1 O Bioma Mata Atlântica é considerado a formação

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1 O Bioma Mata Atlântica é considerado a formação
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NATUREZA DEVASTADA: UM ESTUDO HISTÓRICO DE CASO
Rosemary Aparecida Corrêa
Graduada em Ciências Biológicas pela
Faculdades Integradas Teresa D’Ávila - FATEA
Pós-graduada em Gestão Ambiental pela
Universidade Salesianas de Lorena – UNISAL
Priscila de Fátima Uchoas de Andrade
Graduada em Ciências Biológicas pela
Faculdades Integradas Teresa D’Ávila - FATEA
INTRODUÇÃO
O Bioma Mata Atlântica é considerado a formação florestal de maior diversidade existente na costa
brasileira.
Sena (2006) afirma que a Mata Atlântica cobria toda a costa brasileira, do Ceará ao Rio Grande do Sul, com
a extensão aproximada de 1,3 milhões de quilômetros quadrados. Hoje, está reduzida a 7% de sua área
original, e seu bioma abriga um dos maiores recordes mundiais de plantas lenhosas: entre 454 e 476 espécies
em um único hectare, em áreas no sul da Bahia e norte do Espírito Santo. A pressão antrópica se faz sentir,
principalmente, pela intensa ocupação: nessas áreas estão as maiores concentrações urbanas e pólos
industriais do Brasil, onde vivem 70% da população. O abastecimento de água para as necessidades dessa
população é garantido pelos remanescentes florestais da Mata Atlântica.
Principais tipos de vegetação do trecho paulista do Vale do Paraíba. Fonte: adaptado do Atlas do
Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do
Estado de São Paulo – BIOTA-FAPESP.
A região do Vale do Paraíba apresenta vegetação variável por causa do clima, relevo e solo diversificados.
Nos últimos anos, fala-se em poluição dos rios, lagos e outros meios aquáticos. Além desses meios, também
se encontram grandes devastações florestais.
O bairro de São Francisco pode ser considerado uma das poucas áreas verdes e de grande capacidade em
manancial do município de Aparecida e encontra-se numa área bastante acidentada. Até os anos 70, o local
ainda era pouco explorado pela população. Neste local, se localiza o Ribeirão da Chácara que, em décadas
passadas, era considerado um ribeirão límpido, sendo espaço de lazer e de grande utilidade para a população.
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Mas, com o transcorrer do tempo, essa área transformou-se em uma extensão de poluição e degradação do
ambiente, predominando apenas algumas espécies remanescentes de árvores de médio porte e pouquíssimas
espécies de animais silvestres.
As degradações acontecem por três ações antrópicas, conforme nos afirma Rocha (1999, apud Servilha,
2006), que são: a conversão de espaços naturais para usos urbanos, a extração e deterioração de recursos
naturais e o despejo dos resíduos urbanos, industriais e domésticos.
Segundo o Decreto nº 10.755, de 22 de novembro de 1977, que dispõe sobre o enquadramento dos corpos
de água receptores na classificação prevista no Decreto nº 8.468, de 8 de setembro de 1976, e dá providências
correlatas, lê-se no:
Art. 1º - Os corpos de água receptores do território do Estado, bem como as respectivas bacias ou subbacias que compreendem seus formadores e/ou afluentes, ficam enquadrados na forma determinada no
Anexo ao presente Decreto, em obediência à classificação prevista no artigo 7º do Decreto nº 8.468, de 8 de
setembro de 1976.
De acordo com o anexo presente no referido decreto, o Ribeirão da Chácara, pertencente à bacia do rio
Paraíba do Sul, se encontra na classe 4, já que boa parte da cidade despeja os resíduos urbanos e domésticos
em suas águas as quais desembocam no rio Paraíba do Sul.
MATERIAIS E MÉTODOS
A área estudada foi a do Ribeirão da Chácara, situada no bairro de São Francisco, localizado na zona rural
de Aparecida, SP, que tem como coordenadas geográficas: 21°50’49” de latitude Sul e 45°13’47” de longitude
oeste, com altitude de 542 metros. Seu clima quente é dominante, com inverno seco, tendo a temperatura
máxima de 35ºC, mínima de 9ºC e média compensada de 22ºC.
Para a análise do ambiente foram usados registros fotográficos, pois as fotos transmitem, com a máxima
realidade possível, a trajetória visual do estado de conservação do ribeirão. O material imagético mostra com
melhor realidade as causas dos problemas enfrentados pela população atualmente.
Arquivos de texto, tanto os descritivos da região, quanto os sobre técnicas de recuperação de áreas
degradadas, serviram de base para o desenvolvimento do projeto.
Os dados como mapas, imagens, fotos, levantamentos florísticos, foram coletados junto à Prefeitura
Municipal de Aparecida, Prefeitura Municipal de Guaratinguetá, Biblioteca Municipal de Aparecida, Biblioteca
Doutor João Antonio da Fonseca (Secretaria Estadual de Educação e Cultura de São Paulo), Biblioteca Conde
de Moreira Lima das Faculdades Integradas Teresa D’ Ávila (FA-TEA), Centro de Documentação e Memória
Padre Antão Jorge (CSsR), Escola Fazenda Boa Vista, Síntese Supor-te Educacional e Comitê da Bacias
Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul (CBH-PS).
Também foram utilizadas imagens de satélites obtidas junto ao Instituto de Pesquisa Espaciais (INPE), a fim
de potencializar a análise das causas dos problemas atuais.
RESULTADOS
1. VEGETAÇÃO NATURAL DO MUNICÍPIO DE APARECIDA, SP
De acordo com as análises realizadas pelos levantamentos fotográficos atuais, a vegetação natural do
município de Aparecida encontra-se pouco diversificada, caracterizada por uma vegetação rasteira, árvores de
porte médio e poucos fragmentos florestais de Mata Atlântica, com características de floresta em fase de
regeneração.
A sub-bacia do Ribeirão da Chácara, em sua grande parte, tem predominância de vegetação rasteira,
segundo Moraes (2006). Essa vegetação é composta por gramíneas braquiária (Brachiarias decumbens),
barba-de-bode (Aristida pallens Nuff.) e rabo-de-burro (Sedum morganianum). Além destas gramíneas é
possível observar, também, maciços arbóreos existentes no município formados por vegetação nativa originária
da Mata Atlântica.
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Vista aérea da região onde se encontram as nascentes do Ribeirão da Chácara, 2006. Fonte: EEAR
2. CARACTERÍSTICAS FISIONÔMICAS DA ÁREA DE ESTUDO DA DÉCADA DE 40 E 50
Sub-bacia do Ribeirão da Chácara - Aparecida-SP. Década de 1940.
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O Vale do Paraíba possuía, na década de 1940, um cenário de grande devastação promovido pela
agricultura e, principalmente, pela criação de gado. Em vários locais pode-se observar a evolução da ação
antrópica na natureza. A área pela qual, futuramente, passará a rodovia Presidente Dutra, está coberta por
pastagens.
O morro, encoberto por gramíneas, ainda não apresentava erosão, era usado para pastagens e não era
habitado. Encontrava-se uma grande cobertura primária e secundária de vegetação da Mata Atlântica, onde se
encontram os remanescentes que formam a cabeceira do Ribeirão da Chácara. Ao longo da sub-bacia observase a grande mata ciliar encobrindo o leito do ribeirão, porém, já possuindo as primeiras construções de casas.
Sub-bacia do Ribeirão da Chácara - Aparecida-SP. Década de 1950.
Na década de 1950, o progressivo desmatamento foi intensificado e promovido pela ocupação antrópica e
construção de casas. A mudança já é visível. A rodovia Presidente Dutra já cortava os morros, assim
provocando pontos de erosão. Nessa década, já se inicia o primeiro corte de estrada na sub-bacia desse
ribeirão. Todavia vêem-se as primeiras construções de alvenaria em Área de Preservação Permanente (APP).
Essa região sofreu muito nesses dez anos, pois em comparação com a imagem da década de 1940, a mata
que encobria grande parte do local, foi em parte devastada. Um pouco acima da Rodovia Presidente Dutra, do
lado direito, nessa década, a encosta continua a desbarrancar aumentando a voçoroca, além de levar terra ao
ribeirão. Devido a situação de abandono de parte da área, algumas espécies arbóreas cresciam no local.
O processo de erosão das cabecereiras do vale em virtude da ação antrópica já havia sido apontado por
Ab’Saber & Bernardes (1958) quando descrevem um vale de fundo chato, com cabeceiras em forma de
anfiteatro a sofrer o impacto da presença humana à beira do rio e do gado a riscar os morros ao pisotear o
pasto. Esse era um aspecto que na região se tornou muito comum de ser observado.
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3. CARACTERÍSTICAS FISIONÔMICAS DA ÁREA DE ESTUDO NA DÉCADA DE 70
Rua Padre Gebardo, paralela ao Ribeirão da Chácara, na década de 1970.
Na década de 1970, houve uma preocupação maior com o avanço do desmatamento. Podemos observar na
foto que, no entorno da Rua Padre Gebardo, restavam apenas algumas árvores e espécies herbáceas nativas,
ou seja, pequenos fragmentos florestais.
Freitas (1978) previa que tal avanço do desmatamento seria o principal fator que poderia trazer prejuízos
para o futuro da fauna e da flora da região.
Com isso, foi realizado pelo geógrafo Oswaldo Carvalho Freitas, em 1978, um levantamento das espécies
arbóreas nativas. No levantamento foram encontradas 38 espécies arbóreas. As famílias de maior destaque
foram: Apocynaceae, Bignoneaceae, LEG.-Papilionoideae, seguidas da Arecaceae, Euphorbiaceae, LEG.Caesalpinioideae, LEG.-Mimosoideae, Meliaceae e Myrtaceae. Os gêneros que mais se destacaram foram:
Aspidosperma sp., Erythrina sp. e Jacaranda sp.
Espécies de árvores nativas que se encontravam na região na década de 70. Fonte: adaptada de Oswaldo
Carvalho Freitas.
NOME VULGAR
NOME CIENTÍFICO
FAMÍLIA
Açoita-cavalo
Luehea divaricata
Tiliaceae
Aroeira
Lithraea molleoides
Anacardiaceae
Camboatá
Cupania oblongifolia
Sapindaceae
Cabriúva
Myrocarpus frondosus
Fabaceae
Cambuí
Myrcia multiflora
Myrtaceae
Candeia
Gochnatia polymorpha
Asteraceae
Canela
Aniba sp.
Lauraceae
Canjerana
Cabralea canjerana
Meliaceae
Capixingui
Croton floribundus
Euphorbiaceae
Caviúna/Cabiúna
Dalbergia miscolobium
LEG.-Papilionoideae
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NOME VULGAR
Cedro/Cedrinho
NOME CIENTÍFICO
Cedrela fissilis
FAMÍLIA
Meliaceae
Cipreste
Cupressus sempervirens
Cupressáceas
Corticeira
Erythrina crista-galli
LEG.-Papilionoideae
Figueira-branca
Ficus guaranitica
Moraceae
Goiabeira
Psidium guajava
Myrtaceae
Guatambu
Aspidosperma ramiflorum
Apocynaceae
Imbaúba/Imbaíba/Umbaúba
Cecropia sp.
Urticaceae
Ingá
Inga cylindrica
LEG.-Mimosoideae
Ipê
Tabebuia vellosoi
Bignoniaceae
Jacarandá
Jacaranda cuspidifolia
Bignoneaceae
Jacarandá Mimoso
Jacaranda mimosaefolia
Bignoneaceae
Pau-Jacaré
Piptadenia gonoacantha
LEG.-Mimosoideae
Juazeiro
Zizyphus joazeiro
Rhamnaceae
Jataí/Jatobá
Hymenaea courbaril
LEG.-Caesalpinioideae
Paineira/Barriguda
Ceiba specios
Bombacaceae
Palmeira
Syagrus sp.
Arecaceae
Palmiteiro
Euterpe edulis
Arecaceae
Peroba
Aspidosperma polyneuron
Apocynaceae
Pinheirinho
Podocarpus lanceolata
Apocynaceae
Pinheiro
Pinus sp.
Pinaceae
Pindaíba/Pindaúva
Duguetia lanceolata
Annonaceae
Saguaraji
Colubrina glandulos
Rhamnaceae
Suína/Sapatinho-de-judas
Erythrina mulungu
LEG.-Papilionoideae
Seringueira
Hevea brasiliensis
Euphorbiaceae
Unha de vaca
Bauhinia forficata
LEG.-Caesalpinioideae
Mamica-de-porca
Zanthoxylum rhoifolium
Rutaceae
Salgueiro
Salix sp.
Salicaceae
A vegetação aparecidense, afirma Freitas (1978), foi devastada nos três séculos de ocupação de seu solo
pelo homem civilizado. Resta pouca cobertura vegetal. Como, aliás, em todo o Estado, encontram-se pequenos
bosques e até algum pequeno fragmento florestal. Na flora aparecidense não são muito abundantes as árvores
de grande porte, mas há ainda certa variedade.
Foi realizado também um levantamento das espécies de pequeno porte. No levantamento encontraram-se 50
espécies de plantas herbáceas. Entre as famílias, a que teve maior destaque foi a Lamiaceae, depois a
Asteraceae e, logo em seguida, a Euphorbiaceae. Os gêneros que se destacaram foram Mentha sp e Solanum sp.
Plantas de pequeno porte e algumas herbáceas, remanescentes da área. Fonte: adaptada de Oswaldo
Carvalho Freitas.
NOME VULGAR
NOME CIENTÍFICO
FAMÍLIA
Alecrim
Rosmarinus oficinalis
Lamiaceae
Alfavaca
Ocimum basilicum
Lamiaceae
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NOME VULGAR
Arrebenta-cavalo
NOME CIENTÍFICO
Solanum aculeatissimum
FAMÍLIA
Solanaceae
Arruda
Ruta graveolens
Rutaceae
Assa-peixe
Vernonia polysphaera
Asteraceae
Avenca
Adiantum capillus veneris
Pteridaceae
Babosa
Aloe socotrina
Asphodelaceae
Barba-de-bode
Cyperus compressus
Ciperáceas
Bico-de-papagaio
Euphorbia pulcherrima
Euphorbiaceae
Boldo/Bordo
Coleus barbatus
Lamiaceae
Bredo/Caruru
Amaranthus sp.
Amaranthaceae
Cacto
Pereskia grandiflora
Cactáceas
Carobinha
Jacaranda puberula
Bignoniaceae
Carrapicho
Cenchrus echinatus
Poaceae
Cavalinha
Equisetum sp.
Equisetaceae
Chorão
Eragrostis curvula
Gramíneas
Cipó
Heteropsis spp.
Araceae
Cipó-suma/Piriguara
Anchietia salutaris
Violaceae
Erva-cidreira
Melissa officinalis
Lamiaceae
Erva-de-passarinho
Struthanthus flexicaulis
Loranthaceae
Erva-de-são-joão
Hypericum perforatum
Hypericaceae
Erva-doce/funcho
Foeniculum vulgare
Apiaceae
Esporinha
Consolida ajacis
Ranunculaceae
Fedegoso
Cassia occidentalis .
Fabaceae
Guabiroba/Gabiroba
Campomanesia pubescens
Myrtaceae
Guaco
Mikania glomera
Asteraceae
Guiné
Petiveria alliacea
Phytolacaceae
Hortelã
Mentha sp.
Lamiaceae
Juá-bravo
Solanum agrarium Sendtn
Solanaceae
Juá-mirim
Zizyphus undulata
Rhamnaceae
Leiteira
Sapium glandulatum
Euphorbiaceae
Levante
Mentha viridis
Lamiaceae
Língua-de-vaca
Chaptalia nutans
Asteraceae
Losna
Artemisia absinthium
Asteraceae
Louro/Loureiro
Laurus nobilis
Lauraceae
Mamoneira
Ricinus communis
Euphorbiaceae
Marcela/Macela
Achyrocline satureioides
Asteraceae
Mastruço/Mastruz
Chenopodium ambrosioides
Chenopodiaceae
Mata-pasto
Senna alata
LEG.-Caesalpinioideae
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NOME VULGAR
Melão-de-são-caetano
NOME CIENTÍFICO
Momordica charantia
FAMÍLIA
Cucurbitaceae
Quebra-pedra
Phyllanthus niruri
Euphorbiaceae
Erva-de-santana
Parietaria judaica
Urticaceae
Rabo-de-burro
Sedum morganianum
Crassulaceae
Sabugueiro
Sambucus nigra
Adoxaceae
Saião
Kalanchë brasiliensis
Crassuláceas
Salva
Salvia officinalis
Lamiaceae
Sapé
Imperata brasiliensis
Poaceae
Trevo
Marsilea sp.
Marsileáceas
Freitas (1978) comenta que, naquela época, já não era uma flora rica e exuberante, como foi nos tempos em
que a Mata Atlântica cobria as terras do município. Também está longe de ser pobre como a das regiões
semiáridas do Nordeste. A flora paga o preço exigido pela ocupação do solo por uma população de quase 300
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habitantes por km . Para evitar que isso ocorra, segundo o autor, é necessário tomar uma série de
providências, a primeira das quais é a conscientização do povo e das autoridades.
4. CARACTERÍSTICAS FISIONÔMICAS DA ÁREA EM FUNÇÃO DA URBANIZAÇÃO
Com o crescimento urbano desordenado ao redor do Ribeirão da Chácara, a população ribeirinha vem
sofrendo um impacto negativo causado pela ocupação antrópica ao longo da nascente até a sua foz. Nesse
percurso, além do aumento da população em direção ao ribeirão, há a diminuição das matas ciliares, como
também a poluição de suas águas.
A situação da sub-bacia do ribeirão modificou-se completamente, e toda a área sofreu ainda mais com a
ação antrópica. O corte feito pela rodovia, na década de 1950, e os cortes feitos pela abertura da rua Padre
Gebardo, na década de 1970, causaram pontos de erosão.
Década de 1990, o crescimento desordenado da população causa grande impacto ao ribeirão.
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Em 1990, ampliam-se de forma significativa as construções de alvenaria, sendo que, logo no começo da
estrada, as construções formavam uma pequena vila. Acima desta, do lado direito, há uma erosão à margem do
ribeirão. A Mata Atlântica, que encobria grande parte da região onde se encontram as suas nascentes,
apresentava, nessa década, pequenos fragmentos, sendo que a cobertura do topo do morro já não existia.
A erosão existente no topo do morro, ao lado da Rodovia Presidente Dutra, começa a apresentar vegetação
rasteira, além das espécies arbóreas que cresceram. A ação antrópica apresenta-se em grande escala na
região abaixo da rodovia, onde o que eram poucas construções, se tornou uma cidade. Com isso, a pouca
vegetação que existia passou apenas a ser algumas árvores no meio de várias construções de casas e prédios.
Almeida (2005) em seu trabalho de pós-graduação sobre o Ribeirão da Chácara identificou que a nascente
desse ribeirão está localizada a 775 m de altitude, no bairro de São Francisco, zona rural do município de
Aparecida, no Vale do Paraíba, São Paulo. Logo depois começa a correr por um canal. O ribeirão passa por um
tubo plástico, onde as pessoas da região coletam sua água pura e cristalina. A 615 metros o ramal principal
recebe as águas de outros dois afluentes, já contendo esgoto doméstico de algumas residências do bairro. A
qualidade da sua água começa a ficar comprometida não podendo ser mais consumida para uso doméstico. A
600 metros de altitude, o volume de água aumenta ainda mais, com a convergência de outro afluente. Neste
ponto, o ribeirão é represado num pequeno lago, em uma fazenda de criação de gado e pequenos animais. E
por fim, a 560 metros, o ribeirão tem a sua vazão aumentada com o despejo de esgotos e águas pluviais de
toda região, bastante habitada. Depois de correr canalizado pelo bairro de Santa Rita e atravessar o pátio do
Santuário Nacional de Aparecida, o ribeirão solta suas águas, totalmente poluídas, no bairro de Ponte Alta, a
540 metros de altitude. A seguir, corre a céu aberto, por cerca de 200 metros, recebendo mais esgoto e lixo
domésticos. Volta a ser canalizado por cerca de 400 metros até alcançar as águas do rio Paraíba do Sul, a 526
metros de altitude.
5. CARACTERÍSTICAS FISIONÔMICAS ATUAIS
Tendo uma visão geral da região, pode-se dizer que ela encontra-se em estado de devastação avançado,
onde a população ocupa grande parte de sua bacia, desordenadamente. A maior parte da população é
ribeirinha, ocupando o local de mata ciliar e avançando para áreas de maciços que ainda restam no local.
Inclusive onde se localiza a principal nascente do Ribeirão da Chácara.
Com essa devastação, o Ribeirão da Chácara passa a ser considerado um enorme problema para o
município. Com parte de sua extensão canalizada, todo o ano, e em época de chuvas, ocorre enchente nos
locais por ele percorridos, pois com a falta de mata ciliar a água da chuva não escoa para o lençol freático, ou
seja, ela escorre pelo “morro afora” atingindo grande parte da população dos bairros Santa Rita e Ponte Alta.
Além do estado de devastação da vegetação, foi possível observar também áreas erodidas onde nem
mesmo há cobertura da vegetação rasteira.
Áreas de maior destaque:
Margens do Ribeirão da Chácara: área onde a população forma o bairro São Francisco. Décadas
passadas, a ocupação desordenada ainda não era intensa como mostram as figuras anteriores, ao contrário do
que se encontra atualmente. Esse crescimento desordenado mostra-se, em grande parte, feito às margens do
Ribeirão da Chácara.
Alto do morro: observa-se que na área existe ocupação desordenada do solo. Às margens do ribeirão, os
morros erodidos colocam em risco de soterramento as casas que foram construídas em seu sopé. Várias
encostas estão seriamente comprometidas. Observam-se os cortes de estradas e os remanescentes que ainda
restam cobrindo as nascentes.
Lago: há um pequeno lago, onde as águas do ribeirão são represadas. No período de um ano, as árvores
que encobriam o redor deste lago foram arrancadas para outros fins. Além disso, este lago está encoberto por
cianofíceas o que indica que a área está poluída, como anteriormente dito.
Rua Padre Gebardo: na década de 1970 era possível visualizar o Santuário Nacional de Aparecida ao
fundo e algumas vegetações, o que hoje foi coberto por concreto, asfalto e construções em uma estrada a
menos de 50 metros do leito do Ribeirão da Chácara.
Margens da rodovia (esquerda): área onde há erosão em grande escala. De 1990 até 2008, essa situação,
devido às chuvas e à falta de cobertura vegetal, continuou a erodir, o que ocasiona desmoronamentos.
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Margens da rodovia (direita): a erosão já está contida e com alguma vegetação rasteira e arbórea, além de
uma canaleta que ajuda no escoamento da água da chuva. Esta é uma técnica utilizada para que não ocorram
desbarrancamentos e erosões.
Abaixo da Rodovia Presidente Dutra: durante os anos que passaram o crescimento populacional tomou
conta de toda a área.
Atualmente, o que se pode visualizar são algumas árvores dispersas em meio a várias casas e prédios, além
das avenidas que cortam esse trecho, onde o ribeirão é canalizado.
Imagem de uma das nascentes do Ribeirão da Chácara, 2008.
Área acima do Ribeirão da Chácara, ao lado da Rodovia Presidente Dutra, 2008.
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Rua Padre Gebardo, em 2008.
A sub-bacia do Ribeirão da Chácara, mostrando o avanço da população, 2008.
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Ponto onde o Ribeirão da Chácara é represado num pequeno lago, 2008.
6. LEVANTAMENTO FLORISTICO DA REGIÃO
Em 2006, foi realizado pelo engenheiro agrônomo José Eduardo R. de Moraes, da Prefeitura de Aparecida,
SP, um levantamento florístico. Os resultados preliminares do levantamento da região estão disponíveis no
Laudo Técnico. De acordo com informações do Laudo Técnico, foram encontradas 30 espécies de árvores
nativas. As famílias com grande destaque foram: Euphorbia-ceae, LEG.-Caesalpinioideae, LEG.-Papilionoideae
e Myrtaceae, seguida pela Anacardiaceae, Bignoniaceae, LEG.-Mimosoideae, Rutaceae, Tiliaceae,
Verbenaceae, e por último as Apocynaceae, Arecaceae, Bombacaceae, Boraginaceae, Cecropiaceae e
Meliaceae. E os gêneros: Croton sp., Machaerium sp. e Tabebuia sp..
De acordo com o levantamento florístico, podemos perceber que a situação hoje encontrada sofreu uma
devastação muito grande. Encontramos apenas algumas espécies, se comparado com o levantamento florístico
da década de 70, com predominância de espécies das famílias Caesalpiniodeae, Myrtacea e Papilionoideae.
CONCLUSÃO
Desde a colonização e do cultivo da cultura do café, a Mata Atlântica vem sofrendo impactos ambientais,
principalmente pelo avanço da ação antrópica, que, com o passar dos anos, devastou grande parte da região.
Em decorrência dessa devastação, devido ao crescimento populacional desordenado, as matas ciliares
também sofreram fortes impactos, causando prejuízos à própria população que dela usufrui.
Isso pode ser observado na sub-bacia do Ribeirão da Chácara, na qual o crescimento populacional vem
ocupando as margens deste, causando devastação da mata ciliar e poluição, o que gera problemas no percurso
do ribeirão, dentre os quais a principal é o alagamento dos bairros que estão na parte baixa da bacia.
Com base nesses dados, podemos propor algumas medidas para solução dos problemas e reversão do
quadro de degradação, como:
• tratamento de esgoto;
• recomposição da Mata Ciliar das nascentes e de todo o percurso do Ribeirão da Chácara;
• redimensionamento da canalização na área urbana;
• Educação Ambiental para os moradores da sub-bacia, a partir das escolas;
• busca de parcerias para o bom andamento do programa.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AB’SABER, Aziz Nacib; Bernardes, Nilo. Vale do Paraíba, Serra da Mantiqueira e arredores de São Paulo.
Edição do Conselho Nacional de Geografia. RJ, 1958.
ALMEIDA, Antonio Carlos de. Bacia da Chácara. 2005. Dissertação (Pós-Graduação). Faculdade de
Engenharia Ambiental, Universidade de Taubaté, Taubaté, 2005.
CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Decreto nº 10.755, de 22 de novembro 1977.
Dispõe sobre o enquadramento dos corpos de água receptores na classificação prevista no Decreto nº 8.468,
de 8 de setembro de 1976, e dá providências correlatas. Disponível em: <http://www.
cetesb.sp.gov.br/licenciamentoo/legislacao/estadual/decretos/1997_Dec_Est_10755.pdf>. Acesso em: 1 maio
2009.
FREITAS, Oswaldo Carvalho. Aparecida, Capital Mariana do Brasil. Aparecida: Editora Santuário, 1978.
MORAES, José Eduardo R. de. Laudo Técnico para Prefeitura de Aparecida-SP. Janeiro, 2006.
SÃO PAULO. Secretaria do Meio Ambiente. Projeto de preservação da Mata Atlântica, São Paulo, 1995 a 2006.
São Paulo, 2006.
SERVILHA, Élson Roney. Conflitos na Proteção Legal das Áreas de Preservação Permanentes Urbanas. 2006.
(Tese de Doutorado em Engenharia Civil). Faculdade de Engenharia Civil – Unicamp. Campinas: FEC, 2006.