Gás dos EUA alimenta boom industrial mexicano

Transcrição

Gás dos EUA alimenta boom industrial mexicano
Gás dos
mexicano
EUA
alimenta
boom
industrial
AILWORTH, Erin. “Gás dos EUA alimenta boom industrial mexicano”. Valor
Econômico. São Paulo, 10 de setembro de 2014.
A abundância cada vez maior de gás natural nos Estados Unidos está ajudando a
alimentar um boom industrial no México.
As exportações de gás natural dos EUA para o México cresceram 11% até agora no
ano, para cerca de 56,6 milhões de metros cúbicos por dia, segundo a Bentek
Energy, firma americana de análise de dados. E esse fluxo de gás pode dobrar nos
próximos anos, dizem analistas. Empresas já anunciaram planos para pelo menos
sete novos gasodutos que levariam gás do Texas e do Arizona além da fronteira
mexicana, incluindo um que deve começar a operar no fim do mês.
O suprimento crescente de gás está reduzindo a escassez de oferta no México, onde
o combustível é caro e a demanda industrial está elevada em setores como o de
energia elétrica, o petroquímico e o automobilístico, que quase dobrou de tamanho
desde 2009.
As exportações também estão ajudando a diminuir a superabundância de gás nos
EUA causada pelo excesso de empresas extraindo gás em áreas como Eagle Ford
Shale, no sul do Texas, onde o produto está sendo negociado a preços inferiores à
referência no mercado americano.
O México também tem reservas substanciais de gás de xisto, mas as petrolíferas
locais não têm know how nem vontade para explorá-las, dizem analistas. O país tem
atendido suas necessidades de combustível em parte importando gás liquefeito, que
pode custar três vezes mais que o transportado dos EUA. "Os mexicanos têm um
incentivo para importar gás americano porque é basicamente baratíssimo para eles,
comparado a outras fontes de energia", diz Sandy Fielden, analista da RBN Energy
LLC, em Houston.
No futuro, o México deve começar a produzir seu próprio gás à medida que seu setor
petrolífero - há muito dominado por monopólios estatais - se abrir à concorrência,
nos próximos anos. Enquanto isso, importar gás natural barato dos EUA ajudará a
reduzir o ceticismo público sobre os benefícios da nova política energética do
México, mais próxima do livre mercado.
O ministro de Energia do México, Pedro Joaquín Coldwell, diz que trocar petróleo e
diesel pelo gás americano reduzirá os custos da indústria e dos consumidores com
eletricidade e dará impulso à economia.
Nos próximos 20 anos, o México importará dos EUA cerca de 65% de todo o gás que
utiliza, estima Ixchel Castro, analista do setor energético na consultoria Wood
Mackenzie.
Uma grande fonte de demanda é a indústria automotiva mexicana, que produziu
cerca de três milhões de veículos em 2013. Várias montadoras abriram novas
fábricas no México recentemente ou anunciaram planos nesse sentido. A mais
recente foi a sul coreana Kia Motors Corp., que divulgou no mês passado planos de
construir uma fábrica de US$ 1,5 bilhão perto da fronteira com os EUA.
A Honda Motor Co. e a Mazda Motor Corp. abriram novas fábricas em Guanajuato,
um Estado na região central do México, no início deste ano. As fábricas sendo
construídas pela Volkswagen AG (para produzir o Audi) e pela parceria entre a
Daimler AG e a Aliança Renault - Nissan devem começar a operar entre 2016 e
2017. A BMW AG informou que abrirá uma nova fábrica no México em 2019.
As novas operações ajudarão a indústria automobilística do México a produzir mais
de cinco milhões de veículos até 2020, preveem analistas da IHS.
A geração de energia elétrica no México também vai responder por grande parte da
demanda por gás natural, à medida que usinas geradoras operadas com petróleo
forem sendo convertidas para queima de gás.
Em torno de 75% do crescimento do consumo de gás do país deverá vir do setor de
energia elétrica até 2027, segundo relatório da Administração de Informação sobre
Energia dos EUA, que cita o Ministério de Energia do México.
"O México é um mercado excitante, agora e no futuro previsível", diz Richard
Wheatley, porta-voz da Kinder Morgan Inc., empresa de Houston cujos gasodutos
levam a maior parte do gás americano até o México.
A nova linha Sierrita da empresa, que custou US$ 200 milhões e tem quase 100
quilômetros, vai transportar cerca de 5,6 milhões de metros cúbicos de gás por dia
de Tucson, no Arizona, até Sasabe, na fronteira do Arizona com o México. Ela vai
começar a operar no fim deste mês. Dali, a linha se conectará a uma rede de
gasodutos que estão sendo construídos pela IEnova, subsidiária da Sempra Energy,
um projeto de US$ 1 bilhão.
Empresas concorrentes no setor de gasodutos também estão planejando
investimentos. A Howard Midstream Energy Partners LLC, de San Antonio, pediu
recentemente aos reguladores permissão para construir um gasoduto em Webb
County, Texas, que transportará para o México até 31,7 milhões de metros cúbicos
de gás por dia. Como o gasoduto cruzará uma fronteira internacional, ele precisa de
uma autorização do governo americano, mas especialistas dizem que é improvável
que haja atrasos como o que paralisou o gasoduto da Keystone XL, vindo do
Canadá.
A petrolífera estatal mexicana, Petróleos Mexicanos, ou Pemex, está
supervisionando a construção de um gasoduto de US$ 3,2 bilhões, chamado Los
Ramones, que irá ligar a região de Eagle Ford Shale, no sul do Texas, a Guanajuato.
(Colaborou Laurence Iliff.)