CIDADANIA, ESTADO E SOCIEDADE CIVIL EM PORTUGAL
Transcrição
CIDADANIA, ESTADO E SOCIEDADE CIVIL EM PORTUGAL
DESPOTISMO DE ESTADO E SOCIEDADE CIVIL REAL EM PORTUGAL: DISTÂNCIA AO PODER, COMUNICAÇÃO POLÍTICA E FAMILISMO AMORAL Manuel Villaverde Cabral Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa É com profunda amizade e admiração que dedico este texto ao Hermínio Martins, meu interlocutor permanente das últimas três décadas neste campo minado que é “a questão portuguesa”. Intróito As reflexões que a seguir apresento partem de um resultado empírico concreto da investigação que tenho em curso, há mais de uma década, sobre as atitudes e comportamentos da população portuguesa perante o nosso actual sistema políticopartidário e, muito em especial, perante a assunção e o exercício dos seus direitos de cidadania política (Cabral, 1997; 2000; 2003; 2004). Foi assim que me confrontei, no termo provisório dessa pesquisa, com uma medida quantitativa da ‘distância’ que a população portuguesa sente, hoje em dia, em relação ao poder político: não só essa ‘distância’ é elevada do ponto de vista comparativo, como sobretudo revelou atravessar, de forma indiferenciada, todas as categorias sócio-demográficas da população, não sendo portanto explicada, estatisticamente, pelos habituais correlatos da sociologia política. Vi-me assim remetido para o horizonte histórico-fenomenológico do Estado português. Como explicar – cerca de vinte cinco anos 1 depois do derrube do regime autoritário e da alegada consolidação do regime representativo português – um sentimento tão profundo de ‘distância ao poder’ que os testes estatísticos convencionais se revelam incapazes de elucidar? A hipótese mais plausível foi perguntar em que medida não subsistiria em Portugal, nas relações entre as “elites de 1 A informação empírica em que o estudo se baseia data de 1997, mas não há indicações de que os resultados do inquérito então realizado fossem hoje muito diferentes a este respeito. 2 poder” e a generalidade da população, um distanciamento histórico que a passagem do Estado autoritário ao Estado democrático não havia feito desaparecer. Daqui, a formulação do título desta comunicação, ao apontar para uma espécie de “autoritarismo de Estado” que não só teria subsistido à democratização formal da representação e das instituições políticas, como precedera a institucionalização de uma ditadura demasiado duradoura para não carecer de explicação meta-política e para não deixar marcas profundas para além da sua vigência contingente. Vários autores estrangeiros exploraram, no passado, a possibilidade de existirem fortes indícios de adequação do regime salazarista não só ao nível de desenvolvimento sócio-económico, mas também à cultura política da sociedade portuguesa da época (Wiarda, 1977; Robinson, 1979; Schmitter, 1999). Habitualmente, porém, os autores portugueses têm resistido a esta ideia. 2 Seja como for, hoje dispomos de um quadro teórico parcialmente renovado para lidar com a questão. Assim, a estratégia adoptada para desenvolver este programa de pesquisa situa-se numa matriz teórica que vai dos estudos sobre a cidadania até à recente revisão da noção de sociedade civil, tal como a empreenderam, por exemplo, Jeffrey Alexander e os seus colaboradores, sob a designação de real civil societies (Alexander, 1998). De acordo com esta última abordagem, as sociedades civis reais deverão ser investigadas de forma a ultrapassarmos a visão idealizada com que o pensamento neo-liberal pretendeu instituir a bürgerliche gesellschaft em alternativa ao papel desempenhado pelo Estado durante o último século, na teoria e na prática socialistas, na correcção das desigualdades atribuídas não só à economia de mercado como às tendências oligárquicas espontâneas da sociedade (Rawls, 1972: 300-301; Cabral, 1997: 13-14). Entre as descrições mais realistas das articulações não virtuosas entre sociedade, mercado e Estado, conta-se a velha noção de familismo amoral, cunhada há mais de quarenta anos pelo cientista político norte-americano Edward Banfield para caracterizar aquilo a que ele dava o nome, numa linguagem à qual também já não 2 Por exemplo, Manuel de Lucena em crítica a Wiarda (Lucena, 1978), mas também eu próprio em vários ensaios publicados e inéditos sobre o fascismo português em perspectiva comparada (Cabral, 1982). 3 estamos muito habituados, as “bases morais de uma sociedade atrasada” (Banfield 1958; 1976). Eu próprio já me havia deparado, na década de Oitenta, com algo de semelhante à estrutura e funções desse ‘familismo amoral’, no meu próprio trabalho sobre as estratégias de resistência e adaptação, para usar a feliz expressão de Manuel Carlos Silva (1998), do pequeno campesinato português ante a penetração de relações mercantis nos campos secundada pelos diversos aparelhos de Estado (Cabral 1983a; 1983b; 1986; 1991). Com efeito, essa noção poderia fornecer, até pelo seu carácter gráfico, uma entrada para o obscuro objecto da ‘distância ao poder’. E não só uma entrada passiva, totalmente negativa e exclusivamente associada à miséria económica – como sucede, por exemplo, na reflexão de Elisa Pereira Reis sobre o Brasil, incluída também na referida colectânea de Jeffrey Alexander sobre as real civil societies (Reis, 1998: 111134) – mas também uma entrada de algum modo reactiva, dotada de alguma espécie de positividade, quanto mais não seja do ponto de vista dos seus protagonistas. Por outras palavras, embora sem dúvida perverso em muitos dos seus efeitos, senão todos, o chamado familismo amoral ganha, em todo o caso, em ser dissociado da exclusiva esfera económica para ser transportado para a dimensão societal nas suas articulações com o Estado e o poder político. Dando provisoriamente por adquirida a existência de algo correspondente a esse alegado familismo amoral entre determinadas camadas sociais das mais desmunidas, historicamente, da sociedade portuguesa, muito em particular o campesinato pobre do Norte e Centro do país, acerca do qual existe uma extensa bibliografia 3 , convém ter presente o grande peso quantitativo dessas camadas populacionais, bem como o seu prolongado impacto nas representações e práticas sociais do conjunto da população, maxime as suas atitudes e comportamentos políticos. 3 Sobre as classes sociais em Portugal, cf. entre outros contributos, H. Martins, 1998 (1967); Estanque & Mendes. 1998; Cabral, 1998; 1999; especificamente sobre o campesinato nortenho, cf. J. M. Pinto, 1985; J. F. Almeida, 1986; M. C. Silva, 1998; K. Wall, 1998. De todos os autores citados, o único que alude explicitamente ao trabalho de Banfield é Manuel Carlos Silva. A antropologia social dos espaços rurais portugueses, apesar de haver crescido bastante nas últimas décadas, nunca analisou nem discutiu, tanto quanto me pude dar conta, a noção de “familismo amoral”, ao contrário do que sucedeu em vários outros “terrenos mediterrânicos” (J. Cutileiro, 1977; B. J. O’Neill, 1984; J. P. Cabral, 1986; C. Bastos, 1993, J. M. Sobral, 1999, etc.). 4 Sendo assim, restava identificar alguns elos políticos e culturais susceptíveis de mediar entre a sociedade civil real e aquilo a que venho chamando o autoritarismo do Estado português, para aquém e além das formas contingentes que este último tem tomado ao longo de um período que remonta, no mínimo, aos primórdios da modernidade no século XVII. É, pois, da mera identificação de alguns nexos explicativos desse profundo sentimento de ‘distância ao poder’, manifestado por uma larga maioria da população portuguesa contemporânea, que aqui se vai tratar. A ‘distância ao poder’ Comecemos então pelo começo. Esta noção de ‘distância ao poder’ não é muito mais do que um construto quantitativo fabricado, há perto de quarenta anos, pelo psicólogo social holandês Geert Hofstede (1984), com vista a medir, grosseiramente que fosse, a distância entre a forma como um determinado grupo de pessoas considerava que o poder devia ser exercido numa dada organização e a forma como esse poder era, segundo elas, efectivamente exercido. A fim de complementar estes dois indicadores, Hofstede introduziu uma espécie de subtil tertium comparationis, a saber, um indicador relativo ao receio que os membros do grupo em questão teriam ou não, segundo os entrevistados, de mostrar publicamente discordância perante as decisões dos detentores do poder na referida organização. Foi este power distance index que calculámos, num inquérito realizado em 1997, para uma amostra representativa da população portuguesa adulta. Além de atravessar indiferenciadamente a população, remetendo perto de 60% dos inquiridos para as três posições inferiores de uma escala de 6 graus, com 4% apenas no topo da dita escala, os valores encontrados revelaram uma elevada ‘distância ao poder’ em comparação com os 50 países estudados por Hofstede em 1968 e, desde logo, muito mais elevada do que se poderia esperar da evolução recente dos indicadores habituais de desenvolvimento sócio-económico em Portugal (Cabral, 2000: 153-156). Manifestamente, a evolução das formas de articulação entre a chamada sociedade civil e o Estado não acompanhou de forma automática a evolução das estruturas económicas e sociais. Não parece pois haver congruência entre a efectiva modernização sócio-económica e a falta de actualização dos modos de funcionamento 5 da sociedade civil na sua articulação com o poder político. Com efeito, aquilo que a decomposição do índice mostra é que há uma enorme distância entre as “formas democráticas” como a população considera que o poder político devia ser exercido e as “formas autoritárias” como ela acha que o poder é exercido de facto. Para cerca de dois-terços dos Portugueses, o poder é exercido exactamente ao contrário da maneira como acham que devia ser, ou seja, é exercido de forma autocrática em vez de o ser de forma participativa. Esta conclusão é, não obstante, relativamente trivial nos estudos de opinião. Bem mais intrigante – e até preocupante para a saúde de um regime democrático que se crê consolidado – é, porém, o facto de os mesmos inquiridos pensarem que “os Portugueses têm medo de mostrar que discordam das decisões dos governantes” (27% pensam que isso ocorre “muito frequentemente” e 40% “algumas vezes”). De acordo com entrevistas qualitativas já realizadas entre estudantes de pósgraduação, este receio é reconhecido – e frequentemente partilhado – não só pelo público em geral, como até por segmentos qualificados da população. Após um quarto de século de funcionamento regular das instituições representativas, com frequentes alternâncias partidárias no poder, é inegável que estamos perante um indicador que remete para algo mais do que a simples inércia do medo que a maioria dos Portugueses tinha, por razões compreensíveis, de exprimir a sua opinião no tempo da ditadura. Tendo presente que mais de metade do actual eleitorado português chegou à maioridade (18 anos) depois do 25 de Abril, quando não nasceu já em democracia, é manifesto que a renovação demográfica das gerações e o incremento dos níveis de instrução foram insuficientes para trazer com eles uma renovação equivalente daquela atitude receosa. É possível e mesmo provável que, se esta medida tivesse sido tomada durante o período de grande mobilização popular que se seguiu ao golpe do 25 de Abril, os resultados fossem diferentes. Nunca o saberemos, porém. Certo é que, com a desmobilização popular requerida, segundo as teorias convencionais da democracia, pela normalização do regime representativo; com a rotinização da participação eleitoral e da alternância partidária na governação; e finalmente, com aquilo a que tenho chamado a re-oligarquização da classe política, os factores de ‘distância ao 6 poder’ de que o Estado salazarista já havia certamente beneficiado, ao mesmo tempo que os reproduzira e consolidara, voltaram a produzir efeitos similares sobre as representações e as práticas políticas da maioria da população perante o Estado democrático. É desses factores, que têm sustentado a reprodução de uma cultura cívica marcada pela ‘distância ao poder’, bem como pelo sentimento de que a opinião das pessoas comuns pouco ou nada conta para alterar as decisões do poder (56% dos inquiridos consideram que a sua opinião pouco ou nada conta para decidir os problemas do país) e ainda pelo sentimento de incompreensão perante o “mundo da política” (60% declararam não compreender ou ter dificuldade em compreender o que se passa no “mundo da política”), é desta cultura cívica, dizia eu, que se torna necessário dar conta, sabendo que as categorias sócio-demográficas habituais contribuem muito pouco para a sua explicação imediata. Eis-nos, pois, remetidos para um universo de mediações históricas com o qual a ciência política, nomeadamente o mainstream da politologia anglo-saxónica, está pouco habituada a lidar. 4 A variável mais independente do sistema Precisamos, contudo, de uma ponta para puxar este novelo, antes de chegar àquilo que possa estar do “outro lado” da ‘distância ao poder’ – por hipótese, os ecos societais de um alegado ‘familismo amoral’ – por forma a que essa ‘distância’ não surja como um vago traço psicológico do carácter nacional, mas sim como uma manifestação longamente consolidada das estratégias de sobrevivência de gerações sucessivas de famílias desmunidas não só de recursos económicos como, sobretudo, de recursos simbólicos perante o exercício do mais simbólico dos poderes, a saber, o poder político. 5 Deste ponto de vista, a variável mais independente do sistema social português é, como tem sido repetidamente observado em todo o género de estudos, a posse desse tipo específico de recursos cognitivos e informativos que o sistema escolar é suposto 4 As críticas feitas à tese da “cultura cívica” é conhecida, bem como às noções que têm ocupado o seu lugar nas explicações dos défices societais de participação política, tais como o “capital social” e a “confiança”, pelo que me dispenso de voltar ao tema neste momento (Cabral, 2004), se bem que esse debate seja da maior relevância para a presente discussão. 7 fornecer desde a modernização do Estado, já a partir do século XVII e, decididamente, a partir do século XIX. Aliás, também nos Estados Unidos, como revela o último estudo do Professor Sidney Verba e a sua equipa sobre “as raízes privadas da acção pública”, a educação continua a ser o único factor verdadeiramente significativo para a explicação de todos estes tipos de atitudes e comportamentos (Burns, Schlozman & Verba 2001). Em Portugal, para além da evidência contemporânea, há inúmeros indícios históricos, que aqui apenas começámos a coligir, de que a escolarização funcionou, ao longo dos processos de formação do Estado moderno, não só como um factor de apertado controle social, mas desde logo como a forma mais regulada de acesso específico ao poder político. Entre tantos outros exemplos, é de mencionar a elegibilidade atribuída, no sistema de franquia eleitoral liberal, aos detentores do 5.º grau de escolaridade secundária sobre a grande maioria dos detentores de capital económico quando estes não possuíssem aquele modicum de capital cultural, equivalente á actual escolaridade obrigatória. Sendo tal disposição pouco comum nos regimes eleitorais da época, é importante registar esta precedência política da literacia sobre o censo económico desde os primórdios do Estado liberal em Portugal. Naturalmente, com a institucionalização gradual do sistema de ensino formal, os dois capitais – económico e cultural – tendem a convergir, sendo raros os capitais económicos de alguma dimensão que não obtêm, pelo menos na segunda geração, algum capital escolar (a inversa é menos verdadeira). Porém, enquanto se mantêm os dispositivos da escolarização restrita (Goody 1986; 1987), como foi o caso em Portugal até à segunda metade do século XX, tal convergência de capitais apenas reforça o carácter oligárquico das elites e a sua falta de diferenciação funcional. Porventura mais ainda do que a nível nacional, é isso que se verifica ao nível das elites locais portuguesas com a implantação do sistema eleitoral liberal.6 5 Na linha da argumentação de Diego Gambetta a propósito da ‘desconfiança’ social e política alegadamente reinante na Sicília (Gambetta 2000). 6 Um estudioso das relações entre alfabetização e poder local assinala que, na década de 1880, a diferenciação feita no sistema eleitoral português entre eleitores e elegíveis, coincidindo estes últimos com os alfabetizados, era praticamente única nos países europeus da época (Gameiro 1997: 136); ver também P. T. Almeida 1991. 8 A noção da alfabetização restrita remete para algo que está por fazer. Apetece dizer que falta uma espécie de história natural da iliteracia e dos seus efeitos comunicacionais e políticos em Portugal. Não se trata, contudo, apenas da difusão da leitura e da escrita, mas também, a partir de certa altura, da difusão da imprensa. Terá sido neste momento crucial da difusão da palavra escrita através da imprensa e do seu impacto diferenciador nas “relações de comunicação”, para usar a expressão de Jack Goody, que a Reforma e a Contra-Reforma introduziram na sociedade europeia não só o cisma religioso, com o seu correlato ao nível das atitudes e comportamentos económicos que estariam na base do “espírito do capitalismo”, mas também um cisma equivalente no sistema de comunicação entre elites e massas. A este propósito, é exemplar o estudo de David Zaret, igualmente integrado na citada colectânea organizada por Jeffrey Alexander, sobre o papel reflexivo desempenhado pelas petições escritas na Grande Revolução Inglesa (Zaret 1998). Para uma história da iliteracia em Portugal Não vou fazer aqui a história da iliteracia em Portugal, mas nada ilustrará melhor o cisma comunicacional aberto pela imprensa nos países católicos do que a restrição deliberada e sistemática à formação de camadas sócio-culturais intermédias – entre uma diminuta elite rapidamente alfabetizada e a grande massa iletrada dos camponeses pobres – com acesso aos textos sagrados. Com efeito, a proibição paradigmática que pendeu sobre a tradução e a impressão da Bíblia em vernáculo foi mais prolongada em Portugal do que em qualquer outro país católico do Sul da Europa, já que a primeira bíblia impressa no país em língua portuguesa data do fim do século XVIII. 7 Entre as consequência da alfabetização restrita, que manteve o fosso entre os detentores do poder de regulação sobre a produção e circulação da palavra impressa, por um lado, e as massas iletradas por outro, Goody salienta o esmagamento de 7 Salvo melhor informação, a primeira tradução completa da Bíblia impressa em Português foi obra de um convertido ao Protestantismo, João Ferreira de Almeida, e data de finais do séc. XVII (Novo Testamento, 1681) e meados do séc. XVIII (Antigo Testamento, 1738-1744); mas na realidade, a primeira Bíblia católica em Português deve-se ao Pe. António Pereira de Figueiredo e só foi impressa em finais do séc. XVIII (Novo Testamento, 1778-81; Antigo Testamento, 1783-90)! 9 qualquer consolidação política do dissenso, impedindo por assim dizer que os conteúdos implícitos de potenciais dissensos se tornassem explícitos: Scepticism, criticism and disbelief are not, of course, absent from oral societies but their expression tends to get rubbed out at each generation… There is no accumulation of non-conforming ideas. Attacks against the present political dispensation tend to take the form of rebellion aimed at reestablishing the old order, rather than reform, let alone revolution. In literate cultures the individual commentaries of philosophers and preachers are given permanent form which the widespread circulation of the printed word may more easily crystallize into conflicting ideologies… It is not until the printing press provides a regular mode of communication and exhortation that dissent comes into its own. Again, it is a case of the changes involved in the process of making the implicit explicit. 8 Não será necessário recordar a história da censura intelectual em Portugal e dos seus efeitos compressores sobre o pensamento, para usar a expressão de um clássico liberal, Silva Bastos (1926), nem o papel específico da Inquisição e das próprias autoridades políticas no apertado controlo da alfabetização e da circulação da palavra impressa, a começar, como dizia acima, pelos textos sagrados do catolicismo em língua portuguesa. 9 Igualmente significativo é o facto de a imprensa só ter chegado ao Brasil com a ida da corte portuguesa no início do séc. XIX. Até então, algumas tentativas conhecidas para fazer circular textos no Brasil – não propriamente impressos, mas sim gravados – foram severamente punidas. Este último aspecto faz parte do centralismo férreo exercido pelo Estado português sobre a Colónia e ilustra não só a importância que as autoridades atribuíam ao controlo da circulação da palavra impressa como também o papel da comunicação escrita nesse mesmo centralismo. 8 J. Goody, 1986, p. 122. Vale a pena ilustrar este aspecto do controlo sobre a circulação dos livros religiosos com o caso das Bíblias protestantes em castelhano, impressas em Inglaterra a fim de serem exportadas para a Península Ibérica e apreendidas em Lisboa pela Inquisição entre 1606 e 1611 (Marquilhas: pp. 177; 185). No que diz respeito à produção de livros, vale ainda recordar que, para além da censura regularmente exercida sobre editores e livreiros, as autoridades religiosas promoviam, ocasionalmente, o exame das bibliotecas particulares (idem: 184 passim), como sucedeu concretamente no bispado de Lamego em 1621 (ibid.: 192 passim). Estes pormenores são reveladores do carácter sistemático e metódico como o controlo sobre a produção e circulação da palavra impressa era feito em Portugal no Antigo Regime. 9 10 Para começar a fazer a história natural da iliteracia em Portugal, já existem, hoje em dia, alguns bons estudos históricos sobre a alfabetização e a respectiva quantificação (F. R. Silva 1986; R. Ramos 1988; J. P. Magalhães 1994; R. Marquilhas 1996). Desde já, é importante notar que, a partir do séc. XVIII e, sobretudo, do séc. XIX, a alfabetização se tornou, em Portugal também, dependente sobretudo de uma escolarização formal a cargo do Estado ou por este regulada. Paradoxalmente, a estatização do ensino contribuiu não só para fazer desaparecer as práticas informais de alfabetização, nomeadamente em meios sociais como o dos artesãos, mas também para desencadear um novo conflito larvar entre o Estado e “populações que, não sentindo necessidade de se alfabetizarem, [encaram] a escola como uma violência inútil” (Magalhães: 519; tema também tratado, a seu modo, por Ramos 1988). Outro sintoma do cisma entre as elites alfabetizadas e as massas iletradas é esse novo “factor de tensão entre estratos culturais devido ao preconceito dos analfabetos em relação aos que tresliam” (Marquilhas: 192), o qual, além de traduzir um mecanismo psico-social de redução da dissonância cognitiva, constitui um traço típico de regimes comunicacionais como o dessa alfabetização restrita que prevaleceu em Portugal até à segunda metade do séc. XX, ou seja, até ao momento em que a maioria da população permanecia excluída do sistema de escolarização (Cabral 2001). A própria fixação tardia da ortografia portuguesa (Marquilhas: 127) faz também parte desse carácter restrito da alfabetização. Aliás, a arbitrariedade ortográfica e mesmo gramatical tem analogias com a discriminação introduzida, nas escritas ideográficas, pelo número de caracteres conhecidos por cada escrevente, funcionando portanto não só como um marcador directo do lugar na hierarquia sóciocultural, mas também como um filtro suplementar no acesso à plena comunicação escrita. Em suma, trata-se de mais uma manifestação da literacia como forma de controlo social. Para concluir este rapidíssimo bosquejo história da iliteracia em Portugal, há que convocar o estudo decisivo de Jaime Reis sobre o analfabetismo no séc. XIX, quando não havia no país, oficialmente, mais de 20% a 25% de pessoas alfabetizadas. Aí procede o autor à metódica evacuação de todos os argumentos de índole 11 económica habitualmente invocados, em especial a falta de recursos do Estado, para explicar o enorme atraso da alfabetização de massas em Portugal, mesmo em comparação com os outros países católicos do Sul da Europa (J. Reis 1993). Assim, evacuados definitivamente esses argumentos, fica como explicação para os elevadíssimos índices de analfabetismo e de iliteracia funcional – verificados em Portugal não só no séc. XIX mas ainda no final do séc. XX (Benavente et al. 1996) – a manifesta falta de vontade das elites políticas em alfabetizarem as massas, em parte justificada pelo facto de que não haveria, entre nós, necessidade de promover a uniformização linguística. 10 Contudo, as explicações fornecidas por Jaime Reis, atribuindo a falta de empenhamento das elites na alfabetização de massas à ausência de “maiores tensões” étnicas, sociais, políticas ou militares no país (Reis 1993: 31-35, maxime parágrafo final), iludem o papel crucial que o analfabetismo generalizado seguramente desempenhou, ao longo do século XIX e mesmo mais tarde, na relativa apatia política das classes populares (Cabral 2001). Acoplada àquela falta de vontade política e legitimando-a de algum modo, terá funcionado uma simétrica falta de motivação das massas camponesas para a aprendizagem escolar, a qual remete, por seu turno, para a virtual irrelevância da comunicação escrita no quadro das estratégias económicas e sociais – nomeadamente dos grupos domésticos do campesinato pobre – que se encontram na base do familismo amoral. Dito isto, não obstante os efeitos discriminantes que os níveis de instrução exercem sobre a maior parte das representações, atitudes e comportamentos da actual população portuguesa, isso não se verifica para a ‘distância ao poder’, a qual atravessa de forma indiferenciada, como dissemos, a nossa sociedade. Daqui só se pode concluir que a chamada massificação do ensino verificada nas últimas décadas não exerceu – ainda? – sobre o sentimento de ‘distância ao poder’ os efeitos que dela se poderiam esperar. 10 Ver por ex., J. P. Magalhães sobre a ausência de dialectos em Portugal (1994: 520): “A ausência de dialectos fortemente arreigados e o seu não reconhecimento (sublinhado meu), favoreceram a inércia por parte das autoridades, que se traduz no não fomento de uma instrução efectiva e de uma escolarização por parte das populações, sobretudo rurais”. 12 Ideologia e prática do despotismo administrativo Outra importante mediação a explorar entre o sentimento de ‘distância ao poder’ e os quadros sócio-cognitivos correspondentes a configurações como a do familismo amoral é o carácter administrativo da dominação política exercida, ao longo da história, pelo Estado em Portugal. Mais do que qualquer outro instrumento ao seu dispor, inclusivé a violência física 11 , o autoritarismo recorrente do Estado português dá-se a conhecer pela administração pública. É através desta que as massas são, simultaneamente, integradas e discriminadas. Por outras palavras, seria erróneo ver as massas camponesas do passado remoto e recente como camadas excluídas do EstadoNação. O que ocorreu é que o seu processo de inclusão na nação – basicamente através da submissão aos procedimentos administrativos estatais – foi também o instrumento da sua discriminação. 12 Vale a pena, por isso, equacionar a noção de despotismo administrativo – uma forma de dominação preventivamente esvaziada de política e de contratualização, como aquela que Tocqueville atribuiu ao Estado francês, antes e depois da Revolução (1856/1964) – enquanto modalidade de subordinação popular à parafernália das normas e registos administrativos, ao mesmo tempo que a esmagadora maioria da população era excluída do acesso ao próprio instrumento da sua subordinação, a escrita. Este tipo de dominação ter-se-á tornado ainda mais evidente com a liberalização formal das instituições políticas, notadamente nas sociedades da Europa meridional sob a influência da Revolução Francesa e do Império napoleónico. Pensando na Itália de finais do séc. XVIII-inícios do séc. XIX, Adrian Lyttelton sublinha o facto de “a destruição da ‘sociedade de ordens’ não ter sido, inicialmente, realizada por fortes movimentos autóctones, mas ter-se apoiado quase exclusivamente na força da administração estatal”, concluindo na esteira de Tocqueville, que “isto favoreceu a persistência de um modelo absolutista nas relações entre o cidadão e a administração” (Lyttelton, 2000: 66). Não é impossível que o 11 Diego Palacios Cerezales iniciou, após as conclusões do seu O poder está na rua (Palacios 200?), o estudo sistemático do uso da violência física pelo Estado português e a sua pesquisa aponta, desde logo através do carácter tardio da organização policial, para níveis comparativamente baixos de repressão na Metrópole (e parece que também na colónia do Brasil), que só podem corresponder a níveis igualmente baixos de insubordinação e protesto. 12 Raymundo Faoro caracterizou magistralmente o carácter administrativo da dominação política portuguesa no Brasil n’Os donos do poder (1957; 1973). 13 Estado liberal português, e o brasileiro também (Faoro, 2001), se tenham encontrado perante o dilema do “comando impossível”, como lhe chama o historiador Raffaele Romanelli, em que se encontrou o Estado italiano, ou seja, “uma nova versão do dilema de forçar os homens a serem livres: o Estado liberal tinha de intervir para criar condições para o exercício da liberdade; porém, ao fazer isso, restringia a esfera de autonomia da sociedade civil, que a classe governante, sendo liberal, deveria proteger” (Lyttelton, 2000: 67). A articulação entre despotismo administrativo e iliteracia é, pois, evidente. Já Rita Marquilhas alude aos “efeitos mágico-simbólicos do escrito”, maxime o impresso, mobilizados pelas autoridades políticas, desde o século XVII pelo menos, na sua comunicação com as classes subordinadas (Marquilhas: 192). Porém, talvez nenhum estudo ilustre melhor o uso da literacia como forma de controlo e discriminação social do que o ensaio de Elisa Reis sobre a ‘opressão burocrática’ no Brasil contemporâneo (E. P. Reis 1999: 239-269). Aí cita a autora numerosos cidadãos anónimos como tendo solicitado expressamente – na correspondência enviada ao ministro Hélio Beltrão, por incitação pública deste, aquando do lançamento de um programa de desburocratização pela ditadura brasileira em 1979 – que a administração usasse “o português escrito da maneira que se fala” a fim de simplificar os procedimentos burocráticos. Segundo a autora, “quatro aspectos emergem claramente como noções bastante genéricas entre os correspondentes: a) o mito da ‘boa’ autoridade; b) a burocracia como ‘mal’ absoluto; c) o carisma da autoridade versus regras burocráticas; d) os ‘direitos’ como ‘favores’” (E.P. Reis: 250). Estes traços identificam exemplarmente as representações negativas que as massas iletradas tendem a ter da burocracia, acopladas a uma forte tentação carismática que acaba por legitimar, na realidade, o reverso do despotismo administrativo, ou seja, a dominação exercida através do carisma popular. Aplicados a Portugal, tais traços de negatividade e positividade simultâneas ajudam a entender, em boa parte, o processo de consolidação da ideologia administrativa que domina todo o pensamento político português desde finais do séc. XVIII, atravessando virtualmente o reformismo iluminista, o liberalismo e o 14 republicanismo. Esta ideologia viria a ter o seu apogeu, como é sabido, na década de Trinta com a ditadura do Estado Novo. Com efeito, o regime salazarista não fez mais, deste ponto de vista, do que codificar rigidamente as tendências latentes do Estado liberal no sentido daquilo a que um autor da época deu o nome de ‘ditadura administrativa’, em contraste directo com a breve ditadura carismática de Sidónio Pais (1917-18), que precedera de pouco o advento de Salazar ao poder. Muito antes, aliás, também Oliveira Martins já usara a mesma expressão, no Portugal Contemporâneo (1880), para caracterizar a governação de Costa Cabral, em finais da primeira metade do séc. XIX, por contraste com a agitação política – inorgânica, na visão dele – dos primeiros tempos do Estado liberal. Efectivamente, o exame do pensamento político português moderno revela que raramente as elites políticas se interrogaram acerca dos objectivos do poder (para quê?) ou em nome de quem exerciam ou se candidatavam a exercer esse poder (para quem?). Todo o seu esforço doutrinário está, na realidade, dirigido a uma única questão: como exercer um poder do qual essas elites parecem ser, de algum modo, “donas”? Subjacentes à ideologia administrativa das elites oligárquicas estão pois, simultaneamente, o temor à irrupção das massas na cena política e à emergência de eventuais lideranças carismáticas, maxime a convergência dos dois fenómenos. A forma estatal do despotismo administrativo ajuda, por seu turno, a perceber o fechamento da elite burocrática, no seio da qual se dilui a própria elite política e na qual são absorvidas, igualmente, as elites clerical e militar 13 , bem como a consolidação daquilo a que Joaquín Costa chamou, a pensar na Espanha de há cem anos, de “oligarquia e caciquismo”. Com efeito, a ausência de relações políticas horizontais que caracteriza o chamado familismo amoral aponta para a busca e o reforço, por parte de famílias como as do campesinato pobre, de relações verticais de intermediação e protecção para todos os aspectos que ultrapassam o domínio exclusivo do grupo doméstico e da economia familiar – desde o imposto, o voto e o serviço militar, até à obtenção de empregos assalariados, passando por todas as ocasiões da vida em que não é possível evitar o contacto com a administração. 13 A prosopografia destas elites foi feita exaustivamente para o momento mais ‘puro’ do nosso liberalismo, na segunda metade do séc. XIX, por Pedro Tavares de Almeida (1995). 15 Por seu turno, essas relações verticais configuram, necessariamente, o clientelismo como recurso assimétrico procurado por estas famílias junto dos “donos do poder” local e/ou nacional, trocando nomeadamente voto por protecção pessoal, o que contribui para explicar, aliás, a volatilidade de certos eleitorados subordinados em muitas democracias aparentemente consolidadas, como de resto Banfield observou no sul da Itália no final da década de Cinquenta (Banfield 1976: 48-56), sempre que há alternância no poder entre segmentos da oligarquia. Em Portugal, há tantos exemplos quantos se quiser para documentar este tipo de pseudo-volatilidade eleitoral desde a implantação do liberalismo até hoje. Tudo isto nos leva a revisitar rapidamente esse ‘familismo’ e a sua pretensa ‘amoralidade’. De resto, no entendimento que aqui faço, esta última não é mais do que a expressão prática e estratégica da necessidade em que se encontram os grupos domésticos mais desmunidos de recursos materiais e, sobretudo, de recursos cognitivos e sociais, de apelar a todos os meios ao seu alcance – lícitos ou menos lícitos perante a moralidade demo-liberal contemporânea – a fim de resistir e de se adaptar, enquanto unidades de produção e reprodução que se vêem a si mesmas como livres e autónomas, a um meio hostil cuja face mais repressiva é, precisamente, o despotismo administrativo. A própria ‘desconfiança’ que alegadamente caracteriza estas camadas sociais – e que, de facto, todos os inquéritos de opinião captam regularmente no Portugal de hoje – tem de algum modo origem no próprio Estado, que é o primeiro a “desconfiar” delas, como ocorre no exemplo caricatural, comum a Portugal e ao Brasil, da “prova de vida” que os cidadãos são, frequentemente, obrigados a fazer a fim de beneficiarem de direitos que lhes são fornecidos como ‘favores’ (E.P. Reis: 247)! A ideia que sustento é que o formalismo, a rigidez e a própria morosidade dos procedimentos administrativos não são, como os discursos oficiais querem fazer crer, meras ineficiências susceptíveis de desejáveis correcções. Pelo contrário, do ponto de vista político, são instrumentos deliberados de poder, do poder – e não só do poder do pequeno burocrata atrás de cada guichet, mas também dos ‘grandes burocratas’ sentados nas cadeiras dos andares superiores dos ministérios. O círculo do despotismo burocrático e do familismo amoral fecha-se sobre si próprio, numa prática inexorável, 16 quando as oligarquias partidárias preenchem os quadros da administração pública com os seus clientes, muitas vezes filhos ou netos de camponeses pobres, entretanto alfabetizados, em busca de emprego seguro. Nada é mais fácil de documentar ao longo da história da construção do Estado contemporâneo em Portugal, desde as dúzias de panfletos individuais solicitando empregos ou reparação de danos por perda de emprego após a conquista do poder pelos Liberais em 1834 até às sucessivas camadas de funcionários públicos recrutados pelos governos da nossa jovem democracia após o 25 de Abril, passando pela sempiterna controvérsia acerca da isenção dos chamados concursos públicos. 14 O clientelismo une, pois, o despotismo estatal e o familismo societal numa só relação reproduzida pelos partidos políticos modernos. O familismo como estratégia de resistência e adaptação A concluir, é necessário portanto sumariar em quatro pontos aquilo que convém entender por ‘familismo amoral’, a fim de evitar as conotações pejorativas que a expressão pode hoje revestir, ao ser isolada do debate provocado, nomeadamente em Itália, aquando do aparecimento do livro de Banfield há mais de quarenta anos. 15 Em primeiro lugar, o ‘familismo amoral’ é aqui recuperado como forma de identificar, no contexto de grupos domésticos rurais com escassos recursos sócio-culturais e 14 Abundantemente documentada na tese citada de P.T. Almeida sobre as elites liberais na 2.ª metade do séc. XIX. Para as formas recentes do clientelismo político-partidário, ver F. Farelo Lopes (1997). 15 O debate não teve lugar apenas em Itália e prosseguiu durante bastante tempo depois da publicação do livro de Banfield, o que mostra a sua relevância para além do circunstancialismo epocal e conceptual. Ver por exemplo vários dos ensaios publicados na colectânea de P. Birnbaum & J. Leca (1986), maxime F. Chazel, “Individualisme, mobilisation et action collective”. Ver também R. Putnam (1993?), cujo conceito de «capital social» é o exacto contrário do «familismo amoral», ou seja, a associação horizontal para efeitos colectivos versus a associação vertical para efeitos pessoais. 17 economia quasi-autárcica orientada à maximização do rendimento familiar indiviso 16 , esse conjunto de representações e práticas que favorece, no seu relacionamento externo, nomeadamente com o Estado e o mercado do trabalho, o estabelecimento de relações verticais assimétricas (dependência clientelar) em detrimento de relações horizontais organizadas e estáveis, nomeadamente a participação cívica, o associativismo e a mobilização colectiva, em suma, os dispositivos convencionais do exercício dos direitos de cidadania. Para dar apenas um exemplo, se é certo que, como escreve Elisa Reis (1998: 258) no seu estudo sobre as cartas enviadas pelos cidadãos brasileiros ao Programa de Desburocratização, “a correspondência é em si mesma uma actividade política”, projectando o correspondente num universo de relações públicas formalizadas, então é lícito tomar a baixíssima propensão dos Portugueses para escrever este tipo de cartas, não só como um sintoma do seu insuficiente manejo da palavra escrita, como também da posição de ‘distância ao poder’ em que se encontra, perante o despotismo administrativo, grande parte de uma população socializada no quadro familista. 17 Em segundo lugar, o ‘familismo amoral’ não designa aqui nem um ‘arcaísmo’ nem, muito menos, uma ‘patologia psico-social’. De resto, o próprio Banfield teve o cuidado de se demarcar dessas ideias então muito propagadas – estávamos na Itália meridional dos anos Cinquenta – até entre grandes meridionalistas italianos como Carlo Levi, o autor do célebre Cristo si è fermato ad Eboli (1947). É assim que Banfield adopta, numa linguagem muito diversa da que utilizaríamos hoje, uma abordagem na realidade vizinha da “escolha racional”, antecipando nomeadamente a 16 Basicamente, na linha da organização económica da família camponesa, segundo a proposta clássica e inultrapassada do neo-populista russo A. V. Chayanov (1925). No desenvolvimento sociológico da teoria económica de Chayanov, Jerzy Tepicht (1973), caracterizou a organização social camponesa como a unidade estratégica entre o ‘colectivismo interno’ e o ‘individualismo externo’ do grupo doméstico, constituindo o primeiro a base material do ‘patriarcalismo’ que caracteriza, por seu turno, a família camponesa e do qual o filme Padre Padrone, dos irmãos Taviani, forneceu uma admirável representação na Europa meridional. Todos estes elementos conferem ao ‘familismo amoral’ de Banfield um sentido – e um conteúdo – que ultrapassam a mera representação espontânea. 17 Apenas 3% revelaram, no nosso inquérito de 1997, ter alguma vez escrito uma carta a um jornal denunciando qualquer situação da qual a pessoa discordaria! Este exemplo flagrante pode ser replicado, em Portugal, com tantos casos como o da baixa percentagem de queixas apresentadas à Provedoria de Justiça (ombudsman) criada após o 25 de Abril, quando esta tem uma taxa de sucesso normal, em termos internacionais, na defesa dos cidadãos que a ela recorrem, ou como o fraco número de reclamações apresentadas às principais empresas de serviços públicos (electricidade, telefones e correios), segundo um inquérito realizado há alguns anos atrás pelo Instituto do Consumidor. 18 teoria da acção colectiva de Mancur Olson, como assinala François Chazel no artigo citado: A teoria segundo a qual um fatalismo desconsolado impediria o meridional de agir não explica, obviamente, as escolhas que ele faz quando de facto age. Nem explica, tão pouco, porque razão, quando uma acção individual se apresenta como necessária, nem o desespero nem o fatalismo o impedem de a realizar… Parece-nos possível afirmar que o pessimismo do meridional emerge quando se trata de iniciativas de base colectiva mas não de acções individuais: pode dizer-se, portanto, que o seu comportamento é realista, mas não necessariamente fatalista. 18 No que diz respeito a Portugal, a apatia política do campesinato do Norte e Centro – desde a revolta da Maria da Fonte (1846) até ao Verão Quente de 1975, quando se revoltou contra o novo poder instituído em Lisboa – é reconhecida por todos os autores, sem prejuízo de fortes protestos ocasionais como os registados, durante a 2.ª Guerra Mundial, contra a falta de subsistências e a carestia da vida (ver resumo em Cabral 1999). No que respeita à Itália, no decurso do aceso e prolongado debate que o seu livro desencadeou, Banfield recebeu inúmeras críticas e comentários, entre os quais ressaltam os de Alessandro Pizzorno. Recusando, tal como eu, a tentação de Banfield para colocar o ethos familista como a variável independente daquele sistema social, o contributo de Pizzorno tem a vantagem não só de reconhecer a realidade do fenómeno da escassa ou nula propensão daqueles camponeses pobres para acção colectiva, como sobretudo a de o articular com o papel do despotismo administrativo enquanto forma de dominação política inerentemente dissuasória das modalidades demo-liberais de mobilização cívica e política. Por isso é que, nas palavras de Pizzorno: “Non c’è niente da fare a Montegrano”! 19 Nesta mesma linha de raciocínio, também Elisa Reis alude à falta de resposta da administração brasileira às reclamações dos utentes como uma forma de dissuasão 18 E. Banfield 1976: 57 passim, maxime 63. In Banfield 1976, pp. 240-241, onde A. Pizzorno alude explicitamente ao carácter “autoritário” de uma administração de tipo “pré-napoleónico”. 19 19 que muitos reclamantes potenciais interiorizam antecipadamente. Voltando a Portugal, no meu recente inquérito sobre as atitudes e comportamentos da população portuguesa perante o Sistema Nacional de Saúde, cerca de 20% dos inquiridos declararam nunca ter apresentado qualquer reclamação “por ser inútil” e dos escassos 5% que apresentaram reclamações, dois terços declararam que o resultado da reclamação foi insatisfatório (Cabral 2002: 238-241) Em terceiro lugar, o familismo amoral está longe de ser, no entendimento que aqui é feito dessa noção, uma pura negatividade. Conforme o próprio Banfield reconhece, bem como Pizzorno, o alegado amoralismo do grupo doméstico acaba por funcionar como um recurso estratégico – de que o clientelismo faz parte integrante – não só no plano da protecção pessoal e familiar, como também no plano das relações com o sistema político. É excelente, aliás, a análise que Banfield faz das negociações entre os membros dos grupos domésticos, enquanto eleitores, e a oferta partidária tanto a nível local como nacional. Não deixa de ser significativo, também, que alguém tão insuspeito como Pizzorno inclua o clientelismo – e a própria Mafia! – entre as formas de “solidariedade intermédia” ao dispor do grupo doméstico perante “a ordem imposta pelo Estado e a Igreja” (Pizzorno: 248). A mesma positividade, que a estratégia familista adquire na manipulação personalizada da protecção clientelar e do próprio sistema político-partidário, por mais distorcidos que sejam os seus efeitos agregados, é porventura mais decisiva ainda no plano económico, quando se trata de economias agrícolas familiares cuja orientação autárcica se explica pelo facto de a própria economia regional e/ou nacional estar muito pouco inserida nos mercados mundiais. Ainda assim, como Banfield notou, o controlo da natalidade e o investimento na escolarização dos filhos surgiam já, tipicamente, como a principal estratégia económica – racional mas individual, no sentido não-liberal da família qua indivíduo – com vista ao “avanço na sociedade” (Banfield 1976: 63). Todos estes traços estão abundantemente presentes nos numerosos estudos sócio-económicos sobre o campesinato pobre do Norte e Centro de Portugal, desde o clássico de Basílio Teles, A carestia da vida nos campos, no início do séc. XX. 20 Finalmente, em quarto lugar, o familismo amoral não deve ser concebido, como tende a acontecer tanto com Banfield quanto na recuperação que dele fez Elisa Reis, como pertencendo exclusivamente à ordem da escassez absoluta de recursos económicos, mas igualmente à da privação relativa de recursos simbólicos, em especial os códigos de leitura e escrita, que dão acesso aos arcanos do poder perante as sucessivas formas do despotismo administrativo do Estado. Com efeito, o familismo não é incompatível com estratégias bem sucedidas de melhoria individual das condições económicas dos grupos domésticos rurais (ou de origem rural, sendo aliás a emigração um dos recursos mais utilizados nessas estratégias). Desde o meu primeiro inquérito sobre as atitudes da população portuguesa perante o crescimento económico, em 1991, aquilo que saltou à vista não foi tanto a privação económica nem o sentimento de falta de recompensas materiais para os esforços individuais de melhoria, como sobretudo a profunda estratificação dos recursos simbólicos, desde a instrução à acção colectiva e à influência política (Cabral 1997: 43-78). Como escrevi na altura, os recursos mais desigualmente distribuídos na sociedade portuguesa contemporânea não são tanto os bens económicos como, sobretudo, o poder social e político. Assim, pode-se concluir que o incremento da equidade das oportunidades e recompensas económicas não se traduz, automaticamente, num acesso mais equitativo ao poder simbólico, continuando muitos dos efeitos políticos da socialização familista a fazer sentir-se para além das condições de escassez material que estiveram, porventura, na sua origem. Inversamente, o sistema político-partidário pode conhecer, como aconteceu em Portugal a partir de 1974, uma liberalização genuína, sem que todavia as elites sociais percam o monopólio virtual da representação, o que era previsível, mas nem sequer percam o controlo da participação e da acção colectiva, preservando assim a sua forma histórica de dominação autoritária e excludente, o que já era menos de esperar. Conclusão Sem ter a pretensão de esgotar a problemática da ‘distância ao poder’ sentida pela maioria da população portuguesa, parece lícito ver nela o resultado de uma cadeia de efeitos compostos, cuja matriz pode ser reconduzida a esse complexo de representações, atitudes e comportamentos perante o mundo da política configurado pela antiga noção, aqui reconstruída, do familismo amoral enquanto forma de 21 articulação entre sociedade e Estado, em tudo contrária a qualquer visão idealizada da sociedade civil real. Seja como for, mais importante do que o valor intrínseco de qualquer das expressões é a identificação de dois grandes nexos históricos de longa duração, que se terão constituído como elos mediadores entre o ‘familismo amoral’ e a ‘distância ao poder’. Com efeito, parece lícito apontar, entre outros factores por identificar, para a literacia enquanto forma de controlo social e para o despotismo administrativo do Estado português moderno como dois nexos estruturantes das relações entre as elites de poder e as classes subordinadas que têm contribuído para reproduzir a falta de confiança e de participação da maioria da população nas instituições representativas. Articuladas entre si, estas duas formas de relacionamento comunicacional e político entre elites e massas terão assim gerado uma forma duradoura de dominação autoritária, que nem a liberalização do sistema político-partidário, nem a massificação do ensino, nem tão pouco o crescimento económico e a mobilidade social, terão sido suficientes, no último quarto de século, para erradicar das representações e práticas da maioria da população portuguesa um sentimento generalizado de ‘distância ao poder’. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, João Ferreira de (1986), Classes sociais nos campos: camponeses parciais numa região do Noroeste, Instituto de Ciências Sociais, Lisboa. ALMEIDA, Pedro Tavares de (1991), Eleições e caciquismo no Portugal oitocentista, 18681890, Difel, Lisboa. ---- (1995), A construção do estado liberal: elite política e burocracia na Regeneração, Dissertação de Doutoramento, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa. BANFIELD, Edward (1958), The moral basis of a backward society, The Free Press, Glencoe, Ill.; aqui utilizarei a edição italiana organizada por Domenico De Masi e comentada por vários outros autores (Le basi morali di una società arretrata, Il Mulino, Bologna, 1976). BASTOS, Cristiana (1993), Os montes do Nordeste Algarvio, Edições Cosmos, Lisboa. BASTOS, José Timóteo da Silva (1926), História da censura intelectual em Portugal. Ensaio sobre a compressão do pensamento português, Imprensa da Universidade, Coimbra. BENAVENTE, Ana et alli (1996), A literacia em Portugal: resultados de uma pesquisa extensiva e monográfica, Fundação Calouste Gulbenkian / Instituto de Ciências Sociais, Lisboa. 22 BIRNBAUM, Pierre & LECA, Jean, orgs. (1986), Sur l’individualisme, Presses de la Fondation Nationale des Sciences Politiques, Paris BURNS, N.; SCHLOZMAN, K. L. & VERBA, S. (2001), The private roots of public action. Gender, Equality and political participation, Harvard University Press, Cambridge, Mass.. CABRAL, João de Pina (1986), Sons of Adam, Daughters of Eve, Clarendon Press, Oxford. CABRAL, Manuel Villaverde (1982), Portuguese Fascism in Comparative Perspective, Unpublished paper presented at the IPSA Congress, Rio de Janeiro. ---- (1983a), A economia subterrânea vem ao de cima: estratégias da população rural perante a industrialização e a urbanização, Análise Social, # 76, Instituto de Ciências Sociais, Lisboa. ---- (1983b), L'Evolution du Monde Rural Portugais au XXe. Siècle: L'Etat de la Question”, in Pasquale Villani (a cura di), Trasformazioni delle Società Rurali nei Paesi dell'Europa Occidentale e Mediterranea, Guida, Nápoles. ---- (1986), Etat et Paysannerie: Politiques Agricoles et Stratégies Paysannes au Portugal depuis la Seconde Guerre Mondiale, Sociologia Ruralis. Journal of the European Society for Rural Sociology, vol. XXVI, # 1, Van Gorcum, Aachen. ---- (1991), Pluriactivité et Stratégies Paysannes d'Abandon de l'Agriculture: deux exemples, in Maurice Godelier (sous la direction de), Transitions et Subordinations au Capitalisme, Editions de la Maison des Sciences de l’Homme, Paris. ---- (1997), Cidadania Política e Equidade Social em Portugal, Celta, Oeiras. ---- (1999), Classes Sociais em Portugal, 1930-1970, in A. Barreto e Mª. F. Mónica (orgs.), Dicionário de História de Portugal – Suplemento, Livraria Figueirinhas, Porto. ---- (1998), Mobilidade Social e Atitudes de Classe em Portugal, Análise Social, vol. XXIII, # 146-147, ICS, Lisboa, pp. 381-414. ---- (2000), O exercício da cidadania política em Portugal, in M.V. Cabral, Jorge Vala & João Freire (orgs.), Trabalho e Cidadania. Inquérito Permanente às Atitudes Sociais dos Portugueses, Imprensa de Ciências Sociais, Lisboa, pp. 123-159. ---- (2001), Espaços e temporalidades sociais da educação em Portugal, in A. Nóvoa (org.), Espaços de Educação. Tempos de Formação, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, pp. 47-67. ---- (2002), Saúde e Doença em Portugal, Imprensa de Ciências Sociais, Lisboa. ---- (2003), O exercício da cidadania política em perspectiva histórica (Portugal e Brasil), Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 18, nº. 51, pp. 31-60. ---- (2004), Confiança, mobilização e representação política em Portugal, in M. Costa Lobo, P. C. Magalhães e A. Freire (orgs.), Portugal a Votos – as eleições legislativas de 2002, Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais. CHAZEL, François (1986), Individualisme, mobilisation et action collective, P. BIRNBAUM & J. LECA (orgs.), Sur l’individualisme, Presses de le FNSP, Paris, pp. 244-268. 23 CUTILEIRO, José (1977), Ricos e Pobres no Alentejo, Ed. Sá da Costa, Lisboa ESTANQUE, Elísio & MENDES, José Manuel (1997), Classes e desigualdades sociais em Portugal: um estudo comparativo, Afrontamento, Porto. FAORO, Raymundo (2001 [1957]), Os donos do poder. Formação do patronato político brasileiro, Editora Globo, S. Paulo, 3.ª edição revista. GAMBETTA, Diego (2000), Mafia: the price of distrust, in D. GAMBETTA (org.), Trust: Making and breaking cooperative relations, Oxford University Press, pp. 158-175. GAMEIRO, Fernando Luís (1997), Entre a Escola e a Lavoura. O Ensino e a Educação no Alentejo, 1850-1910, Instituto de Inovação Educacional, Lisboa. GOODY, Jack (1986), The Logic of Writing and the Organization of Society, Cambridge University Press. ---- (1987), The Interface Between the Written and the Oral, Cambridge University Press. HOFSTEDE, Geert (1984), Culture’s Consequences: International Differences in Workrelated Values, Sage, Londres. LOPES, Fernando Farelo (1997), Partisanship and political clientelism in Portugal, South European Society & Politics, Londres: Frank Cass, # 3, pp. 27-51. LUCENA, Manuel de (1981), Uma leitura americana do corporativismo português, Análise Social, Lisboa: ICS, vol. XVII, # 66, pp. 415-434. LYTTELTON, Adrian (2000), Liberalism and civil society in Italy: from hegemony to mediation, in BERMEO, Nancy & Philip NORD (orgs.), Civil society before democracy. Lessons from the 19th century, editor/ local, pp. 61-81. MAGALHÃES, Justino Pereira (1994), Ler e Escrever no Mundo Rural do Antigo Regime. Um contributo para a história da alfabetização e da escolarização em Portugal, Universidade do Minho, Braga. MARQUILHAS, Rita (1996), A Faculdade das Letras. Leitura e Escrita em Portugal no século XVII, Dissertação de Doutoramento, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa. MARTINS, Hermínio (1998), Classe, status e poder e outros ensaios sobre o Portugal contemporâneo, Instituto de Ciências Sociais, Lisboa. O'NEILL, Brian J. (1984), Proprietários, lavradores e jornaleiros: desigualdade social numa aldeia transmontana, 1870-1978, Publicações D. Quixote, Lisboa. PALACIOS CEREZALES, Diego (200?), O poder caiu na rua…, Imprensa de Ciências Sociais, Lisboa. PINTO, José Madureira (1985), Estruturas sociais e práticas simbólico-ideológicas nos campos: elementos de teoria e de pesquisa empírica, Afrontamento, Porto. PIZZORNO, Alessandro (1976), Familismo amorale e marginalità storica ovvero perchè non c’è niente da fare a Montegrano, in E. BANFIELD (1976: 237-252). 24 RAMOS, Rui (1988), Culturas da alfabetização e culturas do analfabetismo em Portugal: uma introdução à história da alfabetização no Portugal contemporâneo, Análise Social, # 103/104, pp.1067-1145. RAWLS, John (1971), A Theory of Justice, Harvard University Press. REIS, Elisa Pereira (1998), Processos e escolhas. Estudos de sociologia política, Livraria Contra Capa, Rio de Janeiro. REIS, Jaime (1993), O analfabetismo em Portugal no século XIX: uma interpretação, in J. REIS, O atraso económico português, 1850-1930, Colecção Análise Social, Imprensa Nacional, Lisboa, pp. 227-253. ROBINSON, Richard (1979), Contemporary Portugal. A History, George Allen & Unwin, Londres. SCHMITTER, Philippe C. (1999), Portugal do autoritarismo à democracia, Instituto de Ciências Sociais, Lisboa. SILVA, Manuel Carlos (1998), Resistir e Adaptar-se: constrangimentos y estratégias camponesas no Noroeste de Portugal, Afrontamento, Porto. SILVA, Francisco Ribeiro da Silva (1986), A alfabetização no Antigo Regime. O caso do Porto e da sua Região, 1580-1650, Revista da Faculdade de Letras, Universidade do Porto, 2.ª série, vol. 3, pp. 101-163. SOBRAL, José Manuel (1999), Trajectos: o presente e o passado na vida de uma freguesia da Beira, Instituto de Ciências Sociais, Lisboa. TEPICHT, Jerzy (1973), Marxisme et agriculture : le paysan polonais, Editions Armand Colin, Paris. TOCQUEVILLE, Alexis de (1856/1967), L’Ancien Régime et la Révolution - Livre II, Edição organizada por J.-P. Mayer, Gallimard, Paris. WALL, Karin (1998), Famílias no campo: passado e presente em duas freguesias do Baixo Minho, Publicaçöes Dom Quixote, Lisboa. WIARDA, Howard J. (1977), Corporatism and Development. Experience, The University of Massachusetts Press, Amherst. The Portuguese 25
Documentos relacionados
O exercício da cidadania política
Vou assim concentrar-me na medição do exercício efetivo dos direitos conferidos aos cidadãos em qualquer regime democrático consolidado, como é hoje o caso do regime português do ponto de vista con...
Leia mais