela livre
orientação sexual como uma parte necessária da luta pelo socialismo.
Nosso Partido atua buscando contribuir para a formação de uma consciência política cada vez maior entre os
participantes do movimento e no conjunto do povo brasileiro, e, ao mesmo
tempo, assumindo em seu próprio Estatuto a defesa da liberdade de orientação sexual, discutindo com os seus militantes o resgate histórico dessa luta e
seu vínculo com a luta pelo socialismo.
O capítulo X do Estatuto do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), de
2005, em seu artigo 49, aponta: “O
Partido prioriza a ação entre os(as)
trabalhadoras(es), tendo presente também o movimento juvenil e estudantil,
comunitário e demais movimentos das
camadas populares, entre eles os das
mulheres, negros(as), indígenas, movimentos culturais, artísticos, de defesa ambiental, de liberdade de orientação sexual (...)”.
É imbuído deste espírito que o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), com
seus 86 anos ininterruptos de luta por
um Brasil democrático e socialista, recentemente passou a atuar nacionalmente de forma organizada na luta
pela livre orientação sexual.
O socialismo não se refere apenas
ao fim de toda opressão e exploração.
É também uma luta para que nos libertemos de todos os preconceitos e
toda a repressão que distorcem e destróem a nossa sexualidade. O PCdoB
se soma aos participantes desta Conferência para que avancemos nas mudanças demandadas pelo povo brasileiro e juntos concretizemos as transformações que o Brasil necessita.
O Governo Lula e a
ampliação da luta pelas
reformas democráticas
Um Estado democrático de direito
não pode aceitar práticas sociais e institucionais que criminalizam, estigma-
tizam e marginalizam as pessoas por
motivos de orientação sexual e/ou
identidade de gênero. A prática sexual
entre adultos do mesmo sexo é um
direito de foro íntimo, bem como o é a
apresentação social do sentimento de
pertencimento a um determinado gênero, independente do sexo biológico.
Em um momento em que o Partido
Comunista do Brasil clama por reformas
democráticas – reiterando os compromissos dos comunistas com o aprofundamento das mudanças em curso no
Brasil, implementadas a partir das vitórias das forças progressistas em 2002 e
da reeleição do Presidente Lula em 2006
– é de vital importância explicitar que,
ao lado da luta para garantir e efetivar
reformas democráticas no Brasil, principalmente as reformas política, tributária, educacional, urbana, agrária, e da
mídia, é preciso incorporar a estes objetivos democráticos um amplo e contundente combate à homofobia (e suas expressões específicas como a lesbofobia
e a transfobia), e promover a construção de novos padrões de relações de
gênero que libertem mulheres e homens, independente de sua orientação
sexual ou identidade de gênero.
A realização desta 1ª Conferência
Nacional, inédita em termos mundiais,
e o Programa Brasil Sem Homofobia,
são importantes realizações da Secretaria Especial dos Direitos Humanos do
Governo Federal. O Governo Lula desde o seu início conta com o apoio e a
participação dos comunistas brasileiros.
Esta Conferência tem o enorme desafio de avançar na formulação de políticas públicas que estejam sistematizadas em um Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais.
Precisamos construir este caminho
juntos. Nossa luta tem um futuro brilhante pela frente, e a necessária ousadia para
conquistá-lo depende de todos e todas,
de cada uma e cada um de nós.
Brasília, 5 de junho de 2008
21
Juíza reconhece união homoafetiva para
fazer partilha de bens, “divórcio” entre
casal gay é o primeiro em São Paulo
Inimigos íntimos
O amor entre eles foi instantâneo. Começou com uma troca safada de olhares no ônibus
lotado, linha Jardim ElianaBrás. Naquele dia, há sete
anos, até foi bom o trânsito
ruim que fez a viagem durar
duas horas intermináveis. Mas,
depois disso, rolaram traições,
ciúmes, discussões. Pancadaria
forte.
Até o televisor, comprado a
prestação nas Casas Bahia,
acabou estatelado no chão,
durante uma briga. Dos móveis destruídos nem se fala. A
vida em comum ficou insuportável e Marcio Chaves de Freitas, 39, educador social, decidiu deixar para trás a casa em
que morava e que construíra
para viver com Renato (nome
fictício, a pedido dele), 35, auxiliar de serviços gerais. Freitas
saiu sem ter para onde ir. Virou sem-teto.
Agora, Freitas luta pelo
cumprimento de sentença judicial que, pela primeira vez na
história da Justiça de São Paulo, e a um só tempo, determinou: 1) que os dois homens viveram uma união homoafetiva estável; 2) que essa união
foi dissolvida; 3) que seja feita
a partilha dos bens, bem poucos, diga-se, amealhados pelo
par durante os cinco anos e
meio de união.
Na sentença em que decidiu tudo isso, a juíza de Direito
Lidia Maria Andrade Conceição, da 5ª Vara de Família e Sucessões do Foro Regional de
22
Santo Amaro, diz que a “situação [vivida pelos dois homens]
não divergiu da maior parte
das pessoas que terminam uniões e rompem matrimônios”.
“Fui humilhado”, “abandonado”, “jogado na rua”. “Ele
quis me transformar em lixo.”
Quem? “Eu não pronuncio o
nome do coisa ruim”, diz Freitas, parecendo citar uma letra de
bolero, a respeito de Renato.
“Com uma bicha”
Separar sempre é complicado, mas, no caso de Freitas e
Renato, muito mais. Não
existe no Brasil nenhuma lei que regulamente a união ou o
casamento entre
pessoas do mesmo sexo. Portanto, inexiste
também apoio
jurídico do Estado em casos de separação. Como
dividir os bens?
Conversar, eles
não conversam.
Mal podem se
olhar - é muito
rancor. “Só quero
que ele pague por
ter-me feito sofrer
mais do que sovaco de aleijado”, diz
Freitas.
Nem
com
conselho de família os dois podem contar. Renato, por exem-
plo: baiano, ele é pai de uma
menina, fruto de um casamento anterior (com uma mulher).
Alto, forte, barba por fazer, voz
grossa, não quer que o pai, já
idoso, descubra pelo jornal
“que se amasiou com uma bicha” -palavras dele. Teme pelo
que o susto da descoberta
possa fazer com a debilitada
saúde paterna. Este foi um dos
motivos que o levaram a não
dar entrevista à Folha.
Também os irmãos não sabem de nada. Mas, da parte
deles, Renato teme mesmo é
tomar uma pisa, que é outro
nome para surra de pau.
Freitas não tem medo disso, assumidíssimo. Mas também não pode contar com a
família, que vive em Pernambuco.
À Justiça, Freitas pediu uma
indenização por danos morais
no valor de R$ 30 mil, a devolução dos móveis da casa (afirma que foram comprados por
ele), e a partilha do imóvel em
que viveram juntos.
“Imóvel” é modo de dizer.
Na Chácara do Conde, antiga
invasão promovida por movimento sem-teto no extremo
sul da cidade de São Paulo,
perto da represa Billings, chamam de “edícula” a construção de 25 m2 nos fundos de
um terreno de 125 m2, onde o
casal morou.
É que o local chegou a ser
projetado por urbanistas estrelados para ser um bairro popular modelo em plena área de
preservação ambiental da represa Billings. Corriam os anos
da administração de Luiza
Erundina (1989-93). Finda a
gestão dela, das casas planejadas, não ficou nem vestígio.
Restou um bairro paupérrimo
de construções improvisadas,
muitas das quais -as menoressão chamadas de “edículas”
das casas que nunca vieram. A
de Freitas e Renato é dessas.
Fica em uma rua de terra vermelha que, como as demais da
Chácara do Conde, se transforma em lamaçal na época de
chuvas.
“Tudo era amor. A gente
passeava de mãos dadas pelo
parque dos Eucaliptos, no Grajaú, jantava em pizzarias, dançava em uma boate gay no Bixiga. Quando fiz 32 anos, ele
organizou um “assustado”
[festa-surpresa] linda para
mim. Aí veio a facada da traição no meu peito.” O relato é
de Freitas.
Ao sair da Chácara do Conde, Freitas teve de dormir em
casas de conhecidos e em albergues para moradores de
rua, como o Arsenal da Esperança e o que fica sob o viaduto Pedroso. Era um dândi no
meio da miséria dos lugares.
Caprichoso, lavava as roupas
onde dava e guardava-as (com
os documentos) em um bagageiro público mantido pela
prefeitura.
Em sua sentença, a juíza
não concordou com o pedido
de Freitas de partilha dos móveis. “Quanto à devolução dos
móveis, entendo da improcedência do pedido. Isso porque,
quanto a alguns bens, como a
TV, o próprio requerente [Freitas] não tem certeza de seu
funcionamento, uma vez que
derrubada durante desavença
das partes que chegou a troca
de agressões físicas.”
As agressões mútuas também fizeram com que ela recusasse a indenização por danos morais. “Não se pode imputar exclusivamente ao requerido [Renato] a culpa pela
situação de insuportabilidade
da vida em comum.”
A juíza concordou com a
partilha do imóvel, que deverá
ser leiloado para que o produto da venda seja dividido entre
os dois ex-parceiros. Mas não
expediu a carta de sentença,
que materializaria sua decisão.
Na semana passada, a defensora pública Alessandra Pereira de Melo, 37, interpôs um
agravo de instrumento a fim de
que isso ocorra.
“Não há por que adiar a
partilha do imóvel, ainda mais
considerando-se que Freitas
vive em situação de rua. Nenhum dos dois ex-companheiros recorreu contra essa decisão, então basta cumpri-la”,
diz a defensora.
Freitas insiste em levar a
questão da indenização por
danos morais para decisão em
segunda instância. Mas é apenas nessa parte da sentença
que as partes ainda discutem.
Renato tem grandes esperanças de continuar no imóvel,
e de não ser obrigado a entregar metade dele para Freitas.
A Folha apurou com vizinhos
da Chácara do Conde que Renato acredita que, para isso,
tem apenas de ficar quieto. Ele
conta com a anulação de todo
o julgamento pelo Tribunal de
Justiça de São Paulo.
Explica-se: como a legislação brasileira não prevê uniões
familiares de homossexuais, a
instância superior pode entender que a questão deveria ter
sido julgada por uma Vara Cível. Nunca por uma de Família.
Na Chácara do Conde, toda
a vizinhança sabia que Freitas
e Renato eram homossexuais e “casados”. “Quando me separei, demorou, mas a Justiça
me garantiu casa, pensão e a
guarda dos filhos. É muito triste ver o Marcio [Freitas] assim,
jogado de um lado para outro,
sem ter aonde ir. Ele não merecia”, disse à Folha uma vizinha que não quis se identificar
porque, como ela diz, “em briga de [pausa] não se mete a
colher”.
Laura Capriglione
Folha de S. PPaulo
aulo
23
24
O medo da censura e do preconceito nas ruas, comum
aos casais de homossexuais, foi substituído pela liberdade e
por muita animação. A quinta PParada
arada Gay de Alfenas reuniu,
segundo os organizadores, cerca de 25 mil pessoas.
A estimativa pode ser exagerada, mas quem passou pelas
ruas do Centro da cidade não deixou de ver o asfalto tomado por gays e simpatizantes, que dançavam ao som de muita música techno e sucessos da disco music (ou em francês
discothèque) tocadas por dois trios elétricos. Os balões e as
bandeiras com as cores do arco
-íris - símbolo internacional
arco-íris
do movimento gay - deram o colorido à festa.
De acordo com Sander Simaglio,
um dos organizadores do evento, o
número de par
ticipantes aumenta a
participantes
cada ano. ““Já
Já passamos da fase da
visibilidade e agora buscamos os direitos iguais”, afirma Simaglio. Segundo ele, o objetivo da parada também é incentivar as pessoas a pressionarem os congressistas a aprovarem o PProjeto
rojeto de LLei
ei 122, que equipara a homofobia ao racismo, tor
tor-nando o preconceito contra homossexuais um crime reconhecido por lei.
25
Senador Suplicy visita Sargentos
Gays detidos no Exército
Sargentos gays encontram saída jurídica para deixar o Exército
Por Wagner Gomes
SÃO PAULO - Os sargentos
Laci Marinho de Araújo e Fernando Alcântara de Figueiredo
já sabem o caminho jurídico
para deixar o Exército sem serem
punidos. Os dois foram presos
depois de assumir publicamente que são homossexuais e que
moram juntos desde 1997. Araújo foi detido logo após dar uma
entrevista à Rede TV, em 3 de
junho, em São Paulo. Já o sargento Figueiredo foi preso nesta sexta-feira no hospital onde
trabalha, em Brasília, depois de
entregar a sua defesa administrativa, questionando os argumentos do Exército.
- Encontrei com o sargento
Araújo nesta quinta-feira. Perguntei se era a sua intenção,
depois de servir 13 anos no Exército, de passar para a vida civil.
Ele disse que sim, que conhece
o artigo 150 do Exército que trata do assunto, o que significa
que sabe como fazê-lo na hora
que assim o desejar - afirmou
Eduardo Suplicy, que preside a
comissão especial criada no Senado para averiguar o ocorrido.
Laci foi preso por deserção e
não tem previsão de deixar a cadeia. Já o sargento Alcântara
teve a prisão administrativa
decretada por oito
26
dias. Segundo o Exército, ele respondia por transgressões disciplinares. Ele teria se afastado do
trabalho e viajado a São Paulo
sem autorização, se apresentado à imprensa sem uniforme do
Exército e omitido informação
sobre o paradeiro do sargento
Laci Marinho de Araújo.
O advogado Marcos Rogério de Souza, que defende Figueiredo, disse que enviou ao
Exército uma resposta às acusações. O advogado questionou ainda a gravidade da punição e disse que deve recorrer
ao Exército para reduzir a pena.
Segundo Souza, o regimento
militar estabelece cinco graduações de sanções, que vai desde a advertência verbal reservada, passando pela repreensão
na frente dos colegas e detenção no alojamento. Ao sargento Figueiredo foi estabelecida a
prisão, uma sanção considera-
da gravíssima.
- Em situações semelhantes,
outros militares receberam sanções mais brandas. São nesses
momentos que se expressam a
homofobia estatal. É muito sutil esse tipo de manifestação,
mas no caso dos dois sargentos isso fica bastante evidente disse o advogado.
Souza explicou que a roupa
camuflada usada pelo sargento durante entrevista não faz
parte do uniforme, trata-se de
uma roupa similar comprada
em qualquer loja. Além disso, o
direito de livre locomoção é assegurado na Constituição federal. Na avaliação da defesa, ao
manter um relacionamento estável com Araújo, Figueiredo
fica desobrigado a informar o
seu paradeiro.
Segundo o senador, o problema causado por ambos os
sargentos pode ser bem resolvido por uma decisão de bom
senso, de maneira construtiva
e didática para todas as
partes envolvidas,
em especial porque não houve
um delito que
possa ser considerado grave.
- Sim, houve a
deserção que o regulamento do Exército
considera crime.
Entretanto, não há dúvida
de que o sargento Laci Marinho de Araújo, conforme o demonstram os laudos médicos,
inclusive o do Exército que o
examinou há dois dias, tem
tido fortes problemas emocionais e psíquicos que o levaram a se ausentar do trabalho - disse Suplicy na carta
que enviou à juíza.
De acordo com Suplicy, os
dois sargentos se sentem perseguidos pelo fato de terem
constatado irregularidades
na administração do hospital em que trabalhavam e
terem feito denúncias ao Ministério Público. Para o senador, o assunto ganhou dimensões maiores na medida em que, para se protegerem do que sentiram
como perseguição, resolveram dar uma entrevista à
imprensa sobre suas opções sexuais.
Em nota divulgada nesta tarde, representantes do
Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana
(Condepe) repudiam a prisão “arbitrária” do sargento do
Exército Fernando Alcântara de
Figueiredo. O sargento foi detido por volta de 12h em Brasília. Segundo o Condepe, as
acusações formuladas pelo
Exército Brasileiro não passam
de pretextos para encobrir o
preconceito, a discriminação e
a homofobia por parte das Forças Armadas Brasileiras.
O senador Suplicy disse que
encontrou Araújo mais calmo
nesta quinta-feira na carceragem do Exército. O sargento
havia tomado o café da manhã,
assim como a medicação que
lhe havia sido receitado na vés-
pera pelo médico psiquiatra que
o examinou.
Homofobia
no Exército
Um Grupo de Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Transgeneros
e Heterossexuais - LGBT, se reunem sábado próximo, a partir
das 14 Horas, na pracinha da
Catedral Metropolitana Católina ( avenida Universitária -Centro) na vígilia para pedir a libertação dos sargentos gays Laci
e Fernando e o fim do preconceito nas forças armadas. De
acordo com Léo Mendes, fundador do Movimento LGBT de
Goiás, “ a vígilia marchará da catedral à sétima csm do
exército ( Paranaíba com 74) ,
onde serão colocadas flores ,
velas e entregue uma carta ao
Ministro Nelson Jobim pedindo
o fim do preconceito aos homossexuais no exercito brasileiro”. Há cinco dias os sargentos
Gays que deram entrevistas na
revista Isto é e no superpop estão presos no quartel. Pede-se
as pessoas que vão a vigília levarem flores e se possível ir com
roupa verde.
Maiores informações
Lucas FFor
or
tuna - (62) 9238 7173
ortuna
27
28
29
Por Oswaldo Braga*
Esse dia, com certeza iria
chegar. Não esperava que fosse tão cedo, mas sabia que teria que enfrentar o espelho, o
desgaste do corpo e aparentar
os 50 anos que completo amanhã. Aos 50 anos eu não vejo
só uma luz no fim do túnel,
mas o próprio fim do túnel, se
é que me entendem.
E de nada adiantam a complacência e a solidariedade dos
amigos na tentativa de suavizar os desgastes provocados
pela passagem do tempo. Para
quem tem senso crítico, qualquer tentativa de dizer que
você não aparenta sua idade
te lembra a idade que você
tem. Aos 50 anos só me resta
reconhecer o tempo como um
companheiro, misto de carrasco e curandeiro, que me castiga ao mesmo tempo em que
oferece o alívio para tantas outras dores da alma.
Quando eu nasci, em 1958,
o primeiro Fusca estava sendo
fabricado no Brasil. Nossa seleção vencia sua primeira Copa
do Mundo na Suécia e, a Portela, o Carnaval carioca. Pio XII
morria e dava lugar ao papa
João XXIII, encerrando uma
das fases mais moralistas da
nossa história. Junto comigo,
em plena Guerra Fria, nasceram: Michel Jackson, Sharon
30
Stone, Edson Celulari, Pedro
Bial, Michele Pfiffer, Victor Fazano, a Madonna e o Cazuza.
Por outro lado, em 58 faleceu Assis Valente, compositor
gay, autor de “Cidade Maravilhosa” e “Brasil Pandeiro”.
Neste ano, João Gilberto gravou “Chega de Saudades” e
alguns o elegem o ano de
nascimento da Bossa Nova,
em pleno governo Juscelino
Kubitschek.
Mas, 1958 foi palco para um
dos mais curiosos acontecimentos políticos deste país: a
candidatura sob forma de protesto, do hipopótamo Cacareco, residente permanente do
Zoológico da cidade, que acabou se elegendo para uma das
45 cadeiras da Câmara Municipal de São Paulo com mais de
100 mil votos.
A candidatura do Cacareco
nasceu em Osasco, em torno
de um movimento de emancipação do bairro mais populoso do município de São Paulo.
Sua campanha foi uma comoção e mobilizou a população
da cidade, que votou em massa no hipopótamo. Em protesto contra o Supremo Tribunal,
que negou as pretensões de
seus moradores, 100 mil cédulas foram impressas com o
nome do Cacareco.
“Está faltando leite, está faltando pão, criança sem escola
não tem mais solução, a queixa desse povo não encontra
eco, e foi eleito o cacareco”, dizia a marchinha de Carnaval.
Ainda teve Adalgisa Colombo vencendo o concurso Miss
Brasil e a curiosa criação do
bambolê na forma como conhecemos, de plástico, colorido.
É... Acho que tenho bons
motivos para me simpatizar
com 1958.
Camisinha sempre!
www
.otempo.com.br
www.otempo.com.br
http://oswaldobraga.spaces.live.com
31
Propostas da comunidade LGBT para os
novos vereadores, prefeitos e vices
Incluir nos planos de Governo:
Direitos Humanos
* Criação do Centro de Referencia para LGBT (Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais).
* Criação de uma Coordenação Especial da Livre Orientação
Sexual.
* Criação do Núcleo de estudos à cidadania LGBT, com o objetivo de reunir dados, compor
estudos e propor soluções para
violências e discriminações praticadas contra Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.
Funcionalismo Público
Reconhecimento das uniões
homo-afetivas como isonômicas
para todos os direitos já garantidos no Estatuto do Servidor público e de todos os cargos de carreira do município.
Legislação
Apoiar e encaminhar para a
Câmara Municipal projeto de lei
que proíba a discriminação decorrente de orientação sexual/
identidade de gênero e promovam os direitos dos LGBT.
Educação
* Propor a inclusão de temas
relativos à sexualidade e homossexualidade nos conteúdos, currículos escolares, livros e outros
materiais didáticos, considerando o conteúdo não discriminatório como um dos critérios para
a seleção de livros didáticos adquiridos ou indicados pelo MEC
para as escolas públicas.
* Apoiar a divulgação de informações cientificas e de direitos humanos sobre a orientação
32
sexual/identidade de gênero e o
combate a homo/lesbo/transfobia com diversas ações visando
à capacitação e sensibilização
dos profissionais de educação,
publicações de materiais informativos e eventos sobre o tema.
Juventude
* Apoiar a realização de estudos e pesquisas na área dos
direitos e da situação sócio-econômica dos adolescentes e jovens LGTB.
* Apoiar a implementação de
projetos de prevenção da discriminação e a homo/lesbo/transfobia nas escolas, em parceria
com agências internacionais de
cooperação e a sociedade civil
organizada.
* Capacitar profissionais de
casas de apoio e de abrigos para
jovens em assuntos ligados a orientação sexual e ao combate à
discriminação e à violência contra LGBT.
Comunicação
Promover campanha municipal nos veículos de comunicação de massa, de combate à discriminação por orientação sexual/identidade de gênero e promoção da cidadania e do direito à livre expressão sexual dos
cidadãos.
Esporte e lazer
* Apoiar a realização dos Jogos “Gay Games “ ou olimpíadas gays, como forma de ampliar a auto-estima dos LGBT.
* Incluir políticas de lazer para
jovens e idosos LGBT.
* Formalizar parcerias com
ONGs LGBT no sentido de estar
facilitando aulas esportivas nas
ONGs.
Turismo
Promover o município como
pólo do turismo GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes), adotando políticas de combate à discriminação e promovendo atividades de capacitação do comércio turístico para o recebimento
do turista LGBT.
Desenvolvimento
Econômico
* Promover e apoiar a multiplicação de projetos e experiências de geração de emprego e
renda especificamente voltados
para os LGBT em nível municipal.
* Revisar as políticas de emprego e renda, a fim de garantir
que os LGBT também sejam beneficiários diretos do desenvolvimento econômico.
Ação Social
* Incentivar a criação de programas comunitários destinados
a acolher LGBT da terceira idade, proporcionando-lhes cuidados, ocupação e lazer compatíveis com suas condições físicas
e mentais.
* Reconhecer e apoiar o serviço social desenvolvido pelas
ONGs LGBT.
* Incluir as ONGs LGBT no
fundo municipal da assistência
social.
* Realização de cursos de
qualificação e requalificação profissional para LGBT em situação
de abandono ou de pobreza.
* Atendimento psicológico
destinado aos familiares de lésbicas, gays, bissexuais, travestis
e transexuais de forma a serem
esclarecidos sobre a questão da
homossexualidade como orientação e não como desvio.
Cultura
* Apoiar a criação de um Grupo de Trabalho para elaborar um
plano para o fomento, incentivo e apoio às produções artísticas e culturais que promovam a
cultura e a não discriminação por
orientação sexual/identidade de
gênero.
* Estabelecer que os Museus
abram espaços para exposições
temáticas periódicas tendo a cultura LGBT como tema.
* Apoiar a produção de bens
culturais e apoio a eventos de visibilidade massiva de afirmação
de orientação sexual/identidade
de gênero e da cultura de paz.
* Estimular e apoiar a distribuição, circulação e acesso aos
bens e serviços culturais com
temática ligada ao combate à
homo/lesbo/transfobia e promoção da cidadania de LGBT.
* Criar ações para diagnosticar, avaliar e promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes
da participação da população
LGBT do município no processo
de desenvolvimento a partir de
sua história e cultura.
* Implementar ações de capacitação de atores da política
cultural para valorização da temática do combate à homo/lesbo/transfobia e afirmação da orientação sexual/identidade de
gênero LGBT.
* promover ações voltadas
ao combate da homo/lesbo/
transfobia e à promoção da cidadania LGBT.
Saúde
* Implantar políticas de saúde
destinadas a mulheres lésbicas no
climatério e pós-climatério, no
sentido de garantir a saúde física
e mental na terceira idade.
* Programa de redução de
danos de silicone líquido.
*Garantir a ampliação do es-
pectro de atendimento aos
LGBT, pelo SUS, vítimas de violência sexual e doméstica.
*Incentivar e criar programas de educação em saúde
destinados aos LGBT que trabalham na prostituição, destinados a prevenir o risco de doenças sexualmente transmissíveis, inclusive Aids.
*Ampliar a interação entre
o Programa de DST/AIDS e
ONGS LGBT, com vistas a maximizar recursos materiais e financeiros capazes de promover a prevenção, o diagnóstico, o tratamento e o acesso a
medicamentos da Aids.
*Orientar e capacitar profissionais da área de proctologia,
urologia, ginecologia, mastologia, fonoaudiologia, dentre outras especialidades, para tratar
as especificidades de LGBT.
*Incentivar e apoiar a pesquisa epidemiológica, com recorte de orientação sexual,
atendendo as especificidades
de gênero, raciais, étnicas e de
faixa etária.
Jurídico
* Promover cursos de capacitação para advogados (as)
das Defensorias Públicas e Serviços de Assistência Jurídica
Gratuita, membros dos Ministérios Públicos e integrantes do
Poder Judiciário, para atendimento qualificado aos LGBT.
* Apoiar os departamentos
jurídicos das ONGs LGBT com
disponibilização de advogados
e estagiários de direito.
Obras Públicas
* Construção do Monumento de Memória aos LGBT
assassinados em virtude da sua
orientação sexual/identidade
de gênero, em local público,
central e visível.
* Construção do Centro de
Referência LGBT no Município
(equipamento público para discussão e formulação de políticas
públicas para os LGBT, bem como
atendimento psicológico, jurídico
e de assistência social para LGBT).
Meio Ambiente
* Reconhecimento do espaço
público de livre afeto de LGBT em
Parques e Jardins da Cidade.
Reivindicações Nacionais
* Promover o Estado Laico
* Aprovação pelo Congresso
Nacional dos projetos de lei de
Criminalização da Homofobia,
União Civil, bem como Mudança
de nome para travestis e transexuais.
* Que o Governo Federal
cumpra o Programa Brasil sem
Homofobia.
* Que a ONU aprove a resolução da inclusão da orientação
sexual/identidade de gênero
como direitos humanos.
* Que o SUS promova a inclusão da Saúde dos LGBT.
Propostas que serão
defendidas pelo(a)
Candidato(a) a
Vereador(a)
* Transformar a inclusão dos
LGBT no IPM (Instituto de Previdência do Município) em Lei, para
que o direito seja garantido de
fato, independente do governante que estiver no poder.
* Criação do Centro de Referencia para LGBTs (Lésbicas, Gays,
Bissexuais , Travestis e Transexuais).
* Criação de Lei Municipal
Anti-discriminatória por orientação sexual e identidade de gênero municipal.
* Aprovação do passe-livre
para portadores de HIV e outras
doenças crônicas.
* Criar serviço de atendimento médico adequado para a comunidade LGBT.
33
34
35
BARRA
CO
BARRACO
Milton Cunha se desentende
com Cláudia Leite !
Curto e grosso: Cláudia Leite não quer um filho gay como
eu, porque gay sofre muito.
Sem problemas, eu também
não quero uma filha gonçalense imitando baiana, clone eterna da original e verdadeira estrela morena, de quem ela será
para sempre, sombra. É que
este tipo de menina hetero sofre muito. Bobagens à parte (o
que atesta o nível de inteligência da argumentação), o fato é
que querer filho gay, independente do nível intelectual, ninguém quer. E como não tem
explicação plausível, é só preconceito mesmo, recorre-se as
mais mirabolantes fórmulas de
explicação. Exemplo: eu, Milton, não quero ter filho pedófilo nem espancador de mulher,
nem “maníaco do parque”.
Como eu explico isso? Eu
odeio esta gente, acho psicopatia deplorável. E, sinceramente, ela acha gay deplorável, porque só pode ser gerado
na barriga das outras. Ainda na
argumentação dela, o sofrimento gay, você conhece hetero que não sofre muito?
Deus, os leucêmicos, os miseráveis infelizes no casamento
que passam a vida a fingir, os
sem-grana em condições desumanas de vida, os existencialistas que acham a condição
humana um inferno?
O problema é querer tipificar nós gays com um sofrimento exclusivo, isto é tolice. Nosso sofrimento é a burrice humana que, hipócrita, acha que
nosso sofrimento é maior que,
36
por exemplo, o das mulheres
hetero, grupo extremamente
marginalizado pelo machismo
irracional que as escraviza em
dependência econômica doméstica. Com certeza nós gays,
sofremos. Mas o que dizer de
vocês, heteros, nesta carnificina à qual vocês se submeteram?
Tudo certo, tudo
bom, vocês são os maiorais. Mas chegará o dia
do juízo final, quando
à vocês será cobrado justiça e
amor, e não julgamentos de dar ou comer. Sofremos por estar neste tiroteio e
pronto, como todo
mundo. Também sofremos por nos sabermos indesejados por
nossas mães (isto sim o
tiro de misericórdia em
nós). Porque o vizinho
nos indesejando? Sinceramente, cagamos
pra isso. Queremos é
ser criados com afeto e noção
de amor paternal, para depois,
crescidos e gays amados pelos
familiares próximos, irmos em
frente dizendo: “não vem bancar pra mim o hetero resolvido
que nós, gays, também viemos
de uma família hetero e sabemos que só muda de endereço, meu bem!”.
Eu, feto gay, repudio tuas
considerações. O que faz um
feto quando se sente indesejado?
Se auto-aborta? Continua a
gestação e parte para a luta?
Fico pensando no sentimento
dos fetos gays, que ouvem suas
mamães dizerem “não desejo
que meu filho seja gay porque
vejo o preconceito que meus
amigos gays sofrem, e isto não
é nada bom”. Eu, feto gay, um
dia declarado por minha mãe
nestas bases de raciocínio pouco generoso e mandão que
agora Cláudia encarna, só posso dizer que abandonei-a assim que pude. Porquê que minha mãe nunca me perguntou
se mesmo gay, eu era capaz de
uma amor imenso? Na sua torcida de não acreditar que eu era
gay, minha mãe passou por
cima da minha imensa capacidade de amá-la.
Sempre a vi só como uma
mulher mãe que gostaria de fazer desaparecer em mim minha
homossexualidade. Mas eu só
queria que ela entendesse que,
independente de macho, gay,
ou fêmea, as criancinhas são
lindas porque nelas o universo
se revela encantador e esperançoso. Mas não adiantou de
nada.
Elas só queria saber se eu
daria ou comeria.
Agora que ela está morrendo e pede para eu perdoá-la,
só consigo pensar que a desgraça não é a morte dela, é eu
ter sobrevivido à isto tudo.
Mais fácil é bater as botas e
dificílimo é continuar vivendo e
ter que pensar em tanto desamor. Quantas mais terão que ser
abandonadas pelo seus filhotes,
porque serão mães que acham
que tem o direito de legislar sobre o desejo do filho? Cláudias
Leites-mamães à parte, é preciso ser Miltons Cunhas-filinhos,
para falar de um outro ângulo,
de uma outra visão. Indesejados, nascemos com este desejo homossexual, que não orgulha mamãe nem papai, e na explicação tosca deles, para o fato
de não terem orgulho de nós,
olhamos incrédulos para os imbecis genitores, com cara de
“sinto muito, é isso e pronto, só
me resta viver e morrer gay”.
Não adianta ir bem no colégio e tirar boas notas, não
adianta ser bom menino, pois
ainda assim alguns pais nos pedem (ou obrigam) a disfarçar, e
parece que a hipocrisia os satisfaz mais que a verdade de
transarmos com o mesmo
sexo, felizes e realizados. Quem
são estes senhores e senhoras
que nos aniquilam, que em
nome de uma proteção maternal e paternal, querem que não
sejamos o que nascemos para
ser? E pior que isto, torcem por
tal ou tal sexualidade, como se
isto fosse direito deles. Somos
seus filhos, portanto universos
independentes, e só cabe à
nossos genitores, a torcida pela
nossa felicidade. Em vez de declararem “quero meu filho pleno, bom caráter, capaz de um
amor imenso”, tudo o que conseguem declarar é “ai, não, gay
não, e não é por preconceito,
não, é por pena do que eles
sofrem!”.
Saiu de moda o antigo e assumido “prefiro assaltante que
viado?”. Achava melhor esta
frase.
Escrevo tudo isto de madrugada, depois de encontrar
Márcia Lávia, carnavalesca do
Império Serrano, e, ao me
apresentar seu filho gato adolescente, na festa de lançamento do cd dos Sambas de
Enredo, na Cidade do Samba,
quando elogiei o garoto pela
beleza e por parecer descolado, a mãe declarou, em alto e
bom tom, orgulhosíssima,
“não, este é macho!”. E aí parei para pensar: “quantas mães
gritariam aqui sobre o filho não
macho, o gay?”.
Nenhuma. Macho significa a
resolução da dor. Vai comer todas e portanto será bem resolvido, bacana. Se gay fosse, iria
passar por todo o calvário que
todos os gays amigos destas
mães passam. Mas vem cá, não
é um calvário ser apresentado
pela mãe orgulhosa como macho? O que isto subentende?
O que isto embute? Deus
que me livre ser macho nesta
terra de machos pit-boys que
espancam humanos em boates, que puxam os cabelos das
meninas com uma indelicadeza dignas de brucutu. Será que
é o raciocínio destas mulheres
que tem levados seus meninos
à esta monstruosidade de
comportamento com as fêmeas?
Portanto, aproveito esta coluna, para dizer para a deslumbrante mulher (e não a artista)
Cláudia Leite: não espera daqui
à sessenta anos para pedir perdão para teu filho.
Assim que ele nascer, bate a
descarga em todas estas tuas
declarações, e, a cada dia, reafirma teu amor incondicional e
teu apoio à mais plena realização que um humano pode almejar, que é ter caráter, ter espírito fraterno e saber que, transando com árvore, parede, periquito ou papagaio, a grande
viagem humana é, através da
própria vida, libertar o espírito
dos tolos preconceitos que tentam nos reduzir à meros orifícios. A alma não é pequena, e,
portanto, tudo valerá à pena.
Mãe é aquela que pede saúde e paz para sua criança. O
mais, pertencerá ao insondável
território do desejo.
Inclusive daqueles desejos
que dizem ser Ivete Sangalo a
única, original, definitiva e verdadeira bombshell baiana.
Tudo mentira. Tem espaço para
tudo e todos.
Até para os não desejados.
Que a Nossa Senhora do
Bom Parto te proteja, querida.
Mesmo que ela seja gay, ou
hetero, ou preta, ou índia!
Milton Cunha
Por
to da PPedra
edra - Jornal o Dia
orto
37
Carta Aberta à
Claudia Leite
Claudia Leite:
Sou Toni Reis, 44 anos, paranaense, moro em Curitiba.
Sou Gay , sou casado com meu
marido David Harrad há 18
anos e sou muito feliz e realizado como profissional e pessoa.
Atualmente, sou presidente da
Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis
e Transexuais (ABGLT) que é
uma entidade nacional que
congrega 203 organizações
afins, o que reflete parte da minha trajetória, mas neste momento, quero fazer um depoimento pessoal.
Claudia Leite, gostaria de dizer que amo você pelo talento
com que você se expressa. Seu
repertório, a alegria de viver que
passa para mim. Sou seu fã de
carteirinha. Simplesmente adoro
você e, ademais, você é linda.
Com relação à sua entrevista
sobre a nossa questão, na qual
você disse “Eu adoro os gays,
mas prefiro que meu filho seja
macho” e seu marido Márcio
Pedreira, completou: “Deus me
livre (do filho ser gay). Ele será
bem criado”, quero dizer que fiquei muito decepcionado com
a noção errônea de que é a criação que faz com que alguém
seja gay, ou não.
Tudo isso me fez lembrar o
que aconteceu comigo quando, aos meus 14 anos, falei
para minha mãe: “Mãe,
sou gay.”
Quando falei para
minha mãe e minha
família, todos e todas
ficaram chocados e
tentaram durante
seis anos da minha
vida (o que foi um
inferno na terra) me
“curar” de todas as
maneiras. Levaram-me para a Policlínica da cidade
de Pato BrancoPR e pediram
para que eu fos-
38
se examinado, achando que eu
tinha um problema médico. Mas
o médico falou que eu não tinha um problema de saúde, e
que homossexualidade não é
doença, e me encaminhou para
uma psicóloga. Ela também falou que a homossexualidade
não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão. Na verdade, ela estava bem à frente do
seu tempo, visto que só em
1999 o Conselho Federal de Psicologia baixou uma resolução
que,entre outras determinações,
estabelece: “os psicólogos não
exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos
não solicitados.”
Mas, não contente, minha
família católica, que bem me
criou, pediu para eu falar com
o falecido padre da nossa cidade de Quedas do Iguaçu, e o
mesmo pediu para eu me afastar do Encontro Vocacional e da
Santa Comunhão, até que eu
me curasse do “pecado nefando”. Pediu que fizesse uma novena para Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro, que eu me
curaria, mas se eu tivesse uma
recaída, era para voltar ao primeiro dia da novena. Tive várias recaídas, afinal a orientação
sexual de um pessoa não é escolha e tampouco opção. Eu
simplesmente era gay. Tive que
voltar várias vezes ao primeiro
dia da novena, que já tinha virado uma quarentena.
Não é uma questão de religião,
mas sim uma questão de ser. E
como dizia Aristóteles, a finalidade da vida é ser feliz.
Não contentes, minha família e meus amigos me levaram
para a igreja da Assembléia de
Deus para receber uma benção.
Mas não deu certo. Levaram-me
para um centro espírita e o pai
de santo me falou que tinha
uma pomba-gira. Fizemos “os
trabalhos”, mas não deu certo.
A partir da minha experiência
e algumas leituras, nestes 25
anos de minha militância na comunidade LGBT, sempre quando acontece qualquer depoimento ou ação contrários aos
homossexuais, procuro classificar
em oito etapas da competência
cultural de cada um, que é uma
escala, da mais homofóbica à situação ideal que queria.
Fizeram de tudo para me “curar”. Por último, tomei xaropes
com amendoim e tudo mais para
que fosse “macho”, mas não deu
certo. Como meu irmão disse depois, sou macho por ter assumido logo cedo o que era. Aos 20
anos, me deram a derradeira possibilidade: era tomar leite de colostro de égua para me curar. Felizmente, não deu certo.
Hoje estou aqui, bem criado,
como especialista, mestre e doutorando; feliz e realizado com
meu marido. Minha mãe, depois
de tudo que aconteceu na minha adolescência, em 1996 se
propôs a casar com meu marido (que é estrangeiro) para que
ele pudesse ficar no Brasil, comigo. De total fundamentalista,
minha mãe se tornou uma grande competente cultural. Acredito na mudança de pensamento
das pessoas.
Falei um pouco de mim.
Quero que entendam, Cláudia
e Márcio, que a homossexualidade não é tão simples que se
possa dizer “eu quero que meu
filho seja macho ou fêmea.” Não
é uma questão de educação.
1) A situação mais homofóbica é a nazista, que mata o
outro por ser diferente. No Brasil temos muitos casos. Segundo o Grupo Gay da Bahia, são
2.800 casos de assassinatos.
Hoje no mundo, ainda há sete
países onde há pena de morte
para os homossexuais.
homossexualidade ou têm informações distorcidas, se utilizando de estereótipos e falando mal
da nossa comunidade e contra
nossos direitos.
5) Depois vêm os tolerantes
que não nos aceitam, mas convivem, no intuito de nos mudarem, se pudessem.
6) Em seguida há as pessoas
que nos respeitam. Não chegam
a nos aceitar, mas respeitam nossos direitos e nossa forma de ser.
7) E depois as pessoas que
nos aceitam como seres humanos e como cidadãs e cidadãos.
8) E por final, há as pessoas
que são competentes culturais.
São as pessoas que não discutem a nossa situação, simplesmente convivem. Afinal, o fundamental é viver.
2) Depois, vêm os fanáticos,
que morrem por sua causa. Hoje
no mundo, há 83 países que criminalizam a homossexualidade.
Cláudia, nessa escala, acho
que você está entre uma pessoa tolerante e uma pessoa que
nos respeita. O que você acha?
3) Depois, há o fundamentalista que fala que como está
escrito na Bíblia (ou outro livro
sagrado qualquer), que somos
pecadores, merecemos ser curados. No Brasil, os fundamentalistas são nossos piores adversários para aprovação das leis
que protegeriam nossos direitos.
São estes religiosos fundamentalistas, que em nome do deus
deles, nos discriminam, incentivam a violência e fazem oposição aos nossos direitos.
Claudia Leite, gostaria muito que você se pronunciasse a
favor do Projeto de Lei da Câmara nº 122/2006, que criminaliza a Homofobia e a iguala
ao racismo.
4) Depois, os preconceituosos que não entendem nada da
Toni Reis
Claudia e Márcio, quero que
seu filho ou sua filha seja muito
feliz, que tenha muita saúde, independente da orientação sexual ou identidade de gênero. Se
tiver seu talento, será
maravilhoso(a). Ou não.
39
Sangues
Misturados
Por Marcio Lima
Ícaro é um rapaz de 20 anos
que embora não gaste horas na
academia malhando, está sempre indo à praia e nadando
muito, o que deixou seu corpo
bem definido. Tem olhos e cabelos pretos e um sinal super
charmoso na bochecha. Faz faculdade de jornalismo e um estagio num jornal conceituado
da cidade. Tem uma vida um
pouco agitada, entre
estudo, trabalho e namoro, gosta de ir a festas, bares e boates para
se divertir. Mora com os
pais em um bom apartamento num bairro nobre
da cidade. Ele se en-
tende como heterossexual, mas
admite que na adolescência
teve algumas experiências com
um vizinho do mesmo prédio.
Mas que não passou disso, pois
seu tesão sempre foi por mulheres mesmo. Hoje ele namora Eva, uma garota de 19 anos
que mora a duas quadras e que
ele conheceu através de um
amigo em comum que mora
na mesma região. Eles já namoram faz dois anos e todos percebem o quanto eles se gostam. Mas um dia, numa reunião na casa de Eva, enquanto
seus pais viajavam, Ícaro conheceu Bruno. Um rapaz de
1,80cm, loiro, de olhos azuis e
com um brinquinho na orelha
esquerda. Amigo de Eva, ele
passou quase três anos morando em Londres, fazendo, entre
outras coisas, um curso de aperfeiçoamento em artes plásticas.
Após algumas horas observando todos os movimentos de
Bruno, os dois foram deixados
sozinhos no quartinho de empregada nos fundos da casa,
onde todos se reuniam para
fumar um baseado. Era notória
a tensão em que Ícaro ficou. Ele
engoliu seco e não sabia como
agir nem o que falar. Até que
Bruno quebrou o gelo.
Bruno - Então você que é o
namorado de Eva?
Ícaro - (com a voz embargada) Sim! E você que é o grande
amigo de quem ela fala tanto?
Bruno - Pois é! Ela também
fala muito de você.
E os dois ficaram ali sozinhos
por algum tempo trocando algumas palavras nervosas. Bruno
logo percebeu que Ícaro estava
tenso e se aproximou dele sentando ao seu lado, num colchãozinho que estava no chão do
quartinho, e segurou suas mãos.
40
Bruno - Por que você está
tão tenso? (fazendo massagem
nas mãos de Ícaro) Relaxa, cara!
Nesse momento os olhos
dos dois se fixaram um no outro e o beijo foi inevitável. Ainda que tenso, pois a qualquer
momento poderia entrar alguém. Os dois não resistiram ao
tesão que aquele beijo os fez
sentir e, com muita cautela, foram se entregando. As mãos
foram descobrindo as formas
do corpo um do outro, as bocas cada vez mais vorazes não
se largavam e a respiração ficava mais ofegante a cada descoberta de curvas e músculos.
As mãos descobriram os membros fálicos um do outro e num
ritmo frenético eles se tocaram
até que um orgasmo simultâneo e numa intensidade êxtasiante aconteceu. Eles ficaram
ali por alguns segundos, naquela posição, e com as bocas
entreabertas, mas juntas, sentindo o calor que saia delas. Nas
mãos eles tinham o sêmen um
do outro, que ia esfriando segundo por segundo e escorrendo por entre seus dedos, eles se
deram as mãos misturando
seus semens, seus sangues.
Bruno esboçou um sorriso e Ícaro o seguiu. Os dois caíram na
gargalhada, mas era uma gargalhada de tesão, de quem
adorou a experiência e queria
mais. Após alguns minutos Ícaro decidiu levantar e limpar-se
e chamou Bruno para fazer o
mesmo. Eles usaram a lavanderia que fica na área de serviço.
Logo depois de terem se limpado Ícaro abraçou Bruno e pre-
senteou-lhe com um beijo voraz e quente, conduzindo-o
pela área de serviço até chegarem à cozinha. Lá Ícaro pegou
uma faca de tratar carne que
estava por um acaso em cima
da pia e, ainda beijando Bruno,
o golpeou na altura do estômago. Nesse momento Bruno
abriu os olhos e sentindo aquele
golpe frio em sua barriga e sem
afastar sua boca da de Ícaro
perguntou:
Bruno - Por que?
Ícaro - Não sei! Mas não poderia te deixar vivo, você é a
prova da minha fraqueza.
Após ouvir a declaração de
seu algoz, Bruno caiu desfalecido com o sangue escorrendo
por suas entranhas. Quando
Ícaro olhou para trás estavam
todos na porta da cozinha assistindo à cena, chocados. Ícaro deixou a arma do crime cair
no chão fazendo um barulho
que para ele foi ensurdecedor.
Todos ficaram ali por alguns segundos. Tempo suficiente para
que Bruno pegasse a mesma
faca e cravasse nas costas de
Ícaro com a força que ainda lhe
restava. E ao mesmo tempo em
que desferia o golpe disse:
Bruno - Não levarei essa culpa sozinho. Se eu vou ter que
ir, você também vai. Morre desgraçado.
E cravou ainda mais fundo a
faca que também lhe tirava a
vida. Diante dos olhos perplexos de todos e dos prantos e
gritos de Eva, Bruno caiu morto, em seguida Ícaro caiu por
cima de Bruno, ainda com a
faca cravada em suas costas.
Após olhar fundo nos olhos de
Eva, sua cabeça despencou
para o lado e ele parou de respirar. Um rio de sangue se formou na cozinha chegando até
os pés de uma platéia que assistia a um espetáculo de amor
e ódio. Um rio de sangue formado pelo sangue dos dois
amantes, sangues misturados.
Ao longe podia-se ouvir o som das sirenes
aproximando-se.
FIM
41
Entrevista Luiz Mott
“Sou imprescindível”
abandonar nem na hora da morte,
amém. “No túmulo que já comprei
no Campo Santo pretendo que seja
escrito “Luiz Mott, humanista e uranista. Uranista é um termo do século 19 que é sinônimo de homossexual. Assim vou obrigar as pessoas a irem ao dicionário e evitar possíveis atos de vandalismo”. Confira
a entrevista na íntegra
Tatiana Mendonça
Margarida Neide
“Bichas baianas, rodem a baiana, tudo bem! Mas deixem de ser
alienadas. Vamos fundar um grupo de discussão sobre homossexualidade. Me escrevam!”. O anúncio,
publicado no Jornal Lampião no final de 1979, tinha como endereço
a casa de Luiz Roberto de Barros
Mott, paulista de nascimento que
desembarcou em Salvador com o
firme propósito de se tornar hippie,
mas permaneceu professor universitário. Um tapa na cara o levou a
escrever para o jornal, fundado em
1978 e marco do início do movimento homossexual no Brasil, que
comemora 30 anos. Estava com um
namorado vendo o pôr-do-sol do
Porto da Barra quando um homem
o agrediu. “Foi a primeira vez que
sofri uma violência como essa”. No
dia 29 de fevereiro de 1980, 17 pessoas participaram da primeira reunião do Grupo Gay da Bahia, que
apesar de não ser pioneiro, é o mais
antigo em atividade na América
Latina. Ferrenho opositor da igreja,
ninguém diz que até os 18 anos ele
queria ser padre. Arraigado defensor de que os homossexuais saiam
do armário, foi casado durante cinco anos com uma mulher, mãe de
suas duas filhas. Aos 62 anos, Mott
fala como quem discursa. É a sina
de militante, que ele não pretende
42
_V
ocê par
ticipou do gru_Você
participou
aupo “Somos”, em São PPaulo, e do ““Jornal
Jornal Lampião”,
que marcam o início do
Movimento Homossexual Brasileiro?
Está gravando? Luiz
Mott, 62 anos, paulistando
de nascimento, cidadão de Salvador,
da Bahia, de Piauí, do Sergipe, antropólogo, mestrado em etmologia
pela Sorbonne, em Paris, e doutorado em antropologia pela Unicamp.
Eu vim para a Bahia depois de ter
vivido uma relação heterossexual durante cinco anos, em Campinas,
com duas filhas, aí então em 1978
eu assumi a minha homossexualidade e resolvi mudar para Salvador, fascinado pela beleza da cidade barroca, pelos negros, pelo clima e pelas
frutas tropicais. E vim com a intenção de largar a universidade e viver
uma vida meio hippie. Vim como
professor visitante, e me beneficiei de
um decreto de enquadramento, tornando-me professor adjunto. Depois fiz um concurso para professor
titular. Em menos de um ano de chegado à Bahia, eu já tinha um namorado baiano, com o qual convivi durante sete anos. Estávamos numa
tarde vendo o pôr-do-sol no porto
da Barra quando um machão, perceberndo que nós éramos gays apesar de extremamente discretos , me deu um tapa na cara, por pura
homofobia. Foi a primeira vez na vida
em que fui vítima de uma violência.
Esse tapa na cara despertou a minha consciência da importância de
defender os meus direitos como homossexual. Isso foi em 1979.
_Mas antes você já tinha colaborado com O Lampião, não?
- Parte I
Sim, se não me engano, recémdivorciado, escrevi um pequeno artigo para O Lampião, sobre a homossexualidade entre os índios do
Brasil, mas não tinha ainda informação sobre a existência de grupos organizados. Aí a partir desse tapa na
cara eu escrevi um anúncio para “O
Lampião” que era assim: “Bichas baianas, rodem a baiana, vamos nos
organizar. Vamos fundar um grupo
homossexual”. A partir daí, com a
presença 17 pessoas, entre jornalistas, estudantes, professores, fundamos o GGB. Na época já existiam
outros grupos, mas com o tempo os
mais antigos desapareceram e o
GGB se tornou o grupo mais antigo
do Brasil e da América do Sul.
_Nesses 30 anos, quais foram
as maiores conquistas do Movimento?
O Grupo Gay da Bahia foi pioneiro em muitas conquistas. Foi o
primeiro a usar a expressão gay no
seu próprio nome, enquanto os outros tinham nomes mais simbólicos,
como “Somos”, “Um outro olhar”...
Nós quisemos incluir uma palavra
curta e internacional, gay, como
identificador do grupo. O GGB foi
pioneiro em ser registrado como sociedade civil, isso causou grande
polêmica, o próprio Jornal A TARDE deu grande destaque na época, e também foi pioneiro em ser
reconhecido como utilidade pública municipal, e a primeira ONG a
iniciar a prevenção da AIDS. A vitória mais importante foi que, em
1985, no mesmo ano em que se
publicou na Bahia “Mantenha Salvador limpa, mate uma bicha todo
dia”, conseguimos mais de 16 mil
assinaturas, inclusive de políticos de
destaque, como Fernando Henrique Cardoso, para que o Conselho
Federal de Medicina excluísse o homossexualismo da classificação internacional de doenças. Então a
partir daí nenhuma entidade ou
pessoa poderia classificar a homossexualidade como desvio, transtorno, patologia, garantindo aos homossexuais ao menos à aspiração
à cidadania plena.
Os homossexuais, que hoje preferem ser chamados de LGBT, lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
transexuais - colocando o “L” na
frente para favorecer a visibilidade
das homossexuais femininas - estão cada vez mais sendo alvo de
políticas afirmativas por parte do
governo federal. Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro presidente da República a incluir num
documento oficial a palavra homossexual, em 1996, e em 2002 o primeiro presidente a falar publicamente a palavra homossexual, defendendo a união entre pessoas do
mesmo sexo. De lá para cá, no governo Lula, foi aprovado o Programa Brasil sem Homofobia, incluindo 10 ministérios e mais de 100
ações afirmativas, garantindo aos
gays não privilégios, mas direitos
iguais. Nem menos, nem mais,
como é o nosso slogan. Em junho
deste ano, em 2008, o presidente
Lula esteve presente na I Conferência Nacional do GLBT, em Brasília,
onde ele falou contra a hipocrisia. E
aí foram aprovadas mais de 300
ações afirmativas que ainda continuam no papel mas que, sendo colocadas em prática, com certeza representarão a Lei Áurea da libertação dos homossexuais. Mentalidade não se muda por decreto, mas
havendo leis como a lei contra o racismo, mas a lei contra a homofobia com certeza vai garantir aos homossexuais o amparo legal para sua
cidadania plena.
_E como o senhor acha que
tem evoluído a representação dos
homossexuais na mídia, especialmente na televisão. A Globo, que
é a maior rede, ainda não mostra
o beijo gay
gay..
Nos últimos trinta anos, a homossexualidade deixou de ser considerada doença, foram aprovadas
importantes leis municipais e estaduais garantindo a punição à discriminação, a primeira foi em Salvador,
em 1990, iniciativa da então vereadora Beth Wagner. Há essas conquistas, sobretudo no Judiciário, particularmente no Rio Grande do Sul,
em Minas Gerais e Salvador, que tem
garantido aos casais homossexuais
o reconhecimento do direito à herança, direito ao plano de saúde, e o
prórprio INSS reconhece a união estável para efeito de benefícios do parceiro viúvo de um homossexual. O
Executivo também tem feito certos
progressos, na medida em que aprovou o Brasil Sem Homofobia, na
Conferência Nacional, infelizmente
o Legislativo é o poder que tem sido
mais resistente a reconhecer a igualdade dos direitos dos homossexuais, tanto que o projeto de parceria
civil da então deputada Marta Suplicy, do PT, é de 1995, e até hoje
continua sendo empurrado à barriga pelos deputados, que têm medo
que seu eleitorado deixe de votar
neles. Temem que a homofobia ainda seja um elemento determinante
na escolha de seus candidatos. Se
apoiar gays e lésbicas, poderia tirar
votos desses candidatos, o que não
é comprovado. No geral, há progressos. No nível institucional, legal, da
visibilidade. Cada vez mais os gays
aparecem nos jornais. Na televisão,
as novelas ainda censuram até o
beijo gay, quando mostram cenas
quase explícitas de sexo entre heterossexuais. As novelas, embora tenham mostrado com mais naturalidade casais gays ou casais de lésbicas, ainda existe muito puritanismo
e muita censura no que se refere às
relações homoeróticas. A televisão
insiste em abusar de caricaturas e
estereótipos negativos de homossexuais, principalmente nos programas
cômicos, como o de Tom Cavalcanti... Essa imagem do gay ultraefeminado, caricato, palhacinho, explorado também em novelas... Nem os
negros, nem os judeus, nem as mulheres são ainda mostrados com tanto preconceito nem tanta estereotipia como os homossexuais. Agora
na mídia impressa houve um progresso, na medida em que não mais
se usa termos pejorativos, como viado, fresco, boneca, sapatão, que
até os anos 80, 90, apareciam em
manchetes de jornais de menor expressão. Mas a imprensa ainda está
mais interessada em noticiar escândalos ou exotismos... Por exemplo,
nas imagens das paradas pelo Brasil
a fora, as imagens quase sempre são
de drag queens ou transformistas, e
poucas vezes imagens de casais de
lésbicas ou um casal de gays “normal”. E a imprensa ainda privilegia
muito episódios burlescos ou exóti-
cos do exterior, como concursos de
travestis na Tailândia, assuntos que
não têm absolutamente nenhum interesse para a libertação e a cidadania homossexual, e deixa de noticiar
muitas vezes reuniões importantes
ou congressos do movimento homossexual, ou denúncias sobre assassinatos de homossexuais. No geral, considero que a imprensa melhorou, mas ainda persiste a intolerância no que se refere ao uso do
feminino para as travestis e transsexuais. Há mais de uma década elas
querem ser chamadas no feminino,
já que socialmente o papel de gênero é de mulher. Mesmo que os dicionários da língua portuguesa, o
Aurélio e o Houaiss, ainda tragam o
artigo no masculino, é uma reivindicação dessa categoria que sejam tratadas no feminino, o que se tornou
ainda mais problemático em Salvador com a eleição de uma transsexual vereadora, que quer ser chamada no feminino.
_P
elo que se acompanha do
_Pelo
noticiário internacional, tem-se a
impressão de que hoje a união estável, o casamento, é a principal
bandeira dos gays. Essa percepção
está de acordo com o que é a luta
do movimento hoje?
De fato, embora o primeiro projeto apresentado no Congresso Nacional se refira à parceria civil entre
pessoas do mesmo sexo, há uma
dezena de projetos em andamento e pessoalmente considero que o
mais importante e urgente é o projeto de Lei que criminaliza a homofobia, equiparando-a ao crime do
racismo. É absolutamente inaceitável, injusto e cruel que insultar um
negro na rua ou discriminá-lo implique em crime inafiançável e o
mesmo insulto ou discriminação
praticado contra uma lésbica, um
gay ou um travesti não signifique
nada. Nós queremos como prioridade que esse projeto, que já foi
aprovado na Câmara dos Deputados e que aguarda a aprovação no
Senado, e que conta com a oposição dos fundamentalistas captaneados pelo bispo Crivella, seja aprovado equiparando o Brasil aos países onde os direitos humanos são
mais respeitados, como a Espanha,
Holanda, Bélgica, inclusive o Equa-
43
dor e a África do Sul, que são países
do terceiro mundo e tiveram um legislativo antenado com a modernidade e já aprovaram a inclusão da
homofobia como crime. Ainda continuamos a insistir na aprovação da
parceria civil, apesar de o porjeto
original de 1995 ser reconhecido
pela sua autora, Marta Suplicy, e
pelo movimento como ultrapassado e desatualizado, na medida em
que não considera a união homossexual como constituindo família
nem prevê o direito à adoção, sendo que sobretudo o judiciário do Rio
Grande do Sul já tem jurisprudência garantindo esses direitos. Ou
seja, a união de dois homens e duas
mulheres é um novo tipo de família
e o Juizado da Infância e Juventude do Brasil a fora têm concedido a
homossexuais gays ou lésbicas o direito a adotar, dando preferência, inclusive, a que sejam casais. Dois pais
e duas mães oferecem maior garantia à criança adotada que terão seu
futuro atendido. O grande preconceito dos legisladores em apoiar a
adoção por parte de homossexuais
se baseia num preconceito que já
foi completamente descaracterizado por pesquisas científicas nos Estados Unidos e na Europa, que
mostram que crianças e adolescentes criados por gays ou lésbicas não
se tornarão necessariamente homossexuais, do mesmo modo que
eu sou gay e minha mãe e meu pai
eram heterossexuais. Eu não copiei
o modelo deles.
_Há também um preconceito
de que as relações homossexuais
tendem a ser mais instáveis.
A idéia de que os homossexuais
mantêm relações mais efêmeras também já foi descaracterizado por pesquisas, sobretudo na Holanda e na
Suécia, onde é autorizado o casamento e o divórcio de pessoas do
mesmo sexo, e se constatou que essas relações têm se mantido tão estáveis e “ordeiras” como as dos casais heterossexuais. E o curioso é que
num mundo onde cada vez mais as
pessoas não querem se casar e lutam pelo divórcio, os gays e lésbicas
são a última tribo romântica que está
lutando pelo sagrado direito de se enforcar com a gravata no dia do casamento ou de se prender aos doces
44
laços do matrimônio. O argumento
de que a aprovação do casamento
homossexual ou da adoção vai destruir a família não resiste, porque esse
mesmo argumento foi usado pela
Igreja e pelos conservadores para ser
contra o voto feminino, o trabalho das
mulheres e o próprio divórcio. A experiência mostrou que a família tradiconal burguesa é muito mais resistente a qualquer revolução política ou
de costumes, haja vista o exemplo da
União Soviética, da Revolução Francesa e de outros países que a família
burguesa persistiu apesar de grandes
traumas sociais.
_De acordo com dados publicados no último relatório do Ministério da Saúde, jovens homossexuais correspondem ao grupo de maior incidência do HIV no Brasil, com
um crescimento de 70% no número de casos nos últimos dez anos.
Em que as campanhas falharam?
O GGB foi precursor na prevenção da Aids na Bahia e a primeira
ONG gay a produzir material e a fazer convênios com o Ministério da
Saúde e outros órgãos, distribuindo até agora mais de 3 milhões de
preservativos, não só para gays,
mas com projetos voltados para terreiros de candomblé e jovens em
geral. Nós somos do tempo em que
Aids era chamada de peste gay.
Quando o GGB começou a distribuir preservativos no centro da cidade, com folhetos explicativos, um
vereador evangélico intolerante disse que era um escândalo, que era
uma vergonha, que o GGB estava
distribuindo em uma mão a camisinha e na outra mão uma lata de
vaselina. Absolutamente ridículo,
porque um dos ensinamentos é
que preservativo não pode ser usado com nenhum creme, nenhum
óleo a não ser um gel a base de
água. Hoje, felizmente, tem o
GAPA, o Cria e outras instituições e
ONGs que trabalham com a Aids,
existe uma consciência quando menos da informação. A maioria das
pessoas sabe que a Aids se transmite através do sangue, do esperma e das secreções vaginais, sabe
que não se transmite através do beijo, do abraço, de insetos. As novas
gerações, sobretudo os gays adolescentes, não vivenciaram a tragé-
dia que foi as mortes anunciadas de
Cazuza, Sandra Brea e outros artistas famosos, o Freddy Mercury...
Não vivenciaram o que significa de
sofrimento. Mesmo que hoje em dia
existam terapias e a qualidade de
vida das pessoas com HIV-Aids tenha melhorado, ainda é uma doença mortal e incurável. E os gastos econômicos e o desgaste físico
e emocional das pessoas com Aids
não justifica o descuido. De modo
que infelizmente esse aumento de
Aids entre a população jovem gay
reflete essa visão do adolescente de
ser um super homem, de estar imune a qualquer tipo de ameaça e daí
a importância de um trabalho que
o GGB faz há mais de dez anos, o
“Se Ligue”, que reúne todas às quartas-feiras dezenas de jovens e adolescentes na sede do GGB - Rua Frei
Vicente, 24, Pelourinho - em que se
discute direitos humanos, homofobia e discussão da Aids com distribuição sistemática de camisinha e
gel lubrificante. Considero que o Ministério da Saúde e as secretarias de
Saúde do Estado e do Município
têm uma certa responsabilidade
nesse aumento da infecção de HIV
entre a população homossexual porque inclusive recentemente confirmando a proibição de doar sangue, com o argumento de que enquanto o índice de infecção pelo
HIV na população em geral não
chega a 1%, e entre a população
homossexual é mais do que 5% isso implicaria que a prevenção, o
investimento público, acompanhasse esse maior índice de infecção. E a realidade não é essa. Muitos e muitos meses há falta de preservativos distribuídos pela Secretaria da Bahia, estado e município, e
falta de material de informação e
prevenção voltado pra essa população. É importante que haja campanhas veiculadas na televisão, em
horário nobre, falando sobre a importância de que todos se previnam, sem se referir à existência de
grupos de riscos, porque segundo
a epidemiologia falar em grupos de
risco aumenta o preconceito e não
leva necessariamente à prevenção
por parte das populações mais expostas ao HIV e às demais DST.
(Continua na próxima edição)
Código de Ética do Sistema P
etrobras inclui
Petrobras
o respeito às diversas orientações se
xuais
sexuais
Segundo o presidente da
Petrobrás, José Sergio Gabrielli
de Azevedo, a versão atual do
código de ética é “resultado de
uma ampla revisão, realizada
num processo participativo e
representativo, que envolveu
empregados e empregadas
das diversas unidades do Sistema, em todas as regiões do
país, em seminários de formação e em participações por
meio eletrônico.”
O compromisso ético do
Sistema Petrobras levou a empresa a conquistar, em setembro de 2006, o direito de com-
por o Índice Mundial Dow Jones de Sustentabilidade, usado como parâmetro para análise dos investidores sócio e
ambientalmente responsáveis.
“Nesse mesmo sentido, pode
ser considerado também uma
continuidade da adesão que,
em outubro de 2003, a Petrobras fez com relação aos Prin-
cípios do Pacto Global da
ONU”, explica Azevedo.
O ítem III dos Princípios Éticos do Sistema Petrobrás é bem
claro: “A honestidade, a integridade, a justiça, a eqüidade, a
verdade, a coerência entre o
discurso e a prática referenciam
as relações do Sistema Petrobras
com pessoas e instituições, e se
manifestam no respeito às diferenças e diversidades de condição étnica, religiosa, social,
cultural, lingüística, política, estética, etária, física, mental e psíquica, de gênero, de orientação
sexual e outras.”
45
46
Aler
ta V
ermelho
Alerta
Vermelho
As vezes, preconceito
por parte dos outros
Por Tatiana de Carvalho*
Vamos clarear melhor essa
idéia: já percebeu como é paradoxal ver o negro discriminando
outro negro? Há uma passagem
no livro “Memórias Póstumas de
Brás Cubas”, do grande escritor
brasileiro Machado de Assis, em
que Brás Cubas “branco” se depara com a seguinte cena: seu
ex-escravo negro, portanto, agora alforriado, castigando outro
negro (escravo, então, do ex-escravo) com chicotadas em plena
praça pública. Conseguiu visualizar a cena e perceber o quanto
isso é extremamente paradoxal?
Pois é, como esta coluna muito espanta a sociedade o preconceito que existe dentro de um
grupo que já sofre é voltada para
o público lésbico, é de grande
importância falar aqui sobre um
preconceito comumente encontrado dentro do nosso meio. Talvez algumas mulheres estejam
pensando “nossa, mas existe preconceito no meio lésbico”, outras
“hum...já até sei do que ela vai
falar, aposto que é dessas caminhoneiras”.
É triste alertar quem já deveria estar livre de todos os préconceitos contra o que é diferente, pois se a pessoa já sofreu
ou corre o risco de sofrer preconceito é um tanto natural que ela
não trate outras pessoas do
modo como não queria que fosse tratada.
Quem é que não topou com
frases do tipo “não gosto de
mulher masculinizada, por
mim, elas nem existiriam,
pois denigrem a imagem
LÉSBICA” ou “ai, quer ser
LÉSBICA, seja, mas não
precisa vestir-se e comportar-se como um homem”!
Sabe, uma das sementes
do pré-conceito é o estranhamento. Causa um certo estranhamento tudo que é diferente
e o preconceito surge quando
não conseguimos aceitar e respeitar o que é diferente.
É muito importante que exista uma sociedade heterogênea,
pois, que graça teria se todos
fossem iguais? Se todos pensassem da mesma maneira? Se se
vestissem da mesma forma? Se
fossem da mesma cor? E não só
por isso, o Brasil é um país com
múltiplas faces formado por diversos povos de modos distintos um do outro e, por isso, é
um país rico, muito rico culturalmente. Englobar o que é diferente nos enriquece como
pessoa, pois aprendemos a respeitar o outro, a lidar com as diferenças e a olhar para o mundo com outros olhos.
As mulheres masculinizadas
se vestem e agem do modo
como querem, não como homens, apenas sendo elas mesmas, se vestindo e agindo do
modo que mais lhe fizerem bem,
sem ter que se submeter a regra
nenhuma. Cada um de nós é livre para criar seu estilo, ser o que
quiser e vestir-se como bem entender.
O importante na vida é ser
você mesma, do modo como
você quer, como você se sentir
melhor, nunca se esquecendo
de respeitar os outros, exigir respeito e ser feliz. Por isso, aqui vai
o meu brinde a todo tipo de felicidade, especialmente à diversidade sexual.
“O que fazer com o
amor que não veio,
Ou daquele que não
foi vivido
Por que se esperava por um
maior e melhor?
O que fazer? Não...
Ninguém sabe responder
responder..
E só a mor
te de alguém
morte
pode nos fazer
ao menos refletir
refletir..
A mor
te é necessária
morte
para que outros dêem
amor na vida,
Alguém já dizia,
alguém já morria,
Ninguém realmente
aprendia.”
*Núcleo de Mulheres Lésbicas e
Bissexuais do MGA
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