Oxímoro, paradoxo, antítese. Elementos opostos ou contrastantes

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Oxímoro, paradoxo, antítese. Elementos opostos ou contrastantes
TEORIA DA LITERATURA I
AULA 06: PROCESSOS ESSENCIAIS DE LINGUAGEM FIGURADA
TÓPICO 03: OUTRAS FORMAS DE LINGUAGEM FIGURADA
Oxímoro, paradoxo, antítese.
Elementos opostos ou contrastantes na escrita literária podem levar a
efeitos dissonantes
ASPECTOS DO ESTILO LITERÁRIO
1 - ANTÍTESE
2 - PARADOXO OU OXÍMORO
3 - SINESTESIA
4 - PERSONIFICAÇÃO OU PROSOPOPÉIA
5 - ANIMALIZAÇÃO
6 - HIPÉRBOLE
1. ANTÍTESE
DEFINIÇÃO
Consiste em se relacionarem oposições, como no fragmento de poema
abaixo, em que se opõem as ações de bendizer e fornicar.
EXEMPLO
"Há cinquenta anos passados,
Padre Olímpio bendizia,
Padre Júlio fornicava."
(C. D. Andrade)
“perdeu-se na confusão de tanta noite e tanto dia”
(GULLAR, 1999, p.219)
2. PARADOXO OU OXÍMORO
DEFINIÇÃO
Estabelece uma confusão maior entre os elementos antitéticos,
evocando um conceito que é ou parece contrário ao senso comum: uma
contradição, um contra-senso, um absurdo, um disparate, instalando na
mente a ideia de fusão, de confusão.
O oxímoro é, portanto, a expressão de um paradoxo. Embora seja
construído por imagens antitéticas, o oxímoro representa uma intensificação
em relação à antítese porque, enquanto esta apenas apresenta, ou confronta
ideias contraditórias, aquela exprime uma contradição entre as partes
apresentadas: os termos que o constituem excluem-se mutuamente.
EXEMPLO
Porque o único sentido oculto das coisas
é elas não terem sentido oculto nenhum.
(F. Pessoa)
“escuro / mais que escuro: / claro” (GULLAR, 1999, p. 218)
3. SINESTESIA
DEFINIÇÃO
A sinestesia é um recurso sensorial, isto é, um recurso que lida com os
sentidos, provocando uma fusão ou confusão entre dois ou mais entre eles
(visão, audição, olfato, tato, paladar). No exemplo abaixo, o poeta mistura,
nos dois primeiros versos, visão e olfato, e amplia a mescla sensorial no
último verso envolvendo audição, visão e olfato.
EXEMPLO
Nasce a manhã, a luz tem cheiro... Ei-la que assoma
Pelo ar sutil... Tem cheiro a luz, a manhã nasce...
Oh sonora audição colorida do aroma!
(Alphonsus de Guimaraens)
4. PERSONIFICAÇÃO OU PROSOPOPÉIA
DEFINIÇÃO
A personificação (ou prosopopéia) é a figura pela qual se dá vida e, pois,
ação, movimento e voz, a coisas inanimadas, e se empresta voz a pessoas
ausentes ou mortas e a animais, propiciando a integração de animais e coisas
ao mundo dos humanos, como em “água sonhando na tina” (GULLAR, 1999,
p.227).
EXEMPLO
Neste exemplo, de Álvares de Azevedo, os ventos e as noites praticam
ações próprias de seres humanos: suspirar, beijar, delirar:
E quando nas águas os ventos suspiram,
São puros fervores de ventos e mar:
São beijos que queimam... e as noites deliram,
E os pobres anjinhos estão a chorar!
(AZEVEDO, s/d, p.22)
No trecho abaixo, o narrador empresta à cachorrinha Baleia,
personagem de Vidas secas, de Graciliano Ramos, sentimentos e reflexões
humanas:
Não se lembrava de Fabiano. Tinha havido um desastre, mas Baleia não
atribuía a esse desastre a impotência em que se achava nem percebia que
estava livre de responsabilidades. Uma angústia apertou-lhe o pequeno
coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam
andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas.
5. ANIMALIZAÇÃO
DEFINIÇÃO
Apresenta um efeito contrário à personificação. Nela os seres humanos
são guindados ou rebaixados à condição de animais, conforme a intenção
seja positiva ou negativa.
EXEMPLO:
É o que acontece aos personagens humanos de Vidas secas:
Olharam os meninos que olhavam os montes distantes, onde havia seres
misteriosos. Em que estariam pensando? Zumbiu sinha Vitória. Fabiano
estranhou a pergunta e rosnou uma objeção. Menino é bicho miúdo, não
pensa.
(Graciliano Ramos)
6. HIPÉRBOLE
DEFINIÇÃO
A hipérbole é uma figura por meio da qual se exageram, para mais ou
para menos, as quantidades ou dimensões de um objeto, ou os efeitos de
uma ação.
EXEMPLO:
Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta,
Que impudente na Gávea tripudia?!...
Silêncio!... Musa! Chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto...
(C. Alves)
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Identifique uma figura de linguagem que aparece em cada um dos
trechos abaixo.
CLIQUE AQUI
a) “Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul.”
b) “A vida é uma ópera e uma grande ópera.”
c) “Ao cabo tão bem chamado, por Camões, de Tormentório, os
portugueses apelidaram-no de Boa Esperança.”
d) “Uma talhada de melancia, com seus alegres caroços.”
e) “o mar se estendia,
como camisa ou lençol
sobre seus esqueletos (...)”
f) “Oh! Eu quero viver, beber perfumes
Na flor silvestre, que embalsama os ares.”
g) “A felicidade é como a pluma...”
h) “... as nuvens de amontoada amabilidade, o azul de só ar,
aquela claridade à larga...”
i) “Mal comeu os doces, a marmelada, da terra, que se cortava
bonita, o perfume em açúcar e carne e flor.”
j) “Liso como o ventre
de uma cadela fecunda,
rio cresce (...)”
k) “Eu classifico São Paulo assim: O Palacio, é a sala de visita. A
prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o
quintal onde jogam os lixos.”
l) “Sentava-se, inteiro, dentro do macio rumor do avião: o bom
brinquedo trabalhoso.”
m) “... a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.”
n) "De repente do riso fez-se o pranto".
o) “Uma bandeira
que tivesse dentes:
como um poeta puro (...)”
Oportunamente comunicaremos quando e onde encontrar as
respostas deste exercício.
VERSÃO TEXTUAL
Chegamos aqui ao término do curso de Teoria da Literatura I.
Esperamos que você tenha tido o melhor aproveitamento possível, e
que se saia bem nas avaliações. Antes da prova final, releia
cuidadosamente todas as aulas, e procure tirar suas dúvidas
conversando com seus colegas e com o professor-tutor de sua turma.
Felicidades!
REFERÊNCIAS
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VILELA, Luiz. de Tarde da noite.
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.adobe.com/go/getflashplayer
Responsável: Prof. Marcelo Peloggio
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual