TCC - Physiovet

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TCC - Physiovet
1
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
APRESENTADO POR CAIO RIBEIRO COUTINHO
COMO REQUISITO PARCIAL PARA A OBTENÇÃO
DO TÍTULO DE LICENCIADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
UNESP – RIO CLARO
2001
2
INTRODUÇÃO
A Educação Física no contexto escolar trata de um conteúdo chamado “cultura
corporal” da qual faz parte toda a amplitude de manifestações culturais, como esportes,
jogos e lutas, além de conteúdos chamados “conhecimentos sobre o próprio corpo”, o qual
trata de conhecimentos anatômicos, fisiológicos, biomecânicos e bioquímicos do corpo
humano.1
Na escola, o que se deve buscar é uma reflexão sobre a cultura corporal enquanto
formas de representações do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história,
exteriorizadas tanto pela expressão corporal, quanto pelos jogos, danças, lutas, exercícios
ginásticos etc. Estas podem ser consideradas como formas de representação simbólica de
realidades vividas pelo homem, sendo historicamente criadas e desenvolvidas
culturalmente.
A postura, como forma de expressão corporal é um tema a ser desenvolvido nas
aulas de Educação Física. De acordo com BARBANTI, postura é a “posição do corpo, com
referência particular a retidão das costas quando em pé ou sentado, ou no posicionamento
dos membros. A postura corporal é mantida principalmente por contrações isométricas da
musculatura de suporte. Uma postura inadequada pode levar a várias desordens musculares
ou esqueléticas”.2 Para FERREIRA, a postura é entendida como a “posição do corpo ou de
uma parte dele”3, resultado de várias forças que atuam sobre ele, como as forças musculares
e da gravidade.
Podemos perceber pelas definições acima que a postura é definida, no primeiro
caso, por um profissional da área da Educação Física pautado num ponto de vista
biomecânico e fisiológico, sendo que sua principal preocupação parece ser com a saúde do
indivíduo, em especial, com as desordens musculares e esqueléticas, enquanto que, no
segundo caso, a postura é entendida como a interação de várias forças.
1
Cf. PIRES, Célia Maria Carolino & SOARES, Maria Tereza Perez.Parâmetros Curriculares NacionaisEducação Física (5ª a 8ª séries), [199-], p. 68-70.
2
BARBANTI, V. J .Dicionário de Educação Física e Esporte. São Paulo: Manole, 1994, p. 230.
3
FERREIRA, A. B. H., Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1986, p. 1373.
3
Não podemos ignorar, no entanto, que existem outras forma de se pensar a postura,
as quais estão, por exemplo, ligadas à expressividade do indivíduo. É possível encontrar
inclusive “guias” para que se entenda o caráter do indivíduo a partir de sua postura, de suas
formas corporais.4 Outros especulam sobre o modo como o indivíduo age e as posturas que
assume para analisarem e entenderem suas intenções, mostrando que a postura pode ter um
entendimento mais amplo.5 Esses “guias” e outras formas de pensar esse tema ilustram que
a postura nem sempre é entendida da mesma forma.
Além dos fatores biomecânicos é preciso que se entenda a postura de uma maneira
mais ampla, interagindo-a com fatores culturais e emocionais, como mostram os PCNs
(Parâmetros Curriculares Nacionais) e alguns autores como MEDINA, que enfatiza que o
corpo humano não deve ser tratado de forma mecânica, sendo necessário que se entenda o
ser humano em sua totalidade, como um ser total e indivisível e não como um amontoado
de músculos e ossos, como uma “máquina”. 6
Amplamente discutido, este assunto evidencia, que as causas ou determinantes da
postura devem ser entendidos como fatores mecânicos ou gravitacionais, emocionais e,
também, políticos e sociais.
Para FREIRE, a “questão da postura corporal não se resume a um jeito de andar ou
sentar, mas a um jeito de viver”.7 Outros, entretanto, ressaltando um caráter histórico no
trabalho com a postura na escola, enfatizam que deve ser demonstrado aos alunos que o
homem primitivo não tinha a mesma postura que o homem de hoje, sendo aquele
quadrúpede e este bípede, sendo que esta passagem se deu em razão de necessidades
impostas pela natureza e superadas pelo homem. Assim, essa conquista e produção humana
transformou-se em um patrimônio cultural da humanidade, sendo que todos os homens se
apropriaram dela e a incorporaram a seu comportamento.8
4
Veja por exemplo KURTZ, Ron & PRESTERA, Hector. O corpo revela: um guia para leitura corporal.
Tradução de Maria Aparecida Barros Libanio. 2. ed. São Paulo: Summus, 1989, ou KELEMAN, Stanley.
Anatomia emocional. Tradução de Myrthes Suplicy Vieira. 2. ed. São Paulo: Summus, 1992.
5
WEIL, Pierre & TOMPAKOW, Roland. O corpo fala. 38. ed. Petropólis: Vozes, 1995.
6
MEDINA, J. P. S., A Educação Física cuida do corpo... e “mente”. 8. ed. Campinas: Papirus, 1989, p. 41-2.
7
FREIRE, João Batista. Corpo e sociedade. In: BRASIL. Ministério da Educação e do desporto. Postura
corporal: integração dos fatores culturais e sociais aos fatores biológicos. Brasília, DF, 1994, p. 16.
8
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1993, p. 38.
4
Apesar de opiniões diferentes a respeito do tema, temos como pressuposto que, de
forma geral, ainda não foi dada a atenção necessária às influências emocionais sobre a
postura. É nesse sentido que o objeto de estudo desse trabalho é a postura e a forma como
esta interage com as emoções ou, mais amplamente, como ocorre a interação entre o
psíquico e o somático. De forma geral, o trabalho pretende questionar, através de uma
revisão de literatura, as formas como a postura tem sido tratada na Educação Física,
procurando obter uma visão mais global, ainda que o principal foco seja sobre a questão
emocional. Pretende-se relacionar a postura a aspectos mais amplos da vida humana,
procurando entendê-lá de diversas formas, sem ignorar o fato de que um desvio na coluna
vertebral, como por exemplo, um achatamento ou acentuação de suas curvaturas pode
causar solicitações funcionais prejudiciais, além do que, podem evidenciar aspectos
emocionais.9
Na realidade, a idéia de que existiriam relações entre corpo e mente, ou entre
psíquico e somático, remonta a antigüidade. Em 400 a.C., na Grécia, HIPÓCRATES já
procurava pesquisar as características da personalidade e hábitos de vida de seus pacientes,
já que acreditava que as doenças estavam ligadas a fatores emocionais. No oriente, a
medicina chinesa descobriu um tipo de energia vital que flui no nosso corpo e acompanha
os processos fisiológicos e emocionais, sendo que as doenças envolveriam perturbações
neste fluxo de energia.10
Outro autor que retomou esta discussão, razão pela qual será o principal referencial
teórico desse trabalho, é Wilhelm REICH — ainda que outros sejam mencionados — cuja
obra despertou interesse especial pela forma de considerar as relações entre o psíquico e o
somático e por transpor algumas idéias para um campo mais amplo, vendo na forma como
se organiza a sociedade a fonte de diversos problemas e patologias, ressaltando a
importância do uso do corpo na reprodução estrutural da ordem social. Um exemplo que o
autor expõe é a atitude postural militar, com pescoço rígido, peito para fora, abdômen para
dentro, próprios de uma expressão corporal rígida. De acordo com REICH,
9
AMADIO, Alberto Carlos (Coord.) & DUARTE, Marcos (Coord.) Fundamentos biomecânicos para a
análise do movimento. São Paulo: Laboratório de Biomecânica- EEFUSP, 1996, p.106.
10
Cf. TROTTA, Ernani Eduardo. Wilhelm Reich e a psicossomática. In: MALUF JÚNIOR, Nicolau (Org.).
Reich: o corpo e a clínica. São Paulo: Summus, 2000, pg. 106.
5
ensinar o povo a assumir uma atitude rígida e não-natural é um dos meios
mais essenciais usados por um sistema social ditatorial para produzir, com a
perda da vontade, organismos que funcionem automaticamente. Esse tipo de
educação não se restringe aos indivíduos; é um problema que concerne ao
âmago da estrutura e da formação do caráter do homem moderno. Afeta
grandes círculos culturais, e destrói a alegria de viver e a capacidade para a
felicidade em milhões sobre milhões de homens e mulheres. Assim, vemos
uma única linha que se estende na prática infantil de prender a respiração
para não precisar masturbar-se, até o bloqueio muscular dos nossos
pacientes, até a rígida posição dos militaristas, e até as técnicas artificiais
destrutivas de auto-controle (sic), de círculos culturais inteiros. 11
Podemos, atualmente, perceber influências de REICH na área da Educação Física,
sobretudo nas chamadas práticas corporais alternativas. Essas práticas pretendem alcançar
através de abordagens corporais, algo mais do que o corpo: o psíquico do indivíduo. De
acordo com MATTHIESEN, essas práticas, muitas vezes, se apropriam das teorias de
REICH, reconhecendo nele um precursor.12
Pretende-se explorar as idéias de REICH, para que se possa entender de que forma
essas práticas, cada vez mais valorizadas no âmbito da Educação Física, a têm influenciado.
Mas desde já, diríamos que essas atividades devem ser valorizadas, já que privilegiam uma
melhor consciência corporal e autoconhecimento. No entanto, algumas delas são
apresentadas como uma solução para todos os males, excluindo fatores de ordem social,
influências consideradas essenciais por REICH, e certamente essenciais para o
entendimento da postura e sua relação com as emoções.
Este trabalho tem início com a apresentação de uma visão biomecânica sobre a
postura, embora sem procurar aprofundar nos detalhes técnicos, mas valorizando sua
compreensão sobre os “defeitos posturais” e suas causas, tendo em vista que a idéia de que
uma “boa postura” é considerada uma questão de saúde e é bastante valorizada na
Educação Física. Procuraremos, portanto, apresentar algumas formas de correções ainda
existentes e praticadas nos dias de hoje, mostrando como algumas podem estar
11
REICH, Wilhelm. A função do orgasmo: problemas econômico-sexuais da energia biológica. Tradução de
Maria da Glória Novak. 17. ed. São Paulo: Brasiliense, 1992, p. 296-7.
12
Cf. MATTHIESEN, Sara Quenzer. Teorias de Educação do corpo: de Wilhelm Reich às práticas corporais
alternativas. Filosofia, sociedade e educação, Uberlândia, ano 1, n. 1, p. 153- 162, 1997.
6
relacionadas a um controle social, sendo praticadas com o intuito de tornar o corpo humano
mais “útil”, mais eficiente e controlado.
Por outro lado, procuraremos apresentar na seqüência do trabalho, duas práticas
corporais que tratam do problema da postura de modo diferenciado, como algo capaz de
conduzir a transformações psíquicas e somáticas. Ou seja, de forma ampla exploram a idéia
de que a melhoria “física” da postura conduziria a melhoras emocionais.
Práticas como essas, denominadas práticas corporais alternativas, se encontram no
âmbito da Educação Física e apresentam uma forma diferenciada de concepção do ser
humano, valorizando o corpo e o movimento. Devem, portanto, também merecer a atenção
de pesquisadores da área da Educação Física, bem como dos alunos, para que obtenham
uma visão mais integrada do ser humano e consequentemente, tenham, também uma
concepção de movimento mais abrangente. Como todas as práticas, essas devem ser
acompanhadas de reflexões e críticas, buscando-se um entendimento de ser humano
completo e complexo.
Por fim pretendemos apresentar algumas teorias de Wilhelm REICH, contando parte
de sua história, por considerá-la importante para que se entenda suas idéias, principalmente
sobre o movimento enquanto expressão humana, intimamente ligado à postura, suas
compreensões sobre o organismo humano e o entendimento do ser humano como algo
unitário e inseparável, sem distinção entre corpo e mente ou psíquico e somático e a relação
existente entre a repressão do corpo, das emoções e suas influências sobre a postura.
7
CAPÍTULO I
A POSTURA: DEFINIÇÕES E “DEFEITOS” MAIS COMUNS
De acordo com MELLO, a postura ideal é um conceito criado para que se tenha um
referencial para avaliar a diversidade de padrões posturais existentes. A postura ideal é
aquela na qual “ao se passar um fio de prumo, real ou imaginário, na frente do corpo,
passando pelo nariz, apêndice xifóide, umbigo e entre os pés, divide-o em duas metades
absolutamente simétricas”. 13 Lateralmente, o fio passará pelo pavilhão auricular, centro do
ombro, meio da articulação coxofemoral, joelho e à frente do maléolo externo. A boa
postura oferece “somaticamente uma atitude ereta, equilibrada, fácil e econômica, leve e
natural; os movimentos são executados com boa amplitude articular, com trajetória
econômica, com ritmo e expressividade apropriados, coordenados e descontraídos”.
14
O
mesmo autor define que, psiquicamente, o indivíduo que apresenta boa postura deverá ter
muita confiança em si, aspectos de pensamento positivo, transmitindo a aparência de um
vigor inesgotável. Talvez esta compreensão já traga em si a idéia de que existiriam relações
entre a “boa postura” e as emoções, idéia bastante explorada no decorrer do nosso trabalho.
De acordo com RASH & BURKE, a avaliação de uma boa postura é feita, muitas
vezes, de maneira arbitrária, já que somente o tipo muscular determina a postura ideal. Não
se pode esquecer que a postura não é algo exterior ao indivíduo, e sim parte inseparável
dele, sendo portanto uma questão individual.15 Cabe ressaltar que é impossível medir todas
as influências a que um indivíduo está submetido no seu dia a dia, as quais certamente
interferem em sua postura.
A postura ereta, de acordo com os autores, não é a mais eficiente. Para se ter uma
idéia, a postura “militar” requer 20% a mais de energia do que a postura relaxada. Além
13
MELLO, Paulo Roberto Barcellos de. Introdução a ginástica escolar especial. São Paulo: Manole, 1986.
Ibidem, p. 40.
15
Cf. RASH, Philip J. & BURKE, Roger K. Cinesiologia e Anatomia aplicada: A ciência do movimento
humano. Tradução de Olavo Pires de Camargo e Flávio Pires de Camargo. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 1977, p.429.
14
8
disso, os autores explicitam que não há nenhuma evidência de que a correção de “defeitos”
posturais tragam benefícios fisiológicos.16
Mesmo com aparelhos científicos para a medição gráfica da postura que vêm sendo
desenvolvidos nos últimos anos, RASH & BURKE explicam que há dificuldades na análise
dos significados das informações deles provenientes, as quais estão sujeitas à suposições
subjetivas e arbitrárias do observador.
17
Mesmo assim, a “má postura” existiria e teria as
seguintes causas:
Traumatismo: acontece quando um osso, ligamento ou músculo é lesado e tende a
debilitar a sustentação nesse ponto e desequilibrar a estrutura esquelética do indivíduo.
Durante o tempo em que persistir essa condição, a postura “perfeita” será, de acordo com
os autores, impossível.
Doença: algumas debilitam os ossos ou os músculos, ou limitam a força ou a
liberdade de ação das articulações, dificultando o domínio da postura com a mesma
intensidade dos traumatismos.
Hábito: o hábito da postura é adquirido, muitas vezes, de uma forma inconsciente.
No caso de um mau hábito de postura, os segmentos corporais são mantidos desalinhados
por um longo tempo, com determinadas partes suportando um peso excessivo em relação a
outras, com certos músculos se alongando e seus antagonistas se encurtando, de forma que
a postura “defeituosa” parece natural para o indivíduo, enquanto a postura correta lhe
parece ser estranha. Os hábitos defeituosos de postura podem surgir também devido a
traumatismo ou doenças.
Fraqueza: a postura ereta não pode ser mantida sem nenhum gasto de energia
necessitando, portanto, de força e resistência. A fraqueza muscular e a falta de vitalidade
seriam reponsáveis em predispor o indivíduo a adotar uma posição de descanso com a
finalidade de conservar energia.
Hereditariedade: a cifose pode ser hereditária e é possível que outros “defeitos
posturais possam ter uma base genética”.18
16
17
18
Ibidem, p. 430-431.
Cf. ibidem, p. 432.
Ibidem, p. 441.
9
Indumentária: de acordo com os autores, o uso de sapatos com salto alto provoca
um aumento acentuado de atividade do gastrocnêmio, do sóleo e do fibular longo, por
deslocar o centro de gravidade para frente, podendo provocar um desvio.
Atitude mental: a postura, muitas vezes, pode refletir a atitude mental do indivíduo.
Os estados de exaltação, confiança e satisfação ajudam na manutenção da postura ereta
enquanto a humildade e a depressão atentam contra ela. Segundo RASH & BURKE “uma
boa atitude mental é, da mesma forma, manifestada por uma postura ereta e alerta,
enquanto que a atitude mental deprimida é refletida por uma postura desleixada”.19
Nota-se que aqui aparece a idéia que relaciona a postura com a expressividade e,
portanto, com as emoções. Contudo, por ser tão sintética, não abarca todas as implicâncias
sobre a postura e sua profunda relação com as emoções. Uma outra compreensão de corpo e
de doença, como a de REICH por exemplo, levaria a um aprofundamento desse aspecto,
como veremos no desenvolvimento desse trabalho.
Se RASH & BURKE consideram que a postura é uma questão altamente individual,
teríamos de esquecer um pouco as medições que se fazem acerca da postura para procurar
entendê-la de forma diferenciada e individual, de pessoa para pessoa. Assim seria
necessária não só uma medição da postura, mas sim um conhecimento do indivíduo com
quem se está lidando.
De acordo com BANKOFF, a excessiva preocupação com trabalhos corporais que
visam a um modelo postural, se devem principalmente ao grande número de problemas
funcionais decorrentes do processo de adaptação do homem à postura ereta, desde que o
homem pré-histórico passou da posição de quadrupedia à bipedia. Segundo a autora, é
impossível responder qual seria a postura corporal mais correta, já que a adaptação à
posição bípede ainda não está completa e não sabemos em que estágio do desenvolvimento
estamos. É necessário, segundo ela, considerar os problemas posturais como decorrência de
fatores sociais e culturais que se refletem sobre o corpo humano.20
19
Ibidem, p. 442.
BANKOFF, Antonia Dalla Pria. Fatores biológicos da postura ereta: causas e conseqüências. In: BRASIL.
Ministério da Educação e do Desporto. Postura corporal: integração dos fatores culturais e sociais aos fatores
biológicos. Brasília, DF, 1994.
20
10
De acordo com a autora, vários fatores mecânicos mudaram com a passagem da
bipedia para a quadrupedia como, por exemplo, o fato de que os membros superiores foram
libertados e isto permite um maior número de movimentos com maior amplitude dos
braços, estando esses a favor da gravidade como se fossem dois pêndulos. Isso já causaria
um abaixamento dos ombros e escápulas naturalmente, tendendo à cifose. No entanto,
BANKOFF acredita que não se deve criar um modelo sobre a postura, mas deve-se
conscientizar a criança sobre seu corpo e sua postura.21
São várias as alterações posturais consideradas patológicas pela bibliografia
consultada na área. No entanto, abordaremos apenas aquelas definidas como lordose,
cifose e escoliose, por serem consideradas mais comuns e de maior domínio do profissional
de Educação Física.
De acordo com RASH & BURKE, a cifose é uma convexidade posterior aumentada
da coluna torácica, a qual pode estar associada a outro defeito estrutural, isto é aos “ombros
caídos”, que é um desvio para a frente da cintura escapular.
A lordose é “um aumento da concavidade posterior da curvatura lombar ou cervical,
acompanhada por uma inclinação da pelve para frente”. 22 Os músculos da porção lombar
das costas estão encurtados, enquanto os abdominais estão alongados, de forma que nessa
posição “um peso demasiado é aplicado nas bordas posteriores dos corpos das vértebras
lombares, havendo uma acentuada tendência a adotar a posição de ombros caídos para
compensar o deslocamento do peso corporal para trás”.23
Escoliose é o nome dado a desvios para um dos lados da coluna vertebral em
estados avançados, representando uma combinação de desvio lateral e de rotação
longitudinal. A “curvatura lateral diminui a capacidade da coluna para sustentar o peso
corporal, deforma as cavidades corporais e desloca os órgãos por compressão, e, em casos
avançados, leva a uma compressão dos nervos espinhais, nos pontos em que eles saem do
canal vertebral”.24
21
22
23
24
Ibidem, p. 27.
Cf. RASH, P. J. & BURKE, R. K., op. cit., p. 451.
Cf. ibidem, p. 452-3.
Ibidem, p. 455.
11
A escoliose pode se originar devido a defeitos estruturais hereditários, deterioração
das vértebras, ligamentos ou músculos, paralisia unilateral dos músculos espinhais,
diferença de comprimento dos membros inferiores, pé plano, pronação unilateral ou
desequilíbrio do desenvolvimento muscular resultante da ocupação ou hábito.25
Autores como GALOPIN, estão entre aqueles que propõem formas de “correção
postural” desses desvios por meio da “Ginástica Corretiva”. Após a identificação do
problema postural, o autor sugere como intervenção uma série de exercícios na área
afetada. Ressalta que o resultado do trabalho começa a partir do momento em que o
paciente adquire “automatismos corretivos”, ou seja, corrige sua postura involuntariamente
no seu dia a dia, sem perceber.26
GALOPIN também recomenda o uso de armaduras de gesso e coletes, os quais são
necessários em casos de graves deformidades da coluna vertebral. Apesar do incômodo, os
pais deveriam orientar seus filhos a dormir com esse gesso ou colete, no caso dos desvios
mais graves, apesar da possibilidade de resistência por parte da criança.27 Contudo, não
poderíamos deixar de observar que isso poderia causar um sentimento de inferioridade na
criança, podendo acarretar prejuízos para a postura, se a considerarmos intimamente ligada
à auto-estima do indivíduo.
No livro “Ginástica corretiva”, o autor apresenta um apanhado de exercícios, sendo
em geral 10 lições para cada “problema”. Assim, pautado em descrições dos exercícios
apresenta “10 lições” para a escoliose total esquerda, com vários exercícios corretivos, “10
lições para hemitórax”, “para emagrecer” etc.
Devemos lembrar aqui, que exercícios são meios de se fazer um determinado
movimento “cientificamente”, ou seja, com o amparo de ciências como a fisiologia e a
biomecânica. No entanto, essas ciências não costumam levar em consideração a
individualidade de cada um e, em geral, têm a tendência de se guiarem pela média ou por
um padrão “normal” que, na realidade, não existe quando se trata da postura, já que esta é
altamente individual.
25
Cf. ibidem, p. 456.
Cf. GALOPIN, Roger. Ginástica corretiva. 2. ed. Tradução de Ilson Ávila Dominot. Rio de Janeiro: Livro
Íbero Americano, 1984, p. 35.
27
Cf. ibidem, p. 39.
26
12
Segundo GALOPIN, a mudança de atitude postural se daria inconscientemente,
condicionando um hábito ou atitude, parecendo, de certa maneira, um “adestramento”. Na
verdade, a mudança na postura deveria ser dada pela consciência do indivíduo, adquirindo
um maior sentido corporal, uma propriocepção mais apurada, e não pela inconsciência.
MICHEL FOUCAULT salienta que uma das formas de docilizar o corpo, de tornálo obediente é através da postura. Assim , “corrige-se” a postura tendo como modelo o
soldado, habituando o corpo a manter a cabeça ereta e alta, manter-se “direito” sem curvar
as costas, salientando-se o peito e encolhendo-se o dorso.28
Não podemos esquecer como a Educação Física já reproduziu — e alguns
professores ainda reproduzem — essas práticas de “adestramento”, de “docilização” dos
corpos. Para FOUCAULT, é “dócil um corpo que pode ser submetido, que pode ser
utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado”.29 A principal forma pela qual ocorre a
docilização é através de uma disciplina rígida, descrita como métodos que permitem um
controle minucioso das operações do corpo, exercendo a sujeição constante de suas forças e
impondo uma relação de docilidade-utilidade.
Podemos perceber que a Ginástica corretiva, neste caso, não estaria preocupada no
autoconhecimento de seus alunos. Estaria, na realidade, interessada na correção de seus
“defeitos” posturais, muito embora essa forma de “correção” talvez não seja a mais
adequada, já que a própria avaliação dos “desvios posturais” também pode implicar
aspectos subjetivos.
Parece que os principais objetivos desse tipo de “Ginástica corretiva”, que já
figuraram por algum tempo em programas de Educação Física, se propõem muito mais a
uma docilização dos corpos do que qualquer outra coisa. A mudança postural se dá pelo
hábito, de forma inconsciente, como se fosse alguma coisa ruim, a qual o indivíduo tem de
engolir a força, um desvio de conduta, de postura. Talvez, venha daí a forma com que a
palavra postura é muitas vezes usada: como uma atitude que deveria ser controlada para um
melhor aproveitamento e rendimento dos corpos na sociedade. Nesse caso, a escola serviria
28
Cf. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. 23. ed. Tradução de Raquel
Ramalhete. Petropólis: Vozes, 2000, p. 117.
29
Ibidem, p. 118.
13
apenas como uma forma de controle social e adequação dos corpos aos interesses sociais
vigentes.
Podemos perceber em outra autora, KUCERA, a forte influência social por trás da
“Ginástica Médica”, a qual apresenta em seus fundamentos seus principais objetivos:
coluna vertebral e articulações do tronco eficientes, musculatura e ligamentos eficientes,
distribuição econômica da atividade etc.30 Assim, parece que, se usados, numa aula de
Educação Física tais pressupostos, pautados no argumento da manutenção da saúde,
estariam, na realidade, desenvolvendo um tipo de Educação capaz de preparar o indivíduo
para ter uma posição eficiente e competitiva numa sociedade igualmente competitiva e
exigente, ainda que essa formação possa ser totalmente acrítica. Não se trata de ser contra a
eficiência e a economia da atividade ou do uso das principais partes do corpo. Mas, o que
se deve ter em mente, é que a eficiência e economia podem ser reflexos de uma sociedade
em que apenas os “eficientes” têm lugar e a “economia” deve ser valorizada, excluindo-se
os menos aptos, os quais deveriam, a todo custo, se conscientizar de seus “defeitos” e
procurar corrigi-los.
Agindo dessa forma, o que se espera da Educação Física é um controle e uma
adequação das pessoas para exercerem suas atividades profissionais o mais eficientemente
possível. Essa adequação física, ou melhor, essa Educação Física, tem sido amplamente
criticada por alguns, como é o caso do COLETIVO DE AUTORES, responsáveis pelo livro
“Metodologia de ensino da Educação Física”. De acordo eles, essa Educação Física que
visa a aptidão física do homem tem contribuído historicamente para os interesses da classe
no poder, procurando adaptar o homem à sociedade, “alienando-o da sua condição de
sujeito histórico, capaz de interferir na transformação da mesma”.31 Tal perspectiva apóiase na pedagogia tradicional e na tendência biologista para adestrá-lo. Essa forma de
Educação Física, que visa adaptar seus educandos a uma realidade social, sem se preocupar
com a leitura dessa mesma realidade, é perigosa e inadequada para a formação de um
indivíduo crítico e consciente, cujo objetivo deveria vincular-se àqueles propostos pela
Educação Física escolar.
30
KUCERA, Maria. Exercícios de Ginástica Médica. 3. ed. Tradução de Margot Petry Malnic. São Paulo:
Manole, 1983, p. 1.
31
COLETIVO DE AUTORES. op. cit., p. 36.
14
Para DANIELS & WORTHINGHAN, o objetivo geral do programa de exercícios
terapêuticos é usar os princípios cinesiológicos para a correção de um mau alinhamento do
corpo que afete seu funcionamento ou possa provocar uma debilidade. Os objetivos
específicos são: desenvolver o senso cinestésico do bom alinhamento, relaxar a musculatura
que não for necessária para uma movimentação leve, coordenada e eficiente, aumentar a
força muscular para alcançar o bom funcionamento e função e atingir a flexibilidade
normal.32
Os autores parecem bastante preocupados com o alinhamento vertical do corpo.
Esse melhor realinhamento é feito através de exercícios que privilegiam uma maior
amplitude articular, alcançando, dessa forma, um melhor funcionamento muscular.
Provenientes da fisioterapia, DANIELS & WORTHINGHAN apresentam uma
evolução na metodologia de trabalho em relação à ressaltada anteriormente. Assim,
recomendam que o profissional esteja atento a possíveis distúrbios emocionais que possam
estar afetando o paciente e sugerem, nesse caso, um tratamento interdisciplinar.33 No
entanto, abordam de forma bastante superficial a questão emocional, que deveria ser a mais
importante já que não estão lidando apenas com músculos, ossos e ligamentos, mas com
um indivíduo complexo e único.
No caso da Educação Física o conhecimento sobre postura deve ser desenvolvido da
forma mais interdisciplinar possível. Também não se deve negligenciar os períodos pelos
quais a Educação Física passou, em que eram notórias as influências da medicina, ginástica
médica, corretiva etc. É importante ressaltar que o trato com a postura não ocorreu sempre
da mesma forma, mas alterou-se no tempo, de acordo com os avanços científicos e
metodológicos.
No âmbito da Educação Física, outra forma de trato com a postura pode ocorrer por
meio das práticas corporais alternativas. Dentre elas, ressaltaremos a Antiginástica e o
Rolfing, por conceberem o ser humano de forma mais completa, e tratar da postura de
32
Cf. DANIELS, Lucille & WORHINGHAM, Catherine. Exercícios terapêuticos: para alinhamento e função
corporal. 2. ed. Tradução de Angela G. Marx. São Paulo: Manole, 1983, p.37.
33
Cf. ibidem, p. 39.
15
forma
holística, levando em conta a dimensão emocional do homem, como será
demonstrado.
16
CAPÍTULO II
“ALTERNATIVAS” NO TRABALHO COM A POSTURA
1. A Antiginástica de Thérèse Bertherat
Para além da forma de trabalho com a postura apresentada anteriormente, existem
outras que integram aquilo que se denomina práticas corporais alternativas. Assim, nos
deteremos à Antiginástica e ao Rolfing pois as duas práticas corporais alternativas
consideram estreita a relação entre o psíquico e o somático do indivíduo, ressaltando as
influências emocionais sobre a postura.
As práticas corporais alternativas procuram “por meio de um discurso atrativo,
retomar o contato do indivíduo consigo mesmo, com seu corpo”,34 sendo que essas práticas
têm sido valorizadas em alguns cursos de Educação Física. A Antiginástica, é um exemplo
significativo do que representam essas práticas e o que procuram, apresentando-se como
uma alternativa no trabalho com a postura.
A Antiginástica apresenta-se como uma alternativa de trabalho corporal no âmbito
da ginástica médica e da Educação Física, se postulando contrária aos princípios fundantes
de ambas. Essa prática também é exemplo da forma como alguns trabalhos de abordagem
corporal se apropriam da teoria de REICH e enfatizam que a intervenção sobre o somático
do indivíduo seria capaz de atingir seu psíquico.
O principal objetivo da Antiginástica é
tornar conscientes as dores musculares profundas, e por vezes, antigas que
estão situadas forçosamente na parte posterior do corpo, na cadeia contínua
de músculos que vai da planta dos pés até o crânio, que são a causa de toda
deformação corporal, excetuando as mutilações e deformações congênitas.35
Segundo BERTHERAT, a única causa de todas as deformações, dentre elas as de
postura, é o encurtamento da musculatura posterior, descrito como efeito dos movimentos
34
MATTHIESEN, Sara Quenzer. Limites entre o psíquico e o somático: Wilhelm Reich e Thérèse Bertherat.
Revista reichiana, São Paulo, n. 7, p. 30-40, 1998.
35
BERTHERAT, Thérèse & BERNSTEIN, Carol. O correio do corpo: novas vias da Antiginástica. Tradução
de Estela dos Santos Abreu. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1982, p. 64.
17
cotidianos do corpo.36 É inevitável, portanto, que o corpo se “deforme”, sendo a lordose, a
escoliose e a cifose, entre outros, causados pelo excesso de força da musculatura
posterior.37
Esse encurtamento da musculatura posterior é causado por alguns fatores
anatômicos que demonstram que os músculos posteriores são mais numerosos e têm mais
inserções sobre os ossos do que os anteriores. Além disso, a maior parte dos músculos
posteriores são longos e constituem uma cadeia contínua do alto do crânio até a ponta dos
pés, sendo que essa cadeia muscular posterior está organizada de tal forma que se comporta
como um músculo único. Assim, toda ação localizada, de qualquer parte dessa cadeia,
provoca o encurtamento dela toda.38
Segundo BERTHERAT & BERNSTEIN, a “estrutura corporal determina o
comportamento”, ou seja, a forma do corpo determina seu funcionamento. A forma, como
esclarecem as autoras, é modificável, sendo, portanto, possível desfazer as tensões e
restabelecer o equilíbrio. 39
FRANÇOISE MÉZIÈRES, autora a quem BERTHERAT faz suas principais
referências, explica que o esforço para ficar em equilíbrio e os movimentos de média e
grande amplitude executados pelos braços e pernas seriam a causa de encurtamentos
musculares.40 De acordo com ela, toda vez que se levantam os braços acima dos ombros ou
que se afastam as pernas num ângulo superior a 45 graus, os músculos das costas se
encolhem.
Segundo MÉZIÈRES, a retração dos músculos posteriores são sempre
acompanhados pela rotação interna dos membros e pelo bloqueio do diafragma. Portanto,
essa retração deveria ser combatida, não se realizando exercícios de fortalecimento
posterior, pois estes só agravariam o problema.
36
Cf. BERTHERAT, Thérèse & BERNSTEIN, Carol. O corpo tem suas razões: Antiginástica e consciência
de si. Tradução de Estela dos Santos Abreu. 18. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 121.
37
Cf. BERTHERAT, Thérèse & BERNSTEIN, Carol. O correio..., op. cit., p. 9.
38
Cf. ibidem, p. 9.
39
Cf. ibidem, p. 10- 11.
40
Cf. BERTHERAT, Thérèse & BERNSTEIN, Carol. O corpo..., op. cit., p. 120.
18
MÉZIÈRES também concebe que há um corpo “normal” ou “perfeito”,
proporcional entre as partes, cujo exemplo característico é o corpo representado pela arte
grega do período clássico.
O artista grego procuraria exprimir a unidade corporal e moral, como expressão
dessa unidade e perfeita saúde física do sujeito, pois, segundo a autora, para os gregos, a
beleza não existiria sem a saúde e esta não existiria sem a “beleza das justas proporções”.
Não devemos nos esquecer que este conceito exclui as “deformações” congênitas e, talvez
por isso, boa parte dos desvios posturais.
BERTHERAT & BERNSTEIN descrevem o “corpo ideal”, sendo que qualquer
desvio em relação a essa descrição indica deformação corporal, decorrente do excesso de
força da musculatura posterior.41 Para elas, o corpo normal seria assim descrito: de frente,
clavículas, ombros, mamas e espaços entre os braços e a costela devem ser simétricos e
estar no mesmo nível. Já, de costas, a nuca deve estar longa e “cheia”, as omoplatas devem
ser simétricas, assim como os ombros e quadris. Na posição de flexão do tronco, a coluna
deve estar em convexidade total e regular, os joelhos não devem recuar para trás e estes não
devem apontar para dentro.
Não se deve também sentir dificuldades em ficar de pé, sendo que os pés devem
estar encostados desde o calcanhar até a ponta do primeiro dedo e o alto das coxas, o
interior dos joelhos, a barriga das pernas e ossos internos dos tornozelos devem se encostar.
O pé deve se alargar do calcanhar até a ponta dos dedos, e estes devem afastar-se, esticar-se
no chão, enquanto as bordas laterais dos pés devem ser retilíneas. Qualquer desvio dessa
descrição, segundo as autoras, indicaria uma deformação corporal. 42 Acreditamos que este
modo de tratar a postura, a partir de um modelo perfeito, é sujeito a críticas, pois ignora as
diferenças individuais de estrutura muscular e óssea, que diferem de indivíduo para
indivíduo.
No caso do que as autoras chamaram de “barriga flácida” e que parece ser um
“desvio postural” próximo da lordose, verificamos que a causa é a forte tensão dos
músculos das costas. Portanto, nesse caso, a solução estaria em relaxar os músculos
41
42
Cf. ibidem, p. 128.
Cf. ibidem, p. 127- 128.
19
posteriores e com isso aumentar seu comprimento muscular, promovendo um maior
equilíbrio entre a musculatura posterior e anterior, o que melhoraria o equilíbrio e a postura.
Sendo assim, o encurtamento da musculatura dorsal seria a causa de uma barriga saliente.43
Esse ponto de vista a respeito da lordose atribui ao encurtamento posterior a
responsabilidade exclusiva por esse problema, sem levar em conta questões emocionais,
como demonstrou REICH.
Segundo BERTHERAT & BERNSTEIN, existe uma energia, denominada por vezes
energia orgone, corrente vegetativa ou yin yang, que “confere ao corpo a unidade e, ao
mesmo tempo, anima todos os órgãos que também têm movimento”.44 Essa energia, seria
contida quando existissem “zonas mortas” no corpo, partes que o indivíduo não sente,
refletindo uma percepção corporal fragmentada. Essa existência de “zonas mortas”
bloquearia o livre fluxo de energia que é necessário para o bem-estar do indivíduo.45
A origem de um desequilíbrio energético pode estar na família, em alguns
acontecimentos traumatizantes ou em necessidades emocionais insatisfeitas, que se
encontram na origem do desequilíbrio psíquico que acompanha o desequilíbrio físico. Os
“transtornos esquecidos, reprimidos, também foram vividos por nosso corpo; estavam
presentes no momento de nosso desarranjo mecânico que é a expressão concreta de nosso
desacerto indizível”.46 Segundo BERTHERAT & BERNSTEIN, nos deformamos para
mostrar aos outros e a nós mesmos que estamos sofrendo, isto é, de forma geral, nos
deformamos para nos proteger.
As autoras atribuem a falta de percepção da totalidade do corpo, causada pelas
deformações, à educação recebida e aos entraves para poupar sensações de dor e prazer que
nos impomos desde cedo.47 Para desenvolver a percepção, diz ela, deveria ser valorizada a
atividade, o movimento, mas não de qualquer tipo. A atividade mecânica e repetitiva,
segundo elas, serviria apenas para exercitar a teimosia e nos embrutecer. O movimento
43
Cf. ibidem, p. 77.
Ibidem, p. 145.
45
Cf. ibidem, p. 80.
46
BERTHERAT, T. & BERNSTEIN, C. O correio..., op. cit., p. 20.
44
47
Cf. ibidem, p. 90- 91.
20
deveria ser uma revelação de nós mesmos de forma que deveríamos tomar consciência do
modo como ele é realizado.48
Podemos perceber que atividades como a Antiginástica valorizam a sensibilização e
a consciência corporal, levando o indivíduo a se conhecer melhor, sentindo seu corpo e sua
postura. No entanto, não se deve perder de vista que esse tipo de atividade não é perfeita,
nem a solução para todos os males, como algumas vezes é apresentada. Vários problemas
individuais, incluindo doenças ou “deformidades corporais” resultam de problemas sociais
e emocionais, não devendo ser analisados fora desse contexto.
Não é possível a “beleza das justas proporções”, como defendem as autoras, em um
país com problemas tão sérios quanto o Brasil, que se depara com problemas tão graves
causados pela desigualdade social, muitas vezes até de natureza nutricional. Pessoas nessas
condições talvez não tenham problemas posturais causados por um excesso de força da
musculatura posterior, mas sim problemas relacionados à situação social em que vivem e
que repercutem em problemas, inclusive, posturais.
É preciso que um trabalho como a Antiginástica, se realizado na escola, seja seguido
de uma crítica social, para que não fique desvinculado do todo maior, de um
desenvolvimento do senso crítico perante a sociedade. Talvez, uma postura “cifótica”
reflita, na realidade uma postura de desânimo perante a vida numa sociedade extremamente
desigual como é o caso do Brasil. Não devemos nos esquecer que a Antiginástica surgiu na
França, país que tem uma realidade social bastante diferente da do Brasil. Como tal, não se
deve acreditar que as determinantes da postura sejam iguais nos dois países. Isso
significaria ignorar as influências sociais sobre a postura.
Por fim diríamos que é importante que a Educação Física seja capaz de levar os
alunos a desenvolverem um senso crítico e a refletirem sobre a cultura corporal, vinculada
ao seu próprio universo, já que o reconhecimento sobre a própria postura poderá valorizar
seu autoconhecimento e sua expressão corporal.
2. O Rolfing de Ida P. Rolf
48
Cf. ibidem, p. 86- 87.
21
O Rolfing — também chamado de Integração Estrutural — foi criado por IDA P.
ROLF e é um método de manipulação miofascial. O tratamento consiste em 10 sessões, ao
final das quais se pretende mudar a organização espacial do corpo e obter um melhor
alinhamento em relação à gravidade. Para o Rolfing, os corpos humanos seriam um meio
plástico e poderiam mudar para uma estrutura mais ordenada e energéticamente mais
econômica.49
ROLF explica que a fáscia — um dos vários grupos do tecido conjuntivo —
envolve o músculo, sendo o próprio músculo várias vezes confundido com a fáscia. A
intervenção do Rolfing seria, portanto, sobre a fáscia, e o objetivo final dessa intervenção
seria conseguir um alinhamento vertical de cinco pontos que seriam incontestavelmente
importantes para o bom alinhamento.
Esses pontos seriam os pontos médios das orelhas, a articulação do ombro, a
articulação do quadril, o joelho e o tornozelo. Segundo a autora, esse melhor alinhamento
conduz a uma melhor verticalidade do corpo, e em relação à gravidade — que influência
incontestavelmente todos os corpos — a estrutura vertical seria a que apresenta menos
tensão e, portanto, a mais adequada.50
Segundo ROLF, a resposta emocional é um comportamento, uma função. Para ela, a
estrutura determinaria a função e, portanto, um corpo mais organizado levaria a um homem
emocionalmente mais equilibrado.51
A personalidade física não seria, para a autora, algo separado ou diferente da
personalidade psicológica, e sim, parte de algo a que ela chamou de “entidade psicofísica
variante”. Dessa forma, as mudanças estruturais do corpo trariam mudanças psicológicas.52
É interessante notar que algumas idéias de Rolf se aproximam das teorias de
49
ROLF, Ida P. Rolfing: a integração das estruturas humanas. Tradução de Marylene Pinto Michael. 2. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 16.
50
Cf. ibidem, p. 18- 20.
51
Cf. ibidem, p. 3- 9.
52
Cf. ibidem, p. 23.
22
WILHELM REICH. Para ROLF, “os corpos trazem marcas de traumas físicos e
emocionais da vida, dos acontecimentos da existência do homem”,53 idéia que parece bem
próxima das de couraça muscular, como irá ser demonstrado.
A autora trata cada parte do corpo separadamente. Uma pelve “reorganizada”, para
ROLF, seria essencial para o bem-estar do indivíduo, embora seu funcionamento dinâmico
ótimo requereria uma integridade estrutural de todo o corpo.54
A chave não seria portanto uma função ótima, e sim a integração apropriada de
todos os sistemas. Ou seja, a competência vital ou psíquica de um homem é determinada
pelo funcionamento de todos os sistemas e suas inter-relações no indivíduo. Isso seria
possível como o alinhamento do indivíduo, da sua postura e melhor adaptação à
gravidade.55
Nessa apresentação, procurou-se expor alguns princípios básicos do Rolfing. No
entanto, as referências trazem informações minuciosas sobre as várias partes do corpo e
detalhes sobre
a anatomia muscular do ser humano. A solução para uma melhor
organização, ou melhor postura, assim como a causa de desvios posturais acentuados se
dariam, à margem da biomecânica e da cinesiologia. Assim, por exemplo, uma lordose
refletiria um músculo Ilíaco e Psoas maior fracos, deslocados e ineficientes, e a solução
seria o trabalho sobre este músculo.56
ROLF acreditava que a ordem ou ausência de ordem começa no inconsciente. No
entanto, será que as mudanças advindas de intervenções corporais, trariam à consciência do
indivíduo as razões que o levaram a assumir determinada postura? Talvez, um trabalho de
consciência corporal aliado à intervenção do Rolfing seja indispensável para uma melhor
postura.
Por outro lado, é importante notar que sua teoria de alinhamento vertical e melhor
adaptação à força da gravidade, consequentemente com menos tensão na estrutura, parece
biomecanicamente bastante convincente. Para ROLF, esse melhor alinhamento traria uma
53
Ibidem, p. 64.
Cf. ibidem, p. 154- 157
55
Cf. ibidem, p. 183.
56
Cf. Ibidem, p. 179.
54
23
conseqüente melhora psicológica, já que para a autora, a forma determina a função
(psicológica).
Isso equivale a dizer que a forma corporal determina o psicológico, já que este é
visto, pela autora, como função. É difícil dizer o que determina o que, pois talvez nem
exista tal separação. De qualquer maneira, forma e função, corpo e mente, psíquico e
somático, se relacionam de uma forma bastante estreita, de modo que o determinismo de
um sobre o outro não se justifica.
Não podemos esquecer de considerar as influências sociais sobre a postura. A
Educação recebida em casa, a Educação Física, as atividades que pratica, a vida sexual,
entre outras múltiplas influências que não podem ser descartadas, devem ser consideradas
como fatores que podem interferir na postura do indivíduo.
É válido que se aborde teorias como a de ROLF, pois esta levaria os alunos a
questionarem a própria postura e a estabelecerem relações de entendimento maior de seus
próprios corpos. No entanto, deve-se ressaltar que o homem sofre várias influências no seu
dia a dia, e é impossível medir todas elas.
Embora ROLF faça algumas referências a idéias concebidas originalmente por
WILHELM REICH, suas idéias diferem bastante das desse autor. REICH acreditava que o
ser humano não apresenta divisões entre as funções psíquicas e somáticas, e considera
fundamental analisar influências sociais e educacionais para compreender o indivíduo,
como veremos a seguir.
24
CAPÍTULO III
AS IDÉIA DE WILHELM REICH: CONTRIBUIÇÕES PARA A
DISCUSSÃO ENTRE O PSÍQUICO E O SOMÁTICO
WILHELM REICH nasceu em 24 de Março de 1897 em Dobrzynica, aldeia da
Galícia que nessa época fazia parte do império austro-húngaro. Algum tempo depois, sua
família mudou-se para Jujintz, província da Bukovina onde adquiriu uma grande
propriedade rural. O pai era originário de uma família judaica, mas pouco transmitiu a
Reich e ao irmão Robert sobre educação religiosa. A língua materna e de instrução dos
filhos era o alemão sendo que a cultura alemã era especialmente valorizada.57
Ingressou na faculdade de Medicina em 1918 na Universidade de Viena, se
interessando, ainda na faculdade, por temas referentes à sexualidade, participando daquilo
que ficou conhecido como “Seminário de Sexologia”. Sua trajetória oficial na psicanálise
começou formalmente em outubro de 1920, quando apresentou a comunicação “O conflito
da libido e a ilusão de Peer Gynt” e foi aceito como membro da Sociedade Psicanalítica de
Viena na seção seguinte.
Em 1922, REICH se formou em Medicina, tendo estudado neuropsiquiatria por
mais dois anos no Instituto Neuropsiquiátrico de Viena, trabalhando um ano em
neuropsiquiatria sob a orientação de Paul Schilder. Entre 1922 e 1930 trabalhou na Clínica
Psicanalítica de Viena, o que em muito enriqueceu sua experiência profissional.
Em 1924, passou a presidir os trabalhos do Seminário de Técnica Psicanalítica,
publicando em 1925 seu primeiro livro chamado “o caráter impulsivo”. Tendo, desde o
começo de seus estudos em Psicanálise, se interessado por questões referentes à técnica, em
57
Alguns aspectos relevantes da vida de Wilhelm Reich e, talvez, a maior parte das referências sobre sua
infância e adolescência se encontram em sua autobiografia: REICH, Wilhelm. Paixão de juventude: uma
autobiografia. Tradução de Cláudia Sant’ana Martins e Sâmia Rios. São Paulo: Brasiliense, 1996, p. 11- 60.
25
1927 WILHELM REICH publicou “Sobre a técnica de interpretação e análise das
resistências”.58
Este texto se encontra no livro “Análise do caráter”, que contém, por sua vez, textos
de outras épocas da vida de REICH, fazendo-se, portanto, necessário que se trate cada texto
individualmente, já que o autor tem fases bem diversas com idéias diferentes umas das
outras. Outro texto presente neste livro é chamado “Sobre a técnica de análise do caráter”,
exposto pela primeira vez no X Congresso Psicanalítico Internacional em Innsbruck, em
Setembro de 1927.
Nesse texto, REICH afirma que uma parte importante do processo terapêutico
consistia na análise do caráter, já que este era considerado como “parte da neurose”.59 À
totalidade dos traços de caráter neurótico que se manifestam na análise como mecanismos
de defesa contra os esforços terapêuticos, deu-se o nome de couraça do caráter. Esta tem a
função de proteger o indivíduo de estímulos externos, por um lado, e é também uma forma
de controle e repressão sobre a libido (energia sexual). Portanto, a couraça do caráter tem
uma função econômica, estabelecendo um equilíbrio no organismo do indivíduo, embora
este seja um equilíbrio neurótico, objeto de intervenção na análise terapêutica.60
REICH acreditava que além de sonhos, associações e outras comunicações, deveria
ser analisado a forma como os pacientes contam os sonhos, cometem lapsos entre outras
coisas que compõem seu comportamento. Assim, a resistência do caráter se expressaria não
em conteúdo, mas na forma de seu comportamento típico, no modo de falar, de andar,
gesticular, etc., ou seja, no modo como o indivíduo fala e age.61
Na vida cotidiana,
o
caráter teria um papel de defesa psíquica. Podemos perceber, portanto, que aqui o próprio
movimento, o modo de falar e a postura assumem o papel de defesas do caráter. Como
modificar, então, a partir de exercícios uma postura que vista dessa forma assume um papel
de defesa? Desse ponto de vista a análise terapêutica, talvez fosse o mais indicado.
58
Cf. ALBERTINI, Paulo. Reich: história das idéias e formulações para a educação. São Paulo: Ágora, 1994,
p. 25- 42.
59
Cf. REICH, Wilhelm. Análise do caráter. Tradução de Ricardo Amaral do Rego. 3. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1998.
60
Cf. ibidem, p. 56- 57
61
Cf. ibidem, p. 59.
26
Em 1927, com a publicação de “A função do orgasmo”, Reich expõe idéias que o
distanciam definitivamente de Sigmund Freud. Contudo, sua crescente militância política ,
que esteve inclusive vinculada ao Partido Comunista Austríaco, é um fator apontado por
alguns autores como a causa real da separação entre ambos.62 Este livro teve a tradução
para a língua portuguesa sob o nome de “Psicopatologia e sociologia da vida sexual”, sendo
os trechos que se seguem, partes integrantes desse livro.
Para REICH, a prevenção das neuroses visava a busca por indivíduos potentes
orgasticamente. O autor define potência orgástica como a capacidade do ser humano de
atingir uma satisfação de acordo com a estase63 libidinal momentânea e, de forma freqüente,
permanecendo pouco sujeito às perturbações da genitalidade que em geral afetam o
orgasmo mesmo num indivíduo relativamente saudável. A potência orgástica existiria, de
acordo com REICH, sob certas condições que são encontradas apenas no indivíduo capaz
de satisfação. Já no indivíduo neurótico, estas condições estariam total ou parcialmente
ausentes.64
Já, por impotência orgástica, REICH entende “a inaptidão interna do indivíduo para
atingir de forma duradoura uma satisfação correspondente às reivindicações sexuais e à
estase libidinal do momento, mesmo quando se encontra nas condições externas mais
favoráveis”.65 Do ponto de vista da economia sexual, ou seja, da relação entre a energia
que o organismo é capaz de descarregar e a que ele de fato descarrega durante o orgasmo,
pouco importa que uma mulher tenha maior ou menor sensibilidade sexual ou que um
homem seja capaz ou incapaz de ereção, sendo que a única coisa que importa é se o
orgasmo se encontra ou não perturbado.66
REICH, portanto, começou a relacionar os conflitos neuróticos a uma disfunção da
vida sexual, mais especificamente, à impotência orgástica e teorizou que estes problemas
62
Cf. ALBERTINI, op. cit., p. 40 e Cf. CUKIERT, Michele. Uma contribuição à questão do corpo em
Psicanálise: Freud, Reich e Lacan. 2000. 223 f. Dissertação (mestrado em Psicologia) – Instituto de
Psicologia, Universidade de São Paulo, 2000, p. 59.
63
Reich define estase como uma inibição da “expansão vegetativa e um bloqueio da atividade e motilidade
dos órgãos vegetativos centrais. A descarga de excitação é bloqueada: a energia biológica fica presa”. Cf.
REICH, W. A função..., op. cit., p. 288.
64
Cf. REICH, Wilhelm. Psicopatologia e sociologia da vida sexual. Tradução M. S. P. São Paulo: Global,
[19--], p. 41.
65
Ibidem, p. 59.
66
REICH, Wilhelm. Psicopatologia..., op. cit., p. 38.
27
estão estruturalmente presentes na musculatura do indivíduo, através de tensões crônicas,
chamadas por ele de couraças. REICH explica que o “paciente neurótico desenvolve uma
‘rigidez’ na periferia do corpo, conservando embora um cerne interior vivo. Sente-se
‘constrangido dentro de sua própria pele’, ‘inibido’, incapaz de ‘compreender a si mesmo’,
como se ‘estivesse emparedado’, ‘sem contato’ e ‘tenso a ponto de romper-se’. Esforça por
todos os meios disponíveis, ‘em direção ao mundo’, mas é como se estivesse amarrado”.67
Segundo ele, há uma energia biopsíquica, posteriormente definida como orgone, que é a
própria energia sexual ou excitação biológica que faz pressão para fora ou em direção a
outras pessoas, ao mundo, enquanto que a couraça é responsável pela frustração desse
impulso.
Segundo REICH, esse impulso para expandir-se corresponde à direção de dentro
para fora, sendo que a parede externa da couraça frustra este impulso. A couraça não só
impede o rompimento, mas exerce pressão de fora para dentro, sendo a rigidificação do
organismo o resultado final.68 A couraça muscular, pode ser entendida como uma alteração
no tônus muscular do indivíduo, que resulta em alterações estruturais e fisiológicas. A
principal função da couraça é conter emoções, sentimentos e desejos, principalmente os de
caráter sexual ou que provocam sensações de angústia ou prazer, através da inibição dos
fluidos corporais. A couraça muscular está funcionalmente ligada à couraça do caráter,
sendo que basicamente as atitudes musculares e do caráter não podem se separar, sendo
funcionalmente idênticas.69 De acordo com REICH, “concebemos o caráter como um fator
determinado essencialmente de modo dinâmico e que se manifesta no comportamento
característico de uma pessoa: o andar, a expressão facial, a postura, a maneira de falar e
outros modos de comportamento”.70 Podemos perceber, de acordo com a colocação acima,
que o caráter é concebido como algo global, que se manifesta em todas as formas de
expressão do indivíduo, inclusive em sua postura.
REICH assinala que boa parte das pessoas já passaram por situações na infância em
que, através de certos comportamentos, agiam sobre o sistema vegetativo, de modo a por
67
REICH, W. A função do... op. cit., p. 223.
Cf. ibidem, p. 222-223.
69
Cf. ibidem, p. 231.
70
Ibidem, p. 167.
68
28
exemplo: prender a respiração ou aumentar a pressão dos músculos abdominais, para anular
os seus impulsos de ódio, angústia ou amor.
Até então, na visão do autor, a psicologia analítica teria apenas se dedicado ao que a
criança anula e aos motivos que a levaram a aprender a controlar suas emoções, não tendo
tentado descobrir o modo como as crianças habitualmente lutam contra os impulsos.
REICH estava interessado no que ele chamou de “processo fisiológico de repressão”, ou
seja, o modo como os impulsos são anulados. Nesse processo, aponta que a dissolução de
um espasmo muscular libera, além de energia vegetativa, a lembrança da situação na qual
ocorreu a repressão do instinto. Portanto, “toda rigidez muscular contém a história e o
significado de sua origem”.71 REICH considera o espasmo muscular como sendo o lado
somático do processo de repressão e base para sua contínua preservação.
Grupos isolados de músculos nunca espasmam, mas sim grupos de músculos que
pertencem a uma unidade funcional vegetativa. REICH exemplifica mostrando que em um
impulso de chorar reprimido, não é apenas o lábio inferior que se torna tenso, mas sim, toda
a musculatura da boca, queixo e correspondente na garganta, ou seja, todos os órgãos que
entram em ação como uma unidade funcional no ato de gritar.72
REICH enfatiza que o papel da musculatura é essencial para a contenção da energia
da vida sexual, pois, através de tensões, a musculatura pode reduzir o movimento dos
fluidos do corpo.73 Em linhas gerais diríamos que a energia da vida sexual pode ser contida
por tensões musculares crônicas. Assim, torna-se claro que a musculatura é parte essencial
na repressão de certas emoções, e que a neurose não é a expressão de uma perturbação do
equilíbrio psíquico, sendo, na realidade, a expressão de uma perturbação crônica do
equilíbrio vegetativo e da motilidade natural.74
Com base nas idéias expostas acima, REICH passou a descrever algumas
características do organismo neurótico, como, por exemplo: a dor de cabeça, localizada
muito freqüentemente acima do pescoço, sobre os olhos ou na testa, que era comum em
muitos pacientes. Essa começa na região bem acima da tensão muscular quando se tenta
71
Ibidem, p. 255.
Cf. ibidem, 256.
73
Cf. ibidem, p. 230.
74
Cf. ibidem, p. 255.
72
29
forçar a musculatura da cabeça. A dor na parte superior da cabeça pode ser reduzida a uma
tensão excessiva nos músculos do pescoço sendo que essa atitude expressa uma angústia
contínua de algo perigoso que possa sobrevir por trás. A dor de cabeça supra-orbital é
causada por uma elevação crônica das sobrancelhas, o que causa uma tensão contínua nos
músculos da testa e na musculatura toda do crânio. Essa atitude expressa uma contínua e
ansiosa expectativa em relação aos olhos, que arregalados de medo correspondem à
extrema expressão dessa atitude.75
Esses dois sintomas que se expressam nas atitudes da cabeça estão sempre juntos,
sendo que no medo súbito, os olhos se arregalam e a musculatura do crânio se torna tensa.
Alguns pacientes tem uma expressão facial que poderia ser descrita como arrogante. Em
outros pacientes nota-se uma testa lisa, chata ou inexpressiva, sendo que o medo de ser
golpeado na cabeça é a razão desta expressão.
Muitas pessoas têm uma expressão facial como uma máscara. O queixo é forçado
para a frente e parece mais largo, enquanto o pescoço, logo abaixo do queixo, tem uma
aparência sem vida. Os dois músculos do pescoço, que correm para baixo em direção ao
esterno, sobressaem-se como duas cordas grossas, a parte inferior da boca é tensa e o
paciente comumente tem náuseas. Essa atitude pode ser observada quando aparece o
impulso de chorar: os músculos do assoalho da boca se tornam muito tensos, a musculatura
inteira da cabeça fica em estado de tensão contínua, o queixo é forçado para a frente e a
boca se aperta.76
As crianças adquirem essas condições ainda muito novas, quando são obrigadas a
reprimir violentos impulsos de chorar. REICH enfatiza, que a maneira de falar teria
também grande importância para a região da cabeça e face, podendo ser reduzida a
espasmos dos músculos do maxilar e da garganta. A expressão total da face deveria receber
maior atenção, independentemente de partes isoladas.77
75
76
77
Cf. ibidem, p.257.
Cf. ibidem, p. 258.
Cf. ibidem, p. 258- 259.
30
De acordo com REICH, não há nenhuma pessoa neurótica que não apresente tensão
abdominal. As perturbações respiratórias nas neuroses são os sintomas que resultam das
tensões abdominais.78 No medo, descreve REICH, inspira-se profundamente e isso causa
contração do diafragma que exerce pressão sobre o plexo solar, de cima para baixo. A
função dessa ação muscular, bastante presente como mecanismo de neurose, é
compreensível quando se entende os mecanismos de defesa de caráter da primeira infância,
pois, prendendo a respiração, as crianças lutam contra os estados de angústia contínuos e
torturantes provenientes do alto do abdômen e das sensações agradáveis provenientes do
abdômen e genitais, mas que causam medo.
A inibição respiratória juntamente com a fixação do diafragma, seria um “dos
primeiros e mais importantes atos na supressão das sensações de prazer no abdômen e na
redução da angústia abdominal”.79 REICH, portanto, entendeu que a repressão dos afetos
era basicamente realizada através da inibição respiratória, sendo este, de forma geral, o
mecanismo básico da neurose.80 Assim, REICH considera que o meio mais importante de
libertação do reflexo do orgasmo é uma técnica de respiração que se desenvolveu no
decorrer do seu trabalho, onde a pessoa neurótica era incapaz de expirar profunda e
uniformemente.81 A expiração profunda, conforme descreve o autor, produz a atitude de
rendição sexual. Nessa atitude de entrega (rendição), a cabeça desliza para trás, os ombros
movem-se para frente e para cima, o meio do abdômen se encolhe, a pélvis move-se para a
frente e as pernas separam-se espontaneamente.82
Muitos pacientes conservam as costas arqueadas, a pelve empurrada para trás e o
alto abdômen para a frente,83 numa posição próxima de uma hiperlordose. De acordo com
REICH, a falta de sensações nos genitais e a correspondente sensação de vazio e fraqueza é
proporcionalmente mais intensa de acordo com a perda de mobilidade da pelve. Referindose à pelve e a relação de sua mobilidade com a capacidade de sentir prazer, REICH
descreve: o “assoalho da pelve é puxado para cima. Essa posição contraída do assoalho
78
Cf. ibidem, p. 259.
Ibidem, p. 260.
80
Cf. ibidem, p.260.
81
Cf. ibidem, p. 277.
82
Cf. ibidem, p. 278-279.
83
Cf. ibidem, p. 279.
79
31
pélvico, embaixo, junto com a fixação do diafragma para baixo, em cima, e a tensão da
parede abdominal, na frente, bloqueia o movimento da corrente vegetativa do abdômen”.84
REICH explica que, em geral, é fácil colocar a mão entre as costas do paciente e o divã,
evidenciando, portanto, a presença de um desvio postural.
Segundo REICH, essa atitude da pelve é proveniente da infância, quando a criança
recebe punições severas por molhar a cama ou, ainda mais importante, quando começa a
combater as excitações sexuais intensas que incitam à masturbação. De acordo com o autor,
toda sensação de prazer genital pode ser destruída pela contração crônica da musculatura
pélvica. 85
No processo de restabelecimento da motilidade da pelve, diz REICH, é inútil
obrigar o paciente a fazer exercícios pélvicos, mecanicamente, como o fariam alguns
“instrutores de ginástica”. É necessário eliminar as ações e atitudes musculares
dissimuladas e defensivas, ou o movimento natural da pelve não se desenvolve. A
contração da pelve teria a mesma função da contração do abdômen: impedir as sensações,
principalmente de prazer e angústia.
Para o restabelecimento da mobilidade da pelve, é necessário tornar o paciente
consciente de sua atitude pélvica e se trabalhar sobre a inibição do movimento pélvico:
quanto mais intensamente se trabalha sobre ele, “tanto mais completamente a pelve
participa da onda de excitação”.86
REICH considerava que certos fatores contribuiriam para dificultar e impedir o
reflexo do orgasmo. Acreditava que quando o curso do prazer é inibido, tem por
característica se transformar em desprazer. Reich explica que quando há uma forte
excitação sexual e a pessoa não é capaz de experimentar uma satisfação final, desenvolve
um medo do orgasmo e da excitação que o precede. Dessa forma, o “próprio processo de
excitação agradável torna-se uma fonte de desprazer”.87
Tais afirmações integram o livro “A função do orgasmo” de 1942. Esse livro,
segundo o próprio REICH explica na introdução, compreende seu trabalho médico e
84
Ibidem, p. 283.
Cf. ibidem, p. 283.
86
Ibidem, p. 284.
87
Ibidem, p. 294.
85
32
científico nos últimos 20 anos, ou seja, nos vinte anos anteriores à sua publicação. Dele
fazem parte idéias riquíssimas, muitas das quais tem relação direta com esse trabalho,
conforme procuramos apresentar anteriormente. Podemos perceber que a postura, objeto de
análise desse trabalho é, para REICH, um dos elementos constituintes do caráter do
indivíduo, manifestando-se muitas vezes, como conseqüência de inibições ancoradas sob a
forma de couraças musculares.
REICH concebeu que uma atitude tipicamente lordótica, que torna possível a
colocação da mão entre as costas do paciente e o divã, não seria causada por um
encurtamento de alguns músculos e alongamento de outros, mas poderia ser, na realidade,
uma conseqüência do encouraçamento pélvico. REICH considerava uma atitude lordótica
como algo mais amplo, fruto de uma couraça, que não é nem apenas “física” nem
“psicológica”. Na realidade, REICH considerava o organismo humano como uma
totalidade, sendo importante destacar que, para ele, uma atitude muscular tinha uma
correspondente expressão emocional. No caso de uma contenção do movimento da pelve
relacionada a repressões sexuais causadas, basicamente, pela Educação, poderíamos
identificar, por exemplo, a presença de uma hiperlordose.
No entanto, REICH não assinala isso como um “problema postural”, nem procura
mostrar outros desvios como problemas posturais em si mesmos. Para ele, a postura se
relaciona muito mais com uma atitude expressiva, que não devia ser desvinculada do
indivíduo que a assume. Além disso, as atitudes posturais são criadas e recriadas pela
Educação, sendo que REICH
procura entender as atitudes musculares criadas pelos
indivíduos, muitas vezes, como conseqüência de uma Educação repressora da sexualidade
natural.
Prosseguindo no desenvolvimento do trabalho de WILHELM REICH, verificamos
que em 1928
fundou a Associação Socialista para Consulta e Investigação Sexual,
juntamente com mais quatro psicanalistas, três médicos obstetras e um advogado, abrindo,
com o apoio do Partido Comunista austríaco, seis centros de higiene sexual destinado ao
atendimento e ao fornecimento de informações sobre sexualidade para a população pobre
de Viena. REICH procurou articular o materialismo dialético e a psicanálise fazendo a
“crítica da estrutura familiar burguesa, tomada como responsável pela neurose, e
33
considerando que sua superação provocaria o fim do complexo de Édipo e a definitiva
dissolução da neurose”88 publicando em 1929 o texto “Materialismo dialético e psicanálise”
em Moscou.
Em Setembro de 1930, publica o livro “Maturidade sexual, Abstinência, Moral
conjugal: uma crítica da reforma sexual burguesa”, onde considera a moral sexual vigente
geradora de psicopatologia. Esse texto, mostra o conflito das idéias de REICH em relação à
neurose. REICH, nessa época, acreditava que a neurose poderia ser eliminada através de
mudanças sociais, enquanto Freud acreditava que a neurose seria condição inevitável da
vida civilizada.89
No mesmo ano, REICH muda-se para Berlim onde procura intensificar e aprofundar
suas pesquisas, tendo uma maior receptividade devido à base popular organizada pelo
Partido Comunista alemão e da grande rede de associações destinadas à higiene sexual. No
mesmo ano, realizou uma conferência no 3º Congresso da Liga Mundial para a Reforma
Sexual, apresentando um trabalho desenvolvido nos Centros de Consulta Sexual de Viena.
Baseado nessa conferência, REICH realizou um projeto de um programa normativo, o qual
foi aprovado pela divisão cultural do Partido Comunista mas foi recusado pela direção da
Liga com a alegação de ser muito comunista. De acordo com REICH, essa organização
procurava manter uma posição apolítica.
Em 1931, cria em conjunto com o Partido Comunista alemão, a Associação Alemã
para uma Política Sexual Proletária ou SEXPOL. Oito organizações aderiram à SEXPOL
mobilizando cerca de 20 mil membros. No outono de 1931 realizou-se em Düsseldorf o
primeiro congresso da entidade, sendo que REICH proferiu o discurso principal. O
movimento se expandiu em diversas cidades e em poucos meses a entidade já contava com
cerca de 40 mil membros.
No mesmo ano, REICH preparou manuscritos de um texto sobre a juventude
contendo aspectos conceituais do movimento de política sexual, sendo o mesmo submetido
aos representantes de diversos grupos de jovens que faziam parte do SEXPOL,
incorporando os comentários e sugestões recebidos pelos jovens na versão final da obra. O
88
89
Ibidem, p. 72.
Cf. ALBERTINI, P., op. cit. p. 25- 42.
34
trabalho foi chamado “O combate sexual da juventude” e foi editado pelo próprio Reich em
virtude da resistência dessa organização em editá-lo, sendo caracterizado como um livro
basicamente de educação sexual.
Em 1932, REICH publica o livro “Irrupção da moral sexual repressiva”, texto de
análise antropológica sobre os trobriandeses. Nesse texto, Reich procura explicar a tese de
que a repressão sexual e a neurose tiveram sua origem na passagem do matriarcado
primitivo para o patriarcado. Segundo ele, na sociedade trobriandesa não existia repressão
sexual e a sexualidade era muito natural para os habitantes, sendo por isso uma sociedade
livre de perversões sexuais, enfermidades mentais funcionais e psiconeuroses, entre outros
problemas. No mesmo ano, REICH publica “O caráter masoquista”, onde levanta a
hipótese de que a estrutura de caráter masoquista expressa um desejo de alívio orgástico e
um medo do prazer, medo de morrer ou explodir, refutando outra tese da psicanálise que
acreditava que o masoquismo estaria relacionado a uma pulsão de morte.
Em fevereiro de 1933, por motivos políticos, REICH mudou-se para Viena, mas
devido à pouca receptividade do movimento psicanalítico local, mudou-se em maio
novamente para Copenhague. Foram publicadas duas obras do autor nesse ano: “Análise do
Caráter”, em março, e “Psicologia de massas do fascismo”, em agosto.90 Depois da
publicação desse último livro, suas relações com o Partido Comunista alemão se tornaram
insustentáveis, sendo que, na Dinamarca, REICH entrou em conflito com o Partido
Comunista dinamarquês por este último prestar auxílio discriminatório aos refugiados da
Alemanha, deixando de auxiliar indivíduos que não fossem indicados pelo Partido
Comunista alemão. Assim, em 23 de Novembro de 1933, o Partido Comunista dinamarquês
em conjunto com o Partido Comunista alemão publicaram um comunicado declarando a
expulsão de REICH.
90
Cf. ibidem, p. 43- 50.
35
Em Agosto de 1934, durante o 13º Congresso Internacional de Psicanálise, em
Lucerna na Suíça, deu-se a expulsão de Reich da Associação Psicanalítica Internacional.
Apesar da polêmica em torno dessa questão, poderíamos dizer que as razões para isso são
provavelmente as grandes divergências teóricas entre REICH e a Psicanálise, que
obrigaram-no a tomar um rumo independente.91
Entre outras publicações que sucederam, é importante destacar que em 1949,
REICH publicou na edição ampliada da “Análise do caráter”, um texto intitulado “A
linguagem expressiva da vida”. Neste texto, a princípio, REICH explica que a energia
denominada por ele de orgone, é o principal elemento com que se lida na terapia. Para ele, a
energia orgone estaria presente na mobilização das emoções.
92
Para REICH, emoção,
significa movimento para fora ou expulsão. Assim, quando ocorre o reativamento das
emoções no organismo, o que ocorre é uma mobilização da energia orgone.
A linguagem, para o autor, deriva de percepções de movimentos internos e
sensações dos órgãos, sendo que as palavras que descrevem os estados emocionais refletem
diretamente o movimento expressivo correspondente. No entanto, o organismo vivo se
expressa em movimentos, sendo que, apesar de refletir um estado emocional, as palavras
não conseguem expressar a emoção, pois esta está além das palavras. O organismo vivo
“possui uma linguagem expressiva própria, antes de, para além de, e independentemente de
toda linguagem verbal”.93
Segundo REICH, a linguagem humana funciona muitas vezes como defesa. Assim,
no começo da terapia os pacientes deveriam ser orientados para não falar, de modo que o
terapeuta poderia perceber o traço de caráter mais saliente pela observação do paciente.
A orgonoterapia, termo que compreende todas as técnicas médicas e pedagógicas
que usam a energia orgone, teria como fim influenciar o organismo a se expressar
“biologicamente” e não através da linguagem. O orgonoterapeuta procuraria influenciar a
linguagem do organismo vivo, procurando chegar ao modo de expressão “puro”,
“biologicamente genuíno”, já que a biopatia humana é a soma de todas as distorções dos
91
Cf. ibidem, p. 51- 55.
Cf. REICH, W. Análise..., p. 331.
93
Ibidem, p. 333.
92
36
modos de expressão naturais do organismo vivo, e se coloca fora da esfera da linguagem e
das idéias.94
O que se procura é trabalhar num nível mais profundo de compreensão, abordandose a linguagem da expressão facial e corporal, sendo, para tanto, necessário que o terapeuta
sinta a expressão do paciente. 95
Ao realizar uma análise mais detalhada do fenômeno de couraça muscular, REICH,
nessa época, descobriu que esta está organizada em segmentos e funciona como um anel,
envolvendo toda a região afetada circularmente. Um segmento de couraça compreende
aqueles órgãos e grupos musculares que têm contato funcional entre si e que podem
induzir-se mutuamente a participar no movimento expressivo emocional. Um segmento
termina e outro começa quando um deixa de afetar o outro em suas ações emocionais.96
Os segmentos de couraça têm sempre uma estrutura horizontal, com exceção dos
braços e das pernas, onde as couraças funcionam em conjunto com os segmentos adjacentes
da couraça, ou seja, os ombros e a pelve. As couraças tem uma estrutura circular formando
ângulos retos com a espinha dorsal.
As correntes orgonóticas se fundem ao reflexo do orgasmo quando sua passagem,
que se dá ao longo do corpo, não está obstruída por esses segmentos de couraça. Esses
estão dispostos em segmentos transversais ao fluxo da corrente, impedindo o fluxo
orgonótico até que sejam afrouxados os anéis de couraça.
REICH, fazendo observações dos movimentos dos anelídeos, verificou que estes
são governados por ondas de excitação que correm da extremidade da cauda ao longo do
eixo do corpo, para a cabeça. Estas ondas seriam transmitidas continuamente, de segmento
a segmento, até chegarem na outra extremidade. Ao atingirem a extremidade caudal, um
movimento ondulatório segue o outro no processo de locomoção, sendo que os segmentos
se alternariam de forma rítmica e regular entre contração e expansão. REICH concluiu que
é a energia biológica que está sendo transmitida nesses movimentos de onda, pois, nos
94
Cf. ibidem, 334.
Cf. Ibidem, p. 335.
96
Ibidem, p. 341- 342.
95
37
anelídeos e na lagarta, a função ondulatória está ligada a esse movimento ondulatório
plasmático.
Baseando-se nas observações anteriores, REICH concluiu que a energia orgone se
movimenta de forma ondulatória e lenta, correspondendo em ritmo e expressão às
excitações emocionais de prazer, que são sentidas de forma ondulatória, sendo transmitidos
da mesma forma em organismos mais primitivos como o verme e a lagarta e no ser
humano, quando os segmentos de couraça estão desobstruídos .97
E o que tem isso a ver com a postura? Bem, vimos que a energia orgone não pode
fluir devido ao encouraçamento muscular. O encouraçamento, ou seja, a contração crônica
de um grupo de músculos certamente leva à alterações de ordens posturais. De acordo com
esse ponto de vista, as desordens posturais não devem ser pensadas como um desequilíbrio
muscular, e sim, num sentido muito mais amplo, um desequilíbrio causado, na realidade,
pelo encouraçamento de certos grupos musculares que impede o fluxo de energia orgone
pelo corpo.
Pensando nisso, de nada adiantaria a realização de exercícios apenas, ou
alongamentos. A relaxação ou contração momentânea de um músculo não remontaria às
reais causas dos problemas posturais. Estes estariam nas profundezas do organismo, nas
formas de repressões e contenções, causadoras das couraças musculares, apenas acessíveis
através de um processo terapêutico. Bem, vejamos as alterações posturais e outras
conseqüências que, segundo REICH, seriam causadas pelas couraças.
REICH afirma que a expressão total do organismo encouraçado é de retenção e
descreve o aspecto morfológico desse organismo: ombros “puxados para trás, peito para
fora, queixo rígido, respiração superficial e contida, acentuação da lordose lombar, pelve
retraída e ‘imóvel’, pernas ‘sem expressão’ ou rigidamente esticadas constituem as atitudes
e mecanismos essenciais da contenção total”.
98
Nessa passagem, percebe-se que o
fenômeno descrito como encouraçamento provoca alterações posturais. Contudo, é
importante ressaltar que o corpo encouraçado ou a atitude de encouraçamento, não são
97
98
Cf. ibidem, 344.
Cf. ibidem p. 336.
38
criadas conscientemente pelo indivíduo, mas surgem de forma autônoma e involuntária,
sendo este incapaz de quebrar essa couraça ou de exprimir suas emoções biológicas
elementares. Assim, se a principal função da couraça, é impedir o reflexo do orgasmo, a
orgonoterapia tem o objetivo de restabelecê-lo. 99
Referindo-se aos segmentos de couraça, REICH ressalta que o primeiro segmento
de couraça é o ocular que apresenta uma contração e imobilização de todos ou quase todos
os músculos dos globos oculares, das pálpebras, testa, glândulas lacrimais etc. “Testa e
pálpebras rígidas, olhos sem expressão e globos oculares protuberantes, expressão
semelhante a uma máscara e imobilidade dos dois lados do nariz são características
essenciais desse anel de couraça”.
100
Além dessas, outras características são relatadas,
como a incapacidade do doente de abrir bem os olhos, a incapacidade de derramar lágrimas,
a miopia, etc.
O segundo segmento de couraça é o oral, que compreende toda a musculatura do
queixo e da faringe e a musculatura occipital, inclusive os músculos da boca, os quais estão
funcionalmente ligados uns aos outros.101
A couraça do terceiro segmento compreende a musculatura profunda do pescoço, os
músculos plastima e esternocleidomastóideo, sendo que esse segmento está ligado a
emoções reprimidas, como a raiva e com o impulso de chorar. 102
O quarto segmento é o segmento torácico cuja couraça manifesta-se pela “elevação
da estrutura óssea, por uma atitude crônica de inspiração, por respiração superficial e pela
imobilidade do tórax”. 103 Esse segmento compreende os músculos intercostais, os peitorais,
os deltóides e o grupo muscular sobre e entre as omoplatas. REICH explica que os
movimentos dos braços e das mãos estariam ligados ao segmento do peito. Segundo ele, as
“atitudes de ‘autocontrole’, de ‘ensimesamento’, de ‘reserva’, são as principais
manifestações dessa couraça. Ombros puxados para trás expressam precisamente o que
mostram — ‘contenção’!”104. Nessa passagem, torna-se claro novamente que Reich
99
Cf. Ibidem, p. 337-338.
Ibidem, p. 341-342.
101
Cf. ibidem, p. 342-343.
102
Cf. ibidem, p.345.
103
Ibidem, p.346.
104
Ibidem, p. 347.
100
39
acreditava que a repressão das emoções e a formação de couraças, provocariam alterações
posturais (atitude crônica de inalação, ombros puxados para trás).
Segundo REICH, a “expansão crônica do tórax acompanha a tendência a
hipertensão, palpitações e angústia; em casos graves há também a tendência para hipertrofia
do coração”.105 O encouraçamento do tórax seria a parte essencial da couraça muscular em
geral, de modo que sem sua dissolução seria impossível restabelecer a potência orgástica do
indivíduo.106
Os ombros puxados para trás, a dor nos dois feixes de músculos dolorosos na região
do músculo trapézio e uma sensibilidade exagerada a cócegas nos músculos intercostais são
as principais características da couraça torácica na região posterior. Enquanto não forem
liberadas as emoções de raiva, desejo e tristeza genuína, não é possível dissolver esta
couraça e restabelecer a potência orgástica do indivíduo.107
O quinto segmento é o segmento do diafragma que “forma um anel de contração
que se estende desde o epigástrio e a parte inferior do esterno, seguindo ao longo das
costelas inferiores em direção às inserções posteriores do diafragma, isto é, às décima,
décima primeira e décima segunda vértebras torácicas”.108 REICH enfatiza que esse
segmento compreende “essencialmente o diafragma, o estômago, o plexo solar, o pâncreas,
o fígado e dois feixes de músculos salientes que se estendem ao longo das vértebras
torácicas inferiores”. 109 De acordo com REICH, a manifestação mais evidente deste anel de
couraça é a lordose acentuada ou a hiperlordose. Vemos aqui evidenciado, novamente, a
relação das couraças com a postura. A atitude lordótica é vista mais uma vez como
encouraçamento e não como um desequilíbrio muscular, resultado do alongamento de
alguns músculos e encurtamento de outros.
REICH aponta que o mecanismo central de bloqueio dessa região é o diafragma,
pois o organismo se defende contra as sensações de prazer ou de angústia que são causadas
pelo movimento do diafragma, deixando-o imobilizado. Se o paciente fosse orientado a
105
Ibidem, p. 347.
Cf. ibidem, p. 348.
107
Cf. ibidem, p. 349.
108
Ibidem, p. 350.
106
109
Ibidem, p. 350.
40
respirar, sempre inspiraria, pois a expiração espontânea lhe é estranha, já que produz
movimentos diafragmáticos de maior extensão, contra os quais se defende.110
Numa respiração livre de bloqueios, na qual o diafragma se move livremente, o
tronco se esforça a cada expiração por se flexionar na região do abdômen superior, ou seja,
a extremidade cefálica faz esforço para a frente em direção à extremidade pélvica, sendo
esta a imagem do reflexo do orgasmo que se apresenta pela primeira vez ao terapeuta. Com
a dissolução do bloqueio do diafragma ocorrem as primeiras convulsões do tronco que,
posteriormente, se desenvolvem completamente no reflexo do orgasmo. Essas convulsões
são acompanhadas por uma expiração profunda e uma onda de excitação que se propaga
para cima em direção à cabeça e para baixo em direção aos órgãos genitais.111
O sexto anel de couraça é uma contração no meio do abdômen: o “espasmo do
grande músculo abdominal (retos abdominais) é acompanhada por uma contração espástica
dos dois músculos laterais (transversos abdominais), que vão das costelas inferiores até a
margem superior da pelve”
112
. Estes músculos poderiam ser facilmente palpados como
cordões musculares rígidos e dolorosos. Nas costas, esse segmento de couraça corresponde
às porções inferiores do grande dorsal, eretor da espinha entre outros. Esse seria o segmento
de mais fácil dissolução de todos.
O sétimo segmento seria o da couraça pélvica que compreenderia quase todos os
músculos da pelve, deixando-a retraída. O músculo abdominal acima da sínfise fica
dolorido, acontecendo o mesmo com os adutores da coxa e o músculo do esfíncter anal,
causando retraimento do ânus. De acordo com REICH, a pelve fica morta, sendo esta a
expressão da assexualidade.113
Emocionalmente não se sente qualquer sensação ou
excitação e os sintomas correspondentes a essa região são os mais variados, tais como:
prisão de ventre, irritabilidade da bexiga e anestesia da vagina ou da superfície do pênis,
entre outros sintomas.
A couraça pélvica, assim como a couraça dos ombros conteriam sentimentos de
raiva e de angústia. Na pelve, como em outras partes do corpo, o prazer que é inibido
110
Cf. ibidem, p. 351.
Cf. ibidem, p. 359.
112
Ibidem, p. 358.
113
Ibidem.
111
41
transforma-se em raiva e esta raiva, inibida, transforma-se em espasmos musculares. As
sensações de prazer só aparecem quando a raiva tiver sido liberada dos músculos
pélvicos.114
Podemos perceber pelo exposto, que a idéia de couraça muscular se relaciona
intimamente com a postura do indivíduo. A couraça, distante de ser apenas uma mudança
“física”, na realidade diz respeito a alterações emocionais que acompanham os processos
somáticos ou corporais. Portanto, podemos verificar que alterações emocionais conduzem
ou se refletem em alterações posturais.
Com base nisso, diríamos que as idéias de WILHELM REICH poderiam ser
exploradas nas escolas, através de atividades que valorizassem a expressão corporal do
indivíduo, mostrando aos alunos que existe uma outra forma de expressão para além da
verbal. REICH, também, poderia ser utilizado na ampliação da discussão de temas
referentes à sexualidade, contribuindo para o esclarecimento dos alunos e educadores de
forma geral.
Baseando-nos nisso, diríamos que para além da forma biomecânica com que a
postura vem sendo tratada na Educação Física, há uma outra visão que a entende como
resultado de alterações que envolvem o psíquico e o somático do indivíduo, sem, no
entanto, excluir as influências sociais e culturais a ela pertinentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho procurou refletir sobre as influências emocionais sobre a postura.
Descobriu-se, no decorrer do mesmo, que as questões de postura têm estado historicamente
ligadas a questões de saúde, sendo que essa visão também tem sido predominante na
Educação Física. Pôde-se evidenciar que algumas práticas e exercícios que visavam uma
“correção postural”, poderiam estar ligados a uma docilização dos corpos com
114
Cf. ibidem, p. 359.
42
correspondente função de melhor adaptação e rendimento corporal. Por outro lado,
abordou-se um outro ponto de vista que considera que a postura está intimamente ligada à
expressividade do indivíduo. Com base na teoria de WILHELM REICH pudemos observar
que o corpo traria as “marcas da vida”, repressões sofridas pelo indivíduo, mas tornadas
inconscientes, através de couraças musculares que nada mais seriam do que um reflexo do
psíquico do indivíduo no somático, sendo que a sua conscientização estaria acessível
através de um processo terapêutico.
Dessa forma, foi mostrado que aquilo que REICH chamou de couraças musculares,
traria diversas conseqüências, dentre as quais, alterações posturais. A postura seria,
portanto, a própria expressão do indivíduo dependendo de fatores diversos. Ou seja, não
apenas vinculados ao físico (somático), mas, também ao psíquico, ao emocional do
indivíduo.
As duas formas apresentadas de práticas corporais alternativas, isto é, a
Antiginástica de THÉRÈSE BERTHERAT e o Rolfing de IDA P. ROLF, procuram
modificar a postura como um meio de se chegar a uma saúde total, a uma melhor circulação
de energia, entendendo a postura como um reflexo do psicológico no indivíduo, estreitando
dessa forma, a relação entre o psíquico e o somático.
Fazendo uso de intervenções manuais, IDA ROLF procura realinhar o corpo
humano à linha da gravidade, apostando que esse alinhamento ou ajustamento do corpo ao
campo gravitacional levaria a uma melhor personalidade psíquica.
Para THÉRÈSE BERTHERAT e CAROL BERNSTEIN, os problemas da postura
seriam provenientes do encurtamento da cadeia muscular posterior, causado pelos
movimentos cotidianos do corpo. A solução para uma melhor saúde psicossomática seria,
portanto, a relaxação da musculatura posterior que consequentemente implicaria em uma
melhor postura, com reflexos no funcionamento psíquico do indivíduo.
As práticas corporais alternativas procuram resgatar o contato do indivíduo com seu
corpo, sendo uma via de autoconhecimento e alternativa à crescente onda de ginástica de
academia e práticas similares que não levam em conta a questão da individualidade do
movimento e do corpo de cada indivíduo. As práticas corporais alternativas são muito
importantes, pois procuram despertar no praticante o contato mais íntimo com seu próprio
43
corpo, procurando desenvolver a consciência corporal e do movimento. Portanto, essas
práticas deveriam ser valorizadas nos cursos de Educação Física e nas escolas, sobretudo,
ao se trabalhar questões sobre a postura.
Deve-se ressaltar que os cursos de Educação Física no Brasil ainda dão pouca
importância às práticas corporais alternativas. Da mesma forma, no trato com a postura, a
questão emocional é ainda muitas vezes esquecida, o que implica em prejuízos para o
trabalho e compreensão da postura. Nesse sentido, o trabalho de WILHELM REICH, em
especial, naquilo que diz respeito às couraças musculares poderia contribuir com essa
discussão.
Cabe reforçar que essas práticas corporais alternativas tratam da questão postural de
uma forma diferente daquelas predominantes na Educação Física. Ou seja, ressaltam que os
fatores emocionais estão intimamente ligados à postura, razão pela qual deveriam ser
melhor investigadas. Isso não quer dizer que deva se excluir as influências e considerações
da biomecânica sobre a postura, pois estas também oferecem um melhor conhecimento
sobre o próprio corpo. A discussão sobre os “desvios posturais e suas possíveis
conseqüências, como danos à coluna vertebral e outros problemas de saúde deve ser
valorizada, mas sem perder de vista as relações da postura com os aspectos emocionais do
indivíduo.
Contudo, o conhecimento acerca das couraças não significa que qualquer
profissional poderá intervir diretamente na questão emocional, mas sugere que a questão
postural deva ter um tratamento interdisciplinar, sem perder de vista o todo com que se
trabalha, ou seja, o indivíduo.
44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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