Platão costuma a usar o termo “filologia” para designar o gosto pela

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Platão costuma a usar o termo “filologia” para designar o gosto pela
FILOLOGIA ROMÂNICA
AULA 01: FUNÇÃO DA FILOLOGIA ROMÂNICA
TÓPICO 02: O FILÓLOGO
Fonte [1]
Platão costumava usar o termo “filologia” para designar o gosto pela
conversação elegante, tão comum em Atenas. Concebia o filósofo neste
conceito a conversação fluente e erudita presente em meio a literatos e
filósofos. Assim, para Platão, filologia e erudição eram termos que se
confundiam.
No século III a.C, Eratóstenes de Cirene, ao assumir o cargo de diretor
da biblioteca de Alexandria, atribuiu a si o título de “filólogo”, denominação
que mais tarde foi também reivindicada em Roma por Ateio Pretestato, como
designação de vasto conhecimento. Antes deles, contudo, este termo
designava, dada a erudição, também o gramático.
Na Antiguidade clássica o termo Filologia se identificava com o de
erudição, não existindo diferença entre
,
e
. A
essas denominações poderíamos acrescentar ainda a de criticus, a quem era
incumbida a tarefa de corrigir e interpretar textos antigos. Para isso,
contudo, fazia-se mister o conhecimento da língua, da literatura, da história
e da mitologia, numa só palavra, de erudição.
Já naquela época se entendia que a Filologia não se resumia somente no
estudo da língua em si mesma, nem tampouco somente no de sua origem e
de sua evolução, mas no estudo do pensamento e das emoções de um povo
presentes em seus documentos literários.
Deste modo, não poderemos nunca falar em filologia tupi-guarani
porque nossos silvícolas não nos legaram nenhum tipo de documento, e nem
poderiam, pois não tinham escrita. Do mesmo modo, não podemos falar em
Filologia Portuguesa anterior aos Cancioneiros, pois constituem o mais
antigo escrito literário de Língua Portuguesa. No Brasil, em contrapartida, o
filólogo deve iniciar seu trabalho a partir das cartas de Anchieta, dos
trabalhos dos missionários jesuítas.
Enquanto na Filologia a língua é apenas o instrumento do qual se vale o
estudioso para compreender e interpretar os textos antigos, na linguística a
língua é a própria finalidade, e para a sua compreensão não se faz necessário
estes documentos literários. Ao linguista não interessa o estado de civilização
de um povo nem seus documentos literários. Ao passo que este pode ter
como matéria o dialeto de um povo, àquele é a língua culta que interessa,
índice de adiantado estado de civilização. O linguista procura exatamente o
oposto: as fases primitivas da língua, recorrendo à morfologia e à fonética
para estabelecer os princípios gerais que presidiram a transformação do
idioma.
A Filologia não tem por fim a preocupação artística ou estética com o
texto, mas sim sua autenticidade: a época e o autor a que são atribuídos. A
Filologia é ciência e não arte. No entanto, o filólogo, na lida contínua com os
velhos códices medievais, termina por afinar seu gosto literário e aperfeiçoar
seu poder de crítica, tornando-se assim, mais que qualquer outro, capaz de
avaliar o grau de perfeição artística dessas obras.
VERSÃO TEXTUAL
O campo da Filologia são os documentos e o objetivo primeiro do
filólogo é conhecer o pensamento cultural de um povo a partir de sua
produção literária, deve este estar tão preparado a ponto de poder,
quando necessário, corrigir os erros nos textos, restaurá-los, criticá-los
quanto à autenticidade, colocando-os em sua devida época,
atribuindo-lhes a autoria certa, explicando-os em todos os seus pontos
obscuros, completando-os em suas falhas, restituindo-lhe ao seu
estado primeiro, tal qual os deixou seu autor.
EXEMPLO
Como
exemplificação,
temos
a
primeira edição Os Lusíadas, em 1572.
Ao lado desta, apareceu uma outra
edição espúria. Valendo-se de todo um
trabalho de erudição voltado para
linguagem, estilo, métrica, ortografia,
mitologia, referências históricas, exame
dos tipos, do papel, das gravuras,
chegou-se a conclusão que a fidedigna
traz o pelicano com o colo voltado à
Fonte [2]
esquerda do leitor e o verso nono da 1ª
estrofe iniciado pela conjunção “e” (E
entre gente remota edificarão). A outra
com colo do pelicano voltado à direita do
leitor e o verso nono sem a conjunção “e”
é de 1586. Eis um exemplo do papel do
filólogo: fazer a crítica do texto para lhe
restabelecer a autenticidade e, por
conseguinte,
conhecer o estado de
civilização de um povo.
Tantos quantos forem os documentos literários deixados por uma
civilização, tantas serão as filologias. Assim, a Filologia Latina seria o estudo
dos poetas e prosadores de Roma cujos escritores poderão nos dizer do
estado de adiantamento a que aquele povo chegou. Do mesmo modo,
podemos falar de uma Filologia Grega, se nos referirmos ao estudo dos
autores helenos, e Filologia Clássica, se estivermos a falar do estudo
comparativo entre as duas.
Depois da dialetação do latim, surgiram nas diversas línguas românicas
os primeiros documentos literários que, com o passar do tempo, foram se
tornando incompreensíveis, exigindo para o seu entendimento um estudo
apurado das variantes apresentadas pelas edições antigas. Da mesma forma
que na antiga Alexandrina se fez um estudo crítico da Ilíada e da Odisséia,
em Roma da Eneida e do teatro de Plauto, foi necessário se fazer na Itália da
Divina Comédia, na França das Canções de Gesta, na Espanha do Mio Cid,
em Portugal dos Cancioneiros, dos documentos em prosa dos conventos
medievais e dos Lusíadas.
À semelhança da Filologia Clássica surgiu, então, a
Românica. Podemos assim distinguir tantas filologias quantas
são as línguas e as civilizações em estudo: Filologia Italiana,
Francesa, Espanhola, Romena, Galega, Provençal, Portuguesa,
etc.
No que diz respeito à Filologia Portuguesa, temos notícia de um
documento literário do do século XII, seguido, nos séculos XIII e XIV, de
outros tantos, de trovadores, cronistas, historiadores, muitas vezes obscuros,
requerendo dos filólogos domínio do português arcaico para o seu
entendimento. Somente a interpretação desses documentos podem viabilizar
o conhecimento da civilização portuguesa nessa época. Há ainda um
vastíssimo material inexplorado no que diz respeito à Filologia Portuguesa a
qual grandes nomes já pertenceram, dentre muitos outros, Adolfo Coelho,
João Ribeiro, Sousa da Silveira, Carolina Michaëlis, J. J. Nunes, Epifânio da
Silva Dias, José Leite de Vasconcelos.
Se pretendermos, v.g., fazer um estudo completo Os Lusíadas, de tal
modo que o texto se torne completamente inteligível, deveremos, antes de
mais nada, conhecer perfeitamente a língua da fase clássica, a do século XVI,
como também da arcaica. Além disso, far-se-á necessário conhecimento de
poética clássica e arcaica, da época, das diretrizes literárias e filosóficas que a
formavam, das fontes literárias das quais Camões se valeu, da história de
Portugal e sua geografia, de mitologia greco-romana, etc.
PARADA OBRIGATÓRIA
A Filologia Românica, auxiliada pela Linguística Românica, dedica-se
ao estudo linguístico-histórico das línguas oriundas do latim, tendo as
mais das vezes como ponto de partida textos ou documentos antigos. É
patente que ao romanista cabe o estudo das línguas neolatinas em seus
múltiplos aspectos, sua evolução a partir do latim vulgar, suas influências
externas e os contatos que mantiveram entre si, sua fragmentação dialetal
e, por fim, os fenômenos fonéticos, morfológicos, sintáticos e lexicais.
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO 2
Pesquise mais sobre a função do filólogo, redija um pequeno texto a
ser disponibilizado em seu portfólio.
ALFARRÁBIO ETIMOLÓGICO
VIZINHO
LEITURA COMPLEMENTAR
1. BASSETO, Bruno Fregni. Elementos de Filologia Românica. São
Paulo: EdUSP, 2001.
2. BUENO, Francisco da Silveira. Estudos de Filologia Portuguesa. São
Paulo: Saraiva, 1967.
3. COSTA, Alexandre de Carvalho. Reflexões Etimológicas. Porto: A.
Figueirinhas, L.Da – Editores, 1941.
4. MELO, Gladstone Chaves. Iniciação à Filologia e à Linguística
Portuguesa. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1984.
5. NASCENTES, Antenor. Elementos de Filologia Românica. Rio de
Janeiro: Organização Simões, 1954.
6. RIBEIRO, João. Rudimentos de Filologia Românica. São Paulo: J.
Ozon+Editor, s.n.
FONTES DAS IMAGENS
1. http://4.bp.blogspot.com/_Zu87Q7Ckw-0/TNL5av6Ci3I/AAAAAAAAA
AQ/B-cvBLSRpNc/s1600/Clerec%C3%ADa.jpg
2. http://www.jornallivre.com.br/images_enviadas/os-lusiadas-luiz-vazde-camoes.jpg
Responsável: Prof. Roberto Arruda de Oliveira
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

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