03 - MGA
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03 - MGA
Editorial......................................................................03 Conhecendo o MGA.........................................04 Oração........................................................................05 Bandeira Gay..........................................................06 Conferência Nacional......................................07 Marina Lima e Gal Costa Travesti faz parto na rua...............................08 Quem...........................................................................09 Discurso Presidente Lula...............................10 Quem...........................................................................12 Quem...........................................................................13 Entrevista João Silvério Trevisan.............14 Chega de Preconceito.....................................17 Múltiplas Cores - Érika Kokay....................18 Opinião......................................................................19 Nota do PCdoB....................................................20 Quem...........................................................................21 Divórcio entre casal gay.................................22 V Parada Gay de Alfenas...............................24 Sargentos gays.....................................................26 Quem...........................................................................28 Quem............................................................................29 50 - Oswaldo Braga.........................................30 Personalidade........................................................31 Propostas LGBT....................................................32 Quem...........................................................................34 Quem...........................................................................35 Milton Cunha........................................................36 Carta aberta à Claudia Leite.......................38 Contos.........................................................................40 Entrevista Luiz Mott..........................................42 Código de Ética da Petrobrás....................45 Quem............................................................................46 Alerta Vermelho...................................................47 O Movimento Gay de Alfenas e região sul de minas (nome oficial) foi criado em março de 2000 e registrado em maio de 2003. É uma Organização Não Governamental, sem fins lucrativos formada por voluntários sem nenhuma remuneração nos cargos e posições que ocupam. Sua missão é lutar por uma sociedade mais justa 02 Esta é uma publicação do MGA (Movimento Gay de Alfenas e região Sul de Minas) Av. São José, 185 - Centro - Alfenas - MG CEP: 37130.000 Telefax: (35) 3291-6253 www.mga.org.br / [email protected] Fotos: André Pereira Novais Projeto Gráfico: Reinaldo Henrique Silva [email protected] Tiragem: 5000 exemplares Impressão: Gráfica Gilcav Ltda. Os artigos assinados são de total responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da diretoria do MGA. O conteúdo desta revista pode ser reproduzido desde que citada a fonte. Financiamento: e inclusiva que reconheça os direitos humanos e a diversidade de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. Assim, a Associação propõe e constrói políticas de homo-inclusão, promove o reconhecimento e a visibilidade das diferentes expressões da homossexualidade e celebra o orgulho de viver a diversidade. Verão com 40 graus de Emoção Poxa, o tempo voa mesmo! Lá se vão 3 anos que a gente vem driblando os obstáculos e trabalhando duro para produzir uma nova edição da DIVERSIDADE. Agora, temos que comemorar e podemos respirar aliviados por essa e mais 5 edições que virão, garantidas dentro de um projeto apresentado e aprovado no Ministério da Cultura, indicação através de emenda parlamentar do deputado José Fernando Aparecido de Oliveira do Partido Verde daqui de Minas. Atrasos, problemas gráficos, errinhos de português...mas cá estamos nós, chegando à edição 6, e cheios de gás. Desta vez, dando destaque ao resultado das eleições em nossa cidade, onde com a ajuda, o apoio e o voto de cada um de vocês, saímos vitoriosos, elegendo o PRIMEIRO VEREADOR GAY ASSUMIDO DE ALFENAS, o único eleito em toda região sudeste do Brasil neste ano, o primeiro do PV da cidade, o mais jovem da atual legislatura. Ufa! Que responsabilidade. Mas estou pronto e quero poder continuar contando com a ajuda de cada um para juntos fazermos realmente um mandato participativo. Conheça o www .sandersimaglio.com.br www.sandersimaglio.com.br Ano novo, que maravilha. O grande babado é que janeiro significa VERÃO. E esta estação representa corpos suados, malhados, gostosos.. E pra presentearmos o leitor antenado do MGA, estamos elaborando um calendário dentro de um projeto aprovado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas – o MENINOS DE ALFENAS, onde vamos clicar e exibir 12 desses corpos fazendo parte da execução desse projeto que visa uma redição significativa de casos de HIV entre os HSH. ... Aguardem!!! Mais uma iniciativa pra lá de inédita em nossa conservadora região sul mineira. Mas fiquem de olho mesmo porque serão confeccionados apenas 500 calendários. Sol escaldante. Está na hora de transformar os tons de pele, de verde água, brancura OMO total, e amarelo pálido para dourado sensação. Muito protetor solar, óculos escuros, sungas da moda (é claro!) e muita camisinha, de todas as cores, formas e modelos. Tudo isso para encarar a estação do sexo selvagem. Os animais podem acasalar na primavera, mas os homens se soltam mesmo, no verão. Neste momento, nosso tesão vai a mil por hora. Também pudera, é um tal de bofes sem camisa, cruzando nosso caminho, que não dá. Fevereiro e Março, nem se fala. Fica impossível circular por Alfenas sem perceber o transtorno e a delícia que o reinício das aulas causa. O transito fica engarrafado, os ônibus ficam mais cheios. É um tumulto geral. Mas, um olhar mais cuidadoso sobre esse caos urbano revela o lado positivo dessa bagunça. São esses belos exemplares da beleza jovem (aí entra os meninos e meninas) que circulam em direção às suas universidades. E há tantas nuances e variedades de beleza que fica difícil decidir, num simples percurso de casa ao trabalho, quem foram os mais “interessantes” que a gente viu pelo caminho. É comum também esbarrar num sinal de transito com aqueles grupos de calouros de faculdade levando trote, pedindo uma contribuição, qualquer moedinha... E lá estão eles, no auge de seus 18 anos, sem camisa, com seus rostos e troncos pintados, verdadeiras obras de arte. É difícil dizer “não”numa hora dessas e a gente acaba contribuindo com a brincadeira. Confessa vai.. Ainda mais se o bofe for belo. Rs. Agora só falta o mais importante, saber a sua opinião... Esperamos que gostem e que nos mandem suas críticas, positivas ou negativas, para podermos sempre melhorar. Até a próxima. Sander Simaglio 03 “O amor é que é impor tante, o se xo é um acidente; importante, sex pode ser igual, pode ser diferente!” Fernando Pessoa É sempre bom lembrarmos quando tudo começou, e principalmente conhecermos como funciona esta instituição que em 2009 completa 9 anos de existência e de trabalhos ininterruptos não só na cidade de Alfenas, mas em toda a extensa e conservadora região sul de Minas Gerais. Coloco aqui alguns itens que são imprescindíveis para o conhecimento da estrutura e funcionamento de nossa ONG: O que é: O Movimento Gay de Alfenas – MGA é uma entidade civil, sem fins lucrativos, sendo pioneiro na região sul do Estado de Minas Gerais na defesa dos direitos de gays, lésbicas, transgêneros e bissexuais. O MGA foi fundado em 10/03/2000 e é reconhecido de Utilidade Pública Municipal, pela Lei N° 3.670 de 03/12/2003, e de Utilidade Pública Estadual, pela Lei N° 15.094 de 30/ 04/2004. O que realiza: Luta de forma permanente pela inclusão social dos/as homossexuais, através do ativismo, pela construção da cidadania e do fortalecimento da comunidade homossexual. Desenvolve diversas ações que visam a prevenção das DST/HIV/AIDS e o apoio direto às pessoas que vivem com HIV/AIDS. Como realiza: - Através de reuniões com debates temáticos acerca das Homossexualidades, Cidadania e Saúde. - Promovendo e/ou participan- 04 do de atos públicos, debates e oficinas sobre homossexualidade e/ou DST/AIDS, em escolas, universidades, unidades de saúde e comunidades; - Prestando orientação jurídica, psicológica e social às pessoas portadoras de HIV/AIDS e aquelas afetadas por discriminação em decorrência da orientação homossexual; - Oferecendo ao portador HIV/ AIDS academia completa de musculação para o tratamento da Lipodistrofia; - Desenvolvendo campanhas e projetos de prevenção das DST/ AIDS, com fornecimento orientado e gratuito de preservativos; - Realizando treinamentos sobre ativismo, prevenção e desenvolvimento institucional; - Contribuindo para a formação e/ou fortalecimento de grupos de promoção dos direitos homossexuais na região sul de Minas Gerais; - Participando de diversos fóruns de controle social das políticas públicas em Saúde e Direitos Humanos; - Disponibilizando uma Lan House para portadores e comunidade LGBT carente, além de manter biblioteca e videoteca sobre Direitos Humanos, sexualidade e DST/AIDS para toda a sociedade. Como é formado: O MGA é formado por pessoas de orientação homossexual (gays, lésbicas, transgêneros) e também por bissexuais e heterossexuais interessados/as na defesa da livre ex- pressão sexual e dos direitos humanos. Nossas Reuniões Gerais: Em nossa sede, todas as quintas-feiras, às 19:00 horas, conforme nosso calendário de reuniões. Como ajudar o MGA MGA:: - Participando das atividades realizadas pela instituição e associando-se ao grupo; - Nossas ações são custeadas através de doações, apoios e parcerias, e principalmente através de projetos financiados pelo Poder Público Estadual e Federal; - Para funcionarmos, há uma série de despesas como aluguel, telefone, transporte, limpeza, água, luz etc, que depende inteiramente de doações e contribuições diversas; - Você pode doar recursos, assim como livros, revistas, fitas de vídeo e CDs para a biblioteca e videoteca da instituição. O Sócio Benemérito: Colabore com o MGA. Agindo assim, você estará contribuindo para a defesa da cidadania de pessoas que têm seus direitos, infelizmente, desrespeitados diariamente. Você estará contribuindo para uma sociedade mais justa onde o respeito às diferenças seja, de fato, uma regra. Torne-se sócio/a benemérito/a do MGA e contribua mensalmente, para que nós possamos desenvolver nossas atividades. Entre em contato conosco. Oração Óh Deus Força de todos os TTeus eus filhos e filhas oprimidos, Que apenas querem fazer par te de TTeu eu Reino de inclusão, parte Nos colocamos diante de TTeus eus olhos de misericórdia. Ajuda-nos a parar as exclusões, para que já não tenha mais sofrimento e dor neste TTeu eu mundo criado bom e belo. Perdoa nossos silêncios, covardias e cumplicidades, porque calar e fugir não podem ser as respostas de Teu povo que quer testemunhar o TTeu eu Evangelho. Concede-nos a valentia de ser santuários de TTua ua coragem para fazer respeitar toda a diversidade de identidades, para terminar com todas as iniqüidades de gênero, para que ninguém tenha medo de amar amar,, para que ninguém seja excluído, humilhado e sofra violência, para que ninguém tenha medo de falar de seu diagnóstico de hiv ... hiv... para que sejamos santuários de confiança e amizade verdadeiros. Empodera a TTeu eu povo para que seja um corpo que anuncia: a paz na terra para todas as pessoas que trabalham pela justiça, para todas as pessoas que trabalham pela paz, para todas as pessoas que trabalham pela verdade para todas as pessoas que trabalham pela liberdade para todas as pessoas que praticam o que aprendem no TTeu eu Evangelho Isto TTe e pedimos por Aquele que não foge e se faz Emmanuel, o Deus que habita entre todos os grupos e pessoas, excluídas em seus lares, em suas comunidades e em suas igrejas. Amém. Rev Gelson Piber Pastor da ICM Niterói 05 A bandeira gay chega ao chão da fábrica SÃO PAULO - A discussão sobre os preconceitos e direitos dos homossexuais entrou oficialmente na pauta dos trabalhadores. Desde março, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) criou de forma oficial o coletivo GLBTT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais) um grupo onde os trabalhadores discutem temas como piadas feitas com os gays e lésbicas nas empresas, prevenção a doenças sexualmente transmissíveis e reivindicações de casais homossexuais a serem incluídas nas convenções coletivas das empresas. - Assim como as mulheres e os negros têm um grupo para discutir suas políticas, achamos que a comunidade GLBTT também precisava ter um núcleo dentro da CUT diz Lucinei Paes Lima, secretária de Políticas Sociais da CUT estadual e responsável pelo grupo. A idéia, diz ela, é ter um debate aberto e diversificado. Numa das reuniões mais recentes, foi discutido o caso de um rapaz de uma empresa da Baixada Santista, demitido por justa causa notadamente por ser homossexual. Histórias de homossexuais homens e mulheres - descartados ainda durante as entrevistas de seleção de emprego também já entraram na pauta. Um dos pontos mais importantes das discussões é como levar para as convenções coletivas das empresas os direitos dos homossexuais. Em algumas categorias, como enfermeiros e bancários isso já está acontecendo. No sindicato dos enfermeiros, trabalhadores homossexuais podem justificar a ausência para acompanhar o companheiro ao médico, por exemplo. 06 Nessa categoria, os casais homossexuais também já conseguiram a extensão do auxílio-doença. E a idéia é ampliar os benefícios como assistência médica e auxílio funeral para casais que mantém relações homoafetivas. - Duas companheiras do movimento sem-terra, no Pontal do Paranapanema, obtiveram na Justiça o documento de posse da terra em nome de ambas. Essa é uma vitória importante que queremos discutir no grupo e lutar para transformá-la em lei - diz Lucinei Lima, da CUT. O coletivo é formado por 15 representantes indicados por sindicatos, que não necessariamente são homossexuais. Estão representados setores como químicos, bancários, enfermeiros, metalúrgicos, metroviários e funcionários de limpeza. As reuniões vinham acontecendo informalmente há cerca de dois anos, mas o grupo foi oficializado este ano. Os encontros acontecem uma vez por mês. O último discutiu uma postura mais política a ser levada para a Parada Gay. - Participamos nos últimos dois anos e este ano também teremos um carro. Mas queremos levar para a semana do Orgulho Gay a discussão de políticas públicas para os homossexuais. A Parada não pode ser apenas festa - diz Elaine Aparecida Leoni, secretaria geral do sindicato dos enfermeiros, que participa do grupo. A criação oficial do núcleo GLBTT na CUT não significa que o preconceito em relação ao universo homossexual tenha amainado dentro das fábricas. Setores como a construção civil ou de trabalhadores rurais, considerados mais machistas pela própria instituição, ainda relutam em mandar representantes ao grupo. Mesmo assim, a criação desse coletivo, único a existir numa central sindical na América Latina, já é considerada uma vitória pelos seus integrantes. - Há ainda muito preconceito de alguns setores para indicar representantes para um grupo como esse - diz Lucinei, da CUT. “Marxismo, quando usado devidamente, é um sistema aber to aberto que absor ve novas experiências e absorve ajusta antigos paradigmas e conceitos a novas realidades” Sam Webb I Conferência Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais Os(as) delegados(as) da Conferência Nacional de Lésbicas, Gays, Bisse ravestis e Bissexuais, Travestis xuais, T xuais aprovaram, na madrugada do dia 9, a Car ta de Brasília. A Car ta e xpressa a ransexuais Carta Carta expressa Transe esperança de um futuro sem preconceito e discriminação. Carta de Brasília Nós delegadas e delegados, participantes da Conferencia Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), reunidos em Brasília, entre os dias 5 e 8 de junho de 2008, com o intuito de avaliar e propor estratégias de promoção da cidadania e de combate à violência e a discriminação contra a população LGBT, manifestamos nossa esperança e confiança de conquistarmos um Brasil e um mundo sem nenhum tipo de preconceito e segregação; Consideramos que o processo de mobilização social e a consolidação de políticas públicas em todas as esferas do Estado são fatores determinantes para a construção de uma sociedade plenamente democrática, justa, libertária e inclusiva; Para tanto, assumimos o compromisso de nos empenharmos cada vez mais na luta pela erradicação da homofobia, transfobia, lesbofobia, machismo e racismo do cotidiano de nossas instituições e sociedade, e por um Estado laico de fato; A humanidade conhece os horrores causados pelas diferentes formas e manifestações de intolerância, preconceito e discriminações praticadas contra idosos, crianças, pessoas com deficiência, bem como por motivações de gênero, raça, etnia, religião, orientação sexual e identidade de gênero; Contra o segmento LGBT tem recaído, durante séculos, uma das maiores cargas de preconceito e discriminações. Na idade média foram queimados em fogueiras. Durante o reino da barbárie nazista foram marcados com o triangulo rosa e assassinados em campos de concentração e fornos crematórios, juntamente com Judeus, Ciganos e Testemunhas de Jeová. Também nos países ditos do “socialismo real”, lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais foram vitimas de discriminações, preconceito, e condenações, o que mostra que a intolerância e a discriminação extrapolam as barreiras ideológicas e os regimes políticos; Assim, como os preconceitos foram gerados e alimentados por determinadas condições históricas, é chegado o momento de introduzir no âmago dos valores essenciais da sociedade: a consciência, o respeito e o reconhecimento da dignidade da pessoa humana, em sua absoluta integridade, em superação a comportamentos, atitudes e ações impeditivas ao avanço de conquistas civilizatórias, as quais dedicamos nossos melhores esforços; No mundo de hoje ainda existem países onde uma pessoa pode ser presa, condenada e morta por sua orientação sexual e identidade de gênero. A ONU reconhece a condição de refugiado político às pessoas que estejam ameaçadas em sua segurança ou integridade em virtude de sua raça, religião, nacionalidade, opinião política ou identificação a certos grupos sociais – onde se incide a orientação sexual e a identidade de gênero, quando expostas a situações de ameaça, discriminação ou violência – circunstâncias características de grave violação de direitos humanos; Cumpre ao Poder Público (Executivo, Legislativo e Judiciário), o dever do diálogo, entre seus órgãos, e com a sociedade civil, com vistas à convalidação de direitos e à promoção da cidadania LGBT; seja pela ampliação, transversalidade e capilaridade de políticas públicas; pelo aprimoramento legislativo e pelo avanço jurisprudencial que reconheça, no ordenamento constitucional, a legitimidade de direitos e garantias legais reivindicadas pelo público LGBT em suas especificidades; Nem menos, nem mais: direitos iguais! É oportuno que o governo brasileiro busque apoio na comunidade internacional para a retomada, junto ao conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), das discussões para a aprovação de uma nova resolução dedicada aos Direitos Humanos e a Orientação Sexu- al e Identidade de Gênero, a exemplo da Resolução já aprovada na OEA, também apresentada pelo Brasil. A prática afetivo-sexual consentida entre pessoas do mesmo sexo integra os direitos fundamentais à privacidade e à liberdade. Por isso, o avanço da cidadania LGBT requer o reconhecimento das relações homoafetivas como geradora de direitos, sem discriminação quanto àqueles observados nos vínculos heterossexuais; Repudiamos toda e qualquer associação entre a promoção de direitos da população LGBT com a criminosa prática da pedofilia e da violência sexual presente na sociedade brasileira, que devem ser tratadas, rigorosamente na forma de lei; Consideramos que a luta pelo direito à livre orientação sexual e identidade de gênero constitui legítima reivindicação para o avanço dos direitos humanos em nossa sociedade e para o aprimoramento do Estado Democrático de Direito; Para tanto, solicitamos urgência na criação do Plano Nacional de Direitos Humanos e Cidadania LGBT; o cumprimento dos objetivos do Programa Brasil sem Homofobia e a aprovação dos projetos de lei que criminaliza a homofobia; que reconhece a união civil de pessoas do mesmo sexo e que autoriza a mudança do nome civil das travestis e transexuais pelo seu nome social; Por isso, nós, participantes da Conferência Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais reivindicamos ao Poder Público (nos três níveis) que se aprofunde esforços, reflexões e ações em prol da consolidação de direitos de toda a comunidade LGBT, a fim de que as futuras gerações possam viver num mundo onde toda modalidade de preconceito e discriminação, motivadas por questões raciais, religiosas, políticas e de orientação sexual e identidade de gênero, estejam definitivamente suprimida do convívio humano. Brasília 08 de junho de 2008 07 Marina Lima revela que sua 1ª experiência gay foi com Gal Costa! Em entrevista à revista Joyce Pascowitch, a cantora Marina Lima, famosa por suas polêmicas, revelou que a também cantora Gal Costa foi sua primeira experiência homossexual, quando Marina tinha 17 anos. “Fiquei louca pela Gal. Um tio meu da Bahia me levou a um show dela e eu fiquei muito fã. Passaram al- guns anos e eu ouvi falar que Gal era gay. Foi um choque para mim. Um choque!”, disse ela na revista. Marina conta que não sabia sobre a homossexualidade de Gal Costa: “aí eu soube que essa mulher, que era meu grande ídolo, transava com mulher. Foi um choque, mas aquilo abriu uma porta para mim. Até que, enfim, eu conheci a Gal. Eu tinha 16, 17 anos, e ela começou a brincar de sedução comigo. Fiquei em pânico e voltei para os Estados Unidos. Aí, lá fora, eu vi que eu queria experimentar, e que a pessoa que eu queria era ela. E me aproximei da Gal e acabei tran- sando com ela. Foi muito importante para mim”. Na entrevista, Marina afirma ainda que chegou a ter relações com outras cantoras, mas que a mais famosa delas foi Gal Costa. “É a que vale a pena falar. Foi a primeira, né?” Foi muito bonito e emocionante o gesto de solidariedade de uma travesti que, talvez sem a ajuda de um soldado, o parto improvisado de uma mulher em plena via pública, não se concluísse exitosamente. Tomaram parte no acontecimento o travesti Andréia, o empresário Cobalchini e o investigador policial Santos em uma passarela próximo à estação Niterói do Trensurb, na cidade de Canoas. A jovem mãe, 25, passava pelo local quando inesperadamente estourou a bolsa, entrou em serviço de parto e tudo aconteceu. Andréia, a primeira pessoa a socorrê-la é uma travesti, moradora de rua que coincidentemente encontrava-se nas proximidades conversando com amigos, quando ouviu o pedido de socorro da jovem Letícia. Segundo relata, entrou em pânico quando ouviu chamar pelo seu nome. Foi o quanto deu para improvisar uma mesa de parto em cima de um banco na base da passarela, contou. Alguns curiosos se aglomeraram e tentaram evitar o parto improvisado, chamando o serviço de urgência, mas antes do socorro médico chegar vinha ao muno uma bonita menina com dois quilos e 195 gramas, que passou a chamar-se Gabriela. Tudo correu bem. A menina já está com quase uma semana de vida. 08 Francisco Basso Dias 09 Discurso HISTÓRICO do Lula na abertura da I Conferência Nacional GLBT (na íntegra) Meu caro companheiro Paulo Vannuchi, secretário especial dos Direitos Humanos, Meu caro companheiro José Gomes Temporão, ministro da Saúde, Meu caro Carlos Eduardo Gabas, ministro interino da Previdência Social, Meu querido companheiro Luiz Dulci, ministro-chefe da SecretariaGeral da Presidência da República, Meu querido companheiro José Antonio Toffoli, advogado-geral da União, Meu querido companheiro Elói Ferreira de Araújo, ministro-chefe interino da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, Nossa querida companheira Nilcéa Freire, secretária especial de Política para as Mulheres, Minha companheira Marisa, Minha querida companheira Cida Diogo, presidente da Frente Parlamentar da Cidadania GLBT, em nome de quem cumprimento todos os companheiros parlamentares aqui presentes, Meu querido companheiro Tony Reis, Fernanda Benvenuti e Negra Cris, por meio de quem quero cumprimentar todas as delegadas e delegados presentes a esta I Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais, Companheiros convidados, Meu querido companheiro Sérgio Mamberti, Minha querida companheira Arlete, Meus queridos companheiros representantes de delegações estrangeiras aqui presentes – eu sei que são 14 países participando desta I Conferência, Companheiros e companheiras da imprensa, Meus amigos, Minhas amigas, Companheiros e companheiras, Primeiro, Paulinho, eu queria te agradecer por este momento. O Paulinho, no ano passado, me procurou para dizer que, de todas as conferências, de tantas que nós já fizemos... Já foram 49 conferências nacionais que nós fizemos. Certamente já envolvemos, ao todo, mais de 3 milhões e meio de brasileiros e brasileiras, de 10 todo o território nacional. Neste ano que se inicia, nós estamos fazendo a I Conferência, e o Paulinho falou: “Lula, é importante” – ele não me chama de Lula, me chama de Presidente, apesar dos 40 anos de amizade –, “nós precisamos fazer essa Conferência. E eu queria saber se o Presidente a convocará por decreto”. Eu disse: “Paulinho, prepara o decreto, que nós a convocaremos por decreto”. E por que eu comecei elogiando o Paulinho? Paulinho, eu penso que o Temporão disse uma coisa aqui que, se alguém não gravou, é importante gravar, porque eu acho que o seu discurso é antológico. Quem faz muito discurso, tem dia que acerta, tem dia que não acerta. Você que grava novela, Serginho, não é assim? Tem dia que você vai lá, grava um texto em 30 segundos e vai embora; e tem dia que aquele texto de 30 segundos leva 3 horas para gravar. Eu me lembro de que uma vez nós ficamos com o Suplicy das 9 da noite às 3 da manhã para gravar um texto, acho que de 35 segundos. Bem, meus companheiros, eu quero agradecer a vocês por estar vivendo este dia. Não é fácil para um presidente da República, nem aqui no Brasil e nem em outro país do mundo, participar de eventos que envolvam um segmento tão grande, tão heterogêneo e tão motivo de preconceitos com vocês. Não é fácil. Então, quando o Tony Reis fala que nunca antes na história do Planeta um presidente convocou uma conferência como esta, eu fico orgulhoso porque nós estamos vivendo no Brasil um momento de reparação. Eu tenho dito, Paulinho, quando vou inaugurar obras do PAC nas favelas, que o que nós estamos fazendo é uma reparação de governantes irresponsáveis que, durante 50 ou 60 anos, deixaram os pobres se amontoarem em lugares que não deveriam se amontoar. Na verdade, se quando aparecessem os primeiros grupos de pobres, o prefeito e os vereadores fossem lá e cuidassem deles, os colocassem num lugar mais adequado, não permitiriam que virassem cidades, não permitiriam a quantidade de gente morando de forma degradante neste País. Houve momentos de irresponsabilidade. Então, eu tenho dito que nós estamos fazendo um processo de reparação. E o Brasil precisa de um processo de reparação. Quando eu recebi, no Palácio do Planalto, os nossos queridos companheiros e companheiras catadores de papel, o companheiro lá de São Paulo fez um discurso, e dizia: “Presidente, se a gente não conquistar mais nada na vida, só o fato de a gente estar colocando o pé dentro do Palácio do Planalto, já terá valido a pena, porque nós nunca imaginamos passar nem perto do Palácio do Planalto”. Eu participei com a companheira Nilcéa, no Rio de Janeiro, há dois anos, acho que foi do Dia do Combate à Aids, se não me falha a memória, e eu dizia para a Nilcéa: nós precisamos criar no Brasil o Dia do Combate à Hipocrisia. Eu sei que isso fere pessoas, deixa outras angustiadas, mas o dado concreto é que, se eu não conseguir criar, alguém vai criar, Nilcéa. Sabem por que é preciso criar o Dia do Combate à Hipocrisia? Porque quando se trata de preconceitos, eu o conheço nas minhas entranhas, eu sei o que é preconceito. Talvez seja a doença mais perversa impregnada na cabeça do ser humano. É uma doença que a gente não combate apenas com leis. A lei ajuda, a Constituição ajuda, montar conselhos ajuda, Tony, tudo ajuda, mas é um processo cultural. É um processo que passa por uma revolução cultural de as pessoas irem compreendendo que precisamos nos gostar do jeito que somos, que não precisamos querer que ninguém seja igual. Mesmo nesta platéia, é bem possível que tenha diferenças, que tenha preconceitos, uns achando “eu posso isso, mas aquele não pode aquilo”. Se nós não arejarmos a cabeça, a despoluirmos de preconceitos, não cumpriremos o que o Paulinho pediu aqui, que é a unidade em torno das coisas votadas no Congresso Nacional. Eu vou dizer a vocês o mesmo o que eu disse no encontro que nós fizemos da Conferência da Igualdade Racial. Nós temos um grande projeto para fazer o Estatuto da Igualdade Racial dentro do Congresso Nacional. Eu fui muito claro aos companheiros delegados: se vocês não se colocarem de acordo, por mínimo que seja, alguém terá que abrir mão de alguma coisa para construir o consenso para o Congresso Nacional votar. Se vocês estiverem divididos dentro do Congresso, não haverá Estatuto da Igualdade Racial nem hoje e nem nunca. Vocês vão ter três dias de Conferência e, livremente, irão discutir, discursar, escrever, retratar e apresentar uma proposta para o governo. Posso dizer a vocês: o tratamento que vocês terão, com o documento que apresentarem, será igual ao tratamento que nós demos às 49 conferências que aconteceram antes da de vocês. Se não for assim, nós estaremos fazendo apenas uma meia democracia, aquela democracia que pode aparecer na hora que eu quero, quando eu preciso, mas que não é plena, não paira 24 horas em cima das nossas cabeças, em cima da cabeça daqueles que, por preconceito, não querem entender o jeito de ser de cada um. Obviamente que nós também seremos honestos, como fomos honestos com as outras conferências. Aquilo que não puder ser feito, a gente vai dizer com o mesmo companheirismo: companheiros, isso aqui não dá, isso aqui não passa, isso aqui não vai. Se não estabelecermos essa relação companheira entre nós, terminaremos a Conferência e voltaremos a ter as desconfianças que tínhamos antes de entrar aqui. Eu disse que agradecia o fato de estar aqui hoje, porque uma vez eu disse que todo político é cheio de certezas, todo político é cheio de convicções muito precisas. As pessoas se assustavam quando eu dizia: “Olha, eu sou a metamorfose ambulante”. Na minha vida, eu penso que tenho tudo definido. No dia seguinte eu aprendo que tem uma coisa que ainda não estou definido, e que eu preciso me definir; que tem uma coisa que eu era contra, agora sou a favor; que tem uma coisa que eu não concordava, agora eu concordo. É esse o jeito de governar uma família que tem 190 milhões de filhos. Não é filho único, não temos apenas uma religião, não temos apenas uma opção sexual. Disseram bem, todos os que falaram aqui, do Paulinho ao companheiro Temporão: ninguém pergunta a opção sexual de vocês quando vão pagar Imposto de Renda, ninguém pergunta quando vai pagar qualquer tributo neste País. Por que discriminar na hora em que vocês, livremente, escolhem o que querem fazer com o seu corpo? É mais fácil falar do que transformar as palavras em coisas concretas, porque aí é preciso medir a correlação de forças na sociedade. Mas uma coisa sagrada vocês fizeram: conseguiram quebrar a casca do ovo, conseguiram gritar para o Brasil que vocês existem e que não querem nada a mais, nem nada a menos do que ninguém. Vocês querem ser brasileiros, trabalhar e viver respeitados, como todos querem ser respeitados no mundo. Por isso eu quero dizer a vocês que, quando nós assinamos o Decreto, as pessoas começaram: “Mas você vai, Presidente?” Você sabe o que eu senti quando coloquei o boné na cabeça, Tony? O mesmo preconceito que tinha contra mim quando, pela primeira vez, eu coloquei o boné do Movimento dos Sem-Terra na minha cabeça. Eu nunca apanhei tanto. Eu era recém-presidente da República, recém-empossado, e coloquei o chapéu dos Sem-Terra na cabeça. Eu apanhei acho que mais de um mês na imprensa. Eu poderia colocar chapéu do Banco do Brasil, do Banco Real, do Bradesco, da Vale do Rio Doce, da Petrobras, do Corinthians, do Flamengo, do Vasco, eu poderia falar qualquer... Agora, eu não poderia colocar dos Sem-Terra, e me veio uma luz: eu vou colocar todos, porque somente assim vou quebrar o preconceito que as pessoas têm, de achar que você pode ou não pode fazer as coisas. É gratificante vir aqui porque a gente sai aprendendo uma lição, a lição da maturidade política do Movimento, a lição da compreensão de que só existe um jeito de, cada vez mais, a sociedade reconhecer o Movimento: é cada vez mais brigar, é cada vez mais andar de cabeça erguida, é cada vez mais brigar contra o preconceito, é cada vez mais denunciar as arbitrariedades. Somente assim a gente vai conquistar a cidadania plena e poder, todo mundo, andar de cabeça erguida nas ruas, sem ninguém querer saber o que nós somos, apenas que somos brasileiros e brasileiras e que queremos construir este País sem preconceitos. Eu conheço líderes importantes. Ao longo da minha vida, eu conheci figuras muito importantes no Planeta, que não têm coragem de assumir o homossexualismo no seu país. Dá a impressão de que não existe, porque as pessoas sempre pensam: “no meu país não tem isso, na minha casa não tem aquilo, eu nunca vou pegar isso, eu nunca vou pegar aquilo”. Nós estamos sempre transferindo para os outros quando, na verdade, seria tão mais simples e o mundo seria tão mais alegre, se nós fôssemos menos rígidos com os tabus que foram colocados no nosso caminho ao longo da nossa história. Quero dizer a todos vocês, companheiros e companheiras: Deus ilumine vocês, e apresentem aqui a proposta que vocês entenderem seja a melhor e que possa garantir... Eu posso dizer a vocês: no que depender do apoio do governo, no que depender do apoio do Poder Executivo e dos Ministros, nós iremos trabalhar para que o Congresso Nacional aprove o que precisar aprovar neste País. Eu me lembro, Paulinho... Acho que não te contei, porque isso ainda não é do seu tempo. Você sabe que uma vez eu descobri que aqui, em Brasília – o Paulinho já era ministro –, tinha o problema de uma lei que não permitia que o portador de deficiência física – sobretudo a pessoa que tinha um problema de visão – andasse no transporte com seu cão-guia, pegasse o metrô, entrasse no supermercado, entrasse na igreja. Aí eu falei: “Paulinho, nós vamos convocar uma reunião dentro do Palácio do Planalto, com os cachorros lá. Os cães vão entrar dentro do Palácio do Planalto porque, na verdade, os cães são uma extensão daquele companheiro que é portador de deficiência visual”. Eu acho que são exemplos assim que a gente vai tendo que fazer, cada vez mais, até que um dia consiga andar na rua sem perceber ninguém olhando meio de esguelha para a gente, aquele olhar de lado, aquele olhar desconfiado. Então, eu acho que este dia é, realmente, histórico. Eu penso que vocês não têm ainda a dimensão do que este dia pode causar, como efeito multiplicador de quebra de preconceitos e de conquista de direitos. É uma pena, meus queridos deputados – quero agradecer a presença de vocês –, que mais deputados e senadores não tenham vindo. É uma pena porque, ao ver vocês, eles iriam tomar um susto, e iam fazer uma exclamação: “São iguais a mim” Quem sabe voltassem para suas atividades com menos ranço e com menos preconceito. Boa sorte, boa Conferência. Que Deus abençoe a todos vocês. 11 12 13 “O protesto se faz justamente na festa” “É uma novidade excepcional o fato de um segmento minoritário conseguir se afirmar publicamente em dimensões tão extremas. Eu chorei por várias vezes nas primeiras edições da PParada arada do Orgulho Gay aqui de São PPaulo”. aulo”. Cer ta vez, o sociólogo britânico Certa Anthony Giddens dissera: “O sexo hoje em dia aparece continuamente no domínio público e, além disso, fala a linguagem da revolução”. Liderança querida do movimento ho ho-mossexual brasileiro, o escritor João Silvério TTrevisan revisan é exemplo vivo da publicização contemporânea das questões de ordem sexual. PProtago rotago rotago-nista do desenvolvimento das lutas revisan discute, na GLBT no Brasil, TTrevisan entrevista a seguir seguir,, a origem e a maturação da realização das chamadas “paradas pela diversidade sexual” ou “paradas pelo orgulho gay gay””. “A priaulo nós meira parada aqui de São PPaulo fizemos em 1981. Naquele momento, enfrentamos uma resistência brutal. Em algumas ruas, as pessoas do alto dos prédios jogavam merda na gente”, lembra. Emocionado com a dimensão social e cultural que as manifestações assumiram no correr da década de 1990, o escritor defende o caráter festivo dos eventos do gênero e garante: “Um engajamento político feliz tem muito mais sentido de ser ser”” Quando a gente discute o surgimento das paradas GLBT GLBT,, sempre se apontam as manifestações contra a discriminação sexual de 1969 em Greenwich Village, Nova Iorque, como um marco desses movimentos. Na mesma época, você começava a enveredar pelo cinema, com uma produção também interessada por questões de ordem sexual. FFoi oi uma mera coincidência? Absolutamente. Acho que o período favorecia tudo isso. Indiscutivelmente, essas manifestações homossexuais são resultado direto de maio de 1968. O meu interesse pelas questões colocadas pelo movimento de maio de 1968 era tão grande e tão frustrado aqui no Brasil que eu decidi ir aos Esta- 14 dos Unidos. Aliás, eu não fui para os Estados Unidos. Eu fui para Buckley, na Califórnia, que foi um pólo importante das lutas estudantis de 1968 e também de efervescência para todo um conjunto de informações novas que a esquerda brasileira de então não me oferecia. Claro, ali também estava em jogo a minha homossexualidade. Eu havia me assumido homossexual e estava procurando novos caminhos que me permitissem pensar essa minha condição. A esquerda brasileira abominava tudo isso. A esquerda brasileira ainda estava concentrada no conceito de luta de classes. Então, todas as outras lutas eram excluídas ou tidas como lutas menores. Ou se defendia a luta do proletariado ou não se defendia luta alguma. As pessoas queriam que, primeiro, se fizesse a revolução do proletariado para, só depois, caminhar para as outras revoluções. Sempre pensei o contrário: para mim, todas as revoluções têm que estar juntas. De que forma os episódios acontecidos nos Estados Unidos influenciaram o movimento gay brasileiro, tendo em vista que aqui o PPaís aís convivia com uma ditadura? Olha, influenciaram através dos exilados, basicamente. No Brasil dos anos 1960 e 1970, a gente convivia com duas ditaduras: uma ditadura de Estado, de direita, político-militar; e uma ditadura de esquerda, que não compreendia o discurso da diversidade. Eu saí do Brasil, auto-exilado, por três anos, circulando pelo continente. Fui por terra de São Paulo a Buckley, onde fiquei por um ano e meio. De lá, fiquei outro tempo também no México. Foi uma época da minha vida em que optei por circular. Na verdade, a experiência que tive nos Estados Unidos foi crucial para o desenvolvimento do movimento homossexual brasileiro. A fundação do primeiro grupo de liberação homossexual que surge no Brasil, que está agora completando 30 anos, é fruto das minhas vivências nos Estados Unidos. Buckley é uma cidade ao lado de São Francisco, uma cidade basicamente universitária, um caldeirão cultural avançadíssimo nos anos 1970. Para você ter uma idéia, em 1975, Buckley tinha coleta seletiva do lixo! Buckley tinha uma forte consciência ecológica, Buckley tinha uma forte consciência feminista, Buckley tinha forte consciência negra por conta da influência de Oakland. Além disso, havia um movimento homossexual organizado extraordinário. Absurdamente contrário ao Brasil daquele período, nos Estados Unidos era permitido e comum entre os homossexuais que eles conversassem sobre seus direitos. Buckley colocou todas as minhas idéias pessoais em cheque e foi a partir disso que comecei a mobilizar alguns companheiros quando voltei ao Brasil. Cheguei em 1976 e me senti profundamente solitário... Organizar um grupo foi o jeito que encontrei de existir. Mas a verdade é que, naquele momento, a gente nem sequer sabia como começar uma conversa sobre as questões homossexuais. A gente tinha sérias limitações políticas, ideológicas e psicológicas para discutir nossa sexualidade. Passados 40 anos, que diálogo o senhor vê entre aquelas manifestações de poucos militantes com essas passeatas de milhares de pessoas que acontecem nas principais metrópoles? Historicamente, eu não consigo traçar uma explicação para as paradas. Não havia indício de manifestações nessas proporções. Fico emocionado quando vejo que elas se tornaram possível. As paradas são a grande exceção e a minha grande esperança no movimento homossexual. As paradas me parecem ser a única manifestação popular e coletiva da comunidade homossexual. Então, as vejo como um instrumento político importantíssimo, apesar de muita gente as considerar um carnaval fora de época. Seja um carnaval ou não, o fato é que homossexuais estão tomando as ruas, realmente rompendo com o esquema de invisibilidade, fazendo o que nenhum outro grupo ou movimento social faz. Isso tudo com uma reivindicação muito sofisticada, que é o direito de amar. As paradas tiveram mesmo uma contribuição decisiva para uma ampliação dos direitos civis dos segmentos homossexuais? Claro. Principalmente, enquanto elemento de pressão. Antes, os homossexuais não tinham visibilidade pública. Todo mundo sabia que os homossexuais existiam aos montes, mas ninguém tinha uma noção exata disso. Hoje, a Avenida Paulista fica lotada de pessoas que se afirmam, que têm cheiro, que têm corpo, que têm idéias e identidades... Eu vou todos os anos e sempre fico emocionadíssimo quando vejo aquela multidão. Olho a Parada do Orgulho Gay e penso: “Meu Deus, como valeu a pena todo meu esforço”. Penso isso sem nenhum tipo de pejo. Jamais pensei que aqueles nossos encontros de poucos gatos pingados pudessem se transformar num evento de massas nessas proporções. Além da pressão social que vem no bojo da realização das paradas, penso que os homossexuais ganham muito em termos de politização com esses eventos. O homossexual que vai a uma parada conquista uma visibilidade pública que é essencial. Nós, homossexuais, já sofremos muito por não termos uma auto-imagem. Durante muitos anos, nós estivemos completamente alheios de qualquer representação com pretensões de dar conta da realidade. É como se não existíssemos. As paradas nos dão existência pública. Uma coisa que me emocionou muito, acho que na terceira ou quarta parada aqui de São Paulo, foi o fato de as pessoas começarem a participar sem óculos escuros. No começo, as pessoas meio que se protegiam atrás dessa máscara... Fico felicíssimo quando vejo que os homossexuais, aos poucos, estão se expondo. Politicamente e psicologicamente, as paradas cumprem a função de mostrar que nós, homossexuais, não estamos mais sozinhos. Por que esses eventos tiveram um crescimento tão dinâmico ao passo que instrumentos também muito impor tantes, a exemplo do jornal Lamportantes, pião do qual o senhor fez par te, não parte, vingaram? Eu acredito que tem muito a ver com a época. O Lampião só existiu para que a parada pudesse existir. Isso significa que houve um processo histórico. A primeira parada aqui de São Paulo nós fizemos em 1981. Ali, a idéia ainda era de passeata, mas reunimos 500 pessoas para protestar contra um delegado que estava prendendo deliberadamente travestis, prostitutas e homossexuais no Centro de São Paulo. Naquele momento, enfrentamos uma resistência brutal. Em algumas ruas, as pessoas do alto dos prédios jogavam merda na gente. Hoje, a situação é outra: há uma disponibilidade muito solidária para a questão da diversidade. É uma coisa impressionante a quantidade de idosos e crianças que esses eventos conseguem atrair. Isso, para mim, é uma conquista sem precedentes para a causa homossexual. Sem o Lampião, a Parada do Orgulho Gay não seria possível. Ele cumpriu uma etapa que abriu portas para as conquistas atuais. Sem falar que o Lampião morreu por um problema editorial, de viabilidade editorial que existe até hoje. O Lampião não tinha anunciantes, como também a G Magazine enfrenta problemas econômicos seríssimos. A própria Parada do Orgulho Gay, com toda a multidão de gente que atrai, não encontra patrocínio de empresas privadas... Isso é uma atitude completamente inaceitável. Para mim, trata-se de uma atitude ilógica comercialmente, financeiramente, que só se justifica por questões preconceituosas. A dificuldade do movimento ho ho-mossexual em transformar esses 3,4 milhões de par ticipantes da PParada arada do participantes Orgulho Gay de São PPaulo aulo em capital econômico também se repete no âmbito da política? Pelo contrário. A Parada do Orgulho Gay encontra investimento público justamente por se configurar como estratégico economicamente. Hoje, a parada é o maior atrativo turístico de São Paulo. Por isso, a Prefeitura não abre mão da realização do evento. Para você ter uma idéia, o Ministério Público decretou que todas as manifestações públicas fossem retirados da Avenida Paulista, por conta do fluxo do trânsito, e essa regra não vale para a Parada do Orgulho Gay. A própria cidade tem interesse no evento, interesse econômico, sobretudo. Graças ao potencial econômico da parada é que ela se impôs. Há três anos, o jornal Folha de São Paulo publicou uma pesquisa sobre a Parada do Orgulho Gay que atestava que 76% dos participantes homossexuais, bissexuais e transsexuais do evento concordam totalmente ou em parte com a frase “alguns homossexuais exageram nos trejeitos, o que alimenta o preconceito contra os gays”. O senhor foi uma das vozes contrárias ao índice, lamentando o fato de os gays “praticarem o mesmo preconceito que os vitima”. O senhor arriscaria uma explicação para isso? Isso é um sintoma do baixo, baixíssimo, nível de politização do movimento homossexual brasileiro. Por uma fatalidade histórica e cultural, a comunidade homossexual tem um nível político baixíssimo no Brasil. Isso tudo é também um sintoma muito claro de como o movimento homossexual brasileiro vem se conduzindo. É um movimento de elite, feito e voltado para a classe média, em consonância direta com o poder. Há um diálogo do movimento homossexual com o poder que não passa pela comunidade homossexual e vejo isso como um problema. Esse problema é uma herança que o movimento homossexual, mas não só ele, tem das esquerdas. Para as esquerdas, sempre foi mais fácil pegar em armas do que provocar uma mudança de mentalidade dos indivíduos. Isso aconteceu também com as feministas. Quando elas começaram a se mobilizar, muitas tiveram reação de seus mari- 15 dos, que eram revolucionários só fora de casa. Então, penso que esse tipo de crítica é uma comprovação da falta de auto-estima da comunidade homossexual e ainda uma falta de consciência enquanto comunidade, enquanto coletividade. A idéia que tem que ser valorizada é a diversidade, por mais que esse termo seja desgastado. Não existe essa coisa do mais gay e do menos gay. O que estamos reivindicando é justamente isso: o direito à diferença. Por que o caráter festivo das paradas provoca reações tão conflitantes? Os organizadores quase sempre argumentam que os trios elétricos e shows com artistas famosos se justificam por atrair segmentos extra-GLBT. Os militantes mais engajados, no entanto, reclamam de uma aparente despolitização do evento. Política e carnaval não podem atuar conjuntas? Essas lideranças que reclamam são todas elas umas idiotas. Quem reclama de despolitização, na verdade, não tem nenhum consciência política. Não faz sentido essa revolta contra uma manifestação política alegre. Um engajamento político feliz tem muito mais sentido de ser. Então, vamos festejar! O grande macete das paradas foi tirar o caráter de passeata e inserir o caráter de celebração. O protesto se faz justamente na festa. Você pode ser muito político, fazendo carnaval, não há nenhum antagonismo de intenções. Aliás, os homossexuais deveriam ter a obrigação de perceber que nós sempre fizemos isso. Nós sempre fizemos da celebração um mecanismo de resistência. No contexto da popularização das paradas GLBT no Brasil, é nítido um aumento da contrapartida dos poderes públicos oficiais para com a realização desses eventos. Hoje, essas manifestações são legitimadas desde o aporte de verbas do Ministério da Cultura ao ordenamento dos departamentos municipais de trânsito, por exemplo. Você diria que esse apoio tem se projetado para além do factual? O apoio é, sim, para além do factual e não é um apoio negativo. O 16 que é negativo é uma relação subserviente com esse poder político estabelecido. Não vejo o fato de ter conseguido um respaldo maior junto às esferas de poder público como uma espécie de submissão. O perigo existe, mas, claro, as lideranças têm que estar dispostas a enfrentá-lo. O movimento homossexual não pode ser tratado nunca como política de governo, mas, sim, como movimento social. Os movimentos sociais não são correias de transmissão das ações de um determinado governo ou de um determinado partido. Eu, particularmente, acho fundamental que se mantenha a total independência. Com relação à realização das paradas, o apoio dos poderes públicos pode até ser pontual, específico, mas do ponto de vista político e cultural ele é difícil de aquilatar. Tudo isso forma um quadro tremendamente dialético, os gays encontram apoio público para ir às ruas justamente para pressionar por mais e mais apoio, mais e mais direitos. Aliás, grande parte da força do movimento homossexual aqui de São Paulo se deve a nossa boa e independente relação com os poderes estabelecidos. Muito freqüentemente, as pessoas pensam que o governo da Marta Suplicy foi uma maravilha para a comunidade homossexual. No entanto, nossas principais conquistas legais foram com o PSDB e com o DEM, e, não, com o PT. A Marta nos deu um pé na bunda quando assumiu a Prefeitura de São Paulo. para outros grupos sociais. Como elemento político, social e cultural, as paradas estão tendo uma influência decisiva. É uma novidade excepcional o fato de um segmento minoritário, tradicionalmente excluído, conseguir se afirmar publicamente em dimensões tão extremas. Eu chorei por várias vezes nas primeiras edições da Parada do Orgulho Gay aqui de São Paulo. Nunca me passou pela cabeça que uma cidade tão conservadora fosse abraçar com tanto carinho a causa homossexual! Essa receptividade se espalha hoje pelas mais diferentes regiões. Acabei de receber umas fotos da Parada Gay de Alfenas, no Interior de Minas Gerais. Então, há uma novidade histórica se disseminando. Isso tem, sim, um sentido e deverá repercutir muito ainda. Esse ano, os empresários da noite gay boicotaram o desfile e os trios que foram para a Avenida Paulista foram os trios das centrais sindicais, entidades essas que estiveram durante muito tempo à margem do debate sobre sexualidade e sobre homossexualidade. Essa integração só é possível porque as pessoas, enfim, perceberam que não faz sentido nenhum lutar sozinho. É fundamental que as pessoas percebam que a luta dos homossexuais não é só dos homossexuais, mas de todos nós. Também nós temos que entender essa coletividade. Por fim, qual o maior legado das paradas pela diversidade sexual? Que contribuição você diria que essas manifestações oferecem a outros movimentos sociais? O Brasil e o mundo estariam hoje demonstrando um interesse maior por cruzar bandeiras e lutas? Em que medida o militante gay já se identifica em outros contextos e vice-versa? Eu acredito que estamos todos aprendendo, por mais que ainda seja muito delicado avaliar isso. A verdade é que, historicamente, só um louco poderia negar a importância das paradas para a comunidade homossexual. Isso, sem dúvida, serve como uma espécie de modelo, de estímulo, Criação ar tística como artística manifestação política Magela Lima Repór ter Repórter FIQUE POR DENTRO Paulista de Ribeirão Bonito, João Silvério Trevisan desde cedo ofereceu seu talento à militância homossexual. No cinema, como roteirista, é autor de ´Contestação´ (1969) e ´Orgia ou o homem que deu cria´ (1971). Escritor e dramaturgo, tem grande contribuíção também no jornalismo contemporâneo, sendo um dos responsáveis pela edição do jornal O Lampião da Esquina, alternativo voltado ao público homossexual que circulou entre 1978 e 1981. Na literatura, assina vasta produção, da qual se destacam os títulos ´Testamento de Jônatas Deixado a David´ (1976), ´Em Nome do Desejo´ (1983), ´Devassos no Paraíso´ (1986) e ´Ana em Veneza´ (1994). Chega de Preconceito! Militar Lésbica do Exercíto Brasileiro Mais uma vítima da atrocidade do EB. “UU” Nesses últimos momentos estamos vendo o preconceito prendendo pessoas na cadeia. Os sargentos do Exército Laci e Fernando, de Brasília, perderam seus mínimos direito de ser gente ao serem presos, pelo simples fato de denunciarem o sofrimento que passam inúmeros gays, lésbicas e outros dentro das forças armadas pelo simples crime de serem verdadeiros. Não que não possam ter cometido nenhum tipo de erro, mas a reação do Exército contra eles é de uma força estúpida e preconceituosa. Eu mesma, sendo ainda militar, sofri a dor de estar presa por algumas horas dentro do Hospital militar de Juiz de Fora, em 03 de março de 2008, onde perdi o direito de ser uma cidadã. E, em 01 de junho agora, após o meu retorno ao Exército, num dia em que busquei ajuda dentro do mesmo hospital um Capitão ameaçou-me ser presa se eu não saísse imediatamente daquele lugar, por estar “incomodando”, sendo essa mais uma mostra da discriminação que tenho certeza que não apenas eu, mas muitos outros, sofrem de um lugar machista e homofóbico. A luta não é contra o Exército pois ali existem nobres soldados, mas, infelizmente, há a existência de militares que não suportam que o outro seja diferente. E o Exército quer que calemos nossa voz. Recebi uma ordem dada pelo General da 4ª Brigada de Infantaria Motorizada, de Juiz de Fora, MG, através dos meus superiores, de que eu não poderia participar do Programa Superpop. Mas, sinceramente, se eu não falar, as pedras clamarão e gritarão que essa é a hora de todos os sofredores e aqueles que já não suportam mais tanta injustiça se unirem para acabar de vez com a lepra do preconceito em nossa sociedade. A mídia está se abrindo para isso e não podemos deixar que essa se feche com medo de nossas próprias vidas. Eu mesma ouso colocar minha vida em perigo na luta e convido a outros companheiros de farda, aos gays, lésbicas e outros discriminados, aos partidos políticos que realmente se importam com o povo, às ONGs que lutam pelo direito dos desvalidos, às igrejas abertas, aos verdadeiros filhos de Deus, e a população em geral para lutarem contra o preconceito. Esse é o tempo de denunciarmos todo o erro, dentro das Forças Armadas e dentro de qualquer outro lugar, até mesmo dentro de nossas casas. Não podemos mais agir como avestruzes escondendo nossas cabeças na terra e fingindo que nada acontece. É isso que dá força ao preconceito, o que faz os excluídos serem vítimas de violências, tortura e morte pelo simples motivo de serem almas sem defesa e não podendo contar com o apoio do Esta- do. E, nesse estado de impunidade, pessoas se reúnem para nas madrugadas no simples prazer de espancar prostitutas e travestis e se dizerem boas pessoas. Não sou apenas eu, somos milhões de discriminados. Mas ainda tenho esperança. Ainda acredito em Deus. Que isso possa ser espalhado por todos os sites na Internet, Jor Jor-nais e TTelevisão. elevisão. Fabiane – 13 Jun 08 ‘O que me preocupa não é o clamor dos maus. É o silêncio dos bons’. (Mar tin LLuther uther King) (Martin Edson Axé (81) 87676533 Rede de Negros, Negras e Afro LGBTT - RNAF/GGP. 17 Erika Kokay O Projeto de Lei 122/2006, em trâmite no Senado Federal, já aprovado pela Câmara dos Deputados, que torna crime a prática de homofobia, é um passo importante na garantia dos direitos dos gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, porém tem suscitado debates recheados de muita desinformação e, sobretudo, intolerância e preconceito contra o segmento GLBT. Ao lado do nosso histórico de desigualdades sociais - os programas de transferência de renda e assistência social são apenas parte da estratégia de proteção social e enfrentamento da pobreza no país -, estima-se em mais de 18 milhões de pessoas consideradas, no Brasil, cidadãos e cidadãs de segunda categoria (os pobres e os negros mais ainda) a quem é negado o pleno exercício da sexualidade. Em vez de terem garantidas as suas individualidades, são vítimas de discriminação e violência, sendo que centenas são assassinadas anualmente, demonstrando a gravidade da homofobia no Brasil. Na Câmara Legislativa do Distrito Federal, tenho pautado o meu mandato parlamentar em defesa dos direitos humanos, em especial dos direitos do segmento GLBT, apresentando emendas orçamentárias anuais, como a que destina R$ 80 mil, em 2008, a organizações GLBT para difusão e promoção cultural, e proposições, como os projetos de lei que instituem os dias de visibilidade lésbica, orgulho homossexual e combate à homofobia, bem como sobre o sistema para receber denúncias de discriminação em face da 18 orientação sexual das pessoas e a implantação da Ouvidoria de Direitos Humanos do Distrito Federal. Além disso, realizamos atos e audiências públicas, tendo apresentado também indicações à Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Distrito Federal para que o governo instalasse o Conselho Distrital de Defesa dos Direitos do Segmento GLBT e constituísse grupo de trabalho para elaborar o programa “Brasília Sem Homofobia”, integrado por representantes do Executivo, Legislativo, Ministério Público e sociedade civil organizada. No Brasil, a homossexualidade ainda é vista, por alguns, como doença, pecado ou desvio de comportamento. A lei em tramitação não dispõe sobre comportamentos - estes já existem -, e sim defende a integridade física e psicológica das pessoas gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, garantindo-lhes dignidade no ordenamento jurídico, criminalizando a homofobia de forma equivalente ao racismo, sem ferir a liberdade religiosa ou de expressão, até porque o Estado é laico, segundo a Constituição Brasileira. O caminho tem sido longo para que todos passem a respeitar as diferenças entre os seres humanos. Que mérito civilizatório tem uma sociedade que só respeita os chamados “iguais”? O mérito maior de um Estado Democrático de Direito é respeitar os “diferentes”. O afeto e o amor entre os seres humanos, assim como outras questões, não podem ser amordaçados em amarras ou muros reducionistas e cerceadores da liberdade individual. A invisibilidade dos homossexuais diminuiu bastante com as paradas e as políticas públicas que, finalmente, começam a ser implementadas no Brasil, a partir do governo Lula. De acordo com o deputado federal Iran Barbosa (PT-SE), o PL 122/2006 apenas assegurará que as individualidades das pessoas homossexuais não sejam violadas pelos que não aceitam a livre orientação sexual e a identidade de gênero. As críticas ao projeto, em geral, não aprofundam o seu conteúdo em relação aos direitos humanos ou ao ordenamento jurídico. Há desinformação, preconceito e interpretação equivocada de textos bíblicos, desconhecendo a diversidade e a necessidade de expansão dos direitos de cidadania. O projeto melhora o Brasil no sentido de romper com o preconceito e a discriminação, ajudando a combater a face homofóbica, como ilustra Julian Rodrigues, integrante do setorial GLBT do PT, de um juiz paulista que, em 2007, sentenciou de forma superpreconceituosa e ridícula que o futebol é “jogo viril, varonil”, não próprio para jogadores gays. Apesar disso, é no Poder Judiciário que se têm conquistado avanços importantes, como no caso da justiça gaúcha que assegurou aos transexuais o direito a cirurgias de redesignação para pessoas trans, custeadas pelo SUS. Este ano será de grandes desafios para o movimento e a comunidade GLBT, como destravar o PL 122/2006 no Senado e participar ativamente da I Conferência Nacional GLBT, convocada pelo governo federal para maio, em Brasília, e que será precedida de conferências preparatórias nos estados e no Distrito Federal. 2008 será, sobretudo, um marco na luta contra o preconceito e a violência que vitimam gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. Agora, pela primeira vez, a partir de sua I Conferência, terão visibilidade como cidadãs e cidadãos sujeitos de direitos que necessitam de políticas públicas específicas, calcadas no respeito à diversidade expressa na multiplicidade de relações afetivas entre as pessoas - de todas as cores. Erika Kokay é psicóloga, deputada distrital (PT) e presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Orgulho Dia 28 Obrigado querido amigo, desde Uruguai, que também hoje festejamos o Dia do Orgulho, desejo-lhe a você e tod@s noss@s companheir@s um belíssimo dia, aonde a esperança de ser considerado um ser humano igual a todos, mantenha-se viva daqui pra sempre desde o meu coraçao. Ruben Lopez Binho da Mangueira Montevideu - Uruguai Sunlight Vip Travel GLS Agradecimento Nunca estamos sós, é verdade. É bom saber que temos amigos em que podemos confiar. Pessoas que nos apoiam e nos acolhem com tanto carinho. Quero agradecer a vocês pela belissima homenagem recebida e também aos meus amigos. Saiba que eu também quero fazer por vocês o que for possível. Disponha da minha amizade sincera. Meu eterno agradecimento. Clebinho Sander, Esses dias conversando com uma amiga lésbica, ela contou que quando ela era menina, ela já é mais velha, apaixonou pela melhor amiga dela, mas que era difícil.... Naquela época viver um romance gay, mesmo que ambas as partes quizessem e tal.... ela usou esse termo, falou que era complicado porque “naquela época não tinha o Sander” aí eu pensei...quantos meninos e meninas iriam sofrer e não sofreram porque você faz o que faz, quantos pais iriam sofrer e não sofreram, quantos caras iam ter casado e viveriam infelizes para sempre... Aí eu fui entender a importância do que você faz, evita e evitou sofrimento de muitos e isso é muito valoroso. Se em toda cidade tivesse um Sander seria muito mais fácil as coisas. Wladimir Miranda Areado Sander Sander,, bom dia! Parabéns pelo trabalho. Isso sim é promoção da luta contra a homofobia. Sei bem que colocar essa quantidade de outdoor em Alfenas, numa das regiões mineiras mais conservadoras - onde se concentra os tradicionais cafeicultores, não é uma tarefa fácil. Parabéns pela coragem, garra e determinação que você e os companheiros do MGA tem demonstrado cada dia mais! Domingo estaremos aí e juntos celebraremos o orgulho de sermos o que somos, sem medo e sem preconceito! Beijos Carlos Bem MGRV 19 Ousadia para lutar pela livre orientação se xual sexual O PCdoB sempre esteve presente nas lutas do povo brasileiro, desde a sua fundação em 1922, defendendo a autonomia dos movimentos sociais e lutando pela independência nacional, pela democracia, pelos direitos sociais dos trabalhadores e trabalhadoras. Os comunistas lutam contra os fundamentalismos e pelo fim de toda e qualquer forma de opressão à livre orientação sexual e identidade de gênero. Precisamos ousar sempre. Ousar lutar pela livre orientação sexual, compreendendo que lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, são mulheres e homens que ousam ser o que são e com isso quebram muitos padrões sociais sustentados pelo capitalismo e suas instituições políticas e jurídicas. A homofobia, e suas especifidades como a lesbofobia e a transfobia, também são fatores estruturantes das desigualdades sociais. Fatores estes que precisamos conhecer, entender e com base nisto tomar posição, pois a livre orientação sexual é um direito humano. A livre orientação se xual e sexual a luta pelo socialismo A opressão a gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais está enraizada no modo como o capitalismo está estruturado e organizado. No Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels, além de afirmarem o papel da família na reprodução da opressão da mulher, indicam a possibilidade e a necessidade de transformar essa instituição. A denúncia contundente sobre os valores e a (falsa) moral então predominantes na família burguesa, aspectos identificados com a lógica do modo de produção capitalista, conduzia já então à sua negação como instituição “sagrada”, intocável. A opressão que atinge a diversidade sexual torna-se, portanto, traço inevitável do atual sistema capitalista. Por outro lado, a história da luta contra essa opressão sempre esteve vinculada à 20 história da luta de classes e da luta pelo socialismo. O movimento marxista já em seus primórdios via a luta pela livre orientação sexual como uma parte necessária da luta pelo socialismo. Nosso Partido atua buscando contribuir para a formação de uma consciência política cada vez maior entre os participantes do movimento e no conjunto do povo brasileiro, e, ao mesmo tempo, assumindo em seu próprio Estatuto a defesa da liberdade de orientação sexual, discutindo com os seus militantes o resgate histórico dessa luta e seu vínculo com a luta pelo socialismo. O capítulo X do Estatuto do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), de 2005, em seu artigo 49, aponta: “O Partido prioriza a ação entre os(as) trabalhadoras(es), tendo presente também o movimento juvenil e estudantil, comunitário e demais movimentos das camadas populares, entre eles os das mulheres, negros(as), indígenas, movimentos culturais, artísticos, de defesa ambiental, de liberdade de orientação sexual (...)”. É imbuído deste espírito que o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), com seus 86 anos ininterruptos de luta por um Brasil democrático e socialista, recentemente passou a atuar nacionalmente de forma organizada na luta pela livre orientação sexual. O socialismo não se refere apenas ao fim de toda opressão e exploração. É também uma luta para que nos libertemos de todos os preconceitos e toda a repressão que distorcem e destróem a nossa sexualidade. O PCdoB se soma aos participantes desta Conferência para que avancemos nas mudanças demandadas pelo povo brasileiro e juntos concretizemos as transformações que o Brasil necessita. O Governo Lula e a ampliação da luta pelas reformas democráticas Um Estado democrático de direito não pode aceitar práticas sociais e institucionais que criminalizam, estigma- tizam e marginalizam as pessoas por motivos de orientação sexual e/ou identidade de gênero. A prática sexual entre adultos do mesmo sexo é um direito de foro íntimo, bem como o é a apresentação social do sentimento de pertencimento a um determinado gênero, independente do sexo biológico. Em um momento em que o Partido Comunista do Brasil clama por reformas democráticas – reiterando os compromissos dos comunistas com o aprofundamento das mudanças em curso no Brasil, implementadas a partir das vitórias das forças progressistas em 2002 e da reeleição do Presidente Lula em 2006 – é de vital importância explicitar que, ao lado da luta para garantir e efetivar reformas democráticas no Brasil, principalmente as reformas política, tributária, educacional, urbana, agrária, e da mídia, é preciso incorporar a estes objetivos democráticos um amplo e contundente combate à homofobia (e suas expressões específicas como a lesbofobia e a transfobia), e promover a construção de novos padrões de relações de gênero que libertem mulheres e homens, independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero. A realização desta 1ª Conferência Nacional, inédita em termos mundiais, e o Programa Brasil Sem Homofobia, são importantes realizações da Secretaria Especial dos Direitos Humanos do Governo Federal. O Governo Lula desde o seu início conta com o apoio e a participação dos comunistas brasileiros. Esta Conferência tem o enorme desafio de avançar na formulação de políticas públicas que estejam sistematizadas em um Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Precisamos construir este caminho juntos. Nossa luta tem um futuro brilhante pela frente, e a necessária ousadia para conquistá-lo depende de todos e todas, de cada uma e cada um de nós. Brasília, 5 de junho de 2008 21 Juíza reconhece união homoafetiva para fazer partilha de bens, “divórcio” entre casal gay é o primeiro em São Paulo Inimigos íntimos O amor entre eles foi instantâneo. Começou com uma troca safada de olhares no ônibus lotado, linha Jardim ElianaBrás. Naquele dia, há sete anos, até foi bom o trânsito ruim que fez a viagem durar duas horas intermináveis. Mas, depois disso, rolaram traições, ciúmes, discussões. Pancadaria forte. Até o televisor, comprado a prestação nas Casas Bahia, acabou estatelado no chão, durante uma briga. Dos móveis destruídos nem se fala. A vida em comum ficou insuportável e Marcio Chaves de Freitas, 39, educador social, decidiu deixar para trás a casa em que morava e que construíra para viver com Renato (nome fictício, a pedido dele), 35, auxiliar de serviços gerais. Freitas saiu sem ter para onde ir. Virou sem-teto. Agora, Freitas luta pelo cumprimento de sentença judicial que, pela primeira vez na história da Justiça de São Paulo, e a um só tempo, determinou: 1) que os dois homens viveram uma união homoafetiva estável; 2) que essa união foi dissolvida; 3) que seja feita a partilha dos bens, bem poucos, diga-se, amealhados pelo par durante os cinco anos e meio de união. Na sentença em que decidiu tudo isso, a juíza de Direito Lidia Maria Andrade Conceição, da 5ª Vara de Família e Sucessões do Foro Regional de 22 Santo Amaro, diz que a “situação [vivida pelos dois homens] não divergiu da maior parte das pessoas que terminam uniões e rompem matrimônios”. “Fui humilhado”, “abandonado”, “jogado na rua”. “Ele quis me transformar em lixo.” Quem? “Eu não pronuncio o nome do coisa ruim”, diz Freitas, parecendo citar uma letra de bolero, a respeito de Renato. “Com uma bicha” Separar sempre é complicado, mas, no caso de Freitas e Renato, muito mais. Não existe no Brasil nenhuma lei que regulamente a união ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Portanto, inexiste também apoio jurídico do Estado em casos de separação. Como dividir os bens? Conversar, eles não conversam. Mal podem se olhar - é muito rancor. “Só quero que ele pague por ter-me feito sofrer mais do que sovaco de aleijado”, diz Freitas. Nem com conselho de família os dois podem contar. Renato, por exem- plo: baiano, ele é pai de uma menina, fruto de um casamento anterior (com uma mulher). Alto, forte, barba por fazer, voz grossa, não quer que o pai, já idoso, descubra pelo jornal “que se amasiou com uma bicha” -palavras dele. Teme pelo que o susto da descoberta possa fazer com a debilitada saúde paterna. Este foi um dos motivos que o levaram a não dar entrevista à Folha. Também os irmãos não sabem de nada. Mas, da parte deles, Renato teme mesmo é tomar uma pisa, que é outro nome para surra de pau. Freitas não tem medo disso, assumidíssimo. Mas também não pode contar com a família, que vive em Pernambuco. À Justiça, Freitas pediu uma indenização por danos morais no valor de R$ 30 mil, a devolução dos móveis da casa (afirma que foram comprados por ele), e a partilha do imóvel em que viveram juntos. “Imóvel” é modo de dizer. Na Chácara do Conde, antiga invasão promovida por movimento sem-teto no extremo sul da cidade de São Paulo, perto da represa Billings, chamam de “edícula” a construção de 25 m2 nos fundos de um terreno de 125 m2, onde o casal morou. É que o local chegou a ser projetado por urbanistas estrelados para ser um bairro popular modelo em plena área de preservação ambiental da represa Billings. Corriam os anos da administração de Luiza Erundina (1989-93). Finda a gestão dela, das casas planejadas, não ficou nem vestígio. Restou um bairro paupérrimo de construções improvisadas, muitas das quais -as menoressão chamadas de “edículas” das casas que nunca vieram. A de Freitas e Renato é dessas. Fica em uma rua de terra vermelha que, como as demais da Chácara do Conde, se transforma em lamaçal na época de chuvas. “Tudo era amor. A gente passeava de mãos dadas pelo parque dos Eucaliptos, no Grajaú, jantava em pizzarias, dançava em uma boate gay no Bixiga. Quando fiz 32 anos, ele organizou um “assustado” [festa-surpresa] linda para mim. Aí veio a facada da traição no meu peito.” O relato é de Freitas. Ao sair da Chácara do Conde, Freitas teve de dormir em casas de conhecidos e em albergues para moradores de rua, como o Arsenal da Esperança e o que fica sob o viaduto Pedroso. Era um dândi no meio da miséria dos lugares. Caprichoso, lavava as roupas onde dava e guardava-as (com os documentos) em um bagageiro público mantido pela prefeitura. Em sua sentença, a juíza não concordou com o pedido de Freitas de partilha dos móveis. “Quanto à devolução dos móveis, entendo da improcedência do pedido. Isso porque, quanto a alguns bens, como a TV, o próprio requerente [Freitas] não tem certeza de seu funcionamento, uma vez que derrubada durante desavença das partes que chegou a troca de agressões físicas.” As agressões mútuas também fizeram com que ela recusasse a indenização por danos morais. “Não se pode imputar exclusivamente ao requerido [Renato] a culpa pela situação de insuportabilidade da vida em comum.” A juíza concordou com a partilha do imóvel, que deverá ser leiloado para que o produto da venda seja dividido entre os dois ex-parceiros. Mas não expediu a carta de sentença, que materializaria sua decisão. Na semana passada, a defensora pública Alessandra Pereira de Melo, 37, interpôs um agravo de instrumento a fim de que isso ocorra. “Não há por que adiar a partilha do imóvel, ainda mais considerando-se que Freitas vive em situação de rua. Nenhum dos dois ex-companheiros recorreu contra essa decisão, então basta cumpri-la”, diz a defensora. Freitas insiste em levar a questão da indenização por danos morais para decisão em segunda instância. Mas é apenas nessa parte da sentença que as partes ainda discutem. Renato tem grandes esperanças de continuar no imóvel, e de não ser obrigado a entregar metade dele para Freitas. A Folha apurou com vizinhos da Chácara do Conde que Renato acredita que, para isso, tem apenas de ficar quieto. Ele conta com a anulação de todo o julgamento pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Explica-se: como a legislação brasileira não prevê uniões familiares de homossexuais, a instância superior pode entender que a questão deveria ter sido julgada por uma Vara Cível. Nunca por uma de Família. Na Chácara do Conde, toda a vizinhança sabia que Freitas e Renato eram homossexuais e “casados”. “Quando me separei, demorou, mas a Justiça me garantiu casa, pensão e a guarda dos filhos. É muito triste ver o Marcio [Freitas] assim, jogado de um lado para outro, sem ter aonde ir. Ele não merecia”, disse à Folha uma vizinha que não quis se identificar porque, como ela diz, “em briga de [pausa] não se mete a colher”. Laura Capriglione Folha de S. PPaulo aulo 23 24 O medo da censura e do preconceito nas ruas, comum aos casais de homossexuais, foi substituído pela liberdade e por muita animação. A quinta PParada arada Gay de Alfenas reuniu, segundo os organizadores, cerca de 25 mil pessoas. A estimativa pode ser exagerada, mas quem passou pelas ruas do Centro da cidade não deixou de ver o asfalto tomado por gays e simpatizantes, que dançavam ao som de muita música techno e sucessos da disco music (ou em francês discothèque) tocadas por dois trios elétricos. Os balões e as bandeiras com as cores do arco -íris - símbolo internacional arco-íris do movimento gay - deram o colorido à festa. De acordo com Sander Simaglio, um dos organizadores do evento, o número de par ticipantes aumenta a participantes cada ano. ““Já Já passamos da fase da visibilidade e agora buscamos os direitos iguais”, afirma Simaglio. Segundo ele, o objetivo da parada também é incentivar as pessoas a pressionarem os congressistas a aprovarem o PProjeto rojeto de LLei ei 122, que equipara a homofobia ao racismo, tor tor-nando o preconceito contra homossexuais um crime reconhecido por lei. 25 Senador Suplicy visita Sargentos Gays detidos no Exército Sargentos gays encontram saída jurídica para deixar o Exército Por Wagner Gomes SÃO PAULO - Os sargentos Laci Marinho de Araújo e Fernando Alcântara de Figueiredo já sabem o caminho jurídico para deixar o Exército sem serem punidos. Os dois foram presos depois de assumir publicamente que são homossexuais e que moram juntos desde 1997. Araújo foi detido logo após dar uma entrevista à Rede TV, em 3 de junho, em São Paulo. Já o sargento Figueiredo foi preso nesta sexta-feira no hospital onde trabalha, em Brasília, depois de entregar a sua defesa administrativa, questionando os argumentos do Exército. - Encontrei com o sargento Araújo nesta quinta-feira. Perguntei se era a sua intenção, depois de servir 13 anos no Exército, de passar para a vida civil. Ele disse que sim, que conhece o artigo 150 do Exército que trata do assunto, o que significa que sabe como fazê-lo na hora que assim o desejar - afirmou Eduardo Suplicy, que preside a comissão especial criada no Senado para averiguar o ocorrido. Laci foi preso por deserção e não tem previsão de deixar a cadeia. Já o sargento Alcântara teve a prisão administrativa decretada por oito 26 dias. Segundo o Exército, ele respondia por transgressões disciplinares. Ele teria se afastado do trabalho e viajado a São Paulo sem autorização, se apresentado à imprensa sem uniforme do Exército e omitido informação sobre o paradeiro do sargento Laci Marinho de Araújo. O advogado Marcos Rogério de Souza, que defende Figueiredo, disse que enviou ao Exército uma resposta às acusações. O advogado questionou ainda a gravidade da punição e disse que deve recorrer ao Exército para reduzir a pena. Segundo Souza, o regimento militar estabelece cinco graduações de sanções, que vai desde a advertência verbal reservada, passando pela repreensão na frente dos colegas e detenção no alojamento. Ao sargento Figueiredo foi estabelecida a prisão, uma sanção considera- da gravíssima. - Em situações semelhantes, outros militares receberam sanções mais brandas. São nesses momentos que se expressam a homofobia estatal. É muito sutil esse tipo de manifestação, mas no caso dos dois sargentos isso fica bastante evidente disse o advogado. Souza explicou que a roupa camuflada usada pelo sargento durante entrevista não faz parte do uniforme, trata-se de uma roupa similar comprada em qualquer loja. Além disso, o direito de livre locomoção é assegurado na Constituição federal. Na avaliação da defesa, ao manter um relacionamento estável com Araújo, Figueiredo fica desobrigado a informar o seu paradeiro. Segundo o senador, o problema causado por ambos os sargentos pode ser bem resolvido por uma decisão de bom senso, de maneira construtiva e didática para todas as partes envolvidas, em especial porque não houve um delito que possa ser considerado grave. - Sim, houve a deserção que o regulamento do Exército considera crime. Entretanto, não há dúvida de que o sargento Laci Marinho de Araújo, conforme o demonstram os laudos médicos, inclusive o do Exército que o examinou há dois dias, tem tido fortes problemas emocionais e psíquicos que o levaram a se ausentar do trabalho - disse Suplicy na carta que enviou à juíza. De acordo com Suplicy, os dois sargentos se sentem perseguidos pelo fato de terem constatado irregularidades na administração do hospital em que trabalhavam e terem feito denúncias ao Ministério Público. Para o senador, o assunto ganhou dimensões maiores na medida em que, para se protegerem do que sentiram como perseguição, resolveram dar uma entrevista à imprensa sobre suas opções sexuais. Em nota divulgada nesta tarde, representantes do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) repudiam a prisão “arbitrária” do sargento do Exército Fernando Alcântara de Figueiredo. O sargento foi detido por volta de 12h em Brasília. Segundo o Condepe, as acusações formuladas pelo Exército Brasileiro não passam de pretextos para encobrir o preconceito, a discriminação e a homofobia por parte das Forças Armadas Brasileiras. O senador Suplicy disse que encontrou Araújo mais calmo nesta quinta-feira na carceragem do Exército. O sargento havia tomado o café da manhã, assim como a medicação que lhe havia sido receitado na vés- pera pelo médico psiquiatra que o examinou. Homofobia no Exército Um Grupo de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgeneros e Heterossexuais - LGBT, se reunem sábado próximo, a partir das 14 Horas, na pracinha da Catedral Metropolitana Católina ( avenida Universitária -Centro) na vígilia para pedir a libertação dos sargentos gays Laci e Fernando e o fim do preconceito nas forças armadas. De acordo com Léo Mendes, fundador do Movimento LGBT de Goiás, “ a vígilia marchará da catedral à sétima csm do exército ( Paranaíba com 74) , onde serão colocadas flores , velas e entregue uma carta ao Ministro Nelson Jobim pedindo o fim do preconceito aos homossexuais no exercito brasileiro”. Há cinco dias os sargentos Gays que deram entrevistas na revista Isto é e no superpop estão presos no quartel. Pede-se as pessoas que vão a vigília levarem flores e se possível ir com roupa verde. Maiores informações Lucas FFor or tuna - (62) 9238 7173 ortuna 27 28 29 Por Oswaldo Braga* Esse dia, com certeza iria chegar. Não esperava que fosse tão cedo, mas sabia que teria que enfrentar o espelho, o desgaste do corpo e aparentar os 50 anos que completo amanhã. Aos 50 anos eu não vejo só uma luz no fim do túnel, mas o próprio fim do túnel, se é que me entendem. E de nada adiantam a complacência e a solidariedade dos amigos na tentativa de suavizar os desgastes provocados pela passagem do tempo. Para quem tem senso crítico, qualquer tentativa de dizer que você não aparenta sua idade te lembra a idade que você tem. Aos 50 anos só me resta reconhecer o tempo como um companheiro, misto de carrasco e curandeiro, que me castiga ao mesmo tempo em que oferece o alívio para tantas outras dores da alma. Quando eu nasci, em 1958, o primeiro Fusca estava sendo fabricado no Brasil. Nossa seleção vencia sua primeira Copa do Mundo na Suécia e, a Portela, o Carnaval carioca. Pio XII morria e dava lugar ao papa João XXIII, encerrando uma das fases mais moralistas da nossa história. Junto comigo, em plena Guerra Fria, nasceram: Michel Jackson, Sharon 30 Stone, Edson Celulari, Pedro Bial, Michele Pfiffer, Victor Fazano, a Madonna e o Cazuza. Por outro lado, em 58 faleceu Assis Valente, compositor gay, autor de “Cidade Maravilhosa” e “Brasil Pandeiro”. Neste ano, João Gilberto gravou “Chega de Saudades” e alguns o elegem o ano de nascimento da Bossa Nova, em pleno governo Juscelino Kubitschek. Mas, 1958 foi palco para um dos mais curiosos acontecimentos políticos deste país: a candidatura sob forma de protesto, do hipopótamo Cacareco, residente permanente do Zoológico da cidade, que acabou se elegendo para uma das 45 cadeiras da Câmara Municipal de São Paulo com mais de 100 mil votos. A candidatura do Cacareco nasceu em Osasco, em torno de um movimento de emancipação do bairro mais populoso do município de São Paulo. Sua campanha foi uma comoção e mobilizou a população da cidade, que votou em massa no hipopótamo. Em protesto contra o Supremo Tribunal, que negou as pretensões de seus moradores, 100 mil cédulas foram impressas com o nome do Cacareco. “Está faltando leite, está faltando pão, criança sem escola não tem mais solução, a queixa desse povo não encontra eco, e foi eleito o cacareco”, dizia a marchinha de Carnaval. Ainda teve Adalgisa Colombo vencendo o concurso Miss Brasil e a curiosa criação do bambolê na forma como conhecemos, de plástico, colorido. É... Acho que tenho bons motivos para me simpatizar com 1958. Camisinha sempre! www .otempo.com.br www.otempo.com.br http://oswaldobraga.spaces.live.com 31 Propostas da comunidade LGBT para os novos vereadores, prefeitos e vices Incluir nos planos de Governo: Direitos Humanos * Criação do Centro de Referencia para LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais). * Criação de uma Coordenação Especial da Livre Orientação Sexual. * Criação do Núcleo de estudos à cidadania LGBT, com o objetivo de reunir dados, compor estudos e propor soluções para violências e discriminações praticadas contra Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Funcionalismo Público Reconhecimento das uniões homo-afetivas como isonômicas para todos os direitos já garantidos no Estatuto do Servidor público e de todos os cargos de carreira do município. Legislação Apoiar e encaminhar para a Câmara Municipal projeto de lei que proíba a discriminação decorrente de orientação sexual/ identidade de gênero e promovam os direitos dos LGBT. Educação * Propor a inclusão de temas relativos à sexualidade e homossexualidade nos conteúdos, currículos escolares, livros e outros materiais didáticos, considerando o conteúdo não discriminatório como um dos critérios para a seleção de livros didáticos adquiridos ou indicados pelo MEC para as escolas públicas. * Apoiar a divulgação de informações cientificas e de direitos humanos sobre a orientação 32 sexual/identidade de gênero e o combate a homo/lesbo/transfobia com diversas ações visando à capacitação e sensibilização dos profissionais de educação, publicações de materiais informativos e eventos sobre o tema. Juventude * Apoiar a realização de estudos e pesquisas na área dos direitos e da situação sócio-econômica dos adolescentes e jovens LGTB. * Apoiar a implementação de projetos de prevenção da discriminação e a homo/lesbo/transfobia nas escolas, em parceria com agências internacionais de cooperação e a sociedade civil organizada. * Capacitar profissionais de casas de apoio e de abrigos para jovens em assuntos ligados a orientação sexual e ao combate à discriminação e à violência contra LGBT. Comunicação Promover campanha municipal nos veículos de comunicação de massa, de combate à discriminação por orientação sexual/identidade de gênero e promoção da cidadania e do direito à livre expressão sexual dos cidadãos. Esporte e lazer * Apoiar a realização dos Jogos “Gay Games “ ou olimpíadas gays, como forma de ampliar a auto-estima dos LGBT. * Incluir políticas de lazer para jovens e idosos LGBT. * Formalizar parcerias com ONGs LGBT no sentido de estar facilitando aulas esportivas nas ONGs. Turismo Promover o município como pólo do turismo GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes), adotando políticas de combate à discriminação e promovendo atividades de capacitação do comércio turístico para o recebimento do turista LGBT. Desenvolvimento Econômico * Promover e apoiar a multiplicação de projetos e experiências de geração de emprego e renda especificamente voltados para os LGBT em nível municipal. * Revisar as políticas de emprego e renda, a fim de garantir que os LGBT também sejam beneficiários diretos do desenvolvimento econômico. Ação Social * Incentivar a criação de programas comunitários destinados a acolher LGBT da terceira idade, proporcionando-lhes cuidados, ocupação e lazer compatíveis com suas condições físicas e mentais. * Reconhecer e apoiar o serviço social desenvolvido pelas ONGs LGBT. * Incluir as ONGs LGBT no fundo municipal da assistência social. * Realização de cursos de qualificação e requalificação profissional para LGBT em situação de abandono ou de pobreza. * Atendimento psicológico destinado aos familiares de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais de forma a serem esclarecidos sobre a questão da homossexualidade como orientação e não como desvio. Cultura * Apoiar a criação de um Grupo de Trabalho para elaborar um plano para o fomento, incentivo e apoio às produções artísticas e culturais que promovam a cultura e a não discriminação por orientação sexual/identidade de gênero. * Estabelecer que os Museus abram espaços para exposições temáticas periódicas tendo a cultura LGBT como tema. * Apoiar a produção de bens culturais e apoio a eventos de visibilidade massiva de afirmação de orientação sexual/identidade de gênero e da cultura de paz. * Estimular e apoiar a distribuição, circulação e acesso aos bens e serviços culturais com temática ligada ao combate à homo/lesbo/transfobia e promoção da cidadania de LGBT. * Criar ações para diagnosticar, avaliar e promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da participação da população LGBT do município no processo de desenvolvimento a partir de sua história e cultura. * Implementar ações de capacitação de atores da política cultural para valorização da temática do combate à homo/lesbo/transfobia e afirmação da orientação sexual/identidade de gênero LGBT. * promover ações voltadas ao combate da homo/lesbo/ transfobia e à promoção da cidadania LGBT. Saúde * Implantar políticas de saúde destinadas a mulheres lésbicas no climatério e pós-climatério, no sentido de garantir a saúde física e mental na terceira idade. * Programa de redução de danos de silicone líquido. *Garantir a ampliação do es- pectro de atendimento aos LGBT, pelo SUS, vítimas de violência sexual e doméstica. *Incentivar e criar programas de educação em saúde destinados aos LGBT que trabalham na prostituição, destinados a prevenir o risco de doenças sexualmente transmissíveis, inclusive Aids. *Ampliar a interação entre o Programa de DST/AIDS e ONGS LGBT, com vistas a maximizar recursos materiais e financeiros capazes de promover a prevenção, o diagnóstico, o tratamento e o acesso a medicamentos da Aids. *Orientar e capacitar profissionais da área de proctologia, urologia, ginecologia, mastologia, fonoaudiologia, dentre outras especialidades, para tratar as especificidades de LGBT. *Incentivar e apoiar a pesquisa epidemiológica, com recorte de orientação sexual, atendendo as especificidades de gênero, raciais, étnicas e de faixa etária. Jurídico * Promover cursos de capacitação para advogados (as) das Defensorias Públicas e Serviços de Assistência Jurídica Gratuita, membros dos Ministérios Públicos e integrantes do Poder Judiciário, para atendimento qualificado aos LGBT. * Apoiar os departamentos jurídicos das ONGs LGBT com disponibilização de advogados e estagiários de direito. Obras Públicas * Construção do Monumento de Memória aos LGBT assassinados em virtude da sua orientação sexual/identidade de gênero, em local público, central e visível. * Construção do Centro de Referência LGBT no Município (equipamento público para discussão e formulação de políticas públicas para os LGBT, bem como atendimento psicológico, jurídico e de assistência social para LGBT). Meio Ambiente * Reconhecimento do espaço público de livre afeto de LGBT em Parques e Jardins da Cidade. Reivindicações Nacionais * Promover o Estado Laico * Aprovação pelo Congresso Nacional dos projetos de lei de Criminalização da Homofobia, União Civil, bem como Mudança de nome para travestis e transexuais. * Que o Governo Federal cumpra o Programa Brasil sem Homofobia. * Que a ONU aprove a resolução da inclusão da orientação sexual/identidade de gênero como direitos humanos. * Que o SUS promova a inclusão da Saúde dos LGBT. Propostas que serão defendidas pelo(a) Candidato(a) a Vereador(a) * Transformar a inclusão dos LGBT no IPM (Instituto de Previdência do Município) em Lei, para que o direito seja garantido de fato, independente do governante que estiver no poder. * Criação do Centro de Referencia para LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais , Travestis e Transexuais). * Criação de Lei Municipal Anti-discriminatória por orientação sexual e identidade de gênero municipal. * Aprovação do passe-livre para portadores de HIV e outras doenças crônicas. * Criar serviço de atendimento médico adequado para a comunidade LGBT. 33 34 35 BARRA CO BARRACO Milton Cunha se desentende com Cláudia Leite ! Curto e grosso: Cláudia Leite não quer um filho gay como eu, porque gay sofre muito. Sem problemas, eu também não quero uma filha gonçalense imitando baiana, clone eterna da original e verdadeira estrela morena, de quem ela será para sempre, sombra. É que este tipo de menina hetero sofre muito. Bobagens à parte (o que atesta o nível de inteligência da argumentação), o fato é que querer filho gay, independente do nível intelectual, ninguém quer. E como não tem explicação plausível, é só preconceito mesmo, recorre-se as mais mirabolantes fórmulas de explicação. Exemplo: eu, Milton, não quero ter filho pedófilo nem espancador de mulher, nem “maníaco do parque”. Como eu explico isso? Eu odeio esta gente, acho psicopatia deplorável. E, sinceramente, ela acha gay deplorável, porque só pode ser gerado na barriga das outras. Ainda na argumentação dela, o sofrimento gay, você conhece hetero que não sofre muito? Deus, os leucêmicos, os miseráveis infelizes no casamento que passam a vida a fingir, os sem-grana em condições desumanas de vida, os existencialistas que acham a condição humana um inferno? O problema é querer tipificar nós gays com um sofrimento exclusivo, isto é tolice. Nosso sofrimento é a burrice humana que, hipócrita, acha que nosso sofrimento é maior que, 36 por exemplo, o das mulheres hetero, grupo extremamente marginalizado pelo machismo irracional que as escraviza em dependência econômica doméstica. Com certeza nós gays, sofremos. Mas o que dizer de vocês, heteros, nesta carnificina à qual vocês se submeteram? Tudo certo, tudo bom, vocês são os maiorais. Mas chegará o dia do juízo final, quando à vocês será cobrado justiça e amor, e não julgamentos de dar ou comer. Sofremos por estar neste tiroteio e pronto, como todo mundo. Também sofremos por nos sabermos indesejados por nossas mães (isto sim o tiro de misericórdia em nós). Porque o vizinho nos indesejando? Sinceramente, cagamos pra isso. Queremos é ser criados com afeto e noção de amor paternal, para depois, crescidos e gays amados pelos familiares próximos, irmos em frente dizendo: “não vem bancar pra mim o hetero resolvido que nós, gays, também viemos de uma família hetero e sabemos que só muda de endereço, meu bem!”. Eu, feto gay, repudio tuas considerações. O que faz um feto quando se sente indesejado? Se auto-aborta? Continua a gestação e parte para a luta? Fico pensando no sentimento dos fetos gays, que ouvem suas mamães dizerem “não desejo que meu filho seja gay porque vejo o preconceito que meus amigos gays sofrem, e isto não é nada bom”. Eu, feto gay, um dia declarado por minha mãe nestas bases de raciocínio pouco generoso e mandão que agora Cláudia encarna, só posso dizer que abandonei-a assim que pude. Porquê que minha mãe nunca me perguntou se mesmo gay, eu era capaz de uma amor imenso? Na sua torcida de não acreditar que eu era gay, minha mãe passou por cima da minha imensa capacidade de amá-la. Sempre a vi só como uma mulher mãe que gostaria de fazer desaparecer em mim minha homossexualidade. Mas eu só queria que ela entendesse que, independente de macho, gay, ou fêmea, as criancinhas são lindas porque nelas o universo se revela encantador e esperançoso. Mas não adiantou de nada. Elas só queria saber se eu daria ou comeria. Agora que ela está morrendo e pede para eu perdoá-la, só consigo pensar que a desgraça não é a morte dela, é eu ter sobrevivido à isto tudo. Mais fácil é bater as botas e dificílimo é continuar vivendo e ter que pensar em tanto desamor. Quantas mais terão que ser abandonadas pelo seus filhotes, porque serão mães que acham que tem o direito de legislar sobre o desejo do filho? Cláudias Leites-mamães à parte, é preciso ser Miltons Cunhas-filinhos, para falar de um outro ângulo, de uma outra visão. Indesejados, nascemos com este desejo homossexual, que não orgulha mamãe nem papai, e na explicação tosca deles, para o fato de não terem orgulho de nós, olhamos incrédulos para os imbecis genitores, com cara de “sinto muito, é isso e pronto, só me resta viver e morrer gay”. Não adianta ir bem no colégio e tirar boas notas, não adianta ser bom menino, pois ainda assim alguns pais nos pedem (ou obrigam) a disfarçar, e parece que a hipocrisia os satisfaz mais que a verdade de transarmos com o mesmo sexo, felizes e realizados. Quem são estes senhores e senhoras que nos aniquilam, que em nome de uma proteção maternal e paternal, querem que não sejamos o que nascemos para ser? E pior que isto, torcem por tal ou tal sexualidade, como se isto fosse direito deles. Somos seus filhos, portanto universos independentes, e só cabe à nossos genitores, a torcida pela nossa felicidade. Em vez de declararem “quero meu filho pleno, bom caráter, capaz de um amor imenso”, tudo o que conseguem declarar é “ai, não, gay não, e não é por preconceito, não, é por pena do que eles sofrem!”. Saiu de moda o antigo e assumido “prefiro assaltante que viado?”. Achava melhor esta frase. Escrevo tudo isto de madrugada, depois de encontrar Márcia Lávia, carnavalesca do Império Serrano, e, ao me apresentar seu filho gato adolescente, na festa de lançamento do cd dos Sambas de Enredo, na Cidade do Samba, quando elogiei o garoto pela beleza e por parecer descolado, a mãe declarou, em alto e bom tom, orgulhosíssima, “não, este é macho!”. E aí parei para pensar: “quantas mães gritariam aqui sobre o filho não macho, o gay?”. Nenhuma. Macho significa a resolução da dor. Vai comer todas e portanto será bem resolvido, bacana. Se gay fosse, iria passar por todo o calvário que todos os gays amigos destas mães passam. Mas vem cá, não é um calvário ser apresentado pela mãe orgulhosa como macho? O que isto subentende? O que isto embute? Deus que me livre ser macho nesta terra de machos pit-boys que espancam humanos em boates, que puxam os cabelos das meninas com uma indelicadeza dignas de brucutu. Será que é o raciocínio destas mulheres que tem levados seus meninos à esta monstruosidade de comportamento com as fêmeas? Portanto, aproveito esta coluna, para dizer para a deslumbrante mulher (e não a artista) Cláudia Leite: não espera daqui à sessenta anos para pedir perdão para teu filho. Assim que ele nascer, bate a descarga em todas estas tuas declarações, e, a cada dia, reafirma teu amor incondicional e teu apoio à mais plena realização que um humano pode almejar, que é ter caráter, ter espírito fraterno e saber que, transando com árvore, parede, periquito ou papagaio, a grande viagem humana é, através da própria vida, libertar o espírito dos tolos preconceitos que tentam nos reduzir à meros orifícios. A alma não é pequena, e, portanto, tudo valerá à pena. Mãe é aquela que pede saúde e paz para sua criança. O mais, pertencerá ao insondável território do desejo. Inclusive daqueles desejos que dizem ser Ivete Sangalo a única, original, definitiva e verdadeira bombshell baiana. Tudo mentira. Tem espaço para tudo e todos. Até para os não desejados. Que a Nossa Senhora do Bom Parto te proteja, querida. Mesmo que ela seja gay, ou hetero, ou preta, ou índia! Milton Cunha Por to da PPedra edra - Jornal o Dia orto 37 Carta Aberta à Claudia Leite Claudia Leite: Sou Toni Reis, 44 anos, paranaense, moro em Curitiba. Sou Gay , sou casado com meu marido David Harrad há 18 anos e sou muito feliz e realizado como profissional e pessoa. Atualmente, sou presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) que é uma entidade nacional que congrega 203 organizações afins, o que reflete parte da minha trajetória, mas neste momento, quero fazer um depoimento pessoal. Claudia Leite, gostaria de dizer que amo você pelo talento com que você se expressa. Seu repertório, a alegria de viver que passa para mim. Sou seu fã de carteirinha. Simplesmente adoro você e, ademais, você é linda. Com relação à sua entrevista sobre a nossa questão, na qual você disse “Eu adoro os gays, mas prefiro que meu filho seja macho” e seu marido Márcio Pedreira, completou: “Deus me livre (do filho ser gay). Ele será bem criado”, quero dizer que fiquei muito decepcionado com a noção errônea de que é a criação que faz com que alguém seja gay, ou não. Tudo isso me fez lembrar o que aconteceu comigo quando, aos meus 14 anos, falei para minha mãe: “Mãe, sou gay.” Quando falei para minha mãe e minha família, todos e todas ficaram chocados e tentaram durante seis anos da minha vida (o que foi um inferno na terra) me “curar” de todas as maneiras. Levaram-me para a Policlínica da cidade de Pato BrancoPR e pediram para que eu fos- 38 se examinado, achando que eu tinha um problema médico. Mas o médico falou que eu não tinha um problema de saúde, e que homossexualidade não é doença, e me encaminhou para uma psicóloga. Ela também falou que a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão. Na verdade, ela estava bem à frente do seu tempo, visto que só em 1999 o Conselho Federal de Psicologia baixou uma resolução que,entre outras determinações, estabelece: “os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados.” Mas, não contente, minha família católica, que bem me criou, pediu para eu falar com o falecido padre da nossa cidade de Quedas do Iguaçu, e o mesmo pediu para eu me afastar do Encontro Vocacional e da Santa Comunhão, até que eu me curasse do “pecado nefando”. Pediu que fizesse uma novena para Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que eu me curaria, mas se eu tivesse uma recaída, era para voltar ao primeiro dia da novena. Tive várias recaídas, afinal a orientação sexual de um pessoa não é escolha e tampouco opção. Eu simplesmente era gay. Tive que voltar várias vezes ao primeiro dia da novena, que já tinha virado uma quarentena. Não é uma questão de religião, mas sim uma questão de ser. E como dizia Aristóteles, a finalidade da vida é ser feliz. Não contentes, minha família e meus amigos me levaram para a igreja da Assembléia de Deus para receber uma benção. Mas não deu certo. Levaram-me para um centro espírita e o pai de santo me falou que tinha uma pomba-gira. Fizemos “os trabalhos”, mas não deu certo. A partir da minha experiência e algumas leituras, nestes 25 anos de minha militância na comunidade LGBT, sempre quando acontece qualquer depoimento ou ação contrários aos homossexuais, procuro classificar em oito etapas da competência cultural de cada um, que é uma escala, da mais homofóbica à situação ideal que queria. Fizeram de tudo para me “curar”. Por último, tomei xaropes com amendoim e tudo mais para que fosse “macho”, mas não deu certo. Como meu irmão disse depois, sou macho por ter assumido logo cedo o que era. Aos 20 anos, me deram a derradeira possibilidade: era tomar leite de colostro de égua para me curar. Felizmente, não deu certo. Hoje estou aqui, bem criado, como especialista, mestre e doutorando; feliz e realizado com meu marido. Minha mãe, depois de tudo que aconteceu na minha adolescência, em 1996 se propôs a casar com meu marido (que é estrangeiro) para que ele pudesse ficar no Brasil, comigo. De total fundamentalista, minha mãe se tornou uma grande competente cultural. Acredito na mudança de pensamento das pessoas. Falei um pouco de mim. Quero que entendam, Cláudia e Márcio, que a homossexualidade não é tão simples que se possa dizer “eu quero que meu filho seja macho ou fêmea.” Não é uma questão de educação. 1) A situação mais homofóbica é a nazista, que mata o outro por ser diferente. No Brasil temos muitos casos. Segundo o Grupo Gay da Bahia, são 2.800 casos de assassinatos. Hoje no mundo, ainda há sete países onde há pena de morte para os homossexuais. homossexualidade ou têm informações distorcidas, se utilizando de estereótipos e falando mal da nossa comunidade e contra nossos direitos. 5) Depois vêm os tolerantes que não nos aceitam, mas convivem, no intuito de nos mudarem, se pudessem. 6) Em seguida há as pessoas que nos respeitam. Não chegam a nos aceitar, mas respeitam nossos direitos e nossa forma de ser. 7) E depois as pessoas que nos aceitam como seres humanos e como cidadãs e cidadãos. 8) E por final, há as pessoas que são competentes culturais. São as pessoas que não discutem a nossa situação, simplesmente convivem. Afinal, o fundamental é viver. 2) Depois, vêm os fanáticos, que morrem por sua causa. Hoje no mundo, há 83 países que criminalizam a homossexualidade. Cláudia, nessa escala, acho que você está entre uma pessoa tolerante e uma pessoa que nos respeita. O que você acha? 3) Depois, há o fundamentalista que fala que como está escrito na Bíblia (ou outro livro sagrado qualquer), que somos pecadores, merecemos ser curados. No Brasil, os fundamentalistas são nossos piores adversários para aprovação das leis que protegeriam nossos direitos. São estes religiosos fundamentalistas, que em nome do deus deles, nos discriminam, incentivam a violência e fazem oposição aos nossos direitos. Claudia Leite, gostaria muito que você se pronunciasse a favor do Projeto de Lei da Câmara nº 122/2006, que criminaliza a Homofobia e a iguala ao racismo. 4) Depois, os preconceituosos que não entendem nada da Toni Reis Claudia e Márcio, quero que seu filho ou sua filha seja muito feliz, que tenha muita saúde, independente da orientação sexual ou identidade de gênero. Se tiver seu talento, será maravilhoso(a). Ou não. 39 Sangues Misturados Por Marcio Lima Ícaro é um rapaz de 20 anos que embora não gaste horas na academia malhando, está sempre indo à praia e nadando muito, o que deixou seu corpo bem definido. Tem olhos e cabelos pretos e um sinal super charmoso na bochecha. Faz faculdade de jornalismo e um estagio num jornal conceituado da cidade. Tem uma vida um pouco agitada, entre estudo, trabalho e namoro, gosta de ir a festas, bares e boates para se divertir. Mora com os pais em um bom apartamento num bairro nobre da cidade. Ele se en- tende como heterossexual, mas admite que na adolescência teve algumas experiências com um vizinho do mesmo prédio. Mas que não passou disso, pois seu tesão sempre foi por mulheres mesmo. Hoje ele namora Eva, uma garota de 19 anos que mora a duas quadras e que ele conheceu através de um amigo em comum que mora na mesma região. Eles já namoram faz dois anos e todos percebem o quanto eles se gostam. Mas um dia, numa reunião na casa de Eva, enquanto seus pais viajavam, Ícaro conheceu Bruno. Um rapaz de 1,80cm, loiro, de olhos azuis e com um brinquinho na orelha esquerda. Amigo de Eva, ele passou quase três anos morando em Londres, fazendo, entre outras coisas, um curso de aperfeiçoamento em artes plásticas. Após algumas horas observando todos os movimentos de Bruno, os dois foram deixados sozinhos no quartinho de empregada nos fundos da casa, onde todos se reuniam para fumar um baseado. Era notória a tensão em que Ícaro ficou. Ele engoliu seco e não sabia como agir nem o que falar. Até que Bruno quebrou o gelo. Bruno - Então você que é o namorado de Eva? Ícaro - (com a voz embargada) Sim! E você que é o grande amigo de quem ela fala tanto? Bruno - Pois é! Ela também fala muito de você. E os dois ficaram ali sozinhos por algum tempo trocando algumas palavras nervosas. Bruno logo percebeu que Ícaro estava tenso e se aproximou dele sentando ao seu lado, num colchãozinho que estava no chão do quartinho, e segurou suas mãos. 40 Bruno - Por que você está tão tenso? (fazendo massagem nas mãos de Ícaro) Relaxa, cara! Nesse momento os olhos dos dois se fixaram um no outro e o beijo foi inevitável. Ainda que tenso, pois a qualquer momento poderia entrar alguém. Os dois não resistiram ao tesão que aquele beijo os fez sentir e, com muita cautela, foram se entregando. As mãos foram descobrindo as formas do corpo um do outro, as bocas cada vez mais vorazes não se largavam e a respiração ficava mais ofegante a cada descoberta de curvas e músculos. As mãos descobriram os membros fálicos um do outro e num ritmo frenético eles se tocaram até que um orgasmo simultâneo e numa intensidade êxtasiante aconteceu. Eles ficaram ali por alguns segundos, naquela posição, e com as bocas entreabertas, mas juntas, sentindo o calor que saia delas. Nas mãos eles tinham o sêmen um do outro, que ia esfriando segundo por segundo e escorrendo por entre seus dedos, eles se deram as mãos misturando seus semens, seus sangues. Bruno esboçou um sorriso e Ícaro o seguiu. Os dois caíram na gargalhada, mas era uma gargalhada de tesão, de quem adorou a experiência e queria mais. Após alguns minutos Ícaro decidiu levantar e limpar-se e chamou Bruno para fazer o mesmo. Eles usaram a lavanderia que fica na área de serviço. Logo depois de terem se limpado Ícaro abraçou Bruno e pre- senteou-lhe com um beijo voraz e quente, conduzindo-o pela área de serviço até chegarem à cozinha. Lá Ícaro pegou uma faca de tratar carne que estava por um acaso em cima da pia e, ainda beijando Bruno, o golpeou na altura do estômago. Nesse momento Bruno abriu os olhos e sentindo aquele golpe frio em sua barriga e sem afastar sua boca da de Ícaro perguntou: Bruno - Por que? Ícaro - Não sei! Mas não poderia te deixar vivo, você é a prova da minha fraqueza. Após ouvir a declaração de seu algoz, Bruno caiu desfalecido com o sangue escorrendo por suas entranhas. Quando Ícaro olhou para trás estavam todos na porta da cozinha assistindo à cena, chocados. Ícaro deixou a arma do crime cair no chão fazendo um barulho que para ele foi ensurdecedor. Todos ficaram ali por alguns segundos. Tempo suficiente para que Bruno pegasse a mesma faca e cravasse nas costas de Ícaro com a força que ainda lhe restava. E ao mesmo tempo em que desferia o golpe disse: Bruno - Não levarei essa culpa sozinho. Se eu vou ter que ir, você também vai. Morre desgraçado. E cravou ainda mais fundo a faca que também lhe tirava a vida. Diante dos olhos perplexos de todos e dos prantos e gritos de Eva, Bruno caiu morto, em seguida Ícaro caiu por cima de Bruno, ainda com a faca cravada em suas costas. Após olhar fundo nos olhos de Eva, sua cabeça despencou para o lado e ele parou de respirar. Um rio de sangue se formou na cozinha chegando até os pés de uma platéia que assistia a um espetáculo de amor e ódio. Um rio de sangue formado pelo sangue dos dois amantes, sangues misturados. Ao longe podia-se ouvir o som das sirenes aproximando-se. FIM 41 Entrevista Luiz Mott “Sou imprescindível” abandonar nem na hora da morte, amém. “No túmulo que já comprei no Campo Santo pretendo que seja escrito “Luiz Mott, humanista e uranista. Uranista é um termo do século 19 que é sinônimo de homossexual. Assim vou obrigar as pessoas a irem ao dicionário e evitar possíveis atos de vandalismo”. Confira a entrevista na íntegra Tatiana Mendonça Margarida Neide “Bichas baianas, rodem a baiana, tudo bem! Mas deixem de ser alienadas. Vamos fundar um grupo de discussão sobre homossexualidade. Me escrevam!”. O anúncio, publicado no Jornal Lampião no final de 1979, tinha como endereço a casa de Luiz Roberto de Barros Mott, paulista de nascimento que desembarcou em Salvador com o firme propósito de se tornar hippie, mas permaneceu professor universitário. Um tapa na cara o levou a escrever para o jornal, fundado em 1978 e marco do início do movimento homossexual no Brasil, que comemora 30 anos. Estava com um namorado vendo o pôr-do-sol do Porto da Barra quando um homem o agrediu. “Foi a primeira vez que sofri uma violência como essa”. No dia 29 de fevereiro de 1980, 17 pessoas participaram da primeira reunião do Grupo Gay da Bahia, que apesar de não ser pioneiro, é o mais antigo em atividade na América Latina. Ferrenho opositor da igreja, ninguém diz que até os 18 anos ele queria ser padre. Arraigado defensor de que os homossexuais saiam do armário, foi casado durante cinco anos com uma mulher, mãe de suas duas filhas. Aos 62 anos, Mott fala como quem discursa. É a sina de militante, que ele não pretende 42 _V ocê par ticipou do gru_Você participou aupo “Somos”, em São PPaulo, e do ““Jornal Jornal Lampião”, que marcam o início do Movimento Homossexual Brasileiro? Está gravando? Luiz Mott, 62 anos, paulistando de nascimento, cidadão de Salvador, da Bahia, de Piauí, do Sergipe, antropólogo, mestrado em etmologia pela Sorbonne, em Paris, e doutorado em antropologia pela Unicamp. Eu vim para a Bahia depois de ter vivido uma relação heterossexual durante cinco anos, em Campinas, com duas filhas, aí então em 1978 eu assumi a minha homossexualidade e resolvi mudar para Salvador, fascinado pela beleza da cidade barroca, pelos negros, pelo clima e pelas frutas tropicais. E vim com a intenção de largar a universidade e viver uma vida meio hippie. Vim como professor visitante, e me beneficiei de um decreto de enquadramento, tornando-me professor adjunto. Depois fiz um concurso para professor titular. Em menos de um ano de chegado à Bahia, eu já tinha um namorado baiano, com o qual convivi durante sete anos. Estávamos numa tarde vendo o pôr-do-sol no porto da Barra quando um machão, perceberndo que nós éramos gays apesar de extremamente discretos , me deu um tapa na cara, por pura homofobia. Foi a primeira vez na vida em que fui vítima de uma violência. Esse tapa na cara despertou a minha consciência da importância de defender os meus direitos como homossexual. Isso foi em 1979. _Mas antes você já tinha colaborado com O Lampião, não? - Parte I Sim, se não me engano, recémdivorciado, escrevi um pequeno artigo para O Lampião, sobre a homossexualidade entre os índios do Brasil, mas não tinha ainda informação sobre a existência de grupos organizados. Aí a partir desse tapa na cara eu escrevi um anúncio para “O Lampião” que era assim: “Bichas baianas, rodem a baiana, vamos nos organizar. Vamos fundar um grupo homossexual”. A partir daí, com a presença 17 pessoas, entre jornalistas, estudantes, professores, fundamos o GGB. Na época já existiam outros grupos, mas com o tempo os mais antigos desapareceram e o GGB se tornou o grupo mais antigo do Brasil e da América do Sul. _Nesses 30 anos, quais foram as maiores conquistas do Movimento? O Grupo Gay da Bahia foi pioneiro em muitas conquistas. Foi o primeiro a usar a expressão gay no seu próprio nome, enquanto os outros tinham nomes mais simbólicos, como “Somos”, “Um outro olhar”... Nós quisemos incluir uma palavra curta e internacional, gay, como identificador do grupo. O GGB foi pioneiro em ser registrado como sociedade civil, isso causou grande polêmica, o próprio Jornal A TARDE deu grande destaque na época, e também foi pioneiro em ser reconhecido como utilidade pública municipal, e a primeira ONG a iniciar a prevenção da AIDS. A vitória mais importante foi que, em 1985, no mesmo ano em que se publicou na Bahia “Mantenha Salvador limpa, mate uma bicha todo dia”, conseguimos mais de 16 mil assinaturas, inclusive de políticos de destaque, como Fernando Henrique Cardoso, para que o Conselho Federal de Medicina excluísse o homossexualismo da classificação internacional de doenças. Então a partir daí nenhuma entidade ou pessoa poderia classificar a homossexualidade como desvio, transtorno, patologia, garantindo aos homossexuais ao menos à aspiração à cidadania plena. Os homossexuais, que hoje preferem ser chamados de LGBT, lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais - colocando o “L” na frente para favorecer a visibilidade das homossexuais femininas - estão cada vez mais sendo alvo de políticas afirmativas por parte do governo federal. Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro presidente da República a incluir num documento oficial a palavra homossexual, em 1996, e em 2002 o primeiro presidente a falar publicamente a palavra homossexual, defendendo a união entre pessoas do mesmo sexo. De lá para cá, no governo Lula, foi aprovado o Programa Brasil sem Homofobia, incluindo 10 ministérios e mais de 100 ações afirmativas, garantindo aos gays não privilégios, mas direitos iguais. Nem menos, nem mais, como é o nosso slogan. Em junho deste ano, em 2008, o presidente Lula esteve presente na I Conferência Nacional do GLBT, em Brasília, onde ele falou contra a hipocrisia. E aí foram aprovadas mais de 300 ações afirmativas que ainda continuam no papel mas que, sendo colocadas em prática, com certeza representarão a Lei Áurea da libertação dos homossexuais. Mentalidade não se muda por decreto, mas havendo leis como a lei contra o racismo, mas a lei contra a homofobia com certeza vai garantir aos homossexuais o amparo legal para sua cidadania plena. _E como o senhor acha que tem evoluído a representação dos homossexuais na mídia, especialmente na televisão. A Globo, que é a maior rede, ainda não mostra o beijo gay gay.. Nos últimos trinta anos, a homossexualidade deixou de ser considerada doença, foram aprovadas importantes leis municipais e estaduais garantindo a punição à discriminação, a primeira foi em Salvador, em 1990, iniciativa da então vereadora Beth Wagner. Há essas conquistas, sobretudo no Judiciário, particularmente no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e Salvador, que tem garantido aos casais homossexuais o reconhecimento do direito à herança, direito ao plano de saúde, e o prórprio INSS reconhece a união estável para efeito de benefícios do parceiro viúvo de um homossexual. O Executivo também tem feito certos progressos, na medida em que aprovou o Brasil Sem Homofobia, na Conferência Nacional, infelizmente o Legislativo é o poder que tem sido mais resistente a reconhecer a igualdade dos direitos dos homossexuais, tanto que o projeto de parceria civil da então deputada Marta Suplicy, do PT, é de 1995, e até hoje continua sendo empurrado à barriga pelos deputados, que têm medo que seu eleitorado deixe de votar neles. Temem que a homofobia ainda seja um elemento determinante na escolha de seus candidatos. Se apoiar gays e lésbicas, poderia tirar votos desses candidatos, o que não é comprovado. No geral, há progressos. No nível institucional, legal, da visibilidade. Cada vez mais os gays aparecem nos jornais. Na televisão, as novelas ainda censuram até o beijo gay, quando mostram cenas quase explícitas de sexo entre heterossexuais. As novelas, embora tenham mostrado com mais naturalidade casais gays ou casais de lésbicas, ainda existe muito puritanismo e muita censura no que se refere às relações homoeróticas. A televisão insiste em abusar de caricaturas e estereótipos negativos de homossexuais, principalmente nos programas cômicos, como o de Tom Cavalcanti... Essa imagem do gay ultraefeminado, caricato, palhacinho, explorado também em novelas... Nem os negros, nem os judeus, nem as mulheres são ainda mostrados com tanto preconceito nem tanta estereotipia como os homossexuais. Agora na mídia impressa houve um progresso, na medida em que não mais se usa termos pejorativos, como viado, fresco, boneca, sapatão, que até os anos 80, 90, apareciam em manchetes de jornais de menor expressão. Mas a imprensa ainda está mais interessada em noticiar escândalos ou exotismos... Por exemplo, nas imagens das paradas pelo Brasil a fora, as imagens quase sempre são de drag queens ou transformistas, e poucas vezes imagens de casais de lésbicas ou um casal de gays “normal”. E a imprensa ainda privilegia muito episódios burlescos ou exóti- cos do exterior, como concursos de travestis na Tailândia, assuntos que não têm absolutamente nenhum interesse para a libertação e a cidadania homossexual, e deixa de noticiar muitas vezes reuniões importantes ou congressos do movimento homossexual, ou denúncias sobre assassinatos de homossexuais. No geral, considero que a imprensa melhorou, mas ainda persiste a intolerância no que se refere ao uso do feminino para as travestis e transsexuais. Há mais de uma década elas querem ser chamadas no feminino, já que socialmente o papel de gênero é de mulher. Mesmo que os dicionários da língua portuguesa, o Aurélio e o Houaiss, ainda tragam o artigo no masculino, é uma reivindicação dessa categoria que sejam tratadas no feminino, o que se tornou ainda mais problemático em Salvador com a eleição de uma transsexual vereadora, que quer ser chamada no feminino. _P elo que se acompanha do _Pelo noticiário internacional, tem-se a impressão de que hoje a união estável, o casamento, é a principal bandeira dos gays. Essa percepção está de acordo com o que é a luta do movimento hoje? De fato, embora o primeiro projeto apresentado no Congresso Nacional se refira à parceria civil entre pessoas do mesmo sexo, há uma dezena de projetos em andamento e pessoalmente considero que o mais importante e urgente é o projeto de Lei que criminaliza a homofobia, equiparando-a ao crime do racismo. É absolutamente inaceitável, injusto e cruel que insultar um negro na rua ou discriminá-lo implique em crime inafiançável e o mesmo insulto ou discriminação praticado contra uma lésbica, um gay ou um travesti não signifique nada. Nós queremos como prioridade que esse projeto, que já foi aprovado na Câmara dos Deputados e que aguarda a aprovação no Senado, e que conta com a oposição dos fundamentalistas captaneados pelo bispo Crivella, seja aprovado equiparando o Brasil aos países onde os direitos humanos são mais respeitados, como a Espanha, Holanda, Bélgica, inclusive o Equa- 43 dor e a África do Sul, que são países do terceiro mundo e tiveram um legislativo antenado com a modernidade e já aprovaram a inclusão da homofobia como crime. Ainda continuamos a insistir na aprovação da parceria civil, apesar de o porjeto original de 1995 ser reconhecido pela sua autora, Marta Suplicy, e pelo movimento como ultrapassado e desatualizado, na medida em que não considera a união homossexual como constituindo família nem prevê o direito à adoção, sendo que sobretudo o judiciário do Rio Grande do Sul já tem jurisprudência garantindo esses direitos. Ou seja, a união de dois homens e duas mulheres é um novo tipo de família e o Juizado da Infância e Juventude do Brasil a fora têm concedido a homossexuais gays ou lésbicas o direito a adotar, dando preferência, inclusive, a que sejam casais. Dois pais e duas mães oferecem maior garantia à criança adotada que terão seu futuro atendido. O grande preconceito dos legisladores em apoiar a adoção por parte de homossexuais se baseia num preconceito que já foi completamente descaracterizado por pesquisas científicas nos Estados Unidos e na Europa, que mostram que crianças e adolescentes criados por gays ou lésbicas não se tornarão necessariamente homossexuais, do mesmo modo que eu sou gay e minha mãe e meu pai eram heterossexuais. Eu não copiei o modelo deles. _Há também um preconceito de que as relações homossexuais tendem a ser mais instáveis. A idéia de que os homossexuais mantêm relações mais efêmeras também já foi descaracterizado por pesquisas, sobretudo na Holanda e na Suécia, onde é autorizado o casamento e o divórcio de pessoas do mesmo sexo, e se constatou que essas relações têm se mantido tão estáveis e “ordeiras” como as dos casais heterossexuais. E o curioso é que num mundo onde cada vez mais as pessoas não querem se casar e lutam pelo divórcio, os gays e lésbicas são a última tribo romântica que está lutando pelo sagrado direito de se enforcar com a gravata no dia do casamento ou de se prender aos doces 44 laços do matrimônio. O argumento de que a aprovação do casamento homossexual ou da adoção vai destruir a família não resiste, porque esse mesmo argumento foi usado pela Igreja e pelos conservadores para ser contra o voto feminino, o trabalho das mulheres e o próprio divórcio. A experiência mostrou que a família tradiconal burguesa é muito mais resistente a qualquer revolução política ou de costumes, haja vista o exemplo da União Soviética, da Revolução Francesa e de outros países que a família burguesa persistiu apesar de grandes traumas sociais. _De acordo com dados publicados no último relatório do Ministério da Saúde, jovens homossexuais correspondem ao grupo de maior incidência do HIV no Brasil, com um crescimento de 70% no número de casos nos últimos dez anos. Em que as campanhas falharam? O GGB foi precursor na prevenção da Aids na Bahia e a primeira ONG gay a produzir material e a fazer convênios com o Ministério da Saúde e outros órgãos, distribuindo até agora mais de 3 milhões de preservativos, não só para gays, mas com projetos voltados para terreiros de candomblé e jovens em geral. Nós somos do tempo em que Aids era chamada de peste gay. Quando o GGB começou a distribuir preservativos no centro da cidade, com folhetos explicativos, um vereador evangélico intolerante disse que era um escândalo, que era uma vergonha, que o GGB estava distribuindo em uma mão a camisinha e na outra mão uma lata de vaselina. Absolutamente ridículo, porque um dos ensinamentos é que preservativo não pode ser usado com nenhum creme, nenhum óleo a não ser um gel a base de água. Hoje, felizmente, tem o GAPA, o Cria e outras instituições e ONGs que trabalham com a Aids, existe uma consciência quando menos da informação. A maioria das pessoas sabe que a Aids se transmite através do sangue, do esperma e das secreções vaginais, sabe que não se transmite através do beijo, do abraço, de insetos. As novas gerações, sobretudo os gays adolescentes, não vivenciaram a tragé- dia que foi as mortes anunciadas de Cazuza, Sandra Brea e outros artistas famosos, o Freddy Mercury... Não vivenciaram o que significa de sofrimento. Mesmo que hoje em dia existam terapias e a qualidade de vida das pessoas com HIV-Aids tenha melhorado, ainda é uma doença mortal e incurável. E os gastos econômicos e o desgaste físico e emocional das pessoas com Aids não justifica o descuido. De modo que infelizmente esse aumento de Aids entre a população jovem gay reflete essa visão do adolescente de ser um super homem, de estar imune a qualquer tipo de ameaça e daí a importância de um trabalho que o GGB faz há mais de dez anos, o “Se Ligue”, que reúne todas às quartas-feiras dezenas de jovens e adolescentes na sede do GGB - Rua Frei Vicente, 24, Pelourinho - em que se discute direitos humanos, homofobia e discussão da Aids com distribuição sistemática de camisinha e gel lubrificante. Considero que o Ministério da Saúde e as secretarias de Saúde do Estado e do Município têm uma certa responsabilidade nesse aumento da infecção de HIV entre a população homossexual porque inclusive recentemente confirmando a proibição de doar sangue, com o argumento de que enquanto o índice de infecção pelo HIV na população em geral não chega a 1%, e entre a população homossexual é mais do que 5% isso implicaria que a prevenção, o investimento público, acompanhasse esse maior índice de infecção. E a realidade não é essa. Muitos e muitos meses há falta de preservativos distribuídos pela Secretaria da Bahia, estado e município, e falta de material de informação e prevenção voltado pra essa população. É importante que haja campanhas veiculadas na televisão, em horário nobre, falando sobre a importância de que todos se previnam, sem se referir à existência de grupos de riscos, porque segundo a epidemiologia falar em grupos de risco aumenta o preconceito e não leva necessariamente à prevenção por parte das populações mais expostas ao HIV e às demais DST. (Continua na próxima edição) Código de Ética do Sistema P etrobras inclui Petrobras o respeito às diversas orientações se xuais sexuais Segundo o presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli de Azevedo, a versão atual do código de ética é “resultado de uma ampla revisão, realizada num processo participativo e representativo, que envolveu empregados e empregadas das diversas unidades do Sistema, em todas as regiões do país, em seminários de formação e em participações por meio eletrônico.” O compromisso ético do Sistema Petrobras levou a empresa a conquistar, em setembro de 2006, o direito de com- por o Índice Mundial Dow Jones de Sustentabilidade, usado como parâmetro para análise dos investidores sócio e ambientalmente responsáveis. “Nesse mesmo sentido, pode ser considerado também uma continuidade da adesão que, em outubro de 2003, a Petrobras fez com relação aos Prin- cípios do Pacto Global da ONU”, explica Azevedo. O ítem III dos Princípios Éticos do Sistema Petrobrás é bem claro: “A honestidade, a integridade, a justiça, a eqüidade, a verdade, a coerência entre o discurso e a prática referenciam as relações do Sistema Petrobras com pessoas e instituições, e se manifestam no respeito às diferenças e diversidades de condição étnica, religiosa, social, cultural, lingüística, política, estética, etária, física, mental e psíquica, de gênero, de orientação sexual e outras.” 45 46 Aler ta V ermelho Alerta Vermelho As vezes, preconceito por parte dos outros Por Tatiana de Carvalho* Vamos clarear melhor essa idéia: já percebeu como é paradoxal ver o negro discriminando outro negro? Há uma passagem no livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, do grande escritor brasileiro Machado de Assis, em que Brás Cubas “branco” se depara com a seguinte cena: seu ex-escravo negro, portanto, agora alforriado, castigando outro negro (escravo, então, do ex-escravo) com chicotadas em plena praça pública. Conseguiu visualizar a cena e perceber o quanto isso é extremamente paradoxal? Pois é, como esta coluna muito espanta a sociedade o preconceito que existe dentro de um grupo que já sofre é voltada para o público lésbico, é de grande importância falar aqui sobre um preconceito comumente encontrado dentro do nosso meio. Talvez algumas mulheres estejam pensando “nossa, mas existe preconceito no meio lésbico”, outras “hum...já até sei do que ela vai falar, aposto que é dessas caminhoneiras”. É triste alertar quem já deveria estar livre de todos os préconceitos contra o que é diferente, pois se a pessoa já sofreu ou corre o risco de sofrer preconceito é um tanto natural que ela não trate outras pessoas do modo como não queria que fosse tratada. Quem é que não topou com frases do tipo “não gosto de mulher masculinizada, por mim, elas nem existiriam, pois denigrem a imagem LÉSBICA” ou “ai, quer ser LÉSBICA, seja, mas não precisa vestir-se e comportar-se como um homem”! Sabe, uma das sementes do pré-conceito é o estranhamento. Causa um certo estranhamento tudo que é diferente e o preconceito surge quando não conseguimos aceitar e respeitar o que é diferente. É muito importante que exista uma sociedade heterogênea, pois, que graça teria se todos fossem iguais? Se todos pensassem da mesma maneira? Se se vestissem da mesma forma? Se fossem da mesma cor? E não só por isso, o Brasil é um país com múltiplas faces formado por diversos povos de modos distintos um do outro e, por isso, é um país rico, muito rico culturalmente. Englobar o que é diferente nos enriquece como pessoa, pois aprendemos a respeitar o outro, a lidar com as diferenças e a olhar para o mundo com outros olhos. As mulheres masculinizadas se vestem e agem do modo como querem, não como homens, apenas sendo elas mesmas, se vestindo e agindo do modo que mais lhe fizerem bem, sem ter que se submeter a regra nenhuma. Cada um de nós é livre para criar seu estilo, ser o que quiser e vestir-se como bem entender. O importante na vida é ser você mesma, do modo como você quer, como você se sentir melhor, nunca se esquecendo de respeitar os outros, exigir respeito e ser feliz. Por isso, aqui vai o meu brinde a todo tipo de felicidade, especialmente à diversidade sexual. “O que fazer com o amor que não veio, Ou daquele que não foi vivido Por que se esperava por um maior e melhor? O que fazer? Não... Ninguém sabe responder responder.. E só a mor te de alguém morte pode nos fazer ao menos refletir refletir.. A mor te é necessária morte para que outros dêem amor na vida, Alguém já dizia, alguém já morria, Ninguém realmente aprendia.” *Núcleo de Mulheres Lésbicas e Bissexuais do MGA 47
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