Ensaio critico-reflexivo 01, por Daniela Aquino.
Transcrição
Ensaio critico-reflexivo 01, por Daniela Aquino.
(Re) encontro com Mac (erena) Primeiro dia em que eu participo dos ensaios, antes de tudo o reencontro com as pessoas, os abraços, os olhares, o tempo distante e recheado de significados entre cada um de nós e entre nós e os trabalhos que anteriormente já nos uniram. Muitas novidades, entre elas uma nova pessoa, uma menina que dança dentro da menina, posso dizer que com ela sou a mesma, sou outra, sou muitas, sou “nós”! Participar do projeto, neste novo momento, sendo um olho que olha de fora é extremamente desafiador para mim, até porque esse primeiro encontro com o novo grupo, apesar da maioria já ter trabalho junta, naquele momento, naquele espaço do Buteco de Dança, configurava-se um novo grupo, um elenco com artistas competentíssimos, abertos à criação e dispostos ao jogo. Difícil mesmo é ouvir os primeiros compassos de Macarena e continuar sentada! A sua potente e super famosa partitura única é capaz de me fazer viajar, de me fazer compartilhar da ideia de que: O reprocessar é constante para nós, nunca teremos um produto, uma identidade formada do último reprocessamento, haja vista que ele imediatamente será reprocessado novamente. Se tudo o que buscamos é adicionar informações reprocessadas incansavelmente talvez não estejamos em uma esteira de reciclagem, afinal de contas a esteira tem um começo e um fim. Não há movimento circular porque ela nunca retorna ao ponto de início. (Escrito por Henrique Natividade, no Blog Reprocessamentos Coreograficos). A nova proposta conceitual recai sobre o Colecionador de Movimentos – Carnaval, o título já é recorrente na trajetória de Mac, e o subtítulo remonta a uma das tradições mais caras do Brasil, o Carne Vale, ou Adeus à carne! O carnaval tem como uma das suas origens nas festas Dionisíacas - em adoração ao Deus Dionísio- ou Bacanais (se nos reportarmos ao deus romano Baco), nas Lupercais e Saturnais, respectivamente homenageavam o deus Cronos e o deus Pã, caracterizavam-se pela liberdade dos sentidos e das ações, pela alegria exacerbada e pela eliminação da censura. Esse espírito da raiz do carnaval se mantem vivo na criação, principalmente nas Artes Cênicas que se caracterizam como artes do “efêmero”, do aqui e agora. É preciso que, além da presença do artista/perfomer ele esteja no presente. E os quatro performers, Dênis Gosch, Fabi Vanoni, Fernanda Petit (elemento novo ao grupo) e Roberta Savian vibravam na mesma frequência, jogavam o mesmo jogo, nos oferecendo o seu corpo cênico como uma passarela de possibilidades de reprocessamentos coreográficos e de múltiplos sentidos. O repertório musical, com os mais diversos estímulos rítmicos e dratúrgicos proporcionaram aos quatro artistas que desfilassem na Avenida um infinidade de propostas cênicas, tais como um bloco, ou cordão, um casal de Mestre Sala e Porta Bandeira, passistas com muito suingue no quadril, amores que começam e terminam na mesma noite de carnaval... Afinal “todo carnaval tem seu fim”... até chegar a um carnaval melancólico, em câmera lenta, o carnaval das marchinhas, das máscaras, do salão de baile, da moça que fica na janela, do homem que desaparece e só retorna na quarta-feira de cinzas. O primeiro contato com o Colecionador – Carnaval fez eu reafirmar que, sim, é este a maneira que me agrada trabalhar, a forma colaborativa, experimental, que me alimenta como artista, que instiga a novas descobertas dentro do campo da dança e que ressignifica os meus conceitos, os meus símbolos e o meu fazer artístico. E isso que o carnaval está só começando! Chuva, suor e cerveja Não se esqueça de mim Não se perca de mim Não desapareça Que a chuva tá caindo E quando a chuva começa Eu acabo de perder a cabeça Não saia do meu lado Segure o meu pierrot molhado E vamos embolar ladeira abaixo Acho que a chuva ajuda A gente a se ver Venha, veja, deixa, beija Seja o que Deus quiser (Caetano Veloso) Daniela Aquino – Artista/pesquisadora, docente do Curso de Dança – Licenciatura UFPel. Porto Alegre, 18 de novembro de 2012.