História da América séculos XVI

Transcrição

História da América séculos XVI
História da América séculos XVI-XVIII
Aula VIII
Objetivo: estudar as características gerais da América Colonial espanhola.
A) Economia e sociedade na América espanhola.
Após o esgotamento do ouro nas primeiras décadas da colonização, seria a prata o
principal responsável pela colonização da América espanhola. A descoberta das grandes
minas de Zacatecas, no México, e Potosí, no Peru, impulsionava e garantia o lucro da
colonização. Toda a economia da área espanhola das Américas girava em torno da
produção mineradora. A produção colonial de animais de carga, alimentos e tecidos,
desenvolvidas nas áreas periféricas da Guatemala, da Venezuela e do Prata, estava
voltada em direção as minas do Peru e do México.
A exploração da mão-de-obra indígena nestas áreas estava baseada em duas
formas de trabalhos compulsórios: a encomienda e a mita. A encomienda consistia na
exploração de um grupo, ou comunidade, de índios que eram colocados sobre a
responsabilidade de um colono, a partir de um pagamento a coroa e da obrigação de
cristianizar os mesmos. A mita foi a apropriação por parte dos espanhóis de um antigo
tributo inca, cobrado na forma de braços para o trabalho, visando a facilitar a exploração
da mão de obra indígena. Consistia no sorteio de um grupo de homens de cada aldeia
que deveria trabalhar nas minas por quatro meses, recebendo um salário insignificante, e
depois poderiam retornar as suas aldeias, sendo substituídos por outro grupo da mesma
localidade.
A coroa espanhola cobrava o quinto real sobre toda a produção mineradora. Seria
justamente da necessidade de fiscalizar essa cobrança que surgiriam os primeiros
impulsos para a montagem de um sistema político-administrativo na colônia. Os vicereinos do Peru e da Nova Espanha seriam fundados na década de 1540, e no decorrer do
século XVIII, com o crescimento das áreas periféricas, surgiriam os vice-reinos de Nova
Granada (1717) e do Rio da Prata (1776). Cada Vice-Reino recebia um Arcebispo e uma
Suprema Corte.
Se nas áreas centrais o processo de colonização esteve sempre vinculado ao
controle direto e efetivo da coroa, o mesmo não se pode afirmar das áreas periféricas. As
áreas meridionais da América do Sul, Paraguai, Argentina e Chile, de pouca rentabilidade
para o comércio colonial com a metrópole, acabaram por se desenvolver de forma mais
autônoma, e com uma produção agropecuária voltada para o consumo interno. No Caribe,
especialmente em Cuba, e na Venezuela se desenvolveu um modelo de colonização mais
próximo do brasileiro, baseado na mão de obra escrava, de origem africana, e na
produção de bens agrícolas de interesse do comercial com a metrópole; o açúcar em
Cuba e o cacau na Venezuela.
A dominação social na América espanhola deve ser entendida sob o aspecto da
construção de uma hegemonia por parte dos conquistadores e seus descendentes. Neste
processo que mesclava a imposição pela força e o consentimento, dois elementos foram
fundamentais: a Igreja e o patriarcado. A Igreja que através do processo de conversão
contribuía para aumentar a aceitação da dominação espanhola, também participava da
repressão, através dos tribunais religiosos, como a inquisição, e da sua subordinação à
coroa, devido ao regime do padroado. Não podemos esquecer que o ensino, nos colégios
e universidades, estava nas mãos dos religiosos. O patriarcado por seu lado, com sua
noção de honra familiar (masculina e feminina), e ênfase na figura do pai, estabelecia a
naturalidade da dominação do homem, especialmente o branco, sobre a sociedade,
espelhando a ordem celeste do Deus pai que a tudo comanda. Outro fator a ser
destacado é o fato de que os índios já viviam sob a dominação Imperial (Inca e Asteca), e
os espanhóis foram hábeis em se apresentarem como continuadores dos antigos
dominadores.
À hegemonia do colonizador juntava-se a hegemonia das cidades sobre as áreas
rurais. A sociedade colonial espanhola viu surgir uma rede hierarquizada de aldeias, vilas
e cidades que centralizavam o controle sobre a vida da colônia, e estabeleciam os
padrões de desenvolvimento da área colonizada. Deste modo. A área das cidades, em
especial as grandes cidades, era ocupada pela estrutura política e administrativa da
colônia, com destaque para os cabildos (câmaras municipais), que constituíam o centro
da vida política fora das grandes capitais. As famílias mais ricas e os eclesiásticos mais
importantes, também, se mantinham nas grandes cidades. No interior, longe das áreas
centrais, mais rentáveis, as haciendas centralizavam a vida colonial, possuindo, na
contramão da vida citadina, uma maior miscigenação entre brancos, índios e mestiços.
Essa mistura de culturas ocorreria também nas cidades, mas restringindo-se às
camadas populares, e ao processo do sincretismo religioso. A mistura cultural estava
aliada a miscigenação racial, desafiando o sistema de castas imposto pela coroa
espanhola, para discriminar o acesso a cargos e posições na administração colonial, e os
impostos a serem pagos pelos vários grupos étnicos. Das seis castas iniciais, havia mais
de uma dúzia ao findar o século XVIII, colocando em xeque todo o sistema. Além disso,
apesar das restrições, existiam os casos em que membros de castas inferiores
alcançavam alguma fortuna, e compravam a sua condição de brancos através das gracias
al sacar.
Sob essas bases constituiu-se a sociedade da América colonial espanhola. Quando
no início do século XIX, a crise Europeia desencadeou o processo das independências,
não existia nenhum sentido de unidade entre as diversas áreas coloniais, constituídas
artificialmente pelo processo de exploração colonial, e apoiadas em uma forte
desigualdade social. A constituição deste sentido seria o grande desafio dos processos de
independências, e das novas nações oriundas dele.

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