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«Leituras potencialmente perigosas: reflexões sobre as traduções castelhanas de Os Lusíadas no tempo da União Ibérica» Revista Camoniana, 3ª série, nº 15, Bauru, São Paulo, EDUSC, 2004, pp. 159-178. (ISSN 0103-3239) Leituras potencialmente perigosas. Reflexões sobre as traduções castelhanas de Os Lusíadas no tempo da União Ibérica VANDA ANASTÁCIO Para Cleonice Berardinelli Entre as páginas da Vida de Luis de Camões que Manuel Severim de Faria fez publicar, em 1624, entre os seus Discursos Vários Políticos1, encontra-se uma historieta encantadora, que gostaria aqui de recordar: [...] referem muitos fidalgos daquelle tepo, que quãdo succedeo neste Reyno el Rey D. Filipe o prudente, depois de chegar a Lisboa mãdou fazer diligencia por Luis de Camões, & sabedo que era fallecido mostrara disso sentimeto, porque desejaua de o ver por sua fama, & fazerlhe merce2. Esta anedota, que descreve o rei D. Filipe conquistado pela fama do poeta lusitano, entrando em Portugal desejoso de vê-lo e dando mostras de «sentimeto» quando se apercebe da impossibilidade de o conhecer, tem sido amplamente citada por comentadores de várias épocas, de um e de outro lado da fronteira3. Evocam-na como prova, quer da excelência incontestável de Os Lusíadas (a única obra de Camões que havia sido dada à estampa à data da entrada de Filipe II em Lisboa), quer de uma estrondosa recepção do poema épico em Espanha desde o momento em que viu a luz4, 1 DISCVRSOS / VARIOS / POLITICOS / POR MANOEL SEVERIM DE FARIA / Chantre, & Conego na Santa Sê de Euora. / Com as licenças necessarias / EM EVORA Impressos por Manoel Carvalho / Impressor da Vniversidade. Anno 1624. 2 Manoel Severim de Faria, «Vida de Luis de Camões, com hum particular juizo sobre as partes, que hade ter o Poema heroico, et como o Poeta as guardou todas nos seus Lusiadas» in Op. cit., fol. 125v. 3 Referem-na, entre outros, Manuel Faria e Sousa na sua edição de Os Lusíadas de 1639, Nicolás Antonio Bibliotheca Hispana Nova sive Hispanorum scriptorum, Madrid, Joaquín de Ibarra, 1783-1788, Francisco de Santa María, Anno Historico, vol II, Lisboa, off. Domingos Gonçalves, 1744, p. 329, (há uma ed. de 1714), Teófilo Braga Um Soneto de Camões glosado por Philippe II, Lisboa, Livraria A. Ferin, 1889, p. 5 dá voz à interpretação nacionalista dos factos, herdeira da propaganda autonomista da Restauração, corrente no seu tempo: «Sabe-se por tradição conservada em uma dedicatoria de Faria e Sousa na edição dos Lusiadas de 1639, que Philippe II quando entrou em Portugal desejou ver CAMÕES; felizmente para o poeta a morte tinha-o já libertado d’essa suspeitosa homenagem [...]» e, mais modernamente, Eugenio Asensio, «España en la épica portuguesa del tiempo de los Felipes (1580-1640)» in Estudios Portugueses, Paris, F. Gulbenkian, Centre Culturel Portugais, 1974, pp. 303-484. 4 Braga, chega mesmo a sugerir uma influência directa e positiva da literatura portuguesa sobre a literatura espanhola neste período, ao dizer, op. cit., p. 19: «A antinomia que se observa na civilisação hespanhola, em que o esplendor da sua literatura coincide com a epoca do maior despotismo dos monarchas da Casa de Austria, explica-se pela influencia profunda de Portugal exercida em consequencia © Vanda Anastácio 1 quer, ainda, do amor dedicado pelo filho de Carlos V, não só à poesia, mas a Portugal, às letras portuguesas e ao seu maior expoente, Luís de Camões. Apesar das efusões apaixonadas de sentimentos patrióticos que ainda hoje suscitam5, Os Lusíadas, com as suas quatro edições oficiais portuguesas durante o século XVI, não podem considerar-se um grande êxito editorial do período6, sobretudo se os compararmos com outras obras, como a Imagem da Vida Cristã de Frei Heitor Pinto, publicada pouco antes, que se transformou rapidamente num verdadeiro «bestseller»7. Como sublinhou Eugenio Asensio num trabalho famoso8, a própria natureza do poema, tanto pela observância das regras do género, como pelas alusões clássicas e eruditas que inclui, faziam dele (não farão ainda?) um poema de «minorías» constituídas pelo pequeno número de leitores capazes de o entender9. da incorporação da nossa pequena nacionalidade na unidade castelhana, planeada por Carlos V e realisada por Philippe II.» 5 Recorde-se a reacção pública que suscitou em 2002 a proposta de reforma da disciplina de Portugês que sugeria a eliminação de Os Lusíadas do programa do Ensino Secundário. 6 Falamos das edições de 1572, 1584, 1591 e 1597. Para além destas edições «oficiais», ou seja, que passaram pelo crivo das licenças então necessárias para publicação, conhece-se a edição factícia com data de 1572, correspondente a uma tiragem ou recomposição «pirata». Vejam-se, a este respeito, entre outros, os trabalhos de Tito de Noronha, A Primeira Edição dos Lusíadas, Porto e Braga, Liv. Internacional de Ernesto Chardron Editor, 1880, Cleonice Berardinelli, «De censores e censura» Estudos Camonianos, Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 2000, pp. 109-122, B. Xavier Coutinho, «A Edição Princeps de Os Lusíadas. Um problema complexo e difícil (ou insolúvel?)», Arquivos do Centro Cultural Português, vol. XVI, Paris, F. Gulbenkian, 1981, pp. 571-720 e Artur Anselmo, Camões e a Censura Literária Inquisitorial, Braga, Barbosa & Xavier, 1982. 7 Vejam-se, sobre esta matéria, Frei Francisco Leite de Faria, «O maior sucesso editorial do século XVI: a Imagem da Vida Cristã de Frei Heitor Pinto» Revista da Biblioteca Nacional, Lisboa, série 2, vol. 2, Julho a Dez. 1987 e Idem, «As muitas edições de obras de Frei Heitor Pinto», Isaías da Rocha Pereira e Frei Francisco Leite de Faria, IV Centenário de Frei Heitor Pinto (1526?-1584), Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1991, pp. 45-129. 8 Eugenio Asensio, «La fortuna de Os Lusiadas en España» Op. cit., pp. 303-324. 9 Neste último trabalho Eugenio Asensio chama aos Lusíadas, com efeito, na p. 303: «poema de minorías» e, na p. 306, sublinha que «cada pagina encerraba alusiones recónditas a la mitología, la historia y la cosmografía, que encantaban a la minoría capaz de entenderlas.» O mesmo estudioso retoma a ideia em 1982 no trabalho «Los «Lusíadas» y las «Rimas» de Camões en la poesía española (15801640» in Eugenio Asensio e José V. Pina Martins, Luís de Camões. El humanismo en su obra poética. Los Lusíadas e las Rimas en la poesía española (1580-1640), Paris, Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, 1982, quando diz, na p. 43: «Buena parte de sus versos podía ser saboreada por los soldados de la India, o por los paseantes de la Rua Nova de Lisboa; pero únicamente una exígua minoría de gentes de la corte o la universidade poseía una cultura suficiente para apreciar su arte difícil, amalgama de clasicismo y modernidad.» Curiosamente, a mesma ideia fora já avançada no século XVII por D. Francisco Manuel de Melo, num dos seus Apólogos Dialogais, o «Hospital das Letras», quando coloca na boca de Quevedo a célebre frase: «se são poucos os que o lem, são menos os que o entendem.» © Vanda Anastácio 2 Filipe II pertencia, sem dúvida, a esse pequeno número. Nele se incluíam, também, os cortesãos-poetas da alta aristocracia portuguesa e castelhana do tempo, bem como os homens cultos ligados à Universidade. Ora, é precisamente na esfera de influência das mais prestigiadas Universidades espanholas de então – Alcalá de Henares e Salamanca – que se publicam, em 1580, com pouco tempo de intervalo, as primeiras traduções de Os Lusíadas10. Um olhar atento aos textos preliminares que incluem, permitem-nos fazer uma ideia das redes de relações a que pertenciam os tradutores: entre os que louvam o trabalho dado à estampa em Alcalá pelo português Benito Caldera (ou Bento Caldeira), também designado por «Batto», contam-se poetas afectos à corte, do círculo de Lope de Vega e de Cervantes11; entre aqueles que celebram a versão de Luys Gomez de Tapia figuram, sobretudo, académicos de Salamanca, entre os quais se destacam Francisco Sanchez de las Brozas e o jovem Luís de Góngora. São estes textos que permitem concluir que a primeira tradução a ver a luz foi a versão de Alcalá, cuja aprovação se encontra datada de 17 de Março. Na obra impressa em Salamanca, lê-se, com efeito, um poema dirigido «al Libro», da autoria de Pedro de Vega, no qual se diz12: Por la primera impression Señor libro vuestras quexas No muestren tanta passion lembrando, à laia de justificação da pressa de Caldeira em publicar, o desejo que este teria de honrar, juntamente com o seu nome, a terra em que nasceu: 10 Trata-se das obras: LOS / LUSIADAS / DE LVYS DE CAMOES, / Traduzidos en octaua rima castellana por Benito Caldera, residente en corte. / Dirigidos al Illustriss. Señor Hernando de Vega de Fonse / ca, Presidente del consejo de la hazienda de su M. y dela Santa y general Inquisición. / CON / PRIVILEGIO. / Impresso en Alcala / de Henares, por Iuã Gracian. / Año de M.D.LXXX. bem como: LA LVSIADA / DE EL FAMOSO POETA / Luys de Camões. / TRADVZIDA EN VERSO CA / stelhano de Portugues, por el Ma / estro Luys Gomez de Tapia, vezino de Seuilla. / DIRIGIDA AL ILLVSTRISSI- / mo Señor Ascanio Colona, Abbad / de Sãcta Sophia. / Con priuilegio. / EN SALAMANCA. / En casa de Ioan Perier Impressor / de Libros. Año de / M.D.LXXX. 11 Veja-se a este respeito os artigos de Dámaso Alonso «La recepción de Os Lusíadas en España (15791650)» Obras Completas, Madrid, Gredos, 1974, tomo III, pp. 7-40, de Eugenio Asensio, op. cit. e de Nicolás Extremera Tapia, «A fortuna nas letras espanholas de um verso de Os Lusíadas», I Congresso Internacional de Estudos Camonianos, Rio de Janeiro, UERJ/SBLL, 1998, pp. 195-218. 12 Referimo-nos ao texto intitulado: «PEDRO DE VEGA AL LI / bro del Maestro Luys Gomez de Tapia» © Vanda Anastácio 3 Ni negueys que fue buen zelo Querer Batto en edad tierna Ilustrar su nombre y suelo Y de su lengua paterna Transplantarse al nuevo cielo. O texto continua com os louvores a esta segunda tradução: é melhor, apesar de ter sido feita por um castelhano e, se lhe fizerem críticas, o livro (pois é a ele que o poema se dirige) deve ter presente que, para assuntos como este, «Aljubarrota» não deve ser chamada: Pero si no ha conseguido Del traduzir la victoria Que vos haveis merecido En cosas de tanta gloria Baste le averla querido, E, mais adiante, diz: Que baxo de tal vandera No es menester casco o cota Pues no es esta la caldera Que llaman de Aljubarrota. Pôr de lado as diferenças e os paroquialismos passíveis de causar fricções entre os povos das várias partes da Península seria um bom conselho em qualquer época mas, em 1580, e aplicado a portugueses e a castelhanos, reveste-se de um sentido particular. De facto, se é verdade que Portugal e Castela partilhavam uma tradição literária comum desde há séculos, regida pelos mesmos modelos e pelos mesmos ideais, não é menos verdade que viviam então um período de grande tensão política, de que encontramos outro eco entre os textos introdutórios da versão de Salamanca. Refiro-me ao: «CATALOGO DE LOS REYES / que en Portugal ha auido, desd’el primer Conde don Enrique, hasta el año de ochenta, en que la mayor parte de Portugal está subjecta a la Magestad del rey Don Phelipe nuestro Señor»13. Esta última frase para além de parecer apontar para uma data posterior à batalha de Alcantara (25 de Agosto de 1580), parece13 Sublinhado nosso. O Catálogo referido ocupa os folios 13 a 16 das páginas introdutótias do volume, op. cit. © Vanda Anastácio 4 nos um indicador da complexidade do momento histórico que então se vivia. A leitura atenta do dito «Catalogo» é também reveladora, pois propõe que se faça uma revisão da genealogia da Casa Real portuguesa a partir dos trabalhos do «Cauallero Andaluz» Gonçalo Argote de Molina14. A lista dos reis portugueses inicia-se assim, não com D. Afonso Henriques, mas com o bisavô deste («Eustachio, Conde de Boloña»), não faz qualquer referência a D. António, - o Prior do Crato, proclamado rei em Lisboa em 18 de Junho de 1580 - e termina com a justificação do direito de Filipe II ao trono português, dizendo: A dõ Henrique succedio el año de ocheta la sacra Magestad del rey dõ Pheippe II. deste nombre, Rey de España: assi por ser Reyno que de su corona auia salido, como por ser nieto del Serenissimo Rey dõ Manuel, padre de don Enrique, que murio sin herederos. Como se verifica, repetem-se aqui os principais argumentos utilizados por Filipe II para a sua legitimação como rei português tanto no plano jurídico, como no plano simbólico das imagens e das representações postas a circular, desde 1578, pela sua máquina de propaganda15. A data de impressão destas duas primeiras traduções de Os Lusíadas e a presença destes «ecos» das circunstâncias da época na versão de Gomez de Tapia constituem o ponto de partida para a reflexão que procuraremos desenvolver em seguida, a qual se centrará em duas questões essenciais: de que modo se relacionam as traduções espanholas de 1580 com o momento histórico em que foram produzidas? Que relação poderá estabelecer-se entre estas primeiras traduções e a recepção da obra em Portugal até finais do século XVI? 14 Diz-se, com efeito: «Deve mucho la nació Portuguesa a Gonçalo Argote de Molina, cauallero Andaluz, veynte e quatro de seuilla, por auer decubierto cõ su grande curiosidad cõ que ha recogido en su museo los mejores libros y papeles de España, quie aya sido el primeir Cõde dõ Enrique, progenitor de la casa real de Portugal, en que tã errados hã andado todos los autores, y tã incierto Luys de Camões [...]» fol. 13v 15 Veja-se, a este respeito, o artigo de Fernado Jesús Bouza Álvarez, «Retórica da Imagem Real. Portugal e a Memória Figurada de Filipe II» Penélope. Fazer e Desfazer História, nº 4, Novembro de 1989, pp. 20-58, com destaque para a alegoria do leão castelhano que submete o dragão português, desenhada por E. Quellinus para a portada da obra de Juan de Caramuel, Philips Prudens que pressupunha, precisamente a ideia de que «Portugal deve estar unido à coroa de Castela, de cujo domínio se tinha separado injustamente no momento do seu nascimento», Idem, op. cit, p. 47. © Vanda Anastácio 5 Para responder à primeira pergunta, talvez seja útil recordar alguns factos e ter presente que, depois da derrota de Alcácer-Quibir, Portugal se encontrava numa situação desesperada, tendo perdido, não só o herdeiro da coroa mas, também, grande parte da elite que governava o país. Lembrar, por exemplo que, desde 1578, Filipe II tinha agentes a actuar sob as suas ordens em Lisboa, e que canalizou através deles somas consideráveis, destinadas ao resgate dos numerosos aristocratas portugueses que haviam ficado cativos no Norte de África. Estabelecem-se deste modo, antes de 1580, relações de gratidão e de dependência em relação ao futuro monarca em muitas das grandes famílias locais16. As pretensões de Filipe à coroa portuguesa datam, de facto, do início da crise sucessória. Como recordam os historiadores do período17, o rei de Espanha pôs em acção uma ofensiva concertada que foi simultâneamente diplomática (enviando embaixadores, e entabulando negociações desde cedo com os representantes das instituições portuguesas); jurídica (promovendo a divulgação de exposições feitas por juristas que o apresentavam como o único herdeiro legítimo); militar (enviando tropas para Portugal comandados pelo Duque Alba e estabelecendo «presídios» castelhanos ao longo da costa portuguesa e nas principais povoações) e contratual (através da celebração de um pacto com as oligarquias portuguesas nas cortes de Tomar em 15 de Abril de 1581). 16 Vejam-se, em abono do que aqui afirmamos as cartas de agradecimento de famílias da aristocracia portuguesa conservadas no Archivo General de Estado de Simancas referidas por Carlos José Margaça Veiga, A agregação da coroa de Portugal à de Castela. Aspectos da estratégia de Filipe II, (Texto policopiado) dissertação destinada à prestação de provas de aptidão pedagógica e capacidade científica, Lisboa, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, 1990. 17 Baseamo-nos fundamentalmente em Carlos José Margaça Veiga, A agregação da Coroa de Portugal à de Castela. Aspectos da estratégia de Filipe II, op. cit., e Poder e poderes na crise sucessória portuguesa 1578-1580, (Texto policopiado) Tese de Doutoramenteo em História Moderna, Lisboa, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, 1999, Fernando Bouza Alvarez, Portugal en la monarquía hispánica (1580-1640). Filipe II, Las cortes de Tomar y la génésis del Portugal católico, Madrid, Universidad Complutense, 1987, Op. cit., e «Lisboa sozinha, quase viúva. A cidade e a mudança da Corte no Portugal dos Filipes» Penélope. Fazer e Desfazer a História, nº13, 1993, pp. 71-93, em Jean-Frédéric Schaub, Portugal na Monarquia Hispânica, Lisboa Livros Horizonte, 2001 e em Joseph Pérez, La España de Filipe II, Barcelona, Crítica, 2000, John Lynch, Los Austrias, 1516-1700, Barcelona, Crítica, 2000. © Vanda Anastácio 6 Na complicada situação criada pela inexistência de descendentes directos de D. Sebastião, o ano de 1580 foi decisivo. A abertura das Cortes de Almeirim, reunidas com o objectivo de designar um sucessor para D. Henrique, tem lugar a 11 de Janeiro. A 31 do mesmo mês, o Cardeal-Rei morre, sem que ninguém tivesse sido oficialmente indigitado. Como já foi dito, a 18 de Junho, D. António é proclamado rei em Santarém. No mesmo mês, o Duque de Alba entra em Portugal à cabeça do exército espanhol e, a 25 de Agosto, dá-se a batalha de Alcântara. Pese embora a todos os esforços de concórdia, a todas as negociações, e à aceitação do monarca por muitos dos corpos da sociedade portuguesa, a União Ibérica foi conseguida, em grande medida, pela força das armas. Não se pense, porém, que a Universidade se manteve, neste período, alheada da esfera política. Pelo contrário, tanto os letrados de Alcalá de Henares como os de Salamanca foram chamados à elaboração de pareceres jurídicos em apoio das pretensões de Filipe II à sucessão de Portugal. Recordemos, por exemplo, o caso do Doutor Luís de Molina, autor de uma defesa dos direitos do herdeiro da Casa de Áustria, escrita em latim e publicada por ordem régia em Junho de 157918, personagem que acabou por ser integrada na delegação diplomática espanhola enviada a Portugal nesse mesmo ano. Lembremos, também, que, à data da elaboração das traduções, o rei Habsburgo solicitou aos juristas de ambas as Universidades que apreciassem a legitimidade de uma eventual guerra com Portugal. Como recorda Carlos Margaça Veiga, o parecer está datado de 4 de Junho de 1580, numa altura em que o exército castelhano se encontrava já a uma légua de Badajoz, pronto a atravessar a fronteira19. 18 Trata-se da obra: Luís Argote de Molina, Juris Allegatio pro rege catholico Philippo ad successionem regnorum, publicada em 1579. 19 Carlos J. Margaça Veiga, A agregação da coroa de Portugal à de Castela. Aspectos da estratégia de Filipe II, op. cit., p. 162 © Vanda Anastácio 7 Neste contexto, não parece plausível que as duas traduções castelhanas de Os Lusíadas tenham sido impressas pelas Universidades espanholas, em 1580, por uma simples coincidência. Vêmo-las, antes, como parte integrante da estratégia política de sedução e de intimidação conduzida, ao tempo, pelo herdeiro castelhano da coroa portuguesa. Como afirmou Eugenio Asensio em 1982, «sin el patrocinio directo e inmediato de Felipe II» não se explica a edição quase simultânea das duas traduções, sobretudo tendo em conta que nenhuma delas foi submetida à censura eclesiástica20. Este facto leva-nos a pensar sobre a escolha de Os Lusíadas como texto a divulgar. Não se pode dizer que não houvesse por onde escolher. Como se sabe, depois de 1572 e antes de 1580, Jerónimo Corte-Real (possivelmente estimulado pela publicação de Os Lusíadas em 1572) havia dado à estampa dois poemas épicos, um em português e outro em castelhano dedicado, aliás, ao próprio Filipe II21. Parece-nos que, para além do interesse que o texto de Camões poderia ter para os leitores espanhóis, enquanto encarnação do ideal renascentista da epopeia e exaltação de valores e de antepassados comuns, esta escolha estabelece uma ligação entre os Lusíadas e Portugal, atribuindo à épica camoniana o valor simbólico de «representante» de uma cultura. Se, à data, Os Lusíadas não se tivessem ainda transformado num símbolo nacional (ressalvando os matizes de sentido deste adjectivo quando aplicado a uma sociedade do Antigo Regime), a partir de então passariam a ser sentidos como tal22. O mesmo se 20 Eugenio Asensio, op. cit., sublinha, com efeito, nas pp. 45-46 : «La traducción de Alcalá, realizada por Benito Caldera o Bento Caldeira, mozo de origen portugués, está aprobada por Fadrique Furió Ceriol, el insigne escritor político, en Madrid 17 de marzo; y licenciada a toda prisa en Guadalupe por Antonio de Eraso, el secretario real. La traducción de Salamanca, hecha por Luis Gómez de Tapia, no inserta ni aprobación ni licencia. Ni la de Alcalá ni la de Salamanca han pasado por la censura eclesiástica.» 21 Trata-se dos poemas: Jerónimo Corte Real, Sucesso do Segundo Cerco de Diu: estando Dom Joham de Mazcarenhas por Capitam da Fortaleza (1574) e Felicíssima victoria concedida del cielo al señor Dom Iuan d’Austria en el golfo de Lepanto de la poderosa armada otomana (1578). Veja-se, a este respeito, Fidelino de Figueiredo, A Épica Portuguesa no Século XVI, São Paulo, 1950 e Eugenio Asensio «España en la épica portuguesa del tiempo de los Felipes (1580-1640)» op. cit. e ainda Hélio Alves, O Sistema da Epopeia Quinhentista, Coimbra, Imp. Da Universidade, 2000. 22 Cabe aqui recordar a ideia de Ivana Gallo que afirma em «La prima traduzione spagnola dei «Lusíadas»: da quale originale?» Quaderni Portoghesi, nº 6, Pisa, Giardini Editori, Autunno 1979, p. 103: «Se si considera, inoltre, che questa è l’epoca delle spedizioni d’oltremare, delle grandi conquiste e © Vanda Anastácio 8 poderia dizer da «canonização» de Luís de Camões, já apresentado por Las Brozas, em 1580, como: Luys de Camões Lusitano, cuyo subtil ingenio, doctrina entera, cognició de lenguas, y delicada vena, muestran claramente no faltar nada para la perfection de tal alto nombre [de Poeta] É bem conhecido o impacto tremendo que as traduções castelhanas de Caldera e de Gomez de Tapia tiveram na literatura espanhola. Dámaso Alonso e Eugenio Asensio foram alguns dos autores que estudaram o modo como a gesta portuguesa serviu de inspiração a novos textos, que dela retomaram elementos de estrutura, episódios míticos e heróicos, pormenores formais e recursos estilísticos23. Foi mesmo possível fazer remontar às primeiras traduções de Os Lusíadas a introdução de numerosos cultismos e de alguns lusismos na linguagem poética castelhana do tempo. Este fenómeno pôde apenas acontecer porque ambos os tradutores se mantiveram extremamente próximos do original, tratando-o, na sua reescrita, com a reverência devida a uma obra de prestígio. De facto, os poucos desvios realmente significativos ao espírito do texto de partida são aqueles que podem considerar-se indispensáveis à sua divulgação junto do novo público: a atenuação das referências menos lisonjeiras a Castela e aos castelhanos dispersas pelo poema de Camões24. Mas passemos agora à segunda questão: que relação pode estabelecer-se entre as traduções de 1580 e a recepção da obra em Portugal até finais do século XVI? della colonizzazione americana, si capisce il significato che assume in Spagna la traduzione del poema nazionale portoghese, nonché l’interesse che deve riscuotere: è come se il potente regno di Castiglia si impadronisse cosí, anche culturalmente, delle scoperte di Vasco da Gama.» 23 para além dos trabalhos de Eugenio Asensio acima citados, referimo-nos ao texto de Dámaso Alonso, «La recepción de Os Lusíadas en España (1679-1650)» Obras Completas, tomo III, Madrid, Gredos, 1974, pp. 7-40. 24 Trata-se das referências presentes em Canto III, 34, v. 1, Canto III, 99, v. 1, Canto III, 105, v. 4, Canto III, 138, v. 5, Canto IV, 24, v. 2 e Canto IV, 47, v. 2. © Vanda Anastácio 9 A primeira edição de Os Lusíadas publicada depois da anexação portuguesa data de 1584. Ficou conhecida como a edição dos «piscos» devido a um lapso célebre25 e apresenta o poema alterado e «expurgado» de um número considerável de versos. A mesma versão mutilada voltou a ser dada à estampa, com emendas de pormenor, em 1591. O autor dessas intervenções foi Frei Bartolomeu Ferreira, curiosamente e por ironia do destino, o mesmo censor que havia aprovado a edição de 1572. Pese embora à imagem de humanidade e de tolerância que Sousa Viterbo dele esboçou numa obra que ficou célebre26, Frei Bartolomeu viveu na época em que viveu, exerceu a actividade de revedor de livros pelo menos entre 1571 e 1595, e não só dependia, como defendia os princípios e as actuações do Tribunal do Santo Ofício27. Responsável pela adaptação e redacção da versão portuguesa das regras do Index librorum prohibitorum de 1581 e autor dos comentários que acompanham a edição dos «piscos» de 1584, não parece que, como já foi dito, este eclesiástico tenha tido uma responsabilidade «diminuta» na mutilação efectuada28. O exame do modo como interveio em outros textos (como o auto de Filodemo ou o Poema da Velhice de Lopo Serrão29) revela um critério uniforme na eliminação de traços potencialmente ofensivos da religião, da disciplina eclesiástica, da 25 O lapso figura no comentário feito pelo comentador da versão impressa em 1584 ao verso 2, da estrofe 65, do Canto III: «E a piscosa Sesimbra, e juntamente» 26 Sousa Viterbo, Frei Bartolomeu Ferreira o primeiro censor de Os Lusíadas. Subsídios para a História Literária do Século XVI em Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1891. 27 Sousa Viterbo reavalia a primeira imagem que construira do censor a partir da descoberta de uma denúncia de um frade feita por Frei Bartolomeu Ferreira à Inquisição, no prefácio da edição de Os Lusíadas, Lisboa, Empreza da História de Portugal,1900, pp. XXIV-LXXX. A primeira licença de impressão que se conhece da lavra de frei Bartolomeu Ferreira data de 1571 e encontra-se na obra: Libro primero del espejo del principe christiano, conhecendo-se aprovações com o seu nome até 1595. Há notícia de que o censor foi fazendo carreira na instituição que servia. Segundo afirma Barbosa Machado, na Bibliotheca Lusitana, Lisboa, na Of. de António Isidoro da Fonseca, 1791, Frei Bartolomeu Ferreira tomou posse do cargo de Deputado da Inquisição de Lisboa, em 3 de Novembro de 1576. 28 Sebastião Tavares de Pinho, «Critérios e métodos de censura na edição dos Piscos d’ Os Lusíadas de Camões e no Poema De Senectute de Lopo Serrão, de 1579», Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 1984 escreve, na p. 473: «A confirmação de que a responsabilidade de Frei Bartolomeu Ferreira nestes processos de censura foi diminuta, e que ele se limitou a cumprir as indicações do Santo Ofício, que entretanto radicalizara os seus critérios e endurecera a sua vigilância.» 29 Veja-se, a este respeito, Paul Teyssier, «As duas versões do Auto de Filodemo» Actas da III Reunião de Camonistas, 1983, pp. 419-436, Sebastião Tavares de Pinho, «Critérios e métodos de censura na edição dos Piscos d’ Os Lusíadas de Camões e no poema De Senectute de Lopo Serrão, de 1579» Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 1984 e Idem, «As variantes: critérios de censura», Lopo Serrão e o seu Poema da Velhice, Coimbra, INIC, 1987, pp. 98-117. © Vanda Anastácio 10 moral, de alusões potencialmente indiciadoras de superstição e, ainda que em menor grau, de opiniões de tipo socio-político. Se, é um facto que, em 1597, o texto camoniano volta a ver a luz numa edição quase integral30, também é um facto que, nessa altura, o primeiro censor de Os Lusíadas já tinha deixado de exercer funções. Entre 1572 e 1584 muita coisa tinha mudado em Portugal mas, para aqueles que se encontravam ligados à Inquisição, não parece que tivessem mudado para pior. Como se sabe, nas Cortes de Tomar (1581) Filipe II havia celebrado um verdadeiro pacto social com os representantes dos três estados da monarquia portuguesa. Insistindo em sublinhar que Portugal seria tratado como um reino herdado e não como um território subjugado pela força, o novo rei assumiu uma série de compromissos que foram honrados, de um modo geral, durante as décadas que se seguiram31. Um destes compromissos consistiu na manutenção da imunidade jurídica do reino, um princípio graças ao qual, foi possível aos tribunais portugueses manterem-se fora da jurisdição castelhana. Diga-se a este respeito que, se houve épocas em que se verificaram interferências de Castela em algumas instâncias jurídicas, o Tribunal da Inquisição permaneceu autónomo durante os 60 anos em que a dinastia filipina governou. Este facto parece explicar o aparente paradoxo de que o texto camoniano circulasse em versão integral em Espanha desde 1580 e, simultaneamente, entre 1584 e 30 Veja-se, para um exame aprofundado da edição deste ano, a obra de B. Xavier Coutinho, «A Edição Princeps de Os Lusíadas. Um problema complexo e difícil (ou insolúvel?)», Arquivos do Centro Cultural Português, vol. XVI, Paris, F. Gulbenkian, 1981, pp. 571-720. 31 Promessas não cumpridas foram as de retirar os presídios de soldados castelhanos estacionados ao longo da costa portuguesa que se mantiveram até 1640, pagos pelo erário castelhano, tal como a eliminação das alfandegas terrestres (designadas por «portos secos») restabelecidas logo em 1582. Outros desvios foram sendo introduzidos ao longo do tempo, como a execução de vistorias castelhanas a tribunais portugueses, mas não parece que algum destes «incumprimentos» tivessem atingido o Tribunal da Inquisição. Cf.: Jean-Frédéric Schaub, Op. cit. © Vanda Anastácio 11 o início do século seguinte, em versão truncada em Portugal32. Mas não haverá outros aspectos a ter em conta? Filipe II permaneceu em Portugal entre 1581 e 1583. Mas durante esses anos e apesar da entrada em vigor de um novo rol de livros proibidos, Os Lusíadas não foram reeditados. Poder-se-á afirmar, que só quando já nem a presença do rei podia fazer-lhe sombra, o Tribunal do Santo Ofício se sentiu à vontade para expurgar o texto de um modo tão profundo? Como vimos, o tipo de mutilação efectuado, não pode considerar-se politicamente motivado. À excepção do facto de que se procuraram atenuar as referências menos agradáveis a Castela e aos castelhanos do poema (aspecto em que parece seguir, prudentemente, as sugestões de Caldeira e Tapia), a censura aplicada a assuntos propriamente políticos limita-se a um ou outro passo célebre (a crítica à ingratidão de D. Manuel na estrofe 25 do Canto X, ou a censura aos eclesiásticos na estrofe 119 do mesmo Canto). Foram, sobretudo, as passagens relativas ao emprego dos vocábulos deus, deuses, divino, etc., as referências ao poder supremo de algumas das figuras da mitologia, as descrições da nudez das deusas e das ninfas ou da sensualidade da fermosíssima Maria, o que mereceu a intervenção do censor. Aventou-se que o poema assim «expurgado» se destinava ser usado como texto de estudo nos colégios de jesuitas33. Mas não se estará a cair no anacronismo de transpôr para os anos 80 e 90 do século XVI a realidade escolar do século XX? 32 Cleonice Berardinelli, «De Censores e censura» in Estudos Camonianos, Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 2000, diz, na p. 121: «Enquanto em Espanha se traduz o texto integral, como se vê, em Portugal reedita-se o poema desfeado e amputado.» 33 Eugenio Asensio e Pina Martins Op. cit. e Maria Antónia Soares de Azevedo, «Um Manuscrito Quinhentista de Os Lusíadas» IV Reunião Internacional de Camonistas. Actas, Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 1984, pp. 71-93. © Vanda Anastácio 12 Também se disse que estas alterações resultariam da aplicação das novas regras redigidas por Bartolomeu Ferreira para o índice de 158134. Mas não são estas regras, apesar da nova formulação, idênticas às do índice de 1564? E não são, de facto, os princípios que expõem, os mesmos preconizados no índice de 1597? Porquê esperar por 1597 para repôr o texto da primeira impressão? Porquê, ainda que o tempo não nos permita abordar aqui esta questão, o aparecimento de uma ou mais edições piratas posteriores a 1584, com a falsa data de 1572? Por fim, tendo em conta que o maior e mais persistente opositor a Filipe II, D. António, o Prior do Crato, conseguiu mobilizar apoios, em Portugal e fora dele, durante todo o período que medeia entre 1580 e 1595, data da sua morte, deveremos associar este súbito abrandamento da censura sobre o poema de Camões com o facto de a sua ameaça ter desaparecido? Ou seja: ter-se-iam tornado Os Lusíadas entre 1580 e 1595, por sugestão indirecta de Filipe II, numa bandeira do autonomismo? BIBLIOGRAFIA Activa: LOS / LUSIADAS / DE LVYS DE CAMOES, / Traduzidos en octaua rima castellana por Benito Caldera, residente en corte. / Dirigidos al Illustriss. 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