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O ARCO ROMANO
O experimento antecede a teoria
Prof. Marco Pádua
"O arco está para a Arquitetura assim como a roda está para a mobilidade humana"
A Física como conhecemos surge no sec. XVII através de personagens como Isaac Newton,
Galileu Galilei e muitos outros. Com eles nasce a ciência, inaugurando o conceito da
experimentação para comprovar as descobertas. Assim as leis da Natureza deveriam ser provadas
através de experimentos. Os romanos já praticavam uma destas experimentações, ou seja, distribuir
o peso das estruturas de forma angular, obtendo vãos maiores, há pelo menos 1.500 anos antes de
ser anunciado o conceito de força.
O arco é um elemento arquitetônico revolucionário. Permitiu às edificações maior leveza e
sofisticação. Os romanos são responsáveis por esta inovação. Através de uma simples estrutura
arqueada foi possível chegar ao arco de meio ponto e à abóboda de canhão. Esse elemento eternizou
as honrarias, através dos Arcos Triunfais, transportou água para as cidades, através dos aquedutos e
embelezou as fachadas. Com vários arcos entrelaçados foi possível cobrir os edifícios através dos
tetos em abóboda. Sua evolução possibilitou que as edificações ganhassem maior altura com o arco
ogival, caracterizando as catedrais góticas. Apesar da criação de materiais modernos como o aço e o
concreto, o arco ainda é utilizado como conceito arquitetônico, embelezando as fachadas e
sustentando pontes.
A despeito da monumentalidade da obra, os templos egípcios se caracterizam por ser uma
construção compacta, pesada e limitada espacialmente. O diâmetro avantajado das colunas é notório
e contrasta com o espaço entre elas. Resultado do sistema construtivo adotado na época, brilhante
por sinal, semelhante à construção de uma chaminé, onde o construtor assenta os blocos de forma
circular estando ele no centro. Os blocos já esculpidos em formato curvo constituem o cilindro que,
atingindo a altura desejada, recebem ornamentos denominados capitéis. Não e sabido se havia
cobertura e mesmo havendo seria executada com materiais vindo da vegetação e não resistiria ao
tempo, inexistindo como hoje se apresenta. O vão limitado era resultado da dificuldade da elevação
de grandes blocos de rocha para compor a cobertura. A altura de 20 a 24 metros era expressiva para
a época, não existindo nada além como comparação. Apesar disto o aglomerado de colunas dava ao
ambiente um aspecto de labirinto. De qualquer forma esses edifícios são referência na Historia da
Arquitetura e demonstram o máximo da técnica disponível naquela época.
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Tomando-se por base a celebre frase "O que move o mundo são as perguntas e não as
respostas", a adoção do arco para cobrir vãos maiores alimenta varias delas, como por exemplo:
Em que momento descobriu-se que o posicionamento ascendente de uma peça, faria com
que ela suportasse um peso maior?
Que modelo serviu de base para estudos e aplicações até chegar-se a uma forma
definitiva?
Há na Antiguidade algum elemento arquitetônico que poderia servir como ponto de partida
para favorecer esta evolução na Arquitetura?
Nestas e noutras questões, estaremos caminhando a passos largos de encontro às respostas
se simplesmente, tivermos coragem de perguntar.
Seria necessário um bom exercício de imaginação para tentar decifrar este enigma e,
evidentemente, recorrer aos dados históricos disponíveis. Com poucos exemplares ainda restantes
qualquer tese estaria alicerçada, fatalmente, em suposições, mas com grande dose de acerto. Este
assunto se torna intrigante e apaixonante, pois é necessário imaginar o comportamento dos
construtores da época, com suas dificuldades e soluções que, obviamente seriam tomadas se
fossemos nós os autores.
Outros elementos arquitetônicos são característicos de determinada época ou cultura.
No período Neolítico os dolmens inauguravam os espaços cobertos. Os blocos de pedras
verticais serviam de apoio para sustentar blocos lamelares na horizontal, cuja finalidade era a de
proteger contra as intempéries. Os trilitos de Stonehenge poderiam ser reconhecidos como
embriões, considerando seus elementos verticais suportando vigas de pedra, das estruturas metálicas
ou de concreto armado dos dias de hoje.
Os egípcios criaram teto com blocos de rocha dispostos em balanço, como se o observador
estivesse olhando por debaixo de uma enorme escadaria, capaz de suportar os milhares de toneladas
de uma pirâmide. Quéops sendo a mais evoluída tecnicamente possui um teto em forma de "V"
invertido onde foi utilizado blocos de granito estimados em 70 tons. cada. Suportou plenamente o
peso do edifício que na época tinha 146 m de altura. Hoje sabemos que este recurso é usado na
montagem de treliças que constituem as estruturas metálicas, pois, desfrutam do chamado
"triângulo de forças", distribuindo o peso de forma angular e uniforme, tornando-as mais rígidas.
Curiosamente há 4.500 anos não havia esta informação.
O frontão adotado pelos gregos identifica sua arquitetura, pois não é encontrado
anteriormente. O formato triangular sobre as colunatas distingue as vistas do edifício, separando-as
entre frente, lateral e posterior. Seu uso exclusivo nos templos os torna característicos, ressaltando a
fachada, inaugurando um novo formato e distinguindo-o dos outros edifícios. Pode ter surgido como
um fechamento para encobrir o teto que se apresentava em formato duas águas.
Voltando ao surgimento do arco, seria necessário identificar um modelo arquitetônico que
originou sua efetivação. Sim, pois historicamente, na Arquitetura nada se inventa, tudo evolui.
Sempre há um ponto de partida e, descobri-lo, é sempre uma aventura. Há evidencia de uma estreita
relação, por incrível que pareça, entre os trilito de Stonehenge, o teto das câmaras funerárias
egípcias e o frontão adotado pelos gregos, cujo resultado pode ter originado esse modelo
arquitetônico. Com o passar do tempo ele assume uma função especifica conhecida como "Arco
Triunfal" difundido pelos Romanos. Através deste ultimo, o arco se disseminou até os tempos
atuais.
Seria necessário analisar as fontes históricas para achar fundamentos que satisfaça esta
afirmação, o que é um tanto difícil, porem não impossível.
O enigma esta nos eventos que tenham iniciado um experimento novo quando da
construção de alguma edificação que teria a finalidade de cobrir uma área maior. Os primeiros
edifícios lembrados são os templos.
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A grande inovação trazida pelos gregos é o frontão, valorizando a questão estética. Este
elemento arquitetônico propicia ao edifício algo diferente: a fachada. Diferentemente dos templos
egípcios que não a possuíam, pois se apresentavam como um conjunto de templos unificados
caracterizando uma grande área construída.
Atualmente poderíamos associar o frontão com uma estrutura de telhado, a tesoura ou um
oitão. Se esta era a função é desconhecido, pois não resistiu ao tempo. Mas, um detalhe pode ser
importante nesta descoberta se observarmos que o frontão aparece somente nas extremidades do
edifício, ressaltando a fachada.
Considerando o Parthenon como exemplo, com quase 70 m de comprimento, deduzimos
que seriam necessárias várias estruturas em forma de frontão neste intervalo para suportar o plano
de águas de uma cobertura. E não é isto que percebemos. Daí a crença de que este elemento teria
somente uma função decorativa.
Quanto aos vãos obtidos, percebemos que não excediam a três metros livres e um total de
quatro a cinco metros para a arquitrave, elemento horizontal com a função de viga em nosso tempo.
Esta distancia é um pouco mais significativa no chamado pronao, algo como um saguão de entrada.
Ora uma peça como esta deveria pesar em torno de 15 tons. aproximadamente. Valor este muito
significativo para a época.
Os templos gregos floresceram 1.000 anos após os egípcios e neste intervalo de tempo os
avanços nos sistemas construtivos não foram significativos. Maiores vãos necessitariam de peças
maiores e consequentemente peso excessivo, mesmo utilizando um tipo rudimentar de guindaste já
empregando um sistema de roldanas, aliviando a carga inicial. Hoje seria fácil elevar um bloco
desses a dez ou doze metros de altura, mas há 2.500 anos, não. No caso egípcio ainda há vestígios
do uso de aprisionamento de terra no espaço da construção do templo de Luxor. Juntamente com
uma rampa facilitava o arraste de blocos de pedra sobre as colunas já erguidas. Este recurso é
revelado por parte de um muro remanescente em seu entorno. Depois de pronto bastava desterrar o
espaço e expor a obra.
Mas a pergunta que não se cala é: em que ocasião uma peça horizontal foi apontada para
cima e apoiada simetricamente em outra com a finalidade de vencer um vão maior? Em alguma
edificação em especial que não um templo? Em uma estrutura que tivesse outra finalidade? Qual? É
difícil acreditar que num certo dia qualquer alguém tenha decidido "fazer uma janela em arco"
Percebemos algo de estético nesta solução a princípio. Quem sabe para diferenciar da
Arquitetura grega. Porem em dado momento se torna evidente que as qualidades apresentadas pelas
estruturas arqueadas são sentidas, ou seja, maior resistência. Isto é sentido quando comparamos as
arcadas do Coliseu Romano, cujos arcos são talhados num só bloco e os Arcos Triunfais, onde a
estrutura arqueada compõe-se de varias peças menores cortadas em formato curvo. A disposição das
peças citadas neste último parece obedecer um projeto específico, identificado por sua curvatura,
bem como o bloco zenital de travamento. Este era tão importante que merecia um entalhe especial,
dando destaque ao conjunto. Neste caso deduz-se que fosse necessário um escoramento de madeira
para dar sustentação a montagem do arco. É presumível que até chegar neste "gabarito" dezenas de
anos se passaram entre tentativas e erros. Daí a importância desses monumentos na busca desse
modelo usado com a finalidade de testar algo novo. Eles podem ter surgido como elementos de
sustentação para as primeiras estruturas arqueadas. Quanto a função de homenagear os imperadores
e suas façanhas, pode ter sido adquirida após a efetivação da ideia como forma justificativa. Aliás
esta prática era usada primitivamente, segundo registros históricos, usando-se estruturas
temporárias. Sendo assim, provavelmente, eram executadas em madeira onde as armas conquistadas
nas batalhas eram expostas.
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A suspeita que torna o Arco Triunfal propício para ser um embrião na elaboração dos arcos
está no fato deles serem encontrados fora das cercanias das cidades, praticamente em sua totalidade.
Isto pode ser identificado como uma atitude de experimentação. É certo que essas cidades eram
cercadas por muralhas e as vezes continham arcos em sua constituição, porem nada indica que este
costume tenha precedido o processo.
ARCO DE AUGUSTUS - RIMIN I - 27 d.C.
Um exemplo típico está no Arco Triunfal acima, já existente, serviu de ancoradouro para a
muralha que protegeria a cidade. Sua construção posterior ao arco é claramente visível. Além disso,
tornou-se um portal de entrada. Historicamente as muralhas vieram a ser construídas após os arcos.
Basicamente um Arco Triunfal clássico é formado por dois pilares maciços e interligados
por um arco semiesférico contendo ainda, uma cobertura em forma de telhado ou reta,
complementado por estátuas e inscrições ressaltando vitórias ou eventos importantes.
A decoração utilizada através das esculturas inclui figuras aladas do sexo feminino,
semelhante aos anjos, obedecendo sempre o mesmo posicionamento como o topo da curva do arco.
Outros modelos mais elaborados possuem arcadas laterais, porem a linguagem visual definido por
colunas salientes e decoração são constantes e se repetirão nos modelos que viriam a ser construídos
ao longo da História. A maioria dos Arcos Triunfais erigidos foram por iniciativa do Senado, tendo
como justificativa homenagear conquistas romanas. Por outro lado incertezas cobrem este costume
com relação as suas origens inclusive quanto ao modo construtivo.
Esses e outros monumentos da Antiguidade causam ao leigo espanto e admiração pela
engenhosidade que despertam. Muitas vezes alguns põem em duvida a capacidade humana de
empreendê-los. Isto decorre do fato de haver apenas poucos exemplares, sempre demonstrando um
domínio do processo ao longo do tempo. Não havendo modelos intermediários a descontinuidade
construtiva colabora para essas incertezas.
Alguns historiadores antigos deixaram registros desses eventos, porem superficiais.
Principalmente quanto aos métodos construtivos. Vale lembrar aqui os templos egípcios repletos de
inscrições mas, apenas com fatos históricos relacionados os faraós.
Plínio, o Velho, menciona em seus escritos do primeiro século d.C. o uso desses
monumentos para comemorar triunfos e eventos, referindo-se a eles como de invulgar importância.
Curiosamente, Vitrúvio, o primeiro escritor da arquitetura romana no primeiro século a.C.
não menciona essas edificações, teoricamente já existentes.
Os Arcos Triunfais erguidos posteriormente eram destinados também a outras finalidades.
No segundo século d.C a cidade de Ancona construiu o seu para homenagear o imperador Trajano
devido as melhorias trazidas por ele ao porto da cidade.
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Apesar desses registros, não se sabe ao certo quando esse processo teve início,
especulando-se que tenha originado no período republicano com três exemplares construídos em
Roma. Eram estruturas temporárias e não sobreviveram. O primeiro foi construído por Lúcio
Stertinius em 196 a.C., segundo dados históricos. Há algo de incorreto nesta afirmação, pois esse
personagem não aparece na lista de cônsules republicanos de Roma nesta data e em nenhuma outra.
O período imperial romano é responsável pela construção da maioria dos Arcos Triunfais
sendo que no quarto século d.C. eles já somavam 36 unidades. Atualmente apenas 5 são
remanescentes.
Ao longo da História os Arcos Triunfais tornaram-se cada vez mais elaborados.
Primeiramente identificados por simples estruturas arqueadas executados em tijolos ou pedra. As
vezes fazendo o papel de pórtico da cidade eram interligados por muralhas. Os que eram
construídos externamente serviam para expor armas e objetos conquistados nas batalhas. Os Arcos
construídos posteriormente continham arcadas laterais e recebiam mármore de alta qualidade em
sua constituição. O teto, avantajado pela espessa parede de apoio, originou a abóboda de berço,
principalmente nos modelos externos. Esse teto expunha um trabalho artesanal com a lapidação das
pedras que constituíam o conjunto. Inscrições, adornos, baixos-relevos e estátuas de bronze
completavam o trabalho. A ordem coríntia adornava as colunas padronizando o sistema por longa
data.
Se este tipo de edificação surge durante o período republicano Romano, isto é, no sec. I
a.C. e denominada como sendo estruturas provisórias, não resistindo ao tempo, certamente eram
construídos em madeira. Recebeu aprimoramentos conforme se fixava o costume. A princípio seria
semelhante a um pórtico rudimentar servindo de suporte para as armas conquistadas dos inimigos
de Roma. Com o passar do tempo fatalmente não seria suficiente para esta finalidade. Como na
Arquitetura Neolítica a madeira é substituída pela pedra no decorrer do tempo cuja finalidade seria
dar maior importância ou eternizar aquele feito. Se o formato seguiu o anterior, as primeiras
unidades seriam semelhantes a um trilito. Supondo que a quantidade de armas, escudos e outros
pertences valiosos na época, fossem em grande quantidade, seria necessário uma série de trilitos
para expô-los.
Com a adoção dos arcos aos portais de entrada, surge o costume de inserir a eles inscrições
e referências aos seus construtores, dando-lhes maior importância e ao acesso às cidades. O fato
desses elementos serem edificados separadamente, inclusive fora da zona urbana, induz a um
questionamento quanto a sua construção apenas para servir de suporte de armas.
ARCO TRIUNFAL DE GLANUM - FRANÇA
A despeito dessas estruturas serem descritas somente no primeiro século d.C. pelo
historiador Plínio, curiosamente, há exemplos desses monumentos que resistiram ao tempo e datam
de época anterior a esses registros, como o arco triunfal de Glanum (França - 25 a 10 a.C.). O fato
de estar fora de Roma confirma seu objetivo de ostentar vitórias e conquistas de seus exércitos.
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Vale lembrar, nesta busca pelas origens dos arcos, que há vestígios do uso deste elemento
quando da conquista da Gália, pelos romanos, onde se originou a França. Fato este ocorrido no
primeiro século a.C. sob comando de Julio Cesar. Sob as fundações da catedral de Notre Dame, em
Paris, há um sítio arqueológico que retrata este episódio.
O cotidiano dos primeiros habitantes da antiguidade, onde hoje se encontra Paris, foi
preservado sob a cripta arqueológica da Catedral de Notre Dame. Esse espaço se apresenta como
uma cápsula do tempo composto por artefatos galo-romano. Esta residência pertencia a um dos
precursores da cidade, conhecido como Lutèce. Assim, é possível ter uma visão fascinante de como
viviam os personagens do poderoso Império Romano.
Este sítio arqueológico também reforça a corrente das estruturas arqueadas construídas
longe do perímetro urbano romano, aparentemente mais antigas que as executadas por lá.
Teoricamente uma nova técnica construtiva deveria fazer o caminho inverso, ou seja, teria
de ser levada por seus criadores às terras conquistadas quando da sua reurbanização. E não é isto
que aparenta ser, pois há vestígios de sua aplicação fora dos domínios romanos muito antes de ser
adotada à capital do império.
SITIO ARQUEOLÓGICO DE PARIS
É sabido que pouca coisa sobrava das cidades conquistadas e por este fato elas precisavam
ser reconstruídas. Considerando que naquele tempo as informações demoravam anos para serem
assimiladas e aplicadas é justificável seu uso nas cercanias de Roma muito tempo depois.
Ao que tudo indica os arcos não foram criados para embelezar as muralhas ou acessos das
cidades antigas e muito menos decorar as fachadas com janelas arqueadas. Esse novo recurso foi
sendo disseminado em outras estruturas em decorrência de sua evolução técnica.
Outra "invenção" trazida pelos romanos são os aquedutos, estruturas lavradas em pedra
formando calhas com o propósito de levar água das nascentes aos pontos de consumo.
Hoje são preservados vários exemplares que em sua grande maioria se apresentam com
estruturas arqueadas. Porem os mais antigos são subterrâneos ou se desenvolvem na superfície. Em
um dado momento na História eles são reconstruídos e recebem estruturas arqueadas ganhando com
isso a possibilidade de atravessar terrenos irregulares e atingir uma distância muito maior.
Deduzimos então, que os aquedutos também não foram responsáveis pela criação do arco e foram
sim, beneficiados por ele.
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AQUEDUTO DE SEGOVIA - ESPANHA
Os aquedutos mais antigos datam do ano 312 a.C. e foram construídos pelos censores Appio
Claudio e Caio Plauzio Venox, recebendo o nome de Aqua Appia. Este captava água das nascentes
ao longo da via Prenestina e de forma subterrânea adentrava pela Porta Maggiore, alimentando
vários pontos até o Fórum Boario. Passou por várias intervenções enquanto outros eram construídos
nos anos 144 a.C., 33 a.C. e entre 11 e 4 a.C.
Outro conhecido como Anio Vetus, construído pelos censores Manio Curio Dendato e
Flavio Flacco entre os anos 272 e 270 a.C. terminava na Porta Esquilina, também se desenvolvia de
forma subterrânea quase que em sua totalidade.
Analisando esses dois casos somente, percebemos que os aquedutos são muito antigos e
foram reconstruídos inúmeras vezes porem nada indica que tenham recebido arcos em sua forma
original.
Para os aquedutos a adoção dos arcos foi fundamental na irrigação de longa distância,
abastecendo as cidades. Há desses equipamentos que se estenderam por cerca de 50 Km,
atravessando terrenos irregulares, mas mantendo a inclinação necessária para o escoamento da água.
As fachadas arqueadas mais famosas e expressivas são as do Coliseu Romano. Os arcos dão
ao edifício uma clara unidade estilística ressaltada pela modularidade dos vãos. Demonstra uma
evolução significativa dessa técnica denotando sua época como uma grande obra. Sem os arcos não
teria a mesma expressividade plástica e talvez nem fosse possível sua execução como hoje se
apresenta. Se o arco permite um espaçamento maior ente os apoios, sem ele os vãos seriam
menores, trazendo ao edifício uma aparência mais pesada.
COLISEU E ARCO DE CONSTANTINO - ROMA
Com apenas linhas retas o Coliseu seria igual aos edifícios já existentes e não teria a mesma
aura que o personifica. Porem seus arcos demonstram uma técnica apurada adquirida por longa
data. Outros edifícios já haviam servido de modelos experimentais, quem sabe por pelo menos dois
séculos antes de sua construção.
Tentando identificar o ponto de partida até chegar aos arcos podemos imaginar uma
estrutura sustentada por um escoramento de madeira permitindo uma montagem de peças lavradas
em pedra apoiadas em maciços também de pedra.
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É comum nas edificações romanas a representação, esculpida em pedra, de um frontão
grego apoiado em duas colunas. Aparecem como detalhe estético nas fachadas ou emoldurando uma
fonte d' água, por exemplo. Isto seria um bom modelo para a montagem de uma estrutura arqueada.
Vamos imaginar um vão constituídos por rochas-vigas dispostas em forma de "V" invertido.
E, se num dado momento nesta evolução, uma terceira peça horizontal unisse ou se apoiasse nas
duas inclinadas para se obter um vão maior. Evidentemente que seria necessário o auxílio de alguma
forma de escoramento, um anteparo que, com certeza, seria feito de madeira. O aprisionamento de
terra entre dois maciços de pedra, gerando uma rampa, também poderia auxiliar no arraste e
elevação das peças, recurso este, muito usado na antiguidade.
Efetivada a construção do arco, sua evolução viabilizaria a criação da abóboda de canhão,
outra inovação romana. Neste formato vários arcos são construídos paralelamente formando um
tubo cortado ao meio, quem debaixo olha.
ARCO ETRUSCO - PERUGIA - ITÁLIA
(Curiosamente poderíamos supor que convivem lado a lado um embrião - a fonte - e o produto: o arco)
Anteriormente, se alguma estrutura fosse construída em pedra e semelhante a um trilito,
fatalmente ela receberia este novo recurso para vencer um vão maior.
A partir da estabilidade esta estrutura poderia sustentar blocos de rocha menores
preenchendo os espaços até formar um paredão nivelado. Todo o peso estaria distribuído de forma
angular e não vertical, propriedade esta exclusiva dos arcos, ou seja, a resultante de forças seria
transferida para os maciços laterais.
Podemos imaginar também, nosso construtor primitivo montando uma sucessão de arcos
sobre os vãos, preenchidos por um dos anteparos já descritos, até sua conclusão. Em seguida era só
desmontar os escoramentos, admirar a obra e, certamente destiná-la a um uso muito especial: servir
de berço para o transporte de água. Equipamento este já existente, porem numa configuração
limitada.
Inicialmente seria um modelo unitário isolado que não precisasse ser tão alto e servisse
apenas de experimento. Com sucesso, uma série deles seriam executados. Podemos imaginar que
dessas três peças que compusessem os primeiros arcos, para uma série delas seria apenas uma
questão de tempo. Muito tempo, evidentemente, considerando as dificuldades de materiais,
ferramentas e principalmente, conhecimentos de Física que viriam a serem disponibilizados 1.700
anos depois.
Infelizmente não encontramos nenhuma edificação com essas características, sinal que
podem ter sido apenas experimentos. Somente vemos edificações que apresentam arcos
perfeitamente estruturados, porem não é aceitável que eles, subitamente, foram montados nesta
configuração.
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Quando citamos as pirâmides, Quéops, Quéfrem e Miquerinos são as mais lembradas,
porem em sua evolução há aquelas que se assemelham a escadas e as que desabaram e foram
abandonadas.
TETO DA CÂMARA FUNERARIA (PIRAMIDE DE QUÉOPS)
Não podemos esquecer que as Pirâmides possuem câmaras mortuárias cujo teto é formado
por blocos de granito lavrados com extrema precisão e dispostos em forma de "V" invertido,
semelhante a um telhado duas águas dos dias de hoje.
É sabido também, que os Romanos dominaram os Egípcios em certa época, por sinal na
mesma em questão, quando da batalha do Áccio. Certamente conheciam os edifícios citados e sua
configuração.
A referida batalha ocorreu em 2 de setembro de 31 a.C. na região chamada Actium,
pertencente a Grécia e foi protagonizada pelo general Marco Antonio e Otaviano, caracterizando
uma guerra civil. Nesta batalha naval, Marco Antonio era apoiado pela frota de barcos da rainha
Cleópatra VII, do Egito. Marco Vipsânio Agripa comandava a frota de Otaviano que, obtendo a
vitória, pos fim a crescente oposição ao seu poderio crescente, como também a própria república
romana, iniciando o período imperial.
Após um ano aproximadamente Otaviano invade o Egito e, como registra a obra de Virgílio,
Eneida, Marco Antonio e Cleópatra protagonizam a tragédia amorosa conhecida de todos.
TRÍLITO DE STONEHENGE
Stonehenge, no período neolítico, surgiu de um simples alinhamento feito com troncos de
madeira e evoluiu por dois mil anos para chegar como hoje se apresenta. Por falar em Stonehenge
nos lembramos de sua constituição formada por Trilitos, ou seja, duas rochas-pilares suportando
uma rocha-viga.
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Esses elementos caracterizam a parte central do monumento tornando-a especial onde eram
realizados cultos místicos. Um trilito seria um bom modelo para se experimentar uma nova
modalidade de vencer vãos maiores alterando a disposição de sua peça horizontal chamada de
arquitrave.
Mas as duas culturas estariam afastadas cerca de 2 mil quilômetros e em uma época tão
remota, como seria possível esta interligação? Gregos e Romanos eram mais próximos e é notório a
influência grega na Arquitetura romana.
Buscando auxílio nos registros históricos verificamos que Júlio César, general romano
invadiu a Britania, hoje Grã-Bretanha, duas vezes. A primeira invasão ocorrida em 55 a.C., no final
do verão, mais se destacou por ser uma expedição de reconhecimento pois, não tendo o sucesso
esperado, alcançou apenas a costa de Kent ou um pouco mais. Estando já em final de temporada de
campanha, César tenta obter informações através de comerciantes e mercadores da região, bem
como a localização dos portos que favorecessem sua invasão. Era seu desejo conhecer também os
hábitos dos moradores e militares. Sem sucesso o bastante, Gaius Volusenus, tribuno romano é
enviado com apenas um navio para explorar a costa de Kent entre Hythe e Sandwich, porem não
chegando em terra. Ele temia ser capturado pelos bárbaros da região e após cinco dias, retorna com
suas informações de espionagem a César.
A segunda invasão, ocorrida em 54 a.C., foi melhor planejada e contou com cinco legiões e
dois mil combatentes de cavalaria. Com navios desenhados por ele próprio, começa sua invasão a
partir de Portus Itius. Mesmo sem conquistas, César entroniza Mandubracio donde advém uma série
de reinos clientes romanos influenciados por sua cultura e política.
Finalmente em 43 d.C., o imperador Cláudio, beneficiado pelas relações comerciais e
diplomáticas iniciadas por Júlio César, impõe sua conquista permanente com a fundação de
Londinium, hoje Londres, na margem norte do rio Tamisa. Daí ela passa a ser a capital da província
romana cujo auge se dá no III século d.C. com uma população de aproximadamente 45.000 a
60.000 habitantes.
O mapa abaixo mostra as incursões de Júlio César pelo continente europeu. Esta vasta área
foi dominada e colonizada pelos romanos. Em seguida eles adentram pela Grã-Bretanha até os
limites com a Escócia. As muralhas de Adriano, também imperador romano, sobreviveram para
testemunhar suas conquistas e balizar os limites deste vasto império.
CONQUISTAS ROMANAS NA EUROPA DE HOJE
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Curiosamente os Arcos Triunfais começam a serem erguidos nesta época, fora dos domínios
romanos, simbolizando suas conquistas.
Voltando a Stonehenge, é sabido que os Romanos o conheciam, pois achados arqueológicos
demonstram sua presença através de objetos, utensílios e moedas. Outro indício seria uma área
próxima ao monumento conhecida como "Campos de Vespasiano", onde o imperador romano teria
estacionado suas tropas durante suas incursões àquela região.
Historicamente falando, segundo alguns registros, os arcos já eram utilizados na
Antiguidade, entre os povos do Antigo Egito, Babilônia, Grécia Antiga e Assíria. Eram destinados
exclusivamente em obras subterrâneas, como drenagem. Mesmo as abóbadas também eram
utilizadas. É fácil imaginar que numa escavação com o objetivo de conduzir água ou a criação de
uma passagem, um abrigo ou outra finalidade qualquer, fatalmente se produziria um teto arqueado.
Isto seria mais perceptível se o terreno escavado fosse argiloso. Se arenoso nem ao menos serviria
pela falta de coesão. O teto curvo se justificaria até pela pouca exigência estética que reinava na
época. Esta consequência natural advinda do ato de desmontar o terreno, expos um formato que,
externamente reproduzido, viria revolucionar a forma de construir. Curiosamente não há vestígios
que denuncie o uso do arco em qualquer tipo de edificação erigida por qualquer cultura citada
acima. Nada chegou até nossos dias.
Assim sendo, o arco estaria dentre aquelas criações, como a roda, cujos inventores
permanecem no anonimato. São tão antigos quanto a própria humanidade e suas origens remontam
a pré-história.
Os romanos trouxeram os arcos acima da linha do terreno e difundiram-no em inúmeras
aplicações, porem a pergunta continua: de que maneira?
VOLUBILIA - MARROCOS - 217 a.C.
Acima temos o Arco Triunfal construído pelos romanos no Marrocos. Ele expõe novamente
um detalhe curioso, representado por um nicho estruturado nos moldes de um frontão grego. Este
conceito arquitetônico torna-se relevante a medida que é usado frequentemente. Seu uso ganha tal
importância pelo fato dele sugerir uma relação original com todos os elementos citados
anteriormente. E, se imaginarmos uma terceira peça apoiada naquelas inclinadas teríamos o estopim
para a cadeia de eventos que culminariam nas estruturas arqueadas. Esta lógica é irrefutável.
Evidentemente que essas suposições alimentam o imaginário humano, baseadas em
evidências louváveis, porem de difícil comprovação.
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Indo além neste exercício de imaginação podemos associar os dados históricos com os
vestígios remanescentes, juntamente com a técnica construtiva herdada gratuitamente de nossos
antepassados através de louvável esforço, na intenção de ligar os eventos que alimentaram a
evolução de um recurso admirável. Conduzindo um raciocínio lógico, torna-se impossível não
perguntar: Seria possível dizer que os Trilitos de Stonehenge serviram de modelo para que os
Romanos expusessem suas armas conquistadas? Primeiramente feitos em madeira, depois
eternizados em pedra? Seria este novo artefato os anteparos necessários para as rochas em "V"
invertido, imitando tumbas faraônicas, já explorados pelos gregos através do frontão, que
originaram os Arcos Triunfais que conhecemos? Com sucesso uma sucessão desses elementos
serviria de berço para os aquedutos. Daí para as janelas arqueadas o caminho seria curto, pois,
considerando a fachada do Coliseu, se possível fosse torná-la reta, teríamos a estrutura necessária
para sustentar um curso d'água elevado.
Seria imaginação alegar essas afirmações ou, quem sabe, o curso natural desses eventos? Se
os Romanos não são os reais inventores do arco arquitetônico, souberam usar sabiamente os
conceitos herdados nas terras conquistadas. Impondo este recurso como seu estilo arquitetônico eles
presentearam as gerações futuras, permitindo-lhes feitos notáveis.
São perguntas difíceis de serem respondidas e passíveis de injustiças. Certamente como
conquistadores, era de direito assimilar todo esse conhecimento. Contudo, pelo lado positivo,
difundiram este legado também nas terras conquistadas, pois, hoje vemos arenas romanas na
França, pontes em Portugal e aquedutos na Espanha.
O assunto é polêmico e será sempre motivo de intenso debate. Novos dados surgirão através
de novas pesquisas e, certamente, continuarão a alimentar o imaginário humano, tornando-o mais
apaixonante. Questionar é o primeiro passo e ele foi dado. Sugestões serão sempre bem vindas.
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